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I;>:TERVENc;: ,\o SocrAL, 27, 2003:43-61 Brigitte BouQUET* Historia e da profissao de Assistente Social em ** Este artigo recupera a historia e evolurao do serviro social franch- nascido no final do sk XIX, com a questiio social Progressivrtmente, no perfodo entre as duas guenas mundiais, registou-se a sua institucionali- ZilfttO e projiSJionaliztzriio. Depois de 1945, o serviro social conhece um procesj·o de desenvolvimento num quadro em que deixa de ser a 1 . /.nica projissiio social, para partilhar esse espa(o com educadores eJpecializados e animadores. A partir dos anos 75-80, o serviro social sofre profimdas mutat;oes em raz!io quer da crise econdmica quer da reforma da adminis- trativa de Por um !ado o serviro social e teinterrogado pela "nova quest!io social 'e a exclus!io, e por outro lado, e afectado pelo movimento de reorganizat;!io da act;!io publica e pela corrente neo/ibe- rttl. Actualmente o servit;o social confronta-se com numerosos desajios e questoes. Esta comunica<;rao tern como prop6sito uma abordagem socio-hist6rica que permita compreender 1nelhor o pedodo actual. 0 seu objective e real<;rar o contexto de emergencia e profissionaliza<;rao, o movimento geral (genese, fases, estrategias, tipos de legitimidade procurada) ... ), os tra<;ros mais sa1ientes do desenvolvimenro e as principais com seus efeitos e consequencias. * Professora Tiru!ar da Chedra de Trabalho Social no Conservar6rio Naciona! de Arces e O(lcios (CNAM) em Parise ex-Oirectora do CEDIAS-Musee Social *"" proferida nas Jornadas de Estudos dos 20 a nos do Diploma de Estado de Assiscenre Social em Franche Comte, Fran<;a (JRTS Besans:on, Maio 2000), publicado na Revista Cahiers du Trrtvai! Social, Setembro 2000, n. 0 47. - I.R.T.S. Franche-Comce, Besan<;on (revisret dispon(vel da bibliotcca do ISSSL).

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I;>:TERVENc;:,\o SocrAL, 27, 2003:43-61

Brigitte BouQUET*

Historia e muta~ao da profissao de Assistente Social em Fran~a **

Este artigo recupera a historia e evolurao do serviro social franch­nascido no final do sk XIX, com a questiio social Progressivrtmente, no perfodo entre as duas guenas mundiais, registou-se a sua institucionali­

ZilfttO e projiSJionaliztzriio. Depois de 1945, o serviro social conhece um procesj·o de desenvolvimento num quadro em que deixa de ser a 1./.nica projissiio social, para partilhar esse espa(o com educadores eJpecializados e animadores. A partir dos anos 75-80, o serviro social sofre profimdas mutat;oes em raz!io quer da crise econdmica quer da reforma da adminis­trativa de descentraliza~·!io . Por um !ado o serviro social e teinterrogado pela "nova quest!io social 'e a exclus!io, e por outro lado, e afectado pelo movimento de reorganizat;!io da act;!io publica e pela corrente neo/ibe­rttl. Actualmente o servit;o social confronta-se com numerosos desajios e questoes.

Esta comunica<;rao tern como prop6sito uma abordagem socio-hist6rica que permita compreender 1nelhor o pedodo actual. 0 seu objective e real<;rar o contexto de emergencia e profissionaliza<;rao, o movimento geral (genese, fases, estrategias, tipos de legitimidade procurada) ... ), os tra<;ros mais sa1ientes do desenvolvimenro e as principais orienta~6es, com seus efeitos e consequencias.

* Professora Tiru!ar da Chedra de Trabalho Social no Conservar6rio Naciona! de Arces e O(lcios (CNAM) em Parise ex-Oirectora do CEDIAS-Musee Social

*"" Comunica~ao proferida nas Jornadas de Estudos dos 20 a nos do Diploma de Estado de Assiscenre Social em Franche Comte, Fran<;a (JRTS Besans:on , Maio 2000), publicado na Revista Cahiers du Trrtvai! Social, Setembro 2000, n.0 47. - I.R.T.S. Franche-Comce, Besan<;on (revisret dispon(vel da bibliotcca do ISSSL).

44 1 Origircc Bouqucr

A profissionaliza<;ao do servi<;o social e complexa e nao univoca. For­jando-se no tempo, ela e uma constru<;ao que se faz progressivamente, em periodos diferentes e apoiando-se em diversas correntes, fazendo apelo a numerosas estrategias, inscrevendo-se nos factos tnarcantes da epoca. E por essa razao urn rerorno as origens se torna necessaria uma vez que 0

passado explica parcialme.nte o presence. A hist6ria do servic;o social tnostra-nos que a pro.fissionalizac;ao desta

profissao se compreende levando em considerac;ao uma serie de factores importances, cotno: i) urn contexte espedfico; ii) os protagonistas; iii) as alianc;as e esuategias, urn reconhecimenro; iv) a elabora<;ao de saberes.

Examinarei estas dimens6es nas grandes etapas de desenvolvimento profissional do servi<;o social:

-da filantropia a pro.fissionalizac;ao [1900-1939] - pedodo de desenvolvimento do servic;o social (idade de ouro - tl·inta

gloriosos) [1940 -1970].

1. Da filantropia a profissionalizac;ao do servic;o social [1900-1938]

A epoca pioneira do servic;o social teve duas fases situadas de 1900 ao fim da primeira guerra mundial (origem) e de 1920 a 1939 (instituciona­liza<;ao e uni.ficac;ao)

a. contexto

E face a manifestac;ao da questao social no sec. XIX que nasceu o trabalho social. Que se entende entao por questao social? A epoca, tra­tava-se da pobreza, da miseria , da durissimas condic;6es de vida da dasse opedria. Assim para lutar contra esta pobreza, foram criadas obras de caridade as quais se virao ajuntar as associac;6es filantropicas que preten­diam modificar este estado de coisas e procuravam a reconcilia<;ao entre as classes sociais. Sob a designac;ao de acc;ao social, formula de origem catolica, encontramos j a uma pluralidade de actores, assistindo-se a uma profissionalizac;ao de alguns desses sectores, primeiro sob controle associa­tive antes da passagem para urn conrrolo parcial estatal. Sabemos tambem

INTERVEN<;iio SociAl., 2-7, 1003

Hist6ria e mura~ao da profissao de Assisremc Social em Fran~a I 45

que esta miseria e estas condi<;6es intoledveis engendraram revolu<;6es e se rransformaram numa verdadeira crise social e pol.ftica. Neste contexto, o Estado toma as primeiras iniciativas, nomeadamente an·aves das caixas de reforma e adopta as primeiras leis sociais . 0 tratamento social da ques­tao social e progressivamente diferenciado do seu tratamento estritamente econ6mico ou politico, na segunda metade do sec. XIX. Por este facto, rem lugar uma reorganiza<;ao das formas de ac<;ao social e uma primeira institucionaliza<;ao da ac<;ao social. A indigencia tinha suscitado a resposta da caridade e da assistencia (organismos de benefi.cencia), o pauperismo oped.rio engendrou a no<;ao de solidariedade e de direito social. Assiste -se ao inicio do Estado providencia.

Por outro lado, na mesma epoca, ocorrem o aparecimento das cien­cias hUinanas, o desenvolvimento do higienico, e o desenvolvimento da tccnica.

b. as pione.iras

A profissionaliza<;ao do servi<;o social foi obra de mulheres. Existe efectivamente uma estrategia feminista de emancipa<;ao mas uma eman­cipa<;ao sob tutela dos homens, permanecendo as mulheres na maior parte do tempo· como executoras. Uma primeira analise mostra o fechamento do seu papel social a urn unico campo admitido pela sociedade da epoca: a beneficencia ou a actividade paramedica em vinude da sua ''natureza feminina» e das correspondences qualidades a qual corresponde a simb6-lica da "maternidade social». 0 determinismo a que estiveram submetidas estas mulheres as acantona ao "clever social" socialmente aceicavel. Urn segundo tipo de analise sublinha uma dimensao voluntaria e dina1nica na hist6ria destas pioneiras: o cuidado de uma «promo<;ao fetninina", por meio de utna profissao, constatando-se que no principia do seculo XX, feminismo e trabalho social es(avam ligados. Alem disso, Y. Knibie.lher formula mesmo a hipotese que para algumas assistentes sociais o empe­nhamento profissionaf foi um pouco o equivalente do empenhamento politico. Enfim, a sua posi<;ao social e confessional conduziu, como as analises socio-historicas demonscram, a urn afastamento entre o discurso de in­ten<;6es das pioneiras e a sua fun<;ao objectiva de educa<;ao dominance e de controle social sobre os pobres e a classe oped.ria.

I NTERVE N<;Io SOC IAL, 27, 2.003

46 I Brigine Bouquet

0 que importa destacar no entanto, e o seu processo caracterizado pela ruptura com o existence, a sua abertura, a concretizac;ao de urn novo modelo e a formac;ao de elites. Quanta as suas qualidades de estrategia, estas sao caracterizadas nomeadamente pelas suas redes nacionais e inter­nacionais, a sua relac;ao amb1gua com o Escado, criticando-o ao mesmo tempo que o procura cortejar e conduzir a legislar afim de assegurar de forma decisiva o desenvolvimento da profissionalizac;ao.

Estas personalidades acabarao por se dedicar cotnpletamente a sua vida profissional; elas desenvolveram uma acc;ao inovadora relaciva a acc;ao so­cial (criac;ao e organizac;ao de servic;os para suprir as carencias e respon­der as necessidades) assim como uma acc;ao inspiradora e instituince da profissionalizac;ao do servic;o social (forma<;ao, diploma nacional, estatuto, associac;oes profissionais, ... ) .

Estrategias

Inscrevendo-se, por urn lado, na corrente higienista, e por outre lado no cadinho filantr6pico do qual se pretendem demarcar par uma con­cep<;ao educativa e urn esp{rito de muito maior justic;a social, o servic;o social se caracterizad. por dais modelos que coexistirao ate 1938: as en­fermeiras visitadoras e as trabalhadoras sociais. Cada uma revela de uma genese diferente, apresenta uma concepc;ao particular pela sua ideologia, suas finalidades e sua formac;ao. 0 desenvolvimento destes dois modelos e suficientemente diferenciado para que os evoquemos de forma sucinta:

a) As enfermeiras visitadoras sao o produto de uma nova concepc;ao da profissao de enfermeira e da corrente higienista. No que se refere as enfermeiras a Franc;a apresenta urn clara atraso em rela­c;ao aos pa!ses anglo-sax6nicos. Aqui cambem, algumas mulheres farao valer o seu proprio modelo de formac;ao. No que se refere a orientac;ao higienista e polltica de saude, Llln numero crescente de mulheres aproveitarao da grande mutac;ao dos dispensaries para a{ ingressarem e desempenharem o papel de auxiliares de higiene. Por outra parte, as devastac;6es da primeira guerra mundial aceleram 0 desenvolvimento e fazem reconhecer urn papel fundamental as enfermeiras-visitadoras grac;as a inrervenc;ao americana em Franc;a

INTERVEN<;:io SoCIAL, 27, 2003

Hisr6ria c muca<;ao da profissao de Assisrcnre Social em Fran<;a I 47

e a uma serie de leis que favorecem igualmente esse progresso. Fal­tava apenas a consagrac;ao deste ramo profissional com a criac;ao de urn diploma de Estado. 0 decreto de 27 de Junho de 1922, e completado no pedodo seguinte, dad origem ao diploma de en­fermeira hospitalar e ao de enfermeira visitadora de higiene social especia!izada em tuberculose) em puericultura ou em venereologia. A profissao de enfermeira visitadora conhece urn grande desenvol­vimento. Desde 1930, existem 2400 em exerdcio, formadas por 67 escolas. Em 1933, sao j a 3000. Progressivamente, o seu papel nao cessara de tender para urn papel polivalente pondo cada vez mais em relevo o aspecto social;

b) Paralelamenre, o outro ramo profissional das trabalhadoras sociais desenvolvia-se rnais ientamente, empregando a expressao o sociaL puro, mostrando assim a vontade de se demarcar dos aspectos me­dico-sociais. Este ramo subdivide-se esquematicamente em tres correntes distintas: as residencias sociais, 1 o servic;o social de tipo familiar e as superintendentes de fabrica. 2

Mas sao sobretudo as primeiras leis de protecc;ao social e nomeadamente a lei de 1932 sobre as prestac;6es familiares que permitirao o progresso da profissao de assistente social. A dtulo de exemplo, o servic;o social da caixa de compensac;ao da regiao parisiense passa de uma dezena de assistentes sociais e enfermeiras visitadoras a varias centenas, em alguns anos. As outras saidas profissionais assalariadas (pouco numerosas a epoca) eram o servic;o de higiene escolar e o centro de protec<;ao maternal e infantil (em embriao em 1910 e com desenvolvimento em 1920; Ysabel de Hurtado); o servi<;o social da HBM (habitac;ao economica) (1920; Ysabel de Hurtado); o servi<;o social hospiralar (embriao em 1914 I desenvolvimento em 1920; Mme Josephine Getting); o servic;o social das caixas de compensac;ao (1921; Melle Madeleine Hardouin); os centros sociais (1923; MJ Bassot); o servic;o social dos tribunais de 1nenores (1923; H. Roller, 0 Spitzer); o servic;o social do apoio aos emigrantes (1926; Mme Chevalley).

Os saberes

A emulac;ao provocada pela institucionalizac;ao e o reconhecimento

48 I Brigiuc Bouqucr

das enfermeiras-visitadoras vai contribuir para a congregac;:ao de escolas sociais e trabalhadoras sociais, cujo numero era entao muito restrito. Um dos seus primeiros actos o de se constituir em associacrao profissional e a tentativa de reconhecimento de urn diploma de Estado. Mas esse pro­p6sito foi logrado ao insucesso uma primeira vez em 1924, em razao da oposic;:ao do Conselho Superior de Assistencia PLtblica o qual conduiu que o servifo social niio constitui o exercicio de uma profissiio propriamente dita. A reivindicac;:ao de urn diploma de Estado sera no entanto alcanc;:ado com a publicac;:ao do decreta de 12 de Junho de 1932 criando a licenfa de capacidade profissional que permite o uso do titulo de assistente de servifO social diplomado do Estado frances. Este diploma era obtido em quatro anos e diferenciava-se daramente do das enfermeiras hospitalares, e este do das enfermeiras visitadoras.

A conferencia internacional de 1928, em que urn dos temas de escudo se reportava ao ensino do servic;o social, permite compreender onde se situ­avam as questoes relativas ao saber (111 escolas de 19 pa!ses participaram): organizac;:ao das escolas, conceps;ao da formac;:ao e nomeadamente a sua parte teorica e pd. rica, programas de ensino, tipo de especializac;:oes postas em pd.tica, e criac;:ao de programas de formas;ao permanence e superior. Pode-se assinalar com grande interesse que a maioria das quest6es coloca­das nessa epoca estao ainda em debate, e de urn modo extrematnente vivo. Por urn lado, elas respeitam ao ensino profissional: o equillbrio teoria-pd­rica, a impord.ncia ou nao de especializac;:6es, a necessidade de formacrao permanence, a necessidade de qualificacrao superior. Por ourro lado, elas dizem respeito a natureza e essencia mesmo do servicro social: simples oH­cio ou profissao? constituira ele uma ciencia ou sera urn sub-produro das ciencias humanas? 0 lugar da etica; a dominance curativa ou preventiva; as relac;:6es entre profissionais e volundrios; a diHcil coordenac;:ao.

Como conclusao provisoria para este pedod.o das pioneiras

A unificac;:ao do servic;o social fez-seem func;:ao de dais factores: de urn lado, o recrutamento indiferenciado de uma ou de outra profissao pelos diferentes servis;os de higiene social ou pelos organistnos sociais semipu­blicos ou privados.

Por ourro lado, a coordenas;ao preconizada desde o fim da I Guerra

INT£RVEN<;:AO SOCIAL, 27, lOO}

Hisroria e murac;iio da prolissao de Assisrcnrc Social em Franc;a I 49

Mundial, perante o desenvolvimento das obras privadas e dos organismos publicos de higiene social assim como em razao da necessidade de uma poUrica sanidria publicae global. Tudo isto vai estar na origem do decreta de 17 de fevereiro de 1938 que opera a fusao da forma~ao das enfermei­ras visitadoras e da forma<_;:ao das assistentes sociais e assumindo uma formula unica: a assistencia sociaL Resultado de urn compromisso, este decreta produz uma inffexao medico-social no servi~o social e reconduz as enfermeiras a tecnica dos cuidados; estas duas profiss6es permanecerao ligadas por urn longo pedodo de tempo. Em 1939, pode-se considerar que o conjunto das variaveis da profissionaliza<_;:ao do servi<_;:o social estao colocadas e que a dinamica de profissionaliza<_;:ao nao tern mais do que prosseguir o seu caminho e se consolidar.

2. A idade de ouro do Servi~o Social: 1940-1970

a. o contexto

£ preciso assinalar uma mudan<_;:a: o servi<_;:o social nao e mais a unica profissao social. Os educadores especializados surgem no periodo da segunda guerra mundial e nao cessarao de se desenvolver dcsde entao. Durante os trinta gloriosos, como eles permanecem por urn longo periodo de tempo num campo particular, o internato, o servi<_;:o social permanece central, talvez pouco afectado por esta nova profissao na area social. Algo de semelhante se passa com o surgimento dos animadores nos anos 60, nas casas de juventude, facto que nao afecta realmente o servi<_;:o social uma vez que este nao se situa neste campo. Pelo menos ate aos anos 70, altura em que os educadores passam a intervir em campo aberto, no dominic da preven<_;:ao, altura em que 0 termo trabalho social e instituido.

Com efeito, o trabalho social beneficiou entre 1964 e 1975 de uma con­juntura hist6rica excepcionalmente favoravel vis!vel pela progressao dos recrutamentos, a cria<_;:ao dos diplomas de educadores em 1967, e tarnbem dos animadores. 0 reconhecimento e abertura dos sistemas de forma<_;:ao, uma extensao do rnercado de trabalho sustentado por uma tecnocracia ciosa de normas mas tambem de desenvolvimento. NUinerosas politicas publicas marcam este periodo.

INTERVEN~AO SOCIAL, 27, 200)

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t neste perfodo que se desenvolve verdadeiramente a epoca de ouro do servic;o social, nomeadamente sob a forma da polivalencia de sector. E sobre este aspecto que me deterei urn pouco:

- Experimentado nos a nos 20 em Suresnes por Henri Se.llier, o servicro social de polivalencia de sector organiza-se e finaliza-se como urn servicro generaliza de proximidade; esta concepcrao sed. retomada depois da guerra de 40 pelos poderes publicos que o oficializarao e regulamentarao de modo a que seja aplicado a rode o territ6rio.

-Nos a nos 60, a polivalencia de sector torn a- se uma u nidade funcio­nal, central e pivot de uma polltica social que se pretendia globat territorial e proxima da populacrao. A legirimidade da polivalencia de sector era entao reconhecida. Em 1964 assiste-se a reforma territorial administrativa da desconcentrarao, reforcrando o escalao deparramen­tal. Tal e nomeadamente concretizado no dominic da acc;ao social com a cria<;ao das DDASS.3 Daqui resultou a organizacrao de urn servic;o social departamental, verdadeiro servic;o publico colocado sob a autoridade unica do director da DDASS. Pela circular de 13.12.1966, inscrevendo-se numa nova estrutura de servicro social, a circunscrirao de serviro social, a noc;ao de polivalencia de sector e ofi­cialmente reconhecida (correspondence a 3 500 habitantes). As CAF 4

e as Caixas de MSA 5 sao largamente implicadas no trabalho familiar e polivalencia de sector.

-Os anos 70, e nomeadamente o ano 1975, constituem uma etapa importance significando uma outra concepc;ao da acc;ao social. Os 6 e 7 Planas preconizavam que a vida social colectiva, a animac;ao e a acc;ao global, o desenvolvimento, a promocrao dos individuos e dos grupos ... A circular de 15 de Outubro de 1975 respeirando a circuns­cric;ao da acc;ao social opta pela renovacrao do papel da circunscricrao. Tal nao respeita somente ao servi<;o social mas adopta a terminolo­gia '\rabalho social". Preconiza-se urn papel de concertac;ao entre o conjunto de trabalhadores sociais situados no territ6rio, urn papel de animac;ao geografica o mais proxima dos urentes.

)NTERVllN<;:AO SOCIAL, l7, 1003

Hisroria c mutac;:ao da prolissao de Assisrenre Social em Franc;:a I 51

Os saberes

Os saberes caracterizam-se essencialmente pelo Case-Work. A sua fundadora e internacionalmente conhecida: Mary E. Richmond (1861-1928). 0 seu primeiro livro surgido em 1917, nao foi acess!vel na Europa senao aos trabalhadores sociais com competencia nas llnguas inglesa e holandesa, porque o diagn6stico social nunca foi traduzido em franccs.6 56 a segunda obra What is the social case-work, editada alguns anos mais tarde nos Estados Unidos (1922) foi editado em Franc;a em 1926 com o drulo: Les methodes nouvelles d assistance. Os saberes pra­ticos sao descritos au·aves de dois metodos: 0 metoda operacional e 0

metoda diagn6stico, interdependentes entre si. Enfitn, Mary Richmond propoe a supervisao. As ideias de Mary Richmond foram pouco explora­uas pelo servic;o social frances antes da segunda guerra mundial, mesmo se a sua obra era frequentemente referenciada nos textos estudados: foi pouco aceite e pouco compreendida, com excepc;ao de Marie-Therese Vieillot.7

Nos anos de guerra e ocupac;ao, torna-se necessaria atender a urgen­cia das necessidades de sobrevivencia da populac;ao, e nao existia muito tempo para reflectir sabre as referencias epistemol6gicas e praxeol6gicas. Os anos do imediato pas-guerra foram ainda mais diffceis no plano da vida quotidiana dos franceses e da sua saude. Deste modo, ainda que a lei de 8 de Abril de 1946 tenha dado suporte ao estatuto profissional dos assistentes sociais, o programa de estudos permanecia igual ao de 1938, e marcado por uma orientac;ao medico-higienista devido a fusao com a fonnac;ao de enfermeiras-visitadoras. E permanecera inalterado ate 1962, sendo somente em 1968, que serao definitivamente separadas as formac;oes de assistentes sociais e enfermeiras.

Curiosamente, e no momenta em que se iniciam OS trinta gloriosos, que o servic;o social frances vai descobrir verdadeiramente, sem necessaria­mente o aceitar, o case-work; nomeadamente por via da ONU que intro­duz esse metodo na Europa. 0 case-work e retomado e difundido por urn punhado de assistentes sociais actuando como porta-vozes e pelas grandes instituic;oes sociais, inovadoras a epoca (UNCAP, SNCF,8

... ). Nunca foi no enranto materia de preocupac;ao de urn grande numero de assistentes sociais. Mas rrata-se sem duvida da primeira verdadeira conceptualiza<_;ao

lNTERVEN<;:.\o SocJAL, )_7, lOol

52 I Brigirrc Bouquc(

autonoma do servic;o social que pennanece actualmente como urn estado de esp1rito e uma postura etica.

Maio de 68 passou pelo servic;o sociaL Alem disso, os anos 70 sao anos polarizados pelo conceito controle social, que de conceito cientifica se transformara em palavra contestaria. Da parte dos trabalhadores sociais, tal nao deixara de ocasionar devasta~oes. Observa-se u1na contesrac;ao a todo o tipo de hierarquia que se traduz por urn desinvestimento de res­ponsabilidades e carreiras e nas outras profiss6es uma vontade de saberes praticos em detrimento dos saberes universidrios; nota-se urn fechamento sobre os saberes endogenos, a procura de uma praxeologia, duma disci­plina do trabalho social. Alem disso, foi criado o Diploma Superior de Trabalho Social (DSTS) negociado nesta perspectiva em 1978 (contra as maitrises de trabalho social que entretanto se criavam nas universidades) (RIFF)

3. As evolu~oes actuais

Contexto e consequencias dos anos 80

Esta decada marcara. por rnuito tempo e simultaneamente a organiza­c;ao e as miss6es do servic;o sociaL V arias fa eros assumem importancia.

Como primeiro factor assinale-se a mudanc;a da questao social. A crise economica com o desemprego (mais de 3 milh6es de dese1npregados). Mas que recobre igualmente outros aspectos e os efeitos da crise da pro­tecc;ao social face a qual se cola com toda a forc;a a questao essencial da manutenc;ao da protecc;ao social ou pelo contrario da sua diminuic;ao.

A crise social com a profunda transformac;ao demografica, dos modos de vida ... traduzida no envelhecimento da populac;ao, o fenomeno novo de uma coabitac;ao mais longa dos adulros com os seus filhos por um lado e dos seus familiares idosos por outre, as fam{lias monoparentais, as famllias recompostas, etc.

Enquanto que a desertificac;ao rural poe o problema do desenvolvi­mento, a «questao urbana" necessita de lutar contra a relegac;ao, de conter as violencias e as desagregac;6es. E em curta prazo, engloba a questao cultural. Fala-se sem cessar da desagregac;ao dos valores, da falta de

INTERVEN<;:,\0 SOCIAL, 27, 2003

H isroria e mula<;:ao da profissao de Assisrentc Social em Fran<;:a I 53

sentido e e verdade que, por reacc;ao se observa o crescimento dos indi­vidualismos, dos nacionalismos, dos fundamentalismos, ... Tal constitui problema. Existe urn quebra de sentido, do pensamento diz-se. E isto afecta o trabalho social.

Consequencias para o servic;o social

Desde entao o servic;o social e confrontado com o alargamento dos domfnios de interven<;:ao e das categorias de popula<;:ao.

a) E confrontado com a diversidade e a heterogeneidade de novos pu­blicos: pessoas isoladas, beneficiarios do RMI, 9 sem-abrigo ... as fatnllias monoparentais, as famflias endividadas, os jovens adultos que nao podem iniciar a vida activa, alguns jovens isolados devido a ausencia ou a ruptura familiar ou em dificuldade devido a exdusao econ6mica, etc.;

b) Para o servic;o social, as consequencias da crise econ6mica e da protecc;ao social sao importantes:

- por urn lado, confrontado com a pobreza, o problema da solvabi­lizac;ao do sobre-endividamento, o servic;o social e envolvido no fen6meno de regulac;ao de urgencia que se realiza e se desdobra tambem em ajuda de urgencia; pode-se dizer que a acc;ao social e fortemente sobrecarregada pela crise do emprego e e absorvida pela urgencia de rendimentos e trabalho.

- por outro I ado, o servic;o social deve alargar o seu campo de acc;ao para respostas mais adequadas, enquadrar-se nas politicas sociais e de emprego, nos dispositivos ligados a inserc;ao, abrir-se ao mundo econ6mico e tanto quanto posslvel, contribuir para a inserc;ao socio-profissional. Doravante, as novas palavras de ordem sao a inserc;ao e o acesso aos direitos.

Como segundo factor deve destacar-se transformac;ao da acc;ao publica e a evoluc;ao da polftica social. Mencionarei aqui a descentralizac;ao e as politicas sociais rransversais.

1 NTERVE.N(.Iio SociAL, 27, 2003

54 I l3rigine Bouquet

-A descenualizac;ao (1983) modificou profundamente a accrao e o trabalho e recompos o sistema de acrores sociais. Sabe-se, que a descentralizacrao tinha por finalidade gerar pela territorializac;ao das respostas, a sua optimizacrao e a proximidade com o utente. Ao mesmo tempo, a descenualizacrao modificou o conjunto do contexte institucional, em pelo menos tres pontos.

a) a descentralizac;ao provocou uma reaproxi1nacrao do poHtico e da intervencrao social. A competencia da accrao social foi atribu(da aos Conselhos Gerais que se tornam nao apenas pagadores mas rambem decisores . 0 servi<;o social nao tern mais somente que executar a politica do Estado directamente ou por delega<;ao de missao de servicro publico, mas tambem uma polltica social com as suas pr6prias prioridades. Por um lado o servic;o social deve sair da sua recnicidade para ter uma funcrao recnico- poll rica. Os eleitos, obrigados a uma racionalidade e a constrangimentos or­c;amentais esperam uma melhor inserc;ao institucional do servic;o social, praticas mais vis{veis, mais eficacia, e ate rentabilidade ...

b) a descentralizac;ao desencadeou uma redisrribuicrao das missoes de Esrado. Se o Esrado resrringiu as suas missoes em materia de ajuda social rradicional, investiu pouco a pouco num ourro campo, o da exdusao. Aprovou leis que rem consequencias im­portantes para o trabalho social requerido para a sua realizacrao. 0 RMI e disso a melhor ilustracrao. Mas existem igualmente outros dominios sensiveis que o Estado manteve como domfnio de intervenc;ao, como a protecc;ao da infancia maluatada, rornada uma prioridade social nacional, e onde os profissionais tern uma forte pressao sabre o seu modo de intervencrao, e no seu proprio modo de resposta.

c) Por fim, a descentralizacrao e interpelada pela redefinic;ao do papel das cidades. A descentralizac;ao desencadeou urn reposicio­namenro dos organismos de protecc;ao social. Desde a descentra­lizacrao, os departamentos tern manifestado a vontade de tomar em maos a ac<;ao social generalista ate enrao igualmente efec­tuada em conven<;ao pelos organismos de protec<;ao social. Este processo traduziu-se num movimento de desconvencionamento da

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Hisroria c murar;:ao da profissao de Assisrenre Social em Franya I 55

polivalencia de secror, das Caixas de Prestacroes Familiares, de numerosas MSA e da maioria dos CPAM. 10

-A emergencia de novas pollticas sociais transversais . Durance muito tempo as medidas de polltica social tiveram uma natureza sectorial (campo de proteccrao de infancia, por exemplo) e categoriais (rela­tivamente as pessoas deficientes, as pessoas idosas, etc.). Em 1978-1980, emerge a vontade de por em pratica urn outro tipo de politica. Trata-se de uma logica de abordagem dos problemas, transversal e desconcentrada, conduzindo a territorializacrao de novas dispositivos de accrao social. Esta orientac;ao tern por pressuposto que o rerritorio e 0 melhor lugar para produzir a articulacrao entre as pollticas nacio­nais e o local. Que introduziu novos instrumentos como a inscric;ao territorial e o desenvolvimento locaL necessitando de todo urn par­tenariado, a globalizac;ao, a finalizac;ao temporal e local. A melhor ilustracrao desta orientacrao e as polfticas cia cidade e do territ6rio a qual obriga o servicro social a ser mais colectivo, partenarial e partici­pative.

Este processo tern naturalmente consequencias para o servic;o so­cial: o servicro social entra numa logica de missao, urn outro funcio­namento, urn modo contratual, urn verdadeiro partenariado activo e alargado, uma ourra concepc;ao territorial, uma metodologia de projecto, etc.

Terceiro factor: as evoluc;oes internas proprias ao servicro social. Trata-se cia reorganizac;ao do servicro social, a redefinicrao dos seus ob­

jectos. A reorganizac;ao inrerna dos servicros sociais desencadeada numa maioria dos departamentos.

-Assim, em alguns departamentos, as circunscric;oes de trabalho so­cial sao subscituidas por pofos, ou nourros por unidades territoriais de accrao social reunindo o conjunto do pessoal administrative e social; noutros ainda, ocorre uma recenrragem em torno da noc;ao de desenvolvimento social e redelimitacrao das circunscricr6es a fim de corresponder a encidades socio-econ6micas; noutros ao contnirio, as circunscric;6es tradicionais sao consolidadas; em alguns departa-

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56 I Brigi{[e Bouqucr

mentos coexistem tres tipos de circunscric;6es (servic;o social, ASE, 11

PMI 12), etc.

- Relativamente a polivalencia, ocorre em muitos Conselhos Gerais a orientac;ao para a polivalencia; os departamentos decidiram que o acolhimento e orientac;ao serao realizados por secredrios formados, afi.m de libertar os assistentes sociais para lhes permitir de melhor se concentrarem em miss6es precisas assistindo-se assim a urn mo­vimento de especializac;oes sabre o qual nos podemos perguntar se nao se trata de urn processo contradit6rio com a abordagem global tao desejada; enquanto que outros departamentos estimam que o acolhimento e fundamental para a avaliac;ao social permanecendo atribu1do aos assistentes sociais. Enfim alguns querem que o reference da relac;ao face a face com os utentes seja aquele que esta melhor colocado, qualquer que seja a sua profi.ssao, etc.

Reorganizac;ao por campo de intervenc;ao

Trata-se de passar de urn modelo psico-relacional personalizado a longo termo, a uma intervenc;ao orientada preferencialmente sobre o lac;o social local e a inserc;ao tendo por base a elaborac;ao de urn projecto, inte­grando urn contrato com a pessoa acompanhada, e procedimentos de ava­liac;ao. Visa-se sobretudo entrar num modelo contratual de inserc;ao capaz de lutar contra a exclusao, e manter a coesao social. Isto e empenhar-se numa dimensao econ6mica, a inserc;ao e a considerac;ao das l6gicas de outros campos tais como a formac;ao profissional, o ordenamento urbano, a micro-economia, etc. Chama-se o trabalho social a investir em novos espac;os de acc;ao nomeadamente econ6mica e a juntar a relac;ao educativa e de ajuda, saberes-fazer proveniences desses outros campos.

No final dos anos 80, verifica-se uma explosao dos modelos. 0 servic;o social e perturbado, e revela urn claro mal-estar, ao ponto de pela primeira vez e com esta amplitude, realizad. em 1991 uma grande greve, tendo na base a falta de reconhecimento dec01·rente da recusa de homologac;ao do diploma de nfve1 II e a denuncia da falta de meios.

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Hisroria c muta~ao da pronssao cle Assisrenrc Social em r:ran~a I 57

0 contexto dos anos 90

Neste periodo, reencontra-se, mas de uma forma ampliada o cenario que marcou os anos 80, ao qual se juntam outros elementos.

-a introdu<rao de novas tecnologias e nomeadamente a informatica, vista como forma de resposta a complexidade do trabalho social. Esras tecnologias implicam metodos diferentes de trabalho social e modifi.cam a rela<rao dos trabalhadores sociais com o seu trabalho e com o utente. A informatica implica urn cerro rigor e transparencia o que provoca tambem urn largo debate porque para uns, trata-se de urn progresso, enquanto que para outros, representam urn ver­dadeiro perigo etico, nomeadamente pelo respeito da vida privada e das liberdades ...

-a dimensao gestionaria e a inrroduyao de urn managment tornatn-se proeminentes: 0 imperative da analise de custos, rentabilidade pro­curada... Alem disso, os profissionais do social sao enquadrados por uma elite exterior. As orientay6es das grandes organizay6es sociais sao doravante decididas por pessoas sem relayao com o rrabalho social. Observa-se uma pratica cada vez mais frequente de contratualizayao por objectives no dominic das politicas sociais, que se traduz por uma precarizac;ao das organiza<r6es sociais e empregos sociais. Os prestadores de serviyos sao integrados num processo concorrencial numa logica de mercadoriza<rao das presrac;6es sociais.

- Profiss6es centrais e novos perfis profissionais: constata-se a emer­gencia de novas profiss6es do social, processo importance face a sua impord.ncia quantitativa. As profiss6es sociais principais como os as­sistentes sociais, educadores especializados sao por vezes designados de n~'tcleo duro. Como mostram diversos sociologos, a evoluc;ao dos empregos do trabalho social faz-se segundo quatro processos:

- Num nivel superior as profiss6es centrais desenvolve-se urn en­quadramento adminisrrativo-social espedfi.co, provenience de alta func;ao no ambito territorial;

l NTI'.RVI?.NyAO SOCIAL, 27, 2003

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-A par destas profiss6es centrais, novas figuras profissionais emer­gem inscritas no interior dos novos dispositivos ligados a inserc;ao, a cidade, a preven<;ao da delinquencia, a habitac;ao, a mediac;ao, e que operam de forma transversal. .. Chefe de projecto, agente de desenvolvimento local ou sociaL agente de insen;ao, encarregado de missao na cidade, responsaveis de empresas de inserc;ao ... ;

- Num nivel abaixo destas profiss6es centrais encontra-se o pessoal dos niveis V e VI que conheceram urn crescimento d.pido e que se situ am sobretudo nas profiss6es de apoio ao domidlio; a estes juntam-se pessoas que realizam pequenos trabalhos, os mediadores interculturais, os agentes ambientais, assim como os emprego-jo­vens;

-Em volta, observa-se a afirma<;ao de outros aero res do social: seja de profissionais com perfis muito diferentes proveniences de outros secrores (organismos de forma<;ao, empresas, ANPE 13

••• ), seja de volund.rios e militantes associarivos.

- Enfim, mesmo que nao se queira falar de novas profissoes, ex is rem func;6es que sao assumidas por outros. Refira-se nomeadamente a fun<;ao de acolhimento (balcao unico) e a fun<;ao de media<;ao so­cial.

Donde as seguintes constatac;6es:

a) os trabalhadores sociais nao sao mais os unlCos encarregues da solidariedade e partilham com novos acrores e perfis sociais essa func;ao. Ao ponte de que certos pontos de vista pretendem alem disso substiruir o termo trabalho social pela no<;ao interven(!iO social, considerando que esta amplia o campo definido pela primeira e corresponde melhor a realidade actual;

b) Para o trabalho social territorial: esta hierarquiza<;ao, esta funciona­lizac;ao da inrervenc;ao social conduz a que a l6gica institucional, a l6gica de missao, se sobrep6e cada vez mais a l6gica profissional;

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Hlsr6ria c muta~ao da profissao de Assistence Social em Franp I 59

c) Hoje, pode-se afirmar que o campo das profiss5es sociais e percor­rido por uma tensao entre a l6gica da qualifica<;ao profissional (a dos diplomas de Estado, da fixa<;ao de quotas e das deonrologias paniculares de algumas profiss6es do social) e uma l6gica da com­petencia profissional mais individualizada;

d) Os merodos de trabalho existentes devem ser reactualizados, mesmo refundados (exemplo a interven<;ao social de ajuda ao indi­viduo); Alem disso, e o proJecro, o contrato, a media<;ao, o acom­panhamenro social... o trabalho em parceria, nao simplesmente com institui<;6es ou ate mesmo com as associa<;6es mas tambem com aqueles actores que etnergem na sociedade (excmplo: mulheres intermediarias) enfim novas referenciais: da inser<;ao, a que se junta a parenralidade.

Conclusao

Existem, hoje, numerosos desafios a relevar:

-a reform a em curso da forma<;ao e do diploma de assistente social que o Estado afirma sera emblemarica para outras profiss6es;

-a real concretiza<;ao da lei da orienta<;ao contra as exclus6es que atri­bui urn espa<;o ao trabalho social e nomeadamente a forma<;ao; 14

-a reflexao etica trabalhada pelo Conselho Superior de Trabalho So­cial;

- o papel da investiga<;ao, da conceptualizas:ao, da formac;ao; faltam cruelmente referenciais comuns pertinentes e heudsticos e modelos operat6rios reconhecidos. 0 trabalho social oscila demasiado - para parafrasear uma expressao de Henri Lefrevre entre conceitos sem vida e um vazio sem conceitos. Exisre uma diffcil capitaliza<;ao dos saberes porque eles nao sao suficientemente identificados e a questao de transferencia dos saberes permanece pert.inente. Ora, como diz Claude Dubar, e necessaria transportar as quest6es da pratica ao estatuto de questio te6rica, donde a actual polltica de valoriza<;ao das pesquisas;

-a futura catedra de trabalho social no Conservatorio Nacional de Artes e Oflcios (CNAM). 15

INTE.RveN<;:A.o SociAL, 27.2003

60 I Brigitte Bouquet

Hoje, com a crise, assiste-se a urn tacteamento que tende a reposicionar de outro modo o servicro social requerendo a sua abertura a outros campos com novas pd.ticas e ao mesmo tempo que se redesconte a necessidade de urn trabalho social mais profissional e muito competence. Coloca-se, simultaneamente, um contexte desafio polLtico, um desafio social, urn desafio organizacional e urn desafio pedag6gico e metodol6gico ...

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SAINT MARTIN, Corinne (1999), ftre assistante de service social, effits de position et dyJlllmiques en organistttion, Paris: L'Harmatran.

Notas

1 As residencias sociais, como seu per(odo mais activo regisrado entre 1900-1914, anrecedem

os actuais cencros sociais e correspondem aos settlements ingleses. Esses equipamentos sociais

proporcionavam um grande leque de acrividades intelectuais, nomeadamenre acrividades cu)­

rurais e desporrivas, ateliers de exprcssao, acrividades de forma~ao nos dom{nios sanitcirios e

do consumo, .. . Situadas no cenrro das cidades opedrias perro dos bairros de lara, esras es­

rrururas eram aberras aroda a popula~ao e sobretudo aos grupos mais desfavorecidos . A epoca

as assistemes sociais residiam nesses equipamenros, pagando em correspondencia uma renda,

conrribuindo assim quer economicameme quer para que esses espa<;os se consriru(ssem como

espac;os de reAexao . Marie-Jeanne Bassot foi uma das primeiras rrabalhadoras sociais a exercer

a sua acrividade nas residencias sociais. Ap6s a r Guerra Mundial (por volra de 1920), as resi­

dencias sociais sao reagrupadas para consriruir a Federa<;ao dos Cenrros Sociais de Fran~a .

2 Trara -se da u n ica forma~ao existence em Fra n<;a, correspondence a u ma Pos- G radua<;ao, no

dom{nio do Servi<;o Social e Trabalho, que existe desde 1917.

INTERVENyAO SOCIAL, l7, 2003

His16ria c mura<;ao da proflssao Je Assisrenrc Social em Fran<;a I 61

3 Direcc;6es dos Serviryos de Ae<;:ao Social de Departamento, escalao territorial supra municipal na organica polfrico-administrariva francesa, em que em geral os munidpios (communes) rem uma exrensao terrirorial e populac;ao compararivamence inferiores ao que se regisra em Porcugal.

1 CAF - Caisses d 'AIIocarions Familialcs- Caixas de Presrac;oes Familiares. A sigla UNCAF corresponde a uniao nacional das caixas de prestacy6es familiares.

s Caixas de Murualidades Sociais Agrfcolas, correspondence ao regime de seguranc;:a social dos rrabal hadores agrlcolas.

6 0 Diagnosrico Social de Mary Richmond foi na verdade edirado em lfngua porwguesa, em 1950, numa edic;:ao do Insriruro Superior de Higiene Ricardo Jorge .

7 Nee le 6 decembre 1898, decedee le 28 mars 1985, MT Vieillor est une des pionnieres du ser­vice social fran<;ais . Apres Ia premiere guerre mondiale, ou elle a ere engagee com me infirmiere, elle a servic;:o comme inrerprete aupres des missions americaines venues aide( Ia reconstruction de Ia France. Elle s'y fir des amis er ceci explique qu'elle esr allee en 1920-1921 aux USA pour se former au service social. De rerour en France, elle a enseigne a l'ecoJe pratique de service social ou e!le a ere tres acrive. A ceue periode, elle a rente d'inrroduire !e s case Work en

tFrance mais en vain. Puis en 1935, elle retourne aux USA, a ]'ecole de service social de New York, pam completer sa fonnarion. A son retour en France, elle prend Ia direction de !'ecole de service social de Strasbourg, foncrion qu 'elle assurera jusqu'a Ia declaration de Ia seconde guerre mondiale. En 1949-1950, e!le dirige !'ecole de service social de Ia croix rouge ~ Rauen puis panic en retraire en l95l. Ellene cessa de voir ses amis americains er leur legua ses archives. Entin, a 93 ans, ne pouvant plus erre auronome, elle enrra en maison de rerraire pour y finir ses jours.

s SNCF- Sociere Nacionale des Chemins de Fer Franc;:ais (Caminhos de Ferro Franccses) 9 Revenu Minimum d'Inserrion (Rendimenro M(nimo de lnserc;:ao, criado em Franc;:a em 1988,

mfnimo social idenrico ao Rendimento Mlnimo Garamido criado em Porcugal em 1996). 10 CPAM- Caisse Primaire d'Assurance Maladie, Rede primaria de assisrencia medica, de ca-

dcter local e desrinada aos beneficiaries da seguranc;:a social.

II ASE- Aide Sociale a l'Enfance- Apoio Social a Infancia 12 PMI- Protection Marernelle et Infantil- Prorecc;:ao Marerno-lnfantil 13 ANPE- Agence Narionale pour I'Emploi- Agencia Nacional de Emprego 14 Lei n.0 98-657 de 29 Junho de 1998 relariva a oriencac;:lo da lura cancra exclusao (Journal

Officiel, 31 Juillet 1998) 15 Criada posreriormente. A pl'imeira fase do doutoramenro em Franc;:a passa pelo Diploma de

Escudos Aprofundados (DEA) realizado em 1 a 2 anos, tendo sido iniciada em Ourubro de 2002.

Tradurilo: Pt·ancisco Branco, ISSSL Revisiio Lingufstica: Brigirce Griffon, Mestre em Trabalho Social e Antropologa, IRTS Franche­Comre, Besanryon (France) (ao abrigo do proccsso de coopew;:ao ISSSL-IRTS Franche-Comte). Responsavel pela elaborac;:ao das notas de informac;:ao reporradas ao conrexco hiscorico e admi­nistracivo em Franc;:a.