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  • Histria do Tempo Presente:oralidade, memria, mdia | 1

    Histria do Tempo Presente:oralidade, memria, mdia

  • 2 | Histria do Tempo Presente:oralidade, memria, mdia

    Reviso: Ivana B. S. SeverinoProjeto Grfico e Diagramao: Jos Isaas Venera

    ndices para catlogo sistemtico:1. Historiografia 907.2

    Editores Casa AbertaIvana Bittencourt dos Santos Severino

    Jos Isaas VeneraJos Roberto Severino

    Rua Lauro Mller, n. 83, centro | Itaja | CEP. 88301.400Fone/Fax: (47) 30455815

    Conselho EditorialDr. Andr Luis Ramos Soares (UFSM)

    Dr. Antnio Emilio Morga (UFAM)Dra. Casimira Grandi (UnTn - Universidade de Trento)

    Dra. Clara Dornelles (UniPampa)Dr. Jos Bento Rosa da Silva (UFPE)

    Dr. Jos Roberto Severino (UFBA)Dr. Lourival Andrade Jr. (UFRN)

    Dr. Pedro de Souza (UFSC)Dra. Raquel Alvarenga Sena Venera (Univille)

    Msc. Jos Isaas Venera (Univali/Univille)

    H673 Histria do tempo presente: oralidade, memria, mdia / Janice Gonalves, organizadora. - Itaja, SC: Casa Aberta, 2016.

    230 p.; 14 x 21 cm

    Vrios autores. Bibliografias.

    ISBN: 978-85-62459-60-3 (broch.)

    1. Histria - Tempo presente. 2. Historiografia. 3. Pesquisahistrica. 4. Memria. 5. Gonalves, Janice (Org.).

    CDU: 351.71

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    Histria do Tempo Presente:

    oralidade, memria, mdia

    1a edioItaja - 2016

    Janice Gonalves (org.)

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    A publicao desse livro foi parcialmente financiada com recursos daCoordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES (PAEP2357/2014).

    O captulo de autoria de Alexander Freund foi originalmente publicado comoartigo de peridico:

    FREUND, Alexander. Under Storytelling's Spell? Oral History in a NeoliberalAge. Oral History Review, v. 42, n. 1, p. 96-132, Winter/Spring 2015. Disponvelonline desde 11/03/2015.

    Copyright Oxford University Press

    A traduo e a publicao do artigo de Alexander Freund foram autorizadaspela Oxford University Press (editora da Oral History Review).

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    Sumrio

    ApresentaoJanice Gonalves

    Historia del presente, historia oral ymemoria de la izquierda en Mxico

    Gerardo Necoechea Gracia

    Argentina 1976-1983: la oposicin obrera a ladictadura en la memoria de cinco trabajadores

    Pablo Alejandro Pozzi

    Histria, poltica e mdia no Brasil em redemocratizaoReinaldo Lindolfo Lohn

    Sobre tempos digitais:Tempo Presente, Histria e Internet

    Dilton Cndido Santos Maynard

    Reflexes sobre o gnero biogrfico:literatura, iluso e disputas de memria

    Mrcia Ramos de Oliveira

    Que memria? Que histria? Usos do passadoe o ensino de Histria a partir do presente

    Cristiani Bereta da Silva

    Histria do Tempo Presente nos programas estaduaispara a high school nos Estados Unidos da Amrica:

    comentrios sobre a vulgata histrica nacional etransnacional (1999-2014)

    Itamar Freitas

    07

    17

    29

    59

    77

    101

    117

    141

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    Sob o encanto da contao de estrias?Histria oral numa era neoliberal

    Alexander Freund

    Sobre as autoras, os autorese a organizadora

    159

    225

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    Apresentao

    Janice Gonalves

    Percebida de incio, no meio acadmico brasileiro, como propostaextica e algo inconsistente, no obstante a historiadora Marietade Moraes Ferreira buscar demonstrar desde logo, e reiteradamente,suas razes e pertinncia (FERREIRA, 1996; FERREIRA, 2000;FERREIRA, 2002), nos ltimos vinte anos a Histria do TempoPresente multiplicou atenes e deixou de ser objeto de artigosisolados para tornar-se tema privilegiado de revistas acadmicas,publicaes em livro, eventos, grupos de estudo e de pesquisa1.Como sinal claro de reduo da desconfiana inicial, emergiu e foi

    1 Sem pretenso de exaustividade, cabe destacar algumas publicaeslanadas em livro no Brasil: entre as coletneas, as organizadas por AgnsChauveau e Philippe Ttart (1999), por Gilson Prto Jr. (2007), por FlviaVarella, Helena Mollo, Mateus Pereira e Srgio da Mata (2012) e por LucliaDelgado e Marieta de Moraes Ferreira (2014); entre os captulos de coletneasde temtica mais ampla, o captulo de autoria de Mrcia Motta (2012),contido no livro Novos domnios da Histria; entre os livros autorais, o deMateus Pereira (2009). Por iniciativa do Programa de Ps-Graduao emHistria da Universidade do Estado de Santa Catarina foi promovida atraduo do livro de Henry Rousso, La dernire catastrophe, de modo a serpublicada em 2016, pela Editora da Fundao Getlio Vargas. Entre os

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    aprovada pela CAPES, em 2006, a proposta de um programa deps-graduao tendo a Histria do Tempo Presente como rea deconcentrao: o Programa de Ps-Graduao em Histria daUniversidade do Estado de Santa Catarina (PPGH-UDESC).

    Em cenrio no qual, portanto, as aluses Histria do TempoPresente acentuam-se, pode-se detectar o aprofundamento dodebate a esse respeito? Ou as referncias que se avolumam, emartigos, entrevistas e palestras, apontam mais propriamente paraa sua banalizao? Penso que vivemos simultaneamente as tensesdesses dois movimentos, geradores de produes acadmicas queora apontam para o denso e profundo, ora para o tnue e raso. OPPGH-UDESC pretende contribuir para a vertente adensada equalificada do debate.

    At o final de 2015 foram defendidas cento e duas dissertaesde mestrado no mbito do Programa (efetivamente implantado,ressalte-se, em 2007), havendo previso de defesa das primeirasteses em 2018, uma vez que o Curso de Doutorado foi aprovadoem 2013 e iniciado em 2014. Trata-se de nmero significativo detrabalhos concludos, disponveis online, e que conformam oprincipal resultado do esforo integrado de docentes e discentes daUDESC na interpretao da Histria do Tempo Presente. Ao ladodisso, o Programa abre-se ao dilogo com outros pesquisadores abertura que se faz, sobretudo, por meio da revista Tempo eArgumento (editada desde 2009) e de evento realizado a cada trsanos: o Seminrio Internacional Histria do Tempo Presente, cujaprimeira edio data de 2011. Juntos, dissertaes, artigos eentrevistas publicados na Tempo e Argumento, bem como trabalhosque compem os anais do Seminrio Internacional (uns e outrosdisponveis na Web), traduzem, em volume bastante expressivo,uma variedade de concepes e percepes da Histria do Tempo

    peridicos acadmicos existentes, convm salientar os Cadernos do TempoPresente, peridico vinculado ao Grupo de Estudos do Tempo Presente(GET) da Universidade Federal de Sergipe, e a revista Tempo e Argumento,mantida pelo PPGH-UDESC.

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    Presente que esto a merecer, alis, estudo detido.Este livro vem, assim, se somar s demais publicaes

    diretamente promovidas pelo Programa. Tem origem no IISeminrio Internacional Histria do Tempo Presente, realizado entre13 e 15 de outubro de 2014, em Florianpolis, no campus Itacorubida UDESC2. Como na primeira edio, o evento contou comconferncias, mesas redondas e simpsios temticos. No SeminrioInternacional de 2011, as falas dos conferencistas e de alguns dospalestrantes acabaram por se transformar em artigos do dossiHistria e Historiografia do Tempo Presente, que integrou o nmero1 do volume 4 da revista Tempo e Argumento3. Em relao aoevento de 2014, pensou-se em reunir em livro as falas dos doisconferencistas e dos treze palestrantes4. Porm, por motivos diversos,apenas oito deles puderam disponibilizar seus textos para acoletnea.

    Entre os autores, houve quem preferisse manter seu texto prximoao registro da fala, nele deixando, por consequncia, marcas maisvisveis do momento para o qual fora preparado. Outros optarampor verses revistas das apresentaes feitas no SeminrioInternacional, tendo, em alguma medida, incorporado elementos

    2 Apenas a conferncia de abertura foi realizada em outro local da capitalcatarinense (o Teatro Governador Pedro Ivo).

    3 Artigos de Franois Dosse (Histria do Tempo Presente e Historiografia),Michle Lagny (Imagens audiovisuais e Histria do Tempo Presente), LeonorArfuch (Narrativas del yo y memrias traumticas), Pablo Alejandro Pozzi(Esencia y prctica de la Histria Oral) e Hernn Ramirez (Poltica e tempopresente na historiografia das ditaduras do Cone Sul da Amrica Latina).

    4 Conferencistas: Henry Rousso e Alexander Freund; palestrantes da mesaredonda Ensino de Histria, usos do passado e cultura histrica: Ana MariaMonteiro, Itamar Freitas e Cristiani Bereta da Silva; palestrantes da mesaredonda Memria e Tempo Presente: Gerardo Necoechea Gracia, IgorAlexis Goicovic Donoso, Pablo Alejandro Pozzi e Luiz Felipe Falco;palestrantes da mesa redonda Histria Poltica: Carlos Fico, Eliana de FreitasDutra e Reinaldo Lohn; palestrantes da mesa redonda Histria do TempoPresente: perspectivas sobre um campo em expanso: Francisco CarlosTeixeira da Silva, Dilton Maynard e Mrcia Ramos de Oliveira.

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    das discusses que naquela ocasio foram estimuladas por suasintervenes. Diferenas houve at mesmo no uso da palavraHistria e das expresses Histria do Tempo Presente e HistriaOral: por vezes aparecem com as letras iniciais maisculas, outrasvezes, minsculas5; quanto a isso, houve ateno lgica dos textose s opes dos autores6.

    No caso especfico do texto da conferncia final de AlexanderFreund, convm salientar que resultou em artigo bastante ampliado,publicado em 2015 no peridico The Oral History Review. Ficaaqui o registro de agradecimentos Sra. Emma Thornton, da OxfordUniversity Press (casa publicadora da The Oral History Review),pela permisso de publicao do texto de Freund neste livro; estendoos agradecimentos ao prprio autor, por intermediar os contatosfeitos a este respeito. Diferentemente dos textos de GerardoNecoechea Gracia e Pablo Pozzi, mantidos na lngua em que foramoriginalmente produzidos (o espanhol), o longo texto de AlexanderFreund foi traduzido do ingls para o portugus por Maria CristinaItokazu.

    H que levar em conta o intervalo entre o encaminhamentodos textos todos enviados organizadora em 2015, exceodo texto de Alexander Freund, disponibilizado para traduo em2016 e o momento de publicao, marcado por expressivastransformaes na ordem poltica nacional e internacional, queobviamente no foram contempladas no livro.

    5 O mesmo texto pode adotar, por exemplo, Histria e histria, diferenciandoo campo disciplinar do processo histrico. Tambm a no houve consenso.

    6 Convm indicar que foram tambm efetuadas modificaes nos textos emdecorrncia da adoo, em todo o livro, do sistema de referncias autor-data, bem como de normas brasileiras para publicao de textos de carteracadmico, o que provocou, na maioria dos textos enviados, alteraes nasnotas de rodap, na forma de apresentao das citaes e na realizaodas indicaes bibliogrficas. Acrscimos, com funo de esclarecimento,foram igualmente efetuados, e aparecem indicados entre colchetes, no corpodo texto, ou em notas de rodap (neste ltimo caso indicadas como notasda organizadora ou da tradutora).

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    Como toda coletnea, esta espelha a diversidade de pontos devista, interesses, formas de pensar e de se expressar dos autoresaqui reunidos. Lanando mo de uma metfora musical, entendoque o livro se apresenta maneira de uma partitura com baixocontnuo, que atravessa e condiciona a escrita de ponta a ponta,garantindo uma mesma ambincia discusso (nesse caso, aHistria do Tempo Presente); em suas vrias partes, sobre essalinha de continuidade sobrepuseram-se outros temas, mas, commais nfase, oralidade, memria e mdia, como indicado nosubttulo do livro.

    No primeiro captulo, Gerardo Necoechea, embora no ocultecerto desconforto com a expresso Histria do Tempo Presente,examina o lugar do presente nas reflexes dos historiadoresao considerar o papel dos testemunhos na produo de memriastornadas centrais em processos sociais e polticos contemporneos.Ao tomar como referncia dois relatos testemunhais publicadosem 1998 e 2003 (de Jos Woldenberg e de Fernando PineraOchoa, respectivamente), Necoechea ressalta o carter simpli-ficador das duas narrativas frente complexidade dos embates edas interaes no interior da esquerda mexicana, sobretudo nosanos 1970. Ao mesmo tempo, aponta que essas narrativas tantoinfluenciam o cenrio poltico coevo como so influenciadaspor ele (Woldenberg e Pinera Ochoa certamente levaram emconta, nos relatos, acontecimentos posteriores queles por elesnarrados, tais como a emergncia do Partido da RevoluoDemocrtica e do Exrcito Zapatista de Libertao Nacional).A anlise desses relatos acaba por indicar que o historiador,segundo Necoechea, no faz unicamente a pergunta clssicasobre como o passado produziu o presente, mas interrogatambm como o presente produz uma viso do passado. Inevitvellembrar, a partir desse comentrio, de debate iniciado dcadasatrs, no mbito da historiografia brasileira, a partir dascontribuies de Edgar de Decca (1988) e Carlos AlbertoVesentini (1997), que, em exerccios de histria a contrapelo,buscaram indicar e superar as armadilhas espalhadas pela memria

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    hegemnica da chamada Revoluo de 307.As relaes entre memria e testemunho especificamente, a

    memria operria e o relato oral tambm so alvo das reflexescontidas no segundo captulo. A partir de entrevistas feitas naArgentina com cinco operrios, nos anos de 1987 e 1988, PabloPozzi pe em destaque o problema entre a articulao dialticada memria, da experincia particular e da preservao de tradiesque permitem a identidade de classe. Enfocando a memriaoperria relativa ao perodo da ditadura militar argentina, ressaltaaspectos que indicam a resistncia represso e desagregaoda classe, em contraposio a uma narrativa consolidada queafirmava no s ter havido o refluxo da mobilizao, a despo-litizao e a dissoluo de relaes de solidariedade entre ostrabalhadores, como tambm ter existido a colaborao operriacom a ditadura. Similarmente ao que foi observado no texto deGerardo Necoechea, o de Pozzi assinala o quanto os relatos foraminfluenciados pelo presente do momento em que foram produzidos(presente marcado, no caso enfocado por Pozzi, como acimaindicado, pela vigncia de uma narrativa hegemnica acerca dasubmisso ou mesmo colaborao da classe operria em relao ditadura). A ateno do historiador, em vez de concentrada noinventrio (e no cotejo) de acontecimentos, desloca-se para seussignificados nos quadros de uma experincia coletiva, o que exigereflexes mais alentadas acerca das dimenses subjetivas damemria. Uma memria que busca ser base da coeso da classe,no somente como construo identitria, mas tambm comomotor de lutas presentes e futuras8.

    7 Os livros em questo so resultantes das teses de doutorado dos autores; a deDe Decca foi defendida em 1979 e a de Vesentini, em 1983, ambas naUniversidade de So Paulo (USP).

    8 V-se que as consideraes do autor desse captulo podem ser aproximadass do pesquisador Alessandro Portelli, em seus estudos sobre a memriaoperria de trabalhadores de Terni (Itlia) e, particularmente, sobre areelaborao de alguns episdios marcantes de sua histria (como a mortedo lder operrio Luigi Trastulli PORTELLI, 1993).

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    O terceiro captulo, de autoria de Reinaldo Lohn, trazcontinuidades em relao aos dois anteriores no que tange preocupao com a poltica e ao perodo histrico privilegiado naabordagem, bem como quanto ao interesse em examinar formasde produo da memria. O foco passa a ser o Brasil e o (lento)processo de redemocratizao brasileiro, durante o qual tambmcomeou a ser forjada uma memria pblica sobre as caractersticase os agentes fundamentais desse mesmo processo. destacado opapel cumprido pela imprensa na construo dessa memria, aocriar uma narrativa bastante limitada sobre a redemocratizao,no que se refere compreenso da democracia (quaseexclusivamente identificada a eleies) e identificao dossupostos protagonistas.

    O quarto captulo, de autoria de Dilton Maynard, permite saltarpara outro momento das relaes com os meios de comunicao,ao interrogar a relao dos historiadores com a cibercultura, quercomo tema de estudo, quer como ferramenta de trabalho. No texto,o autor apresenta o que considera desafios no tempo presenteparticularmente relevantes para os historiadores: selecionar osregistros de interesse; preservar tais registros (digitalizando-os oucaptando o que se encontra em meio digital); garantir os meiostcnicos de acess-los (considerada a rpida obsolescncia desuportes de informao e equipamentos a eles relacionados).Maynard tambm salienta outras questes complexas: a migraotecnolgica, se meramente atenta preservao dos contedos,no preservar as condies de fruio e uso dadas anteriormente(como estud-las?); alm disso, a preservao efetuada deverigualmente preocupar-se com as formas de aferir a qualidade e aautenticidade dos registros. Em meio a tais desafios, como se situamos historiadores? Estamos preparados para utilizar as ferramentasda cibercultura (utilizando as novas fontes por ela geradas e abrindo-nos cada vez mais ao trabalho colaborativo)? Estamos dispostos aparticipar da formulao de polticas de gesto dos seus registros?

    Pensar a cibercultura envolve, assim, refletir sobre a profusode informaes que circulam diariamente, e de forma cada vez

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    mais rpida e intensa, por meios eletrnicos (sobretudo, redessociais). E envolve, entre outros aspectos, indagar: como pensar aesfera da intimidade quando a mdia eletrnica, a todo momento,estimula seus usurios a borrar as fronteiras entre o pblico e oprivado, no somente em relao a figuras destacadas do meiopoltico e da indstria de entretenimento? O que resta ainda aproteger, uma vez que o privado intensa e cotidianamente invadidopela mdia e seus usurios, em todas as suas variantes? O texto doquinto captulo, escrito por Mrcia Ramos de Oliveira, vincula-se,em suas linhas gerais, a esse conjunto de questes, ao abordar apolmica travada midiaticamente em torno da ao penal movidapelo cantor e compositor brasileiro Roberto Carlos, de modo aimpedir a circulao do livro Roberto Carlos em detalhes, escritopelo jornalista e historiador Paulo Cesar de Arajo.

    Dois captulos da coletnea examinam mais detidamente asquestes do tempo presente em conexo com o ensino de Histria.Em um deles, Cristiani Bereta da Silva busca equacionar aproduo do conhecimento histrico e, em especial, o lugar desseconhecimento no ensino escolar. A autora tem em vista ossignificados contemporneos da Histria, em meio crise de regimesde historicidade e multiplicao de narrativas histricas, difundidaspor diferentes veculos miditicos. Nesses quadros, como pensar olugar do presente, e em relao a qual passado? Questes quetambm so pertinentes ao captulo de autoria de Itamar Freitas,mas em clave mais especfica: afinal, como as narrativas histricasso traduzidas em vulgatas, presentes no sistema escolar? Quaisos processos histricos e acontecimentos-chave valorizados nessasvulgatas? De que maneira o tempo presente nelas tematizado erecortado? Ao analisar programas de ensino vigentes nos EUA,Freitas oferece, sinteticamente, algumas respostas a essesquestionamentos.

    No ltimo captulo do livro esto fortemente integrados vriosdos temas abordados em captulos anteriores: a singular intimidadepblica da contemporaneidade, a construo de narrativashegemnicas, a formao de culturas histricas no embate com a

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    mdia e no jogo dos testemunhos. Alexander Freund trata dofenmeno contemporneo do Storytelling (ou da contao deestrias, como foi aqui traduzido). Como contao de relatospessoais, o Storytelling disseminou-se por distintos campos deconhecimento e profissionais (gesto empresarial, publicidade epropaganda, educao, comunicaes, terapia...), em articulaocom o crescimento de uma indstria da autoajuda e do pensamentopositivo. Dada a sua forte presena, principalmente na Amricado Norte, em to diversos mbitos, estaria a contao pblica derelatos pessoais alterando a prtica da Histria Oral nesses pases?Suas formas midiatizadas influenciariam entrevistadores eentrevistados? Interferiria a contao pblica de estrias naproduo de culturas histricas, ao tender a identificar narrativapessoal (baseada na memria individual) e narrativa de carterhistrico?

    Alexander Freund articula esse conjunto de questes anlisede um estudo de caso: a contao pblica de relatos pessoaisregularmente promovida por um programa de rdio o StoryCorps,da National Public Radio, nos EUA. Ao centrar-se no estudo doStoryCorps, Freund ressalta seu poder no somente para confirmare reforar identidades (individuais e coletivas) como para induzir auma percepo de mundo em que o indivduo totalmenteresponsvel por sua felicidade (que poder ser alcanada comesforo, disciplina e perseverana). Constri-se uma narrativa emque os problemas individuais so isolados de seu contexto histricoe social, promovendo-se o apagamento do papel de polticaspblicas. O StoryCorps, valorizando o sentimentalismo, reforariao hiperindividualismo e proporcionaria a produo de uma narrativageradora de consensos, silenciadora de tenses e conflitos,distanciada de uma perspectiva histrica crtica.

    A riqueza e a relevncia das discusses presentes na coletneaforam aqui meramente indicadas, na inteno de instigar leitura.Caber a cada leitor reconhecer, nos captulos, convergncias,dissonncias e desvios no desafio compartilhado pelos autores:refletir sobre os elos entre o tempo presente e a Histria.

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    Referncias

    CHAUVEAU, Agns; TTART, Philippe (Orgs.). Questes para ahistria do presente. Bauru, SP: Edusc, 1999.

    DE DECCA, Edgar Salvadori. O silncio dos vencidos. 4. ed. SoPaulo: Brasiliense, 1988.

    DELGADO, Luclia de Almeida Neves; FERREIRA, Marieta deMoraes (Orgs.). Histria do tempo presente. Rio de Janeiro: Ed.FGV, 2014.

    FERREIRA, Marieta de Moraes. Histria do tempo presente:desafios. Cultura Vozes, Petrpolis, v. 94, n. 3, p. 111-124, 2000.

    FERREIRA, Marieta de Moraes. Histria Oral e Tempo Presente.In: MEIHY, Jos Carlos Sebe Bom. (Re)Introduzindo a HistriaOral no Brasil. So Paulo: Xam, 1996. p. 11-21.

    FERREIRA, Marieta de Moraes. Histria, tempo presente e histriaoral. Topoi, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 314-332, dez. 2002.

    MOTTA, Mrcia Maria Menendes. Histria, memria e tempopresente. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo(Orgs.). Novos domnios da Histria. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.p. 21-36.

    PEREIRA, Mateus. A mquina da memria/Almanaque Abril: o tem-po presente entre a histria e o jornalismo. Bauru, SP: Edusc, 2009.

    PORTELLI, Alessandro. Sonhos ucrnicos: memrias e possveismundos dos trabalhadores. Projeto Histria, So Paulo, n. 10, p.41-58, dez. 1993.

    PRTO Jr., Gilson (Org.). Histria do tempo presente. Bauru, SP:Edusc, 2007.

    VARELLA, Flvia et al. (Orgs.). Tempo presente e usos do passado.Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2012.

    VESENTINI, Carlos Alberto. A teia do fato: uma proposta de estudosobre a memria histrica. So Paulo: Hucitec, 1997.

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    Historia del presente,historia oral y memoria

    de la izquierda enMxico

    Gerardo Necoechea Gracia

    I

    La expresin historia del presente, debo admitir, me incomoda.Si quisiese estudiar el presente, seguramente no habra escogido lahistoria como disciplina de estudio, y si lo hice fue precisamentepor mi inters en el pasado. Al mismo tiempo, creo entender la ideaque la expresin, quizs torpemente, trata de nombrar.

    En Mxico, los historiadores consideran que el pasado estconformado de aquellos sucesos que ya no afectan el presente.Esta consideracin lleva implcita la ingenua suposicin de que existe

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    una barrera que separa y asla los tiempos, y gracias a ella podemosidentificar el inicio del presente. Ah, el historiador detiene su laborinquisitiva y cede el terreno a otras disciplinas que estudian a lasociedad. La revisin crtica de los estudios acerca del siglo XXmexicano, realizada por el politlogo Medina Pea (1998),comprueba que efectivamente la segunda mitad del siglo es provinciacasi exclusiva de politlogos, socilogos y economistas. Las incur-siones de historiadores profesionales en ese periodo, que las hay,son vistas como extravagancias marginales que poco aaden aloficio. Los historiadores, adems, desaniman, cuando no prohben,que los estudiantes investiguen los aos posteriores a 1950, lmiteque por supuesto est bajo asedio por la curiosidad de estudiantesque apenas experimentaron directamente el siglo pasado.

    Detrs de esta postura est la idea de que el historiador debeser neutral frente a los sucesos histricos, y que slo la distanciatemporal asegura esa neutralidad puesto que lo descrito no afectael presente. No es menester sealar lo imposible e innecesario de laneutralidad, tema ya muy discutido. Pero s es importante subrayarque la idea frecuentemente va acompaada de un conservadurismopoltico, que a los ojos de quienes lo enarbolan nunca afecta suneutralidad.

    En Mxico, el desarrollo de la profesionalizacin de las cienciashumanas recorri un camino particular que es interesante. En lasdcadas de 1920 y 1930, la antropologa adquiri importancia, enparticular en su variedad aplicada y puesta al servicio de forjarpatria, en la frase de Manuel Gamio. En los aos cincuenta,Gonzalo Aguirre Beltrn escribi que la antropologa haba sidoinstrumento del estado revolucionario para promover la integracindel indio e impulsar el progreso material de la nacin. Similar papelle confiri Pablo Gonzles Casanova a la sociologa en las dcadasde la posguerra, especialmente para guiar el camino hacia lademocracia. As, el indigenismo y la democracia se convirtieron enbandera de cientficos sociales progresistas en esas dcadas. Loshistoriadores, en cambio, prefirieron el estudio del pasado colonialy prehispnico, desplegando erudicin y despidiendo un tufillo de

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    nostalgia conservadora expresado por su hispanofilia (GAMIO,1960; AGUIRRE BELTRN, 1982; GONZLEZ CASANOVA,1965; PREZ MONFORT, 1998). En este sentido, historia delpresente en realidad se refiere a un problema de posiciones polticasy no a una cuestin de lmites temporales.

    Otra objecin a hacer historia del pasado inmediato, en cambio,expresa una preocupacin de mtodo. Si la historia estudia procesosdesarrollados en el pasado, entonces resulta necesario que estostengan su gnesis, desarrollo y terminacin en el pasado, ya queslo as el historiador puede discernir lo que es relevante para eldesenvolvimiento procesual. Conforme nos acercamos al tiempopresente, es menos fcil distinguir los procesos en curso y loselementos que entran en juego para su movimiento. El sealamientoes vlido, pero no es un impedimento para que los historiadoresrecorran sus investigaciones hacia el tiempo presente; significa, esos, que deben hallar preguntas y manera de abordar el tiempodistintas a las acostumbradas. Este es un problema al que regresarpero primero me desvio para traer la historia oral y el problema dela memoria a la discusin.

    En Mxico la historia oral no surgi en la academia de historiasino entre los investigadores del Instituto de Antropologa e Historia,precisamente porque ah era posible conjuntar las visiones de ambasdisciplinas. La mezcla disciplinar imprimi una orientacin haciala cultura popular en las primeras investigaciones de historia oral.No sorprende que los primeros proyectos incluyeran investigacionesacerca de los ejrcitos campesinos de la revolucin de 1910 y delperiodo de auge del cine mexicano. La dcada de 1970 en queapareci la historia oral, adems, fue un momento en que surgieronpoderosos cuestionamientos al indigenismo en la antropologa y aversin homogeneizadora de la historia nacional. La historia oralfue por ello bien acogida entre antroplogos interesados no enintegrar a los pueblos indios a la cultura nacional sino en conocery comprender la diferencia cultural; fue igualmente bien acogidaen centros de investigacin histrica y universidades estatales,empeados en mostrar que la historia regional no poda meramente

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    ser subsumida en la nacional. En ese sentido, la historia oral unifuerzas con tendencias que cuestionaban las verdadesconvencionales de una historia y una cultura nacional1.

    Pero en el inicio el afn disidente no cuestion la convencionalconcepcin positivista de la fuente. La entrevista de historia oral, apesar de problemas tales como la fragilidad y subjetividad de lamemoria, era considerada valiosa porque rescataba (como soladecirse) informacin imposible de hallar en documentos escritos.Pero el tiempo y la acumulacin de historias orales condujeron acuestionamientos respecto de la fuente misma, obligando areflexionar sobre la subjetividad. La reflexin condujo a valorar lasparticularidades de la fuente: la narracin oral de la experienciavivida. Vista de esa manera, la fuente contena algo ms interesantee importante que las ocasionales informaciones novedosas: unatisbo de cmo se forman esas narraciones a travs del tiempo. Laidea acerca de la fuente misma cambi, en tanto ya no fueconsiderada como una expresin de la experiencia directa sinocomo un relato de la percepcin de lo vivido mediado por la cultura.

    Este cambio de perspectiva permiti expandir las problemticasde trabajo con historia oral. Aqu quiero sealar slo uno de losmuchos problemas que podramos tratar. La entrevista de historiaoral y la narracin testimonial conjunta el tiempo de lo vivido y eltiempo desde el que se recuerda, y por tanto, el relato incluye laexperiencia acumulada entre uno y otro momento. Experiencia, eneste sentido, se refiere a la sabidura acumulada de manera que elrecuerdo reacomoda el significado de los sucesos desde esta miradaretrospectiva. Comprender las narraciones que provienen de lamemoria requiere de nuestro conocimiento de ese tiempointermedio, no slo por lo que toca a la vida personal de quiennarra sino los cambios habidos en la sociedad de que es parte. Unaspecto que se destaca en particular concierne cmo en el presenteciertos sucesos pasados son valorados, lo cual en consecuenciamoldea la forma en que son recordados.

    1 Vase, por ejemplo, el planteamiento de Eugenia Meyer (1978).

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    II

    Esto me lleva, por ltimo, a la produccin de la memoriatestimonial dentro del amplio campo de investigacin acerca de laizquierda en la segunda mitad del siglo XX. Varios de losprotagonistas han sentido la necesidad de dejar su testimoniorespecto de lo vivido en el periodo. En general, los animan dospropsitos. El primero es el de dar fe de lo acontecido, sobre todoporque piensan que los sucesos en que participaron y losmovimientos a los que pertenecieron son poco conocidos, y lafinalidad de las escasas menciones pblicas ha sido denostar ydespreciar a esos movimientos u organizaciones. Entretejido eneste propsito est el nimo de hablar por quienes no puedenhacerlo, debido a que fueron asesinados o desaparecidos. El segundopropsito es continuar discusiones de la poca, ya bien contra elcampo adversario ya bien, dentro del mismo campo de la izquierda,contra quienes seguan la lnea poltica incorrecta, para usar unaexpresin de poca. En ocasiones a esto hay que aunar el deseo derectificar las posiciones propias, que a la distancia o a la luz deresultados no deseados, se ven ahora como equivocadas aunquejustificadas, en particular con respecto a las organizaciones poltico-militares.

    Surge en consecuencia la finalidad de describir a un sujeto deizquierda, hacindolo por supuesto desde la experiencia personal.Ejemplifico este afn y los problemas que de ah se desprendencon los testimonios autobiogrficos de Jos Woldenberg (1998) yFernando Pineda Ochoa (2003). El primero fue activista estudiantily despus integrante de la directiva del sindicato de profesoresuniversitarios en la Universidad Nacional Autnoma de Mxico.Declara que su intencin era ms ambiciosa pero que este recuentomemorstico slo pudo abarcar la dcada de 1970. Pineda fuemiembro de la Juventud Comunista, la cual abandon para unirsea la organizacin poltica armada Movimiento de AccinRevolucionaria (MAR). Su memoria abarca los orgenes del grupoen la Universidad Lumumba de Mosc y su entrenamiento en Corea

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    del Norte, en los ltimos aos sesenta y los primeros setenta, losaos de crcel y una serie de vietas que relatan acciones delgrupo y rinden homenaje a compaeros muertos y desaparecidos.

    Es posible pensar que en las dos dcadas inmediatas posterioresa la segunda guerra mundial se cierra un ciclo y comienza otropara la izquierda. El ciclo que termina se refiere al dominio deprincipalmente los partidos comunistas la vieja izquierda y elque se abre se refiere a la pluralidad de posiciones, planteamientos,estrategias y organizaciones que caracterizaron a la nueva izquierdaque se conform en las dcadas de 1960 y 1970. El rompimientoentre una y otra obedeci, a los ojos de Pineda, a disposicin o noa tomar las armas, mientras que para Woldenberg el punto dequiebre tuvo que ver con la necesidad o no de crear un partido y lanaturaleza democrtica de la organizacin poltica. En ambos casos,su recuerdo es evidencia de la complejidad del momento pero encada narracin la tendencia es a simplificar lo sucedido. De lamisma manera, y para referirse a la izquierda en formacin enesos aos, dividen el campo entre los grupos armados y los noarmados, con frecuencia usando etiquetas tales como reformismoy violencia para describir y descalificar al otro.

    Pineda Ochoa (2003) describe el camino que llev a laradicalizacin poltica y cuenta anecdticamente cmo la luchaarmada se convirti en el eje de la ruptura. Refiere que un grupo dejvenes mexicanos, mientras cursaban estudios en la UniversidadPatricio Lumumba de Mosc, descubrieron sus afinidades polticasy se convirtieron en el ncleo fundador del MAR. Una de lasactividades estudiantiles era organizar debates sobre cuestionesdiversas en torno al conflicto social y la metodologa requeridapara llegar al socialismo. La discusin acalorada sobre este ltimoasunto recaa en dos posiciones opuestas para lograr la nuevasociedad: la va pacfica y la va armada; la argumentacin confrecuencia daba paso a los insultos.

    Por su lado, algunos prosoviticos trataban de imponer una lneacomunista oficial, claro, contraria a la violencia revolucionaria. Losestudiantes mexicanos ajenos al proyecto subversivo eran mayora

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    y no pocos acataban, disciplinados, las posiciones polticas de laURSS; tampoco faltaron actitudes hostiles hacia los becariosconsiderados radicales o ultras. (PINEDA OCHOA, 2003, p. 121-122)

    Con esta alusin a lo que suceda en la Lumumba universidada la que l no asisti Pineda da cuenta del rompimiento entrevieja y nueva izquierda en Mxico, poniendo al centro la cuestinde la lucha armada.

    Lejos estaba Jos Woldenberg (1998) de defender la lneacomunista oficial o de inclinarse a favor de la va armada. Suposicin va apareciendo a travs de las ancdotas que narra. Enuna de ellas encontramos al narrador ocupado, junto con otroscompaeros, en la organizacin de la huelga de profesoresuniversitarios que est a punto de estallar; corre el ao de 1977.La discusin en el local sindical es interrumpida por la noticia deque en el Colegio de Ciencias y Humanidades (CCH) deAzcapotzalco acaba de ser asesinado uno de los dirigentessindicales, Peralta, quien identific a su asesino como miembro dela Liga Comunista 23 de Septiembre. El acto violento aparececomo irracional mientras que los preparativos de huelga, es decir,los actos de la izquierda no armada que participa del movimientosocial, tienen motivos y propsitos definidos, pblicos ypublicitados. Entre una y otra izquierda queda la sociedad, en estecaso los estudiantes y profesores del CCH con quienes la izquierdasindical tiene una relacin directa, cercana y positiva; la izquierdaviolenta, en cambio, aparece desvinculada y antagnica a esasociedad.

    El memorista, en ambas ancdotas, no intervino en los hechosrelatados. Woldenberg y Pineda cuentan lo que les fue relatado,aunque asumen la voz del testigo presencial. Pueden as aparecercomo observadores desde un punto no solo distante, que preservala objetividad, sino por encima de los sucesos, que garantiza sucomprensin total del suceso. Esta postura narrativa logra elesperado efecto de verdad para su versin de los sucesos.

    El recuento de la memoria muestra la tajante oposicin entre

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    una y otra postura poltica. Las trayectorias individuales, empero,sugieren fronteras porosas. Por supuesto en la mayora de los casos,los militantes de grupos polticos armados primero participaron demovimientos sociales y organizaciones no armadas. Tambin fuecomn que muchos regresaran a este tipo de organizaciones despusde que el movimiento armado fuera derrotado. Igualmente, gruposen la izquierda no armada crean en la revolucin violenta peropensaban que an no era el momento indicado. En otras palabras,la izquierda no estaba solo conformada por dos polos opuestossino y sobre todo por la ancha franja entre ambos. Pineda (2003)y Woldenberg (1998), en otros pasajes, hacen alusiones a la variedadde organizaciones y posiciones que reclamaban para s un lugar enla izquierda poltica y cultural, variedad que floreci despus deque el triunfo de la revolucin cubana rompi el monopolio de lavieja izquierda e incit a la experimentacin terica y prctica. Latensin entre estos dos ejes narrativos, entre una versin unilineal yotra multilineal, desaparecer en ensayos que pretenden ser anlisispoltico y no memorias de la izquierda; Enrique Semo (2002, p. 9),por ejemplo, habla de una izquierda dividida entre reformistas yrevolucionarios hasta mediados de los aos ochenta (y por lo mismola izquierda posterior le parece indita); varios otros autoresdescriben el camino de la izquierda desde la dcada de 1970 hastaprincipios del siglo XXI y ni siquiera mencionan a los grupos polticosarmados. Ayudados por recuerdos que aplanan la rugosidad de lovivido, estos anlisis selectivamente construyen una tradicinunilineal de lo que fue la izquierda2.

    Otro ejemplo de cmo los testimonios autobiogrficos narranselectivamente y crean una tradicin unilineal tiene que ver con lapolitizacin de los sujetos. Recurro nuevamente a los dos autoresya citados.

    Woldenberg (1998) narra la trayectoria que sigue dentro de laizquierda, primero estudiantil y despus sindical. Nos enteramos

    2 Raymond Williams (2011, p. 61-94) propone que uno de los ejes del anlisiscultural es la selectividad que construye una tradicin lineal y nica.

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    de su indignacin frente a sucesos de represin, de su curiosidadpor grupsculos de la izquierda estudiantil, del activismo que lollev a la puerta de alguna fbrica a vender un peridico deizquierda o distribuir un volante. Pero lo que nunca hace es narrarcmo se convirti en persona de izquierda, qu opciones tuvo ypor qu decidi por una y no otra. Los primeros recuerdos quenarra son los de su entrada a la universidad, un joven que, comomuchos otros de entonces, gusta del rock y est indignado por larepresin de estudiantes en 1968. Tambin, un joven que ya sedistingue de otros porque busca y sigue a la izquierda. Pero enningn momento describe que lo llev a esa preferencia, sino quela da por hecho. Pineda (2003), cuando aparece en la narracin,ya es miembro de la Juventud Comunista, y pertenece a la disidenciaque se inclina por la lucha armada. Ya antes ha explicado lascausas de la radicalizacin poltica: por un lado, el ejemplo de lasluchas antiimperialistas en Cuba, Vietnam y Argelia, y por otro, larepetida represin de la protesta pacfica en Mxico, que no dejaotro camino que la organizacin armada. Por supuesto lo querefieren es su experiencia, y acerca de ella no hay cuestionamientoposible. Pero es interesante que ambos eviten adentrarse en lasubjetividad, o mejor dicho, en la formacin de esa subjetividadque percibi al antimperialismo y la protesta como valores positivos.Sus testimonios revelan sus experiencias en la izquierda peropermanecen mudos respecto de por qu experimentaron el mundode cierta manera, es decir, cmo cada uno se constituy en sujetode izquierda.

    Los pasajes, de distinta manera, muestran la relacin entre eltiempo de contar y el tiempo del que se habla. En los primerosejemplos es evidente que la discusin entre distintas posturas de laizquierda ha proseguido en el tiempo. Los hechos del presente, almismo tiempo, han renovado la discusin. En 1988, producto dela movilizacin para la campaa presidencial y la posterior denunciade fraude electoral, surgi el Partido de la Revolucin Democrtica,coalicin de importantes sectores de viejas y nuevas izquierdas convestigios del nacionalismo revolucionario, alineados todos hacia el

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    centro del espectro poltico con la intencin de participar enelecciones. Seis aos despus, el Ejrcito Zapatista de LiberacinNacional (EZLN) brinc al escenario pblico y declar la guerra alestado mexicano. Ambos sucesos han marcado la poltica enMxico en las ltimas dos dcadas, son consecuencia directa delas izquierdas de los setenta, y en cierto modo reavivaron la polmicaentre la va pacfica y la va armada hacia el cambio. Tambin esde notar que en el presente domina la opinin negativa respecto dela lucha armada; el EZLN, incluso, ha seguido una poltica deautonoma que se apoya en los acuerdos de paz y el rechazo a laidea de tomar el poder. Posiblemente por esa razn sea ms sencillopara Pineda asentar que la decisin por las armas fue la nica vaposible que les dej la represin estatal, aunque la ancdota anteriorde hecho afirme la importancia del rompimiento ideolgico con lalnea oficial comunista de coexistencia pacfica. As como los sucesospasados moldean el presente, las discusiones del presente afectanlas versiones del pasado.

    III

    Quizs el tiempo presente en cuestin puede definirse comoesa franja temporal en que conviven los relatos de memoria personalcon los intentos de anlisis histrico. Hacer historia de esa franjatemporal implica, para el historiador, hacer preguntas distintas alas que acostumbra respecto de gnesis, desarrollo y transformacinde procesos sociales. La discusin precedente apunta la dificultadpara poder discernir los procesos en desarrollo. La idea de que laizquierda llegaba a su fin, y por ello tambin un proceso iniciadoen el siglo XIX, fue comn despus de la cada del llamadosocialismo realmente existente en la ltima dcada del siglo XX.Evidentemente no fue el caso. Ni siquiera la vieja izquierda hizocaravana de despedida y ms bien se aprest para una nuevaronda; ocurrieron fusiones, tanto las anheladas como las temidas,y prosiguieron las escisiones y los experimentos. Las izquierdas de

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    los setenta, al menos en Mxico, han trascendido con mutacionesvarias hasta el momento actual. Los vaticinios de su desapariciny con ello el cierre de un proceso resultaron prematuros.

    En este sentido, el historiador no nicamente hace la preguntaclsica acerca de cmo el pasado ha producido el presente, sinoque interroga tambin cmo el presente produce una visin delpasado. Las entrevistas de historia oral nos han hechoparticularmente conscientes de cmo la memoria moldea losrecuerdos para encajar en el presente, y por lo mismo crea unacierta sensibilidad respecto de cmo ver el pasado. Esta sensibilidadtiene que ver con la cultura en el presente. Los testimoniosautobiogrficos van creando una convencin respecto de cmopercibir ciertos sucesos del pasado seleccin de una tradicin que se convierte en una visin natural, y como tal es recibida por elhistoriador, que asume que los rasgos centrales de esa tradicinconstituyen las caractersticas homogneas de un determinadoperiodo, y a partir de ellas es que lee y analiza los documentoshistricos. Enfocar la memoria en el presente nos ayuda a entendercmo ocurre la seleccin y construccin de esa tradicin unilineal,a la vez que nos provee de elementos para desmontar los trminosy recomponer la complejidad de los sucesos mismos.

    Referncias

    AGUIRRE BELTRN, Gonzalo. El proceso de aculturacin. MxicoDF: Ediciones Casa Chata, 1982. [1. edicin: 1957]

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    GONZLEZ CASANOVA, Pablo. La democracia en Mxico. MxicoDF: Era, 1965.

    MEDINA PEA, Luis. Historia contempornea de Mxico: temade historiadores? In: WOBESER, Gisela von (Coord.). Cincuentaaos de investigacin histrica en Mxico. Mxico: UNAM- Univ.

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    de Guanajuato, 1998. p. 295-312.

    MEYER, Eugenia. El Archivo de la Palabra: hacia una historia demasas. Antropologa e Historia - Boletn del Instituto Nacional deAntropologa e Historia, n. 23, julio-septiembre, p. 3-5, 1978.

    PREZ MONFORT, Ricardo. Entre la historia patria y la bsquedahistrica de lo mexicano: historiografa mexicana, 1938-1952.In: WOBESER, Gisela von (Coord.). Cincuenta aos deinvestigacin histrica en Mxico. Mxico: UNAM-Univ. deGuanajuato, 1998. p. 279-294.

    PINEDA OCHOA, Fernando. Desde las profundidades del MAR.Mxico DF: Plaza y Valds, 2003.

    SEMO, Enrique. Introduccin. Dialctica [Edicin especial: LaIzquierda Hoy], n. 35, p. 9, Primavera 2002.

    WILLIAMS, Raymond. The long Revolution. Cardigan: Parthian,2011.

    WOLDENBERG, Jos. Memoria de la izquierda. Mxico DF: Cal yArena, 1998.

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    Argentina 1976-1983:la oposicin obrera a la dictadura en la

    memoria de cinco trabajadores1

    Pablo Alejandro Pozzi

    Hace ya ms de veinte aos, los trabajadores ferroviariosargentinos se declararon en huelga en contra de la privatizacin delas lneas frreas. Sin la colaboracin del sindicato, que participabade la venta de los ferrocarriles, estos trabajadores llevaron adelanteuna lucha de ms de un mes y medio con cualidades heroicas.Sabotajes, actos relmpagos y movilizaciones fueron algunas desus formas de lucha. La principal consigna del conflicto era si enel 61 no pudieron, en el 91 mucho menos. La consigna hacareferencia a la heroica huelga de 1961 en contra de lareestructuracin ferroviaria. Lo notable es que la huelga de 1961

    1 Una primera versin fue presentada en el Encuentro de la Red de Resistenciay Memoria, Universidad Nacional de Lisboa, Portugal, 27 a 29 de junio de2013.

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    se perdi. Por ende, si en 1961 si pudieron, a qu se estabanrefiriendo los obreros de 1991?

    Una de las respuestas posibles es que, para los trabajadores, loque se recuerda no es tanto el resultado concreto de tal o cuallucha, sino ms bien la sensacin poderosa de haber luchado, dehaber participado en un gran movimiento clasista conformandouna memoria determinada. En este sentido, la consigna es verdado es mentira? En realidad es ni una cosa ni otra. La consigna escmo un grupo social ha construido una memoria a partir de unaexperiencia concreta. Desde el punto de vista de los hechos, laconsigna no es veraz; pero desde el punto de vista de la subjetividadobrera se revela como una estructura de sentimiento real(WILLIAMS, 1989). Por ende, para el historiador, el criterio deveracidad no depende de un posicionamiento positivista sinoms bien del objetivo de su investigacin. As, por ejemplo, uno delos momentos ms recordados de la historia obrera argentina fuela toma del frigorfico Lisandro de la Torre en 19592. Si todostrabajadores que testimonian haber participado de esa lucha lohubieran efectivamente hecho, seran decenas de miles. Una vezms es falso lo que nos cuentan? En trminos objetivos puedeserlo y tenemos que desarrollar controles que permitan separar lainvencin de la realidad. Pero desde el punto de vista de la memoriaesto dice mucho ms que si en realidad hubieran participado; nossugiere que este hecho fue central en la experiencia y la subjetividadde los trabajadores argentinos.

    En la prctica real de los grandes grupos sociales, la construccinde una memoria particular de estas experiencias de lucha cumpledos funciones claves. La primera es como cohesin grupal quedefine un nosotros y un ellos, una forma de comportamiento

    2 Esta fue una lucha emblemtica en contra de la privatizacin del frigorficotestigo en el barrio de Mataderos, en Buenos Aires, enero de 1959. Laocupacin de la fbrica por unos cinco mil obreros se convirti en unabatalla campal con las unidades del Ejrcito enviadas a desalojarlos. VaseSALAS (1990).

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    entendido como correcto, y toda una concepcin culturalclasista que abarca y subyace elementos ideolgicos y polticos.O sea, esta memoria es central a la existencia de una identidaddeterminada. La segunda es que estas prcticas y memoriasconstituyen la materia prima del acervo de experiencia que permitela continuidad de luchas y actividades en pos de intereses sectoriales.Ms all de su resultado concreto, cada lucha prefigura y contribuyea las luchas posteriores convirtiendo la memoria de haber luchadoen un elemento poderoso de la percepcin colectiva.

    El nexo entre luchas, experiencias y prcticas clasistas loconstituye la memoria. De hecho, la memoria sera la forma enque se recuerdan hechos en un momento (necesidad) determinado.La memoria no es ideologa, ni tampoco es un relato del pasado,si bien es cierto que no son excluyentes y que hay una fuertearticulacin entre ellos. La historia (en particular la oficial) presentalmites y vectores de fuerza para tratar de moldear la memoria.Pero en general tiene un xito limitado, y las personas (y los grupossociales) resignifican la historia para incorporar su memoria, osea, el cmo procesan e interpretan su experiencia.

    La memoria siempre es selectiva y siempre se hace desde lasnecesidades y los problemas de hoy. Nadie se acuerda de todo,sino que recurre a aquellos elementos que le son tiles adaptndolosy transformndolos segn su necesidad. En este sentido la memoriajams es la verdad, sino que es una especie de reservorio selectivode experiencias, donde los recuerdos se articulan entre s a travsdel prisma de las necesidades actuales. Como tal, la experienciajams desaparece, sino que el mismo hecho conforma una memoriadistinta segn el momento histrico. Sin embargo, el hecho de quela memoria no desaparece no implica que la experiencia siempreexista en la conciencia, sino que puede ser relegada al inconscientey subsistir como algo no constructivo sino como sensaciones deinjusticia y de furia o tambin de apata. As la memoria puede sermodificada, fragmentada, postergada e inclusive relegada, peronunca es inexistente.

    Segn Raphael Samuel (2008, p. 12),

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    la memoria, lejos de ser un mero dispositivo de almacenamiento oun receptculo pasivo, [] es una fuerza activa y modeladora quees dinmica [] y que se relaciona de manera dialctica con elpensamiento histrico [] a su manera, se trataba de un modo deconstruir conocimiento.

    Basndose en Maurice Halbwachs, Samuel plantea que lamemoria es subjetiva. Pero, al mismo tiempo, la memoria combinauna percepcin de la experiencia personal con una percepcin delconjunto social, para ir definiendo un accionar y una visin particularde la historia. Esto implica tambin que el registrar la memoria deun grupo social implica adentrarse en su subjetividad.

    Lo anterior es sugerente en cuanto a los trabajadores argentinosy su construccin de la memoria de su accionar durante unadictadura represiva como lo fue la de 1976 a 1983. Esta memoriase basa en recuerdos, ancdotas y tradiciones, tanto personalescomo colectivas, y sirve no para construir una historia sino paraestablecer una identidad clasista que subyace lo que Tim Mason(1993) denomin la oposicin obrera3. Mason haba encontrado,en su extensa investigacin sobre los trabajadores alemanes bajoel nazismo, que la represin absoluta haba resultado en unaniquilamiento del activismo y la militancia obrera. Sin embargo,tambin encontr que esto no haba llevado a los obreros alemanesa una apata y quietud. Por el contrario, Mason descubri nivelesde conflictividad y lucha que aprovechaban las caractersticasparticulares del rgimen. Ms aun, lo que encontr Mason, a partirde revisar una extensa documentacin disponible sobre la polticasocial nazi, era que la actividad de los trabajadores, a partir decriterios y tradiciones que conformaban una clase social, tenaefectos que se podan percibir en la superestructura poltica comolmites o frenos concretos a los objetivos del nazismo. No es que seplantee que la clase obrera siempre lucha, sino ms bien que es

    3 La obra Social Policy in the Third Reich - The Working Class and the NationalCommunity recopila los estudios de Mason sobre el tema que fueronpublicados, en alemn, entre 1971 y 1977. Su proyecto de investigacin nopudo ser completado antes de su muerte en 1990.

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    ilgico que una clase movilizada, con fuertes niveles de organizaciny tradiciones izquierdistas, simplemente se llamara a la quietud dela noche a la maana.

    Por su parte, el socilogo James Petras (1981) estudi a los trabaja-dores argentinos para descubrir que stos haban desarrollado lo quel defini como redes familiares, sociales y polticas en torno a lascuales organizan su vida. En este sentido, Petras notaba que existauna diferencia entre el obrero y sus dirigentes o clase poltica.

    Las relaciones, actividades, valores, y posicin social [del obrerocomn] son distintos de aquellos de la clase poltica, an cuandocomparten con esta clase una membreca organizativa en comn,un comportamiento electoral, y una oposicin a los militares y laclase dominante. Sin embargo, existe una subcultura que une a laclase obrera independientemente de la organizacin formal, queabarca parentesco, vecindario, lugar de trabajo y clubes sociales.Estas experiencias en comn separan a la clase obrera de la clasepoltica. Estas diferencias se manifiestan en formas distintas deexpresin, y fundamentalmente en la nocin de compaerismo,que surge de compartir la vida cotidiana, los eventos sociales, lastragedias, los eventos deportivos. (PETRAS, 1981, p. 259)

    La imagen ms difundida del comportamiento de la clase obreraargentina durante la dictadura de 1976 a 1983 ha sido sintetizadapor el socilogo Francisco Delich, constituyendo una especie dehistoria oficial (DELICH, 1982, p. 129-151; DELICH, 1983, p.101-116)4. Analizando el perodo 1976-1981 (los gobiernos de losgenerales Videla y Viola), Delich plante que durante cinco aos,la clase obrera argentina y sus sindicatos permanecieron, enconjunto, inmviles desde el punto de vista social y de la actividadsindical respectivamente, o bien cuando se movilizaron lo hicieronmutando formas de accin (DELICH, 1983, p. 101). Por lo tanto,

    4 Otros trabajos lidian ms que nada con el rol de las cpulas sindicalesdurante el Proceso de Reorganizacin Nacional (como se autodenomin ladictadura de 1976 a 1983), generalmente ignorando al conjunto de la claseo minimizndola como sujeto de estudio. Un buen ejemplo de esto es eltrabajo de Alvaro Abs (1984). Un intento interesante de abarcar ambosniveles es el trabajo de Arturo Fernndez (1985).

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    o bien no hubo accin sindical o cuando la hubo marc distanciascon el pasado, llegando a una desmovilizacin que representa unquiebre con la dcada anterior. Escribe Delich (1983, p. 147-148):

    Este es, desde 1955, el ms extenso perodo de inmovilidad sindicalque se registra. No faltaron, como se ha expresado, motivos deagravio como para justificar la reaccin obrera organizada; si ella nose produjo en una coyuntura suficientemente prolongada es porqueseguramente reconoce razones que estn ms all de la dialcticade agravio-reaccin-represin-nueva reaccin, y que se instalan enotro nivel del anlisis y de la historia: el de las condicionesestructurales de la accin obrera y de su transformacin y de susposibilidades.

    El resultado de todo esto sera la ruptura de la solidaridad obreray el debilitamiento sindical y as el obrero productor comprob latransformacin de su mbito de sociabilidad en un mbito de puraproductividad y mecanizacin (DELICH, 1983, p. 107)5.

    Los planteos de Mason y Petras llevan a repensar lasconclusiones de Delich sobre la actitud de la clase obrera argentinay reconsiderar lo que todos suponamos que haba sido una quietudfrente a una agresin despiadada ante la dictadura de 1976-1983.La reaccin de la clase obrera frente a esta agresin incluy unaamplsima gama de actividades y conflictos que abarcaban desdeapoyo a familiares de delegados detenidos y desaparecidos, hastaformas de organizacin clandestinas, sabotajes, huelgas (POZZI,1987; POZZI, 2010). Esa reaccin pudo ser registrada tanto en ladocumentacin y los archivos disponibles como en docenas deentrevistas a trabajadores del conurbano de la ciudad de BuenosAires. En todos los casos llama la atencin que la vasta mayorade los entrevistados consideraban que no haba pasado nada,para luego relatar su experiencia de resistencia como si hubiera

    5 Es de notar que la base de la ofensiva por parte del gobierno radical encontra de los sindicatos peronistas, a principios de 1984, se encontraba enesta apreciacin. El fracaso de la gestin del Ministro de Trabajo, AntonioMucci, ante la unidad obrera en defensa de sus sindicatos muestra a lasclaras lo errado de este anlisis.

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    sido nica. Eso era as aun en aquellos casos donde se repetan lasformas de organizacin y lucha, y donde era evidente que habanexos regionales o zonales. La hiptesis que aqu se desarrolla esque lo que parece ser una forma de esquizofrenia en realidad esuna manera de reconciliar la experiencia vivida con lo que esaceptado e impulsado como la verdad histrica, constituyendouna memoria particular que se ancla en estructuras de sentimientoy en un fuerte contenido de nosotros contra ellos.

    En particular cuatro de las entrevistas revisadas6, con cincoobreros, resultan reveladoras del problema entre la articulacindialctica de la memoria, la experiencia particular, y la preservacinde tradiciones que permiten la identidad clasista. Los cincoentrevistados eran todos obreros industriales, pero de generaciones,filiaciones polticas y calificaciones distintas. Ramn y Lolo erandos obreros viejos, mayores de 60 aos cuando fueronentrevistados, mientras que Anbal, Jorge y Pete rondaban los 30aos de edad. Ramn era de nacionalidad paraguaya y habaemigrado a la Argentina en la dcada de 1950, perseguido por ladictadura del general Alfredo Stroessner, y era un obrero de laconstruccin al igual que Pete. Ambos tenan una alta calificaciny oficio ya que uno era colocador de obra y el otro caista de altapresin. Ambos eran miembros del Partido Comunista (PCA), unaorganizacin con mucha fuerza en el gremio de la construccin dela poca. Anbal, obrero de la carne, haba sido activista de AccinCatlica, si bien luego pas a revistar en las filas del PCA, mientrasque Jorge perteneca al sindicato metalrgico y militaba en eltrotskismo. A su vez Lolo era un obrero foguista (o sea, que sededicaba a la caldera de la fbrica), afiliado a la Unin CvicaRadical7, que tena una alta calificacin y el respeto de sus

    6 Vase el acervo de entrevistas en el Programa de Historia Oral, InstitutoInterdisciplinario de Estudios de Amrica Latina (INDEAL), Facultad deFilosofa y Letras, Universidad de Buenos Aires.

    7 La Unin Cvica Radical fue un partido poltico que se remonta a 1890, conprdica entre los sectores medios argentinos, cuyo ideario es una adaptacindel radicalismo espaol.

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    compaeros hasta el punto que reciba el trato de Don. Adiferencia de los anteriores, Don Lolo jams haba desarrolladouna militancia poltica o un activismo sindical. En cierto sentido,testimoniantes como Don Lolo sirven de control a las interpretacionesque brindaban los obreros con militancia poltica izquierdista. Deah que lo importante son los temas recurrentes, o sea, que serepiten en ambas instancias, y que sugieren la posibilidad deconstantes en la subjetividad que trascienden la formacin polticao la educacin formal. Esto no quita que estas constantes se debana influencias externas, como, por ejemplo, criterios derivados delas interpretaciones que se encuentran en los medios decomunicacin de masas. Sin embargo, a partir del paradigmaindiciario elaborado por los historiadores Carlo Ginzburg y SidneyChalhoub8, las reiteraciones en la subjetividad de distintos individuossin conexin entre s sugieren un inmenso rompecabezas donde,una vez descartadas las respuestas imposibles, lo que queda, porimprobable que sea, es lo que debe haber ocurrido.

    Todos los entrevistados saban que lo que se buscaba era quecontaran cul haba sido su experiencia como obreros durante ladictadura. Asimismo, el contexto y la poca de la entrevista esimportante: la dictadura haba terminado apenas cinco aos antesy era tema de debate en todo el conjunto social argentino,particularmente en torno a la existencia, o no, de formas deresistencia o de colaboracin con los golpistas. Si Delich sealque la gran mayora apoy al golpe de estado, y los entrevistadoslo niegan en la construccin de su memoria, entonces qu significaesto para el esfuerzo de la historia oficial de construir una historiahegemnica colaboracionista?

    La contradiccin sealada existe inconscientemente en lasentrevistas y, al mismo tiempo, es probable que determinara quelos entrevistados eligieran comenzar su testimonio estableciendosu posicin respecto de esta discusin, que servira para anclar

    8 Vase, en particular, la Introduo. Zadig e a histria en Chalhoub (1990).

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    toda su participacin en la construccin de la entrevista. As, porejemplo, Don Lolo comenz explicando que: La gente no hacanada porque es un establecimiento cmo te voy a decir? , noson luchadores de frente. Si el patrn viene y dice hay diez pesosde horas extras, todo el mundo contento (Entrevista con DonLolo, 1988). A su vez Anbal expres, en su primera intervencin:

    Yo trabajaba en una fbrica grandsima, con 1.700 obreros, elfrigorfico Pedr Hermanos, aqu en Banfield. Prepararon todas lascondiciones, cuando fue el golpe de estado fue el da que hubomayor presentismo a pesar de la incertidumbre []. La gente, conmucho temor, se vino a laburar9. Yo creo que no hubo un argentinoen ese momento, a no ser un tipo esclarecido, que no deca que esotena que terminar, que vinieran los militares. (Entrevista con Anbal,1987)

    A su vez Pete dijo: Nosotros estbamos en contra del golpe.La vspera del golpe estbamos en Chingolo, hablando con unoscompaeros, creo, y decamos que era tarde. Porque se vea venir,era como ver una lluvia que viene acercndose. La gran mayoralo peda (Entrevista con Pete, 1987).

    En los tres casos es notable lo que sealan y lo que silencian,sobre todo porque dos de ellos eran comunistas mientras que Lolono sera considerado como un obrero politizado o de izquierda. Porlo pronto los tres opinaron que nadie hizo nada. Pero, al mismotiempo, tomaron distancia personal de esa afirmacin. Para DonLolo fue la gente la que no hizo nada, y de hecho no se incluyeen el colectivo; para Anbal la excepcin fueron los esclarecidos;mientras que Pete hace una clara distincin entre nosotros y lagran mayora. No se trata de disputar si el golpe militar de 1976tuvo apoyo popular o no, lo que interesa aqu es sealar que losentrevistados comienzan su relato a partir de parmetros concretos.En cierto sentido, lo que parecen decir es que aceptan la versinoficial por la cual todos los argentinos fueron golpistas, pero

    9 Laburar: argentinismo por trabajar, se deriva de la palabra italianalavorare.

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    como esto no concuerda con su experiencia personal, entonces seven obligados a diferenciar al conjunto social (incluyendo a suscompaeros trabajadores) de sus propias vivencias. De esta maneralos entrevistados se ubican dentro de los criterios aceptados. Sinembargo, la forma de hacerlo es importante y no slo revela unasubjetividad que niega la historia oficial sino que en realidad sientalas bases para generar una contrahistoria.

    A partir de establecer su excepcionalidad, que parecepermitirles reconciliar lo que sera una historia oficial y su propiaexperiencia, los entrevistados comienzan un cuidadoso (aunqueinconsciente) proceso de negacin al manifestar la construccin deuna memoria resistente. Esta memoria resistente tienecoordenadas concretas, sobre todo en torno a la percepcin de lahistoria como lucha o guerra de clase, central a la defensa de susderechos y dignidad. Al decir de Don Lolo: Porque as tengo misderechos.

    Un elemento notable en los testimonios analizados es que laconstruccin de la memoria en apariencia no incluye casi referenciaal tema represivo. Es evidente que esto llama la atencin delentrevistador que incorpora, casi de repente, preguntas al respecto.Esto no implica que no tuvieran conciencia del problema, o menosaun que no hubiera represin. Por ejemplo, cuando se les preguntabapor el tema explcitamente, la respuesta era concreta pero tambincon ciertos tonos de naturalidad, por ejemplo:

    Pregunta: Haba miedo? Ahora, pero este fue un barrio muygolpeado [por la represin]

    Anbal: Ah fue cuando lo desaparecieron a Rosario, que aparecicon 17 tiros en la espalda, ah en Cauelas. Esto fue en el 78, porah. Era de los nuestros. Dijeron que haba sido un ajuste de cuentasentre los mismos Montoneros10. Qu va a ser! Si lo sacaron de lacasa. Estaba con la hija. Era delegado de la Lnea 3 de colectivos, dela UTA11. (Entrevista con Anbal, 1987)

    10 Montoneros: Organizacin armada poltico-militar peronista.

    11 UTA: Unin de Tranviarios Automotor.

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    Pregunta: A ustedes la represin en la fbrica cmo los afect?

    Lolo: Y, no. Porque fueron inteligentes que pisaron con pies deplomo. Hubo ese secuestro que pas esas 24 horas y chau, nadams. Ah la gente se asust mucho, se amilan. Yo se que andaba laFederal dando vueltas alrededor de la fbrica. (Entrevista con DonLolo, 1988)

    Pregunta: Pero haba represin en la fbrica?

    Jorge: La forma en que se trabajaba no me gustaba, era bastantepersecutoria. Y eso fue antes del 76 y despus peor todava. []Desaparecidos en esa fbrica no hubo muchos, pero un montnque echaron, redujeron, hicieron un montn de cosas. Gente queempezaba a armarse para hacer algo la echaron. En esa poca meacuerdo que venan a la fbrica [] dos dirigentes. Se reunan ocon el dueo o con el jefe de personal. Trataban, acordaban ydespus se lo daban a la Interna12. Siempre se trabajaba as13.(Entrevista con Jorge, 1988)

    Este aspecto es muy interesante, sobre todo por la forma deexpresarse. Cuando Jorge concluye siempre se trabajaba as,est resumiendo una estructura de sentimiento sobre la vida obreraen general: el trabajador se desempea normalmente en un ambienterepresivo. Al decir de Robert Linhart (1989, p. 108): La fbricaest pensada para producir objetos y triturar hombres. Subyacentea esto, los entrevistados estaban expresando una percepcin, queslo puede ser explicada como una vivencia de clase,profundamente diferente a la del entrevistador. Como universitariospertenecientes a los sectores medios, los investigadores tendan acompartir la opinin que la represin salvaje comenz con el golpemilitar de 1976. Esta no es la realidad de los entrevistados; elsentido comn de los trabajadores les deca otra cosa. Por ejemplo,Jorge ubic la represin desde antes de 1976; y Ramn, cuando

    12 Interna: Comisin Interna de fbrica, el organismo de base de los sindicatosargentinos.

    13 Jorge militaba en el Movimiento al Socialismo (MAS), una organizacintrotskista dirigida por Nahuel Moreno (Hugo Bressano).

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    se le pregunt si hubo represin en construccin, respondi: Si, larepresin empez en el 5914. No fue slo del 76. Cuando vino laintervencin de julio del 59, empez la lista negra y se mantuvohasta ahora. Esto indicara que, en la percepcin de estos obreros,no hay un correlato entre represin y dictadura, ya que las entrevistasindican que esta es permanente. En ese sentido, la represin tiendea naturalizarse como algo objetivo de la realidad, y por lo tanto nohace falta recordarla ya que su excepcionalidad no es tal. Hastadnde esto es parte de la percepcin de los entrevistados y no de lasubjetividad obrera en general es un tema complejo de dilucidar.Ms aun, si la experiencia individual y/o colectiva marca los lmitesy los significados de la subjetividad entonces es lgico suponer quela subjetividad obrera no es la misma que la de los sectores medios.Los indicios disponibles, va autobiografas, relatos y una cantidadde entrevistas sugieren que la represin es una contracara de todorelato obrero. Esto parece indicar que los entrevistados aceptabanla violencia como algo cotidiano y parte del mundo hobbesiano enel que viven, o sea como algo natural. Por eso al entrevistador lellama la atencin que el tema no se explicitara en las entrevistas amenos que se realizara una pregunta directa, mientras que paralos obreros estudiados era innecesario ya que era un supuestoconocido.

    Un elemento central a la historia oficial es lo que se puededenominar quietismo o despolitizacin. Es evidente que lasentrevistas abarcan este tema especficamente para poder compararla memoria de los entrevistados con la historia oficial. Por ende las

    14 La referencia es notable ya que Ramn es comunista. El ao 1959, duranteel gobierno electo de Arturo Frondizi, se aprob el Plan Conmocin Internadel Estado (CONINTES), dirigido en contra del activismo sindical. Ese fueel ao de la huelga, ya mencionada, del Frigorfico Lisandro de la Torre, ytambin el ao de las grandes huelgas bancarias. En general los historiadoresaceptan ese ao como una fecha importante para el sindicalismo peronista.Ramn est sugiriendo que la fecha es importante para el conjunto de lostrabajadores, y tambin indica que un gobierno democrtico puede sertambin represivo.

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    entrevistas incluyen preguntas especficas sobre el activismo obreroy la militancia poltica. Las respuestas son tan ilustrativas comoaquellas sobre el tema represivo: en todos los casos sealan que,por lo menos en aquella poca, la poltica y en particular la deizquierda, era parte de la vida cotidiana. Por ejemplo:

    Pregunta: Usted vio volantes, cosas por el estilo?

    Ramn: Apareca, pero muy poquito. Un largo tiempo despus delgolpe. El que ms trabajaba en el gremio era la fraccin en loscolocadores. Una fraccin trotskista. Eran los primeros que salieroncon sus volantes. Denunciaban las condiciones de trabajo y todoeso.

    Pregunta: Quin? El PST?

    Ramn: Ms bien tiraba para el ERP. Y la gente deca que tenanrazn15. (Entrevista con Ramn, 1987)

    Pregunta: Problemas con la subversin no tenan adentro?

    Lolo: Yo no tuve ninguno.

    Pregunta: No se impriman los volantes de los Montoneros?

    Lolo: Se los impriman. Escchame, ah se haca cualquier cosa.Aparecan volantes por todos lados. Una vez pusieron una banderacomunista arriba de la torre de obras sanitarias que est adentro dela fbrica. ... Despus del golpe. El golpe fue en el 76. Y bueno ahapareci una bandera. Quin la puso? No s. [Risas] Pero le querancortar el cogote al director de la fbrica. Aparecan volantes pegados...Los volantes, es muy simple en Fabril. Yo saba que eran todos deMao16. Mir, a mi me pegaban volantes en la caldera. Vena elperonista y me pegaba uno. Vena otro que era comunista y mepegaba uno.

    15 PST - Partido Socialista de los Trabajadores, organizacin trotskista queluego conforma el MAS. ERP - Ejrcito Revolucionario del Pueblo, una de lasorganizaciones guerrilleras argentinas ms importantes de la poca. Sudireccin poltica era el Partido Revolucionario de los Trabajadores, deorgenes trotskistas y luego de orientacin guevarista.

    16 Se refiere al Partido Comunista Revolucionario, de orientacin maosta.

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    Pregunta: Entonces vos sabas quin era peronista y quin eracomunista en la fbrica?

    Lolo: Eran todos compaeros. Uno me quera enganchar a todacosta que tena que ser comunista. Y yo le digo: Mira, vamos ahacer una cosa, afliate al radical y yo al comunista. Y esas cosas.Discutamos pero de compaeros. [] Es una gran familia.(Entrevista con Don Lolo, 1988)

    Observemos cmo ambos, Ramn y Lolo, establecen que existauna actividad poltica constante como algo perfectamente naturaly cotidiano. Al mismo tiempo no les hace falta decir que nadiedenunciaba a los militantes polticos. Ms aun, cuando Lolo declaraque no tuve problemas con la subversin, queda implcito que elproblema era para la patronal ya que los militantes estaban dellado de la clase obrera. Inclusive, la expresin de Ramn la gentedice que tenan razn es ilustrativa de ello, lo mismo que cuandoLolo seala que discutamos, pero de compaeros. La expresinuna gran familia abarca a todos los trabajadores dentro de lafbrica y, sin necesidad de decirlo, excluye a la patronal. Inclusivees notable que Lolo insista a travs de la entrevista que a l no legusta la poltica ya que somos gente de trabajo. Sin embargo,toda su memoria se encuentra salpicada con referencias polticas.Por lo tanto a qu se puede estar refiriendo? Lo ms probable esque Lolo haya entendido a la poltica como algo que realizan lospolticos profesionales, mientras que el quehacer poltico familiaro del activismo fabril es algo entendido como distinto. Asimismo,subyacentemente lo que parece sugerir Lolo es que dedicarse a lapoltica no es trabajar. Tal como seal Petras, esta percepcin oestructura de sentimiento es producto de cuatro caractersticasfundamentales de la clase obrera argentina. Estas son: 1) un altogrado de solidaridad y organizacin de clase; 2) un rechazogeneralizado a los valores y la dominacin del Estado y de laburguesa; 3) una clara nocin de intereses de clase con un bajonivel de mistificacin, que se evidencia en el rechazo a sacrificar suestndar de vida a cambio de un ilusorio desarrollo nacional; y4) poderosos lazos informales, expresados a travs de la familia, el

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    vecindario y el lugar de trabajo, que refuerzan la unidad de la claseen contra de la clase dominante (PETRAS, 1981, p. 260-261).

    Todo esto apunta a una subjetividad vibrante basada en lapermanente, e inconsciente, resignificacin de trminos, expresionesy nociones en apariencia compartidos con otros sectores sociales.

    Lo anterior contribuye a explicar el surgimiento de nuevosactivistas obreros, aun en condiciones de fuerte represin. Porejemplo:

    Pregunta: Cmo surgen los activistas?

    Pete: El tema de tomarse un vinito a escondidas, pelar una petaca deginebra cuando hace fro, es un tema obligado para charlar. Se vanconociendo. Sabs cmo se conocen? Fulano es un tipo que va alfrente. Fulano es un tipo que sabe, dice otro. Fulano es un tipo quees muy capaz en el laburo, y tiene muy buena parla17. Fulano sabelo que vale su trabajo. Pero a su vez lo transmite, y as ensea lo quevale el trabajo de todos. La gente se va conociendo as, vareconociendo determinada gente. Aunque nadie diga si fue o nodirigente gremial, y la gente no comparta su historia personal opoltica. Y cuando se dan los problemas (econmicos, accidentes)necesariamente o salen o la gente misma los saca a relucir. Che,qu hacemos?, les preguntan. Surgen formas organizativas.(Entrevista con Pete, 1987)

    Anbal: Yo te iba a decir... yo vengo desde la otra vereda. En esapoca no tena militancia. Era muy embromado para todos bregandoque haba que organizarse, porque yo reconozco ahora, con otravisin, que haba tanto descreimiento con el que trataba de organizar.Primero porque generalmente, el que trataba de organizar era detendencia izquierdosa. Haba miedo a juntarse con ellos. [] Yo lestena miedo a los rojos. Y el da que dije aqu hay que hacer algo,hay que cambiar la cosa, mir y para el nico lado que mir fuepara donde estaban los que estaban todos pintados de rojo. Queeran los que estaban haciendo algo desde el principio. Me gui porellos porque eran los nicos tipos que se haban estado jugando...(Entrevista con Anbal, 1987)

    17 Parla: argentinismo para hablar, proviene del italiano parlare.

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    Lo que llama la atencin es que la politizacin y el compromisono estn anclados en un convencimiento o en un despertarideolgico. En ambos casos la explicacin parte de la experienciapersonal que combina necesidad con el reconocimiento positivode la actividad militante, y un criterio por el cual la lucha obreratiende naturalmente a acercarse a la izquierda. Anbal parecedecir que la realidad obrera, no la ideologa, es lo que lo llevdesde Accin Catlica al Partido Comunista. Esta realidadse expresa no tanto en propuestas programticas sino en unapraxis que genera lo que se podra denominar lderes naturales.As, para Anbal es importante que se la estaban jugando,mientras que para Pete lo crucial es que Fulano sabe lo que valesu trabajo y lo transmite. Por ende los entrevistados, ya sea unobrero que no es de izquierda como Lolo, u otro que comienzacon miedo a los rojos como Anbal, o un militante como Pete, loque transmiten es un sentido comn donde los obreros deizquierda tambin son considerados parte de la gran familiatrabajadora.

    Todo lo anterior sirve para expresar lo que los entrevistadosparecen considerar el momento clave, o sea, el relato de suprotagonismo histrico. As, la narracin de cada uno tiene unaprogresin casi lineal: parte de una aparente aceptacin de lahistoria oficial, para luego plantear su carcter de testimonianteexcepcional (o sea, distinto a la media) y no colaboracionista; deah pasan a establecer un nosotros y un ellos que reafirma suidentidad como obreros en contraposicin a otros sectores sociales;luego centran su narracin en el momento de lucha, o sea, en laprueba de que ellos si se opusieron a la dictadura; y, comoveremos ms tarde, van a concluir con una leccin dirigida alconjunto de los trabajadores. En este sentido el criterio clasistaconstruye una memoria de lucha contestataria y opositora a losobjetivos dictatoriales y de la burguesa, que al mismo tiemporeafirma una identidad obrera y una centralidad de su protagonismohistrico como sector social.

    Todo lo anterior se combina para sugerir la existencia de una

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    praxis anclada en el sentido comn implcito en una culturaordinaria obrera, en la acepcin de Raymond Williams (1989).Esto invierte nuestra percepcin de la conflictividad obrera: en vezde entenderlo como un producto de decisiones desde arriba (deliderazgos o de propuestas ideolgicas), la combatividad de losobreros argentinos debera ser considerada desde abajo, o sea,como algo que emerge de la realidad vivida para gestar prcticasde lucha concretas. Por ejemplo, segn Lolo:

    [] les digo a mis compaeros, vamos a cortar las horas extrasporque estos seores nos estn sacando la categora a nosotros.[] Y porque, ponele se peda un aumento, se deca que no, y ahnos reunamos. Cortamos las horas extras. En la poca del Proceso18

    cortamos las horas extras y todo. Y las cortamos porque nosprometan un 5% de aumento, esperbamos varias fechas y nuncavena. Lo hicimos varias veces. Hemos vivido oprimidos. Mir yo enla poca del Proceso tuve una agarrada muy grande con un tal Pons,jefe de relaciones pblicas. Entonces, l nos quera sacar un convenioque yo lo haba conquistado. Yo lo haba conquistado, de que a los20 minutos me tena que retirar. O sea cumplamos siete horas 40.Trabajbamos 7 horas y media, y ahora ocho horas, y nos pagabanocho y media. Entonces, cuando yo llego nos mandaba a trabajarlos sbados a la tarde normal. Los sbados a la tarde es 100 por100. ramos siete u ocho, venimos y nos encontramos que trabajabanocho horas los sbados a la tarde. En caldera trabajbamos tresfoguistas, porque sacaron el turno de noche. [Esto fue en el] 78sera, ms o menos... Y le digo a los compaeros: Perdnenmeque se los diga pero cuando me toque a mi venir de tarde si no melo pagan el 100 por 100 paro la caldera. [] Pero un compaero,que saba mucho de leyes, empez a pelearla, hasta que cada cuala su turno y tuvieron que pagar lo que corresponda. [] Yo notuve miedo, yo habl. Yo estuve casi seis meses cortndole las horasextras, hasta que me mandaron a lo que me corresponda. (Entrevistacon Don Lolo, 1988)

    La construccin de una memoria casi mtica es evidente.Lolo se convierte en el protagonista, y por ende en la expresin del

    18 Proceso: Proceso de Reorganizacin Nacional.

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    conjunto de la clase. El tema de no tener miedo hace a sumachismo, pero tambin a la construccin de una identidaddigna en un contexto donde hemos vivido oprimidos.Pero, al mismo tiempo, como obrero viejo imbuido en las tradicionesy el sentido comn colectivo, siempre regresa a un nosotros,donde su relato articula una memoria en funcin de la cons-truccin de una historia de dignidad y de lucha. As la expresinhemos vivido oprimidos no slo ubica su relato en la tradicincolectiva, sino que implica una crtica al sistema social en suconjunto, y contrapone el nosotros a ellos, representadopor el jefe de relaciones pblicas. Claramente, Lolo est presentandouna visin poltica e ideolgica, aunque l la perciba no como talsino como sentido comn emergente de su realidad comotrabajador.

    No sabemos hasta dnde es verdico lo que relata Lolo, comono sabemos si su protagonismo fue tal. Pero lo importante, paraLolo, no es la veracidad de lo que dice. Al igual que los ferroviariosque citamos al principio, lo que importa es dejar en claro que nohubo una aceptacin pasiva, y si bien Lolo puede no haber sido elprotagonista de este conflicto, lo real es que puede haberlo sido, lu otros. La conclusin del relato de Lolo debera ser obvia: en sumemoria, y en su aporte a la memoria colectiva y por ende a unacontrahistoria oficial de la clase obrera, no hubo pasividad obreraante la dictadura. Lo que hubo, al decir de Tim Mason, fue unaoposicin.

    El relato de Lolo es difcil de constatar, porque aun sientrevistramos a varios de sus compaeros, es factible que elrelato de oposicin se haya sedimentado en una estructura desentimiento determinada. Lo que le da visos de probabilidad,y gesta indicios que lo hacen creble, es la cantidad de otrashistorias de lucha que si se pueden constatar. Jorge relat la suya,y si bien los detalles son propios de esa historia silenciosa y ocultade la clase obrera, los grandes rasgos de la misma se puedenconstatar en la prensa de la poca y en la documentacindisponible en el Archivo de la Memoria de la Provincia de Buenos

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    Aires19. Lo notable del testimonio de Jorge es su esfuerzo por serpreciso en lo que relata. Esto lo hace en funcin de lo que,suponemos, l entiende un deber poltico como obrero consciente:el de transmitir una experiencia de lucha y organizacin. Con susrecuerdos Jorge parece querer aportar a construir una memoriaque contribuya a la historia colectiva de la clase obrera argentina.As, Jorge recuerda:

    La experiencia que voy a contar es la lucha que tuvimos cuando sevino abajo la fbrica. Era Littal S.A. Est ah en Belgrano y VlezSarsfield, en Avellaneda. A dos cuadras del sindicato. Una ferretera.[ramos como] trescientos y pico. Fueron achicando, achicando,achicando. Cuando fue la gran lucha ramos 160. Bueno, ahdominaba netamente la UOM Avellaneda20. No se hacan asambleasni nada si no vena un dirigente del gremio. [] Despus siempreque tratabas de hacer algo se acordaban entre el gremio y la patronaly te rajaban21. Entonces hicimos un trabajo distinto entre un grupode compaeros. Nos empezamos a meter junto con la burocracia,nos empezamos a meter en el sindicato. bamos all, nos reunamoscon ellos, tratando de disimular la forma de pensar, hacamos odos

    19 El Legajo 133, un dossier elaborado por los agentes de la DIPBA (Direccinde Inteligencia de la Polica de la Provincia de Buenos Aires) despus de losprimeros aos de represin (fecha relativa, marzo de 1979 o 1980),presentaba un balance de la situacin laboral en las grandes industrias (100empresas) donde existieron conflictos obreros antes del golpe militar de 1976(merma de produccin, suspensiones, despidos, sabotajes, ocupaciones,atentados a directivos). El ttulo del documento es: Principalesestablecimientos fabril-industriales de la Provincia de Buenos Aires que hansufrido estados conflictivos y posible infiltracin subversiva. A partir de1980, los legajos confeccionados por la DIPBA en el sector gremial registranuna conflictividad obrera en ascenso, y adems una preocupacin por losdatos econmicos, las situaciones recesivas en las fbricas y la desocupacin.La documentacin disponible confirma los numerosos testimonios de lasvctimas de la represin, y revela que las conclusiones derivadas a partir dela documentacin circunstancial y secundaria son correctas. En particulareste informe hace referencia al acceso al material documental del Archivo dela DIPBA que se encuentra en la sede de la Comisin Provincial de laMemoria, en la ciudad de La Plata.

    20 UOM: Unin Obrera Metalrgica.

    21 Rajaban: argentinismo por despedir.

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    sordos a muchas cosas, reventbamos de bronca pero noscallbamos, y fuimos trabajando as. De esa forma, porque ahcuando se elega delegado estaba todo preparado anteriormente.Una vez que estbamos firmes empezamos a dar la cara quinesramos. Haba compaeros de todo tipo de ideologa, haba detodo. Pero era una cosa muy tapada por el momento. La dictadurano era joda22. Mayoritariamente eran peronistas los compaeros.ramos ms o menos 12 o 14, casi un 10%. Un grupo bastantefuerte.

    Cuando llega este compaero a la Comisin Interna se empieza apolarizar dentro de la Interna. Resulta, claro, que los mtodos deunos chocaban con los mtodos de otros. No slo las ideas, sino losmtodos. Nosotros en el taller no pasaba una semana que notenamos una asamblea. Y los otros no hacan nada. Porque querandigitarlo todo, los delegados con el gremio, y que la gente se enteredespus. Ya empezaron los choques. Y el grupo fuerte del equipoque tenan de activistas, que estbamos dentro de la agrupacin,nos fuimos separando antes de que nos pase algo. Agarramos yempezamos a trabajar en equipo. Y ah nos hicimos fuertes, poralgunas cosas que habamos conseguido. Trabajs todo el ao, perocuando llega octubre trabajs muy fuerte. Entonces nosotrosapretbamos ah. Inclusive apretamos tan fuerte que inclusive unavez firmaron un acta de compromiso el sindicato con Littal, y nosotrosen una asamblea les hicimos romper el acta, y ah empezaron losgrandes choques. Tanto con la burocracia como con la patronal.Ahora, cuando empezamos a dominar la fbrica y se vea que sihaba elecciones bamos a barrer toda la Comisin Interna, hacensondeos a ver si poda hacer rajes y eso. Y al primer sntoma... fa, unparo. Al slo enterarnos. (Entrevista con Jorge, 1988)

    El comienzo de la narracin es notable: establece que la luchaes experiencia mientras que subyacentemente queda claro questa es importante. De ah pasa rpidamente a detallar suconocimiento del tema al brindar una serie de datos sobre elestablecimiento. Y luego quiere dejar asentado que la lucha erajusta, especificando los agravios sufridos y estableciendo que noactuaron improvisadamente. Aqu hay dos elementos que son

    22 Joda: argentinismo por chiste.

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    importantes resaltar. El primero es que, al sealar la peligrosidadde la dictadura, tambin est resaltando la heroicidad de la luchay la conciencia de los riesgos. El segundo es qu