história do rio grande do sul - enio_santos_02
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História Sobre o Rio Grande do sul. Um texto muito interessante. Merece sua atenção.TRANSCRIPT
INTRODUÇÃO
Entender o turismo sobre uma ótica de cultura é permitir um processo de
planejamento de atividades, buscando sempre a estruturação de uma região para a
sobrevivência, mantendo seus aspectos culturais e sociais.
Dentro desses aspectos culturais, encontramos a Gastronomia como uma
fonte de desenvolvimento de uma região.
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar um pouco da cultura gaúcha
e do surgimento do churrasco, desde os tempos primitivos até os dias atuais,
buscando mostrar um pouco de sua evolução e de sua expansão aos demais
estados brasileiro, bem como uma forma de atrativo turístico em diversas regiões.
Para podermos estabelecer essa relação, iremos apresentar dados da cultura
gaúcha, dos seus usos e costumes e da forma como o churrasco foi evoluindo.
Muitas foram às raças que contribuíram para formarem nosso estado, cada
qual com seu estilo de vida, com as suas peculiaridades, mas todas elas se
adaptando aos poucos aos nossos costumes e, nós também incluindo esses hábitos
dentro de nossa cultura e sociedade.
Com o surgimento dos Centros de Tradições Gaúchas – CTGs passou-se a
difundir mais todos os hábitos relacionados ao gaúcho e a sua tradição. Os trajes
típicos do Rio Grande do Sul, tanto do peão como da prenda foram incorporados em
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maiores números de pessoas ao seu uso diário, inclusive com Lei Estadual que criou
e decretou o traje gaúcho como traje oficial do estado, podendo ser aceito e
representado em qualquer repartição pública ou ato cívico.
Muitos escritores e pesquisadores falam sobre o assunto e a evolução do
churrasco e para que tenhamos uma linha de compreensão, baseamos-nos em
SAINT-HILAIRE, FAGUNDES, LAMBERTY, KICK, PENINHA e LIMA, que através de
suas contribuições relevantes ao tema, auxiliaram na construção bibliográfica desse
trabalho.
Para demonstrar a tradição gaúcha e o churrasco, incluímos algumas fotos,
onde podemos analisar os fatores da evolução da cultura e da gastronomia.
Dessa forma, buscando uma forma de estudo e concretização dos nossos
objetivos, passamos a contextualização e conceituação necessária para a
compreensão dos temas pesquisados.
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1 VIAJANDO NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL
O Rio Grande do Sul começa com a chegada do homem à região. Isso
aconteceu há muitos anos atrás e aos poucos as mudanças foram acontecendo,
muitas delas ocasionadas pelos conflitos armados, alguns com muita violência. Os
povos indígenas habitaram essa região até meados do Século XVIII onde se
destacavam os Sete Povos das Missões.
Com a obtenção definitiva da posse das terras, Portugal expulsou os
espanhóis e desmantelou as reduções estabelecendo em terras que hoje compõem
nosso estado, uma sociedade de matriz claramente portuguesa, tendo a economia
baseada no charque e no trigo.
Mas, foi em 1835 que o Rio Grande do Sul iniciou um conflito dramático,
chamado de República Farroupilha, com fins separatistas e republicanos. A partir daí
chegaram imigrantes italianos e judeus, fazendo com que nosso estado venha
tornar-se a terceira maior economia do país, com classes sociais já de destaque e
em ascensão.
Nosso estado acumulou grandes dívidas no decorrer dos anos, mas nas
últimas décadas houve uma reação positiva, melhorando a qualidade de vida,
projetando o Rio Grande do Sul culturalmente em todo o Brasil, embora predomine o
setor agropecuário com grandes criações de gado bovino, motivo pelo qual ajudou-
nos a formação territorial do estado.
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Segundo Kich, (2004) “O gaúcho brasileiro só existe a partir do ano de 1732,
com a distribuição das “Sesmarias”, pelo Rei de Portugal ao sul de Laguna“.
Dos açorianos os gaúchos recolheram os costumes da pecuária e quase com
certeza parte de sua indumentária característica aí incluída o modelo de vestuário
feminino.
Temos a presença da figura do gaúcho em pelo menos três países do Cone
Sul da América: Argentina, Brasil e Uruguai, todos de vocação pecuária à qual se
fixa o gaúcho.
Segundo Saint-Hilaire:
O gaúcho se nutre apenas de carne... mora em mísero rancho... Só encontra
prazer no fumo e no mate. Sou tentado a acreditar que esse homem, apesar de ser
branco, pertence aos habitantes dessa região que tem costumes semelhantes aos
gaúchos. (1999, p. 87).
Kich, (2004), afirma ainda que na leitura de Saint-Hilaire tem-se a impressão
que o gaúcho não lhe causou boa impressão.
O gado é geralmente pequeno, porém possui carne saborosa. A principal
indústria da região é a criação de carneiros. Cada estancieiro possui um rebanho
constituído, freqüentemente, de vários milhares de carneiros e com a lã produzida as
mulheres fabricam os tecidos dos ponchos, muito grosseiros. [...]. (SAINT-
HILAIRE, 1999, p.49)
A criação de bovinos e ovinos tem-se destacado, como podemos verificar
principalmente no litoral do Rio Grande do Sul.
Nossa região possui uma vantagem em relação às demais por existir uma
extensa faixa de terra entre o Oceano Atlântico e a Laguna dos Patos o que deixa as
pastagens verdes e salobras fazendo com que a carne bovina e principalmente a
ovina sejam mais saborosas do que outras regiões do Estado e do País.
A indumentária gaúcha vem de remotos tempos. O homem se vestia de duas
peças, calça (pantalon) e camisa, enquanto a mulher já usava o vestido. Usavam
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ainda uma proteção aos pés feitos com o couro de animais (bota de garrão de
potro).
FIGURA 1: Trajes Típicos Gaúchos – 1730 – 1820 – Peão e Mulher Rural
FONTE: Vsz – Arte e Cultura
Com o passar do tempo surgiu uma indumentária comum e característica (a
pilcha gaúcha). Na indumentária gaúcha masculina a peça indispensável é o lenço
de pescoço, seguindo-se da bombacha. A bombacha – uma peça larga e folgada
entre o joelho e a região inguinal, seguro à cintura por um cinto largo chamado
guaiaca ou tirador para o gaúcho platino.
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A terceira peça da indumentária gaúcha é a bota de cano longo e reto, sem a
amarração comum em coturnos militares. Uma última característica é a camisa de
manga longa. Faz parte ainda da indumentária o chapéu de aba larga e copa baixa.
O gaúcho ainda poderá usar em algumas ocasiões de trabalho, a faca, o pala, o
tirador, o laço, esporas e um rebenque.
Contam os documentários que o gaúcho deixava a sua mulher em casa e ele
que deveria sair. Mescla da cultura do imigrante europeu com a cultura nativa.
Já na vestimenta feminina, a principal peça é o vestido confeccionado em uma
peça única, devendo ter o comprimento que atinja o peito do pé, com barra na parte
inferior, não sendo permitidos decotes nos ombros e no peito (seios). O tecido pode
ser liso ou de diversas estampas e cores.
Outras peças usadas pela mulher são: O chalé um tipo de lenço com pontas
cruzadas. O sapato da prenda deve ter salto médio, com no máximo cinco
centímetros podendo ter uma tira para prendê-lo ao pé. A calçoila (calzon, para os
gaúchos platinos), braga ou bombachinha, parte do vestuário íntimo devendo
alcançar a proximidade dos joelhos.
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FIGURA 2: Trajes Típicos Gaúchos – 1820 – 1865/ Peão e Mulher Rural
FONTE: Vsz – Arte e Cultura
A partir deste momento o traje do gaúcho passou a ser a Pilcha que
atualmente no Rio Grande do Sul é considerada traje oficial, pois com a criação e
aprovação da Lei Estadual número 8.813 de 10 de janeiro de 1989, este traje típico
gaúcho pode ser usado em qualquer solenidade como observado na referida Lei.
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FIGURA 3: Trajes Típicos Gaúchos – Peão / Fazendeiro 1865 até hoje. Fazendeira 1865 até 1920.
FONTE: Vsz – Arte e Cultura
O traje feminino também sofreu diversas alterações e atualizações durante o
passar dos anos, mas nunca perdeu o seu estilo de ser um vestido longo, sendo
apresentado de diversos modelos, mas sempre muito elegante.
Buscando entender melhor essas mudanças e adaptações iremos falar um
pouco sobre a Cultura e a Sociedade do nosso Estado.
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2 A CULTURA E A SOCIEDADE
Nos últimos anos notamos que nosso Estado firmou-se com voz imponente e
importante dentro do cenário cultural brasileiro. Prova disso é que existem diversas
universidades e centros culturais em atividade, destacando-se alguns pontos
importantes, como: a recuperação da memória social da cultura imaterial e do
folclore; a conscientização sobre problemas do meio ambiente.
No Rio Grande do Sul os habitantes da campanha conservam a forma de
comunicação como parte de seus usos e costumes dentro de uma cultura própria. O
linguajar gaúcho não é caipira, pois quando usa verbetes costumeiros está se
referindo a condutas preciosas, as quais não existem em outras regiões, pois é um
idioma Português com diversas circunstâncias regionais.
A cultura genuína do povo e suas expressões estão alicerçadas em tradições, em conhecimentos obtidos pela convivência em grupo, somadas aos elementos históricos e sociológicos. Seus legados e sua tradição, entre eles o seu modo de vestir, são transportados para as gerações seguintes, sujeitos a mudanças próprias de cada época e circunstância. (ZATTERA, Vera Stedile. Gaúchos - Trajes Típicos).
Com o surgimento dos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), à partir do ano
de 1948, a sociedade gaúcha desenvolveu-se, tornando-se mais forte os laços de
amizade entre as pessoas as quais passaram a cultuar as Tradições Gaúchas,
respeitando e valorizando mais os nossos símbolos, como: a Bandeira, o Hino Rio-
Grandense, o Brasão e principalmente o Gaúcho.
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Os encontros nos CTGs foram formas de união, das buscas dos ideais que
sempre fizeram do homem gaúcho um ser respeitado em todos os lugares. Com a
criação dos CTGs, começaram efetivamente a realização dos Rodeios e Festas
Campeiras e a partir daí todos os usos e costumes foram se disseminando.
Nosso Estado faz fronteira com Santa Catarina, Uruguai e Argentina, sendo
que além da ligação territorial temos uma forte ligação Cultural Gastronômica.
Uma parte do território gaúcho integra o pampa americano, três grandes
lagoas, montanhas, quênions profundos e planaltos. Boa parte de aspectos mundial
é encontrada no Estado do Rio Grande do Sul. Temos estações bem definidas.
Muito calor no verão, frio intenso no inverno e um clima agradável no outono e na
primavera nem sempre sendo possível manter um rebanho uniforme, pois no inverno
rigoroso dos pampas, muitas chuvas e geadas deixam os animais fracos e com
condições desfavoráveis visto as poucas pastagens e o frio intenso.
Também no verão existem problemas, pois com o forte calor exige maior
quantidade de água e campos com melhores qualidades para se manter um plantel
adequado e em condições de serem abatidos para que possam proporcionar uma
carne de boa qualidade.
Dependendo da época e da estação do ano cada região promove a sua festa
típica, visando valorizar sempre a cultura local e preservar as tradições.
TRADIÇÃO: Essa é uma palavra originária do latim, do verbo tradere (traditio, traditionis), que quer dizer trazer até, entregar. Tradição quer dizer o culto dos valores que os antepassados nos legaram nos entregaram. Tradição não é uma exclusividade gauchesca, pois cada região, em cada recanto desse planeta, cultua a sua tradição. (FAGUNDES, 2002)
No Rio Grande do Sul os valores do culto as tradições mais características
são o Nativismo. O Nativismo é o amor que a pessoa tem pelo chão onde nasceu,
onde é nato. Esse amor existe também em todos os lugares só que são
considerados de menor intensidade.
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Tradição – um culto – e Nativismo – um sentimento – existem em todo o
mundo, mas o tradicionalismo só existe no Rio Grande do Sul.
Em 1857, é fundada na Corte do Império Brasileiro (Rio de Janeiro) a
Sociedade sul-rio-grandense de cunho tradicionalista. Pereira Coruja um dos
fundadores é o autor da primeira pesquisa de folclore feita no Rio Grande do Sul.
No Uruguai, em 1984, poetas e alguns artistas intelectuais fundaram a
Sociedad La Criolla, oficialmente para o culto as tradições gauchescas.
Já no Rio Grande do Sul, o Major João Cezimbra Jacques, a 22 de maio de
1898, inspirado na Sociedad La Criolla, funda em Porto Alegre o Grêmio Gaúcho,
visando unir os rio-grandense desunidos pela sangrenta Revolução de 1893 qual
estendeu-se até 1895. Hoje o Major João Cezimbra é considerado o Patrono do
Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG.
Visando aumentar o culto a tradição gaúcha é fundado em Pelotas em 10 de
setembro de 1899 a União Gaúcha com a liderança do escritor João Simões Lopes
Neto e logo em seguida, 16 de setembro de 1899 é fundada em Bagé o Centro
Gaúcho.
[...] Getúlio Vargas, em 1937, tinha proibido no Brasil o uso dos símbolos estaduais: o hino, a bandeira, o brasão. Com o fim da guerra, em 1945, Vargas foi derrubado e com a volta da democracia os símbolos estaduais gaúchos não tardavam a aparecer. (FAGUNDES, 2002. p. 40)
Em alguns lugares chegaram a usar a Bandeira do Rio Grande do Sul como
cortina em janelas, como nos afirma o historiador e escritor Paixão Cortes, fato esse
que o fez chorar quando viu o símbolo de seu Estado sendo usado dessa maneira e
ridicularizado.
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FIGURA 4: Bandeira do Estado do Rio Grande do Sul FONTE: http://www.riogrande.com.br/Clipart/bandeirasbr/bandeirars.html
Por volta do ano de 1947, homens destemidos, como Paixão Cortes, Barbosa
Lessa e Glaucus Saraiva entre outros, reuniram-se no Colégio Júlio de Castilhos em
Porto Alegre e resolvem fazer a primeira Ronda Crioula do Tradicionalismo, com
muita festa, música, poesia, fandango, concursos e discursos. A partir daí por uma
proposição de Barbosa Lessa é fundado o “35” Centro de Tradições Gaúchas. Um
lugar para cultuar e difundir as tradições gaúchas formado apenas por trinta e cinco
homens, daí o nome de “35” CTG.
Já no ano de 1961 é criada a Carta de Princípios do Movimento
Tradicionalista Gaúcho – MTG, por Glaucus Saraiva e aprovada no VIII Congresso
Tradicionalista do Rio Grande do Sul em Taquara.
Muitos aspectos diferentes, como: bailes de carnaval, festas de
homossexuais, uso de drogas, não são totalmente proibidos no Regimento Interno e
na Carta de Princípios, mas por força intrínseca podem ser controlados sem o uso
de sanções legais.
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Logo em seguida, esse mesmo grupo de tradicionalistas vai a Taquara e
funda o CTG “O Fogão Gaúcho” com a finalidade de expandir as tradições gaúchas
para o interior do Estado. Daí veio à idéia, de além dos fandangos com músicas
típicas do Rio Grande do Sul, fazerem encontros maiores como os Rodeios Crioulos,
Festas Campeiras, etc.
Com o passar dos anos o uso da carne pelo homem foi aumentando, pois
muitas foram às formas de utilizar a carne com maior facilidade. Diversos tipos de
churrasqueiras surgiram, desde as mais simples até as mais sofisticadas, as
elétricas, as giratórias.
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3 TURISMO GASTRONÔMICO
3.1 ORIGEM DO NOME CHURRASCO
É uma palavra usada em português e também no espanhol nos países
platinos para designar um pedaço de carne assada nas brasas.
O dicionário da Academia Espanhola sugere – sem citar fontes, que seria um vocábulo de origem onomatopéica, presumivelmente do som que produz a gordura ao gotejar sobre as brasas. (Wikipédia.org em 02/12/2009).
Mas segundo Corominas, (2009), “o churrasco originou-se em uma palavra
muito antiga, talvez anterior a presença dos romanos na Península Ibérica, que nos
chegou vinda de „sukara‟ (chamas de fogo, incêndio), formada por „su‟ (fogo) e
„karra‟(chama)”.
Na verdade churrasco é o nome dado ao prato feito a base de carne in natura
ou processada, assada sobre fogo ou brasa, com a utilização de estacas de madeira
ou metal, chamados de espetos ou grelhas.
3.1.1 A Gastronomia como Atrativo Turístico de Uma Região
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Todas as regiões devem preservar a sua cultura, pois é através dela que
provêm as maiorias dos atrativos turísticas.
Iremos aqui nos deter na Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, mais
especificamente na Gastronomia, com ênfase ao Churrasco embora na verdade a
Culinária gaúcha não se limite ao churrasco, ao charque e alguns pratos
“campeiros”.
A cozinha do Rio Grande do Sul é muito rica em ingredientes e diferentes
formas de misturá-los, propiciando uma culinária variada e muito apreciada.
Podemos afirmar que a cozinha típica se baseia em ingredientes à base de
carne, principalmente vacum e ovino, além é claro de arroz, feijão e aipim.
Como podemos observar, era comum em anos anteriores fazerem churrascos
em espetos de madeira usando churrasqueiras improvisadas.
FIGURA 5: Churrasco no fogo de chão. FONTE: http://static.panoramio.com/photos/original/14918107.jpg
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3.2 A ORIGEM DO CHURRASCO
Na origem pré-histórica, o homem era caçador. Quando descobriu e dominou
o fogo, passou a utilizar-se da cocção ou cozimento, sendo a mais antiga forma de
preparo de churrasco que se tem conhecimento.
A descoberta dos primórdios do churrasco é atribuída aos índios que
habitavam a costa das três Américas. Eles assavam a carne em uma fogueira ou
braseiro feito sobre pedras com auxílio de espetos de madeira verde, porém foi na
região dos grandes pampas gaúchos que o churrasco encontrou o seu ambiente
ideal. A pecuária sempre foi uma das maiores riquezas do Uruguai, da Argentina e
do sul do Brasil, e a lida com o gado afastava os peões, por longos períodos de suas
casas.
O churrasco era uma forma mais prática de fazer uma refeição, pois bastava
uma boa faca afiada, um fogo de chão, um espeto de vara, um generoso pedaço de
carne e sal grosso para alimentar esses trabalhadores.
3.3 ORIGEM DO CHURRASCO NO BRASIL
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Originário do Rio Grande do Sul, o churrasco surgiu, no século XVII, nas
imediações dos pampas, quando essa parte do Brasil, disputada por castelhanos e
paulistas, era ocupada por milhares de cabeças de gado selvagem, oriundas de
Buenos Aires e de outras áreas da Argentina.
Originário do Rio Grande do Sul surgiu no Século XVII, nas imediações dos
pampas, quando essa parte do Brasil, disputadas, por castelhanos e paulistas,
existia milhares de cabeças de gado selvagens, oriundos de Buenos Aires e de
outras áreas da Argentina. Nessa época – o churrasco, como conhecemos – era
raríssimo, pois, não havia a preparação do mesmo e sim a preocupação com o
couro e o sebo.
Era comum naquela época, usarem as matanças chamadas de “vacarias” as
quais podiam ser oficiais – autorizadas pelo governo espanhol – ou clandestinas,
quando eram realizadas por soldados desertores. Dizem que a partir desses
soldados desertores é que surgiram os gaúchos.
Esses vaqueiros cercavam e matavam os bois, cortavam o pedaço mais fácil e
a partir daí o assavam inteiro, colocando-o em buracos aberto no chão, temperando-
o com a própria cinza do braseiro, sendo daí considerada a origem mais remota do
churrasco.
No final do Século XVII o churrasco tornou-se uma prática mais difundida,
criando-se assim novas técnicas, para o seu preparo. Em vez de usar a cinza,
passou-se a temperar a carne com a carona, nome esse dado pelos gaúchos às
duas abas do couro que se colocava embaixo da sela do cavalo. A carona como
estava impregnada de suor do animal, ajudava a salgar a carne, facilitando a
conservação da mesma por vários dias, evitando-se assim que a cada parada dos
tropeiros tivessem que abater novos animais.
A carne bovina como era abundante na região foi se tornando o prato básico e
principal do gaúcho o qual comia em grande quantidade (quase dois quilos por dia).
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Hoje em dia a carne no espeto é um dos alimentos não só preparado com a
facilidade e a higiene, mas também bastante acessível a todas as classes sociais.
No passado era bastante diferente como podemos observar, comparando as suas
origens. Muito tempo já decorreu para que o churrasco torna-se popular e também
um dos pratos mais sofisticados consumido nos melhores restaurantes do país e no
exterior.
FIGURA 6: Churrasco sendo preparado
FONTE: Foto de propriedade do autor do trabalho.
3.4 GASTRONOMIA GAÚCHA
A Gastronomia Gaúcha é considerada atualmente como a mais variada e mais
rica, graças à interpenetração de várias etnias que povoaram o nosso território,
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desde a presença dos silvícolas nativos aos imigrantes portugueses, açorianos, os
negros escravos vindos da África e no século XIX os alemães, italianos, poloneses,
suíços e povos árabes, além de judeus, ucranianos e japoneses.
Somente a partir do século XVII com a vinda dos açorianos para cá é que o
Rio Grande do Sul teve impulso e começou a desenvolver-se. A culinária era
rudimentar restrita aos meios disponíveis. Os alimentos eram preparados em
panelas de ferro pelos europeus, enquanto os nativos usavam panelas de barro, ou
assados sobre brasas, onde serviam de espetos pedaços de taquara ou galhos de
árvore, usando o sal (cloreto de sódio), alho e cebola como tempero.
A caça e a pesca eram as grandes soluções da época, mais tarde tivemos os
rebanhos cultivados. Dos cereais eram conhecidos apenas o trigo e o arroz. Os
índios cultivavam o milho, hábito que foi passado aos imigrantes. Das carnes eram
conhecidas a de gado bovino, do rebanho ovino e caças. Algumas comunidades
indígenas criavam patos a algumas aves domésticas.
Referindo-nos ao que disse Saint-Hilaire quando passou por essa região em
1822, posando na região de Mostardas, localidade de Guaritas, onde hoje pertence
a Tavares.
Conforme Saint-Hilaire, (1999), “Os arredores de Guaritas são impregnados
de sal e as pastagens comunicam um bom paladar à carne dos bovinos”.
Na realidade o historiador francês tinha razão, pois muitos anos se passaram
e sempre que se prepara um churrasco de carne ovina dessa região, nota-se essa
diferença em relação a outros lugares do Rio Grande do Sul.
Além da carne saborosa de nossa região o peixe também é um alimento
tradicional e saudável na mesa dos gaúchos. Os índios capturavam os peixes e os
preparavam envoltos em folhas de plantas sobre as brasas, as quais eram
colocadas em buracos cavados na areia. Cobriam essas brasas com a areia e
colocavam os peixes para assar ou cozinhar envoltos em folhas principalmente de
bananeiras.
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Já o churrasco teve o seu descobrimento tão logo o homem descobriu o fogo.
Daí ele viu que podia aproveitar as brasas que sobravam das queimadas e fogueiras
e colocar pedaços de carne para assar ou cozinhar. Os primitivos usavam a própria
cinza para servir como tempero, pois não conheciam ainda outra forma de temperar
a carne. A carne assada na brasa foi importante para a formação das comunidades,
pois a sua divisão era feita ali mesmo ao redor da fogueira onde as pessoas se
reuniam para comer.
O método de assar a carne nas brasas tem sido um dos mais utilizados pelo
homem e nas mais diversas culturas. Na verdade, o churrasco é universal, não
podendo ser atribuído a invenção a nenhum povo em especial.
Constatamos que dependendo da região, cada um tem seu uso e seus
costumes e também diferentes tipos de ingredientes que ajudam a fazer da carne o
mais saboroso churrasco. Vamos nos deter mais ao nosso tradicional churrasco dos
pampas gaúcho, pois o nosso churrasco tem atraído muitos turistas que vêem
especialmente ao Rio Grande do Sul para saborear os nossos pratos típicos.
Preparar um bom churrasco nem sempre é tarefa fácil, requerendo certo
planejamento para que não falte nada na hora de prepará-lo. Faça sua lista com
antecedência, pois dependendo da quantidade de pessoas assim serão as
quantidades a serem compradas. Para um bom churrasco, escolha sempre o melhor
corte de carne, além do sal e do carvão ou lenha.
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FIGURA 7: Picanha Assada. FONTE: http://lucianonassyn.wordpress.com/2009/09/, acessado em 08 de novembro
de 2009, às 21h10min.
Dependendo do acompanhamento a ser servido com a carne, deve-se colocar
em média de 400 a 500 gramas de carne por pessoa, principalmente se for no
horário do almoço e também se tiver mais homens reunidos e pessoas jovens.
Quando existir muitas mulheres, crianças ou idosos o consumo médio diminui.
Também diminui consideravelmente se o churrasco for servido no horário da noite.
Outro alimento bastante utilizado como acompanhamento era a batata doce
nas cores branca, amarela e rosa, além da mandioca, nhame e o amendoim
O sal grosso ainda é o tempero mais conhecido por aqui. Normalmente é
salpicada a carne antes de colocar na churrasqueira. Depois de bem assada, deve-
se bater bem o sal com uma faca grande ou com uma tala especial para isso.
Algumas pessoas preferem assar a carne usando tempero feito, uma espécie de
salmoura. Existe também a técnica de marinação de carnes que serão assadas em
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vinho com ervas, cebola, alho e especiarias, principalmente se for à carne de
cordeiro.
Para PENNA, (2005), “O aparecimento do churrasco já existia em toda a
América do Sul antes do descobrimento, mas podemos creditar boa parte deste
início à destruição dos Sete Povos das Missões no Rio Grande do Sul em 1768”. Na
ocasião grandes rebanhos foram abandonados e invadiram os campos,
multiplicando-se ao ar livre.
Como havia uma procura pelo couro, os tropeiros que ali passavam,
alimentavam se da fartura da carne existente a qual era assada em brasas.
Antigamente era comum por influência da imigração italiana, a macarronada aos
domingos, mas com o passar dos anos o churrasco tornou-se o prato principal em
nosso Estado.
O churrasco chegou a nossa casa como uma religião. Com o passar dos
anos surgiram os invernadores que continuaram a tradição que se iniciou e vendo-se
obrigados a levar o gado para fugir do inverno, assavam algumas de suas reses
durante a viagem, carregando a carne que sobrava no lombo de seus cavalos, pois
com o suor dos animais, salgavam as peças e quando chegava a noite na hora do
jantar à carne já estava salgada.
Com o passar dos tempos o homem começou a inovar. Criou as
churrasqueiras feitas no chão, usando espetos de taquara para poder segurar os
nacos de carne.
No início do século XX, com a chegada dos imigrantes italianos, foram
introduzidos outras espécies de carnes, como porco, frango e peixe, além de
desenvolverem os temperos como a famosa vinha d‟alho.
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FIGURA 8: Lombo de Porco Assado. FONTE: www.cozinhabrasileira.com/suinos/pernil_de_porco. Acessado em 08 de
novembro de 2009, às 21h25min.
Com o passar dos tempos e as viagens dos caminhoneiros por esse Brasil,
restaurantes começaram a incrementar em seu cardápio o churrasco chegando ao
atual rodízio de carnes.
Embora a grande quantidade e diversidade de gado bovino em nosso país,
algumas das melhores carnes ainda são importadas da Argentina e do Uruguai.
Tudo porque o clima mais frio desses países ajudou a desenvolver as raças
européias, principalmente a Hereford com a sua pelagem avermelhada e cara
branca. O Brasil por ter clima tropical, o gado mais utilizado como fornecedor de
carne ainda é o zebuíno, como o nelore, o gir, o guzerá entre outros. Hoje as carnes
viajam de um lugar a outro em caminhões com câmeras frias dentro das normas de
higiene.
A parte mais importante do ritual do churrasqueiro é que ele incorpore o sentido de comunhão, desarme-se dos sentimentos negativos e tenham atitudes positivas, pois ele será responsável por repassar boas energias a todos por meio de suas mãos e seu bom astral. É sempre bom estar de bem com a vida! (PENNA, Ricardo – 2005. p. 47)
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A arte de assar os mais diversos cortes de carne faz parte da nossa cultura,
uma tradição genuinamente gaúcha que caiu no gosto do povo. Reunir os amigos
para saborear um bom churrasco já é uma mania de norte a sul do Brasil.
3.5 HISTÓRICO DO SAL
A história do sal provém das grandes civilizações, Babilônia, Egito, China,
Mediterrâneo, África e América. Naquela época era muito usado como moeda
(troca), ou como forma de arrecadar impostos ou mesmo como alimento. O sal,
produto extraído do mar em quantidade abundante inesgotável e essencial a vida
humana.
Com o sal podemos obter a matéria prima para a indústria química, alimento
insubstituível para o homem e animais. É um agente de conservação, fabricação de
vidros, papel, tecidos, tintas, borrachas artificiais, plásticos, couros, etc. Cerca de
90% da produção do sal (NaCl) é produzida no Rio Grande do Norte pelas
condições oferecidas pelo clima quente e seco, ventos fortes e constantes.
O bom churrasqueiro não dispensa o uso do sal em seu churrasco. Alguns até
misturam o sal com outros temperos e ervas.
3.5.1 Cartilha do Bom Churrasqueiro
Um bom profissional do churrasco deve seguir algumas regras básicas, tais
como:
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1 – Higiene pessoal,
2 – Material,
3 – Hábitos e Costumes.
Na higiene pessoal o assador deverá estar sempre de barba feita, unhas
cortadas e limpas, mãos sempre limpas, não acumular suor, não se coçar.
Na parte material, deve usar sempre avental e gorro, possuir seus próprios
conjuntos de facas, pelo menos três: a desossa (para limpeza), a do “chef” para o
corte final e uma de lâmina grande para o preparo inicial das porções e cortes, uma
chaira, toalhas descartáveis, uma lixeira próxima ao serviço, um ventilador caso haja
moscas e mosquitos.
São também requisitos indispensáveis, lavar bem as mãos antes de começar
a trabalhar com a carne, manter as mãos e braços limpos, cortar sempre as unhas,
não espirrar e tossir em cima da carne, não fumar, manter cabelos sempre presos
(se forem longos) ou com uma boina ou chapéu, não colocar o dedo no nariz, boca,
orelha ou coçar a cabeça. Se por acaso fizer alguma dessas coisas errada, lave bem
as suas mãos para poder retornar ao seu trabalho.
3.5.2 O Temperar a Carne
Para se fazer um bom churrasco, deve-se começar a planejar com
antecedência, comprando e escolhendo sempre a melhor carne. A carne deve ser
bem vermelha e com odor fresco e agradável. A carne deve manter um corte
padronizado para que não fique uma ponta maior do que a outra e se tenha um
melhor aproveitamento.
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Ao cortar as carnes procure cortá-las no sentido perpendicular aos das fibras.
Isso evitará que ela desfie ou se desintegre, além de facilitar a penetração do sal ou
do tempero na carne. Tem pessoas que usam lambuzar a carne com um pouco de
óleo ou azeite de oliva antes de colocar o sal, pois esse ficará mais aderente. As
carnes mais gordas têm a facilidade de adquirirem mais sabor, pois o sal ou o
tempero penetra com mais facilidade para o interior da peça. Mesmo que você não
aprecie gordura, prepare o churrasco com ela, pois dá mais sabor, além de deixa-la
mais macia.
Se forem assar pedaços de carne mais grossos, cuidado ao temperar e
também ao assar, pois podem ficar partes internas sem tempero e também partes
mal assadas.
Procure nunca temperar a carne vermelha usando limão, vinagre e nem
mesmo água, pois a alteração do ph endurece as fibras musculares e a peça fica
dura.
Já nas carnes brancas, como peixes e aves são aconselháveis usar temperos
para que fiquem mais consistentes.
Para realçar o verdadeiro sabor da carne devemos usar o sal grosso onde
com certeza podemos obter ótimos assados. Cubra toda a carne com o sal grosso e
leve-a ao fogo, seja na grelha, no espeto ou no bafo. Mas lembre-se, não coloque o
sal grosso na água com o intuito de dissolver o sal porque ele perde o poder de
contenção e poderá salgar a carne em demasia. O correto é sempre, sem exceções,
usar o sal grosso a seco.
3.6 A CONTRIBUIÇÃO DE MOSTARDAS E TAVARES NA GASTRONOMIA
GAÚCHA
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Mostardas e Tavares guardam ainda alguns dos costumes dos povos que as
construíram. A lã pura do rebanho ovino permite a confecção dos Cobertores
chamados de mostardeiro em Mostardas e de açoriano em Tavares, além de
ponchos, mantas, etc. São peças populares confeccionadas a maior parte em tear
manual e que são muito apreciadas pela população local e turista que visitam a
nossa região. Essa cultura de tecer usando a lã ovina é bastante conhecida desde
muitos anos, como mencionado no livro Viagem ao Rio Grande do Sul.
A principal indústria da região é a criação de carneiros. Cada estancieiro possui um rebanho constituído, freqüentemente, de vários milhares de carneiros e com a lã produzida as mulheres fabricam os tecidos dos ponchos, muito grosseiros, que se vendem à razão de 6 patacas, enviando-os a Porto Alegre, Rio Grande e outras localidades. (SAINT-HILAIRE, 1999. p. 49).
Muitas são as festas realizadas na região, principalmente as religiosas em
comemoração aos Santos Padroeiros destes municípios e outras realizadas pelos
distritos. Alguns Rodeios e Festas Campeiras também fazem parte das
programações culturais. Em todas essas comemorações sempre encontramos o
nosso tradicional churrasco de carne bovina. Com o passar dos anos passamos a
utilizar a carne ovina em maior quantidade, pois sem dúvida, é uma carne saborosa
e reconhecida como uma das melhores carnes ovinas do Brasil.
Já faz parte da cultura de Mostardas e da região servir aos turistas e visitantes
o saboroso churrasco de carne ovina (cordeiro), pois grande parte da pecuária da
região está baseada na criação da raça ovina com grandes criadores.
O churrasco com certeza é um dos grandes atrativos turísticos da nossa
região, pois além da simplicidade de nosso povo, temos uma culinária bastante
apreciada.
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FIGURA 9: Churrasco de Carne Ovina
FONTE: Enio Santos em dezembro de 2008.
Nas festas religiosas normalmente são usados espetos de ferro ou metal pela
praticidade, mas ainda é comum encontrarmos nas festas campeiras – rodeios –
churrascos sendo feitos em churrasqueiras improvisadas de tijolos, buracos feitos no
chão, grelhas e em muitos destes o uso de espetos de madeira como faziam os
índios e os primeiros homens a usarem o churrasco como alimento.
Hoje podemos dizer que comprovadamente a carne ovina de nossa região é
uma das mais saborosas, pois as pastagens verdejantes e salinizadas deixam os
animais com melhor qualidade em sua carne.
A carne ovina na verdade abrange além dos cordeiros as ovelhas e os
carneiros, sendo que a melhor carne ovina para o churrasco ainda é a de cordeiro
por ser uma carne macia e de fácil preparo. São chamados cordeiros os animais de
até 8 meses de idade e recém-desmamados.
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A carne ovina destaca-se das demais por ser uma carne rica em proteínas,
alto valor nutritivo e vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e potássio. Ela ocupada
um lugar de destaque entre as carnes mais consumidas em boa parte do mundo, é
de fácil digestão.
Geralmente a carne de ovelha é vermelha-rosada, tendo um nível médio de
gordura e mais adocicada. A carne ovina não possui gorduras saturadas e apresenta
baixa concentração de lipídios. Na verdade a cor da gordura é uma das formas de se
identificar se a ovelha é velha ou não.
FIGURA 10: Carne de Cordeiro
FONTE: http://correiogourmand.com.br/info_glossario_produtos_alimentos_carnes_
mamiferos_cordeiro.htm – em 11/11/2009 às 23h40min.
Com a carne ovina podemos, além do tradicional churrasco, fazermos
diversos pratos dentro da nossa gastronomia, cada qual com a sua peculiaridade e o
seu valor nutritivo.
As partes mais adequadas de cordeiro para o churrasco são: lombo, pernil e
costelas. Já o peito do cordeiro, paleta e pernil desossado e em pedaços são ótimos
para fazer espetinhos. Muitas pessoas usam deixar o cordeiro várias horas no
tempero antes do seu cozimento para que a carne fique mais saborosa.
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Além do churrasco com sal grosso é uma tradição fazer o pernil de cordeiro
com vinho, cervejas e muitas especiarias. Antes de se fazer um pernil, deve-se
retirar as duas glândulas de aproximadamente um cm de diâmetro cada, localizadas
na parte traseira da coxa do cordeiro.
Na verdade, ter a carne ovina em nosso churrasco faz parte da Tradição
Gaúcha, desde os tempos em que a maioria das fazendas criava e abatia cordeiros
ou carneiros para o consumo próprio de suas famílias ou de seus empregados. É
uma carne de sabor inconfundível, mas exige do churrasqueiro um pouco mais de
tempo para assar e de atenção.
A carne ovina pode ser assada em espetos ou mesmo em grelhas, pois não é
necessário deixar assa-la totalmente, ou seja, pode ir servindo aos poucos e
retornando-a as brasas para continuar a assar as partes mais internas e mantê-la
sempre quente e saborosa. Se preferir pode ser usado o molho de hortelã para
acompanhar.
Um dos cortes de ovino muito apreciado nas melhores casas do ramo é o
Carré de Cordeiro. É um corte nobre, onde aproveita a junção do lombo com a
costela, formando uma carne muito macia e saborosa. É uma carne que possui uma
intensa concentração de gordura, ficando muito saborosa se assada apenas com o
sal grosso.
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FIGURA 11: Carré de Cordeiro. FONTE: http://img.pinfotos.abril.com.br/t/1/patricia/w500/carre-de-cordeiro.jpg – em
15 de novembro de 2009, às 17h50min.
Por possuirmos em nossa região, formada pelos Municípios de Mostardas e
Tavares, uma grande criação de ovinos e da melhor qualidade dentro do estado,
consideramos que possuímos um atrativo turístico diferenciado. Com a nossa carne
ovina, podemos oferecer aos visitantes uma variedade tanto em churrasco de
cordeiro como em diversos pratos feitos com essa saborosa carne, além é claro de
salgados, empanada, pastéis, etc.
Anualmente é realizada em Mostardas a Ovearte, a Feira da Ovelha e do
Artesanato, onde são comercializados produtos feitos com a lã da ovelha, como os
cobertores mostardeiros, os ponchos, palas, xergões, mantas e muitos outros
produtos. Muitas pessoas nos visitam para adquirir esses produtos e também para
conhecerem a região e saborearem os melhores pratos feitos a base de carne ovina.
3.7 RECEITAS PRÁTICAS
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PERNIL DE CORDEIRO
Ingredientes
1 pernil de cordeiro até 3,5kg
6 dentes de alho
1 colher de sobremesa de pimenta-do-reino, quebrada na hora.
½ xícara de azeite
½ xícara de vinho tinto seco
sal grosso
Modo de preparo
Utilize um pernil em temperatura ambiente, pois o tempero age melhor.
Corte dos dentes de alho no sentido longitudinal em forma de cunha.
Separe o alecrim em pequenos tufos. Coloque os grãos de pimenta-do-reino
dentro de um pano (que possa ser descartado). Enrole fazendo uma trouxinha. Com
um martelo, quebre os grãos, deixando-os pedaçudos. Outro método é colocar os
grão de pimenta sobre uma superfície dura, granito, por exemplo, e esmaga-los com
um pau de macarrão.
Misture o azeite com o vinho tinto.
Prepare o braseiro para que o carvão queime enquanto a carne fica no
tempero.
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Com uma faca bem pontuda, faça furos de 1 cm de profundidade na volta toda
do pernil, a cada 4 cm.
Faça duas ou três voltas de furos a partir da parte grossa do pernil. Nesses
furos introduza ora alho, ora alecrim.
Coloque o pernil em uma assadeira para ser temperado. Passe o sal grosso e
em seguida a pimenta-do-reino em toda a volta.
Regue o pernil com a mistura do azeite com o vinho, cubra-o com um pano e
deixe-o pegar gosto fora da geladeira por uma hora.
Leve agora o pernil ao forno ou a brasa ainda quente e vá assando, virando e
regando com o tempero que ficou na assadeira.
FIGURA 12: Pernil de Cordeiro Assado. FONTE: http://casa.abril.com.br/materias/festas/imagem/receita-pernil-
cordeiro_08.jpg - 02 de dezembro de 2009 às 21h35min.
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CHURRASCO DE CORDEIRO
Ingredientes
5 kg de carne (pedaços variados, entre costelas, paleta, pernil e carré).
1 garrafa de vinho seco de 750ml
1 pacote de alecrim (cerca de 10gr)
2 copos americanos (200ml) de azeite
¼ de copo (200ml) de vinagre
1 colher (café) de tempero pronto
Alho esmagado e tempero verde
Sal e pimenta-do-reino
Como fazer
Desosse o pernil e a paleta e misture-os ao molho feito com os demais
ingredientes. Deixe a carne imersa no molho de um dia para o outro. Faça pequenos
furos nas porções para que o tempero penetre. Asse o churrasco, em média, por
mais ou menos 40 minutos.
Acompanhamento: Molho de Hortelã.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desse trabalho constatamos que a Tradição Gaúcha tem um
poder inigualável para divulgar o estado, pois são inúmeros os aspectos culturais,
sociais e gastronômicos.
Apresentamos dados já bastante conhecidos, pois muitos autores evidenciam
esses fatos, mas buscamos desenvolver um trabalho mais específico a um dos
segmentos que divulgam o Rio Grande do Sul e agora a nossa região por todos os
lugares.
Fica comprovado que o Churrasco é sim um fator de destaque dentro do
Turismo, pois muitas pessoas visitam algumas regiões para conhecerem as belezas,
seus pontos turísticos, mas quando se tem uma boa Gastronomia, com certeza tem-
se um maior número de visitantes.
A boa divulgação dos atrativos de uma região faz com que se torne conhecida
e desperte a curiosidade de conhecê-la. O atendimento pelos residentes é de suma
importância para o retorno do turista.
Os moradores de uma região devem conhecer bem os seus aspectos culturais
e gastronômicos, pois sempre que alguém vem visitar é interessante saber expor e
contar um pouco da história local e do crescimento da mesma.
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Percebe-se, portanto, o quanto é importante selecionar adequadamente os
elementos que serão utilizados para divulgar uma região, pois muitos turistas vêm
conhecer pelo imaginário.
O que significa hoje no exterior as churrascarias gaúchas e que importância
tem o churrasco na cultura e desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do Sul.B
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GLOSSÁRIO
CARONA, s.f., peça dos arreios que consiste numa manta de couro, a qual se põe por baixo do lombilho e por cima do baixeiro ou xergão.
CHAIRA, s.f., peça comprida de aço para assentar o fio das facas. CHALE, lenço com pontas cruzadas ou fichu, pode ser escolhido pela prenda. Devem ter adornos discretos, admitidas franjas de crochê.
CHARQUE, s.m., carne de gado bovino, aberta em mantas, salgada e seca.
FANDANGO, s.m., baile de um CTG animado com música gauchesca e do qual participam das danças pessoas tipicamente trajadas com vestimenta gaúcha.
GAÚCHOS, adj. e s.m., os habitantes ou naturais do Rio Grande do Sul; pessoas do interior do Rio Grande do Sul, dedicados a vida pastoril e perfeitos conhecedores das lidas campeiras.
GUAIACA, s.f., cinto largo de couro macio, com uma ou duas fivelas, bolso para relógio à esquerda e uma bolsinha para moedas à direita.
PILCHA GAÚCHA, s.f. traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, (bombacha e seus complementos para o homem e vestido de prenda para a mulher).
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REFERÊNCIAS
COROMINAS. Churrasco – Origem do Nome. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Churrasco> Acesso em: 02 Dez. 2009.
FAGUNDES, Antonio Augusto. Curso de Tradicionalismo Gaúcho. Porto Alegre: Martins Livreiro. 2002.
HERNANDES, Leon. A Arte do Churrasco. Porto Alegre, Ática. 1998
KICH, Bruno Canísio. Pequena Enciclopédia Gaúcha. Porto Alegre: Corag. 2004.
LAMBERTY, Salvador Ferrando. ABC do Tradicionalismo Gaúcho. Porto Alegre: Martins Livreiro. 1989.
LIMA, André. Bíblia do Churrasco. Rio de janeiro, pesquisado em 2009. Escala.
PENNA, Ricardo. Alquimia do Churrasco. Para os Amantes da Carne. Belo Horizonte: Leitura. 2005.
SAINT-HILAIRE, Augustin François César Prouvençal de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro. 1999.
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OBRAS CONSULTADAS
Disponível em: <http://images.google.com.br/imgres> Acesso em: 02 Dez. 2009.
Disponível em: <www.ochurrasqueiro.com.br/ochurrasqueiro2/história.htm.> Acesso em: 04 mar. 2009
Disponível em: <www.sistemaepu.com.br/index.php?option=com_content&task=view=282&intemid=14> Acesso em: 04 mar. 2009.
Disponível em: <www.terrabrasileira.net/folclore/regiões/alimento/s-churra.html.> Acesso em: 04 mar. 2009.