história do brasil - volume 2

137
Apresentaçªo Este é o seu livro de História do Brasil. Nele, você encontrará os textos que serviram de base para os programas de TV. Como aproveitar ao máximo este livro? A primeira coisa que as pessoas que gostam dos livros fazem quando compram um é folheá-lo sem pressa, sem maiores compromissos. Sugerimos que você faça isso. Passe os olhos nele despretensiosamente. Veja como as aulas estão organizadas. Já nesse primeiro contato, você perceberá que as aulas seguem um determinado modelo. Todas elas são divididas em seções. Há também algumas interrupções no texto. Vejamos o que significa cada uma das seções e o porquê dessas interrupções. Cada aula é dividida em três seções. l Na primeira seção, Abertura Abertura Abertura Abertura Abertura, está enunciado o tema da aula. Muitas vezes, um documento de época abre essa seção. Leia com atenção esse documento. Nele estão contidas as questões que serão desenvolvidas no decorrer da aula. Outras vezes, as aulas começam contando um determinado caso que se relaciona, de alguma forma, com o tema da aula. l Na segunda seção, Movimento Movimento Movimento Movimento Movimento, o tema da aula é desenvolvido. Ali aparecem os agentes sociais em ação, em movimento. O texto, em geral, é dividido em três ou quatro itens. Em cada um deles, procura-se explorar um determinado aspecto do tema. É também nessa seção que o texto sofre algumas interrupções interrupções interrupções interrupções interrupções, que têm por objetivo levar você a pensar sobre um determinado assunto relacionado ao tema da aula: Em cada Pausa Pausa Pausa Pausa Pausa, você encontrará um exercício-desafio para responder. Consulte seus colegas e companheiros. Comente e discuta suas respostas. Como diz o ditado, “duas cabeças pensam melhor que uma”...

Upload: lucaroxa23

Post on 14-Jun-2015

6.765 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

ESSE LIVRO SERVE PARA PESQUISAS ESCOLARES.

TRANSCRIPT

Page 1: História do Brasil - Volume 2

Apresentação

Este é o seu livro de História do Brasil. Nele,você encontrará os textos que serviram de base para os programas de TV.

Como aproveitar ao máximo este livro?

A primeira coisa que as pessoas que gostam dos livros fazem quandocompram um é folheá-lo sem pressa, sem maiores compromissos.

Sugerimos que você faça isso. Passe os olhos nele despretensiosamente.Veja como as aulas estão organizadas.

Já nesse primeiro contato, você perceberá que as aulas seguem umdeterminado modelo. Todas elas são divididas em seções. Há também algumasinterrupções no texto.

Vejamos o que significa cada uma das seções e o porquê dessas interrupções.

Cada aula é dividida em três seções.

l Na primeira seção, AberturaAberturaAberturaAberturaAbertura, está enunciado o tema da aula. Muitasvezes, um documento de época abre essa seção. Leia com atenção essedocumento. Nele estão contidas as questões que serão desenvolvidas nodecorrer da aula. Outras vezes, as aulas começam contando um determinadocaso que se relaciona, de alguma forma, com o tema da aula.

l Na segunda seção, MovimentoMovimentoMovimentoMovimentoMovimento, o tema da aula é desenvolvido. Aliaparecem os agentes sociais em ação, em movimento. O texto, em geral,é dividido em três ou quatro itens. Em cada um deles, procura-se explorarum determinado aspecto do tema. É também nessa seção que o texto sofrealgumas interrupçõesinterrupçõesinterrupçõesinterrupçõesinterrupções, que têm por objetivo levar você a pensar sobre umdeterminado assunto relacionado ao tema da aula:

® Em cada PausaPausaPausaPausaPausa, você encontrará um exercício-desafio para responder.Consulte seus colegas e companheiros. Comente e discuta suas respostas.Como diz o ditado, “duas cabeças pensam melhor que uma”...

Page 2: História do Brasil - Volume 2

® Em cada Em TempoEm TempoEm TempoEm TempoEm Tempo, procuramos acrescentar alguma informação queseja importante para o entendimento do texto. Por exemplo: dadosnuméricos, trechos de documentos históricos significativos e assim pordiante.

l Com a terceira seção, Últimas PalavrasÚltimas PalavrasÚltimas PalavrasÚltimas PalavrasÚltimas Palavras, finalizamos o texto e levamosvocê para o tema da próxima aula.

Você vai reparar também que em todas as aulas há algum tipo deilustração: mapas, desenhos, fotografias. Todo esse material tambémé importante para o seu estudo. Às vezes, uma boa imagem vale por muitaspalavras.

Queremos que você fique atento à interação entre texto e ilustrações.Há algumas ilustrações que são importantes documentos de uma determinadaépoca.

É preciso que você as explore em seus mínimos detalhes. Perceba a épocaem que a ilustração foi produzida, e guarde na memória o seu autor. Essasilustrações são patrimônios da nossa cultura. Cuidar delas e valorizar seusautores é preservar nosso patrimônio.

Finalizado esse contato inicial com o seu livro, esperamos que você façamuito bom proveito dele. Aceitamos, de bom grado, críticas, elogios e sugestões.

Os autoresOs autoresOs autoresOs autoresOs autores

REALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃO - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporâneado Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas.

COORDENAÇÃOCOORDENAÇÃOCOORDENAÇÃOCOORDENAÇÃOCOORDENAÇÃO GERALGERALGERALGERALGERAL DODODODODO PROJETOPROJETOPROJETOPROJETOPROJETO - Helena Bomeny

CONCEPÇÃOCONCEPÇÃOCONCEPÇÃOCONCEPÇÃOCONCEPÇÃO EEEEE SUPERVISÃOSUPERVISÃOSUPERVISÃOSUPERVISÃOSUPERVISÃO - Aline Lopes de Lacerda, Américo Freire,Helena Bomeny, Marly Silva da Motta, Mônica Almeida Kornis

AUTORESAUTORESAUTORESAUTORESAUTORES DODODODODO VOLUMEVOLUMEVOLUMEVOLUMEVOLUME 11111 - Américo Freire, Helena Bomeny, Marly Silva da Motta

AUTORESAUTORESAUTORESAUTORESAUTORES DODODODODO VOLUMEVOLUMEVOLUMEVOLUMEVOLUME 22222 - Alexandra de Mello e Silva, Alzira Alves de Abreu,Américo Freire, Celso Castro, Dulce Pandolfi,Fernando Lattman-Weltman, Letícia Pinheiro,Marieta de Moraes Ferreira, Mário Grynszpan,Mônica Almeida Kornis, Mônica Velloso

EDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃO DODODODODO TEXTOTEXTOTEXTOTEXTOTEXTO ORIGINALORIGINALORIGINALORIGINALORIGINAL: Dora Rocha

Page 3: História do Brasil - Volume 2

19A U L A

19A U L A

MÓDULO 6

Nesta aula A primeira República foi chamada de Repú-Repú-Repú-Repú-Repú-blica dos Fazendeirosblica dos Fazendeirosblica dos Fazendeirosblica dos Fazendeirosblica dos Fazendeiros ou República dos CoronéisRepública dos CoronéisRepública dos CoronéisRepública dos CoronéisRepública dos Coronéis. Coronéis como os pode-rosos chefes regionais das telenovelas, a exemplo de Ramiro Bastos (Gabriela),Odorico Paraguaçu (O Bem-Amado) ou Sinhozinho Malta (Roque Santeiro).

Tais figuras disputavam permanentemente o poder, entrando em conflitocom os velhos e poderosos chefes políticos da região e a quase sempre jovemoposição.

Essas personagens foram e ainda são, em certas regiões (mesmo que deforma pouco expressiva), figuras presentes na vida social brasileira deste séculoe nos ajudam a entender um pouco mais as características de nossa vida política.

Nesta aula, vamos procurar responder à seguinte questão: por que era tãoforte o poder dos coronéis ?

Da Monarquia à República

O poder político das oligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduais tornou-se uma das principaiscaracterísticas das primeiras décadas republicanas.

Como parte integrante dessas oligarquias estavam os coronéis, que seoriginaram na época do Império. Em 1831, para enfrentar as diversas rebeliõesque explodiam em algumas regiões do país e manter a ordem pública, o governoda Regência criou a Guarda NacionalGuarda NacionalGuarda NacionalGuarda NacionalGuarda Nacional. No combate à onda de revoltas, deu aospoderosos de cada localidade do país uma patente militar e uma missão: formarum “exército” de homens para enfrentar os revoltosos. Seus oficiais eram osfazendeiros, pessoas influentes, com muitas terras e escravos.

Os coronéis da Guarda Nacional, extinta em 1918, continuaram com essadenominação - o “coroné” - atribuída espontaneamente pela população àqueleque parecia deter em suas mãos grande parcela do poder político e econômico.Em outras palavras, aqueles que a polulação via como os ricos e poderosos.

Se as raízes do coronelismo foram sedimentadas no Império, com a Repú-blica o coronel passou a ter outro papel dentro do novo sistema político.

No Império, as eleições tinham muito pouca importância. O Imperador, aoescolher o partido político que comporia o gabinete, decidia também que grupolocal venceria as eleições. Na Primeira República, era o controle político doeleitorado rural que definia a composição e a força das oligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduaisoligarquias estaduais.O voto passava a ter um novo significado.

Coronelismoe mundo rural

Page 4: História do Brasil - Volume 2

19A U L ADurante a Primeira República (1889 - 1930), o poder dos coronéis esteve

associado à força eleitoral que eles desempenhavam. Alcançou seu auge deinfluência no período que se estende da presidência de Campos Sales àsvésperas da Revolução de 1930.

Coronelismo: compromisso político e relações sociais

O coronel nem sempre era um grande fazendeiro. Havia os coronéis cujabase de poder estava nas atividades comerciais, industriais e até no exercício dealgumas profissões liberais.. Mas era, antes de tudo, um chefe político dereconhecido poder econômico e prestígio junto ao governo estadual, poder esseque se reveleva na competência para garantir eleições favoráveis aos grupossituacionistas e fornecer benefícios à sua clientela. Da parte do governo estadual,cabia dar carta branca ao chefe local governista em todos os assuntos relativosao município, inclusive na nomeação de funcionários estaduais do local.

Para ganhar eleições, era preciso ter votos. Surgiram assim os “cabos”eleitorais, homens que, na condição de intermediários entre o coronel e apopulação, eram pagos para alistar eleitores, organizar a massa, mantendo-seem forma para os pleitos. Tinham o papel de formar um grande “curral”eleitoral, no qual os candidatos do coronel ou por ele indicados recebiam umaenxurrada de votos.

Vistos pela própria população como intermediários nas suas relações como Estado, os coronéis buscavam uma relação firme e segura como seus protetorespor intermédio da obtenção de empregos, contratação de advogados, providên-cias médicas ou hospitalares, escolas, socorro nas situações de calamidade (aexemplo das secas no Nordeste) e proteção contra os inimigos (como oscangaceiros). Em geral, eram convocados para resolver questões diversasreferentes a limites de propriedades, heranças, pagamentos atrasados, educaçãode crianças. Tinham ainda considerável influência na indicação de seus protegi-dos para cargos públicos, principalmente na esfera municipal.

Era nesse campo que se estabeleciam as relações sociais que teceram ocotidiano na vida do coronel e da gente das pequenas cidades, em diversasregiões rurais do Brasil.

O presidenteO presidenteO presidenteO presidenteO presidenteCampos SalesCampos SalesCampos SalesCampos SalesCampos Salesgovernou comgovernou comgovernou comgovernou comgovernou commuita oposição àmuita oposição àmuita oposição àmuita oposição àmuita oposição àsua políticasua políticasua políticasua políticasua políticaeconômica.econômica.econômica.econômica.econômica.

Page 5: História do Brasil - Volume 2

19A U L A O Brasil da Primeira República − ou República Velha, como seria denomina-

da após 1930 − não era apenas a terra dos coronéis e das oligarquias estaduais.O mundo rural, era também um mundo dos homens e das mulheres de mãosmarcadas pela enxada, pelo machado, pela foice e pelo laço de couro: trabalha-dores das estâncias do sul, que cuidavam do rebanho, cultivavam o trigo e asvinhas; lavradores de cafezais, das plantações de cacau e tabaco; volantes dosseringais e castanheiras do norte; boiadeiros do sertão; lavradores dos canaviaisnordestinos, entre outros.

Muitos eram trabalhadores rurais, sem legislação previdenciária e obriga-dos a entregar ao proprietário quase a totalidade do fruto do seu trabalho. Juntoa eles, compunham o cenário social pequenos proprietários das zonas rurais ehabitantes das pequenas cidades de fisionomia basicamente rural. Esse povoformava a maior parte do eleitorado.

Sob o aspecto político, o coronelismo pode ser definido como um sistema detroca eleitoral − de um lado, proteção e favores, sobretudo econômicos; de outro,o voto seguro e controlado. Era o “voto de cabresto”.

Porém, esse caráter pacífico das relações coronelísticas não era o único. Alémda barganha, da troca, havia a opressão e a violência, utilizados para captar econservar votos, tão empregados e usuais quanto os favores e benefícios.

Em algumas situações, a força das armas era acionada, empregando-se aspolícias particulares formadas por jagunços. Amparados pela autoridade docoronel, encarregavam-se de “convencer” os eleitores “contrários” ou “indeci-sos”. Eram as chamadas eleições de clavinoteeleições de clavinoteeleições de clavinoteeleições de clavinoteeleições de clavinote, nas quais os eleitores votavamsob as vistas do jagunço. Afinal, o voto não era secreto.

Assim, o novo regime, instaurado em 1889 e organizado politicamente naConstituição de 1891, ao mesmo tempo que permitiu a criação de mecanismosque favoreceram uma maior descentralização do poder, não favoreceu a criaçãode um sistema eleitoral sem vícios e controlado pelo poder público. O voto doseleitores − transformado em mercadoria de troca entre os membros da sociedadedaquela época − era manipulado e controlado pelos chefes da política nosestados e municípios. Essa foi, sem dúvida, uma das marcas da vida política esocial na Primeira República, uma “república de coronéis”.

6

Os coronéis, freqüentemente vistos de maneira caricatural como fazendei-ros, figuras rústicas, brutais e ignorantes, foram personagens da vida políticabrasileira que não desapareceram por completo após os anos 30. Muitossobrevivem ainda hoje, mesmo que como figuras isoladas.

6

O temponão pára

Clavinote:pequena carabina

Page 6: História do Brasil - Volume 2

19A U L ARelendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Da Monarquia à Repúbl icaDa Monarquia à Repúbl icaDa Monarquia à Repúbl icaDa Monarquia à Repúbl icaDa Monarquia à Repúbl ica e identifique a origem do termo“coronel”.

2.2.2.2.2. Releia Coronelismo: compromisso político e relações sociaisCoronelismo: compromisso político e relações sociaisCoronelismo: compromisso político e relações sociaisCoronelismo: compromisso político e relações sociaisCoronelismo: compromisso político e relações sociais e identi-fique no texto as formas que os coronéis encontraram para se afirmar comoprotetores da população.

3.3.3.3.3. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Leia este texto com muita atenção.

Eleições na RoçaEleições na RoçaEleições na RoçaEleições na RoçaEleições na RoçaMário Palmério - Vila dos Confins

João Soares estava com a razão: política só se ganha com muitodinheiro. A começar com o alistamento, que é trabalhoso e caro:tem-se que ir atrás do eleitor, convencê-los a se alistarem eensinar tudo, até a copiar o requerimento. Cabo de enxada engros-sa as mãos − o laço de couro cru, machado e foice também. Canetae lápis são ferramentas muito delicadas.

A lida é outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e noscurrais. É marcar o bezerro, é curar bicheira, é rachar pau decerca, é esticar arame farpado; roçar invernada, arar o chão,capinar, colher... E quem perdeu tempo com leitura, com a escrita,em menino, acaba logo esquecendo-se do pouco que aprendeu. Lero quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a eleição vem aí, e otítulo de eleitor rende a estima do patrão, a gente vira pessoa.

Acontece, também, que Pé-de-Meia não quer saber de históri-as: é cabo eleitoral alistador de gente, pago por cabeça e tem quemostrar trabalho. Primeiro, a conversa pacienciosa, amaciandoterreno; a luta depois:

“Minha vista anda que é uma barbaridade. E de uns tempospara cá, apanhei uma tremedeira que a mão não me pára demaisquieta...”

O novato sua, desiste: “Vai não, Pé-de-Meia”.Mas o cabo é jeitoso: não força, não insiste, espera. Só o tempo

de passar a gastura que a caneta sempre dá no principiante. “Tãofácil . . .” O requerimento já está pronto, rascunhado no papelalmaço a lápis fininho, fácil de apagar” João Francisco de Olivei-ra, abaixo-assinado, brasileiro, residente...”

Depois do jantar, menos cansado, João Francisco tenta denovo. A mulher está perto, os filhos também. O roceiro lavou asmãos, a lamparina queima a claridade dobrada, de bom pavio novo.

Exercícios

Page 7: História do Brasil - Volume 2

19A U L A Repega o servicinho:

“Sai da frente da luz, menino: Me dá um copo d’água, ô Cota.Qual... minha vista não presta mesmo mais não. Besteira teimar...” Pé-de-Meia não deixa passar o momento:

“Me dá licença, Seu João.” E pega no mãozão cascudo, pesado. Vaiguiando a bicha para cima e para baixo, vai caminhando com ela porsobre o papel; (...) “Já varamos um bom eito. Vamos descansar umpouco: ainda falta o Francisco, falta o ‘de Oliveira’...”

O trabalho não é fácil, não senhor, leva tempo. Mas aos poucos JoãoFrancisco aprende a relaxar a mão, descobre que não carece de fazertanta força, já não molha de suor o papel. (...) E, quando o caboclo é ruimde ensino, Pé-de-Meia é quem enche todo papel, borrando-o de propósi-to, errando de velhaco, completando um perfeito e indiscutível requeri-mento de eleitor de roça. Mas quando o caboclo é jeitoso como JoãoFrancisco, Pé-de-Meia prefere carregar-lhe a mão durante o serviçotodo (...).

A pena ringe alto, mais risca bem grosso, bonito... Pelo meio docaminho, já dono de si, João Francisco acha até de conversar, paramostrar desembaraço.

“Este é o que é o tal de ‘gê’? Gostei dele: uma simpatia de letra.” EPé-de-Meia, solícito: “Pois está ficando um serviço de gente, Seu João.O senhor até que tem jeito − um letraço! O juiz vai gostar”.

João Soares estava com a razão. Eleição custa dinheiro. Um caboeleitoral prático assim como o Pé-de-Meia garantia o serviço, mascobrava vinte mil réis por cabeça. E as despesas não ficavam só nisso:precisa fazer o registro dos eleitores, buscar a certidão de nascimento oude casamento fora do município quando o caboclo nasceu fora, entregados títulos. Lá se vai um dinheirão! Depois bóia o pagode. E conduçãopara muita gente, pois roceiro, quando viaja carrega família toda. A filaem frente do juiz se reveza, e isso custa mais um ajutório ao Pé-de-Meia,cuja presença o eleitor exige para assisti-lo na hora de passar o recibo.Lá está ele, botando coragem no povo.

“Não se afobe, capriche. Você está implicando à toa com o ‘efe’ − aletra é facinha. Se não decorou direito a voltinha, deixa: o juiz nãorepara não...”

Agora faça o que é pedido abaixo.

1.1.1.1.1. Sublinhe no texto as tarefas que cabiam ao cabo eleitoral Pé-de-Meia.

2.2.2.2.2. Substitua a expressão em destaque nesta frase por outra que tenha o mesmosignificado: “a eleição vem aí, e o título de eleitor rende a estima do patrão,a gente vira pessoaa gente vira pessoaa gente vira pessoaa gente vira pessoaa gente vira pessoa”.

3.3.3.3.3. As eleições, hoje no Brasil, são muito diferentes daquelas de Eleições naEleições naEleições naEleições naEleições naRoçaRoçaRoçaRoçaRoça? Justifique sua resposta.

6

Page 8: História do Brasil - Volume 2

20A U L A

20A U L A

MÓDULO 6

Durante o Segundo Reinado (1840-1889), oque sustentava o Império brasileiro era outro “império”: o do café. Veio aRepública e o “rei café” permaneceu, agora como a semente do progresso.

O café trouxe máquinas modernas, indústrias, bancos, ferrovias, grandesnegócios, mas sobretudo divisas, na condição de principal produto de exporta-ção do país. Ao terminar o século XIX, o Brasil controlava o mercado cafeeiromundial. O café era o símbolo do país no exterior. É sobre esse tema que iremostratar nesta aula, a partir da seguinte pergunta: qual a importância do café paraa economia brasileira na Primeira República?

A expansão cafeeira

Percorrendo o trajeto do Rio de Janeiro até São Paulo, em 1822, o botânicofrancês Auguste de Saint-Hilaire constatou a penetração da lavoura cafeeira novale do rio Paraíba. A nova cultura, que recobria os arredores da cidade do Riode Janeiro desde o final do século XVIII, começava a avançar pelo territóriofluminense e paulista.

Entre 1830 e 1870, a região do vale do Paraíba fluminense e paulista foi agrande produtora de café no Brasil. No Rio de Janeiro, Vassouras era uma dascidades cafeeiras mais importantes.

Penetrando pelo vale do Paraíba, a onda verde dos cafezais chegou ao oestepaulista e à Zona da Mata de Minas Gerais. A partir de 1870, o processo deexpansão da lavoura cafeeira ganhou um poderoso impulso e transformou essasáreas no centro dinâmico da economia brasileira. Ao mesmo tempo, ocorreu umprocesso inverso de decadência na produção de café no vale do Paraíba.

As razões desse declínio foram, principalmente, a escassez de terras pró-prias para o cultivo, o esgotamento das reservas naturais por um sistema deexploração descuidado e os métodos de desmatamento sem limites. A cultura docafé, predatória e intinerante, foi assim avançando, com os fazendeiros prosse-guindo na derrubada de imensas florestas virgens, ricas em madeiras.

Inicialmente o transporte do café, como os demais produtos agrícolas dopaís, era feito em lombo de burro. As despesas com o transporte das tropas, porcaminhos cada vez mais distantes, exigiu a introdução das ferrovias. Assim, aexpansão cafeeira deu origem a profundas transformações nos transportes, coma implantação das primeiras estradas de ferro.

Expansão cafeeira emodernização

Nesta aula

Page 9: História do Brasil - Volume 2

20A U L A

Em São Paulo e Minas Gerais, as ferrovias anunciavam a fronteira verde.Junto delas surgiam cidades.

A expansão cafeeira resultou, portanto, na ampliação das plantações e namultiplicação dos municípios. No estado de São Paulo, apenas na última décadado século XIX, foram criados 41 municípios, em regiões de povoamento recente.

Para garantir trabalhadores para essa expansão acelerada, a solução encon-trada pelos cafeicultores paulistas foi contar com o governo para incentivar avinda de imigrantes para o trabalho nos cafezais da região. O estado de SãoPaulo, e depois o próprio governo da União, tendo em vista a supremacia dosinteresses da cafeicultura paulista, financiavam a passagem de famílias deimigrantes (especialmente italianos) para o Brasil, sua hospedagem e a viagemque precisavam fazer em território brasileiro. Já no início do século XX, tambémfamílias japonesas viriam em grande número para a lavoura cafeeira da região.

Em São Paulo, o sistema de trabalho adotado nos cafezais foi o colonatocolonatocolonatocolonatocolonato.Compreendia uma remuneração fixa para a família de colonos pelo trato de umdeterminado número de cafezais. E essa remuneração variava de acordo com onúmero de pés de café colhidos e o direito ao plantio de uma roça e à criação depequenos animais dentro da propriedade cafeeira.

Já a expansão cafeeira em Minas Gerais e nas áreas mais novas do estado doRio de Janeiro beneficiou-se do esvaziamento das antigas áreas cafeeiras do valedo Paraíba e contou quase sempre com famílias de trabalhadores brasileiros. Osistema de trabalho adotado nesses estados foi a parceriaparceriaparceriaparceriaparceria (divisão dos resulta-dos da colheita da família do colono com o dono da terra, em geral deduzindoas despesas feitas pelo proprietário). A parceria também previa o direito dafamília de trabalhadores ao plantio de uma roça e à criação de pequenos animaisdentro da propriedade cafeeira.

DuranteDuranteDuranteDuranteDurantemuito tempo,muito tempo,muito tempo,muito tempo,muito tempo,o café o café o café o café o café − − − − − comocomocomocomocomo

produto deproduto deproduto deproduto deproduto deexportação exportação exportação exportação exportação −−−−−

serviu de apoioserviu de apoioserviu de apoioserviu de apoioserviu de apoioà economiaà economiaà economiaà economiaà economiabrasileira.brasileira.brasileira.brasileira.brasileira.

Page 10: História do Brasil - Volume 2

20A U L ACrescimento industrial e urbanização

Na fase republicana, o café foi também o principal responsável pelas rendasdo governo federal, quase todas advindas do imposto de exportação. A supre-macia das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais na política dos governa-dores fazia com que, de fato, se confundissem os interesses dos cafeicultores e osinteresses do país.

A condição de quase monopólio mundial, que o Brasil detinha, permitia queo Estado comprasse os excedentes da produção cafeeira em caso de superpro-dução, evitando a baixa dos preços internacionais. Esse expediente, adotadopela primeira vez em 1906, seria repetido com freqüência durante toda a VelhaRepública. Isso fazia da cafeicultura verdadeiramente um “negócio da China”.

Essa prosperidade da economia cafeeira teve efeitos multiplicadores. Diretaou indiretamente, o crescimento urbano e industrial do país, concentrado nasáreas cafeeiras desde meados do século XIX, tem a ver com a onda verde doscafezais e, em especial, com as atividades de comercialização do café. Em 1907,as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo já reuniam 49% dos estabelecimentosindustriais do país (33% no Rio de Janeiro e 16% em São Paulo).

O comércio em expansão fez crescer as cidades e, junto, vieram os bancos.O aumento populacional e a infra-estrutura urbana que se formava permitiramo surgimento de mercados locais que, desde o final do século XIX, fizeram surgirinúmeras pequenas manufaturas. Muitas empregavam máquinas e em algumastrabalhavam dezenas de trabalhadores.

As origens da indústria no Brasil nos levam a uma época anterior a 1888/89e, portanto, à sociedade escravista do século XIX. Nas primeiras fábricasbrasileiras, trabalhava um número considerável de escravos, muitas vezes aolado dos operários livres.

No último ano da Monarquia, em 1889, havia cerca de 600 estabelecimentosindustriais, entre os quais figuravam indústrias de tecidos, de alimentos, deprodutos químicos, de vestuário, de madeira e de metalurgia.

O porto de SantosO porto de SantosO porto de SantosO porto de SantosO porto de Santosfoi sendofoi sendofoi sendofoi sendofoi sendomodernizadomodernizadomodernizadomodernizadomodernizadoe aparelhado parae aparelhado parae aparelhado parae aparelhado parae aparelhado paraatender àatender àatender àatender àatender àexportação de bensexportação de bensexportação de bensexportação de bensexportação de bensproduzidos naproduzidos naproduzidos naproduzidos naproduzidos naregião Sudeste, eregião Sudeste, eregião Sudeste, eregião Sudeste, eregião Sudeste, eacabou crescendoacabou crescendoacabou crescendoacabou crescendoacabou crescendomais quemais quemais quemais quemais queo porto doo porto doo porto doo porto doo porto doRio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.

Page 11: História do Brasil - Volume 2

20A U L A Na década seguinte, 1890-1899, ocorreu a primeira expansão industrial

significativa. Passamos a importar menos produtos de consumo leve, comovestuário, alimentos, tecidos etc., e mais máquinas e equipamentos industriais.O setor têxtil era a base da indústria nesse período. As grandes indústrias daPrimeira República seriam, principalmente, do ramo de tecidos.

Ao mesmo tempo em que proliferavam as manufaturas, formavam-seimpérios industriais. Grandes fazendeiros de café entraram para a atividadefabril, aplicando nesse setor o capital excedente (que sobrava) dos lucros dacomercialização do produto. Cafeicultores de São Paulo, como os Prado e osOliveira Penteado, chegaram ao século XX, dedicando-se a bancos, fábricas devidro, vestuário e tecelagens. Prósperos comerciantes também começaram aparticipar das atividades industriais, como o carioca Eugênio Mariz de Oliveira,que dirigiu a Tecelagem Votorantim em São Paulo.

Outros grandes capitães de indústria eram imigrantes que nunca precisa-ram passar pela enxada ou pela fábrica. Deviam sua fortuna inicial ao comércio,sobretudo de importação.

A ação urbanizadora do café permitiu também a modernização das grandescidades. Nelas surgiram bancos e ampliaram-se os portos e os serviços urbanos.

O aparecimento das grandes cidades, à medida que avançava o processo deurbanização, exigia a realização de uma série de obras − transportes, luz elétrica,água e esgoto etc. − para cuja execução tornavam-se necessárias grandes somasde dinheiro, conseguidas basicamente por meio de empréstimos externos(obtidos fora do país). Muitos dos serviços de grande vulto, ligados à infra-estrutura urbana que ia se desenvolvendo, pertenciam a empresas estrangeiras.Uma delas era a canadense Light e Power Co., proprietária de companhias degás, água, esgotos, luz e energia elétrica, transportes urbanos e telefones, no Riode Janeiro e em São Paulo. A luz elétrica substituía o lampião a gás, enquanto obonde aposentava a tropa de burros na cidade.

Um slogan da época do Império dizia: “o café dará para tudo”.O Brasil tornou-se uma República e o café afirmou-se como principal

produto econômico do país.Expandindo-se em ondas verdes, os cafezais ocuparam enormes territórios

no Rio de Janeiro e em São Paulo, Minas Gerais e outros estados. Daí surgiu umanova classe dirigente, mais poderosa que os antigos barões do açúcar. Na suamarcha, o café foi criando cidades e fazendo fortunas.

Em grande parte, o processo de crescimento urbano e industrial brasileiroesteve, sem dúvida, associado aos caminhos que o café foi percorrendo na regiãoCentro-Sul do país.

6

Na Primeira República, o crescimento das atividades industriais ocorreudentro de um país agrário: uma república de plantadores.

Sem perder suas características agrárias e somente a partir dos anos 30, opaís viveria um processo de industrialização efetivo, promovido em boa partepelo próprio Estado.

O temponão pára

Page 12: História do Brasil - Volume 2

20A U L ARelendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade e no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia A expansão cafeeiraA expansão cafeeiraA expansão cafeeiraA expansão cafeeiraA expansão cafeeira e:

a)a)a)a)a) identifique as razões do declínio da lavoura cafeeira no vale do Paraíba;

b)b)b)b)b) retire do texto o trecho que trata da importância das ferrovias para a ex-pansão da lavoura cafeeira;

c)c)c)c)c) identifique as duas formas de trabalho adotados na lavoura cafeeira.2.2.2.2.2. Releia Crescimento industrial e urbanizaçãoCrescimento industrial e urbanizaçãoCrescimento industrial e urbanizaçãoCrescimento industrial e urbanizaçãoCrescimento industrial e urbanização e:

a)a)a)a)a) retire do texto o trecho que trata dos investimentos cafeeiros na indústria;

b)b)b)b)b) retire do texto um trecho que relacione expansão cafeeiraexpansão cafeeiraexpansão cafeeiraexpansão cafeeiraexpansão cafeeira e urbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanizaçãourbanização.

3.3.3.3.3. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Leia com atenção o texto abaixo e faça os exercícios:

(...)“é o Brasil o país que atualmente produz 3/5 partes do totaldesse artigo [o café], e por isso assumiu uma espécie de monopólio; e aprodução de qualquer mercadoria em tais condições faz pesar a imposi-ção sobre o consumidor, que tem de sujeitar-se aos preços dos mercadosprodutores.

A posição de preço de café nos dois últimos anos tem sido lisonjeira.O aumento progressivo do consumo, a produção diminuta de quasetodos os centros produtores, fizeram subir os preços a quase 80%.

A riqueza incontestavelmente maior em todas as classes ou aabundância do dinheiro fizeram, apesar dos preços sempre crescentes,entrar o café no uso doméstico da classe menos abastada e até daproletária; e hoje pode-se considerar esse gênero como artigo de alimen-tação necessário para os habitantes de ambos os hemisférios.”Fonte: jornal A Província de São PauloA Província de São PauloA Província de São PauloA Província de São PauloA Província de São Paulo.

1.1.1.1.1. Extraia do documento o trecho que descreve os fatores que permitiram oaumento do preço do café.

2.2.2.2.2. Segundo o documento, quem eram os consumidores do café brasileiro?

6

Exercícios

Page 13: História do Brasil - Volume 2

21A U L A

Nesta aula

21A U L A

MÓDULO 6 Panorama da RepúblicaVelha - Parte 1

Nesta aula e na seguinte vamos fazer umpanorama da Primeira República, conhecer seus presidentes e os principaisacontecimentos políticos, culturais e sociais. Também vamos conhecer al-guns dos principais intelectuais do período, as idéias e a visão que tinham doBrasil e sua gente.

A Primeira República estende-se de 1889 a 1930. Teve, ao todo, trezepresidentes. É possível dividi-la em duas fases: a militar e a oligárquica.

A República da Espada

A fase militar é também chamada de República da EspadaRepública da EspadaRepública da EspadaRepública da EspadaRepública da Espada por ser coman-dada por militares, e vai de 1889 a 1894. O marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891) esteve à frente do governo provisório que se inicia com a proclamação e,depois, foi eleito pelo Congresso Constituinte. Por causa de seu autoritarismo,fechou o congresso. Mas foi deposto, tendo assumido em seu lugar o vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto (1891-1894).

Esses dois primeiros presidentes do Brasil tinham em comum, além deserem militares, o fato de terem nascido em Alagoas e uma mentalidadepositivista. Isso quer dizer que eram influenciados pelas idéias do filósofofrancês Augusto Comte, chamadas de positivismo.

Tais idéias tinham contribuído muito para a derrubada da Monarquia eestavam bastante difundidas entre os jovens oficiais do Exército Nacional. Empoucas palavras podemos dizer que os positivistas preocupavam-se em estabe-lecer os direitos civis e sociais, como educação e saúde, mas não achavamimportante defender os direitos políticos, como o voto e a organização partidá-ria. Para eles, o Governo representava a Pátria e sozinho devia proteger asfamílias, como se fosse o pai de todos. O lema positivista Ordem e ProgressoOrdem e ProgressoOrdem e ProgressoOrdem e ProgressoOrdem e Progresso,inscrito na bandeira republicana, parecia querer impedir as muitas opiniõessobre a nova ordem estabelecida e contestações contra ela.

Mas nem todos queriam uma República positivista. Havia também osrepublicanos conservadores-liberais, que representavam os fazendeiros decafé. Eles formavam a maioria no Congresso Constituinte e influiram naConstituição republicana defendendo os interesses e privilégios dos donos deterras e dos negociantes e banqueiros. Foram responsáveis também, pelo nomeoficial: República dos Estados Unidos do BrasilRepública dos Estados Unidos do BrasilRepública dos Estados Unidos do BrasilRepública dos Estados Unidos do BrasilRepública dos Estados Unidos do Brasil.

Page 14: História do Brasil - Volume 2

21A U L AOutro grupo, o dos republicanos radicais, liderados por Silva Jardim e Lopes

Trovão, lutava para assegurar tanto os direitos civis quanto os direitos políticosdo povo. Os radicais eram considerados pelos conservadores como exaltados,idealistas e até inimigos da ordem, pois queriam, além de saúde e educaçãofornecidas pelo Estado, o direito a terras para todos.

A Revolução Federalista

Como as províncias, agora chamadas de estados, eram unidades autônomase podiam organizar suas próprias Constituições, esses debates ganharam coresregionais, produzindo, a partir do Rio Grande do Sul, a chamada RevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoFederalistaFederalistaFederalistaFederalistaFederalista. O conflito foi ocasionado pela oposição entre os republicanoshistóricos, adeptos do positivismo e organizados no Partido RepublicanoRiograndense − PRR, e os liberais, do Partido Federalista, que defendiam arevogação da constituição estadual e a instauração de um governo parlamentar.

Foi uma guerra sangrenta cujo ponto alto ocorreu em 1893, quando colunasfederalistas avançaram sobre Santa Catarina, juntando-se ali aos integrantes daRevolta da ArmadaRevolta da ArmadaRevolta da ArmadaRevolta da ArmadaRevolta da Armada, que haviam ocupado a capital.

A Revolta da Armada resultou da rivalidade entre a Marinha e o Exército.O almirante Custódio de Melo supunha que iria suceder a Floriano peixoto naPresidência da República.

Contra essas rebeliões, o governo de Floriano agiu energicamente, graças aoapoio do Exército e do Partido Republicano Paulista.

Floriano, chamado de “Marechal de Ferro”, consolidou o novo regime egarantiu a sucessão presidencial que levou ao poder a oligarquia cafeeira. Oslíderes da cafeicultua o haviam sustentado nos momentos decisivos. Em suahomenagem, a capital de Santa Catarina, Desterro, teve seu nome mudado paraFlorianópolis.

A república oligárquica

A eleição de Prudente de Morais, em 1894, para suceder ao marechalFloriano Peixoto, marcou o fim dos militares na presidência durante a PrimeiraRepública. Exceção a isso foi o marechal Hermes da Fonseca, eleito para operíodo de 1910-1914.

Prudente dePrudente dePrudente dePrudente dePrudente deMorais foi oMorais foi oMorais foi oMorais foi oMorais foi oprimeiroprimeiroprimeiroprimeiroprimeiropresidente civil dapresidente civil dapresidente civil dapresidente civil dapresidente civil daRepública.República.República.República.República.

Page 15: História do Brasil - Volume 2

21A U L A Natural de Itu (São Paulo) e representante da oligarquia cafeeira, Prudente

de Morais ficou conhecido como “pacificador” por anistiar os rebeldes daRevolução Federalista e da Revolta da Armada. Prudente, porém, enfrentou aforte oposição dos republicanos exaltados, conhecidos como “jacobinos”, noRio de Janeiro. Os jacobinos derivaram seu nome de uma das correntes maisradicais da Revolução Francesa.

Outro conflito que também abalou seu governo foi a Revolta de CanudosRevolta de CanudosRevolta de CanudosRevolta de CanudosRevolta de Canudos,ao norte do sertão da Bahia. Em 1893, ali se formou um povoado com 20 a 30 milhabitantes liderados por Antônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio Conselheiro, que exaltava a religiosidade dopovo e preparava a volta à Monarquia.

O governo republicano enviou uma expedição de mais de oito mil homensque arrasou o arraial em 1897.

A política dos governadores

A República herdou do Império uma grande dívida externa. Os gastos dascampanhas militares haviam esgotado o Tesouro. A dívida cresceu cerca de 30%entre 1890 e 1897.

Campos Sales (1898-1901) assumiu a presidência de um país em crise. Antesmesmo de tomar posse, foi a Londres negociar com a Casa Rothschild umempréstimo de consolidação da dívida externa brasileira.

Republicano histórico, Campos Sales implementou uma das políticas finan-ceira mais rigorosas da História da República brasileira. Por isso, deixou oPalácio do Catete debaixo de manifestações públicas.

Na presidência, implementou a chamada “política dos governadores”, umfederalismo peculiar, baseado em alianças e trocas de favores políticos. Essapolítica favorecia a consolidação das oligarquias regionais.

O povo, principalmente do interior, estava submetido ao coronelismo eao banditismo. A impunidade e a fraude política marcaram esse período.Além dos coronéis, havia também a Comissão de Verificação, para garantiro resultado favorável das eleições. O voto não era secreto e a maioria doseleitores estava sujeita à pressão dos chefes políticos.

A República brasileira era dominada por diversas oligarquias estaduais,principalmente de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Em 1898, enquanto Santos Dumont encantava a cidade de Paris com seusbalões tripulados, chegava ao Brasil uma nova maravilha: o cinema. Em 1900 éinaugurada a primeira linha de bonde elétrico.

Rodrigues Alves (1902-1906)

As sucessões presidenciais da jovem república transcorreram em climaameno. As famílias de Campos Sales e Rodrigues Alves eram amigas. Umagrande cordialidade as unia. Também paulista, nascido em Guaratinguetá,Rodrigues Alves assumiu a presidência da República com um propósito:fazer do Rio de Janeiro o cartão de visitas do Brasil para atrair o capitalestrangeiro. Para isso, escolheu para prefeito da Capital o engenheiro Fran-cisco Pereira Passos.

A idéia era dar à cidade a aparência de uma metrópole nos moldes de capitalfrancesa. O centro da cidade sofreu uma remodelação arquitetônica e urbanainspirada em Paris.

Oligarquia:palavra grega quesignifica governo

de poucas pessoas,pertencentes a uma

classe ou umafamília.

Page 16: História do Brasil - Volume 2

21A U L A

Para isso, boa parte da velha cidade colonial foi destruída. As estreitas vielassucumbiram para dar lugar às largas avenidas, às modernas lojas, aos caféselegantes. Os tradicionais quiosques e os cortiços freqüentados pelo povotambém foram destruídos.

Lado a lado com a remodelação da cidade estava a ação do sanitaristaOswaldo Cruz que tentava combater as doenças contagiosas que assolavam acapital na época de verão. Oswaldo Cruz revolucionou a Saúde Pública comba-tendo a febre amarela e a varíola.

A campanha da vacina obrigatória foi fortemente rejeitada por parte dapopulação, que se amotinou na chamada Revolta da Vacina (1904).

Mas o “papai grande”, como era chamado, deixou o governo aclamado pelopovo. A inauguração da Avenida Central (atual Rio Branco) em 15 de novembrode 1905 foi um evento memorável.

Lima Barreto e a República do Avesso

Conhecido como escritor “maldito” pela intensa crítica que fazia aos diri-gentes do país, Lima Barreto protestou contra o projeto de modernização dacidade do Rio de Janeiro, denunciando que a cidade “moderna”, que então seconstruía, estava sendo erguida às custas da destruição do que já existia e daexpulsão da população pobre, que já não mais podia circular livremente pelocentro da cidade. Apenas para construir a Avenida Central foram demolidas1.681 habitações e quase 20 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar para ossubúrbios ou para os morros mais próximos. Um dos morros mais habitados erao morro da Favela, que acabou dando o nome a todos os demais morroshabitados pelos pobres da cidade.

Para o autor, o governo republicano estimulava a separação de dois mundosque não podiam viver separados, pois um dependia do outro: o mundo dosprivilegiados e o mundo dos deserdados, ou, nas palavras do próprio autor,a cidade européia e a cidade indígenaa cidade européia e a cidade indígenaa cidade européia e a cidade indígenaa cidade européia e a cidade indígenaa cidade européia e a cidade indígena. Sobre o ritmo acelerado da reformaurbana, Lima Barreto escreveu:

Na modernizaçãoNa modernizaçãoNa modernizaçãoNa modernizaçãoNa modernizaçãodo Rio de Janeiro,do Rio de Janeiro,do Rio de Janeiro,do Rio de Janeiro,do Rio de Janeiro,foi criada afoi criada afoi criada afoi criada afoi criada aAvenida Central,Avenida Central,Avenida Central,Avenida Central,Avenida Central,no coração dano coração dano coração dano coração dano coração dacidade.cidade.cidade.cidade.cidade.

Page 17: História do Brasil - Volume 2

21A U L A “Como isso mudou. Então, de uns tempos para cá, parece que essa gente

está doida; botam abaixo, derrubam casas, levantam outras, tapam asruas, abrem outras... estão doidos.”Do livro: Recordações do Escrivão Isaías CaminhaRecordações do Escrivão Isaías CaminhaRecordações do Escrivão Isaías CaminhaRecordações do Escrivão Isaías CaminhaRecordações do Escrivão Isaías Caminha.

Lima Barreto valorizava o passado e o presente da História brasileira,procurando integrar todos os seus elementos, sem distinção racial ou social.Com seu trabalho de escritor, Lima Barreto conseguia mostrar aos leitores de suaépoca, e também aos de hoje, a fragilidade do padrão de civilização impostopela República que se iniciava. Segundo o autor, essa era uma República quese colocava acima de seu povo.

6A busca de uma nação brasileira continuaria. De um lado estava o desafio

de encontrar soluções para os problemas nacionais e a intenção de modernizara cidade; de outro lado, a preocupação de integrar o homem do campo, com suasdiversas etnias e culturas, na formação do povo brasileiro.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia A República da EspadaA República da EspadaA República da EspadaA República da EspadaA República da Espada e responda:a)a)a)a)a) por que o período que vai de 1889 a 1894 é chamado de República da

Espada?b)b)b)b)b) no início da República três grupos influenciaram a nova constituição: os

positivistas, os conservadores-liberais e os republicanos radicais. Quaisas diferenças entre eles?

2.2.2.2.2. Releia A Revolução FederalistaA Revolução FederalistaA Revolução FederalistaA Revolução FederalistaA Revolução Federalista e responda: em que consistia a política dosgovernadores?

3.3.3.3.3. Releia A república oligárquicaA república oligárquicaA república oligárquicaA república oligárquicaA república oligárquica e faça uma crítica ao papel do governoquando tentou “civilizar” a cidade do Rio de Janeiro, e diga:a)a)a)a)a) o que o governo fez;

b)b)b)b)b) como o governo agiu;

c)c)c)c)c) o que o governo deveria ter feito.

4.4.4.4.4. Releia Lima Barreto e a República do AvessoLima Barreto e a República do AvessoLima Barreto e a República do AvessoLima Barreto e a República do AvessoLima Barreto e a República do Avesso e explique a opinião de LimaBarreto sobre a República do seu tempo: uma República que se colocavaacima de seu povo.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

O temponão pára

Exercícios

Page 18: História do Brasil - Volume 2

21A U L AFazendo a História

Documento 1Documento 1Documento 1Documento 1Documento 1“Se houvesse liberdade de expressão e respeito aos interesses da

maioria da população, a política de Campos Sales, geradora do desem-prego e da carestia, jamais teria sido posta em prática.

Se houvesse democracia política, a modernização do Rio de Janeiroseria planejada de forma a não lançar milhares de homens, mulheres ecrianças ao desabrigo.

Se houvesse democracia, a polícia não expulsaria a cacetadas umsujeito da casa em que morava com a família, enquanto uma turma dedemolição botava as paredes abaixo! E quando ele e outros iguais a eleperdem a paciência e começam a espancar policiais, são chamados deviolentos e perigosos!

Se o sistema fosse democrático, o governo é que seria vigiado, e nãoa multidão...”José Carlos Pires de Moura. José Carlos Pires de Moura. José Carlos Pires de Moura. José Carlos Pires de Moura. José Carlos Pires de Moura. História do Brasil IIHistória do Brasil IIHistória do Brasil IIHistória do Brasil IIHistória do Brasil II. São Paulo, 1982,Marco Editorial, pág. 31.

1.1.1.1.1. O texto acima fala de dois acontecimentos da República oligárquica. Quaisforam eles? Explique-os.

Documento 2Documento 2Documento 2Documento 2Documento 2O texto abaixo foi escrito por um cronista da revista Fon-FonFon-FonFon-FonFon-FonFon-Fon, muito lida noinício do século.

“A população do Rio, que, na sua quase unanimidade, felizmente amao asseio e a compostura, espera ansiosa pela terminação desse hábitoselvagem e abjeto, que nos impunham as sovaqueiras soadas, e apenasdefendidas por uma simples camisa de meia rota, e enojantementesuja, pelo nariz do próximo, e do vexame de uma súcia de cafajestes,em pés no chão (sob o pretexto hipócrita de pobreza, quando o calçadoestá hoje a 5$ o par, e há de todos os preços) pelas ruas mais centraise limpas de uma grande cidade... Na Europa, ninguém, absolutamenteninguém, tem a insolência e o despudor de vir para as ruas de Paris,Berlim, Roma, Lisboa etc., em pés no chão, e desavergonhadamente,em mangas de camisa.”

1.1.1.1.1. Você concorda com o autor do texto?

2.2.2.2.2. Qual é a sua opinião sobre os hábitos da população de sua cidade?

6

Page 19: História do Brasil - Volume 2

22A U L A

Nesta aula

22A U L A

MÓDULO 6 Panorama da RepúblicaVelha - Parte 2

Vamos concluir o panorama geral da Repú-blica Velha iniciado na aula anterior. Começamos pela visão que a elite tinha dapopulação brasileira. Visão essa nada original, pois vinha “enlatada” da Europa,junto com as mercadorias importadas. Conheceremos mais dois intelectuaisbrasileiros que escreveram em defesa da nossa nacionalidade e, no final,veremos os acontecimentos puseram fim nessa velha, muito velha República.

Alguns ainda se envergonhavamde seu povo, mas nem todos...

Como vimos na aula passada, no entender da elite e dos intelectuais a elaligados, o Brasil deveria ser civilizado segundo os padrões europeus. Essesintelectuais, influenciados pelas teorias “científicas” da época, adaptavam asteorias racistas em moda na Europa à sua compreensão do Brasil.

Uma das teorias aceitas era o chamado “darwinismo social”, baseado nacrença da inferioridade dos não brancos. Essa teoria, que tentava reforçarcientificamente o preconceito racial, servia aos interesses de dominação dospaíses industrializados da Europa, que nessa época haviam recolonizado exten-sas áreas de populações não brancas, em todo o planeta.

Os intelectuais que se deixavam levar por essas idéias achavam difícilconciliar a mestiçagem, da qual nós brasileiros somos fruto, com a necessidadede ter idéias positivas sobre a nacionalidade brasileira.

Em outras palavras, se a maioria da população que não era branca, não eraconsiderada, nesse caso quem era o povo brasileiro ou como formá-lo? E, porfim, como construir a nação moderna?

Mas nem todos pensavam assim. Entre os mais importantes críticos doracismo destacou-se o político e jurista fluminense Alberto Torres. Para ele, asdiversas variedades humanas, habitantes do nosso solo, são capazes de atingiro mais alto grau de aperfeiçoamento moral, e intelectual, atingido por qualqueroutra raça (...) Podemos afirmar, que o negro puro, e o índio puro, sãosuceptíveis de se elevar à mais alta cultura. (de O problema NacionalBrasileiro.)

Alberto Torres defendia, ainda, as riquezas nacionais contra o domínioexterno e afirmava que o brasileiro, salvo restrita faixa de privilegiados, seja elebranco negro o índio, é o estrangeiro desta terra. (Jornal A Época, 4/12/1915.)

Page 20: História do Brasil - Volume 2

22A U L A

Monteiro LobatoMonteiro LobatoMonteiro LobatoMonteiro LobatoMonteiro Lobatocriou umacriou umacriou umacriou umacriou umainfinidade deinfinidade deinfinidade deinfinidade deinfinidade depersonagens empersonagens empersonagens empersonagens empersonagens emseus livros. Masseus livros. Masseus livros. Masseus livros. Masseus livros. MasJeca TatuJeca TatuJeca TatuJeca TatuJeca Tatudestacou-se pordestacou-se pordestacou-se pordestacou-se pordestacou-se porser o retrato doser o retrato doser o retrato doser o retrato doser o retrato dohomem do campohomem do campohomem do campohomem do campohomem do campono Brasil.no Brasil.no Brasil.no Brasil.no Brasil.

Monteiro Lobato foi outro importante intelectual brasileiro a defender suagente. Imortalizado na literatura infantil pelos personagens do Sítio do Pica-Sítio do Pica-Sítio do Pica-Sítio do Pica-Sítio do Pica-pau Amarelopau Amarelopau Amarelopau Amarelopau Amarelo, em suas primeiras obras descrevia os hábitos da população rural,por meio de um personagem que se tornou famoso: o caipira Jeca Tatu.

Entre 1910 e 1915, Monteiro Lobato explicava a situação miserável docaipira, por sua ignorância e preguiça, pois o Jeca Tatu só obedecia a uma lei, alei do menor esforço.

No entanto, a partir de 1918, com a publicação de um novo livro, Urupês Urupês Urupês Urupês Urupês,Lobato procurou reconciliar-se com o caipira, afirmando que o Jeca não é assim,estáestáestáestáestá assim. assim. assim. assim. assim. Nesse livro, o autor valoriza o caipira, declarando o seguinte:

“Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doençastremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardimzoológico da pior espécie. É essa bicharada cruel que te faz papudo, feio,molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não... És tudo isso semtirar uma vírgula, mas ainda és a melhor coisa desta terra.”

Monteiro Lobato passou a entender os problemas do homem do campocomo um problema social, e não como um problema racial. A partir de então, elese tornou um dos maiores defensores de uma política de saúde para as áreasrurais. E, junto com ele, outros intelectuais, especialmente os médicos, abraça-ram a causa do saneamento como bandeira de salvação nacional.

A política do café-com-leite

O governo do presidente Afondo Pena (1906-1909), mineiro de SantaBárbara, sacramenta o acordo das oligarquias de Minas Gerais e de São Paulo.Com a chamada política do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leite, os dois estados apoiavam um únicocandidato à Presidência. Antes de ser presidente da República, Afondo Penagovernou o estado de Minas Gerais e deu início à construção de Belo Horizonte.Na Presidência, a fim de incentivar os negócios e a indústria nacional, elevou astaxas de importação, dificultando a entrada de produtos estrangeiros. Mas osimigrantes continuaram a ser bem recebidos: no seu governo entraram osprimeiros japoneses e milhares de sírio-libaneses.

Page 21: História do Brasil - Volume 2

22A U L A O grande acontecimento de governo foi a Exposição Nacional de 1908, na

Praia Vermelha (Rio de Janeiro), com o objetivo de atrair turistas e capitaisestrangeiros para o país.

No plano internacional, dois brasileiros colocaram o Brasil em evidência:Santos Dumont e Rui Barbosa.

Em 1906 , Alberto Santos Dumont causou espanto e admiração ao voar emtorno da Torre Eiffel (Paris, França) com um aparelho mais pesado que o ar. Erao 14-Bis, o primeiro avião inventado.

Rui Barbosa

Em 1907, na Conferência da Paz, em Haia (Holanda), o delegado brasileiroRui Barbosa destaca-se como um dos sete sábios, defendendo a adoção doarbitramento nos conflitos internacionais e a igualdade das nações na Corte deArbitramento. O princípio do arbitramento, já utilizado pelo Brasil em diversasocasiões, evita a guerra quando dois países disputam alguma coisa, pois essespaíses submetem-se à decisão dos árbitros escolhidos por eles mesmos.

O Convênio de Taubaté (1906)

A produção de café havia aumentado muito e, por causa dessa superprodu-ção, o preço estava baixo demais. Para solucionar o problema, os governadoresde São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, com aprovação do CongressoNacional, tomaram empréstimos no exterior para comprar e estocar café. Comessas medidas, tomadas no que ficou conhecido como Convênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de Taubaté,mantinha-se o preço e garantia-se os lucros da oligarquia cafeeira que, afinal,controlava os destinos do país.

Uma crise política, iniciada com a rejeição ao nome que ele indicou para serseu sucessor, desgastou o presidente Afonso Pena e contribuiu para a sua morte,em 1909. O vice-presidente assumiu a Presidência por dezessete meses, paracompletar o mandato.

Nilo Peçanha (1909-1910), natural de Campos (Rio de Janeiro), tentou fazerum governo equilibrado, sob o lema “paz e amor”. No entanto, foi atacado pelospartidários dos dois candidatos à presidência da República: o marechal Hermesda Fonseca e Rui Barbosa. A principal iniciativa do seu governo foi a criação doServiço Nacional de Proteção ao Índio sob a direção de Cândido Rondon.

Pela primeira vez, o Brasil viveu o clima de uma campanha eleitoral. Umgrande duelo político se travou entre os “civilistas”, que apoiavam Rui Barbosa,e os “hermistas”, que apoiavam o Hermes da Fonseca. As eleições foramfraudadas, como todas as outras, mas houve intensa participação popular.

Santos DumontSantos DumontSantos DumontSantos DumontSantos Dumontfez voar o seufez voar o seufez voar o seufez voar o seufez voar o seu

14-Bis14-Bis14-Bis14-Bis14-Bis, em 1906., em 1906., em 1906., em 1906., em 1906.

Page 22: História do Brasil - Volume 2

22A U L AO marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), nascido em São Gabriel (Rio

Grande do Sul), teve uma imponente recepção ao chegar à Capital para assumira Presidência, a 15 de Novembro de 1910.

Contudo, passada uma semana, a baía de Guanabara já se agitava, com aRevolta da Chibata e o levante do Batalhão Naval. As forças legais bombar-dearam o Batalhão, deixando um saldo de mais de 500 mortos. Os marinheirosrevoltados contra os castigos corporais, ainda vigentes na Armada, foramatendidos e anistiados, inicialmente, para depois serem fuzilados e deportados.Assim, foram prontamente sufocadas essas rebeliões.

Na política interna, teve grande destaque o senador Pinheiro Machado,amigo do presidente. A inabilidade política de ambos, na tentativa de derrubaroligarquias regionais que não apoiavam o poder central, ocasionou muitaviolência e derramamento de sangue, principalmente em Recife e Salvador. Efoi um completo fracasso a chamada política das salvaçõespolítica das salvaçõespolítica das salvaçõespolítica das salvaçõespolítica das salvações, com a qual opresidente Hermes da Fonseca pretendia moralizar o país.

Também nesse governo eclodiram a Revolta do ContestadoRevolta do ContestadoRevolta do ContestadoRevolta do ContestadoRevolta do Contestado, numa regiãodisputada pelos estados de Santa Catarina e Paraná, e a Revolta dos SertanejosRevolta dos SertanejosRevolta dos SertanejosRevolta dos SertanejosRevolta dos Sertanejosde Juazeiro (Ceará), região influenciada pelo Padre Cícero. Em ambos os casos,os camponeses foram duramente reprimidos pelas forças federais.

O marechal Hermes da Fonseca foi criticado e achincalhado pela imprensae pela opinião pública. Tendo falecido sua esposa, Dona Orsina da Fonseca,casou-se, aos 58 anos, com Nair de Teffé, de 28, que ficara célebre por ser aprimeira mulher caricaturista da imprensa brasileira. Ela foi responsável por umtoque de descontração e modernidade na vida palaciana. O marechal, quegostava das coisas brasileiras, recebeu um rancho carnavalesco no palácio doCatete, e deu um sarau no qual a cantora Chiquinha Gonzaga apresentou umadança chamada “corta-jaca”, considerada muito indecente. Isso foi motivo deescândalo para a sociedade da época.

Graças ao marechal, em 1912 o povo brincou dois carnavais. Como oVisconde do Rio Branco morreu em fevereiro, às vésperas do carnaval, ogoverno homenageou o grande ministro, determinando a transferência docarnaval para abril. Não deu outra! O povo aproveitou não só o carnavaltradicional de fevereiro como o oficial, em abril.

Já no início doJá no início doJá no início doJá no início doJá no início doséculo, Rondonséculo, Rondonséculo, Rondonséculo, Rondonséculo, Rondonpenetrava openetrava openetrava openetrava openetrava ointerior do país,interior do país,interior do país,interior do país,interior do país,fazendo contatofazendo contatofazendo contatofazendo contatofazendo contatocom indígenas, ocom indígenas, ocom indígenas, ocom indígenas, ocom indígenas, oque resultou naque resultou naque resultou naque resultou naque resultou nafundação dofundação dofundação dofundação dofundação doServiço NacionalServiço NacionalServiço NacionalServiço NacionalServiço Nacionalde Proteção aode Proteção aode Proteção aode Proteção aode Proteção aoÍndio.Índio.Índio.Índio.Índio.

Page 23: História do Brasil - Volume 2

22A U L A Venceslau Brás (1914-1918)

O governo desse mineiro, natural de Brazópolis, foi marcado pela guerra epela peste. A guerra interna contra os camponeses do Contestado só terminouem 1916, deixando um saldo de mais de vinte mil mortos.

A Primeira Guerra Mundial, que durou o exato período de seu mandato,logo trouxe graves dificuldades econômicas para o país. Contudo, possibilitoucerto desenvolvimento da atividade industrial, na tentativa de substituir porprodutos nacionais, aquilo que era comprado no exterior. Aumentaram, tam-bém, as exportações de alimentos para os países aliados que estavam em guerra:Inglaterra, França e Estados Unidos.

Só que isso acabou nos custando caro, pois, em outubro de 1917, quatronavios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães, le-vando o presidente Venceslau Brás, a declarar guerra ao Império Alemão.

Porém, a participação brasileira na guerra foi muito modesta. Além decontinuar dando apoio, com alimentos e matérias-primas, seguiram para oconflito um grupo de aviadores e alguns navios de guerra que fizerampatrulhamento na costa africana , em 1918.

A peste que assolou o mundo, no final da Segunda Guerra, foi a gripeespanhola. Só na cidade do Rio de Janeiro morreram cerca de seis mil pessoas.

Durante o governo Venceslau Brás ocorreram também muitas manifesta-ções populares contra a carestia e os salários baixos. Além de greves em váriosestados, destaca-se a primeira greve geral do país, em São Paulo.

Delfim Moreira (1918-1919)

Para suceder o presidente Venceslau Brás, foi eleito Rodrigues Alves, que jáocupara o cargo de 1902 a 1906. O ex-presidente, já com 70 anos, combalido pelagripe espanhola, faleceu antes de tomar posse. Drama que se repetiu comTancredo Neves, em 1985. O vice-presidente eleito, assumiu por um período,demenos de oito meses, até que se realizou nova eleição.

Os trabalhadoresOs trabalhadoresOs trabalhadoresOs trabalhadoresOs trabalhadoresorganizavam-se eorganizavam-se eorganizavam-se eorganizavam-se eorganizavam-se e

faziam seusfaziam seusfaziam seusfaziam seusfaziam seuscongressos.congressos.congressos.congressos.congressos.

Page 24: História do Brasil - Volume 2

22A U L AO curto governo do vice-presidente Delfim Moreira, nascido em Cristina

(Minas Gerais), ficou conhecido como regência republicanaregência republicanaregência republicanaregência republicanaregência republicana.A oligarquia cafeeira divergiu a propósito da sucessão, de modo que

resolveu apoiar um candidato que não fosse paulista nem mineiro.Mas ficou acertado que os próximos presidentes seriam um mineiro e, em

seguida, um paulista, como de fato ocorreu, dando origem ao termo política dopolítica dopolítica dopolítica dopolítica docafé-com-leitecafé-com-leitecafé-com-leitecafé-com-leitecafé-com-leite.

Nessa eleição, Rui Barbosa foi mais uma vez candidato. Apesar de vencernas capitais, onde as pessoas tinham mais liberdade para votar, a vitória coubea Epitácio Pessoa, que era apoiado pelos coronéis. Nessa época a população ruralera muito maior que a urbana.

A crise da dominação oligárquica

Epitácio Pessoa (1919-1922)

Durante o governo Epitácio Pessoa, que era natural de Umbuzeiro (Paraíba),foi criada a primeira universidade brasileira, no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, realizou-se a Semana de Arte Moderna. Surgiam as primeirasmanifestações feministas que reivindicavam o direito ao voto. Foi criado oPartido Comunista Brasileiro. Realizou-se uma grande exposição internacionalpor ocasião do centenário da Independência.

O movimento tenentista

A grande inovação do governo Epitácio Pessoa foi a nomeação de ministroscivis para os ministérios militares. Essa medida desagradou a oficialidade, quepassou a fazer oposição ao governo. Criou-se, então, no Exército, uma correnteanti-oligárquica que deu início a uma série de rebeliões militares, que marcaramos anos 20.

Houve uma conspiração militar, logo sufocada, durante a qual foi preso o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca. Essa atitude desencadeou o levante detenentes em vários quartéis. Alguns oficiais do Forte de Copacabana saíram àsruas para enfrentar as tropas governistas. Dos “Dezoito do Forte”, como ficaramconhecidos, sobreviveram apenas dois. Esse episódio conferiu imensa simpatiaao movimento tenentista, e aumentou a oposição ao governo oligárquico.

Artur Bernardes (1922-1926)

Como estava combinado, foi escolhido um mineiro, de Viçosa, para ocupara presidência. Esse tipo de eleição, com as cartas marcadas, despertava cada vezmais a repulsa do povo e, principalmente, do Exército.

No Rio Grande do Sul, eclodiu um violento conflito contra o presidente doestado, Borges de Medeiros, que se elegera pela quinta vez.

Em São Paulo, em 1924, militares rebeldes tomaram o poder, e a cidade foibrutalmente bombardeada por tropas federais, até com o uso de aviões, o queprovocou mortes e destruição. Os revoltosos deixaram a capital para evitar maisdanos à população. E, fortalecidos por um contingente que veio do sul, forma-

Page 25: História do Brasil - Volume 2

22A U L A ram um grupo, liderado por Luís Carlos Prestes, que ficou conhecido como a

Coluna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna Prestes, que durante três anos percorreu o país.Artur Bernardes manteve o estado de sítioestado de sítioestado de sítioestado de sítioestado de sítio durante a maior parte de seu

governo. Somente com censura à imprensa, intervenções e violenta repressãopolicial foi possível garantir a política do café-com-leite.

Washington Luiz (1926-1930)

Natural de Macaé (Rio de Janeiro), o ex-presidente do estado de São Paulotornou-se o último presidente da República Velha. Sob o lema “governar é abrirestradas” fez a ligação Rio-São Paulo.

No final de seu governo, a crise econômica internacional fez despencar opreço do café. Falida, a oligarquia cafeeira não teve forças para garantir a possede mais um presidente. Em 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Luísfoi deposto pelas forças da Revolução.

6

A República no Brasil já nasceu velha. Nasceu de um golpe militar, sem amenor participação popular. Apesar de ter uma Constituição liberal, manteve opovo afastado das decisões do poder. A oligarquia cafeeira controlava o país porintermédio do coronelismo, na área regional; da política dos governadores, naárea estadual; e da política do café-com-leite, na área federal. Isso permaneceuassim, até que as forças da Revolução de 30 romperam essa dominação.

O temponão pára

Luís CarlosLuís CarlosLuís CarlosLuís CarlosLuís CarlosPrestes e JuarezPrestes e JuarezPrestes e JuarezPrestes e JuarezPrestes e JuarezTávora tambémTávora tambémTávora tambémTávora tambémTávora tambémse juntaram aose juntaram aose juntaram aose juntaram aose juntaram ao

movimentomovimentomovimentomovimentomovimentotenentista.tenentista.tenentista.tenentista.tenentista.

Page 26: História do Brasil - Volume 2

22A U L ARelendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos...Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos...Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos...Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos...Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos... eexplique:a)a)a)a)a) a quem interessava a difusão da idéia da superioridade dos brancos;

b)b)b)b)b) a afirmação de Alberto Torres: “o brasileiro é o estrangeiro desta terra”;

c)c)c)c)c) como Monteiro Lobato mudou de idéia sobre o Jeca-Tatu.

2.2.2.2.2. Releia A política do café-com-leiteA política do café-com-leiteA política do café-com-leiteA política do café-com-leiteA política do café-com-leite e responda: por que, apesar da super-produção de café, os fazendeiros continuavam a expandir as plantações?

3.3.3.3.3. Releia A crise da dominação oligárquicaA crise da dominação oligárquicaA crise da dominação oligárquicaA crise da dominação oligárquicaA crise da dominação oligárquica e responda:a)a)a)a)a) o que foi o movimento tenentista;

b)b)b)b)b) como surgiu a Coluna Prestes?

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

“Escrevendo sobre a vida e façanhas de Hubert Hervey, alto funcio-nário da British South African Chartered Co., o conde Grey acabaconcluindo que o branco, e particularmente o inglês, é o único que sabegovernar, o que lhe outorga direitos indiscutíveis para dominar asraças de cor, evidentemente inferiores: ‘Provavelmente todo mundoestará de acordo que um inglês tem direito a considerar que sua formade entender o mundo e a vida é melhor do que a de um hotentote, ouum maori, e ninguém se oporá, em princípio, a que a Inglaterra façao possível para impor, a esses selvagens, os critérios e modos de pensaringleses, posto que são melhores, e mais elevados. Há alguma possibi-lidade, por remota que seja, de que num futuro previsível possadesaparecer o abismo que agora separa os brancos dos negros? Podehaver alguma dúvida de que o homem branco deve impor, e imporá, suacivilização superior às raças de cor?’ ”Hector H. BruitHector H. BruitHector H. BruitHector H. BruitHector H. Bruit, O ImperialismoO ImperialismoO ImperialismoO ImperialismoO Imperialismo, São Paulo, Editora Atual, 1986. págs. 9-10

Discuta com seus amigos as idéias deste texto, sobre o imperialismo dasnações européias industrializadas e suas conseqüências no Brasil.

6

Exercícios

Page 27: História do Brasil - Volume 2

23A U L A

Nesta aula

23A U L A

MÓDULO 6

Em busca da cidadania

O Viaduto do Chá eO Viaduto do Chá eO Viaduto do Chá eO Viaduto do Chá eO Viaduto do Chá eo Teatro Municipalo Teatro Municipalo Teatro Municipalo Teatro Municipalo Teatro Municipal

mostravam omostravam omostravam omostravam omostravam odesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimento

de São Paulo.de São Paulo.de São Paulo.de São Paulo.de São Paulo.

Em aulas anteriores, você percebeu que avida política na Primeira República baseava-se fundamentalmente nos acordosentre os diversos grupos oligárquicos. Não havia grande interesse em assegurarespaços políticos para a maioria da população. Apesar disso, ocorreram diversosmovimentos populares na cidade e no campo, que apresentaram diferentesformas de atuação frente à República Oligárquica. Nesta aula estudaremosalguns dos movimentos mais importantes.

Os movimentos sociais urbanos

No final do século XIX e no início do século XX, a indústria já era umarealidade marcante em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo. Parcelaconsiderável dos trabalhadores das indústrias − o operariado − era provenientedas camadas mais pobres da população urbana.

Como a Constituição de 1891 concedia o direito de voto apenas aos brasilei-ros natos e alfabetizados, a grande maioria do operariado − formado por estran-geiros imigrantes e/ou analfabetos − ficava excluída da participação nas eleições.

Page 28: História do Brasil - Volume 2

23A U L ABuscando reagir a essa situação, os trabalhadores se organizaram e se

rebelaram em defesa de seus direitos, em movimentos nem sempre vitoriosos.No espaço da cidade, sua posição era a de personagens políticos em busca daconquista da cidadania.

O primeiro partido operário do Brasil surgiu em fevereiro de 1890, no Rio deJaneiro, numa reunião com cerca de 120 trabalhadores, que decidiram editar ojornal Echo PopularEcho PopularEcho PopularEcho PopularEcho Popular (echo = eco). No Sul, no Norte, no Nordeste, nessa mesmaépoca, formavam-se diversos núcleos e grupos socialistas que seautodenominavam partidospartidospartidospartidospartidos e que publicavam vários jornais operários.

Entre 1890 e 1910, surgiram dezenas de organizações socialistas em váriasregiões do país, mas todas tiveram vida curta. Não existia uma tendênciamajoritária que fosse capaz de reunir os diferentes grupos.

Os primeiros anos do século XX representaram o início da ascensão domovimento operário no Brasil, com o aumento do número de greves, o apare-cimento dos primeiros sindicatos e o fortalecimento de novos grupos políticos,em especial os anarquistas. Esses grupos tornaram-se uma tendência majoritá-ria no conjunto do movimento operário de certas cidades, no estado do Rio deJaneiro e, principalmente, no de São Paulo. Os anarquistas, imigrantes oubrasileiros, eram defensores das idéias e das práticas libertárias.

Mas, afinal, o que é ser anarquista?

Ser anarquista é negar e combater a autoridade do Estado ou qualquer formade poder ou organização que represente o Estado; é ter uma atitude libertáriaindividual. Os anarquistas desejavam criar uma sociedade igualitária e frater-nal, baseada em experiências do tipo comunitário, a exemplo de cooperativas.Para isso, era necessário organizar os trabalhadores, de forma voluntária, emassociações que garantissem participação e que tivessem níveis de autonomiaentre si.

Numa República que ignorava os operários como agentes políticos, aliderança anarquista tentava ignorar o Estado. Dentro da corrente anarquista, osanarco-sindicalistas viam o sindicatosindicatosindicatosindicatosindicato como meio e fim da ação libertária e agreve geral como a arma decisiva, capaz, por si só, de fazer surgir a novasociedade igualitária. Portanto, a luta dos anarquistas era uma luta política embusca de novas formas de organização da sociedade.

No Primeiro Congresso Operário Brasileiro, em 1906, no Rio de Janeiro, osanarco-sindicalistas dominaram a cena, aprovando a criação da ConfederaçãoOperária Brasileira (COB) contra a proposta dos delegados socialistas de criarum partido. Ao mesmo tempo, aprovaram a campanha de agitação imediatacontra o serviço militar e pela jornada de trabalho de 8 horas diáriascontra o serviço militar e pela jornada de trabalho de 8 horas diáriascontra o serviço militar e pela jornada de trabalho de 8 horas diáriascontra o serviço militar e pela jornada de trabalho de 8 horas diáriascontra o serviço militar e pela jornada de trabalho de 8 horas diárias.Começava a se desenhar a presença marcante dos anarquistas na direção domovimento operário. A partir de então, os sucessos e insucessos desse movi-mento teriam sempre a marca do anarquismo.

As comemorações do 1º de Maio de 1907, em São Paulo e em outras cidades,resultaram numa série de lutas pela jornada de 8 horas de trabalho diário e pormelhores condições de trabalho e de vida para os operários.

Depois de um período de declínio do movimento, o ano de 1912 seriamarcado por várias greves por causa do agravamento das condições de vida dostrabalhadores. Em São Paulo, no mesmo ano, anarquistas e socialistas criavamo Comitê de Agitação Contra a Carestia da VidaComitê de Agitação Contra a Carestia da VidaComitê de Agitação Contra a Carestia da VidaComitê de Agitação Contra a Carestia da VidaComitê de Agitação Contra a Carestia da Vida, que realizava comícios emvários bairros operários.

Page 29: História do Brasil - Volume 2

23A U L A Nos meses de junho e julho de 1917, uma greve geral paralisou completa-

mente a cidade de São Paulo, colocando frente a frente o movimento operário(que era organizado principalmente pelas lideranças anarquistas) e os setoresdominantes (que representavam a repressão do Estado). De um lado, 50 milgrevistas armados com pedras e protegidos por barricadas; de outro, tropasarmadas com fuzis e metralhadoras.

A greve ganhara dimensões maiores, incorporando outros setores popula-res. Anarquistas e Governo foram forçados à negociação. Depois, a repressão foiintensificada. A polícia de São Paulo fechou todas as sedes das ligas e uniõesoperárias da cidade. Entre 1919 e 1920, diversos militantes operários anarquistasforam deportados para seus países.

Apesar disso, na década de 1920 (que estudaremos no próximo módulo), ostrabalhadores urbanos e o movimento operário continuariam no centro dachamada questão socialquestão socialquestão socialquestão socialquestão social.

A revolta da vacina

O Rio de Janeiro do começo do século, sede do governo, era uma cidade“bonita e envolvente como uma mulher apaixonada”, nos dizeres de BenjaminConstant. Mas apresentava muitos problemas com suas doenças, suas ruasestreitas e sua “massa desordeira”, que exigiam alguma adaptação aos novostempos. Aquela cidade era o Rio de Janeiro popular, repleto de mercados,biscates e pequenos expedientes para a sobrevivência cotidiana. Para as autori-dades, era uma realidade que precisava ser mudada. Precisava-se modernizara capital da República, apagando da cidade os traços dos tempos coloniais.

Junto com a remodelação urbanística da cidade, o governo Rodrigues Alves(1902-1906) desenvolveu um programa de saneamento destinado a livrar apopulação de doenças, como a peste bubônica e a varíola.

No final de outubro de 1904, por iniciativa de Oswaldo Cruz, Diretor daSáude Pública, o Congresso Nacional aprovou a lei que tornava obrigatória avacina contra a varíola. A medida tornava-se urgente em função do avanço daepidemia na cidade: o total de mortos pela varíola alcançou o número de 4.201naquele mesmo ano.

A imprensaA imprensaA imprensaA imprensaA imprensabrincava com abrincava com abrincava com abrincava com abrincava com a

obrigatoriedade daobrigatoriedade daobrigatoriedade daobrigatoriedade daobrigatoriedade davacinação.vacinação.vacinação.vacinação.vacinação.

Page 30: História do Brasil - Volume 2

23A U L A

Para iniciar a vacinação obrigatória faltava apenas a aprovação do regula-mento proposto pelo governo ao Congresso Nacional. Os grupos de oposição,que discordavam do caráter obrigatório da vacinação, passaram a denunciar naimprensa os termos do regulamento, que permitia aos funcionários do governoinvadir, vistoriar, fiscalizar e demolir casas e construções. Não seriam permiti-dos recursos à Justiça.

Em importantes jornais da cidade, a oposição denunciava a “ditadurasanitária” e pregava a suspensão daquela “lei arbitrária e monstruosa”.

A população temia os efeitos de uma vacina que pouco conhecia e estavarevoltada com os métodos pelos quais as autoridades propunham desenvolveraquele programa de saneamento.

Não tardou muito e, no dia 10 de novembro de 1904, explodia no Rio umarevolta popular contra a obrigatoriedade da vacina e contra as medidas oficiaisde saneamento. Durante mais de uma semana, as ruas da capital encheram-sede barricadas. Bondes foram incendiados, lojas depredadas e saqueadas, postesde iluminação destruídos. As autoridades perderam temporariamente o contro-le da situação na região central e nos bairros mais densamente habitados porgrupos populares.

Quem eram os revoltosos?

A composição da população rebelada, que variou de acordo com o desenro-lar dos acontecimentos, reunia operários, inclusive do estado (como marítimose trabalhadores dos transportes urbanos), líderes anarquistas e socialistas,comerciantes, estudantes, militares e aqueles setores identificados pelos pode-res oficiais como os “desordeiros” − capoeiras, desempregados, vadios, jogado-res. Isto é, um exército de “excluídos” ou “deserdados” que representavam umaboa parcela da população.

A presença dos trabalhadores organizados, no entanto, foi significativa peloesforço de mobilização do Centro das Classes OperáriasCentro das Classes OperáriasCentro das Classes OperáriasCentro das Classes OperáriasCentro das Classes Operárias, onde se reunia a LigaLigaLigaLigaLigaContra a Vacina ObrigatóriaContra a Vacina ObrigatóriaContra a Vacina ObrigatóriaContra a Vacina ObrigatóriaContra a Vacina Obrigatória.

Oswaldo Cruz foiOswaldo Cruz foiOswaldo Cruz foiOswaldo Cruz foiOswaldo Cruz foiridicularizado emridicularizado emridicularizado emridicularizado emridicularizado emvárias caricaturasvárias caricaturasvárias caricaturasvárias caricaturasvárias caricaturasda época.da época.da época.da época.da época.

Page 31: História do Brasil - Volume 2

23A U L A O governo agiu rapidamente contra a revolta. A polícia e tropas do Exército,

da Marinha e dos Bombeiros enfrentaram a resistência da população em bairrospopulares do Rio de Janeiro, como a Saúde e o Sacramento.

Após retomar o controle da cidade, o governo prendeu centenas de pessoase as despachou para o Acre, onde seriam submetidas a trabalhos forçados.Segundo dados policiais, a Revolta teve 90 baixas entre os revoltosos: 23 mortose 67 feridos. Do total, 36 eram operários. A obrigatoriedade da vacina foi, porém,temporariamente revogada.

Movimentos sociais rurais

A presença política dos setores populares durante a Primeira República nãose limitou a movimentos organizados dos trabalhadores urbanos e a outrasdiversas manifestações de resistência que tiveram como palco a cidade. Na árearural, os setores populares também se manifestaram de alguma forma.

No final do século XIX, entre 1895 e 1897, milhares de sertanejos lideradospor Antônio Mendes Maciel, o Antônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio ConselheiroAntônio Conselheiro, reuniram-se no interiorda Bahia, numa fazenda abandonada que deu origem ao povoado de Belo Monteou Arraial de CanudosArraial de CanudosArraial de CanudosArraial de CanudosArraial de Canudos.

O que levava essa gente a se reunir em Canudos?Entre outras razões certamente estavam a falta de perspectivas daqueles

homens e mulheres, num mundo rural dominado pelos “coronéis”, e as promes-sas de salvação feitas por Conselheiro. Para ele, a República era a raiz dos malesque afligiam as populações sertanejas. Em Canudos, a propriedade era coletivae não eram pagos impostos ao governo.

Os revoltosos deOs revoltosos deOs revoltosos deOs revoltosos deOs revoltosos deCanudos eramCanudos eramCanudos eramCanudos eramCanudos eram

uma ameaça aosuma ameaça aosuma ameaça aosuma ameaça aosuma ameaça aos“coronéis”.“coronéis”.“coronéis”.“coronéis”.“coronéis”.

Page 32: História do Brasil - Volume 2

23A U L AO crescimento e a organização dessa comunidade foi aos poucos incomo-

dando os grandes proprietários rurais e o governo. Em 1897, forças militaresleais ao governo, após três tentativas fracassadas e contando com milhares dehomens, cercou o arraial, bombardeando-o durante horas seguidas. Seu líder foimorto e a população de Canudos, dizimada. Foi sobre esse episódio que Euclidesda Cunha escreveu seu grande livro, Os SertõesOs SertõesOs SertõesOs SertõesOs Sertões.

Os problemas que impulsionaram Canudos e outros movimentos rurais nãotiveram como palco apenas o Nordeste. No sul do país, do início do século XX,em torno da posse de uma região reclamada pelos estados de Santa Catarina edo Paraná, ocorreu a Guerra do ContestadoGuerra do ContestadoGuerra do ContestadoGuerra do ContestadoGuerra do Contestado.

Na área contestada, rica em erva-mate e madeira, viviam milhares depessoas que cultivavam a terra, sem o título de propriedade. Eram posseiros. Porvolta de 1911, duas empresas estrangeiras, interessadas na construção de umaferrovia e na instalação de serrarias, passaram a ocupar as terras com o apoio dogoverno e dos “coronéis”. Começava o processo de expulsão dos posseiros daregião. Separados de suas terras, rejeitados pela população das cidades, elesperambulavam sem rumo pelo interior.

Nesse quadro, surgiram os “homens santos”, os “monges”, com os quais opovo ia procurar a solução para os seus males. Um desses “monges”, queatuavam também como curandeiros, era José Maria que dizia ser eleito porDeus para construir, na Terra, um reino divino: a “Monarquia Celeste”.

O centro das tensões era a região de Taquaruçu, onde estavam os escritóriosde uma das empresas estrangeiras (Brazil Railway). A partir de 1912, algumascentenas de fiéis do “monge” José Maria fixaram-se ali, dando origem a uma“aldeia sagrada”.

Logo começaram as perseguições e os ataques do Exército, da polícia e dosjagunços dos “coronéis”, que obrigaram os fiéis a se dispersarem para o Irani,outra região contestada.

A morte de José Maria pelas forças governamentais fez com que seusseguidores se reunissem novamente em Taquaruçu. O grupo inicial de fiéis foicrescendo, tomando grandes proporções. Os rebeldes passaram a adotar medi-das mais radicais, como o incêndio de estações e serrarias das empresas naregião. Eles lutavam de forma muito violenta, como numa “guerra santa”, eassustaram as autoridades civis e militares da época.

Os ataques das tropas oficiais se sucederam e, no final de 1915, a rebeliãosertaneja foi liquidada, restando apenas pequenos grupos esparsos. No anoseguinte, o último de seus líderes caiu prisioneiro.

6

Todos esses movimentos ocorreram na República das Oligarquias, que semostrou incapaz de integrar os setores populares à vida política do país.

A década de 1920 anunciaria tempos de crise da República Oligárquica. Mas,apenas a partir da Revolução de 1930 seriam realizadas profundas reformaspolíticas, econômicas e sociais, que tiveram como um dos seus principaisobjetivos a incorporação das massas trabalhadoras ao projeto político do novogoverno.

O temponão pára

Page 33: História do Brasil - Volume 2

23A U L A Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia Os movimentos sociais Os movimentos sociais Os movimentos sociais Os movimentos sociais Os movimentos sociais uuuuurbanosrbanosrbanosrbanosrbanos e Mas, af inal , o que é serMas, af inal , o que é serMas, af inal , o que é serMas, af inal , o que é serMas, af inal , o que é seranarquista?anarquista?anarquista?anarquista?anarquista? e responda: Quem eram os anarquistas? O que eles defen-diam?

2.2.2.2.2. Releia A revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacina e extraia do texto trechos que caracterizem acidade do Rio de Janeiro nos primeiros tempos da República.

3.3.3.3.3. Releia A revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacinaA revolta da vacina e Quem eram os revoltosos?Quem eram os revoltosos?Quem eram os revoltosos?Quem eram os revoltosos?Quem eram os revoltosos? e identifique ossetores sociais envolvidos na rebelião.

4.4.4.4.4. Releia Movimentos sociais ruraisMovimentos sociais ruraisMovimentos sociais ruraisMovimentos sociais ruraisMovimentos sociais rurais e extraia do texto o trecho que trata dadisputa pelas terras da Região do Contestado.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Reproduzimos, abaixo, parte do discurso de um líder da Revolta do Contes-tado. Leia o documento com atenção e faça o que se pede.

Documento ADocumento ADocumento ADocumento ADocumento A“ Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,uma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridadesuma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridadesuma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridadesuma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridadesuma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridadesnão fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têmnão fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têmnão fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têmnão fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têmnão fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têmcobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Oscobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Oscobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Oscobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Oscobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Osmandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aosmandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aosmandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aosmandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aosmandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aosestrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia.nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia.nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia.nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia.nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia.”Discurso do Monge José Maria, líder do Contestado,citado na coleção Nosso SéculoNosso SéculoNosso SéculoNosso SéculoNosso Século, Vol. 2, pág. 21

1.1.1.1.1. Retire do texto as expressões utilizadas pelo monge José Maria que cor-respondem aos seguintes agentes:

a) a) a) a) a) governo;

b) b) b) b) b) Brazil Railway;

c) c) c) c) c) coronéis;

d) d) d) d) d) sertanejos.

2.2.2.2.2. Tomando por base o texto da aula, explique o significado da frase: “Eles têmcobiça por terras” .

Exercícios

Page 34: História do Brasil - Volume 2

23A U L AAgora leia com atenção o memorial de reclamações apresentado pelo

Comitê de Defesa Proletária (dos operários) durante a greve geral de 1917 e façao que se pede.

Documento BDocumento BDocumento BDocumento BDocumento B“É o seguinte o memorial de reclamações apresentadas pelo Comitê

de Defesa Proletária e que o proletariado continua a sustentar.Os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e

das associações político-sociais que compõem o ‘Comitê’ de DefesaProletária, reunidos na noite de 11 de julho, depois de consultadas asentidades de que fazem parte, expondo as aspirações não só da massaoperária em greve como as aspirações de toda a população angustiadapor prementes necessidades, considerando a insuficiência do Estado noprovidenciar de outra forma que não seja pela repressão violenta,tornam públicos os fins imediatos que a atual agitação se propõe,formulando da maneira que segue as condições de trabalho que, oportu-namente, serão examinadas nos seus detalhes:11111º Que sejam postas em liberdade todas as pessoas detidas por motivos

de greve;22222º Que seja respeitado do modo mais absoluto o direito de associação

para os trabalhadores;33333º Que nenhum operário seja dispensado por haver participado ativa

e ostensivamente no movimento grevista;44444º Que seja abolida de fato a exploração do trabalho dos menores de 14

anos nas fábricas, oficinas etc.;55555º Que os trabalhadores com menos de 18 anos não sejam ocupados em

trabalhos noturnos;66666º Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres;77777º Aumento de 35% nos salários inferiores a 5$000 e de 25% para os

mais elevados;88888º Que o pagamento dos salários seja efetuado pontualmente, cada 15

dias e, o mais tardar, cinco dias após o vencimento;99999º Que seja garantido aos operários trabalho permanente;1010101010º Jornada de oito horas e semana inglesa;1111111111º Aumento de 50% em todo o trabalho extraordinário.

O ‘Comitê’ de Defesa Proletária crê haver encontrado o caminhopara uma solução honesta e possível. Esta solução terá, certamente, oapoio de todos aqueles que não forem surdos aos protestos da fome.”“O que reclamam os operários”, A Plebe, nº 6, 21.7.1917, pág. 3 (AEL). Extraídodo livro A Classe Operária no Brasil 1889-1930A Classe Operária no Brasil 1889-1930A Classe Operária no Brasil 1889-1930A Classe Operária no Brasil 1889-1930A Classe Operária no Brasil 1889-1930 - Documentos, Vol. 1 (Org.Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Mall) Ed. Alfa Omega, SP, 1979.

1.1.1.1.1. Retire do documento as reclamações que dizem respeito ao tratamentodispensado aos trabalhadores envolvidos em associações ou em movi-mentos operários.

2.2.2.2.2. Destaque as principais reclamações relativas ao trabalho de mulheres ecrianças.

6

Page 35: História do Brasil - Volume 2

24A U L A

24A U L A

MÓDULO 7

Anos 20, anos de crise

A partir da década de 1920, muita coisa co-meçou a mudar na República do Brasil. A marginalização política da maioria dapopulação, característica da República Oligárquica, era cada vez mais questio-nada. Era cada vez mais difícil ignorar os novos atores, que insistiam em se fazerpresentes na cena política, assim como suas reivindicações.

Neste módulo vamos conhecer esses novos atores e os caminhos cheios deconflitos que trilharam. Caminhos autoritários, que apenas em 1942 começariama ter seus rumos alterados.

Apesar disso, entre 1920 e 1942, tanto os trabalhadores urbanos quanto seusdireitos civis, sociais e políticos estiveram no centro das questões políticasdaquele tempo. Um tempo marcado pelo crescimento das cidades e da indústria,pelo fortalecimento do Estado na figura do presidente Getúlio Vargas e pelaincorporação dos trabalhadores urbanos no jogo político.

Apresentaçãodo Módulo 7

Atoressociais oupolíticos:

indivíduos queagem socialmenteou politicamente,

interferindo nosrumos da

sociedade.

A modernizaçãoA modernizaçãoA modernizaçãoA modernizaçãoA modernizaçãodo paísdo paísdo paísdo paísdo país

prosseguia,prosseguia,prosseguia,prosseguia,prosseguia,com indústriascom indústriascom indústriascom indústriascom indústrias

tocadas portocadas portocadas portocadas portocadas poroperários cada vezoperários cada vezoperários cada vezoperários cada vezoperários cada vez

mais politizados.mais politizados.mais politizados.mais politizados.mais politizados.

Page 36: História do Brasil - Volume 2

24A U L AO Estado de SítioEstado de SítioEstado de SítioEstado de SítioEstado de Sítio era uma medida, prevista na Constituição de 1891, que

permitia ao governo federal (Poder Executivo) suspender quase todos osdireitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros e aumentar seu próprio poder.Para isso, era preciso a aprovação do Poder Legislativo (Câmara e Senado),sempre que se considerasse a ordem pública fortemente ameaçada.

Boa parte dos anos 20 no Brasil, especialmente durante o governo dopresidente Artur Bernardes (1922-1926), foi vivida com o Estado de Sítiodecretado.

Nesta aula vamos tentar entender por que os anos 20 deste século sãolembrados como anos de criseanos de criseanos de criseanos de criseanos de crise.

Tempo de permanências e mudanças

Na década de 1920, novos personagens começavam a se fazer presentes nocenário da nossa História e fariam entrar em crise a República Oligárquica e aordem constitucional de 1891.

Entretanto, a Constituição de 1891 permaneceu em vigor até 1930. Durantea década de 1920 foram empossados na Presidência da República, sucessiva-mente: Epitácio Pessoa (que governou de 1919 a 1922), Artur Bernardes (1922-1926) e Washington Luís (1926-1930). Todos os três deram prosseguimento àoolítica dos governadoresoolítica dos governadoresoolítica dos governadoresoolítica dos governadoresoolítica dos governadores.

Portanto, permanecia a política do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leitepolítica do café-com-leite (predomínio das oli-garquias paulista e mineira), a preponderância dos grandes fazendeiros, emespecial dos cafeicultores paulistas, o coronelismo e a repressão às manifesta-ções populares.

Além disso, a política econômica desses governantes estava tão direcionadaà proteção dos interesses cafeeiros que quase não se preocupava com o desen-volvimento das outras atividades econômicas do país. Esse era o caso dasindústrias e das atividades agropecuárias, voltadas para o mercado interno, quevinham ganhando importância com o crescimento das cidades.

Durante os anos 20, o governo sustentou, de forma permanente, os altoslucros dos fazendeiros de café, comprando os excedentes do produto nosnegócios com o mercado externo.

Mas, apesar de tudo, a indústria seguia seu curso. Entre 1914 e 1918 ocorreuuma grande guerra entre os países industrializados da Europa. Como osinteresses europeus se espalhavam por quase todo o mundo, essa guerra ficouconhecida como Primeira Guerra Mundial.

Durante a guerra, e logo depois dela, ficou quase impossível importaralguns artigos industrializados da Europa.

Sem a concorrência dos importados, as indústrias brasileiras começaram aproduzir novos artigos e a fabricar mais daqueles que já eram produzidos aqui,fortalecendo bastante o crescimento industrial.

Crescem as cidades, surgem novos atores sociais

Com o crescimento urbano na década de 1920, vieram à cena dois importan-tes grupos sociais: o dos empresários industriais e o do operariado urbano.

Desde o início do século, os interesses dos industriais de vários pontos dopaís se articulavam no Centro Industrial do Brasil − CIB e no Centro dasIndústrias do Estado do Rio de Janeiro − CIERJ, até então os principais do país.

Nesta aula

Page 37: História do Brasil - Volume 2

24A U L A Durante os anos 20, aumentaram as associações entre os empresários das

indústrias. Eles perceberam, principalmente após a Primeira Guerra Mundial,que era importante limitar, pela cobrança de impostos, a importação de produ-tos industrializados concorrentes e, ao mesmo tempo, facilitar a compra noexterior de máquinas e equipamentos para suas fábricas.

Nesse contexto, foi criado em 1928 o Centro das Indústrias do Estado de SãoPaulo − CIESP , que teve atuação destacada na elaboração da política industrialbrasileira nos anos 30.

Também os operários se fizeram presentes, de forma diferente, na cenapolítica dos anos 10 e 20. Após as grandes greves de 1917 e 1918, intensificou-seainda mais a repressão policial sobre os sindicatos e os jornais operários,especialmente aqueles de orientação anarquista.

Ao mesmo tempo, na década de 20, apareceram as primeiras tentativas dogoverno para interferir nas relações de trabalho, com a elaboração de leis.

Datam dos anos 20 as primeiras leis sociais voltadas para o trabalhadorprimeiras leis sociais voltadas para o trabalhadorprimeiras leis sociais voltadas para o trabalhadorprimeiras leis sociais voltadas para o trabalhadorprimeiras leis sociais voltadas para o trabalhador,como a lei sobre acidentes de trabalho (1919); a lei Elói Chaves, sobre aposenta-doria (1923); e a Lei de Férias (1926).

Era o reconhecimento de que a questão operária existia e de que osmovimentos dos trabalhadores produziam mudanças. Mas o governo nãopressionava para que as leis fossem colocadas em prática e os empresáriosreagiam. Assim, tal legislação pouco alterou a situação da classe operária.

Além disso, na Europa, durante a Primeira Guerra Mundial, uma revoluçãofeita por operários e camponeses tomou o poder na Rússia em 1917. A chamadaRevolução RussaRevolução RussaRevolução RussaRevolução RussaRevolução Russa, liderada pelo Partido Comunista, teve influência nos movi-mentos operários em todo o mundo.

No Brasil, o Partido Comunista foi criado em 1922 e, desde então, tornou-seforça importante no movimento operário brasileiro, junto dos anarquistas esocialistas. No entanto, comunistas e socialistas tinham idéias diferentes dasidéias anarquistas sobre a importância dos partidos políticos e das eleições paraos interesses operários.

Em 1928, lideranças operárias, socialistas e comunistas, formaram o BlocoOperário e Camponês, buscando influir nas eleições que se aproximavam.

Havia grupos de intelectuais que começavam a criticar a ordem oligárquicadominante e que expressavam, pelas artes plásticas, música e literatura, seudesejo de mudança. Esses grupos participaram do Movimento ModernistaMovimento ModernistaMovimento ModernistaMovimento ModernistaMovimento Modernista.Em busca da alma do povo brasileiro, as teorias racistas começaram a perderadeptos, bem como a imitação pura e simples de tudo que fosse europeu.

Outros intelectuais entendiam que o Brasil precisava de um Estado forte eintervencionista (com muitos poderes para interferir na vida das pessoas).Criticando o poder dos coronéis sobre o eleitorado rural e a política dospolítica dospolítica dospolítica dospolítica dosgovernadoresgovernadoresgovernadoresgovernadoresgovernadores, esses intelectuais acreditavam que só um governo forte seria capazde guiar o povo e de resolver os problemas do país. A experiência da PrimeiraRepública era, para eles, o melhor exemplo de falência da democracia liberal.

O descontentamento com a política da Primeira República atingia de formatambém marcante alguns grupos de militares do Exército brasileiro. Seusoficiais, especialmente os mais jovens (os tenentes), lançaram-se num movimen-to, conhecido como TenentismoTenentismoTenentismoTenentismoTenentismo, que promoveu revoltas e rebeliões em váriosestados e cidades do país.

A Revolta do Forte de CopacabanaRevolta do Forte de CopacabanaRevolta do Forte de CopacabanaRevolta do Forte de CopacabanaRevolta do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1922, marcouo início do Movimento Tenentista. Numa manifestação pelo cumprimento dasleis constitucionais e pelo fim da corrupção, dezenas de tenentes enfrentaram astropas do governo. Dezesseis deles foram mortos.

Page 38: História do Brasil - Volume 2

24A U L ADois anos depois (1924) ocorreu novo levante tenentista, desta vez em São

Paulo, seguido de revoltas em Minas Gerais, Sergipe, Pará e Rio Grande do Sul.Todas foram sufocadas pelo governo.

Os revoltosos de São Paulo e do Rio Grande do Sul conseguiram fugir eformaram a Coluna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna Prestes. A Coluna chegou a reunir entre 800 e 1.000integrantes. Sob a liderança de Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, seusparticipantes percorreram, durante dois anos, cerca de 24 mil quilômetros pelointerior do Brasil.

A Coluna Prestes esperava mobilizar a população para uma revolta militarcontra o governo, o que não aconteceu. Nem sempre os integrantes da Colunaeram bem aceitos ou compreendidos pela população do interior. Tiveram deenfrentar, também, os ataques das forças governistas e até mesmo dos capangasdos coronéis. Mas, nas cidades, o prestígio dos revoltosos crescia. Luís CarlosPrestes era chamado pelos jornais de “O Cavaleiro da Esperança”.

Do descontentamento à crise política: a Revolução de 30

Final dos anos 20. O governo Washington Luís chegava ao fim de seumandato. Era hora de indicar o sucessor. Como determinava a política do café-política do café-política do café-política do café-política do café-com-leitecom-leitecom-leitecom-leitecom-leite, era a vez de Minas Gerais indicar o Presidente da República. Porém,o indicado por Washington Luís foi novamente um paulista − Júlio Prestes.

Era o rompimento entre Minas Gerais e São Paulo. Essa crise abriu espaçopara um candidato de oposição: o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, tendo comovice o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa. Getúlio Vargas e João Pessoaforam apoiados pela Aliança LiberalAliança LiberalAliança LiberalAliança LiberalAliança Liberal, que reunia os partidos republicanos deMinas Gerais, do Rio Grande do Sul e da Paraíba.

Luís CarlosLuís CarlosLuís CarlosLuís CarlosLuís CarlosPrestes passou aPrestes passou aPrestes passou aPrestes passou aPrestes passou aser chamado deser chamado deser chamado deser chamado deser chamado de“O Cavaleiro da“O Cavaleiro da“O Cavaleiro da“O Cavaleiro da“O Cavaleiro daEsperança”.Esperança”.Esperança”.Esperança”.Esperança”.

Page 39: História do Brasil - Volume 2

24A U L A O programa de governo da Aliança Liberal incluía o estabelecimento do voto

secreto, a Justiça Eleitoral e a anistia política. Com isso, ela conquistou a simpatiada população das grandes cidades, bem como o apoio dos tenentes. A candida-tura de Getúlio Vargas agradava também aos interesses das oligarquias ligadasao mercado interno, como os pecuaristas mineiros e gaúchos.

Apesar de todo o apoio obtido pela Aliança Liberal, foi mesmo o paulistaJúlio Prestes quem se elegeu, obtendo a maioria dos votos. Como era de costume,os canditados a deputados em minoria (eleitos pela Aliança Liberal) não tiveramsuas eleições reconhecidas pelo Poder Legislativo.

Não satisfeito, Washington Luís ainda deu apoio à revolta do município dePrincesa, na Paraíba, contra o governo João Pessoa. O assassinato de João Pessoaprecipitou a crise.

A atitude do governo Washington Luís convenceu as oligarquias derrotadasde que era preciso romper com a ordem constitucional. Antônio Carlos deAndrada, presidente do estado de Minas Gerais, obteve apoio para a idéia comas seguintes palavras: “é preciso fazer a revolução antes que o povo a faça”.

Assim, no dia 3 de outubro de 1930, iniciou-se um movimento político-militar para a derrubada do Governo. . . . . Diante do crescimento do movimento emtodo país, o Alto Comando das Forças Armadas decidiu interferir e promoveua deposição de Washington Luís da Presidência da República.

No dia 23 daquele mesmo mês, Getúlio Vargas chegava ao Rio de Janeirocomo chefe do governo provisório.

6

Os acontecimentos que resultaram na queda de Washington Luís e na possede Getúlio Vargas como Presidente da República ficaram conhecidos como aRevolução de 30Revolução de 30Revolução de 30Revolução de 30Revolução de 30. Com ela, rompia-se definitivamente a ordem constitucionalque vigorava desde 1891.

A Aliança Liberal reunia vários setores da sociedade brasileira, unidos pelacrítica à ordem oligárquica, mas bem diferentes entre si. Seria possível aogoverno revolucionário atender a interesses tão diferentes?

O temponão pára

Page 40: História do Brasil - Volume 2

24A U L ARelendo o texto

Leia novamente o texto desta aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure seu significado, no dicionário ou no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Tempo de permanências e mudançasTempo de permanências e mudançasTempo de permanências e mudançasTempo de permanências e mudançasTempo de permanências e mudanças e identifique uma caracte-rística de continuidade e outra de mudança da década de 1920.

22222. Releia Crescem as cidades, surgem novos atores sociaisCrescem as cidades, surgem novos atores sociaisCrescem as cidades, surgem novos atores sociaisCrescem as cidades, surgem novos atores sociaisCrescem as cidades, surgem novos atores sociais e identifiquedois novos atores sociais no cenário político dos anos 20.

3.3.3.3.3. Releia Do descontentamento à crise polít ica: a Revolução de 30Do descontentamento à crise polít ica: a Revolução de 30Do descontentamento à crise polít ica: a Revolução de 30Do descontentamento à crise polít ica: a Revolução de 30Do descontentamento à crise polít ica: a Revolução de 30 ereproduza o trecho que descreve o programa político da Aliança Liberal.

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Antônio Carlos de Andrada, presidente do estado de Minas Gerais, seria osucessor “natural” de Washington Luís, dentro da política do café-com-leite. Noentanto, esse político passou a fazer parte da Aliança Liberal.

E é dele a seguinte frase:

“Façamos a Revolução, antes que o povo a faça.”

Agora, responda:

1.1.1.1.1. O que expressa a frase do presidente de Minas Gerais?

2.2.2.2.2. Por que o povo não deveria fazer a Revolução?

6

Exercícios

Page 41: História do Brasil - Volume 2

25A U L A

25A U L A

MÓDULO 7

Nesta aula Outubro de l930. Podia-se dizer, na época,que os “gaúchos amarravam seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco”,centro do Rio de Janeiro. O poder começava a mudar de mãos. No dia 24 daquelemês, a Junta Governativa, formada por três militares que haviam deposto opresidente Washington Luís, entregou o poder a Getúlio Vargas.

No dia 3 de novembro, ao assumir a presidência, Getúlio prometia construir“uma pátria nova(...),onde todos os seus filhos sejam iguais” e dizia ainda que“a revolução que fizeram foi fruto da vontade do povo, que agora é senhor do seudestino(...)”.

Pelas ondas das rádios, que funcionavam desde o início dos anos 20, o paísinteiro ouvia Getúlio. Um país cada vez mais urbano, industrial, diferentedaquele dos tempos da República Velha. Um país que aguardava do novogoverno a confirmação das promessas de democracia, liberdade e reformaspolíticas e sociais.

Mas eram várias e diferentes as forças políticas que apoiavam o novopresidente do governo provisório, Getúlio Vargas. A disputa entre essas dife-rentes forças e seus respectivos projetos de organização social e política do paíssão o tema da nossa aula.

Cidadania: da décadade 1930 ao Estado Novo

Com WashingtonCom WashingtonCom WashingtonCom WashingtonCom WashingtonLuís, praticamenteLuís, praticamenteLuís, praticamenteLuís, praticamenteLuís, praticamente

termina atermina atermina atermina atermina aRepública Velha.República Velha.República Velha.República Velha.República Velha.

Page 42: História do Brasil - Volume 2

25A U L ADo governo provisório à Constituição de l934

Ao assumir o governo provisório da República, Getúlio Vargas tirou dopoder a oligarquia paulista, fechou o Congresso Nacional, as AssembléiasLegislativas estaduais e os partidos políticos; e destituiu os governadores,nomeando para os estados gente de sua confiança − os interventores. Chegavaao fim a ordem constitucional de 1891.

A estratégia política de Vargas procurava satisfazer tanto às liderançasoligárquicas dos diversos estados que o apoiavam quanto aos tenentes, seusprincipais aliados na vitória e na consolidação do movimento político-militar de1930, que o colocaram no poder.

Os tenentes se diziam portadores das bandeiras da moralidade e dasreformas que as massas urbanas tanto desejavam. No entanto, viviam o dilemade dividir o poder com os velhos políticos das oligarquias, muitos deles“inimigos de véspera”. Os conflitos e as acomodações que envolviam ostenentes e as oligarquias marcaram os primeiros anos do governo provisório.

Getúlio, por seu lado, tentava equilibrar cada uma das influências, aumen-tando seu próprio poder. De fato, o que prevaleceu foi a tendência para ofortalecimento do Poder Executivo.

Desse modo, desde os primeiros atos do novo governo, começou a seconstituir um Estado forte e centralizado, cuja presença na vida da população foicrescente. Um Estado que, ao se organizar, incorporava e dava novo sentido aantigas reivindicações da sociedade civil.

Ainda em 1930 foram criados o Ministério do Trabalho, da Indústria e doComércio; e o da Educação e da Saúde Pública. A criação do Ministério doTrabalho representava a tentativa do Estado de intervir de fato nas relaçõestrabalhistas. O governo regulamentou o trabalho feminino e do menor, bemcomo a jornada de oito horas − antigas bandeiras de luta do movimento operário.

Com o tempo, algumas lideranças oligárquicas (de São Paulo, principal-mente) passaram a defender a volta à normalidade política, com uma Assem-bléia Constituinte livremente eleita pelo povo. Já os tenentes defendiam aditadura como única forma de realizar as reformas necessárias ao país.

Em São Paulo (que tinha um tenente como interventor), os antigos partidospolíticos descontentes formaram uma Frente ÚnicaFrente ÚnicaFrente ÚnicaFrente ÚnicaFrente Única, protestando contra asmanobras de Vargas e exigindo uma nova Constituiçãonova Constituiçãonova Constituiçãonova Constituiçãonova Constituição para o país.

�Inimigos davéspera�: genteque, antes, erainimiga.

Getúlio VargasGetúlio VargasGetúlio VargasGetúlio VargasGetúlio Vargassurge no cenáriosurge no cenáriosurge no cenáriosurge no cenáriosurge no cenáriopolítico brasileiropolítico brasileiropolítico brasileiropolítico brasileiropolítico brasileiroe ali permanecee ali permanecee ali permanecee ali permanecee ali permanecedurante trêsdurante trêsdurante trêsdurante trêsdurante trêsdécadas.décadas.décadas.décadas.décadas.

Page 43: História do Brasil - Volume 2

25A U L A

Em resposta a essa pressão, em fevereiro de 1932, Vargas dava os primeirospassos para a volta da normalidade política, convocando eleições para umaAssembléia Constituinte no ano seguinte. Foi aprovada uma Lei Eleitoral comimportantes medidas, como o voto secreto e obrigatório, a extensão do direito devoto para as mulheres e a criação da Justiça Eleitoral. O objetivo dessa lei eraacabar com os freqüentes abusos que ocorriam na República Velha.

As medidas não foram suficientes para impedir que estourasse, em SãoPaulo, o movimento armado conhecido como Revolução Constitucionalista,Revolução Constitucionalista,Revolução Constitucionalista,Revolução Constitucionalista,Revolução Constitucionalista,em 1932. Em três meses de combates, as forças federais derrotaram o movimen-to. Mas Vargas sabia que apenas as eleições poderiam acalmar os ânimos.

No dia l5 de novembro de l933, começaram os trabalhos da AssembléiaConstituinte, que contava com 254 deputados. Entre eles havia uma únicamulher, eleita por São Paulo. Além dos deputados eleitos por sufrágio univer-sal, a Assembléia contou com a presença de quarenta representantes classistas,escolhidos por sindicatos de trabalhadores, de empresários, de profissionaisliberais, de funcionários públicos etc. Mas só os sindicatos organizados ereconhecidos pelo Ministério do Trabalho tiveram direito a voto.

A nova Constituição foi promulgada em l4 de julho de l934, mantendo aRepública Federativa e o regime presidencialista.

O texto constitucional refletia as disputas entre as diferentes forças políticasda época. A Constituição confirmou o voto secreto e obrigatório para todos oscidadãos alfabetizados − homens e mulheres − e tinha aspectos inovadores,como a nacionalização das riquezas do subsolo e das quedas d’água. Na áreatrabalhista, foram estabelecidas algumas medidas, como o salário mínimosalário mínimosalário mínimosalário mínimosalário mínimo, ajornada de oito horas de trabalho e as férias anuais obrigatórias e remuneradas(no entanto, as leis trabalhistas não eram aplicadas aos trabalhadores rurais).Apesar da pressão governista, que lutava pela unidade sindical, ficou consagra-da a pluralidade dos sindicatos e sua liberdade.

A Revolução de 30A Revolução de 30A Revolução de 30A Revolução de 30A Revolução de 30mostra o caminhomostra o caminhomostra o caminhomostra o caminhomostra o caminho

do Estado Novo,do Estado Novo,do Estado Novo,do Estado Novo,do Estado Novo,rompendo-serompendo-serompendo-serompendo-serompendo-se

a chamadaa chamadaa chamadaa chamadaa chamadarepúblicarepúblicarepúblicarepúblicarepública

oligárquicaoligárquicaoligárquicaoligárquicaoligárquica.....

Page 44: História do Brasil - Volume 2

25A U L ALogo após a aprovação da Constituição, Vargas foi eleito presidente da

República, de forma indireta, pela maioria dos constituintes, para um mandatode quatro anos.

A radicalização do processo político:integralistas e comunistas roubam a cena

Após a Primeira Guerra Mundial, a crise econômica na Europa fez cresceros críticos dos antigos valores democráticos e liberais. Os partidos comunistasacusavam a democracia liberal de injusta, pois ela reconhecia igualdade entredesiguais, não defendendo os menos favorecidos. Mas, para deter o avanço docomunismo, surgiam movimentos contra-revolucionários que acusavam ademocracia liberal de ineficiente. Por meio de regimes fortes, propunhamregular, pela força, as relações de classe dentro do capitalismo. Surgiram, assim,o facismofacismofacismofacismofacismo na Itália e o nazismonazismonazismonazismonazismo na Alemanha.

O Brasil não ficou distante dessa situação internacional. A radicalizaçãopolítica foi assumindo cores fortes: de um lado o verde-escuro do uniformeintegralista (fascista), de outro, o vermelho das bandeiras comunistas.

A Ação Integralista Brasileira − AIB, criada em outubro de l932, sob ocomando de Plínio Salgado, era inspirada no fascismo europeu e defendia ofortalecimento do Estado e o autoritarismo. A crise financeira, o desemprego,as revoltas operárias e as desigualdades sociais só seriam solucionadas comum Estado forte, baseado num partido único: o partido integralista.

Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, os integralistas receberam apoiode profissionais liberais, escritores, jornalistas, professores, altos funcionários,estudantes e oficiais da Marinha e do Exército. Possuíam grande penetração nascamadas médias e populares e também na juventude.

Em março de l935, foi criada a Aliança Nacional Libertadora − ANL, querepresentou uma tentativa do Partido Comunista Brasileiro − PCB de organizaruma ampla frente políticafrente políticafrente políticafrente políticafrente política que reunisse as diferentes tendências políticasdescontentes (inclusive as liberais), temerosas com o avanço dos integralistas nogoverno Vargas.

A ANL expandiu-se rapidamente e, no meio do ano de l935, já possuíamilhares de núcleos espalhados pelo país. Como os integralistas, recrutava amaior parte de seus adeptos nas classes médias urbanas, especialmente entremilitares, intelectuais, profissionais liberais e estudantes.

O governo Vargas continuava ignorando a Constituição. Em julho de l935,a ANL foi considerada ilegal. Suas sedes em todo o país foram ocupadas pelasforças policiais. O governo federal, sentindo-se ameaçado em seus planosautoritários, reagia.

Na ilegalidade, a ANL − praticamente reduzida ao Partido Comunista −partiu para a solução golpista. Em novembro de 1935, sob a liderança do antigotenente Luís Carlos Prestes, que acabara de ingressar no Partido Comunista,organizou um levante em Natal, Recife e Rio de Janeiro: a Intentona Comunis-Intentona Comunis-Intentona Comunis-Intentona Comunis-Intentona Comunis-tatatatata, assim denominada pelos poderes oficiais.

Sem dispor da lealdade esperada dentro das Forças Armadas e sem basespopulares, o movimento foi derrotado pelo governo. Os comunistas fracassa-ram em sua tentativa de tomar o poder. A repressão que se seguiu foi violenta.Foi decretado o Estado de Sítio, que se manteve durante todo o ano de l936. ALei de Segurança Nacional foi aplicada: parlamentares foram presos e julgados;sindicatos foram fechados e suas lideranças, perseguidas; militares e civis foram

Page 45: História do Brasil - Volume 2

25A U L A presos e demitidos de suas funções públicas. A perseguição atingiu os liberais

e todos os setores da esquerda. Foi criado um Tribunal de Segurança Nacionalque julgava e condenava as pessoas denunciadas por subversão.

O golpe de 37 e o Estado Novo

Enquanto o governo desenvolvia a ação repressiva, teve início a campanhapara a sucessão presidencial. Foram lançadas as candidaturas de Armando deSales Oliveira (ex-governador de São Paulo) e de José Américo, teoricamentecandidato da situação, apoiado por Getúlio. Este, no entanto, pretendia continu-ar no governo e se aproveitou do clima de apreensão e incertezas com a“ameaça” comunista. Contando com o apoio do chefe do Estado-Maior doExército, general Góes Monteiro e do ministro da Guerra, general Eurico GasparDutra, o presidente preparou um golpe de Estadogolpe de Estadogolpe de Estadogolpe de Estadogolpe de Estado. Para isso, afastou todosaqueles que eram contrários a ele, como os interventores que governavam osestados do Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco.

O pretexto para a realização do golpe foi a descoberta do chamado PlanoPlanoPlanoPlanoPlanoCohenCohenCohenCohenCohen. Elaborado por elementos militares ligados ao governo e ao integralismo,ele foi apresentado à Nação como um plano dos comunistas para derrubar ogoverno. Cresciam as condições políticas para o golpe, que foi apoiado por boaparcela das Forças Armadas. A democracia estava com seus dias contados.

Na manhã de l0 de novembro de 1937, o Exército cercou o Palácio Monroe,no Rio de Janeiro, onde funcionava o Senado. Com o apoio das Forças Armadas,Getúlio fechou o Congresso Nacional e extinguiu os partidos políticos. À noite,pelo rádio, anunciou o novo Estado e uma nova Constituição para o país. O golpefoi silencioso; seus opositores já tinham sido calados. Tinha início, naquelemomento, a ditadura do Estado NovoEstado NovoEstado NovoEstado NovoEstado Novo.

A nova Constituição foi outorgada, prevendo a realização de um plebiscitopara que o povo a julgasse. Caso fosse aprovada, uma nova estrutura de governoe de representação popular deveria ser criada, diferente da antiga forma(Câmara e Senado). A convocação do povo para esse ato nunca foi feita.

A Constituição de 1937 dava amplos poderes ao Executivo e ao presidenteda República. A carta constitucional acabou com a federação, com a autonomiados poderes e submeteu de vez os sindicatos ao controle do Estado.

Contando com um círculo pequeno de auxiliares civis e militares em algunspostos chaves, Getúlio se empenhou em consolidar o Estado Novo. A vidapolítica do país, nesse período, foi intensamente dominada por sua presença.Nascia o “pai dos pobres”.

6

Page 46: História do Brasil - Volume 2

25A U L AO Estado Novo caracterizou-se pela consolidação de uma tendência à

centralização política que se anunciava desde os anos 20 e que, ao longo doperíodo, foi ganhando forma.

No Brasil, o Estado Novo foi a concretização desse caminho autoritário ecentralizador, em boa parte distante do jogo político tradicional e das forçassociais. O novo regime aumentou a presença do poder público na economia, coma legislação trabalhista, a criação de inúmeros órgãos de política econômica e asprimeiras empresas estatais, a exemplo da Companhia Siderúrgica Nacional.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver seu significado, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.

l.l.l.l.l. Releia Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934 e identifique asprimeiras medidas de Getúlio ao assumir o governo provisório em 1930.

2.2.2.2.2. Releia Do governo provisório à Constituição de Do governo provisório à Constituição de Do governo provisório à Constituição de Do governo provisório à Constituição de Do governo provisório à Constituição de 19191919193434343434 e retire do textoo trecho que trata das primeiras medidas do governo para regulamentaras relações trabalhistas.

3.3.3.3.3. Releia Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934Do governo provisório à Constituição de 1934 e identifique astrês inovações da Lei Eleitoral de l934.

4.4.4.4.4. Releia A radicalização do processo político.. .A radicalização do processo político.. .A radicalização do processo político.. .A radicalização do processo político.. .A radicalização do processo político.. . e explique o que era aANL e quais as razões de sua criação.

5.5.5.5.5. Releia O golpe de 37 e o Estado NovoO golpe de 37 e o Estado NovoO golpe de 37 e o Estado NovoO golpe de 37 e o Estado NovoO golpe de 37 e o Estado Novo e responda: o que foi o PlanoCohen?

6.6.6.6.6. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

“Nos períodos de crise, como o que atravessamos, a democracia departidos, em lugar de oferecer segura oportunidade de crescimen-to e de progresso (...) ameaça a unidade pátria e põe em perigo aexistência da Nação (...) A organização constitucional de 1934,vazada nos moldes clássicos do liberalismo e do sistema represen-tativo evidenciara falhas lamentáveis...”Trechos da Proclamação ao povo brasileiroProclamação ao povo brasileiroProclamação ao povo brasileiroProclamação ao povo brasileiroProclamação ao povo brasileiro, lida por Getúlio Vargas eirradiada para todo o país na noite de 10 de novembro de 1937.

Com esse discurso, Getúlio inaugurava o Estado Novo, que se implan-tava contra a “democracia de partidos” ou o “sistema representativo”.

A partir deste documento e com base no texto desta aula, destaquealgumas características do sistema representativo na Constituição de 1934que foram abolidas pela Constituição outorgada de 1937.

6

O temponão pára

Exercícios

Page 47: História do Brasil - Volume 2

26A U L A

26A U L A

MÓDULO 7

Nesta aula

Crescimento urbanoe industrial dos anos 20ao Estado Novo

O café foi o principal produto de exportaçãodurante a República Velha. Os cafeicultores detinham o controle da economia edo governo. No entanto, a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918),enquanto a cafeicultura passava por dificuldades, a atividade industrial sedesenvolvia. Nesta aula vamos saber que modificações ocorreram na economia,nos anos 20 e 30 e que fatores as determinaram.

Mudanças na economia

Você sabe quais são os setores da economia? São três: primário, secundárioe terciário. O setor primáriosetor primáriosetor primáriosetor primáriosetor primário é aquele que desenvolve atividades rurais e deextração, destacando-se a agropecuária. O setor secundáriosetor secundáriosetor secundáriosetor secundáriosetor secundário é composto pelasindústrias. Já o setor terciáriosetor terciáriosetor terciáriosetor terciáriosetor terciário reúne o comércio e a prestação de serviços.

Até o final da República Velha, o setor primário predominava na economiabrasileira. Café, borracha, açúcar, cacau e algodão, voltados para a exportação,eram lucrativos, mas dependiam da situação econômica e financeira dos nossosprincipais compradores: a Europa e os Estados Unidos.

O setor secundário, também dependente de países estrangeiros, ainda erainsignificante. Nossas indústrias limitavam-se à produção de bens de consumobens de consumobens de consumobens de consumobens de consumocomo alimentos, calçados e roupas. Para produzi-los, o país precisava importaros bens de capitalbens de capitalbens de capitalbens de capitalbens de capital, que são as máquinas e os equipamentos necessários àfabricação dos bens ou produtos para o consumo da população.

Para garantir a manutenção dos lucros dos fazendeiros de café, o governocontraía empréstimos em outros países, para a compra da produção excedente.Isso provocava a desvalorização da moeda e dificultava a compra, pela popula-ção, de produtos importados.

Assim, a indústria nacional − principalmente a de alimentos e a de tecidos− foi se desenvolvendo para atender ao mercado interno.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o número de fábricas quase dobrou,passando de 7 mil, em 1914, para 13 mil, em 1920.

Um dos fatores que contribuiram para o desenvolvimento industrial noBrasil foi o rápido crescimento das cidades. O aumento da população nos centrosurbanos incentivou a procura de bens de consumo e, com isso, tambémaumentou a necessidade de se conseguir mais matérias-primas, máquinas eequipamentos para produzi-los.

Page 48: História do Brasil - Volume 2

26A U L AComo vimos em outras aulas, o estímulo ao desenvolvimento industrial já

era uma tendência durante e após a Primeira Guerra Mundial, mas foi com a crisede 1929 que a indústria brasileira começou a crescer.

A crise econômico-financeira mundial de 1929

A crise econômica de 1929 resultou de um processo mundial de superpro-dução industrial e agrícola, acompanhado de sérios problemas financeiros.Iniciada nos Estados Unidos, ela atingiu, de forma altamente destrutiva, todo osistema capitalista.

Lei da oferta e da procura

Para compreender uma crise de superprodução, precisamos conhecer ummecanismo básico da economia capitalista: a lei da oferta e da procuralei da oferta e da procuralei da oferta e da procuralei da oferta e da procuralei da oferta e da procura. Paraque a economia funcione normalmente, deve haver equilíbrio entre a quantida-de de bens produzidos e a procura pelos consumidores. Quando há uma ofertamuito maior do que a procura, ocorre a superprodução. Apesar de haver umaqueda dos preços, a produção é tão grande que o mercado não tem condições deconsumir todos esses produtos. Com isso, a mercadoria fica “encalhada”,provocando sérios problemas.

A crise econômica norte-americana − e, logo depois, a crise internacional −tem várias explicações.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos expandiram suaprodução para suprir os países em guerra, bem como os mercados periféricosaos quais eles atendiam. Como entrou no conflito somente em 1917, e não sofreudestruição por ataques em seu território, os Estados Unidos lucraram com aguerra por causa das exportações, pelos empréstimos para a reconstrução daEuropa e, principalmente, pela conquista de novos mercados. Foi assim queassumiram a liderança do mundo capitalista.

O Brasil, por exemplo, deixou de ser dependente da Inglaterra e passoupara a esfera de dominação norte-americana.

O grande desenvolvimento tecnológico, com máquinas cada vez maissofisticadas, resultou no aumento da produção e da acumulação de capital pelasgrandes empresas. Com máquinas que produziam mais, tornou-se desnecessá-

O desenvolvimentoO desenvolvimentoO desenvolvimentoO desenvolvimentoO desenvolvimentourbano trouxeurbano trouxeurbano trouxeurbano trouxeurbano trouxemodernidades:modernidades:modernidades:modernidades:modernidades:primeiro, o bondeprimeiro, o bondeprimeiro, o bondeprimeiro, o bondeprimeiro, o bondepuxados por burros;puxados por burros;puxados por burros;puxados por burros;puxados por burros;depois, o bondedepois, o bondedepois, o bondedepois, o bondedepois, o bondeelétrico.elétrico.elétrico.elétrico.elétrico.

Page 49: História do Brasil - Volume 2

26A U L A rio manter tantos operários e, por isso, aumentou o desemprego. Porém, as

empresas que não possuíam máquinas modernas produziam menos e vendiammais caro e, assim, acabaram falindo ou sendo compradas pelas maiores.

Por sua vez, as grandes empresas reinvestiram seus lucros no aumento daprodução até que, por causa do desemprego e da saturação do mercado, ocorreuuma crise de superprodução, ou seja, as indústrias começaram a produzir maisdo que as pessoas conseguiam consumir.

Todo esse processo de superprodução industrial foi acompanhado de umrápido crescimento agrícola, maior até que o crescimento industrial.

Falências, desemprego e diminuição do poder aquisitivo levaram o pânicoà sociedade norte-americana.

No dia 24 de outubro de 1929 ocorreu a quebra (crack, em inglês) da bolsade valores de Nova York (onde as ações das empresas eram negociadas). A crisetornou-se total e arrastou todo o sistema capitalista.

Em conseqüência, a produção agrícola e industrial caiu em todo o mundo.Os países industrializados diminuiram as importações e os empréstimos decapital aos países dependentes, como o Brasil.

E a superprodução de café?

No Brasil, a produção de café ultrapassou o consumo mundial. Com a crisede 29, os estoques ficaram encalhados, sem ter compradores. Isso elevou osprejuízos de muitos cafeicultores e causou o desemprego de inúmeros colonosque trabalhavam nas fazendas de café. Toda a economia agrícola voltada paraexportação foi atingida pela diminuição dos preços de produtos como o açúcar,o cacau e o algodão, além do café.

Ao governo e aos empresários no Brasil, a crise de 29 revelou a fragilidadede nossa economia agro-exportadora (baseada na agricultura para exportação)e mostrou a necessidade de se favorecer o desenvolvimento da indústrianacional e a diversificação da economia. A superação dessa crise se deu, no Brasile no mundo, pela crescente intervenção do Estado na economia.

Para manter osPara manter osPara manter osPara manter osPara manter ospreços depreços depreços depreços depreços de

exportação dasexportação dasexportação dasexportação dasexportação dassacas de café, osacas de café, osacas de café, osacas de café, osacas de café, o

governo compravagoverno compravagoverno compravagoverno compravagoverno compravatudo quetudo quetudo quetudo quetudo que

conseguia e...conseguia e...conseguia e...conseguia e...conseguia e...queimava!queimava!queimava!queimava!queimava!

Page 50: História do Brasil - Volume 2

26A U L ADesenvolvimento industrial com ajuda e proteção do Governo

A crise de 29 abalou a estrutura econômica da República. A queda dos preçosdo café, a retração do mercado externo e a diminuição dos empréstimos decapitais determinaram, a partir da Revolução de 1930, a intervenção do Estadocomo agente de equilíbrio e diversificação da economia.

Isso significa que a política econômica iniciada com a Revolução de 30 nãodesprezou o poder e a influência das oligarquias cafeeiras. Não podemosesquecer que o café era o principal produto de exportação. Porém, ao mesmotempo em que o Governo buscava soluções para o problemas do café, davaatenção a outros produtos, como o açúcar, a borracha, o cacau, o leite, e adotavauma política de incentivo à indústria nacional

A partir de 1930, e principalmente a partir de 1937, o governo Vargas lançouas bases de um novo pacto político, que buscava conciliar os interesses dossetores dominantes rurais (as oligarquias agrárias) com os interesses dos setoresdominantes urbanos (os empresários industriais), em nome de um projeto deindustrialização.

Para o Governo Vargas, era preciso promover a industrialização paragarantir a segurança nacional e o desenvolvimento econômico do país.

Assim, o Estado passou a proteger as atividades industriais com uma sériede medidas. Por exemplo: facilitou o fornecimento de empréstimos bancários àsindústrias, baixou os impostos sobre bens e equipamentos industriais e favore-ceu a importação de combustíveis, máquinas e equipamentos de transporte.

O Estado empresário

Com a implantação do Estado Novo, em 1937, o Governo Vargas adotouuma política econômica mais direta, criando algumas indústrias estatais de bensde capital ou de “transformação” (ou seja, aquelas que transformam a matéria-prima a ser utilizada na fabricação de produtos), a fim de criar a base necessáriaao desenvolvimento da indústria nacional.

A partir de 1941, com financiamento norte-american0, o governo foi inaugu-rando sucessivamente a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Valedo Rio Doce, a Companhia Nacional de Álcalis e a Fábrica Nacional de Motores.

Com o objetivo de criar a infra-estrutura necessária ao desenvolvimentodessas e de outras indústrias, o governo aperfeiçoou o transporte marítimo paratrazer o carvão de Santa Catarina e equipou a Estrada de Ferro Central do Brasilpara transportar o minério extraído em Minas Gerais, onde passou a funcionara Companhia Vale do Rio Doce.

Outra medida importante foi a criação do Conselho Nacional de Petróleoque passou a controlar a refinação e a distribuição de combustíveis.

6De acordo com o que estudamos nesta aula, a industrializacão brasileira foi

uma meta de governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945). Nesse período,foram criadas as condições para a implantacão das indústrias de base, favorecen-do a diversificação da produção industrial. Esse processo continuaria nos anosseguintes. Mas, apenas nos anos 50, o Brasil deixaria efetivamente de ser um paísagrário, tornando-se predominantemente urbano e industrial.

O temponão pára

Page 51: História do Brasil - Volume 2

26A U L A Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Mudanças na economiaMudanças na economiaMudanças na economiaMudanças na economiaMudanças na economia e diga o que significa:a)a)a)a)a) indústrias de bens de consumo;b)b)b)b)b) indústrias de bens de capital;

2.2.2.2.2. Releia A crise econômico financeira mundial de 1929A crise econômico financeira mundial de 1929A crise econômico financeira mundial de 1929A crise econômico financeira mundial de 1929A crise econômico financeira mundial de 1929 e faça o que se pede:a)a)a)a)a) sublinhe a frase que define o que vem a ser crise de superproducão.b)b)b)b)b) faça um círculo ao redor do parágrafo que explica o que aconteceu com

a produção do café brasileiro, após a crise de 1929.c)c)c)c)c) extraia do texto a frase que demonstra o que a situação decorrente da crise

de 1929 revelou ao governo e aos empresários brasileiros.

3.3.3.3.3. Releia Desenvolvimento industrial com ajuda e proteção do GovernoDesenvolvimento industrial com ajuda e proteção do GovernoDesenvolvimento industrial com ajuda e proteção do GovernoDesenvolvimento industrial com ajuda e proteção do GovernoDesenvolvimento industrial com ajuda e proteção do Governo ediga quais foram as medidas que o governo Vargas tomou, a partir de 1930,com o objetivo de proteger a indústria nacional.

4.4.4.4.4. Releia O Estado empresárioO Estado empresárioO Estado empresárioO Estado empresárioO Estado empresário e diga quais as indústrias criadas pelo governoVargas, após a implantação do Estado Novo.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

“Já não somos um país exclusivamente agrário. Não vamos continuaresmagados pelo peso das compras de produtos industriais no exterior!Ferro, carvão e petróleo são a base da emancipação econômica dequalquer país. Produziremos tudo isso e muito mais.”

Esse trecho de um discurso do presidente Getúlio Vargas fala sobre umaimportante meta de seu governo: a industrialização do país. Freqüentementeos discursos do presidente Vargas falavam da necessidade de tornar a nossaeconomia independente das exportações. Sobre o assunto, responda:

1.1.1.1.1. De acordo com o discurso do presidente Vargas, qual era o peso que esma-gava a economia brasileira?

2.2.2.2.2. De acordo com o discurso do presidente Vargas, que produtos constituíama base da emancipacão, quer dizer, da libertação econômica de um país?

3.3.3.3.3. Qual era o projeto econômico do presidente Vargas para o Brasil?

6

Exercícios

Page 52: História do Brasil - Volume 2

27A U L A

Arte e cultura(1920-1942)

Nesta aula

27A U L A

MÓDULO 7

Como já vimos, o debate intelectual e asmanifestações artísticas, a partir da década de 1920, preocupavam-se em revelarpara as elites o rosto e a alma do povo brasileiro. Essa tendência representavauma crítica à república oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquica que sempre desprezara o povo brasileiro,não reconhecendo seus protestos e seus direitos.

Conhecer o que se conseguiu revelar sobre o povo brasileiro e quais foramas novas formas de relacionamento entre Estado e povo, estabelecidas duranteo período 1920-1942, constituem os objetivos desta aula.

A Semana de Arte Moderna: o Brasil como obra de arte

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) provocou um forte impacto sobreos intelectuais brasileiros, mudando a maneira de se pensar o Brasil. Ao finaldessa guerra, a destruição da Europa revelou a fraqueza da civilização que os

intelectuais brasileiros da Pri-meira República queriam se-guir como modelo.

Restava, portanto, voltaros olhos para nossas própriasraízes. A vergonha que se ti-nha do povo brasileiro, pornão ser como o povo europeu,passou a ser questionada. Omodelo europeu, que antesera tido como perfeito, reve-lara-se frágil e decadente.

Com as privaçõesCom as privaçõesCom as privaçõesCom as privaçõesCom as privaçõesda Primeirada Primeirada Primeirada Primeirada PrimeiraGuerra Mundial,Guerra Mundial,Guerra Mundial,Guerra Mundial,Guerra Mundial,o Brasil aumentouo Brasil aumentouo Brasil aumentouo Brasil aumentouo Brasil aumentouseu parqueseu parqueseu parqueseu parqueseu parqueindustrial.industrial.industrial.industrial.industrial.

Page 53: História do Brasil - Volume 2

27A U L A A intelectualidade brasileira promoveu, em 1922, em São Paulo, a SemanaSemanaSemanaSemanaSemana

de Arte Modernade Arte Modernade Arte Modernade Arte Modernade Arte Moderna. Expondo quadros, recitando poesias, fazendo apresentaçõesmusicais etc., os artistas participantes revelaram ao público que era possívelfazer uma arte moderna (e, portanto, em dia com as novas tendências européias)verdadeiramente nacional. Com esse espírito, os modernistas trouxeram temáticasnacionais para o centro de suas obras, valorizando o povo brasileiro.

A Semana de 22 foi um escândalo, pois rompeu com velhas fórmulas a quetodos estavam acostumados, modificando a linguagem, as formas de expressãovisual, o gosto musical, contestando todas as regras existentes. O poeta Oswaldde Andrade, por exemplo, se recusava a usar a linguagem pomposa, apreciadapela elite, adotando uma linguagem simples, cheia de gírias e expressõespopulares, como podemos ver neste poema:

No Baile da CorteFoi o Conde d‘Eu quem dissePra Dona BenvindaQue farinha de suriPinga de ParatiFumo de BaependiÉ comê, bebê, pitá e caí.

A Semana de 22 contribuiu para que a arte brasileira ganhasse característi-cas próprias, mostrando cenas típicas da paisagem e do povo brasileiro. Assim,enquanto Cândido Portinari pintava cenas dos retirantes da seca, Di Cavalcantiretratava as mulatas brasileiras e Tarsila do Amaral mostrava os rostos da classeoperária em frente às chaminés da grande indústria (ver Volume 1, pág. 84).

Mulata com gatoMulata com gatoMulata com gatoMulata com gatoMulata com gatopretopretopretopretopreto, quadro de, quadro de, quadro de, quadro de, quadro de

Di Cavalcanti.Di Cavalcanti.Di Cavalcanti.Di Cavalcanti.Di Cavalcanti.

Page 54: História do Brasil - Volume 2

27A U L AA literatura buscava nossas raízes históricas. O índio, o caipira, o negro, os

trabalhadores do campo e da cidade passaram a ocupar o primeiro plano dosromances publicados pelos modernistas. Foi assim com o personagem que deunome ao livro de Mário de Andrade, MacunaímaMacunaímaMacunaímaMacunaímaMacunaíma, publicado em 1928.

Macunaíma representava a síntese do Brasil: nasce negro, mas se comportacomo índio e, em determinado momento de sua história, torna-se branco porefeito de magia. Viajando por diversas regiões do Brasil, Macunaíma consegueadaptar-se a todos os hábitos (do norte e do sul, do campo e da cidade).Apresentando-se como a mistura de todos os elementos do povo brasileiro,Macunaíma encarna o herói (ou anti-herói) nacional, ou seja : o homem comum.

Outros escritores chamaram a atenção para os graves problemas nacionais.O baiano Jorge Amado publicou livros enfatizando a vida dos pescadores e dosplantadores de cacau ou dos meninos de rua de Salvador. Merece destaque aobra de Graciliano Ramos, Vidas SecasVidas SecasVidas SecasVidas SecasVidas Secas, publicada em 1938. O livro relata a duravida do sertanejo nordestino, maltratado pela seca e pela falta de perspectivas.

Durante aqueles anos, como definia Oswald de Andrade, “Tupy or notTupy”, ou seja, “ser ou não ser brasileiro” era a grande questão. Conhecer obrasileiro comum e com ele se identificar estava no centro das preocupações dosintelectuais. Desistia-se de tentar ser “europeu”.

Assim, a agitação intelectual que marcou o período foi algo mais do que umsimples movimento de idéias. Ela foi também um movimento político quecontestava o velho governo e as velhas regras que predominaram até os anos 20,contribuindo para reforçar o sentimento de urgência, de crítica à omissão doEstado na solução dos problemas nacionais.

Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Revolução de 30

A Revolução de 30 representou, para essa elite intelectual, a oportunidadede ampliar sua participação na vida política brasileira. Atento a toda essamovimentação, o chefe de governo recém-empossado, Getúlio Vargas, aproxi-mou-se desses intelectuais e incorporou muitos deles ao seu governo, dando-

Batizado deBatizado deBatizado deBatizado deBatizado deMacunaímaMacunaímaMacunaímaMacunaímaMacunaíma,,,,,quadro de Tarsilaquadro de Tarsilaquadro de Tarsilaquadro de Tarsilaquadro de Tarsilado Amaral.do Amaral.do Amaral.do Amaral.do Amaral.

Page 55: História do Brasil - Volume 2

27A U L A

lhes importantes cargos na administração pública. E Vargas procurou mantersob seu controle as demais manifestações culturais da população brasileira, a fimde facilitar uma maior aproximação de seu governo com as camadas populares.Um bom exemplo disso foi a oficialização do carnaval.

Desde o século XVIII, quando foi introduzido no Brasil, o carnaval era umadas mais importantes manifestações culturais do povo brasileiro. Até 1930, oEstado não se intrometia nos três dias de festa, embora as escolas de samba nãotivessem obtido da polícia, até 1933, licença para realizar seus desfiles. Duranteo governo Vargas, essa situação foi modificada com a criação dos departamentosde turismo nos estados.

A partir de 1933, o carnaval da cidade do Rio de Janeiro passou a serprogramado pela Prefeitura, em seu Departamento de Turismo. Esse órgãoficava responsável pela organização dos desfiles de corso, ranchos e blocos,pelas batalhas de confete, pelos bailes e pelos banhos de mar à fantasia.

Como resultado dessa medida, ao longo dos anos 30, um novo espetáculodo carnaval carioca foi ganhando forma: o desfile das escolas de samba. No go-verno Vargas, essas agremiações representaram importante canal de comunica-ção com as camadas pobres. Tanto que, em 1933, diante da ameaça de despejode 7 mil moradores do morro do Salgueiro, a escola azul e branca chefiou a luta,intercedendo junto ao governo, que deu ganho de causa aos moradores.

Pouco a pouco, o samba foi ganhando destaque no cenário musical. Oaumento do número de estações de rádio e a difusão das gravações em discocontribuíram de forma decisiva, desde os anos 20, para o sucesso de artistas quevinham das camadas populares urbanas. Nos anos 30, alguns músicos já eramídolos populares, entre eles, Noel Rosa, Francisco Alves, Vicente Celestino,Carmem Miranda e Araci de Almeida, além de Orlando Dias, conhecido comoo “cantor das multidões”.

Censura e propaganda: a política cultural do Estado Novo

Desde 1937, com o estabelecimento do Estado Novo, o governo Vargaspassou a controlar a produção cultural brasileira. Tudo aquilo que o governoconsiderava prejudicial à sua imagem era censurado. Mas divulgou e atéoficializou as manifestações culturais que podiam legitimar o governo e promo-ver sua aproximação com a população.

TropicaTropicaTropicaTropicaTropicalllll, quadro, quadro, quadro, quadro, quadrode Anita Malfati.de Anita Malfati.de Anita Malfati.de Anita Malfati.de Anita Malfati.

Page 56: História do Brasil - Volume 2

27A U L APara atingir tal objetivo, o governo criou o Departamento de Imprensa e

Propaganda, o DIP, com a função de controlar os meios de comunicação e asmanifestações populares, além de promover manifestações culturais com opatrocínio do Estado. Entre as ações do DIP destaca-se a censura a jornais, livrose músicas considerados prejudiciais ao governo.

No rádio, foi criada a Hora do BrasilHora do BrasilHora do BrasilHora do BrasilHora do Brasil, que passou a transmitir diariamente,das 19 às 20 horas, notícias sobre as realizações do governo. Para firmar umaimagem favorável perante a população, o Estado Novo criou o Dia da MúsicaPopular Brasileira (3 de janeiro). Nesse dia, músicos de destaque (que nãotinham suas músicas censuradas) eram chamados para participar das comemo-rações promovidas pelo governo. Na década de 1930, o rádio já era um fenômenode massa, cujas informações alcançavam a mais ampla divulgação, o quejustificou a intervenção do governo nesse veículo de comunicação.

Com relação à política educacional, o governo Vargas ampliou a redepública de ensino, criando os cursos secundários e os profissionalizantes. Datamdessa época, também, as primeiras universidades: Universidade de São Paulo(USP), estadual, e a Universidade do Distrito Federal (UDF), federal, que setransformaria na Universidade do Brasil.

A nova rede de escolas era controlada diretamente pelo Ministério daEducação e da Saúde, que determinava que o ensino fosse feito em línguaportuguesa e obedecesse aos currículos elaborados para todo o país.

Complementando essas medidas foi organizada a Comissão Nacional doLivro Escolar, com o objetivo de editar livros didáticos e de censurar aqueles queexpressavam “pessimismo ou dúvida quanto ao futuro da raça brasileira”. Aeducação física e o canto orfeônico tornaram-se obrigátorios em todas as escolasdo país. Tais medidas permitiram que as datas cívicas, como os dias daIndependência, do trabalho, da proclamação da República, da bandeira etc.,passassem a ser comemorados com grandes desfiles, animados por corais eespetáculos coreográficos, que exaltavam a “grandeza” do Estado Novo.

6

À medida que se agravava a crise da república oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquicarepública oligárquica, os intelectuaisforam ganhando cada vez mais importância no cenário nacional, contribuindocom suas idéias e, ao mesmo tempo, atuando junto ao Estado nas novasinstituições que se criavam. A partir da Revolução de 30, a presença dosintelectuais na esfera do poder político tornou-se cada vez mais intensa. Por suavez, o processo de centralização política e de intervenção do Estado em todos ossetores da vida nacional, inclusive no campo cultural e intelectual, atingiu o augecom a implantação do Estado Novo em 1937.

Como veremos em aulas posteriores, novas transformações políticas, comoa redemocratização do país, aliadas a outros acontecimentos, como o surgimentoda televisão, iriam provocar mudanças profundas no quadro cultural brasileiro.

O temponão pára

Page 57: História do Brasil - Volume 2

27A U L A Relendo o texto

Releia o texto da aula e procure as palavras que você não entendeu, novocabulário da Unidade ou no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia a poesia de Oswald de Andrade, (em A Semana de Arte ModernaA Semana de Arte ModernaA Semana de Arte ModernaA Semana de Arte ModernaA Semana de Arte Moderna:o Brasil como obra de arteo Brasil como obra de arteo Brasil como obra de arteo Brasil como obra de arteo Brasil como obra de arte) e procure concluir por que a elite paulistaficou escandalizada com aquela linguagem.

2.2.2.2.2. Dentre os livros publicados nas décadas de 1920 e 1930 (citados em A Se-A Se-A Se-A Se-A Se-mana de Arte Moderna de 1922...mana de Arte Moderna de 1922...mana de Arte Moderna de 1922...mana de Arte Moderna de 1922...mana de Arte Moderna de 1922...) selecione aquele cujo assunto vocêconsidera mais interessante. Justifique sua resposta.

3.3.3.3.3. Retire do texto de Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Re-Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Re-Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Re-Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Re-Intelectuais, foliões e sambistas no contexto da Re-volução de 30volução de 30volução de 30volução de 30volução de 30 o trecho que revela o motivo do interesse do governo Vargasem oficializar o carnaval.

4.4.4.4.4. Retire do texto de Censura e propaganda: a política cultural do EstadoCensura e propaganda: a política cultural do EstadoCensura e propaganda: a política cultural do EstadoCensura e propaganda: a política cultural do EstadoCensura e propaganda: a política cultural do EstadoNovoNovoNovoNovoNovo as atividades mais perseguidas pela censura do Departamento deImprensa e Propaganda (DIP) do Estado Novo.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Tupy or not TupyEis a questão

Estes versos de Oswald de Andrade fazem uma paródia (uma imitaçãoengraçada) de um famoso verso do escritor inglês William Shakespeare: Tobe or not to be/This is the question (que se lê mais ou menos assim: “tu bior not tu bi/dis is de qüéstion”; e quer dizer: “Ser ou não ser/Eis a questão”).

O nome “tupy” identifica um dos povos indígenas nativos do Brasil −aquele que habitava o litoral na época da chegada dos portugueses. O quevocê acha que o escritor modernista queria dizer com esses versos?

6

Exercícios

Page 58: História do Brasil - Volume 2

28A U L A

Estado e sociedade(1920-1942)

A década de 30 caracterizou-se por uma mu-dança nas relações entre o Estado, as classes trabalhadoras e os empresários.

O Estado, atuando como árbitro das questões que envolviam patrões eempregados, aprovou várias leis trabalhistasleis trabalhistasleis trabalhistasleis trabalhistasleis trabalhistas que se consolidaram comodireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociais conquistados pelos trabalhadores, mas nem sempre eramplenamente aceitos pelos empresários.

Nesta aula vamos buscar compreender as mudanças que ocorreram nasrelações entre Estado, empresários e trabalhadores, nesse período marcado pelaimplantação do corporativismo sindical.

Em busca do pacto social: 1930-1935

As classes trabalhadoras receberam a vitória da Revolução de 30 comesperançosa alegria. O novo governo se propunha a realizar as reformaseconômicas, sociais e políticas necessárias ao país. Para Getúlio Vargas, osproblemas morais e materiais da vida moderna exigiam a ação do Estado,“ obrigando-o a intervir mais diretamente como órgão de coordenação e dire-ção” na vida econômica e social.

A partir da Revolução de 30, podemos dividir em duas fases a ação do Estadoem relação às classes trabalhadoras. A primeira fase, de 1930 a 1935, caracteri-zou-se por ampla atividade legislativa e pela reformulação de pontos importan-tes da legislação. A segunda fase, de 1935 a 1942, foi marcada pela repressão,associada ao processo de integração dos sindicatos ao Estado.

A criação do Ministério do Trabalho, em novembro de 1930, foi o primeirosinal do novo governo para demonstrar que encarava a questão social demaneira diferente. Os órgãos de representação operária, que até 1930 tiveramvida e organização autônomas, passaram a ser regulamentados pela novalegislação sindical.

Em março de 1931, a Lei de Sindicalização regulamentou os sindicatospatronais e operários e definiu o sindicato como órgão consultivo e de colabo-colabo-colabo-colabo-colabo-ração com o poder públicoração com o poder públicoração com o poder públicoração com o poder públicoração com o poder público. Com ela surgiram os representantes do Ministériocom a função de assistir às assembléias e examinar as finanças das organizações.

Para receber os benefícios da legislação social era preciso que os sindicatosfossem reconhecidos pelo Ministério. Por isso, com o objetivo de combater ossindicatos independentes, o Estado tentou trazer as associações operárias para

Nesta aula

28A U L A

MÓDULO 7

Page 59: História do Brasil - Volume 2

28A U L A perto dele. Vieram as reações dos trabalhadores e do meio empresarial. Em 1931,

apenas 39 sindicatos de trabalhadores encontravam-se reconhecidos em todo opaís. No ano seguinte, o número subiu para 116. Mas esses números erampequenos se comparados ao número de sindicatos existentes. Assim, as organi-zações independentes resistiram, denunciaram, mas também fizeram grevesexigindo que os patrões cumprissem os direitos sociais.

O ano de 1933 trouxe algumas mudanças. A repressão aos sindicatosdiminuiu. Paralelamente, o governo regulamentou a Lei de Férias e instituiu acarteira profissional (1932). Esse documento passou a ser necessário tanto paraa associação em um sindicato quanto para o direito de férias e a apresentação dequeixas ao Ministério. Tratava-se de um instrumento de controle, mas tambémde uma garantia dos direitos. As antigas carteiras emitidas pelos sindicatosdeixaram de ter validade.

Os comunistas, mesmo atuando no interior dos sindicatos ligados aoMinistério, procuravam sustentar a política independente da classe operária,tentando manter sua autonomia a todo custo. Aproveitando-se do clima de“abertura”, gerado pela convocação da Assembléia Constituinte, conseguirameleger um representante ligado ao Partido Comunista Brasileiro.

Os empresários industriais tiveram no período 1930-32 uma posição hostilem relação ao Governo, que aos poucos foi se transformando em apoio.

Desde 1933, a tendência dominante passou a ser a aproximação com oGoverno, principalmente por intermédio da Federação das Indústrias do Estadode São Paulo − FIESP, apoiada pela Confederação Nacional da Indústria − CNIe pela Federação das Indústrias de Minas Gerais − FIMG. No período 1933-34,em São Paulo, a sindicalização das classes patronais cresceu bastante.

Além disso, a FIESP era permanentemente consultada pelo Ministério doTrabalho para fornecer auxílio aos anteprojetos de leis sociais. Nesse processo,era comum a atuação do patronato no sentido de atrasar ao máximo a regula-mentação de algumas leis. A reforma da Lei de Acidentes do Trabalho, prevendoindenizações, por exemplo, levou alguns anos até ser regulamentada em 1935.O mesmo aconteceu com a Lei de Férias.

O operariado seO operariado seO operariado seO operariado seO operariado seunia em seusunia em seusunia em seusunia em seusunia em seus

poderosospoderosospoderosospoderosospoderosossindicatossindicatossindicatossindicatossindicatos

Page 60: História do Brasil - Volume 2

28A U L AAo mesmo tempo em que aderiam à estrutura sindical corporativa oficial,

os industriais buscavam influenciar a política econômica do governo. A partici-pação de empresários em institutos, comissões e conselhos criados pelo governoforam exemplos dessa tentativa.

A Constituição aprovada em julho de 1934 confirmou o espírito corpora-tivista até então adotado, prevendo a regulamentação de todas as profissões.Foram estabelecidas diversas medidas, tais como o salário mínimo, a jornada deoito horas, férias anuais e a Justiça do Trabalho. O direito de greve, no entanto,não foi reconhecido. Consagraram-se, entretanto, os princípios do pluralismo eda autonomia sindical, contrários à política governamental, mas que atendiamàs pressões do patronato.

Em oposição ao espírito que orientou os trabalhos na Assembléia Consti-tuinte, um decreto do Governo reafirmou a vinculação dos sindicatos aoMinistério do Trabalho.

O pluralismo sindical foi limitado pela lei, que o tornava praticamenteinviável. Além disso, muitas correntes do movimento operário eram contra opluralismo, pois achavam que isso dividia suas lutas e reivindicações.

Deste modo, mesmo com a aprovação da Constituição, a tendênciacentralizadora do governo aumentou. O poder central passou a desenvolveruma ação cada vez mais repressiva, embora na própria Constituição estivesseescrito que o Estado era democrático.

Foram feitas intervenções nos sindicatos que reivindicaram ou organizaramgreves, com invasão policial e destruição das sedes, espancamentos e prisões.Na Câmara dos Deputados, as arbitrariedades da polícia eram denunciadas poralgumas lideranças.

A repressão do Ministério do Trabalho, que atuava junto com a polícia, davacores mais fortes à situação. Ao mesmo tempo, as manifestações e os choquesviolentos entre militantes integralistas e comunistas indicavam o grau demobilização e radicalização política da época.

Tempos de silêncio: 1935 - 1942

Em abril de 1935, o Governo lançou a Lei de Segurança Nacional, definindoos crimes contra a ordem política e socialcrimes contra a ordem política e socialcrimes contra a ordem política e socialcrimes contra a ordem política e socialcrimes contra a ordem política e social. Somado a isso, o fechamento daAliança Nacional Libertadora (ANL) e o fracasso da Intentona Comunista, emnovembro, tornaram a repressão implacável e a resistência quase impossível.

Em setembro de 1936, com a criação do Tribunal de Segurança Nacional,ligado à Justiça Militar, prisões se sucederam, sindicatos foram devassados. Asdireções suspeitas foram cassadas e os sindicatos independentes, definitiva-mente fechados. Ao mesmo tempo, o Ministério do Trabalho criou o EstatutoEstatutoEstatutoEstatutoEstatutoPadrãoPadrãoPadrãoPadrãoPadrão que estabeleceu um único modelo de vida associativa dos sindicatos.

Em 1935, inaugurou-se um novo quadro nas relações entre o Estado e asclasses trabalhadoras. A questão socialquestão socialquestão socialquestão socialquestão social passou a ser definida como umaquestão de segurança nacionalquestão de segurança nacionalquestão de segurança nacionalquestão de segurança nacionalquestão de segurança nacional. O alvo maior do discurso oficial acusatórioforam os comunistas. A ação independente dos sindicatos tornou-se impossível.

Um longo período de silêncio iniciou-se em 1935, reforçou-se em 1937 como Estado Novo, e estendeu-se até 1942.

Durante o Estado Novo, em julho de 1939, o Governo estabeleceu uma novalei de sindicalização, aumentando o controle ministerial. Ao mesmo tempo, oEstatuto Padrão foi aperfeiçoado e, com ele, o Ministério passou a ter totalcontrole financeiro dos sindicatos e o poder de administrá-los.

Page 61: História do Brasil - Volume 2

28A U L A No ano seguinte, era lançado o decreto que criou o Imposto SindicalImposto SindicalImposto SindicalImposto SindicalImposto Sindical,

estabelecendo que todo empregado, sindicalizado ou não, pagaria obrigatoria-mente um imposto sindical anual ao seu sindicato, no valor de um dia detrabalho. Esses recursos gigantescos seriam utilizados para tornar os sindicatosatrativos para a maioria teoricamente representada por eles, oferecendo diver-sos serviços como cooperativas de crédito e de consumo, escolas, assistênciamédica, entre outros benefícios.

Depois de controlados os sindicatos, o governo partiu para uma nova açãolegislativa, que incluiu a regulamentação do salário mínimoregulamentação do salário mínimoregulamentação do salário mínimoregulamentação do salário mínimoregulamentação do salário mínimo e da Justiça doTrabalho. Toda essa legislação seria reunida, em 1943, na Consolidação das Leisdo Trabalho (CLT).

6

O Estado brasileiro pós-1930 buscou, com as leis sociais, o estabelecimentode um pacto que se traduzia num acordo em que os trabalhadores trocavam osbenefícios da legislação por obediência política e adesão à proposta oficial. Oacesso aos direitos sociais só era permitido aos trabalhadores legalmentesindicalizados. Esta era uma condição para a cidadania.

No entanto, os trabalhadores e suas lideranças colocaram-se como elemen-tos a serem levados em conta no jogo político. Reivindicaram outras formas decidadania, resistindo ao corporativismo, nas ruas e nos sindicatos, e lutando, aomesmo tempo, dentro dos sindicatos legais vinculados ao Ministério.

O Estado pós-1930, utilizando-se da repressão e do silêncio forçado a partirde 1935, garantiu − apesar de tudo − direitos sociais que atenderam a algumasdas antigas reivindicações do movimento operário. Esses direitos abriramcaminho para uma nova relação entre Estado e classe trabalhadora a partir de1942. Mas isso é assunto para nossas próximas aulas.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade e no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935 e identifique o que a Cons-tituição de 1934 estabeleceu com relação à legislação trabalhista.

2.2.2.2.2. Releia Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935 e responda: Qual a condiçãoestabelecida pelo governo para que os trabalhadores se beneficiassem dalegislação social?

O temponão pára

Exercícios

Page 62: História do Brasil - Volume 2

28A U L A3.3.3.3.3. Releia Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935Em busca do pacto social: 1930-1935 e sublinhe o trecho que trata

da função da carteira profissional para os trabalhadores.

4.4.4.4.4. Releia Tempos de silêncio: 1935 - 1942Tempos de silêncio: 1935 - 1942Tempos de silêncio: 1935 - 1942Tempos de silêncio: 1935 - 1942Tempos de silêncio: 1935 - 1942 e identifique duas característicasda relação Estado-classes trabalhadorasEstado-classes trabalhadorasEstado-classes trabalhadorasEstado-classes trabalhadorasEstado-classes trabalhadoras nesse período.

5.5.5.5.5. Releia Tempos de s i lêncio: 1935 - 1942Tempos de s i lêncio: 1935 - 1942Tempos de s i lêncio: 1935 - 1942Tempos de s i lêncio: 1935 - 1942Tempos de s i lêncio: 1935 - 1942 e explique o que é o ImpostoSindical.

6.6.6.6.6. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Leia este documento com atenção:

Exposição de Motivos que acompanhou a Lei de SindicalizaçãoDecreto Nº 19.770, de 19/03/31.“Com a criação dos sindicatos profissionais moldados em regrasuniformes e precisas, dá-se às aspirações dos trabalhadores e àsnecessidades dos patrões expressão legal normal e autorizada. Oarbítrio, tanto de uns como de outros, gera a desconfiança, é causade descontentamento, produz atritos que estalam em greves elockouts. Os Sindicatos ou Associações de Classe serão os pára-choques dessas tendências antagônicas. Os salários mínimos, osregimes e as horas de trabalho serão assuntos de sua prerrogativaimediata, sob as vistas cautelosas do Estado”.

Este é um trecho da “Exposição de Motivos” em que o Ministro doTrabalho procurava justificar a necessidade da Lei de Sindicalização, queestabelecia um enquadramento da organização e da vida sindical no Estado.

1.1.1.1.1. De acordo com esse documento, quais eram os motivos das greves e lock-outs?

2.2.2.2.2. Como a Lei de Sindicalização definiu os Sindicatos?

3.3.3.3.3. De acordo comesse documento, quem deveria atuar como árbitro dasquestões entre trabalhadores e empresários?

6

Lockout:palavra de origeminglesa, quesignifica�coligação depatrões que, emresposta à ameaçade greve dosfuncionários,fecham seusestabelecimentos�.

Page 63: História do Brasil - Volume 2

29A U L A

Da vida à História

Estamos começando o estudo de mais umperíodo de nossa história recente. Entre 1942 e 1961, o Brasil viveu anos de crise,especialmente crises políticas: a renúncia de Getúlio Vargas e o fim do EstadoNovo (1945), o suicídio de Vargas (1954), os levantes militares contra a posse deJuscelino Kubitschek (1955).

Mas foram também anos de crença e de esperança. Esperança no petróleo,que era nosso, nas cantoras do rádio, que uniam corações de norte a sul, noprogresso de cinqüenta anos em cinco.

Foi, antes de mais nada, um tempo no qual os partidos políticos e ademocracia representativa, pela primeira vez, responderam de fato pelo jogopolítico. Pode-se dizer que, tanto as crises políticas quanto a esperança surgiram,de certo modo, da vivência política dessa novidade.

Anos de crise, anos de crença. Vamos a eles.

6Nesta aula vamos estudar as relações entre o governo e a sociedade da crise

do Estado Novo até o final do segundo governo Vargas (1942-1954). Vamostentar compreender como foi construída a popularidade de Getúlio Vargas, que,mesmo à frente de dois golpes de Estado (em 1930 e 1937) e da ditadura doEstado Novo (1937 a 1945), da qual foi deposto, acabou chegando à Presidênciaem 1950, com maioria absoluta de votos − em eleições livres. Vamos conhecertambém as redefinições legais da cidadania brasileira ocorridas nesse período,a partir da elaboração de uma nova constituição em 1946.

O mundo em guerra

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito armado de grandes proporções,maiores ainda que a Primeira Guerra Mundial, e durou de 1939 a 1945. Seu inícioocorreu a partir de ações expansionistas por parte da Alemanha, governada porAdolf Hitler, sobre países da Europa. Em agosto de 1939, Hitler firmou o PactoPactoPactoPactoPactode Não-Agressãode Não-Agressãode Não-Agressãode Não-Agressãode Não-Agressão com a União Soviética, preparando o ataque alemão à Polônia

Apresentaçãodo Módulo 8

Nesta aula

29A U L A

MÓDULO 8

Page 64: História do Brasil - Volume 2

29A U L Ano mês seguinte. Esse fato, provocou a reação imediata da Inglaterra e da França,

que declararam guerra à Alemanha. Mais tarde, a União Soviética também seapossaria da parte oriental da Polônia.

Em 1940, a Itália entra no conflito ao lado da Alemanha, e o Japão junta-sea essas duas nações, formando a aliança conhecida como EixoEixoEixoEixoEixo. Os países do Eixotinham em comum governos fortes, centralizados e autoritários.

No caso da Alemanha, o pensamento político do governo, além de totalitário(pois pretendia controlar não apenas as ações mas também as opiniões econvicções de todos os alemães), tinha um caráter racista, especialmente emrelação aos judeus, e ficou conhecido como nazismonazismonazismonazismonazismo. Na Itália, governada porMussolini, esse conteúdo totalitário do pensamento político dominante mani-festou-se no fascismofascismofascismofascismofascismo. Por tal razão, há referências à Segunda Guerrra Mundialcomo sendo a luta contra o nazi-fascismonazi-fascismonazi-fascismonazi-fascismonazi-fascismo.

Os Estados Unidos entraram na guerra ao lado da Inglaterra e da França eformou-se assim o grupo dos AliadosAliadosAliadosAliadosAliados, a partir de 1941. A guerra assumiu,então, um caráter de luta contra o totalitarismo e pela liberdadeluta contra o totalitarismo e pela liberdadeluta contra o totalitarismo e pela liberdadeluta contra o totalitarismo e pela liberdadeluta contra o totalitarismo e pela liberdade.

No mesmo ano, a invasão da União Soviética pela Alemanha modificou opanorama da guerra. A partir da agressão alemã, a União Soviética se aproxi-mou dos países Aliados, o que, a curto prazo, representou um dos acontecimen-tos que levariam à derrota dos países do Eixo.

O Brasil havia se declarado neutro e alguns membros do governo de GetúlioVargas (Estado Novo) pareciam simpatizar com as idéias do fascismo italiano.Por causa disso, o país passou a sofrer pressões internas e externas (dos EstadosUnidos) para entrar na guerra junto com os Aliados.

Getúlio Vargas negociou com os norte-americanos um empréstimo e atecnologia para construir a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redon-da, em troca da participação na Segunda Guerra, no que obteve sucesso. Aconcordância norte-americana em financiar Volta Redonda resultou de fatoresde natureza política. Entre as formas de colaboração que os Estados Unidosreceberiam do Brasil, estava a utilização de bases aéreas em alguns estados doNordeste, para as tropas norte-americanas.

Este quadro, queEste quadro, queEste quadro, queEste quadro, queEste quadro, quemostra Getúliomostra Getúliomostra Getúliomostra Getúliomostra GetúlioVargas com oVargas com oVargas com oVargas com oVargas com opresidente norte-presidente norte-presidente norte-presidente norte-presidente norte-americanoamericanoamericanoamericanoamericanoRoosevelt, fazRoosevelt, fazRoosevelt, fazRoosevelt, fazRoosevelt, fazlembrar que, paralembrar que, paralembrar que, paralembrar que, paralembrar que, paraentrar na guerra, oentrar na guerra, oentrar na guerra, oentrar na guerra, oentrar na guerra, oBrasil obteveBrasil obteveBrasil obteveBrasil obteveBrasil obtevefinanciamentofinanciamentofinanciamentofinanciamentofinanciamentopara construir apara construir apara construir apara construir apara construir aCompanhiaCompanhiaCompanhiaCompanhiaCompanhiaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaNacional.Nacional.Nacional.Nacional.Nacional.

Page 65: História do Brasil - Volume 2

29A U L A Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália e, dois anos

depois, enviou uma força composta por soldados brasileiros: a FEB (ForçaExpedicionária Brasileira), à Europa. A importância desse fato para os rumos daHistória do Brasil é o motivo de marcarmos 1942 como o início desta aula.

Esta canção foi feita em homenagem aos soldados brasileiros − conhecidoscomo “pracinhas” − que foram lutar na Segunda Guerra Mundial.

Por mais terras que percorraNão permita Deus que eu morraSem que volte para láSem que leve por divisaEsse V que simbolizaA vitória que virá.Nossa vitória finalQue é mira do meu fusilA ração do meu bornalA água do meu cantilAs asas do meu idealA glória do meu Brasil(...)Canção do ExpedicionárioCanção do ExpedicionárioCanção do ExpedicionárioCanção do ExpedicionárioCanção do Expedicionáriode Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi

A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, com a vitória dos Aliados.Após a guerra, começou a acontecer uma disputa entre os Estados Unidos e aUnião Soviética por áreas de influência no mundo. Foi o período da GuerraGuerraGuerraGuerraGuerraFriaFriaFriaFriaFria, assim chamado porque, apesar do clima de conflito, não havia confrontoarmado entre as duas potências.

A invenção do trabalhismo

“ No sentimento dos trabalhadores brasileiros, a palavra do presidenteVargas tem uma ressonância mais profunda que todas as outras. É a voz de umamigo. É o ensinamento de um guia.” (trecho do discurso de AlexandreMarcondes Filho, ministro do Trabalho, em 1943.)

Foi especialmente nos últimos anos do Estado Novo (1942-1945) queGetúlio Vargas consolidou sua imagem de “pai dos pobres”, de amigo e guiados trabalhadores.

Para tanto, utilizou-se especialmente do rádio. Desde 1942, um novoministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho, passou a ocupar diariamen-te um espaço no rádio, em chamadas rápidas, e semanalmente, com umprograma especial. Nessas transmissões, enaltecia a figura do presidente, aomesmo tempo em que divulgava e explicava os novos direitos dos trabalhado-res. Assim ocorreu, por exemplo, com a decretação da Consolidação das Leis doTrabalho (CLT) em 1943.

Os direitos sociais e os ganhos salariais dos trabalhadores eram, na teoria ena prática getulista, descritos como uma dádiva, como uma doação do governo,representado pela figura do presidente. Nessa versão, desaparecia a história daslutas sociais dos trabalhadores brasileiros e de seus sindicatos livres na PrimeiraRepública. Não havia conquistas, apenas “presentes”, “doações”.

E, de fato, como o sindicalismo independente fora silenciado desde 1935 ejá que se estava numa situação de ausência de qualquer direito social, essas

Page 66: História do Brasil - Volume 2

29A U L Amedidas do governo conquistaram milhares de trabalhadores. Nos comícios de

1º de maio, nas festas cívicas promovidas pelo Governo, nas datas em que elefazia discursos aos trabalhadores (Natal, Ano Novo), o presidente encontravaum público fiel, atento e confiante.

No período de 1942 a 1945, também o Ministério do Trabalho redefiniu apolítica repressiva, colocada em prática desde 1935, e passou a incentivar ossindicatos oficiais a serem efetivamente locais de representação dos interessesdos trabalhadores e não apenas “sindicatos de papel”. Nascia o trabalhismotrabalhismotrabalhismotrabalhismotrabalhismo.

Desse modo, o ano de 1942, além de marcar a entrada do Brasil na SegundaGuerra Mundial, assinala uma mudança de estratégia política do Estado Novo,especialmente em relação aos trabalhadores. A entrada de Alexandre MarcondesFilho no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio é um exemplo dessamudança. Durante a sua gestão, Marcondes Filho contribuiu de forma definitivapara a construção da imagem “paternal” do presidente Vargas junto aostrabalhadores e para a criação do trabalhismo como pensamento político, que,em 1945, daria origem ao Partido Trabalhista Brasileiro − PTB.

A Carteira de Trabalho que conhecemos hoje, criada durante o governoVargas, em 1932, foi valorizada nessa fase do ministro Marcondes. É dele o textode apresentação que há em todas as carteiras de trabalho até hoje. Síntese dapolítica do tempo, essa apresentração destaca, ao mesmo tempo, o papeldesempenhado pela carteira de trabalho como instrumento de controle da vidados trabalhadores e como garantia de seus direitos.

A volta das liberdades democráticas

Laurindo voltouCoberto de glóriaTrazendo garboso no peitoA cruz da vitória (...)As duas divisas que ele ganhou mereceuConheço os princípios que Laurindo sempre defendeuAmigo da verdadeDefensor da igualdadeDizem que no morro vai haver transformaçãoCamarada LaurindoEstamos à sua disposiçãoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo Laurindo, samba de Haroldo Lobo,gravado por Jorge Veiga, em 1945

Muito divulgado na época, esse samba fala da volta de um soldado brasileiroapós o fim da guerra. O retorno dos pracinhas veio dar maior força à luta internade muitos brasileiros pelas liberdades democráticasliberdades democráticasliberdades democráticasliberdades democráticasliberdades democráticas. Afinal, muitos haviammorrido e os que voltaram tinham arriscado a vida na luta contra regimesautoritários fora do Brasil. Haviam conhecido idéias novas a respeito dademocracia, do direito à liberdade e da luta pela igualdade em outros países.Portanto “ia haver transformação”, como dizia a letra do samba...

A transformação acabou realmente ocorrendo e não foi apenas por causa davolta dos pracinhas com sua história de luta contra o fascismo. No Brasil, haviasido percorrido todo um caminho de resistência contra o Estado Novo e suasmedidas autoritárias. Além disso, especialmente após 1942, setores da socieda-de brasileira tinham conseguido abrir espaços para a manifestação de opiniões

Page 67: História do Brasil - Volume 2

29A U L A e de crítica ao Estado Novo, embora fossem limitados pela repressão e pela

censura. Nesse ano, foi fundada a Sociedade dos Amigos da América, para lutarcontra a ditadura de Getúlio Vargas e, em 1943, um documento escrito porpolíticos de Minas Gerais (que ficou conhecido como o “Manifesto dos Minei-ros”) dizia o seguinte:

“Se lu tamos contra o fasc i smo ( . . . ) para que a l iberdade ea democracia sejam restituídas a todos os povos, certamentenão pedimos demais reclamando para nós os mesmos direitose garant ias( . . . ) Queremos l iberdade de pensamento, sobre-tudo pensamento polít ico.”

A campanha contra o governo cresceu e, em fevereiro de 1945, GetúlioVargas cedeu. Finalmente, convocou eleições livres para o final daquele ano. Emabril, deu anistia para os presos por crimes políticos e permitiu o funcionamentode todos os partidos.

Mesmo antes da liberdade partidária, em fevereiro, um grupo de oposiçãoformado por políticos liberais, ligados aos interesses dos exportadores e de parteda classe média descontente com Getúlio, fundou a União Democrática Nacional− UDN. Esse partido declarava-se contra o comunismo e tinha grande simpatiapela política dos Estados Unidos. O candidato à Presidência pela UDN foi obrigadeiro Eduardo Gomes, militar que havia participado da Revolta do Fortede Copacabana, em 1922.

Getúlio Vargas reagiu habilmente e convocou chefes políticos leais a ele paracriar um outro grande partido: o Partido Social Democrático − PSD, que lançoua candidatura à Presidência do general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerrado Governo Getúlio Vargas.

Ao mesmo tempo, os ventos da liberdade abriram espaço para um partidoque havia ficado 23 anos proibido: o Partido Comunista Brasileiro - PCB, quetinha entre seus militantes trabalhadores sindicalizados e intelectuais, e resol-veu apoiar Getúlio Vargas, por sua política nacionalistapolítica nacionalistapolítica nacionalistapolítica nacionalistapolítica nacionalista e pela participaçãona guerra contra o nazi-fascismo.

No segundo semestre de 1945, Vargas dirigiu a criação de outro partido paraapoiá-lo: o Partido Trabalhista Brasileiro − PTB, com apoio do Ministério doTrabalho e dos sindicatos governistas. O PTB fazia parte de um projeto deGetúlio Vargas para criar um grande partido de massagrande partido de massagrande partido de massagrande partido de massagrande partido de massa que desse continuidadeà sua política, com o apoio dos trabalhadores, apoio esse que havia conquistadoao longo de seu governo.

O brigadeiroO brigadeiroO brigadeiroO brigadeiroO brigadeiroEduardo GomesEduardo GomesEduardo GomesEduardo GomesEduardo Gomes

tentou, portentou, portentou, portentou, portentou, porduas vezes, serduas vezes, serduas vezes, serduas vezes, serduas vezes, ser

eleito presidente,eleito presidente,eleito presidente,eleito presidente,eleito presidente,pela UDN.pela UDN.pela UDN.pela UDN.pela UDN.

Page 68: História do Brasil - Volume 2

29A U L ACom as candidaturas presidenciais já lançadas (oficialmente o governo

apoiava o general Eurico Gaspar Dutra, do PSD), o PTB, unido ao PCB, fez acampanha para que Getúlio Vargas continuasse no poder, enquanto se reuniauma Assembléia Nacional Constituinte livremente eleita. Essa campanha ficouconhecida como queremismoqueremismoqueremismoqueremismoqueremismo. A oposição desconfiava que Getúlio planejavaapoiar-se na campanha para lançar a si mesmo como canditado à Presidência.

Assim, os opositores de Getúlio, com o apoio do Exército − que temia aaliança do PTB com o PCB −, conseguiram fazer com que Getúlio renunciasse edesistisse de sua candidatura à Presidência.

Getúlio continuou a apoiar o general Dutra, do PSD, que graças ao seu apoiovenceu com 55% dos votos, contra 35% do brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN,e 10% de Yedo Fiúza, do PCB.

Junto ao novo governo, elegeu-se também uma Assembéia Nacional Cons-tituinte, que consagrou o direito universal do voto secreto a homens e mulheresalfabetizados, o direito de greve, o pluripartidarismo e a estrutura sindicalcorporativa herdada do Estado Novo. A Carta Constitucional de 1946 permane-ceria em vigor até 1964.

�Bota o retrato do velho outra vez�

Dutra realizou um governo de tendências mais conservadoras que o espe-rado, perdendo seus aliados eleitorais, inclusive Vargas. Alinhando-se com osEstados Unidos na Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria, o governo Dutra colocou o PCB outra vez nailegalidade e rompeu relações diplomáticas com a União Soviética. Além disso,os direitos sociais e os interesses dos trabalhadores perdiam o caráter deprioridade que tiveram nos últimos anos do Estado Novo.

Por tudo isso, a campanha para a sucessão presidencial desenvolveu-senuma situação de impopularidade do governo Dutra. Os candidatos à Presidên-cia eram o brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN, e Getúlio Vargas, pelo PTB(coligado ao PSP e apoiado pelo clandestino, mas atuante, PCB). O PSD tevecomo candidato Cristiano Machado. Em 1950, Getúlio Vargas foi eleito Presiden-te com 48,7% do total de votos. Voltou ao Palácio do Catete (sede do Governo)“nos braços do povo...”

Vargas assumiu em 1951 e deu início ao seu segundo governo, marcado poruma política econômica nacionalista, mas que não perdia de vista o capitalestrangeiro. Getúlio buscava atrair investimentos estrangeiros para que, juntocom os empresários nacionais, fosse impulsionada a indústria brasileira.

Para estimular a indústria, Getúlio criou leis que aumentavam os impostosde entrada de produtos estrangeiros, o que desagradou profundamente aos

Getúlio criara aGetúlio criara aGetúlio criara aGetúlio criara aGetúlio criara aimagem de “paiimagem de “paiimagem de “paiimagem de “paiimagem de “paidos pobres” e odos pobres” e odos pobres” e odos pobres” e odos pobres” e opovo o adorava.povo o adorava.povo o adorava.povo o adorava.povo o adorava.

Page 69: História do Brasil - Volume 2

29A U L A empresários brasileiros ligados ao comércio e à exportação. E, em 1953, criou a

Petrobrás, consagrando o monopólio estatal do petróleo.No plano político-social, manteve o estilo que o havia transformado no “pai

dos pobres” e “protetor dos trabalhadores”. No entanto, a alta do custo de vidaameaçava essa imagem.

�Saio da vida para entrar na História�

A popularidade de Vargas recebeu um grande golpe quando, em 1953, foideflagrada uma greve em São Paulo, reivindicando aumento salarial para ostrabalhadores. A greve começara com os operários da indústria de tecidos,apoiados, em seguida, por metalúrgicos, gráficos, ferroviários, motoristas e poroutras categorias. O governo de São Paulo reprimiu duramente a greve, o queenfureceu a população. Houve quebra-quebra, feridos e muitos presos.

À imprensa de oposição a Getúlio, em especial o jornal O Estado de S. Pauloe a rádio Globo, juntaram-se os políticos da UDN e os militares que temiam ocomunismo. Carlos Lacerda, deputado federal pela UDN e jornalista de ATribuna da Imprensa desenvolvia uma campanha diária de denúncias − com-provadas ou não − em artigos contra o governo de Getúlio. Lacerda pedia, nosjornais, no rádio e na TV, que os militares dessem um golpe e retirassem opresidente do poder.

Isolado politicamente, muito combatido pela imprensa, sem controle de seugoverno, Getúlio tentou reconduzir sua política para uma direção mais popular,concedendo um amplo reajuste ao salário mínimo, corroído pela inflação, em 1ºde maio de 1954. Com isso, aumentaram ainda mais as desconfianças dos setoresconservadores.

Um atentado contra o major Rubens Vaz, militar da Aeronáutica que estavaao lado de Carlos Lacerda, em Copacabana, marcou o fim de Getúlio. Asinvestigações do crime chegaram até o chefe da guarda pessoal do presidente,Gregório Fortunato, conhecido como o “anjo negro”. Gregório foi preso, mas osdiscursos de Lacerda envolviam o próprio Getúlio na ação criminosa.

A campanha contra Getúlio cresceu. E ele foi ficando cada vez mais isolado,sem voz na imprensa, sem apoio dos políticos.

Pressionado por militares, que pediram abertamente a sua renúncia, e pelabancada da UDN no Congresso, que todos os dias discursava contra o presiden-te; abandonado por muitos dos que o apoiavam, inclusive pelo PSD, Getúlioafirmou que só sairia morto do Palácio do Catete.

E na manhã de 24 de agosto de 1954, Getúlio suicidou-se com um tiro nocoração. Na sua carta-testamento dirigida ao povo brasileiro, dizia:

“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.

Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não medão o direito de defesa .(...)

Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será vossa bandeirade luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossaconsciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. (...) Eu vosdei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio.Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio davida para entrar na História.

Getúlio Vargas”

6

Page 70: História do Brasil - Volume 2

29A U L AO suicídio de Getúlio Vargas levantou o povo contra os inimigos do

presidente. Lacerda teve de fugir, os jornais de oposição tiveram seus caminhõesincendiados, a Embaixada dos Estados Unidos foi apedrejada... De repente, aindignação tomou conta do país...

Um golpe, que parecia em marcha, capitaneado pela UDN, foi barrado. Ahistória tomou outro rumo e, de alguma forma, os que viriam a governar o paísnos anos seguintes precisariam mostrar um bom convívio com a memória dopresidente Vargas.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula. Sublinhe as palavras que não entendeue procure seu significado, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia O mundo em guerraO mundo em guerraO mundo em guerraO mundo em guerraO mundo em guerra e identifique os países que faziam parte do Eixo,na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

2.2.2.2.2. Releia A invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismo e retire do discurso de Alexandre Mar-condes uma frase que mostre a imagem do presidente Vargas que o governoqueria passar para os trabalhadores.

3.3.3.3.3. Releia A volta das liberdades democráticasA volta das liberdades democráticasA volta das liberdades democráticasA volta das liberdades democráticasA volta das liberdades democráticas e sublinhe na letra da cançãoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo LaurindoCabo Laurindo uma frase que mostre a esperança de mudanças na políticabrasileira, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a volta dos pracinhas.

4.4.4.4.4. Releia “ Bota o retrato do velho outra vezBota o retrato do velho outra vezBota o retrato do velho outra vezBota o retrato do velho outra vezBota o retrato do velho outra vez” e destaque o trecho queidentifica os fatores da impopularidade do governo Dutra.

5.5.5.5.5. Releia “Saio da vida para entrar na Saio da vida para entrar na Saio da vida para entrar na Saio da vida para entrar na Saio da vida para entrar na HHHHHistóriaistóriaistóriaistóriaistória” e sublinhe no texto da“carta-testamento” uma frase em que Getúlio Vargas indica a atuação dasoposições no período final de seu governo (1954).

6.6.6.6.6. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Abra a sua Carteira de Trabalho na parte inicial. Caso você não tenha, peçaemprestado a de alguém.

1.1.1.1.1. Procure, logo no começo da Carteira, o texto assinado pelo ministro Alexan-dre Marcondes Filho.

2.2.2.2.2. Leia esse texto com muita atenção. Ele foi escrito entre os anos de 1942 e 1945,período da História do Brasil ao qual nos referimos nesta aula.

3.3.3.3.3. Retire do texto uma frase que mostre a intenção do governo em ter o controleda vida profissional do trabalhador por meio da Carteira de Trabalho.

4.4.4.4.4. Retire do texto uma frase que mostre a intenção do governo em garantir osdireitos sociais do trabalhador com a Carteira de Trabalho.

6

O temponão pára

Exercícios

Page 71: História do Brasil - Volume 2

30A U L A

Caminhos daindustrialização

Sabemos que, desde o início do século XX,nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, vinham-se instalando indústriaspara atender não apenas à expansão da economia cafeeira como também ao lentomas crescente processo de urbanização dessas áreas. Nos anos 30 e 40, asociedade brasileira era ainda basicamente rural, mas colocaria a industrializa-ção do país como uma importante meta a alcançar. Quais as alternativasadotadas pelo Estado brasileiro, no período compreendido entre 1942 e 1961,para promover a industrialização?

Nesta aula mostraremos os diversos projetos para industrializar o Brasil, osprojetos vencedores e os resultados econômico-sociais desse processo, realizadoprincipalmente por intermédio da intervenção do Estado.

O nacionalismo varguista

A atuação do Estado como agente econômico é, sem dúvida, algo típico dahistória contemporânea do Brasil. A década de 1930 foi um marco, pois o Estadoque resultou da Revolução de 30 teve como um dos seus objetivos fazer dacidade e da indústria (ou seja, do pólo urbano-industrial) o eixo da economia.Nesse período, foram implantadas as indústrias de bens de produção ouindústrias de base, favorecendo o empresariado industrial brasileiro, que con-seguiu garantir junto ao Estado o atendimento de seus interesses.

Durante o Estado Novo (1937-1945) o empresariado consolidou um novoestilo de participação política, de tipo corporativo, marcando sua presença emórgãos públicos como o Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE) e oConselho Técnico de Economia e Finanças (CTEF). Por sua atuação no interiordesses órgãos, os empresários industriais conseguiram promover seus interes-ses e divulgar suas idéias, especialmente as que defendiam o desenvolvimentoindustrial como a única saída para a fraqueza da economia do país − baseada atéentão na exportação de produtos agrícolas e na importação de produtos indus-trializados. Eles consideravam necessário um Estado forte, que protegesse aindústria nacional e garantisse o bem-estar social da Nação.

Pouco a pouco, essas idéias ganharam lugar de destaque no pensamento ena ação do governo federal, que passou a direcionar sua política econômica paraa industrialização do país, voltando-se para a expansão das atividades ligadasàs necessidades do mercado interno.

30A U L A

MÓDULO 8

Nesta aula

Page 72: História do Brasil - Volume 2

30A U L AChamado a assumir a tarefa de implantar a indústria de base, o Estado não

só coordenaria a economia como se tornaria um investidor, um empresário.Até o início da década de 1930, a estrutura industrial brasileira estava

organizada em torno do setor de bens de consumo correntebens de consumo correntebens de consumo correntebens de consumo correntebens de consumo corrente, isto é, tecidos,alimentação e vestuário. Para implantar um setor de bens de produçãobens de produçãobens de produçãobens de produçãobens de produção −siderurgia, energia, transportes −, era necessário conseguir recursos para com-prar insumos básicos e equipamentos (máquinas, ferramentas etc).

Grande parte desses recursos foram conseguidos com a exportação deprodutos agrícolas, principalmente do café. Assim, o Estado transformava-seem investidor das indústrias de base, ao mesmo tempo em que fazia leis paraorganizar a economia em geral.

Durante o Estado Novo, a política de Getúlio Vargas caracterizou-se pelonacionalismo e pelo intervencionismo. Dava-se maior importância à exploraçãodas riquezas nacionais, sem, no entanto, incomodar as empresas estrangeirasque já estavam no país. Ao mesmo tempo, o Estado passou a participardiretamente de determinadas áreas produtivas.

Ignorando as dificuldades econômicas, mas atento às possibilidades denegociar com os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ogoverno brasileiro publicou, em 1940, um ambicioso Plano QüinqüenalPlano QüinqüenalPlano QüinqüenalPlano QüinqüenalPlano Qüinqüenal (du-ração de cinco anos), que previa, entre outros projetos, a construção de umagrande usina siderúrgica. A instalação dessa usina quebraria o monopólio daprodução de aço que os Estados Unidos e a Europa possuíam, permitindo que,em caso de guerra, o Brasil pudesse desenvolver uma indústria independente e,em tempos de paz, pudesse contar com infra-estrutura para sua própriaindústria mecânica.

Em 1941, foi iniciada a contrução da Companhia Siderúrgica Nacional − CSN(Usina Siderúrgica de Volta Redonda), com capital públicocapital públicocapital públicocapital públicocapital público nacionalnacionalnacionalnacionalnacional e finan-ciamento do governo dos Estados Unidos, interessado em contar com a partici-pação brasileira na guerra contra o nazi-fascismo. A Usina começou a produzirem 1946 e contribuiu para diminuir a importação de ferro e aço a partir de 1956.

Com a construçãoCom a construçãoCom a construçãoCom a construçãoCom a construçãoda Usina deda Usina deda Usina deda Usina deda Usina deVolta Redonda,Volta Redonda,Volta Redonda,Volta Redonda,Volta Redonda,da Companhiada Companhiada Companhiada Companhiada CompanhiaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaSiderúrgicaNacional, o BrasilNacional, o BrasilNacional, o BrasilNacional, o BrasilNacional, o Brasilpassou a diminuirpassou a diminuirpassou a diminuirpassou a diminuirpassou a diminuirsua importação desua importação desua importação desua importação desua importação deferro e aço.ferro e aço.ferro e aço.ferro e aço.ferro e aço.

Page 73: História do Brasil - Volume 2

30A U L A Em 1943, inaugurou-se a Fábrica Nacional de Motores − FNM, primeira

empresa brasileira a fabricar veículos, em vez de apenas montá-los. A Compa-nhia Vale do Rio Doce (1942), a Companhia Nacional de Álcalis (1943) e aCompanhia Hidrelétrica do São Francisco (1945) são, junto com a CSN, algunsexemplos de empresas públicas, criadas durante o período, que possibilitaramuma industrialização acelerada.

Muitas dessas indústrias forneciam bens e serviços a preços baixos, tornan-do possível ao setor privado economizar nos custos de produção e continuarinvestindo nos setores tradicionais (na indústria de bens de consumo corrente).Mesmo temendo o excesso de intervencionismo do Estado, o setor privado erabastante beneficiado pela política econômica e trabalhista do governo varguista.

Durante o governo do general Eurico Dutra (1951-1954), sob influência daonda liberal resultante do fim da Segunda Guerra, houve uma diminuição daintervenção do Estado na economia. Políticos mais conservadores defendiammenor ênfase na indústria de bens de produção e maior liberdade comercial,para reintegrar o Brasil no mercado internacional.

Com o segundo Governo Vargas (1951-1954), a industrialização aceleradavoltou a ser considerada elemento essencial para promover o desenvolvimentoeconômico e social do Brasil. E o Estado deveria ser, mais uma vez, o condutordesse processo. Marcada por um forte nacionalismo, a política econômicapromovida por Getúlio mudou a direção que havia sido dada pelo governoDutra e voltou a dar prioridade às indústrias de base (ferro e aço, química,equipamentos e material ferroviário, indústria elétrica) e de infra-estrutura(energia, transportes, comunicações).

No entanto, era impossível conseguir recursos suficientes para esses setoresdentro do país; precisava-se buscar recursos externos. As posições nacionalistasde Getúlio Vargas entraram em conflito com aqueles que defendiam a aberturaao capital estrangeiro para promover o desenvolvimento econômico.

Dentre as iniciativas nacionalistas voltadas para o desenvolvimento inde-pendente do país, incluía-se o projeto de criação da Petrobrás, que foi apresen-tado ao Congresso Nacional, junto com o Programa do Petróleo Nacional, emdezembro de 1951. O projeto de lei propunha a exploração do petróleo por umanova empresa de economia mista, com maior poder de decisão do Estado.

Inaugurada emInaugurada emInaugurada emInaugurada emInaugurada em1942, a1942, a1942, a1942, a1942, a

Companhia ValeCompanhia ValeCompanhia ValeCompanhia ValeCompanhia Valedo Rio Docedo Rio Docedo Rio Docedo Rio Docedo Rio Docedominava odominava odominava odominava odominava ocomércio decomércio decomércio decomércio decomércio de

minério de ferro eminério de ferro eminério de ferro eminério de ferro eminério de ferro eoutros minerais.outros minerais.outros minerais.outros minerais.outros minerais.

Page 74: História do Brasil - Volume 2

30A U L ATal projeto, que só foi aprovado quase dois anos mais tarde, provocou um

forte debate entre nacionalistasnacionalistasnacionalistasnacionalistasnacionalistas e estrangeiristasestrangeiristasestrangeiristasestrangeiristasestrangeiristas (defensores da entrada decapital externo). Os lucrativos negócios da empresa americana Standart Oil,instalada no Brasil, estavam ameaçados. A “batalha do petróleo” agitou o país;a campanha “O Petróleo é Nosso” ganhou as ruas e mobilizou a população emcomícios e manifestações a favor do monopólio da Petrobrás, que finalmente foicriada em outubro de 1953.

Apesar da criação da Petrobrás nesse ano e do Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico (BNDE) em 1952 − para promover a melhoria da infra-estrutura industrial −, o debate entre nacionalismo e estrangeirismo não acabouno governo Vargas. A industrialização continuou sendo a opção de desenvolvi-mento, mas a maneira de promovê-la não foi a mesma dos anos 40.

O desenvolvimentismo de JK

Durante o governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1960), o processo deindustrialização teve nova orientação. No início do governo, foi anunciado oPlano de MetasPlano de MetasPlano de MetasPlano de MetasPlano de Metas, que teve como objetivo modernizar o Brasil e cumprir o lemada campanha de JK: “50 anos em 5”. Isto é, cinqüenta anos de progresso emcinco anos de governo. Se, por um lado, houve uma abertura ao capitalestrangeiro, opondo-se nesse sentido ao governo anterior, por outro lado ointervencionismo governamental não foi eliminado.

Uma das características do governo de JK foi o planejamento, que estabele-ceu metas industriais a serem cumpridas nos cinco anos de mandato, supervi-sionadas de perto por órgãos já existentes (BNDE - Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico, CACEX - Carteira de Comércio Exterior) e por outros,criados pelo presidente e subordinados ao Conselho de Desenvolvimento,também criado por ele.

Belo Horizonte,Belo Horizonte,Belo Horizonte,Belo Horizonte,Belo Horizonte,fundada em 1897,fundada em 1897,fundada em 1897,fundada em 1897,fundada em 1897,sofreu grandessofreu grandessofreu grandessofreu grandessofreu grandesmodificações,modificações,modificações,modificações,modificações,quando JKquando JKquando JKquando JKquando JKgovernou Minasgovernou Minasgovernou Minasgovernou Minasgovernou MinasGerais.Gerais.Gerais.Gerais.Gerais.

Page 75: História do Brasil - Volume 2

30A U L A

A indústria brasileira contou, nesse período, com a participação de capitalnacional e estrangeiro, público e privado, divididos em três grupos:

l o capital privadocapital privadocapital privadocapital privadocapital privado nacional continuou investido na produção de bens debens debens debens debens deconsumo correnteconsumo correnteconsumo correnteconsumo correnteconsumo corrente;

l o capital estrangeirocapital estrangeirocapital estrangeirocapital estrangeirocapital estrangeiro destinou-se sobretudo à produção de bens de con-bens de con-bens de con-bens de con-bens de con-sumo duráveissumo duráveissumo duráveissumo duráveissumo duráveis, especialmente a indústria automobilística;

l o capital estatalcapital estatalcapital estatalcapital estatalcapital estatal continuou a financiar a indústria de baseindústria de baseindústria de baseindústria de baseindústria de base, o que signi-fivava um estímulo para os outros dois.

Na euforia desenvolvimentistaeuforia desenvolvimentistaeuforia desenvolvimentistaeuforia desenvolvimentistaeuforia desenvolvimentista, como ficou conhecida a rápida expansãoindustrial e de consumo brasileira, o Estado atuou como o principal agenteeconômico, interferindo continuamente na orientação dos investimentos, pormeio do planejamento, sem deixar de ser um importante produtor direto nossetores estratégicos (indústria de base e infra-estrutura).

Entre 1955 e 1961 entraram no país mais de 2 milhões de dólares dirigidosa áreas prioritárias do Plano de Metas, como indústria automobilística, constru-ção de estradas (Belém−Brasília), transportes aéreos, eletricidade (usinas de TrêsMarias e Furnas) e aço. Mas foi a indústria de automóveis que mais se destacou.Iniciada com investimentos alemães (Volkswagen) e franceses (Simca), a produ-ção do carro nacional cresceu de 30.542 unidades, em 1957, para 133.041, em1960. Era a febre do crescimento. JK era considerado “o homem que substituiuo burro pelo jipe”, fazendo o país entrar na era da modernidade.

6

A primeira fábricaA primeira fábricaA primeira fábricaA primeira fábricaA primeira fábricade carros dede carros dede carros dede carros dede carros de

passeio no Brasilpasseio no Brasilpasseio no Brasilpasseio no Brasilpasseio no Brasilfoi a Volkswagen.foi a Volkswagen.foi a Volkswagen.foi a Volkswagen.foi a Volkswagen.

Page 76: História do Brasil - Volume 2

30A U L AOs anos JK trouxeram euforia, crença e desenvolvimento. Porém deixaram

algumas heranças que logo se revelaram complicadas. Brasília, a nova capital dopaís, foi construída durante o governo JK, sendo inaugurada em 21 de abril de1960, como meta-síntese de JK. Nesse momento, grande parte das metas haviasido alcançada, e a sociedade brasileira já não era basicamente rural. Porém, oaumento da inflação, a concentração dos lucros industriais nas mãos de umpequeno número de empresários de alguns setores industriais, assim como aalta dívida externa, começaram a provocar um grande descontentamento emboa parte da população brasileira.

Não foram apenas as questões econômicas que marcaram o período JK comoum período relevante; no campo cultural e político, também aconteceram muitasmudanças, associadas ao crescimento das cidades e ao desenvolvimento indus-trial. Mas, para entendê-las, você vai ter de esperar nossas próximas aulas.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade e no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia O nacionalismo varguistaO nacionalismo varguistaO nacionalismo varguistaO nacionalismo varguistaO nacionalismo varguista e identifique:

a)a)a)a)a) qual setor industrial foi valorizado nos dois governos de Getúlio Vargas;

b)b)b)b)b) de que modo o Estado interferiu na economia;

c)c)c)c)c) qual era a posição de nacionalistas e estrangeiristas;

d)d)d)d)d) de que maneira o empresariado foi favorecido pela política econômicadesse período.

2.2.2.2.2. Releia O desenvolvimentismo de JKO desenvolvimentismo de JKO desenvolvimentismo de JKO desenvolvimentismo de JKO desenvolvimentismo de JK e identifique:

a)a)a)a)a) qual o setor industrial mais valorizado por JK;

b)b)b)b)b) de que forma o Estado interferiu na economia;

c)c)c)c)c) algumas características do Plano de Metas;

d)d)d)d)d) de que forma ocorreu a participação do capital estrangeiro.

3.3.3.3.3. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Leia com atenção os documentos que vêm em seguida, sublinhe as palavrasque não entender e procure descobrir o que elas significam.

O temponão pára

Exercícios

Page 77: História do Brasil - Volume 2

30A U L A Documento ADocumento ADocumento ADocumento ADocumento A

“Petróleo é energia, que tem que ser vendida pelo preço mais baratopossível, a fim de facilitar a produção de todas as demais riquezas.Petróleo é a base da economia e da defesa militar de um país. Não hácomo, na indústria do petróleo, se associarem o Estado e os particulares.Se a indústria do petróleo visa lucros comerciais, perde o seu caráter,deixa de ser interessante para os capitais privados. É uma injustiçasocial entregar o privilégio da indústria do petróleo a alguns, mesmosob a forma de ações de uma sociedade mista. O petróleo pertence ànação, que há de dividi-lo igualmente por todos os seus filhos.”Trecho do pronunciamento do general Horta Barbosa, durante a Campanha“O Petróleo é Nosso”, em 1947.

Documento BDocumento BDocumento BDocumento BDocumento B

“A viagem que realizei pelos Estados Unidos e pela Europa, convocandotodos os homens de capitais particulares para virem colaborar nessatarefa [desenvolver o Brasil], deu os frutos que esperava, porque, sóneste ano, em indústrias, em investimentos novos por capitais estran-geiros, já somamos 232 milhões de dólares contra 70 milhões apenas noano passado. Essa política foi pregada por mim na viagem que realizeie, mais do que isto, no acolhimento que venho dando a todos os homensde empresa que querem trazer os seus capitais para o Brasil, não paraexplorar o nosso território e sim contribuir para o enriquecimento e obem-estar de todos os brasileiros.”Trecho de um discurso do presidente Juscelino Kubitschek, em 1956.

1.1.1.1.1. Identifique no documento A:

a)a)a)a)a) a importância do petróleo na visão do general (Para que serve o petróleo,o que ele significa para o país?);

b)b)b)b)b) a posição do autor em relação ao investimento do capital privado naindústria do petróleo (retire de trechos do texto).

2.2.2.2.2. Para o autor do documento A, quem deve explorar o petróleo?

3.3.3.3.3. Identifique no documento B:

a)a)a)a)a) qual a política pregada por JK na viagem à Europa e aos Eestados Unidos;

b)b)b)b)b) como JK via a participação do capital estrangeiro na economia brasileira.

4.4.4.4.4. Qual a diferença entre as opiniões do general Horta Barbosa e do presidenteJuscelino Kubitscheck?

6

Page 78: História do Brasil - Volume 2

31A U L A

Arte e cultura(1942-1961)

Vamos estudar a vida cultural da sociedadebrasileira nas décadas de 1940 e 1950, com o objetivo de responder à esta questão:num tempo de valorização da participação do povo na política, como semanifestava a cultura popular?

Um novo tempo para a cultura brasileira

A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e as mudançaspolíticas internas após 1945 marcaram um novo momento para a culturabrasileira. A volta dos soldados reforçou a luta pelo fim do regime autoritário doEstado Novo e por maior participação popular.

O governo afrouxou o controle, antes rígido, sobre as manifestações cultu-rais, que acompanhavam as novas atitudes políticas (eleições, novos partidos,legalização do PCB, elaboração de uma nova Constituição − desta vez de formademocrática...).

Nesse mesmo período, os Estados Unidos, em tempos de Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria,queria garantir uma área de influência também cultural no Brasil e entrava nomercado brasileiro com toda força, com a música e o cinema americanostransformados em poderosas indústrias culturais. Nesse momento, surgia umaproposta de auxílio mútuo entre as diversas nações americanas (opanamericanismopanamericanismopanamericanismopanamericanismopanamericanismo). Sob a justificativa da solidariedade entre os países docontinente, os interesses nacionais norte-americanos se faziam cada vez maispresentes na América Latina e na vida brasileira.

No Brasil esses anos foram, principalmente, tempos de rádio. O rádio eraa grande janela aberta para o mundo: trazia informação e diversão, formavaopinião, ligava o país de norte a sul − assim como diz a canção das Cantoras doCantoras doCantoras doCantoras doCantoras doRádioRádioRádioRádioRádio:

Nós somos as cantoras do rádio(...)Nossa canção cruzando o espaço azulVai reunindoNum grande abraçoCorações de norte a sul

Nesta aula

31A U L A

MÓDULO 8

Page 79: História do Brasil - Volume 2

31A U L A �Este programa pertence a vocês�

Ela é fã da EmilinhaNão sai do César de AlencarGrita o nome do Cauby (ihhh...)E depois de desmaiarPega a Revista do RádioE começa a se abanar.Fanzoca do RádioFanzoca do RádioFanzoca do RádioFanzoca do RádioFanzoca do Rádio, de Miguel Gustavo

A letra dessa canção zomba do fanatismo de algumas ouvintes de rádio e falade grandes ídolos musicais da época (Emilinha Borba e Cauby Peixoto). Falatambém do mais famoso programa de auditório da Rádio Nacional no Rio deJaneiro − o Programa César de Alencar − e da publicação que acompanhavatodo esse sucesso: a Revista do Rádio.

E o que fazia esses programas de rádio tão populares? O principal motivoé que eles abriam espaço às pessoas, num momento em que participarparticiparparticiparparticiparparticipar setornava cada vez mais importante.

Os ouvintes participavam, assistindo aos programas nos auditórios semprelotados das emissoras de rádio, ou por correspondência, votando nas eleiçõesque eram promovidas para “reis” ou “rainhas” do rádio. Mas também sesentiam participantes apenas escutando o apresentador do programa, que, acada minuto, se dirigia aos ouvintes, como dizia a música de abertura doPrograma César de Alencar: “ esse programa pertence a vocês!” .

O rádio era um meio de comunicação eficiente. Sabendo disso, o poderpúblico utilizava-se dele para transmitir as falas oficiais do governo no progra-ma A Hora do BrasilA Hora do BrasilA Hora do BrasilA Hora do BrasilA Hora do Brasil, transmitido por todas as emissoras. Pelo rádio, procu-rava-se chegar às regiões mais distantes do país, com a informação e as idéias quese queriam difundir.

César de Alencar eCésar de Alencar eCésar de Alencar eCésar de Alencar eCésar de Alencar eMarlene: duasMarlene: duasMarlene: duasMarlene: duasMarlene: duas

figurasfigurasfigurasfigurasfigurasextremamenteextremamenteextremamenteextremamenteextremamente

popularespopularespopularespopularespopularespor causapor causapor causapor causapor causa

dos programasdos programasdos programasdos programasdos programasde rádio.de rádio.de rádio.de rádio.de rádio.

Page 80: História do Brasil - Volume 2

31A U L AAlém dos programas musicais, das notícias e das transmissões oficiais do

governo, o rádio se popularizou com as novelas, como O Direito de Nascer. Em1945, a Rádio Nacional no Rio de Janeiro (conhecida como “A Rádio dasMultidões”) transmitia, diariamente, catorze novelas. As famílias se reuniamem torno do rádio e, em muitas casas, o aparelho era um acompanhante queficava ligado, sempre presente, o dia todo.

Durante os jogos de futebol das Copas do Mundo desse período, e mesmonos jogos nacionais, o rádio era companheiro inseparável dos torcedores.Quantos brasileiros não choraram, junto com os locutores, em 1950, no últimojogo contra o Uruguai, quando, jogando em casa, no Maracanã, o Brasil perdeua Copa? E quantos não comemoraram, agarrados a seu rádio, o sucesso de 1958?

Assim, nessas duas décadas, o rádio foi se tornando fundamental para acriação de uma cultura brasileira, ou melhor, de uma cultura nacional. Formavaopinião, proporcionava prazer e diversão, ligava o país de norte a sul.

Mas, em termos de diversão popular, o cinema nacional não ficava atrás...

�Os reis do riso�

“Fazemos comédia − o pior tipo de comédia (...) o disparate vulgar,combinado com um pouco de sexo e frases de duplo sentido. Influênciado baixo teatro e do radiologismo mais ruim.”Artigo de Salvyano Cavalcanti de PaivaSalvyano Cavalcanti de PaivaSalvyano Cavalcanti de PaivaSalvyano Cavalcanti de PaivaSalvyano Cavalcanti de Paiva na revista Scena Muda, 1952.

Apesar do desprezo dos críticos, como percebemos por esse trecho do artigode Salvyano Cavalcanti, o cinema brasileiro passou a conhecer um tempo deglória com as chanchadas da Atlântidachanchadas da Atlântidachanchadas da Atlântidachanchadas da Atlântidachanchadas da Atlântida. As chanchadas eram filmes cheios decenas de fazer rir, sustentadas pelo talento de atores como Grande Otelo,Oscarito, Zé Trindade, José Lewgoy, entre tantos outros. Era um tipo de filmemuito popular, e o público lotava as salas de cinema para se divertir com ascomédias, sempre com muita música, cenas de amor e também com críticasalegres à vida política e cotidiana do povo brasileiro.

Assim como a programação das emissoras de rádio populares, as chancha-das atendiam ao gosto de um amplo público e influenciavam todo o país, criandoídolos e divulgando um tipo de humor bem carioca.

Grande Otelo eGrande Otelo eGrande Otelo eGrande Otelo eGrande Otelo eOscaritoOscaritoOscaritoOscaritoOscaritoparticiparam departiciparam departiciparam departiciparam departiciparam devárias chanchadasvárias chanchadasvárias chanchadasvárias chanchadasvárias chanchadasda Atlântida.da Atlântida.da Atlântida.da Atlântida.da Atlântida.

Page 81: História do Brasil - Volume 2

31A U L A O Rio de Janeiro levava, pelo rádio e pelo cinema, a cultura da cidade (ainda

capital federal) para grande parte do país. Havia produção cultural em outrascidades, mas, nesse tempo, nada tinha a força e a expressão da Atlântida ou daRádio Nacional, ambas empresas cariocas.

Junto ao cinema, e no mesmo estilo de comédia musicada, estava o teatroteatroteatroteatroteatrode revistade revistade revistade revistade revista. Era uma mistura de circo, cabaré, espetáculo musical e comédia decostumes − o “teatro rebolado” (como era também conhecido) trazia para o palcoa crítica social e política. O público ria do humor debochado e se divertia comos números musicais, que em geral tratavam de temas da realidade popular:falta d’água, carestia, corrupção. Atrizes como Dercy Gonçalves, Virgínia Lane,Renata Fronzi, entre muitas outras, fizeram sucesso no palco do teatro de revista,no qual a beleza, o talento e o luxo das coristas levavam um grande público aesses espetáculos.

Paralelamente, acontecia a entrada do cinema americano, com os musicaisde Hollywood. As estrelas e os galãs norte-americanos passaram a povoar ossonhos de brasileiros e brasileiras...

Junto com o cinema, veio também a música, a moda e a divulgação do idealamericano de vida (o chiclete, a Coca-Cola). Mas, para muitos brasileiros, ficar“americanizado” era uma ofensa... em termos de cultura.

Meu Brasil brasileiro

Brasil, meu Brasil brasileiro,Meu mulato inzoneiroVou cantar-te nos meus versos(...)Oi, abre a cortina do passadoTira a mãe preta do cerradoBota o rei congo no CongadoBrasil, Brasil (...)Aquarela do BrasilAquarela do BrasilAquarela do BrasilAquarela do BrasilAquarela do Brasil, de Ary Barroso,gravada pela primeira vez em 29/05/1942.

O período de 1942 a 1961 caracterizou-se pela valorização da culturaculturaculturaculturaculturapopularpopularpopularpopularpopular. Os últimos anos do Estado Novo já haviam dado destaque à culturapopular, em especial às manifestações afro-brasileiras.

O cinemaO cinemaO cinemaO cinemaO cinemanacional ganhounacional ganhounacional ganhounacional ganhounacional ganhou

seu primeiroseu primeiroseu primeiroseu primeiroseu primeiroprêmioprêmioprêmioprêmioprêmio

internacionalinternacionalinternacionalinternacionalinternacionalcom o filmecom o filmecom o filmecom o filmecom o filme

O CangaceiroO CangaceiroO CangaceiroO CangaceiroO Cangaceiro.....

Page 82: História do Brasil - Volume 2

31A U L ANo clima de maior liberdade, após 1945, passava a ser importante para o

Brasil assumir não apenas seu lado mestiço, mas seu lado nordestino, e o seulado caipira. Afinal, o Brasil não era só Rio de Janeiro... e isso não poderia serignorado num tempo em que o apoio popular era importante!

Ritmos do Nordeste (como o baião, o xote), assim como as duplas caipiras,foram levados pelo rádio até o Centro-Sul do país. Era o tempo de muitossucessos de Luiz Gonzaga, de Jararaca e Ratinho, de Alvarenga e Ranchinho:todos nas ondas do rádio!

A literatura de cordelliteratura de cordelliteratura de cordelliteratura de cordelliteratura de cordel, muito popular no Nordeste, tornava conhecidas asfiguras e as situações políticas que misturavam humor e fantasia, zombaria elouvação. Esse gênero nordestino de literatura cresceu e aumentou o número deexemplares impressos. Exemplo disso foram os livretos contando a morte deGetúlio Vargas no Palácio do Catete, que chegaram a vender mais de 50 milcópias. Juntando Juscelino Kubitschek, Lampião, o diabo e Padre Cícero, oscordelistas cantavam e narravam histórias e fatos.

Nesse período, as elites intelectuais brasileiras também apostaram numprojeto nacional para a cultura. Temas clássicos da cultura brasileira foramlevados para o cinema pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz (fundadaem 1949, em São Paulo). O Teatro Brasileiro de Comédia (TBC, fundado em 1948)montou peças de autores nacionais, consagrando atores e atrizes como FernandaMontenegro, Paulo Autran, Tônia Carrero, Sérgio Cardoso, Cacilda Becker,Walmor Chagas, entre outros. Muitos desses artistas se tornariam popularesastros da televisão, anos mais tarde.

Na música, em 1958, foi lançado um disco que se tornou o ponto de partidapara o movimento da bossa novabossa novabossa novabossa novabossa nova: Elizete Cardoso − famosa pelos sucessos quecantava no rádio − gravou Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinícius deMoraes, acompanhada por João Gilberto, na época um desconhecido para ogrande público. Iniciava-se, assim, um novo momento para a cultura musicalbrasileira.

E esse novo momento cultural, não apenas para a música, seria marcado,fundamentalmente, pela televisão.

6

“Senhoras e senhores telespectadores, boa noite. A PRF 3 TV − Emis-sora Associada de São Paulo − orgulhosamente apresenta, neste momen-to, o primeiro programa de televisão da América Latina.”

Eram dez horas da noite do dia 18 de setembro de 1950, em São Paulo, e oBrasil se tornava o quarto país do mundo a ter televisão. E a televisão havia sidoinventada há apenas catorze anos!

Mas o grande sucesso e a popularização ocorreu a partir dos anos 60, quandoa magia da televisão conquistou os lares brasileiros. Assim como o rádio, atelevisão incorporou as manifestações da cultura popular, transformou essasmanifestações e sofreu transformações por causa delas.

O temponão pára

Page 83: História do Brasil - Volume 2

31A U L A Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure o seu significado, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.

1.1.1.1.1. Releia Um novo tempo para a cultura brasileiraUm novo tempo para a cultura brasileiraUm novo tempo para a cultura brasileiraUm novo tempo para a cultura brasileiraUm novo tempo para a cultura brasileira. Sublinhe na letra dacanção Cantoras do Rádio uma frase que destaque o papel do rádio comoelemento de integração nacional.

2.2.2.2.2. Releia “Este programa pertence a vocêsEste programa pertence a vocêsEste programa pertence a vocêsEste programa pertence a vocêsEste programa pertence a vocês” e cite uma razão para que osprogramas de auditório no rádio fossem tão populares nas décadas de 1940e 1950.

3.3.3.3.3. Releia “ Os reis do r isoOs reis do r isoOs reis do r isoOs reis do r isoOs reis do r iso” e identifique a que tipo de filme o jornalistaSalvyano Cavalcanti estava se referindo ao escrever sua crítica.

4.4.4.4.4. Releia Meu Brasil brasileiroMeu Brasil brasileiroMeu Brasil brasileiroMeu Brasil brasileiroMeu Brasil brasileiro e sublinhe na letra da música (documento deépoca) uma frase que mostre o novo valor dado à cultura popular afro-brasileira no período 1942/1961.

5.5.5.5.5. Dê um novo título ao texto desta aula.

Fazendo a História

1.1.1.1.1. Escreva um pequeno texto sobre o período histórico tratado por esta aula,utilizando as seguintes expressões:

− rádio:

− integração nacional:

− informação:

− diversão:

6

Exercícios

Page 84: História do Brasil - Volume 2

32A U L A

Os anos dourados

Juscelino Kubitschek elegeu-se presidentepromentendo mudar o país, modernizá-lo, desenvovê-lo num curto espaço detempo − 5 anos. Como seria possível num momento de grave crise, provocadapelo suicídio de Getúlio Vargas, resgatar o otimismo e a esperança e governardentro da legalidade?

Nesta aula teremos uma noção da situação internacional naquele momento;de como JK tornou possível o seu projeto desenvolvimentista e de como asociedade reagiu a todas essas mudanças.

A década de 1950 e a bipolarização do mundo

No decorrer da década de 1950, o Brasil sofreu influência de um processo dedivisão do mundo em duas áreas de influência. É a chamada bipolarizaçãobipolarizaçãobipolarizaçãobipolarizaçãobipolarização.

Conseqüência da Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria, que correspondia ao conflito ideológicoentre os Estados Unidos e a União Soviética, a bipolarização dividiu os países emdois “mundos”: o capitalista e o socialista.

Nesta aula

32A U L A

MÓDULO 8

Nesta caricatura,Nesta caricatura,Nesta caricatura,Nesta caricatura,Nesta caricatura,os soviéticosos soviéticosos soviéticosos soviéticosos soviéticosencaram seusencaram seusencaram seusencaram seusencaram seusinimigos nainimigos nainimigos nainimigos nainimigos naGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria como como como como comogenerais nazistas.generais nazistas.generais nazistas.generais nazistas.generais nazistas.

Page 85: História do Brasil - Volume 2

32A U L A O mundo capitalista era composto pelas chamadas democracias liberaisdemocracias liberaisdemocracias liberaisdemocracias liberaisdemocracias liberais. A

liderança norte-americana em termos político-militar e econômico tornava-seinquestionável. A integração do Brasil a esse contexto ocorreu durante ogoverno do general Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), quando o país rompeurelações diplomáticas com a União Soviética e o Partido Comunista Brasileiro foicolocado na ilegalidade.

Já o mundo socialista, sob liderança (também inquestionável) da UniãoSoviética, era integrado pelas chamadas democracias popularesdemocracias popularesdemocracias popularesdemocracias popularesdemocracias populares.

Na Europa Oriental, ficaram sob influência soviética a Polônia, a Bulgária,a Romênia, a Checoslováquia, a Hungria, a República Democrática Alemã e aAlbânia; na Ásia, a República Popular da China, a Coréia do Norte e o Vietnã doNorte; na América Central, Cuba.

Em termos econômicos, essa bipolarização produziu outro tipo de divisão:os países ricos, desenvolvidos ou do Primeiro Mundo, e os países pobres,subdesenvolvidos, ou do Terceiro Mundo. Apesar do esforço desenvolvimentistado governo JK, nosso país continuou integrado ao bloco do Terceiro Mundo.

A viabilização dos objetivos de JK

O governo JK passou para a História como um momento de estabilidadepolítica e de grande crescimento econômico. Já vimos, na aula 29, como o modelodesenvolvimentista foi adotado e quais os problemas que ele apresentou, nosúltimos anos do mandato de JK. Mas, sem dúvida alguma, ele conseguiucontaminar a população com otimismo e euforia, a partir de seu famoso lema“50 anos em 5”.

Ao assumir a Presidência, Juscelino encontrou um país ainda perturbadopelo suicídio de Getúlio Vargas (1954). A UDN e alguns setores militares foramincansáveis na oposição à posse de JK, acusando-o de receber apoio doscomunistas e identificando-o ao getulismogetulismogetulismogetulismogetulismo, tendência que tentavam exterminarda política nacional.

Em meio à turbulência política e social era preciso garantir um mínimo deestabilidade e de consenso que permitisse governar. Apesar das pressões doempresariado para a diminuição da interferência do Estado na economia, dasgreves do início do período, das crises militares e da oposição radical da UDN,a política de negociação de JK tornou possível a estabilidade.

Assim, a política econômica do governo, que se abriu para o capital externo,foi bem aceita por vários setores da sociedade brasileira.

Nessa época, os trabalhadores viram a possibilidade, que nem sempre seconcretizou, de fazer parte dos consumidores dos novos produtos que invadi-ram o mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, foram criados empregos por causada expansão do parque industrial e da melhoria dos serviços urbanos.

A política desenvolvimentista também beneficiou as Forças Armadas, quecontaram com aumento de recursos financeiros. Isso permitiu uma melhoria nosrecursos bélicos (armamentos), assim como nos transportes e nas comunicações.Além disso, muitos oficiais das Forças Armadas ocuparam posições importan-tes no Poder Executivo. Aqueles envolvidos em tentativas de golpe foramanistiados e não deixaram de ser promovidos.

A esquerda, duramente perseguida nos governos anteriores, era tratadacom tolerância por JK. O PCB, considerado partido ilegal desde 1947, atuavajunto aos sindicatos. Muitos de seus membros participavam abertamente demanifestações e negociações.

Page 86: História do Brasil - Volume 2

32A U L ACom relação à oposição udenista, que insistia em denunciar escândalos da

administração pública e tentava impedir a aprovação dos projetos do Executivo,JK procurava manter uma posição conciliadora e pacífica.

Finalmente, para colocar em prática o Plano de Metas, as relações doExecutivo com o Legislativo tinham de ser as melhores possíveis. Afinal, oCongresso tinha o controle do orçamento do país, e podia derrubar vetospresidenciais e criar as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).

A aliança PSD-PTB foi fundamental nessa relação, já que a maioria dosparlamentares era desses partidos e, portanto, quase sempre mostrava-sefavorável aos projetos do Executivo.

Mas os órgãos criados e mobilizados pelo Executivo formaram uma “admi-nistração paralela”, o que conferiu uma grande capacidade de planejamento eindependência ao Executivo em relação ao Legislativo. Esses órgãos estavamsob o controle direto da Presidência da República. O planejamento feito portécnicos desses órgãos tornou fácil a aprovação financeira no Congresso, e issoacabou reforçando os poderes do Executivo.

Brasília: �a síntese de todas as metas�

O maior símbolo do otimismo dos anos que ficaram conhecidos como “anosdourados” foi, sem dúvida, a construção de Brasília − a nova capital do Brasil,a partir de 1960.

JK dizia ter se resolvido pela criação da nova capital em um comício, quandoum popular lhe perguntara: “Já que o senhor se declara disposto a cumpririntegralmente a Constituição, desejava saber se irá pôr em prática aqueledispositivo da Carta Magna que determina a transferência da capital daRepública para o planalto goiano.” Juscelino respondeu que sim, e transformouBrasília em sua meta-síntesemeta-síntesemeta-síntesemeta-síntesemeta-síntese, fechando o programa de Metas.

Construir Brasília não significou apenas criar muitos empregos, nem provo-car uma onda migratória de brasileiros, que, além de construir uma nova cidade,esperavam conseguir uma vida melhor na nova capital. Brasília transformou-senum símbolo dos “50 anos em 5”. Construí-la era prova de coragem, audácia,ousadia...

Porém, sempre existe o outro lado da moeda. Construir Brasília nos custoumuito caro. Os gastos com as obras foram altos. Sua manutenção tornou-seexcessivamente cara. A inflação elevada ao final do governo JK teve na constru-ção de Brasilía um dos seus principais estimuladores.

No dia 21 de abril de 1960, a cidade idealizada por JK e projetada pelosarquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foi inaugurada com muita festa eeuforia.

Plano Piloto dePlano Piloto dePlano Piloto dePlano Piloto dePlano Piloto deBrasília: seuBrasília: seuBrasília: seuBrasília: seuBrasília: seudesenho lembradesenho lembradesenho lembradesenho lembradesenho lembraum avião, com asum avião, com asum avião, com asum avião, com asum avião, com asasas norte e sul.asas norte e sul.asas norte e sul.asas norte e sul.asas norte e sul.

Page 87: História do Brasil - Volume 2

32A U L A A sociedade e a cultura dos �anos dourados�

Os anos do governo JK foram de enfervescência social e cultural. Um estilomoderno de vida estava invadindo as casas da classe média. Novidades, comoenceradeiras, liquidificadores, panelas de pressão, vitrolas (eletrolas) de altafidelidade e televisores logo provocaram mudanças de comportamento.

A presença da música e do cinema norte-americano influenciava nossacultura. Nas grandes cidades, cada vez mais adotava-se o “american way of life” ,quer dizer, o jeito americano de viver.

Os jovens “moderninhos” copiavam os maneirismos próprios de uma“junventude transviada” norte-americana: correr de lambreta, usar jaqueta decouro e topetes caídos na testa. As moças, de calça comprida, dançavam o rockand roll e o twist. Lutavam por mais liberdades, sem, contudo, romper com estilo“moça de família” e casadoira.

Coca-Cola, chicletes e cigarros tornam-se produtos de consumo, indispen-sáveis para essa turma que ainda não se preocupava com as calorias nem como câncer de pulmão. Nessa época, ainda não se conheciam os malefícios doaçúcar e do fumo.

As poderosas indústrias fonográficas e cinematográficas dos Estados Uni-dos invadiram as cidades com músicas e filmes norte-americanos, mas haviareações nacionalistas.

A música, o teatro e até mesmo o cinema brasileiro tornam-se, mais do quenunca, ativos e revolucionários.

Exemplo disso é a bossa novabossa novabossa novabossa novabossa nova, uma revolucionária mistura de jazz comsamba e música clássica, que revelou ao mundo grandes nomes da músicabrasileira como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra,Ronaldo Bôscoli, entre outros. O novo estilo, considerado inicialmente um ritmosofisticado demais, impôs-se pelo talento de seus compositores e intérpretes quecantavam acompanhados apenas de violão.

Imagine uma peça de teatro escrita por Vinicius de Moraes com músicas deTom Jobim e cenários de Oscar Niemeyer: era Orfeu da Conceição, grandesucesso de 1956. Nesse mesmo ano, Maria Clara Machado lançou seus Cadernos

À esquerda,À esquerda,À esquerda,À esquerda,À esquerda,Orfeu doOrfeu doOrfeu doOrfeu doOrfeu do

CarnavalCarnavalCarnavalCarnavalCarnaval, filme, filme, filme, filme, filmeque adaptouque adaptouque adaptouque adaptouque adaptou

Orfeu daOrfeu daOrfeu daOrfeu daOrfeu daConceiçãoConceiçãoConceiçãoConceiçãoConceição (de (de (de (de (de

Vinícius deVinícius deVinícius deVinícius deVinícius deMorais).Morais).Morais).Morais).Morais).

ÀÀÀÀÀ direita, direita, direita, direita, direita,Carlos Lyra eCarlos Lyra eCarlos Lyra eCarlos Lyra eCarlos Lyra e

Nara Leão,Nara Leão,Nara Leão,Nara Leão,Nara Leão,no início dano início dano início dano início dano início dabossa nova.bossa nova.bossa nova.bossa nova.bossa nova.

Page 88: História do Brasil - Volume 2

32A U L Ade Teatros que incentivavam a criação de grupos amadores. Outras peças

famosas desse período foram Eles não usam black tie de Gianfrancesco Guanierie O pagador de promessa de Dias Gomes. Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha,lançou os grandes sucessos Mão na luva e Rasga coração; e Augusto Boal ganhouo primeiro prêmio Molière (de teatro), em 1963.

No cinema, como já se viu as chanchadas da Atlândida revelaram ao mundograndes humoristas como Grande Otelo e Oscarito. Jô Soares fez sua estréia em1959, no filme “O homem do sputinik”. Chico Anísio já fazia o povo rir pela TV,a partir de 1960.

O cinema de arte contou com grandes lançamentos de Nelson Pereira dosSantos, Roberto Santos e Ruy Guerra. Em 1962, o filme O pagador de promessa,do diretor Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Com os filmes de Gláuber Rocha, (Deus e o diabo na terra do sol, Terra emtranse e outros) o cinema de arte passou por uma revolução de linguagem e detemas que o caracterizou como Cinema NovoCinema NovoCinema NovoCinema NovoCinema Novo.

A grande liberdade que reinava no país, permitiu a crítica social e incentivoua produção artística. Havia certo orgulho romântico de ser brasileiro, e umespírito de luta e otimismo.

Os estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes − UNE fundaram oCentro Popular de Cultura − CPC, que pretendia levar cultura e conscientizaçãopolítica para os trabalhadores, por intermédio da arte. Apoiando os estudantes,estavam artistas e intelectuais.

Destacaram-se no cenário internacional feitos como o de Maria Ester Bueno,que venceu o campeonato de tênis de Wimbledon em 1957; a conquista da Copado Mundo pela Seleção Brasileira de Futebol, em 1958; o título de campeãoMundial de Boxe, na categoria “peso galo”, conquistado por Eder Jofre, em 1960e a eleição da Miss Universo Ieda Maria Vargas, em 1963.

6

A euforia não duraria muito. A política desenvolvimentista resolvera algunsproblemas, adiara outros tantos e criara novos. Entre estes últimos estava oaumento da concentração de renda na região Sudeste e a inflação, que ameaçavaescapar ao controle. Na periferia de Brasília, a miséria das cidades satélitesexpunha o outro lado da modernidade alcançada.

As crises, temporariamente adiadas, reapareceram já no fim do governo deJK. A aliança PSD-PTB começou a “balançar”, com o grande crescimento dospetebistas, que ameaçaram o tradicional domínio do PSD. Cresceu, também, aparticipação dos militares, solicitados pelos políticos civis que consideravam asmanifestações populares, no campo e na cidade, como atividades que podiamdestruir a ordem. A campanha eleitoral para a sucessão do presidente Kubitschecksubstituiu o otimismo pelo moralismo do candidato Jânio Quadros, que semostrou como “aquele que poderia acabar com o caos no país”.

No próximo módulo, você vai ver como a esperança dos “anos dourados”virou radicalização na década de 60 e quais as alternativas que os conflitos sociaiscolocaram para a política e a economia brasileira.

O temponão pára

Page 89: História do Brasil - Volume 2

32A U L A Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia A década de 1950 e a “bipolarização” do mundoA década de 1950 e a “bipolarização” do mundoA década de 1950 e a “bipolarização” do mundoA década de 1950 e a “bipolarização” do mundoA década de 1950 e a “bipolarização” do mundo e explique o quefoi a bipolarização do mundo?

2.2.2.2.2. Releia A viabilização dos objetivos de JKA viabilização dos objetivos de JKA viabilização dos objetivos de JKA viabilização dos objetivos de JKA viabilização dos objetivos de JK e responda de que maneira JKagiu para alcançar seus objetivos em relação aos segmentos abaixo:a)a)a)a)a) capital externo;b)b)b)b)b) trabalhadores;c)c)c)c)c) Congresso Nacional.

3.3.3.3.3. Releia Brasília: “a síntese de todas as metas”Brasília: “a síntese de todas as metas”Brasília: “a síntese de todas as metas”Brasília: “a síntese de todas as metas”Brasília: “a síntese de todas as metas” e A sociedade e a culturaA sociedade e a culturaA sociedade e a culturaA sociedade e a culturaA sociedade e a culturados anos douradosdos anos douradosdos anos douradosdos anos douradosdos anos dourados e explique por que havia certo orgulho romântico de serbrasileiro.

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

Refazendo a História

Funeral de um lavradorFuneral de um lavradorFuneral de um lavradorFuneral de um lavradorFuneral de um lavradorDe João Cabral de Melo Neto

Esta cova em que estásCom palmos medidaÉ a conta menor que tiraste em vidaÉ de bom tamanhoNem largo nem fundoÉ a parte que te cabe deste latifúndioNão é cova grandeÉ cova medidaÉ a terra que querias ver divididaÉ uma cova grandePara teu pouco defuntoMas estarás mais ancho que estavas no mundoÉ uma cova grandePara teu defunto parcoPorém mais que no mundo te sentirás largoÉ uma cova grandePara tua carne poucaMas a terra dada não se abre a boca

Este poema, que foi musicado por Chico Buarque, mostra como a produçãocultural dos anos dourados ia fundo nos problemas sociais. Qual é a grandequestão colocada nesses versos?

6

Exercícios

Page 90: História do Brasil - Volume 2

33A U L A

Da esperançaà repressão

O presidente Juscelino Kubitschek fora elei-to pelo voto popular, cumprira integralmente seu mandato e passara a faixapresidencial para outro presidente eleito. Porém, o novo presidente, JânioQuadros, renuncia e assume vice-presidente João Goulart (ou Jango, comoficou mais conhecido). Mas seus poderes são limitados pelo parlamentarismo.Quando se torna presidente de fato, é deposto. Rompida a constituição de 1946,com a deposição de João Goulart, as promessas de rápido retorno à ordemdemocrática não se concretizaram.

Nesta aula, vamos buscar entender como se deu esse processo e como seestruturou no Brasil a ditadura militar, na sua fase inicial, entre 1964 e 1969.

O fim da República Democrática

Jânio Quadros foi eleito com a maior votação obtida, até então, por umpolítico brasileiro. No entanto, só fez descontentar seus eleitores, nos poucosmeses em que ocupou a Presidência.

Varre,varre, vassourinha.Varre toda a bandalheira,Que o povo já está cansadoDe sofrer desta maneiraJânio Quadros é a esperançadeste povo abandonado (...)Música da campanha deJânio para a Presidência.

Com a inflação em alta, manteve os salários congelados e cortou subsídiosà agricultura, o que provocou uma grande alta nos preços dos alimentos.Decretou a ilegalidade de rifas e bingos, proibiu as brigas de galos e liberou ascorridas de cavalo apenas aos domingos; adotou uniforme “safári” nas reparti-ções públicas e, veja só, proibiu o desfile de maiô em concursos de beleza e o usode biquini nas praias!

Apresentaçãodo Módulo 9

33A U L A

MÓDULO 9

Nesta aula

Page 91: História do Brasil - Volume 2

33A U L A Reatando relações diplomáticas com a União Soviética, e condecorando o

guerrilheiro Che Guevara, então ministro de Cuba, Jânio Quadros indignou aselites que o apoiavam, e também os norte-americanos.

Sofrendo oposição até de seu partido, a UDN, o presidente renunciou aocargo, em agosto de 1961.

Contrariamente às suas expectativas, nenhum setor da sociedade tentouconvencê-lo a permanecer no cargo. Sua renúncia foi aceita, e o Congressodeclarou vaga a Presidência da República.

O governo de João Goulart (1961-1964)

Quando Jânio Quadros renunciou, o vice-presidente estava fora do País, emvisita oficial à China. E, por causa de seu passado getulista e de sua aproximaçãocom as forças populares, teve de negociar sua posse. Alguns setores da direita,parlamentares e ministros militares, tentaram impedir que se cumprisse aConstituição, mas o governador do Rio Grande do Sul, na época, Leonel Brizola,com o apoio do Terceiro Exército, lançou a Campanha da LegalidadeCampanha da LegalidadeCampanha da LegalidadeCampanha da LegalidadeCampanha da Legalidade paragarantir a posse de João Goulart.

Por meio de um acordo que evitou a guerra civil, foi instaurado o regimeparlamentarista. Assim, Jango teria seus poderes diminuídos, pois no parla-mentarismo quem governa de fato é o Congresso, com o Primeiro Ministro.Posteriormente, haveria um plebiscito, para que a população decidisse pelacontinuidade ou não do regime parlamentarista.

No dia 7 de setembro de 1961, João Goulart tomou posse, juntamente como primeiro ministro Tancredo Neves. Mas o clima de golpe que impusera oregime parlamentarista gerou descontentamento e tornou o regime impopular.

O plebiscito teve de ser antecipado e, assim, no dia 6 de janeiro de 1963, apopulação disse “não” ao parlamentarismo e restabeleceu o presidencialismo.

A inflação, agravada pela crise administrativa e política, castigava dura-mente a população. O presidente João Goulart tentava implementar reformas debase, mas o Congresso, cuja maioria parlamentar representava os interesses daselites, se opôs a essas reformas. Medidas para conter a remessa para o exteriorde lucros das empresas estrangeiras passaram a sofrer a oposição dos EstadosUnidos e dos grupos ligados ao capital internacional. A criação da Superinten-dência Nacional de Abastecimento − SUNAB, para controlar o abastecimento efiscalizar os preços, descontentava o empresariado.

Jango, então, radicalizou: buscou apoio da população, incentivando pas-seatas e manifestações. Sindicalistas, trabalhadores, donas de casa, estudantes,artistas e intelectuais, todo mundo se manifestava. As forças que o apoiavameram os trabalhadores urbanos, ligados aos sindicatos, e as ligas camponesasligas camponesasligas camponesasligas camponesasligas camponesaslideradas por Francisco Julião, e mais: estudantes, intelectuais e militaresnacionalistas. Os pequenos e médios proprietários rurais e industriais, queproduziam para o mercado interno, também apoiam as propostas reformistas deJango. Entre os parlamentares estavam grupos dissidentes do PSD, da UDN, doPartido Democrata Cristão − PDC e a Frente Parlamentarista Nacional − FPN.

No dia 13 de março de 1964, num grande comício realizado na Central doBrasil, no Rio de Janeiro, Jango anunciou o tabelamento dos aluguéis e aencampação das refinarias de petróleo estrangeiras, passando-as para o controleda Petrobras. Falou das reformas de basereformas de basereformas de basereformas de basereformas de base, que poderiam melhorar a vida demilhões de trabalhadores. Prometeu fazer a reforma agrária e as reformas fiscal,bancária e administrativa.

Page 92: História do Brasil - Volume 2

33A U L A

Principalmente a reforma agrária, devido à desapropriação dos latifúndiosimprodutivos, mediante indenização, desencadeou grande reação, por repre-sentar uma mudança no direito de propriedade.

Alguns dias mais tarde, em São Paulo, as forças conservadoras manifesta-ram sua desaprovação, com a organização de uma grande passeata anti-comunista denominada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”.

Embora Jango não fosse comunista, nesse momento de radicalização, e coma polarização capitalismo/comunismo, a Igreja Católica manifestou-se contra asreformas, pois temia que o país caísse na órbita soviética, na qual não havialiberdade religiosa.

A oposição a Jango também se desenvolvia no plano internacional. No finalde março, o governo norte-americano aprovou uma operação contra o governobrasileiro. A operação “Brother Sam” (irmão Sam) não precisou ser ativada, masuma frota americana estava estacionada no litoral do Nordeste, pronta paraapoiar os golpistas, caso houvesse resistência.

Revolução

Em 31 de março de 1964, as tropas comandadas pelo general OlímpioMourão Filho deslocaram-se de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Altos chefesmilitares, políticos, governadores, empresários e setores da classe média apoia-vam abertamente a deposição do Presidente da República.

Grupos nacionalistas e de esquerda, pegos de surpresa com a movimenta-ção militar, não esboçaram nenhuma reação. Algumas tentativas de oposiçãopor parte de estudantes e sindicalistas não foram suficientes para reverter asituação. O presidente João Goulart, que se encontrava na cidade do Rio deJaneiro, seguiu para Brasília e, logo depois, para Porto Alegre.

Surgiu uma proposta de resistência, feita pelo ex-governador do Rio deGrande do Sul, Leonel Brizola. Mas a proposta foi rejeitada pelo presidente, quenão desejava “derramamento de sangue”.

O Congresso Nacional, já dominado por políticos favoráveis ao golpe,pronunciou-se: em 2 de abril de 1964 declarou vaga a Presidência da Repúblicae indicou interinamente para o cargo o deputado Ranieri Mazzilli, presidente daCâmara dos Deputados.

O comício naO comício naO comício naO comício naO comício naCentral do Brasil,Central do Brasil,Central do Brasil,Central do Brasil,Central do Brasil,no Rio de Janeiro,no Rio de Janeiro,no Rio de Janeiro,no Rio de Janeiro,no Rio de Janeiro,disparou a reaçãodisparou a reaçãodisparou a reaçãodisparou a reaçãodisparou a reaçãodos oponentesdos oponentesdos oponentesdos oponentesdos oponentesa Jango.a Jango.a Jango.a Jango.a Jango.

Page 93: História do Brasil - Volume 2

33A U L A João Goulart, que nesse dia ainda se encontrava em território nacional,

exilou-se no Uruguai. O governo dos Estados Unidos, que vinha apoiando aconspiração, reconheceu imediatamente a nova situação.

O novo presidente da República − Ranieri Mazzilli − era uma figuradecorativa. O poder de fato era exercido por um Comando Supremo daComando Supremo daComando Supremo daComando Supremo daComando Supremo daRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevolução, composto pelo almirante Augusto Rademaker, pelo general Costae Silva e pelo brigadeiro Correia de Melo. O Ato Institucional nº 1, imposto ànação no dia 9 de abril, afirmava que “a revolução vitoriosa se investe no exercíciodo Poder Constitucional” e dava às Forças Armadas “a responsibilidade darestauração da ordem interna e do combate à corrupção”. As garantias constituicionaisforam suspensas por seis meses e uma forte repressão tomou conta do país.Foram fechadas várias organizações consideradas “subversivas” − UNE, CGT,Ligas Camponesas, entre outras. Políticos e lideranças estudantis e sindicaistambém considerados subversivos foram perseguidos e presos. Iniciaram-se asprimeiras cassações de direitos políticos e os exílios.

No dia 11 de abril, a auto-intitulada “Revolução” dá o golpe de misericórdia:com um Congresso totalmente mutilado por cassações e exílios, impõe aaprovação da escolha do marechal Castelo Branco para completar o períodopresidencial que iniciara com Jânio Quadros, em 1961.

Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967)

Mas, afinal, quem eram esses militares que assumiram o poder em abril de1964? Eram, na sua maioria, membros da oficialidade, formados no pós-guerra,em meio ao clima da Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria. Muito deles passaram pelos cursos da EscolaSuperior de Guerra − ESG, criada em 1949, seguindo um modelo norte-america-no, com o objetivo de preparar as elites civis e militares para resolver questõesrelativas ao planejamento e à segurança nacional.

A segurança nacional era entendida como a mobilização de todos osrecursos nacionais contra as possíveis ameaças externas, mas, principalmente,contra os inimigos internos, que eram identificados como “comunistas subver-sivos”, naqueles tempos de Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria.

Depois da queda de Jango, a tarefa de organização do novo poder começoua colocar frente a frente as posições de grupos, dentro das Forças Armadas, quenão possuíam as mesmas idéias a respeito dos rumos do movimento. De umlado, estava o grupo mais moderado, com aspirações liberais; de outro, achamada linha duralinha duralinha duralinha duralinha dura que, acreditando travar uma “guerra revolucionária”,desejava perseguições e o “endurecimento” cada vez maior do governo.

Foi nesse contexto que se desenvolveu o governo Castelo Branco. Em 1965,com a vitória da oposição nas eleições para importantes governos, como os deMinas Gerais, (Israel Pinheiro) e da Guanabara (Negrão de Lima), os setores dalinha dura levaram o governo a editar o Ato Institucional nº 2.

Além da prorrogação do mandato presidencial, esse Ato permitia que opresidente fechasse o Congresso, realizasse novas cassações e, principalmente,dissolvesse os antigos partidos políticos. Surgiram, dessa maneira, a AliançaNacional Renovadora − ARENA, que deveria servir de apoio ao governo, e oMovimento Democrático Brasileiro − MDB, que faria a oposição consentida, istoé, aceita pelo governo.

O quadro político foi agravado por novas medidas autoritárias, como o AtoInstitucional nº 3 (determinando a escolha indireta dos governadores de estado),o Ato Institucional nº 4 (estabelecendo as condições em que a nova Cons-

Page 94: História do Brasil - Volume 2

33A U L Atituição seria votada pelo Congresso) e a indicação do general Costa e Silva,

ministro do Exército, para suceder ao marechal Castelo Branco.Tal situação frustrou as expectativas de antigos aliados civis do golpe, que

acreditavam poder participar mais intensamente das decisões políticas.Alguns órgãos de imprensa, que haviam apoiado o movimento de 64,

começaram a denunciar as violências e as perseguições, como o jornal cariocaCorreio da Manhã. Aos poucos, esse órgãos foram sendo atingidos pela censura.As promessas de devolver o país à democracia não se cumpriam.

Além das transformações jurídico-políticas ocorreram mudanças na econo-mia. Combater a inflação e recuperar a confiança dos investidores e credoresinternacionais passaram a ser prioridades.

Para atingir esses objetivos, ainda em 1964 foi lançado o Plano de AçãoEconômica do Governo − PAEG, coordenado por Roberto Campos. O país seabriria para as empresas multinacionais, que iriam gerar empregos e progresso.

O governo brasileiro, para colocar esse plano em prática, contou com o apoiodo governo norte-americano, que tinha um programa de ajuda aos paísessubdesenvolvidos chamado Aliança para o ProgressoAliança para o ProgressoAliança para o ProgressoAliança para o ProgressoAliança para o Progresso. Com empréstimos dosEstados Unidos, com a diminuição dos gastos públicos e com a contençãosalarial, o governo pretendia acabar com a crise econômica brasileira.

Já que a ação dos sindicatos estava limitada pela política de cassação erepressão do governo militar, os trabalhadores acabaram perdendo boa parte doseu poder aquisitivo. Foi criada a correção monetáriacorreção monetáriacorreção monetáriacorreção monetáriacorreção monetária, que estimulou ascadernetas de poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de ServiçoFundo de Garantia por Tempo de ServiçoFundo de Garantia por Tempo de ServiçoFundo de Garantia por Tempo de ServiçoFundo de Garantia por Tempo de Serviço − FGTS,que permitiu o investimento na construção de moradias (embora tenha sidoconstruída apenas uma pequena quantidade de conjuntos habitacionais) peloBanco Nacional de Habitação − BNH. O FGTS também tinha o objetivo deextinguir determinados mecanismos que garantiam a estabilidade no emprego.

Com o aumento dos juros e os estímulos à exportação, foram beneficiadosbancos particulares e o parque industrial privado. Mas muitas pequenas emédias empresas não suportaram a concorrência das grandes e acabaramfechando suas portas.

Era a retomada da oligopolizaçãoretomada da oligopolizaçãoretomada da oligopolizaçãoretomada da oligopolizaçãoretomada da oligopolização (controle de setores do mercado poralgumas poucas empresas que fazem acordo sobre os preços) e do processo deprocesso deprocesso deprocesso deprocesso deconcentração de riquezaconcentração de riquezaconcentração de riquezaconcentração de riquezaconcentração de riqueza.

O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969)

Quando assumiu o governo em 1967, o general Costa e Silva tinha suaautoridade garantida pela supremacia do Poder Executivo sobre o Legislativo eo Judiciário, e pela existência da Lei de Segurança Nacional. Além disso, asassessorias dadas pelo Alto Comando e Estado Maior das Forças Armadas e peloServiço Nacional de Informação − SNI, garantiam as informações necessáriaspara a fiscalização da vida nacional.

Apesar das medidas radicais e autoritárias da linha duralinha duralinha duralinha duralinha dura, a sociedadecomeçou a reagir. À oposição consentida do MDB, somaram-se setores sociaispertencentes às classes médias urbanas (incluindo-se aqui alguns grupos ante-riormente comprometidos com o golpe), setores do movimento estudantil,operários e parte da Igreja Católica.

Já rompido com a “Revolução”, o ex-governador da Guanabara CarlosLacerda lançou, em 1967, a Frente Ampla. Contando com apoio dos ex-presiden-tes Juscelino Kubitschek e João Goulart, exigia uma anistia amplaanistia amplaanistia amplaanistia amplaanistia ampla, uma nova

Page 95: História do Brasil - Volume 2

33A U L A Constituição e o restabelecimento das eleições diretas para todos os níveis. No

entanto, a heterogeneidade dos componentes e a reação militar levaram a FrenteAmpla ao fracasso.

Em 1968, protestando contra a política educacional, o corte de verbas, adiminuição dos salários dos professores, a redução do número de vagas, oincentivo ao ensino particular com verbas públicas, e opondo-se ao própriogoverno, os estudantesestudantesestudantesestudantesestudantes realizaram diversas manifestações em várias capitais. Oponto máximo da mobilização dos jovens ocorreria em junho, por causa doassassinato do estudante Edson Luís, pela polícia.

No dia 26 de junho de 1968, o Rio de Janeiro assistiu à Passeata dos CemPasseata dos CemPasseata dos CemPasseata dos CemPasseata dos CemMilMilMilMilMil. Milhares de pessoas saíram às ruas, na maior manifestação contra ogoverno desde 64. Artistas, intelectuais, estudantes, padres, freiras, professo-res, funcionários públicos, jornalistas e mães exigiam a libertação dos jovenspresos. A classe média saía às ruas para mostrar sua insatisfação. O governorelutava em negociar e respondia com evasivas.

Naquele momento em que os protestos contra o regime não paravam, aoposição consentida do MDB no Congresso passou a ser mais agressiva em suasacusações ao governo. Aí surgiu a gota d’água para o fechamento do regime.

Um discurso do deputado carioca Márcio Moreira Alves, do MDB, pregan-do o boicote popular ao desfile de 7 setembro, provocou irritação nas ForçasArmadas e levou o governo a exigir que o Congresso punisse o deputado. Maso Congresso recusou o pedido de licença para processá-lo. No dia seguinte, 13de dezembro, o presidente Costa e Silva assinou o Ato Institucional nº 5, quefechou o Congresso por tempo indeterminado, cassou diversos mandatos elevou mais gente para a cadeia. Era o fechamento completo do regimefechamento completo do regimefechamento completo do regimefechamento completo do regimefechamento completo do regime.

6Com a “Revolução” de abril de 1964, foi implatado no Brasil um novo

projeto de Estado, privilegiando a manutenção da ordem, o desenvolvimentoeconômico capitalista e o controle dos movimentos sociais. Para atingir essesobjetivos, os líderes militares mostraram-se dispostos a sacrificar qualquernoção de direito, de cidadania e de Estado de Direito vigente no país.

No ano de 1968, o termômetro da mobilização social atingiu graus intolerá-veis para as autoridades. A violência do Ato Institucional nº 5 significou o iníciodos “anos de chumbo”.

Em agosto de 1969, com a doença de Costa e Silva, que sofreu um derramecerebral, o vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, foi impedido de assumir apresidência por sua posição contrária ao Ato Institucional nº 5. Os três ministrosmilitares formaram, então, uma junta militar e assumiram o governo.

A violenta repressão e a censura que se abateu sobre o país impediram aparticipação política da sociedade. Assim, alguns grupos partiram para ocaminho da clandestinidade e da luta armada. Organizações guerrilheiras,formadas por diferentes grupos radicais de esquerda, passaram a realizarassaltos a bancos, como forma de obter dinheiro e armas para a luta, e aseqüestrar embaixadores estrangeiros, com o objetivo de denunciar o governoe obter a libertação de presos políticos que iam para outros países, exilados.

Iniciou-se uma verdadeira guerra entre as forças militares e os grupos daesquerda armada.

Foi nesse contexto de crise que se deu a escolha do general Emílio GarrastazuMédici para o governar o Brasil.

O temponão pára

Page 96: História do Brasil - Volume 2

33A U L ARelendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia O fim da república democráticaO fim da república democráticaO fim da república democráticaO fim da república democráticaO fim da república democrática e explique:a)a)a)a)a) o que foi a Campanha da Legalidade;b)b)b)b)b) o acordo que evitou a guerra civil e garantiu a posse de Jango.

2.2.2.2.2. Releia RevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevolução e responda:a)a)a)a)a) que setores apoiaram a deposição de Jango?b)b)b)b)b) com que Ato as Forças Armadas se responsabilizaram pela manutenção

da ordem interna e do combate à corrupção?

3.3.3.3.3. Releia Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967)Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967)Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967)Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967)Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967) e digaque medidas práticas foram tomadas com o Ato Institucional nº 2?

4.4.4.4.4. Releia O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969)O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969)O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969)O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969)O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969) eexplique as manifestações estudantis de 1968.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Refazendo a História

Marcha da quarta-feira de cinzasMarcha da quarta-feira de cinzasMarcha da quarta-feira de cinzasMarcha da quarta-feira de cinzasMarcha da quarta-feira de cinzasLetra de Vinicius de Moraes e música de Carlos Lyra

Acabou nosso carnavalNinguém ouve cantar cançõesNinguém passa mais brincando felizE nos coraçõesSaudades e cinzas foi o que restouPelas ruas o que se vêÉ uma gente que nem se vêQue nem se sorriSe beija e se abraçaE sai caminhandoDançando e cantando cantigas de amorE no entanto é preciso cantarMais que nunca é preciso cantarÉ preciso cantar e alegrar a cidadeA tristeza que a gente temQualquer dia vai se acabarTodos vão sorrirVoltou a esperançaÉ o povo que dançaContente da vida feliz a cantarPorque são tantas coisas azuisE há tão grandes promessas de luzTanto amor para amar de que a gente nem sabeQuem me dera viver pra verE brincar outros carnavaisQue marchas tão lindasE o povo cantando seu canto de paz

Nesse poema, Vinicius de Moraes, lamentava o fim do período democrá-tico, comparando-o ao carnaval. No entanto, previa que, em breve, voltariaa esperança. Infelizmente, ele não viveu para ver esse dia feliz.

Em sua opinião, que esperança era essa, e quais seriam essas promessaspromessaspromessaspromessaspromessasde luzde luzde luzde luzde luz a que Vinicius se referia?

Exercícios

Page 97: História do Brasil - Volume 2

34A U L A

34A U L A

MÓDULO 9

Nesta aula

Os anos de chumbo

Os chamados “anos de chumbo” desenvol-veram-se sob a inspiração da linha dura, do Ato Institucional nº 5 e da ideologiada “segurança nacional”. Com Médici no poder, o país passou por uma dasmais duras fases de restrição política da História da República.

Em nome do desenvolvimento dizia-se ser necessária a segurança, e porsegurança subentendia-se a eliminação de qualquer tipo de oposição.

Nesta aula vamos entender melhor esse período difícil da nossa História, ever que, apesar de tudo, a resistência achou brechas para se manifestar.

�Milagre� econômico

Os governos militares se propunham a realizar um gigantesco esforço dedesenvolvimento, baseado na associação das empresas nacionais com empresasmultinacionais. Prometendo estabilidade política ao capital estrangeiro, foramatraídos empréstimos para grandes obras e novos investimentos.

Foi assim que, durante o regime militar, aumentou vária vezes o ProdutoProdutoProdutoProdutoProdutoInterno BrutoInterno BrutoInterno BrutoInterno BrutoInterno Bruto (PIB), que é o valor de tudo que se produz no país. Esse desen-volvimento recebeu o nome de “milagre”, transformando a economia brasileirana oitava do mundo.

O aumento da riqueza produzida no país resultou em melhoria de vida parauma parcela da população: a classe média. Os salários, no entanto, foramcontidos, e ninguém podia reivindicar nada.

Nessa época, apesar da crescente industrialização, o quadro social agravou-se com o aumento de favelas, de menores abandonados, de violência urbana...E tudo isso num país que se desenvolvia a olhos vistos.

O ministro da Fazenda Delfim Neto explicava que era preciso “fazer o bolocrescer” para, depois, reparti-lo. Mas até o presidente reconhecia: “A economiavai bem, mas o povo vai mal.”

Brasil, ame-o ou deixe-o

As empresas multinacionais queriam garantias de que os seus investimen-tos não seriam encampados se houvesse uma revolução socialista, ou seja, sehouvesse subversão da ordem capitalista. Com a doutrina da “segurança

Page 98: História do Brasil - Volume 2

34A U L Anacional e desenvolvimento”, os militares, aliados ao alto empresariado, conse-

guiram a estabilidade política nescessária. Essa doutrina, que visava garantir asoberania nacional, o progresso, a paz social e a democracia, vai crescendo porcausa da concentração de poderes nas mãos do presidente militar e por causa dascampanhas de controle, repressão e propaganda do regime.

Por trás da doutrina, que estava escrita em um programa, existia umaideologia da “segurança nacional”. Mas estaria o Brasil ameaçado por algumapotência estrangeira? Não. O que corria risco era o sistema capitalista, aspropriedades, as empresas, os lucros fáceis. Nesse momento em que o capitalis-mo estava sendo ameaçado pelo socialismo, era preciso defendê-lo.

Repressão

O governo do presidente Emílio Garrastazu Médici é o ápice dessa ideolo-gia, que apesar de falar em paz social e democracia, levava o Estado aoaperfeiçoamento máximo dos mecanismos de defesa interna. Por meio darepressão violenta, os grupos armados foram aniquilados. Os que combatiam oregime eram chamados de “terroristas” e “subversivos”. Quando presos, per-diam qualquer direito político ou humano.

A propaganda

O Brasil de Médici não era apenas grande, era gigantesco. O própriopresidente dizia: “Ninguém segura este país”. Além das obras monumentais,como a ponte Rio-Niterói e a rodovia Transamazônica, o governo estendeu omar territorial brasileiro para 200 milhas. Na comemoração dos 150 anos daIndependência, foram trasladados, com muita pompa, os restos mortais deD. Pedro I que estavam em Portugal.

Em 1970, com a conquista do tricampeonato mundial de futebol, no México,os órgãos de propaganda montaram a imagem do “país que vai pra frente”, eutilizavam músicas como ‘Eu te amo meu Brasil, meu coração é verde, amarelo,azul anil” e “Moro num País tropical, abençoado por Deus e bonito pornaturesa”. E quem não concordasse, que se mudasse! No exterior, era grande acolônia de brasileiros exilados por motivos políticos.

Criados peloCriados peloCriados peloCriados peloCriados pelogoverno, estesgoverno, estesgoverno, estesgoverno, estesgoverno, esteslemas eramlemas eramlemas eramlemas eramlemas eramdivulgados pelodivulgados pelodivulgados pelodivulgados pelodivulgados pelopaís inteiro.país inteiro.país inteiro.país inteiro.país inteiro.

Page 99: História do Brasil - Volume 2

34A U L A Censura, nunca mais!

Desde o golpe de 64, estava difícil para trabalhadores e políticos criticaremo governo. A censura mandava recolher jornais, acabar com programas de rádio,e proibia a encenação de peças de teatro. No entanto, os operários ainda seorganizavam e protestavam. Mas, depois do Ato Institucional nº 5, isso setornou impossível. Para que ninguém contestasse essa imagem que se queriafazer do governo e do país, era preciso manter sob controle os meios decomunicação, as artes, os sindicatos e até os professores.

No governo Médici foi instituída a censura préviacensura préviacensura préviacensura préviacensura prévia. Tudo que se lia, via ououvia, tinha de ser autorizado pelo Departamento de Censura Federal. Os filmessofriam cortes; peças de teatro eram modificadas, e até se alteravam letras demúsicas. A liberdade de imprensa foi tolhida de tal modo que, dentro da redaçãode jornais e revistas, havia censores.

Os livros considerados subversivos foram retirados das bibliotecas e livra-rias. Disciplinas como FilosofiaFilosofiaFilosofiaFilosofiaFilosofia e HistóriaHistóriaHistóriaHistóriaHistória, que são tão importantes para odesenvolvimento do pensamento e da crítica, foram simplesmente eliminadasdos currículos escolares. Em seu lugar foi introduzida uma disciplina chamadaEstudos Sociais, que misturava a história oficial e geografia, e Educação Morale Cívica, cujo objetivo era a doutrinação dos estudantes.

A ampliação da violência e do controle da imprensa e das artes provocou umclima de tensão e de insegurança. Por isso, muitos artistas e intelectuais tiveramde sair do país, e os que ficaram foram perseguidos, além de terem sua liberdadede criação limitada pela censura e pelo medo da prisão.

O movimentoO movimentoO movimentoO movimentoO movimentoestudantil entrouestudantil entrouestudantil entrouestudantil entrouestudantil entrou

em conflito com aem conflito com aem conflito com aem conflito com aem conflito com apolícia e compolícia e compolícia e compolícia e compolícia e com

outras forças daoutras forças daoutras forças daoutras forças daoutras forças darepressão.repressão.repressão.repressão.repressão.

Geraldo VandréGeraldo VandréGeraldo VandréGeraldo VandréGeraldo Vandréescreveu a músicaescreveu a músicaescreveu a músicaescreveu a músicaescreveu a música

Para não dizer quePara não dizer quePara não dizer quePara não dizer quePara não dizer quenão falei de floresnão falei de floresnão falei de floresnão falei de floresnão falei de flores.....

Page 100: História do Brasil - Volume 2

34A U L APra não dizer que não falei de flores

Apesar da censura e das perseguições, a cultura resistia. Com a peçaLiberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes, o teatro continuava a evocar aliberdade de pensamento e de criação artística. Mas, no final dos anos 60 e nosanos 70, a música acabaria por se tornar a grande trincheira de resistência aoautoritatismo. Paralelamente ao sucesso da Jovem Guarda, com Roberto Carlose Erasmo Carlos (influenciados pelo rock e pelos Beatles), destacam-se jovenscompositores que faziam música de protesto: Chico Buarque, Edu Lobo, MiltonNascimento, Geraldo Vandré, entre outros. Influenciados pela bossa nova e pelosamba, utilizavam os festivais de música, o teatro e o cinema para resistir.

A música que transcrevemos abaixo ficou conhecida como um hino daresistência e oposição ao regime militar, e era sempre cantada em manifestaçõespúblicas.

Pra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresDe Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais, braços dados ou nãoNas escolas, nas ruas, campos, construçõesCaminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saberQuem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantaçõesPelas ruas, marchando indecisos cordõesAinda fazem da flor seu mais forte refrãoE acreditam nas flores vencendo o canhão

Há soldados armados, amados ou nãoQuase todos perdidos, de arma na mãoNos quartéis lhes ensinam antigas liçõesDe morrer pela Pátria e viver sem razão

Nas escolas, nas ruas, campos, construçõesSomos todos soldados, armados ou nãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chãoA certeza na frente e a História na mãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoAprendendo e ensinando uma nova lição

Um movimento que marcou época nos anos de 1967 e 1968 foi a TropicáliaTropicáliaTropicáliaTropicáliaTropicália.Caracterizou-se pelo espírito irreverente, popular, de cantar as coisas do Brasil.

Os tropicalistas eram, em sua maioria, baianos: Caetano Veloso, GilbertoGil, Tomzé, Capinam, e o piauiense Torquato Neto. Buscavam a comunicaçãodireta com o povo, e falavam a sua linguagem, com ironia e bom humor. Alémdas letras, também inovavam na harmonia e na utilização da guitarra elétrica.Alguns conservadores achavam que eles iriam descaracterizar a música brasilei-ra ao utilizar instrumentos eletrônicos. O Programa do ChacrinhaPrograma do ChacrinhaPrograma do ChacrinhaPrograma do ChacrinhaPrograma do Chacrinha, transmitidopela televisão, popularizou o movimento. Pela primeira vez o povo aparecia na“telinha” e se reconhecia.

Page 101: História do Brasil - Volume 2

34A U L A

A reação de parte da juventude ao que acontecia no Brasil e no mundo −as guerras, o consumismo, as injustiças sociais, a violência, a opressão e arepressão política − expressou-se numa postura de rebeldia. Muitos jovenspassaram a incorporar a maneira de viver dos “hippies” que, na Europa e nosEstados Unidos, chocavam as pessoas mais conservadoras, com seus cabeloscompridos, suas roupas extravagantes e sua defesa do amor livre. A música deCaetano Veloso É Proibido Proibir expressa bem o protesto dos jovens que, nosanos 60 e 70, se rebelaram contra a repressão sob todas as formas e defendiama liberdade como filosofia de vida.

6

Para se legitimar, ou seja, para ser aceito pelo povo, o regime militarprecisaria ter sucesso em desenvolver o país e dar melhores condições de vidaà população. Embora conseguisse sufocar qualquer oposição, a ditadura nãoconseguiu superar suas próprias contradições. A partir de 1973, num cenário decrise internacional pela alta dos preços do petróleo e alta dos juros, o “boloeconômico” parou de crescer, sem que o povo tivesse recebido sua “fatia”.Iniciou-se, então, um longo e gradual processo de abertura política.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia “Milagre” econômico“Milagre” econômico“Milagre” econômico“Milagre” econômico“Milagre” econômico explique o que foi esse milagre.

2.2.2.2.2. Releia Brasil, ame-o ou deixe-oBrasil, ame-o ou deixe-oBrasil, ame-o ou deixe-oBrasil, ame-o ou deixe-oBrasil, ame-o ou deixe-o e responda:a)a)a)a)a) por que o Ato Institucional nº 5 significou o endurecimento do regime?b)b)b)b)b) de que maneira a propaganda ajudava a estabilizar o regime?

3.3.3.3.3. Releia Censura, nunca mais!Censura, nunca mais!Censura, nunca mais!Censura, nunca mais!Censura, nunca mais! e Pra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de floresPra não dizer que não falei de flores eexplique de que forma a censura afetou a produção cultural do país.

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

O temponão pára

Exercícios

Caetano Veloso,Caetano Veloso,Caetano Veloso,Caetano Veloso,Caetano Veloso,Rita Lee,Rita Lee,Rita Lee,Rita Lee,Rita Lee,

Maria Bethânia,Maria Bethânia,Maria Bethânia,Maria Bethânia,Maria Bethânia,e outros artistase outros artistase outros artistase outros artistase outros artistas

formavam o grupoformavam o grupoformavam o grupoformavam o grupoformavam o grupotropicalista.tropicalista.tropicalista.tropicalista.tropicalista.

Page 102: História do Brasil - Volume 2

34A U L ARefazendo a História

O documento a seguir é um telex enviado pelo jornalista Ruy Mesquita aoministro da justiça Alfredo Buzaid, e que circulou na imprensa como um gritode revolta pela humilhação da censura, que a impedia de exercer seu papel deinformar:

Sr. Ministro:

Da Polícia Federal recebemos o seguinte aviso:

“De ordem do Sr. Ministro da Justiça, fica expressamente proibidaa publicação de: notícias, comentários, entrevistas ou critérios (sic) dequalquer natureza (sic) abertura política ou democratização ou assun-tos correlatos (sic); anistia a cassados (sic) ou revisão parcial de seusprocessos; críticas ou comentários ou editoriais desfavoráveis sobre asituação econômico-financeira; ou problema sucessório e suas implica-ções. As ordens acima transmitidas atingem quaisquer pessoas, inclu-sive as que já foram ministros de Estado ou ocuparam altas posições oufunções em quaisquer atividades públicas. Fica igualmente proibidopelo Sr. Ministro da Justiça a entrevista de Roberto Campos”.

Senhor Ministro, ao tomar conhecimento dessas ordens emanadas deV. S., o meu sentimento foi de profunda humilhação e vergonha. Sentivergonha, Senhor Ministro, pelo Brasil, degradado à condição de umarepubliqueta de banana ou de uma Uganda qualquer por um governoque acaba de perder a compostura.

Parece incrível que os que decretam hoje o ostracismo forçado dospróprios companheiros de revolução, que ocuparam ontem cargos emque se encontram hoje, não cogitem cinco minutos do julgamento daHistória. O senhor, Senhor Ministro, deixará de sê-lo um dia. Todos osque estão hoje no poder dele baixarão um dia e, então, Senhor Ministro,como aconteceu na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, ou naRússia de Stalim, o Brasil ficará sabendo a verdadeira história desteperíodo em que a revolução de 64 abandonou os rumos traçados pelo seumaior líder, o marechal Castelo Branco, para enveredar pelos rumos deum caudilhismo militar que já está fora de moda, inclusive nas repúbli-cas hispano-americanas.

Cheio de vergonha por ver meu país degradado a essa condição,subscrevo-me humilhado,

Ruy Mesquita,diretor do Jornal da Tarde e de O Estado de São Paulo.

Cópias ao Ministro Leitão de Abreu.Cópias aos líderes da ARENA e do MDB, na Câmara e no Senado.

São Paulo, 20 de setembro de 1972.

Agora, responda: o que esse documento revela sobre a “revolução” de 1964?

6

Page 103: História do Brasil - Volume 2

35A U L A

Amanhã há de seroutro dia

Os primeiros anos da década de 1970 foramde grande euforia. Entre 1970 e 1973, a economia brasileira cresceu em torno de10% ao ano! Era o “milagre” brasileiro. Após anos de uma dura recessão, o paísvivia sob uma inflação baixa. De maneira nunca vista, cresciam a produçãoindustrial e as exportações. Consolidava-se a sociedade de consumo. A classemédia passava a ter carro, casa própria, eletrodomésticos e lazer.

Nesta aula, vamos ver como a crise internacional do petróleo veio abalar aeconomia nacional e os índices de crescimento, sob os governos Geisel eFigueiredo. Veremos também que, com a crise econômica, ficou mais difícilmanter a repressão política. Iniciou-se, então, uma distensão lenta e gradual.

Do �milagre� à crise

Os técnicos tomaram conta da economia do Brasil. Muitos haviam seformado pela Escola Superior de Guerra (ESG), que desde os anos 50 vinha sepreocupando em discutir a realidade brasileira e formar profissionais capazes deplanejar e apresentar soluções para os problemas brasileiros. Crescia também aforça dos cursos universitários. Os salários daqueles que possuíam cursosuperior eram bem melhores e todos alimentavam o sonho da universidadesonho da universidadesonho da universidadesonho da universidadesonho da universidade,principalmente entre a classe média.

O setor estatal foi fortalecido e crescia, baseado na facilidade dos emprésti-mos externos. Nesse momento, as empresas estatais tinham como meta tornar-se lucrativas. O capital estrangeiro aumentou enormemente o seu investimento,com a instalação das multinacionaismultinacionaismultinacionaismultinacionaismultinacionais. E os juros da dívida externa estavam láembaixo...

A rede de rodovias aumentou. Grandes projetos de hidrelétricas (Itaipu) ea ocupação da Amazônia (construção da rodovia Transamazônica) tornaram-seprioridades do governo, Surgiram supermercadossupermercadossupermercadossupermercadossupermercados e shopping centersshopping centersshopping centersshopping centersshopping centers. Tudoparecia confirmar o slogan “Ninguém segura este país”, divulgado pelo gover-no e repetido por todos que viam seu padrão de vida melhorar.

Entre 1970 e 1973, o rápido crescimento das exportações brasileiras conse-guiu equilibrar a balança comercial, aumentando as exportações em 40% ao ano.Já o processo de concentração da renda negava aquilo que os técnicos do governocostumavam afirmar, isto é, que era preciso esperar o bolo crescer para dividi-lo. O bolo cresceu, mas... não foi dividido!

35A U L A

MÓDULO 9

Nesta aula

Page 104: História do Brasil - Volume 2

35A U L AAs bolsas de valores aumentaram seu movimento, criando uma febre de

especulação e o desejo de enriquecer rapidamente. Nos bancos, vários investi-mentos foram oferecidos na forma de ações, letras de câmbio e certificados dedepósito bancário. Esses investimentos eram papéis que funcionavam comouma espécie de empréstimo dos clientes aos bancos, que por sua vez investiame pagavam os clientes com juros. Começava o que ficou conhecido comociranda financeiraciranda financeiraciranda financeiraciranda financeiraciranda financeira.

O “milagre” brasileiro não durou muito. A partir de 1973, uma criseinternacional mudaria os rumos do “milagre”, junto com as contradições dapolítica econômica do período, que aumentava cada vez mais a dependência doBrasil em relação à economia internacional.

Era o momento de rever planos e estratégias. O Estado brasileiro procuravalegitimar sua ação política (com a eliminação da oposição e a linha duralinha duralinha duralinha duralinha dura) como lema “ segurança nacional e desenvolvimento” .

Em nome da segurança nacional, os cidadãos perdiam sua liberdade políti-ca, mas ganhavam desenvolvimento econômico. O “milagre” econômico serviude apoio ao lema da ditadura, que procurou sempre divulgar dados e estatísticastécnicas para demonstrar o crescimento do país. Porém, seus problemas surgi-ram logo, e pioraram com a situação internacional.

A crise do petróleo

Quando, em 1973, os países árabes, responsáveis pela maior parte daprodução de petróleo, se reuniram na Organização dos Países Exportadores dePetróleo − OPEP e decidiram aumentar os preços do produto, a situaçãobrasileira ficou complicada. A principal fonte de energia do mundo tornou-secara e gerou uma crise mundial.

Em 1974, a OPEP triplicou o preço mundial do petróleo. O Brasil passou aenfrentar graves dificuldades, pois na época importava 80% do petróleo consu-mido e tinha uma indústria automobilística em expansão.

Exemplo de obraExemplo de obraExemplo de obraExemplo de obraExemplo de obragigantesca, agigantesca, agigantesca, agigantesca, agigantesca, ahidrelétrica dehidrelétrica dehidrelétrica dehidrelétrica dehidrelétrica deItaipu gastouItaipu gastouItaipu gastouItaipu gastouItaipu gastoumilhões de dólaresmilhões de dólaresmilhões de dólaresmilhões de dólaresmilhões de dólaresem suaem suaem suaem suaem suaconstrução.construção.construção.construção.construção.

Page 105: História do Brasil - Volume 2

35A U L A Os juros da dívida externa subiram demais e as exportações brasileiras

caíram. Era o fim do “milagre”. Em 1977, foram adotadas medidas para contero consumo dos combustíveis derivados de petróleo. Passou a haver racionamen-to, fechando-se os postos de abastecimento à noite, nos fins de semana e nosferiados.

O “milagre” econômico da década de 1970 ajudou o governo militar ajustificar o seu poder, e não se pode negar o crescimento econômico, especial-mente do parque industrial nacional. Os ministérios e equipes do governo,ocupados por especialistas em determinados assuntos, construíram um poderde técnicos − a tecnocraciatecnocraciatecnocraciatecnocraciatecnocracia. A conjuntura internacional ajudou, combinada comos interesses do empresariado nacional e o apoio da classe média, satisfeita comseu próprio crescimento. No entanto, os programas sociais não tiveram sucesso.O Movimento Brasileiro de Alfabetização − MOBRAL, a reforma agrária, o PlanoNacional de Saúde não conseguiram cumprir seus objetivos. A década de 1980não chegou com otimismo.

O governo Ernesto Geisel (1974-1979)

Escolhido indiretamente para exercer a Presidência da República, o generalGeisel assumiu o poder quando o “milagre” brasileiro já mostrava sinais decrise. Com o objetivo de dar continuidade ao desenvolvimentismo, foi lançadoo Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (2º PNB), que dava prioridadeao setor energético.

Grandes projetos foram iniciados nesse governo: a usina nuclearusina nuclearusina nuclearusina nuclearusina nuclear de Angrados Reis, fruto de um acordo entre o Brasil e a Alemanha; os pólos industriaispólos industriaispólos industriaispólos industriaispólos industriaisde Carajás e Trombetas; e o Pro-Álcool, que desenvolveu um novo tipo decombustível para veículos − o álcool hidratadoálcool hidratadoálcool hidratadoálcool hidratadoálcool hidratado. Esses projetos tornaram-seincompatíveis com a dívida externa, que se tornara bem grande.

Por outro lado, as aplicações no mercado financeiro ofereciam mais vanta-gens do que os investimentos na produção.

O 2º PNB não foi muito bem sucedido. O fantasma da crise voltou a assustaros brasileiros e não havia santo que aparecesse para fazer milagres.

Abertura política lenta e gradual

Em termos políticos, a escolha do general Geisel significava uma vitória dosgrupos moderados, que pensavam em devolver o poder aos civis gradualmente.É claro que os efeitos da crise econômica e as novas pressões dos vários setoresda sociedade também contribuiram para o processo de abertura política.

Os trabalhadores, em 1978, desencadearam inúmeras greves, duramentereprimidas pela polícia. No entanto, os próprios empresários perceberam queera melhor conversar com os líderes sindicais do que com os representantes dogoverno.

Na região do ABC, em São Paulo, onde se concentravam as indústriasautomobilísticas, o movimento grevista dos metalúrgicos, liderados por LuísInácio da Silva, o Lula, deu início à reorganização dos trabalhadores.

O caminho, porém, seria difícil. Os militares da linha dura não concordavamcom a política de abertura. Ações repressivas, que culminaram com os assassi-natos do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho, colocaramem questão a autoridade do presidente e provocaram a indignação da sociedade.

Page 106: História do Brasil - Volume 2

35A U L A

A reação foi imediata: impôs-se um duro golpe aos setores radicais do própriogoverno, com a demissão do comandante do Segundo Exército e do próprioministro do Exército.

Os pacotes eleitorais

A abertura política do presidente Geisel, no entanto, foi bastante segura. Em1976, o ministro da Justiça Armando Falcão baixou uma lei que criou o horáriogratuito de propaganda eleitoral e, ao mesmo tempo, limitou o acesso daoposição ao rádio e à televisão. Os candidatos somente podiam dizer o nome, onúmero, a sigla partidária e o cargo que disputavam. Além disso, o tempo paracada partido era proporcional ao número de cargos que já ocupava no Senado,na Câmara, nas Assembléias estaduais e municipais.

De acordo com a Lei Eleitoral, o número de deputados federais a que cadaestado tinha direito variava conforme o número de eleitores. O estado quetivesse mais eleitores teria mais deputados. Esse era o caso de São Paulo, quetinha direito a noventa deputados.

O mapa das eleições de 1974 mostrou que o governo ganhara nas zonasrurais, onde predominavam os “currais eleitorais”, e perdia nas cidades onde apopulação era mais politizada.

O pacote de abril

O chamado “pacote de abril”, baixado em 1977, tratou de garantir apermanência das linhas mestras do regime. Tratava-se de um conjunto deemendas constitucionais e decretos-leis, que promovia a reforma do PoderJudiciário e do Poder Legislativo.

Por esse pacote, o número de deputados federais passou a ser proporcionalao número de habitantes, incluindo crianças e analfabetos, e não mais ao númerode eleitores. Os territórios, como Roraima e Amapá, onde o governo sempreganhava, tinham direito a um deputado, e passaram a ter direito a dois. E osestados teriam direito a ter, no mínimo, oito deputados e, no máximo, 55.

Dessa forma, em São Paulo seriam necessários 200 mil votos para eleger umdeputado, enquanto no Acre, apenas 8.750 votos seriam suficientes.

Certa vez, num debate na televisão, um candidato da oposição comentou:

Outro exemplo deOutro exemplo deOutro exemplo deOutro exemplo deOutro exemplo deobra gigantesca:obra gigantesca:obra gigantesca:obra gigantesca:obra gigantesca:a usina nucleara usina nucleara usina nucleara usina nucleara usina nuclearAngra I.Angra I.Angra I.Angra I.Angra I.

Page 107: História do Brasil - Volume 2

35A U L A “Agora só falta o governo decretar que o voto a seu favor vale dois, e que o voto para

a oposição vale um”. A verdade é que o voto de um eleitor acreano passou a valero voto de 23 eleitores paulistas.

O pacote de abril também fez modificações no Colégio Eleitoral − que eracomposto pelos membros do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados eSenado) e pelos representantes das Assembléias dos estados − para escolha dopresidente, ampliação do mandato presidencial para seis anos e criação doschamados “senadores biônicos”. Esses senadores, sem serem eleitos, eramindicados pelo governo.

Graças a essas medidas para prolongar o regime, o governo conseguiumanter maioria no Congresso nas eleições de 1978, embora a oposição tivessearrebanhado a maioria absoluta dos votos.

Somente após garantir-se a transição, com a escolha de outro militar paragovernar por mais seis anos, é que foram revogados o Ato Institucional nº 5 e acensura, no final do governo Geisel. O projeto de abertura política lenta e gradualdo presidente Geisel estava garantido.

O governo João Figueiredo (1979-1985)

Em março de 1979, assumiu a presidência o ex-chefe do Serviço Nacional deInformações (SNI) do governo Geisel, general João Figueiredo, após um períodode campanha que o obrigou a percorrer o país de ponta a ponta, num exercíciode democracia que, até então, nenhum presidente do período militar havia feito.

Afirmando ter a mão estendida à conciliação, Figueiredo se propôs a darcontinuidade − ainda lenta e gradual − ao processo de abertura.

A reforma partidária, com uma nova lei orgânica dos partidos, permitiu avolta do pluripartidarismo. A ARENA e o MDB trocaram de nome, passandoa chamar-se Partido Democrático Social − PDS e Partido do Movimento Demo-crático Brasileiro − PMDB. Também foram registrados o Partido dos Trabalha-dores − PT, o Partido Trabalhista Brasileiro − PTB e o Partido DemocráticoTrabalhista − PDT. O objetivo dessa reforma era reforçar o partido do governo,dividindo a oposição.

O presidente Figueiredo baixou outro “pacote eleitoral” em 1981, proibindoas coligações, ou seja, a união de partidos para apoiar um mesmo candidato.Cada partido deveria ter chapa completa de candidatos, e o voto seria vinculado.Isso quer dizer que o eleitor só podia votar em candidatos do mesmo partido.

Em junho de 1982, outro “pacote” exigia a fidelidade partidária, isto é,obrigava os parlamentares a votar conforme a determinação da direção dopartido. E, para impedir que a oposição, com maioria no Congresso, fizessemodificações na Constituição, as emendas só poderiam ser aprovadas por doisterços dos congressistas.

A convocação, em 1982, de eleições diretas para todos os níveis, exceto parapresidente, movimentou todo o país, embora nas grandes cidades não houvesseeleições para prefeito, pois eram consideradas áreas de segurança nacionaláreas de segurança nacionaláreas de segurança nacionaláreas de segurança nacionaláreas de segurança nacional.

Com o fim do Ato Institucional nº 5 e o abrandamento da Lei de SegurançaNacional, os movimentos populares intensificaram-se. Surgiram organizaçõescomo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento Popularde Saúde, os Grupos de União e Consciência Negra, União das Nações Indíge-nas, as Comissões de Mulheres, além de haver um incremento dos movimentospastorais, sindicais e de partidos políticos.

A anistiaanistiaanistiaanistiaanistia foi aprovada em 28 de agosto de 1979.

Page 108: História do Brasil - Volume 2

35A U L A

A década de 1970 terminou com um Brasil bem diferente do que começara.No plano econômico, a euforia deu lugar à crise; e no plano político, os anos dechumbo cederam espaço para um pouco de liberdade. Em dezembro de 1978, foirevogado o Ato Institucional nº 5, o mais importante instrumento de repressãopolítica. A partir daí, veio a certeza de que o regime autoritário se esgotara e deque era chegada a hora da democracia.

No plano político, a década de 1980 representou um momento decisivo naHistória brasileira. O regime militar − pressionado tanto pela crise econômicacomo pela capacidade de organização da sociedade − foi sendo obrigado a abrirmão do poder. As campanhas pela anistiapela anistiapela anistiapela anistiapela anistia e pelas diretaspelas diretaspelas diretaspelas diretaspelas diretas já tiveram um papelsignificativo nesse processo de democratização do Estado.

O primeiro governo da Nova República teve de enfrentar a grave criseeconômica, com inflação em alta, e a crise social, com desemprego, miséria, faltade assistência à população. No campo político conseguiu que fosse mudada alegislação autoritária, por meio de uma nova Constituição.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Do milagre à criseDo milagre à criseDo milagre à criseDo milagre à criseDo milagre à crise e explique:a)a)a)a)a) de que maneira o regime autoritário legitimava sua ação política;b)b)b)b)b) de que forma a crise internacional do petróleo afetou o milagre brasileiro.

GOVERNOS DO REGIME MILITARGOVERNOS DO REGIME MILITARGOVERNOS DO REGIME MILITARGOVERNOS DO REGIME MILITARGOVERNOS DO REGIME MILITAR

RANIERI MAZZILLIRANIERI MAZZILLIRANIERI MAZZILLIRANIERI MAZZILLIRANIERI MAZZILLI − Presidente da Câmara, assumiu o governo de 2 a 15de abril de 1964, por determinação do Congresso.CASTELO BRANCOCASTELO BRANCOCASTELO BRANCOCASTELO BRANCOCASTELO BRANCO − De 15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967. Comochefe da “revolução”, pretendia normalizar a situação política, restabelecer osprocessos democráticos normais, e garantir a eleição presidencial previstapara 1965. Seu mandato, porém, foi prorrogado pelo Ato Institucional nº 2 queestabeleceu, também, a eleição indireta para presidente da República e gover-nadores dos estados.COSTA E SILVACOSTA E SILVACOSTA E SILVACOSTA E SILVACOSTA E SILVA − De 15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969. Afastou-se do governo por que sofreu um derrame cerebral, vindo a falecer em 17 dedezembro de 1969. Em 13 de dezembro de 1968, foi baixado o Ato Institucionalnº 5, que teve como conseqüência o endurecimento do regime.JUNTA MILITARJUNTA MILITARJUNTA MILITARJUNTA MILITARJUNTA MILITAR − De 31 de agosto a 10 de outubro de 1969. Essa junta eracomposta pelos ministros militares: general Lira Tavares, do Exército; almi-rante Augusto Rademaker, da Marinha e brigadeiro Sousa Melo, da Aeronáu-tica.EMÍLIO MÉDICIEMÍLIO MÉDICIEMÍLIO MÉDICIEMÍLIO MÉDICIEMÍLIO MÉDICI − De 10 de outubro de 1969 a 15 de março de 1974. Foi a fasemais dura do regime, caracterizada pela violenta repressão e pelo chamado“milagre” brasileiro na economia.ERNESTO GEISELERNESTO GEISELERNESTO GEISELERNESTO GEISELERNESTO GEISEL − De 15 de março de 1974 a l5 de março de 1979. Inicioua abertura política, com a emenda constitucional aprovada em 13 de outubrode 1978, para começar a vigorar a partir de 1º de janeiro de 1979. Essa emendarevogou os Atos Institucionais e Complementares.JOÃO FIGUEIREDOJOÃO FIGUEIREDOJOÃO FIGUEIREDOJOÃO FIGUEIREDOJOÃO FIGUEIREDO − De 15 de março de 1979 a 15 de março de 1985. Passouo governo a um civil, eleito pelo Colégio Eleitoral.

O temponão pára

Exercícios

Page 109: História do Brasil - Volume 2

35A U L A 2.2.2.2.2. Releia O governo Ernesto Geisel (1974-1979)O governo Ernesto Geisel (1974-1979)O governo Ernesto Geisel (1974-1979)O governo Ernesto Geisel (1974-1979)O governo Ernesto Geisel (1974-1979) e explique por que o caminho

da abertura democrática foi difícil.

3.3.3.3.3. Releia Os pacotes eleitoraisOs pacotes eleitoraisOs pacotes eleitoraisOs pacotes eleitoraisOs pacotes eleitorais e O governo João Figueiredo (1979-1985)O governo João Figueiredo (1979-1985)O governo João Figueiredo (1979-1985)O governo João Figueiredo (1979-1985)O governo João Figueiredo (1979-1985), eexplique o objetivo das inúmeras reformas eleitorais feitas nos governosGeisel e Figueiredo:

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Este samba de Chico Buarque, composto em 1978, é considerado o “hino daabertura”. Leia-o e responda às questões propostas.

1.1.1.1.1. Quem é o “você” do poema?2.2.2.2.2. Como é o “você”?3.3.3.3.3. Quais os temas abordados pelo autor?4.4.4.4.4. O que significa o estribilho “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”?5.5.5.5.5. Na sua opinião, o autor tinha uma atitude otimista ou pessimista diante do

quadro político?

6

Apesar de vocêApesar de vocêApesar de vocêApesar de vocêApesar de você De Chico Buarque

Hoje você é quem mandaFalou tá faladoNão tem discussãoA minha gente hoje andaFalando de ladoE olhando pro chão, viuVocê que inventou esse estadoE inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o pecadoEsqueceu-se de inventarO perdão

Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaEu pergunto a vocêOnde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibirQuando o galo insistirEm cantarÁgua nova brotandoE a gente se amandoSem parar

Quando chegar o momentoEsse meu sofrimentoVou cobrar com juros, juroTodo esse amor reprimidoEsse grito contidoEste samba no escuro

Você que inventou a tristezaOra, tenha a finezaDe desinventarVocê vai pagar e é dobradoCada lágrima roladaNesse meu penar

Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaInda pago pra verO jardim florescerQual você não queriaVocê vai se amargarVendo o dia raiarSem lhe pedir licençaE eu vou morrer de rirQue esse dia há de virAntes que você pensa

Apesar de vocêAmanhã há de ser outro diaVocê vai ter que verA manhã renascerE esbanjar poesiaComo vai se explicarVendo o céu clarearDe repente, impunementeComo vai abafarNosso coro a cantarNa sua frente

Amanhã há de serOutro diaVocê vai se dar malEtc. e tal.

Page 110: História do Brasil - Volume 2

36A U L A

A hora e a vezda democracia

Neste módulo estamos falando de uma his-tória que todos nós vivemos. Uma história que, de certa forma, ainda está emconstrução. Refletir sobre o tempo presente, sobre uma história da qual todosnós participamos, é uma ótima oportunidade para entender melhor o nosso paíse o mundo em que vivemos.

6Com a revogação do Ato Institucional nº 5, no final do governo Geisel, a

sociedade passava a ter mais liberdade e crescia a organização política e amobilização. Nesta aula estudaremos o processo de redemocratização, tambémchamado de abertura políticaabertura políticaabertura políticaabertura políticaabertura política, e a transição do governo militar para o governocivil. Vamos enfocar a participação popular em duas campanhas memoráveis:a da Anistia e a das Diretas Já.

A pergunta que fica no ar é: quem redemocratizou o país foi o governo ouo povo? Boa leitura!

A abertura política

Quando se fala em abertura políticaabertura políticaabertura políticaabertura políticaabertura política faz-se referência ao conjunto dasmedidas governamentais e, também, à crescente participação da sociedade, quepermitiu a passagem do regime militar para o regime democrático.

A volta ao regime democrático foi conseguida de forma lenta e gradual,tendo havido sempre uma tendência natural do regime militar em procurarprolongar o controle do Estado. Paralelamente, ocorreu a natural pressa dasociedade civil em retomar o governo, pela participação política e eleitoral,.

Quando assumiu a Presidência da República, João Batista Figueiredo com-prometeu-se com o processo de redemocratização, ao dizer: “Reafirmo meuinabalável propósito (...) de fazer deste país um democracia”. E afirmou, deforma enfática e pitoresca, que mandaria “prender e arrebentar” quem fossecontra a abertura política.

A crise do “milagre” econômico gerou consciência e mobilização popular,expressas pelo comportamento do eleitorado − que votou quase maciçamente

Nesta aula

Apresentaçãodo Módulo 10

36A U L A

MÓDULO 10

Page 111: História do Brasil - Volume 2

36A U L A nos candidatos da oposição nas eleições realizadas em 1974, 1978 e 1982 − e pelo

ressurgimento dos movimentos de massa, a exemplo de passeatas, concentra-ções, abaixo-assinados e greves.

As entidades de classe reapareceram no cenário político: os sindicatos, asassociações de professores e de estudantes. A União Nacional dos Estudantes −UNE foi recriada em 1979, e os debates políticos ressurgiram nas reuniões anuaisda Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência − SBPC.

O parque industrial moderno gerou também um sindicalismo moderno eatuante que, em 1978 e 1979, mobilizou os trabalhadores contra o arrochosalarial, as más condições de trabalho, a inflação e a carestia, resultando nacriação do Partidos dos Trabalhadores − PT.

As greves que tiveram incício nos centros industriais mais importantes,como o ABC paulista, ampliaram-se até os setores de prestação de serviços,como o professorado e o funcionalismo públicos. Tais greves constituiram-se namais importante forma de contestação do regime e de conscientização dasclasses trabalhadoras, que passaram a entender mais de economia e de política,e a reivindicar os seus direitos de modo organizado e pacífico.

De forma pioneira, e apesar da reação de setores do governo, os metalúrgicosconseguiram negociar diretamente com os empregadores um aumento salarialde 63%, contrariando a norma da política salarial da época, que atribuíaexclusivamente ao governo federal a competência de fixar a política salarial.

A mobilização crescente dos trabalhadores contribuiu não só para a moder-nização política, como também para as relações de produção. Os trabalhadorespassaram a dialogar com os patrões por intermédio das Comissões de Fábricas,e das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes − CIPAs, o que contribuiupara o aumento da produtividade e para a diminuição dos acidentes de trabalhoe dos índices de poluição.

Com seus setores progressistas, a Igreja Católica também participou desseprocesso de desenvolvimento social. Em 1975, foi criada a Comissão Pastoral daTerra, que estimulou a formação das Comunidades Eclesiais de Base. Seuobjetivo era ler o Evangelho a partir da vida; e a vida, a partir do Evangelho. Issolevou à discussão de problemas sentidos pelos trabalhadores, pelos pobres epelos excluídos. Essas Comunidades passaram a dar voz aos que não tinhamvoz; a democratizar a discussão dos problemas e a desenvolver lideranças.

A UniãoA UniãoA UniãoA UniãoA UniãoNacional dosNacional dosNacional dosNacional dosNacional dos

EstudantesEstudantesEstudantesEstudantesEstudantes−−−−− UNE, UNE, UNE, UNE, UNE,fechada pelofechada pelofechada pelofechada pelofechada pelo

governo,governo,governo,governo,governo,reapareceureapareceureapareceureapareceureapareceu

em 1979.em 1979.em 1979.em 1979.em 1979.

Page 112: História do Brasil - Volume 2

36A U L AA campanha da Anistia

Desde os primeiros dias do regime militar em 1964, já se pedia anistiaanistiaanistiaanistiaanistia. Edurante todos os anos seguintes, essa reivindicação surgiu numerosas vezes.Diversos projetos foram apresentados no Congresso, e muitos comitês e orga-nizações populares mobilizaram-se pela anistia, principalmente no exterior.

Em 1978, a mobilização popular e a pressão da política por direitos humanosdo presidente norte-americano Jimmy Carter fizeram o governo brasileiro sedecidir por um projeto de anistia parcialprojeto de anistia parcialprojeto de anistia parcialprojeto de anistia parcialprojeto de anistia parcial, para evitar confrontos diretos coma chamada linha dura do regime.

O senador da oposição Teotônio Vilela viajou pelo país, visitando presospolíticos e pregando a ampliação do projeto que recebeu muitas emendas quenão foram aprovadas.

Desse modo, os guerrilheiros foram excluídos da anistia, e não foramreconhecidos os direitos daqueles que perderam cargos e patentes por motivospolíticos. A anistia também beneficiava policiais e militares que haviam come-tido violências contra presos políticos.

No dia 28 de agosto de 1979, com as galerias do Congresso tomadas pelopúblico, aprovou-se a anistia, que permitiu a retomada das atividades políticasde diversas lideranças cassadas e o retorno ao país de líderes oposicionistasrepresentativos, como Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luiz Carlos Prestes.

A campanha das Diretas Já

Em 1980, o regime militar restabeleceu as eleições diretas para governado-eleições diretas para governado-eleições diretas para governado-eleições diretas para governado-eleições diretas para governado-res de estadores de estadores de estadores de estadores de estado. Realizadas as eleições, em 1982, partidos políticos de oposiçãovenceram as eleições nos estados de São Paulo (PMDB) e Rio de Janeiro (PDT).

Por causa dessas duas vitórias e da participação eleitoral crescente, apossibilidade de eleições diretas para a Presidência da República tornava-seuma possibilidade real e concreta. Em 1983, iniciou-se a campanha pelas eleiçõesdiretas chamada de Diretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já. Essa campanha permitiu que se reunisse umnúmero significativo de lideranças políticas, como Tancredo Neves, UlyssesGuimarães, Teotônio Vilela, Franco Montoro, Leonel Brizola e Lula, em torno deuma mesma proposta política.

Com a abertura,Com a abertura,Com a abertura,Com a abertura,Com a abertura,tornou-se possíveltornou-se possíveltornou-se possíveltornou-se possíveltornou-se possívelaté fazeraté fazeraté fazeraté fazeraté fazercaricaturas comocaricaturas comocaricaturas comocaricaturas comocaricaturas comoesta, que mostraesta, que mostraesta, que mostraesta, que mostraesta, que mostraos deputadosos deputadosos deputadosos deputadosos deputadosUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses Guimarãese Francelinoe Francelinoe Francelinoe Francelinoe FrancelinoPereira em luta.Pereira em luta.Pereira em luta.Pereira em luta.Pereira em luta.

Page 113: História do Brasil - Volume 2

36A U L A O deputado Dante de Oliveira apresentou, então, uma emenda constitu-

cional que restabelecia as eleições diretas para presidente e vice-presidente daeleições diretas para presidente e vice-presidente daeleições diretas para presidente e vice-presidente daeleições diretas para presidente e vice-presidente daeleições diretas para presidente e vice-presidente daRepúblicaRepúblicaRepúblicaRepúblicaRepública já em 1985. A emenda deveria ser votada no dia 25 de abril de 1984.

Grandes concentrações populares serviram para divulgar em todo o país areivindicação das Diretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já. O povo saiu às ruas vestido de amarelo, a cor dacampanha, com camisetas, adesivos e bandeiras. Foram organizados os“panelaços” e “buzinaços”, que eram convocações para que todos fizessem omaior barulho possivel, batendo panelas, tocando a buzina dos carros, soltandorojões, gritando “Diretas Já”.

Numerosas manifestações públicas transcorriam na mais perfeita ordem eterminavam com o Hino Nacional, cantado por todos de mãos dadas e erguidas,o que demonstrava a união do povo. Num clima de grande emoção, chegou-seàs gigantescas manifestações de mais de um milhão de pessoas, como asocorridas no Rio de Janeiro e São Paulo.

Alguns setores do governo, que temiam ser derrotados na sucessão deFigueiredo por voto direto, usaram de artifícios até violentos para impedir aaprovação das eleições diretas. Às vésperas da votação pelo Congresso Nacionalforam decretadas medidas de emergência que tentavam reprimir manifestaçõespopulares (sob o comando do general Newton Cruz), impunham a censura atodas as notícias procedentes de Brasília e proibiam o televisionamento dasessão do Congresso.

Nesse clima, a emenda Dante de Oliveira não obteve os votos necessáriospara sua aprovação.

A luta continua −−−−− A eleição de Tancredo Neves

Foi nesse momento que as lideranças oposicionistas perceberam que,mantendo-se a pressão popular da campanha pelas Diretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já, o própriosistema eleitoral vigente no regime militar poderia servir de caminho para aeleição de um presidente da República de oposição.

O PDS apresentou como candidato Paulo Maluf, ex-governador de SãoPaulo, enquanto o PMDB lançou a candidatura do governador de Minas GeraisTancredos Neves, que viria a concorrer como candidato da Aliança Democrá-Aliança Democrá-Aliança Democrá-Aliança Democrá-Aliança Democrá-ticaticaticaticatica − aliança de partidos formada pelo PMDB e pelo recém-criado Partido daFrente-Liberal (PFL), nascido de forte dissidência nas fileiras do PDS.

O Colégio Eleitoral − constituído pelos membros do Congresso Nacional erepresentantes das Assembléias Estaduais − por 480 votos, num total de 686membros, elegeu o candidato da Aliança Democrática em 15 de janeiro de 1985.

A vitória de Tancredo Neves encerrou o ciclo de governo militares no Brasilde forma pacífica, ao contrário do acontecido em outros países (por exemplo, naArgentina e em Portugal), nos quais a transição do autoritarismo para ademocracia processou-se de forma violenta e traumática.

Com a morte do presidente eleito Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985,o vice-presidente eleito José Sarney assumiu a Presidência, iniciando o períododenominado Nova RepúblicaNova RepúblicaNova RepúblicaNova RepúblicaNova República.

6

Page 114: História do Brasil - Volume 2

36A U L AA posse do vice-presidente José Sarney transcorreu em absoluta normalida-

de, confirmando o desejo popular de restabelecimento pleno da democracia.No entanto, durante o governo Sarney, o povo brasileiro teve de enfrentar

duras provas: a inflação atingiu níveis insuportáveis, trazendo a recessão, odesemprego e a fome.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

11111 Releia A abertura políticaA abertura políticaA abertura políticaA abertura políticaA abertura política e faça o que se pede.a)a)a)a)a) Descreva o movimento sindical na época da abertura;b)b)b)b)b) Como as Comunidades Eclesiais de Base contribuiram para o desenvol-

vimento social?

2.2.2.2.2. Releia Campanha da AnistiaCampanha da AnistiaCampanha da AnistiaCampanha da AnistiaCampanha da Anistia e responda quais as características da anistiaconcedida pelo governo, em 1979?

3.3.3.3.3. Releia A campanha das A campanha das A campanha das A campanha das A campanha das Diretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já e responda como foi a mobilização dasociedade pelas eleições diretas para presidente?

4.4.4.4.4. Releia A luta continua A luta continua A luta continua A luta continua A luta continua −−−−− a eleição de Tancredo Neves a eleição de Tancredo Neves a eleição de Tancredo Neves a eleição de Tancredo Neves a eleição de Tancredo Neves e responda: a rejei-ção, pelo Congresso, da emenda Dante de Oliveira significou o fim da cam-panha pelas eleições diretas?

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

“Frustrou-se a esperança de milhões. Uma compacta minoria de mausparlamentares disse não à vontade que seu próprio povo soube expressarcom transparência, firmeza e ordem. Nunca a sociedade brasileira seergueu com tal vulto, nunca um movimento se irradiou de modo tãoamplo nem o curso da História se apresentou assim palpitante einconfundível. Em poucos meses a campanha pelas Diretas Já dissolveufronteiras de todo tipo para imantar o espírito dos brasileiros numatorrente serena, profunda, irrefreável. Um povo sempre acusado deabulia e de inaptidão para a vida pública ofereceu o espetáculo de seupróprio talento para se organizar e manifestar com responsabilidade,energia e imaginação”.Folha de São PauloFolha de São PauloFolha de São PauloFolha de São PauloFolha de São Paulo, 26 de abril de 1984

1.1.1.1.1. Quem são os maus parlamentares a que o texto se refere?

2.2.2.2.2. Por que você acha que o povo brasileiro sempre foi acusado de abulia e deinaptidão para a vida pública?

3.3.3.3.3. Por que o voto é tão importante?

6

O temponão pára

Exercícios

Abulia:doença queprovoca adiminuiçãoda vontade.

Page 115: História do Brasil - Volume 2

37A U L A

37A U L A

MÓDULO 10

Nesta aula Em 1985, depois de 21 anos, o Brasil tinha novamente um governante civil.Os movimentos sociais estavam conseguindo a redemocratização do país e orestabelecimento dos direitos civis.

Nesta aula veremos como o novo regime democrático se firmou, depois daelaboração da Constituição mais moderna e democrática que já tivemos.

A herança de Tancredo Neves

Com a posse do presidente José Sarney, eleito vice-presidente na chapaencabeçada por Tancredo Neves, iniciou-se a fase da história republicanabrasileira conhecida como Nova RepúblicaNova RepúblicaNova RepúblicaNova RepúblicaNova República.

A expressão “Nova República” foi cunhada pelo então governador de MinasGerais, Tancredo Neves, ao se lançar candidato à Presidência da República, como significado de compromisso com a superação definitiva do regime militar, pormeio do pleno restabelecimento do regime democrático.

Na formação do governo da Nova República refletia-se a complexa “enge-nharia política” executada pelo presidente Tancredo Neves no sentido deconstituir uma equipe administrativa comprometida em dar continuidade aoprocesso de redemocratização. Por essa razão, o ministério do presidente JoséSarney era constituído pelos mesmos ministros que haviam sido convidados porTancredo Neves.

A posse do vice-presidente eleito − quando problemas de saúde impediramTancredo Neves de assumir a Presidência da República − foi mais um passo nadireção da construção de uma ordem democrática no país.

Eliminando o �entulho autoritário�

A Nova República tinha dois objetivos políticos a curto prazo: primeiro, o derevogar as leis que vinham do regime militar, chamadas pelo então senadorFernando Henrique Cardoso de “entulho autoritário”; o segundo objetivo,consistia na eleição de uma Assembléia Nacional ConstituinteAssembléia Nacional ConstituinteAssembléia Nacional ConstituinteAssembléia Nacional ConstituinteAssembléia Nacional Constituinte para a elabora-ção de uma Constituição que restabelecesse o Estado de Direito.

Em maio de 1985, o presidente José Sarney enviou ao Congresso Nacionalum conjunto de projetos de lei para começar a constituir uma ordem jurídica

�José Sarneyera o presidente

do PDS.O rompimento

aconteceu quando amaioria da direção

do PDS desaprovoua idéia de se

realizar uma préviaeleitoral, da qual

participariam todosos filiados ao

partido, para verqual era o

candidato preferido:Paulo Maluf ,

Aureliano Chaves ouMário Andreazza.�

Flávio Rangel.Jornal do Brasil

23 de abril de1985

A Nova República

Page 116: História do Brasil - Volume 2

37A U L Ademocrática e, ao mesmo tempo, criar condições para uma ampla participação

política da sociedade na escolha da futura Assembléia Nacional Constituinte.Entre essas medidas, que foram transformadas em lei pelo Congresso Nacional,destacam-se as seguintes:

l restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, vice-presidente e para prefeitos das capitais, das áreas consideradas de seguran-ça nacional e das estâncias hidrominerais;

l liberalização das atividades sindicais;

l concessão do direito de votos aos analfabetos;

l legalização dos partidos políticos, permitindo-se, assim, que organizaçõescomo o Partido Comunista Brasileiro − PCB e o Partido Comunista do Brasil− PC do B disputassem as eleições;

l revogação da Lei Falcão, promulgada em 1976, que estabelecia inúmerasrestrições ao uso dos meios de comunicação nas campanhas eleitorais.

As eleições de 15 de novembro de 1985, para prefeitos das capitais dosestados e de 201 cidades, realizaram-se dentro da nova legislação. Um anodepois, em 15 de novembro de 1986, foram eleitos os novos governadoresestaduais e os deputados e senadores. Essa eleição foi muito importante, poisforam escolhidos os parlamentares que iriam formar a Assembléia NacionalAssembléia NacionalAssembléia NacionalAssembléia NacionalAssembléia NacionalConstituinteConstituinteConstituinteConstituinteConstituinte e elaborar a nova Constituição brasileira.

No entanto, até a promulgação da nova Constituição, a Nova República eraainda um período intermediário entre o regime autoritário dos militares e ademocracia plena. O presidente da República continuou com poderes concen-trados, como o de baixar decretos-leis, utilizar o decurso de prazo para aprovarprojetos no Congresso ou determinar medidas de emergência.

Também as Forças Armadas, por causa dos dispositivos legais ainda emvigor, continuaram a reprimir conflitos internos e a intervir no processo político,ainda que discretamente. Um exemplo trágico foi a invasão da CompanhiaSiderúrgica Nacional por tropas do Exército para reprimir uma greve, em 1988,o que resultou na morte de três metalúrgicos.

Durante muitosDurante muitosDurante muitosDurante muitosDurante muitosanos, o deputadoanos, o deputadoanos, o deputadoanos, o deputadoanos, o deputadoUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses GuimarãesUlisses Guimarãesfoi presidente dafoi presidente dafoi presidente dafoi presidente dafoi presidente daCâmara dosCâmara dosCâmara dosCâmara dosCâmara dosDeputados,Deputados,Deputados,Deputados,Deputados,fazendo oposiçãofazendo oposiçãofazendo oposiçãofazendo oposiçãofazendo oposiçãoao governo.ao governo.ao governo.ao governo.ao governo.

Page 117: História do Brasil - Volume 2

37A U L A A nova Constituição

Os meses de elaboração do novo texto constitucional, que iria substituir aordem jurídica herdada do regime militar, permitiram que houvesse um amplodebate público sobre as características do regime democrático a ser definidonaquele texto.

A Constituição foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988, tendo sidochamada pelo deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembléia Nacio-nal Constituinte, de Constituição CidadãConstituição CidadãConstituição CidadãConstituição CidadãConstituição Cidadã.

Com essa afirmação, o deputado Ulysses Guimarães enfatizou o caráter deinstrumento de defesa do cidadão, e não do Estado, do novo texto constitucional.

Essa Constituição destinava-se, portanto, a instituir um Estado democrá-Estado democrá-Estado democrá-Estado democrá-Estado democrá-tico de direitotico de direitotico de direitotico de direitotico de direito, que se define como sendo um regime político com as seguintescaracterísticas:

l o direito, expresso nas leis votadas pelos representantes eleitos pelo povo,constitui o instrumento regulador das relações políticas, econômicas esociais na sociedade;

l a estrutura do Estado brasileiro e o funcionamento e limites da atuação dostrês poderes da República, isto é, do Executivo, do Legislativo e do Judici-ário, acham-se expressos no texto da Constituição, fazendo com que o go-vernante só possa fazer aquilo que se encontra autorizado em lei.

No Estado democrático de direitoEstado democrático de direitoEstado democrático de direitoEstado democrático de direitoEstado democrático de direito, a Constituição também procura assegu-rar o exercício dos direitos sociais e individuais, da liberdade, da segurança, dobem-estar, do desenvolvimento, da igualdade e da justiça, como valores supre-mos da sociedade.

A Constituição de 1988 refletiu o avanço ocorrido no país, principalmente noque se refere à extensão de direitos sociais e políticos a todos os cidadãos e àsminorias. Reconheceu-se, também, os direitos e deveres coletivos, além dosindividuais.

Com a chamadaCom a chamadaCom a chamadaCom a chamadaCom a chamadaConstituiçãoConstituiçãoConstituiçãoConstituiçãoConstituição

CidadãCidadãCidadãCidadãCidadã, o povo, o povo, o povo, o povo, o povopodia tirarpodia tirarpodia tirarpodia tirarpodia tirar

definitivamente adefinitivamente adefinitivamente adefinitivamente adefinitivamente a“mordaça” da“mordaça” da“mordaça” da“mordaça” da“mordaça” da

repressão erepressão erepressão erepressão erepressão eexpressar-se comoexpressar-se comoexpressar-se comoexpressar-se comoexpressar-se como

membro ativo damembro ativo damembro ativo damembro ativo damembro ativo dasociedade.sociedade.sociedade.sociedade.sociedade.

Page 118: História do Brasil - Volume 2

37A U L ANa nova Constituição criaram-se novos recursos que, ao lado do habeas-

corpus e do mandado de segurança, permitem que os cidadãos façam valer osseus direitos, como é o caso do mandato de injunção, do habeas-data e da açãocivil pública.

As reivindicações dos trabalhadores, embora não atendidas em sua totalida-de, significaram um grande avanço. Entre as conquistas dos trabalhadores, aConstituição de 1988 apresenta as seguintes:

l a jornada semanal de trabalho diminuiu de 48 para 44 horas; as horas-extrasdevem ser pagas com acréscimo de 50%, no mínimo;

l o trabalhador demitido tem direito a uma indenização igual a 40% do seuFundo de Garantia;

l abono de um salário mínimo por ano para os trabalhadores que recebemmenos de dois salários por mês (PIS);

l abono de férias, equivalente a 33% do salário que o trabalhador recebe;

l todos os trabalhadores têm o direito de fazer greve;

l a licença maternidade passou de 90 para 120 dias, e a licença paternidade éde 5 dias;

l os aposentados têm direito ao 13º salário, ao salário mínimo, e todos os seusganhos devem ser reajustados da mesma forma que os salários dos trabalha-dores em atividade.

PARTICIPE DAS ELEIÇÕESPELA CONSTITUIÇÃO DE 1988, TODAS AS PESSOAS MAIORES DE 16 ANOS

PODEM VOTAR. E O VOTO É OBRIGATÓRIO A PARTIR DOS 18 ANOS.ALÉM DE ESCOLHER CONSCIENTEMENTE O SEU CANDIDATO, AS PESSOA PODEM

PARTICIPAR DO PROCESSO ELEITORAL DE OUTRAS MANEIRAS:

® TRABALHANDO NA CAMPANHA DO PARTIDO DE SUA PREFERÊNCIA;

® AJUDANDO NA CAMPANHA DOS CANDIDATOS ESCOLHIDOS;

® CONVENCENDO AMIGOS E PARENTES A VOTAR A FAVOR DA MAIORIA DA

POPULAÇÃO, SOBRETUDO DOS MAIS POBRES;

® ALERTANDO AS PESSOAS PARA QUE NÃO VOTEM POR SIMPATIA PESSOAL, EM

TROCA DE FAVORES OU PROMESSAS, POR DINHEIRO OU PRESENTES. O VOTO

DEVE SER LIVRE, CONSCIENTE E A FAVOR DOS QUE ESTÃO DO LADO DA JUSTIÇA

SOCIAL, DOS DIREITOS DOS POBRES E DO BEM-ESTAR DE TODOS.

Frei BettoFrei BettoFrei BettoFrei BettoFrei Betto, OSPBIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política Brasileira, Editora Ática, São Paulo, pág. 71

Page 119: História do Brasil - Volume 2

37A U L A A revisão constitucional

A Constituição de 1988 estabeleceu, portanto, normas para a organização doEstado, definiu os direitos dos cidadãos e estabeleceu suas garantias constitu-cionais. Entretanto, muitas críticas têm sido feitas ao texto constitucional, poisele trata de assuntos que não são de natureza constitucional, uma vez querefletem pressões de diferentes grupos da sociedade que, com isto, levaram suasreivindicações corporativas até o nível de direitos constitucionais.

Empresários, funcionários públicos, sindicalistas e outros grupos sociaistiveram sucesso em colocar suas demandas no texto constitucional, o que temdificultado a própria realização de objetivos constitucionais maiores.

Entre as dificuldades encontradas na aplicação do texto constitucionalvigente, e que serão objetos da reforma constitucional, encontram-se os dispo-sitivos constitucionais relativos ao sistema tributário, à previdência social, àestabilidade dos servidores públicos, às empresas estatais, ao poder judiciário eao sistema de governo e ao sistema eleitoral.

De qualquer modo, a Constituição de 1988 criou condições para a constru-criou condições para a constru-criou condições para a constru-criou condições para a constru-criou condições para a constru-ção de um regime político livre e democráticoção de um regime político livre e democráticoção de um regime político livre e democráticoção de um regime político livre e democráticoção de um regime político livre e democrático, prevendo inclusive a suaprópria reforma para corrigir, precisamente, defeitos encontrados na aplicaçãodos seus dispositivos.

6

A Nova República começou com graves problemas, apesar da esperança eda mobilização. O presidente não foi eleito pelo voto popular. E o escolhido peloColégio Eleitoral, que contava com a simpatia do povo, veio a falecer.

Durante o governo Sarney, foi possível remover o “entulho autoritário”,redemocratizando-se o país de modo pleno, principalmente com a Nova Cons-tituição.

Mas, se foram restabelecidos os direitos políticos, os problemas econômicoscontinuaram a penalizar a população.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade

1.1.1.1.1. Releia A herança de Tancredo NevesA herança de Tancredo NevesA herança de Tancredo NevesA herança de Tancredo NevesA herança de Tancredo Neves e explique o significado da expressão“Nova República”:

2.2.2.2.2. Releia Eliminando o “entulho autoritário”Eliminando o “entulho autoritário”Eliminando o “entulho autoritário”Eliminando o “entulho autoritário”Eliminando o “entulho autoritário” e explique o que era esse“entulho autoritário” que precisava ser removido.

3.3.3.3.3. Releia A nova ConstituiçãoA nova ConstituiçãoA nova ConstituiçãoA nova ConstituiçãoA nova Constituição e cite os avanços sociais mais importantes daConstituição de 1988.

O temponão pára

Exercícios

Page 120: História do Brasil - Volume 2

37A U L A

4.4.4.4.4. Releia A revisão constitucionalA revisão constitucionalA revisão constitucionalA revisão constitucionalA revisão constitucional e responda por que surgiram dificuldadesna aplicação de alguns textos constitucionais?

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

Documento ADocumento ADocumento ADocumento ADocumento A

“A Nova República é o que veio depois da luta, depois da ditaduramilitar, e principalmente, depois dos acordos políticos que condicionarama transição. Ela começou, apesar do Colégio Eleitoral e das eleiçõesindiretas, da agonia e morte de Tancredo, como uma esperança forte demudança. O povo retomou o seu hino, sua bandeira, sua vontade desonhar. A televisão glamourizou tudo isso e repetiu sem cessar a boanova, até convencer a quase todos que tudo ia dar certo. Não deu. Aomenos, não tudo; na verdade, muito pouco”.Flavio KoutziiFlavio KoutziiFlavio KoutziiFlavio KoutziiFlavio Koutzii (org./apresentação). Nova República: um balançoNova República: um balançoNova República: um balançoNova República: um balançoNova República: um balanço. São Paulo,Editora L&PM, 1986, pág. 5.

1.1.1.1.1. Na sua opinião, o que não deu certo na Nova República?

2.2.2.2.2. Faça uma crítica ao papel da televisão, expresso no texto.

Documento BDocumento BDocumento BDocumento BDocumento B

Constituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilArtigo 5Artigo 5Artigo 5Artigo 5Artigo 5 − Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquernatureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes nopaís a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, àsegurança e à propriedade, nos termos seguintes:IIIII − homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termosdesta Constituição;(...)XLIXLIXLIXLIXLI − a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos eliberdades fundamentais;XLIIXLIIXLIIXLIIXLII − a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;(...)

3.3.3.3.3. “As diferenças de raça, cor, sexo, condição social e econômica não mudama natureza das pessoas, nem criam espécies diferentes de seres humanos.”Levando em conta essa afirmação e mais o que está garantido pela Consti-tuição, faça uma redação sobre os Direitos Humanos.

6

Glamourizar:fazer uma imagemromântica,atraente,encantadora.

Page 121: História do Brasil - Volume 2

38A U L A

Inflação:diagnósticos e terapias

Politicamente a Nova República avançava,com a remoção do “entulho autoritário” e o surgimento de novos gruposorganizados em torno de questões importantes, como a ecologia, os direitos doconsumidor, a atuação das donas-de-casa etc.

A economia, no entanto, estava indo de mal a pior, com a atividadeindustrial em baixa e a inflação em alta.

Nesta aula veremos como o governo tentou conter a inflação por meio deplanos sucessivos − terapiasterapiasterapiasterapiasterapias − que não deram certo. Talvez a explicação dascausas − diagnósticodiagnósticodiagnósticodiagnósticodiagnóstico − estivesse equivocada. A questão é saber por quê?

Como todos nós passamos por esse período e aprendemos um pouco sobreeconomia com os noticiários, as compras, as trocas de moedas, não será difícilresponder.

Inflação: os diagnósticos

Inflação, você sabe muito bem, é o aumento constante e geral dos preços, oque provoca a perda do poder de compraperda do poder de compraperda do poder de compraperda do poder de compraperda do poder de compra que a moeda possui.

No início da década de 1980, mais precisamente entre 198l e 1983, o paísmergulhara na sua crise econômica mais grave, resultante do modelo dedesenvolvimento do regime militar.

O governo João Figueiredo procurou combater a inflação com uma políticaque procurava reduzir a atividade econômica, porque, dessa forma, ao diminuira massa salarial, o governo achava que os preços tenderiam a subir menos, porfalta de compradores. O governo foi, assim, o agente direto da recessão dosprimeiros anos da década de 1980.

Quando se iniciou o governo do presidente José Sarney, em março de 1985,a situação econcômica do país vinha se recuperando da recessãorecessãorecessãorecessãorecessão. O grandeimpulso proveniente das exportações permitiu que a economia brasileira reto-masse o crescimento. A queda das importações e o aumento das exportaçõesfizeram com que houvesse um saldo de 13,1 bilhões de dólares na balançacomercial, permitindo que o Brasil pagasse os juros de sua dívida externa. Asreservas externas brasileiras chegaram a 9 bilhões de dólares.

O país encontrava-se, portanto, em situação um pouco mais confortável,podendo até prescindir do Fundo Monetário Internacional − FMI e procuraracordos diretos com os bancos credores privados.

Nesta aula

38A U L A

MÓDULO 10

Page 122: História do Brasil - Volume 2

38A U L A

EXPORTAR É A SOLUÇÃO?EXPORTAR É A SOLUÇÃO?EXPORTAR É A SOLUÇÃO?EXPORTAR É A SOLUÇÃO?EXPORTAR É A SOLUÇÃO?

“Essa política econômica voltada para a exportação provoca, entreoutras coisas, duas conseqüências graves: aumenta a pobreza do povo eenriquece ainda mais as multinacionais. Aumenta a pobreza porque nãohá interesse em favorecer o mercado interno; a produção é para servendida em dólar. Não havendo interesse em ampliar o mercado interno,não há interesse em aumentar os salários dos trabalhadores brasileiros.Ao contrário, quanto menos ganhar o trabalhador brasileiro, maisbarato fica o custo de produção das mercadorias vendidas lá fora e,portanto, maior o lucro das empresas”.

Frei BettoFrei BettoFrei BettoFrei BettoFrei Betto, OSPBIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política BrasileiraIntrodução à Política Brasileira, Editora Ática, São Paulo, pág. 57)

Entretanto, a economia interna encontrava-se prisioneira da inflação, quesubiu a 223,8% ao ano, em 1984, e a 235,5% ao ano, em 1985. Iniciou-se, entãoum período no qual o governo iria procurar solucionar o problema inflacionáriopor meio de intervenções na economia, embutidas em sucessivos planos.

A primeira tentativa de controlar a inflação foi feita com o corte de 10% doorçamento da União e o congelamento de contratos de empréstimos, pretenden-do-se, assim, equilibrar a receitareceitareceitareceitareceita e a despesadespesadespesadespesadespesa da administração pública. Atingin-do esse equilíbrio, não haveria mais necessidade de o governo federal recorrerà emissão de papel-moeda e a empréstimos de curto prazo, ambos alimentadoresda inflação. A falta de controle da inflação e a conseqüente perda de poderaquisitivo dos salários provocaram greves no campo e nas cidades, durante oano de 1985 e início de 1986.

A política de austeridade foi contestada por forças políticas que davamsustentação ao governo, que, finalmente, em agosto de 1985, substituiu oministro da Fazenda Francisco Dornelles e mudou a orientação da políticaeconômica.

No final de 1985, ganhava força uma nova teoria sobre a inflação brasileira.Para alguns economistas, ela era decorrente de fatores variados, entre os quaiso fato de predominarem poucas indústrias grandes, em alguns setores daeconomia. Tais indústrias, por quase não terem concorrentes, preferiam aumen-tar seus preços, mantendo grandes lucros com poucos compradores, em vez deaumentar suas vendas.

Outra razão apontada pelos economistas para a inflação era o constanteconstanteconstanteconstanteconstantedesequilíbrio nas contas do governodesequilíbrio nas contas do governodesequilíbrio nas contas do governodesequilíbrio nas contas do governodesequilíbrio nas contas do governo, que para saldar suas dívidas era obrigadoa emitir moeda e títulos.

Finalmente, afirmava-se que a inflação brasileira possuía também umcomponente inercialinercialinercialinercialinercial. Com “inercial”, os economistas queriam dizer que noBrasil todos já contavam com a inflação e, com ou sem razão, aumentavam seuspreços a toda virada de mês. Criava-se uma cultura inflacionáriacultura inflacionáriacultura inflacionáriacultura inflacionáriacultura inflacionária no país, ouseja, as pessoas passaram a se habituar e mesmo a tirar proveito da inflação.

Page 123: História do Brasil - Volume 2

38A U L A Inflação: as terapias

O Plano Cruzado

A inflação continuava a crescer e, em janeiro de 1986, atingiu a cifra de17,5%. O governo adotou uma política econômica oposta, baseada na tese de queera falsa a suposição quanto à contenção das atividades econômicas e à reduçãodo déficit público resultarem na queda da inflação. Os defensores da novapolítica econômica sustentavam que a diminuição do ritmo inflacionário somen-te poderia ter resultado com uma terapia de choque, que acabasse com a correçãomonetária e estabelecesse uma moeda forte, em substituição ao Cruzeiro.

Dirigida pelo ministro da Fazenda Dílson Funaro, a nova equipe econômicaelaborou o Plano CruzadoPlano CruzadoPlano CruzadoPlano CruzadoPlano Cruzado, anunciado pelo presidente José Sarney em 28 defevereiro de 1986, visando o combate à inflação e a estabilidade da economia. Amoeda foi substituída de CruzeiroCruzeiroCruzeiroCruzeiroCruzeiro para CruzadoCruzadoCruzadoCruzadoCruzado, e promoveu-se um congela-mento de preços e salários. Logo, o plano recebeu apoio estusiástico da popula-ção e parte dela organizou-se, incentivada pelo presidente, para fiscalizar ocongelamento de preços nos supermercados. Surgiam os “fiscais do Sarney”.

O Plano Cruzado também tomava as seguintes medidas: extinção dacorreção monetária, reajuste automático dos salários (sempre que a inflaçãoacumulada atingisse 20%) e criava o seguro-desemprego.

O resultados mais imediatos do Plano Cruzado foram a mobilização dasociedade no combate aos preços abusivos e a drástica redução da inflação, coma conseqüente valorização real dos salários. O congelamento de preços, por suavez, provocou uma corrida ao consumo, a baixa nas ofertas de produtos, aprática da cobrança de ágio e a desativação da atividade econômica produtora,acompanhada do aumento nos índices de desemprego.

Em julho de 1986, o governo anunciou um conjunto de medidas, conhecidascomo “cruzadinho”, que tinham por objetivo corrigir a crise do Plano Cruzado,instituindo um empréstimo compulsório na compra de carros, de gasolina eálcool, de dólares para viagens e passagens aéreas para o exterior.

O equilíbrio das contas pretendido pelo governo não foi atingido, pois nãohouve aumento significativo das importações.

No Plano Cruzado,No Plano Cruzado,No Plano Cruzado,No Plano Cruzado,No Plano Cruzado,cada cidadão quecada cidadão quecada cidadão quecada cidadão quecada cidadão que

fosse a umfosse a umfosse a umfosse a umfosse a umsupermercado, ou asupermercado, ou asupermercado, ou asupermercado, ou asupermercado, ou aalgum outro tipo dealgum outro tipo dealgum outro tipo dealgum outro tipo dealgum outro tipo de

loja, podia seloja, podia seloja, podia seloja, podia seloja, podia setransformar numtransformar numtransformar numtransformar numtransformar num

“fiscal do Sarney”,“fiscal do Sarney”,“fiscal do Sarney”,“fiscal do Sarney”,“fiscal do Sarney”,denunciandodenunciandodenunciandodenunciandodenunciando

aumentos abusivosaumentos abusivosaumentos abusivosaumentos abusivosaumentos abusivosde preço.de preço.de preço.de preço.de preço.

Page 124: História do Brasil - Volume 2

38A U L ANo último semestre de 1986, o Plano Cruzado já demonstrara sua fragilida-

de. Realizadas as eleições de 15 de novembro de 1986, o governo viu-se obrigadoa aumentar as tarifas públicas e os impostos indiretos, defasados. Isso contribuiupara que a inflação fosse realimentada e fechasse o ano em 450%.

A crise das contas externas levou o Brasil a declarar moratóriamoratóriamoratóriamoratóriamoratória, em fevereirode 1987. Assim, suspendia unilateralmente e por tempo indeterminado opagamento dos juros referentes às dívidas com os bancos credores.

O Plano Bresser

O ministro Dílson Funaro acabou sendo substituido pelo ministro BresserPereira, que propôs um novo plano de combate à crise econômica e à inflação.O Plano BresserPlano BresserPlano BresserPlano BresserPlano Bresser, como o Plano Cruzado, fracassou em seu objetivos, apro-fundando a crise econômica e social.

O Plano Verão

Em janeiro de 1989, a inflação aproximava-se de 1.000% ao ano, fazendo comque o governo anunciasse um novo plano econômico, chamado Plano VerãoPlano VerãoPlano VerãoPlano VerãoPlano Verão,o qual recuperava algumas características do Plano Cruzado.

O Plano Verão estabeleceu um novo congelamento de preços; criou umanova moeda, o Cruzado NovoCruzado NovoCruzado NovoCruzado NovoCruzado Novo; extinguiu as Obrigações do Tesouro Nacional(OTN); elevou os juros bancários para conter o aumento do consumo.

Como aconteceu com o Plano Cruzado, o Plano Verão provocou odesabastecimento, a cobrança de ágio, o crescimento da inflação, o desemprego.

Brasil, mostra a tua cara

Nesses anos de grande sofrimento para milhões de brasileiros, marcadospelo desemprego, pela miséria, pela fome, pela presença de crianças de rua, em1988 um poeta se levantou como a “voz dos oprimidos”. Cazuza − com seusversos irados e, ao mesmo tempo, cheios de amor − é o intérprete de seu tempo.

BrasilBrasilBrasilBrasilBrasilDe Cazuza

6

Não me convidaram prá essa festa pobreQue os homens armaram prá me convencerA pagar sem ver toda essa drogaQue já vem malhada antes de eu nascerNão me ofereceram nem um cigarroFiquei na porta estacionando os carrosNão me elegeram chefe de nadaO meu cartão de crédito é uma navalhaNão me sortearam a garota do FantásticoNão me subornaram, será que é o meu fim

Ver TV a cores na taba de um índioProgramada só prá dizer sim,sim...Brasil, mostra a tua caraQuero ver quem pagaPrá gente ficar assimBrasil, qual é o teu negócioO nome do teu sócio, confia em mimGrande Pátria desimportanteEm nenhum instante eu vou te trairConfia em mim. Confia em mim, Brasil!

Page 125: História do Brasil - Volume 2

38A U L A Não foi à toa, portanto, que alguns economistas chamaram os anos 80 de

“década perdida” no Brasil. A economia brasileira viveu anos de estagnação ede inflação. A dívida externa praticamente dobrou e os investimentos externosbaixaram de 1.750 bilhões de dólares, em 1981, para 400 milhões de dólares, em1989. A inflação passou de cerca de 100% ao ano, no início da década, para 1.700%ao ano, em 1989. O resultado de tudo isso foi o empobrecimento de grandeparcela da população.

Em 1989, depois de quase 30 anos, ocorreram eleições presidenciais noBrasil. Os candidatos apresentaram propostas para combater a crise. Mas qualseria o caminho da retomada do desenvolvimento? Novos planos econômicos?Fortalecer ou reduzir o papel do Estado na economia? O país poderia passar porum rápido processo de modernização e alcançar os países do Primeiro Mundo?Essas quetões estavam na cabeça dos brasileiros, quando Fernando Collor deMello foi eleito presidente da República. Um novo programa econômico seriaposto em prática: o Plano CollorPlano CollorPlano CollorPlano CollorPlano Collor.

6

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Inflação: os diagnósticosInflação: os diagnósticosInflação: os diagnósticosInflação: os diagnósticosInflação: os diagnósticos e faça o que se pede:a)a)a)a)a) relacione as explicações ou diagnósticos dessa doença da economia cha-

mada inflação;b)b)b)b)b) Faça uma crítica ao combate da inflação no governo Figueiredo.

2.2.2.2.2. Releia Inflação: as terapiasInflação: as terapiasInflação: as terapiasInflação: as terapiasInflação: as terapias e faça uma lista das medidas econômicas doPlano Cruzado:

3.3.3.3.3. Releia Brasil, mostra a tua caraBrasil, mostra a tua caraBrasil, mostra a tua caraBrasil, mostra a tua caraBrasil, mostra a tua cara e dê a sua interpretação sobre:l essa festa pobre;l essa droga que já vem malhada antes de eu nascer;l ver TV a cores na taba de um índio/programada só pra dizer sim, sim...

4.4.4.4.4. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

“ O Brasil está hoje à mercê do sistema financeiro internacional,controlado pelos países centrais, sob a batuta dos Estados Unidos e,agora, particularmente do Fundo Monetário Internacional − FMI.A política econômica do governo consiste essencialmente em adminis-trar a dívida externa. Todas as decisões importantes se subordinam a

O temponão pára

Exercícios

Page 126: História do Brasil - Volume 2

38A U L Aesse propósito; “rolar a dívida”, isto é, empurrá-la para frente e para

cima a espera de dias melhores. Praticamente, o país chegou a um pontoem que não é mais o governo brasileiro que administra a dívida, mas éa dívida que administra o governo. De fato, as principais medidasrelacionadas com a política econômica não são tomadas a partir dasnecessidades e interesses do país e das aspirações da sua população, masem função das exigências da dívida externa e dos banqueiros internaci-onais credores do Brasil. E, a partir de 1983, com a auditoria do FMI.

Para pagar as amortizações, e os juros, o Brasil faz novos emprésti-mos e fica devendo mais. Assim, a administração da dívida consistebasicamente na sua renegociação permanente, sob condições impostase controladas pelos banqueiros. Como o Brasil já deve muito e precisalevantar no exterior cerca de 18 a 20 bilhões de dólares por ano, parafechar o balanço de pagamentos, os banqueiros, mais receosos e caute-losos, impõe condições mais rigorosas. Entre outras, emprestam di-nheiro para novos projetos e exigem que parte do empréstimo sejaaplicado na compra de máquinas, aparelhos e equipamentos de suasindústrias, mesmo que haja empresas no Brasil que fabriquem taisprodutos. Assim, o Brasil se obriga a fazer novos projetos, muitosdeles desnecessários ou não urgentes, e gasta o que não tem naquiloque não precisa, tal o grau de subordinação aos 'donos' do podereconômico e do financeiro mundial.”Argemiro J. BrumArgemiro J. BrumArgemiro J. BrumArgemiro J. BrumArgemiro J. Brum, Por que o Brasil foi ao FundoPor que o Brasil foi ao FundoPor que o Brasil foi ao FundoPor que o Brasil foi ao FundoPor que o Brasil foi ao Fundo, Editora Vozes, Petrópolis,1983, págs. 60-70

Depois de ler esse texto, e considerando tudo o que você aprendeu nas aulasanteriores, tente responder estas questões:

1.1.1.1.1. Que duplo sentido há na expressão “o Brasil foi ao Fundo?

2.2.2.2.2. Pelo que você entendeu, qual é o papel do FMI?

3.3.3.3.3. Que condição é imposta pelos banqueiros para novos empréstimos?

4.4.4.4.4. Explique com suas palavras a frase “o Brasil gasta o que não tem naquilo quenão precisa”.

6

Rolar adívida: naimpossibilidade depagar,são feitosnovos contratos,com mais prazo eincorporação dosjuros devidos.

Amortização:pagamento departe da dívida.

Page 127: História do Brasil - Volume 2

39A U L A

Um paísem construção

39A U L A

MÓDULO 10

Nesta aula

A campanha dasA campanha dasA campanha dasA campanha dasA campanha dasDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já

mobilizou omobilizou omobilizou omobilizou omobilizou oBrasil inteiro.Brasil inteiro.Brasil inteiro.Brasil inteiro.Brasil inteiro.

A década de 1980 foi decisiva na Históriabrasileira. Em meio a uma grave crise econômica, a sociedade lutou pelaliberdade e pela cidadania. Nova Constituição foi aprovada. Finalmente, apóstrinta anos, foram realizadas eleições diretas para presidente. Enfim, deram-sepassos fundamentais para a construção da democracia brasileira.

Mas, e agora? Que caminhos seguir? Será que conseguiremos consolidarnossas instituições democráticas e, ao mesmo tempo, combater as enormesdesigualdades que marcam a sociedade brasileira? O Brasil dos anos 90 temconvivido com essa questão.

Nesta aula vamos acompanhar como, nos últimos anos, temos procuradoconciliar democracia, solidariedade e justiça. Será que estamos passando no teste?

Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992)

Encerrado o primeiro governo da Nova República, finalmente o Brasilassistiu em l989, depois de quase trinta anos, a uma eleição direta para Presidên-cia. Cinco anos depois da campanha das Diretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas JáDiretas Já, num clima de euforiadesconhecido pelas gerações mais novas, o povo compareceu às urnas paraescolher seu candidato. As eleições de l989 foram uma grande festa democráticavivida pelo país.

Page 128: História do Brasil - Volume 2

39A U L ADentre as diversas candidaturas apresentadas nas eleições, apenas duas

foram para o segundo turno: a do ex-governador de Alagoas Fernando Collorde Mello, do Partido da Reconstrução Nacional − PRN, e a do ex-líder sindicale deputado Luiz Inácio “Lula” da Silva, do Partido dos Trabalhadores − PT.

Tendo como principal bandeira a defesa da moralidade pública e o combateà corrupção, Fernando Collor foi eleito com uma votação de cerca de 35 milhõesde votos.

O novo governo chegava ao poder cercado de enorme expectativa. Ainflação atingia níveis insuportáveis (84% ao mês, em março de l990). O mercadoagitava-se com a possibilidade de um novo choque na economia.

No dia da posse, com as instituições financeiras fechadas, editou-se o PlanoPlanoPlanoPlanoPlanoCollorCollorCollorCollorCollor − a mais drástica intervenção do Estado na economia brasileira, até então.Em meio a outras medidas, entre as quais a volta do nome CruzeiroCruzeiroCruzeiroCruzeiroCruzeiro para amoeda nacional, o Plano Collor, ou Plano Brasil Novo, retirou de circulação l00bilhões de dólares e estabeleceu o bloqueio dos cruzeirosbloqueio dos cruzeirosbloqueio dos cruzeirosbloqueio dos cruzeirosbloqueio dos cruzeiros, limitando os saquesà poupança, às contas e aplicações a 50 cruzeiros.

A economia foi profundamente abalada pelo Plano. Houve uma drásticaredução da produção. A recessão econômica aprofundou-se. O desemprego nasgrandes cidades aumentou.

Apesar dessas medidas, a inflação não havia sido domada. Durante o anode l990, a inflação alcançou um total acumulado de l.l98%.

Além do Plano Collor, o novo governo anunciou um amplo programa dereforma do Estado, que previa o fechamento de diversos órgãos públicos e ademissão ou afastamento de cerca de 360 mil servidores, além de um programade privatização das empresas estatais.

Essas medidas enquadravam-se na visão do governo para reduzir o tama-nho do Estado e reorientá-lo para aquelas que deveriam ser suas atividadesbásicas: educaçãoeducaçãoeducaçãoeducaçãoeducação, saúdesaúdesaúdesaúdesaúde, habitaçãohabitaçãohabitaçãohabitaçãohabitação e transportestransportestransportestransportestransportes. Na prática, a reforma doEstado − feita de forma desorganizada e sem critérios definidos − gerou gravedesestruturação em vários setores do serviço público.

E, juntamente com as questões econômicas, o governo enfrentou problemasde relacionamento com o Congresso. Collor elegeu-se sem apoio dos maiorespartidos políticos e, apenas no ano de l992, com as reformas ministeriais,procurou obter apoio maior de partidos importantes no Congresso, como o PFLe o PDS.

O presidente, até aquele momento, acreditava que com sua presença diárianos meios de comunicação de massa poderia obter o apoio necessário a seugoverno. Utilizando-se de um estilo “espetacular”, com vôos de jato, corridas dejet-ski, aventuras na floresta Amazônica, Collor buscava criar uma imagem deherói, capaz de enfrentar todos os problemas.

Logo o presidente percebeu que não era possível governar o país sem oapoio dos partidos políticos e de setores organizados da sociedade. No entanto,no exato momento em que procurava recompor-se com parte da classe política,Collor enfrentou a mais séria crise do seu governo, que teve como resultado oimpeachmentimpeachmentimpeachmentimpeachmentimpeachment, isto é, seu afastamento das funções de presidente da República.

Estes foram os principais momentos da crise até o impeachment.

l MMMMMaio de 92aio de 92aio de 92aio de 92aio de 92 − Denúncias de Pedro Collor (irmão do presidente) acusandoo tesoureiro da campanha presidencial de Collor (Paulo César Farias − en-volvido em diversas irregularidades) de ser testa-de-ferro de FernandoCollor de Mello em negócios financeiros ilícitos.

Page 129: História do Brasil - Volume 2

39A U L A l Junho de 92Junho de 92Junho de 92Junho de 92Junho de 92 − O Congresso instalou uma Comissão Parlamentar de In-

quérito (CPI) com o objetivo de averiguar as denúncias de Pedro Collor.Constatou-se que contas do presidente e de sua família eram pagas porcheques-fantasmas emitidos por P. C. Farias e seus funcionários.

l Agosto de 92Agosto de 92Agosto de 92Agosto de 92Agosto de 92 − Aprovado o relatório final da CPI que apontava o envolvi-mento de Collor em diversos crimes.

l 29 de setembro de 9229 de setembro de 9229 de setembro de 9229 de setembro de 9229 de setembro de 92 − Aprovado o processo que tornava admissívelo impeachment na Câmara dos Deputados. Resultado: 441 votos a favor e38 contra. Collor foi afastado até o julgamento final pelo Senado; iniciava-seo governo do presidente em exercício Itamar Franco.

l Dezembro de 92Dezembro de 92Dezembro de 92Dezembro de 92Dezembro de 92 − Aprovado no Senado o impeachment do presidenteFernando Collor de Mello.

Durante esse longo processo ocorreu uma intensa mobilização da socieda-de, que passou a exigir a moralização da atividade política e o afastamentoimediato do Presidente. Surgiu o movimento Pela ética na políticaPela ética na políticaPela ética na políticaPela ética na políticaPela ética na política. As ruas epraças das grandes cidades brasileiras foram ocupadas por estudantes quepintavam o rosto com as cores da bandeira nacional, expressando sua indigna-ção em relação aos esquemas de corrupção revelados pela imprensa e suavontade de estar presente na construção de um novo país.

No final de l992 terminava a Era Collor. O país vivera uma nova aula decidadania. Pela primeira vez na História, um presidente sofria o impeachment.A crise política fora resolvida dentro das regras constitucionais. Não houveameaças de golpe. A democracia brasileira passara por um duro teste.

Democracia e organização

O primeiro presidente brasileiro eleito diretamente após tanto tempo, haviasido afastado do poder. Chegara a hora de reconstruir o país e recuperar aconfiança da população nos homens públicos.

Tendo em vista essas preocupações, o novo governo, presidido por ItamarFranco, tratou de buscar apoio dos partidos políticos para formar um governoforte, com sustentação no Congresso e na opinião pública. Para isso, convocoupolíticos e personalidades de diferentes visões para constituir um governo decoalizão. Ao mesmo tempo, procurou estabelecer uma política de bom relacio-namento com o Congresso Nacional para viabilizar seus projetos.

Enquanto o governo procurava acertar os rumos de suas políticas (combateà inflação, reorientação do programa de privatização e enfrentamento deproblemas sociais), novas denúncias abalaram mais uma vez a Repúblicabrasileira durante o ano de 1993. Diversos parlamentares foram acusados deenvolvimento na manipulação de verbas no orçamento da União, beneficandoempreiteiras e desviando recursos para entidades ligadas a eles. Era o escândaloda “máfia do orçamento”. Mais uma vez, a opinião pública mobilizou-se paraexigir uma imediata investigação e punição para os culpados.

No final do ano, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito(“CPI do Orçamento”), que iniciou um processo cujo resultado, no ano seguinte,seria cassação de alguns parlamentares. Apesar do esforço do Congresso emafastar parlamentares denunciados por corrupção, a imagem da instituiçãoficou bastante abalada para grande parcela da sociedade.

Page 130: História do Brasil - Volume 2

39A U L ANesse quadro de construção da democraciaconstrução da democraciaconstrução da democraciaconstrução da democraciaconstrução da democracia, a busca por uma conduta

baseada em princípios éticos vem ganhando força em diversos aspectos da vidanacional.

Um exemplo disso foi a sentença da juíza Denise Frossard, mandandoprender os mais famosos bicheiros cariocas (acusados de formação de quadrilha)em maio de 1993.

Esse fato revela que o Poder Judiciário também tem demonstrado que énecessário romper o círculo vicioso de violência e impunidade que tem marcadoas grandes cidades brasileiras.

Mas os esforços de enfrentar as graves questões brasileiras não se desenvol-vem apenas nos órgãos públicos. Especialmente a partir dos anos 80 têm surgidocentenas de organizações não governamentais (ONGs) que buscam atuar emdiversas áreas, muitas vezes em conjunto com o poder público. Há atualmenteno Brasil organizações que lutam pelos direitos dos negros, das mulheres, dascrianças, das vítimas da AIDS e em defesa da ecologia.

Nesse processo de auto-organização da sociedade brasileira, foi criado, em1993, um dos mais importantes movimentos de solidariedade da história dopaís: a Campanha contra a FomeCampanha contra a FomeCampanha contra a FomeCampanha contra a FomeCampanha contra a Fome.

A Campanha contra a Fome − como ficou popularmente conhecida a AçãoAçãoAçãoAçãoAçãoda Cidadania Contra a Miséria e pela Vidada Cidadania Contra a Miséria e pela Vidada Cidadania Contra a Miséria e pela Vidada Cidadania Contra a Miséria e pela Vidada Cidadania Contra a Miséria e pela Vida − surgiu no contexto doMovimento pela Ética na PolíticaMovimento pela Ética na PolíticaMovimento pela Ética na PolíticaMovimento pela Ética na PolíticaMovimento pela Ética na Política, coordenado por diversos grupos dasociedade civil em apoio ao impeachment do presidente Fernando Collor.

Num encontro que reuniu, no início de 1993, grupos civis e entidades nãogovernamentais, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, propôs umamobilização em caráter de emergência contra a fome e a miséria. Em abril, teveinício a campanha.

O movimento ganhou força em todo o país e ainda naquele ano já estavamem funcionamento cerca de mil comitês, mobilizando diversos setores dasociedade. A campanha motivou ainda a criação do Conselho Nacional deSegurança Alimentar − CONSEA, formado por membros do governo federal erepresentantes da sociedade civil, e presidido pelo Bispo de Duque de Caxias(Rio de Janeiro) Dom Mauro Morelli.

Na visão do sociólogo Betinho, os resultados do movimento representaramuma resposta positiva da sociedade, abrindo caminho para mudanças napolítica e no comportamento do eleitorado, e, ao mesmo tempo, ofereceramnovas perspectivas para a democracia em nosso país e para a construção deconstrução deconstrução deconstrução deconstrução deuma nova cidadaniauma nova cidadaniauma nova cidadaniauma nova cidadaniauma nova cidadania.

Itamar FrancoItamar FrancoItamar FrancoItamar FrancoItamar Francoconciliou asconciliou asconciliou asconciliou asconciliou asforças políticasforças políticasforças políticasforças políticasforças políticase passou a faixae passou a faixae passou a faixae passou a faixae passou a faixapresidencial parapresidencial parapresidencial parapresidencial parapresidencial paraFernando HenriqueFernando HenriqueFernando HenriqueFernando HenriqueFernando HenriqueCardoso.Cardoso.Cardoso.Cardoso.Cardoso.

Page 131: História do Brasil - Volume 2

39A U L A O Brasil do Real

Depois de nomear quatro ministros da Fazenda, em sete meses de governo,em maio de 1993, o presidente Itamar Franco nomeou o senador FernandoHenrique Cardoso para o cargo. O novo ministro assumiu a pasta, preocupadoem ordenar a política governamental com o objetivo de estabilizar a economia,derrubar a inflação e terminar com o déficit público, isto é, fazer com que ogoverno gastasse somente a quantia que pudesse arrecadar.

O plano de estabilização econômica do ministro Fernando Henrique Cardo-so iria atingir seus objetivos depois de meses de implantação da nova política,que não se resumiu em medidas imediatistas, pois foi implementada progres-sivamente, e sua etapa mais significativa foi a entrada em vigor da nova moeda,o RealRealRealRealReal, em julho de 1994.

A sucessão do presidente Itamar Franco teve como tema central a defesa ounão da continuidade da política de estabilização econômica e a manutenção doscritérios de moralidade no trato da coisa pública.

Em 15 de novembro de 1994, foi eleito o sucessor do presidente ItamarFranco, o senador Fernando Henrique Cardoso, que tomou posse em 1º dejaneiro de 1995, com o compromisso de dar continuidade ao programa deestabilização econômica, principal bandeira de sua campanha eleitoral.

6

Assim, chegamos ao Brasil dos anos 90. E que país é esse? Certamente umpaís de contrastes e de velhos problemas. Porém, ao que tudo indica, um paísque busca um novo caminho, não mais marcado pela exclusão da maior parte dasociedade mas pelo desejo de integrar todos os brasileiros e todas as brasileirasna construção de um novo Brasil.

Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeue procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992)Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992)Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992)Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992)Apogeu e crise do governo Collor (1990-1992) e faça o que se pede:

a)a)a)a)a) Identifique um problema econômico e um problema político enfrentadopelo governo Collor:

b)b)b)b)b) Cite um fator que tenha levado ao impeachment do Presidente Collor.

2.2.2.2.2. Releia Democracia e organizaçãoDemocracia e organizaçãoDemocracia e organizaçãoDemocracia e organizaçãoDemocracia e organização e identifique dois movimentos quemarcaram o esforço de construção da democracia em nosso país.

3.3.3.3.3. Dê um novo título a esta aula.

O temponão pára

Exercícios

Page 132: História do Brasil - Volume 2

39A U L AFazendo a História

Meu paísMeu paísMeu paísMeu paísMeu país De Moraes Moreira

Meu país tem futebolDeu Garrincha e deu PeléMeu país tem muito solE haja fé, e haja féMeu país é um continenteNão tem mais tempo a perderTá crescendo em sua genteA vontade de vencerContra a fome e a misériaQue é visível no caminhoNossa luta será sériaSeremos todos BetinhoDando fim à violênciaO homem será felizNo plano da consciênciaCortando o mal pela raiz

Luz, queremos luzPra quem conduzO destino de uma NaçãoDiz, cantando, dizQue ser felizÉ um direito que é do cidadão

Meu país tem carnavalCarmem Miranda e NoelMeu país é sem igualEu boto minhas mãos pro céuMeu país é um giganteQue do sono despertouHoje é bom que a gente plantePra amanhã colher amor

1.1.1.1.1. Extraia desse poema as ações que você considera importantes para a cons-trução de um Brasil melhor.

6

Page 133: História do Brasil - Volume 2

40A U L A

Para concluir o nosso curso de História doBrasil, vamos estudar as mudanças que estão ocorrendo no mundo, e comonosso país está sendo afetado por elas.

A internacionalização da economia

Nos últimos trinta anos, ocorreram transformações radicais em todo omundo. Na economia, deixou de existir a antiga divisão entre países dominan-países dominan-países dominan-países dominan-países dominan-testestestestes, industrializados e países dependentespaíses dependentespaíses dependentespaíses dependentespaíses dependentes, produtores de matérias-primas egêneros agrícolas.

O fenômeno que alterou a própria natureza da economia mundial, deveu-se ao fato de que as grandes empresas, em busca de mão-de-obra mais barata,transferiram parte do seu parque produtivo para os países em desenvolvimento,entre eles o Brasil.

Nesta aula

40A U L A

MÓDULO 10 O Brasil e a novaordem mundial

Eletrodomésticos,Eletrodomésticos,Eletrodomésticos,Eletrodomésticos,Eletrodomésticos,carros e outroscarros e outroscarros e outroscarros e outroscarros e outros

produtosprodutosprodutosprodutosprodutospassaram a fazerpassaram a fazerpassaram a fazerpassaram a fazerpassaram a fazerparte integranteparte integranteparte integranteparte integranteparte integrante

da vida brasileira.da vida brasileira.da vida brasileira.da vida brasileira.da vida brasileira.

Page 134: História do Brasil - Volume 2

40A U L AHouve aquilo que os economistas chamam de “internacionalização do

processo produtivo”, que teve como conseqüência a abertura de novas áreas deindustrialização em diversas regiões. A mais importante delas se encontra noSudeste da Ásia, constituída por países conhecidos como os “tigres asiáticos”.(Coréia do Sul, Cingapura e Hong-Kong).

Ao mesmo tempo, rompiam-se na Europa velhas barreiras comerciais etarifárias, surgindo a Comunidade Econômica Européia.

A revolução tecnológica

Contudo, o fenômeno mais significativo nos anos posteriores ao término daSegunda Guerra Mundial, e que ocorreu no cenário mundial, foi a revoluçãorevoluçãorevoluçãorevoluçãorevoluçãotecnológicatecnológicatecnológicatecnológicatecnológica. Tal fenômeno veio substituir a Revolução Industrial. Essa revolu-ção tecnológica vem tendo profundas conseqüências sociais e culturais. Carac-teriza-se pelo predomínio da informação, tendo sido abandonados os velhosprocessos produtivos, substituídos pela capacidade científica e pela criação denovas técnicas e novos produtos.

O centro de decisão da economia mundial, antes concentrado nos EstadosUnidos, dispersou-se em um grupo de nações. A potência militarmente maispoderosa, os Estados Unidos, passou a dividir o poderio econômico com outrospaíses, como a Alemanha, o Japão e as nações que são membros da ComunidadeEconômica Européia − CEE.

O Muro de Berlim

Esses anos presenciaram, também, o desenrolar e o final da Guerra Fria e ascorridas armamentista, nuclear e espacial, entre os Estados Unidos e a UniãoSoviética.

O símbolo da disputa ideológica entre o capitalismo e o comunismo foi oMuro de Berlim. O Muro foi construído em 1961, para separar as partes da cidadede Berlim que, após a Segunda Guerrra Mundial, ficaram sob a esfera deinfluência dos dois países responsáveis pela derrota final do nazismo, em 1945.

A progressiva superioridade militar dos Estados Unidos e o agravamentoda crise econômica na União Soviética permitiram que houvesse um movimentode aproximação entre os dois países em torno da necessidade de se evitar umaguerra nuclear.

Esta potenteEsta potenteEsta potenteEsta potenteEsta potenteantena deantena deantena deantena deantena detelecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicaçõestelecomunicaçõessimboliza, aqui, asimboliza, aqui, asimboliza, aqui, asimboliza, aqui, asimboliza, aqui, avelocidade comvelocidade comvelocidade comvelocidade comvelocidade comque asque asque asque asque asinformaçõesinformaçõesinformaçõesinformaçõesinformaçõescorrem neste finalcorrem neste finalcorrem neste finalcorrem neste finalcorrem neste finalde século.de século.de século.de século.de século.

Page 135: História do Brasil - Volume 2

40A U L A A Perestroika e a Glasnost

Na tentativa de solucionar a crise interna, o líder soviético MikhailGorbatchev, que chegou ao poder em 1985, iniciou um processo de reformaeconômica conhecido como PerestroikaPerestroikaPerestroikaPerestroikaPerestroika.

Entretanto, seu governo percebeu que para estimular a criatividade e a livreiniciativa era também nescessária a reforma política. Iniciou assim, um processode abertura chamado GlasnostGlasnostGlasnostGlasnostGlasnost, que quer dizer descongelamento. Esse processolevou a maiores questionamentos por parte dos cidadãos soviéticos e dos paísessob o domínio comunista.

Em 1989, a revolução explodiu na Polônia, na Hungria, na AlemanhaOriental e na Checoslováquia. Cansados do domínio soviético, da falta deliberdade e dos problemas econômicos, homens e mulheres desses países saíramàs ruas e derrubaram seus governantes.

A revolução, em pouco tempo, espalhou-se para todos os países comunistasna Europa, e a própria União Soviética deixou de existir. Em novembro de 1991,o Muro de Berlim foi derrubado e a Alemanha, reunificada.

Todo esse rápido processo mudou a face do mundo. O fim da União Soviéticafez com que terminasse a Guerra Fria. Iniciou-se uma era de otimismo, deintegração econômica e política − a era da globalizaçãoera da globalizaçãoera da globalizaçãoera da globalizaçãoera da globalização.

Apesar disso, uma forte tendência de fragmentação política se fez sentir emdiversos países, onde movimentos étnicos, religiosos e nacionalistas queriam, equerem, preservar sua identidade e conquistar seu espaço.

Outra grave questão contemporânea é o aumento constante do desempre-aumento constante do desempre-aumento constante do desempre-aumento constante do desempre-aumento constante do desempre-gogogogogo no mundo industrializado. Apenas no ano de 1993, cerca de 35 milhões detrabalhadores ficaram sem ocupação nos países mais ricos. O avanço tecnológicoe as novas técnicas de organização das empresas geraram aumento da produçãocom menor número de trabalhadores. Esse aumento do desemprego temcontribuído, inclusive, para o surgimento de grupos racistas e nazistas, quetendem a culpar os imigrantes estrangeiros pela falta de empregos na Europa.

A nova ordem

O Brasil recebeu influxos políticos, econômicos e culturais desse contextoque se modificava. O desaparecimento da União Soviética obrigou, também, auma reavaliação do projeto socialista, fazendo com que fosse mudada a sigla doPartido Comunista Brasileiro − PCB para Partido Popular Socialista − PPS.

Nos antigos países comunistas do Leste Europeu, em vez do totalitarismoe da implantação da economia de mercado, em vez da economia planificada, ademocracia liberal lançou as bases para a construção das respostas para areorganização política e econômica dessas nações.

A mesma coisa aconteceu nos países do Terceiro Mundo, entre eles o Brasil,que substituíram os regimes autoritários por democracias liberais e iniciaram aliberação de suas economias, com a privatização de empresas estatais e aaceitação das leis do mercado.

O Brasil enfrenta esse cenário mundial como um de seus novos atores,sintonizado com os sinais dos novos tempos. Ao longo das últimas décadas, oBrasil construíu uma base material significativa. E, com o restabelecimento dademocracia, diferentes setores sociais começaram a expressar-se com maisautonomia. A redução de certas tarifas de importação − que obriga a qualificaçãoe o aumento da produção nacional − e o processo de privatização de empresas

Page 136: História do Brasil - Volume 2

40A U L Aque representam ônus para o Estado − pois retiram recursos que deveriam ser

aplicados nas funções básicas do poder público −, representam passos queconduzem à integração brasileira na nova ordem mundialnova ordem mundialnova ordem mundialnova ordem mundialnova ordem mundial.

Outro aspecto da presença brasileira no esforço para integrar-se à globalizaçãoda economia é o processo de integração regionalintegração regionalintegração regionalintegração regionalintegração regional. A estruturação do MercadoComum do Sul − MercosulMercosulMercosulMercosulMercosul, em 1993, que reúne Brasil, Argentina, Uruguai eParaguai, iniciou uma crescente troca comercial entre os países integrantes.

A possibilidade da participação de outros países latino-americanos nesseprocesso de integração de economias nacionaisintegração de economias nacionaisintegração de economias nacionaisintegração de economias nacionaisintegração de economias nacionais faz crer que a superação defronteiras e barreiras tarifárias e comerciais constituirão a marca da ordemmundial no século XXI.

Vivemos agora, como muitos países, anos de reconstrução. De um ladoprocura-se criar novas formas de cooperação e solidariedade, como no caso daCampanha Contra a Fome e pela Cidadania. Por outro, cresce entre os brasileirosa consciência de que nossos gravíssimos problemas sociais apenas serão resol-vidos com a manutenção e o fortalecimento da democracia. Daí os movimentosrecentes que combatem a corrupção e exigem uma atitude digna e construtivapor parte dos governantes.

Para concluir, esperamos que, ao longo do curso, você possa ter percebidoque faz parte da História que todos estamos fazendo com nosso trabalho, nossossentimentos, nosso pensamento, nossa ação.

Parabéns!

O temponão pára

Page 137: História do Brasil - Volume 2

40A U L A Relendo o texto

Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu eprocure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.

1.1.1.1.1. Releia A internacionalização da economiaA internacionalização da economiaA internacionalização da economiaA internacionalização da economiaA internacionalização da economia e explique o papel das multi-nacionais nos países subdesenvolvidos.

2.2.2.2.2. Releia A revolução tecnológicaA revolução tecnológicaA revolução tecnológicaA revolução tecnológicaA revolução tecnológica e responda:a)a)a)a)a) Quais as características da nova revolução?

b)b)b)b)b) De que maneira o Brasil poderá chegar a essa revolução?

3.3.3.3.3. Releia O Muro de BerlimO Muro de BerlimO Muro de BerlimO Muro de BerlimO Muro de Berlim e responda o que aconteceu no Leste Europeu apósa Perestroika e a Glasnost?

4.4.4.4.4. Releia A nova ordemA nova ordemA nova ordemA nova ordemA nova ordem e dê a sua opinião crítica sobre a integração do Brasilna nova ordem mundial, no que se refere:l ao Mercosul;l à privatização das empresas estatais;l à importação de produtos estrangeiros.

5.5.5.5.5. Dê um novo título a esta aula.

Fazendo a História

O documento abaixo é um dos depoimentos que o sociólogo Herbert deSouza (Betinho) vem fazendo por este país afora, na defesa da Campanha daCampanha daCampanha daCampanha daCampanha daAção da Cidadania Contra a Miséria e pela VidaAção da Cidadania Contra a Miséria e pela VidaAção da Cidadania Contra a Miséria e pela VidaAção da Cidadania Contra a Miséria e pela VidaAção da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida. Essa campanha representauma nova forma de fazer política e construir, no dia-a-dia, a democracia emnosso país. Leia-o com atenção e faça o que se pede:

“ O Brasil foi produzindo, ao longo da História, a riqueza e a pobreza.Mas nós nos acostumamos com a pobreza como se ela fosse um fatoabsolutamente natural. (...) A Ação da Cidadania contra a Miséria ePela Vida é um movimento que quer recriar o Brasil e que depende,essencialmente, da confiança que cada um deve ter não em mim, nãono outro, mas em si mesmo, na cidadania, na ação solidária econjunta para transformar a realidade. Esta ação da cidadania, naverdade, aposta na consciência, aposta na mudança de visão que vaise transformar em ação e, finalmente, virar comida, emprego, mora-dia, sociedade, instituições, democracia.”Herbert de SouzaHerbert de SouzaHerbert de SouzaHerbert de SouzaHerbert de Souza (Betinho), 1993

1.1.1.1.1. Relembrando o que você viu nesta última aula sobre a reconstrução doBrasil, e juntando tudo isso com esse texto de Herbert de Souza, diga o quevocê acha que pode fazer para participar da construção de um Brasil melhor?

6

Exercícios