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HISTÓRIA DE UMA DÉCADA QUASE PERDIDA PT, CUT, crise e democracia no Brasil: 1979-1989

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História de uma década quase perdidaPT, CUT, crise e democracia no Brasil: 1979-1989

Conselho editorial

Bertha K. BeckerCandido MendesCristovam Buarque Ignacy SachsJurandir Freire CostaLadislau DowborPierre Salama

Gelsom Rozentino de Almeida

História de uma década quase perdidaPT, CUT, crise e democracia no Brasil: 1979-1989

Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.

Copyright © 2011, Gelsom Rozentino de Almeida

Direitos cedidos para esta edição àEditora Garamond Ltda.

Rua da Estrela, 79 - 3º andar - Rio CompridoRio de Janeiro - Brasil - 20.251-021

Tel: (21) [email protected]

RevisãoCarmem Cacciacarro

Editoração EletrônicaEstúdio Garamond / Luiz Oliveira

CapaEstúdio Garamond / Anderson Leal

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

M695o Maya, Ivone da Silva Ramos O povo de papel : a sátira política na literatura de cordel / Ivone da Silva Ramos Maya. - Rio de Janeiro : Garamond, 2011. 167 p. ; 14x21 cmISBN 978-85-1. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. 2. Trabalhaores rurais - Brasil - Atividades políticas. 3. Posse da terra - Brasil. 4. Reforma agrária - Brasil. 5. Movimentos sociais - Brasil. I. Título. 11-0938. CDD: 333.3181 CDU: 332.2.021.8(81)

Sumário

Prefácio - Democracia e socialismo no Brasil – na contramão .........11

Introdução .............................................................................................17

Capítulo I - O fim da ditadura militar1 – Transição? ..................................................................................26

2 – A crise brasileira ........................................................................48

2.1 – O contexto internacional .......................................................48

2.2 – Entre a crise e a marcha forçada (1974-1979).......................55

2.3 – Choque e ajuste externo, desequilíbrio interno

e ortodoxia (1979-1985)..........................................................58

2.3.1- Características da inserção econômica externa do Brasil ......... 582.3.2 – Negociação, submissão e recessão .......................................... 602.4 – Entre o paraíso heterodoxo e o purgatório

ortodoxo (1985-1989). ................................................................ 682.4.1 – O Plano Cruzado ..................................................................... 692.4.2 – O Plano Bresser ....................................................................... 762.4.3 – Do “feijão-com-arroz” ao Plano Verão ................................... 79

Capítulo II - Os trabalhadores em cena1 – Breve histórico das centrais sindicais no Brasil .......................87

2 – Os anos 80 e as transformações sindicais e da classe

trabalhadora .............................................................................93

3 – A emergência do novo sindicalismo .......................................100

4 – A criação da CUT ....................................................................105

Capítulo III - Os desafios políticos e organizativos dos trabalhadores1- “Novo sindicalismo”? ................................................................129

2 – As greves de 1978, 1979 e 1980 ...............................................132

3 – A greve geral .............................................................................150

4 – O modelo sindical histórico ....................................................163

Capítulo IV - O lugar dos trabalhadores na política1 – A “novidade” do PT .................................................................177

2 – As origens e formação do PT (1979-1982).............................187

3 – O PT e a questão sindical ........................................................218

4 – Entre a lei e o movimento: a estrutura partidária .................222

5 – Grupos e tendências ................................................................227

6 – O partido em ação: Diretas Já e campanhas eleitorais ..........240

6.1 – Diretas Já ...............................................................................240

6.2 – O PT cresce nas campanhas eleitorais .................................253

Capítulo V - O pt e a cut no congresso constituinte1 – A CUT e o Congresso Constituinte ........................................284

2 – O PT e o Congresso Constituinte ...........................................318

3 – A Constituição de 1988 e a visão dos liberais.........................328

Capítulo VI - A questão nacional1 – A CUT e a questão agrária ......................................................337

2 – O PT e a questão nacional.......................................................374

Capítulo VII - Democracia e socialismo1 – Os documentos básicos ...........................................................441

2 – Um marco: o V Encontro Nacional ........................................452

3 – O VI Encontro Nacional e o contexto eleitoral ......................465

4 – O VII Encontro Nacional: novos desafios ..............................470

Conclusão ............................................................................................493

Fontes ...................................................................................................497

Referências ...........................................................................................503

Ah, eu sei que não é possível. Não me assente o senhor

por beócio. Uma coisa é por ideias arranjadas, outra é

lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-

tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – e

nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando,

querendo colocação de emprego, comida saúde, riqueza, ser

importante, querendo chuva e negócios bons...

João Guimarães Rosa

O mundo é um palco

E todos os homens e mulheres são atores

Têm suas saídas e suas entradas

Cada homem na sua vida representa vários papéis

Willian Shakespeare

Organizar a esperança

Conduzir a tempestade

Romper os mudos da noite

Criar sem pedir licença

Um Mundo de Liberdade.

Hamilton Pereira (Pedro Tierra)

Agradecimentos

Agradecer é uma tarefa difícil, pois, muitas vezes, a palavra não é suficiente para expressar a nossa gratidão. Assim mesmo, gostaria de manifestar meu agradecimento a amigos, familiares e instituições, sem os quais este trabalho não teria sido possível.

Primeiramente, agradeço à Faperj, pelo suporte financeiro dado à pesquisa entre 1996 e 2000. Diante das dificuldades encontradas na pesquisa, foi fundamental o apoio prestado por Cláudia Santiago, jornalista da CUT/RJ, pelos bolsistas do Arquivo da Memória Operária do Rio de Janeiro (Amorj/UFRJ) e pela assessoria do PT na Câmara dos Deputados. Aos professores do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História na UFF, credito os bons frutos da minha formação e isento-lhes de meus erros. Devo mencionar que algumas das ideias deste trabalho nasceram de intensos debates com os amigos Álvaro Senra, Márcio Azevedo, Orlando Alves Jr., Ricardo Figueiredo de Castro e Renato Pitzer. Agradeço aos membros do grupo de orientação do Laboratório Dimensões da História (LDH/UFF), por seu convívio estimulante. Aos professores que participaram da banca de defesa da tese – Sônia Regina de Mendonça, Marcelo Badaró Mattos, Carlos Nelson Coutinho e Ricardo Antunes –, meu agradecimento por suas críticas e generosidade. Aos companheiros do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Formação de Professores da Uerj, por nossas agruras e conquistas.

Meus agradecimentos especiais para:Cléa, minha mãe, presente em todos os momentos, a quem devo

a minha vida.Alice e Alana, minhas princesinhas, a quem devo a razão de viver.Janete, amiga, namorada, esposa e companheira, cujo amor é a

luz que ilumina a minha vida no caminho da felicidade.Virgínia, minha orientadora e amiga de todas as horas, a quem

devo este livro.

Prefácio | 11

Prefácio

Democracia e socialismo no Brasil – na contramão

Virgínia Fontes

O processo histórico brasileiro nas últimas três décadas, iniciando-

se a contagem a partir de 1979, é extremamente complexo, com

momentos vertiginosos, fascinantes, ao lado de outros irritantemente

repetitivos. Para nós, cuja tarefa e vocação é analisar, observar e

perscrutar as grandes linhas históricas e suas variações, os tempos

recentes às vezes parecem condensar processos experimentados em

outros países e latitudes que viveram experiências similares, porém

neles isso ocorreu em ritmos mais lentos e demorados; outras vezes,

nos deparamos com situações que acenaram aqui com possibilidades

de mudanças radicais de rumo extremamente originais; outras tantas,

sempre no mesmo período, a história pareceu congelar-se, cristalizar-

se na mesmice tradicional, para, em seguida, apresentar formatos

estranhos, não esperados, em que o novo se mesclava de maneira

peculiar com o tradicional e o já conhecido.

A rigor, nossa história recente nem inaugurou mudanças radicais nem

se congelou – a experiência histórica brasileira integrou politicamente os

procedimentos eleitorais regulares, fortemente marcados pelos altíssimos

custos das campanhas e pelo crescente compromisso entre candidatos,

grandes financiadores e marqueteiros, a eles subordinando a nossa recente

democracia. Inaugurou políticas focalizadas, porém generalizadas, de

redução da miséria; avançou celeremente na escala da concentração de

capitais, e no século XXI exibe um crescente grau de transnacionalização

de empresas de base brasileira. Se, de certa forma, nossa história retomou

com perfil próprio e percurso acelerado a social-liberalização que atingiu

diversos países, isso representou, simultaneamente, um avanço e um

recuo, num percurso bastante tortuoso.

12 | História de uma década quase perdida

Na pena de Gelsom Rozentino de Almeida, a história é um processo

tenso, composto de inúmeras lutas e explicações sobre elas, cuja resultante

é mais surpreendente do que os relatos e manchetes que procuram

condensar um longo percurso em curtas – e repetidas – frases. A

suposição de que a década de 1980 tenha sido “perdida” faz parte dessas

frases banalizadas pela grande imprensa e repetidas incessantemente.

No entanto, este país viveu nos anos 1980 uma das décadas mais ricas

de intensas e variadas lutas sociais, tão importantes e fulgurantes que

produzem efeitos ainda no século XXI.

Essa década, rica de promessas, envolveu características novas na

história brasileira, com a constituição de entidades populares de âmbito

nacional que, apesar de não receberem imediatamente unção legal,

contavam com tamanha legitimidade popular e com extensa base social,

que nenhuma intimidação era mais capaz de fazê-las recuar. E, é bom

que se lembre, não faltaram intimidações, vigorando ainda na década de

1980 uma Constituição que fora desfigurada pela ditadura civil-militar.

Permaneciam não só a truculência ditatorial, como se reforçavam os

mecanismos de dissuasão através da grande imprensa proprietária,

que ecoava incessantemente ameaças oriundas dos meios militares,

recheando-as ainda de todo tipo de horizontes catastróficos caso as

organizações populares vingassem. Este livro apresenta cuidadosamente

o debate sobre o teor da transição, sobretudo no aspecto (e no debate)

econômico, mas incorpora a dimensão política e institucional na qual

nasceram novas organizações populares de âmbito nacional, promissoras

porém frágeis.

Mas elas vingaram. Nasceram, então, um partido nacional com

sólido apoio popular – o Partido dos Trabalhadores (PT); uma Central

Sindical (CUT) que se propunha autônoma ante o patronato e o Estado

e cujas bases, de composição extremamente variada no amplo espectro

nacional, lutaram bravamente para implantar um novo formato de

auto-organização pela base e alterar as formas legais que reproduziam

sua subordinação perante o Estado; e, finalmente, um movimento social

do campo, que, lutando pela reforma agrária, pela primeira vez alcançava

uma organicidade também nacional, o Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST).

Prefácio | 13

A importância da criação dessas organizações mudou a face

deste país. Doravante, deveriam ser levados em consideração não

apenas os aparelhos privados de hegemonia do grande capital, cujo

desenvolvimento sempre contou com fartos recursos próprios e com

o apoio governamental aberto e recursos públicos, mas precisavam ser,

ao menos, ouvidas também essas novas entidades e organizações de

origem popular.

O livro que o leitor tem nas mãos acompanha, como resultado

de enorme esforço de pesquisa, o percurso inaugural de duas dessas

organizações, a CUT e o PT. Apesar de suas origens populares, nem

sempre, porém, tais organizações atuaram na direção que, nesses

primórdios, as movia em direção a assegurar transformações radicais

na sociedade brasileira. Três ordens principais de razões podem ser

indicadas: na primeira, a emergência de setores populares em luta por

transformações substantivas na vida social brasileira se defrontaria com

um rearranjo das próprias formas de dominação, sobretudo no terreno

social e cultural. As lutas de classes não ocorrem em terreno baldio, no

qual a luta popular possa construir um mundo novo apenas a partir

de suas próprias características. Os setores populares devem enfrentar

remodelações e deslocamentos mais ou menos velados, operados pelos

grupos que tradicionalmente acumulavam poder e mando, tanto

econômico, quanto social e político. A segunda ordem de razões para

inflexões nos propósitos originais é de escopo internacional. Embora

criadas e formuladas internamente, as novas entidades populares eram

(e continuam a ser) sensíveis às transformações internacionais, que ora

atuam no sentido de impulsionar novas lutas, ora no sentido inverso,

de apresentar como inúteis quaisquer esforços de transformação. Esse

foi o caso resultante da ascensão da mal chamada “globalização” e do

neoliberalismo (que apregoava que “não há alternativa”) em paralelo

à crise e derrocada das experiências resultantes de grandes processos

revolucionários, iniciadas em 1989 com a queda do muro de Berlim e

concluídas com o fim da União Soviética, no início da década de 1990.

É da terceira ordem de razões – que incorpora as duas outras

ordens – que trata este livro. Me refiro às opções diversas e aos combates

internos a tais entidades; aos projetos e intuitos formulados e defendidos

14 | História de uma década quase perdida

pelos diferentes grupos que se constituíram no interior das próprias

organizações populares. Não estavam isolados do mundo, não eram

isentos das influências dos setores dominantes internos, brasileiros,

ou dos influxos das condições internacionais. Não respondiam

automaticamente a tais influências, entretanto. Havia uma história longa

de lutas populares, buscando – como insistiu Florestan Fernandes – uma

revolução que desse voz à classe trabalhadora, revolução contra a ordem,

mesmo quando se limitava a ser uma “revolução na ordem”, tamanho o

bloqueio histórico à sua manifestação.

Originada na conjunção das reivindicações pelo socialismo e pela

democracia (compreendidas como a produção efetiva da igualdade social

e a superação do autoritarismo), a década de 1980 expressa uma ferrenha

luta para manter indissociáveis tais conquistas. Aos poucos, entretanto,

um divórcio entre os dois polos se constituía e se aprofundaria.

Essa questão é o nervo pulsante deste livro. De que forma se uniram

tais reivindicações? Como e por que, pouco a pouco, se separaram?

Quais foram os seus caminhos e descaminhos? Em que momentos se

produziram amálgamas ideológicos peculiares, tingidos de pragmatismo,

que separaram ao invés de manter unificada a plataforma que havia dado

nascimento a essas duas entidades e configurado uma forma peculiar

de organização e de lutas?

Foi procurando acompanhar alguns dos mais importantes meandros

dessa trajetória, que atravessavam os então recém-constituídos Partido

dos Trabalhadores e a Central Única dos Trabalhadores, que Gelsom

construiu esta pesquisa, num generoso afã de abraçar a maior parte

possível dos argumentos, das tensões, dos projetos e das muitas

teias jogadas por alguns, nas quais tantos outros se enredariam nas

décadas seguintes. Neste trabalho, o autor não julga o PT e a CUT

pela sua configuração atual, mas analisa um momento fundamental,

no qual estavam em liça definições e propostas cruciais para os rumos

subsequentes da história do Brasil.

Gelsom é um grande amigo, e este prefácio é mais um dos muitos

momentos de nossos encontros, que certamente continuarão vida

afora. A tese da qual resultou este livro, defendida na Universidade

Federal Fluminense, foi a minha primeira experiência na orientação

Prefácio | 15

de doutorado. Poucos são aqueles que, como eu, tiveram a felicidade

de encontrar alguém como Gelsom Rozentino de Almeida para esse

enorme, complexo e recíproco aprendizado: o de trabalhar, pesquisar,

discutir e avançar juntos numa formação doutoral. Este livro, como a

pesquisa realizada, é integralmente de Gelsom, responde a suas próprias

inquietações, demonstra a sua enorme investigação documental e

bibliográfica. Mais do que isso, este livro (como a tese) ecoa a própria

experiência vivida de Gelsom, apresentada de maneira documentada,

refletida, pensada, analisada. A estreita e longa relação durante a sua

confecção resulta na felicidade de acompanhar o processo de expressão

da maturidade de um historiador.