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Em Mata de São João, na comunidade Domínio dos Deuses, a vida não se dissocia da escola e a escola não se dissocia da vida, é o que o cenário nos desvenda. A casa de barro, que é a casa de farinha transformada em escola, é a própria vida que está ali imbricada, revelando-se em espaços multivivenciais. A alfabetizadora de Mata de São João está ali envolvida com o ato de educar. Sua comunidade anseia pela leitura da palavra, tão importante nesses dias. Percebe-se que o “mundo” esta educadora já lê como a palavra, e importante para ela é ensinar a leitura e a escrita da palavra como ato essencial e humanizador, já que é esta que trará possibilidades na busca pela emancipação. E assim, a parede que pendura os quadros, as obras de arte construídas pela professora, é a mesma que acolhe os livros e os utensílios do feitio da farinha. É ainda, nesse espaço de vida que se realiza o trabalho enquanto subsistência necessária para a sobrevivência e, ao mesmo tempo, os afazeres do cotidiano “lavar prato, cozinhar...” e o compartilhar dos sonhos e das possibilidades da pessoa humana em busca do “ser mais”. O sentimento de pertencimento que move a ação dessa alfabetizadora em Mata de São João nos impulsiona a acreditar mais e mais na alfabetização desses sujeitos da história, da nossa história, da história do TOPA. Sujeitos que, na simplicidade do ser, dimensionam as nossas práticas. Pensar nesses sujeitos e planejar a maneira de melhor conduzir a Educação de Jovens e Adultos, na verdade, é se perguntar: “Quem é cada um de nós senão um emaranhado de vivências, subjetividades, saberes, dimensões e possibilidades?” E esses sujeitos que compõem a história do Programa são diversos, múltiplos. Reconhecer que é na integração dessas culturas e por meio das vivências que, enquanto educadores comprometidos e sedentos com o propósito de uma educação para a ética, para o respeito, democrática e libertária, iremos construindo, a cada dia, o nosso maior propósito educacional: a emancipação desses sujeitos. Dessa forma, os sorrisos ao assinar o nome, ao percorrer caminhos e mais caminhos com o caderno na mão, ansiosos para chegar até a escola, são os motivos mais significantes dessa jornada. Sabe o que fica disso tudo? A certeza de que as mudanças são possíveis quando se sonha, quando se quer, se almeja. E, nessa caminhada diária, significativas mudanças vão sendo visualizadas e, de fato, elas são percebidas em longo prazo. Mas quais são as verdadeiras e significativas transformações que não demoram? E demoram. É perceptível o sonho nas expressões dessa mulher, dessa mãe, não sei... Dessa guerreira, dessa líder, dessa alfabetizadora com seu povo. No seu linguajar, as expressões e os sentimentos de luta por energia em sua comunidade, de luta por uma simples bateria que talvez resolvesse o problema imediato da comunidade “comum”, que peleja para alcançar dias melhores e tem a certeza de que a leitura e a escrita são essenciais para o seu povo. Povo este que permanece unido, e juntos gritam dizendo: Nós estamos aqui e sabemos da importância que vocês tem em nossas vidas, portanto juntos podemos modificar, nós e vocês de lá, do Estado, da UNEB da PROEX do NEJA, do TOPA... Elaine Joyce Souza Brito Supervisora do Programa TOPA no NEJA História de uma Alfabetizadora Em Mata de São João, o Programa Todos pela Alfabetização também constrói a sua história... Mata de São João 8

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Em Mata de São João, na comunidade Domínio dos Deuses, a vida não se dissocia da escola e a escola não se dissocia da vida, é o que o cenário nos desvenda. A casa de barro, que é a casa de farinha transformada em escola, é a própria vida que está ali imbricada, revelando-se em espaços multivivenciais. A alfabetizadora de Mata de São João está ali envolvida com o ato de educar. Sua comunidade anseia pela leitura da palavra, tão importante nesses dias. Percebe-se que o “mundo” esta educadora já lê como a palavra, e importante para ela é ensinar a leitura e a escrita da palavra como ato essencial e humanizador, já que é esta que trará possibilidades na busca pela emancipação.

E assim, a parede que pendura os quadros, as obras de arte construídas pela professora, é a mesma que acolhe os livros e os utensílios do feitio da farinha. É ainda, nesse espaço de vida que se realiza o trabalho enquanto subsistência necessária para a sobrevivência e, ao mesmo tempo, os afazeres do cotidiano “lavar prato, cozinhar...” e o compartilhar dos sonhos e das possibilidades da pessoa humana em busca do “ser mais”. O sentimento de pertencimento que move a ação dessa alfabetizadora em Mata de São João nos impulsiona a acreditar mais e mais na alfabetização desses sujeitos da história, da nossa história, da história do TOPA. Sujeitos que, na simplicidade do ser, dimensionam as nossas práticas.

Pensar nesses sujeitos e planejar a maneira de melhor conduzir a Educação de Jovens e Adultos, na verdade, é se perguntar: “Quem é cada um de nós senão um emaranhado de vivências, subjetividades, saberes, dimensões e possibilidades?” E esses sujeitos que compõem a história do Programa são diversos, múltiplos. Reconhecer que é na integração dessas culturas e por meio das vivências que, enquanto educadores comprometidos e sedentos com o propósito de uma educação para a ética, para o respeito, democrática e libertária, iremos construindo, a cada dia, o nosso maior propósito educacional: a emancipação desses sujeitos. Dessa forma, os sorrisos ao assinar o nome, ao percorrer caminhos e mais caminhos com o caderno na mão, ansiosos para chegar até a escola, são os motivos mais significantes dessa jornada.

Sabe o que fica disso tudo? A certeza de que as mudanças são possíveis quando se sonha, quando se quer, se almeja. E, nessa caminhada diária, significativas mudanças vão sendo visualizadas e, de fato, elas são percebidas em longo prazo. Mas quais são as verdadeiras e significativas transformações que não demoram? E demoram. É perceptível o sonho nas expressões dessa mulher, dessa mãe, não sei... Dessa guerreira, dessa líder, dessa alfabetizadora com seu povo. No seu linguajar, as expressões e os sentimentos de luta por energia em sua comunidade, de luta por uma simples bateria que talvez resolvesse o problema imediato da comunidade “comum”, que peleja para alcançar dias melhores e tem a certeza de que a leitura e a escrita são essenciais para o seu povo. Povo este que permanece unido, e juntos gritam dizendo: Nós estamos aqui e sabemos da importância que vocês tem em nossas vidas, portanto juntos podemos modificar, nós e vocês de lá, do Estado, da UNEB da PROEX do NEJA, do TOPA...

Elaine Joyce Souza BritoSupervisora do Programa TOPA no NEJA

História de uma Alfabetizadora Em Mata de São João, o Programa Todos pela Alfabetização

também constrói a sua história...

Mata de São João

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“É muito gratificante o trabalho de alfabetizador, apesar das dificuldades. Eu não tenho escola. Meu cunhado emprestou a casa dele e todo dia monto este cenário que é minha sala de alfabetização. Os trabalhos dos alunos servem como quadros para decorar a casa dele. Aqui todo mundo precisa se unir, e um vai ajudando o outro para todos terem benefícios.”

Alfabetizador de Presidente Dutra

Sobre a Formação dos Alfabetizadores e Coordenadores de Turmas

O que faço nesse momento remete-me àquilo que chamamos memórias. Por que memórias? Por se tratar de um tempo passado que parafraseando SOARES (2001) é uma teia que reconstruímos no presente, um passado não muito distante, considerando que o Programa acima anunciado é neófito no Estado da Bahia, ou seja, é um bordado que tece seus fios através de mãos muitas vezes indecisas, sem riscos harmoniosos, mas esperançosos de conseguirem, pelo menos, reconstruir os fios da vida de alguns que no passado foram partidos, por razões diversas.

Nessa tessitura refiro-me aos alfabetizadores também sujeitos de um Programa que se propõe a reconstruir os fios partidos, recuperar as esperanças e as “utopias” daqueles que são nomeados alfabetizandos.

Quanto a mim, faço parte de outros que estendem o tecido, entregam a linha e a agulha, ajudam a enfiá-la, distribuem os retalhos para que o bordado enfim apareça na colcha. E, nessa costura, os saberes tecem-se aparecem, surpreendem. São os saberes da experiência (TARDIF 2005) movidos pela

importância das histórias de vidas (NOVOA, 1998) desses sujeitos que também contribuirão desde o risco no papel até a construção da base alfabética.

Olho para trás e vejo as dificuldades teóricas, a falta de infra-estrutura, mas ao mesmo tempo, vejo alguém dizendo:

Lá no meu povoado meus amigos estão agoniados para aprender ler. Eles fazem parte do sindicato rural e querem conhecer as leis. Preciso ajudar, mas faço do meu jeito. Já atuei no Programa. Muitas vezes não consegui fazer do jeito que a gente aprende, mas procuro outras formas. Uso exemplos do dia a dia deles e muitas vezes consigo. Minha responsabilidade é muito grande.

Alfabetizador de Alagoinhas

Irecê

Olindina

Alfabetizadora de Itaguaçu

Olindina

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Queria escrever só o bonito

De minhas andanças

E acredito

na força, nas esperanças.

Queria escrever as vitórias,

Narrar somente as glórias

Dessa gente de valor.

Mas como é que vou esquecer

No lápis, na caneta, ou teclado

O que vi em todo lado

Com olhar investigador?

Da falta dos dentes na boca

Das marcas do sol no rosto

Da dor na boca do estômago

Que a fome imprime sem dó

Quem são e o que Fazem os Alfabetizandos

Não posso deixar assimAs rachaduras nos pésOs muitos calos na mãoO cansaço nas vistasA palavra superaçãoOlhando por qualquer viésO corpo traz as históriasDessa gente de coragemQue imprime em sua imagemOs traços da negaçãoDe direitos, cidadania,Excluídos em todas as viasDe acesso à emancipação!

Geórgia ClarkCoordenação Pedagógica do

Programa no NEJA

Malhada de Pedras - sala de aula à luz de velas

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Em uma visita ao município de Uauá, encantei-me com o

“Projeto A Farinhada” que envolveu todos os Alfabetizadores,

Alfabetizandos, Coordenadores de Turmas e a Gestora local

Durante o período de maio a setembro, os educandos tendem a evadir devido às farinhadas, o meio

de produção de seu sustento, a farinha, que ocorrem nessa época do ano. O Projeto «A Farinhada» foi

criado com o intuito de trabalhar com os alunos, utilizando metodologias e práticas pedagógicas capazes

de respeitar e valorizar sua cultura e trabalho, além de garantir sua permanência na sala de aula. Na visita à

zona rural do povoado Posto Vieira, à classe da alfabetizadora Laise Cardoso Alves, observando, pude

sentir o entusiasmo dos alunos em aprender, e agarrar com todas as forças aquela oportunidade, pois

muitos deles percorrem 15Km, ida e volta, no escuro, para chegar a essa localidade, em busca de aprender

a ler e a escrever, por acreditarem que nunca é tarde para quem quer aprender, independente de idade e

das condições de vida.

A alfabetizadora, acima citada, aprofundou as discussões com a turma acerca do tema (A

Farinhada), pedindo que os mesmos exemplificassem alguns alimentos derivados da mandioca,

analisando o processo que vai desde o plantio, quantidade da maniva plantada, da colheita e do produto

final. Desenharam no chão todo o processo de produção de farinha de mandioca e cantavam cantigas de

rodas em grupo. Logo após essa aula expositiva, fomos ao local onde era feita a farinha que encontramos

nas prateleiras dos supermercados e feiras. Degustei as farinhas feitas pelos alfabetizandos do Programa

TOPA. O direito desses sujeitos ultrapassava a ampliação da oferta de vagas do Programa. Nesse caso,

além do aprendizado da leitura e da escrita, a valorização e o respeito pelas experiências e conhecimentos

dos alunos, visa, além de assegurar que estes alunos permaneçam na escola, uma melhor compreensão de

seu próprio mundo.

Lucilene FerreiraSupervisora do Programa no NEJA

Uauá Candiba

UauáValença

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“Nesse cenário desvelei algumas vivências que perpassam o nosso entendimento. Que revelam, sobretudo, o vivido e por viver. Assim, eu “encontrei” um homem repleto de vida aos 89 anos. Em seu rosto, as linhas do tempo se fizeram tempestuosas

e indeléveis. Marcas que traduzem as vivências e sabedoria de uma caminhada nada fácil. Seu nome é Landulfo. Alguém que teve, assim como muitos outros, o direito à educação negado. Mas que está disposto a um novo recomeço e que acredita que é importante recomeçar”. Janei Reis Supervisora do Programa NEJA

.

Sr. Landulfo Bento dos SantosRiacho de Santana

Carregaste a chave Para abrir O que para ti é mais sagradoo seu oráculoque outros compartilhamonde o verbo se faz carneas palavras são ditas e escritasPara que possa fecharTendo a certeza que podes abrirNo outro dia.

Maria José LinsCoordenação Colegiada do NEJA

A História de um Alfabetizando

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Nessas idas e vindas encontramos na cidade de Riacho de Santana, Sr. Landulfo, que com 89 anos tem o prazer de estudar e de conceder o seu espaço para as atividades de alfabetização

Todos os dias, Landulfo, orgulhosamente, abre a sala de aula e consagra mais uma etapa de sua caminhada e por sua vez da caminhada do Programa. O sol rapidamente é refletido nesse espaço inaugurando mais um dia, construindo uma infinidade de possibilidades. Esse mesmo espaço que, durante anos serviu para o ganha pão desse homem, hoje, serve para alimentar o desejo de ser alfabetizado. Ao abrir a porta para que dezenas de alfabetizandos, em meio há uma construção coletiva e esperançosa, comunguem a leitura de mundo e a leitura da palavra, ao mesmo tempo, esses sujeitos se harmonizam num movimento de busca pela tão desejada

transformação consciente, valorizando a importância da leitura e da escrita, como um ato humanizador e engrandecedor para o homem, para sua cultura e para sua

vida. Dia após dia, o ambiente vivenciado por Sr. Landulfo torna-se um elo importante para toda a Comunidade Quilombola Largo da Vitória, pois, é lá que funcionam as salas de aula do TOPA, no seio da associação, os alfabetizandos compartilham suas vivências e seus sonhos. Landulfo, homem vivido, cheio de experiências e de caminhadas, relata com amor próprio o valor do espaço “seu” que se tornou “comum” dizendo “eu passo o dia aqui”. Configurando-se num ambiente importante e valioso para Riacho de Santana, para os moradores de Riacho, cidade situada no Oeste da Bahia, cidade em que vive Landulfo, Alcebíades, Rosália, Maria, Fátima, Antônia e muitos e muitos homens e mulheres que compõem o Programa Todos pela Alfabetização.

Ao mencionar o quanto é importante essa experiência em sua vida, Landulfo ressalta: “é bom, é muito bom, pra mim foi a melhor coisa que já existiu porque se essa escola aparecesse no meu tempo...”, ainda acrescenta “a gente não tem com que pagar, essa fineza, alembrar do sofrimento que o povo andava passando sem saber assinar o nome, sem saber conversar [...] eu não tive escola pública. No meu tempo eu não pude estudar. Hoje é que tá bom. Se eu tivesse escola naquele tempo, seria um grande homem, estaria em São Paulo numa grande empresa...” o sentimento de não ter tido a oportunidade de estudar é muito forte no depoimento desse alfabetizando, no entanto, a boniteza com que fala da relevância em estar hoje numa sala de aula renova e o faz sentir-se no mundo não apenas como mero expectador, mas como sujeito que sabe que ainda pode saber e que busca, e busca sem pensar que talvez, possa ser tarde se realizar algo, pois, para ele como para Sr. Alcebíades, 91 anos, também alfabetizando de Riacho de Santana: “ nunca é tarde para se aprender [...] Se fosse tarde eu não estaria aqui”.

Esses exemplos de vida nos remetem às ideias de Freire quando fala do ser como sujeito inacabado que em constante busca vai tomando consciência do seu lugar no mundo e da sua incompletude. Nessa trajetória, percebe-se que essas mulheres e homens da caminhada do TOPA são sujeitos que estão num movimento de busca permanente de algo que lhes foi negado, num tempo que o direito humano essencial de ter tido acesso a educação foi substituído pela necessidade de trabalhar para suprir demandas outras que também foram e são importantes para a sobrevivência humana.

Elaine Joyce Souza BritoSupervisora do Programa no NEJA

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“Pude ver a felicidade dos alunos aprendendo a escrever o seu próprio nome. Foi difícil no início para alguns conseguir, e hoje se surpreenderam por já estar assinando o seu nome, lendo e escrevendo.” Lucimaria – Coordenadora de Turmas da Barra

“Voltar a estudar foi à coisa mais linda que DEUS ME DEU. Depois que aprendi a fazer o meu nome completo, pude tomar um empréstimo e comprar sementes de feijão para plantar na minha roça.”

Alfabetizando de Aratuípe

“É perceptível nos olhares, nos depoimentos, nas práticas sociais dessas mulheres e homens do Programa a valorização pela tão esperada mudança e, é na busca constante desses sujeitos que acreditam nunca ser tarde para aprender, para estudar, para transformar-se em cidadãos que assinam o nome e trocam suas identidades antigas por novas, mas agora “assinando de caneta”, que sozinhos sem depender de ninguém para indicar o caminho conseguem identificar o ônibus que vão pegar, o preço das coisas no mercado.

O orgulho em participar das associações, da igreja, lendo e cantando, dos conselhos participando ativamente, opinando, pegando um livro e não simplesmente colocando embaixo do braço, mas lendo-o.

O desejo de ler a palavra e entender o significado que ela traz tem uma importância singular na vida desses sujeitos que fazem parte hoje da realidade do Programa TOPA. “

Elaine Joyce Souza BritoSupervisora do Programa no NEJA

O Significado de Aprender a Ler e a Escrever as Palavras

Brotas de Macaúbas

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Brotas de Macaúbas

“Pra mim foi como voltar o tempo de criança. Muita gente acha que cansa, eu acho o contrário, aqui eu descanso, aprendo, brinco com todo mundo e volto pra casa alegre e feliz.’

Alfabetizando de Seabra

Era o início de uma noite tranqüila e de minha caminhada no Programa. A ausência da lua dava um matiz brando àquele lugar ermo e meio solitário. Estava na zona rural de Araçás. Naquele local, havia uma sala sem paredes, sem carteiras apropriadas, sem uma iluminação adequada e repleta de pessoas com um

objetivo: aprender a ler e a escrever. Naquela noite, no meio do “quase nada”, estava ele... um alfabetizando, aproximadamente 60 anos. Seu nome é José das Dores. Um homem que carregava em seu olhar marcas de uma vida repleta de experiências, vigor e sonhos. Alguém que se emocionou ao recitar um poema de Olavo Bilac e revelou, com muita firmeza, seu desejo de fazer uma faculdade.

Naquele momento da supervisão, aquela sensibilidade à poesia, aquela maneira de delinear seu futuro, de se despir perante as pessoas, não importando o lugar onde estejamos. Quando se sonha, se acredita que é possível fazer um amanhã diferente ... Confesso que, no primeiro instante, fiquei paralisada, tomada pela

emoção e pelo aprendizado. Na tentativa de preencher aquela valorosa vivência, com medo de não ter nada para oferecer, me apoiei, meio tímida, em dois trechos de músicas muito significativas para mim: “Basta dá o primeiro passo para não está mais no mesmo lugar” e “os sonhos não envelhecem”.

Deixei o local, impregnada pelas emoções daquele povo e, principalmente, pela oportunidade de conhecer esse alfabetizando. Naquela noite tranqüila de início da minha caminhada no Programa, fui eu a aluna e ele o professor.

Janei OliveiraSupervisora d Programa no NEJA

O Orgulho de Ter um Livro

A Alegria de Poder Participar

Candiba

Inhambupe

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