historia da midia sonora

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    HISTRIA DA MDIA SONORAEXPERINCIAS, MEMRIAS E AFETOS DE NORTE A SUL DO BRASIL

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    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Chanceler:Dom Dadeus Grings

    Reitor:Joaquim Clotet

    Vice-Reitor:Evilzio Teixeira

    Conselho Editorial:Antnio Carlos Hohlfeldt

    Elaine Turk FariaGilberto Keller de Andrade

    Helenita Rosa FrancoJaderson Costa da Costa

    Jane Rita Caetano da SilveiraJernimo Carlos Santos Braga

    Jorge Campos da CostaJorge Luis Nicolas Audy (Presidente)

    Jos Antnio Poli de FigueiredoJussara Maria Rosa Mendes

    Lauro Kopper FilhoMaria Eunice Moreira

    Maria Lcia Tiellet NunesMarlia Costa Morosini

    Ney Laert Vilar CalazansRen Ernaini Gertz

    Ricardo Timm de SouzaRuth Maria Chitt Gauer

    EDIPUCRS:Jernimo Carlos Santos Braga DiretorJorge Campos da Costa Editor-chefe

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    Organizadores:

    Luciano Klckner

    Nair Prata

    HISTRIA DA MDIA SONORAEXPERINCIAS, MEMRIAS E AFETOS DE NORTE A SUL DO BRASIL

    Porto Alegre, 2009

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    EDIPUCRS, 2009

    Capa: Vincius de Almeida Xavier

    Edio: Luciano Klckner, jornalista Registro Profissional 4.612

    Reviso: Mrcio Gastaldo

    Diagramao: Gabriela Viale Pereira

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    H673 Histria da mdia sonora [recurso eletrnico] : experincias,

    memrias e afetos de norte a sul do Brasil / org. LucianoKlckner, Nair Prata. Dados eletrnicos. PortoAlegre : EDIPUCRS, 2009.558 p.

    Sistema requerido: Adobe Acrobat ReaderModo de Acesso: World Wide Web:ISBN 978-85-7430-889-0 (on-line)

    1. Rdio Brasil Histria. 2. Meios de Comunicao.3. Comunicao e Tecnologia. I. Klckner, Luciano.

    II. Prata, Nair.

    CDD 791.440981

    Ficha Catalogrfica elaborada peloSetor de Tratamento da Informao da BC-PUCRS.

    Av. Ipiranga, 6681 - Prdio 33Caixa Postal 1429

    90619-900 Porto Alegre, RS - BRASILFone/Fax: (51) 3320-3711E-mail: [email protected]

    http://www.pucrs.br/edipucrs

    mailto:[email protected]://www.pucrs.br/edipucrshttp://www.pucrs.br/edipucrsmailto:[email protected]
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    AUTORES

    Adriana Gomes RibeiroAdriano Charles Cruz

    Aidil Brites Guimares FonsecaAlvaro Bufarah JuniorAna Paula Rabelo e Silva

    Anderson David Gomes dos SantosBruno Arajo Torres

    Claudia QuadrosDebora Cristina Lopez

    Eduardo VicenteErmina Larissa de Aquino Moura Teixeira

    Erotilde Honrio SilvaFlvia Lcia Bazan Bespalhok

    Francisca kara Ferreira RodriguesFrancisco de Moura PinheiroHlcio Pacheco de Medeiros

    Graziela Mello ViannaIbrantina Guedes de Carvalho Lopes

    Izani MustafJackson de Moura Oliveira

    Joo Batista de AbreuJlia Bertolini

    Juliana Oliveira AndradeLgia Teresinha Mousquer Zuculoto

    Luana Amorim GomesLuciana Miranda CostaLuciano Klckner (Org.)

    Luiz Artur FerrarettoMarcelo KischinhevskyMaria Cludia SantosNaara Lima Normande

    Nair Prata (Org.)Paula Catarina de Almeida Costa

    Rakelly Calliari Schacht

    Tarciana de Queiroz Mendes CamposTiciana Lorena Acosta MartinsValci Regina Mousquer Zuculoto

    Vera Lucia Spacil RaddatzWaldiane de vila Fialho

    Wanir Campelo

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    AGRADECIMENTOS

    Pelo apoio e incentivo agradecemos aos professores da Universidade de

    Fortaleza/CE, UNIFOR, Erotilde Honrio Silva, Valkria Kneipp e Ktia Patrocnio,bem como ao funcionrio Aderson Sampaio.

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    SUMRIO

    PREFCIOMdia sonora e a sua inscrio na histria cultural da mdia brasileira................. 11

    Marialva Carlos Barbosa

    APRESENTAESUm inventrio para completar a histria do rdio................................................. 14

    Ana Baum

    Revoluo Pacfica............................................................................................... 15Luiz Artur Ferraretto

    ABERTURAMdia sonora: uma comunidade de pesquisa e de afeto...................................... 16

    Luciano KlcknerNair Prata

    CAPTULO 1Rdio e Memria

    S, Se, Si, S Sucesso! Paulo Limaverde e a inovao do rdio cearense nadcada de 1960.................................................................................................... 19

    Ermina Larissa de Aquino Moura TeixeiraErotilde Honrio Silva

    No ar, a voz do produto: um panorama histrico da publicidade radiofnicamineira ................................................................................................................. 33

    Graziela Mello ViannaPanorama do rdio em Belo Horizonte ................................................................ 51

    Nair PrataHistria sonora de uma cidade: Belo cenrio para um novo Horizonte radiofnico............................................................................................................................. 76

    Wanir CampeloMemria do rdio regional na fronteira noroeste do Rio Grande do Sul .............. 93

    Vera Lucia Spacil RaddatzA popularizao do Rdio no Cear na dcada de 1940 .................................... 106

    Francisca kara Ferreira RodriguesErotilde Honrio Silva

    Rdio Livre 91.50 FM 20 anos de uma experincia de comunicao contra-hegemnica no dial ............................................................................................. 130

    Marcelo Kischinhevsky

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    Segunda Cadeia da Legalidade: a resistncia ao golpe militar de 1964 que nopassou para a histria......................................................................................... 146

    Luciano KlcknerGlenn Gould e as transformaes histricas do documentrio radiofnico: as

    contribuies de um msico................................................................................ 161Lgia Teresinha Mousquer ZuculotoHistrias de vida e aprendizagem: a memria do rdio a partir do relato deouvintes septuagenrios ..................................................................................... 175

    Joo Batista de AbreuJlia Bertolini

    CAPTULO 2Rdio e Educao

    Ensinar para educar; educar para servir Ptria: a Rdio-Escola Municipal doRio de Janeiro (PRD5), motivaes, influncias e tcnicas de comunicao. ....201

    Adriana Gomes RibeiroO rdio e a memria afetiva dos participantes do MEB no Rio Grande do Norte217

    Adriano Charles CruzAidil Brites Guimares Fonseca

    A rdio-escola no contexto de adolescentes do semirido cearense..................227Luana Amorim Gomes

    Audiolivro: uma experincia vivenciada por graduandos de ComunicaoSocial .................................................................................................................. 239

    Ana Paula Rabelo e SilvaCAPTULO 3

    Rdio, Perfis e MsicaChico Anysio: um radialista polivalente ............................................................... 251

    Alvaro Bufarah Junior

    As memrias de Eduardo Campos e a sua atuao no rdio cearense..............265

    Jackson de Moura OliveiraErotilde Honrio Silva

    De Washington, Luiz Amaral............................................................................. 282Luiz Artur Ferraretto

    O riso no Brasil: o caminho para a gargalhada radiofnica................................. 299Ticiana Lorena Acosta MartinsErotilde Honrio Silva

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    Forr e Ai: histria e memria nas ondas do rdio.............................................. 319Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes

    O rdio e o disco em So Paulo: a trajetria do Grupo Eldorado........................332Eduardo Vicente

    CAPTULO 4Rdio, Poltica e Comunicao Pblica

    O movimento de democratizao do rdio no panorama latino-americano ........348Bruno Arajo Torres

    As influncias histricas da fase ouro do rdio comercial brasileiro nas emissorasdo campo pblico: uma estao estatal comanda o espetculo .........................365

    Valci Regina Mousquer ZuculotoRdio comunitria x democratizao: dez anos de trajetrias descontnuas ......381

    Hlcio Pacheco de MedeirosOs smbolos da floresta na voz do rdio ............................................................. 396

    Francisco de Moura PinheiroRdio pblica e poltica: depoimentos sobre a Rdio Difusora de Alagoas ........410

    Anderson David Gomes dos SantosNaara Lima Normande

    Rdio na cidade de Jaguaribara: mediaes no serto que virou Castanho ....422Tarciana de Queiroz Mendes Campos

    O local e o global na Rdio Itatiaia...................................................................... 432Maria Cludia Santos

    Igreja e Comunicao: a experincia catlica, passagens pelo tradicional, opopular e o moderno ........................................................................................... 449

    Juliana Oliveira AndradeCAPTULO 5

    Rdio, Jornalismo e Tecnologia

    Marcos tecnolgicos do radiojornalismo no Brasil: uma reviso histrica...........466Debora Cristina Lopez

    A memria do rdio na internet ........................................................................... 483Claudia Quadros

    Rdio web: o mundo logo ali ............................................................................ 499Luciana Miranda CostaPaula Catarina de Almeida Costa

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    Do rolo ao computador, em busca da linguagem prpria: a histria do featureradiofnico........................................................................................................... 517

    Rakelly Calliari SchachtFlvia Lcia Bazan Bespalhok

    Rdio e as inovaes tecnolgicas em Joinville.................................................. 532Izani MustafRdio digital entre montanhas: os testes em Minas Gerais ................................ 545

    Graziela Mello ViannaWaldiane de vila Fialho

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    PREFCIO

    Mdia sonora e a sua inscrio na histria cultural da mdia brasileira

    Fazer o texto inicial de um livro que rene pesquisadores que se dedicam

    ao estudo dos processos histricos envolvendo os meios de comunicao

    sempre uma tarefa, ao mesmo tempo prazeirosa e de muita responsabilidade.

    Nesse texto que abre uma coletnea enfocando mltiplos aspectos

    histricos da mdia sonora no Brasil, parece claro que daremos uma espcie de

    corpo diretivo obra, enfeixando-a com as expectativas que o leitor encontrar

    nos captulos que se seguem. O prefcio funciona como um pr-texto, nos dois

    sentidos do termo: um texto que antecipa e que serve, como uma espcie de

    pretexto, para aqueles que o produzem dizer o sentido dos caminhos tericos

    envolvendo a questo central do livro.

    Esse, portanto, o sentido desse prefcio. Envolvida com a questo

    histrica dos meios de comunicao h mais de duas dcadas, tenho repetido

    sem cessar que a histria da mdia enseja sempre a reflexo e a pesquisa

    emprica sobre sistemas de comunicao envoltos em processos histricos. O

    que esta frase de fato significa? Falar em histria dos meios referir-se aos

    mltiplos atores envolvidos no ato comunicacional e nos sistemas dinmicos que

    materializam a ao, num amplo circuito de comunicao que envolve aes

    diversas, performances mltiplas, atos culturais duradouros, entre outras

    possibilidades tericas. Mas tambm se referir aos processos histricos, isto ,

    condio de que cada ato humano se realiza num mundo repleto de

    historicidade, no qual esto envolvidos no apenas aes que marcam rupturas,

    mas tambm atos que configuram continuidades. A histria faz-se do

    acontecimento que eclode na durao, como as espumas visveis do mar revolto

    a que se referia Fernand Braudel, mas tambm das aes duradouras que

    perduram e que indicam as continuidades histricas.

    Por acreditar nesse postulado fundamental, defendo h anos uma histria

    feita no de fatos e personagens singulares, mas de atos annimos que do

    passado chegam at o presente sempre sob a forma de vestgios e sinais.

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    12 Luciano Klckner, Nair Prata (Orgs.)

    A histria tambm no fala do passado, por mais paradoxal que possa

    parecer essa afirmao. Os atos comunicacionais dos homens do passado,

    deixando marcas duradouras, mostram a passagem desses homens e mulheres

    annimos e indicam hoje, a partir dos valores que temos no presente, a sua

    passagem e o significado de ter passado. esse significado e esse ato

    comunicacional que a histria da comunicao busca interpretar. Isso porque no

    queremos trazer o passado para o presente, mas apenas dar a este tempo, que

    denominamos ido, uma interpretao repleta, ao mesmo tempo, de

    verossimilhana e de representncia. Ou seja, como a histria tem a autoridade

    para falar do passado, mesmo que jamais possamos trazer o verdadeiro passado

    para o presente (trazemos sempre o passado possvel e verossmil), esse

    passado narrado reveste-se do significado de ser o nico possvel. a autoridade

    da histria que d ao passado o sentido de veracidade.

    Essas linhas introdutrias servem, portanto, para demarcar de que

    histria estamos falando: de uma histria que reconstri traos, rastros e restos,

    dando a eles um significado particular e permeado pelo horizonte interpretativo.

    E quando isso se refere a uma mdia que faz do sentido das prticas orais

    a definio do prprio meio, como o caso do rdio e de outras mdias sonoras,

    outra questo salta aos olhos do pesquisador. Estamos falando de um mundo

    cultural que emerge em atos contnuos na longa durao e que fundamental

    para a prpria constituio histrica da mdia no Brasil.

    Falar em histria da mdia sonora, portanto, referir-se ao complexo

    sistema de comunicao que envolve, necessariamente, escutas e partilhamentos

    em torno de universos culturais comuns e que constitui a gnese dos sistemas

    comunicacionais brasileiros.

    Imersos em prticas orais, distantes do letramento, ingressando naoralidade secundria, se quisermos aqui nos valer da conceituao de ONG, sem

    passar necessariamente pelo letramento, razo pela qual na sociedade brasileira

    estamos to afetos oralidade do mundo, as prticas comunicacionais desse

    territrio que hoje denominamos Brasil sempre foram relacionadas a um mundo

    de ouvir dizer e de sons que corriam de boca em boca. Hoje, diante de novos

    universos tecnolgicos, continuamos escutando os sons longnquos dessa histria

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    Histria da Mdia Sonora 13

    que se fez pelas prticas da oralidade e pelos sentidos construdos em trocas que

    colocavam sempre em cena a sonoridade do mundo.

    , portanto, um pouco dessa histria que os textos aqui reunidos trazem

    para o presente, produzindo um significado que s ser completado pelo universo

    interpretativo dos que partilharem essas mltiplas histrias. Portanto, esse

    prefcio tambm um convite para ingressar num mundo em que a histria

    tambm a chave terica e epistemolgica para a compreenso dos sentidos do

    presente.

    Profa. Dra. Marialva Carlos Barbosa

    Presidente da Associao Brasileira dos Pesquisadores de Histria da Mdia

    Rede ALCAR

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    APRESENTAES

    Um inventrio para completar a histria do rdio

    com enorme satisfao que apresento este e-book, organizado pelos

    professores Luciano Kckner (PUCRS) e Nair Prata (UNI-BH), coordenadores do

    Grupo Temtico Histria da Mdia Sonora da Rede Alfredo de Carvalho - ALCAR.

    Este o terceiro livro do grupo e registra o esforo coletivo de pesquisadores que,

    anuamente, vm se reunindo em Congressos Nacionais em diferentes estados

    brasileiros. Assim como os dois anteriores, Vargas, agosto de 54, a histria

    contada pelas ondas do rdio e Batalha sonora, o rdio e a Segunda Guerra

    Mundial, representa a coleta de novas informaes, a interpretao e a anlise

    crtica, sobre episdios, personagens e emissoras que constituem a histria do

    rdio no Brasil.

    O objetivo do GT fazer um inventrio do mais popular meio de

    comunicao do pas a partir de documentos, entrevistas com testemunhas,

    material sonoro, contribuindo, desta forma, para uma nova escrita dessa histria.

    O GT foi criado, em 2003, pela professora Sonia Virgnia Moreira (UERF), e, de

    2004 a 2008, eu tive o prazer de coorden-lo.

    Acredito que a paixo pelo rdio, a dedicao ao trabalho de investigao

    e o entusiasmo com cada novo detalhe encontrado caractersticas deste grupo

    de pesquisadores reforam a difcil trajetria de resgatar o protagonismo da

    mdia sonora em nossa sociedade. Este livro mais um dos resultados

    alcanados neste percurso de memria pouco preservada. Boa leitura!

    Ana Baum

    Coordenadora do GT Mdia Sonora (2004-2008)

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    Revoluo Pacfica

    impossvel entender o presente ou pensar o futuro sem estudar o

    passado. Dentro desta perspectiva, surgiu h um punhado de anos a Rede

    Alfredo de Carvalho, institucionalizada mais tarde como a Associao Brasileira

    de Pesquisadores de Histria da Mdia. Neste espao de reflexo e troca de

    experincias, sob a coordenao da professora Ana Baum, da Universidade

    Federal Fluminense, organizou-se o Grupo de Trabalho em Histria da Mdia

    Sonora. Em torno de Ana Baum, agregaram-se, solidariamente, pesquisadores de

    vrios pontos do territrio brasileiro.

    Ciente de que o conhecimento gerado neste tipo de frum deve rumar em

    direo sociedade, a professora Ana Baum organizou e incentivou, de modo

    meritrio, a publicao de livros. Foram dois no marco de um suporte tradicional e

    consagrado, o papel. O primeiro chegou s livrarias em 2004: Vargas, agosto de

    54: a histria contada pelas ondas do rdio, organizado pela prpria Ana Baum,

    com textos apresentados no II Encontro Nacional de Histria da Mdia, promovido,

    no mesmo ano, pela Rede Alfredo de Carvalho, em Florianpolis. Dois anos

    depois, Cida Golin, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Joo Batista

    de Abreu, da Universidade Federal Fluminense, articulam Batalha sonora: o rdio

    e a Segunda Guerra Mundial, tambm com artigos apresentados nos encontros

    da Rede Alcar.

    Agora, cabe a Luciano Klckner, da Pontifcia Universidade Catlica do

    Rio Grande do Sul, e a Nair Prata, do Centro Universitrio de Belo Horizonte, dar

    mais um passo. E que passo! Em um grupo dedicado preservao da histria,

    um gacho e uma mineira parecem lembrar Getlio e Antnio Carlos. No fazem

    uma revoluo como a de 1930, mas, afinal, para os que cresceram comvolumes, capas, contracapas, orelhas e quetais, esta coisa de e-book soa mesmo

    como tal. , no entanto, centrada no conhecimento a aproveitar e ousar com a

    tecnologia existente. E s traz benefcios a todos. Alis, como uma boa e

    idealizada revoluo por que no? pacfica e, neste caso, vitoriosa.

    Luiz Artur FerrarettoCoordenador do Grupo de Pesquisa Rdio e Mdia Sonora da

    Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao

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    ABERTURA

    Mdia sonora: uma comunidade de pesquisa e de afeto

    Este e-book, que pretende ser o primeiro de uma srie, nasceu da

    atividade dos pesquisadores do Grupo de Trabalho de Histria da Mdia Sonora,

    reunidos no VII Encontro Nacional de Histria da Mdia, realizado em Fortaleza,

    no Cear, no perodo de 19 a 21 de agosto de 2009, numa promoo da

    Associao Brasileira de Pesquisadores de Histria da Mdia (Alcar), presidida

    pela professora Marialva Barbosa.

    O grupo de Mdia Sonora da Alcar pode ser considerado uma extenso do

    grupo da Intercom coordenado pelo professor Luiz Artur Ferraretto , j que

    seus pesquisadores compartilham objetivos comuns. Apenas, o foco do grupo da

    Alcar o resgate da histria e da memria do rdio no Brasil, enquanto o da

    Intercom possui um escopo mais abrangente. Alm de unidos pela instigante

    paixo pela pesquisa radiofnica, os grupos constituem-se como comunidades de

    afeto, com trabalhos e laos que no se limitam realizao dos congressos. O

    principal vis disso so as pesquisas em conjunto.

    A fundadora do grupo, a professora Ana Baum, encarregou-se de produzir

    o primeiro trabalho em conjunto dos pesquisadores de mdia sonora da Alcar. O

    livro Vargas, agosto de 54 - a histria contada pelas ondas do rdio, publicado em

    2004, reuniu textos de investigadores de todo o pas, que buscaram relacionar os

    50 anos do suicdio do presidente com a cobertura feita pelo rdio. Dois anos

    depois, os professores Cida Golin e Joo Batista de Abreu coordenaram outra

    pesquisa em conjunto, que culminou no livro Batalha sonora - o rdio e a

    Segunda Guerra Mundial, com foco nos estudos do papel da radiofonia na

    cobertura da guerra.

    Agora, pretendemos retomar as publicaes em grupo e comeamos com

    um e-book, que pretende ser editado aps a realizao de cada encontro nacional

    da Rede.

    Para apresentao no encontro de Fortaleza, os textos presentes neste

    livro foram agrupados em cinco sesses temticas: Rdio e Memria; Rdio e

    Educao; Rdio, Perfis e Msica; Rdio, Poltica e Comunicao Pblica; e

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    Histria da Mdia Sonora 17

    ainda Rdio, Jornalismo e Tecnologia. Como se pode perceber, tratam-se de

    temticas abrangentes, que contemplam a ampla diversidade da pesquisa em

    histria do rdio.

    A Alcar uma rede de pesquisadores que tem o objetivo de ser inclusiva.

    Assim, esto presentes nesta publicao tanto os doutores e nomes de destaque

    na academia, quanto aqueles que esto ainda dando os primeiros passos. Mas

    em todos os trabalhos h a marca do nosso grupo: a garra e a seriedade

    acadmica. Aproveite bem estas pesquisas e participe conosco do prximo

    encontro do grupo.

    Luciano Klckner e Nair Prata

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    CAPTULO 1

    RDIO E MEMRIA

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    S, Se, Si, S Sucesso! Paulo Limaverde e ainovao do rdio cearense na dcada de 1960

    Ermina Larissa de Aquino Moura Teixeira1

    Erotilde Honrio Silva2

    Resumo: A pesquisa realizada trata da histria do rdio no Cear na dcada de

    1960, perodo em que o veculo passou a enfrentar o desafio do advento da

    televiso no Estado. O estudo tem como objetivo especfico construir uma anlise

    do programa Sucesso de Sucessos que se Sucedem Sucessivamente Sem

    Cessar, S, Se, Si, S, Sucesso, elaborado e apresentado pelo radialista Paulo

    Limaverde. Este estudo insere-se na pesquisa Histria e Memria daRadiodifuso Cearense, desenvolvida na Universidade de Fortaleza no Curso de

    Jornalismo. A metodologia segue a tcnica de histria oral de vida, que utilizada

    como alicerce principal para a reconstruo da histria de Paulo Limaverde no

    rdio cearense. Os subsdios da pesquisa sobre o rdio, a histria oral de vida de

    Paulo Limaverde (2008) e autores como Alberti (1989), Meihy (1998), Ferraretto

    (2001) e Montenegro (2000), fornecem os elementos tericos e metodolgicos do

    artigo.

    Palavras-chave: rdio; Cear; Sucesso de Sucessos; Paulo Limaverde.

    1. Introduo

    Este trabalho fruto da anlise das atividades radiofnicas em Fortaleza,

    capital do Cear, durante os anos 1960. O incio dessa dcada marca, no Cear,

    a chegada da televiso, que trouxe consigo um desafio para o rdio: competir

    com o novo veculo de comunicao que carreou para si toda a ateno do

    pblico e dos prprios radialistas que, em sua maioria, passaram a trabalhar na

    TV. Na poca em que a ateno destinada ao rdio se tornava comprometida

    1 Graduada em Jornalismo, Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail:[email protected]

    Coordenadora da Pesquisa Histria e Memria da Radiodifuso Cearense, Universidade deFortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected]

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    20 Luciano Klckner, Nair Prata (Orgs.)

    pela chegada da televiso, paradoxalmente, crescia em Fortaleza o trabalho

    desenvolvido pelo radialista Paulo Limaverde.

    Observando o contexto histrico cearense na dcada de 1960, as

    questes nas quais o rdio estava inserido e a produo do radialista Paulo

    Limaverde e objetivando analisar o programa Sucesso de Sucessos que Se

    Sucedem Sucessivamente Sem Cessar, S, Se, S, Sucesso segundo a fala de

    seu criador, este artigo estuda a atuao do radialista que ajudou a transformar o

    cenrio radiofnico cearense.

    Por meio da ligao entre a atualidade e as experincias do passado

    relatadas por quem as viveu, utiliza-se a histria oral de vida para fazer o retrato

    da trajetria de Paulo Limaverde e a reconstruo de sua carreira. A histria oral

    situa-se em meio ao desenvolvimento dos mtodos qualitativos de investigao:

    [...] um mtodo de pesquisa (histrica, antropolgica,sociolgica...) que privilegia a realizao de entrevistas compessoas que participaram de, ou testemunharam acontecimentos,conjunturas, vises de mundo, como forma de se aproximar doobjeto de estudo. Trata-se de estudar acontecimentos histricos,instituies, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos,etc. (ALBERTI, 1989, p. 52).

    Alguns autores tm trabalhado na perspectiva de que conhecendo ahistria do sujeito podemos entender os significados que o mesmo atribui ao

    processo de desenvolvimento de suas atividades e suas implicaes

    socioculturais. De incio a histria oral combinou trs funes complementares:

    registrar relatos, divulgar experincias relevantes e estabelecer vnculos com o

    imediato urbano, promovendo assim um incentivo histria local e imediata

    (MEIHY, 1998, p. 22). nesta ltima perspectiva que este estudo se insere.

    A famlia Limaverde composta por nomes que deram concreta

    contribuio para o engrandecimento do rdio no Cear: seu pai, Jos Limaverde

    Sobrinho, iniciou seu trabalho na Cear Rdio Clube, ao lado de Joo Dummar,

    responsvel pela instalao da primeira rdio cearense. Narclio Limaverde, filho

    mais velho de Jos Limaverde, j era um radialista conhecido quando Paulo

    iniciou suas atividades na rea da comunicao.

    Paulo Limaverde ganhou espao e fez sucesso no rdio, recriando o

    cenrio radiofnico, exatamente na poca em que esse meio de comunicao

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    enfrentava o desafio da chegada da TV. O programa Sucesso de Sucessos que

    se Sucedem Sucessivamente Sem Cessar, S, Se, Si, S, Sucesso, criado e

    apresentado por Paulo, foi pioneiro em sua poca. Vivendo sob o regime ditatorial

    dos militares, ele transgredia a censura, veiculava msicas proibidas, falava sobre

    a histria da criao de cada uma delas e da importncia que representavam para

    a conjuntura na qual o pas se encontrava. O programa lanou sucessos musicais

    e criou na cidade de Fortaleza novas modas.

    A chegada da televiso no Cear, assim como nos outros estados

    brasileiros, imps ao rdio uma reestruturao e uma reviso nos conceitos do

    radialismo e na prpria gesto das emissoras. A televiso gerou grande impacto

    ao rdio, mas este encontrou o caminho, definindo o seu papel perante a nova

    mdia. Os bons radialistas foram cooptados pela TV, assim como propiciou a

    abertura de espao para novos talentos. O jovem Paulo Limaverde foi um deles:

    desenvolveu sua aptido, revelou capacidade de improvisao, criatividade,

    discurso simples e marcou o cenrio radiofnico cearense.

    2. A trajetria de Paulo Limaverde

    Em 1959, vspera da inaugurao da TV no Cear, Paulo Limaverde foi

    convidado para trabalhar na PRE-9, a realizao de seu grande sonho. Na poca,

    todo o empenho e ateno eram dedicados ao novo meio de comunicao que

    ganhava cada vez mais espao, angariando audincia e naturalmente as verbas

    publicitrias do comrcio local, deixando as emissoras de rdio em dificuldade

    econmica, refletindo de forma negativa na qualidade da programao. O

    radialista narra que foi exatamente por isso que ele conseguiu espao na

    renomada Cear Rdio Clube: com o advento da televiso, os principais nomes

    do rdio estavam ocupados com a participao em cursos preparatrios para

    assumirem cargos na TV Cear. Segundo Ferraretto (2001), no s os

    profissionais de rdio migraram, eles motivaram tambm a migrao dos

    patrocinadores e levaram consigo todo o espetculo que o rdio realizava.

    Paulo abraou fervorosamente a proposta para trabalhar na emissora

    campe de audincia, pois, segundo ele, ocupar o microfone da PRE9 era a

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    maior honra que a pessoa podia ter. Em qualquer horrio, era uma emissora

    super ouvida na cidade (LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    Nos estdios da Cear Rdio Clube, Paulo Limaverde iniciou suas

    atividades substituindo seu irmo na leitura do noticirio relmpago, que ia ao ar

    vrias vezes ao dia. Em pouco tempo, impulsionado pela sua criatividade e

    extroverso, j era o animador do programa Al juventude, idealizado por ele. O

    horrio do programa antecipava uma radionovela da emissora. A programao

    era dedicada juventude que, na poca, danava ao som de Beatles.

    Todos os programas idealizados e apresentados por Paulo Limaverde

    eram lderes de audincia. Esse motivo levou-o a ganhar trs horas das manhs

    de domingo para a apresentao do programa Sucesso de Sucessos que se

    Sucedem Sucessivamente Sem Cessar, S, Se, Si, S, Sucesso! Depois,

    recebeu a tarde dos sbados para a veiculao do programa Musical Melhor dos

    Melhores, 3M.

    A exemplo de seu irmo, Paulo Limaverde, tambm deu sua contribuio

    para o sucesso da televiso cearense. Seu primeiro trabalho neste veculo foi a

    apresentao do programa Atualidades artsticas, a convite de Luciano Digenes,

    diretor de telejornalismo da TV Cear poca. Posteriormente, apresentou o

    Noticirio relmpago, que ia ao ar em trs edies por noite.

    Sem deixar o pblico jovem, Paulo apresentou, tambm na televiso, o

    programa TV Juventude, veiculado aos sbados, com incio s cinco horas da

    tarde. Nessa poca, Limaverde ainda apresentava no rdio o Musical Melhor dos

    Melhoresdas 13h s 16h e aproveitava o espao do rdio para anunciar o que

    aconteceria no programa da televiso. Ele lembra: TV Juventudecomeava s

    5h da tarde de sbado, esse programa de uma s quatro era uma espcie de

    espera no rdio, onde anunciava o TV Juventude, as atraes e tudo mais. E foium estrondo de audincia. (LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    Em 1975, Paulo Limaverde trabalhou em Teresina, na implantao da TV

    Rdio Clube de Teresina. Entre os anos de 1975 e 1976, retornou ao Cear para

    trabalhar na emissora na qual iniciou sua carreira de radialista, Rdio Verdes

    Mares, dessa vez para apresentar um programa que tambm fez um grande

    sucesso.

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    3. dolos do povoe a molecagem cearense

    Astrolbio Queiroz gestor da Rdio Verdes Mares contratou Paulo

    Limaverde para tocar um programa chamado dolos do povo, que veiculavasomente msicas bregas. O programa, antes apresentado por Armando Freire,

    passou para o comando de Paulo Limaverde, que, a pedido da direo, abriu

    espao para a participao popular por meio de cartas. A ideia era que os

    ouvintes enviassem cartas contando a histria de seus amores. No ar, Paulo

    ofereceria uma msica para o autor da carta, apresentando-a como tema da

    relao. No se queria explorar o lado romntico sentimental, o foco recaa sobre

    os fatos que pudessem ser explorados dentro da chamada molecagem cearense.

    Limaverde recorda:

    Nos primeiros programas a gente inventava as cartas, porque claro que o chamamento no dava tempo, ento a genteinventava um bocado de carta. S que quando comearam achegar as cartas uma ouvinte escreveu no final: Bote, seu Paulo,bote uma msica que d certo no meu caso. E eu pensei logoque esse bordo ia funcionar. Eu comecei a usar: bote, bote, seuPaulo. E comeou a esculhambao, a palavra essa.(LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    A prtica da molecagem sempre foi pertinente aos hbitos do povo

    cearense. Em Psicologia do Povo Cearense, Montenegro (2000) define de acordo

    com o vocabulrio popular o ser moleque e a molecagem.

    Muleque ou moleque tem, entre outras, a acepo de canalha,sem vergonha, patife. Molecada, molecagem, molequira oumolequice o ato praticado por moleque, sem-vergonhice,safadeza, tratantada, brincadeira, incorreo de atitude eprocedimento. (MONTENEGRO, 2000, p. 119).

    poca do programa dolos do povo, Fortaleza ainda era regrada pela

    defesa dos bons costumes, a poltica de educao moral era intensa e combatia

    incessantemente a molecagem popular. Numa cidade que viveu durante muito

    tempo sendo palco de campanhas a favor do moralismo, seria natural qualquer

    expresso de duplo sentido receber notabilidade. Ainda em meados da dcada de

    1970, a sociedade fortalezense vivia sob a gide do ensino de Educao Moral e

    Cvica, estabelecida por meio do decreto-lei n. 869 de 12 de setembro de 1969,

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    prescrito pelo governo militar. As foras armadas tinham como objetivo reforar o

    regime ditatorial e, para isso, davam caa ao comunismo ou ao que eles

    consideravam como ideias subversivas, e o comportamento, a linguagem e as

    atitudes do cidado estavam na mira da censura e da represso.

    O rdio, como qualquer veculo de comunicao ou meio de expresso do

    pas, vivia sob forte vigilncia e, obrigatoriamente, teve que seguir as regras

    propostas pelo poder autoritrio. Portanto estavam presentes na memria das

    pessoas a disciplina e o comedimento, impostos pela Igreja ou pela ordem

    pblica, como exigncia para o comportamento da sociedade em geral. O bordo

    gravado por uma voz feminina, com requintes de sensualidade: bote seu Paulo,

    bote!, adotado pelo radialista, veiculado inmeras vezes durante o programa, foi

    de imediato censurado.

    Os militares ainda mantinham o controle de todos os veculos de

    comunicao, podendo interferir nas programaes para modific-las e proibi-las.

    Pela frequncia de seu bordo, Limaverde foi admoestado 18 vezes. Ele lembra o

    episdio que o levou a receber a primeira advertncia:

    O negcio degringolou quando surgiu uma msica da Joelmachamada Pombinha Branca que foi um sucesso. A a carta foi

    apimentada: Bote, seu Paulo, bote a Pombinha Branca todinha eo operador soltou a msica. Chegou na metade do disco ele paroucom a mo e eu disse no bote s metade no, bote todinha eele soltou. Olha, eu fui terminar sendo chamado na CensuraFederal. Fui chamado, fui admoestado. Da pra frente foramdezoito vezes. Toda vida que eu chegava l diziam: O senhorest criando passado. (LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    Sentindo-se pressionado pela censura, em 1978, deixou o Cear. Paulo

    Limaverde, que j havia trabalhado em Teresina em 1975, retornou ao Piau,

    agora trabalhando na Rede Globo, com a responsabilidade de atualizar aprogramao da TV Rdio Clube de Teresina, emissora que ajudou a fundar. O

    canal passaria a veicular programas globais. Aps oito meses de trabalho, Paulo

    deixou a Rede Globo, voltou para o Cear e assumiu novamente suas funes na

    TV Verdes Mares, na qual apresentou o telejornal da emissora, que era exibido s

    22h, o Jornal do 10.

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    4. Idas e vindas no rdio e TV

    Em 1986, coordenou a campanha de candidatura de Tasso Jereissati ao

    Governo do Estado do Cear, o que o levou a se ausentar da Rdio VerdesMares para a apresentao de comcios e para o cumprimento de compromissos

    respectivos campanha. Limaverde conta: Nessa poca, eu inventei um cidado

    chamado Tom Cavalcante. O referido comediante j fazia algumas imitaes,

    sem nunca ter tido a chance de demonstrar seu talento para grandes pblicos. Foi

    pela ajuda de Paulo que Tom se tornou conhecido no Cear, ganhando espao

    no rdio cearense, onde seu trabalho foi notabilizado. O radialista relembra as

    presepadas de Tom:

    A gente estava l no Icara, a gente se reunia na casa do EdilmarNores. A quando, de repente, chegou Will Nogueira e disse:Rapaz, eu estou to chateado. Eu vinha pra c, tive que voltar domeio do caminho pra rdio Verdes Mares, porque eu abri o rdiona estrada, quando olhei estava o Joo Incio no horrio do Tom.Ele pensando que o Tom tinha faltado, voltou para o estdio.Chegou l, quando abriu a porta, era o Tom Cavalcanteapresentando o programa dele com a voz do Joo Incio(LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    Com a eleio de Tasso Jereissati, Limaverde foi trabalhar no Gabinetedo Governador. Com o novo trabalho, ainda conseguiu conciliar os servios

    prestados ao Estado e suas atividades no rdio por algum tempo, mas como tinha

    que ficar quase inteiramente disposio do governador, saiu novamente da

    Rdio Verdes Mares. Eu sa dessa vez pra no voltar mais para o rdio, conta

    ele (LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    Foi convidado para trabalhar na CBN, primeira emissora que fez

    transmisso em rede no Cear. A proposta era tentadora e Paulo aceitou otrabalho. Mas o tempo trouxe o descontentamento com o veculo e o radialista

    acabou deixando o microfone. Sobre o longo perodo em que se dedicou ao rdio,

    Paulo Limaverde diz: No tenho nenhum arrependimento do que eu j fiz na

    minha vida de rdio. Se fosse pra comear eu faria tudo de novo, do mesmo

    jeitinho, da mesma maneira, tudo procedendo do mesmo jeito (LIMAVERDE,

    entrevista em 12/1/2008).

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    5. O sucesso do Sucesso de Sucessos...

    Com o prestgio que conquistou entre a juventude cearense, o radialista

    ganhou tambm as manhs de domingo, o pblico das praias e uma audinciainvejvel com o programa Sucesso de Sucessos que se Sucedem

    Sucessivamente sem Cessar. S, Se, Si, S, Sucesso! Esse, entre todos os

    outros, o programa de autoria e apresentao do radialista que promoveu uma

    nova forma de atuar no rdio. Foi quem mais ousou na maneira de se relacionar

    com o pblico. Paulo fala sobre a iniciativa do programa:

    Foi quando o Otaclio Colares disse assim: Paulo, voc tem uma

    ideia pra um programa domingo de manh? A eu disse: Tenho.Um programa de msica dedicado ao pessoal que t na praia.Nessa poca a grande pedida em Fortaleza eram as praias. Hojeainda , mas no tanto quanto era antigamente. E eu criei umprograma chamado Sucesso de Sucessos que se SucedemSucessivamente Sem Cessar. S, Se, Si, S, Sucesso!, que foi omaior estouro de audincia nessa cidade. Era de 9h s 12h. Oprograma era conhecido, porque eu dizia: Agora vamo rodar meiahora de msica sem parar. E eu rodava s msica quente,msica de praia. Eu lancei em Fortaleza grandes sucessos.(LIMAVERDE, entrevista em 12/1/2008).

    O programa era inovador a comear pelo nome, o qual se utiliza daaliterao, figura de linguagem que consiste na repetio de um mesmo fonema

    para realar determinado som ou dar ritmo orao ou verso (SARMENTO,

    2005, p. 582), para trazer em si a sua marca, o som da letra S. A criao do nome

    foi ocasional, Limaverde lembra:

    O nome Sucesso de Sucessos que se Sucedem Sucessivamentesem Cessar, S, S, Si, S, Sucesso! Comeou tudo com S e nsfomos agregando as coisas. Chegou em determinado momento

    que eu no dizia mais o nome, fazia s Siii no microfone e todomundo sabia o que era. Criou uma marca, o S. E tinha umoperador de udio que o apelido dele era Suvela por coincidncia.Na poca, o grande sucesso da musica popular brasileira era oSimonal. A eu dizia esse nome todinho: Sucesso de Sucessosque se Sucedem Sucessivamente sem Cessar, S, Se, Si, S,Sucesso! Simbora, Suvela! Era tudo no S. (LIMAVERDE,entrevista em 17/12/2008).

    O Sucesso de Sucessosera inovador assim como a poca em que ele

    foi veiculado, pois carregava a ousadia de ultrapassar seu prprio tempo,

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    seguindo exemplo do festival de msica de Woodstock, realizado entre 15 e 18 de

    agosto de 1969, anos antes da criao do programa. O festival apresentou para o

    mundo o desejo de liberdade que a juventude trazia e que contrariava todo o

    molde tradicional no qual os jovens estavam inseridos. O programa de Paulo

    Limaverde, assim como Woodstock, foi alm de seu tempo, ao protestar da

    maneira que podia contra a represso vivida no Brasil. Na poltica, o Ato

    Institucional n. 5 (AI-5), institudo pela Ditadura Militar em dezembro de 1968,

    submetia todos os veculos de comunicao vigilncia militar, mas apesar das

    ordens ditadas pelos militares para silenciar as iniciativas de protestos

    manifestadas em qualquer meio, a msica conseguiu se tornar porta-voz da

    insatisfao popular. Por isso, muitas delas eram censuradas e muitos de seus

    autores foram perseguidos e afastados do pas. Limaverde desafiava a censura,

    tocando msicas proibidas:

    O programa era inovador, ele era rebelde como os anos que nsestvamos vivendo. Ns estvamos vivendo o Woodstock, nsestvamos vivendo a poca dos hippies. Era um programa deprotesto. Eu chegava a tocar msicas proibidas. Tinha umamsica cantada pelo Wilson Simonal: O terreiro l de casa no sevarre com vassoura/varre com ponta de sabre e bala demetralhadora. Comeava por a, era uma msica de protesto.

    (LIMAVERDE, entrevista em 17/12/2008).

    Cantiga brava o nome de uma msicacomposta por Geraldo Vandr,

    cantor e compositor que deixou seu marco na histria ao incorporar a gerao

    contestadora, lutando pela democracia, pelo exerccio de seus direitos de cidado

    e por uma sociedade livre da represso. Lanada em 1968, antes do AI-5, no LP

    Canto geral, a msica pregava a necessidade de responder ao regime militar com

    a luta armada.

    As msicas de protesto eram lanadas em sua maioria pelos festivais de

    msica promovidos e patrocinados pelas emissoras de televiso da poca. Os

    jovens eram o pblico dos festivais e inspiravam-se nas letras das canes para

    levantar suas bandeiras em defesa dos direitos de livre expresso. o caso de

    Carcar, a composio de Joo do Vale e Jos Cndido que fez uso de metforas

    para associar ao comportamento dos militares os hbitos da ave carcar:

    Carcar pega mata e come / Carcar malvado, valento / a guia de l do

    meu serto / Os burrego novinho no pode andar / Ele puxa o umbigo int matar.

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    O Festival Internacional da Cano, concurso de msicas nacionais e

    internacionais realizado no Rio de Janeiro anualmente, de 1966 a 1972, premiou

    em 1968 a cano Pra no dizer que no falei de flores,de Geraldo Vandr, com

    o segundo lugar. Ambas as msicas, Carcare Pra no dizer que no falei de

    flores, tiveram suas execues proibidas pela ditadura. No entanto, Paulo

    Limaverde no cedeu s exigncias militares. Carcar tambm era msica de

    protesto. E eu cheguei a rodar Pra no dizer que no falei de flores, aquela

    famosa do Vandr e proibida no pas, conta ele.

    Segundo Ferraretto (2001), o programa musical caracteriza-se pela

    transmisso de msicas com apresentao ao vivo ou gravada, com trs

    possveis segmentaes: musical jovem, adulto ou popularesco. O programa de

    Paulo Limaverde enquadra-se na segmentao musical jovem, pois sua

    apresentao era destinada ao pblico das praias de Fortaleza, que eram

    frequentadas pela juventude da poca.

    O programa tinha trs horas de durao, indo das 9h s 12h, ao vivo e

    semanal, veiculado somente aos domingos na Cear Rdio Clube. Era um

    programa de entretenimento que levava ao pblico jovem uma mistura de ritmos e

    informaes, sem ignorar a condio poltica que o Brasil vivia, submetido

    censura, ao cerceamento da expresso. O radialista tinha conscincia do

    momento perigoso, no entanto, dentro de um programa que parecia puro

    entretenimento, ele instigava de forma inteligente o ouvinte a refletir sobre

    questes graves, sem perder a alegria e o jeito moleque da cultura cearense. Ao

    tocar as msicas censuradas, Paulo tambm falava sobre seus compositores e

    contava a histria de cada msica, destacando a importncia delas para o

    momento vivido. Eu contava toda a histria da msica, porque eu gostava. O

    formato era contar a histria daquela msica. Quem fez a letra em que ocasio,quem musicou. As pessoas no ouviam simplesmente, no, elas eram informadas

    da razo de ser daquela letra (LIMAVERDE, entrevista em 17/12/2008).

    Na viso de seu criador, um dos aspectos diferenciais do programa que

    ele permitia a veiculao musical durante tempos longos ininterruptamente, com

    isso lanava grandes sucessos e agradava a seu pblico por no haver

    interrupes com a fala constante do apresentador ou com a publicidade, que

    muitas vezes irrita o ouvinte e o faz mudar de estao. Alm disso, o formato da

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    apresentao, o timbre de voz e o envolvimento que o apresentador expressava

    em sua fala conquistavam a audincia.

    Na mesma poca em que o programa era veiculado, Paulo Limaverde

    trabalhava tambm na Embaixada Americana, tendo, por isso, acesso facilitado a

    grandes sucessos internacionais que eram divulgados por ele em Fortaleza.

    Eu tocava s sucesso, um atrs do outro. Agora eu primava pelaqualidade das msicas e pelo pioneirismo. Eu sempre lanava asmsicas aqui em Fortaleza. Eu era incrvel porque s vezes faziadas tripas corao pra conseguir uma msica que estava sendolanada no Rio de Janeiro que no tinha em Fortaleza e eu querialanar aqui. E ao mesmo tempo eu promovia sucessos: coisa queno era sucesso de maneira nenhuma, nem em So Paulo nemno Rio, que eram sempre os centros formadores de opinio, eu

    conseguia fazer ser sucesso aqui em Fortaleza somente. Umexemplo desse foi uma msica chamada Tema de Amor noAeroporto, que eu transformei num grande sucesso e MscaraNegra, um sucesso de carnaval (LIMAVERDE, entrevista em12/1/2008).

    A msica Mscara negra,sucesso em Fortaleza, foi composta por Z Keti

    e Hidelbrando Pereira Matos para o carnaval de 1967 e foi aclamada nesse

    mesmo ano como a melhor msica de carnaval, vencendo o Primeiro Concurso

    de Msicas para Carnaval, criado pelo Conselho Superior de MPB do Museu de

    Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro.

    Alm de tocar os hitspreferidos da poca e de lanar no Cear msicas

    nacionais e internacionais, o programa notabilizou-se por um aspecto

    completamente diferente e inusitado. Pelo alto ndice de audincia, o Sucesso

    de Sucessos comeou a ajudar a encontrar pessoas desaparecidas, carros e

    objetos roubados. Sobre esse servio que deu audincia ao programa, o seu

    criador conta:

    A merc da sua audincia, ele tinha facilidade incrvel. As pessoasligavam l pra rdio e diziam: Paulo, roubaram meu carro deontem pra hoje. Eu comeava a dar o nmero da placa, o tipo docarro no ar e daqui a pouco encontravam o carro. Uma das coisasmais interessantes que aconteceu durante esse programa e quesacramentou a audincia dele foi o Muniz Arajo, o engenheiroMuniz Arajo. O carro dele foi roubado l prximo do Campo doAmrica, na Aldeota, no domingo de manh. Alis, ele no foiroubado, ele foi assaltado, porque j existia isso nessa poca,tomaram o carro dele. Imediatamente ele ligou pra mim e eu

    comecei a dizer: O carro tal foi roubado em tal lugar. Olha a, saiana porta da sua casa. Se voc vir essa placa tal, avise a polcia,

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    porque quem est dirigindo o ladro. A cidade comeou aperseguir o carro. O certo que as pessoas comearam a sair narua gritando, o cara comeou a se apavorar, soltou o carro e saiuna rua correndo. Ainda hoje eu tenho a amizade do Muniz Arajopor conta disso. (LIMAVERDE, entrevista em 12/17/2008).

    Aquarela nordestina, msica do humorista Jos Vasconcelos, era o tema

    de abertura e encerramento do programa, que tambm tinha como objetivo

    retratar no rdio os hbitos da cidade de Fortaleza. Para isso, Paulo Limaverde

    costumava, durante a semana, visitar a Rua Guilherme Rocha, localizada no

    centro da cidade que, na poca, segundo ele, era o bero das novas grias e

    expresses populares, uma vez que era o ponto de encontro da juventude

    fortalezense e local de circulao popular. Comercirios, vendedores ambulantes,

    atendentes, secretrias, funcionrios pblicos, toda essa gente transitava pelaRua Guilherme Rocha.

    Em um desses passeios no centro da cidade, Paulo teve a oportunidade

    de testemunhar a chegada da minissaia ao Estado do Cear, trazida pela filha de

    um comandante da Marinha que havia sido transferido do Rio de Janeiro para

    Fortaleza. A moa desfilou na Rua Guilherme Rocha com as pernas mostra e

    causou alvoroo entre os rapazes, tanto que foi obrigada a se esconder em uma

    loja local. A menina foi sucesso nas ruas e no programa Sucesso de Sucessos,pois Paulo Limaverde a entrevistou nos estdios da Cear Rdio Clube.

    O apresentador visitava tambm semanalmente todas as empresas

    patrocinadoras do programa para conversar com os donos e gerentes e ver os

    produtos e vantagens que as lojas ofereciam. Entre os patrocinadores estavam o

    Armazm Esplanada, a loja Paranaense, as Lojas Couto, a Ocapana, o Expresso

    Ipu-Braslia e a Sanord, SA Roupas do Nordeste.

    Limaverde interagia com o pblico de variadas formas. A audincia doSucesso de Sucessos podia ser atestada pelo nmero de pessoas que o

    chamado do radialista no ar conseguia levar s ruas.

    Uma vez eu li que o primeiro passeio de bicicleta que houve noCear foi eu que fiz, eu inventei. Um dia eu disse: Hoje eu vouconvocar todo mundo pra vir aqui. Ns vamos brincar de pernaspra que te quero. Quem tiver bicicleta, venha pra c. Ai juntoubicicleta de todo jeito e eu inventei uma passeata. (LIMAVERDE,entrevista em 17/12/2008).

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    Ele relata que na poca a praia fortalezense mais frequentada era a Praia

    do Nutico. Ele decidiu, ento, fazer no programa a propaganda da Praia do

    Futuro, uma praia mais distante e ainda pouco urbanizada, mas era nessa direo

    que a cidade crescia. Mais uma vez a audincia e a credibilidade do programa

    puderam ser verificadas, pois a Praia do Futuro ganhou ateno. Para certificar o

    fato, Paulo convidou seu pblico para a festa Aleluia, Aleluia! Carne no prato,

    farinha na cuiaque aconteceria na nova praia.

    Eu comecei a vender a Praia do Futuro. Com esse programa, euinventei um negcio de queimar o maior Judas do pas. O Judastinha 25m de comprimento. A prefeitura botou um tablado na beirada praia, pagou uma banda, levou um carro pipa cheio decachaa, com os copinhos plsticos, com o tiragosto distribuindo

    pro povo. Eu disse assim: No vai dar certo, porque muitaousadia fazer um negcio desse. Quando deu cinco horas datarde eu resolvi ir l ver o local do crime, ver como que tava.Quando eu cheguei no Iate Clube tava engarrafado. No haviacondies de entrar ningum na Praia do Futuro. Eu nunca penseique um chamamento feito atravs de um programa de rdioconseguisse atingir aquilo. E o mais incrvel: a festa com essacachaada toda no houve um incidente. (LIMAVERDE, entrevistaem 17/12/2008).

    O programa tinha espao para a divulgao de novos cantores e grupos

    musicais. O prprio Limaverde ainda criava novas bandas e as divulgava dentrodo Sucesso de Sucessos, garantindo a elas a simpatia do pblico. Tudo o que

    era vendido no programa virava sucesso, devido audincia e credibilidade do

    simptico radialista.

    Na poca, a audincia j era medida, havia o Ibope e tambm uma

    empresa nacional chamada Marplan, que verificava a audincia dos programas.

    Paulo lembra que os radialistas e emissoras concorrentes comearam a se

    preocupar com o alcance do seu programa.Nomes como Irapuan Lima, Evaristo Silveira e Tarcsio Tavares eram os

    concorrentes de Paulo Limaverde no horrio de veiculao do Sucesso de

    Sucessos. Sobre a concorrncia, Paulo diz: Voc pode at me considerar besta

    por causa dessa histria, besta no sentido de dizer vaidoso, mas eu no prestava

    ateno em ningum no, nem procurei o formato de ningum, nem ouvia

    ningum.

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    6. Consideraes finais

    A espontaneidade na fala, a criatividade, a primazia pelas novidades e a

    confiana no prprio talento traziam a Paulo Limaverde a segurana necessriapara desempenhar a atividade de radialista com desenvoltura, promovendo um

    dilogo simples e envolvente com o ouvinte, conquistando a ateno que

    sustentou o programa no ar durante dez anos.

    O formato do programa simples e, segundo o prprio criador, poderia

    ser adotado novamente hoje, contanto que sua durao se estendesse para

    acompanhar o novo horrio de frequncia das praias em Fortaleza.

    Paulo Limaverde diz que o Sucesso de Sucessosatingiu todas as suas

    expectativas como criador e apresentador. Ele assume: Atingiu plenamente

    minhas expectativas. tanto que eu considero na minha vida a melhor coisa que

    eu fiz em matria de rdio foi aquele programa. A melhor coisa. (LIMAVERDE,

    entrevista em 17/12/2008).

    Referncias

    ALBERTI, V. Histria oral: a experincia do CPDOC. Rio de Janeiro: Centro dePesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil, 1989.

    FERRARETTO, Luiz Artur. Rdio: o veculo, a histria e a tcnicas. 2. ed. PortoAlegre: Editora Sagra Luzzatto, 2001.

    LIMAVERDE, Paulo. Entrevista. Pesquisa histria e memria da radiodifusocearense. Concedida em 12 de janeiro de 2008.

    ______. Entrevista. Pesquisa histria e memria da radiodifuso cearense.Concedida em 17 de dezembro de 2008.

    MEIHY, J.C.S.B. Manual de histria oral. 2. ed. So Paulo: Loyola, 1998.

    MONTENEGRO, Abelardo Fernando. Psicologia do povo cearense.Fortaleza:Casa de Jos de Alencar/ Programa Editorial, 2000.

    SARMENTO, Leila Lauar. Gramtica em textos. So Paulo: Moderna, 2005.

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    No ar, a voz do produto: um panorama histrico da publicidade radiofnica mineira

    Graziela Mello Vianna1

    Resumo: O presente artigo tem como objetivo contextualizar a produo

    publicitria veiculada nas rdios belo-horizontinas atualmente, traando um

    panorama histrico que se inicia com os preges dos vendedores ambulantes do

    sculo XVI, ouvidos ainda nas ruas das cidades brasileiras, e segue at a

    produo publicitria atual em Minas Gerais. Buscamos tambm elencar peas

    publicitrias que passaram a fazer do imaginrio da sociedade mineira, alm de

    tentar desvelar as estratgias utilizadas para requalificar o rdio como meio de

    veiculao de peas publicitrias, aps a consolidao da TV como o meio de

    comunicao do pas ao qual se destina a maior parte dos investimentos dos

    anunciantes.

    Palavras-chave: rdio; rdio local; publicidade.

    1. Salve, salve peixeiros, funileiros, garrafeiros e o menino doce: as origensdos spotsejinglesnas ruas do Brasil

    Ai, ai, ai, ai / o canto do pregoneiro / Que com sua harmonia /Traz alegria / In South American Way /

    Ai, ai, ai, ai / E o que faz em seu tabuleiro / Vende pra ioi / Evende pra iai.

    South American Way - Al Dubim e Jimmy McHugh

    O panorama da propaganda no pas, desde as origens, possibilita-nos

    dizer que a publicidade brasileira sempre se apoiou nos discursos orais para

    vender seus produtos2. Anteriormente aos reclames nos jornais, podemos atribuir

    1 Publicitria (UFMG). Mestre em Comunicao Social (UFMG). Doutora em Comunicao (ECA-USP), onde desenvolveu sua tese de doutoramento com apoio da CAPES. Pesquisadora doGAUDIO (ECA-USP) Grupo de Pesquisas de Desenvolvimento em udio, do grupo RADIO(Grupo Multidisciplinar de Doutorandos em Rdio - Paris), GRER (Grupo de Pesquisa e Estudosem Rdio - Frana).2

    Sobre o panorama da propaganda no pas, ver VIANNA, Jingles e spots: a moda nas ondas dordio.

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    aos preges gritados ou cantados dos mascates a primeira forma de se anunciar

    produtos no Brasil, como o exemplo ouvido em ruas cariocas no sculo XIX:

    Soberano, Gargalhada / Biscoito fino, bananada. / Ningum me

    chama, / vou- mimbora. / Daqui a pouco / no tem mais nada3.

    Ainda hoje ouvimos pelas ruas do centro de Belo Horizonte preges que

    nos anunciam com timbres diversos uma profuso de produtos e servios como

    pamonha, Mega Sena acumulada, abacaxi, compra e venda de ouro ou

    amoladores de faca. Nos subrbios da capital mineira, o Menino Doce (como

    conhecido o Sr. Jos Eustquio) uma figura j conhecida dos moradores locais

    que esperam sua cocada, cajuzinho, brigadeiro ou p-de moleque. H mais de 20

    anos, ele anuncia diariamente sua chegada em forma de aboio - ooo,dooooce... , o menino dooooce. (LEITE; FURST). Concordamos com Simes

    que essa tradio oral dos vendedores nas ruas pode ser considerada a origem

    das peas publicitrias radiofnicas:

    Recorrer voz, msica e ao canto para vender produtos umrecurso muito antigo, herana dos arautos. Entre ns foram ospregoes dos mascates cantados e/ou gritados os primeirospara apregoar mercadorias. Depoimentos de diversos viajantes

    que percorrem o pas at o sculo passado assinalam que ogimmick desses ambulantes era sempre sonoro: a corneta, amatraca, o cvado. (...) Foram, portanto, os vendedoresambulantes que, ao entoar seus preges, esboaram nossosprimeiros slogans e jingles. (SIMOES, 1990, p. 171).

    A oralidade sempre facilitou a aproximao com o receptor, j que a

    maioria do povo brasileiro era analfabeta4 e, ainda hoje, boa parte dos brasileiros

    tem baixo grau de escolaridade.

    O pblico, na maioria analfabeto ou semialfabetizado, encontravanas rimas a indispensvel ajuda mnemnica para melhor guardartemas e anncios (era o que os anunciantes desejavam, por issobuscavam os poetas). Enfim, eles dessacralizaram o produto.Inteligentes, descontrados, de certo modo anteciparam o ngulodo consumidor. Casimiro de Abreu fez graa, Lopes Trovo fezpardia, Olavo Bilac fez stira. Batendo na tecla alegre, divertida,

    3 Prego de autoria desconhecida transcrito por MOREYRA, lvaro. Tempo perdido. Rio deJaneiro, Jos Olympio, 1938.4 O nmero de analfabetos, segundo o censo de 1950, era, em 1940, de 61,80% da populao

    total do Brasil. A porcentagem da populao com nvel de escolaridade estava assim distribuda:ano 1940 primrio: 10,70 / mdio: 1,18 / superior: 0,69 / Total: 12,00 (FEDERICO, 1982, p. 60).

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    lanaram a semente do que talvez mais distinga a propagandabrasileira: o seu tom irreverente. (RAMOS, 1990, p. 3).

    A voz no rdio de fcil entendimento, no sendo necessrio saber ler

    para entend-la. Dessa forma, os anunciantes perceberam o potencial do veculo

    para divulgar seus produtos para um contingente muito maior de pessoas do que

    aquele atingido pelo jornal impresso, destinado apenas s camadas mais cultas

    da sociedade.

    O rdio capaz de atrair a ateno dos indivduos, diverti-los, emocion-

    los e conquistar adeso do ouvinte a uma marca ou ideologia. As emissoras de

    rdio passam, a partir da dcada de 30, a produzir novos formatos de programas,

    patrocinados pelos anunciantes, capazes de sensibilizar este pblico. Com o

    impulso financeiro possibilitado pela veiculao de anncios publicitrios nas

    rdios, emissoras como Rdio Nacional do Rio de Janeiro, Rdio Record em So

    Paulo, Rdio Guarani e Rdio Inconfidncia em Belo Horizonte inauguram

    instalaes maiores, podendo substituir os velhos discos por grandes orquestras

    sinfnicas contratadas para tocar ao vivo em seus estdios, alm de ter a

    possibilidade da participao imediata do pblico nos auditrios em diversos

    programas populares, como os humorsticos, musicais e de variedades. Temos

    ento uma passagem de uma cultura semiletrada para uma cultura marcada pelosmedia(SALIBA, 2002). Em uma anlise histrica do humor no Brasil, Elias Saliba

    defende que

    o momento no qual o rdio comea a conquistar maior audinciacoincide com a diversificao da programao e com a nfasedada ao humor e msica. As relaes dos humoristas com ordio dos primeiros tempos tambm passaram por um incrementorpido, sobretudo no momento em que as emissoras comearama introduzir a publicidade atravs dos jingles radiofnicos.

    (SALIBA, 2002, p. 223).

    Ao serem veiculados nos programas populares, os jingles e os spots

    passaram a ser conhecidos e lembrados pelos ouvintes. Entendemos que s se

    faz pardia de composies que sejam conhecidas pelo pblico, pois caso

    contrrio a piada no sugere sentido, no faz rir. Portanto ao percebermos que as

    peas publicitrias eram apropriadas pelos programas humorsticos veiculados

    nas emissoras, podemos inferir que elas faziam parte do imaginrio da sociedade.

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    Podemos confirmar esta apropriao com a descrio da estreia do

    Programa PRK-30, em 1937, na crnica do jornal impresso Folha Carioca, o qual

    afirma que Lauro Borges, o radialista que naquela ocasio conduzia o programa,

    alcanou enorme sucesso nas pardias dos textos de publicidade, principalmente

    nos dizeres da propaganda de magnsia, cujo texto foi muito bem preparado (...)

    (PERDIGO, 2003, p. 63). Reproduzimos, aqui, alguns trechos dejinglesoriginais

    e a pardia dos mesmos feita por Alvarenga e Ranchinho, que trata do contexto

    poltico contemporneo quela poca:

    Jingle original: Plulas de vida do Dr. Ross, fazem bem ao fgadode todos ns.Pardia: Plnio Salgado quando abre a voz, faz mal ao fgado detodos ns.Jingle original (leo Maria): Maria, (toc-toc) sai da lata.Pardia: Benedito (Valadares), (toc-toc), sai da lata.Jingle original: Detefon, detefon.Na sua casa tem barata? No vou l.Na sua casa tem mosquito? No vou l.Na sua casa tem pulga? No vou l.Peo licena para mandar, Detefon em meu lugar.Detefon, Detefon.Pardia: (Pon, poron ron)Na sua casa tem integralista? No vou l.Na sua casa tem comunista? No vou l.

    Peo licena pra mandar, Filinto Mller em meu lugar.(Pon, poron ron)

    At a dcada de 40, tantos os programas populares citados quanto as

    peas publicitrias eram produzidos nas prprias emissoras. Nessa dcada, no

    auge do interesse dos anunciantes pelo rdio, surgiram no Rio de Janeiro e So

    Paulo os primeiros estdios brasileiros especializados em propaganda no rdio: a

    RGE (Rdio Gravaes Especializadas), a Rdio Servios de Propaganda,

    Gravaes Geraldo Mendona e o estdio de Sivan Castelo Neto. Em Belo

    Horizonte, estdios especializados em propaganda apareceram um pouco mais

    tarde, j na dcada de 50. No tpico seguinte, buscaremos compreender como se

    dava a produo publicitria para rdio em Minas Gerais nesse perodo.

    2. Produo publicitria radiofnica com sotaque mineiro

    Na era de ouro do rdio, as emissoras mineiras no s veiculavam

    anncios locais, mas tambm de grandes empresas nacionais ou multinacionais,

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    com sede no Brasil, que divulgavam seus produtos nas principais rdios

    brasileiras, distribuindo seus spotsejinglesatravs de discos. Os anncios locais

    eram produzidos ao vivo, j que nesta poca no existiam estdios de gravao

    especializados em peas publicitrias em Belo Horizonte. Cabia ao locutor

    improvisar ao interpretar e fazer a sonoplastia do texto e ainda, muitas vezes, at

    mesmo criar o prprio texto.

    Na dcada de 50, comearam a surgir os estdios especializados em

    propaganda. Podemos destacar, entre as primeiras organizaes com este

    objetivo, em Belo Horizonte, a iniciativa de Elias Salom, em meados da dcada

    anterior, que possua um estdio inicialmente destinado a aulas de msica,

    passando, posteriormente, a se dedicar gravao de comerciais. At os anos

    50, as gravaes dos comerciais eram realizadas nos grandes estdios das

    rdios Guarani e Inconfidncia, depois que estas interrompiam suas transmisses

    geralmente no horrio de 22 horas. Era a poca dos maestros, como o maestro

    Jos Guimares ou o maestro Torres, que se tornam grandes compositores de

    jingles e conduziram as orquestras das rdios na execuo das peas. Dois

    nomes tambm se destacaram neste perodo inicial da produo de jinglesem

    Belo Horizonte: Celso Garcia e Roberto Duarte5. Alguns dosjinglesdesse perodo

    ficaram gravados no imaginrio belo-horizontino, por exemplo: O Abdala fogo

    na roupaou Ingleza Levi, a sua casa.

    Na dcada de 60, surgiram vrios estdios em Belo Horizonte, dentre os

    quais podemos citar a Braslia Gravaes, de Pedro Leal, que se transformou em

    PLW Gravaes; o estdio Bemol (que tambm era gravadora de discos); a True

    Form, de lvaro Resende (hoje proprietrio da RC Propaganda).

    3. Consolidao da TV no pas como meio publicitrio e as emissoras locais

    A dcada de 60 foi marcada por uma crise financeira em grande parte das

    emissoras de rdio, pois este deixou de ser o principal meio de divulgao de

    5 Informaes fornecidas (em entrevista realizada pela autora) por Paulo Joel Monteiro Bizarria,proprietrio do Studio HP (produtora de udio que se dedica gravao de jingles, spotse trilhas)e ex-funcionrio de um dos primeiros estdios de gravao dedicados produo publicitria emBelo Horizonte, o True Form, fundado em 1964. Infelizmente, no foi possvel obter dados

    biogrficos ainda que mnimos de Elias Salom, dos maestros Jos Guimares e Torres e deRoberto Duarte, citados por Paulo Joel.

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    mensagens publicitrias e passou a dividir os investimentos dos anunciantes

    nacionais com o novo meio de comunicao que se consolidava no pas e

    apresentava a vantagem de mostrar o produto: a televiso. Em 1962, a televiso

    e o rdio j dividiam na mesma proporo as verbas publicitrias (24,7% dos

    investimentos publicitrios totais so destinados TV, enquanto 23,6% so

    destinados ao rdio). No incio da dcada seguinte, percebe-se uma hegemonia

    da televiso (46,1% contra 9,4% de investimentos no rdio)6.

    Outro indicador da crescente perda de mercado publicitrio do rdio a

    veiculao, por parte dos estdios especializados emjinglese spots, de peas em

    que a importncia das mensagens comerciais gravadas ressaltada (SIMES,

    1990). Estes estdios tambm passam a sentir as consequncias da expanso da

    televiso e tentam reverter a crise, anunciando no rdio, buscando valorizar o

    meio, tendo como pblico-alvo agncias e anunciantes. Porm, a esta altura, a

    televiso com suas imagens j passava a ter a ateno dedicada do povo

    brasileiro e, por conseguinte, a preferncia dos anunciantes nacionais.

    Em termos publicitrios, o rdio perdeu o duelo para a televiso,vendo as verbas se minguarem. Os anos sessenta so osmomentos mais delicados para a sua sobrevivncia. Obviamenteque o desinteresse dos anunciantes se reflete nos criadores eobserva-se certa perda de qualidade nos jingles e spots, o queno impede as excees de praxe. (SIMES, 1990, p. 194).

    Tal perodo de ascenso da TV coincidiu com o surgimento de vrias

    emissoras FM em Belo Horizonte e nas principais cidades brasileiras. Como

    sabido, a transmisso FM tem uma qualidade superior transmisso AM,

    principal tecnologia usada at ento, porm suas ondas tm um menor alcance.

    Portanto, diante da concorrncia da TV, que comeava a ocupar o papel que

    anteriormente pertencia ao rdio de unificar o pas com uma programaonacional a ser retransmitida para vrias cidades do pas, o rdio com transmisso

    FM tornou-se um meio de comunicao local, com uma programao que passa a

    privilegiar os acontecimentos e a cultura local. Dessa forma, no final da dcada de

    60 e na dcada seguinte, os principais anunciantes das rdios belo-horizontinas

    6Pesquisa Meio e Mensagem reproduzida por ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informao nordio: os grupos de poder e a determinao de contedos, 1985, p. 66.

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    passaram tambm a ser anunciantes locais ou algumas empresas nacionais com

    filiais em Belo Horizonte.

    Podemos comprovar essa mudana pela pesquisa realizada mais tarde,

    no fim da dcada de 70, cujos resultados esto a seguir (Tabela 1), em que foram

    comparados os percentuais entre a verba repassada aos veculos de

    comunicao pela agncia de publicidade e a soma desta verba com verba

    investida diretamente pelo anunciante local.

    TABELA 1

    Distribuio da verba publicitria (1980)

    TV Jornal Revista Rdio Outdoor Cinema

    Agncia

    57.8 16.2 14.0 8.1 1.5 0.6

    Agncia + [anunciante] direto

    37.0 18.0 10.4 15.3 2.0 0.3

    Fonte: Meio e Mensagem, citado porORTRIWANO, 1985, p. 67.

    Em uma anlise cuidadosa dos resultados, percebemos que o percentual

    de investimentos na televiso cai mais de 20 pontos, considerando as verbas do

    anunciante direto, enquanto o investimento no rdio deste tipo de anunciante local

    representa quase metade da sua verba publicitria (de 8,1% aumenta para

    15,3%).

    O rdio FM, portanto, tornou-se a mdia mais adequada para estes

    anunciantes que no tinham verba para anunciar na TV. Daniel Barros, locutor

    que atua em Belo Horizonte desde esse perodo, confirma a importncia do rdio

    para os anunciantes locais nessa poca7:

    Casa Estrela, Casa Arnaldo, Leo dos Retalhos, CasasPernambucanas, S Calas, Camisaria Avenida, CopacabanaTecidos, Getlio Calados e Bolsas, S Calas, Johnny e Mary:nessa poca, todas as lojas de tecido e de moda eram grandesanunciantes de rdio. Todas se fizeram em cima do rdio, nousavam a TV.

    7 Trecho de entrevista indita, concedida autora em 15 dez. 2001.

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    Alm do segmento moda, o locutor lembra algumas empresas que

    tambm eram grandes anunciantes do rdio nesse perodo: Promove, Pitgoras,

    Number One, Mai, s para citar algumas que nasceram do rdio.

    Iniciou-se tambm um processo de segmentao no dial: as emissoras

    AM passaram a se dirigir para um pblico mais velho, enquanto as novas

    emissoras FM dirigiam-se ao pblico mais jovem. A programao das emissoras

    FM era, ento, essencialmente musical, pertencente aos gneros musicais

    associados aos movimentos estudantis da poca, com uma influncia muito forte

    da msica estrangeira, como o rock ou a folk music.

    Alm da programao, a produo publicitria para rdio tambm sofreu

    grandes transformaes. Os produtores de jingles, assim como as emissoras de

    rdio, substituram, na dcada de 70, as grandes orquestras utilizadas nas

    gravaes de jinglesou trilhas sonoras para os spots, colocando em seu lugar

    sintetizadores que imitam o som dos instrumentos originais e trilhas prontas

    de discos, como podemos perceber em um spot desse perodo da Camisaria

    Avenida8, um dos anunciantes citados por Daniel Barros (Quadro 1):

    QUADRO 1

    Locuo TcnicaLoc. 1 (voz masculina grave): , distinto, voc estprecisando comprar umas becas novas e mudaressa figura que j est ficando manjada. Afinal,sua boa imagem vale muito.

    Passe na Camisaria Avenida e tome um banho deloja. Calas, camisas, conjuntos esportivos e amoda jeans em quatro vezes sem aumento.

    Loc. 2 (lenta, suave): Que pena...S tem pra

    homem..

    Loc. 1: Camisaria Avenida. Afonso Pena,Tupinambs e Carijs.

    Trilha discothque.

    Fonte: Acervo do Studio HP

    A trilha utilizada parece ser tambm uma tentativa de se aproximar do

    gosto musical do seu pblico jovem: instrumentos eletrnicos, do gnero

    8 Criao e produo: Studio HP.

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    discothque, modismo musical em voga na dcada de 70. um exemplo de pea

    em que os msicos foram substitudos pela reproduo de um disco de vinil.

    4. Segmentao no dial mineiro

    A partir do fim da dcada de 70, aprofundou-se a segmentao no dial.

    Passaram a surgir diversas emissoras FM com programaes bastante diferentes:

    musical com gneros predominantes diversos, tais como rock internacional (Rdio

    Terra), MPB (Inconfidncia FM Brasilerssima), pop rock nacional e internacional

    (Rdio 98 FM), religiosas, noticiosas, direcionada a segmentos distintos de

    pblico. Poderamos traar um paralelo dessa segmentao do rdio com asegmentao no mercado editorial, com o surgimento de revistas especializadas

    em assuntos diversos, como cinema, esportes, arquitetura, artes plsticas,

    artesanato, direcionadas a segmentos de pblico bem definidos.

    A publicidade acompanhou essa segmentao. Podemos citar, por

    exemplo, os jinglesdo Shopping Del Rey. Veiculados inicialmente em emissoras

    destinadas ao pblico classe social A/B (tais como Rdio Guarani, Alvorada,

    Inconfidncia, entre outras), os arranjos eram prximos a gneros musicais como jazz e MPB, como o jingle que transcrevemos no Quadro 2, que anuncia o

    lanamento da coleo primavera-vero:

    QUADRO 2

    Pea publicitria: Jingle: Primavera-veroAgncia de publicidade: ABC PropagandaArranjo musical: Chiquinho Eustquio

    Anunciante: Shopping Del ReyData: 1995Criao: Paulo Nehmy

    Transcrio

    Coro: Muito sorriso, alegria no ar/Um grande espao pra curtir e sonhar/Muito maischarme, mais classe, mais show/Primavera-vero no Shopping Del Rey/O sol j nasceupra voc brilhar/ primavera, vamos cantar/Del Rey, Del Rey, Del Rey mais moda/Eusou mais Del Rey/Del ReyGnero musicalJazz.

    Fonte: Acervo Studio HP

    Quando, alguns anos mais tarde, o anunciante mudou o posicionamento e

    passou a se dirigir a um pblico mais jovem e de classes menos favorecidas, o

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    jingle destinou-se a ser veiculado em emissoras mais populares (BH FM e Rdio

    Liberdade, por exemplo),ganhando uma verso rap (Quadro 3):

    QUADRO 3

    Pea publicitria: Jingle: Eu sou mais Del ReyAgncia de publicidade: ABC PropagandaArranjo musical: Doca Rolim

    Anunciante: Shopping Del ReyData: 1999Criao: Paulo Nehmy

    TranscrioVoz masculina jovem: Mais colorido, mais divertido/Mais fascinante/maisemocionante/Todos os dias e fins-de-semana, ele tem conforto, prazer e lazer. Coro:Del Rey mais shopping. Voz masculina jovem: Mais alegria, mais economia, maisfacilidade pra voc/Criana, jovem, homem, mulher/Nele voc encontra tudo o que quer.Coro: Eu sou mais Del Rey, Del Rey.Trilha musicalRap.

    Fonte: Acervo Studio HP

    5. Rdio: TV sem imagem? O desinteresse dos criativos pelo meio

    Com a migrao do investimento publicitrio para a TV, gradativamente

    os publicitrios, de forma geral, deixaram de criar especificamente para o rdio,

    eliminando o uso das suas possibilidades de sugesto de sentido. A pea

    publicitria radiofnica tornou-se aos poucos uma verso com pouca ou nenhumaalterao do som da pea televisiva. O foco da criao a televiso, pois a verba

    destinada a esse meio maior, sendo, portanto, maior a comisso sobre

    veiculao (BV) recebida pela agncia e maior a visibilidade das peas criadas. O

    rdio deixou para a televiso o lugar de mdia principal nas campanhas

    publicitrias e tornou-se uma mdia alternativa. Virou comum a prtica de se

    aproveitar o udio do comercial de televiso, veiculando-o no rdio. Assim, so

    utilizadas peas cujo texto remete a imagens disponveis apenas na tela da TV.Dessa forma, algumas locues de spotsdizem vejaessas ofertas, apesar de

    ser evidente que o ouvinte pode apenas ouviras ofertas.

    Confirmamos a falta de cuidado com a produo radiofnica tambm no

    cotidiano das produtoras de udio, nas quais raramente temos a presena do

    RTVC, que a princpio seria o responsvel da agncia de publicidade pelo

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    acompanhamento da produo das peas de rdio e TV, mas que geralmente s

    acompanha a produo das peas televisivas.9

    Porm podemos considerar algumas peas que so excees a tal

    esquema de produo e que, ao serem produzidas levando em considerao a

    oralidade do rdio, passaram a fazer parte da trilha sonora da cidade. Dentre elas,

    podemos citar o jingle da concessionria local Cetibrs (Quadro 4):

    QUADRO 4

    Pea publicitria: Jingle: Sol no HorizonteAgncia de publicidade: ABC PropagandaArranjo musical: Chiquinho Eustquio

    Anunciante: CetibrsData: 1992Criao: Paulo Nehmy

    Transcrio

    Coro: O sol no horizonte, vem trazendo um novo dia, que comea mais feliz com o prazerde ter um Fiat. Eu entro no meu carro, vou aonde quiser. Sigo todos os caminhos,com a certeza de chegar. Cetibrs Fiat. Cetibrs meu lugar.

    Fonte: Acervo Studio HP

    Tal jingle sugere imagens sonoras diversas (o sol no horizonte, vem

    trazendo um novo dia..., eu entro no meu carro, vou aonde quiser) e passou a

    fazer parte do imaginrio da sociedade e a ser uma referncia como jingledeste

    segmento de mercado10

    . O institucional da Tele-Pizza Mangabeiras outro jingledesse perodo, e passou a ser cantado principalmente pelos jovens (Quadro 5):

    QUADRO 5

    Pea publicitria: Jingle InstitucionalAgncia de publicidade: Folhalt PropagandaArranjo musical: Omeriah

    Anunciante: Tele Pizza MangabeirasData: 1996Criao: Juliano Mouro

    Transcrio:, que sabor, , que aroma! Entre em ao, a soluo est nos seus dedos. Ligue 2211777. Tele Pizza Mangabeiras pertinho de voc. Rapidez na entrega. Num estalo de

    dedos, pizza quentinha a toda hora, vem. Ligue 221 1777. Tele Pizza Mangabeiras.Fonte: Acervo Studio HP

    9 Tal observao foi feita a partir da minha experincia como tcnica de som. Atuei no perodo de1995 a 2001 em uma produtora de udio especializada em publicidade e pude observar inmerasvezes tal ausncia de um profissional da agncia de publicidade para dirigir a produo das peasradiofnicas.10 Tal observao embasada na semelhana de outras peas radiofnicas do mesmo segmentono que diz respeito ao contedo da letra, estilo de interpretao e gnero musical e tambm na

    aluso direta a esse jingle em briefings de criao passados produtora por agncias deempresas do mesmo segmento de mercado.

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    Cantado pelo vocalista (Juliano Mouro) de uma banda local de reggaee

    ska(Omeriah) que alcanou algum sucesso em Belo Horizonte, ojingletem como

    referncia musical um sucesso (Garota Nacional) de outra banda mineira que j

    tinha repercusso nacional: o Skank. As msicas das duas bandas faziam parte

    da programao das emissoras locais e, portanto, o jingle da Tele Pizza, alm de

    aumentar as vendas do anunciante e facilitar a memorizao do seu nmero de

    telefone, passou a ser apropriado como uma produo simblica, assim como as

    musicas das bandas s quais ele faz referncia. Mesmo no sendo mais

    veiculado nos dias atuais, ele at hoje facilmente lembrado pelos belo-

    horizontinos, principalmente, claro, quando se est com fome.

    6. Novas possibilidades para as emissoras locais

    Na impossibilidade de retomar a caracterstica de veculo de unificao

    nacional, perdida h vrias dcadas para a televiso, o rdio, no final dos anos

    90, buscou caminhos para deixar de ser uma mdia alternativa e voltar a atrair

    grandes investimentos publicitrios. Novas estratgias tm sido adotadas, como a

    transmisso via satlite, via internet, a transmisso digital, cujos testes foraminiciados em 2005, no Brasil. Quando implementada definitivamente, tal

    tecnologia possibilitar a oferta de vrias emissoras em uma mesma faixa de

    frequncia11. Alm de estratgias relativas transmisso, as emissoras tm

    investido mais em pesquisas, o que permite ao anunciante conhecer melhor a

    audincia da rdio em que pretende comprar espao publicitrio e assim investir

    com mais segurana.

    Assim como em 1980 (Tabela 1), percebemos por meio de uma pesquisa

    divulgada pela Abert em 2008 (Quadro 6) que a verba publicitria dos anunciantes

    locais bastante significativa, mesmo com o surgimento de redes nacionais de

    rdio via satlite:

    11Sobre este tema, ver artigo Rdio digital entre montanhas: os testes em Minas Gerais,publicado neste livro.

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    QUADRO 6

    Fonte: Pesquisa realizada em 2008 pela Fundao Getlio Vargas para a Abert. Disponvel em:.

    Na regio Sudeste, alm dos anunciantes locais que so atendidos pelas

    agncias de publicidade e, portanto, compem a receita via agncia (64,8%), os

    anunciantes diretos, ou seja, anunciantes locais que anunciam nas emissoras

    sem o intermdio das agncias, so responsveis por uma parcela considervel

    da receita total (27,1%). Porm, no final da dcada, o rdio ainda leva uma fatia

    muito pequena do investimento publicitrio nacional (Grfico 1), como nos mostra

    uma pesquisa realizada pelo Projeto Intermeios em setembro de 2008. Enquanto

    a televiso recebe 58,5% dos investimentos publicitrios nos meios, ao rdio

    foram destinados apenas 4% desses investimentos:

    GRFICO 1

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    Dessa forma, assim como nos anos 60, quando os estdios comearam a

    veicular campanhas para valorizar o meio junto a anunciantes e agncias,

    atualmente, alm das estratgias anteriormente citadas, associaes como a

    Associao Mineira de Rdio e TV (Amirt), a Associao Mineira de udio e

    Vdeo (Amav) ou o Grupo dos Profissionais do Rdio de Minas Gerais (GPR-

    Minas) tm feito algumas campanhas de valorizao do rdio, direcionada aos

    publicitrios e aos anunciantes. Um exemplo a campanha do Grupo dos

    Profissionais do Rdio de Minas Gerais de 2006 (Quadro 7), na qual publicitrios

    que atuam em agncias de publicidade mineiras concorrentes so instigados a

    cantarolar umjingleque consideram marcante:

    QUADRO 7Locuo Tcnica

    Locutor 1 (voz masculina): Guto Karam da 18Comunicao e Luciana Nassif da RC Comunicao. Qualo jingle inesquecvel pra vocs?Gustavo Karam: Ah, aquele... (cantarolando) Levanta,Maria, acorda, Manoel. Vamos comprar louas na Lua deMel.Luciana Nassif (cantarola em ritmo de funk carioca): ALoja Lua de Mel hoje uma tradio, vende peas econserta sua panela de feijo.Gustavo Karam (cantarolando): Em louas e alumnios,s vende qualidade. E o preo o melhor que existe nacidade.Luciana Nassif (cantarola em ritmo de funk carioca):Levanta, Maria, acorda, ManelGustavo Karam: Vamos comprar louas na Lua de Mel.

    Locutor 1 (voz masculina): Voc ouviu dois concorrentesfalando de rdio. Porque no rdio assim: no temconcorrncia. Anuncie em rdio. Uma iniciativa do GPR.Grupo dos Profissionais do Rdio.

    Sem bg at a assinatura

    Efeito de sintonia de rdio.Trilha musical experimental,reunindo violinos, batidaseletrnicas e efeitos desintonia de rdio.

    Fonte: site GPR Minas

    O objetivo da pea no seria simplesmente lembrar jingles que fazem

    parte do imaginrio da sociedade ou o reconhecimento dos publicitrios

    interpelados. Entendemos que o objetivo principal mostrar o poder do rdio de

    facilitar a memorizao da mensagem, valorizando o meio e incentivando, assim,

    as agncias e anunciantes diretos a utilizarem-no. Outra questo j colocada

    anteriormente diz respeito ao baixo aproveitamento das possibilidades de

    sugesto de sentido do rdio, considerando que, apesar do discurso radiofnico

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    ter unicamente o som como significante, este pode sugerir imagens

    multissensoriais diversas ao ouvinte. Assim, foram veiculadas nas principais

    emissoras de Minas em 2005, tambm pelo GPR Minas, campanhas que

    valorizam esse poder de sugesto do rdio. O spota seguir exemplo de uma

    dessas campanhas (Quadro 8):

    QUADRO 8

    Locuo Tcnica

    Loc. 1 (voz masculina): A lasanha saifumegando do forno. O queijo gratinado, omolho denso e borbulhante. Ela pega a faca,corta um pedao com todo cuidado para no

    desmontar a lasanha. O queijo estica, a fatia colocada no prato. Ela sente o aroma. Pega ogarfo e coloca delicadamente o primeiro pedaona boca.

    Voz feminina bem aguda (que fala como setivesse alguma coisa na boca): Hum, aaaai!T muito quente! T queimando a minhaboooca!

    Loc. 1 (voz masculina): Viu? No rdio assim:voc no v, mas enxerga tudo.

    Fique ligado: anuncie no rdio. Uma iniciativaGrupo dos Profissionais de Rdio.

    Efeito sonoro de borbulhas.

    Efeito sonoro de talheres.

    Efeito sonoro de talheres passandoem algo de loua.

    Efeito musical de passagem em umaescala crescente.

    Fonte: site GPR Minas

    Com a descrio minuciosa da ao no texto interpretado por um locutor

    que valoriza algumas palavras-chave, associada aos efeitos sonoros, pode-se

    sugerir ao ouvinte a imagem de uma lasanha que tem cheiro, sabor e

    temperatura. Dessa forma, o spotbusca demonstrar que apesar de no mostrar oproduto, o rdio pode sugerir, dando espao para o ouvinte imaginar cenas

    diversas a partir dos elementos sonoros que constituem a mensagem radiofnica.

    7. Consideraes finais

    Conforme buscamos demonstrar, a publicidade no Brasil tem suas

    origens na voz dos pregoneiros, que ainda hoje anunciam mercadorias e servios

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    diversos pelas ruas das nossas cidades. Essa voz presente no cotidiano das

    cidades ganha um alcance maior quando se torna mais uma voz radiofnica no

    discurso veiculado pelas emissoras comerciais.

    Tal voz espalha-se por todo pas, representando anunciantes nacionais e

    multinacionais na era de ouro do rdio, mas, com o advento das emissoras FM,

    voltou-se, assim como os vendedores ambulantes, para a comunidade local. Os

    spots e jingles de anunciantes locais passaram a fazer parte do imaginrio da

    sociedade local. Dificilmente, um belo-horizontino nascido nas dcadas de 60 ou

    70 esquecer que o Abdala fogo na roupa, que no Promove a gente tem

    carinho e ateno, vontade de aprender, que devemos comprar louas na Lua

    de Mel e que Del Rey mais