história da loucura não é uma história da psiquiatria

2
MACHADO, Roberto. Uma Arqueologia da Percepção. In_____: Foucault: A Ciência e o Saber, 4ª ed, Rio de Janeiro: a!ar. "##$ %%. &' ( )) RESUMO Die*o Medeiro+ Hi+t ria da -oucura n o / u0a !i+t ria da %+i1uiatria. 2+ an3 do +/culo 5I5. 6a0b/0 n o / u0 li ro +obre o na+ci0ento da %+i1ui in e+ti*ue o 0o0ento da con+titui7 o do di+cur+o te rico +obre do e+t3 !i+torica0ente centrado na /%oca cl3++ica: tanto do %onto de enclau+ura0ento do louco, tanto 1uanto di8 re+%eito ( rela7 o da t a 0edicina. Mo+tra 1ue a %+i1uiatria / u0a 9ciência recente ; a doen7a 0 0ai+ de "## ano+ ; e 1ue inter en7 o da 0edicina e0 rela7 o ao lo !i+torica0ente. Foucault de+0a+cara a+ i0a*en+ 1ue d o ( %+i1uiatr %o++ibilitado a loucura +er recon!ecida e tratada +e*undo +ua er ca0in!o 1ue a !i+t ria %reci+ou +e*uir %ara 1ue a %+i1uiatria torn 0ental. O 1ue intere++a %ara Foucault, / atra /+ do n< el +i0b li =0bito da 1ue+t o da erdade e da ra8 o, co0o a0ea7a, irri+ o, i A loucura / +aber, +aber >ec!ado, e+ot/rico. Saber tr3*ico 1u 0undo, a >elicidade e o ca+ti*o +u%re0o e anuncia 1ue a it ria > do diabo, 0a+ do louco. ?@%eriência tr3*ica 1ue / c +0ica, %or1ue >unda0ento na erdade. O 1ue / de+ elado no del<rio 3 e@i+tia c inace++< el e +ecreta %ara o+ outro+ ; no %r %rio 0undo. Saber, % d3 realidade ao +on!o, %ro>undidade ( ilu+ o, eternidade ao in+tan O 1ue o di+cur+o >ilo+ >ico, liter3rio ou 0oral e@%re++a ; n e@%eriência tr3*ica, 0a+ u0a con+ciência cr<tica da loucura. ? ao+ con+ciência ela n o / 0ai+ +aber: / i*nor=ncia, %uni7 o, *o8a7 o, +aber. O louco %a++a +er al*u/0 1ue to0a o erro co0o erdade, a 0 realidade, a >eiura co0o bele8a, a iolência co0o u+ti7a. Se al*u/0 %en+a, n o %ode +er louco. Se al*u/0 / louco n o %o loucura / a condi7 o de i0%o++ibilidade ao %en+a0ento e iceB er de+i*nar a rela7 o co0 o louco 1ue n o +e a ditada %or re*ra+ do

Upload: desierto-sin-cielo

Post on 04-Oct-2015

5 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

...

TRANSCRIPT

MACHADO, Roberto. Uma Arqueologia da Percepo. In_____: Foucault: A Cincia e o Saber, 4 ed, Rio de Janeiro: Zahar. 2009 pp. 51 88

RESUMO

Diego Medeiros

Histria da Loucura no uma histria da psiquiatria. s anlises no vo alm do sculo XIX. Tambm no um livro sobre o nascimento da psiquiatria que investigue o momento da constituio do discurso terico sobre doena mental: o livro est historicamente centrado na poca clssica: tanto do ponto de vista da prtica do enclausuramento do louco, tanto quanto diz respeito relao da teoria da loucura com a medicina.Mostra que a psiquiatria uma cincia recente a doena mental tem pouco mais de 200 anos e que interveno da medicina em relao ao louco datada historicamente. Foucault desmascara as imagens que do psiquiatria o mrito de ter possibilitado a loucura ser reconhecida e tratada segundo sua verdade, mostrando o caminho que a histria precisou seguir para que a psiquiatria tornasse o louco doente mental. O que interessa para Foucault, atravs do nvel simblico: analisar o louco no mbito da questo da verdade e da razo, como ameaa, irriso, iluso.A loucura saber, saber fechado, esotrico. Saber trgico que prediz o fim do mundo, a felicidade e o castigo supremo e anuncia que a vitria final no de Deus nem do diabo, mas do louco. Experincia trgica que csmica, porque a loucura tem fundamento na verdade. O que desvelado no delrio j existia como verdade inacessvel e secreta para os outros no prprio mundo. Saber, portanto, positivo, que d realidade ao sonho, profundidade iluso, eternidade ao instante.O que o discurso filosfico, literrio ou moral expressa no mais uma experincia trgica, mas uma conscincia crtica da loucura. E aos olhos dessa conscincia ela no mais saber: ignorncia, punio, gozao, desmoralizao do saber. O louco passa ser algum que toma o erro como verdade, a mentira como realidade, a feiura como beleza, a violncia como justia.Se algum pensa, no pode ser louco. Se algum louco no pode pensar. A loucura a condio de impossibilidade ao pensamento e vice-versa. Foucault pretende designar a relao com o louco que no seja ditada por regras do conhecimento cientfico ou pseudocientfico, que no seja formada por condies tericas explcitas, elaboradas, sistematizadas, como no caso do discurso mdico sobre a loucura.Percepo aqui a maneira de considerar o louco intimamente o modo de agir sobre ele. Percepo mdica, a priori, se d atravs das relaes do louco em nvel institucional. Percepo social produzida por diversas instituies, como a polcia, a igreja, a justia, a famlia etc. com critrios que dizem respeito no medicina, mas a transgresso das leis da razo e da moralidade.O ato de internar no algo negativo, no sentido de unicamente separar, isolar, excluir. muito mais que isso: ele positivo, no no sentido, evidente, de um juzo de valor, mas no de criador de realidade e saber. Institui um outro da sociedade, um estrangeiro aos olhos da razo e da moral.So trs as foras penetrantes que so causa de loucura: a sociedade, a religio e a civilizao. A considerao da sociedade como causa de loucura de reduz apenas uma questo de liberdade. No de uma liberdade natural, mas aquela de uma sociedade mercantil, que no coage os desejos. O mundo o meio social, que afastando o homem da natureza, torna possvel a loucura. O fenmeno da loucura se passa no interior do prprio sujeito.A psiquiatria no , rigorosamente falando, uma cincia, mas nem por isso se torna impossvel analisar seus conceitos. Ela um discurso terico que mesmo no tendo, pretende ter cientificidade, pois se organiza tomando por parmetro o discurso da medicina.A linguagem da psiquiatria, que um monologo sobre a loucura, s pde se estabelecer sobre tal silncio, mas antes de tudo, a arqueologia deste silncio.