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TucíDIDES HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO

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TucDIDES

HISTRIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Livros Grtis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grtis para download.

COLEO

CLSSICOS IPRI

Comit Editorial: Celso Lafer

Marcelo de Paiva Abreu Gelson Fonseca Jnior

Carlos Henrique Cardim

A reflexo sobre a temtica das relaes internacionais est presente desde os pensadores da antigidade grega, como o caso de Tucdides. Igualmente, obras como a Utopia, de Thomas More, e os escritos de Maquiavel, Hobbes e Montesquieu requerem, para sua melhor compreenso, uma leitura sob a tica mais ampla das relaes entre estados e povos. No mundo moderno, como sabido, a disciplina Relaes Internacionais surgiu aps a Primeira Guerra Mundial e, desde ento, experimentou notvel desenvolvimento, transformando-se em matria indispensvel para o entendimento do cenrio atual. Assim sendo, as relaes internacionais constituem rea essencial do conhecimento que , ao mesmo tempo, antiga, moderna e contempornea.

No Brasil, apesar do crescente interesse nos meios acadmico, poltico, empresarial, sindical e jornalstico pelos assuntos de relaes exteriores e poltica internacional, constata-se enorme carncia bibliogrfica nessa matria. Nesse sentido, o IPRI, a Editora Universidade de Braslia e a Imprensa Oficial do Estado de So Paulo estabeleceram parceria para viabilizar a edio sistemtica, sob a forma de coleo, de obras bsicas para o estudo das relaes internacionais. Algumas das obras includas na coleo nunca foram traduzidas para o portugus, como O Direito daPaz eda Guerra de Hugo Grotius, enquanto outros ttulos, apesar de no serem inditos em lngua portuguesa, encontram-se esgotados, sendo de difcil acesso. Desse modo, a coleo CU1SSICOS IPRI tem por objetivo facilitar ao pblico interessado o acesso a obras consideradas fundamentais para o estudo das relaes internacionais em seus aspectos histrico, conceitual e terico.

Cada um dos livros da coleo contar com apresentao feita por um especialista que situar a obra em seu tempo, discutindo tambm sua importncia dentro do panorama geral da reflexo sobre as relaes entre povos e naes. Os CIAssicos IPRI destinam-se especialmente ao meio universitrio brasileiro que tem registrado, nos ltimos anos, um expressivo aumento no nmero de cursos de graduao e ps-graduao na rea de relaes internacionais.

Coleo CLSSICOS IPRI

TucDIDES

'Histria da Guerra do Peloponeso" Prefcio: Hlio Jaguaribe

E. H. CARR "Vinte Anos de Crise 1919-1939. Uma Introdu

o ao Estudo das Relaes Internacionais" Prefcio: Eiiti Sato

J. M. KEYNES '.:4s Consequncias Econmicas da Paz" Prefcio: Marcelo de Paiva Abreu

RAYMOND ARON

"Paz e Guerra entre as Naes" Prefcio: Antonio Paim

MAQUIAVl..r,

"Escritos Selecionados" Prefcio e organizao: Jos Augusto Guilhon Albuquerque

HUGO GROTIUS

"O Direito da Guerra e da Paz" Prefcio: Celso Lafer

ALEXIS DE TOCQUEVILLE

"Escritos Selecionados" Organizao e prefcio: Ricardo Velez Rodrigues

HANS MORGENTHAU

'54 Poltica entre as Naes" Prefcio: Ronaldo M. Sardenberg

IMMANUEL KANT

"Escrtos Polticos" Prefcio: Carlos Henrique Cardim

SAt\.fUEL PUf'ENDORf'

"Do Direito Natural e das Gentes" Prefcio: Trcio Sampaio Ferraz Jnior

CARL VON Ci.AUSEW1TI.

"Da Guerra" Prefcio: Domcio Proena

G. W F. HEGEL 'Textos Selecionados"

Organizao e prefcio: Franklin Trein

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

'Textos Selecionados"

Organizao e prefcio: Gelson Fonseca Jr.

NORMAN ANGELL

'.:4 Grande Iluso"

Prefcio: Jos Paradiso

THOMASMoRE

'Utopia" Prefcio: Joo Almino

"Conselhos Diplomticos" Vrios autores Organizao e prefcio: Luiz Felipe de Seixas Corra

EMERICH DE VATTEL

"O Direito das Gentes" Traduo e prefcio: Vicente Marotta Rangel

THOI\lAS HOBBF.s

'Textos Selecionados" Organizao e prefcio: Renato Janine Ribeiro

ABB DE SAINT PIERRE

"Projeto para uma Paz Perptuapara a Europa" SAINTSIMON

"Reor;ganizao da Sociedade Europia" Organizao e prefcio: Ricardo Seitenfuss

HEDLEY Bm.L

'54 Sociedade Anrquica" Prefcio: Williams Gonalves

FRANCISCO DE VITORIA

" De Indis et De Jure Belli" Prefcio: Fernando Augusto Albuquerque Mouro

MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES

Ministro de Estado: Professor CELSO LAFER Secretrio Geral: Embaixador OSMAR CHOHFI

FUNDAO ALEXANDRE DE GusMo - FUNAG

Presidente: Embaixadora Thereza MARIA MACHADO QUINTELLA

CENTRO DE HISTRIA E DOCUMENTAO DIPLOMTICA - CHDD

Diretor: Embaixador LVARO DA COSTA FRANCO

INSTITUTO DE PESQUISA DE RELAES INTERNACIONAIS IPRI

Diretor: Conselheiro CARLOS HENRIQUE CARDIM

UNIVERSIDADE DE BRASLIA

Reitor: Professor LAURO MORHY Diretor da Editora Universidade de Braslia: ALEXANDRE LIMA

Conselho Editorial Elisabeth Cancelli (Presidente), Alexandre Lima, Estevo Chaves de Rezende Martins, Henryk Siewierski, Jos Maria G. de Almeida Jnior, Moema Malheiros Pontes, Reinhardt Adolfo Fuck, Srgio Paulo Rouanet e Sylvia Ficher.

IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SO PAULO

DiretorPresidente: SRGIO KOBAYASHI Diretor Vice-Presidente: LUIZ CARLOS FRIGRIO Diretor Industrial: CARLOS N ICOLAEWSKY Diretor Financeiro eAdministrativo: RICHARD VAINBERG

Coordenador Editorial: CARLOS TAUFIK HADDAD

I P R I

TucDIDES

HISTRIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Traduo do Grego: Mrio da Gama Kury

Prefcio: Helio Jaguaribe

Editora Universidade de Brasflla Edies Imprensa Oliclal de So Paulo

Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais

Copyright 1987 Universidade de Braslia

Copyright 1982 Introduo e notas de Mrio da Gama Kury

Direitos desta edio: Editora Universidade de Braslia SCS Q. 02 bloco C n. 78,2. andar 70300-500 Braslia,DF

A presente edio foi feita em forma cooperativa pela Editora Universidade de Braslia com o Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais (IPRI/FUNAG) e a Imprensa Oficial do Estado de So Paulo.

Todos os direitos reservados conforme a lei.Nenhuma parte desta publicao poder ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem autorizao por escrito da Editora Universidade de Braslia.

Equipe tcnica: EIIn SATO (planejamento editorial) EUGNIA D CARLI DE ALMEIDA (Edio grfica) ISABELA MEDEIROS SOARES (Mapas e revises) RAINALDO AMANCIO E SILVA (programao visual)

TUCOIDES (c. 460 - c. 400 a.C) T532h Histria da Guerra do Peloponeso/Tucdides; Prefcio de Helio

Jaguaribe; Trad. do grego de Mrio da Gama Kury. - 4'. edio - Braslia: Editora Universidade de Braslia, Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais; So Paulo: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2001

XLVII, 584 p., 23 em - (Clssicos IPRI, 2)

ISBN: 85-230-0204-9

1 - Grcia; 2 - Histria Antiga; 3 - Guerra do Peloponeso; 4 - Pensamento Poltico Clssico; 5 - Relaes Internacionais - Histria; I. Ttulo. 11. Srie.

CDU -94(38)

SUMRIO

LISTA DOS MAPAS . XXI

PREFCIO . xxm

ApRESENTAO DO lRADUfOR . xu

LIVRO PRIMEIRO

CAPTULOS 1 a 19: O autor passa em revista os tempos primitivos da Hlade, para provar que a guerra do Peloponeso ultrapassou todas as outras em importncia 1

CAPTULOS 20 a 23: Objetivo do autor na redao de sua obra; mtodos e meios adotados por ele para atingir o objetivo 13

CAPTULOS 24 a 31: Acontecimentos causadores da guerra do Peloponeso; incidente de Epdamnos; guerra entre Crcira e Corinto; primeiro combate naval............................................ 16

CAPTULOS 32 a 43: Os corcireus conseguem a aliana com Atenas; discursos dos corcireus e dos corntios 21

CAPTULOS 44 a 55: Segundo combate naval entre os corcireus e os corntios; fim da guerra de Crcira 28

CAPTULOS 56 a 66: Defeco de Potidia; combate travado junto s muralhas da cidade e cerco iniciado pelos atenienses 33

CAPTULOS 67 a 87: Os lacedemnios declaram rompido o tratado existente com Atenas; discursos dos corntios, dos atenienses, de Arqudamos e de Steneladas 37

CAPTULOS 88 a 98: Digresso sobre o perodo decorrido entre as guerras com os persas e a do Peloponeso; crescimento do poderio ateniense; origem e condies de seu imprio 50

CAPTULOS 99 a 125: Os lacedemnios convocam uma assemblia geral de seus aliados e acertam com eles a declarao de guerra aos atenienses; discurso dos corntios 58

CAPTULOS 126 e 127: Queixas e recriminaes recprocas dos lacedemnios e dos atenienses; conjurao de Clon; sacrilgio a expIar 73

CAPTULOS 128 a 134: Traio e morte de Pausnias 75

VIII TUCDIDES

CAPTULOS 135 a 138: Exlio e fim de Temstocles 80 CAPTULO 139: Ultimatum dos lacedemnios 83 CAPTULOS 140 a 146: Os atenienses decidem ir guerra; primeiro

discurso de Pricies 83

LIVRO SEGUNDO

CAPTULOS 1 a 6: Incio da guerra; trama dos tebanos contra Platia .. 89 CAPTULOS 7 a 9: Preparativos e aliados dos dois lados 92 CAPTULO 10: Os peloponsios se renem no istmo 94 CAPTULO 11: Alocuo de Arqudamos 94 CAPTULO 12: Envio intil de um emissrio espartano a Atenas 95 CAPTULO 13: Pricles expe aos atenienses seus planos de guerra 95 CAPTULOS 14 a17: Retirada dos camponeses da tica para a cidade;

digresso sobre as antigas condies da tica 97 CAPTULOS 18 a 25: Primeira invaso da tica pelos peloponsios;

envio de uma frota ateniense para rondar o Peloponeso 100 CAPTULO 26: Expedio naval dos atenienses contra a Lcrida 104 CAPTULO 27: Expulso dos eginetas 104 CAPTULO 28: Eclipse do sol 105 CAPTULO 29: Aliana dos atenienses com Sitalces, rei dos odrsios 105 CAPTULOS 30 a 32: Os atenienses tomam Slion, stacos e Cefalnia,

invadem a Megrida e fortificam a ilha de Atalante 106 CAPTULO 33: Expedio dos corntios contra stacos 107 CAPTULO 34: Funerais dos atenienses mortos em combate no primei

ro ano de guerra... 107 CAPTULOS 35 a 46: Orao fnebre pronunciada por Pricles 108 CAPTULOS 47 a 57: Segundo ano da guerra; segunda invaso da tica

pelos peloponsios; peste em Atenas 114 CAPTULO 58: Envio de reforos ao exrcito ateniense que sitiava

Potidia........ 120 CAPTI1LO 59: Irritao dos atenienses contra Pricles 121 CAPTULOS 60 a 64: Discurso de Pricles 121 CAPTULO 65: Morte de Pricles e apreciao de sua administrao 125 CAPTULO 66: Expedio naval dos peloponsios contra Zcintos 125 CAPTULO 67: Deteno dos representantes dos lacedemnios envia

dos ao rei da Prsia , 127 CAPTULO 68: Expedio dos ambraciotas contra Argos Anfiloquiana., 128

Sumrio IX

CAPTULO 69: Operaes martimas dos atenienses contra o Peloponeso, a Cria e a Lcia. 128

CAPTULO 70: Tomada de Potidia 129 CAPTULOS 71 a 78: Terceiro ano da guerra; cerco de Platia pelos

peloponsios............................................................................................. 129 CAPTULO 79: Derrota dos atenienses em Sprtolos 134 CAPTULOS 80 a 82: Derrota dos peloponsios em Stratos 135 CAPTULOS 83 a 92: Batalhas navais no golfo de Corinto; exortaes

de Brasidas e Frmion 137 CAPTULOS 93 e 94: Tentativa dos peloponsios contra o Pireu 146 CAPTULOS 95 a 101: Expedio de Sitalces Macednia; digresso

sobre o reino dos odrsios 147 CAPTULOS 102 e 103: Expedio de Frmion Acarnnia 152

LIVRO TERCEIRO

CAPTULO 1: Quarto ano da guerra; terceira invaso da tica pelos peloponsios 155

CAPTULOS 2 a 6: Lesbos, exceo de Mtimna, revolta-se contra Atenas 155

CAPTULO 7: Expedio martima dos atenienses contra o Peloponeso, Enadas e Lucade 157

CAPTULOS 8 a 15: Os peloponsios recebem os lsbios em sua aliana; discurso dos representantes de Lesbos 158

CAPTULO 16: Envio de uma frota ateniense contra o Peloponeso 162 CAPTULO 17: Foras martimas reunidas pelos atenienses 162 CAPTULO 18: Os atenienses comeam o cerco de Mitilene 163 CAPTULO 19: Os atenienses impem a primeira contribuio de guer

ra e enviam Lsicles para recolher o tributo entre os aliados.. 163 CAPTULOS 20 a 24: Fuga de parte dos plateus cercados 164 CAPTULO 25: Envio do lacedemnio Sletos a Mitilene 167 CAPTULO 26: Quinto ano da guerra; guarta invaso da tica pelos

peloponsios 167 CAPTULOS 27 e 28: Rendio de Mitilene 168 CAPTULOS 29 a 32: Uma frota peloponsia aparece na Inia 168 CAPTULOS 33 e 34: O ateniense Pagues a persegue 170 CAPTULO 35: Pagues envia para Atenas mil metmnos aprisionados 171 CAPTULO 36: Os atenienses condenam morte todos os mitilnios;

x TUCDIDES

nova assemblia a propsito da deciso 171 CAPTULOS 37 a 40: Discurso de Clon 172 CAPTULOS 41 a 48: Discurso de Didotos 176 CAPTULOS 49 e 50: Os atenienses se limitam a punir os culpados e

confiscar as terras de Lesbos 180 CAPTULO 51: Ncias se apodera de Minoa 181 CAPTULO 52: Rendio de Platia 181 CAPTULOS 53 a 59: Discurso dos pia teus 182 CAPTULOS 60 a 67: Rplica dos tebanos 186 CAPTULO 68: Os plateus so executados e sua cidade arrasada 191 CAPTULOS 69 a 81: Rebelio em Crcira 192 CAPTULOS 82 a 85:Digresso sobre as perturbaes polticas na Hlade.. 197 CAPTULO 86: Envio de uma frota ateniense Siclia. 201 CAPTULO 87: Recrudesce a peste em Atenas no inverno 201 CAPTULO 88: Expedio dos atenienses Siclia e dos rgios contra as

ilhas de olos .. 202 CAPTULO 89: Sexto ano da guerra; terremotos e inundaes em vrias

partes da Hlade 202 CAPTULO 90: Os atenienses se apoderam de Messene 204 CAPTULO 91: Expedio martima contra Melos 204 CAPTULOS 92 e 93: Fundao de Heraclia Traquinia 205 CAPTULOS 94 a 98: Expedio mal sucedida de Demstenes Etlia.. 206 CAPTULO 99: Expedio dos atenienses contra a Lcrida 208 CAPTULOS 100 a 102: Tentativa fracassada dos lacedemnios e dos

etlios contra Nupactos 208 CAPTULO 103: Combates na Siclia 210 CAPTULO 104: Purificao de Delos 210 CAPTULOS 105 a 114: Guerra dos acarnnios e dos ambraciotas 211 CAPTULO 115: A situao na Siclia 217 CAPTULO 116: Erupo do Etna 217

LIVRO QUARTO

CAPITuLo 1:Stimo ano da guerra; captura de Messene pelos siracusanos.. 219 CAPTULOS 2 a 6: Quinta invaso da tica pelos peloponsios;

Demstenes fortifica Pilos 219 CAPTULO 7: ion, na Calcdice, capturada e perdida pelos atenienses.. 222 CAPTULOS 8 e 9: Ataque dos lacedemnios a Pilos 222

Sumrio XI

CAPTULO 10: Exortao de Demstenes a seus soldados 224 CAPTULOS 11 a 14: Combate junto s muralhas de Pilos; bloqueio de

tropas lacedemnias na ilha de Sfactria 225 CAPTULOS 15 e 16: Armistcio 227 CAPTULOS 17 a 20: Discurso dos lacedemnios em Atenas 228 CAPTULOS 21 a 23: Reincio das hostilidades 230 CAPTULOS 24 e 25: Eventos militares na Siclia 231 CAPTULOS 26 a 41: Clon assume o comando dos atenienses em Pilos

e aprisiona os lacedemnios de Sfactria 233 CAPTULOS 42 a 45: Expedio naval dos atenienses a Corinto 243 CAPTULOS 46 a 48: Novas desordens em Crcira; massacre do parti

do aristocrtico 245 CAPTULO 49: Captura de Anactrion pelos atenienses e acarnnios.. 247 CAPTULO 50: Deteno de um embaixador do rei da Prsia pelos

atenienses 247 CAPTULO 51: Demolio das muralhas de Quios 247 CAPTULO 52: Oitavo ano da guerra; os banidos de Mitilene capturam

ntandros 247 CAPTULOS 53 a 55: Os atenienses conquistam Citera 248 CAPTULO 56: Captura de Tiria pelos atenienses 249 CAPTULOS 57 a 65: Os helenos da Siclia fazem a paz entre si; discurso

de Hermcrates 250 CAPTULOS 66 a 74: Os atenienses capturam Nisia e as longas mura

lhas de Mgara 255 CAPTULO 75: Os atenienses retomam ntandros; revs de Lmacos

no Pontos............................................................................................ 261 CAPTULO 76: Trama dos atenienses contra a Becia 261 CAPTULOS 77 a 82: Brasidas conduz um exrcito peloponsio at a

Trcia por terra 262 CAPTULO 83: Expedio de Brasidas contra Arrbeos, rei dos lincstios.. 265 CAPTULOS 84 a 88: Brasidas captura cantos; seu discurso aos acntios.. 266 CAPTULOS 89 a 91: Os atenienses fortificam Dlion 269 CAPTULO 92: Exortao de Pagondas aos becios 270 CAPTULOS 93 e 94: Preparativos para o ataque 271 CAPTULO 95: Exortao de Hipcrates aos atenienses 272 CAPTULOS 96 a 101: Batalha de Dlion; derrota dos atenienses; captu

ra de Dlion pelos becios 272 CAPTULOS 102 a 108: Brasidas captura Anfpolis 276

XII TUCDIDES

CAPTULO 109: Avano de Brasidas pela costa da Trcia 281 CAPTULOS 110 a 116: Brasidas captura Torone e Lcitos 282 CAPTULOS 117 a 119: Nono ano da guerra; trgua entre Atenas e a

Lacedemnia 284 CAPTULOS 120 a 123: Defeco de Cione e Mende, apoiada por

Brasidas apesar da trgua 287 CAPTULOS 124 a 128: Segunda expedio de Brasidas e Perdicas con

tra Arrbeos 289 CAPTULOS 129 a 131: Os atenienses retomam Mende e sitiam Cione.. 293 CAPTULO 132: Perdicas se reconcilia com os atenienses 295 CAPTULO 133: Os tebanos destroem as muralhas de Tspis; incndio

no templo de Hera em Argos 295 CAPTULO 134: Combates entre os mantineus e os tegeus 296 CAPTULO 135: Tentativa de Brasidas contra Potidia 296

LIVRO QUINTO

CAPTULO 1: Dcimo ano da guerra; os atenienses expulsam os dlios

da ilha de Delos . 297 CAPTULOS 2 e 3: Clon retoma Torone 297 CAPTULOS 4 e 5: Embaixada dos atenienses Siclia 299 CAPTULOS 6 a 8: Clon marcha contra Anfpolis 300 CAPTULO 9: Exortao de Brasidas s suas tropas 302 CAPTULOS 10 e 11: Batalha de Anfpolis; morte de Clon e Brasidas .. 303 CAPTULOS 12 e 13: Ranfias parte da Lacedemnia com reforos des

tinados ao exrcito na Trcia; notcias tranqilizadoras o le

vam a regressar. 305 CAPTULOS 14 a 17: Gestes preliminares para a paz 305 CAPTULOS 18 a 20: Tratado de paz entre os atenienses e lacedemnios 308 CAPTULO 21: Clearidas se recusa a entregar Anfpolis .. 310 CAPTULOS 22 a 24: Aliana entre Atenas e a Lacedemnia 311 CAPTULOS 25 e 26: Dcimo primeiro ano da guerra; observaes

cronolgicas sobre a durao da guerra do Peloponeso ...... 312 CAPTULOS 27 e 28: Os argivos chefiam uma aliana oposta aos lacede

rnnios 314 CAPTULO 29: Mantinia adere aliana de Argos 314 CAPTULO 30: Os lacedemnios tentam inutilmente engajar Corinto e

a Becia no tratado de paz concludo por eles com Atenas.. 315

Sumrio XIII

CAPTULO 31: Os eleus e os corntios aderem liga de Argos 316 CAPTULO 32: Os atenienses retomam Cione; os tegeatas e os becios

se recusam a aderir aliana de Argos 316 CAPTULO 33: Expedio da Lacedemnia contra os parrsios 317 CAPTULO 34: Recompensas conferidas aos soldados de Brasidas;

degradao dos prisioneiros de Sfactria 318 CAPTULO 35: Captura de Tissos pelos dios 318 CAPTULOS 36 a 38: Intrigas dos foros para romper a paz 319 CAPTULO 39: Os lacedemnios concluem uma aliana em separado

com os becios 321 CAPTULOS 40 e 41: Dcimo segundo ano da guerra; entendimentos

entre Argos e a Lacedemnia 321 CAPTULOS 42 a 47: Os becios arrasam Pnacton antes de entreg-la

aos atenienses; estes, irritados com os lacedemnios por isto, concluem uma aliana com Argos, Mantinia e lis 322

CAPTULO 48: Corinto se reconcilia com os lacedemnios 327 CAPTULOS 49 e 50: Desentendimento entre os eleus e os lacedemnios

a propsito de Lepron 328 CAPTULO 51: Derrota dos heracleotas 329 CAPTULO 52: Dcimo terceiro ano da guerra; expedio de Alcibades

contra o Peloponeso 330 CAPTULOS 53 a 55: Guerra entre Argos e Epdauros 330 CAPTULO 56: Os lacedemnios socorrem os epidurios; por este motivo

os atenienses declaram o tratado rompido 331 CAPTULOS 57 a 60: Dcimo quarto ano da guerra; expedio dos

lacedemnios contra Argos; trgua de quatro meses 332 CAPTULOS 61 e 62: Reincio das hostilidades; os argivos capturam

Orcmenos e ameaam Tegia 334 CAPTULOS 63 e 64: Os lacedemnios socorrem os tegeatas 335 CAPTULOS 65 a 74: Batalha de Mantinia; vitria dos lacedemnios 336 CAPTULO 75: Hostilidades entre Argos e Epdauros 341 CAPTULOS 76 a 79: Paz e aliana entre os lacedemnios e os argivos 342 CAPTULOS 80 e 81: Dissoluo da aliana de Argos 344 CAPTULO 82: Dcimo quinto ano da guerra; revoluo democrtica

em Argos; aliana entre Argos e Atenas 345 CAPTULO 83: Expedio dos lacedemnios contra Argos e dos argivos

contra a Flisia 346 CAPTULO 84: Dcimo sexto ano da guerra; expedio dos atenienses

XIV TUCDIDES

contra a ilha de Melos 346 CAPTULOS 85 al13: Dilogo entre os atenienses e os mlios 347 CAPTULO 114: Cerco de Melos 353 CAPTULO 115: Diversas atividades dos argivos, dos atenienses, dos

lacedemnios e dos corntios 354 CAPTULO 116: Captura de Melos pelos atenienses; tratamento cruel

infligido a MeIos 354

LIVRO SEXTO

CAPTULOS 1 a 6: Os atenienses planejam a conquista da Siclia; extenso, populao e colonizao da ilha 355

CAPTULO 7: Expedies dos lacedemnios Arglida e dos atenienses Macednia 359

CAPTULO 8: Dcimo stimo ano da guerra; os atenienses propem o envio de uma frota Siclia para socorrer os egesteus e restituir aos leontinos a sua cidade 359

CAPTULOS 9 a 14: Ncias se ope expedio 360 CAPTULOS 15 a 18: Alcibades, ao contrrio, a recomenda 363 CAPTULO 19: Os atenienses votam favoravelmente expedio Siclia.. 367 CAPTULOS 20 a 23: Ncias tenta dissuadi-los alegando o vulto dos

prepativos 367 CAPTULOS 24 e 25: Seu discurso produz o efeito contrrio 369 CAPTULO 26: Comeam os preparativos 370 CAPTULOS 27 a 29: Mutilao das Hermas 370 CAPTULOS 30 a 32: Partida da frota ateniense 372 CAPTULOS 33 e 34: Em Siracusa Hermcrates anuncia a aproximao

dos atenienses e prope medidas de defesa 374 CAPTULOS 35 a 40: Atengoras tenta refut-lo, exprimindo os senti

mentos da faco popular 377 CAPTULO 41: Um dos comandantes pe termo ao debate 379 CAPTULOS 42 a 44: A viagem da frota ateniense 380 CAPTULO 45: Preparativos dos siracusanos 381 CAPTULOS 46 a 49: Os comandantes atenienses se renem em conse

lho de guerra 381 CAPTULOS 50 a 52: Naxos e Catana se declaram a favor dos atenienses.. 384 CAPTULO 53: Alcibades chamado de volta a Atenas 386 CAPTULOS 54 a 59: Digresso sobre os pisistrtidas e Harmdios e

Sumrio xv

Aristgiton 386 CAPTULOS 60 e 61: Alcibades foge e condenado revelia 390 CAPTULO 62: Captura de Hcara 392 CAPTULOS 63 a 71: Os atenienses desembarcam perto de Siracusa,

derrotam os siracusanos e regressam a Catana 392 CAPTULOS 72 e 73: Os siracusanos pedem ajuda a Corinto e Lacede

mnia................................................................................................. 397 CAPTULO 74: Os atenienses passam o inverno em Naxos 398 CAPTULO 75: Os siracusanos se fortificam 399 CAPTULOS 76 a 87: Embaixadas dos dois lados em Camarina; discur

sos de Hermcrates e ufemos 399 CAPTULO 88: Corinto e a Lacedemnia decidem apoiar Siracusa 406 CAPTULOS 89 a 92: Discurso de Alcibades 408 CAPTULO 93: Glipos indicado pelos lacedemnios para ir coman

dar os siracusanos 411 CAPTULOS 94 e 95: Atividades parciais dos atenienses e dos lacedemnios. 411 CAPTULOS 96 e 97: Os atenienses se instalam em Eppolas e comeam

a sitiar Siracusa 412 CAPTULOS 98 a 103: Os atenienses iniciam o amuralhamento de Siracusa;

os siracusanos tentam sem sucesso opor-se a tal iniciativa 413 CAPTULO 104: Glipos chega Itlia com reforos 417 CAPTULO 105: Os lacedemnios invadem a Arglida; os atenienses

devastam a costa da Lacnia; rompimento ostensivo da paz... 418

LIVRO STIMO

CAPTULOS 1 a 3: Glipos chega a Siracusa, passando por Himera 419 CAPTULO 4:Os siracusanos constroem uma muralha cruzando Eppolas;

os atenienses fortificam Plemrion 421 CAPTULOS 5 e 6: Dois combates terrestres; no primeiro os siracusanos

so vencidos, no segundo so vencedores 421 CAPTULO 7: Chegada da frota corntia a Siracusa 423 CAPTULO 8: Ncias pede reforos a Atenas em carta 423 CAPTULO 9: Expedio dos atenienses contra Anfpolis 423 CAPTULOS 10 a 15: Chega a Atenas a carta de Ncias; seu contedo... 424 CAPTULOS 16 a 18: Eurmedon e Demstenes so enviados Siclia

com reforos 426 CAPTULO 19: Dcimo nono ano da guerra; os lacedemnios invadem

XVI TUCDIDES

a tica e forticam Decleia 428 CAPTULO 20: Envio de uma frota ateniense ao litoral do Peloponeso.. 429 CAPTULO 21: Glipos convence os siracusanos a tentarem uma bata

lha naval............................................................................................. 429 CAPTULOS 22 a 24: Ataque a Plemrion por terra e por mar; Glipos

captura os fortes; a frota siracusana repelida 430 CAPTULO 25: Os siracusanos enviam doze naus Itlia 432 CAPTULO 26: Os atenienses fortificam um promontrio na Lacnia

em frente a Citera 433 CAPTULOS 27 a 30: Mercenrios trcios saqueiam Miclessos 433 CAPTULO 31: Demstenes recebe mais tropas em Crcira 436 CAPTULO 32: Os scelos interceptam reforos destinados aos siracusanos. 437 CAPTULO 33: Toda a Siclia, exceto Acrags e os aliados de Atenas,

formam uma coalizo com Siracusa 437 CAPTULO 34: Combate naval no golfo de Corinto 438 CAPTULO 35: Demstenes e Eurmedon na Itlia 439 CAPTULOS 36 a 41: Duas batalhas navais no grande porto de Siracusa;

na segunda os atenienses levam a pior. 440 CAPTULO 42: Demstenes e Eurmedon chegam ao acampamento

dos atenienses..... 443 CAPTULOS 43 a 45: Ataque noturno a Eppolas; derrota dos atenienses 444 CAPTULO 46: Os siracusanos pedem novos reforos ao resto da Siclia.. 447 CAPTULOS 47 a 49: Os comandantes atenienses se renem em conse

lho de guerra.............. 447 CAPTULOS 50 e 51: Os atenienses, na iminncia de retirar-se, adiam a

partida por causa de um eclipse da Lua. 449 CAPTULOS 52 a 54: Grande batalha em terra e no mar; derrotas dos

atenienses 451 CAPTULOS 55 e 56: Seu desalento; esperanas do inimigo 452 CAPTULOS 57 e 58: Enumerao dos aliados dos dois lados 453 CAPTULO 59: Fechamento do porto de Siracusa 455 CAPTULO 60: Os atenienses abandonam suas posies em terra e se

preparam para um combate naval 456 CAPTULOS 61 a 64: Exortao de Ncias aos atenienses 457 CAPTULO 65: Preparativos dos siracusanos 459 CAPTULOS 66 a 68: Exortao de Glipos 459 CAPTULO 69: Nova exortao de Ncias 461 CAPTULOS 70 e 71: ltimo combate naval; derrota dos atenienses 461

Sumrio XVII

CAPTULOS 72 a 74: Os atenienses decidem retirar-se por terra; ardil de Hermcrates para ret-los 464

CAPTULOS 75 e 76: Evacuao do acampamento pelos atenienses 466 CAPTULO 77: Exortao de Ncias 467 CAPTULOS 78 a 80: Retirada dos atenienses 468 CAPTULOS 81 e 82: Capitulao de Demstenes 470 CAPTULOS 83 a 85: Massacre da diviso de Ncias na travessia do rio

Assnaros; Ncias se entrega a Gilipos 472 CAPTULOS 85 a 87: Morte de Ncias e de Demstenes; destino deplo

rvel dos prisioneiros 473

LIVRO OITAVO

CAPTULO 1: Consternao em Atenas com a notcia do desastre na Siclia 477

CAPTULO 2: Excitao geral dos helenos para participarem mais ativamente da guerra 477

CAPTULO 3: Expedio de gis contra os eteus 479 CAPTULO 4: Preparativos dos atenienses para a sua defesa 479 CAPTULO 5:A Eubia, Lesbos, Quios e Eritras manifestam intenes

de rebelar-se contra Atenas 480 CAPTULO 6: Os lacedemnios decidem apoiar primeiro Quios 481 CAPTULOS 7 a 11: Vigsimo ano da guerra; os lacedemnios enviam

uma frota a Quios; os atenienses bloqueiam essa frota no porto de Preon, em Corinto 482

CAPTULO 12: Alcibades mandado pelos lacedemnios Inia 484 CAPTULO 13: Regresso da frota peloponsia da Siclia a Corinto 484 CAPTULOS 14 a 17: Defeco de Quios, de Eritras, de Clazomene e

de Mletos 485 CAPTULO 18: Primeiro tratado de aliana dos lacedemnios com o

rei da Prsia.... 487 CAPTULOS 19 e 20: Operaes dos atenienses contra Quios 487 CAPTULO 21: Insurreio democrtica em Samos 488 CAPTULOS 22 e 23:Tentativa infrutfera dos peloponsios contra Lesbos;

os atenienses dominam Clazomene 488 CAPTULOS 24 a 27: Guerra em torno de Mletos 490 CAPTULO 28: Os peloponsios ajudam Tissafernes a tomar asos e a

prender Amorges 492

XVIII TUCDIDES

CAPTULO 29: Tissafernes dirige-se a Mletos e entra em negociaes a respeito dos subsdios a fornecer aos lacedemnios 493

CAPTULO 30: Parte da frota ateniense se desloca de Samos para Quios 494 CAPTULO 31: Os peloponsios atacam sem sucesso Ptelon e

Clazomene 494 CAPTULO 32: Lesbos negocia sua defeco 494 CAPTULOS 33 e 34: A frota ateniense que fora de Samos para atacar

Quios dispersada por uma tempestade 495 CAPTULO 35: Os peloponsios fracassam no ataque a Quios 496 CAPTULOS 36 e 37: Segundo tratado de aliana entre os lacedemnios

e o rei da Prsia 496 CAPTULO 38: Os atenienses chegam a Quios 497 CAPTULO 39: Os peloponsios enviam uma frota a Farnbazos 498 CAPTULOS 40 a 42: Astocos desbarata uma flotilha ateniense perto de

Cnidos 498 CAPTULO 43: Os conselheiros lacedemnios desaprovam o tratado

concludo com Tissafernes 500 CAPTULO 44: Defeco de Rodes 501 CAPTULOS 45 e 46: Alcibades, suspeito aos peloponsios, passa a

apoiar Tissafernes e o persuade a ficar eqidistante entre os dois lados 501

CAPTULO 47: Primeiras gestes de Alcibades para conseguir retornar a Atenas 503

CAPTULOS 48 a 54: Conjurao em Samos a favor do retorno de Alcibades e da abolio da democracia em Atenas 503

CAPTULO 55: Os atenienses atacam Rodes e bloqueiam Quios 508 CAPTULO 56: Gesto infrutfera de Psandros junto a Tissafernes e

Alcibades.... 508 CAPTULOS 57 a 59: Tissafernes conclui o terceiro tratado com os

peloponsios 509 CAPTULO 60: Os becios capturam ropos 510 CAPTULO 61: Vigsimo primeiro ano da guerra; os quianos travam

uma batalha naval sem resultados decisivos com os atenienses... 511 CAPTULO 62: Defeco de bidos e de Lmpsacos; os atenienses

retomam Lmpsacos 511 CAPTULOS 63 a 71: Psandros e os conjurados estabelecem a oligar

quia primeiro em Samos e depois em Atenas; governo dos Quatrocentos 511

Sumrio XIX

CAPTULOS 72 a 77: A frota ateniense em Sarnas se declara a favor da democracia.............. 517

CAPTULOS 78 e 79: Descontentamento dos peloponsios com Astocos. 521 CAPTULO 80: Defeco de Bizncio 522 CAPTULOS 81 e 82: Alcibades, chamado pelas tropas atenienses, volta

a Samos, onde eleito comandante 522 CAPTULOS 83 a 85: Oposio do exrcito peloponsio em Mletos

contra Astocos; substituio de Astocos por Mndaros ..... 524 CAPTULO 86: Emissrios dos Quatrocentos chegam a Samos e ten

tam, sem sucesso, induzir as tropas a aceitarem o governo oligrquico 524

CAPTULOS 87 e 88: Tissafernes e Alcibades vo a spendos buscar a frota fencia 527

CAPTULOS 89 a 93: Oposio em Atenas ao estabelecimento da oligarqwa 528

CAPTULOS 94 a 96: Uma flotilha peloponsia leva a Eubia a rebelar-

se 533

CAPTULOS 97e 98: Os atenienses depem os Quatrocentos e constituem um governo composto de cinco mil cidados 535

CAPTULOS 99 a 103: Os peloponsios se dirigem ao Helspontos a convite de Farnbazos 536

CAPTULOS 104 a 106: Batalha naval de Cinossema, vencida pelos atenienses 539

CAPTULO 107: Os atenienses recuperam Czicos 540 CAPTULOS 108 e 109: Regresso de Alcibades e de Tissafernes;

Tissafernes vai para o Helspontos 541

NDICE 543

LISTA DOS MAPAS

o MUNDO GREGO 2 GRCIA OCIDENTAL 18 MAR EGEU 51 PIREU E AS MURALHAS.... 55 O PELOPONESO 71 TICA E ARREDORES... 98 O GOLFO DE CORINTO 141 SICLIA E SUL DA ITLIA 203 PILOS E SFACTRIA 221 CALCDICE 277 MACEDNIA E TRCIA 298 SIRACUSA E SEU PORTO............ 385 SIA MENOR OCIDENTAL 478

Tucdides e a Histria da Guerra do Peloponeso

Helio Jaguarihe

INTRODuAo

ESTE PREFCIO Histria da Guerra do Peloponeso", de Tucdides, na terceira edio, pela Editora Universitria de Braslia, agora associada ao IPRI e Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, da excelente traduo do original grego de Mario da Gama Cury, visa a proporcionar uma sucinta indicao sobre a obra e a vida do historiador, situando-os no seu contexto histrico. Tem-se em vista, mais particularmente, discutir, brevemente, os antecedentes remotos e prximos daquele grande e longo conflito que, opondo letalmente as duas principais cidades-estado da Hlade e seus respectivos aliados, gerou as condies que conduziriam ao declnio da Grcia clssica, hegemonia macednica e, a longo prazo, final dominao da Grcia por Roma. Arrasada pela guerra, Atenas jamais recuperou, depois de 404 a.C., sua precedente capacidade de liderana, no obstante um momento de relativo ressurgimento, no sculo I~ com a denominada Segunda Liga Ateniense.

Vencedora da guerra, com a relevante ajuda do "ouro persa", Esparta se revelou incapaz de liderar a Grcia. No se resignando, de conformidade com suas tradies e instituies, a refluir para sua natural rea de predomnio no Peloponeso, deixando as cidades gregas se auto-regularem, Esparta, que contara com amplo apoio para sua proclamada inteno de liberar a Hlade do imperialismo ateniense, pretendeu, sem condies culturais para tal necessrias, se substituir a Atenas na direo da Grcia. Em vez de uma liderana esclarecida, exerceu uma hegemonia desptica, controlada por seus harmostes, que provocou geral repulsa e a bem sucedida reao de Tebas, com Epaminondas, a que se seguiu a Segunda Liga Ateniense e, subseqentemente, a emergncia da hegemonia macednica sob Felipe 11.

1 No presente texto utilizar-se- a letra "H" para designar a obra de Tucdides, nmeros em romano e em arbico para indicar, respectivamente, o Livro e o captulo em referncia.

XXIV TUCDIDES

TUCDIDES

extremamente escassa a informao que se dispe sobre Tucdides, toda procedente de indicaes por ele mesmo dadas em sua Histria. Induz-se que nasceu entre 460 e 455 a.C. Sabe-se que era natural do deme de Halimunte, em Atenas, filho de Olorus. Este, por linha materna, era descendente de uma famlia nobre da Trcia, aparentada de Cmon e do estadista Tucdides, filho de Melesias. O historiador pertencia aristocracia de Atenas, tendo recebido correspondente educao e valiosa herana de seu pai, dono de uma mina de ouro na Trcia. Embora sua famlia fosse hostil a Pricles, Tucdides dele se tornou um ardoroso partidrio.

Discpulo de Anaxgoras, Tucdides foi amigo de Gorgias e Protgoras, de Antfon, de Sfocles e de Eurpides. Por sua educao e por suas ilustradas amizades adquiriu uma ampla cultura e desenvolveu o excelente comando de sua lngua que revelaria na Histria.

Tucdides contraiu a peste que assolou Atenas de 430 a 429, vitimando Pricles em 429, mas dela se recuperou. Em 424 foi eleito um dos dez estrategos, sendo-lhe confiada a defesa de Anfpolis, na Calcdice. Foi surpreendido, entretanto, por um sbito ataque de Brasidas, que conquistou a cidade. Destitudo da funo, foi exilado e passou vinte anos no exlio, principalmente em sua propriedade na Trcia. Regressou a Atenas com a anistia de 404, vindo a falecer pouco depois, vtima de assaltantes de estrada, na prpria Trcia.

Escreveu no exlio sua Histria da Guerra do Peloponeso, por entender que "ela seria grande e mais importante que todas as anteriores "(H.I.1). Opostamente a Alcibades que, condenado in absentia pelos atenienses, se bandeou para Esparta, revelando segredos da expedio Siclia, que precedentemente comandara, o que muito contribuiria para seu malogro, Tucdides sempre se conservou (como Cmon, no ostracismo) fiel a Atenas. Seu patriotismo, todavia, no impediu o historiador de ser extremamente objetivo e imparcial na narrativa da Guerra do Peloponeso. Reconheceu, inclusive, o valor do general espartano que o derrotou (H.II.25).

A OBRA

A guerra do Peloponeso durou vinte e sete anos (431-404 AC.). Tucdides, que lhe iniciara o relato desde seus primrdios, foi impedido pela morte de completar sua narrativa, interrompida no 21. 0 ano do conflito, em 410.

Prefcio xxv

Xenofonte, em suas Helnicas, continuaria a narrao a partir de quando Tucdides a interrompeu.

A obra consta de oito partes ou livros, cada qual contendo numerosos pequenos captulos, 917 no total. Esses oito livros cobrem cinco temas ou perodos. O livro I, com 146 captulos, contm uma Introduo, na qualo autor define seus objetivos, resume as etapas formativas da Grcia, apresenta os antecedentes do conflito e narra as ocorrncias que antecederam declarao de guerra pelos atenienses, transcrevendo, a seu modo, o discurso de Pricles incitando luta. O Livro lI, com 103 captulos, aborda o primeiro conflito, que durou dez nos. Os Livros III (116 captulos), IV, com 135 e os captulos 1 a 24 do Livro V, tratam da precria trgua que se sucedeu Paz de 30 Anos de 446-5. Os captulos 25 a 116 do Livro V e os Livros VI, com 105 captulos e VII, com 87 captulos, descrevem e analisam a guerra siciliana. O Livro VIII discute os eventos que se seguiram ao desastre de Siclia at a batalha naval de Cinossema, vencida pelos atenienses. A, por causa de sua morte, se interrompeu a Histria de Tucdides.

Tucdides foi o primeiro historiador moderno e o primeiro analista crtico de relaes internacionais. Como Ranke, pretendia relatar, objetivamente, os fatos como haviam ocorrido. Como os sucessores culturalistas deste, aspirava a interpretar as motivaes e a explicar as circunstncias que condicionaram os eventos que narrava. Sua preocupao com a motivao dos protagonistas o levou a expor os discursos que teriam pronunciado para justificar seus atos ou incentivar a prtica dos que almejavam realizar. Quando, como usualmente ocorria, no dispusesse de registro das palavras que haviam sido pronunciadas, Tucdides leva seus personagens a dizer aquilo que, dadas as circunstncias, seriam supostos ter dito (H.I.22). A famosa orao fnebre de Pricles (H.II.35-46) em que declara Atenas a escola da Grcia, um dos mais tpicos exemplos de genial reconstruo de discursos por Tucdides.

ANTECEDENTES REMOTOS

Tucdides acompanhou, diretamente ou de perto, grande parte dos sucessos que narra, sempre particularmente cuidadoso no levantamento dos dados. Sua competncia em assuntos da guerra, por outro lado, permitiram-lhe acurada descrio das operaes militares.

A compreenso dos eventos que conduziram guerra do Peloponeso, como bem o compreendeu Tucdides, requer se leve em conta seus antece

XXVI TUCDIDES

dentes remotos (H.I.88-98), ademais dos prximos e dos mais imediatos. Aqueles decorrem, mais particularmente, do modo pelo qual foi conduzida a final expulso dos persas, depois da vitria de Leotiquidas em Micale, em 479 AC., mas se prendem, originariamente, ao acordo ajustado pelos gregos em 481, no istmo do Corinto, face invaso persa.

Xerxes, sucedendo seu pai Dario em 486, exige dos gregos o ato simblico de submisso, oferecendo-lhe "terra e gua". Como a maioria dos Estados se tenha recusado a faz-lo, Xerxes decide enviar uma poderosa expedio punitiva Grcia, visando particularmente Atenas. Em 484 inicia seus preparativos, mobilizando, segundo Herdoto'', 1.700.000 homens. Historiadores modernos reduzem esse contingente a menos de dez por cento desse nmero:' mas aceitam como provvel o nmero de 1.2074 naves reunidas pelos persas, sendo construdas em 480 duas pontes sobre barcos atravessando o Helsponto e aberto um canal na pennsula do Acre, na Calcdice.

Alarmados ante esses preparativos, os gregos convocam um congresso pari-helnico que se reuniu em 481 no istmo de Corinto, a que compareceram quase todas as cidades-estado. Os gregos que decidiram resistir, uma trintena de cidades-estado, compreendendo, notadamente, a Liga do Peloponeso, fundada no sculo VI e Atenas e seus aliados inios, formaram uma aliana e juraram mtua defesa e comum ao contra os persas, com pronta suspenso de querelas recprocas, como a corrente guerra entre Atenas e Egina. Delegou-se a Esparta o comando das operaes. Decidiu-se, em seguida, escolher o stio mais adequado para posicionar a primeira linha de resistncia da Grcia. Os gregos setentrionais, mais imediatamente expostos agresso persa, requereram que essa linha se situasse ao norte da Tesslia. Constatou-se, entretanto, que essa posio era indefensvel. Decidiu-se, assim, defender a Grcia mais ao sul, numa linha que, para a defesa terrestre, se situasse entre os desfiladeiros das Termpilas e o promontrio do Artemision, junto ao qual a marinha se posicionaria no canal do Oreos. Essa deciso, todavia, alienou o apoio dos tesslios.

O acordo do istmo de Corinto foi, basicamente, uma aliana entre Esparta e demais membros da Liga do Peloponeso e Atenas e seus aliados inios. Representou, implicitamente, uma adeso de Atenas Liga do Peloponeso. Essa aliana seria decisiva para permitir a vitoriosa resistncia grega ao assalto persa. Seria igualmente decisiva para regular os assuntos

2 H istria, Livro 7 60 3 Cf. Edouard Wi11, Le Monde Cru (el L'Occidenf - Le V'M' Sicle, Tomo 1), Paris, PUF, (1972), 1994, pg. 105 4 Herdoto, Hisfna, Livro 7 8

Prefcio XXVII

internacionais e domsticos da Grcia no perodo subsequente derrota persa de Platia (479).

ANTECEDENTES PRXIMOS

o perodo que se segue vitria de Pausnias, em Platia, marcado pela transferncia da liderana grega a Atenas, sob a conduta de Cmon, filho de Milciades, o vencedor de Maratona. A transferncia da liderana de Esparta a Atenas se prende, por um lado, conduta desptica de Pausnias, depois de este haver reconquistado Bizncio em 479 e, subseqentemente, comprovao de suas intrigas com os persas. Por outro lado, ao fato concomitante de Esparta no querer se envolver nas distantes operaes navais que se tornavam necessrias para a final expulso dos persas do Egeu.

A conduta desptica de Pausnias, como comandante das foras gregas, depois da reconquista de Bizncio, alienou o apoio dos inios e foi vista, pelos prprios espartanos, como inadmissvel, valendo-lhe uma primeira condenao e a implcita aceitao, por Esparta, da transferncia da liderana a Atenas para as subsequentes operaes contra os persas. O fato de se comprovar, posteriormente, que Pausnias, movido pela ambio de se tornar efetivamente um dspota, havia entrado em confabulaes com o prprio Xerxes e seu strapa Artabazus, levaram os foros a uma segunda condenao. Fugindo da sentena, Pausnias se refugiou numa dependncia do santurio Atena do Templo de Bronze" o que levou os foros a determinar seu emuralhamento, assim o deixando morrer de inanio.

No que se refere guerra contra os persas, depois de vitria de Leotiquidas de 479, em Micale, a tarefa que restava para sua final expulso requeria o emprego de uma importante frota, que teria de operar longe da Grcia continental, particularmente, do Peloponeso. Potncia terrestre, que necessitava conservar importantes contingentes no Peloponeso, para manter a subjugao dos hilotas, Esparta no se disps a empreender as operaes navais em questo e acedeu em que Atenas, sua aliada, o fizesse.

Atenas, para esse efeito, organizou, sob a coordenao de Aristides, o Justo, a Confederao de Delos (478-477), mobilizando uma grande frota, que foi confiada ao comando de Cmon. Este conduziu brilhantemente os confederados. Iniciando com uma expedio Trcia e a conquista das fortalezas costeiras dos persas, concluiu sua campanha com a grande vitria naval do rio Eurmedon, em 466, na costa sul da sia Menor.

5 H. I. 134.

XXVIII TUCDIDES

A confederao de Delos, tal como urdida por Aristides, se baseava numa aliana das cidades-estado da Inia com Atenas, para o fim de ultimar a expulso dos persas e proteger a Grcia de possveis futuras agresses. Cada membro contribuiu com um nmero de naves ou com correspondente soma em dinheiro (phoros), calculada a contribuio em funo do tributo precedentemente cobrado pela Prsia". Com o correr do tempo, entretanto, a Liga de Delos se foi convertendo num imprio ateniense, de que os aliados eram compelidos a participar e para a qual eram forados a pagar a contribuio que fora fixada por Aristides, convertendo-se esta, praticamente, num tributo.

A liderana de Cmon em Atenas se caracterizou por seus esforos no sentido de preservar a aliana com Esparta, apresentando a Liga como uma continuao, sob a direo de Atenas, do acordo antipersa do istmo de Corinto de 481, o que assim foi entendido por Esparta, que no se ops gradual converso da Liga em um imprio ateniense. de notar-se que a liderana de Esparta sobre as cidades do Peloponeso, embora respeitando a autodeterminao destas, tinha, tambm, um implcito carter coercitivo.

Foi dentro desse esprito de preservao da aliana com Esparta que Cmon logrou, embora com dificuldade, o acordo da Assemblia para atender ao apelo de ajuda de Esparta, na Terceira Guerra Messriia (464-461), a ela enviando um contingente de quatro mil hoplitas.

Cmon, ademais de admirar as qualidades espartanas e desejar que fossem, de certo modo, incorporadas pelos atenienses, entendia, com grande lucidez, que a aliana entre Atenas e Esparta era fundamental para ambas e para a unidade grega7 Esparta, potncia terrestre e agrcola, sem interesses externos ao Peloponeso e Atenas, potncia martima, comercial e cultural, com grandes interesses internacionais, no tinham motivos para se antagonizarem e se fortaleciam reciprocamente - com sua aliana. Foi essa poltica de Cmon, enquanto perdurou sua liderana sobre Atenas, que levou Esparta a no se sentir ameaada pelo imprio ateniense, no obstante certo cime dos espartanos como prestgio internacional daquela.

A situao poltica de Atenas, entretanto, se foi modificando em conseqncia mesmo de seu fortalecimento naval. Enquanto o poder da Atenas de Milciades repousava nos hoplitas que derrotaram os persas em Maratona, o poder da Atenas de seu filho Cmon se baseava na frota, dizer, nos

6 A contribuio bsica era de 460 talentos anuais de prata. O talento tico pesava 25,8kg. As pequenas cidades tinham o direito de se reunirem para, coletivamente, pagar essa contribuio. 7 Essa tese, cerca de cem anos mais tarde, seria, de forma teoricamente correta mas praticamente invivel, novamente sustentada por Isocrates, em seu Panegrico de 380.

Prefcio XXIX

thetes que compunham a tripulao de 174 remadores de cada trirreme e que operavam os estaleiros navais. Foi assim que se formou uma faco popular, sob a liderana de Efialdes, secundado pelo ento jovem Pricles, que veio a prevalecer sobre os segmentos mais conservadores que apoiavam Cmon.

O momento de inflexo na liderana deste se deu durante sua expedio de apoio a Esparta, em 462. Durante sua ausncia Efialdes logrou a aprovao de importantes reformas, limitando substancialmente o poder do Arepago, reduzido ao julgamento de homicdios e transferindo, principalmente para a Assemblia, seu controle sobre a magistratura, o que fortalecia, concomitantemente, o poder poltico de Efialdes, s expensas de Cmon. O fato de no ter sido bem sucedida a expedio deste, a qual, embora solicitada pelos espartanos, terminou no sendo por estes bem recebida, o privou definitivamente de apoio popular, levando-o em 461 a ser ostracizado. Efialdes foi nesse mesmo ano assassinado", sendo sua liderana gradualmente substituda pela de Pricles. Crnon, cuja fidelidade a Atenas no foi afetada por seu ostracismo, voltaria, dez anos mais tarde, a ser novamente convocado, sendo-lhe conferida a tarefa de ajustar um armistcio com Esparta, o que brilhantemente logrou, com a Trgua de Cinco Anos, de 451.

Concomitantemente com o ostracismo de Cmon procedeu-se ruptura da aliana com Esparta, substituda pela aliana com Argos, hostil a Esparta e com os tessalianos. Seguiu-se-lhe a aliana com Mgara, ento em disputa territorial com Corinto, a mais importante aliada de Esparta. Era a completa reverso da poltica de Cmon, orientao esta que caracterizaria a longa (461-430) liderana de Pricles.

O perodo que se segue, de 460 a 446-5, ser marcado por iniciativas atenienses que alteraram, significativamente, o equilbrio de foras entre a Liga de Delos (imprio ateniense) e a Liga do Peloponeso, sob a liderana de Esparta, conduzindo a hostilidades entre aliado dos dois bandos que culminaram com a direta confrontao de Esparta com Atenas.

Entre as ocorrncias mais relevantes mencione-se a construo por Atenas de longos muros (H.I., 103) ligando Mgara a seu porto de Nisea", em que se instala uma guarnio ateniense. Concomitantemente, Egina, prejudicada em seu comrcio com o oriente pela Liga de Delos, adere Liga do Peloponeso, reunindo uma grande frota no golfo Sarnico. Atenas toma

8 O assassino, Aristodicus de Tnagra, era agente de uma das sociedades secretas a servio dos interesses da oligarquia ateniense. 9 Somente em 457 os atenienses construram sua prpria grande muralha, conectando Atenas com o pono do Pireu.

xxx TUCDIDES

a iniciativa e ataca a frota de Egina, derrotando-a e pondo, em seguida, cerco cidade.

Nessa mesma oportunidade Inaros, chefe lbio que se aproveitara da instabilidade que se sucedeu morte de Xerxes, em 465, para mobilizar uma grande revolta no Egito, proclamando-se o novo fara, solicitou o auxlio dos atenienses. Uma frota ateniense de 200 naves, que se dirigia para Chipre, foi ento deslocada para o Egito, subindo o Nilo at Mnfis e conquistando a cidade, salvo a cidadela mantida pelos persas. Um contingente ateniense permaneceria, estranhamente, por seis anos no Egito para, afinal, ser completamente derrotado em 456 por um numeroso exrcito persa comandado por Megbisos.

Em 457 Egina foi forada a se render e compelida a ingressar na Liga de Delos, entregando sua frota a Atenas. Nessa ocasio Esparta entra diretamente no conflito, enviando um exrcito atravs do Golfo de Corinto que restaura a Liga Becia, sob a hegemonia de Tebas. Os atenienses so derrotados em Tnagra, mas os espartanos regressam a suas bases, o que permitiu aos atenienses derrotar os becios em Oenophyta, reincorporando a Becia, com exceo de Tebas, Liga de Delos.

Nos episdios que se seguem confirma-se a superioridade espartana em combates terrestres e a ateniense em combates martimos. Nessas condies de empate Cmon, convocado de volta, entabula entendimentos com Esparta que conduziriam em 451 Trgua de Cinco Anos. Por outro lado, embora fracasse a expedio ateniense de conquista de Chipre, ocasionando a morte de Cmon, que a comandava, a frota ateniense, em seu curso de retorno, logra uma grande vitria naval sobre os persas nas proximidades da cidade cipriota de Salamis. Geram-se, assim, condies que permitiriam a Callias negociar com a Prsia a paz que veio a ser conhecida como paz de Callias, de 450.

Novos eventos, aps o trmino da Trgua de Cinco Anos, levaram a uma revolta de Becia em 447, que conduziu ao restabelecimento da Liga Becia e a uma revolta de Eubia em 446, cuja subjugao por Pricles teve de ser interrompida ante a rebelio de Mgara, retornando Liga do Peloponeso e a conjunta invaso da tica pelos espartanos, comandados pelo rei Plistonax. Este, todavia se deteve em Eleusis e, ao que consta, corrompido por Pricles, regressou a Esparta. Pricles pde ento subjugar a revolta de Eubia, estabelecendo uma cleruquia ateniense no territrio de Histieaea. Seguiram-se negociaes com Esparta que conduziram, no inverno de 446-445, Paz de Trinta Anos.

Prefcio XXXI

A primeira confrontao entre Atenas e Esparta, no perodo que vai da aliana com Argos e a construo dos longos muros de Mgara, em 462, Paz dos Trinta Anos, de 446-5, foi inconclusiva. Mas fixou posies de hostilidade entre os dois grandes blocos em que se dividiu a Grcia, gerando as condies que conduziriam Guerra do Peloponeso, de 431 final rendio de Atenas em 404.

A PAZ DE TRINTA ANOS

A situao da Grcia, subseqentemente Paz de Trintas Anos, algo como a da Europa antes da guerra de 1914, se caracterizava por um equilbrio de foras em que nenhum dos dois blocos antagnicos podia, sem graves riscos, permitir o unilateral fortalecimento do outro. Tambm semelhana da Europa de fins da primeira e princpios da segunda dcada do sculo XX, a Grcia de aps a Paz de Trinta Anos consistia num sistema de alianas em que a potncia hegemnica de cada bloco no podia consentir que um de seus aliados viesse a ser dominado por fora do outro bloco ou simplesmente agredido pela outra potncia hegemnica.

Entre as diversas circunstncias, depois da Paz de Trinta Anos, que tornavam extremamente delicado o equilbrio entre os dois blocos, trs merecem particular meno. Uma se refere ampla margem de conflito de interesses existentes entre Corinto, principal aliada de Esparta e Atenas. A outra decorre do fato de a Paz de Trinta Anos ter permitido alianas entre ou com cidades-estado neutras, como aconteceria em 433, no caso da aliana entre Crcira e Atenas. Embora permitidas pela letra do tratado de paz, tais alianas poderiam, como no caso precedentemente referido, alterar o equilbrio de foras de forma inaceitvel para o outro bloco.

Uma terceira circunstncia que contribua significativamente para a precariedade da Paz de Trinta Anos era a poltica interna de Atenas. O ostracismo de Cmon e a vitria da faco popular, que aps o assassinato de Efialdes viria a ser dirigida por Pricles, implicavam uma endgena propenso ao expansionismo do imprio ateniense, no tanto por razes de poltica externa ou como efeito de uma pura vontade de poder, mas pelo imperativo poltico de satisfazer as necessidades dos thetes, que constituam o grosso do eleitorado de Pricles. Os thetes necessitavam que se desse continuidade poltica de "cleruchias", enquistadas em territrios de terceiros e se mantivesse a expanso naval que lhes proporcionava emprego.

O caso de Corinto, que viria a ser o ncleo deflagrador da Guerra

XXXII TUCDIDES

Aquidimiana de 431 a 421, decorria do fato de aquela cidade-estado, membro-chave da Liga do Peloponeso, ser tambm, como cidade comercial e martima, uma rival de Atenas, com interesses colidentes tanto no ocidente grego, como no caso de Crcira, como em Potidia, na Calcdice, no extremo nordes te da Grcia.

ANTECEDENTES IMEDIATOS

Crcira, no extremo nordeste da Grcia, embora colnia de Corinto, tinha com esta relaes conflitantes, relacionadas com sua conjunta colonizao de Epidurios. Em 455, revoltando-se contra Corinto, Crcira derrotou uma frota desta ltima na batalha de Leucimne. Corinto se preparou, no curso dos dois anos seguintes, para uma decisiva expedio punitiva a Crcira a qual, aterrorizada, pediu o apoio de Atenas e a aliana desta. Como cidade-estado neutra, tal aliana no contrariaria o disposto no tratado da Paz de Trinta Anos, mas constituiria uma grave ameaa a Corinto, aliada de Esparta.

Atenas, interessada em dispor de uma base no mar Inio, no extremo ocidental da Grcia, optou, depois de amplas discusses sobre a questo, por uma soluo astuta. Em lugar de uma aliana plena, symmacbia, que teria implicaes ofensivas a Corinto, adotou uma aliana meramente defensiva, epimachia, como tal compatvel com a Paz de Trinta Anos.

Os corintos, no obstante, atacaram Crcira em Sybata, em 432, mas vendo chegar as naves atenienses em defesa dos corcireus, recuaram.

Entrementes, Atenas se deu conta de que sua aliada, Potidia, colnia conjunta de Crcira e Corinto, se preparava para rebelar-se, apoiando Corinto. Exigiu, assim, preventivamente, que Potidia destrusse suas muralhas martimas e expelisse os magistrados que Corinto usualmente lhe mandava, negando-se a receber outros. Po tid ia, contando com o apoio dos peloponsios, se negou a aceitar tal exigncia. Atenas ento ataca Potidia e derrota sua frota em 432.

Data dessa ocasio a discutida deciso de Pricles de levar a Assemblia ateniense a decretar a proibio de Mgara usar qualquer porto de cidades vinculadas Liga de Delos, o que significaria a runa econmica de Mgara. Esta ltima deciso tornou inevitvel o desencadeamento da guerra.

Por que a ter adotado Pricles? Alguns entendem que, consciente da inevitabilidade da guerra, Pricles procurou, sem formalmente violar o tratado de paz, conduzir a Liga do Peloponeso a arcar com a responsabilidade

Prefcio XXXIII

de iniciar as hostilidades. Outros entendem que Pricles quis, preventivamente, dar uma demonstrao da fora naval ateniense, de sorte a incentivar os que em Esparta, como o rei Arqudamos, no queriam a deflagrao da guerra10 Tucdides no esclarece a motivao de Pricles mas reconhece (H.I., 139 e 144) que o bloqueio de Mgara foi a ocorrncia mais intolervel para o bloco espartano. Tanto que, nas negociaes que imediatamente precederam ao incio das hostilidades, os enviados espartanos, em suas derradeiras propostas, condicionaram a no declarao de guerra revogao do bloqueio de Mgara.

A despeito das recomendaes cautelatrias do rei Arqudamos, os espartanos se decidem pela guerra e para tal recebem o apoio dos demais membros da Liga do Peloponeso. A deliberao de Corinto de entrar em guerra com Atenas, ainda que Esparta no o fizesse, foi o que motivou Esparta a optar pelo conflito, porque, no caso contrrio, passaria para Corinto a liderana do Peloponeso.

Para enfrentar Atenas e seus aliados a Liga do Peloponeso dispunha de um contingente de 40.000 hoplitas, que constituam a melhor infantaria da poca. A aliada Becia tinha uma excelente cavalaria.- Corinto, alm de sua pequena, frota, alegava poder mobilizar uma grande armada com os recursos de Delfos e Olmpia (H.1.121).

Ante esse poderoso inimigo Pricles traou uma estratgia consistente em evitar batalhas campais. Atenas no dispunha de mais do que 13.000 hoplitas e de 1.200 cavaleiros, ademais de foras auxiliares para guarnecer as muralhas, cuja inferioridade numrica era agravada por seu menor treino. Em compensao, porm, Atenas poderia, protegida por suas muralhas, defender-se de qualquer ataque terrestre, enquanto sua marinha, forte de 300 trirremes, superiormente tripuladas, garantiria os suprimentos da cidade e fustigaria as costas do inimigo, alm de estar capacitada a derrotar qualquer frota que a Liga do Peloponeso pudesse armar (H.II.13).

Duas outras importantes consideraes eram levadas em conta por Pricles. Uma, de carter econmico, consistia no fato de que Esparta era uma potncia agrcola, sem recursos financeiros, enquanto Atenas ingressava na guerra com reservas de mais de 6.000 talentos. Sem recursos financeiros 11, Esparta, ao contrrio de Atenas, no poderia sustentar uma guerra

10 Sobre a motivao de Pricles na decretao do bloqueio de Mgara vejam-se EE. Adock, pg. 187 e segts. in j.B.Bury, S.A. Cock e EE.Adock, edits., .Atbens, vol. V de Tbe CambridgeAncienl History, Cambridge, Uno Press, 1966 e Edouard Will, Le Monde Grec el L'Orient, pg. 298 e segts., Tomo I. Pmples el Ciuilisations Paris, Pl.Jf', (1972), 1994. 11 Pricles no supunha que Esparta viesse a contar com financiamento persa.

XXXIV TUCDIDES

que no tivesse pronto xito. Por outro lado, a outra considerao em que se baseava Pricles era o fato de que as foras espartanas no podiam se afastar demasiado e por mais longo tempo de suas bases, porque dependiam de sua prpria agricultura e necessitavam manter-se em contnua vigilncia local, para evitar revoltas dos hilotas. Diversamente, os atenienses, refugiando-se atrs de seus muros, receberiam pelo mar os fornecimentos de que necessitassem e poderiam sustentar a guerra por longo prazo.

A guerra Aquidimiana, prolongando-se de 431 a 421, com a Paz de Ncias, se conformou, nos seus aspectos militares, com as previses de Pricles. No dispondo de capacidade para romper as muralhas de Atenas, os lacedemnios no puderam tirar o proveito que desejavam de sua superioridade terrestre. Assolaram as terras da tica mas no puderam impedir a continuidade de seu abastecimento por via martima. Enquanto isso, a frota ateniense fustigou as costas da Lacedemnia, destruindo seus estaleiros e sua modesta marinha. Como havia suposto Pricles, as expectativas de Corinto de poder armar uma grande frota, com recursos de Delfos e de Olmpia, no se realizaram.

Um ano depois de iniciado o conflito procedeu-se em Atenas cerimnia fnebre dos primeiros mortos da guerra. Convidado para usar da palavra Pricles proferiu aquele extraordinrio discurso que Tucdides reconstituiu (H.n., 35 a 46), onde proclama a excelncia das instituies e dos costumes atenienses e sua superioridade sobre os demais helenos e concluindo, declara: "Em suma, digo que nossa cidade, em seu conjunto, a escola de toda a Hlade".

Hoje, transcorridos cerca de dois mil e quinhentos anos desde aquela orao fnebre, seria de justia, complementando Pricles, reconhecer que Atenas foi a Escola, no apenas da Grcia, mas de todo o Ocidente.

Algo de imprevisto mas terrvel, entretanto, ocorreu em Atenas: a peste de 430 a 429. A estratgia de proteger a populao e seus pertences mveis '" atrs das grandes muralhas, embora se tenha revelado militarmente eficaz, a concentrou toda num pequeno espao urbano, sem condies higinicas minimamente satisfatrias, o que provocou uma grande epidemia. A peste dizimou um quarto da populao ateniense, dela sendo vtima o prprio Pricles, em 429.

A despeito de seus terrveis estragos, a peste no alterou, decisivamente, o curso da guerra. Dez anos de conflito comprovaram, como no conflito precedente, que nenhum dos blocos poderia vencer o outro, embora

12 Gado e ovelhas foram transportados para locais seguros na Eubia e ilhas adjacentes.

Prefcio xxxv

ambos sofressem graves danos humanos e materiais. Em 422 ocorreu, na batalha de Anfpolis, a morte de Clon, que substitura Pricles na liderana poltica de Atenas, mas no em qualquer outro aspecto, e com ele desapareceu o mais beligerante dos lderes da tica. Tambm morreu em combate Brasidas, o grande general espartano, que era tambm o mais intransigente beligerante no campo lacedemnio. O prolongado impasse e os desgastes da guerra, mortos seus principais partidrios, abriram espao para polticos moderados, em ambos os blocos. Ncias, que assumiu a liderana de Atenas, negocia com xito a paz de cinqenta anos, que veio a ser designada por seu nome, celebrada em 421.

A PAZ DE NCIAS (H. V, 18-19)

A paz negociada por Ncias em 421, que levou seu nome, foi proposta por cinqenta anos e consistia, basicamente, no reconhecimento do Imprio Ateniense na rea inia, conservando Nisia at que os becios devolvessem Platia. As cidades da Calcdice seriam autnomas, mas tributrias de Atenas. Anfpolis devolvida a Atenas. Os membros da Liga de Delas ficaram proibidos do uso de armas, enquanto pagassem tributo, contra Argilas, Stgiros, cantos, Stolos, Olintos e Sprtolos. Os lacedemnios e seus aliados restituiriam Pnacton aos atenienses. Os atenienses restituiriam Corifsion, Citera, Mtana, Ptleon e Atalantes. Os prisioneiros de ambos os lados seriam devolvidos.

A resistncia de assinar, o tratado, entre membros da Liga de Peloponeso por parte de Corinto, Mgara, lis e Becia e as disposies hostis de Argos levaram os espartanos, numa poltica de defesa preventiva, a firmar com Atenas um tratado de aliana tambm por cinqenta anos (H.V, 22 a 24).

A paz de Ncias, entretanto, se ressentiu desde o incio da no participao das cidades precedentemente mencionadas, e logo em seguida, de algumas violaes. O sucessor de Brasidas, Clearidas, se recusou a devolver Anfpolis, que seu predecessor havia conquistado do prprio historiador. Os Becios, no ano seguinte, obrigados a devolver Platia aos atenienses, antes de faz-lo destruram a cidade.

Ante tal fato e nesse mesmo ano de 420 Corinto decidiu retirar-se da Liga Argiva. Atenas formou ento, por cem anos, a Qudrupla Aliana, com Argos (tradicionalmente hostil Esparta), Mantinia e lis, estas ltimas ento em guerra com Esparta.

XXXVI TUCDIDES

As condies que caracterizavam a Grcia por ocasio da Paz de Ncias e anos subsequentes eram indicativas da precariedade da paz. Entre as muitas condies e fatores que tornavam difcil sua preservao - firmada, ademais por um prazo demasiado longo para vigorar numa Grcia to instvel - trs merecem particular ateno: as condies particulares de Argos, Corinto e Mgara, a modificao do estado de esprito da Assemblia ateniense, ante a nova mentalidade da juventude e a funesta capacidade de seduo de um genial mas irresponsvel e inescrupuloso aventureiro, Alcibades.

Argos e Mgara, situadas nas reas de predomnio, respectivamente, de Esparta e de Atenas, tinham interesses conflitantes com suas respectivas cidades hegemnicas e tendiam, por isso, a se aliar ao bloco oposto, criando situaes inaceitveis para o bloco de sua prpria rea territorial. Por outro lado Corinto mantinha com Atenas, com a qual apresentava semelhanas comerciais, uma rivalidade superior a sua lealdade com Esparta. Isso levava Corinto a colocar Esparta, continuamente, ante a alternativa de hostilizar A tenas, ou perder para aquela a liderana do Peloponeso.

Particularmente decisiva, entretanto, com relao s ocorrncias que se seguiram Paz de Ncias, foi a extraordinria influncia que Alcibades pde exercer na Grcia, no perodo que vai at sua irreversvel desmoralizao em 406, depois de sua derrota por Lizandro, perto de Ntion.

Homem dotado de extraordinria beleza fsica, excepcional inteligncia, adestrada pelo convvio com os sofistas e possuidor de grande talento poltico e militar, mas destitudo de quaisquer escrpulos e levado, por sua ambio e audcia, a decises temerrias, Alcibades exerceu a mais negativa influncia sobre os atenienses, arrebatando, particularmente, a nova gerao que aspirava a grandes aventuras e no se conformava com a medocre tranqilidade da Paz de Ncias. A Paz de Ncias, com efeito, situava Atenas na confortvel, mas no excitante posio, de administrar com tranqilidade seu imprio martimo e comercial. Tal situao, entretanto, no era isenta de dificuldades. A Paz com a Prsia e com Esparta, privando a Liga de Delas de inimigos comuns, tornava menos aceitvel a hegemonia ateniense sobre as cidades inias. Isto exigia ou bem uma poltica de entendimento com os aliados e co-participao dos mesmos nos benefcios do comrcio promovido por Atenas, como sabiamente preconizava Ncias, ou uma poltica de mobilizao para novas e supostamente rendosas aventuras, como sedutora, mas pouco responsavelmente, propunha Alcibades.

A aliana de Atenas com Argos, inaceitvel para Esparta, conduziu esta a uma primeira violao da paz. Invadindo a Agis, sob a alegao de socor

Prefcio XXXVII

rer os epidurios de prvia agresso de Argos, forou os membros da Qudrupla Aliana a se desmoralizarem ou a honr-la. lis tendo se recusado a participar, os trs outros aliados formaram um contingente que se ops aos espartanos, mas por eles foram derrotados em Mantinia, em 418.

Atenas, como demonstrao de fora, retaliou tomando de assalto em 416 a ilha de Melos, de colonizao drica, que se recusava aderir ao imprio e, com a maior selvageria, massacrou os homens em idade militar e escravizou os demais habitantes, nela instalando uma "clerchia".

Estava definitivamente violada a Paz de Ncias. Foi nessas circunstncias que Alcibades, contrariando as sbias e consistentes consideraes de Ncias, persuadiu os atenienses a atender a um apelo de Segesta, na Siclia, atacada por Selinus. Ncias, em seu pronunciamento contra a expedio (H.V: 9-14) mostra, com impecvel coerncia e pertinncia, que Atenas, se vitoriosa, nada teria a ganhar e, se derrotada, teria se exposto em vo a tudo perder. Mas Alcibades, (H.V., 16-18), mobilizando o entusiasmo da juventude, logrou persuadir a Assemblia de que a expedio Siclia se defrontaria com massas heterogneas, em que "ningum tem o sentimento de estar em sua verdadeira ptria" e traria grandes vantagens para Atenas, com mnimos riscos.

A expedio Siclia mobilizou 134 trirremes, conduzindo 4.000 hoplitas, sob o comando conjunto de Ncias, Alcibades e Lmacos, zarpando no ano de 413. Tendo comeado mal, veio a ter o mais catastrfico desfecho.

O mal comeo se deveu ao fato de que, pouco antes da data fixada para a partida da frota, constatou-se que os Hermes de Atenas haviam sido mutilados, fato esse que se atribuiu a Alcibades, assim como a prtica de profanao dos mistrios de Eleusis. Alcibades, protestando inocncia, solicitou que se procedesse prontamente ao julgamento do caso. Seus adversrios, porm, habilidosamente, lograram procrastinar a data do julgamento, de sorte a que ou bem Alcibades, para defender-se, renunciasse a participar do comando da expedio ou bem, como ocorreu, seguisse com a frota abandonando sua defesa preventiva. Marcada a data do julgamento, j na ausncia de Alcibades, emissrios especiais foram enviados frota, aguardando sua passagem por Cataria e, quando esta l chegou, intimaram Alcibades a regressar, para submeter-se a julgamento. Este se realizaria quando os sustentadores de Alcibades se encontravam, em sua maioria, engajados na frota. Isto o levou convico de que sua condenao j estava previamente decidida e assim decidiu fugir para Esparta. L revelou os planos da frota, o que muito contribuiu para o futuro malogro da expedio.

XXXVIII TUCDIDES

No obstante esse episdio, os atenienses quase lograram a circunvalao de Siracusa, mas, com a chegada a esta do general Glipos, enviado por Esparta, com um pequeno contingente, este imprimiu melhor orientao defesa da cidade, invertendo contra os atenienses o curso das operaes.

A despeito de reforos que chegaram sob o comando de Demstenes, os atenienses foram completamente derrotados, Lmacos perecendo em combate e Ncias sendo aprisionado e depois executado.

Os eventos subsequentes catstrofe da expedio Siclia se alternaram, a despeito da mesma, entre sucessos atenienses e espartanos. Estes, alimentados pelo "ouro persa", dispuseram de uma capacidade de sustentao da guerra contrria s antigas previses de Pricles. Os atenienses, embora severamente desfalcados pelo desastre da Siclia, foram induzidos a perdoar Alcibades e lhe conferir, o comando da guerra. Alcibades logra, em 410, uma excepcional vitria aniquilando, na batalha de Czicos, a frota espartana. Esparta se prope a fazer as pazes mas Atenas, sob a liderana de Cleophon, insensatamente recusa a oferta. O strapa persa Farnbazos financia a construo de nova frota espartana. Alcibades, derrotado cerca de Ntion, em 406, perde definitivamente sua credibilidade e foge para o Helspontos. Tiveram ainda os atenienses, entretanto, outra espetacular vitria, em 406, na batalha de Aginusae, sob o competente comando de Conon. Nova oferta de paz por Esparta, mais uma vez e ainda mais insensatamente, repelida por Atenas. A subsequente catastrfica perda da frota ateniense, em 405, em Aegospotami, por incria dos comandantes, quando completamente esgotados os recursos da cidade, liquida definitivamente com seu poder. Theramenes negociar, em 404, a rendio de Atenas. O relato de Tucdides, entretanto, se interrompe, por causa de sua morte, antes desses ltimos eventos, logo aps os episdios do ano de 410.

A Guerra do Peloponeso gerou as condies que conduziriam ao declnio da Grcia, apesar de um relativo e curto ressurgimento de Atenas, com sua segunda liga contra Esparta, de 377.

Em Atenas, os insucessos da Guerra Deceleana desmoralizaram o partido popular e restabeleceram o poder dos oligarcas. Estes, ante o esgotamento do tesouro pblico, dispunham de recursos prprios para sustentar a continuao da guerra, mas exigiam, para tal, que lhes fosse transferido o poder. Acrescente-se que Alcibades logrou persuadir os atenienses que havia conquistado a adeso do strapa Tissafernes, que vinha financiando os espartanos e, supostamente, passaria a financiar os atenienses. N essas circunstncias e com tais maquinaes, decidiu-se em 411 limitar a cidadania a

Prefcio X.XXIX

5.000 cidados ricos e se instituiu, para os selecionar, um comit de 400 (H., VIII, 63-71), comit esse, todavia, que assumiu diretamente o poder. Ante a revolta da frota baseada em Samos, foi curta a durao do governo dos 400, mas a faco oligrquica, continuando predominante, lograria mais tarde, com a rendio de Atenas, retomar o poder com a ditadura dos Trinta, em 404. Estes ltimos eventos, todavia, no foram mais descritos por Tucdides, cuja morte o forou a interromper sua narrativa no ano 410.

Para a Grcia, em geral, a derrota de Atenas deixou Esparta como nica potncia hegemnica. Por suas instituies, tradies e compromissos

- livrar a Hlade do imperialismo ateniense - Esparta, vitoriosa, deveria retornar a suas bases no Peloponeso e deixar as cidades-estado gregas se dirigirem a si mesmas. Esparta, todavia, preferiu instituir sua ditadura sobre a Grcia, colocando nas cidades subjugadas um representante de seu domnio, harmost, apoiado por uma guarnio. Com isto, a liderana grega passou das mos dos atenienses, que a sabiam exercer de forma esclarecida, para espartanos que se impunham despoticamente.

A incapacidade de Esparta de exercer uma liderana esclarecida na Grcia, bem como a prpria estrutura scio-poltica de Esparta, domesticamente baseada na dominao de uma reduzida classe de "iguais" (homonol), limitaram a hegemonia espartana a cerca de 25 anos. Com Pelopidas e Epaminondas surge uma poderosa democracia tebana, que se ope vi toriosamente a Esparta, a que se segue a Segunda Liga Ateniense (377 a 370). Com Felipe 11, regente de Macednia em 359 e rei desde 356, se abriria um novo perodo na histria da Grcia, em que o estado-cidade seria substitudo por estruturas imperiais: o imprio macednio, at morte de Alexandre em 323 e, subseqentemente, os reinos helensticos e a posterior dominao romana, com a final destruio da Macednia em 148.

A cultura grega, entretanto, to bem retratada por Tucdides e de que Pricles, no obstante seus equivocar em relao Guerra do Peloponeso, foi ao mesmo tempo o grande propulsor e um de seus altos representantes, fecundou decisivamente Roma. O Imprio Romano - a mais extraordinria

construo poltica da histria - no teria sido possvel se o gnio militar e administrativo de Roma no tivesse intimamente incorporado a cultura grega. Uma incorporao que perpetuou essa cultura e dela fez, para toda a posteridade, o fundamen to da viso racional do mundo.

RiodeJaneiro/Julho/2001

APRESENTAO DO TRADUTOR

Mrio da Gama Kury

1. O AUTOR

TUCDIDES nasceu provavelmente entre 460 e 455 a.C., no distrito (dmosY de Halimunte, em Atenas. Foi atingido pela grave epidemia que assolou a cidade entre 430 e 427 a.C. (ver o livro II, captulo 48), mas se recuperou e em 424 a.C., era comandante das tropas atenienses na Trcia (livros IV, captulo 104 e V, captulo 26); no exerccio de seu cargo no conseguiu evitar que o comandante lacedemnio Brasidas ocupasse Anfpolis, localidade trcia de grande importncia no trfego martimo de cereais daquela regio para Atenas, e por isto foi exilado, ainda em 424 a.C.; somente aps vinte anos de degredo retornou a Atenas, e morreu poucos anos depois (por volta de 400 a.C.), sem ter podido terminar a sua nica obra, a Histria da Guerra do Peloponeso.

Tucdides pertencia aristocracia ateniense e foi educado de maneira condizente com sua condio social privilegiada. Foi profundamente influenciado pelas figuras mais brilhantes de sua poca em Atenas, ento em seu apogeu: Pricles, a quem no poupa elogios; o filsofo Anaxgoras, os sofistas (principalmente Grgias, que viera da Siclia como embaixador pedir a ajuda dos atenienses para a sua cidade natal- Leontinos - e se radicara em Atenas); Antfon, poltico e orador a quem Tucdides se refere com admirao no livro VIII, captulo 68. Sfocles e Eurpides, dois grandes poetas trgicos, tambm foram seus contemporneos (o primeiro tambm participou da vida pblica ateniense e o segundo freqentou os mesmos crculos intelectuais aos quais Tucdides estava ligado). H referncias em autores posteriores (entre outros Marcelino, que viveu na poca do imperador Justiniano e escreveu uma Vida de Tucidides), a um encontro de Herdoto, historiador da guerra entre os persas e os gregos j famoso na poca, com o nosso autor, um pouco mais novo que ele e ento adolescente; ouvindo Herdoto ler um trecho de suas Histrias durante as exibies literrias que

I Para facilitar a composio tipogrfica, as palavras gregas so transliteradas em caracteres latinos.

XLII TUCDIDES

se realizavam simultaneamente com os jogos Olmpicos, Tucdides ter-se-ia emocionado at as lgrimas, revelando a sua vocao de historiador. O episdio pode ser imaginrio, mas embora sem mencion-la especificamente Tucdides parece haver conhecido a obra de seu famoso predecessor (vejase, por exemplo, o livro I, incio do captulo 21 e parte final do captulo 22).

De certo modo Tucdides inovou substancialmente o mtodo histri co, influenciado pelo racionalismo de Anaxgoras e pelo esprito crtico e iconoclasta dos sofistas (principalmente Protgoras, Prdicos e Antfon) sofista homnimo do orador e poltico muito elogiado por Tucdides''. Ao longo da obra de Tucdides pode-se observar a cada passo a sua objetividade e o cuidado na aferio da realidade, afastando-se assim do gosto dominante entre os historiadores de ento pelo fabuloso e extico:'. A preocupao de Tucdides era mostrar a essncia dos fatos e os sentimentos de seus personagens, penetrando no seu ntimo e expondo as verdadeiras razes de sua conduta com uma franqueza s vezes chocante, mesmo aos sentimentos dos leitores de hoje",

Da mesma forma que no teve predecessores em seu mtodo histri co, Tucdides tambm no teve seguidores com suas qualidades, seja na Grcia, seja no mundo antigo em geraIS. Mesmo nos tempos modernos, talvez apenas Maquiavel possa comparar-se a Tucdides na profundidade do conhecimento e na exposio realista do comportamento dos homens em geral e dos polticos em particular. No h certeza quanto a uma eventual influncia da obra de Tucdides em Maquiavel; a traduo latina" de Lorenzo Valla foi publicada antes da primeira edio de O Prncipe e do Discurso sobre a Primeira Dcada de Tito Lvio, mas embora muito se tenha escrito sobre essa possvel e provvel influncia, nada h de concreto quanto mesma. Seja como for, patente a afinidade entre os dois autores, e como h tambm pontos de contato entre as situaes em que ambos viveram (as lutas incessantes entre as cidades-estados da Grcia de Tucdides, semelhana do que acontecia en

2 Alguns estudiosos sustentam a tese de que se trataria da mesma pessoa. 3 Veja-se, por exemplo, o livro I, captulos 21 e 22. "Vejam-se, por exemplo, os livros V, captulos 85 e seguintes - o Dilogo Mlio, e I, captulo 20 juntamente com VI, captulo 54 - a motivao real da ao dos tiranicidas Harmdios e Aristgiton, reverenciados como heris. sXenofonte, que viveu entre 428/ 427 a.c. e 354 a.c., relatou nos livros I e 11 de suas Helnicas a continuao da guerra do Peloponeso a partir de 411 a.c., onde interrompida a histria de Tucdides, at 403 a.Ci; Xenofonte leva a sua histria dos acontecimentos na Hlade at 362 a.c., com uma lacuna correspondente aos anos 403-401 a.c., complementada por parte de sua .Anbase quanto s atividades dos helenos na sia. 6 E certo que Maquiavel no conhecia o grego.

Apresentao XLIII

tre as da Itlia de Maquiavel, o apelo a reis aliengenas para intervirem nas interminveis e ferozes disputas entre as faces polticas locais, etc.), confirma-se a afirmao de Tucdides na parte final do captulo 22 do livro I: " ... quem quer que deseje ter uma idia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltaro a ocorrer em circunstncias idnticas ou semelhantes em conseqncia de seu contedo humano, julgar a minha Histria til ... " 7.

2. A OBRA

A guerra do Peloponeso, cuja histria Tucdides escreveu, durou vinte e sete anos (431 a 404 a.C.), e envolveu praticamente todo o mundo helnico e outras regies mais remotas com as quais a Hlade mantinha relaes. A morte impediu o autor de terminar a obra, interrompida no relato do vigsimo primeiro ano da conflagrao (411/410 a.C.).

A Histria se compe em grandes linhas de cinco partes. A primeira (livro I) uma alentada introduo, subdividida em um prefcio (captulos 1 a 23) ilustrativo da importncia da guerra do Peloponeso em comparao com as anteriores - a chamada "arqueologia" - e numa exposio do mtodo histrico do autor, alm de especulaes sobre as causas da guerra com a meno das manobras polticas de ambos os lados, e de algumas digresses destinadas a reforar a presuno de que o conflito era o resultado inevitvel do aumento do poder de Atenas, visto com receios pelos peloponsios em geral e pelos lacedemnios em particular; a segunda (livros lI, III, IV e os captulos 1 a 24 do livro V) corresponde ao segmento da conflagrao chamado de "Guerra dos Dez Anos"; a terceira (livro V, do captulo 25 at o fim) cobre o perodo da paz precria entre os atenienses e lacedemnios e respectivos aliados; a quarta (livros VI e VII) descreve a guerra na Siclia; finalmente a quinta (livro VIII) cobre parte da chamada "guerra da Dccleia" e o deslocamento das operaes para a sia Menor.

A inteno de Tucdides, ao escrever a sua Histria} era deixar para a posteridade um "patrimnio sempre til", no no sentido de jactncia pela qualidade da obra, mas como o prprio autor diz na parte inicial do captulo 22 do livro I, porque, sendo a natureza humana imutvel, se determinadas circunstncias se reproduzirem em pocas diferentes, os fatos se repeti

7 Um erudito tradutor e comentador italiano da obra de Tucdides, Amedeo Peyron, estabelece um certo paralelo entre o nosso autor e Maquiavel (pginas 39 e 40 do primeiro volume de sua traduo, Turim, 1861).

XLIV TUCDIDES

ro de maneira idntica ou semelhante. Da o empenho do autor em relatlos to detalhada e precisamente quanto possvel. Inicialmente, portanto, Tucdides planejou sua obra com fins didticos, como um manual de estratgia e polti-ca. O gnio do autor, todavia, transformou a obra didtica em obra de arte.

Tratando-se da histria de uma guerra, natural que o autor tenha dado ateno especial s operaes militares; de fato, cerca de metade da obra se compe de descries de batalhas navais e terrestres e seus preparativos. Embora as descries em si mesmas tenham grandes mritos, esta circunstncia conduziria inevitavelmente monotonia se Tucdides, levado por sua inteligncia superior e por um sentimento esttico invulgar, no houvesse intercalado entre elas numerosos discursos e exortaes (quarenta ao todo), alm de resumos tambm numerosos em forma de narrativa, e do extraordinrio Dilogo Mlio (livro V, captulos 85 a 113). O prprio autor" se refere ao seu empenho em dar a esta parte de sua obra a maior autenticidade possvel, tentando reproduzir com a mxima fidelidade o que teria sido dito pelos polticos e chefes militares em suas manifestaes. A importncia dos discursos, do Dilogo Mlio e das exortaes militares tanta que por si mesmos eles constituem um dos principais atrativos da Histria. Suas qualidades, principalmente sua fora persuasiva, fizeram com que um dos principais estudiosos da eloqncia tica - Friedrich Blass - inclusse Tucdides entre os oradores que estuda em sua obra clssica Die Attische Beredsamkeit (pginas 203 a 244 do primeiro volume, segunda edio, Leipzig, 1887), submetendo as vrias oraes a uma anlise modelar.

Talvez com a mesma inteno de quebrar a eventual monotonia da parte narrativa, Tucdides introduziu em sua obra o texto de vrios tratados concludos entre as partes envolvidas ao longo da guerra; outra inteno do autor pode ter sido demonstrar a inutilidade, ou pouca utilidade, dos mesmos, pois apesar deles a guerra se estendeu por vinte e sete anos. Um indcio pondervel do uso dessas transcries (da mesma forma. que dos discursos, do dilogo e das exortaes) como recurso contra a monotonia das narraes de batalhas e de seus preparativos, o fato de as mesmas, de um modo geral, s ocorrerem nos livros onde no h discursos.

8 Ver o incio do captulo 22 do livro I. 9 O historiador e crtico literrio Dionsio de Halicamassos, que ensinou em Roma a partir de 30 a.c., dedicou duas monografias obra de Tucdides (Sobre Tuddides e Carta a .Ameus), criticando-o s vezes como historiador, mas de um modo geral elogiando-o entusiasticamente como estilista. Na obra Sobre TucididesDionsio alude aos freqentes parnteses de nosso autor, que retardam as concluses por longo tempo. O mesmo crtico resume com muita propriedade

Apresentao XLV

Apesar de certas peculiaridades que s vezes tornam necessria redobrada ateno na leitura de sua obra, como por exemplo o acmulo de oraes subordinadas em longos pargrafos", o estilo de Tucdides perfeitamente adequado s manifestaes de seu esprito objetivo e analitico, e ao mesmo tempo s suas preocupaes estticas; a harmonia completa entre a forma e o fundo; sua arte, como seu pensamento, austera e vigorosa". O agradvel que no instrui no o atrai, ao contrrio do que ocorria com seus predecessores e continuou a ser praticado por seus sucessores!'. Sua imaginao, embora altamente desenvolvida, rigorosamente governada pela razo, pela busca do til e do verdadeiro. Apesar disto, Tucdides possui e, quando as situaes justificam, revela repetida e magistralmente o dom do pattico em seu mais alto grau (por exemplo, no relato da peste em Atenas, no livro I, e na tragicidade da narrao da campanha dos atenienses na Siclia, que Macaulay considera uma obra-prima superior a tudo que a prosa produziu de mais perfeito em qualquer Ingua". O cuidado estilistico de Tucdides, todavia, no o impede de ir at a incorreo gramatical quando se trata de ser expressivo e preciso.

H certas facetas do estilo de nosso autor que procuramos conservar na traduo: uma a repetio a intervalos curtos da mesma palavra, quando ele quer dar nfase a uma idia ou procura evitar ambigidades; outra o uso reiterado de afirmaes sob a forma negativa (por exemplo, em vez de dizer que algo grande, usa a expresso "nada tinha de pequeno", ou "no era pequeno"), e assim por diante; finalmente, o uso, e s vezes at o abuso, de antteses, de assonncias e de outros recursos estilisticos muito ao gosto dos sofistas de sua poca, sobretudo de Grgias.

Serviu de base nossa traduo o texto da edio de C. Hude, editiominor

as qualidades mais marcantes do estilo de Tucdides: conciso monoltica, pungncia austera, veemncia, capacidade de inquietar e comover, e sobretudo um profundo comando do pattico ( 24, pgina 362 do primeiro volume da edio de Usener-Radermacher, Leipzig, 1899). 10 O mesmo Dionsio enumera os quatro "instrumentos" usados mais freqentemente por nosso autor para dar a seu estilo a excelncia sempre louvada: 1) vocabulrio invulgar; 2) grande variedade de figuras; 3) austeridade da harmonia das frases; 4) velocidade do pensamento ( 24 da mesma obra, pgina 363 da edio citada). 11 Alfred Croiset, na introduo sua edio comentada do texto dos dois primeiros livros da Histria, lembra que os gramticos antigos diziam de Tucdides que "o leo raramente consentia em sorrir" (pgina 92 da primeira edio, Paris, 1886). 12 Life oj Lord Macau/ay, volume 1, pgina 499. O mesmo Macaulay diz de Tucdides: "He is the greatest historian that ever lived" (citado por C. F. Smith na introduo sua edio da Histria, pgina XVI).

XLVI TUCDIDES

em dois volumes, Leipzig, 1905. Recorremos tambm com freqncia s edies de H. S.Jones (dois volumes, Oxford, 1942), alm da preciosa edio comentada dos livros I e II por Alfred Croiset (Paris, 1886). Consultamos tambm, nas passagens mais obscuras do texto, as tradues de E. A. Btant (quinta edio, Paris, 1886), de Jacquel ne de Romilly Raymond Weil e Louis Bodin (Paris, 1963-1972, seis volumes), de Amedeo Peyron (Turim, 1861), de C. F.Smith (Londres, 1928, quatro volumes) e de Richard Crawley (Londres, 1886). Para os topnimos e detalhes geogrficos em geral, dever ser consultado o ndice, que procuramos tornar o mais completo possvel, inclusive com a incluso dos antropnimos.

Somente uma profunda admirao pela obra de Tucdides nos levaria a tentar traduzi-la. As dificuldades decorrentes do empenho em conciliar a mxima fidelidade ao original com um mnimo de clareza, foram realmente considerveis. Poderamos dizer como o filsofo ingls Thomas Hobbes, um dos mais insignes tradutores e grande admirador de Tucdides, que o esforo foi bem maior que o resultado, pois nos pareceu mais importante ser fiel que agradvel, seguindo os prprios princpios do autor. A Histria de Tucdides no uma obra fcil':'; deve ser no somente lida mas tambm meditada para uma fruio completa, em sintonia com o esprito e a inteno do autor. A recompensa do leitor ser a realizao do desejo de Tucdides, de que sua obra constitua um patrimnio sempre til nas mos e na mente de quem souber us-la.

M.G.K. Rio de Janeiro, julho de 1981.

13 K.. Mller, autor de uma das mais conhecidas histrias da literatura grega (citado por Alfred Croiset na pgina 122 da obra j mencionada), diz do original que s vezes as longas frases de Tucdides so obscuras, e para bem apreender o seu contedo em todos os detalhes, para discernir a conexo de todas as idias, deve-se l-las duas vezes. Se esta observao judiciosa se aplica ao original, com dupla razo pertinente (luanto traduo.

LIVRO PRIMEIRO

1. O ateniense Tucdides escreveu a histria da guerra entre os peloponsios e os atenienses, comeando desde os primeiros sinais, na expectativa de que ela seria grande e mais importante que todas as anteriores, pois via que ambas as partes estavam preparadas em todos os sentidos; alm disto, observava os demais helenos aderindo a um lado ou ao outro, uns imediatamente, os restantes pensando em faz-lo. Com efeito, tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos, estendendo-se tambm a alguns povos brbaros - a bem dizer maior parte da humanidade. Na v