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A Mudança Linguística e a Evolução Semântica Qual a vossa opinião sobre a relação entre a evolução linguística e as ciências sociais, como a sociologia e a psicologia? 1

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A Mudança Linguística e a Evolução Semântica

Qual a vossa opinião sobre a relação entre a evolução linguística e as ciências sociais, como a sociologia e a psicologia?

1

Comunidade linguística

Uma comunidade linguística é um grupo de pessoas que utiliza uma língua ou um dialecto, para comunicarem entre si, num dado momento da história de uma população. Para se pertencer a uma comunidade linguística, não é obrigatório que a língua em questão seja a língua materna de todos os elementos que a actualizam, basta apenas conhecer a língua a um nível que permita a comunicação com as pessoas que a utilizam no seu dia-a-dia.

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Competência linguística

A competência linguística consiste na capacidade intuitiva que o falante tem para utilizar a sua língua materna.

Isto quer dizer que qualquer pessoa sabe regras de concordância gramatical sem nunca as ter estudado, ou seja, qualquer pessoa pode falar uma língua desde que a tenha aprendido oralmente.

A competência linguística também é denominada por faculdade da linguagem e conhecimento da língua, ou seja, o principal objecto de conhecimento da linguística generativa. Apenas por termos competência linguística conseguimos comunicar e organizar-nos em sociedade.

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Competência comunicativa

A competência comunicativa é uma capacidade do falante para usar a competência linguística de forma adequada a situações sociais específicas.

Uma pessoa apenas consegue comunicar mediante o domínio de conhecimentos extralinguísticos e contextuais.

Quer isto dizer que temos de adequar a nossa atitude comunicativa às situações com que nos deparamos, e tal consiste em saber o que dizer, a quem o dizer e a forma a adoptar para nos exprimirmos de acordo com cada situação.

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Competência metalinguística

A competência metalinguística é a capacidade que o falante tem de trazer para o nível do consciente traços inconscientes da sua língua por meio de múltiplas estratégias entre as quais se contam os trocadilhos e os jogos de palavras.

Esta competência metalinguística está intimamente relacionada com o conceito desenvolvido por Vygotsky sobre as consequências linguística-cognitivas decorrentes da aprendizagem de uma Segunda Língua.

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Vygotsky afirma:

«a foreign language facilitates mastering the higher forms of the native language. The child learns to see his language as one particular system among many, to view its phenomena under more general categories, and this leads to awareness of his linguistic operations. Goethe said with thuth that “he knows no foreign language does not truely know his own”»

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Vygotsky e a metalinguística

A aprendizagem de L2 (língua segunda) é condição que promove e estimula o desenvolvimento das capacidade metalinguísticas .

A aprendizagem de L2 contribui para um melhor domínio das “formas superiores” de L1 (língua primeira ou materna).

Desta forma associamos o fenómeno linguístico ao metalinguístico.

Uma criança bilingue consegue distinguir mais cedo a distinção entre a forma física da palavra e o seu correspondente significativo.

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competência textual

A competência textual é a correcta interpretação de um enunciado introduzido num contexto ou numa situação.

Existem textos que variam de acordo com o contexto social ou a situação histórica em que se encontram.

O domínio da competência textual é fundamental para a correcta interpretação de um enunciado linguístico.

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Domínio das competências

Um bom domínio de todas estas competências proporciona ao indivíduo um acesso ao conhecimento que é fundamental para o seu desenvolvimento pessoal.

Deste modo é essencial conhecermos bem a nossa língua materna, para podermos comunicar e interpretar correctamente os conteúdos das palavras e frases que nos entram pelos olhos e pelos ouvidos.

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Faculdade da linguagem

A Linguagem é a capacidade humana, inata e universal, que permite a aquisição rápida das regras de funcionamento da língua que a criança ouve durante os primeiros anos de vida e que lhe possibilita a construção progressiva da respectiva gramática.

A Linguagem é um sistema em mudança constanteLinguagem infantil é fundamental na moderna

concepção de definição de norma linguística, o sistema da língua que avalia e gere a mudança.

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Aquisição da linguagem

Processo através do qual o indivíduo aprende a sua língua materna, adquirindo as regras de funcionamento dessa língua por simples exposição à sua utilização no contexto em que está inserido.

O processo de aquisição denomina-se por input linguístico.

Opõe-se ao conceito de aprendizagem, que implica o outro tipo de competências.

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Gramática Interiorizada

Conhecimento que o falante, a pessoa que comunica numa determinada língua, tem do modo de funcionamento da sua língua, das estruturas gramaticais e lexicais.

Este conhecimento é adquirido inconscientemente durante o período da aquisição da língua.

Este conceito foi desenvolvido pela linguística generativa, a escola Chomskyana, que pensa na linguagem como uma característica da espécie humana.

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Gramática

Estudo do funcionamento das línguas, geralmente de uma língua, com referência aos seus aspectos fonológicos, morfológicos, sintácticos e semânticos. O termo gramática aplica-se ao livro que explicita esse estudo mas pode também aplicar-se ao conhecimento implícito que os falantes têm do funcionamento da sua língua.

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Mudança Fonética

Fenómeno que ocorre durante um determinado período da história de uma língua e que consiste nas evoluções operadas no seu sistema sonoro. Reconhecem-se vários tipos de mudanças fonéticas (ou fonológicas), que podem afectar o número total de fonemas (quando um fonema se divide em dois ou quando o inverso se verifica) ou apenas os alofones de um fonema.

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Regularidade da mudança fonética

A mudança fonética que não é condicionada por factores não fonéticos é regular e opera sem excepções durante um certo período de tempo e numa dada comunidade linguística, com possíveis restrições contextuais. Certas mudanças (incluindo a dissimilação e a metátese) ficam excluídas desta hipótese.

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Fonologia Ramo da linguística que estuda os sistemas sonoros das

línguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano pode produzir, e que é estudado pela fonética, só um número relativamente pequeno é usado distintivamente em cada língua. Os sons estão organizados num sistema de contrastes, analisado em termos de fonemas, segmentos, traços distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de acordo com a teoria usada.A enorme variedade de sons produzidos pelo aparelho fonador humano não é totalmente uniforme nem classificável do ponto de vista fonológico. É indispensável saber fazer uma análise pormenorizada para distinguir os fonemas e os traços fonológicos de outras unidades com valor acústico também produzidas pelo aparelho fonador.

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FonologiaA análise fonológica divide-se em dois níveis:

1. O nível segmental é um dos dois níveis de análise fonológica das línguas, onde incluímos os segmentos, ou fonemas, que constituem as sequências fónicas. Este nível ocupa-se da representação dos sons que correspondem articulação das letras do alfabeto. O nível segmental classifica os sons e as sequências de sons.

2. O nível prosódico representa cada um dos níveis da árvore métrica. Os constituintes prosódicos são unidades mais vastas que o segmento. Estes elementos são regulados por princípios rítmicos de alternância entre unidades mais salientes e unidades menos salientes.

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Morfologia

A morfologia é a disciplina da linguística que descreve e analisa a estrutura interna das palavras e os mecanismos de formação de palavras.

O processo morfológico resulta de uma operação de adjunção ou supressão de constituintes da palavra, ou de alteração da sua estrutura interna, que actua sobre uma forma de base e gera uma nova forma. O neologismo, isto é, o actor principal no processo da mudança linguística.

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Sintaxe

Área da linguística que estuda as regras, as condições e os princípios subjacentes à organização estrutural dos constituintes das frase, ou seja, o estudo da ordem dos constituintes das frases.

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SemânticaÁrea da linguística que estuda o significado tal como ele é estruturado nas línguas. O termo é usado de formas variadas em diversos campos, entre os quais é de salientar a filosofia e a lógica em virtude da sua relação com a semântica linguística. Em filosofia é dada importância fundamental à relação entre linguagem (ou língua) e mundo, assumindo formas diversas consoante a concepção filosófica subjacente (realismo, nominalismo, conceptualismo...). Em lógica, a semântica de uma língua ou de um sistema formal é sobretudo o estudo das relações entre o sistema (estudado pela sintaxe) e os seus modelos ou interpretações.

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Mudança Linguística

O Dicionário de Termos Linguísticos (Lisboa, Edições Cosmos), organizado por Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mira Mateus, define os termos:

Mudança Linguística:«Qualquer modificação sofrida pela estrutura de uma língua (a nível fonético,

fonológico, morfológico, sintáctico ou semântico) ao longo do tempo.»

Variação Linguística:«[O] fenómeno pelo qual uma determinada língua nunca é, numa dada

época, lugar e grupo social, igual ao que era numa outra época, num outro lugar e num outro grupo social.

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Variação Linguística

1. A variação diacrónica ou diafásica é o objecto de estudo da gramática e da linguística históricas.

2. A variação diatópica é o objecto de estudo da geografia linguística e da dialectologia.

3. A variação diastrática é o objecto de estudo da sociolinguística que se ocupa da variação social», isto é variação sincrónica.

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Conceito de Diacronia

Dá-se o nome de diacronia ao carácter dos factos linguísticos considerados na sua evolução através do tempo ou à disciplina que se ocupa do seu estudo (linguística diacrónica). A diacronia pode ainda ser encarada como uma sucessão de sincronias.

Fonte: Dubois 1973

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Conceito de SincroniaO conceito de Sincronia refere-se ao estado de língua considerado no seu funcionamento num dado momento do tempo, sem ter em conta o processo de mutação histórica. Estuda a variação nas vertentes diastráticas (sociolinguística) e diatópicas (dialectologia).

Ambos os conceitos de Diacronia e Sincronia foram cunhados pelo Linguista Ferdinand de Saussure (Genebra 1857- Morges 1913).

Saussure foi um linguista e filósofo cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo.

O pensamento de Saussure estimulou muitas das questões da linguística do Século XX.

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Eixo paradigmático

Eixo diacrónico

Eixo sincrónico

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Ferdinand de Saussure (1857-1913) Significante X Significado

O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e significado, como se fossem dois lados de uma moeda.

– O significante do signo linguístico é uma "imagem acústica" (cadeia de sons). Consiste no plano da forma.

– O significado é o conceito, reside no plano do conteúdo.

A teoria do valor é um dos conceitos cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente, esta teoria postula que os signos linguísticos estão em relação entre si no sistema de língua. Entretanto, essa relação é diferencial e negativa, pois um signo só tem o seu valor na medida em que não é um outro signo qualquer: um signo é aquilo que os outros signos não são.

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Ferdinand de Saussure (1857-1913) Língua X Fala

Saussure separa a língua da fala.

Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objecto da linguística propriamente dita.

A língua é muito diferente da fala que é um acto individual e está sujeito a factores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise. A fala está relacionado com factores extralinguísticos, o denominado “saber sobre” de natureza metalinguística, relacionável com os estudos de Vygotsky que adiante faremos referência.

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Ferdinand de Saussure (1857-1913)

Sincronia X Diacronia

Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrónica, um estudo descritivo da linguística em contraste com a visão diacrónica do estudo da linguística histórica, estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado no século XIX.

A partir da visão sincrónica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento numa dado ponto do tempo (recorte sincrónico).

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Ferdinand de Saussure (1857-1913)

Sintagma X Paradigma

O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o paradigma é, como o próprio autor define, um "banco de reservas" da língua fazendo com que suas unidades se oponham pois uma exclui a outra.

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factores externos da mudança

Tudo o que, sendo próprio de uma dada comunidade, nomeadamente a sua estrutura social e o tipo de contacto que estabelece com comunidades linguisticamente diferentes, tem influência sobre a língua falada por essa comunidade, determinando modificações da sua estrutura.Contacto com outras línguas

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factores internos da mudança

Tudo o que, sendo parte integrante de um dado sistema linguístico, age como condicionamento de mudanças no interior desse sistema.

Mudanças de pronunciação das palavras:Há-des em vez de Hás-de

Mudança determinadas pela aplicação da lei do menor esforço

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História da gramáticaO estudo da gramática iniciou-se à mais de quatro mil anos. A primeira gramática de que se tem notícia é a de Panini para o sânscrito,uma língua ainda hoje falada na Índia que terá surgido em torno de 1500 a.C.

Os gregos foram dos primeiros a pensar sobre a linguagem no ocidente. Aceita-se que o estudo formal da gramática se tenha iniciado com os gregos, que a partir de uma perspectiva filosófica descobriram a estrutura da língua.

O gramático grego Dionísio, o Trácio, escreveu a "Arte da Gramática", esta obra que serviu de base para as gramáticas grega, latina e de outras línguas europeias até o Renascimento.

Com o advento do Império Romano, e com os processos da latinização e da romanização, os romanos receberam a tradição gramatical dos gregos e traduziram-na para latim.

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História da gramáticaNo século XVIII iniciaram-se as comparações entre as várias línguas europeias e asiáticas. No século XIX, surgiu a gramática comparativa, como enfoque dominante da Linguística.

Gottfried Wilhelm Leibniz, linguista comparativista, afirma que"maioria das línguas provinha de uma única língua, a indo-européia".

Até o início do século XX, ainda não havia descrição gramatical da língua dentro de seu próprio modelo.

Abordando esta perspectiva, surgiu o "Handbook of american Indian languages" [Manual das línguas indígenas americanas) em 1911, do antropólogo Franz Boas, assim como os trabalhos do estruturalista dinamarquês Otto Jespersen, que publicou, em 1924, "A filosofia da gramática".Boas desafiou a metodologia tradicional da gramática ao estudar línguas não indo-européias que careciam de testemunhos escritos.

A análise descritiva, representada nestes dois autores, desenvolveu um método preciso e científico, além de descrever as unidades formais mínimas de qualquer língua. Introdução do estudo da análise fonética histórica.

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História da gramática

Para Ferdinand de Saussure, "a língua é o sistema que sustenta qualquer idioma concreto", isto é, o que falam e entendem os membros de qualquer comunidade linguística, pois participam da gramática.

Em meados do século XX, Noam Chomsky concebeu a teoria da "gramática universal", baseada em princípios comuns a todas as línguas. Gramática generativa, como qualidade genética do ser humano.

Também nos séculos XIX e XX, se estabeleceram as bases científicas

da Semiótica, como "sistema de signos", a conectar várias ou todas as áreas do conhecimento.

Em língua portuguesa, a primeira gramática conhecida é da autoria de Fernão de Oliveira, foi publicada em Lisboa, em 1536, com o título “Grammatica da lingoagem portuguesa”. Adiante faremos referência com maior pormenor à vida do primeiro gramático português

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História da gramáticaForam os gregos os primeiros a elaborar gramáticas em função dos sistemas de escrita. O pensamento Grego deu origem a considerações sobre a linguagem em termos cognitivos, estreitamente relacionada com a vertente normativa que regula o “bom uso da linguagem”.

Esta visão normativa da gramática dominou os estudos até ao aparecimento das novas abordagens de análise da língua e das ciências até ao final do século XIX.

Longo período em que as ciências da gramática se preocupavam unicamente com o uso correcto da língua.

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Abordagens gramaticais Podemos considerar três grandes correntes gramaticais:

1. A corrente tradicional, da Gramática Tradicional ou Normativa, preocupada com o “bom uso” da linguagem e que desenvolveu a ortografia e a eloquência, proveniente da tradição greco-latina.

2. A corrente descritiva, a da Gramática Estruturalista, preocupada com a descrição da língua tal como se fala, pretendendo verificar como funcionam as diferentes partes do sistema linguístico.

3. A corrente da Gramática Generativa ou Transformacional que estuda o dinâmico percurso que vai dos processos mais profundos aos da superfície. Consiste numa proposta teórica de gramática explícita que compreende um conjunto de regras formais, de princípios e de parâmetros universais subjacentes ao conjunto infinito de enunciados. Gramática Universal de Chomsky.

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Gramática Descritiva

Estudo que descreve o funcionamento dos sistemas de elementos que pertencem aos vários níveis da língua (ou seja, dos sons, das palavras e das frases) e da interrelação existente entre estes sistemas, tomando como base tanto a sua utilização oral como escrita.

Tome-se como exemplo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Luís Lindley Cintra (a primeira edição é de 1984 e foi publicada em Lisboa , pela Edições João Sá da Costa).

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história externa e história interna

A história externa de uma língua estuda as modificações que se produzem na comunidade linguística que a fala e nas suas necessidades, com o objectivo de determinar as condições da evolução linguística propriamente dita.

A história interna estuda as modificações sofridas pela estrutura de uma língua no decurso da sua evolução.

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História do LatimPara compreendermos efectivamente a origem do português é

fundamental conhecer a origem da língua e da cultura de Roma.

O latim é a língua mãe de todas as línguas românicas tendo os fundamentos da civilização ocidental sido lançados pela expansão Império Romano.

Para se perceber a sua importância na cultura e mentalidade dos povos da actualidade é absolutamente necessário ter conhecimento de que um em cada dez habitantes do planeta comunica diariamente utilizando línguas provenientes do latim.

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História da LínguaEmbora o latim seja hoje uma língua morta, com poucos

falantes fluentes e sem que ninguém o tenha por língua materna, ainda é usado pela Igreja Católica.

Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir de fonte vocabular para a ciência, o mundo académico e o direito.

O latim vulgar, um dialecto do latim, é o ancestral das línguas neolatinas, italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, e outros idiomas.

Muitas palavras adaptadas do latim foram adoptadas por outras línguas modernas, como o inglês.

O latim gozou do estatuto de língua franca do mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.

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História da LínguaO latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico originalmente falada

no Lácio, a região do entorno de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente na Europa, como a língua

oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste último ao cristianismo, da Igreja Católica.

Através da Igreja, tornou-se a. língua dos académicos e filósofos europeus medievais .

Galileu Galilei com o «Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo» publicado em 1632, foi o primeiro académico europeu a escrever em língua vulgar, no dialecto toscano, a partir do qual é fixada a norma linguística italiana.

O latim, por ser uma língua altamente flexiva e sintética, tem uma sintaxe variável quando comparada com a de outros idiomas.

A sintaxe latina é indicada por uma estrutura de afixos (sufixos e prefixos) ligados a temas.

O alfabeto latino, derivado dos alfabetos etrusco e grego (por sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua a ser o mais usado no mundo.

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A formação do Império RomanoA língua latina está documentada pelo menos a partir do

século VI a.C. e a sua localização inicial correspondia apenas à cidade de Roma e à região que a circundavam.

Nessa longínqua época Roma encontrava-se rodeada de povos que falavam outras línguas indo-europeias e não indo-europeias.

Entre as línguas não indo-europeias destacava-se a norte o Etrusco, que inicialmente ocupava uma área geográfica mais ampla que o latim e também era dotada de um maior prestígio.

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Mapa da Europa antes da Expansão de Roma

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Latim - Períodos históricosPré-clássico, do século VII a.C. ao século II a.C.. As inscrições mais antigas procedem

do século VII a.C. Nos séculos III e II a.C. a literatura faz sua aparição, sob influência grega (Plauto, Terêncio).

Clássico, do século II a.C. ao século II d.C. A idade dourada da literatura latina.

Latim vulgar, incluindo o período patrístico, do século II ao V, inclusive a Vulgata de São Jerónimo e as obras de Santo Agostinho.

Período medieval, do século VI ao século XIV; surgem as línguas românicas.

Período renascentista, do século XIV ao XVII.

Neolatim (ou latim científico), do século XVII ao final do século XIX.Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e técnicos, para uma ampla variedade de línguas.

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A Romanização

A Romanização é o processo pelo qual Roma expande as suas fronteiras políticas com o objectivo de exercer domínio com os diferentes povos. Foi um longo processo de expansão que se iniciou no século IV a.C. até ao século IV d.C. A Romanização fez-se em diferentes graus, com diferentes ritmos e com diferentes intensidades. Houve zonas que assimilaram a cultura e a civilização romanas com relativa rapidez e profundidade e houve zonas em que a Romanização foi tardia, menos profunda, mais superficial. A Romanização fez-se então de diversos modos, graus, épocas e de acordo com as características culturais de cada região.

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LatinizaçãoLatinização é o processo através do qual a língua latina vem

sendo imposta nos territórios romanizados. A assimilação linguística processou-se numa linha de latinização

das populações integradas no império. Não correspondeu a uma política sistemática e consertada do povo Romano, consistiu sim na difusão e adopção da língua latina por parte das populações que integraram o Império Romano.

No seio deste enorme império ocorreu uma difusão e uma assimilação pela quase totalidade das populações aloglotas, isto é, populações que falavam outras línguas.

A relação que hoje existe entre a língua e a identidade comunitária não existia na antiguidade, tendo nascido esta consciência étnica com o estabelecimento das nações modernas.

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A invasão da península IbéricaA invasão da Península Ibérica ocorreu segundo duas vias de penetração

quase simultânea de colonos romanos. Houve uma invasão de legiões, que chegaram pelo Rio Ebro e percorreram todo o território do norte em direcção à Galiza, constituída por colonos Oscos e Úmbrios.

Uma outra vaga de legiões aporta a Sul, na região da cidade de Cádis, junto ao estreito de Gibraltar, e segue pela Lusitânia chegando às costas do mar Cantábrico formada por colonos oriundos do Sul da Itália e da Sicília.

Esta bivalência no local de entrada das legiões romanas e de origem das populações invasoras, tanto de militares como de colonos, conduz necessariamente a uma diversidade. Estas diferenças verificaram-se tanto a nível linguístico, como a nível da identidade da origem geográfica e sócio-cultural dos colonos e dos militares.

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Divisão administrativa Romana na Península Ibérica

Para uma correcta e profícua administração, Roma opta pela divisão da Hispânia em duas regiões. A primeira divisão administrativa de 192 a.C. dividiu a Península Ibérica entre Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior.

Posteriormente, em 27 a.C., no tempo do imperador Augusto, é feita uma nova divisão administrativa que divide a Península Ibérica em três regiões, a Hispânia Citerior Tarraconense permanece indivisa e a Hispânia Ulterior é dividida em duas províncias, a Lusitânia e a Bética.

A subdivisão da Ulterior sedimenta as grandes diferenças culturais e linguísticas então já existentes.

A terceira e última divisão administrativa ocorre em 216 d.C. com a constituição de uma província no Noroeste peninsular, até então incluída na Hispânia Citerior.

Esta nova região é denominada por “Galécia” ou “Gallaecia et Asturica” ou ainda a “Hispânia Citerior Nova”.

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Édito de Caracala 212 d.C.

No ano de 212 d.C. o imperador Caracala, compreendendo que a assimilação cultural e linguística estava praticamente consumada em todo o império, não havendo já uma verdadeira distinção entre vencidos e vencedores, decretou uma medida legislativa segundo a qual todos os cidadãos livres do Império gozavam da cidadania romana. Esta medida ficou conhecida como o Édito de Caracala. Este édito determinava que todos os súbditos livres do império podiam gozar da categoria de “cidadão romano” desde que soubessem falar e escrever em latim.

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A importância do latim como língua de cultura e ascensão social

O conhecimento e domínio do latim era também pressuposto para aqueles que eram ou aspiravam ser cidadãos romanos, “ciues romani”, o que era um altíssimo privilégio entre as gentes que constituíam a população do império, uma vez que apenas os cidadãos romanos podiam aceder aos mais prestigiados cargos públicos, quer fossem políticos ou administrativos.

Se tivermos em conta o que se passou na História da república e do Império Romano verificamos que, inicialmente,

a cidadania era um privilégio de muito poucos.

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Mudança LinguísticaA transformação ou evolução de uma língua para outra língua decorre, normalmente, segundo um processo de mudança linguística influenciada por factores internos e externos. Os factores da estrutura interna resultam na transformação estrutural de uma língua, e no caso do latim estes processos de mudança permitem compreender que a partir de determinada altura já não se falava Latim, tendo por base os documentos escritos, produzidos pelas populações ao longo do tempo.Os factores externos relacionam-se com o momento em que as populações da România tomaram consciência de que o que falavam já não era Latim.

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Evolução do portuguêsEm 30 AC, os romanos conquistaram a parte ocidental da Península Ibérica, composta principalmente pelas províncias romanas da Lusitânia e da Galécia. Os soldados romanos trouxeram com eles uma versão popular do Latim, o Latim Vulgar, do qual se acredita que descendem todas as línguas latinas e que contribuiu com cerca de 90% do léxico do português. Embora a população da Península Ibérica se tenha estabelecido muito antes da colonização romana, poucos traços das línguas ibéricas nativas persistiram no português moderno. Os únicos vestígios das línguas anteriores encontram-se numa parte reduzida do léxico e na toponímia da Galiza e Portugal.

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Invasões BárbarasEntre 409 e 711, dado o colapso do Império Romano, a Península Ibérica foi invadida por povos de origem germânica, conhecidos pelos romanos como bárbaros. Estes bárbaros, Suevos e os Visigodos, fixaram-se na Península Ibérica e absorveram rapidamente a cultura e língua romanas da península. Estavam lançados os dados do contacto entre os povos invasores e os povos invadidos que juntos contribuíram para a da mudança linguística do latim falado na Península.As línguas germânicas influenciaram particularmente o português em palavras ligadas às guerra e violência, tais como "Guerra"

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Invasão dos mouros

Desde 711, com a invasão da península pelos mouros (a partir do Norte de África), o árabe foi adaptado como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar latim vulgar; logo que os mouros foram expulsos, em 1249 (conquista de Faro), verificou-se que a influência exercida pelo árabe na língua foi pequena, exceptuando no léxico: o português moderno ainda tem um grande número de palavras de origem árabe, especialmente relacionadas com comida e agricultura, o que não tem equivalente noutras línguas latinas. A influência árabe é também visível nos nomes de locais no sul do país, tais como "Algarve" e "Alcácer do Sal". Muitas palavras portuguesas que começam por al- são de origem árabe.Estamos mais uma vez na presença do contacto de línguas, um dos factores que mais contribuem para a mudança linguística.

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Invasão Árabe

Durante o período Árabe a Península Ibérica viveu numa situação de diglosia. A diglosia é a situação linguística em que um uma determinada comunidade linguística vive num estado de bilinguismo, ou seja, possui duas línguas. Uma que usa no âmbito familiar e outra que usa no ambiente social.Este é um dos aspectos que mais contribuem para a mudança linguística.

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Mapa da evolução da conquista dos territórios ocupados pelos Mouros

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A reconquista Cristã lançou todos os reinos cristão que se formaram após a invasão árabe na conquista de territórios para sul.

A conjuntura política ditada pela invasão árabe definiu cinco territórios no norte da Península. O reino da Galiza, o reino de Leão e Astúrias, O Reino de Castela, e os Condados de Navarra e Aragão e o Condado da Catalunha.

Cada um destes territórios possuía uma variedade linguística de origem latina que se foram diferenciando ao longo do tempo.

O português

Portugal tornou-se independente em 1143 com o rei D. Afonso Henriques. A língua falada à época, o português antigo (antepassado comum ao galego e ao português modernos, do século XII ao século XIV), começou a ser usada de forma mais generalizada, depois de ter ganhado popularidade na Península Ibérica cristianizada como uma língua de poesia.

Em 1290, o rei Dom Dinis cria a primeira universidade portuguesa em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou que o português, até então apenas conhecido como "língua vulgar" passasse a ser conhecido como língua portuguesa e oficialmente usado.

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Mapa da Península Ibérica

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O portuguêsNo segundo período do português arcaico, entre os séculos XIV e XVI, com as descobertas portuguesas, a língua portuguesa espalhou-se por muitas regiões da Ásia, África e Américas. Hoje, a maioria dos falantes do português encontram-se no Brasil, na América do Sul. No século XVI, torna-se a língua franca da Ásia e África, usado não só pela administração colonial e pelos mercadores, mas também para comunicação entre os responsáveis locais e europeus de todas as nacionalidades. A irradiação da língua foi ajudada por casamentos mistos entre portugueses e as populações locais e a sua associação com os esforços missionários católicos levou a que fosse chamada Cristão em muitos sítios da Ásia

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Países que de Língua Oficial Portuguesa

O português

O fim do português arcaico é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende em 1516. O período do português moderno (do século XVI até ao presente) teve um aumento do número de palavras originárias do latim clássico e do grego, emprestadas ao português durante a Renascença, aumentando a complexidade da língua.Este período também ficou conhecido como o período do português Clássico. Pois foi nesta altura que Camões escreve a epopeia que coloca o português entre as línguas eruditas da Europa.Desde o período clássico aos nossos dias poucas alterações

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Via popular e via eruditaExistem palavras na língua portuguesa que de forma diferente derivam do mesmo

étimo latino.

planum > pla(n)u > chão esta é a evolução da palavra via popularPlanum > plano Evolução da palavra via erudita.

Como explicar esta evolução fonética e esta mudança semântica? A palavra portuguesa “plano” foi introduzida por eruditos na escrita e passou para

o uso corrente, generalizando-se a toda a população com um sentido ou significado diferente.

Enquanto a palavra chão é o resultado de séculos de evolução, a palavra plano foi forjada num momento, o século XVI por um processo de introdução de palavras directamente do latim literário de forma consciente protagonizada por escritores.

63

Fernão de Oliveira 1507 - 1581Também conhecido por Fernando de Oliveira este frade , gramático, construtor bélico-naval

renascentista, era natural de Aveiro e foi um dos expoentes renascentistas portugueses.

Ordenado frade dominicano, em virtude de suas posições heterodoxas, logo caiu no desagrado do Tribunal da Santa Inquisição, tendo sido preso várias vezes por determinação daquele tribunal.

Com efeito, consta que, em 26 de Outubro de 1555, entre tantas outras prisões:"[...] Deu entrada nas masmorras da Inquisição, em Lisboa, o insigne aveirense Padre Fernão de

Oliveira, clérigo dominicano e diplomata, escritor e filólogo, marinheiro e soldado, aventureiro e perseguido, «o primeiro gramático da língua portuguesa e porventura o primeiro tratadista naval de todo o mundo» [...]“ (Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, I, fl. 9).

Intelectual amplo, publicou a reputada primeira gramática portuguesa, a conhecida Grammatica da lingoagem portuguesa (Lisboa, 1536). Este intelectual é um dos responsáveis pela introdução de latinismo na língua portuguesa do século XVI. Foi um verdadeiro homem do renascimento.

Dedicou-se a um variado conjunto de actividades, sobressaindo a de piloto, para a qual a religião desempenhou um papel irrelevante. Foi ainda teórico da guerra e da construção naval. Precisamente nestas duas áreas — arte bélica e construção naval — destacou-se sobremaneira. As suas contribuições aí, com efeito, deram as bases da hegemonia portuguesa em diversos oceanos no século XVI.

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Palavras divergentesClassificação atribuída às palavras que provêm do

mesmo étimo, uma popular e outra erudita.

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Latim

Arena(m)Atriu(m)Legale(m)Plaga(m)Parabola(m)Macula(m)

Solitariu(m)Plenu(m)

Via popular

AreiaAdroLealPraiaPalavraMágoaManchaMalhaSolteirocheio

Via erudita

ArenaÁtrioLegalPlagaParábolaMácula

SolitárioPleno

Palavras convergentesHá palavras que provêm de étimos diferentes e se apresentam sob a

mesma forma vocabular.

São:Sanu- (adjectivo) > são (adjectivo)Sunt (verbo) > são (forma verbal)

Rio:Rivu- (substantivo) > rio (substantivo)Rideo (verbo) > rio (forma do verbo rir)

Esta é uma das várias razões para a existência de palavras homófonas

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Evolução semântica

Na passagem do latim para o português as palavras além da evolução fonética, sofreram, por vezes, uma evolução de sentido ou evolução semântica.

No diapositivo das palavras convergentes vimos que o latim solitarium deu origem à palavra portuguesa solteiro.

O sentido primitivo da palavra latina era «isolado, solitário, que vive só»

Em virtude de uma relação de circunstâncias, passou no português a designar o “homem que ainda não casou”.

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Evolução semântica

• A palavra ministrum significou em latim «o que serve, o servente, o escravo». Esta palavra humilde veio a designar na linguagem politica uma função elevada: Ministro

• A palavra portuguesa «aresta» provém de aristam, que significava barba de milho e, mais tarde, espinha de peixe. Foi a ideia de agudeza, aspereza que permaneceu no português «aresta». Um exemplo «limar as arestas» com o sentido de «remover dificuldades».

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Evolução semântica

• O substantivo calamitatem > calamidade foi pelos romanos aproximado de calamus, a cana ou haste de trigo ou de qualquer outro cereal; especializou-se no sentido de flagelo (temporal, saraivada) que ocasionava a perda das colheitas. Este sentido veio a perder-se completamente e a palavra passou a designar «qualquer espécie de desgraça, desventura, infelicidade, calamidade».

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Semântica lexical

• Denotação é o nome que designa o seu significado mais usual. É o sentido estável, fixo, da palavra.

• Ex. negro – cor escura• Conotação é o nome dado às possibilidades

de significação que um sujeito falante pode incluir ou sugerir no seu discurso.

• Ex. negro – luto, tristeza, morte

70

Vocabulário do PortuguêsO Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, com cerca

de 228 500 entradas, 376 500 acepções, 415 500 sinónimos, 26 400 antónimos e 57 000 palavras arcaicas, é um exemplo da riqueza léxical da língua portuguesa.

O Português, quer em morfologia, quer em sintaxe, representa uma transformação orgânica do latim sem intervenção de qualquer língua estrangeira.

Algumas mudanças tomaram corpo durante o Império Romano, outras tiveram lugar mais tarde.

Na Idade Média Alta, o Português estava a erodir tanto como o francês, mas uma política conservadora reaproximou a língua ao latim.

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Classificação e línguas relacionadas com o português

O português é uma língua indo-europeia, do grupo das línguas românicas (ou latinas), as quais descendem do latim, que pertence ao ramo itálico da família indo-europeia.

A língua portuguesa é, em alguns aspectos, parecida com a língua castelhana, tal como com a língua catalã ou a língua italiana, mas é muito diferente na sua sintaxe, na sua fonologia e no seu léxico. Um falante de uma das línguas precisa de alguma prática para entender um falante da outra. Além do mais, as diferenças no vocabulário podem dificultar o entendimento. Compare-se por exemplo:

Ela fecha sempre a janela antes de jantar. (português)Ella cierra siempre la ventana antes de cenar. (castelhano)

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Classificação e línguas relacionadas com o português

Enquanto os falantes de português têm um nível notável de compreensão do castelhano, os falantes castelhanos têm, em geral, maior dificuldade de entendimento. Isto acontece porque o português, apesar de ter sons em comum com o castelhano, possui outros que são únicos.

No português, por exemplo, há vogais e ditongos nasais (provavelmente herança das línguas célticas). Além disso, no português europeu há profunda redução de intensidade das sílabas finais e as vogais átonas finais tendem a ser ensurdecidas ou mesmo suprimidas.

Esta particularidade da variedade europeia, que resulta do chamado ‘processo de redução do vocalismo átono’, dificulta a compreensão por parte de falantes castelhanos, galegos e brasileiros.

O português é, naturalmente, relacionado com o catalão, o italiano e todas as outras línguas latinas.

Há muitas línguas de contacto derivadas do ou influenciadas pelo português, como por exemplo o patuá macaense de Macau.

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Mudança Linguística

Destas definições conclui-se que, por um lado, a mudança linguística marca diferentes fases ou período na variação diacrónica.

Por outro lado, a mudança constitui uma selecção das formas linguísticas em variação geográfica ou social, abandonando umas e generalizando outras à comunidade.

O conceito de Mudança Linguística surge associado ao conceito de variação Linguística.

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Fonética

A fonética é a disciplina linguística que estuda os sons e divide-se em três grandes ramos:

1) fonética articulatória; 2) fonética acústica; 3) fonética auditiva ou perceptiva.

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Fonética AcústicaOcupa-se das propriedades físicas dos sons de fala, do

seu funcionamento enquanto gerador de sons, e das principais correspondências entre traços acústicos e elementos dos sistemas fonológicos das línguas.

A fonética acústica recorre a técnicas instrumentais de investigação e a análise acústica para fornecer evidências claras e objectivas para outros domínios de investigação de fala (como o articulatório e perceptivo, por exemplo).

O real interesse da física do som assenta na sua relação com o funcionamento do sistema linguístico.

76

Fonética AcústicaPara que seja possível a um ser humano a capacidade de emitir sons são necessárias três condições fundamentais:

1. A existência de uma corrente de ar;2. A passagem dessa corrente de ar por obstáculos; 3. Condições de ressonância do ar dentro do corpo de forma a

garantir uma sonoridade.

A corrente de ar proveniente dos pulmões é a fonte de energia, ou seja, a força exercida sobre um corpo material que origina a sua vibração. Na fala, o mecanismo de formação do fluxo de ar constitui a fonte de energia. A fonte sonora é a matéria que entra em vibração com a acção da fonte de energia.

77

Fonética AcústicaA teoria acústica da produção de fala entende o processo da linguagem oral humana como um mecanismo complexo em que as ondas vibratórias propagadas por uma fonte sonora e movidas por uma fonte de energia são modeladas por um sistema de ressoadores. A fonação só se cumpre realmente quando se dá a captação e recepção dos sinais sonoro pelo receptor. Entendemos por caixas de ressonância do tracto vocal o conjunto de órgãos que realizam a ressonância proporcionando uma maior sonoridade. Podem ter formas e dimensões variáveis. A faringe, a boca e as fossas nasais funcionam como caixas de ressonância. A cavidade bucal é bastante versátil devido à sua enorme elasticidade, tendo capacidade para a aumentar ou diminuir de forma e de volume, através dos movimentos realizados pelos articuladores activos.

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Fonética AcústicaA onda sonora caracteriza-se por um movimento de propagação de uma vibração através de um meio natural, que pode tanto pode ser o ar como a água, sem deslocação permanente das próprias partículas. Uma onda sonora é composta por um determinado número de oscilações completas que vibram durante um segundo. Para que exista uma onda sonora é indispensável que exista uma fonte de energia. A energia é medida pela análise da relação entre a intensidade e a duração. Em linguagem fonética a energia é uma força variável que dá origem à onda sonora. Uma onda sonora pode ser complexa quando o fenómeno vibratório resulta da vibração de mais do que uma frequência. Uma onda sonora pode ser periódica, quando se repete regularmente, e pode ser sinusoidal, que é um tipo de onda mais simples, que resulta da variação regular da pressão do ar. Um tom, quando é puro, tem esta forma de onda. 79

Fonética PerceptivaÉ o ramo da fonética que estuda a resposta de percepção aos sons da fala, sendo intervenientes nessa percepção o ouvido, o nervo auditivo e o cérebro.

A fonética perceptiva é a parte da fonética que estuda a percepção que fazemos dos sons da fala através da audição. Esta refere-se especificamente a compreender a forma como é feita a apreensão e percepção dos sons emitidos quando são produzidas as palavras e as frases. Esta disciplina linguística investiga as relações entre os sons enquanto vibração e a informação que vem codificada dentro deles que será posteriormente descodificada pelo cérebro. A percepção da fala é uma capacidade da espécie humana para identificar e interpretar a sequência de sons através do sentido da audição.

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Fonética PerceptivaO aparelho auditivo é o conjunto dos órgãos que capta os sinais acústicos produzidos pela fala e que os converte em impulsos nervosos. É constituído pelo ouvido que se dividimos em três partes, o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno. Usamos a audição para apreender as vibrações emitidas pela voz humana.

A percepção é a faculdade que nos permite interpretar um conjunto de sons, consoante a sua sequência, e identificá-lo com os significados que lhes correspondem.

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Fonética Articulatória

Etapas da produção de fala

Ressonância nasal

Articulação

Fonação

Respiração

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Fonética Articulatória

Ao conjunto de órgãos envolvidos pelo ser humano na articulação dos sons chamamos aparelho fonador. É constituído pelos pulmões, traqueia, esófago, laringe, faringe, boca e nariz. Na língua portuguesa quase todos os sons da fala são produzidos no momento em que se faz a expiração. O ar que vem dos pulmões passa pela laringe e pelas cordas vocais, que podem ou não entrar em vibração, e chega ao exterior através da boca e do nariz. Todo este processo é comandado pelo cérebro.

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Fonética ArticulatóriaRamo da fonética que estuda o modo como os sons da fala são produzidos (articulados) pelos órgãos do aparelho fonador.

A fonética articulatória é uma disciplina linguística que tem evoluído graças ao avanço da ciência e da tecnologia. A invenção da radiografia, bem como de outros materiais de observação, permitem aos investigadores o conhecimento de como funciona o aparelho fonador. Através da fisiologia percebemos quais são as partes do corpo envolvidas no acto de falar, ou seja, podemos com o recurso a esta disciplina da medicina identificar com precisão todos os órgãos que nos permitem emitir sons.

84

Fonética Articulatória

85

Aparelho fonador éconstituído por 3 secções:

1.Cavidades supraglotais ou tracto vocal:

1.1. tracto nasal 1.2. cavidade oral1.3. cavidade faríngea1.4. tracto oral

3. Cavidades subglotais: Pulmões

2. Laringe / Cordas vocais

Fonética Articulatória

O funcionamento do aparelho fonador resulta da correcta articulação das várias partes do corpo que realizam a fala. A matéria-prima da construção fónica é o ar, ou melhor, a corrente de ar que usamos para respirar. A zona de respiração é constituída pelos pulmões, pelos brônquios e pela traqueia. Estes elementos vão fornecendo e gerindo a quantidade de ar necessária para a articulação correcta dos sons da fala em português.

86

Fonética Articulatória

Fundamental para a realização da linguagem humana é a laringe, que é constituída por diversas cartilagens e por um tecido membranoso situado entre a traqueia a faringe. É na laringe que estão situadas tanto as cordas vocais como a glote. A glote é um espaço normalmente triangular que existe entre as cordas vocais. A função sonora das cordas vocais é fundamental na fonação, na medida em que nos facultam a voz, e consequentemente, a possibilidade de falar e de cantar.

87

Fonética ArticulatóriaAs cordas vocais são as duas pregas de tecido muscular que se situam no interior da laringe humana e que produzem a energia sonora. Estas duas pregas ao vibrar em algumas circunstâncias, aproximando-se e afastando-se uma da outra, simultaneamente, dão origem à voz. Se as cordas vocais estiverem afastadas uma da outra, o ar que vem projectado pelos pulmões passa pela laringe e chega à boca sem qualquer vibração. Quando não existe qualquer vibração designamos os sons como surdos ou não vozeados. No entanto, quando as cordas vocais se aproximam uma da outra, a pressão provocada pela corrente de ar é tão intensa que as obriga a vibrar dando origem a sons sonoros ou vozeados.

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Fonética ArticulatóriaChamamos tracto vocal ao conjunto de órgãos situados acima da laringe através dos quais passa a corrente de ar durante o processo da produção dos sons da fala. Dividimos este conjunto de elementos em dois grupos: a cavidade bucal e a cavidade nasal. A cavidade bucal abrange toda a boca, na qual se encontram os lábios, os dentes, os alvéolos, o palato, o véu palatino e a úvula. É na boca que se encontram os articuladores activos e os articuladores passivos. A cavidade nasal corresponde à região que engloba o nariz e a parte da faringe que se encontra acima do ponto de fechamento do palato mole. O ar ao passar pela cavidade nasal e pela cavidade bucal em simultâneo altera a natureza dos sons conferindo-lhe nasalidade.

89

Fonética Articulatória

Os articuladores activos constituem as partes móveis do tracto vocal envolvidas na produção de um som de fala. Os articuladores activos são os lábios, a língua, o véu palatino, a úvula e o maxilar inferior. Os articuladores passivos são as partes imóveis do tracto vocal que constituem pontos de referência em relação aos quais se dirige o movimento dos articuladores activos. São articuladores passivos os dentes, os alvéolos e o palato.

90

Fonética ArticulatóriaPodemos distinguir e classificar a natureza dos sons tendo em conta a participação dos articuladores passivos e dos articuladores activos.

O ponto de articulação é um dos parâmetros de classificação dos sons da fala. É o local do tracto vocal onde os articuladores se movimentam entre si de forma a executar os movimentos que possibilitam a produção dos diferentes sons.

O modo de articulação é também um factor para a classificação dos sons. A forma como a corrente de ar atravessa a cavidade bucal e a cavidade nasal durante a produção dos sons, define a presença ou ausência de constrição no tracto vocal, influenciando, deste modo, o grau de constrição do fonema.

91

Fonologia Ramo da linguística que estuda os sistemas sonoros das

línguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano pode produzir, e que é estudado pela fonética, só um número relativamente pequeno é usado distintivamente em cada língua. Os sons estão organizados num sistema de contrastes, analisado em termos de fonemas, segmentos, traços distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de acordo com a teoria usada.A enorme variedade de sons produzidos pelo aparelho fonador humano não é totalmente uniforme nem classificável do ponto de vista fonológico. É indispensável saber fazer uma análise pormenorizada para distinguir os fonemas e os traços fonológicos de outras unidades com valor acústico também produzidas pelo aparelho fonador.

92

FonologiaA análise fonológica divide-se em dois níveis:

1. O nível segmental é um dos dois níveis de análise fonológica das línguas, onde incluímos os segmentos, ou fonemas, que constituem as sequências fónicas. Este nível ocupa-se da representação dos sons que correspondem articulação das letras do alfabeto. O nível segmental classifica os sons e as sequências de sons.

2. O nível prosódico representa cada um dos níveis da árvore métrica. Os constituintes prosódicos são unidades mais vastas que o segmento. Estes elementos são regulados por princípios rítmicos de alternância entre unidades mais salientes e unidades menos salientes.

93

Nível prosódicoAs propriedades prosódicas são propriedades fonológicas relacionadas com o controlo da duração, da intensidade e da altura dos sons que têm como consequência a quantidade das vogais, a proeminência acentual, o tom e a entoação.

A altura é o atributo da sensação auditiva de acordo com o qual um som pode ser ordenado numa escala de grave a agudo. Acusticamente corresponde à sequência dos sons. Fonologicamente determina o tom.

A duração é a quantidade de tempo durante o qual uma unidade linguística é produzida. Fonologicamente determina a quantidade dos sons.

A Intensidade é a quantidade de energia acústica de um som. A intensidade das variações na pressão do ar. A sua unidade de medida é o decibel (db). Fonologicamente determina o acento em línguas como o português. Também está relacionada com o volume.

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Nível SegmentalA classificação dos sons

Um som do ponto de vista linguístico é uma massa de ar em movimento que resulta das variações de pressão no meio natural provocadas pela vibração, quer no ar como na água, na verdade o som propaga-se mais facilmente na água do que no ar. O som da fala é produzido pelo aparelho fonador e transmitido através de variações de pressão entre as partículas de ar. Essas ondas de pressão, que já conhecemos com o nome de ondas sonoras, são captadas pelo aparelho auditivo e interpretadas pelo cérebro. O traço fonológico é a propriedade que constitui um segmento fonológico. Os traços fonológicos são as unidades mínimas dos segmentos, denominam-se como traços distintivos quando permitem a distinção entre dois segmentos do sistema fonológico.

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Nível SegmentalUm fonema é uma unidade distintiva, mínima e sucessiva, que serve para formar os significantes dos monemas, ou seja, o fonema, que se representa fonologicamente como em [a], [m], []. A cada um destes segmentos corresponde a um som. Um monema é uma unidade significativa mínima, ou seja, o momena é a unidade mais ínfima da fala que contém um valor com significado. Pode representar-se por um, dois ou mais fonemas, que individual ou conjuntamente, têm um valor de significado. Desta forma é o significado que possibilita a um só fonema tornar-se um monema, como na flexão verbal «é». O valor de significado que um fonema adquire pode ser de pessoa, género, qualidade, entre outros. A uma sílaba, normalmente, corresponde um monema, mas esta não é uma regra exacta.

96

Nível SegmentalA palavra “zoologia” por exemplo é constituída por três sílabas mas apenas contém dois monemas: o monema “zoo” que significa animal e o monema “logia” que significa tratado, estudo, conhecimento, ciência. O significado de uma palavra obtém-se juntando o sentido do conjunto de monemas que a constituem. Neste caso a palavra “zoologia” significa o estudo dos animais, ou melhor a ciência que estuda os animais

Outros exemplos de monemas podem ser as palavras “pato” ou “mãe”. Nestes exemplos verificamos que “pato” contém duas sílabas mas apenas um monema, a palavra “mãe” contém uma sílaba e, consequentemente, apenas um monema. Uma palavra pode conter vários monemas, na medida em que cada parte que a constitui possui um significado. A noção de monema aqui interessa-nos apenas para compreender a sua relação com o fonema.

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Nível SegmentalO segmento é a unidade mínima do sistema fonológico, que pode corresponder a um fonema ou pode ser também uma variedade contextual desse fonema.

Consideramos como segmentos ou fonemas os elementos fónicos que apresentam diferenças entre si. Com base no estudo e análise destas unidades conseguimos classificar e distinguir os sons, tanto a nível do ponto de articulação, como do modo de articulação. Convencionou-se que os fonemas se dividem em três tipos: 1. as vogais;2. as semivogais;3. as consoantes.

98

Nível SegmentalUma vogal é um som produzido sem qualquer obstrução do tracto vocal. A corrente de ar é projectada pelos pulmões e atravessa as cavidades bucal e nasal sem nenhum contacto com os articuladores. Uma vogal é sempre produzida com a vibração das cordas vocais.

A semivogal é um som produzido com características articulatórias e acústicas semelhantes às das vogais mas que ocorre junto de uma vogal formando com ela um ditongo. Uma semivogal nunca pode receber acento tónico nem pode surgir isolada, isto é, fora do contexto de ditongo. A semivogal também pode designar-se por glide.

Uma consoante é um som produzido com uma obstrução ou estreitamento do tracto vocal. Estamos na presença de uma consoante quando a passagem do ar é completamente bloqueada pelos articuladores ou quando a passagem do ar é restringida verificando-se uma fricção audível. As consoantes não são todas produzidas com vibração das cordas vocais.

99

Classificação das vogaisOs critérios para a classificação das vogais são: o ponto de articulação, o timbre e a intensidade.O ponto de articulação das vogais pode ser anterior, médio, ou posterior.O timbre pode ser aberto, médio ou fechado. A intensidade é tónica ou átona. Vogal recuada: vogal produzida com elevação da parte posterior do corpo da

língua.Vogal adiantada: vogal produzida com a elevação da parte anterior do dorso

da língua.Vogal alta: vogal produzida com a elevação do corpo da língua na parte

anterior ou posterior da boca.Vogal arredondada: vogal produzida com projecção e arredondamento dos

lábios.Vogal baixa: vogal produzida com um abaixamento do corpo da língua na

parte interior ou posterior da boca.Vogal média: vogal produzida com o corpo da língua na parte anterior ou

posterior da boca.100

Alfabeto Fonético Internacional

101

Classificação das consoantes quanto ao ponto de articulação

As consoantes labiais ou bilabiais são articuladas com a intervenção de ambos os lábios, verifica-se uma pequena projecção dos lábios que se fecham, no caso das consoantes bilabiais [p] e [b]. Quando o lábio inferior se eleva em direcção aos dentes do maxilar superior estamos perante consoantes lábio-dentais [f] e [v].

Uma consoante dental é articulada com elevação da parte anterior da língua em direcção aos dentes do maxilar superior.

As consoantes alveolares são produzidas com uma elevação da parte anterior da língua em direcção aos alvéolos. Chamamos alvéolos à região óssea das gengivas, o local onde os dentes estão enraizados. O contacto da língua com os alvéolos proporciona a articulação de sons como o [t] e o [d].

Uma consoante palatal realiza-se com a elevação da parte central da língua em direcção ao palato.

A consoante velar é realizada com uma elevação e uma retracção da parte anterior da língua na direcção do palato mole.

102

Classificação das consoantes quanto ao modo de articulação

Uma consoante oral é articulada com o véu palatino elevado o que provoca uma saída da corrente de ar exclusivamente pela cavidade bucal. A consoante nasal é produzida com um abaixamento do véu palatino, que permite a passagem do fluxo de ar pela cavidade bucal e pela cavidade nasal.

103

Classificação das consoantes quanto ao modo de articulação

Uma consoante sonora articula-se com a vibração das cordas vocais. Também designamos as consoantes sonoras como consoantes vozeadas.

A consoante surda é produzida sem vibração das cordas vocais. A corrente de ar passa pela laringe que encontra as cordas vocais afastadas. As consoantes surdas também são denominadas como consoantes não vozeadas.

104

Classificação das consoantes quanto ao modo de articulação

As consoantes oclusivas são produzidas com um fechamento completo no tracto vocal que é rapidamente distendido.

As consoantes fricativas são produzidas com um estreitamento no tracto vocal, de tal forma que os dois articuladores se encontram suficientemente próximos para que o fluxo de ar que passa por eles entre em turbulência, gerando uma fricção audível.

Uma consoante lateral caracteriza-se pela oclusão da corrente de ar num ponto central escapando-se o ar pela zona lateral da língua [l] ou [].

A consoante vibrante produz-se com um batimento ou com vários batimentos rápidos de um dos órgãos articuladores contra outro. Em português esses batimentos podem ser produzidos pela ponta da língua contra os alvéolos (r – apical) ou pela úvula (R – velar). É o que acontece com as duas produções possíveis da palavra carro. No caso de caro a vibrante é produzida com um único batimento dos alvéolos.

105

106

Processos fonológicos de alteração de segmentosOs processos fonológicos designam as modificações sofridas

pelos segmentos fónicos em diferentes circunstâncias contextuais. Estes fenómenos podem ocorrer no início, no fim das palavras, ou pelo meio das palavras, na sílaba da vogal acentuada, ou em outras sílabas. Alguns processos fonológicos estão relacionados com constituintes morfológicos da palavra. Outros relacionam-se com o contexto.

Numa língua é possível compreendermos a sua evolução através da inserção, supressão ou alteração de segmentos.

Os processos fonológicos aplicam-se tanto na análise da evolução de uma língua, como factor determinante na investigação da história da língua, como também se podem verificar no presente, alertando para alguns processos de mudança que ocorrem contemporaneamente. 107

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A inserção de segmentos fónicos é um fenómeno fonético segundo o qual um novo segmento é introduzido numa palavra. Quando a sua articulação ocorre em posição inicial é classificado como prótese. Quando esta inserção se verifica a nível medial é denominada por epêntese. Quando se acrescenta um som no final da palavra dizemos que estamos perante uma paragoge.

108

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A prótese é o fenómeno fonético que se caracteriza por introduzir um som no início de uma palavra.

scribere > escrever – o segmento “e” foi uma prótese acrescentada à palavra de origem latina.

A epêntese é um fenómeno fonético que se caracteriza pela introdução de um som no

meio de uma palavra.uena > uea > veia – o segmento “i” foi introduzido no meio da palavra. Neste caso não

na palavra de origem latina, mas na evolução da palavra em português antigo. A na evolução desta palavra verificamos que inicialmente sofreu uma sincope e posteriormente uma epêntese.

A paragoge é o fenómeno fonético que consiste na introdução de um segmento no final

da palavra.chef > chefe – o segmento “e” foi introduzido no fim da palavra, verificando-se assim

uma paragoge.

109

Processos fonológicos de alteração de segmentosA supressão de segmentos é um processo fonológico que afecta a língua provocando uma mudança quando um segmento deixa de ser articulado. Se ocorre em posição inicial denomina-se como uma apócope, se ocorre em posição medial é designada como uma síncope, se ocorre no final da palavra é referida como uma aférese.

Uma aférese é um fenómeno fonético que se caracteriza por fazer suprimir um segmento no início de uma palavra.acume > cume – o segmento “a” desapareceu na palavra portuguesa, diz-se que sofreu uma aféreseA síncope é um fenómeno fonético que se caracteriza por suprimir um segmento fónico no interior da palavra.manu > mão – o segmento “n” sofreu uma síncopeA apócope é um fenómeno fonético que se caracteriza pela supressão de um segmento fónico no final da palavra.lupum > lobo – apócope de “m” de acusativo, característica da evolução das línguas românicas.

110

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A alteração de segmentos é um conjunto de processos originados pela mudança linguística que afecta a qualidade dos sons.

A assimilação é um processo fonológico que consiste em tornar

iguais ou semelhante sons que eram diferentes. Tabula > tabla > talla > tala - o som grafado por “b” era oclusivo

no português antigo e tornou-se igual ao som lateral grafado por “l”

Dentro da assimilação verificamos ainda a metafonia e a inflexão

vocálica.

111

Processos fonológicos de alteração de segmentos

Metafonia é o processo que resulta da alteração da vogal tónica pela influência das vogais átonas da sua flexão.

Mentir e mintoJogo do latim jocum e jogos do latim jocosPorco do latim porcum e porcos porcosOlho do latim oculum e olhos do latim oculos Inflexão vocálica é um fenómeno que ocorre para tornar diferentes sons que

aparentemente seriam iguais dentro de uma sequência flexão verbal Fiz FizesteFez – a vogal temática muda para permitir a distinção entre o sujeito do verbo.FizemosFizestesFizeram

112

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A dissimilação é um fenómeno fonético que torna diferentes sons inicialmente iguais.

uerrere > varrer – apesar de estar grafado como “rr” a pronúncia latina articulava o som [], a mudança linguística para o português verificou uma pronúncia mais gutural transformando o som em [].

A metátese é um fenómeno fonético que passa pela permuta de lugar entre dois sons da mesma palavra.

flore > frol > flor – neste exemplo ocorrem duas metáteses, uma primeira na passagem do latim para o português antigo e uma segunda na passagem do português antigo para o português actual.

113

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A atracção é um fenómeno fonético que sucede quando um som mais fraco é levado para junto da vogal da sílaba tónica.

coriu > coiro – a sílaba tónica “co” atraiu a semivogal “i” da sílaba átona.

A vocalização é um fenómeno fonético exclusivamente consonântico, que consiste na passagem de uma consoante a uma vogal ou mais frequentemente a uma semivogal.

nocte > noite – o segmento oclusivo grafado por “c” sofreu uma vocalização transformando-se na semivogal grafada como um “i”.

114

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A sonorização é um fenómeno fonético exclusivamente consonântico que consiste na transformação de uma consoante surda em consoante sonora.

lupu > lobo – a palavra latina articulava o grafema “p” como uma consoante oclusiva surda. Na transformação para o português actual verificamos que o “p” sofreu uma sonorização, mas este fenómeno é muito antigo e ocorreu ainda na passagem do latim clássico para o latim coloquial tardio.

A palatalização é um fenómeno fonético exclusivo das consoantes. Resulta na

transformação em palatal de uma consoante que não o era. seniore > senhor – a consoante grafada por “n” na presença da semivogal “i”

forma um grupo grafado por “ni” que evolui para um novo som palatal grafado por “nh” e representado foneticamente por [].

filiu > filho – ocorre uma palatalização na medida em que a existência da glide influencia o ponto de articulação da consoante alveolar. O grupo “li” sofre uma palatalização em [].

115

Processos fonológicos de alteração de segmentos

A assibilação é um fenómeno fonético exclusivamente consonântico, ou seja, apenas afecta as consoantes. Ocorre quando um segmento fonético se identifica com um segmento vizinho ou dele se aproxima. Verifica-se quando uma consoante se transforma em silibante. Esta aproximação induz o falante a pronunciar uma palavra de forma diferente, então, o fonema adquire um traço ou traços fonéticos do segmento vizinho.

lancea > lancia > lança – o fonema latino grafado como “c” possuía um valor fonético de [k], a evolução para português antigo ainda usava o som oclusivo [k], mas na passagem para português moderno esse som foi alterando sofrendo uma assibilação. O som [k] deixou de ser oclusivo e transformou-se em fricativo [s].

A nasalização é um processo fonológico em que um segmento vocálico oral adquire

nasalidade quando se encontra em contacto com um som nasal. É um caso particular de assimilação.

mi > mim – o som oclusivo nasal [m] do português arcaico evolui no sentido de conferir nasalidade à vogal.

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Processos fonológicos de alteração de segmentos

A ditongação é um processo fonológico que se caracteriza pelo desdobramento de uma vogal em dois segmentos, produzindo-se uma diferenciação do timbre no interior do segmento vocálico, dando origem ao aparecimento de uma semi-vogal em posição pré ou pós vocálica.

arena > areã > areia – a síncope da oclusiva intervocálica deu origem a um encontro entre duas vogais que pertencem a sílabas diferentes, tendo a nasalidade da oclusiva desaparecida permanecido como traço da nasal que com ela constituía uma sílaba. A evolução do português antigo para o português actual desenvolveu uma semivogal permitindo uma melhor distinção entre as sílabas da palavra.

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Processos fonológicos de alteração de segmentos

A contracção é um processo fonético de alteração de segmentos que consiste na aglutinação de sílabas diferentes numa vogal ou num ditongo. Pode ocorrer enquanto crase ou enquanto sinérese.

É uma crase quando se verifica a aglutinação de duas vogais em apenas uma.sedere > seer > ser – a mudança da forma “seer”do português antigo para “ser” em

português actual é um processo de contracção por crase. As vogais “ee” pertenciam a duas sílabas diferentes, mas contraem-se dando origem a apenas uma vogal e a uma sílaba.

É uma sinérese ocorre quando se verifica uma aglutinação de vogais que dão origem a

um ditongo. lege > lee > lei – o termo “lege” depois de ter sofrido uma síncope da oclusiva deu

origem a uma situação de hiato, a resolução do hiato nesta palavra deu origem a uma contracção das duas vogais num ditongo.

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Cronologia dos principais fenómenos fonéticos que afectam vogais e consoantes

Latim coloquial tardio(séculos V-IX):

Apócope de –M de AcusativoPerda da quantidade vocálicaRedução /monotongação/simplificação dos

ditongos AE e OESíncope de algumas vogais átonas

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Cronologia dos principais fenómenos fonéticos que afectam vogais e consoantes

Latim Coloquial Tardio > Galego-Português/Português Arcaico (séculos XIII-XIV)

Apócope de –e precedido de lateral ou vibranteSíncope de algumas vogais prétónicasMetafonia exercida po –i (já em curso no LCT)Síncope das consoantes sonoras intervocálicas Sonorização das consoantes surdas intervocálicas ou entre

vogal e vibranteSimplificação da consoante geminada (ex. GŨTTA- > gota;

BŨCCA- > boca)Palatalizações e AssibilaçõesMetafonia por –u final

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Cronologia dos principais fenómenos fonéticos que afectam vogais e consoantes

Até ao século XVI:

Metafonia por –a Inflexão vocálica exercida por nasal

homossilábicaAlgumas metátesesAlgumas atracçõesAlgumas assimilações e dissimilações

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Cronologia dos principais fenómenos fonéticos que afectam vogais e consoantes

Português arcaico > Português moderno:

CraseAlgumas metátesesAlgumas assimilações e dissimilações

Meados do século XX até hoje:

Centralização da vogal do ditongo

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