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Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
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HISTORIA DA EDUCAÇÃO: CURSO DE PEDAGOGIA DA
UNIOESTE NO CONTEXTO DA FEMINIZAÇÃO DO
MAGISTÉRIO (1970-1990)
TELLES, Antonia Marlene Vilaca (UNIOESTE) 1
SILVA, João Carlos da (Orientador/UNIOESTE)2
Memória e História da Educação
A memória está entrelaçada com a trajetória histórica dos indivíduos e esses, estão
submergidos na história, em diferentes momentos históricos. Em Schaf (1995) estudar a
história é tentar compreender a realidade do presente através do conhecimento do
passado, contribui para apreensão, análise e explicações sobre a realidade social
concreta em que o individuo está inserido.
O historiador, ao escrever a “história”, busca a razão dos fatos, processos e
acontecimentos históricos, na ânsia de dar sentido à existência humana e entender as
circunstâncias atuais da vida social e individual podem estar inter-relacionadas com a
sua própria trajetória de vida.
No Brasil desde os anos 1980, o campo da História da educação no Brasil vem se
desenvolvendo no intuito de aprofundar os conhecimentos relativos à História da
Educação regional. A pesquisa em História da educação na região Oeste, tem
encontrado dificuldade em relação à precariedade dos acervos documentais das
instituições escolares, embora, a ocupação dessa região seja relativamente recente.
A criação do curso de Pedagogia está submersa ao processo de democratização da
escola pública no Brasil. O seu desenvolvimento está relacionado ao fenômeno da
1 Licenciada em História/UNIOESTE. Mestranda em Educação - UNIOESTE - Campus Cascavel-Pr. Membro do Grupo de pesquisa HISTEDBR/GT-Cascavel. E-mail: [email protected] 2 Doutor em História, filosofia e Educação/FE-UNICAMP. Professor no Colegiado do Curso de Pedagogia/UNIOESTE, Campus Cascavel, PR Membro do Grupo de pesquisa HISTEDBR/GT-Cascavel. E-mail: [email protected]
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feminização do magistério, como de fato, ocorreu em outras regiões do Brasil. São
questões que pretendemos pontuar de maneira preliminar a criação do curso de
pedagogia da Unioeste, no recorte temporal, que inicia com a sua criação em 1971 até a
primeira reestruturação em 1997. Discussão que pretendemos aprofundar em nossa
dissertação de Mestrado.
História da Educação e a feminização do magistério
A pesquisa em História da Educação Brasileira é recente, e precisa de muitas
pesquisas para que se possa dar contar da reconstrução histórica. Portanto, há muitas
fontes documentais que precisam ser localizadas, organizadas, catalogadas, que
ofereçam suporte para pesquisas que analisem esse movimento histórico (ORSO, 2006,
p. 160).
As fontes documentais, também chamadas fontes primárias são de fato,
primordiais para se recontar da história. Essa tarefa não tem sido fácil, pois além do
pesquisador buscar sua fonte de pesquisa, ele precisa selecionar e organizar.
A coleta e seleção de fontes documentais lhes permitem vislumbrar os vestígios
desse passado recente. De fato, a missão do pesquisador/historiador, é questionar as
fontes, em busca de respostas aos seus anseios. A partir da historicização do material
documental, será possível ao pesquisador construir relações para análise, sempre atento
às influências exercidas sobre a fonte documental.
Afinal o documento é produto do seu meio, trazendo em si as características da
sociedade que o produziu, sob que momento histórico político, econômico e cultural.
Sejam documentos oficiais ou mesmo, documentos eleitos pelo pesquisador.
Para REIS (2000, p.30), o pesquisador ao selecionar suas fontes a partir de sua
problemática, segue a análise e sintetização pela qual resultará o texto histórico,
rompendo-se com a narração, tornando-se apenas uma empresa teórica que suscita
problemas e de forma teórica argumentativa lhe propõe hipóteses.
Não é simplesmente um recontar da história a partir dessa análise de documentos
fontes. Corre-se o risco de simplesmente reproduzir um ideário sem muita
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profundidade. Assim como a fonte documental está carregada de influências, o próprio
pesquisador também o é.
Portanto, é preciso contextualizar o período, verificar quais as influências
políticas, econômicas e culturais existentes neste período. Muitas vezes a qualidade da
pesquisa está relacionada a bagagem cultural, como afirma Cardoso (1997, p.16), é
preciso ter um olhar abrangente, é preciso conhecer os grandes pensadores da
modernidade para então entender o tempo presente. Mas, também não pode ser isento
de um referencial teórico metodológico para sua pesquisa.
Afinal, como foi produzido a História da Educação Brasileira? Pode-se dar início
a essa indagação a partir do conhecimento, ou seja, a partir da leitura dos clássicos, dos
debates decorrentes das pesquisas, consultando os estudiosos da temática, da produção
acadêmica brasileira, a qual tem uma grande produção resultante das pesquisas
desenvolvidas em todo o país pelas universidades, mais especificamente, nos cursos de
pedagogia, especializações, mestrados e doutorados.
Não há como se separar a história e a historiografia brasileira da Escola, são
intrínsecos. História é relato de um momento histórico e a historiografia é a escrita
dessa História. Tendo sempre em mente que a História é consequência dos
acontecimentos sob a influência sócio-econômica-cultural.
E como se escreve a história? São as indagações do presente que nos leva a olhar
ao passado em busca de respostas aos acontecimentos atuais. Isso ocorre a partir de
pesquisas sobre instituições, movimentos sociais, políticos, religiosos, econômicos e
culturais.
A partir da análise aos documentos oficiais, documentos administrativos,
fotografias, as fontes primárias, que atendam a demanda dos mais diversos temas
oriundos dos grupos de pesquisas da Universidade, que vem se dedicando a escrever a
História da Educação no Brasil.
Nesse contexto, entram em cena, os Arquivos escolares, os quais tem sido um
aporte para as pesquisas desenvolvidas no âmbito acadêmico. A pesquisa nesses
arquivos é uma atividade dura e desafiadora que exige muita paciência e perseverança
por parte do pesquisador.
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O trabalho do pesquisador consiste então na busca de papéis desorganizados
cabendo a ele “descobrir” onde e como localizá-los, porque nem sempre, há um local
específico para os arquivos. Nesta empreitada muitas vezes é preciso superar obstáculos
de ordem burocrática, da capacitação do atendente na localização dos
arquivos/documentos. Os pesquisadores do campo da Historia da Educação, tem
encontrado dificuldades na localização de fontes primárias, devido a falta de
preservação documental que assola todo o país. Mesmo com todo o arcabouço legal,
presente na Legislação específica em arquivos públicos e privados no Brasil, na prática
não há recursos financeiros destinados à construção de arquivos municipais ou
regionais, manutenção dos arquivos existentes nas próprias escolas, materiais e
equipamentos adequados para a guarda, organização e disponibilização, assim como
profissionais habilitados.
As pesquisas realizadas no campo da História da Educação tem revelado a
precariedade quanto ao tratamento que vem sendo dado ao patrimônio público do país,
afinal, esses conjuntos de documentos compõem a historia das instituições de ensino no
país.
Neste sentido, a História das mulheres, tem se tornado campo de estudos, da qual
ganhou impulso, dos movimentos sociais.
Mary Del Priore (1997), apresenta o debate sobre a temática em “A História das
Mulheres no Brasil”, resultado de experiências e acúmulos individuais e coletivos de
pesquisas de pesquisadores brasileiros que tem seus trabalhos conhecidos pela temática.
Não se trata apenas uma coletânea de artigos, e sim, um projeto editorial no qual cada
pesquisador apresenta contribuição produtiva de sua trajetória de pesquisa, e atua nesse
momento como testemunha de suas fontes de pesquisa que são os documentos.
Desvelando-se, a história não somente das mulheres, mas de sua família, da
criança, do trabalho, da mídia, da literatura, a historia de seu corpo, sua sexualidade, da
violência que sofreu, de sua loucura, seus amores e sentimentos. Ao relatar os séculos
XVI e XVIII, os pesquisadores fizeram uso de processos da Inquisição, processos-
crime, leis, livros de medicina, crônicas de viagem, atas de batismo e casamento.
No século XIX, tendo como fonte documental os diários, fotografias,
correspondências, testamentos, relatórios médicos e policiais, jornais e pintura,
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vislumbra-se as transformações ocorridas em meio a consolidação do capitalismo, o
qual incrementou a mudanças da convivência social, em meio a ascensão da burguesia e
o surgimento de uma nova mentalidade que reorganizou os espaços familiares. O
nascimento de uma nova mulher, agora como parte essencial para “(...) um sólido
ambiente familiar, lar acolhedor, filhos educados e a esposa dedicada ao marido e sua
companheira na vida social são considerados um verdadeiro tesouro” (2007, p. 223).
Sendo somente a partir do século XX, que as mulheres ganham visibilidade por
meio de livros e manifestos de sua própria autoria, tendo a mídia cada vez mais atuante,
movimentos sociais, revistas direcionadas, recenseamentos.
A variedade de fontes documentais da qual o referido livro foi constituído dá
suporte para que possamos conhecer estudar e analisar o cotidiano das mulheres e as
praticas femininas nele envolvidas. A autora afirma que “(...) o máximo de documentos
que o historiador utiliza para desvendar o passado foram largamente consultados para
jogar o máximo de luz sobre histórias tão ricas e diversas” (PRIORE, 2007, p. 8)
Não se trata de uma critica à ausência feminina no cenário da historia, ou sobre a
fala masculina sobre as mulheres, até então predominante na historiografia tradicional.
A obra apresenta resultados de pesquisas sérias e bem documentadas, escrita por
homens e mulheres. São pesquisas desenvolvidas em várias regiões do Brasil, sendo
possível perceber a proposta de se contar a Historia das mulheres e as relações família,
da criança, do trabalho, mídia, literatura e de suas imagens frente à sociedade, como
verificamos nesse fragmento: Mulheres ricas, mulheres pobres; cultas ou analfabetas; mulheres livres ou escravas do sertão. Não importa a categoria social: o feminino ultrapassa a barreira das classes. Ao nascerem são chamadas “mininu fêmea”. A elas certos comportamentos, posturas, atitudes e até pensamentos foram impostos, mas também viveram o seu tempo e o carregaram dentro delas. (...) aparecem cantadas na literatura de cordel, em testamentos, inventários ou livros de memória. As muito ricas, ou da elite intelectual, estão nas paginas dos inventários, nos livros, com suas joias e posses de terras; as escravas, também estão ali, embora pertencendo às ricas. As pobres livres, as lavadeiras, as doceiras, as costureiras e rendeiras – tão conhecidas nas cantigas do nordeste -, as apanhadeiras de água nos riachos, as quebradeiras de coco e parteiras, todas essas temos mais dificuldade em conhecer: nenhum bem deixaram após a morte, e seus filhos não abriram inventários, nada escreveram ou falaram de seus anseios, medos,
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angustias, pois eram analfabetas e tiveram, no seu dia-a-dia de trabalho, de lutar pela sobrevivência. (PRIORE, 2007, p.241-242)
Mary Del Priore, afirma que é chegada a hora de se construir a historia das
mulheres, sem preconceitos e de forma que possa se desvendar o cruzamento das
trajetórias femininas nas representações, nos sonhos e na historia politica e na vida
social, dando ênfase a complexidade e a diversidade das experiências e das realizações
vivenciadas por mulheres, durante quatro séculos.
A presença da mulher no processo educacional no Brasil, temos como referência a
obra: O legado Educacional do século XX, capítulo: Mulheres na educação: missão,
vocação e destino, “A feminização do magistério ao longo do século XX”, a
historiadora Jane Soares de Almeida, estabelece relações com os posicionamentos
sociais, políticos e educacionais, tendo ainda como diretriz a educação feminina e a
influência católica, os cursos de formação de professores e a feminização do magistério
como decorrência dessa totalidade. A fé do liberalismo no poder da escola, tecido no
imaginário republicano brasileiro desenvolveu-se até o século XX, tendo a
concretização dessa crença, alicerçada no atributo feminino como inclinação ideal para
educar a infância. Enquanto o exercício de professorado, paulatinamente, tornava-se um
espaço feminino, os homens afastaram-se da sala de aula, ocupando outros cargos na
estrutura hierárquica da escola, como os administrativos. Verificou-se que, desde os
finais dos oitocentos, propagou-se ao longo do século XX, que a presença feminina na
educação da infância, cumpriria o papel de guia da infância, mãe-professora, como
atribuição natural da mulher, cooperando com a escola no papel de transformadora de
consciências. Essa crença idealista do liberalismo republicano, mostrou-se frágil perante
a realidade do panorama social em que professores homens e mulheres, não possuem o
poder inerente de atuar decisiva e objetivamente nas armadilhas do sistema capitalista.
A inserção feminina num espaço profissional representado pela educação coincide
com o período em que se iniciaram os primeiros movimentos pela liberação feminina.
No bojo das reivindicações e conquistas femininas, a superação das desigualdades e
injustiças sociais e assim como retirar da invisibilidade segmentos sociais que até então
estiveram sob o manto da ignorância e do preconceito.
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Considerando-se as conquistas efetivadas ao longo das primeiras décadas do
século XX, como o acesso das mulheres ao ensino superior e a algumas profissões, a
mentalidade de mulher-mãe deveria ser pura e assexuada essa mentalidade ainda esteve
presente, no qual a mulher não deveria sair do lar, e caso assumisse algum trabalho
deveria ser legitimo, como profissões ligadas a saúde. “O trabalho feminino deixou de
ser ditado apenas pelos atributos de vocação e missão, tornando-se, no cenário
econômico do século XX, uma exigência ante os tempos que corriam, não somente pela
profissão em si, como em relação ao ingresso financeiro”. (ALMEIDA, 2006, p. 83)
A mesma autora, em Mulher e Educação: a paixão pelo possível, discute que as
mulheres não somente reivindicaram como também forçaram sua inserção nesse campo
profissional e conseguiram ocupá-lo em poucas décadas. Contudo, essa ocupação é
resultado de uma série de fatores externos, como a necessidade de mão-de-obra, a queda
do poder aquisitivo da classe media, a expansão do número de escolas dentre outras
questões. (ALMEIDA, 1998)
A autora afirma a importância do resgate da presença da mulher na história da
educação “A função do historiador é defender ideias divergentes, romper parâmetros,
expor-se e a aceitar os riscos e críticas. Isso faz parte do oficio de realizar pesquisa
histórica, um ato de coragem, por que não, de paixão” (ALMEIDA, 1998, p. 32).
Utilizando-se de duas fontes de pesquisa: impressa periódica educacional e
feminina da época e o testemunho de antigas professoras primárias do interior paulista.
Na análise da fonte impressa pedagógica, deteve-se em desvendar os pontos de vista
masculino e feminino, no período de fim do século XIX até a década de 1930. Os
depoimentos das professoras primárias foram esclarecedores sobre o aspecto da
feminização do magistério e revelaram que mulheres e educação estiverem atravessados
em seus destinos, desde o início do século e permanecem até hoje.
No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, o discurso sobre o
sexo feminino, unia os atributos de pureza, doçura, moralidade cristã, maternidade,
generosidade, espiritualidade e patriotismo. Incumbindo à mulher à responsabilidade
por toda beleza e bondade que deveriam impregnar a vida social.
As concepções das qualidades femininas, mais a religiosidade e ausência de
instituindo sexual nas mulheres, induzia um modelo ideal, ou seja, um arquétipo
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religioso da comparação com a virgem católica, contrapondo a mentalidade relativa as
concepções vigentes nos séculos XVII e XVIII, a qual preconizava que a mulher
possuía aptidão natural a sensualidade e a maldade, como que lhes fossem inatas essas
características.
Para Almeida, o discurso positivista apesar de avançar acerca da imagem da
mulher em relação aos períodos anteriores, ao atribuírem um novo arquétipo feminino
de domesticidade e renúncia, “(...) foram determinantes para desclassificação social da
mulher” (1998, p. 18).
Isso porque o novo discurso com as qualidades morais femininas era ambíguo.
Pois apesar de exaltar aptidões valorosas à mulher, referendava o mito da inferioridade
biológica e intelectual presente no discurso evolucionista. Ou seja, naturalmente a
mulher deveria ser subordinada ao poder do homem, seja o pai, irmão ou marido.
Cabia a mulher a primeira educação, ou seja, de seus filhos. Mas, para que a
mulher pudesse exercer tal tarefa, ela deveria ter acesso ao conhecimento-educação,
instrução assim como os homens. Contudo, essa educação teria como objetivo exclusivo
o cuidado à família e não a formação de uma profissional.
Considerando que para a mulher o espaço da família como esposa e mãe era o que
lhe era atribuído como inato, com intuito de adquirir instrução e talvez conseguir uma
profissão, o primeiro passo para uma autonomia e acesso ao espaço público foi o
magistério. O magistério foi a profissão que proporcionou as mulheres da elite
adentrarem no espaço público, garantindo-lhes independência financeira.
Num momento importante de formação de identidade de um Brasil que se
renovava, a educação infantil-nacional era uma necessidade.
Ao atribuir as qualidades inatas como mãe e esposa como sustentáculo da família
e consequentemente, a pátria, não deixam de ser realmente um bom alicerce para a
constituição de sujeitos sociais ajustados a viverem em harmonia na sociedade.
De fato, a feminização do magistério no Brasil está alicerçada desde 1900 e
aumentou com a República. A ocupação do magistério pelas mulheres se deu
efetivamente pelo aumento do número de vagas, devido o abandono dos homens dessa
área profissional.
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De acordo com a impressa educacional da época, a desvalorização salarial do
magistério já era realidade num momento que a presença feminina ainda era ínfima.
Impregnados sob o discurso de dever sagrado, de missão, vocação, sacerdócio,
convencendo ao sujeito, sob sua missão inata, sujeitando-se assim, ao pagamento de
salários baixos.
Assim, a vocação inata da mulher lhe outorgava desenvolver na escola o que já
desempenhava em casa, educar a criança pequena, fazendo da escola seu segundo lar.
De acordo com o depoimento das professoras que viveram nesse período, assim
como no lar, não havia competição com a liderança masculina. Os homens foram
assumindo os cargos administrativos, e as mulheres o espaço de sala de aula. As
mulheres assimilaram a ideologia de supremacia masculina e inferioridade da mulher,
pois havia entre elas o preconceito em relação a mulher ocupar um cargo de direção.
A reprodução da submissão ao poder masculino na escola, os mecanismos de
controle ideológico e a distribuição desigual do poder, tornavam a mulher submissa ao
modelo organizacional escolar e as levava a acatar um papel subalterno dentro de um
uma instituição que havia se tornado seu espaço profissional.
Na análise da autora, houve cumplicidade nesse processo, porque ao se sujeitarem
as normatizações sociais e escolares, em sala de aula, era possível, autonomia em
relação as suas práticas, lhe proporcionando, realização feminina, afinal esse era o seu
espaço autorizado socialmente, sua conquista.
Em 1930, o Estado Novo, estabeleceu uma politica de ambiguidades em relação
aos professorados ao mesmo tempo que dignificava a imagem profissional havia a
contenção do salário. Nesse período as mulheres já eram maioria no magistério e a
imagem de reprodutora da moral da família e a da pátria, tendo tão nobre função social
Gilberto Luiz Alves (2005), discute os momentos decisivos do processo de
produção material da escola publica contemporânea, procurando apreender o seu
movimento no interior da sociedade capitalista e mostrando como a escola vem ao
longo desse período agregando novas funções sociais e exigindo do profissional
educacional.
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O capitalismo em sua fase monopolista, no século XIX, transformou a escola em
um mecanismo que possibilita a alocação do trabalhador improdutivo desempregado
nessas camadas da sociedade, fazendo parte ativa do processo de produção.
A escola tornou-se a instituição social vital para assegurar o equilíbrio da
sociedade capitalista, mantendo assim a reprodução do capital. A sociedade capitalista
impõe a ideologia que convém a cada classe social, visando a reprodução das relações
de produção.
O curso de Pedagogia na Unioeste
Maria Lídia Sica Szymanski e Carmen Célia B. Correia Bastos (2011), no artigo
“O curso de Pedagogia da Unioeste - Campus de Cascavel: História de suas
reestruturações curriculares”, apresentam a trajetória dos trinta e oito anos de existência
do referido curso. Durante as décadas de 1970 e início da década de 1980, o curso de
Pedagogia da Unioeste, assim como os cursos de Pedagogia no Brasil, cumpria sua
função em formar educadores especializados e técnicos de educação. De 1976 a 1996,
como licenciatura Plena, possuía as seguintes habilitações: Magistério das disciplinas
pedagógicas do 2ºgrau, Orientação Educacional e Administração Escolar.
Entretanto, a partir das discussões lideradas pela ANFOPE e por teóricos como
Dermeval Saviani, um novo cenário se apresentava:
Alterando a postura filosófica que embasa a sua proposta curricular. Previa-se então que o pedagogo, em suas diferentes formas de atuação quer como professor, orientador ou administrador escolar, deveria assumir a educação em sua totalidade, numa visão social ampla, criando possibilidades para superar a fragmentação teórico-prática na qual se encontrava o trabalho escolar, administrativo e pedagógico. Para isso seria necessário romper com os limites representados pela escola, voltando-se a ela para reconstruí-la na ótica da classe trabalhadora. (idem, 219)
Para as autoras, havia um descompasso entre esse objetivo e a forma como o curso
se estruturava, no modelo das habilitações. Desse modo, é a partir da década de 1990,
que se iniciam as discussões sobre a necessidade de reestruturação do Projeto Político
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Pedagógico – PPP do curso. A partir de grupos de estudo, constituídos pelos professores
e em reuniões coletivas, envolvendo professores e estudantes do Curso, foram se
construindo possibilidades de reestruturação do curso de Pedagogia, na compreensão de
que o antigo PPP não mais atendia a plena formação teórica que lhe auxiliasse na
construção de uma nova prática, “avaliava-se que a formação carecia de uma concepção
de unidade em que as diferentes dimensões da organização e da atividade escolar
fossem compreendidas de forma articulada e indissociada” (idem, p. 221).
Assim, a reestruturação do Curso de Pedagogia da Unioeste, foi implantada em
1997, tendo-se a clareza de que havia se obtivo avanço significativo em relação ao
primeiro e segundo PPP do curso, entretanto, em decorrência da dinâmica social,
sempre em mudanças, propôs-se um processo de avaliação constante tendo em
consideração as relações sociais e a dinâmica de sai consecução. Tendo como objetivo
identificar os aspectos negativos e positivos decorrentes da nova estrutura do curso a
partir de pesquisa realizada com ex-egressos do curso, a qual revelou que o curso
preparava para ampliar a compreensão crítica da realidade nas suas dimensões sócio-
histórica e político-econômica. Porém, deixava a desejar no que se referia aos
instrumentos metodológicos e didatico-pedagogicos da atuação docente. Outra
dificuldade encontrada é a falta de prática docente, apesar de que para alguns
participantes da pesquisa afirmam que o curso apresentava muitos subsídios para a
prática no decorrer da atividade enquanto profissional. Outras questões ainda se referem
inclusão de disciplinas, a carga horaria de disciplinas e a forma de avaliação nas
disciplinas. Constatou-se, portanto, que o curso de Pedagogia efetivamente, preparava
para ampliar a compreensão crítica da realidade na sua dimensão sócio-historica e
politico-economica, e que deixava a desejar no que se referia aos instrumentos
metodológicos e didático-pedagógicos necessários ao profissional da educação. Os
dados dessa pesquisa contribuíram para a reformulação do PPP do curso de Pedagoga,
implantado em 2005 e 2007.
Essas reformulações levaram em conta o resultado da pesquisa realizada e vieram
atender, as exigências legais: Resolução CNE/CP 2 de 19/02/2002, a qual instituiu a
carga horaria para os cursos de licenciatura e o Parecer CNE/CP nº 21/2001
normatizando a duração de carga horaria para os cursos de licenciatura e graduação
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plena e o Parecer CNE/CP nº 09/2001, estabelecendo Diretrizes curriculares nacionais
para os cursos de licenciatura e graduação plena. Resultando nas seguintes resoluções:
Resolução CEPE nº0177/2002, de 18/11/2002, o qual regulamenta a reformulação dos
projetos pedagógicos; Resolução CEPE nº003/2003, de 30/01/2003, estabelecendo as
diretrizes para o ensino da graduação na UNIOESTE e a Resolução CEPE nº025/2003,
de 20/03/2003 que regulamenta as atividades complementares e institui a carga horaria
dos cursos de licenciaturas. Em 2007, atendendo às diretrizes da Resolução CNE
nº01/2006 de 15/05/2006, ocorreu uma nova alteração curricular, acrescentando-se a
disciplina de Libras, além da discussão da afrodescendência. Retiraram-se as
habilitações e o Estagio Supervisionado passou novamente a três anos, sendo mais curto
no primeiro ano do curso, porém sendo compensado pela inclusão do TCC – Trabalho
de conclusão de Curso.
Na verdade, o curso de Pedagogia da Unioeste, desde sua primeira reestruturação até o atual PPP tem procurado superar a fragmentação do trabalho pedagógico. Com o objetivo de formar profissionais com base em uma fundamental teórico-metodológica que contemple as opções teóricas e os pressupostos históricos, filosóficos, sociológicos e psicológicos na perspectiva da critica à sociedade capitalista. E pretende habilitar para o exercício das atividades e funções escolares relacionados à Educação Infantil e às séries iniciais da Educação básica, além de abrir espaço para atuação em outras áreas de produção e difusão do conhecimento e para atuação em atividades extra-escolares. (idem, p. 230)
Assim, a Pedagogia vem sendo compreendida como uma reflexão teórica com
base nas e sobre as práticas educativas. Portanto, espera-se do pedagogo formado na
Unioeste, campus de Cascavel, condições teórico-metodológicas para atuar nas
diferentes funções organização escolar tendo como premissa o processo de ensino
aprendizagem.
As autoras alertam que devido, as relações de contradição – a partir da dialética –
faz com que os projeto (PPP) se revelem superados pelas novas necessidades, condições
ou circunstancias gradativamente engendradas. Essa constante dinâmica resulta na
elaboração de novas propostas de maneira que atendam as dimensões teoria e prática
compreendidas na unidade em observância aos desafios da realidade. Recomendam
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inclusive a necessidade re-editar a pesquisa, considerando as novas formulações
realizadas nos Projetos Politico-Pedagógicos. Afirmando ainda que as decisões tem se
pautado na coletividade e em estudos desenvolvidos por seus grupos de pesquisas,
discussões com os pares da área, tendo como foco a formação acadêmica do profissional
pedagogo.
Esse artigo apresenta uma reflexão sobre o processo que constituiu do curso de
Pedagogia na Unioeste, sistematizando seus avanços e seu impacto na formação
docente, no que diz respeito a receptividade na formação docente oriunda das
reestruturações de Projetos Políticos Pedagógicos e as adequações a legislação
educacional vigente.
Como é possível perceber na assertiva desse artigo, é imprescindível a realização
de estudos e pesquisas que visem contribuir de fato para a escrita e análise da história do
curso de Pedagogia, e analisando a sua trajetória, lutas e resistências em meio as
relações contraditórias da dinâmica do movimento do capital, permeando ainda nossa
inquietude e reflexão sobre o entrelaçamento com a emancipação feminina, sua inserção
no magistério, e a feminização do mesmo.
A Produção acadêmica sobre a temática
Fizemos uma busca no Banco de Teses da CAPES utilizando as palavras-chaves:
historia da educação, mulher e feminização magistério. Localizamos cinco dissertações
de mestrado e três teses de doutorado, além de inúmeros artigos. Todos resultantes das
pesquisas desenvolvidas pelos Programas de Pós-Graduação em Educação, História e
Sociologia Política.
Janette Maria França Abreu, dissertação de mestrado: Relações de Gênero e suas
influências na escolha do curso de Pedagogia. Universidade Federal do Maranhão,
2008. Com o objetivo de apreender a feminização da profissão interfere e implica nas
relações de gênero. Através da analise e compreensão das relações de gênero para o
entendimento das escolhas das profissões e formações. Abordando as relações de gênero
no campo do magistério, procurando entender as contribuições para o discurso da
feminização do magistério. Visualizando as mudanças de paradigmas e a criação de
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novas expectativas pessoais e profissionais que levam à autonomia na sociedade
contemporânea, concebida como dinâmica, contraditória e rica em determinações. A
partir do referencial teórico, destacou-se por que as questões sobre a mulher envolvem
representações ideológicas construídas em nossa sociedade. Observa-se a formação ou
profissão docente como espaço da mulher. A pesquisa foi desenvolvida a partir do
levantamento de dados referentes às alunas e alunos matriculadas no curso de pedagogia
da Universidade Federal do Maranhão e posterior entrevista semiestruturada a qual
constatou que a família e a escola reproduzem as diferenças sociais de gênero,
modelando a mentalidade das mulheres influenciando a escolha da profissão, nesse
caso, do curso de Pedagogia.
Milena C. Aragão R. Souza, dissertação de Mestrado em Educação: Aspectos
históricos e contemporâneos sobre a interposição entre as identidades maternas e
docente na educação infantil: decorrências para a pratica pedagógica. Universidade de
Caxias do Sul, 2010. O tema central versa sobre os motivos interposição entre as
identidades maternas e docente na educação infantil e suas decorrências para a pratica
pedagógica. A partir da analise textual discursiva, a pesquisa apontou para duas
categorias: perfil e formação profissional. Apreendendo-se o a posição mulher-docente
na sociedade e na cultura, no espaço educativo infantil, analisando os aspectos
históricos e contemporâneos o qual foi possível inferir que a identidade feminina foi
historicamente construída em torno do discurso maternal, influencia a inserção no
magistério, numa extensão do lar para a sala de aula. Essa naturalização do discurso de
segunda mãe em sala de aula ocasionando no comprometimento da função de
educadora. Abordando-se a importância da professora tomar ciência de sua função
como profissional da educação amenizando possíveis conflitos na função.
De Larissa Selhorst Seixas, dissertação de mestrado em História: O Feminismo no
bom sentido: o centro paranaense feminino de cultura e o lugar das mulheres no mundo
público (Curitiba, 1933-1958). Universidade Federal do Paraná, 2011. A pesquisa
apresenta as relações entre a participação das mulheres no mundo público, o
associativismo feminino, a filantropia e as transformações da sociedade brasileira na
primeira metade do século XX, buscando enfatizar as imbricações e as influências entre
esses elementos, por meio do estudo do Centro Paranaense Feminino de Cultura
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(CPFC), fundado na cidade de Curitiba em 1933. A partir da analise das atividades
desenvolvidas pelo CPFC, as quais contribuíram para a ampliação dos espaços de
atuação femininos na primeira metade do século XX. Sob ideais de ideais do
maternalismo, do higienismo e da puericultura característicos do período, defendia-se a
função social da maternidade e a valorização das mulheres por esse papel, bem como o
direito à educação, ao trabalho e à autonomia femininas, ainda que as participantes não
se declarassem feministas. Destaca-se a importância das associações femininas na
primeira metade do século XX no Brasil, valorizando as práticas e as estratégias de
mulheres que, majoritariamente advindas de classes média e alta, dedicaram-se a esse
tipo de atividade como forma de agir sobre o mundo em que viviam.
Elizabeth Angela dos Santos, dissertação de mestrado em Educação: Gênero e
profissão docente: as representações sociais das alunas egressas do curso de pedagogia
da faculdade de ciências e tecnologia/Unesp. Campus de Presidente Prudente, 2008.
Nessa pesquisa procurou-se identificar quais representações sociais as alunas egressas
do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP, campus de
Presidente Prudente - SP constroem sobre a profissão docente e as relações de gênero
nesta categoria. Considerando que a sociedade impõe padrões e cria representações
sobre a figura do homem e da mulher. Essas representações envolvem relações de
gênero e devem ser entendidas como resultado de tudo o que se expressa ou pensam
sobre as diferenças biológicas. Estas representações não estão diretamente relacionadas
as diferenças anatômicas entre homens e mulheres, mas são criações históricas, sociais e
culturais que vivem em permanente mutação, e que definem os comportamentos
masculinos e femininos. Utilizando-se da História Oral com as representações sociais
que surgem em função das práticas, comunicações e vivências. Tendo como resultados
obtidos que a profissão docente foi vista de forma positiva, embora pouco valorizada; e
avaliaram que a desvalorização do trabalho do professor tem pouco a ver com o fato de
serem mulheres a desempenhá-lo. Em geral, não demonstraram entender que a
feminização na profissão existe por que se entende que “coisa de mulher” é algo menor
e menos qualificado. E ainda, nesse sentido, elas incluem como competências do
professor das séries iniciais, também o cuidado, carinho e atenção (visão positiva) que
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são vistos por elas como importantes elementos impulsionadores das boas relações
escolares.
De Tatiane Márcia Fernandes, dissertação em Educação: Professora de educação
infantil: dilemas da constituição de uma especificidade profissional: um estudo sobre a
produção científica brasileira (1996-2009). UFSC, 2010. A presente pesquisa ojetivou
investigar as concepções de docência na educação infantil presentes nas dissertações de
mestrado cadastradas no Banco de Dados da CAPES entre os anos de 1996-2009 cujo
tema fosse “o “professor de educação infantil”. Tendo como objetivo responder às
seguintes questões: como é definido o papel do professor; como os autores denominam
esses profissionais; como definem sua função de forma a demarcar a especificidade
relacionada à docência na educação infantil; do que esta docência se constitui. A partir
de um mapeamento das produções nacionais existentes sobre a temática “professor de
educação infantil” objetivando localizar o que os saberes científicos presentes nas
dissertações têm apontado sobre a docência nessa etapa da educação básica. Dessa
forma, 13 dissertações constituíram o corpus definitivo de análise e foram analisadas
através de uma aproximação do procedimento metodológico da análise de conteúdo,
sendo definida uma grande categoria a priori , “docência”, e posteriormente categorias
específicas a partir das unidades de registro e contexto. Tendo como resultado a
pesquisa destaca-se que as concepções de docência na educação infantil presentes nos
estudos dividem-se em: a docência na educação infantil entendida como maternagem e
mães e a docência como ensino. Há no conjunto das pesquisas a predominância dos
estudos que explicitaram a concepção da docência na educação infantil como educação
e cuidado de forma indissociada, seguida pelas concepções de ensino e múltiplas
funções com três estudos cada, e em menor número a concepção de docência na
educação infantil como maternagem em dois estudos.
Márcia Regina Cangiani Fabbro, tese de doutorado em Educação: Mulher e
Trabalho: problematizando o trabalho acadêmico e a maternidade. Unicamp, 2006.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve como objetivo analisar como a mulher-
mãe-professora universitária vivencia o trabalho/carreira acadêmica ao lado do
exercício da maternidade. Considerando a constituição da identidade feminina.
Utilizando-se da abordagem histórico dialética subsidiada pela história oral. A linha
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condutora dessa discussão foi a história de vida de cinco professoras de uma
universidade pública do interior do Estado de São Paulo, com idade média de 45 anos.
A coleta de dados contemplou a narrativa da história de vida e a entrevista reflexiva. A
análise dos dados foi dirigida por três planos, a saber: identidade, trabalho e gênero que
foram sistematizadas em dois eixos: a história de “cada uma” e a história de “todas elas.
A partir desse último eixo resultou nas categorias empíricas. A análise demonstrou que
o trabalho proporciona realização profissional, manutenção de um padrão da vida
familiar e adquire um sentido particular de honra e de afirmação de si como indivíduo.
Entretanto, revela-se também sedutor e escravizador concorrendo, assim com o papel de
mãe. Uma nova cristalização identidária de da personagem profissional/provedor,
personagem fetichizado pelo estereótipo da “mulher bem-sucedida”, originando a
identidade-mito e a necessidade obrigatória de ser bem sucedida profissionalmente, ser
mãe exemplar e de se mostrar forte. Afirmação enquanto profissional tende se manter
refém ao universo familiar o qual o referenda, sustenta e apoia as realizações
individuais. Argumentou-se, também, que as mudanças no trabalho para atender a
flexibilização e racionalização do trabalho acadêmico num contexto neoliberal impedem
a constituição de identidades autônomas, inviabilizam seu processo de emancipação e
mantêm encoberto o conflito capital-trabalho. A maternidade representou um ponto de
inflexão em todas as histórias, na qual essas mulheres se deparam com a dificuldade de
se confrontar com o modelo tradicional. Esse confronto entre a personagem
profissional/provedora é o elemento desencadeador de um certo grau de questionamento
a essa personagem, instigando-as a refletir sobre si mesmas, sobre seu trabalho, sua
relação com os filhos e com os maridos/companheiros e desta reflexão nasceu um certo
grau de consciência e a necessidade de mudança.
Tereza Cristina Pereira Carvalho Fagundes, tese de doutorado em Educação,
Pedagogia: escolha marcada pelo gênero. Universidade Federal da Bahia, UFBA. 2001.
O objetivo é a recomposição da história do curso de Pedagogia da Universidade Federal
da Bahia, tendo gênero como categoria de análise, é o objetivo maior desta pesquisa.
Como suporte teórico, segue-se a abordagem culturalista para a discussão do processo
de construção da identidade feminina e analisa-se a ação da família, da escola e da
sociedade na configuração desse processo. Apresenta-se, também, um perfil da
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educação feminina ao longo da história até o encaminhamento da mulher, em especial,
para o Curso de Pedagogia. Este estudo foi construído tendo por base a experiência
feminina, no caso específico, a de mulheres que escolheram o curso de Pedagogia,
privilegiando-as como sujeitos de sua história. Foram realizadas entrevistas com
ingressas no referido curso, no período de 1969 a 1999, a partir das quais emergiram as
categorias que constituem a essência dos resultados: representações sociais sobre o
curso de Pedagogia, motivos de escolha do curso e representações sobre o ser mulher e
ser educadora, na atualidade. Os motivos de escolha do curso apresentados pelas
depoentes, foram: ter "vocação" consciente ou ilusória para a carreira, e ser uma
"profissão adequada à identidade feminina", considerando a possibilidade de
conciliação de papéis assumidos pelas mulheres ou a utilização de caraterísticas
atribuídas às mulheres para a função de educadora.
A tese de doutorado de Celso Luiz Aparecido Conti: Imagens da profissão
docente: um estudo sobre professoras primárias em início de carreira, Campinas, 2003.
Tem como objetivo apreender as influências como contexto familiar, os cursos de
formação (magistério e pedagogia) e a pratica profissional. Destacando que essas
influências não surgem linearmente no tempo, senão como consequência de uma
dinâmica incessante e contraditória pertinente a sociedade. O autor demonstra como a
prática profissional está permeada pela dimensão teórica da qualificação, no caso da
professora um lugar de destaque e êxito ao educando. O conceito de qualificação sob a
ótica masculina é questionada, sob o reconhecimento de algumas habilidades femininas.
Para o autor o processo se revela bastante contraditório e passível de abalo ao processo
de mobilidade social preconizado pelos movimentos de classe e gênero.
Historicamente, a mulher obteve no magistério a maneira de ter independência
financeira e social, como movimento de libertação de uma trajetória marcada pela
vivencia no ambiente privado, e como a vocação vitalícia de reprodutora e mantenedora
da família, nesse momento de reestruturação do capital, a presença da mulher na escola,
seja como estudante, seja como profissional. Diante desta realidade verifica-se a
necessidade do envolvimento das escolas e de seus profissionais no esforço de
preservação da memória institucional da Escola Pública e principalmente do Poder
Público na implementação da Gestão Documental (organização e disposição à consulta)
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prevista na legislação existente sobre arquivos brasileiros. É evidente que nem todas as
ações humanas ficaram registradas para a posteridade, pois a grande maioria acabou se
perdendo no tempo e não poderão mais ser recuperadas e contadas. Mas os “homens
produziram (e ainda produzem) artefatos, documentos, testemunhos, monumentos entre
outros, que tornam possível o entendimento do homem sobre sua própria trajetória”
(Lombardi, 2004, p. 155-6).
O que nos motiva é a pergunta da historiadora Mary Del Priore (1997), sobre
afinal qual o lugar da mulher na historia. É recorrente nas pesquisas notar a ausência de
registros sobre a presença feminina nesse processo histórico da Educação no Brasil,
sendo um paradoxo, considerando o aumento gradativo da presença da mulher nas
licenciaturas, o que de fato proporcionou as mulheres, a oportunidade de estudo e
profissionalização.
Jane Soares de Almeida, (1998, p. 217) considera que atualmente a Historia das
mulheres tem se constituído em um campo de estudos bastante privilegiado, entretanto,
as mulheres profissionais de ensino, ainda continuam relegadas ao esquecimento. No
livro Mulher e Educação: a paixão pelo possível, a autora apresenta o resultado de sua
pesquisa historiográfica, sobre a condição das primeiras professoras do curso de
magistério na educação paulista a partir de fontes como a impressa pedagógica do final
do século XIX até a década de 1930 e de entrevistas com professoras que atuaram no
período de 1940 e 1950. Nessa análise, foi possível reconstruir um quadro teórico-
histórico da presença e da atuação feminina num momento histórico significativo para a
educação básica no Brasil.
Neste texto a pesquisadora afirma a presença da mulher no magistério, desde seu
início até os dias atuais. É possível constatar o quanto o magistério teve significância à
emancipação profissional e social da mulher. Entretanto, com bem alerta Soares, em
relação à escrita da historia, a qual continua a não dar atenção merecida a presença
feminina na historia e especialmente, nesse caso, na Historiografia da Educação no
Brasil, a qual até finais da década de 1980, não dava relevância à temática, como fica
demonstrado no catálogo do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) de 1987, dos últimos 20 anos de pesquisa em educação no Brasil. Tendo
um total de 311 resumos publicados nos três volumes, 55 de autoria masculina, 26
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referem-se a publicações de órgãos oficiais e universidades, sem menção aos autores, e
230 publicações são de autoria feminina, portanto, mais de dois terços do total. (idem,
p.50)
Referencial teórico metodológico
A importância do resgate da história local vem de encontro a abordagem da micro
história surge a partir da busca por novas explicações para passado (Saviani, 2006).
Assim, contar a história “recente” da região oeste, mais especificamente da cidade de
Cascavel, faz parte da contribuição para o processo de compreensão da História da
Educação no Paraná e no Brasil. Considerando as interpretações da história regional
articuladas ao movimento da sociedade, numa relação dialética entre o particular e o
geral.
O referencial teórico que nos norteia, metodologicamente descreve o particular,
explicando, dialeticamente, suas relações com o contexto econômico, politico, social e
cultural. A necessidade da investigação histórica da educação mediada pela análise do
contexto geral da sociedade na qual os fenômenos educacionais ocorrem entendendo
que o regional está articulado com o geral, como bem lembra, NETTO, não é o
‘tamanho do objeto’ que define a sua relação com a totalidade, as micro pesquisas
conservam uma perspectiva ampla de sociedade, do processo social e de história”.
(2006, p.62)
Para os estudos e investigação histórica sobre a História da educação no Brasil, a
análise dos elementos históricos acerca da constituição da escola pública a partir de
fontes, do pensamento educacional, das políticas e ações do Estado e da sociedade civil
no conjunto das suas multideterminações, desdobramentos, contradições e conflitos no
interior da sociedade de classes nos dão subsídios para o entendimento do contexto em
que está inserida a Escola Pública.
As fontes documentais, também chamadas fontes primárias são o processo
empírico, ou seja, a busca de dados que auxiliem o recontar da historia, resultam na
coleta e seleção de fontes documentais que permitem vislumbrar os vestígios do
passado.
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Cabe ao pesquisador/historiador, questionar as fontes, em busca de seus anseios,
suas duvidas apresentando hipóteses. A partir da historicização do documento/fonte,
analisando quais as características da sociedade que o produziu a fonte, sob que
momento histórico político, econômico e cultural foi possível produzir os documentos
que podem ser documentos oficiais ou mesmo, documentos eleitos pelo pesquisador de
forma a contribuir para o resgate da memória e da história.
Mary Del Priore (2007), alerta que, faltam historiadores, homens e mulheres, que
interpretem com maior frequência o estabelecimento, a gênese e a importância dos fatos
históricos que envolvem as mulheres; faltam mais pesquisas regionais ou sínteses que
nos permitam resgatá-los de regiões do país onde o tema ainda não despertou vocações.
Não se trata de uma proposta feminista. Não se pretende fazer uma história que conte a
saga de heroínas ou de mártires, mas sim de salientar as mulheres através das tensões e
das contradições que se estabeleceram em diferentes períodos e em que viveram. Assim
como revelar as intrincadas relações entre mulher, o grupo e o fato, mostrando-a como o
ser social que é, que fabrica e articula o fato social na qual é integrante. Tendo em
mente que, a preservação e conservação, de documentos produzidos pela sociedade,
sobre a temática em discussão, sejam atas, ofícios, cartas, livros de registros de ponto,
de controle acadêmico, controle contábil, enfim, toda documentação gerada nas
secretarias de Escolas e Universidades, assim como a produção acadêmica, devem ser
tratadas de maneira específica, como já definidas na Legislação brasileira, sobre
arquivística. Alertamos sobre a conscientização por parte da Sociedade, nesse caso mais
especificamente o Estado, em destinar recursos humanos, físicos e financeiros que
visem orientar a organização documental, no momento da produção, trâmite, e
principalmente, nos arquivos permanentes.
A história é constituída de processos históricos diferentes e por vezes simultâneos.
O desafio posto ao historiador, é buscar apreender essas complexidades, esses aspectos
singulares da historia, libertando a história da idéia de direção única e inevitável. É
imprescindível “captar os momentos em que ocorrem transformações estruturais, isto é,
a passagem de uma forma a outra forma de sociedade, na economia, na cultura, na
politica dos povos estudados” (Saviani, 2006).
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