historia da arte estudo dirigido - a cultura do barroco

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1 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Centro de Artes, Humanidades e Letras Colegiado do Curso de História Disciplina: História da Arte Docente: Camila Fernanda Guimarães Santiago Discente: Gidelcio Ferreira dos Santos MARAVALL, José Antônio. A cultura do Barroco: Análise de uma Estrutura Histórica/ José Antônio Maravall; prefacio Guilherme Simões Gomes Jr.; tradução Silvana Garcia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1997. ESTUDO DIRIGIDO Barroco, ciência e racionalismo. O barroco é um complexo cultural, que envolve todas as áreas, inclusive a política; com a proposta de uma integração social e cultural cultura do valor (cultura dirigida). Segundo o autor: Veremos que ela nos oferece as linhas as linhas fundamentais de uma visão da sociedade e do homem, pelas quais se orienta o comportamento dos indivíduos que nela viveram, não necessariamente no que concerne a cada caso em particular, mas com uma elevada probabilidade estatística. (MARAVALL, 1997, p. 119). Esta “visão” do barroco tem como objeto de estudo; o ser humano, suas paixões, impulsos, reações e comportamentos. Utilizandose do racionalismo através dos conjuntos de meios culturais de tipos muito variados reunidos e articulados para operar adequadamente com os homens, tal como são compreendidos, eles e seus grupos, no âmbito do período que determinamos, a fim de prática e satisfatoriamente, conduzi-los e mantê-los integrados no sistema social. Para conduzir e combinar os comportamentos dos indivíduos é necessário penetrar nos mecanismos internos dos impulsos que os movem. O programa de ações, que gerenciam a coletividade se chama “política”, que detêm um importante papel, na cultura do século XVII, os comportamentos individuais devem ser submetidos às categorias do comportamento político: “Conhecer os ardis que o homem emprega e aqueles que através dele se podem empregar constitui um tema para o qual todos estão atentos[...]”. (p.121).

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Page 1: Historia da arte  estudo dirigido - A cultura do Barroco

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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Artes, Humanidades e Letras

Colegiado do Curso de História

Disciplina: História da Arte

Docente: Camila Fernanda Guimarães Santiago

Discente: Gidelcio Ferreira dos Santos

MARAVALL, José Antônio. A cultura do Barroco: Análise de uma Estrutura Histórica/ José Antônio Maravall; prefacio Guilherme Simões Gomes Jr.; tradução Silvana Garcia. – São

Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1997.

ESTUDO DIRIGIDO

Barroco, ciência e racionalismo.

O barroco é um complexo cultural, que envolve todas as áreas, inclusive a política; com a

proposta de uma integração social e cultural – cultura do valor (cultura dirigida). Segundo o

autor:

Veremos que ela nos oferece as linhas as linhas fundamentais de uma visão da

sociedade e do homem, pelas quais se orienta o comportamento dos indivíduos que

nela viveram, não necessariamente no que concerne a cada caso em particular, mas

com uma elevada probabilidade estatística. (MARAVALL, 1997, p. 119).

Esta “visão” do barroco tem como objeto de estudo; o ser humano, suas paixões, impulsos,

reações e comportamentos. Utilizando–se do racionalismo através dos conjuntos de meios

culturais de tipos muito variados reunidos e articulados para operar adequadamente com os

homens, tal como são compreendidos, eles e seus grupos, no âmbito do período que

determinamos, a fim de prática e satisfatoriamente, conduzi- los e mantê-los integrados no

sistema social.

Para conduzir e combinar os comportamentos dos indivíduos é necessário penetrar nos

mecanismos internos dos impulsos que os movem. O programa de ações, que gerenciam a

coletividade se chama “política”, que detêm um importante papel, na cultura do século XVII,

os comportamentos individuais devem ser submetidos às categorias do comportamento político :

“Conhecer os ardis que o homem emprega e aqueles que através dele se podem empregar

constitui um tema para o qual todos estão atentos[...]”. (p.121).

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Barroco e moral.

A moral está ligada ao comportamento do homem: “Essa preocupação com o conhecimento, o

domínio e a manipulação dos comportamentos humanos conduzia a uma identificação entre

eles e os costumes, entre conduta e a moral.”. (p.124). Em resumo, moral; é o comportamento

próprio, uma diferenciação dos intensões, das decisões e ações, que se distinguem como

próprias e as que se distinguem como improprias. A moral pode ser entendida como, um

conjunto de regras e ou padrões e normas adquiridas por meio da educação, cultura, no

cotidiano e nos costumes comuns.

No período barroco, a moral era pragmática: “Tudo isto implica em um pragmatismo que no

final das contas, se resolve em uma maior ou menor, ainda que superficial, mecanização do

modo de os homens se conduzirem. Isto, por sua vez se converte no problema-chave da

mentalidade barroca.”. (p.124).

No barroco, a preocupação com a moral era evidente, no teatro, na poesia e nas novelas, não

apenas em toda espécie de escritos, mas em toda a ampla extensão da arte. A “mentalidade

barroca”; empenhava-se em adaptar a moral à situação e utilizar o benefício da situação todas

as possibilidades da moral.

Barroco, conhecimento de si e conhecimento dos outros.

O autoconhecimento (conhecimento de si) é algo buscado desde os tempos de Sócrates, Essa

busca do conhecimento da natureza do homem e de suas motivações, objetivava, que a partir

do autodomínio, se acreditava chegar ao íntimo de todos os homens, e se poderia dominar a

natureza e o ambiente social com mais facilidade, a fim de que o conhecimento resultante fosse

usado para fins práticos definidos, como por exemplo, a melhor doutrinação religiosa e o melhor

manejo das massas pelas elites . Esse autoconhecimento possibilitava ainda que se fizessem

previsões sobre tendências e comportamentos futuros, individuais e coletivos, aproveitando

oportunidades e evitando desgraças.

O autoconhecimento das paixões, impulsos e reações do ser humano, possibilitava a análise de

seu comportamento e as formas de mantê-los sob controle; para que em situações de crise “o

homem não se revolte”, para que as populações não se sublevem contra os governantes : Tema

central : “Todo escritor barroco elege como problema central o da conduta e para atrair os

demais para o sistema de relações que considera fundamental para a sociedade proclama que,

seguindo-o, chega-se ao benefício, ao “sucesso” ou êxito , à felicidade.”. (p.125). O homem

seria o “espelho” no qual se deve refletir o indivíduo de um grupo social estabelecido.

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Barro e prudência.

A cultura barroca é pragmática, isto significa dizer; que essa cultura se aproxima do sentido

popular, segundo o qual um indivíduo considerado “pragmático”, tem como hábito mental,

reduzir o sentido dos fenômenos à avaliação de seus aspectos úteis, necessários, limitando a

especulação aos efeitos práticos, de valor utilitário, do pensamento. O pragmatismo está aliado

a prudência, que é o ponto de vista comum do Barroco. Segundo o autor:

O papel predominante da prudência corresponde ao ponto de vista comum dos

integrantes do Barroco. Provavelmente, é isso que dá ao Barroco, para além de suas

desmedidas e de seus exageros, às vezes alucinantes, seu aspecto (que cama a atenção

de quem freqüenta suas produções) de uma cultura cuja desordem corresponde a um

sentido, regulado e governado. Pode-se até mesmo sustentar que, não apenas em seu

segmento mais cultivado, mas também nos níveis inferiores de formação cultural, o

Barroco representa uma disciplina e organização maior que a de outros períodos anteriores. (MARAVALL, 1997, p. 126).

Continuado Maravall ressalta a ordenação, da prudência e sua adequação aos moldes da

sociedade barroca:

Embora muitas vezes não seja visível, sob as desorbitadas manifestações que dele

conhecemos, é certo que o apelo a prudência introduz um elemento de ordenação,

ainda que seja, evidentemente, formulável por meio de uma razão matemática, ainda

(que se trate apenas de uma estudada e tática adequação dos meios aos fins . Ibid. p.

126.

Barroco e conhecimento dos homens: observações do rosto, movimento interno das

paixões e impulsos, comportamento externo dos homens (história).

Para Maravall, “O modelo mais aproximado, para remeter a um possível sistema do saber das

coisas humanas de tipo barroco, é o da medicina, que trata também dos homens e cujo campo,

apesar da sobrevivência de uma simbologia tradicional, produziu um grande avanço em direção

à sua constituição cientifica.”. (p.131). Para que essa mesma estrutura do saber servisse de

modelo para alcançar o conhecimento do homem com as características às quais o Barroco

aspirava.

Para um conhecimento do homem, enquanto conhecimento empírico e observacional, com

finalidade pratica, torna-se necessário a análise de três campos:

1. A observação do rosto, e em geral, do exterior do homem.

2. O do movimento interno da vida anímica; estudo dos impulsos, paixões. 3. O do comportamento externo dos homens, cuja sucessão encadeada dá lugar ao

conhecer histórico.

Page 4: Historia da arte  estudo dirigido - A cultura do Barroco

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Barroco, dirigismo e autoritarismo do absolutismo monárquico.

No período barroco havia o interesse, do estudo das diferenças psicológicas, na diversidade das

características dos indivíduos. “A história é aquele ramo da psicologia que observa os caracteres

dos indivíduos e dos povos são provavelmente as matérias mais lidas pelo político, pelo escritor

ou pelo artista do Barroco.”. (p.133).

Pretendia-se dirigir ou governar os homens, nas múltiplas manifestações da vida, o “dirigismo”,

tinha o caráter impositivo, sobre as noções intelectuais – sobre moral, religião e política. Porém

o “dirigismo” barroco conduz forçosamente a um autoritarismo, este autoritarismo não é senão

o do absolutismo monárquico.

A arte e a literatura do Barroco, que, com frequência, se declara tão entusiastas da

liberdade do artista e do escritor, ou da liberdade de gosto do público ao qual a obra

se destina, encontram-se, no entanto, sob a influência ou mesmo sob o mandato dos

governantes, que outorgam subvenções, conduzem a demanda na direção de um certo gosto, ou proíbem, dependendo do caso, certas obras. (MARAVALL, 1997, p. 142).

Barroco e persuasão, consentimento e paixões humanas.

Conhecer o indivíduo, para depois dominá-lo; persuasão para convence-lo. A estratégia de

comunicação que utilizar recursos emocionais(paixões) ou simbólicos(cultura) para induzir aas

pessoas a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação. É o emprego de argumentos,

legítimos ou não, com o propósito de conseguir que outros indivíduos adotem certas linhas de

conduta, teorias ou crenças. Prática comum desde os tempos de Aristóteles, a retórica é a arte

de descobrir, em cada caso particular, os meios disponíveis de persuasão. “Trata-se, agora, de

dirigir, promovendo a adesão por vias que pretendem conquistá-la no âmbito do próprio

indivíduo”. (p.144). “É preciso operar com os homens do modo como se opera com os

elementos da natureza, só governáveis a partir de suas próprias forças”. (p.148). “Comover o

homem, não o convencendo de forma demonstrativa, mas afetando-o, de modo que a sua

vontade seja acionada: esta é a questão.”. (p.149).