história da arte: a evolução da pintura

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HISTÓRIA DA TINTA ATRAVÉS DA ARTE OCIDENTAL THE HISTORY OF INK THROUGHOUT WESTERN ART Libia Schenker Escola de Museologia - UNIRIO Correio Eletrônico: [email protected] Resumo: Este artigo propõe-se a apresentar a História da Tinta, oferecendo ao leitor um amplo panorama das transformações no uso deste material no decorrer da história da arte dita “Ocidental”. A trajetória apresentada toma como ponto de partida a Pintura Rupestre e continua com as pinturas egípcias; chega às pinturas na Ilha de Creta e da Grécia propriamente dita. Apresenta e discute também: o legado pictórico dos romanos e dos bizantinos; os registros pictóricos religiosos da Arte Paleocristã e Gótica; as mudanças paradigmáticas do Renascimento; as (re) definições pictóricas do Barroco, do Rococó, do Neoclassicismo, do Romantismo e do Realismo; as inovações do Impressionismo e do Pontilhismo; as contribuições de Van Gogh, Cézanne e Matisse; as heranças fauvistas e cubistas; as (re)construções pictóricas abstratas e seus grandes nomes; os surrealistas e suas experiências; as aplicações de Pollock; e, finalmente, a Arte Contemporânea e seus diferentes nomes e representações. Constata-se que, do período Paleolítico ao século XXI, a pintura demonstrou que, mesmo em meio aos desvios e ao forte apelo da linguagem fotográfica e dos recursos digitais, se mantém soberana no universo da História da Arte Ocidental. Palavras-chave: Arte ocidental; História da Arte; Pintura. Abstract: This article intent to present the History of Ink, giving the reader a wide view of the transformations in the uses of this material throughout the history of the art that is called “Western”. The journey presented has its starting point with the cave painting and carries on with the Egyptian paintings; it reaches the paintings in the isle of Crete and in Greece itself. It presents and debates also: the pictorial legacy of Romans and the Byzantines; the religious pictorial inscriptions of Paleo-Christian art and Gothic art; the paradigmatic changes of Renascence; the pictorial (re) definitions of the Baroque, the Rococo, the Neoclassicism, the Romantics and the Realism; the innovations of Impressionism and Pointillism; the contributions of Van Gogh, Cézanne and Matisse; the fauvist and cubist heritage; the abstract pictorial (re)constructions and its great names; the surrealists and their experiences; the applications of Pollock; and, finally, the Contemporary Art and its different names and representations. We realize that, from the Paleolithic period to the XXI century, the painting revealed that, also among the detours and the strong appeal of photographic language and digital resources, it maintained its realm in the universe of the western art history. Keywords: Western art; Art history; Painting.

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História da Arte: A evolução da pintura

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Page 1: História da Arte: A evolução da pintura

HISTÓRIA DA TINTA ATRAVÉS DA ARTE OCIDENTAL THE HISTORY OF INK THROUGHOUT WESTERN ART Libia Schenker Escola de Museologia - UNIRIO Correio Eletrônico: [email protected] Resumo: Este artigo propõe-se a apresentar a História da Tinta, oferecendo ao leitor um amplo

panorama das transformações no uso deste material no decorrer da história da arte dita

“Ocidental”. A trajetória apresentada toma como ponto de partida a Pintura Rupestre e continua

com as pinturas egípcias; chega às pinturas na Ilha de Creta e da Grécia propriamente dita.

Apresenta e discute também: o legado pictórico dos romanos e dos bizantinos; os registros

pictóricos religiosos da Arte Paleocristã e Gótica; as mudanças paradigmáticas do

Renascimento; as (re) definições pictóricas do Barroco, do Rococó, do Neoclassicismo, do

Romantismo e do Realismo; as inovações do Impressionismo e do Pontilhismo; as

contribuições de Van Gogh, Cézanne e Matisse; as heranças fauvistas e cubistas; as

(re)construções pictóricas abstratas e seus grandes nomes; os surrealistas e suas

experiências; as aplicações de Pollock; e, finalmente, a Arte Contemporânea e seus diferentes

nomes e representações. Constata-se que, do período Paleolítico ao século XXI, a pintura

demonstrou que, mesmo em meio aos desvios e ao forte apelo da linguagem fotográfica e dos

recursos digitais, se mantém soberana no universo da História da Arte Ocidental.

Palavras-chave: Arte ocidental; História da Arte; Pintura.

Abstract: This article intent to present the History of Ink, giving the reader a wide view of the

transformations in the uses of this material throughout the history of the art that is called

“Western”. The journey presented has its starting point with the cave painting and carries on

with the Egyptian paintings; it reaches the paintings in the isle of Crete and in Greece itself. It

presents and debates also: the pictorial legacy of Romans and the Byzantines; the religious

pictorial inscriptions of Paleo-Christian art and Gothic art; the paradigmatic changes of

Renascence; the pictorial (re) definitions of the Baroque, the Rococo, the Neoclassicism, the

Romantics and the Realism; the innovations of Impressionism and Pointillism; the contributions

of Van Gogh, Cézanne and Matisse; the fauvist and cubist heritage; the abstract pictorial

(re)constructions and its great names; the surrealists and their experiences; the applications of

Pollock; and, finally, the Contemporary Art and its different names and representations. We

realize that, from the Paleolithic period to the XXI century, the painting revealed that, also

among the detours and the strong appeal of photographic language and digital resources, it

maintained its realm in the universe of the western art history.

Keywords: Western art; Art history; Painting.

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HISTÓRIA DA TINTA ATRAVÉS DA ARTE OCIDENTAL Libia Schenker

A história da tinta se confunde com a própria aurora da civilização e com a história das

técnicas artísticas. As principais mutações que permearam a trajetória da Arte Ocidental se

relacionam com os diversos materiais utilizados nas técnicas pictóricas. As transformações

estéticas decorrentes das características específicas de cada tipo de tinta enfatizam as

variantes tonais, as texturas, os diferentes tratamentos espaciais e o nível de fidelidade ao real.

O primeiro testemunho ficou gravado nas paredes das grutas, uma pintura rupestre que

o homem do Período Paleolítico criou a partir de têmperas feitas com terra, argila, ossos

calcinados e carvão vegetal misturados com sangue, gordura e excrementos. As cores, o

volume e o movimento das figuras denotam o domínio de uma linguagem artística, embora o

sentido ritual de magia, para auxiliar na caça dos animais, seja também uma explicação da

existência dessas pinturas no interior das cavernas. (1)

CAVALO SELVAGEM , ARTE RUPESTRE,LASCAUX, FRANÇA, PINTURA, PERIODO PALEOLÍTICO 12.000-17000 ANOS

As pinturas egípcias que resistiram à passagem dos séculos denotam uma policromia

muito rica, onde as cores tinham funções simbólicas e as figuras eram retratadas de acordo

com a lei da frontalidade: rosto e pernas de perfil, torso e olhos de frente, enfatizando as

principais características do corpo humano. As técnicas pictóricas empregadas variavam

entre a têmpera(mistura de pigmentos com ovo ou caseína) e a encáustica (mistura de

pigmentos com

cera derretida). (2)

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RAINHA NEFERTARI JUNTO À DEUSA HATHOR,ARTE EGIPCIA, PINTURA MURAL, 19ª DINASTIA RAMSÉS II, 1320-1200 A.C.

Na ilha de Creta ficaram os primeiros testemunhos da técnica do afresco na Arte

Ocidental. Uma pintura mural que decorava as paredes do Palácio de Cnossos. Essa técnica

consistia numa tinta formada por pigmentos diluídos com água aplicada sobre uma parede que

havia recebido uma camada de argamassa úmida. (3)

TAUROMAQUIA , ARTE MINÓICA, CRETA , PALACIO DE CNOSSOS, AFRESCO, SEC. XV A.C.

Da Grécia que nos legou tantas obras magníficas de arquitetura e escultura, não restou

nenhum exemplo da pintura que ali foi produzida pelos artistas helênicos. Somente as

descrições dos autores antigos que apontam para a beleza, o ilusionismo e o perfeccionismo

desses trabalhos é que ficaram para nossa imaginação. Nos vasos pintados também perduram

o testemunho das características plásticas do classicismo grego. (4)

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GANYMEDE E ZEUS , ARTE GREGA,VASO PINTADO, PERÍODO CLÁSSICO, 490-480 A.C.

Quanto ao legado dos romanos, podemos citar algumas pinturas murais (afrescos)

encontradas nas escavações, como as de Pompéia. A forte influência artística dos gregos,

principalmente do período helenístico, foi o que mais marcou o estilo das obras do Império

Romano. Um tratamento realista das figuras, com uso do claro-escuro em algumas cenas,

denota as características dessa herança. Arquitetura, escultura e mosaicos são os mais

importantes exemplos da linguagem artística que esse povo produziu. (5)

HÉRCULES ESTRANGULA AS COBRAS, CASA DOS VETTII, ARTE ROMANA,POMPEIA, AFRESCO, 62 – 79 D.C.

Com o Império Bizantino o mosaico repleto de tons dourados assumiu a posição

principal ao lado dos primeiros ícones, uma pintura em encáustica sobre madeira com metais

preciosos e cores simbólicas, enfatizando o cunho divino dessas peças. (6 e 7)

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CRISTO PANTOCRATOR, ARTE BIZANTINA, CÚPULA DA IGREJA DE CHORA, MOSAICO, 536 D.C.

CRISTO PANTOCRATOR, ARTE BIZANTINA, MONASTÉRIO DE SANTA CATARINA, EGITO, ÍCONE, ENCÁUSTICA, SÉCULOS VI OU VII D.C.

As pinturas das catacumbas, escondidas e escuras, apresentam exemplos de afrescos

com temática bíblica e símbolos típicos do início do Cristianismo, uma arte Paleocristã

destinada aos túmulos de uma religião proibida. (8)

CRISTO COM A MULHER JUNTO AO POÇO, ARTE PALEOCRISTÃ, CATACUMBA ROMANA, MEADOS DO SÉCULO IV D.C.

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Com a passagem da Antiguidade para a Idade Média os estilos artísticos vão tomando

outra feição. Entre os séculos V e XIV a Arte Medieval européia foi se transformando e

apresentando diferentes elementos decorativos, sempre a serviço dos temas sagrados da

religião cristã. A integração entre a arquitetura, a escultura e a pintura mural marcou o Período

Românico, difundindo seus valores religiosos através dos grandes afrescos. O tratamento

cromático enfatizava a planaridade, sem jogos de luz e sombra, evitando o naturalismo e o

volume no espaço.

O Teocentrismo – Deus como centro do universo e medida de todas as coisas –

determinava os aspectos espirituais dessas obras e traduzia o poder ilimitado que a igreja

possuía como a representante de Deus na terra. (9)

ANGE LAMPADOPHORES, ARTE ROMÂNICA, IGREJA DE STO NICOLAU DE TAVANT, FRANÇA, AFRESCO, CRIPTA DO SÉCULO XII

Na fase do estilo Gótico temos a arquitetura das catedrais, com seus vitrais coloridos

filtrando a luz desses ambientes altos e verticais, com arcos, ogivas, colunas e relevos

estilizados. A temática bíblica dos vidros coloridos supria as funções decorativas e didáticas

nesses ambientes sagrados. Outra característica marcante da Idade Média foram as

Corporações de Ofícios, onde os artesãos detinham o monopólio do conhecimento prático das

técnicas artísticas e trabalhavam de maneira anônima, sem individualidade, sem assinar os

trabalhos.

Além das pinturas murais e das iluminuras (pergaminhos manuscritos e ilustrados), os

retábulos de madeira com articulações e portas laterais representavam um dos mais

importantes suportes das artes medievais. A técnica da têmpera com ovo e os douramentos

eram aplicados em todas as partes do painel e denotavam o grande esmero e domínio técnico

desses pintores, com uma tinta que secava rápido e exigia uma habilidade metódica e

conhecimento específico dos materiais. (10, 11, 12 e 13)

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ILUMINURA S/PERGAMINHO, CARTA DE SÃO PAULO,ARTE GÓTICA, CERCA DE 1200, BIBLIOTECA NACIONAL , PARIS

VITRAL,NOTRE DAME DE LA BELLE VERRIERE, CATEDRAL DE CHARTRES, FRANÇA, ARTE GÓTICA, SÉCULO XIII

CIMABUE, CRUCIFIXO DE SÃO DOMENICO, TÊMPERA S/MADEIRA, ARTE GÓTICA, 1268-1271,

AREZZO, ITÁLIA

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DUCCIO DI BUONINSEGNA, A VIRGEM SAGRADA E CRISTO MENINO COM SÃO DOMENICO E STA ÁUREA,TRÍPTICO, TÊMPERA S/ MADEIRA, ARTE GÓTICA, RETÁBULO PORTATIL, CERCA DE

1300, NATIONAL GALLERY, LONDRES.

Por volta de 1300 temos as primeiras pinturas murais de Giotto, pintor da Escola

Florentina, o precursor do Renascimento. Os seus afrescos eram praticados com a técnica da

argamassa úmida, onde o pigmento fica integrado na estrutura e cristalizado na superfície da

parede. Ele também usou a técnica da têmpera, com o ovo como aglutinante dos pigmentos.

Giotto encerrou uma linguagem pictórica que se ocupava sobretudo de Deus e abriu uma outra

que passou a se ocupar sobretudo do Homem. As proporções hierárquicas e a síntese entre a

representação em superfície e a do espaço em profundidade foram a grande contribuição das

obras desse artista, que com um colorido intenso, abriu as portas para o tratamento espacial

Renascentista. (14)

GIOTTO, SONHO DE INOCÊNCIO III, AFRESCO, IGREJA DE SÃO FRANCISCO, CERCA DE 1300, ASSIS, ITÁLIA

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Após tantos séculos de predomínio da têmpera e do afresco, a tinta a óleo começou a

ser praticada com afinco pelos artistas flamengos, que guardavam o segredo e o mistério

alquímico dos aglutinantes e dos pigmentos. A polêmica acerca desse assunto provocava

muitas dúvidas sobre a verdadeira origem dessa técnica.

Muitos historiadores atribuíam sua invenção ao pintor flamengo Jan Van Eyck, embora

essa não seja exatamente a verdade. Em torno de 1420 começou a florescer esse novo tipo

de mistura entre as obras flamengas. Entretanto, o primeiro a descrever uma pintura a óleo

sobre madeira foi um monge alemão, Teófilo, num tratado sobre Artes Medievais do século XII.

A principal limitação da tinta a óleo era sua lentidão para secar, que na opinião do monge

tornava a técnica muita demorada e tediosa, sobretudo para pintar figuras humanas. Após três

séculos de experiências e aperfeiçoamentos, no final do século XIV, a introdução de

catalisadores conseguiu acelerar a sua secagem. Com a têmpera o poder de matização das

cores não oferecia a possibilidade de efeitos de tridimensionalidade. Somente com a

introdução do óleo é que esse efeito de matização foi alcançado.

A pintura era preparada com pigmento moído com óleo de linhaça, mas não se sabe se

no início era empregado algum elemento volátil como a terebintina. Jan Van Eyck dominava

essa técnica de maneira tão hábil, com efeitos óticos tão inovadores, como na obra “O Casal

Arnolfini” (1434), que sua perícia acabou originando a lenda de que havia sido ele quem

inventara esse processo. Sem o aperfeiçoamento dessa técnica, a superfície lustrosa e o

brilhante ilusionismo da sua pintura não poderiam ter sido alcançados. Anteriormente as

qualidades pictóricas das obras apresentavam outras características, cores mais opacas e

menos detalhes realistas. (15)

JAN VAN EYCK, CASAL ARNOLFINI, ÓLEO S/MADEIRA, PINTURA FLAMENGA, 1434, NATIONAL GALLERY , LONDRES

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Esse trabalho de Van Eyck é a primeira grande demonstração porque essa técnica veio

a se tornar a favorita da Arte Ocidental. Apesar de sua secagem ser mais lenta do que as

anteriores, esse problema é também uma qualidade, pois os artistas podiam introduzir

modificações na composição durante o processo de feitura. O afresco nunca permitiu essa

liberdade fundamental para o processo criador, pois a secagem rápida da argamassa impedia

essa interferência. A têmpera, por sua vez, não possuía o mesmo poder de cobertura que as

pinceladas com óleo apresentavam.

O Renascimento significou para a história do Ocidente um momento de renovação, uma

nova concepção de vida e um marco fundamental para o conhecimento e a criação artística. Às

descobertas científicas somam-se o progresso material e as expansões marítimas. É a época

do Humanismo, o Antropocentrismo que substituiu o Teocentrismo Medieval. O resgate dos

valores da Antiguidade Clássica Greco-romana é o grande referencial do homem erudito do

século XIV. Os temas religiosos subsistem, mas a arte deixa de ser mística e simbólica e passa

a ter inspiração profana, o artista observa a natureza, adota o homem como modelo e

representa o espaço da realidade. Ao anonimato anterior opõe-se a diferenciação e a

individualização dos artistas e artesãos.

Na Itália, no período do Renascimento, a pintura dos seus mestres tinha no domínio da

perspectiva o seu grande trunfo. O naturalismo das figuras, a projeção dos planos no espaço

bidimensional do suporte, o tratamento pictórico dos volumes e a luz refletida foram as maiores

conquistas desses mestres. Enquanto os italianos buscavam a beleza das formas com uma

plasticidade intensa, os alemães e os flamengos se dedicaram à beleza interior e à meditação,

aos detalhes e ao tratamento suntuoso dos elementos da composição.

A grande umidade da cidade de Veneza dificultava a secagem dos afrescos, mas com a

flexibilidade dos óleos e a substituição dos suportes de madeira pelas telas, o trabalho poderia

ser executado no ateliê, ser enrolado e depois levado para o seu destino definitivo. Esse passo

foi fundamental para a grande difusão da técnica a óleo a partir do século XV. O pintor

Antonello da Messina foi o introdutor desse tipo de tinta em Veneza, em 1475. Mas foi com

Giovanni Bellini que a pintura a óleo alcançou todas as suas possibilidades e especificidades

técnicas. A partir daí a riqueza das cores, o brilho e a estética Renascentista se desenvolveram

de maneira tão triunfante. (16 e 17)

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ANTONELLO DA MESSINA, CRISTO NA COLUNA, ÓLEO S/TELA, 1476-1478, MUSEU DO LOUVRE,PARIS

BELLINI, O DOGE LEONARDO LOREDAN,ÓLEO S/MADEIRA E TÊMPERA COM OVO, 1501-1505, NATIONAL GALLERY, LONDRES

Enquanto a arquitetura inspirada nas ordens e nas proporções clássicas e simétricas,

com suas cúpulas grandiosas e equilibradas, se renova e passa a apresentar uma nova

concepção de espaço, a escultura assume sua plenitude com harmonia, vigor e caráter

humanizado. A pintura renascentista, por sua vez, apresentou uma produção tão prolífica que

viria a ser considerada como um dos mais ricos momentos das artes plásticas ocidentais.

Piero Della Francesca, da Escola Florentina, pintou em 1442 a obra “O Batismo de

Cristo“. Com um tratamento espacial ilusionista, composição equilibrada e simétrica, cores

delimitadas pela linha do desenho, esse mestre criou um típico exemplo de pintura

renascentista. Ele utilizou a técnica da têmpera com ovo, mas também tratou algumas partes

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com óleo. Por isso podemos perceber que a primazia do óleo não se deu de modo repentino, e

sim gradual. Muitos artistas dessa época utilizavam as duas técnicas ao mesmo tempo. (18)

PIERRO DELLA FRANCESCA, A FLAGELAÇÃO, ÓLEO E TÊMPERA S/ PAINEL, 1469, GALLERIA NAZIONALE DELLE MARCHE, URBINO, ITALIA

PIERO DE LA FRANCESCA,O BATISMO DE CRISTO, TÊMPERA S/ PAINEL, 1442, NATIONAL GALLERY, LONDRES

Leonardo da Vinci, uma das principais figuras do Renascimento Italiano, dedicou-se

com afinco ao estudo dos mais diversos assuntos: matemática, anatomia, física, botânica,

geologia, hidráulica, óptica, arquitetura e engenharia militar. Suas pinturas denotam a

aplicação de seus vastos conhecimentos na formalização das figuras humanas e nas

paisagens. Através da análise de suas obras podemos reconhecer as grandes inovações que

ele introduziu na linguagem da pintura. (19 e 20)

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LEONARDO DA VINCI, MONA LISA (DETALHE), ÓLEO S/MADEIRA, 1503-1506, MUSEU DO LOUVRE, PARIS

LEONARDO DA VINCI, A VIRGEM DAS ROCAS, ÓLEO S/ MADEIRA, 1503-1506, NATIONAL GALLERY, LONDRES

- O “sfumato“, termo italiano criado por ele para se referir à técnica de pintura em que

sucessivas camadas de cor são misturadas em diferentes gradações de forma a passar ao olho

humano a sensação de profundidade, forma e volume. Trata-se de uma mistura de matizes

aplicada de forma sutil, sem uma transição abrupta entre as formas. Remete à idéia de

esfumaçado, ou como ele dizia: “sem linhas ou limites, à maneira de fumaça”. Ao diluir as

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formas na atmosfera ele realizou a síntese entre a figura feminina e a paisagem. Aliás, a

introdução de paisagens de fundo com características de perspectiva atmosférica foi uma das

suas grandes inovações.

- O “chiaroscuro“, termo italiano traduzido como claro-escuro, significa a relação entre luz e

sombra, uma técnica de modelado para a definição das formas através do contraste luminoso

entre as zonas de luz e sombra.

Embora Leonardo tivesse acesso a todos os pigmentos disponíveis na época, sua paleta era

geralmente bastante reduzida, a cor desempenhava um papel secundário na sua obra, pois a

matemática, as leis da geometria, a busca da proporção áurea é que dominavam o seu

processo criador.

A partir de meados do século XVI a técnica da tinta a óleo vai sendo adotada com

características específicas pelos maiores mestres da pintura européia. O estilo Maneirista, que

se distanciava do tratamento pictórico do Renascimento, passa a enfatizar a riqueza cromática.

Embora Michelangelo tenha sido reconhecido como o outro grande nome do

Renascimento, seus afrescos da Capela Sistina são classificados esteticamente como um dos

grandes exemplos da pintura Maneirista. O tipo de tratamento pictórico, a movimentação das

formas, a dramaticidade das figuras e a policromia das composições evidenciam as

características da linguagem Maneirista, uma clara reação ao classicismo do Renascimento.

(21)

MICHELANGELO, O ÚLTIMO JULGAMENTO, CAPELA SISTINA, AFRESCO, 1536-1541, MUSEU DO VATICANO

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Outro exemplo de pintura Maneirista, a obra de Ticiano da Escola Veneziana, denota o

desaparecimento da linha e enfatiza a sua pincelada direta, mesclando zonas de empaste das

tintas com outras de veladuras mais transparentes. (22)

TICIANO, RETRATO DE PIERO ARETINO, ÓLEO S/ TELA, 1545, PALACIO PITTI, FLORENÇA, ITALIA

El Greco, que nasceu em Creta e se estabeleceu na Espanha, realizou a maior parte de

suas pinturas em Toledo. Sua característica pictórica fundamental é a singular riqueza

cromática aliada às distorções das figuras e ao movimento dos tecidos, onde podemos notar a

fisicalidade da tinta e o dinamismo das pinceladas. Sua técnica original e suas cores ácidas

provocaram a rejeição do seu talento, que só foi valorizado com o surgimento da Arte Moderna,

no final do século XIX. (23)

EL GRECO, MADONA E O MENINO COM STA MARTINA E STA AGNES, ÓLEO S/TELA,

1597-1599, NATIONAL GALLERY OF ART, WASHINGTON, EUA

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Caravaggio, um dos primeiros nomes da pintura Barroca, tinha no tratamento realista e

no dramático emprego da luz e das sombras, aliado ao ilusionismo espacial, as marcas do seu

talento e do domínio da técnica da tinta a óleo. Apesar da influência que sua pintura exerceu

sobre muitos artistas, seu estilo era criticado pelos conservadores, acusado de abandonar a

idealização clássica renascentista. (24)

CARAVAGGIO, A CEIA DE EMMAUS, ÓLEO S/TELA, 1600-1601, NATIONAL GALLERY, LONDRES

Dentre os outros artífices da pintura Barroca do século XVII estão: Velazquez,

Rembrandt e Vermeer. Embora cada um apresente especificidades no manejo dos pincéis e

na aplicação das tintas, o que podemos enfatizar como características marcantes são:

pinceladas livres sugerindo detalhes luminosos e brilhantes, formas sugeridas e não a imitação

perfeita do real, poucas texturas, veladuras finas e pequenos pingos sugerindo reflexos das

luzes. O domínio da tinta a óleo e os recursos que cada um soube tirar dessa técnica

transformaram esse artistas em fontes de grande influência sobre os artistas modernos. (25, 26

e 27)

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VELAZQUEZ, AS MENINAS, ÓLEO S/TELA, 1656, MUSEU DO PRADO, MADRI

REMBRANDT, HENDRICKJE BANHANDO-SE NO RIO, ÓLEO S/PAINEL, 1654, NATIONAL GALLERY, LONDRES

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VERMEER, A ARTE DA PINTURA, ÓLEO S/TELA, 1666-1673, KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENA

Com Goya, a pintura se torna um símbolo da revolta popular contra a opressão. Ao

pintor da corte se soma a consciência crítica dos fatos e tragédias do cotidiano espanhol,

enfatizando a mistura de estilos que permeiam a sua trajetória (rococó, neoclassicismo,

romantismo e realismo). Com formas inacabadas, pinceladas expressivas e luzes dramáticas

ele deixou profundas marcas na História da Arte do século XIX. (28)

GOYA, O FUZILAMENTO DE 3 DE MAIO DE 1808, ÓLEO S/TELA, 1814, MUSEU DO PRADO, MADRI

No final do século XVIII o Neoclassicismo havia trazido de volta os valores da estética

Renascentista. Mas Ingres, com seu estilo pessoal e sensual, se destaca dos demais

integrantes desse movimento. Sua pintura com uma iluminação suave e frontal, cores

delimitadas pela linha e figuras modeladas com proporções alongadas de acordo com a

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composição, denotam a importância que essa obra, tão independente dos cânones

acadêmicos, vai ter para a linguagem modernista. (29)

INGRES, A GRANDE ODALISCA, ÓLEO S/ TELA, 1814, MUSEU DO LOUVRE, PARIS

Os Românticos que atribuíam grande importância ao significado dramático do tema -

como Delacroix, com suas cores quentes e pinceladas soltas e Turner, com suas paisagens, os

efeitos de tormentas e seus matizes com transparências - se distanciaram da rigidez das

pinturas acadêmicas e liberaram o caminho para as novas conquistas pictóricas. (30 e 31)

DELACROIX, MULHERES DE ARGEL, ÓLEO S/ TELA, 1834, MUSEU DO LOUVRE, PARIS

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TURNER, TEMPESTADE DE NEVE, ÓLEO S/ TELA, 1842, NATIONAL GALLERY, LONDRES

A partir de meados do século XIX, como conseqüências da Revolução Industrial, vários

fatores serão fundamentais para as transformações radicais da linguagem das artes visuais.

O desenvolvimento da indústria de tintas a óleo com tubos metálicos, as pesquisas no

campo da química introduzindo novos pigmentos, as teorias científicas sobre luz e cor e

principalmente o surgimento da técnica fotográfica em 1839, são alguns dos mais notáveis

avanços que vão definir uma nova trajetória no campo das artes plásticas.

Com o advento da fotografia, um meio mecânico de captar e multiplicar a realidade, a

pintura teve que buscar a única alternativa que lhe restava: enfatizar o tratamento pictórico

através da fisicalidade da tinta, uma textura que era exclusiva da técnica a óleo.

Qual seria a diferença entre as técnicas artísticas e as novas técnicas industriais em

relação ao valor e ao significado das imagens produzidas pela máquina e as criadas pelo

pintor? A pintura liberada da sua tradicional função de representar o real, buscou um papel

mais específico, se apresentando como puramente pintura, ou seja, com procedimentos

técnicos específicos se obtém valores plásticos impossíveis de se realizarem com outro método

qualquer. O único aspecto que a fotografia não poderia substituir na pintura era esse contato

direto entre o olho e a tinta.

Dos realistas, Courbet foi dos primeiros a abordar essas questões. Seus temas típicos

foram os trabalhadores, as mulheres do povo, ou seja, os assuntos sociais, embora sua maior

contribuição tenha sido a ênfase de que a força da pintura residia na própria pintura e não na

temática. (32)

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COURBET, O ESTÚDIO DO ARTISTA, ÓLEO S/ TELA, 1855, MUSEU D’ ORSAY, PARIS

Entretanto, foi com Manet que a pintura realista deu o salto definitivo. Ao abandonar as

cores, as pinceladas e os assuntos tradicionais, ele abriu as portas da Modernidade. A

temática transgressora enfrentava os valores burgueses com mulheres nuas, mas não eram

ninfas ou deusas, e sim, cenas da vida urbana contemporânea. Manet não queria representar

uma perspectiva ou uma paisagem real, ele observava os elementos e organizava um espaço

mais ou menos semelhante, arranjados especificamente segundo uma lógica pictural. Quanto

à transformação da técnica ele modificou a aplicação das tintas - primeiro as camadas mais

gordurosas e por cima a pintura mais diluída. Ele suprimiu os tons médios e reforçou as zonas

de luz forte e direta, sem claro-escuro, nem relevos, evitando também o espaço profundo, a

separação entre o vazio espacial e o volume das coisas. Há nessas pinturas uma interação

entre as cores que precede a análise cromática dos Impressionistas. (33)

MANET, O ALMOÇO NA RELVA, ÓLEO S/ TELA, 1863, MUSEU D’ ORSAY, PARIS

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A partir do Impressionismo a tinta passa a ter uma importância fundamental na História

da Arte. O emprego das cores primárias, secundárias e suas complementares, bem como a

pincelada virgulada, passam a definir a abordagem dos efeitos fugazes da luz e da cor sobre a

natureza. Uma questão fundamental para essas mudanças é a inusitada vivência do tempo

com os novos meios de transporte como o trem e a proliferação dos relógios públicos,

determinando o tipo de efeitos dinâmicos através das pinceladas. Monet, o introdutor da

pintura ao ar livre, representava a paisagem, a passagem do tempo e os efeitos atmosféricos

através da espontaneidade e da aparência “flou“, com composições assimétricas e uma paleta

luminosa. A textura da tinta e o emprego das cores frias e quentes, com seus contrastes

simultâneos, assumiram a função de aproximar as distâncias e evitar os ilusionismos espaciais.

O tema é apenas um motivo para o exercício soberano da pintura, pois ela representa a

aparência das coisas e não as coisas propriamente ditas. (34)

MONET, BARCO-ESTÚDIO, ÓLEO S/ TELA, 1876, ART AND HISTORY MUSEUM,

NEUFCHÂTEL, FRANÇA

Com Seurat a pincelada estruturada em pontinhos passa a definir um sentido mais

científico para as suas composições, gerando o novo estilo Pontilhista. Ele se ateve às

investigações científicas acerca das leis óticas da visão e dos contrastes simultâneos, mas sua

intenção não era fazer uma pintura científica e sim criar uma pintura como uma ciência

autônoma, uma análise plástica dentro do próprio procedimento técnico. (35)

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SEURAT, O CIRCO, ÓLEO /TELA, 1891, MUSEU D’ ORSAY, PARIS

Van Gogh, o holandês que liberou a cor da sua função naturalista, empregava as cores

da maneira a mais arbitrária para enfatizar a força dos contrastes e a sua visão rebelde em

relação à submissão das convenções. A textura das pinceladas e as camadas espessas

aproximam os planos e convocam o olhar do fruidor para a fisicalidade da superfície pictórica.

(36)

VAN GOGH, A NOITE ESTRELADA SAINT REMY, ÓLEO S/ TELA, 1889, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

A liberação do espaço do ilusionismo da perspectiva foi a tarefa primordial de Cézanne,

o grande pai da Arte Moderna. Sua busca incessante visava o afastamento da simples

transcrição da natureza e a problematização da diluição dos volumes engendrada pelos

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Impressionistas. Ele criou uma harmonia paralela à natureza, reconstruindo-a geometricamente

e assim se distanciando da relação com o real. Ele dava forma às coisas com o pincel,

modulava com a cor, somava diversos pontos de visão e assim acentuava a superfície plana

do suporte. Ele conseguiu criar e não mais representar os objetos e a natureza, daí formulou

plasticamente a noção de signo - a posição da pintura entre as linguagens humanas. (37)

CÉZANNE, MONTANHA STA VICTÓRIA E CASTELO NEGRO, ÓLEO S/ TELA, 1904-1906, BRIDGSTONE MUSEUM OF ART, TÓQUIO

Entre o inicio Fauvista e o desenrolar de uma trajetória independente, Matisse se firmou

como o grande colorista da arte no século XX. A técnica do Fauvismo (fauve, palavra francesa

que significa fera) se baseava numa síntese das cores audazes de Van Gogh e Gauguin, bem

como numa reação ao acabamento perfeito da pintura acadêmica francesa. Mas a grande

questão que a sua pintura nos legou foi a concepção da cor como espaço e a superação da

dicotomia entre linha e cor. A pincelada fina, que seria linha, mas sem ser contorno, é apenas

um arabesco de cor que cria as formas livres e recortadas no próprio campo. Entre o fundo

recoberto com uma camada de tinta plana e as figurações que habitam o espaço, não há

separação, tudo se dá no mesmo nível - volume e bidimensionalidade, síntese e harmonia

pictórica. (38)

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MATISSE, O ESTÚDIO VERMELHO, ÓLEO S/ TELA, 1911, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

Picasso, que somou a herança de Cézanne e a influência da Arte Africana, criou o

Cubismo ao lado do seu companheiro Braque e com isso revolucionou a arte nos primeiros

anos do século XX. Esse estilo aboliu a visão monocular, desconstruiu os volumes e o espaço

abordando os diversos ângulos de visâo, eliminou a perspectiva e geometrizou as formas

subvertendo a aparência da realidade. Para enfatizar o aspecto científico dessa pintura

aboliram as cores primárias e adotaram uma paleta de tons cinzentos, marrom, ocre, preto e

branco - a cor das máquinas, das ciências, um desvio das qualidades cromáticas típicas da

pintura até então. Mas logo em seguida passaram a introduzir pedaços da realidade, restos de

papéis, jornais, etc, na superfície das obras, uma transgressão ao conceito das Belas-Artes.

Com essa técnica de colagem, o Cubismo rompeu com a tradicional integridade da pintura a

óleo e passou a problematizar o próprio conceito de realidade colada e realidade representada.

Aos poucos as cores voltaram a permear as suas pinturas e as desconstruções foram

substituídas pelas formas sintetizadas. Com o passar dos anos o Cubismo cedeu lugar ao Pós-

Cubismo e a volta da policromia enfatizando as distorções das figuras com pinceladas

carregadas de tintas coloridas. (39 e 40)

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PICASSO, A MOÇA COM BANDOLIM, ÓLEO S/ TELA, 1910, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

BRAQUE, TENORA, PAPEL COLADO, ÓLEO, CARVÃO, GIZ E LÁPIS S/ TELA, 1913, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

Se até então a representação figurativa interferia na percepção da obra, com a

linguagem abstrata a cor se torna o principal assunto da pintura moderna. A partir daí o

caminho da fruição fica liberado das imposições temáticas e se abre para o campo das

representações não-objetivas.

Kandinsky, o iniciador da Abstração Informal, perseguiu esse caminho através da

associação com a música. O seu esforço para criar uma Arte Abstrata, com grande

intensidade emocional e espiritual, se concretizou com a fusão entre formas e cores livres de

qualquer compromisso naturalista. A ausência de representação figurativa acentua a flutuação

das cores no espaço e a planaridade dessas pinturas. Kandinsky dizia que quando ouvia

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música via cores. Este fenômeno de associação simultânea e subjetiva de percepções

originadas em sentidos diferentes, chama-se Sinestesia. (41)

KANDINSKY, IMPROVISAÇÃO 26, ÓLEO S/ TELA, 1912, STÄDTISCH GALERIE IM LEMBACHHAUS, MUNIQUE

Quanto à diversidade de técnicas, Klee foi um dos pintores mais inovadores. Com a

tinta a óleo ele variava os suportes: sobre cartão, sobre gaze com gesso, tela, papel montado

sobre madeira, tecidos com texturas variadas, etc. Ele justificava essa assombrosa variedade

de materiais afirmando que uma pintura deve crescer como um organismo vivo. Aliás, ele

dizia: “a arte é o equivalente da criação e sua função é revelar a realidade que há por detrás

das coisas”. Ou então: “a arte não reproduz o visível e sim torna visível”. Com seu estilo

abstrato peculiar ele transitou entre as figuras estilizadas e os símbolos, entre as letras e os

sinais. (42)

KLEE, BALÃO VERMELHO, ÓLEO S/ MUSSELINA E GIZ, 1922, MUSEU GUGGENHEIM, N. YORK

Com a Abstração Geométrica temos duas variantes: o Suprematismo russo de Malevich

e o Neo-Plasticismo do holandês Mondrian. O reducionismo das cores imperou em ambos,

embora seus estilos abordem questões específicas.

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A obra de Malevich se inicia com cores fauvistas, passa pela desconstrução cubista e

atinge o seu alvo com o “Quadrado Preto sobre fundo Branco”, até a concepção radical do

“Quadrado Branco sobre fundo Branco“. A forma do quadrado é a única que não nasce na

natureza, por isso o melhor exemplo de uma forma abstrata concebida pela mente do homem.

Ele não queria reproduzir a natureza, ele buscou uma arte Suprematista onde a sensação

cósmica, o movimento e o sentimento são as forças motrizes de um mundo dinâmico, a própria

vida moderna em transformação representada pictoricamente. O preto, o vermelho, o branco e

um pouco de amarelo e azul, serão as cores adotadas, embora os monocromáticos preto ou

branco sejam as grandes inovações dessa linguagem carregada de sentido místico, que

almejava a representação total do espaço, aquele da 4ª dimensão. (43 e 44)

MALEVICH, QUADRADO PRETO, ÓLEO S/ TELA, 1913, STATE RUSSIAN MUSEUM, SÃO PETERSBURGO, RUSSIA

MALEVICH, QUADRADO BRANCO S/ BRANCO, ÓLEO S/ TELA, 1918, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

Mondrian, por sua vez, adotou as cores primárias, as não-cores preto, cinza e branco,

as linhas retas horizontais e verticais, criando um estilo absolutamente pessoal e inovador, com

zonas de tinta lisa, sem nenhuma textura ou ilusionismos. O equilíbrio, a harmonia universal e a

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relação entre suas pinturas e o ambiente foram as metas buscadas pelo seu Neo-Plasticismo,

um reducionismo estético e ao mesmo tempo uma ambiciosa influência sobre a vida moderna.

Ao abolir a moldura ele abriu as fronteiras entre a obra, a parede, a arquitetura e o espaço

urbano. (45)

MONDRIAN, COMPOSIÇÃO COM PLANO AZUL, VERMELHO, PRETO, AMARELO E CINZA, ÓLEO S/ TELA, 1921, DALLAS MUSEUM OF ART, EUA

Dentre os Surrealistas devemos estabelecer a distinção entre os Figurativos e os

Abstratos. Os primeiros retomaram a técnica de pintura acadêmica, uma tinta aplicada com

esmero detalhista e camadas de verniz, para enfatizar o aspecto insólito dos seus temas

oriundos de exercícios psicológicos com as teorias freudianas. Enquanto os Abstratos

adotaram técnicas variadas com tintas a óleo e experiências com vários materiais. A técnica do

automatismo psíquico com desenhos e pinturas liberava os movimentos da linha sem nenhum

planejamento consciente. Esse tipo de exercício com tinta a óleo sobre superfícies adesivas

recebia camadas de areia colorida que se somavam às zonas com gesso e carvão. Um

exemplo de processo criador que vai influenciar os artistas americanos do Pós-Guerra. (46 e

47)

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MAGRITTE, A CONDIÇÃO HUMANA, ÓLEO S/ TELA, 1933, NATIONAL GALLERY OF ART, WASHINGTON, EUA

MASSON, BATALHA DOS PEIXES, AREIA, GESSO, ÓLEO, LÁPIS, CARVÃO S/ TELA, 1926, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

A partir do final dos anos 40 Nova York vai superar Paris como centro irradiador da Arte

Moderna. A Arte Americana rompe, então, com o passado regionalista, e passa a apresentar

uma concepção totalmente inovadora da linguagem plástica no âmbito internacional.

Pollock é o nome mais transgressor dessa fase denominada de Expressionismo

Abstrato. As principais características da sua técnica são: imenso rolo de tela esticada no

chão, sem montagem sobre chassi, tintas que escorrem das latas furadas ou que respingam

através de hastes de madeira ou cabo dos pincéis, movimentos livres ao redor da tela ou

pisando sobre ela, zonas que se alternam entre grafismos com esmalte, manchas com óleo,

tintas fluidas misturadas com areia, vidro moído, etc. O ritmo emocionante desse processo

expressa sua vontade de estar no âmago da cena, a tela é a sua arena, e a dimensão da obra

só é estabelecida no final dessa verdadeira performance. O assunto dessa pintura é o seu

próprio processo criador, onde a espacialidade gigantesca da tela enfatiza a sua busca de

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superação do ilusionismo e a abertura para uma abstração que é pura pintura de ação. (48 e

49)

POLLOCK, NUMBER 1 LAVENDER MIST, ÓLEO, ESMALTE, ALUMINIO S/TELA, 1950, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

POLLOCK, FOTOGRAFADO POR HANS NAMUTH, 1950

Desde o período entre Guerras, os químicos passaram a desenvolver novos pigmentos

e resinas sintéticas, substituindo o óleo de linhaça que era muito usado para fins militares. Nos

anos 50 foram criadas tintas especiais para pinturas de exteriores e novos tipos de esmaltes

para acabamento de automóveis. Nos anos 60 a pesquisa com resinas sintéticas conferiu às

tintas maior resistência contra substâncias químicas e gases. Foi nesse período que as tintas

fluorescentes se popularizaram. A grande novidade dessa época contemporânea veio do

desenvolvimento da química que permitiu a criação de pigmentos orgânicos de síntese

(compostos de carbono). A química do petróleo foi a grande responsável pelo surgimento das

mais variadas nuances de pigmentos.

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Por isso, quando nos anos 60 a Arte Contemporânea adotou as tintas acrílicas, com

cores ácidas e fluorescentes, mesclando pinceladas gestuais com técnicas de serigrafia, a

pintura assumiu um outro caráter, uma temática acerca das idéias da banalização dos meios de

comunicação. A famosa frase que previa que no futuro todos seriam celebridade por 15

minutos, traduz a força da mídia determinando o aspecto repetitivo dessas imagens. Andy

Warhol deslocou os ícones do consumo e as pessoas famosas para o campo das telas e

mergulhou as imagens em camadas de tinta lisa, desconstruindo o conteúdo figurativo para

desvelar o sentido abstrato dessa linguagem. (50)

ANDY WARHOL, AUTORETRATO, SERIGRAFIA E TINTA ACRÍLICA S/ 9 TELAS, 1966, MUSEU DE ARTE MODERNA , N. YORK

Outro exemplo de mudança no tratamento pictórico que revolucionou a estética

contemporânea foi a abstração pós-pictórica, com suas imensas telas pintadas com tintas

acrílicas, polímeros sintéticos e esmaltes, com uma fatura lisa e aspecto planar. Muitas dessas

obras adotam a cor monocromática para enfatizar de modo radical a bidimensionalidade da

pintura. O que predomina nesses trabalhos é o aspecto anônimo, pois não há resquício da

mão do artista na aplicação da tinta. As próprias obras tridimensionais do Minimalismo

passaram a adotar camadas de tinta automotiva para caracterizar o aspecto industrial dessas

estruturas. (51, 52 e 53)

ELLSWORTH KELLY, CURVA AMARELA/VERMELHA, ÓLEO S/TELA, 1972, CENTRO POMPIDOU, PARIS

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FRANK STELLA, MAIS OU MENOS, PÓ METÁLICO E EMULSÃO ACRÍLICA SOBRE TELA,

1964, CENTRO POMPIDOU, PARIS

DONALD JUDD, SEM TÍTULO, ESCULTURA EM FERRO GALVANIZADO COM LACA, 1967,

MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

Desde meados dos anos 50 a linguagem contemporânea vinha incorporando elementos

da vida cotidiana, sucata, etc, somadas às tintas encáustica, acrílica, óleo e impressões

serigráficas para subverter o domínio da linguagem abstrata e problematizar a relação

figuração versus abstração. Paralelamente à essa diversidade de materiais e técnicas, as

linguagens de cunho conceitual, herdeiras das transgressões de Marcel Duchamp,

passaram a dominar o panorama da arte nos anos 60/70. Ao reinado da pintura, que por

tantos séculos havia dominado a Historia da Arte, se contrapunha a disseminação de discursos

conceituais, onde a ruptura com os suportes tradicionais das linguagens plásticas e a

problematização do conceito de arte passaram a dominar o panorama contemporâneo. A

tinta e a tela cederam o lugar para as intervenções no ambiente, os objetos e materiais

comerciais, o próprio corpo, enfim, uma abundante diversificação de projetos originais. (54, 55

e 56)

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MARCEL DUCHAMP, A FONTE, READY-MADE, 1917, PHILADELPHIA MUSEUM OF ART,

EUA

JASPER JOHNS, FLAG, ENCÁUSTICA, ÓLEO E COLAGEM S/ TELA MONTADA S/

MADEIRA, 1954-55, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK

RAUSCHENBERG, CANYON, COMBINE S/ TELA, 1959, COLEÇÃO SONABEND, PARIS

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WALTER DE MARIA, THE N. YORK EARTH ROOM (SALA DE TERRA DE NY), 197 M³ DE

TERRA S/ 335 M² DE ESPAÇO, 1977, SOHO, N. YORK

Um dos nomes das artes plásticas que mais enfatizou a criação da tinta como um

verdadeiro assunto nas suas obras foi Yves Klein. Ele adotou um tipo de azul ultramar, intenso

e luminoso, acentuando seu efeito com uma fórmula que não empregava óleo fixador e que

deixava os grãos individuais do pigmento em pó livres e vibrantes. Ele registrou essa tinta

“International Klein Blue – IKB” como sua propriedade. Com esse material ele criou pinturas

monocromáticas e banhou outros suportes com linguagens diversificadas, sempre explorando

o poder espacial dessa cor. (57)

YVES KLEIN, RELEVO AZUL -ESPONJA, ESPONJA, PEDRA E PIGMENTO AZUL S/ TELA E

MADEIRA, 1960, STADEL MUSEUM, FRANKFURT

Mas, a partir dos anos 80, a pintura retomou seu espaço e passou a conviver com as

instalações, os vídeos e com a fotografia. Isto denota a pluralidade de técnicas e idéias que

vêm permeando o contexto da arte na atualidade. (58 e 59)

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ANDREAS GURSKY, 99 CENT,FOTOGRAFIA CROMOGÊNICA,1999,MARKS GALLERY,

N. YORK

Com a passagem dos anos, e a própria virada do milênio, podemos constatar que a

tinta a óleo recuperou seu espaço dentre as técnicas artísticas, ao lado das emulsões,

esmaltes, acrílicas, oxidações e as técnicas mistas em geral. Mas quando se trata de uma

superfície com textura oleosa, fisicalidade pictórica, empastes e cores primordiais a tinta a óleo

continua e deverá continuar a ser a referência fundamental, como foi no passado para os

pintores que concretizaram as imagens do nosso mundo.

Das pinturas rupestres às gigantescas e profundas telas do pintor alemão Anselm Kiefer

com suas misturas de tintas e elementos que enriquecem a textura das suas composições,

instigando a nossa percepção com contrastes espaciais e sensações dramáticas, religamos os

dois extremos da historia da tinta. (60)

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ANSELM KIEFER, AO PINTOR DESCONHECIDO, EMULSÃO, PEDAÇOS DE MADEIRA,

BORRACHA E PALHA S/ TELA, 1983, CARNEGIE MUSEUM OF ART, PITTSBURGH, EUA

Da fase Paleolítica ao Século XXI a pintura demonstrou que, apesar dos desvios e do

forte apelo da linguagem fotográfica e dos recursos digitais, ela se mantém soberana no

universo da História da Arte Ocidental.

NOTA:

A leitura desse texto pelos alunos do curso de Museologia contribui de maneira

fundamental para uma visão abrangente e cronológica da História da Arte Ocidental, bem como

para o desenvolvimento do olhar acerca das especificidades desse assunto no contexto

museológico.

Oferecer ao leitor um amplo panorama das transformações do uso das tintas através da

História da Arte Ocidental, foi o intuito desse trabalho.

Entretanto, muitos foram os artistas plásticos, dos mais variados estilos, omitidos no

desenrolar dessa pesquisa, pois uma leitura via Internet requer um espaço definido e um tempo

específico. Por isso, o que determinou a escolha de uns e a ausência de outros foi sempre o

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critério da ênfase no tratamento da tinta - seja pela inovação técnica, pela riqueza pictórica ou

pela transgressão aos conceitos das artes plásticas.

Quanto à História da Arte Brasileira, a abordagem seria outra, muito mais relacionada

às especificidades e dificuldades do contexto nacional.

REFERÊNCIAS: VASARI, GIORGIO. VASARI ON TECHNIQUE. DOVER PUBLICATIONS, NEW YORK JANUSZCZAK, WALDEMAR. TECNICA DE LOS GRANDES PINTORES. H.BLUME EDICIONES ANDAHASI, FEDERICO. O SEGREDO DOS FLAMENGOS. L & PM FRANCASTEL, PIERRE. PINTURA Y SOCIEDAD. EMECÉ EDITORES FRANCASTEL, PIERRE. A REALIDADE FIGURATIVA. EDITORA PERSPECTIVA BAZAIN, GERMAIN. BAROQUE AND ROCOCO. THAMES AND HUDSON VENTURI, LIONELLO. DE GIOTTO A CHAGALL. ESTUDIOS COR BURNS, EDWARD MCNALL. HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL. EDITORA GLOBO ARGAN, GIULIO CARLO. EL ARTE MODERNO. FERNANDO TORRES EDITOR PLEYNET, MARCELIN. L’ENSEIGNEMENT DE LA PEINTURE. EDITIONS DU SEUIL SITES: WWW.ARTCYCLOPEDIA.COM WWW.ARTCHIVE.COM WWW.ATMOSPHERE.MPG.DE WWW.ART-AND-ARCHAELOGY.COM WWW.ALL-ART.ORG/HISTORY