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Nome do Aluno Organizadoras e elaboradoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer História 3 módulo A pintura na construção da História

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Nome do Aluno

Organizadoras e elaboradorasKátia Maria AbudRaquel Glezer

História

3módulo

A pintura na construçãoda História

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Governador: Geraldo Alckmin

Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP

Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitor: Adolpho José Melfi

Pró-Reitora de Graduação

Sonia Teresinha de Sousa Penin

Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária

Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE

Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta

Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho

Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO

Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis

Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar

Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área

Biologia:

Paulo Takeo Sano – Lyria Mori

Física:

Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta

Geografia:

Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins

História:

Kátia Maria Abud – Raquel Glezer

Língua Inglesa:

Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór

Língua Portuguesa:

Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto

Matemática:

Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro

Química:

Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan

Produção Editorial

Dreampix Comunicação

Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro

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Cartas aoAluno

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Carta daPró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,

Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantese de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado daEducação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.

Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das naçõese freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentosde forma sistemática e de se preparar para uma profissão.

Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejode tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidadespúblicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particularesde reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de altocusto e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.

O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentarcom melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais daprogramação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientadapor objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimentopessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própriaformação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquersituação de vida e de trabalho.

Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames emnovembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitorese os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estãose dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.

Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigorpara o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.

Pró-Reitora de Graduação.

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Carta daSecretaria de Estado da Educação

Caro aluno,

Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da redeestadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêmse inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.

Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovadosnos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova aqualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguaistêm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapada educação básica.

Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamarde formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitosdemandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria deEstado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programadenominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceirasérie do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que buscaampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentose conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção nomundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentesdisciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmenteconstruído para esse fim.

O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participardo exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera seconstituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio ea universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificadoem subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuirpara o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva

Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

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Apresentaçãoda área

Fazer a História

Durante sua vida escolar, você já estudou História em várias séries. Então,você sabe que essa disciplina estuda as ações humanas ocorridas no tempo,em diferentes lugares.

Também você já percebeu que existem muitas referências a fatos históri-cos e momentos significativos em diversas formas de comunicação, comoséries de televisão, filmes, músicas, propagandas, livros, roupas etc.

Isto é uma característica da sociedade ocidental – ter o passado comoparte formativa e informativa de sua cultura, para que qualquer pessoa quenela viva, em qualquer lugar, possa se localizar no tempo, entender as refe-rências e compreender o momento em que vive.

Você deve ter observado que o programa de História solicitado para osexames vestibulares é longo – das origens dos seres humanos até os diasatuais. Nos seis módulos em que a disciplina História vai se apresentar, não háa intenção de percorrer todos momentos históricos, nem a de seguir uma se-qüência no tempo. A intenção é de mostrar como o mundo que nos cercacontém referências históricas e como que estas podem ser lidas e entendidas,por meio da exploração de fontes históricas.

Compreender como a nossa sociedade vê a História é importante, porqueestamos em uma sociedade histórica, que constantemente se interroga sobreseu passado.

Vamos procurar mostrar como o historiador trabalha com o material queseleciona para sua pesquisa, o tipo de conhecimento que resulta dessa pesqui-sa e como você pode fazer alguns exercícios que permitem o entendimentodos textos e das afirmações sobre os momentos históricos.

Incluímos indicações de alguns filmes, livros e sítios na internet, paracomplementação dos itens desenvolvidos, para que você perceba como a His-tória é parte fundamental da cultura na sociedade ocidental, da qual a socieda-de brasileira faz parte e na qual todos nós estamos mergulhados.

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Apresentaçãodo módulo

Ao ler este módulo, você vai encontrar três unidades com conteúdos dife-rentes. A primeira unidade trata da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), umdos acontecimentos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. A segundaunidade tem como objeto a Revolução Mexicana (1910-1917), um grandemovimento do inicio do século XX que preconizava grandes mudanças. Porfim, a terceira unidade aborda o Império Brasileiro e procura passar uma vi-são da sociedade brasileira no século XIX.

Você pode estar se perguntando por que num só módulo são tratados as-suntos e temas tão distantes um do outro. No entanto, há um eixo de ligação,que é o modo de construção do conhecimento histórico. Desde o primeiromódulo temos procurado compreender como as fontes históricas podem cons-truir o conhecimento histórico. Para isso, temos estudado, num mesmo módulo,sociedades de diferentes épocas e diferentes lugares a partir de um mesmotipo de fonte.

A fonte que este módulo privilegia é a pintura. Vamos estudar como osartistas, especialmente os pintores, registraram fatos históricos que faziam partede suas vivências e experiências. E, a partir da observação de Picasso, procu-raremos entender a Guerra Civil na Espanha. A obra de Diego Rivera noslevará até as grandes questões sociais do México, que atravessam séculos.Dos quadros de Almeida Júnior podemos tirar informações sobre a sociedadebrasileira do século XIX.

Esperamos também que a observação dos quadros reproduzidos e a leitu-ra dos textos incentive você a conhecer os museus de arte localizados em SãoPaulo, como a Pinacoteca do Estado, o Museu de Arte de São Paul (MASP), oMuseu de Arte Moderna (MAM), o Museu de Arte Contemporânea (MAC),entre outros.

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IntroduçãoComo você viu no Módulo 2, pinturas são uma das formas mais antigas de

expressão humana, pois existem desde o Paleolítico e integram a cultura ma-terial. Além de fazer parte dos objetos de arte, também são fontes históricas –contém informações e dados que, contextualizados, possibilitam o trabalhodo historiador na análise de uma dada sociedade. Podem ser estudadas sobmúltiplos aspectos: o suporte em que são apresentadas (rocha, corpo humano,cerâmica, madeira, parede de alvenaria, tela em tecido, metal, espaço ciberné-tico); os materiais utilizados para concretizar a pintura (materiais orgânicos –terra, sangue de animais, cinzas; produtos químicos – aquarela, grafite, nan-quim, tempera, óleo, esmalte, cores virtuais); os artefatos usados para pintar(pedras, madeiras, mãos, bico de pena animal, pincéis de pêlos de animais,pincéis de pêlo sintético, spray, equipamentos elétricos para pintura, mouse);o uso das cores e sua significação; as maneiras de pintar, representar o ser ouo objeto, as quais dependem de técnicas de visualização e normas de reprodu-ção – o emprego de fundo, de perspectiva, de miniaturização ou ampliação;os códigos de representação – o permitido e o proibido; os estilos de represen-tação de cada momento; o circuito de produção de pinturas, de formação denovos artistas e de comercialização; o circuito de exposições de pintura –museus, pinacotecas, exposições temporárias...

E também podem ser estudadas como indicativos de ação social e de umcontexto histórico, e é neste sentido que vamos trabalhar com elas.

Pinturas estão em todos os lugares, de maneira que muitas vezes não repa-ramos nelas – estão nos muros (grafites), nas paredes e telas de instituiçõesreligiosas e educacionais, nas salas de espera dos consultórios, nas esquinas,nas feiras de artesanato, no rosto das pessoas...

Olhe bem nos lugares em que você passa todos os dias, nas paredes eesquinas. Preste atenção nas propagandas das revistas e da televisão. Em to-dos sempre aparecem as pinturas.

1. Você já viu alguma pintura? Escreva em que lugar e descreva o que viu.

Unidade 1

A construção do conhecimento históricoe o registro artístico do fato histórico

OrganizadorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

ElaboradorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

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2. O que a pintura significa para você?

As mesmas questões que se aplicam a um documento de fonte oral ou decultura material também se aplicam à pintura:

3. Você conhece alguém que faça pintura? Se conhecer, faça uma entrevistacom esta pessoa, perguntando e anotando:

O que pintatécnicas e estilos, pedindo para explicar as diferenças entre elas;

Como pintaSuporte, materiais e artefatos de pintura;

Para quêCom que finalidade;

Por quêO que sente pintando;

QuandoEm que momentos pinta;

OndeLocal/locais em que pinta.

Depois, complemente com o que considerar necessário sobre a pessoa,escreva as informações obtidas para fazer um texto coerente e devolva para aentrevistada como a história de vida dela. Você escreveu um texto de história– história de vida de uma pessoa.

Todos os povos possuem formas de pintura corporal, que é utilizada emdeterminadas situações. Você já pensou que a maquilagem também é umapintura? Pode ser de corpo inteiro – como nas peças teatrais, nos espetáculosde dança e de música –, pode ser só de face, mas é pintura. E você já pensoutambém que ela possui diversas técnicas e finalidades? Pode ser teatral, corre-tiva ou social.

A pintura corporal dos indígenas brasileiros possui uma conotação social,indicando ocasião e situação.

4. Procure uma pessoa que faça maquilagem e peça para ela explicar:

O que é? – maquilagem comum, social, corretiva, corporal e teatral.

Quem fez? – qual é a função social do(a) maquilador(a)

O que é? Quem produziu?

Para quê? Por quê?

Quando? Onde?

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GUERNICA: O QUADROTrata-se da reprodução de uma das obras mais conhecidas de Pablo Picasso

e se intitula Guernica.

Vamos descrevê-la para poder melhor conhecê-la e poder compreender oque o grande pintor modernista pretendia:

1. Quais são os personagens retratados no quadro?

2. Quais são as cores predominantes? A que sentimentos induzem?

Para quê? – com que finalidade é feita

Por quê? – o que justifica a maquilagem

Quando? – para que ocasiões é feita

Onde? – em que local é realizada

Como? – que técnicas usa para fazer a pintura

Que tipo de produtos utiliza? – origem do material para a pintura

5. Relacione tipos de pintura que você já viu nos diversos veículos de comu-nicação: revistas, jornais e televisão.

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3. Descreva a cena que você vê.

Agora que você já observou o quadro, vamos comparar algumas informa-ções sobre ele com as impressões e sentimentos que ele despertou em você.

Guernica é uma pequena cidade localizada no País Basco (Bizcaia), hojeuma das comunidades autônomas da Espanha. Em 26 de abril de 1937, umasegunda-feira, dia em que os camponeses levavam seus produtos para venderno mercado, a comunidade foi bombardeada durante quase quatro horas poraviões enviados por Hitler para ajudar Francisco Franco a derrotar seus inimi-gos. Até este dia fatídico Guernica só havia visto os aviões nazistas da LegiãoCondor passarem sobre ela em direção a alvos mais importantes, situadosmais além, em Bilbao. Mas aquela segunda-feira foi diferente. A primeira levade Heinkels-11 despejou suas bombas sobre a cidadezinha precisamente às16h45. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes os moradores viram o infer-no desabar sobre eles. Estonteados e desesperados, saíram para os arredoresdo lugarejo, onde mortíferas rajadas de metralhadora disparadas pelos caçasos mataram aos magotes. No fim da jornada contaram-se 1.654 mortos e 889feridos, numa população não superior a 7 mil habitantes. Quase 40% haviamsido mortos ou atingidos.

A escolha da pequena Guernica deveu-se a vários motivos. A cidade eraum alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de não ter uma população nume-rosa. Além disso, abrigava um velho carvalho (Guernikako arbola) embaixodo qual os monarcas espanhóis ou seus legados, desde os tempos medievais,juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões dabatzarraks (o conselho basco). Como o levante de Franco foi também contra aautonomia regional, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todosos que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada. Assim, quandoa notícia da dizimação provocada pelo bombardeamento “científico” chegouaos jornais, houve um frêmito de horror em todos os cantos do mundo. Quase

Avião Junkers utilizado pelaLuftwaffe (Força AéreaAlemã). Fonte: História Vivan. 1, p. 37.

Texto adaptado de http://educaterra.terra.com.br/v o l t a i r e / m u n d o /guernica_eta.htm

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todos os habitantes de cidades, em qualquer lugar do planeta, sentiram instin-tivamente que estavam sendo apresentados a um outro tipo de guerra, a guer-ra total, e que, doravante, por vezes, seria mais seguro estar numa trincheirano fronte do que vivendo numa grande capital.

Este fato inspirou Picasso a pintar o maior quadro trágico do séculoXX: Guernica mede 7,82 m por 3, 35 m, usando somente o preto e obranco. Para isso, o artista fez 45 croquis, nos quais já aparecem oselementos principais da pintura: o touro, o cavalo e a lâmpada.

O quadro é dividido em partes quase iguais, por uma linha verticalque mostra o contraste entre a escuridão, à esquerda, e a claridade, àdireita, apesar das cores sombrias de todas as extremidades. Comportaum número de personagens repartidos horizontalmente sobre todo com-primento do quadro, destacando-se pela cor clara, sobre um fundo ex-tremamente sombrio. Pode-se ver uma ausência quase total da perspec-tiva, pois há somente dois planos: o primeiro é ocupado pelos persona-gens, no segundo a visão é mais confusa, do interior das casas. A dispo-sição dos personagens, a repartição da luz e a ausência de perspectivacriam uma impressão de desordem. Sobrevivente dos bom-

bardeios. Foto de RobertCapa

O artistaO artistaO artistaO artistaO artista

Pablo Picasso nasceu em 25 de outubro de 1881, em Málaga,

na Espanha. Filho de um pintor acadêmico, José Ruiz Blanco,

ele começou a pintar muito cedo. Em 1895, a família mudou-

se para Barcelona e lá Picasso estudou em La Lonja, a acade-

mia de belas artes. Sua visita a Horta de Ebro, entre 1898 e

1899, e sua ligação com o grupo de artistas que freqüentava o

Café Els Quatre Gats, por volta de 1899, foi crucial para seu

desenvolvimento artístico. Em 1900 fez sua primeira exposi-

ção individual em Barcelona. No outono seguinte fez a primei-

ra de muitas viagens a Paris que faria no inicio do século XX.

Em abril de 1904, ele se estabeleceu em Paris, onde se tornou

amigo de um importante grupo de intelectuais e artistas, como

Guillaume Apollinaire, Max Jacob, Gertrude e Leo Stein, bem

como de alguns comerciantes de artes. Nesse período seu

estilo passou da FFFFFase Aase Aase Aase Aase Azulzulzulzulzul para a FFFFFase Rase Rase Rase Rase Rosaosaosaosaosa, cuja obra princi-

pal é o quadro As senhoritas de Avignon .

Sua fase seguinte foi o cubismo, cubismo, cubismo, cubismo, cubismo, em direção à fase analítica,

passando pela fase sintética, entre 1912-1913. A partir de 1916

colaborou com cenários para espetáculos de dança e teatro,

passando a viver na França a maior parte do tempo. Fez nume-

rosas exposições em Paris. Em 1936, o início da Guerra Civil

espanhola afetou profundamente Picasso, que vivia ainda em

Paris. Em 1940, ligou-se ao Partido Comunista. Reconhecido

mundialmente como um grande artista, também expôs, ainda

em vida, em museus dos Estados Unidos. Faleceu em 1973.

(Extraído de www.guggenheimcollection.org/site)

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A GUERRA CIVIL ESPANHOLANo início dos anos de 1930, a Espanha era um dos países menos desen-

volvidos da Europa. Havia o problema do separatismo (que até hoje ameaça aunidade do estado espanhol), muito forte em algumas regiões como a Bizcaia(País Basco) e a Catalunha.

O país ainda era predominantemente agrícola e uma boa parte de sua po-pulação vivia na miséria, devido a grande concentração da propriedade nasmãos de uma minoria. Isso fazia engrossar o coro dos que pediam uma refor-ma agrária.

Em 1931, diante da vitória dos republicanos nas eleições municipais, orei, D. Afonso XVIII, abdicou e foi proclamada a república. Os anos seguintesforam conturbados, com a Proclamação do Estado Catalão, em Barcelona, em1934 e a insurreição nas Astúrias. A repressão aos movimentos coube aosmilitares e eles tornaram-se alvos da admiração dos membros da Frente Naci-onal, que representava as forças de direita. A Frente Nacional concentrava osmilitares, o clero e toda a alta hierarquia da Igreja Católica, os monarquistas,empresários e a pequena burguesia. A esses segmentos se juntaram os gruposque manifestavam apoio ao nazi-fascismo que no período se estabelecia naAlemanha e na Itália.

A Frente Popular, que representava as forças de esquerda, era formadapelos liberais das classes médias, pelos socialistas, que controlavam a UniãoGeral dos Trabalhadores (UGT), pelos comunistas e pelos anarquistas, quetinham uma forte base popular (formada pela Conferência Nacional do Traba-lho, que contava com 1 milhão de adeptos), sobretudo nas populações operá-rias das grandes cidades. Os anarquistas estavam organizados na FederaçãoAnarquista Ibérica, que contava com mais de 30 mil adeptos e também parti-cipavam da Frente Popular.

Os candidatos da Frente Popular venceram as eleições de fevereiro de1936. Inconformada, a direita se organizou em torno de chefes militares, en-tre os quais se destacava o general Francisco Franco. Este liderou uma insur-reição contra o governo da Frente Popular e tomou o poder em 1º de outubrode 1936. Essa data marca também o inicio da Guerra Civil Espanhola, que seprolongou até 1939.

O separatismo bascoO separatismo bascoO separatismo bascoO separatismo bascoO separatismo basco

Por concentrarem significativos investimentos ingleses e também por abrigarem uma

classe empresarial empreendora e profundamente católica (um censo de 1970 aponta-

va o País Basco e a província de Navarra com os maiores índices de freqüência às missas

em toda a Espanha: 71,3%), os países bascos não conheceram, à época do franquismo,

uma repressão tão violenta como a que se abateu sobre a Catalunha e Valência. Logo

depois da Guerra Civil, casas bancárias de Bilbao e de Bizcaia expandiram-se para o

restante da Espanha, enquanto empresas bascas dedicadas ao comércio de azeite passa-

ram quase a monopolizá-lo em todo o país. Porém, essa relativa tolerância (exceção feita

ao idioma basco, o euskara, perseguido sem descanso pelos franquistas) para com os

antigos anseios autonomistas dos bascos não fez com que eles desistissem de manter

um governo basco no exílio, na vizinha França mais propriamente.

Em 1957, um significativo grupo de estudantes bascos, militantes do Partido Nacional

Vasco (PNV), que viajaram para aquele país a título de estudos, depois de entrevistarem

Para saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrea Guerra Civi l Espa-a Guerra Civi l Espa-a Guerra Civi l Espa-a Guerra Civi l Espa-a Guerra Civi l Espa-nholanholanholanholanhola

VVVVVeja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmes

Por quem os sinos dobram.Dir. Sam Wood. EUA, 1943

Liberdade. Dir. Vicente Arand.,Espanha, 1996

Terra e Liberdade. Dir. Ken Loach.Espanha/Alemanha/Franca,1994

LeiaLeiaLeiaLeiaLeia

ALMEIDA, A. M. Revolução e guer-ra civil na Espanha. São Paulo:Brasiliense, 1981. Coleção Tudoé História.

BATTIBUGLI, Thaís. A solidarie-dade antifascista: brasileiros naGuerra Civil Espanhola (1936-1939). São Paulo: Autores As-sociados, 2002.

BOM MEIHY, José Carlos S. eBERTOLLI FILHO, Cláudio. AGuerra Civil Espanhola São Pau-lo: Ática, 1996.

HENNINGER, Laurent. GuerraCivil Espanhola: um campo deprovas para Hitler. História Viva,n.1, pp. 35-39, nov. 2003,VERÍSSIMO, Érico. Saga. PortoAlegre: Globo, 1942.

Consulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítios:

www.ohistoriador.hpg.com.br

geocities.yahoo.com.br/fusao

http.terra.com.br/Voltaire/mundo/guernica_eta.htm

1936-1939.blogspot.com/

w w w. c p d o c . f g v. b r / n a v _historia/htm/anos37-45/ev_guerranobr_espanhola.htm

w w w . t v c u l t u r a . c o m . b r /a l o e s c o l a / h i s t o r i a / c e n a sdoseculo/internacionais/espanha-guerracivil.htm

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O front da guerraA Guerra Civil espanhola foi o acontecimento mais traumático que ocor-

reu antes da Segunda Guerra Mundial. Nela estiveram presentes todos os ele-mentos militares e ideológicos que marcaram o século XX.

De um lado se posicionaram as forças do nacionalismo e do fascismo, alis-tadas na Frente Nacional da Espanha (o Exército, a Igreja e os grandes pro-prietários) e do outro, a Frente Popular que formava o Governo Republicano,representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os partidários da demo-cracia. Para a Direita espanhola tratava-se de uma Cruzada para livrar o país dainfluência comunista e da franco-maçonaria e restabelecer os valores da Espanhatradicional, autoritária e católica. Para tanto, era preciso esmagar a República,que havia sido proclamada em 1931, com a queda da monarquia.

Para as Esquerdas era preciso dar um basta ao avanço do fascismo, que jáhavia conquistado a Itália (em 1922), a Alemanha (em 1933) e a Áustria (em1934). Segundo as decisões da Internacional Comunista, de 1935, as Esquer-das deveriam aproximar-se dos partidos democráticos de classe média e for-marem uma Frente Popular para enfrentar a maré de vitórias nazi-fascistas.Dessa forma socialistas, comunistas (estalinistas e troskistas), anarquistas edemocratas liberais deveriam unir-se para inverter a tendência mundial favo-rável aos regimes direitistas.

Foi justamente esse conteúdo, de amplo enfrentamento ideológico, quefez com que a Guerra Civil deixasse de ser um acontecimento nacional paratornar-se uma prova de força entre forças que disputavam a hegemonia domundo. Nela envolveram-se a Alemanha nazista e a Itália fascista, que apoia-vam o golpe do general Franco, e a União Soviética, que se solidarizou com oGoverno Republicano. Esses três países tiveram importante participação naguerra que se travou.

França e Inglaterra optaram pela “não-intervenção”. Apesar do distan-ciamento oficial, houve o engajamento de milhares de voluntários esquerdis-tas e comunistas que vieram de todo o mundo (55 nacionalidades) para for-mar as Brigadas Internacionais (quase 60 mil homens) para lutar pela defesada República.

José Maria Leizaola, chefe do governo Euzkadi (Basco) no exílio, com quem se desen-

tenderam, decidiram-se pela opção armada. Ao contrário de Leizaola, que não simpati-

zava com a linha da ação violenta, os jovens bascos acreditavam que, com o apoio do

proletariado, da nova geração que se formava no estertor do franquismo, e de um clero

cada vez mais combativo, era possível retomar as bandeiras do separatismo, dando-lhe

uma conotação pró-socialista.

Para arrancar o movimento autonomista do imobilismo em que se encontrava, decidi-

ram-se por ações espetaculares contra o regime franquista. Além de ampla panfletagem

e distribuição de jornais clandestinos, no dia 18 de julho de 1961 praticaram um atenta-

do a bomba contra um trem carregado de veteranos franquistas em San Sebastian,

dando início à fase mais violenta da luta. Portanto, há mais de quarenta anos que os

atentados fazem parte do cotidiano dos espanhóis. O mais espetacular deles todos foi

quando o ETA, ainda na época franquista, explodiu uma poderosa bomba no carro do

Primeiro Ministro Almirante Carreiro Blanco, em Madri.

Cartazes esquerdistaschamando a populaçãopara lutar contra Franco.Fonte: História Viva, n. 1,p. 38.

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A intervenção da Alemanha e da Itália foi decisiva para a vitória da Direi-ta. Em janeiro de 1939 as tropas do general Franco entraram em Barcelona e,no dia 28 de março, Madri se rendeu aos militares depois de ter resistido a

poderosos ataques (aéreos, de blindados e de tropas deinfantarias), por quase três anos.

As baixas da Guerra Civil oscilam entre 330 a 405mil mortos, sendo que apenas 1/3 ocorreu na guerra.Meio milhão de prédios foram destruídos parcial ou in-teiramente e perdeu-se quase metade do gado espanhol.A renda per capita reduziu-se em 30% e fez com que aEspanha afundasse numa estagnação econômica que seprolongou por quase trinta anos.

Atividades1. Você entendeu que o ataque à cidade de Guernica inspirou Pablo Picasso apintar o quadro intitulado “Guernica”. Como o artista reagiu ao ataque à cidade?

2. Quais características tornavam a Espanha um país diferenciado dos demaispaíses da Europa?

3. Quais as idéias políticas que estavam em jogo na Guerra Civil Espanhola?

Mulheres no front repu-blicano combatem astropas franquistas (1936).Fonte: História Viva, n. 1,p. 35

O texto acima baseou-seem:

Franco. Os militares con-duzem o general ao po-der, de Patrick Facon, emHistória VivaHistória VivaHistória VivaHistória VivaHistória Viva, n. 8, jun./2004.

h t t p . t e r r a . c o m . b r /V o l t a i r e / m u n d o /guernica_eta.htm)

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Saiba mais

A ascensão do fascismo e do nazismoA ascensão do fascismo e do nazismoA ascensão do fascismo e do nazismoA ascensão do fascismo e do nazismoA ascensão do fascismo e do nazismo

Entre 1914 e 1918, os países europeus engalfinharam-se numa guerra destruidora, cujas

conseqüências mudaram a configuração política do ocidente. De um lado, França, Ingla-

terra, Rússia, Estados Unidos, de outro, o Império Austro-Húngaro, Turquia e Itália,

digladiaram-se durante quatro anos para manter ou conquistar a hegemonia na Europa.

A Grande Guerra, mais que vencidos e vencedores, deixou um grande número de viti-

mas, pois além de oito milhões de mortos, deixou mais de vinte milhões de inválidos.

Ainda, abalou o poder econômico dos países europeus, que gastaram muito nos esfor-

ços militares e tiveram seu potencial industrial e agrícola e reduzido no mercado.

A vida nos paises derrotados, principalmente na Alemanha e na Itália, ficou pior ainda. As

indústrias foram abaladas e o desemprego atingiu altos níveis. A inflação, que já havia se

iniciado durante o período da guerra, durante o qual a emissão de moeda e os emprés-

timos de outros paises tinham sido rotineiros, alcançou altos índices. A crise social ex-

pandiu-se. Todos esses elementos contribuíram para transformações radicais dos sistemas

políticos. Na Itália e na Alemanha, instalaram-se regimes muito parecidos: o fascismo e o

nazismo.

O PO PO PO PO Pararararartido Ftido Ftido Ftido Ftido Fascistaascistaascistaascistaascista foi fundado em 1921, cresceu muito rapidamente e, em 1922,

liderado por Benito Mussolini, tomou o poder na ItáliaItáliaItáliaItáliaItália. Embora o governo mantivesse a

aparência de uma monarquia parlamentarista, na realidade Mussolini detinha todo o

poder. Mussolini definia-se como um revolucionário antiparlamentarista, antidemocrático,

antiliberal e anti-socialista. Os princípios básicos do fascismo eram:

- o Estado totalitário assentado sobre a força da massa;

- a existência do individuo como uma parte do Estado;

- a extinção da luta de classes – pois a intervenção do Estado promoveria a solidarieda-

de entre patrões e empregados, visando uma maior produtividade;

- a busca da grandeza do Estado, numa constante exaltação do passado, principalmente

das conquistas romanas, valorizando a guerra;

- a identificação entre o Estado, o chefe de Estado e o Partido Fascista.

No poder, o Partido Fascista conseguiu estabilizar o valor da lira (a antiga moeda italiana),

transformou os sindicatos num elemento de transformação entre as classes e empreen-

deu numerosas obras públicas. Silenciou a oposição pela perseguição sistemática e pela

execução dos adversários.

O Partido Nacional Socialista (NAZIO Partido Nacional Socialista (NAZIO Partido Nacional Socialista (NAZIO Partido Nacional Socialista (NAZIO Partido Nacional Socialista (NAZI)

Em 1920, um minúsculo Partido Trabalhista Alemão mudou seu

nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Ale-

mães, cuja sigla era NAZI. Os programas desse partido falavam

em bem-estar do povo, igualdade perante o Estado, exclusão

dos judeus da comunidade alemã. Um dos associados do parti-

do e que mais fortemente contribuiu para a mudança de nome

era Adolf Hitler. A bandeira do partido era vermelha e tinha no O ponto fundamental do

nazismo era o racismoracismoracismoracismoracismo. Siignificava a exaltação do povo alemão, que os nazistas acredi-

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tavam pertencer à raça ariana, que seria uma raça superior. Pensavam que sua missão era

dominar o mundo e que para isso, tinham que evitar a “contaminação” por “raças ou

elementos inferiores”: judeus, negros, ciganos, a ideologia liberal, o marxismo, a Igreja

Católica. O totalitarismototalitarismototalitarismototalitarismototalitarismo era um resultado do racismo. Para os nazistas, o individuo

pertencia ao Estado e era somente um elemento da comunidade racial. Era

antidemocrático, antiparlamentar e anti-socialista (apesar do nome do partido). O Estado

deveria ser unitário, sob a autoridade de um único chefe, que pertenceria ao único

partido, o nazista. Em 1925, Hitler tomou o poder e extinguiu todos os outros partidos e

os sindicatos; os estados alemães perderam o poder para o governo central e oficial-

mente foram tomadas medidas anti-semitas. Iniciou-se também uma perseguição bru-

tal aos opositores de Hitler dentro do partido nazista, aos comunistas, aos liberais, enfim

contra todos que publicamente manifestassem sua oposição ao Partido Nazista.

(Texto resumido de ARRUDA, J.J. Nova História: moderna e contemporânea. Bauru/SP:

EDUSC; São Paulo: Bandeirantes Gráfica, 2004.

Atividades1. Quais países são citados no cartaz da propaganda abaixo? O que havia decomum entre eles nos anos de 1930?

2. Relacione:

1.Racismo ( ) Início do Fascismo

2.Aparência de monarquia parlamentar ( ) Itália

3.Exaltação do passado ( ) Nazismo

4.Hitler ( ) Fascismo

5.Mussolini ( ) Alemanha

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3. Leia os textos sobre o fascismo e o nazismo e faça uma lista de semelhan-ças e diferenças entre eles. Para saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobre

fascismo e nazismofascismo e nazismofascismo e nazismofascismo e nazismofascismo e nazismo

LeiaLeiaLeiaLeiaLeia

ALMEIDA, A. M. República deWeimar e a ascensão do nazismo.São Paulo: Brasiliense,1983.

LENHARO, A. Nazismo: o triunfoda vontade. São Paulo: Atica,1977. (Série Princípios).

REIS Fº, D. A. e outros. O século XX:o tempo das crises: revoluções,fascismo e guerras. Rio de Ja-neiro: Civilização Brasileira,2000.

RIBEIRO Jr., J. Que é nazismo? SãoPaulo: Ática, 1986 (Série Princí-pios).

TRENTO, A. Fascismo italiano. SãoPaulo: Ática, 1986.

VVVVVeja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmes

Amacord, dir. Federico Felinni,Itália, 1974

Delito Mateotti, dir. FlorestanoVancini, Itália,1973

O grande ditador, dir. CharlesChaplin, EUA,1940

A lista de Schindler, dir. StevenSpielberg, EUA, 1993

Cabaret. Dir. Bob Fosse, EUA, 1972

Consulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítios

www.terravista.pt/Ancora/1778/italia_fascismofascismofascismofascismofascismo.htm

www.tg3.com.br/fascismofascismofascismofascismofascismo/

www.culturabrasi l .pro.br/fascismofascismofascismofascismofascismos.htm

www.fascismofascismofascismofascismofascismo8.hpg.ig.com.br/oqueeofascismofascismofascismofascismofascismo.htm

Semelhanças

1.

2.

3.

Diferenças

1.

2.

3.

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Unidade 2

OrganizadorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

ElaboradorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

México no século XX

Observe com muita atenção a pintura e responda as perguntas abaixo:

1. Há várias ocorrências acontecendo. Descreva-as.

2. Quantas e quais cores você pode visualizar?

3. Quais figuras chamam mais a sua atenção? Por quê?

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4. Você pode notar diferenças entre as pessoas retratadas? Quais?

5. É possível perceber a diferença de classe social entre os personagens retra-tados? Justifique sua resposta.

A pintura em destaque é de autoria do pintor mexicano Diego Rivera etem como título Sonho de uma tarde dominical na Alameda Central. Foi pin-tada em 1947, três décadas depois que o movimento conhecido como Revo-lução Mexicana tinha sido sufocado.

No mural, criado em 1947, Rivera mescla recordações de sua vida pessoala personagens e fatos da história mexicana, desde a colonização até as primei-ras décadas do século XX. O afresco de 74 metros quadrados é formado portrês grandes seções.

O segmento à esquerda evoca a conquista do território pelos espanhóis, aInquisição, o período colonial e também acontecimentos da primeira metadedo século XIX, como a Independência, a invasão norte-americana, a interven-ção francesa.

Na seção central, a Caveira Catrina dá o braço a seu autor, o gravador JoséPosada, e leva pela mão um menino – auto-retrato do pintor aos nove anos –escoltado por Frida Kahlo, sua terceira esposa. Também estão presentes per-sonagens históricos como Porfírio Diaz, ditador que governou o México de1876 a 1910.

O artistaO artistaO artistaO artistaO artista

Diego Rivera, nasceu na cida-de de Guanajuato, no estadode Guanajuato, em 8 de de-zembro de 1886. O talentopara a pintura desenvolveu-se já nos primeiros anos es-colares. Com dez anos, mu-dou-se com a família para aCidade do México, onde con-seguiu uma bolsa do gover-no para ingressar na Acade-mia de Belas Artes de SãoCarlos, onde permaneceu atésua expulsão, em 1902, porhaver participado das revol-tas estudantis que ocorreramnaquele ano. A maior influ-ência que recebeu nesse pe-ríodo foi a do gravador JoséGuadalupe Posada, em cujoatelier trabalhou e que seriadecisiva para seu desenvol-vimento artístico. Cinco anosmais tarde, conseguiu umabolsa de estudos do gover-no de Vera Cruz para prosse-guir sua formação pictórica naEspanha, na escola de SãoFernando, em Madrid. Em1911, estabeleceu-se em Pa-ris. Durante essa viagem foiinfluenciado pelo pós-impressionismo, principal-mente por Paul Cézanne, oque o levou a realizar experi-ências com o cubismo. A am-bição maior de Rivera era ex-pressar em forma plástica osacontecimentos, as idéias eesperanças da RevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoRevoluçãoMexicanaMexicanaMexicanaMexicanaMexicana. Para achar um meioadequado a essa expressãoexperimentou a técnica doafresco. Essa técnica consisteem pintar diretamente sobrea argamassa (mistura de cal eareia) molhada, para que a corpenetre e fixe na parede.Rivera se interessou vivamen-te pela política e em suascomposições murais, históri-cas ou simbólicas, transmitiua mensagem de revolução ede resistência à opressão es-trangeira. Além de Rivera, ou-

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A última seção, à direita, aborda os movimentos camponeses e as lutaspopulares que culminaram na Revolução Mexicana de 1910, assim como operíodo pós-revolucionário. O México moderno é representado por uma figu-ra presidencial simbólica, pela burguesia ascendente, pelas fábricas. Ao longode todos os segmentos, o povo é representado por vendedores (de frutas, ba-lões, doces).

Todos esses personagens imaginados por Diego Rivera aparecem em umgrande cenário de brilhantes cores, marcados pelas enormes e frondosas ár-vores da Alameda e a arquitetura correspondente a cada época. Cada um dospersonagens aparece vestido de acordo com a moda e a posição social, comjóias e enfeites que lhe seriam apropriados. Rivera destacou – nas cenas deexpulsão de camponeses e operários da alameda, para que não atrapalhassemo passeio dos ricos –, a enorme desigualdade social do seu país. Realizou estavasta composição com inigualável destreza, sem se esquecer do menor deta-lhe nas figuras, nos objetos e demais elementos.

(Texto traduzido e adaptado de www.arts-history.mx/museos/mu/)

A REVOLUÇÃO MEXICANA (1910-1917)

tros grandes pintores mexi-canos, como José ClementeOrozco e David AlfaroSiqueiros, dedicaram-se à pin-tura de murais por desejaremque a obra de arte fosse aces-sível a toda a população e nãoficasse restrita à propriedadede poucos. “A terra fecunda”,realizada para a Escola Naci-onal de Agricultura deChapingo, é um dos seusmais importantes afrescos.Fez outros que hoje adornamo Palácio de Cortés deCuernavaca e o Palácio Naci-onal, na Cidade do México.

Foi casado com a pintora me-xicana Frida Kahlo, com quempartilhava as suas polêmicasconvicções políticas. DiegoRivera foi membro do Parti-do Comunista de 1923 a 1930e de 1954 até 25 de novem-bro de 1957, data de sua mor-te. (Traduzido e adaptado dewww.geocities.com/kuraish/)

Dez anos de luta pelos índiosDez anos de luta pelos índiosDez anos de luta pelos índiosDez anos de luta pelos índiosDez anos de luta pelos índios

Correio Braziliense Correio Braziliense Correio Braziliense Correio Braziliense Correio Braziliense (31/12/2003)

Movimento zapatista comemora aniversário sem motivos de festa. Chiapas continua

sendo uma das regiões mais pobres do país. Em compensação, a guerrilha despertou a

consciência nacional para o problema

Em San Cristóbal de las Casas é possível comprar um pequeno revolucionário em cada

esquina. Cedo da manhã, antes que o sol dissipe a névoa gelada, mulheres indígenas

exibem nas calçadas da velha cidade colonial do sul do México seus souvenirs de fabri-

cação caseira. Entre eles, há sempre bonequinhos. A máscara preta cobrindo o rosto, o

lenço vermelho no pescoço e o fuzil de madeira os identifica como combatentes do

Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Alguns, inclusive, têm nome: Marcos,

Tacho ou Ramona.

Os zapatistas de carne e osso ocuparam San Cristóbal há dez anos. Liderados pelo

subcomandante Marcos, os rebeldes mascarados assaltaram a prefeitura local e anunci-

aram suas demandas: terra, pão, trabalho, moradia, escolas e hospitais para os pobres do

país e o fim do governo central na Cidade do México. A insurgência dos indígenas

acontecia no mesmo dia em que o México entraria para o grupo dos poderosos, no

Tratado do Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 1º de janeiro de 1994.

O levante dos indígenas no estado mexicano de Chiapas ganhou destaque nas primeiras

páginas da imprensa mundial. Os confrontos entre o Exército e os guerrilheiros mataram

160 pessoas nos primeiros dias de janeiro de 1994, até o cessar-fogo decretado pelo

então presidente Carlos Salinas de Gortari.

Faz tempo que San Cristóbal se recuperou do susto daquele dia de ano-novo. Com suas

igrejas barrocas e ruelas pitorescas, a cidade é novamente destino apreciado pelos turis-

tas, principalmente os europeus. Muitos compram os bonecos zapatistas. O conflito em

Chiapas, no entanto, continua esperando uma solução.

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Ao ler a matéria do jornal “Correio Brasiliense”, transcrita acima, vocêdeve ter reconhecido o assunto principal e pode também ter se lembrado deter visto nos telejornais e lido em revistas de noticias informações sobre oExército Zapatista de Libertação Nacional e entrevistas com seu líder maisconhecido, o comandante Marcos.

Releia o texto novamente e antes de responder às perguntas abaixo:

- procure o significado das palavras desconhecidas

- identifique a idéia principal de cada parágrafo

- faça um resumo do texto

Atividades1. Quais as principais reivindicações do movimento zapatista?

2. O movimento tem obtido vitórias expressivas? Justifique sua resposta.

Antecedentes da Revolução MexicanaAgora, vamos voltar um pouco mais no tempo e tentar compreender como

a permanência de velhos problemas contribuiu para a organização de estraté-gias para solucioná-los.

O México, região onde se localizava o Império Azteca (releia o Módulo I),foi conquistado pelos espanhóis que lá instalaram o Vice-reinado da NovaEspanha, numa extensa faixa territorial que ocupava desde a Península doIucatã até os atuais estados norte-americanos: Texas, Arizona, Califórnia, NovoMéxico, Utah, Nevada e parte do Colorado.

A luta pela independência do México foi longa e sangrenta, porque junta-mente com ela se aclaravam as grandes contradições da sociedade que se for-mara durante o domínio espanhol. Apesar da cruel guerra de conquista, a popula-ção indígena era numerosa e seu trabalho era fundamental nas minas e fazen-das. A exploração do trabalho e a cobrança de tributos enriqueceu os proprie-

É certo que a trégua continua em vigor, mas como a demanda de autonomia para os

povos indígenas do México não recebeu uma resposta satisfatória, os insurgentes sus-

penderam conversações com o governo central.

O atual presidente mexicano, Vicente Fox, logo no início de sua gestão, prometeu que

resolveria definitivamente o conflito. Mas sua demora em achar uma solução irritou os

rebeldes, que organizaram uma grande marcha rumo à capital mexicana. Como represália

à iniciativa do EZLN, o Congresso acabou por aprovar uma lei que em nada obedece aos

princípios dos Acordos de San Andrés – acordos que regulamentam a autonomia indígena,

firmados em 1996, durante o governo de Ernesto Zedillo, que também não os cumpriu.

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tários, que mesmo poucos numerosos, possuíam a maior parte das terras, dividi-das em fazendas isoladas aonde não chegava a autoridade do estado espanhol.

A luta pela independência da Espanha começou em 1810, encabeçadaprimeiramente pelo padre Morellos e depois pelo padre Hidalgo. A luta deMorellos e Hidalgo ia além da conquista da autonomia política: pretendia mo-dificar a sociedade, tornando melhor a vida dos índios e mestiços, exploradospelos grandes fazendeiros. Sucessivamente, foram derrotados pela elite com-posta pelos espanhóis, chamados de chapetones e pelos descendentes doscolonizadores, já nascidos na América, os criollos. Mas essa elite, que forma-va junto com a Igreja Católica e os militares uma grande força conservadora,tinha um projeto de independência que não abalaria seus privilégios – o qualatingiu seus objetivos em 1823.

Ao tornar-se independente da Espanha, em 1823, o México passou a sergovernado por um militar espanhol, Agustín Itúrbide, que havia lutado contraMorellos e Hidalgo. Ele se autoproclamou imperador do México. Seu gover-no durou menos de um ano e, em 1824, o México transformou-se numa repú-blica, com uma constituição de cunho liberal, o que não significou mudançaalguma na estrutura social do país. Havia, contudo, uma disputa entre liberaise conservadores, que se estendeu por todo o século XIX e provocou inúmerassituações de crise política.

As sucessivas crises políticas provocadas pelos conflitos entre conserva-dores e liberais, pólos entre os quais se dividia a elite política mexicana, leva-ram ao poder, em 1861, Benito Juarez, líder liberal. Durante seu governo,adotou-se uma constituição liberal, o que implicou na suspensão da cobrançade dízimos pelas ordens religiosas, na implantação da tolerância religiosa, naseparação entre o Estado e a Igreja Católica e a nacionalização de todos osbens religiosos que não fossem utilizados para o culto (a Igreja Católica eraproprietária de cinqüenta por cento das terras mexicanas, o que lhe dava mui-to poder). Tirou-se o monopólio do ensino das mãos da Igreja Católica. Não épreciso lembrar que tais reformas não atingiram a maioria da população dopaís, que não tinha acesso à propriedade e cujo trabalho era explorado nasgrandes fazendas.

Também a situação financeira do país era péssima e Juarez suspendeu opagamento de juros aos empréstimos feitos pela Inglaterra, Espanha e França.Este último país não aceitou essa decisão e seu imperador, Napoleão III, deci-diu invadir o país e, apoiado pelos conservadores mexicanos, apoderou-se dacapital. Para assumir o controle, o governo francês enviou o príncipe austríacoMaximiliano de Habsburgo, que foi coroado imperador do México com oapoio dos conservadores. O novo imperador tinha idéias liberais e pensavaem criar no México um grande país que tivesse força contra os Estados Uni-dos. Por suas pretensões liberais perdeu o apoio político da Igreja e dos gran-des proprietários de terra. Em 1867, a França enfrentou problemas na Europa,as pressões dos EUA fizeram com que fossem retiradas as tropas francesas doMéxico. Maximiliano foi derrubado por uma rebelião popular liderada pelosliberais e depois fuzilado.

O agravamento das desigualdadesDez anos depois da derrubada de Maximiliano, o México iniciou um pro-

cesso de transformação, que tornou ainda mais aguda a desigualdade social.O longo governo de Porfírio Diaz (1877-1910) promoveu o enriquecimento

A Guerra entre México eA Guerra entre México eA Guerra entre México eA Guerra entre México eA Guerra entre México eEstados UnidosEstados UnidosEstados UnidosEstados UnidosEstados Unidos

Os Estados Unidos da Américado Norte, desde a terceira déca-da do século XIX, quando vivi-am o auge da sua expansãoterritorial, pressionavam o paísvizinho para conquistar maisterras. A pressão se iniciou como estabelecimento de colonosamericano no Texas. Eles teriamque obedecer às leis mexicanase acatar a religião católica. A bur-la das regras era o procedimen-to comum e quando o Méxicocobrou o cumprimento delas, oscolonos se rebelaram e procla-maram a criação de um novopaís, a Republica da Fredônia. Arebelião foi facilmente sufocadapelo exército mexicano. O go-verno dos Estados Unidos pro-pôs, então, comprar o territóriodo Texas. O governo do Méxicorecusou a proposta. A partir de1834, a situação se agravou e noano seguinte, com o apoio os-tensivo dos Estados Unidos, oscolonos se rebelaram e o Méxi-co, enfraquecido por crises e di-visões entre os grupos dirigen-tes, não pode impedir a forma-ção da República do Texas que,dez anos mais tarde, foi incor-porada aos EUA. A independên-cia do Texas provocou umaguerra entre os dois países, queterminou com o Tratado deGuadalupe-Hidalgo, pelo qual,em troca de quinze milhões dedólares, o México cedia aos Es-tados Unidos os territórios deArizona, Califórnia, Novo Méxi-co, Utah, Nevada e partes doColorado, que representavam ametade do território mexicano.

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de especuladores e permitiu que se aumentasse ain-da mais a concentração de terras (em 1910, cerca deoitocentos e oitenta latifundiários detinham a propri-edade de todas as fazendas).

Diaz abriu as portas do México às empresas nor-te-americanas, que obtiveram grandes lucros na ex-ploração das riquezas minerais, no transporte ferro-viário e com o capital financeiro.

O governo de Diaz foi dominado por uma burocracia positivista – os cientí-ficos – responsável pelo desenvolvimento do capitalismo associado e pela polí-tica repressiva às camadas populares. Apoiou-se ainda no exército, que possuíaa função de polícia do Estado, e na Igreja Católica, que apesar de estar proibi-da de possuir propriedades que não se destinassem ao culto, possuía grandeliberdade de ação. A principal base de apoio da ditadura, porém, foi o grupodos grandes proprietários, que foram na realidade seus maiores aliados dapolítica do governo, que eliminou o ejido (terras comunitárias de origem indí-gena), possibilitando maior concentração fundiária e a formação de um gran-de contingente de camponeses superexplorados.

As transformações econômicas que provo-caram o desenvolvimento do comércio e a in-dustrialização, levaram também ao crescimen-to das camadas médias urbanas e ao surgimentodo proletariado, que, como camponeses, esta-vam submetidos ao domínio da aristocraciarural e eram submetidos ao domínio da bur-guesia industrial.

A dominação dos grandes proprietários eda burguesia industrial não impediu numero-sos movimentos de revolta camponesa contra a apropriação pelos grandesfazendeiros das poucas terras que ainda estavam em mãos de comunidadesindígenas, como não impediu também a organização de greves, que foramduramente reprimidas. Tais movimentos ajudaram a enfraquecer o poder dePorfírio Diaz.

El Reparto de Tierras, 1924(A repartição das terras).Diego Rivera. Afresco, Uni-versidade Autônoma deChapingo, Edifício da Ad-ministração.

EjidoEjidoEjidoEjidoEjido

Terra expropriada dos latifúndios e redistribuídas como fazendas comunais. A propriedade

comunal da terra foi largamente praticada pelos aztecas, mas a instituição estava em

declínio quando os conquistadores espanhóis chegaram. Os conquistadores instituíram a

encomienda e o repartimiento e, depois da independência, o trabalho para o pagamento

de dívidas. Apesar de legalmente abolido pela Constituição de 1917, que restaurou o

ejido, o trabalho compulsório para o pagamento de dívidas permaneceu como uma

prática generalizada, pelo menos até os anos de 1930. O objetivo do sistema do ejido é

remediar a injustiça social e desenvolver a produção de alimentos básicos. A terra per-

tence ao governo e o ejido é financiado por um banco estatal, que existe especialmente

para financiar as atividades da comunidade. De fato, o banco substituiu o encomedero

colonial, com a diferença que o trabalhador recebe pelo trabalho realizado.

The Columbia Encyclopedia, Sixth Edition. Copyright © 2003 Columbia University Press.

Los explotadores (Os explo-radores), 1926. Diego Rivera.Afresco, Parede oeste da Ca-pela da Universidade Autôno-ma de Chapingo.

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As crises sociais enfraqueceram o ditador, que foi deposto em 1910. Adeposição de Porfírio Diaz foi seguida por rebeliões de camponeses em todosos cantos do país. Nas rebeliões camponesas dois líderes se destacaram: aoNorte, Pancho Villa, e ao Sul, Emiliano Zapata. Eles pretendiam realizar asseguintes reformas:

- um processo de reforma agrária sob controle das comunidades campone-sas;

- a reorganização do ejido;

- a expropriação de um terço dos latifundiários mediante indenização;

- nacionalização dos bens dos inimigos da revolução.

Zapata conseguiu colocar em prática os planos e realizou no estado deMorellos uma profunda modificação na distribuição da propriedade, com aimplantação de uma radical reforma agrária.

Em 1915-16, Carranza, que havia sido eleito presiden-te, conseguiu reprimir as iniciativas tanto de camponesesquanto de operários, isolando Villa e Zapata, que continu-avam lutando. Carranza havia percebido que, para colocaro Estado no controle do processo modernizador, precisarianeutralizar a iniciativa das “massas revolucionárias”, ga-nhando o apoio destas para alcançar seus objetivos. As-sim, uma nova constituição foi promulgada em 1917. Elapossibilitava ao governo estabelecer-se como um órgãotutelar da sociedade, com poderes para conter a participa-ção popular e estimular o desenvolvimento econômico do

país. Para tanto, a constituição garantia, pelo menos em teoria, certos direitossociais, como a reforma agrária, a assistência social, a laicização do ensino,além de uma série de medidas econômicas (nacionalizações etc.).(www.dhi.uem.br, Renato Moscateli.)

Com a nova Constituição, Zapata e Villa se retiraram da luta, apesar de nãoterem conseguido realizar todas as propostas. Ambos foram assassinados.Zapata morreu em 1919 e Pancho Villa em 1923. Deixaram marcas profundasno imaginário do povo mexicano. Inspiraram músicas, são figuras reproduzidasno artesanato popular.

O estancamento do ímpeto revolucionário e o abrandamento da combati-vidade dos camponeses pelas suas carências mais gritantes, aliados àburocratização dos sindicatos e o controle do proletariado, conduziu a socie-dade mexicana a um novo período de estagnação e ao aprofundamento dosproblemas sociais remanescentes.

E assim a figura de Emiliano Zapata foi escolhido para ser o símbolo demovimentos sociais, que lutam pelas mesmas causas pelas quais lutaram osrevolucionários de cem anos atrás: distribuição da propriedade, eleições li-vres e participação popular na direção do Estado.

Pancho Villa e EmilianoZapata ao entrarem vi-toriosos na cidade doMéxico.

(Fonte: www. Increvablesanarchistes.org/álbum_photo/phot1914_20/mexiique.htm).

Texto baseado em:

REED, John. México Rebel-México Rebel-México Rebel-México Rebel-México Rebel-dedededede. São Paulo: EdiçõesZumbi, 1959.

RIBEIRO. Darcy. AAAAAs As As As As Amérmérmérmérméri-i-i-i-i-cas e a civilização: estu-cas e a civilização: estu-cas e a civilização: estu-cas e a civilização: estu-cas e a civilização: estu-dos de antropologia dados de antropologia dados de antropologia dados de antropologia dados de antropologia dacivilizaçãocivilizaçãocivilizaçãocivilizaçãocivilização. Petrópolis:Vozes, 1979.

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Atividades1. (Fuvest 2004 - 1a fase)

Neste mural, o pintor mexicano Diego Rivera retratou a morte de Emiliano

Zapata e Pancho Villa. Observando a pintura, é correto afirmar que Rivera:

a) foi uma rara exceção, na América Latina do século XX, pois artistas e escri-tores se recusaram a relacionar arte com problemas sociais e políticos.

b) retratou, no mural, um tema específico, sem semelhanças com a situaçãodos camponeses de outros países da América Latina.

c) quis demonstrar, no mural, que, apesar da derrota armada dos campone-ses na Revolução Mexicana, ainda permaneciam esperanças de mudan-ças sociais.

d) representou, no mural, o girassol e o milharal como símbolos religiososcristãos, próprios das lutas camponesas da América Latina.

e) transformou-se numa figura única na história da arte da América Latina,ao abandonar a pintura de cavalete e fazer a opção pelo mural.

2. Leia o texto abaixo:

“Liderados pelo subcomandante Marcos, os rebeldes mascarados assalta-ram a prefeitura local e anunciaram suas demandas: terra, pão, trabalho, mo-radia, escolas e hospitais para os pobres do país e o fim do governo central naCidade do México”. (Correio Brasiliense, 31/12/2003)

Ele se refere:

a) À Revolução Mexicana, que ocorreu no início do século XX, liderado porum chefe militar conhecido como Comandante Marcos, que promoveuuma avançada reforma agrária no México.

b) À conquista do Império Azteca, empreendida pelos espanhóis, no início doséculo XVI, cujo líder Hernán Cortez teve que enfrentar uma rebelião,liderada por um dos seus comandados conhecido por Comandante Marcos.

c) À uma disputa entre Emiliano Zapata e Pancho Villa, durante a RevoluçãoMexicana, na qual os soldados se rebelaram por não estar recebendo ossoldos e não poderem sustentar suas famílias.

La Sangre de los Mártires Revolucionarios fertilizando la Tierra (O sangue dos mártires revolu-cionários fertilizando a terra), 1926. Diego Rivera. Afresco, Parede leste da capela da Universida-de Autônoma de Chapingo.

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d) Ao movimento do Exército Nacional Zapatista, que se instalou no estadomexicano de Chiapas, no final de 1993, cujo principal líder é conhecidocomo Comandante Marcos.

e) À instalação do México de um regime nazista, com capital na Cidade doMéxico, na metade do século XX, que pretendia estender o poder da Ale-manha, sob o governo de Hitler, para toda a América Latina.

3. Reveja as ilustrações que reproduzem as obras de Diego Rivera. Agoraaponte as alternativas corretas:

a) A obra artística de Rivera indica que ele era um artista que não mantinhavínculos políticos e sentimentais com o México, sua terra natal.

b) Rivera era um artista politizado, que representava em suas obras suas con-cepções e projetos políticos.

c) Rivera, apesar de ser profundamente ligado ao México, sofreu influênciados pintores modernistas europeus.

d) A obra de Diego Rivera indica a influência mais profunda dos pintoresacadêmcos do século XIX.

4. Leia o texto abaixo:

“O que assegurou à revolução mexicana uma profunda significação soci-al foi seu caráter de movimento integrador das massas marginalizadas, com-postas principalmente por indígenas (...) (A) revitalização de milhares de al-deias comunitárias (ejidos) por todo o país, representou um enorme esforçointegrador, (...). (Darcy Ribeiro, As Américas e a civilização: estudos de antro-pologia cultural, Petrópolis: Vozes, 1979, p. 137)

Responda agora:

1. A que o autor atribui a significação social da Revolução Mexicana?

2. Quais camadas da população mexicana eram marginalizadas do processoeconômico e político?

3. Explique o que são os ejidos? Qual a sua importância para o desenvolvi-mento agrícola e social do México?

Para saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobrePara saber mais sobreaaaaa Revolução Mexican Revolução Mexican Revolução Mexican Revolução Mexican Revolução Mexicanaaaaa

LeiaLeiaLeiaLeiaLeia

CAMIN, H. A. e MEYER, L. À som-bra da Revolução Mexicana:História Mexicana Contem-porânea. São Paulo: Edusp,2000.

PRADO, M. L. América Latinano século XIX: tramas, telas etextos. São Paulo: Edusp;Bauru/SP: Edusc, 1999.

VVVVVeja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmes

Frida. Dir. Julie Saymors, EUA,2001

Viva Zapata. Dir. Elia Kazan,EUA, 1952

Consulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítios

www2.folha.uol.com.br/bi-b l i o t e c a / 1 / 2 3 /2002010901.html

www.conscienciapolitica.hpg.ig.com.br/rev_mexicanamexicanamexicanamexicanamexicana.htm

geocities.yahoo.com.br/fusaobr/rmexicanamexicanamexicanamexicanamexicana.html

w w w . k l e p s i d r a . n e t /klepsidra5/america.html

w w w . k l e p s i d r a . n e t /klepsidra6/muralismo.html

www.terra.com.br/istoe/i n t e r n a c / 1 9 9 9 / 1 2 / 2 3 /000.htm

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Unidade 3

No Brasil

OrganizadorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

ElaboradorasKátia Maria Abud

Raquel Glezer

Da mesma maneira que ocorre em outros países, a pintura também podeser utilizada como fonte histórica para conhecer a história do Brasil

O quadro acima é de autoria de Almeida Júnior, um dos pintores maisdestacado do final do século XIX no Brasil. É um quadro feito sob encomen-da para a família Adolfo Pinto, datado de 1891, óleo sobre tela, com dimen-sões de 106 x 137 cm. É classificado como uma pintura de gênero, que con-tém cena de vida cotidiana, no caso, uma família em uma sala de estar. Noquadro o mobiliário, a decoração, as roupas e as atividades permitem a iden-tificação: uma família de elite, com papéis definidos para o homem, a mulhere as crianças em uma residência em área urbana.

Veja a pintura acima e responda às questões:

1. imagem da Família Adolfo Pinto. Fonte: Emanuel Araújo (org.) Um olhar critico sobre o acervo doséculo XIX: reflexões iconográficas – memória. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1994, p. 53.

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O que é?

Quem produziu?

Para quê?

Por quê?

Quando?

Onde?

Descreva o que você vê na imagem.

Observe as roupas das pessoas, identifique a época do quadro e diga o queestão fazendo no local.

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O artistaO artistaO artistaO artistaO artista

O autor do quadro é José Ferraz de Almeida Júnior, um dos mais famosos pintores brasileiros

do século XIX. Nasceu na vila de Itu, na província de São Paulo, em 8 de maio de 1850 e

morreu assassinado em 13 de novembro de 1899, em Piracicaba (SP). Foi um artista muito

produtivo, com mais de trezentas obras. Muitas delas estão na Pinacoteca do Estado da Secre-

taria de Cultura do Estado de São Paulo e em outros museus paulistas.

Há diversas obras sobre ele, pois além de ter sido um dos mais destacados pintores paulista,

possui séries de pinturas muito interessantes, como uma de retratos de políticos de grande

interesse, e uma com pinturas de tipos populares da província de São Paulo. Foi o primeiro pintor

brasileiro que deu atenção aos aspectos regionais, o que se tornou uma das características da

pintura brasileira no século XX, com pintores como Candido Portinari e Emiliano Di Cavalcanti.

Fonte da imagem: sítio http://personales.ciudad.com.ar/pintoresdomundo epoemas/almeidajr.htm

2 .Amolação Interrompida, 1894, óleo s/tela 3. Nhá Chica, 1895, óleo s/tela

4. Violeiro, 1899, óleo s/tela

Fonte: José Ferraz deAlmeida Júnior – 1859/1899: um artista revisita-do. São Paulo: Pinacotecado Estado, 2000. (2. p. 24 ;3. p. 16; 4. p. 42)

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A série de pinturas dos tipos populares de Almeida Junior, desde suasprimeiras apresentações ao público, chamou a atenção dos críticos, tanto pelofato de ser inédita até aquele momento no país, como por provocar questõessobre a relação homem/natureza e sobre a identidade nacional.

Como exemplo do interesse que sua obra ainda hoje desperta nos especi-alistas, leia o texto:

5. Caipira Picando Fumo, 1893, óleo s/tela

Fonte: José Ferraz deAlmeida Júnior – 1859/1899: um artista revisita-do. São Paulo: Pinacotecado Estado, 2000. (5. p. 30)

Almeida Júnior: o sol no meio do caminhoAlmeida Júnior: o sol no meio do caminhoAlmeida Júnior: o sol no meio do caminhoAlmeida Júnior: o sol no meio do caminhoAlmeida Júnior: o sol no meio do caminho

Rodrigo Naves

O sol forte não parece incomodar o homem sentado nos degraus da casa. Uma tarefa

singela concentra toda sua atenção: picar fumo, atender a um pequeno vício. Não se

trata propriamente de trabalho. E sua concentração corresponde ao aspecto caprichoso

da atividade. Absorto, suas feições não revelam a tensão de quem necessita alcançar um

objetivo preciso. Basta se deixar levar pelos movimentos conhecidos das mãos. O

alheamento reduz sua presença física e torna-o menos suscetível ao calor, em proveito

de um momento de intimidade, de quem se vê entregue ao ritmo errante das divaga-

ções. Ao fundo, a porta entreaberta e a sombra do interior da habitação reforçam a

atitude ensimesmada do caipira, como se o abrigo físico da casa ecoasse a proteção

evocada pelo recolhimento psicológico, numa quase figuração do que costumamos

chamar “interioridade”.

Apenas essa intimidade protetora separa de maneira mais acentuada o caipira do ambi-

ente em que se encontra e o resguarda da indiferenciação que permeia toda a tela. A luz

forte e os tons muito aproximados tendem a romper ameaçadoramente a distância

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entre todos os elementos do quadro. Cultura e natureza, homem e coisas têm traços

demais em comum, e quase poderiam estar um no lugar do outro. O chão do terreiro se

transporta com pouquíssimas nuances para a parede de pau-a-pique. E entre terra e terra

as separações são também muito rústicas: degraus toscos e carcomidos pelo tempo,

apoiados em estacas precárias, um madeirame que já deixa para trás as marcas do

trabalho humano e retorna à condição natural.

Fisicamente, também o homem se distancia pouco desse meio rude. A roupa simples

está gasta como aquilo que o cerca. A camisa branca – cortada pobremente, sem botões

–, em lugar de realçar a figura humana, torna mais forte a luz do sol, que age sem

piedade sobre seu corpo. As palhas de milho espalhadas pelo chão têm um tom seme-

lhante ao da camisa e ajudam – em sua dispersão – a reforçar a precariedade da vesti-

menta. As calças, sobretudo a perna direita, têm manchas de terra. Nada se afasta

definitivamente do chão. As partes descobertas do corpo do caipira também têm um

tom próximo ao da terra.

Crestada pelo sol, sua pele revela a aspereza da vida passada compulsoriamente junto à

natureza. As mãos e, sobretudo, os pés sofreram no contato constante com o meio, e se

deformaram, adquirindo um aspecto erodido e arredondado dos elementos submeti-

dos longamente à força dos elementos...

No entanto, o que realmente importa ressaltar em relação a Caipira picando fumo é o

contraste entre a aridez do ambiente e a relativa serenidade do caboclo. Prensada entre

a sombra do telhado ao alto e a das folhagens no canto inferior direito, a região de luz

funciona como uma estufa. E então fica difícil não associar a desolação da cena à inten-

sidade do clima. E se a atitude absorta do caipira o livra em parte do castigo do sol, isso

ocorre por uma espécie de renúncia ascética em lugar de provir de uma atividade que

submeta a natureza a desígnios humanos. Nesta tela o homem sofre o meio, em vez de

determiná-lo. Mas convém ressaltar como Almeida Júnior soube encontrar uma manei-

ra de pintar que condiz muito com o tema. Também sua pintura — pelas relações tonais

rebaixadas, no papel jogado pelos detalhes do quadro, pela arguta representação da luz

—se nega a representar o ambiente caboclo de maneira pitoresca. Há aí uma recusa a

representar o caipira por meio de contrastes miúdos e sugestivos dos pequenos arranjos

que emprega para tocar a vida. A pintura mesma de Almeida Júnior — ao menos nesta

tela — tem algo da fragilidade da vida que descreve, na qual o trabalho humano não

interveio na realidade de forma a garantir proteção a homens e mulheres...

O sol é o grande personagem deste Caipira picando fumo. O homem que se ajeita meio

a gosto na porta da casa pode até conviver bem com ele. Mas não está a sua altura. O

cismar que o protege também o impede de agir e o que domina o quadro é a exterioridade

majestosa da luz e do calor que parecem apenas tolerar a presença daquilo que ainda

não foi reduzido a eles...

Por isso a luz de Almeida Júnior traz em si o que, do sol, a essa altura da história da arte,

era apenas conservação e não ampliação: a luz rebatida, o calor que entorpece. O cabo-

clo que pica fumo parece enlevado em seu afazer modesto. Talvez fosse mesmo possí-

vel vislumbrar aí um elogio da vida simples, um bucolismo de quem encontrou a justa

medida no contato com natureza e vive em paz. Não estivesse também prestes a ser

tragado por este sol paradoxal, que fala de crepúsculo em pleno meio-dia.

(Texto extraído e resumido do sítio

www.cebrap.org.br/pdf/ texto%20Prof.%20Rodrigo%20Naves.pdf )

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Outra obra sua foi alvo de recente análise:

Rafael Cardoso analisa o quadro acima, destacando:

6. Derrubador brasileiro, 1879, óleo s/tela, Museu Nacional de Bels Artes/RJ, obra apresentada noSalão de Artes de Paris de 1880.

Fonte: José Ferraz deAlmeida Júnior – 1859/1899: um artista revisita-do. São Paulo: Pinacote-ca do Estado, 2000, p. 37.

É um quadro curioso para sua época, que foge dos gêneros tradicionais segundo os quais

se classificava a pintura. [...] Sua composição privilegia a figura do homem sentado,

descamisado, que ocupa de corpo inteiro o centro da área enquadrada. Em termos de

estrutura pictórica, aproxima-se de uma academia – como eram chamados os exercícios

de representação do corpo humano – geralmente desnudo, em diversas posições. Po-

rém, pela dimensão do quadro e pelo grau de acabamento dado a ele, sabemos que o

pintor não o pretendeu como estudo, mas como uma obra definitiva. Em muitos senti-

dos, aproxima-se de uma pintura alegórica, visando representar algum conceito abstrato

sob forma humana...

O derrubador parece se constituir em uma tentativa propositada de gerar uma alegoria

do legítimo tipo brasileiro...

Rude, mestiço, viril, folgado, esperto, a figura do caboclo é oferecida ao olhar do espec-

tador como um espécime a ser estudado – e admirado. É notável que esse matuto

compartilhe tantas qualidades com outros tipos nacionais que hão de segui-lo na galeria

nacional, como o caipira e o malandro. No fundo, eles têm muito em comum...

(Texto extraído e resumido de Rafael Cardoso. Um certo brasileiro. Nossa História..... n. 8,

junho 2004, p.24-7.)

BIOGRAFIA COMENTADAAlém do que podemos apreender vendo com atenção suas obras, sua vida

também nos ensina muito sobre o período em que viveu e as relações sociaisque então vigoravam.

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Nasceu de uma família pobre no interior da província de São Paulo, navila de Itu, e desejava ser pintor. Para tal foi necessária a ajuda de algunshomens mais ricos: Miguel Correa Pacheco, pároco da Matriz de Itu, o Barãode Jundiaí e Francisco José de Castro Andrade. Com a ajuda financeira deles,em 1869, ele foi para a cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do Império,sede da Corte Imperial, na qual existia a Academia Imperial de Belas Artes.Nela se matriculou e foi aluno de Julio Le Chevrel, Vitor Meireles e PedroAmérico. Depois de formado, em 1873, retornou à província e foi ser profes-sor de desenho e pintor em Itu. O imperador Pedro II costumava freqüentar asexposições da Academia. E o reencontrou quando da inauguração da estradade Ferro Mogiana, quando lhe concedeu uma bolsa para estudar na Europa.Em 1876 recebeu uma bolsa do Imperador de 300 francos mensais e foi paraParis estudar na École National Supérieure des Beaux-Arts (Escola Nacio-nal Superior de Belas Artes). Nela estudou com professores de estilo acadêmi-co e naturalista e teve contato com os outros artistas da época. Apresentoumuitas obras nas exposições do Salão de Artes de Paris. Retornou em 1882 e,em 1883, instalou ateliê em São Paulo. No ano de 1885, o pintor recebeu otítulo de Cavaleiro da Ordem da Rosa do governo imperial, mas recusou serprofessor na Academia Imperial de Belas Artes, em 1886. Manteve corres-pondência com outros artistas brasileiros da época. Em 1887 e 1891 esteveem Paris para assistir ao Salão de Artes. Expôs em vários anos no Salão Impe-rial de Belas Artes e na cidade de São Paulo. Doou alguns quadros para oimperador e teve outros adquiridos. Foi assassinado em 1899 em um crimepassional pelo marido de uma de suas amantes.

Em São Paulo tornou-se o pintor mais festejado, tendo muitas encomen-das das famílias da elite paulista, que estavam em processo de modernizaçãode hábitos e costumes, devido ao enriquecimento proporcionado pelas rendasda exportação do café. No final do século XIX, uma parcela considerável daelite paulista estava interessada na mudança de regime político, de monarquiapara república. Almeida Júnior tinha muitas relações com os políticos republi-canos, que fizeram muitas encomendas de quadros.

Vamos fazer algumas atividades sobre o que você acabou de ler e sobre osquadros acima.

Atividades1. Assinale as alternativas corretas:

( ) Almeida Júnior foi um pintor do século XIX, igual a tantos outros;

( ) Almeida Júnior estudou em Paris porque pertencia a uma família rica;

( ) Almeida Júnior foi um pintor destacado no século XIX, atualizado com ascorrentes artísticas européias;

( ) Almeida Júnior era um fiel monarquista;

( ) Ser pintor no Brasil do século XIX era uma profissão muito importante;

( ) Almeida Júnior pintou muitos quadros para os políticos republicanos.

2. Leia os dois textos acima dos críticos de arte sobre Almeida Júnior e descre-va como eles analisam as pinturas a que se referem.

Academia ImperialAcademia ImperialAcademia ImperialAcademia ImperialAcademia Imperialde Belas Artesde Belas Artesde Belas Artesde Belas Artesde Belas Artes

Escola que surgiu da Mis-são Artística Francesa de1816. Esta Missão foi con-vidada pelo Príncipe Re-gente D. João para se ins-talar no Rio de Janeiropara atualizar as artes eofícios do Brasil. Os ar-tistas que nela vierameram formados pela es-cola francesa e introdu-ziram no país o estiloNeo-Clássico, dominantena França no período, eque aqui substituiu aarte colonial de estiloBarroco.

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3. Descreva os quadros da série caipira que estão acima, na ordem de apre-sentação.

4. Na série caipira, o que mais chamou a sua atenção?

5. Compare, com suas palavras, as pinturas da série caipira com a d´Oderrubador.

6. Compare, com suas palavras, a pintura da Família Adolfo Pinto com a sériecaipira.

O IMPÉRIO NO BRASIL

Para saber maisPara saber maisPara saber maisPara saber maisPara saber maissssssobre Almeidaobre Almeidaobre Almeidaobre Almeidaobre AlmeidaJúniorJúniorJúniorJúniorJúnior

LeiaLeiaLeiaLeiaLeia

Emanuel Araújo (org.)Um olhar critico sobre oacervo do século XIX: refle-xões iconográficas – me-mória. São Paulo: Pinaco-teca do Estado, 1994.

José Ferraz de AlmeidaJúnior – 1859/1899: umartista revisitado. SãoPaulo: Pinacoteca do Es-tado, 2000.

VisiteVisiteVisiteVisiteVisite

Pinacoteca do Estado/Secretaria de Cultura doEstado de São Paulo.

Museu Republicano “Con-venção de Itu” – Itu/SP;

Museu Paulista/USP(Museu do Ipiranga).

Consulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítios

http://personales.ciudad.c o m . a r / p i n t o r e s d om u n d o e p o e m a s /almeidajr.htm

www.e-biografias.net/b i o g r a f i a s / a l m e i d a _junior.php

http://www.obraprima.net/mater ias/html7/html7.html

www.itaucultural.org.br

A trajetória de vida de Almeida Júnior: família pobre, destaque em alguma atividade,

mecenato do Imperador e posterior inserção social na elite, é característica de um grupo

social no século XIX, no Segundo Reinado (1840-1889), no período do Império no Brasil

(1822-1889).

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O mecenato do imperador Pedro II per-mitiu que alguns jovens estudassem fora dopaís, mesmo não sendo de famílias ricas, espe-cialmente artistas (pintores como PedroAmérico, Vitor Meireles, músicos como CarlosGomes) e escritores.

A escolha do beneficiado era ato diretodo imperador, o que criou um sistema de favo-res, concessões e dependência.

Havia o mesmo sistema para obtenção de cargos políticos (por exemplo,para ser Senador, que era cargo vitalício), de cargos administrativos (presi-dentes de província e ministros) e empregos públicos (de diretores e secretári-os a escriturários). Sempre era uma relação de favor, por parte do imperador, ede dependência, por parte do beneficiado. Ocorria uma relação semelhantepara a organização de empresas (de qualquer tipo e porte), que deviam rece-ber autorização para exercer algum monopólio por parte do imperador. Erauma sociedade hierarquizada pelo sistema de favor, não era uma sociedade declasses com cidadãos, pois até 1888 havia a escravidão.

Lembre-seO Império no Brasil tem sido descrito, por diversos autores, como um

período de paz política e prosperidade econômica, com avanços culturais sig-nificativos e um sistema sociocultural baseado no mérito individual e no pa-trocínio imperial, em oposição ao período republicano, sempre agitado, emtermos políticos e sociais.

A figura do imperador Pedro II surge como um homem educado, quaseum erudito, que se aborrecia com as miudezas administrativas e políticas,estando mais preocupado com o conhecimento em si. Favorecia as artes e osartistas. Preocupava-se com a modernização do país. Divulgava o país no ex-terior através de suas viagens e contatos com artistas e escritores passandouma imagem moderna do país.

Quando observado mais de perto, percebemos que, em termos políticos,o período imperial foi bastante agitado: o processo de centralização política,com disputas políticas entre partidos, que algumas vezes acabaram em movi-mentos armados, os conflitos regionais, com rebeliões, guerras externas, de-sequilíbrio entre instituições – tudo contribuindo para a instabilidade política.Essa situação era ainda agravada pela existência do Poder Moderador, quedava ao imperador o direito de intervir nos outros três poderes e na IgrejaCatólica Romana, esta última pela existência do Padroado.

No período após a Independência, em 1822, houve conflitos entre os di-versos grupos políticos – radicais republicanos, monarquistas conservadorese monarquistas absolutistas. O fechamento da Assembléia Constituinte, em1823 – na qual debatiam os grupos entre si e com o Imperador –, permitiu aestruturação de uma legislação com 4 poderes: Judiciário, Legislativo, Execu-

Almeida Jr. e Pedro II. Fonte: extraída dosítio http://personales. ciudad.com.ar/pintoresdomundoepoemas/almeidajr.htm

MecenatoMecenatoMecenatoMecenatoMecenato

Ato pelo qual uma pessoafornece ajuda financeira àsatividades artísticas, literá-rias ou culturais ou às pes-soas que exercem tais ati-vidades.

MecenasMecenasMecenasMecenasMecenas

É o nome dado a tais finan-ciadores, pessoas que nãobuscam lucros financeirosnessas atividades, mas o re-conhecimento social.

CentralizaçãoCentralizaçãoCentralizaçãoCentralizaçãoCentralizaçãopolíticapolíticapolíticapolíticapolítica

No período colonial cadauma das capitanias relaci-onava-se diretamente comLisboa. No continenteamericano havia dois Es-tados: o Vice-Reino do Bra-sil e o Estado do Grão-Paráe Maranhão. Depois davinda da Família Real, em1808, e com a capital do Im-pério Português na cidadedo Rio de Janeiro, teve iní-cio um processo de subor-dinação das capitanias aela. Sua implementação foidifícil, pois representou adiminuição de poder daelite local, que tentou al-gumas vezes recuperarseus poderes propondo aseparação do territóriosob seu controle. Váriastentativas armadas foramderrotadas. A unidade po-lítica foi unida à unidadeterritorial, visando não per-mitir a fragmentação doestado brasileiro. Desde aConstituição de 1823, foiincluída expressamente aobrigatoriedade da manu-tenção da unidade territo-rial do país, o que conti-nua até nossos dias.

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tivo e Moderador. Este último cabia ao monarca, o qual podia intervir noExecutivo, Legislativo e no Judiciário, impedindo a independência, o equilí-brio e a harmonia entre os poderes. Em 1824 houve a Confederação do Equa-dor, movimento centralizado em Pernambuco que desejava a república e aseparação do império. Em 1825, começaram as lutas pela independência daProvíncia Cisplatina (atual Uruguai, originariamente possessão espanhola con-quistada por Portugal), que acabou se concretizando em 1828. O aprofunda-mento da crise, somado aos problemas familiares em Portugal após a morte deD. João VI, acabou levando à abdicação de Pedro I, em 1831. O herdeiro dotrono no Brasil, D. Pedro II, na época com 5 anos de idade, recebeu tutorespara cuidarem de sua educação.

Em seu nome, outros exerceram o poder e administraram o país – foi operíodo regencial, entre 1831 e1840. As rebeliões, em diferentes regiões sesucederam:

- Cabanagem - Pará - 1832 a 1836;

- Farroupilha - Rio Grande do Sul e Santa Catarina - 1835 a 1845;

- Sabinada - Bahia - 1837 a 1838,

- Balaiada - Maranhão - 1838 a 1841.

A sucessão de regentes e as sucessivas regências tentaram estabelecer umfuncionamento regular da atividade administrativa e política, sem a atuaçãode um imperador. As regências foram quatro:

- Regência Trina Provisória – abril/junho de 1831: exercida por Franciscode Lima e Silva, Campos Vergueiro e Carneiro de Campos;

- Regência Trina Permanente - 1831 a 1834: exercida por Francisco deLima e Silva, Costa Carvalho e Bráulio Muniz;

- Regência Una - de 1835 a 1837: exercida por Diogo Antonio Feijó;

- Regência Una - de 1837 a 1840: exercida por Araújo Lima.

Diante do acirramento das revoltas e movimentos populares, um grupo doPartido Liberal lançou a proposta de emancipação do imperador para que elepudesse assumir o trono diretamente, diminuindo os riscos de separação dasprovíncias. Iniciou-se uma campanha para que fosse dada a maioridade aopríncipe, que ainda não tinha completado quinze anos.

O Segundo Reinado começou em 1840, quando D. Pedro II assumiu otrono, com a campanha da maioridade vitoriosa. Nos primeiros anos, os gru-pos políticos disputavam a atenção do jovem imperador e procuravam mano-brar para adquirir mais poder. Os dois partidos, Liberal e Conservador, suce-diam-se no governo, de modo violento, com eleições fraudulentas. Os atos deum governo eram desmontados pelo seguinte. O Partido Liberal propunhamaior liberdade para os poderes políticos locais e o Conservador, maior cen-tralização na Corte. Exemplos desse tipo de atuação foram o Ato Adicional,de 1834, que dava maior independência aos governos provinciais e a Lei deInterpretação do Ato Adicional, em 1841, que os restringia. Esta última provo-cou a Revolução Liberal de 1842. Além de alguns conflitos internos continu-arem (como a Balaiada e a Revolta Farroupilha), outras surgiram, além daRevolução Liberal, em São Paulo e Minas Gerais, em 1842, e a RevoluçãoPraieira, em Pernambuco, entre 1848 a 1850.

PadroadoPadroadoPadroadoPadroadoPadroado

Um acordo do reino dePortugal com o Papado,que dava direito ao reide escolher os bispos eindicar padres para oexercício da função reli-giosa, com pagamentopelo Estado em troca deserviços cartoriais comoregistro de nascimentos,casamentos, mortes e re-gistro de propriedades,compra e venda de bens.A religião oficial era acatólica romana. O Impe-rador do Brasil manteveo sistema, como conti-nuidade da administra-ção portuguesa. Ele sófoi extinto na República,com a separação entreEstado e Igreja.

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Em 1847, implantou-se a forma parlamentarista de governo, mas diferentede outros países, não eram as eleições que garantiam a maioria na AssembléiaGeral (um dos elementos do Poder Legislativo) e o direito de formar o Gabinete(Poder Executivo). No império brasileiro, o imperador, através do Poder Mode-rador, indicava o presidente do Conselho de Ministros, o qual formava o Gabi-nete, dissolvia a Assembléia Geral, trocava os presidentes de província e con-vocava eleições gerais e provinciais. O imperador indicava então o presidentedo Conselho de Ministros entre os políticos do partido vencedor. Era um par-lamentarismo especial, que permitiu o aumento da centralização política.

Na medida em que foi ficando mais velho, o imperador passou a exercermais fortemente sua autoridade no Poder Moderador – intervindo no Executi-vo (demitindo o Gabinete), o que exigia novas eleições para o Legislativo(Câmara Geral). Os governos sucediam-se em prazos relativamente curtos, oque tornou a estrutura administrativa imperial e provincial instável. Os empre-gos públicos eram a forma pelo qual os partidos ganhavam as eleições: aoassumir o poder, demitiam todos os funcionários e contratavam outros ligadosao partido, garantindo os votos e a vitória.

O sistema eleitoral era restritivo, exigindo uma renda considerável para apossibilidade de votar e de ser votado – era o voto censitário (de censo –imposto a ser pago pelas rendas que o indivíduo tivesse) –, conforme exigia aprimeira Constituição Brasileira, de 1824.

Após 1850, internamente o país se acalmou e os dois partidos se sucede-ram no poder, sem grandes conflitos – esse período é o período da Concilia-ção, que durou até o final da Guerra do Paraguai (1865-1870).

ParlamentarismoParlamentarismoParlamentarismoParlamentarismoParlamentarismo

Forma de governo queindepende do regime,monárquico ou republi-cano, na qual o partido,ou coligação de partidos,que vence as eleiçõespara o Poder Legislativoindica o Primeiro Minis-tro e os membros doministério, que formamo Gabinete (Poder Exe-cutivo), que segue o pro-grama partidário estabe-lecido ou acordado pe-los membros da coliga-ção. Cabe ao rei ou pre-sidente, no caso de des-contentamento popular,sugerir ao Primeiro Mi-nistro a convocação denovas eleições.

Mapa dos conflitos no Império. Fonte: José Jobson de Andrade Arruda. Atlas histórico. SãoPaulo: Ática, s.d., p. 42)

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Em 1870 foi fundado o Partido Republicano, que propunha a mudança doregime político para a forma republicana, o federalismo contra a centraliza-ção, a autonomia do poder local contra o poder centralizado, e que, aprovei-tando da fraqueza do governo imperial depois das guerras, começou umacampanha contra o regime monárquico.

Em termos de política externa, o império do Brasil teve dois comporta-mentos distintos: com a Inglaterra – de quem dependia pelos empréstimosfinanceiros desde o reconhecimento da independência, em 1826 –, procuroumanter sua autonomia, questionando a legislação inglesa contra o tráfico deescravos através do Oceano Atlântico. Com os países da bacia do rio da Prata,teve sempre uma atitude intervencionista, procurando evitar a formação deum outro grande país no sul do continente.

As guerras externas foram um ônus muito grande para o país, e costuma-vam ser associadas ao declínio do regime monárquico, quer pelo fato da guer-ra em si e seus custos econômicos, quer pela valorização do papel do Exérci-to, que se tornou a arma mais importante, substituindo a Marinha.

A preocupação com a imagem externa do país foi uma constante no regi-me monárquico, que desejava ser considerado um país importante. Daí a ati-vidade de propaganda através de viajantes, que vinham com financiamentoimperial visitar o país para depois escrever livros elogiando a modernização ea administração do Brasil. A participação nas exposições universais tinha amesma finalidade. Também o envio de jovens promissores aos países euro-peus para estudar tinha o mesmo objetivo.

Em termos de economia, o Brasil, a partir de meados do século XIX, setransformou em um grande exportador de café. Contudo, a estrutura econô-mica não sofreu grandes transformações, mantendo o latifúndio, a monoculturade exportação e a utilização do trabalho escravo até o final do século XIX.

A transformação do país em exportador de gêneros alimentícios estavaligada às necessidades do capitalismo industrial dominante no mundo, poistornava mais barata a mão-de-obra européia, mantendo baixo o custo da ali-mentação. Ao mesmo tempo, o país se tornou um mercado para o investimen-to dos capitais e para o consumo dos manufaturados. Também, por necessitarde mão-de-obra para a expansão constante das lavouras, pode receber os ex-cedentes populacionais europeus, já que o tráfico de escravos estava sendoreprimido.

A pressão da Inglaterra contra o tráfico negreiro (uma das atividades comerci-ais mais rentáveis no país) acabou levando à sua extinção, em 1850, com a LeiEusébio de Queiroz, e também à adoção de leis em seqüência, que libertavamparcelas de escravos, e finalmente, em 1888, à libertação dos escravos.

Os especialistas consideram que o fim do tráfico representou a liberaçãode capitais, que passaram a ser aplicados no mercado interno: em atividadescomerciais, industriais e de serviços.

A modernização econômica alterou o perfil da economia e da sociedade,com novos grupos sociais e uma economia urbana mais intensa. Os portosforam ampliados e ferrovias foram construídas para dar vazão ao café. O setorurbano contava com lojas, casas comissárias e depósitos. O sistema bancárioampliou-se, impulsionado pela prosperidade da cafeicultura.

FederalismoFederalismoFederalismoFederalismoFederalismo

Sistema de governo fe-derativo, no qual váriosestados se reúnem paraformar uma nação, cadaqual conservando suaautonomia. A Federaçãoé a detentora da sobera-nia nacional, com auto-ridade para representa-ção externa, emissão demoeda e sistema militarpara defesa de agressõesexternas.

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AtividadesLeia com atenção o texto acima e responda às questões:

1. Descreva a organização política do Brasil imperial.

2. Coloque, em ordem cronológica inversa (do fato mais recente para o maisantigo), as fases do império.

3. Assinale as alternativas corretas:

( ) o império teve apenas dois partidos políticos;

( ) o imperador exercia o Poder Moderador;

( ) o Padroado era privilégio do Papado;

( ) a política externa do império variava de acordo com o país estrangeiro;

( ) os fenômenos econômicos que aconteceram no país no século XIX esta-vam relacionados com o capitalismo industrial;.

( ) a extinção do tráfico negreiro provocou uma crise econômica.

4. Descreva, com suas palavras, a relação entre a centralização política doimpério e as revoltas internas.

5. Explique, com suas palavras, como funcionava o sistema parlamentaristano império.

6. Reveja o módulo todo e veja com atenção as imagens que são apresenta-das. Identifique o grupo social que não aparece e explique a razão desse fato.

BibliografiaBóris Fausto. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001.

Maria Cecília França Lourenço. Revendo Almeida Júnior. Mestrado – ECA/USP. São Paulo, 1980.

Para saber mais sPara saber mais sPara saber mais sPara saber mais sPara saber mais so-o-o-o-o-bre o Império nobre o Império nobre o Império nobre o Império nobre o Império noBrasilBrasilBrasilBrasilBrasil

LeiaLeiaLeiaLeiaLeia

Álvares de Azevedo. . . . . Lira dosvinte anos.

José de Alencar. Cinco mi-nutos.

José de Alencar. O Guarani.

Machado de Assis. A mão ea luva.

Machado de Assis. Helena.

Consulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítiosConsulte os sítios

www.universiabrasil.net

www.bibvirt.futuro.usp.br

www.historianet.com.br

www.br.dir.yahoo.com/Ciencia/Ciencias Huma-nas/Historia/Historia doBrasil/

www.culturabrasil.pro.br/historiabras.

www.tvcultura.com.br/aloescola/historia

VVVVVeja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmeseja os filmes

A Arte no Auge do Impé-rio.

Independência.

Independência ou Morte.

Mauá.

Os Reinados.

Guerra do Brasil.

Nasce a República.

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Sérgio Buarque de Holanda. Da monarquia a república. História Geral daCivilização Brasileira, v. 5. São Paulo: Difel, 1981.

Sobre as autorasKátia Maria AbudDoutora em História Social, é professora de Metodologia do Ensino de Histó-ria na Faculdade de Educação da USP, onde participa do programa de Pós-Graduação em Educação.

Raquel GlezerProfessora titular do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letrase Ciencias Humanas da USP, onde é professora de Teoria da História. É tambémprofessora nos programas de Pós-Graduação em História Social e HistóriaEconômica.

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Anotações

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