historia breve da cerâmica

27
ÍNDICE 1 BREVE HISTÓRIA DA CERÂMICA ................................................................ 2 1.1 A PRÉ-HISTÓRIA....................................................................................................................... 2 1.2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES .................................................................................................... 5 1.2.1 O Próximo Oriente .............................................................................................................. 5 1.2.2 Egipto ................................................................................................................................. 6 1.2.3 Creta ................................................................................................................................... 8 1.3 GRÉCIA E ROMA ...................................................................................................................... 9 1.3.1 Grécia ................................................................................................................................. 9 1.3.2 Etruscos ............................................................................................................................ 12 1.3.3 Romanos ........................................................................................................................... 13 1.4 CERÂMICA P-COLOMBIANA................................................................................................ 14 1.5 CERÂMICA ISLÂMICA ............................................................................................................. 14 1.6 EXTREMO ORIENTE ................................................................................................................ 19 1.6.1 China ................................................................................................................................ 19 1.7 EUROPA................................................................................................................................. 21 1.7.1 Estilo Renascimento (aproximadamente 1500 a 1600 d.C.) ................................................ 21 1.7.2 Alemanha .......................................................................................................................... 23 1.7.3 Revolução industrial .......................................................................................................... 24

Upload: graciacordeiro

Post on 25-Jun-2015

446 views

Category:

Documents


11 download

TRANSCRIPT

Page 1: Historia Breve da Cerâmica

ÍNDICE

1 BREVE HISTÓRIA DA CERÂMICA ................................................................ 2

1.1 A PRÉ-HISTÓRIA ....................................................................................................................... 2

1.2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES .................................................................................................... 5

1.2.1 O Próximo Oriente .............................................................................................................. 5

1.2.2 Egipto ................................................................................................................................. 6

1.2.3 Creta ................................................................................................................................... 8 1.3 GRÉCIA E ROMA ...................................................................................................................... 9

1.3.1 Grécia ................................................................................................................................. 9

1.3.2 Etruscos ............................................................................................................................ 12

1.3.3 Romanos ........................................................................................................................... 13

1.4 CERÂMICA PRÉ-COLOMBIANA ................................................................................................ 14

1.5 CERÂMICA ISLÂMICA ............................................................................................................. 14

1.6 EXTREMO ORIENTE ................................................................................................................ 19

1.6.1 China ................................................................................................................................ 19

1.7 EUROPA ................................................................................................................................. 21

1.7.1 Estilo Renascimento (aproximadamente 1500 a 1600 d.C.) ................................................ 21

1.7.2 Alemanha .......................................................................................................................... 23 1.7.3 Revolução industrial .......................................................................................................... 24

Page 2: Historia Breve da Cerâmica

1 BREVE HISTÓRIA DA CERÂMICA

A cerâmica é a combinação perfeita daquilo que os gregos da Antiguidade

consideravam como os quatros elementos que constituíam o Mundo. Era feita com

terra, moldada com água, secada ao ar e consolidada mediante a utilização do fogo.

A cerâmica pode ser considerada como o primeiro material “sintético” descoberto

pelo homem: uma pedra artificial produzida pela cozedura da argila a temperatura

suficientemente alta para alterar as propriedades físicas e químicas do material original

numa nova substância que apresenta muitas características de uma pedra, com a

vantagem de facilmente tomar a forma desejada.

1.1 A pré-história

A descoberta do processo da cerâmica ou seja, da conformação, secagem e

cozedura, pelas quais um simples objecto de argila se transforma em cerâmica, perde-se

nos tempos. Através dos vestígios arqueológicos consegue-se seguir o uso e

desenvolvimento das diferentes técnicas de execução e decoração; todas elas revelam

muito sobre a natureza da sociedade que as criaram.

Figura 1 – Vénus em cerâmica de Dolni Vestonice

Page 3: Historia Breve da Cerâmica

Quando o Homem pré-histórico descobre o fogo e a sua capacidade para

endurecer o barro, todo um mundo de possibilidades se abre perante ele. Mas será

apenas no Neolítico, quando o Homem se sedentariza e se dedica pela primeira vez à

agricultura e ao pastoreio, que a cerâmica se vai desenvolver e difundir. Antes disso, a

argila já fora usada para a modelação de figurinhas antropomórficas ou zoomórficas,

provavelmente de carácter mágico ou religioso. É possível que estas peças

representassem divindades ligadas ao culto da fertilidade.

O homem e a mulher pré-históricos modelavam o barro à mão, mediante a técnica

de bola ou a de rolos de argila. Utilizavam também cestos, pedras e cabaças para

conformar recipientes, usando-os como moldes primitivos.

Figura 2 Recipiente conformado num cesto, Vale do Nilo.

Esta cerâmica, cozida a temperaturas muito baixas, era porosa e muito frágil. Mas

os antigos ceramistas encontrariam soluções para resolver estes problemas. Para tornar

os seus vasos impermeáveis, por exemplo, recorriam ao brunido. Esta técnica consiste

em polir, esfregando uma pedra lisa ou um pedaço de madeira dura para alisar a

superfície da peça.

A decoração era feita com punções ou com a simples pressão dos dedos,

impressões essas que ficavam marcadas na argila mole. Também se recorria com muita

frequência a desenhos com motivos geométricos e a pintura, produzida a partir das

argilas locais, que podia apresentar coloração vermelha, ocre, castanho, preto ou bege.

No que toca às formas, as mais comuns eram a caliciforme e a campaniforme.

Uma vez decoradas e secas, estas peças deviam adquirir dureza que só era

possível mediante a cozedura. Supõe-se que estas primeiras peças cerâmicas fossem

Page 4: Historia Breve da Cerâmica

cozidas na mesma fogueira onde se cozinhavam os alimentos, mas é também possível

que existissem fogueiras especialmente preparadas para elas. O sistema não permitia

alcançar temperaturas altas ( 600º C) mas, ainda assim, era o suficiente para converter

a argila numa cerâmica de cor negra.

Figura 3 – Vaso campaniforme

A estas fogueiras sucederiam os fornos primitivos, que seriam aperfeiçoados a

pouco e pouco. O controlo do fogo iria evoluir, permitindo um gradual aumento da

temperatura de cozedura.

Figura 4 – Tigela feita à mão, Cultura Halaf, 5500-5000 a.C., Iraque.

Page 5: Historia Breve da Cerâmica

1.2 As primeiras civilizações

1.2.1 O Próximo Oriente

A primeira civilização conhecida desenvolveu-se nas terras férteis entre os rios

Tigre e Eufrates, (a Mesopotâmia). Entre 5000 e 4000 a.C., já se produzia uma cerâmica

de forma globular, que se decorava com desenhos lineares, geométricos ou incisos.

Seguiram-se então os desenhos naturalistas, com representações humanas ou animais.

Posteriormente, entre 4500 e 4000 a.C., desenvolveu-se a técnica da cozedura, de

maneira a evitar o habitual enegrecimento das peças. Foi a descoberta do forno que

permitiu esta evolução, pela introdução de uma câmara onde as peças se encontram

afastadas da acção directa da chama. As formas tornaram-se mais complexas, e a

preparação mais elaborada da argila permitiu o adelgaçamento das paredes dos vasos.

Figura 5 – Vaso decorado com cabra montanhesa, 4000 a.C., Irão.

Entre 4000 e 3000 a.C., a Suméria constituía um importante centro de produção

cerâmica, tal como Ur e Uruk. Usavam-se tijolos de argila cozidos na construção de

edifícios e cidades e é também nessa época que se irá desenvolver a roda de oleiro.

Page 6: Historia Breve da Cerâmica

Figura 6 – Vaso decorado procedente de Susa, 5000-4000 a.C., Irão.

A descoberta do vidrado, entre 2500 e 1500 a.C., constitui um grande passo em

frente para o revestimento das peças cerâmicas. O vidrado começou por ser utilizado

nos tijolos e, mais tarde, nas peças cerâmicas.

1.2.2 Egipto

A grande civilização do antigo Egipto deve a sua próspera evolução à fertilidade

do vale do Nilo. Durante vinte e seis dinastias de faraós, construíram-se grandes obras,

como as pirâmides e a esfinge do templo Luscoret, que se conservaram até aos nossos

dias e continuam a provocar grande admiração. Mas esta civilização distinguiu-se

também em vários outros domínios, tais como a medicina, a astronomia, a engenharia

hidráulica, etc.

A arte da cerâmica foi introduzida no Egipto através da Mesopotámia. Entre 5000

e 4000 a.C., na cultura Badariense, fabricava-se uma bela cerâmica de paredes finas, que

era decorada com incisões lineares e seguidamente brunida.

Nas primeiras dinastias (3250-2700 a.C.), as formas eram mais cilíndricas e a

decoração obtinha-se por meio de engobes brancos ou com óxido de ferro.

Page 7: Historia Breve da Cerâmica

Figura 7 Cerâmica Badariense, 3500 a.C., Vale do Nilo.

Durante o Reino Antigo ( 2700-2100 a.C.), começa-se a usar o torno, permitindo

a obtenção de peças mais perfeitas e mais finas. É também desta época uma série de

pequeno objectos feito a partir de uma pasta que se obtinha pela mistura de areia,

matéria alcalina (cinzas de madeira ricas em óxidos de potássio e sódio) e um pouco de

argila. Estes objectos de pasta vítrea, depois de cozidos no forno, apresentavam uma

superfície brilhante e uma coloração turquesa (se a pasta contivesse cobre) ou púrpura

(se a mesma contivesse manganês). Esta pasta é simplesmente designada por pasta

egípcia.

Figura 8 Copo lotiform conformada em pasta egípcia, 945-715 a.C., Egipto.

Page 8: Historia Breve da Cerâmica

Durante o último período (750-325 a.C.), as formas cerâmicas tornaram-se muito

mais complexas, passando a usar-se o vidrado de chumbo, permitindo a obtenção de

cores vivas.

1.2.3 Creta

A cultura minóica da ilha de Creta, foi a primeira civilização da Europa. Surgiu

cerca de 3000 a.C. e sobreviveu durante 1800 anos. A diferença relativamente a outras

civilizações antigas, é que esta se desenvolveu não no vale de um rio, mas sim numa

ilha. O mar protegia os ilhéus dos ataques e permitiu o desenvolvimento de uma

economia baseada no comércio; exportava-se azeite e vinho em recipientes de cerâmica,

que eram trocados por trigo. Este comércio aberto e livre e a ausência de uma classe

sacerdotal opressiva (como no Egipto, por exemplo, em que o estilo era pesado e tinha

de obedecer a regras rígidas), originou um estilo rico, livre e cheio de influências

diversas. A cerâmica era de grande elegância, em que o nível técnico e estético era

excelente, e havia um grande número de pessoas dedicado à produção e venda de

produtos cerâmicos.

Figura 9 – Grande recipiente para armazenamento, construído com rolos,

decorado com cordas, 1450-1400 a.C., Creta.

Os temas decorativos eram naturalistas, essencialmente inspirados na vida

marinha polvos, algas, caracóis, etc., que davam ao trabalho uma “frescura” quase

Page 9: Historia Breve da Cerâmica

moderna. As formas eram variadas, com acabamentos delicados e as peças eram

ricamente coloridas.

Figura 10 – Jarra pintada com desenho de polvo, 1500-1450 a.C., Creta.

1.3 Grécia e Roma

1.3.1 Grécia

Por volta do ano 1000 a.C., começa a emergir a cultura grega clássica. Na Grécia,

a cerâmica alcançou um enorme desenvolvimento artístico. Os ceramistas gregos

criaram peças formalmente perfeitas, pintando-as com temas decorativos de grande

beleza. Cada peça possui uma funcionalidade determinada, e o nome que recebe

relaciona-se também com essa função.

Os temas pictóricos destas peças faziam referência a episódios da história e

mitologia gregas, narrando feito dos deuses, de heróis, batalhas, etc.

Embora os gregos já conhecessem o vidrado, optaram por decorar as peças com

um engobe muito fino e rico em óxido de ferro, que adquiria um brilho acetinado, após

a cozedura. Utilizavam uma técnica, controlando a atmosfera do forno, em que a peça

aparecia vermelha e o engobe de cor negra, procedendo da seguinte forma:

Page 10: Historia Breve da Cerâmica

a) a peça era cozida em atmosfera oxidante e apresentava, no final, a

cor vermelha;

b) a decoração era feita com o engobe sobre a peça chacotada;

c) a peça era novamente cozida em atmosfera oxidante até 900º C;

nessa fase toda a superfície, incluindo as zonas decoradas ficavam vermelhas;

d) nesse momento, fechavam-se as entradas de ar parcialmente e

queimava-se o combustível húmido no forno para criar uma chama sedenta de

oxigénio (atmosfera redutora); nesta fase toda a superfície da peça, incluindo a

decoração, tornava-se negra;

e) finalmente, por um breve e controlado período de tempo,

introduzia-se oxigénio até acabar a cozedura; o corpo da peça voltava a ficar

vermelho (óxido ferroso, FeO óxido férrico, Fe2O3), e a decoração

mantinha-se negra por ser muito densa e concentrada em óxido de ferro.

Conhecem-se quatro estilos bem definidos:

Estilo geométrico Surge por volta de 1000 anos a.C., começa por ser

decorada com bandas de engobe escuro, alternado com bandas da cor natural da

argila, onde se desenhavam motivos geométricos, ou figuras muito estilizadas.

Figura 11 – Krater em terracota decorada com motivos geométricos,

750-700 a.C., Grécia.

Estilo de figuras negras Por volta de 700 anos a.C., os temas decorativos

diversificam-se (animais, figuras mitológicas, temas bélicos, lendas heróicas, etc.).

Page 11: Historia Breve da Cerâmica

Sobre a superfície vermelha da argila, as figuras surgiam a negro, em que os detalhes

eram conseguidos pelo riscar do engobe, que revelava a cor natural da argila.

Figura 12– Neck-amphora, em terracota decorada com figuras pretas, 540 a.C., Grécia.

Estilo de fundo branco Em Atenas, as peças de fundo branco formaram

um estilo característico durante o século VI a.C., em que a superfície era revestida

por um engobe branco e eram essencialmente utilizadas em rituais funerários. As

decorações eram, muitas vezes, verdadeiros frescos.

Figura 13 – Lekithos, em terracota com fundo branco, 440 a.C., Grécia.

Page 12: Historia Breve da Cerâmica

Estilo de figuras vermelhas As figuras que caracterizam este estilo são

definidas a vermelho sobre fundo negro, sendo os detalhes conseguidos através de

linhas muito finas a negro. Os temas decorativos mais utilizados eram inspirados

na vida doméstica e mitológicos. Este estilo terá surgido no séc. V a.C. e

desaparecido por volta do séc. III a.C.

Figura 14 – Calix-krater em terracota decorada com figuras vermelhas, 515 a.C.,

Grécia.

1.3.2 Etruscos

O povo etruscos era originário da Ásia Menor e atingiu o auge da sua

prosperidade no séc. VII a.C. A sua cerâmica apresenta um aspecto semelhante ao

metal, sendo muito polida e de coloração ou negra acinzentada, conhecida como

cerâmica etrusca de Bucchero. A decoração era constituída por motivos geométricos

simples, incisos sobre a superfície das peças. Os Etruscos foram influenciados pela

cerâmica grega, passando a copiar os seus motivos decorativos.

Figura 15 – Kanthoros, taça etrusca de Bucchero para beber vinho, 700-800 a. C., Itália.

Page 13: Historia Breve da Cerâmica

1.3.3 Romanos

Roma foi fundada em 753 a.C., mas esteve sob o poder dos Etruscos até ao séc. V

a.C. A expansão do Império Romano provoca grandes modificações na vida e costumes

do povo de Roma, estimulando o interesse pelos objectos cerâmicos, tanto de uso

doméstico como de carácter ornamental. Estabeleceram-se centros de produção um

pouco por toda a parte, e a decoração reflectia muitas vezes os estilos e as técnicas

locais.

Os ceramistas romanos sabiam preparar argilas de excelente qualidade e

conheciam a técnica dos moldes, com as quais produziam grandes quantidades de peças,

que reproduziam fielmente relevos de grande complexidade, aí marcados.

A cerâmica romana nativa era executada em argila vermelha de brilho muito

característico. Mas adoptaram também as formas gregas, com decorações de bandas em

relevo. Usavam também o vidrado de chumbo.

Durante o Império Romano, o desenvolvimento das técnicas de produção em série

tornou possível satisfazer a necessidades dos habitantes desse tão vasto império.

Figura 16 – Jarra romana com brilho vermelho, decorada com relevo, 1-25 a.C., Itália.

Page 14: Historia Breve da Cerâmica

1.4 Cerâmica Pré-Colombiana

As culturas cerâmicas americanas apresentam duas características comuns: em

primeiro lugar, as peças são sempre modeladas à mão, por meio de rolos ou pedaços de

argila ou de moldes, desconhecendo-se a técnica do torno; o segundo traço distintivo diz

respeito à decoração, que é feita com engobes de argila colorida, com incisões e com

relevos.

As formas variavam naturalmente segundo as suas zonas de proveniência, mas em

geral globulares e de paredes finas. Algumas peças apresentavam formas

antropomórficas ou zoomórficas.

Figura 17 – Garrafa com cabeça de felino, 6 a 4º séc. a.C., Peru.

1.5 Cerâmica Islâmica

Até ao século V, através do mundo Árabe, há uma diminuição do sedentarismo e

um incremento da vida nómada, o que era pouco estimulante para o desenvolvimento de

artefactos em cerâmica. As tribos Árabes não reconheciam qualquer autoridade, excepto

a dos seus próprios chefes tribais.

Page 15: Historia Breve da Cerâmica

Nesta zona não existia uma força unificadora importante até que, em 622 d.C., os

habitantes de Medina, uma próspera cidade comercial, receberam Maomet e seus fiéis

seguidores, que formaram a fé islâmica ou muçulmana. A fé islâmica estendeu-se

rapidamente, unificando muitas raças, países e gentes. O resultado foi um espirito

completamente novo e coerente, resultando uma organização religiosa , política e social.

O Corão não era somente a palavra de Deus, mas também um guia da forma de

vida e era proibida a sua tradução. Assim foi introduzida uma nova língua, que podia

ler-se em todo o Islão, que teve também o efeito de unir os povos.

As “leis“ que mais influenciaram a cerâmica, nessa região, foram a proibição de

idolatria (sob forma de representação humana ou de animais), por isso, a decoração

baseava-se em motivos geométricos e abstractos. Da mesma forma, era proibido o uso

de metais preciosos no serviço de mesa. O lustre foi provavelmente desenvolvido

porque imitava o ouro e a prata. Deu-se grande importância à manufactura de peças

cerâmicas de grande requinte, que eram altamente valorizadas na ausência de

recipientes em metais preciosos. A proibição do consumo de vinho teve como

consequência a ausência de jarras para este líquido, mas fizeram-se muitos recipientes

para água, com largos canos aguçados.

Figura 18 Garrafa decorada com espirais, Turquia, séc. 1530.

Page 16: Historia Breve da Cerâmica

A cerâmica islâmica, foi influenciada por diversas culturas. Os seus ceramistas

assimilaram todas estas influências, incorporando-as ao seu próprio estilo. A cerâmica

era produzida de quatro maneiras distintas: sem vidrado, vidrada com chumbo, com

vidrado branco de estanho e com lustre.

Figura 19 Jarra com vidrado com chumbo, Dinastia Seljuk, Persia, séc. XII e XIII.

Usavam-se os moldes de argila chacotados. Passaram a fazer uma cerâmica,

influenciados pela China, de argila vermelha onde era aplicado um engobe branco,

recoberto finalmente por um vidrado de chumbo. Ao pretender imitar a cerâmica

chinesa, os Árabes adicionavam ao vidrado óxido de estanho, para se obter peças de

branco opaco. Este processo tinha a vantagem de poder ser aplicado directamente na

peça, sem utilizar engobe. Depois de aplicado, este vidrado podia ser decorado por meio

de óxidos corantes (óxido de cobalto azul; óxido de cobre verde; dióxido de

manganês castanho).

Page 17: Historia Breve da Cerâmica

Figura 20 – Tigela decorada com óxido de cobalto sobre vidrado de estanho, séc. IX, Iraque.

Na decoração usava-se uma técnica, inspirada no trabalho de cinzelado dos

metais, designada por esgrafitado, que consiste em riscar o engobe até pôr a descoberto

a superfície da argila.

Produzia-se também a cerâmica de lustre, decorada exclusivamente com motivos

florais, temas geométricos e inscrições em caracteres cúficos. Os corantes usados no

lustre eram constituídos por óxido de prata ou de cobre e enxofre, aplicados sobre um

vidrado já cozido, eram cozidos em atmosfera redutora, conferindo à decoração um

aspecto metálico e iridescente.

Figura 21 – Pote decorado com lustre, séc. XI.

Page 18: Historia Breve da Cerâmica

Entre os séculos XII e XIV, a cerâmica árabe conhece o seu apogeu. Durante esta

época surge um importante centro de produção cerâmica: Kashan. Os ceramistas desta

cidade produziram grande quantidade de azulejos para a ornamentação de mesquitas e

túmulos, azulejos, esses, que eram realizados por meio de moldes e decorados com

motivos geométricos muito elaborados.

Figura 22 – Composição de azulejos monocromáticos, 1354-55 d.C., Irão.

Entre os séculos XV e XVIII, Kashan recuperou a sua importância como centro

cerâmico, produzindo um tipo excelente de porcelana. As peças realizadas com esta

pasta, decoradas com incisões e perfurações, e cobertas por um vidrado brilhante, são de

uma beleza extraordinária.

Page 19: Historia Breve da Cerâmica

1.6 Extremo oriente

A arte do Extremo Oriente difere grandemente daquela que foi produzida no

Ocidente: uma filosofia totalmente distinta alimentou o crescimento de uma arte única

e, de muitas formas, fantástica. Os povos orientais são mais contemplativos e

espirituais, do que os ocidentais, e essa característica evidencia-se na cerâmica. As

habilidades técnicas desenvolveram-se muito rapidamente no Extremo Oriente.

1.6.1 China

Muito cedo, os chineses aperfeiçoaram os fornos, o que permitiu um maior

controlo e retenção do calor. Estes fornos permitiram cozer as peças a temperaturas

mais altas, proporcionando um corpo mais duro e fundido, que originaram as primeiras

vasilhas de louça conhecida, percursoras da porcelana.

A forma das peças inspirava-se frequentemente na dos objectos de bronze, tal

como a sua decoração que era talhada em relevo.

Figura 23 Caixa vidrada com decoração gravada, 1100-1200, China.

Page 20: Historia Breve da Cerâmica

Surgem vidrados de dois tipos: os que contêm chumbo e potássio, que fundem

entre 800 e 900º C e os constituídos por feldspato e cinzas de madeira, fundindo entre

1200 e 1300º C.

Figura 24 Tigela para chá, 960-1279, China.

Embora aparentemente a decoração cerâmica chinesa possa parecer aleatória e

arbitrária, para os chineses cada objecto e a sua disposição têm um significado. Por

exemplo, a romã simboliza a fertilidade.

A cerâmica chinesa mais famosa foi sem dúvida a cerâmica azul e branca que

surgiu na Dinastia Ming (1368 a 1644 d.C.). Com o restabelecimento do comércio, o

óxido de cobalto foi trazido da Pérsia e utilizado para decorar peças de porcelana

translúcidas, que influenciaram todos os povos que tiveram contacto com elas em

especial a Europa.

Page 21: Historia Breve da Cerâmica

Figura 25 – Taça com pé decorada com criaturas do mar, em porcelana

decorada com óxido de cobalto, Dinastia Ming, 1426-1435, China.

1.7 Europa

1.7.1 Estilo Renascimento (aproximadamente 1500 a 1600 d.C.)

Em 1500, a técnica da maiólica era a mais utilizada neste período em Itália.

Nesta época, os lugares favoritos para reuniões eram as farmácias, que estavam

prodigiosamente decoradas, com frascos para drogas de maiólica, pintados

ornamentalmente. Esta moda, assim como o costume de expor grandes pratos

decorativos sobre aparadores e mesas, animou os ceramistas a produzir cerâmica

ricamente decorada. Começam a surgir um grande número de oficinas de artesãos

ceramistas, em grande parte devido ao patrocínio da nobreza.

Page 22: Historia Breve da Cerâmica

Figura 26 – Pote de farmácia em maiólica, 1460-1480, Itália.

Muitas vezes, o trabalho destes artesãos era tão valorizado como o das belas artes.

Os estilos locais de pintura influenciaram directamente a decoração cerâmica e

inclusive, muitos desenhos eram reproduções fiéis de desenhos de artistas famosos.

Figura 27 - Triunfo de Galatea. Cerâmica italiana. Urbino. Por volta de 1550.

Page 23: Historia Breve da Cerâmica

As formas, que embora se tornassem complexas e muito ornamentadas, inspiradas

nas peças de metal, eram frequentemente eclipsadas pela decoração.

Figura 28 Saleiro em maiólica, Urbino, 1532, Itália.

1.7.2 Alemanha

Depois do descobrimento da louça de grés, o vidrado a sal foi sem dúvida a

contribuição mais importante da Alemanha.

O vidrado de sal foi utilizado pela primeira vez, entre o final do séc. XIV e

princípio do séc. XV, na Alemanha. Existiam grandes jazigos de argilas com elevado

teor de areia, que coziam a temperatura relativamente elevada (1200ºC) e formavam um

corpo duro, denso, impermeável e que não se deformava durante a cozedura. No

entanto, a existência de um vidrado que pudesse ser cozido àquela temperatura era

desconhecido dos ceramistas alemães.

Descobriram que o sal (NaCl) vaporiza a 1200ºC e decompõe-se em sódio e cloro.

O sódio ao combinar-se com a superfície da argila, vai formar uma camada fina de

vidrado quimicamente simples, mas, extremamente tenaz e resistente.

Page 24: Historia Breve da Cerâmica

Figura 29 – Jarro de vinho, grés vidrado a sal, 1591, Alemanha.

Apesar da porcelana translúcida ter sido descoberta na China antes da era cristã,

só por volta de 1295 chega à Europa, pela mão do italiano Marco Polo. No entanto, será

apenas no início do século XVIII, que esta será possível reproduzi-la no Ocidente, pelo

Alemão Fredrich Böttger, em Meissen.

1.7.3 Revolução industrial

Ao longo do século XIX tiveram lugar profundas mudanças sociais e económicas,

que afectaram a produção e o design da cerâmica; aperfeiçoaram-se as técnicas de

produção em massa e os métodos de decoração atingiram um elevado grau de perfeição.

As cerâmicas rurais tradicionais, que se baseavam na habilidade do ceramista no torno,

sofreram com a diminuição dos seus mercados e a preferência por alternativas

produzidas industrialmente. Os recipientes feitos de estanho, metal ou vidro eram

alternativas igualmente baratas e frequentemente mais práticas. Também não agradava,

à classe média, a rudeza da cerâmica “campesina”.

Page 25: Historia Breve da Cerâmica

Com a revolução industrial, em Inglaterra, a expansão das cidades, o crescimento

da população e a disponibilidade de enormes mercados no ultramar, deu alento ao

crescimento de uma indústria cerâmica que foi líder no mundo, tanto em quantidade

como em qualidade. A um aperfeiçoamento técnico seguia-se imediatamente outro.

Havia poucas coisas que não se conseguiam fazer e o engenho, na maior parte dos

casos, era usado para produzir formas complexas e estranhas, e não simplicidade.

Na Grande Exposição de 1851 apresentaram-se peças sumptuosas, cheias de

adornos, em que o excesso primava e que deu a entender que algo de errado estava a

acontecer: Os artefactos eram habilmente adornados, mas esteticamente eram desastrosos e

desumanizados. Este foi o ponto de partida para a arte moderna aplicada. Até então a arte e

a produção não estavam separadas, os artesãos eram artistas e produtores. A Revolução

industrial separou o desenhador do produtor e era necessário forçá-los a unirem-se.

Desenvolveram-se escolas de “artes aplicadas” com o intuito de servir a indústria.

Figura 30 Vaso magnólia em prata, 1893, fabricado por Tiffany and Company, EUA.

Page 26: Historia Breve da Cerâmica

Em muitas cidades surgiram museus e, pela primeira vez, os artistas podem

admirar objectos procedentes de terras longínquas.

O crescimento das grandes classes médias, que desejavam peças de arte a preços

razoáveis, estimulou a produção de objectos feitos à mão, dando origem ao movimento

Arts and Crafts. Pela primeira vez o trabalho do artesão foi reconhecido como “arte”.

Figura 31 – Jarra de duas pegas de William de Morgan, 1880, Inglaterra.

Page 27: Historia Breve da Cerâmica

Em 1919, formou-se na Alemanha uma escola de arte conhecida como Bauhaus e

foi uma das mais influentes até aos nossos dias. Pode ser considerada como a primeira

escola de design. O seu objectivo era treinar artistas para o trabalho ligado a indústria,

utilizando materiais modernos industriais, reduzindo os objectos aos seus elementos

básicos e despojados de decoração. Um dos lemas base dessa escola era: “A forma

segue a função”.

Figura 32 – Vaso de céladon de Marguerite, Bauhaus, 1930.