histÓria aprendizagem prazerosa - gestão escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido...

22
HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA Néldi Dalposso * * Professora do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta - Ensino Fundamental e Médio (Marechal Candido Rondon – PR). Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do Programa PDE. Agradecimentos as valiosas contribuições da professora doutora Geni Rosa Duarte, aos colegas professores da rede estadual, aos alunos do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, a minha família.

Upload: hoangque

Post on 13-Nov-2018

399 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA

Néldi Dalposso*

* Professora do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta - Ensino Fundamental e Médio (Marechal Candido Rondon – PR). Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do Programa PDE.

• Agradecimentos as valiosas contribuições da professora doutora Geni Rosa Duarte, aos colegas professores da rede estadual, aos alunos do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, a minha família.

Page 2: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

2

RESUMO: Este trabalho propõe uma análise sobre o ensino de História, a partir de pesquisas, depoimentos de alunos, pais e professores da rede pública, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. De posse destes dados buscamos práticas metodológicas diversificadas com o objetivo de desafiar o estudante a participar das aulas de história com prazer e a entender a construção do conhecimento histórico e a relação deste com sua formação de cidadão. Procuramos ressaltar os aspectos coletivos da aprendizagem, utilizando diferentes linguagens e recursos, a História oral, e o estudo de textos de diferentes autores, e fontes diversas, propiciando aos alunos a análise do mesmo fato histórico sob diferentes ângulos e óticas. Procuramos desenvolver no aluno uma cultura que vá além da técnica, bem como preparar o jovem, para participar nesta sociedade globalizada como sujeito de transformação. PALAVRAS–CHAVE: metodologias, prazer, ensino, aulas de História, sujeito.

Page 3: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

3

ABSTRACT: This work proposes an analysis regarding the issue of history teaching, from research studies, testimonies from students, parents and teachers from the public school, the elementary school and high school. From these data we sought possession diversified practice methodology in order to unravel the student to attend History classes with pleasure and understand the construction of historical knowledge and relationship with its training of the citizen. We looked up the collective knowledge of the way, using different languages and resources, the Oral History, and the study of texts by different authors, and various sources, providing for the students to analyze the historical fact from different angles and perspectives. We seek to develop into students a culture that goes beyond the technology and prepare the young, to participate in this global society as a fellow of transformation. KEY WORDS: methodologies, pleasure, education, History classes, fellow.

Page 4: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

4

INTRODUÇÃO:

Vivemos em uma sociedade globalizada em constantes mudanças que

alteram os hábitos das populações, estimulam o consumismo, encurtam distâncias,

paradoxalmente, aproximam as pessoas apenas espacialmente e em decorrência,

os homens vivem num mundo cada vez mais irracional.

Essas mudanças acarretam crises dos modelos, de Estado, do trabalho, das

ciências, das famílias, enfim, crise do homem moderno.

Os jovens no meio dessas crises, ficam sem referências, com dificuldade de

compreender este mundo com tantas variáveis, formando a idéia da política como

uma atividade sem princípios, sem ética, sem respeito, e a escola como uma

instituição alheia à sociedade, aos seus Interesses e as suas necessidades.

Se por um lado a sociedade está mais exigível quanto a funcionários mais

competentes, críticos e criativos, de outro lado estão estudantes que conseguem

concluir o Ensino Médio saindo para o mundo do trabalho mal “preparados”, com

uma visão de mundo distorcida da realidade, na qual eles não se vêem como

sujeitos da História e da sociedade em que vivem.

A situação do ensino atual é dramática. É grande o índice de evasão e

repetência de alunos. Nas salas de aula, a maioria deles demonstra apatia,

indisciplina e desinteresse, porque não conseguem ver aplicabilidade a sua vida

nem a sua formação nas atividades escolares propostas.

As famílias, muitas vezes desestruturadas, vivem numa situação econômica

que não lhes permite vislumbrar perspectivas de um futuro promissor para seus

filhos. Mandam-nos à escola, acreditando que assim cumprem sua obrigação, mas

não conseguem acompanhar a sua trajetória escolar. A maioria destes jovens não

consegue obter sucesso na aprendizagem sistemática.

É comum nos lares os alunos não verem seus pais como exemplos, no

sentido cultural, visto que muitos não lêem ou se voltam para atividades culturais. Os

programas oferecidos pela mídia, principalmente a televisiva, são de baixíssimo

nível, e é a essa que quase todas as famílias têm acesso.

Os problemas enfrentados pelos professores são os mais variados, dentre os

quais ressaltamos: difíceis condições de trabalho, desvalorização da profissão,

falhas no preparo profissional, alunos indisciplinados, além das múltiplas exigências

Page 5: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

5

da sociedade e das políticas educacionais freqüentemente desvinculadas com a

realidade.

Os educadores enfrentam no seu dia-a-dia, salas superlotadas, em média

com 40 alunos, turmas heterogêneas, jovens que conseguem facilmente muita

informação, porém têm sérias dificuldades em processá-la; e, ainda, nossos

educandos não possuem o hábito da leitura e são muito resistentes a fazer tarefas e

trabalhos escolares.

A preocupação de alguns professores em ministrar todo o conteúdo, o pouco

tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais,

proposto nos currículos, transforma o conhecimento histórico num amontoado de

informações desconexas, desinteressantes e inúteis, transmitidas aos alunos com

uma metodologia inadequada e sem atrativos.

O ensino de História, abordado de forma linear, cronológica e na perspectiva

da harmonia social, que lida com narrativas que enaltecem os heróis e as conquistas

das classes dominantes, e isso é algo que se separa do universo dos alunos e os

exclui do processo ensino-aprendizagem.

Essas situações dificultam a tarefa de fazer o jovem se interessar pelas aulas

de História. Então nos questionamos: O que propor-lhe para que haja uma

aprendizagem significativa que o motive a participar das aulas de História

prazererosamente e que o faça perceber-se como sujeito histórico, auxiliando-o na

sua formação de cidadão autônomo crítico e participativo?

Diante dessa problemática procuramos buscar subsídios e dados através de

entrevistas com alunos do ensino Fundamental e Médio, com seus pais e com

colegas professores, objetivando sobressair os principais entraves no processo

ensino-aprendizagem. Também pesquisamos metodologias e práticas educativas

diferenciadas que motivem e levem o estudante a tomar parte das aulas de História,

bem como entender a construção do conhecimento histórico e a relação desse com

a sua formação de cidadão.

A ESCOLA, O ENSINO DE HISTÓRIA E A SOCIEDADE

O nosso país necessita de uma educação de qualidade que coloque o

homem, suas ações e relações como tema principal, que nos torne nação e

Page 6: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

6

qualifique o nosso jovem para que ele tenha oportunidades de sucesso neste mundo

competitivo e exigente.

É necessário preparação para ocuparmos um espaço nesta sociedade

globalizada ou seremos sufocados por ela. Ela requer jovens com uma cultura que

vai além da técnica, e essa, pretendemos que adquiram através do conhecimento

histórico o qual apresenta um potencial transformador.

Não é recente a tentativa de modernizar o ensino introduzindo recursos

tecnológicos nas aulas. Porém, não adianta substituir a metodologia sem que a

própria concepção de História seja repensada. O professor precisa refletir, ler, ser

um pesquisador, conhecer novas linhas de pensamento, discuti-las e ter clareza

sobre o que, e como vai ensinar; da conseqüência do seu compromisso com o ato

de educar.

José Freitas Neto, assim se pronuncia sobre o ato de educar:

O ato de educar é um desafio constante! {...] O mundo em contínua transformação, as constantes alterações das diretrizes e orientações legais, o controle burocrático cada vez mais eficiente, e alunos pouco dispostos a aceitarem o universo escolar como algo útil e aplicável ao seu cotidiano provocam no educador a necessidade contínua de discussão e alteração para que a escola, em sua tarefa de educar, não se esvazie, e com ela sua própria profissão. (FREITAS NETO, 2005, p. 57)

O ensino é um processo dinâmico e necessita adaptar-se às diversas

realidades. Como professores podemos renová-lo, considerando: o universo do

aluno, estímulo à oralidade, a produção textual e a análise dos documentos; partir de

conteúdos estruturantes para que os educandos possam realizar articulações entre

a sua individualidade e a história coletiva; saber identificar com clareza o

esgotamento ou a necessidade de aprofundar um tópico; discutir com o aluno o que

se ensina, por que se ensina e onde se quer chegar com esse ensino.

O aluno precisa entender que, o conhecimento histórico é um meio para

compreender o mundo, as questões da atualidade, suas origens, as diferentes

explicações para um fato e que o conhecimento histórico não é uma verdade

acabada. É que é necessário questionar, levantar hipóteses, comparar, relacionar

para entender as diferentes abordagens, para a sua apropriação.

Page 7: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

7

O professor é o mediador, como tal, precisa construir com seus educandos o

espírito investigativo que leva à exploração da realidade e à descoberta do mundo

científico.

O ensino de História é um fator preponderante para a formação integral de um

cidadão. A História é referência ensinada, numa prática que apresente os

conteúdos, com responsabilidade social e com criticidade para a nossa formação.

O estudante só irá se reconhecer como sujeito histórico, quando relacionar os

esforços que nossos antepassados fizeram para chegarmos ao tipo de civilização

em que estamos. O historiador Eric Hobsbawm, escreve:

Ser membro da consciência humana é situar–se com relação ao seu passado, passado este que é uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e padrões da sociedade. HOBSBAWM, ( 1998, p. 22 ).

Em vista disso é mister a revalorização do Ensino de História e que os

professores se conscientizem de sua responsabilidade social perante os alunos e de

seu compromisso em ajudá-los a compreender, intervir e transformar o mundo em

que vivem.

A REVELAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Embasados pelos desafios de nossa prática didática iniciamos as entrevistas.

Responderam à nossa enquete 58 alunos do Ensino Fundamental e 233 estudantes

do Ensino Médio. Enviamos questionários aos pais desses alunos, oportunizando-

lhes responder em casa e por escrito. Tivemos um retorno de 197 formulários, pois

alguns pais se abstiveram de responder. Distribuímos em torno de 25 entrevistas a

professores da rede pública, e retornaram apenas 8, recebemos resposta

principalmente dos que trabalham em nosso colégio, e sugestões dos professores

participantes do GTR.

Ao levantarmos os dados das entrevistas percebemos as dificuldades do

aluno em situar-se no contexto histórico, de entender, interpretar e reconhecer a

importância do estudo da História para sua própria vida. Um número significativo de

estudantes alega ter dificuldades de aprendizagem, pois considera o conteúdo muito

difícil, com muitas palavras desconhecidas, pouco utilizadas na linguagem do

Page 8: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

8

cotidiano. Além disso os conteúdos são fragmentados, muitas vezes repetitivos,

tornando as aulas monótonas, enfatizando basicamente o livro didático.

Na maioria das escolas o livro didático é o único material que o aluno possui,

e port5anto precisa ser explorado; mas faz-se necessário certos cuidados pois,

esses podem apresentar vários equívocos e se não forem bem utilizados podem

transformar-se em instrumentos que representam principalmente as relações

econômicas entre dominantes e dominados. E esse debate apenas não abrange

todas as questões referentes ao ensino/aprendizagem e nem explica todos os

processos históricos. Assim procuramos novas fontes históricas, confrontando-as,

visando estabelecer a reflexão entre as contradições do processo histórico e da

prática de ensino.

Alguns alunos apontam como empecilho para a aprendizagem a falta de

interesse dos próprios colegas, barulho nos corredores da escola, grande número de

alunos em sala de aula, o reduzido número de aulas semanais de História e uma

minoria aponta a falta de domínio de conteúdo por alguns professores.

De todos os estudantes entrevistados cerca de 70% afirmam que a melhor

forma de aprender é com a explicação do professor, o que reforça a importância do

relacionamento professor/ aluno. Por mais que possamos ter a nossa disposição

recursos tecnológicos e precisemos utilizá-los para motivar as nossas aulas, é o

relacionamento humano, a interação do dia-a-dia, que nos possibilita trabalhar

valores, afetividade e conduzir nosso jovem a se reconhecer como sujeito histórico,

capaz de investigar, explorar o sentido do estudo da História e interagir no meio em

que vive. Os aparatos tecnológicos são imprescindíveis à realidade escolar, porém,

não substituem em hipótese alguma o trabalho do professor. Este é o mediador

entre a cultura da humanidade e a cultura de seus alunos. Nesta perspectiva

lembramos a frase de Rubem Alves:

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais”. ALVES, (1994, p. 03 ).

O professor de História necessita reconhecer a grande importância que

possui na sociedade atual. Mesmo com a globalização, com o neoliberalismo, com

Page 9: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

9

as idéias do fim da História, o professor é insubstituível na formação dos seus

alunos.

Considerando que ele faz a mediação com o patrimônio cultural do aluno, é

indispensável que ele tenha conteúdo, esteja preparado e motivado, esteja aberto a

conhecer novas bibliografias e novas linhas de pensamento e, principalmente, que

trabalhe os temas com uma linguagem acessível aos educandos sem cair nem

incorrer na banalização da linguagem.

Nas entrevistas os discentes ainda, demonstram interesse em aprofundar o

estudo da História do Brasil, da política, de questões atuais e de assuntos

pertinentes a sua inserção ao mundo do trabalho.

Com relação ao questionamento aos pais estes escreveram que seus filhos

se motivam mais com o estudo de temas relacionados à História do Brasil, do

Paraná e às Guerras Mundiais, especialmente a Segunda. Observaram que quando

o conteúdo é desenvolvido em forma de projetos, atividades lúdicas, aulas de

campo, a motivação é maior.

Como seus filhos, os pais sugerem o estudo da História do Brasil, da política

e de temas atuais. E para eficiência das aulas de História, eles apontam

metodologias diversificadas, como: trabalhos em grupos, pesquisas, visualização de

filmes, viagens e visitas de estudo, debates, apresentações pelos alunos e,

principalmente, a exposição oral do professor em aulas dinâmicas.

Os colegas professores consultados em nossa pesquisa elencam, como

entrave ao processo ensino-aprendizagem, o desinteresse e a falta de conhecimento

prévio dos alunos, a falta de condições físicas, de material didático e equipamentos

adequados, além da falta de oportunidades para o professor aperfeiçoar-se. Mesmo

assim esforçam-se e desenvolvem práticas educacionais com o intuito de motivar e

despertar gosto pelo estudo de História em seus alunos.

A PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO

A busca por novas práticas pedagógicas sempre esteve presente na

educação e percebe-se claramente nas entrevistas dos docentes, que estão

continuamente “garimpando” , inovando, construindo e trocando experiências com

seus colegas, mesmo dentro das limitações que o sistema lhes impõe. Eles tem

Page 10: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

10

consciência que é na aula de História que podem oferecer ao seu aluno a

apropriação do conhecimento histórico, disponibilizando-lhe seu saber orientando-o

na construção do seu próprio conhecimento.

De posse desses dados, repensamos o ensino de História em nossa escola,

procurando reorganizar nosso planejamento, dando prioridade ao estudo de História

do Brasil dentro do contexto de História Geral. Dispomo-nos a trabalhar os

conteúdos de forma dinâmica, com propostas de atividades práticas, visando a aulas

mais atraentes. Para tanto foram indispensáveis vários encontros entre nós,

professores e nessas oportunidades ocorriam relatos de experiências, sugestões

quanto a maneira de abordar certos temas, enfim, um replanejamento.

Nessa despadronização procuramos questionamentos advindos de algumas

propostas das diretrizes curriculares, que orientam para o Ensino Fundamental: o

enfoque às dimensões política, econômico-social e a cultural articulando os

conteúdos específicos, partindo da História do Brasil, suas relações e comparações

com a Historia Geral, possibilitando ao aluno o conhecimento das múltiplas ações

humanas no tempo e no espaço. No Ensino Médio enfocamos as relações de

trabalho, de poder e as culturais. As relações citadas contemplam os conteúdos

estruturantes, apontando para o estudo das relações humanas, seqüênciando os

conteúdos estruturantes abordados no Ensino Fundamental.

Com a colaboração de colegas montamos uma hemeroteca, separando em

envelopes textos de diversos autores, organizados por temas, em um arquivo. Esse

material permanece na escola à disposição de todos os professores sendo utilizado

durante as aulas, pois é acessível aos estudantes.

Visando a construção e apropriação do conhecimento histórico, desafiamos

os alunos a pensar, a refletir, a questionar e a discutir a História, levando-os a

compreender que a mesma é uma disciplina em constantes transformações e o que

consta no livro didático e a fala do professor não são verdades absolutas.

Considerando que todos os vestígios do passado são matérias-primas para o

professor, utilizamos, então, diferentes linguagens e recursos, como: músicas,

fotografias, gravuras, cartazetes, filmes, histórias em quadrinhos, textos, poesias,

jornais, TV pen-drive, objetos e outros documentos, objetivando romper com o papel

reprodutivo da História tradicional. Consequentemente, esperando que o aluno

pudesse perceber que, através do estudo da história, é possível discutir as raízes

dos nossos problemas e, assim, encontrar possíveis soluções para eles.

Page 11: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

11

Para aplicar novas metodologias, e buscar diferentes fontes, foi necessário

muito empenho e um planejamento criterioso, com objetivos claros e definidos para

envolver o aluno e não deixa-lo com a falsa idéia de “matação de aula”.

Constantemente tornava-se importante a reflexão, a discussão sobre a fonte

abordada e mesmo sobre a atividade desenvolvida, relacionando-a com o tema em

estudo.

Partindo do pressuposto que só aprendemos o que nos interessa, o que nos

dá prazer, buscamos diversas formas de motivar nossos alunos, ao abordar um

tema, partindo de perguntas instigadoras, como: O que você já ouviu falar sobre tal

fato? O que você viu no jornal, ou ouviu no noticiário, hoje? Utilizamos também

curiosidades sobre um assunto, recortes de documentário ou filme, texto ou poesia,

trechos de música, para despertar a curiosidade deles. Motivados para o tema,

aplicamos metodologias e linguagens diversas para a construção do conhecimento

histórico. Lembramos aqui as considerações de Rubem Alves:

Mas eu creio que só aprendemos aquelas coisas que nos dão prazer. Fala-se do fracasso absoluto da educação brasileira, os moços não aprendem coisa alguma. E creio mais: que é só do prazer que surge a disciplina. É justamente quando o prazer está ausente que a ameaça se torna necessária. ALVES, ( 1995, p. 156 )

Partindo da leitura de textos de diferentes autores, preferencialmente de

correntes historiográficas diferentes, procuramos analisar o mesmo fato histórico sob

diferentes óticas. Durante a leitura e interpretação do texto pelos alunos, em grupos,

o professor procura não interferir nas diferentes abordagens levantadas. Em seguida

os estudantes procuram sintetizar e contextualizar o fato formando conceitos, que

são registrados no quadro juntamente com as principais observações feitas,

oportunizando a todos a percepção dos diferentes pontos de vista dos autores.

Desafiamos então os jovens a apresentar o seu texto de forma dinâmica e atrativa,

aos demais colegas de classe. O professor orienta e dá sugestões, como: teatro,

paródias, painéis, jornal falado e outras de sua criatividade. É incrível a capacidade

dos educandos de criar, de inovar; quando motivados para um assunto. Eles

vivenciam a história, entrevistam familiares, buscam subsídios na internet, coletam

fotografias e gravuras, apresentam-se aos colegas como verdadeiros artistas. Das

várias formas de apresentação, destacamos a de alguns alunos que encenaram

uma viagem com uma máquina do tempo, passando pela Pré-história e pelo antigo

Page 12: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

12

Egito, dando um show de conhecimento e criatividade. Em outra série

representaram as missões jesuíticas através do teatro. O assunto pôde ser

concluído com uma produção de texto escrito argumentado através do referencial

teórico a que tiveram acesso e das apresentações dos colegas sobre o tema e a

problemática evidenciados.

O uso da imagem no ensino da História foi um desafio que nos propiciou

analisar criticamente as gravuras representadas nos livros didáticos, bem como

avaliar o conhecimento adquirido pelos educandos através da representação dos

fatos históricos e de imagens produzidas pelos mesmos.

Há cerca de um século tem sido introduzido o uso de gravuras, fotos, filmes,

mapas e ilustrações diversas como recurso pedagógico no ensino de História. Esse

uso foi se multiplicando como material didático importante na cultura histórica

escolar. Muitas vezes o livro didático é escolhido pelas ilustrações que apresenta.

Não podemos negar que as imagens são utilizadas para motivar, ilustrar e

concretizar noções abstratas na produção do conhecimento histórico. Porém, não

podemos escolher a imagem a ser trabalhada de forma ingênua, sem se perguntar;

quando, como e por quem foi produzida, para que e para quem se fez essa

produção. Selecionamos a imagem com criticidade e bom senso para então leva-la à

apreciação dos discentes.

Em nossa proposta de implementação utilizamos frequentemente as imagens

em nossa prática docente. Primeiramente apresentamos a ilustração para a

interpretação do aluno, sem a interferência do professor. O educando faz uma leitura

geral desta procurando relacioná-la com seu conhecimento e com outras imagens.

Conduzimos então a descrição da imagem analisada, a qual pode ser escrita ou

oral. Orientamos então o aluno a observar aspectos não abordados,

contextualizando com o tema a ser desenvolvido.

Aproveitamos também livros didáticos velhos, dos quais recortamos gravuras,

colando-as em uma seqüência lógica para que os educandos produzam textos sobre

elas, destacando aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais do Brasil

Colônia.

Tais atividades são de grande curiosidade e proveito para os estudantes,

principalmente se as imagens são apresentadas através da TV-pendrive. Realizar

esta prática tem sido empolgante, mas não se compara com a realização de usar a

imagem como fixação de um conteúdo ou avaliação.

Page 13: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

13

Após estudo de um determinado tema desafiamos os jovens a demonstrar o

que aprenderam através de representação de imagens. Sugerimos cartazetes,

painéis, charges e desenhos, e eles produzem trabalhos maravilhosos. Utilizamos

essa estratégia em conteúdos, como: Feudalismo, Iluminismo, Revolução Russa,

República Velha, Segunda Guerra Mundial, entre outros. Trabalhamos com turmas

de 8ª série do Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio, e nos surpreendemos

com a demonstração de domínio de conteúdo e de criatividade apresentada pelos

alunos. Como enuncia Circe Bitencourt :

Fazer os alunos refletirem sobre as imagens que lhes são postas diante dos olhos é uma das tarefas urgentes da escola e cabe ao professor criar as oportunidades, em todas as circunstâncias, sem esperar a socialização de suportes tecnológicos mais sofisticados para as diferentes escolas e condições de trabalho que enfrenta, considerando a manutenção das enormes diferenças sociais, culturais e econômicas pela política vigente. BITENCOURT, (2001, p. 89 ).

Os seminários também oportunizam a conhecer melhor nosso aluno e nos

leva a orientá-lo para a construção de sua cidadania. Distribuímos os conteúdos

para a classe organizada em grupos, orientando-os para que se prepararem para a

apresentação. Estes, para se exporem diante dos colegas, fazem uma intensa

preparação, necessitam de controle psicológico para vencer sua timidez,

confeccionam materiais de apoio como cartazes, mapas e slides, procuram protelar

o máximo possível a apresentação. Mas, no decorrer do ano letivo é visível o

desenvolvimento do educando à medida que vai se apresentando em diferentes

momentos: aos poucos vence a timidez e fala com desenvoltura aos seus colegas.

No último bimestre os alunos do Ensino Médio sentiram aptos a apresentar

seus trabalhos à colegas do Ensino Fundamental, especificamente os de 5ª e 6ª

séries. Essa experiência se deu com conteúdos de História do Brasil, com os ciclos

econômicos e características da sociedade colonial. Os jovens prepararam seus

temas em grupos, alguns organizaram maquetes, outros encenações teatrais e

também painéis. Com o material organizado, primeiramente expuseram em sua

classe para posteriormente, expor o conteúdo aos menores. Essa prática foi muito

apreciada tanto pelos apresentadores, quanto pela platéia.

Com o objetivo de trabalhar a interação objeto / pessoa partindo de diferentes

memórias, uma vez que procuramos envolver diferentes sujeitos e suas diversas

Page 14: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

14

práticas sociais, solicitamos aos alunos que trouxessem para a escola fotografias de

momentos distintos de sua vida. A escolha das fotos já é uma reconstrução do

passado e um resgate de sua historicidade. Com as fotografias em sala de aula o

aluno constrói sua linha de tempo e passa a produzir sua História, assunto que

domina muito bem e na qual está inserido como sujeito atuante, capaz de produzir

conhecimento histórico. O “autor” apresenta então a “sua História” para os colegas,

podendo ilustrá-la com as fotografias, descrevendo com empolgação as diferentes

fases de sua vida. Interessante também trocar as fotografias entre os educandos,

para fazê-los refletir sobre a dificuldade de escrever a história do outro, obstáculo

também encontrado pelos historiadores. Com essa prática há o resgate oral e visual

da memória histórica, complementado pela produção escrita, aproximando-se do

que Paulo Freire chama de educação libertadora.

As fontes orais são recursos interessantes, visto que propiciam o uso de

várias possibilidades metodológicas. Procuramos trabalhá-la, com entrevistas,

palestras e oficinas. Após trabalhar noções gerais sobre o tema, os estudantes

organizaram questões a serem abordadas e escolheram os entrevistados (pais,

pioneiros ou pessoas que vivenciaram certos fatos históricos) ou através de

palestras e mesas redondas. Essas práticas foram realizadas, principalmente no

estudo de temáticas recentes como a Ditadura Militar e a política brasileira pós

ditadura.

Com relação à Ditadura Militar, surgem dados muito interessantes, pois o

presidente Ernesto Geisel foi o único presidente brasileiro a visitar o nosso

município. Esse episódio ocorreu em 1976 e muitos pais e membros da comunidade

lembram-se do fato com riqueza de detalhes e descrevem, aos seus filhos os

preparativos, a organização, as chamadas da Rádio Difusora na época utilizando

uma música especial para anunciar detalhes do evento, e as orientações sobre

como a comunidade deveria se portar, bem como a recepção ao ilustre visitante. Na

ocasião em que os dados dessa atividade foram apresentados, houve um debate

acalorado, visto que de acordo com alguns entrevistados a ditadura foi um período

de desenvolvimento, de organização e que deveria voltar; outros, embasados por

suas pesquisas, pela participação em palestras e oficinas, (organizadas pela

UNIOESTE), argumentavam veementemente contra a ditadura.

Semelhante experiência, ocorreu com a abordagem sobre o primeiro governo

civil pós ditadura. Vários alunos tomaram conhecimento que seus pais ou avós

Page 15: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

15

tiveram suas cadernetas de poupança bloqueadas durante o governo Collor e que

alguns até hoje não conseguiram sacar esses valores, e que outras pessoas no

desespero do confisco, tomaram medidas extremas como o suicídio. Os estudantes

ficaram indignados com o fato e começaram a questionar e problematizar essa

questão e outras análogas.

Para estudar e analisar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, valemos-nos

da Mesa Redonda, dedicando duas horas aulas para essa prática metodológica. Os

educandos se prepararam pesquisando na Internet, em revistas, consultando seus

pais, professores, patrões e mesmo membros da comunidade. O assunto foi

amplamente discutido, pois havia os favoráveis e os desfavoráveis ao governo Lula.

O tempo que destinamos ao assunto foi insuficiente, tivemos que retomar o tema,

mas foi muito produtivo.

As atividades citadas permitiram ao educando revestir-se no papel de

historiador, bem como perceber diferentes versões de um mesmo fato histórico. No

bojo das discussões entraram assuntos como: a mudança da moeda e a elaboração

da atual constituição, no governo Sarney; questionamentos sobre plebiscito, na

abordagem do governo Itamar Franco; a política econômica de Fernando Henrique

Cardoso; a ascensão das esquerdas ao poder, os programas sociais e os

investimentos em biocombustíveis, no governo Lula.

Utilizamos também atividades lúdicas, tanto para construir o conhecimento,

como para avaliar o conhecimento de nossos educandos. Sahda Marta Ide afirma:

O jogo não pode ser visto, apenas como um divertimento ou brincadeira para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral (....) As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem: sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. IDE, ( 1993, P. 96 ).

Outra prática que desenvolvemos com sucesso foi o “Show de Questões” .

Para tal atividade foi construído um “sinalizador” ( uma caixa com duas lâmpadas de

cores diferentes e dois interruptores ). O professor realiza uma explanação oral

sobre o assunto a ser estudado e a partir dela os alunos, em grupo, elaboram o

maior número possível de questões com respostas, as quais necessitam ser

corrigidas pelo professor e então parte-se para o show. Os estudantes são divididos

em dois grupos, (podem ser separados por sexo, com a competição entre meninos e

Page 16: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

16

meninas ou por outro critério escolhido pelo professor e ou sugerido pelos alunos). O

professor lança a questão e os alunos correm ao sinalizador. Quem conseguir

acionar primeiro a sua lâmpada, responde a questão marcando ou não ponto para

sua equipe. Vence a equipe que fizer maior número de pontos. É uma prática muito

prazerosa aos alunos, pois a maior parte dela ocorre fora da sala de aula, envolve o

lúdico, a competição e ninguém quer ser derrotado.

Os filmes e documentários são também excelentes ferramentas para o ensino

de História. Apresenta-se o conteúdo aos estudantes, explicando ou lendo. Discute-

se um texto inerente ao assunto, analisa-se então o filme ou documentário para

comparar ou aprofundar o tema. Previamente o professor já elaborou questões

reflexivas para que os educandos, discutindo em grupos, desenvolvam suas

opiniões. As conclusões dos grupos são então apresentadas à classe para

discussão no grande grupo. Geralmente utilizamos mais documentários do que

filmes, pois a maioria dos filmes de história são bastante longos. Isto não quer dizer

que eles sejam descartados. Sempre que possível os utilizamos, principalmente

agora com a TV Pen-drive, que está bem localizada em sala de aula, possui uma

excelente imagem e é um recurso que auxilia para motivar a reflexão dos nossos

estudantes.

Para dinamizar as nossas aulas usamos também a música como fonte

histórica, visto esta estar presente na vida brasileira. Ela sempre permeou a cultura

das diversas etnias que compõe a sociedade brasileira e tem suas peculiaridades

próprias de acordo com as classes sociais e as regiões. Além disso, a música

marcou diferentes momentos da história brasileira; como por exemplo, a música

caipira, cujos versos mostram aspectos do coronelismo e dos dilemas do sertanejos,

na sociedade capitalista; as músicas ufanistas, que defendem os interesses dos

governos autoritários; as diferentes formas musicais de protesto e de ironia, às

ações dos governantes e das elites dominantes.

Utilizando a música em sala de aula é muito importante relacioná-la ao

contexto do assunto estudado, esclarecendo quando foi composta, quem é o seu

autor e quais os principais objetivos dela. Parte-se, então, para análise da letra,

procurando levar o aluno a perceber as possíveis relações da letra, que muitas

vezes aparenta ser uma história de amor, mas em análise mais profunda, demonstra

aspectos políticos e econômicos de períodos específicos de nossa história.

Page 17: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

17

Dispomos dessa metodologia ao abordarmos: a Era Vargas, com a música

de Ary Barroso, Aquarela do Brasil, de 1939; a Ditadura Militar com uma grande

variedade de músicas e de cantores como: Chico Buarque, Apesar de você, 1970;

Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei das Flores, 1968; Elis Regina, O

Bêbado e a Equilibrista, 1979; entre outras, de conteúdo muito rico para nossa

prática escolar.

Os estudantes fizeram uso das músicas para suas apresentações criando

paródias com músicas atuais e badaladas pelos jovens, desenvolvendo temas como

sociedade no Brasil colonial e cultura afro.

Podemos usar a música para muitos outros temas em nossas aulas de

História e em diferentes séries, tanto do Ensino Fundamental como do Ensino

Médio. Precisamos estar vigilantes para novos lançamentos musicais e abertos a

novas sugestões bibliográficas e sonoras, conforme Luciana Zago sugere:

É importante estar atento a novas músicas, que são gravadas ou mesmo regravadas, pesquisar em arquivos, livros científicos, didáticos e paradidáticos, que podem sugerir canções a serem trabalhadas. Utilizar novas linguagens em sala de aula como a música não significa que todos os problemas referentes ao ensino de história estarão resolvidos. ZAGO, ( 2003, p.166)

O uso da música em sala de aula requer alguma cautela e muita atenção do

professor para não valoriza-la excessivamente em detrimento do conhecimento

científico, a esse respeito nos alerta, Marcos Napolitano:

A incorporação deste tipo de documento/linguagem não deve ser tomada como panacéia para salvar o ensino de história e torna-lo mais moderno. Muito menos deve ser vista como a substituição dos conteúdos de aprendizado por atividades fechadas em si mesmas. Todo o cuidado com a incorporação das ‘novas linguagens’ é pouco, principalmente numa época de desvalorização do conteúdo socialmente acumulado pelo conhecimento científico. NAPOLITANO, ( 2001, p. 149 ).

A avaliação ocorreu durante todo o processo, através da observação direta do

envolvimento e do entusiasmo do aluno, bem como da verificação da aquisição do

conhecimento demonstrada em sua participação e desempenho nas atividades e

pelo nível de suas produções. Foi de forma qualitativa, na análise dos textos bem

como na formulação de conceitos inerentes aos temas; a quantificação se deu

através da interpretação dos trabalhos organizados durante todo o processo.

Page 18: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

18

Concomitantemente foi avaliado o trabalho do professor, assim como o

material didático produzido, reformulado e adequado sempre que acreditamos ser

necessário.

Ao aferirmos as avaliações, procuramos sair do tradicional, utilizando formas

criativas de avaliação como: bingos, histórias em quadrinhos, cruzadinhas, caça –

palavras, chamada oral usando uma bola, confecção de maquetes, sempre

observando a faixa etária, o nível dos educandos, e o conteúdo a ser avaliado.

CONCLUSÃO:

A pesquisa e a proposta realizadas no Colégio Antônio Maximiliano Ceretta

de Marechal Cândido Rondon, levantam a problemática do processo-ensino-

aprendizagem, no caso especificamente do ensino de História e a busca de novas

práticas metodológicas para tornar esse processo mais atraente.

Cientes que o ensino de História possui múltiplas possibilidades de

compreensão, percebemos a importância e a necessidade de romper com a história

tradicional, e propiciar a análise e a reflexão visando a compreensão do processo

histórico como um todo, para que o aluno tenha condições de entender os conflitos e

os interesses relacionados ao ensino de História.

Analisando os dados da pesquisa realizada com a comunidade escolar,

sentimos o grande desafio a que nos propusemos fazer: despertar o interesse dos

alunos, instigá-los a participar das aulas de História, situando-se como sujeitos de

sua própria história, propiciando a sua permanência na escola com sucesso. Mas

estávamos desafiados também a oferecer, tanto a alunos quanto a professores,

aulas prazerosas, nas quais percebessem sentido nos temas estudados e que

superassem as dificuldades metodológicas nas aulas de História.

Despertar o interesse dos alunos mesmo com conteúdos da História Antiga,

entre outros, foi um provocar constante para nós educadores. Não podíamos estudar

o passado pelo passado! Então procuramos pesquisar com seriedade, instigando os

alunos a relacionar o passado/presente, a dialogar com outras fontes e a perceber

como a sociedade atual está relacionada ao processo histórico e à própria ideologia

capitalista.

Page 19: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

19

O aluno não pode ficar à mercê de compreender a História sob recortes com sentido fechado entre si. Ele deve ser estimulado a compreender fenômenos de amplo efeito sobre diferentes recortes sincrônicos, diacrônicos, permanências e continuidades, a partir de movimentos de inter-relações, em que os conteúdos não sejam tomados de forma isolada (PARANÁ, 2006, p. 30).

Tínhamos convicção na viabilidade da proposta e que essa podia ser

implementada em qualquer escola, em diferentes séries do Ensino Fundamental ou

do Ensino Médio Procuramos envolver nossos colegas de área para que conosco

abraçassem a idéia e juntos, trocando experiências pedagógicas, organizamos

novas práticas visando um ensino de qualidade.

Tornou-se necessário o envolvimento de colegas de outras áreas, pois em

muitos momentos a interdisciplinaridade foi imprescindível. Fizemos parcerias com

colegas de Artes, na construção de maquetes, na organização dos teatros, na

representação de desenhos e cartazetes, bem como com professores de Língua

Portuguesa, Geografia, entre outros.

Procuramos construir o conhecimento histórico através de temas,

problematizando, provocando o raciocínio dos alunos com questões relevantes,

orientando-os a perceber a historicidade de conceitos como: democracia, cidadania,

poder, organização social, trabalho, lutas de classes, entre outros e a reconhecer os

preconceitos e sua perpetuação no ensino da História tradicional.

Procuramos ainda despertar o espírito crítico dos educandos, provocando-os

a interagir nas aulas, incentivando-os à leitura, porque pensamento crítico não se

sustenta sem ela. Para tanto utilizamos textos de autores diversos, de jornais,

revistas, documentos oficiais e através da leitura outras fontes históricas foram

sendo anexadas.

A exploração de mapas, imagens, fotografias, caricaturas, pinturas, objetos de

uso cotidiano, interpretação de filmes, de letras de músicas, de poemas, de

manifestos, de panfletos e propagandas, análise de relatos de viajantes ou de

pioneiros, o rádio, a televisão e as consultas virtuais foram excelentes recursos

didáticos que nos auxiliaram a transformar as aulas de História, numa aprendizagem

prazerosa e conseqüente.

A utilização desses recursos somente contribuirá na medida em que o professor estiver consciente do seu papel como professor/historiador/pesquisador que, acima de tudo, esteja atento às necessidades dos seus alunos e que efetivamente, o

Page 20: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

20

conhecimento histórico esteja sendo construído e apropriado. (ZAGO, 2003, p. 167)

O presente trabalho não pretende apresentar uma receita a ser seguida. Cada

professor precisa encontrar a sua prática de acordo com a sua realidade, o nível de

conhecimento de seus alunos, bem como a características peculiares de cada

turma.

Em muitos momentos certas práticas que deram excelentes resultados em

uma turma, mostraram total inviabilidade em outra, mesmo em série igual do mesmo

curso. Tornava-se necessário a busca de novas metodologias para atender as

peculiaridades desta turma.

Sabíamos que o uso de novas linguagens no ensino de história, não iria

resolver todos os problemas de ensino dessa disciplina, mas tivemos experiências

muito gratificantes, com os alunos aguardando nosso retorno às aulas após o

trabalho dos estagiários; a elevação do rendimento escolar de muitos alunos; a

alegria em ministrar aulas dinâmicas a alunos participativos e atuantes; o prazer de

pesquisar com os alunos em fontes diversas e a descoberta de novas versões sobre

fatos já conhecidos.

Temos consciência que esta proposta não está concluída, ela está aberta a

novas pesquisas, a sugestões de outras práticas pedagógicas, pois cada professor

posui uma riqueza imensa de práticas, de metotodologias inovadoras que atendem

os objetivos desta proposta. E a troca de experiências entre os educadores é

fundamental para a qualidade de ensino.

Page 21: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 2. ed. São Paulo: Ars Poética, 1994. BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2003. FREITAS, José Alves. A renovação do ensino de história. In: KARNAL, Leandro. História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004. HOBSBAWM, Eric. O sentido do passado: sobre história. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. IDE, Sahda Marta. O jogo e o fracasso escolar. In: KISHIMOTO,Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 8. ed. São Paulo. 2005. p. 89. NAPOLITANO, Marcos. A televisão como documento. In: BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto. 2001. p. 149 PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: história. Curitiba, 2006. ZAGO, Luciana. A música no ensino de História. In: DIEHL, Astor Antonio. Fascínios da história. Passo Fundo: UPF. 2003. p. 158.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (orgs.). Ensino de história. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Ars Poética, 1995. ANTUNES, Celso. Marinheiros e professores. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor. 2. ed. São Paulo: Gente, 2003. DIEHL, Astor Antonio; MACHADO, Ironita P. Apontamentos para uma didática de história. Passo Fundo: Clio, 2001. FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2003. FONSECA, Selva Guimarrães. Ser professor no Brasil: história oral de vida. Campinas: Papirus, 1997.

Page 22: HISTÓRIA APRENDIZAGEM PRAZEROSA - Gestão Escolar · tempo para preparar suas aulas e o reduzido número de aulas de História semanais, ... passado, passado este que é uma dimensão

22

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. PENTEADO, Heloisa. Metodologia do ensino de história e geografia. São Paulo: Cortez, 1992. SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2005. SILVA, Marcos A. da. História o prazer em ensino e pesquisa. São Paulo: Brasiliense, 1995.