corporificação do passado

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Registro videográfico de estudo performático

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Uma câmera fixa. Um fundo branco. Sons da rua. Uma mulher que se senta diante desta câmera e que se pinta. Que se pinta sem saber o que está fazendo, mas que segue se pintando todos os dias, por sete dias seguidos. Esta mulher sou eu e Corporificação do Passado - um estudo sobre as origens é o registro de quase 44 minutos em vídeo de uma tentativa de trazer para o meu tempo e para o meu corpo algo de um passado distante de mim, tanto no tempo quanto no espaço.

Esta vontade surgiu do encontro com um retrato antigo no álbum de fotografias de meu avô japonês: uma foto linda de uma mulher que desconheço; apenas sei que é a irmã caçula de minha avó japonesa, e que este foi o registro do dia de seu casa-

mento. Encantada com a beleza dessa imagem e com a revelação de que tamanha beleza é uma herança do meu passado, tentei encontrar uma maneira - por isso a palavra estudo no subtítulo - de exteriorizar esse lugar que é o de possuir os genes da raça japonesa mas ignorar completamente os signos de sua cultura, numa busca por uma identidade por meio dessa lembrança que me pertence e, ao mesmo tempo, não.

Corporificação do Passado nasceu sem título, diferentemente das performances de muitos colegas meus, e seguiu sem título até muito tempo depois. Seu título só me foi revelado quando de fato compreendi claramente quais eram as minhas intenções quando realizei a performance, ou seja, ao me sentar para escrever para esta revista.

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Atualmente me encontro na condição de estrangeira permanente*, pois quando morei no Japão sempre fui vista como brasileira, como estrangeira; e quando estou aqui no Brasil sou sempre “a japa”, “a japinha”. Longe da ideia de bulling ou preconceito de alguma forma, minha única vontade é a de me identificar com alguma coisa, com algum lugar, e sair desta estranha condição de suspensão, de limbo entre estes dois mundos que são as culturas japonesa e brasileira. E acredito que foi a partir

desta performance que pude realmente visualizar aquilo que quero encontrar, para poder escolher, agora de fato, qual caminho trilhar.

Aline Akemi

*expressão que tomei emprestada de Alexandre Farias Watanabe em sua tese “A experiência das raízes e o dekassegui: um estudo de psicologia social a partir de reconstrução autobiográfica” publicada em 2008 pela USP. Disponível em file:///C:/Users/11200104/Downloads/Watanabe_AF_me.pdf

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A performance de

Aline Akemi (até então, ainda sem título) é inspirada na maquiagem feita pelas noivas tradicionais japonesas. O vídeo tem duração de 43 minutos e 26 segundos, e mostra a performer passando em seu rosto um creme popularmente chamado de pasta d’ água, produto que se assemelha em cor (mas não em textura) ao produto usado pelas noivas para pintarem sua pele e deixarem a mesma mais alva. Segundo a performer, as noivas costumam se pintar com uma pasta feita a base de pó branco e água, cobrindo o rosto, o pescoço, uma parcela central do tórax e a nuca (desenhando um “W”), porém nesta performance, ela se limita a pintar somente o rosto e o pescoço.

Por Camila Terra

Texto Crítico

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riais não tradicionais, uma forma de adaptar a maquiagem à situação e não tentar reproduzir a mesma de forma fiel. “Houve um desconforto meu ao tentar reproduzir uma coisa tão séria, tão tradicional sendo que eu não cresci com essa tradição. Então optei por fazer a maquiagem com o que eu entendi, com os materiais que eu escolhesse, sem o objetivo de alcançar a maquiagem tradicional”, diz Aline Akemi, ao falar sobre a ideia de sua performance.

A referência usada é a tradição japonesa vista por quem faz e ao mesmo tempo não faz parte de tal cultura. Segundo Akemi, a performance aconteceu descolada do conceito fechado de tentar reproduzir fielmente um episódio cultural: a tradição foi sendo abstraída conforme os dias de filmagem foram avançando até culminar nos dois últimos dias, onde a câmera filma somente o pescoço e queixo da performer, e a ên-

A performer começa pintando seu rosto de branco com as pontas dos dedos. Depois, segue utilizando um pincel, tomando um certo cuidado pois as cerdas deixam marcas em alguns lugares, como a volta da mandíbula. Em seguida, ela passa o batom vermelho apenas em uma parte da boca (parte central) e finaliza passando lápis preto na pálpebra superior e também marcando as sobrancelhas com o mesmo.

Segundo Akemi, a performance foi inspirada em uma foto encontrada em um álbum antigo de seu avô paterno, que é japonês. Na fotografia, vê-se uma tia avó distante da performer, irmã mais nova de sua avó, vestida e maquiada para o dia de seu casamento. Foi então que a performer decidiu pesquisar sobre os costumes de vestimenta da cultura japonesa, em especial a maquiagem e a vestimenta em casamentos.

A performer optou por usar mate-

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fase da ação não é mais o ato de maquiar-se, mas sim o de pintar para a câmera, o gestual, as marcas que o pincel ia deixando sobre a pele.

A performance foi exibida no primeiro andar da unidade I do Centro Universitário Belas Artes, próximo aos laboratórios de informática. Por ser um local de grande circulação, as pessoas que paravam para ver o vídeo ficavam curiosas pela história envolvida. Percebi que muitos tinham curiosidade, estranhavam o vídeo e alguns até mesmo pareciam sentir certa repulsa do mesmo,

por conta do creme que ela passa em seu rosto e por conta do resultado que ele dá.

O vídeo em si não traz incomodo algum, mas sim uma grande curiosidade por trás do ato, o porquê, principalmente, do rosto e pescoço pintados de branco. Seria uma crítica aos meios de beleza, ao “culto à perfeição”? Quem passava e parava para prestar atenção no vídeo, parecia não saber exatamente do que se tratava, e nem conseguiam descobrir de onde veio a inspiração para o mesmo, ou a poética envolvida no trabalho.

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É um vídeo que deixa aberta a interpretação do público, podendo talvez fazer com que a mensagem do mesmo, ou que o objetivo da autora, se perca por entre tantas interpretações. Por outro lado, faz com que o espectador se sinta atraído por saber mais, por entender a figura, interpretá-la e, posteriormente, entender a real mensagem que a autora da performance quer passar a seu público.

Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=N3R24hAu8LE&feature=youtu.be

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