hidrólise de sacarose por invertase imobilizada em duolite ... · de sacarose, tempo de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA QUMICA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA
Hidrlise de Sacarose por Invertase
Imobilizada em Duolite A-568 por Adsoro
e Ligao Cruzada
Bruna Vieira Cabral
UBERLNDIA MG
JULHO DE 2012
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA QUMICA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA
Hidrlise de Sacarose por Invertase
Imobilizada em Duolite A-568 por Adsoro
e Ligao Cruzada
Bruna Vieira Cabral
Orientador: Elozio Jlio Ribeiro (UFU)
Co-orientadora: Vicelma Luiz Cardoso (UFU)
Dissertao de mestrado apresentada
ao Programa de Ps-Graduao em
Engenharia Qumica da Universidade
Federal de Uberlndia como parte dos
requisitos necessrios obteno do
ttulo de Mestre em Engenharia
Qumica, rea de concentrao em
Pesquisa e Desenvolvimento de
Processos Qumicos.
UBERLNDIA MG
JULHO DE 2012
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DEDICATRIA
Dedico esta dissertao aos meus queridos pais e irmo, pela ajuda, compreenso e amor
incondicional.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo aos meus pais, Solange e Joselias, que jamais mediram esforos para
tornar meus objetivos mais prximos e meus desejos reais. Ao meu irmo, pelo constante
incentivo. Ao Gustavo, pela presena, pacincia e carinho em cada passo desta caminhada. A
toda minha famlia que atravs de simples gestos me apoiaram e acreditaram no meu esforo.
Ao Prof. Elozio Jlio Ribeiro pela orientao, pacincia e dedicao que tornaram
esta jornada mais suave e empolgante. Pelas palavras certas e carinhosos incentivos que
contriburam imensamente para minha formao pessoal e profissional. Obrigada por cada
dia, cada conversa, cada gesto de confiana, os levarei por toda vida.
Profa. Vicelma Luiz Cardoso, pelo constante esforo na realizao deste trabalho e
pela dedicao intensa em alcanar bons resultados. Pela pacincia e compreenso eu lhe
agradeo.
Profa. Miriam Maria Resende um agradecimento especial, pelos valiosos
ensinamentos e ajuda no fechamento deste trabalho.
A todos os professores da FEQUI que contriburam direta ou indiretamente em
minha formao, contribuindo com informaes valiosas para a realizao deste estudo.
Professora e amiga Lbia que desde sempre contribui para meu crescimento
pessoal e acadmico. Suas palavras doces e incentivadores, desde a graduao, tornaram este
trabalho possvel.
amiga Larissa que tanto ajudou, com pacincia e esforo em cada etapa desta
jornada.
Aos colegas do NUCBIO, que estiveram presentes desde o incio. Obrigada pelos
ensinamentos e momentos compartilhados.
Aos funcionrios da FEQUI: Clo, Roberta, Rodrigo, Silvino e Ceclia pela
colaborao.
Ao CNPq pela concesso da bolsa.
A CAPES, pelo apoio financeiro.
A Dow Brasil S.A pela doao da resina Duolite A-568.
Ao programa de ps-graduao em Engenharia Qumica da Universidade Federal de
Uberlndia, pela oportunidade concedida.
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Sumrio
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... i LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................. iv LISTA DE SMBOLOS ........................................................................................................ viii
RESUMO.................................................................................................................................. ix ABSTRACT .............................................................................................................................. x CAPTULO 1 - INTRODUO ............................................................................................. 1 CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................... 3 2.1 Enzimas ............................................................................................................................... 3
2.1.1 Enzimas como Biocatalisadores .................................................................................... 3
2.1.2 Invertase ........................................................................................................................ 7
2.2 Acar Lquido ................................................................................................................... 9 2.2.1 Acar Lquido Invertido ............................................................................................ 10
2.2.2 Propriedades fsico-qumicas do acar lquido e acar lquido invertido ................ 11 2.2.3 Aplicaes do acar lquido invertido ....................................................................... 12 2.2.4 Processos de Fabricao de Acar Lquido Invertido ............................................... 14
2.2.4.1 Inverso cida ...................................................................................................... 14 2.2.4.2 Inverso com Resinas Catinicas ......................................................................... 15 2.2.4.3 Inverso por Via Enzimtica ................................................................................ 15
2.3 Enzimas Imobilizadas ...................................................................................................... 16 2.3.1 Mtodos de Imobilizao de Enzimas ......................................................................... 18
2.3.1.1 Tipos de Imobilizao .............................................................................................. 19
2.3.1.1.1 Imobilizao por reteno fsica ........................................................................ 19
2.3.1.1.2 Ligao a Suportes Insolveis ........................................................................... 20 2.3.1.1.3 Ligao cruzada ................................................................................................. 24
2.4 Suportes para Imobilizao ............................................................................................. 26 2.4.1 Mtodos de ativao do suporte .................................................................................. 28 2.4.2 Imobilizao em Resinas ............................................................................................. 29
2.5 Efeitos da Imobilizao nas Propriedades da Enzima .................................................. 31 2.5.1 Efeitos dos mtodos de imobilizao na cintica e propriedades das enzimas ........... 31
2.6 Reatores para biocatalisadores imobilizados ................................................................. 32 2.6.1 Reatores descontnuos ................................................................................................. 34 2.6.2 Reatores contnuos ....................................................................................................... 35 2.6.3 Influncia de alguns fatores na escolha do reator ........................................................ 36
2.7 Cintica Enzimtica.......................................................................................................... 37 2.7.1 Determinao dos Parmetros Cinticos ..................................................................... 38
2.7.2 Influncia do meio na atividade e estabilidade das enzimas ....................................... 38 2.7.2.1 Influncia do pH ................................................................................................... 38 2.7.2.2 Influncia da temperatura ..................................................................................... 39
2.8 Planejamento Composto Central .................................................................................... 43
CAPTULO 3 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 47
3.1 Enzima e Reagentes .......................................................................................................... 47 3.2 Suporte para Imobilizao............................................................................................... 47 3.3 Substratos .......................................................................................................................... 48 3.4 Unidades Experimentais .................................................................................................. 48
3.4.1 Reator batelada (descontnuo) ..................................................................................... 49
3.4.2 Reator tipo leito fixo (contnuo) .................................................................................. 50
3.5 Determinao da Atividade pelo Mtodo das Taxas Iniciais........................................ 51
3.6 Imobilizao do biocatalisador ........................................................................................ 52
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3.6.1 Ativao do suporte ..................................................................................................... 52 3.6.2 Influncia do tempo no processo de imobilizao por adsoro inica ...................... 52
3.6.3 Otimizao do Processo de Imobilizao .................................................................... 52
3.7 Testes em Reator Batelada .............................................................................................. 53 3.7.1 Estudo preliminar para o processo de ligao cruzada ................................................ 53 3.7.2 Estabilidade de invertase imobilizada em Duolite A-568 por adsoro inica e ligao
cruzada em relao ao pH ..................................................................................................... 53
3.7.3 Estabilidade trmica da enzima imobilizada em Duolite A-568 por adsoro inica e
ligao cruzada ..................................................................................................................... 54 3.7.4 Otimizao do processo de ligao cruzada ................................................................ 55 3.7.4.1 Influncia da concentrao de glutaraldedo e tempo de reticulao no processo de
ligao cruzada ..................................................................................................................... 55
3.7.4.2 Influncia da temperatura e do pH na atividade de invertase imobilizada em Duolite
A-568 por adsoro inica e ligao cruzada ....................................................................... 57
3.7.4.3 Estudo da estabilidade de estocagem de invertase imobilizada em Duolite A-568 por
adsoro inica e ligao cruzada ........................................................................................ 58
3.8 Testes em Reator de Leito Fixo ....................................................................................... 59 3.8.1 Imobilizao da invertase em Duolite A-568 por adsoro inica e ligao cruzada . 59
3.8.2 Influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e temperatura
na converso de sacarose ...................................................................................................... 59
3.8.3 Estudo da estabilidade operacional da invertase imobilizada em Duolite A-568 por
adsoro inica e ligao cruzada ........................................................................................ 64
CAPTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................... 66 4.1 Condies adotadas para a imobilizao de invertase .................................................. 66
4.2 Atividade da Invertase ..................................................................................................... 66 4.3 Testes em Reator Batelada .............................................................................................. 67
4.3.1 Estudo preliminar para o processo de ligao cruzada ................................................ 67
4.3.2. Estabilidade de invertase imobilizada em Duolite A-568 por adsoro inica e
ligao cruzada em relao ao pH ........................................................................................ 67 4.3.3 Estabilidade trmica da invertase imobilizada em Duolite A-568 por adsoro inica e
ligao cruzada ..................................................................................................................... 69
4.3.4 Otimizao do processo de ligao cruzada ................................................................ 78 4.3.4.1 Influncia da concentrao de glutaraldedo e tempo de reticulao no processo de
ligao cruzada ..................................................................................................................... 78 4.3.4.2 Influncia da temperatura e do pH na atividade de Invertase imobilizada em duolite
A-568 seguida do processo de ligao cruzada .................................................................... 83
4.3.5 Estudo da estabilidade de estocagem de invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida do processo de ligao cruzada ............................................................................... 89
4.4 Testes em Reator Tipo Leito Fixo ................................................................................... 90 4.4.1 Influncia conjunta da concentrao de substrato, tempo de residncia e temperatura
na converso de sacarose ...................................................................................................... 90 4.4.2 Estudo da estabilidade operacional da invertase imobilizada ................................... 105
CAPTULO 5 - CONCLUSES ......................................................................................... 102
CAPTULO 6 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................. 102 CAPTULO 7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................... 105 APNDICE ........................................................................................................................... 105
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i
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Comparao entre as caractersticas das enzimas e dos catalisadores qumicos. ... 4
Tabela 2.2 - Principais classes de enzimas ................................................................................. 6
Tabela 2.3 Algumas propriedades da invertase. ...................................................................... 8
Tabela 2.4 Doura relativa de diversos acares. .................................................................. 12
Tabela 2.5 Vantagens e desvantagens dos diferentes mtodos de imobilizao. .................. 25
Tabela 2.6 - Classificao dos suportes de acordo com a composio. ................................... 27
Tabela 2.7 - Classificao de reatores enzimticos. ................................................................. 33
Tabela 3.1 Caractersticas da resina Duolite A-568 (Rohm Haas). ....................................... 48
Tabela 3.2 - Matriz Planejamento Composto Central do efeito conjunto da concentrao de
glutaraldedo e tempo de reticulao no processo de ligao cruzada............................... 56
Tabela 3.3 - Matriz do Planejamento Composto Central no estudo do efeito conjunto da
temperatura e do pH na atividade de invertase imobilizada na resina Duolite A-568 por
adsoro inica e ligao cruzada. ..................................................................................... 58
Tabela 3.4 Matriz Planejamento Composto Central da influncia conjunta da concentrao
de sacarose, tempo de residncia e temperatura na converso de sacarose em reator tipo
leito fixo. ............................................................................................................................ 60
Tabela 3.5 Comparao entre valores de converso de substrato, em reator tipo leito fixo,
para soluo de sacarose em tampo acetato 10-1
M pH 4 e 5. ........................................... 62
Tabela 3.6 Matriz Planejamento Composto Central da influncia conjunta da concentrao
de sacarose, tempo de residncia e temperatura na converso de sacarose em reator tipo
leito fixo. ............................................................................................................................ 63
Tabela 4.1 Resultado preliminar para o processo de ligao cruzada com uso de
glutaraldedo. ..................................................................................................................... 67
Tabela 4.2 Ajustes dos dados experimentais aos modelos de desativao trmica de primeira
ordem e em srie com uma nica etapa para invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida pelo processo de ligao cruzada, nas temperaturas 51, 57, 60 e 63 1C. ........ 71
Tabela 4.3 Clculo do tempo de meia vida para cada temperatura estudada na estabilidade
em relao temperatura. .................................................................................................. 76
Tabela 4.4 Atividade enzimtica obtida em cada experimento do planejamento composto
central para a otimizao do processo de ligao cruzada. ................................................ 78
Tabela 4.5 Resultados da regresso mltipla com todos os parmetros referentes
otimizao do processo de ligao cruzada. ...................................................................... 79
-
ii
Tabela 4.6 Resultados da regresso mltipla com os parmetros significativos aplicados ao
PCC de otimizao do processo de ligao cruzada. ......................................................... 80
Tabela 4.7 Anlise de Varincia (ANOVA) para a resposta de atividade enzimtica aplicada
ao PCC de otimizao do processo de ligao cruzada. .................................................... 81
Tabela 4.8 Matriz com resultados obtidos para avaliar a influncia conjunta da temperatura
e pH na atividade de invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida pelo processo de
ligao cruzada. ................................................................................................................. 84
Tabela 4.9 Resultados da regresso mltipla com todos os parmetros aplicada ao PCC para
avaliar a influncia conjunta da temperatura e pH na atividade de invertase imobilizada.85
Tabela 4.10 Resultados da regresso mltipla com os parmetros significativos aplicada ao
PCC para avaliar a influncia conjunta da temperatura e pH na atividade de invertase
imobilizada. ........................................................................................................................ 85
Tabela 4.11 Anlise da varincia (ANOVA) para a resposta de atividade enzimtica
resultante da avaliao da influncia conjunta da temperatura e pH na atividade de
invertase imobilizada. ........................................................................................................ 86
Tabela 4.12 Matriz do Planejamento Composto Central para a influncia conjunta da
concentrao de sacarose, tempo de residncia e temperatura no reator tipo leito fixo. ... 91
Tabela 4.13 Comparao entre valores de converso de substrato, em reator tipo leito fixo,
para soluo de sacarose em tampo acetato pH 4 e 5. ..................................................... 92
Tabela 4.14 Resultados da regresso mltipla com todos os parmetros aplicada ao PCC
para avaliar a influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ................................................................................. 93
Tabela 4.15 Resultados da regresso mltipla com os parmetros significativos aplicada ao
PCC para avaliar influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ................................................................................. 94
Tabela 4.16 Anlise de Varincia (ANOVA) para valores de converso de sacarose
resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ................................................................................. 95
Tabela 4.17 Matriz Planejamento Composto Central da influncia conjunta da concentrao
de sacarose, temperatura e tempo de residncia no reator tipo leito fixo. ......................... 99
Tabela 4.18 Resultados da regresso mltipla com todos os parmetros aplicada ao PCC
para avaliar a influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ............................................................................... 100
-
iii
Tabela 4.19 Resultados da regresso mltipla com os parmetros significativos aplicada ao
PCC para avaliar a influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia
e temperatura no reator tipo leito fixo. ............................................................................ 101
Tabela 4.20 Anlise de Varincia (ANOVA) para valores de converso de sacarose
resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ............................................................................... 102
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iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Mecanismo para a formao do complexo ativo invertase-sacarose foi proposto
por Laidler (1958) citado por Marquez (2007). ................................................................... 9
Figura 2.2 Reao de hidrlise de sacarose com formao de glicose e frutose. Fonte:
Adptado (PASCHOALIM, 1990). ..................................................................................... 11
Figura 2.4 Mtodos para imobilizao de enzimas (FISCHER , 2010). ............................... 19
Figura 2.5- Representao de efeito negativo sobre enzima imobilizada e ausncia deste efeito
(Modificao de GUSAN et al., 1997). ............................................................................ 23
Figura 2.6 Representao dos mtodos de ativao. esquerda esto os suportes, nas cores
verde (gluteraldedo), azul (glicidol) e vermelho (epicloridrina) os agentes ativantes e na
superfcie do suporte os grupos reativos que iro reagir com os grupos amino da enzima
(ADRIANO, 2008). ........................................................................................................... 29
Figura 2.7 Tipos de reatores enzimticos (RIBEIRO, 1989). ............................................... 32
Figura 2.8 Representao da variao da constante de velocidade k com a temperatura
absoluta T (BAILEY e OLLIS, 1986)................................................................................ 40
Figura 2.9 Translao da superfcie de resposta da origem para o ponto estacionrio. ........ 46
Figura 3.1 Enzima Invertase (-frutofuranosidase, E.C.3.2.1.26, Grau V, cdigo 9001-57- 4,
da levedura Saccharomyces cerevisae), marca Sigma. ...................................................... 47
Figura 3.2 Resina Duolite A-568 empregada para imobilizao da enzima invertase. ......... 48
Figura 3.3 Foto dos reatores tipo mistura com operao batelada utilizados para realizar as
reaes de hidrlise de sacarose por invertase imobilizada. .............................................. 49
Figura 3.4 Representao esquemtica da unidade experimental do reator tipo batelada
utilizado para realizar a hidrlise de sacarose por invertase imobilizada (FISCHER,
2010). ................................................................................................................................. 50
Figura 3.5 Foto do reator tipo leito fixo utilizado para realizar a converso de sacarose por
invertase imobilizada. ........................................................................................................ 50
Figura 3.6 Representao esquemtica da unidade experimental do reator tipo leito fixo
utilizado para realizar a converso de sacarose por invertase imobilizada (FISCHER,
2010). ................................................................................................................................. 51
Figura 4.1 Influncia do pH na estabilidade de invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida pelo processo de ligao cruzada. (Condies de determinao da atividade
enzimtica: Concentrao de sacarose 50 g/L, temperatura: 40 1C e tampo acetato 10-
1M, pH 4,9). ....................................................................................................................... 68
-
v
Figura 4.2 Perfis de inativao trmica para invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida pelo processo de ligao cruzada. Incubao em tampo acetato 10-1
M, pH 4,7 e
temperaturas 51, 57, 60 e 63 1C. ................................................................................... 70
Figura 4.3 - Perfil da desativao trmica a 63 1C para invertase imobilizada em Duolite
A-568 seguida pelo processo de ligao cruzada. Ajuste de modelo matemtico aos dados
experimentais: Equao 2.6 = modelo de desativao trmica de primeira ordem; Equao
2.4 = modelo de desativao trmica em srie em uma nica etapa. ................................ 71
Figura 4.4 - Perfil da desativao trmica a 60 1C para invertase imobilizada em Duolite
A-568 seguida pelo processo de ligao cruzada. Ajuste de modelo matemtico aos dados
experimentais: Equao 2.6 = modelo de desativao trmica de primeira ordem; Equao
2.4 = modelo de desativao trmica em srie em uma nica etapa. ................................ 72
Figura 4.5 - Perfil da desativao trmica a 57 1C para invertase imobilizada em Duolite
A-568 seguida pelo processo de ligao cruzada. Ajuste de modelo matemtico aos dados
experimentais: Equao 2.6 = modelo de desativao trmica de primeira ordem; Equao
2.4 = modelo de desativao trmica em srie em uma nica etapa. ................................ 74
Figura 4.6 - Perfil da desativao trmica a 51 1C para invertase imobilizada em Duolite
A-568 seguida pelo processo de ligao cruzada. Ajuste de modelo matemtico aos dados
experimentais: Equao 2.6 = modelo de desativao trmica de primeira ordem; Equao
2.4 = modelo de desativao trmica em srie em uma nica etapa. ................................ 75
Figura 4.7 Regresso linear da equao de Arrhenius. ......................................................... 77
Figura 4.8 Valores experimentais em funo dos valores previstos pelo modelo para a
resposta de atividade enzimtica da otimizao do processo de ligao cruzada. ............. 81
Figura 4.9 Distribuio dos resduos em torno da reta que indica normalidade para a
resposta de valores de atividade enzimtica resultantes da otimizao do processo de
ligao cruzada. ................................................................................................................. 82
Figura 4.10 Superfcie de resposta da influncia conjunta da concentrao de glutaraldedo e
tempo de reticulao na atividade de enzima imobilizada em Duolite A-568 seguida do
processo de ligao cruzada. .............................................................................................. 82
Figura 4.11 Valores experimentais em funo dos valores previstos pelo modelo para a
resposta de atividade enzimtica resultante da avaliao da influncia conjunta da
temperatura e pH na atividade de invertase imobilizada. .................................................. 87
Figura 4.12 Distribuio dos resduos em torno da reta que indica normalidade para a
resposta de atividade enzimtica resultante da avaliao da influncia conjunta da
temperatura e pH na atividade de invertase imobilizada. .................................................. 87
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vi
Figura 4.13 - Superfcie de resposta da influncia da temperatura e do pH na atividade
enzimtica de invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida do processo de ligao
cruzada. .............................................................................................................................. 88
Figura 4.14 Estabilidade de estocagem de invertase imobilizada. Estocagem a 4 2C em
tampo acetato 0,1 M, pH 4,9; testes em reator tipo cesta (batelada), meio reacional:
40C, soluo de sacarose 50 g/L (tampo acetato 0,1 M, pH 4,9). .................................. 90
Figura 4.15 Valores preditos em funo dos valores observados para valores de converso
de substrato resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de
residncia e temperatura no reator tipo leito fixo. ............................................................. 95
Figura 4.16 Distribuio dos resduos relativa para valores de converso de substrato
resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ................................................................................. 96
Figura 4.17 Superfcie de resposta da influncia da concentrao de sacarose e do tempo de
residncia na converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida
do processo de ligao cruzada. ......................................................................................... 97
Figura 4.18 Superfcie de resposta da influncia da concentrao de sacarose e da
temperatura na converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida do processo de ligao cruzada............................................................................. 97
Figura 4.19 Superfcie de resposta da influncia do tempo de residncia e da temperatura na
converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida do processo
de ligao cruzada. ............................................................................................................. 98
Figura 4.20 Valores preditos em funo dos valores observados para valores de converso
de substrato resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de
residncia e temperatura no reator tipo leito fixo. ........................................................... 102
Figura 4.21 Distribuio dos resduos relativa para valores de converso de substrato
resultantes da influncia conjunta da concentrao de sacarose, tempo de residncia e
temperatura no reator tipo leito fixo. ............................................................................... 103
Figura 4.22 Superfcie de resposta da influncia da concentrao de sacarose e do tempo de
residncia na converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida
do processo de ligao cruzada. ....................................................................................... 103
Figura 4.23 Superfcie de resposta da influncia da concentrao de sacarose e da
temperatura na converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568
seguida do processo de ligao cruzada........................................................................... 104
-
vii
Figura 4.24 Superfcie de resposta da influncia do tempo de residncia e da temperatura na
converso de substrato por invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida do processo
de ligao cruzada. ........................................................................................................... 105
Figura 4.25 Estabilidade operacional da invertase imobilizada na hidrlise de sacarose em
reator de leito fixo em regime contnuo. Condies experimentais: soluo de sacarose
700 g/L (tampo acetato pH 5), tempo de residncia igual a 95,3 min e temperatura igual
a 38C. ............................................................................................................................. 106
-
viii
LISTA DE SMBOLOS
Beta - formas anomricas da enzima -galactosidase
Alfa - formas anomricas da enzima -galactosidase
1 Relao entre a atividade da enzima no estado E1 e a atividade da enzima
nativa E0
2 Relao entre a atividade da enzima no estado E2 e a atividade da enzima
nativa E0
E1 Atividade da enzima no estado E1
E2 Atividade da enzima no estado E2 k1 Coeficiente de velocidade de desativao de primeira ordem do estado E0
para E1
k2 Coeficiente de velocidade de desativao de primeira ordem do estado E0
para E2
t1/2 Tempo de meia-vida (min)
kd Constante cintica desativao trmica
A Fator de freqncia para a reao
Ea Energia de ativao do processo de ativao trmica da enzima (kJ/mol)
R Constante da lei dos gases
T Temperatura absoluta
A/A0 Atividade relativa da enzima
U Atividade de invertase solvel - grama de acar redutor produzido por
litro, por minuto, por grama de invertase em p comercial
US Atividade de invertase imobilizada - grama de acar redutor por litro,
minuto, grama de suporte
a Fator de freqncia para a reao
Ed Energia de ativao do processo de desativao trmica da enzima
R2 Coeficiente de correlao
t t de student
Nvel de significncia
(V-Vmodelo
)2
Somatria dos quadrados dos desvios
Alfa de ortogonalidade
X1 Varivel estudada 1
X2 Varivel estudada 2
Xn Valor da varivel no experimento na forma codificada
X0 Valor real da varivel no ponto central
X+1 Valor real da varivel no nvel superior
X-1 Valor real da varivel no nvel inferior
Fcalc Valor calculado do teste F para um conjunto de pontos experimentais
FT Valor tabelado do teste F de estatstica para hipteses
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ix
RESUMO
Neste trabalho estudou-se a hidrlise de sacarose por invertase de Saccharomyces cerevisiae
imobilizada por adsoro inica em resina de troca inica Doulite A-568 seguida pelo
processo de ligao cruzada com uso de glutaraldedo. Esta combinao de processos de
imobilizao levou a um aumento da atividade e estabilidade da enzima invertase. O intervalo
de estabilidade da invertase imobilizada em relao ao pH foi entre 3 e 6, em tampo acetato
10-1
M. Foi verificada uma forte dependncia da estabilidade do biocatalisador imobilizada em
relao temperatura. A estabilidade trmica da enzima foi estudada na faixa de 51 a 631C.
O modelo de desativao trmica de primeira ordem descreveu de forma significativa a
cintica de desativao trmica da enzima imobilizada em todas as temperaturas estudadas.O
valor da energia de ativao de desativao trmica de invertase de Saccharomyces cerevisiae
imobilizada foi 373,73 kJ/mol ou 89,32 kcal/mol, utilizando uma concentrao inicial de
sacarose de 50 g/L em soluo tampo acetato pH 4,9, com tempo de meia vida igual a 8,08
horas para a temperatura de 511C. Ao otimizar o processo de ligao cruzada atravs de um
Planejamento Composto Central (PCC), a concentrao de glutaraldedo e tempo de
reticulao que maximizaram a atividade enzimtica, foram respectivamente, 0,6 g/L e 6
horas. A temperatura e pH em que a invertase imobilizada em Duolite A-568 seguida pelo
processo de ligao cruzada apresentou maior atividade foram respectivamente, 50C e pH
tampo acetato 4, valores obtidos atravs de um novo PCC. O biocatalisador imobilizado
manteve sua atividade aps 60 dias de armazenamento, em tampo acetato 10-1
M pH 4,9 a 4
2C, indicando a manuteno da estabilidade na estocagem. A influncia da concentrao de
sacarose, do tempo de residncia e da temperatura na converso da sacarose em reator de leito
fixo, operando em regime contnuo, com escoamento ascendente foi estudada empregando um
Planejamento Composto Central (PCC). A melhor condio para converso de sacarose foi:
concentrao de sacarose igual a 700 g/L, tempo de residncia de 95,3 minutos e temperatura
de 381C atingindo a converso de 98,7%. A enzima imobilizada, manteve sua atividade
durante 73,58 horas de operao em reator de leito fixo, com vazo de alimentao de soluo
de sacarose de 700 g/L, tempo de residncia de 95,3 min e temperatura de 381C.
Palavras-chave: invertase, hidrlise de sacarose, acar invertido, imobilizao, Duolite A-
568, reator de leito fixo.
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ABSTRACT
In this work was studied the sucroses hydrolysis by invertase of Saccharomyces cerevisiae
immobilized by adsorption and cross-linking with glutaraldehyde, using as carrier the ion
exchange resin Duolite A568. This combination of immobilization procedures has led to an
increase of activity and stability of the invertase.The influence of pH on the stability of
invertase with the cross-linking process was studied for the range of 3 to 7, and the biocatalyst
was stable in the range of 3 to 6. The thermal stability of enzyme was studied in the range of
51 to 63C. The thermal deactivation model of first order described significantly the kinetics
of thermal deactivation from immobilized enzyme at all temperatures studied. The activation
energy of thermal deactivation process from invertase immobilized was 373.73 kJ/mol or
89.32 kcal/mol with times of half life from 8.08 hours in 51 1C. The optimization of cross-
linking process was studied by a Central Composite Design (CCD), where the glutaraldehyde
concentration and time of cross-linking processes that maximized the enzyme activity were
respectively 0.6 g/L and 6 hours. The temperature and pH of maximum activity for the
immobilized enzyme were respectively 50 1C and 4. It was studied by a Central Composite
Design (CCD).The immobilized enzyme kept its activity after 60 days of storage, in acetate
buffer pH 4.9 in 4 2C. The influence of sucrose concentration, residence time and
temperature in the sucroses conversion in fixed bed reactor, operating in continuous duty,
with upflow was studied by a Central Composite Design (CCD). The best condition for the
sucroses conversion was: 700 g/L of sucrose concentration, 95.3 min of residence time and
temperature equal to 38 1C, reaching a conversion of 98.7%. The immobilized enzyme
kept its activity during 73.58 hours by operation in fixed bed reactor, 700 g/L of sucrose
concentration, 95.3 min of residence time and 38 1C.
Keywords: invertase, sucrose hydrolysis, invert sugar, immobilization, Duolite A-568, fixed
bed reactor.
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CAPTULO 1
INTRODUO
O acar invertido uma soluo mais densa comparada sacarose, capaz de
minimizar a cristalizao e o crescimento de micro-organismos. Corresponde a uma mistura
de acares em soluo, constituda principalmente de glicose, frutose e sacarose residual,
sendo 20% mais doce que a sacarose alm de diminuir a temperatura de congelamento devido
a sua afinidade com gua. A hidrlise da sacarose, cujo produto o acar invertido, pode ser
catalisada por enzimas, por cidos ou por resinas trocadoras de ctions (CADENA et al.,
2010). A obteno de acar invertido por via enzimtica apresenta como vantagem a
obteno de um produto de maior qualidade quando comparado ao obtido por hidrlise cida
(EMREGUL, SUNGUR e AKBULUT, 2006).
A invertase ou -D-frutofuranosidase (E.C.3.2.1.26) catalisa a reao de hidrlise da
sacarose produzindo uma mistura equimolar de glicose e frutose. A enzima invertase pode ser
obtida de diferentes micro-organismos. A maioria das pesquisas referentes a esta enzima
estudam, principalmente, invertase extracelular. Saccharomyces cerevisiae uma fonte de
invertase bastante conhecida, contendo duas formas desta enzima. Uma delas intracelular e
pobre em carboidrato, a outra corresponde a invertase extracelular rica em carboidrato, sendo
esta ltima a mais utilizada em indstrias de bebidas e alimentos (KARKAS e ONAL, 2012).
O uso de catalisadores relativamente caros como enzimas, requer um efetivo
reaproveitamento capaz de tornar o processo economicamente vivel (FREITAS et al., 2011).
O uso de enzimas solveis como catalisadores em processos industriais limitado pelo seu
alto custo de produo e baixa estabilidade de estocagem. Assim o uso de enzimas em sua
forma livre torna sua recuperao e reuso ao final do processo invivel economicamente
(KOTWAL e SHANKAR, 2009). A utilizao de biocatalisadores em escala industrial pode
ser aumentada caso estes sejam imobilizados e mantenham-se ativos (VUJCIC et al., 2011).
O processo de imobilizao tem sido amplamente empregado para facilitar o uso de
biocatalisadores em processos industriais, em substituio a processos enzimticos com
tcnicas convencionais de imobilizao (CADENA et al., 2011). A imobilizao de enzimas
apresenta vantagens em relao as aplicaes comerciais, j que biocatalisadores imobilizados
so facilmente separados do produto ao final da reao, so facilmente reutilizados, podem ser
usados repetida e continuamente e apresentam um potencial aumento na estabilidade trmica
e em relao ao pH (ANSARI e HUSAIN, 2012). Enzimas imobilizadas apresentam um
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Captulo 1 Introduo 2
2
enorme potencial como catalisadores em processos qumicos ligados a indstria e a medicina.
Oferecem uma distinta vantagem sobre catalisadores clssicos devido a sua alta especificidade
e alta eficincia cataltica a baixas temperaturas (VUJCIC et al., 2011).
Diferentes mtodos de imobilizao tm sido estudados, sendo que escolha de um
processo de imobilizao para uma dada enzima depende de fatores essenciais do processo,
tais como os substratos utilizados, os tipos de reaes e as configuraes do reator, exigindo
um projeto adequado para atender s necessidades da reao (DALLA-VECCHIA et. al.,
2004). Adsoro fsica em suportes insolveis, encapsulamento, ligao cruzada com uso de
agentes bi ou multifuncionais, so alguns mtodos conhecidos de imobilizao de enzimas
(VUJCIC et al., 2011).
Diante do amplo uso da invertase em indstrias alimentcias, diversos estudos foram
feitos referentes sua imobilizao em diferentes suportes, objetivando analisar sua
estabilidade enzimtica e seu potencial de reuso. Um dos principais fatores a seleo de um
suporte adequado para fixao da enzima. Assim o mtodo escolhido deve atender a duas
necessidades, a cataltica, expressa em produtividade, rendimento, estabilidade e seletividade
e a no-cataltica, relativa ao controle do processo (AZODI, FALAMAKI e MOHSENIFAR,
2011).
A imobilizao por adsoro inica envolve a exposio da soluo enzimtica ao
suporte sob condies apropriadas, como, pH da soluo, tipo de solvente, fora inica da
soluo, concentrao enzimtica, temperatura e tempo de contato. A fraca interao entre
enzima e suporte durante o processo de adsoro resulta no desprendimento da enzima,
enquanto fortes interaes podem causar alteraes conformacionais na enzima adsorvida
(RAJ et al., 2012).
A ativao do suporte com o uso do glutaraldedo uma das tcnicas de imobilizao
de enzimas mais populares. A metodologia bastante simples e eficiente, capaz de aumentar a
estabilidade atravs da formao de ligaes multipontuais. O agente glutaraldedo tem sido
bastante usado para introduzir ligaes cruzadas intermoleculares em protenas ou modificar
protenas adsorvidas em suportes contendo grupos aminos (MATEO et al., 2007).
A combinao de mtodos de imobilizao de enzimas como, por exemplo, a ligao
inica seguida de ligao cruzada entre as molculas da enzima com glutaraldedo, realizada
para melhorar a estabilidade da protena imobilizada e para obter enzimas imobilizadas com
maior atividade (MATEO et al., 2000a).
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Captulo 1 Introduo 3
3
Logo, baseando-se nas consideraes expostas, o objetivo geral desse trabalho foi
estudar o processo de hidrlise de sacarose por invertase imobilizada em Duolite A-568 por
adsoro inica e ligao cruzada.
Como objetivos especficos dessa dissertao podem ser citados:
- Avaliar a estabilidade da enzima imobilizada em relao a temperatura e ao pH em
funo do tempo;
- Estudar a influncia da concentrao de glutaraldedo e do tempo de reticulao no
processo de ligao cruzada em funo da atividade enzimtica;
- Analisar a influncia conjunta da temperatura e pH na atividade do biocatalisador
imobilizado;
- Avaliar a estabilidade a estocagem de invertase imobilizada;
- Avaliar a converso de sacarose em acar invertido utilizando invertase imobilizada
em reator de leito fixo;
- Avaliar a estabilidade operacional em processo contnuo, empregando reator de leito
fixo, da enzima imobilizada na converso de sacarose.
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CAPTULO 2
REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Enzimas
2.1.1 Enzimas como Biocatalisadores
As enzimas, importantes componentes do metabolismo de todos os seres vivos, tm a
capacidade de promover e acelerar reaes qumicas. Essas protenas especiais so teis
inclusive na indstria, no apenas na rea de alimentos, mas em muitos outros setores
(MUSSATO, FERNANDES e MILAGRES, 2009).
Na indstria para a obteno de produtos e intermedirios de interesse comercial, so
empregados catalisadores qumicos que so poucos versteis, exigem altas temperaturas para
que a reao atinja razovel velocidade e possuem baixa especificidade, oferecendo assim
produtos de composio qumica mista que requerem uma etapa posterior de purificao. As
principais vantagens do uso de enzimas como catalisadores nestas reaes so a reduo do
custo final do processo devido ao consumo menor de energia, reduo na formao de
subprodutos indesejveis (elevada especificidade que resulta em maior rendimento do
processo), obteno de produtos biodegradveis e reduo da quantidade de resduos
(KRAJEWSKA, 2004).
Neste contexto, o enfoque biotecnolgico vem se apresentando como uma opo
interessante para a explorao de enzimas em diversos tipos de reaes. As enzimas utilizadas
nos setores industriais so na sua grande maioria produzidas por micro-organismos. A
tecnologia enzimtica apareceu na rea de investigao durante a dcada de 1960, com a
imobilizao de enzimas para utilizao em processos qumicos (KRAJEWSKA, 2004).
Desde ento, os processos enzimticos tem sido aplicados em diversos setores, incluindo
construo de biosensores, terapia enzimtica, sntese enzimtica de compostos bioativos,
obteno de novos biopolmeros, processos em indstrias tradicionais como curtumes, papel e
celulose, txtil, cosmticos entre outras aplicaes.
Todas as enzimas so protenas com exceo de um pequeno grupo de molculas
catalticas de RNA (ribozimas) (GALVO, 2004). Existem inmeras diferenas entre
catalisadores qumicos e enzimas (Tabela 2.1). A utilizao das enzimas na indstria
vantajosa, j que so naturais, no txicas e especficas para determinadas aes. Alm disso,
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 4
4
so capazes de alterar as caractersticas de variados tipos de resduos, contribuindo para
reduzir a poluio ambiental.
Tabela 2.1 - Comparao entre as caractersticas das enzimas e dos catalisadores qumicos.
Caracterstica Enzimas Catalisadores qumicos
Especificidade ao substrato Alta Baixa
Natureza da estrutura Complexa Simples
Sensibilidade
temperatura Alta Baixa
Condies de reao Suaves Drstica (geralmente)
Custo de obteno Alto Moderado
Consumo de energia Baixo Alto
Formao de subprodutos Baixa Alta
Separao
catalisador/produto Difcil e cara* Simples
Atividade em temperatura
ambiente Alta Baixa
Presena de cofatores Sim No
Estabilidade Baixa* Alta
Energia de ativao Baixa Alta
Velocidade de Reao Alta Baixa
* enzimas solveis. Enzimas imobilizadas podem ser facilmente separadas e apresentam alta
estabilidade (ZANIN e MORAES, 2004).
Fonte: ZANIN e MORAES, 2004.
Para atuar corretamente, as enzimas precisam de condies especficas, pois so
ativas apenas em uma faixa estreita de acidez-alcalinidade e so sensveis a mudanas nesse
fator e na temperatura do meio. Os micro-organismos so a principal fonte de enzimas de
aplicao industrial, mas diversas podem ser obtidas de animais (pancreatina, tripsina,
quimotripsina, pepsina, renina e outras) ou vegetais (papana, bromelina e outras). Hoje,
porm, como possvel modificar geneticamente os micro-organismos para que fornea
qualquer enzima, a tendncia substituir as produzidas por vegetais e animais pelas de origem
microbiana.
Segundo Mariotto (2006), as principais caractersticas das enzimas so:
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 5
5
- Produtos naturais biolgicos;
- Apresentam alto grau de especificidade;
- Reaes com enzimas so baratas e seguras;
- Apresentam mecanismo de turnover, desempenham a mesma funo
consecutivamente, sem serem consumidas no processo;
- So altamente eficientes, acelerando a velocidade das reaes de 108 a 1011
vezes;
- So econmicas, reduzindo a energia de ativao necessria reao;
- No so txicas.
As enzimas apresentam essencialmente trs propriedades principais: estabilidade,
atividade e especificidade (BAILEY e OLLIS, 1986; GALVO, 2004):
Estabilidade: a capacidade de uma enzima depende de sua estrutura nativa, a qual
mantida por meio de foras de interao (pontes de hidrognio e ligaes de sulfeto, foras de
Van der Waals, interaes apolares e inicas). Alteraes no ambiente reacional podem
debilitar essas interaes, alterando a estrutura tridimensional nativa e ocasionando perda
parcial ou total da sua funcionabilidade biolgica. Assim a estabilidade pode ser afetada por
variao de temperatura, pH e presena de solventes polares.
Atividade: esta propriedade de uma enzima atuar na diminuio da energia de
ativao requerida para transformar um substrato em produto, aumentando a velocidade de
reao. A capacidade cataltica da enzima reside no seu stio ativo e este compreende um
nmero pequeno de aminocidos. O stio ativo uma estrutura complexa cuja configurao
permite alojar a molcula de substrato na posio correta para que os grupos funcionais da
enzima efetuem sua transformao qumica.
Especificidade: a especificidade define a afinidade de uma enzima por grupos
especficos em um determinado substrato. Esta uma propriedade imprescindvel das enzimas
enquanto catalisadores. Duas caractersticas estruturais so determinantes na especificidade da
enzima: o substrato possui ligaes qumicas que podem ser atacadas pelos grupos funcionais
do stio ativo da enzima e o substrato possui grupos funcionais que se unem enzima,
permitindo seu correto alinhamento no stio ativo para que a reao possa ocorrer.
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 6
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A Comisso de Enzimas (CE) da Unio Internacional de Bioqumica (IUB) coloca
todas as enzimas em seis grandes classes (Tabela 2.2), cada uma delas comportando
subclasses conforme o tipo de reao catalisada.
Tabela 2.2 - Principais classes de enzimas
Classe da enzima Tipo de reao catalisada Atuao
Oxidorredutases
Reaes de oxidao-
reduo ou transferncia de
eltrons
CH-OH
C=O
C=O-
CH-NH2
CH-NH-
NADH, NADPH
Transferases Transferem grupos
funcionais entre molculas
Grupos com um carbono
Grupos aldedo ou cetona
Grupos acil
Grupos glicosil
Grupos fosfatos
Grupos contendo enxofre
Hidrolases Reaes de hidrlise
steres
Ligaes glicosdicas
Ligaes peptdicas
Outras ligaes C-N
Anidridos cidos
Liases
Catalisam a quebra de
ligaes covalentes e a
remoo de molculas de
gua, amnia e gs
carbnico
=C=C=
=C=O
=C=N-
Isomerases
Transferncia de grupos
dentro da mesma molcula
para formar ismeros
racemases
Fonte: MARIOTTO, 2006.
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 7
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Em relao ao cataltica das enzimas o primeiro ponto a considerar a grande
diferena de tamanho entre a enzima e seus substratos. Segundo DALLA-VECCHIA et al.,
(2004), as enzimas esto sujeitas inativao por fatores qumicos, fsicos e biolgicos, seja
quando estocadas ou durante o uso. O investimento energtico para a sntese de uma molcula
protica justifica-se pela obteno de uma estrutura muito precisa, com reentrncias de forma
apropriada e com grupos qumicos localizados em posies exatas para servir catlise.
2.1.2 Invertase
Uma das enzimas com aplicabilidade industrial a -frutofuranosidase (E. C.
3.2.1.26). Tambm chamada invertase no s catalisa a hidrlise de sacarose formando uma
mistura de glicose e frutose, mas em algumas condies tambm capaz de catalisar a
transfrutosilao para produzir frutooligossacardeos (FOS) como a kestose (GF2), nistose
(GF3) e 1F frutofuranosilnistose (GF4) (NGUYEN et al., 2005). Ashokkumar, Kayalvizhi e
Gunasekaran, (2001), afirmam que a -frutofuranosidase (E.C.3.2.1.26) catalisa a hidrlise da
sacarose em quantidades equimolares de frutose e glicose, processo conhecido como inverso.
Invertase um biocatalisador potencialmente til na produo de xaropes com alto
teor de frutose e glicose a partir da sacarose como matria-prima (RUBIO, RUNCO e
NAVARRO, 2002). Tomatoni e Vitolo (2007) destacaram o uso da invertase na produo de
xarope de frutose usando invertase imobilizada em um biorreator de membrana. O xarope de
frutose empregado como adoante em indstrias alimentcias e farmacuticas e tambm
usado para obter frutose cristalina (ASHOKKUMAR, KAYALVIZHI e GUNASEKARAN,
2001). Merecem ser lembrados, tambm, outros usos da invertase, como, em produtos para
higiene bucal com o objetivo de evitar a formao das placas dentrios, na hidrlise da
rafinose, no preparo de meios de cultivo para a propagao de micro-organismos no
produtores de invertase e em biosensores (SAID e PIETRO, 2004).
A invertase encontrada em leveduras, sobretudo na espcie Saccharomyces
cerevisiae (sua principal fonte), invertebrados, vertebrados, algas verdes, bactrias, vegetais e
fungos. A principal fonte de invertase industrial so as leveduras, 80% das enzimas so
extracelulares e os 20% restantes so intracelulares. Algumas propriedades da invertase
extracelular e intracelular esto apresentadas na Tabela 2.3 (GSCON et al., 1981).
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 8
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Tabela 2.3 Algumas propriedades da invertase.
Propriedades Invertase extracelular Invertase intracelular
Massa molecular (kDa) 270 135
Carboidrato (%) 50 3
Atividade especfica (U/mg de protena) 2700 2900
Km [mM] (sacarose) 26 25
pH - estabilidade 3,0 7,5 6,0 9,0
pH timo - atividade 3,5 5,5 3,5 5,5
U = micromol sacarose hidrolisado por minuto.
Fonte: GSCON, NEUMANN e LAMPEN, 1981.
Invertase de levedura geralmente apresenta uma faixa de estabilidade ao pH que
varia de 3,5 a 5,5, podendo ser utilizadas a 65-70C se a soluo de sacarose for concentrada.
Invertase imobilizada pode ser utilizada para a inverso da sacarose em larga escala, com
rendimento de 80% quando uma soluo a 50% introduzida em um reator contendo 1L da
enzima imobilizada, com fluxo de 6 L/h, a 40C. (UHLIG, 1990).
Isoformas distintas da invertase existem no vacolo, citoplasma e apoplasma das
clulas de plantas. As isoformas cidas (pH timo entre 4,5 a 5,5) esto presentes no vacolo
e apoplasto, enquanto que as Isoformas de invertases neutras e alcalinas (pH timo 8,0) esto
localizadas no citoplasma (HAIDER e HUSAIN, 2008).
O mecanismo de ao da invertase no totalmente conhecido, mas estudos com a
enzima tm sugerido o envolvimento de um nion carboxilato e uma histidina residual na
atividade cataltica. Um mecanismo para a formao do complexo ativo invertase-sacarose foi
proposto por Laidler (1958) citado por Marquez (2007), o qual est representado na Figura
2.1. Pode-se observar a influncia do pH no mecanismo de ligao do stio ativo da invertase
com grupos cidos e bsicos.
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Figura 2.1 - Mecanismo para a formao do complexo ativo invertase-sacarose foi proposto
por Laidler (1958) citado por Marquez (2007).
Neste mecanismo mostrado na Figura 2.1 observa-se que as formas carregadas
eletricamente so ativas. Assim existe um pH no qual a concentrao da forma ativa
mxima, sendo este considerado como pH timo, acarretando a atividade mxima (CABRAL,
1989).
A invertase tem sido estudada principalmente em sua forma imobilizada, diante das
vantagens apresentadas pelo mtodo em relao a sua forma solvel. De acordo com BAGAL
et al.; (2006), a invertase imobilizada pode ser usada em biosensores de sacarose, muito
importante para indstrias de alimentos e bebidas. A adio de invertase ao suco de fruta
promove aumento de teores de glicose e frutose. A hidrlise da sacarose a 30 - 40C reduz
custos de produo quando se utiliza invertase imobilizada, devido reutilizao deste
biocatalisador e o uso de um processo contnuo (TOMATONI e VITOLO, 2007).
2.2 Acar Lquido
O acar lquido uma soluo de acar em gua, podendo ser constitudo apenas
por um acar ou uma mistura de dois ou mais acares. O acar lquido pode ser formado
por sacarose, glicose ou frutose, ou ainda uma mistura destes trs acares e finalmente por
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 10
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glicose enriquecida com frutose (DAVIS e PRINCE, 1955; MARIGNETTI e MANTOVANI,
1979/80).
O acar lquido de sacarose produzido a partir da dissoluo do acar refinado
granulado em gua at obter uma soluo de 67,5 Brix. Caso o acar usado no seja branco,
a soluo pode adquirir uma colorao amarelada obrigando a passagem do produto em
carvo vegetal (DAVIS e PRINCE, 1955; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80).
Os acares na forma lquida apresentam vantagens em relao ao acar a granel
como facilidade do manuseio e dosagem, espao reduzido para a armazenagem, reduo das
perdas, custos e mo de obra, melhora na sanitizao, alm das propriedades microbiolgicas
conhecidas e da grande variao possvel nas propores de diferentes misturas de acares.
As desvantagens deste produto so: a baixa solubilidade da sacarose, a susceptibilidade ao
ataque microbiano e a necessidade de equipamentos especiais para armazenagem e manuseio
(DAVIS e PRINCE, 1955; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80; BRUDER e MOROZ,
1981). Os acares lquidos tm aplicaes variadas. Sendo utilizados como matria-prima
em biscoitos, produtos assados e de confeitaria, enlatados, bebidas, como: aguardente,
refrigerantes, cervejas e sucos de frutas, laticnios, sorvetes, manteiga e indstria de frutas
geladas. A baixa viscosidade aliada s propriedades umectantes permite o emprego desta
matria-prima em gelias, bolos, produtos contendo gelatina e doces aerados. (DAVIS e
PRINCE, 1955; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80).
2.2.1 Acar Lquido Invertido
O desenvolvimento das indstrias de alimentos e bebidas, que so as principais
consumidoras do acar lquido invertido, impulsionou o interesse por este produto (JUNK,
NELSON e SHERRILL,1947; DAVIS e PRINCE, 1955). O acar lquido contendo uma
mistura em diferentes propores de frutose, glicose e sacarose, conhecido como invertido.
As misturas de acares presentes no xarope invertido deram ao produto caractersticas nicas
como: alta higroscopicidade, resistncia a cristalizao e doura que permitiram a longa vida
deste produto no mercado.
O acar invertido produzido pela hidrlise da molcula de sacarose em soluo. A
quebra da sacarose ocorre na ligao entre o ncleo de piranose e furanose, com a liberao
de uma molcula de glicose e uma de frutose (MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80). A
reao de hidrlise est representada na Figura 2.2.
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 11
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Figura 2.2 Reao de hidrlise de sacarose com formao de glicose e frutose. Fonte:
Adptado (PASCHOALIM, 1990).
A mistura de acares obtida aps a inverso denominada de acar lquido
invertido, pois ocorre uma inverso do poder ptico rotatrio da soluo. Um feixe de luz
polarizada ao atravessar uma soluo de sacarose pura desvia o feixe de luz para a direita,
aps a hidrlise a soluo equimolar de glicose e frutose obtida, passa a desviar o feixe de luz
para a esquerda.
A inverso da sacarose uma estratgia usada na fabricao de bombons com
recheio pastoso. Durante o processo de fabricao, o bombom recheado com uma pasta de
sacarose, gua e invertase. At a sua venda, ocorrer, no interior do bombom, a inverso da
sacarose com formao de uma mistura de glicose e frutose. Esses acares de seis carbonos
so mais solveis em gua do que o de doze carbonos e, ento, como conseqncia de sua
dissoluo na gua, existente na pasta, a mistura passa a ser mais doce e ter uma consistncia
lquida. A doura relativa da mistura de iguais propores dos dois monossacardeos, glicose
e frutose, maior do que a doura da sacarose sacarose (CHEMELLO, 2006).
2.2.2 Propriedades fsico-qumicas do acar lquido e acar lquido invertido
O xarope invertido com maior valor comercial aquele em que 55% da sacarose
convertida em glicose e frutose possibilitando trabalhar com 76,5% de slidos solveis, sem
riscos de cristalizao (RODRIGUES et al., 2000).
A solubilidade da sacarose a 20C 67,1%. Este valor estabelece a mxima
concentrao permitida para evitar a cristalizao durante a armazenagem e o transporte. Os
acares lquidos contendo glicose e frutose podem ser produzidos com alto contedo de
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 12
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slidos devido a alta solubilidade da frutose. A glicose apesar de ser o menos solvel dos
acares quando comparado com a sacarose e a frutose, pode permanecer em soluo por
longos perodos de tempo, mesmo em condies de saturao.
A viscosidade das solues de acares uma propriedade importante para a
indstria, pois est diretamente relacionada fluidez do xarope, determinando as condies de
estocagem, o projeto de equipamentos, de bombas e das tubulaes. O xarope contendo
acar invertido contm maior teor de slidos se comparado com o xarope contendo apenas
sacarose, portanto sua viscosidade maior. Porm, se comparados dois xaropes com a mesma
concentrao de slidos, o xarope de sacarose ter maior viscosidade j que constitudo por
molculas maiores que a glicose e a frutose (DAVIS e PRINCE, 1955).
O acar invertido extremamente higroscpico devido presena de frutose, sendo
capaz de absorver gua mesmo em umidades relativas inferiores a 60%. Esta propriedade
permite que o mesmo seja empregado em produtos alimentcios e no alimentcios, j que a
umidade do alimento pode ser regulada atravs da quantidade de acar invertido dosado
(DAVIS e PRINCE, 1955; MOROZ et al.,1973).
O ndice de qualidade do produto est diretamente relacionado com sua utilidade,
sendo a cor do acar um indicador deste. A cor muito forte uma caracterstica indesejada
no produto, sendo influenciada pela temperatura e tempo aplicados durante a inverso de
sacarose e o pH da soluo. Perodos de aquecimento longos durante o processo de inverso e
valores de pH neutros favorecem a formao de cor (DAVIS e PRINCE, 1955).
As solues contendo at 10% de sacarose so mais doces que o acar invertido,
enquanto que acima de 10% o xarope invertido mais doce (MOROZ et al., 1973). A doura
relativa de vrios componentes est representada na Tabela 2.4 a seguir:
Tabela 2.4 Doura relativa de diversos acares.
Acares Doura relativa
Frutose 1,1 a 1,8
Sacarose 1,0
Acar invertido 0,9
Glicose 0,7
Fonte: PASCHOALIM, 1990.
2.2.3 Aplicaes do acar lquido invertido
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O acar invertido lquido apresenta algumas caractersticas especficas como:
higroscopicidade, solubilidade, resistncia cristalizao, viscosidade, doura, atividade
redutora e estabilidade. A sacarose pode sofrer hidrlise aps a sua adio em bebidas ou
outros alimentos com carter cido, demonstrando assim a maior estabilidade deste xarope em
relao sacarose (MOROZ et al., 1973).
Na indstria de panificao o xarope invertido escolhido em relao sacarose
devido a sua habilidade em absorver a umidade, apesar de que a sacarose tambm pode ser
utilizada j que invertida durante a fermentao (DAVIS e PRINCE, 1955; MARIGNETTI
e MANTOVANI, 1979/80; GROVES, 1998).
A produo de cookies tambm utiliza o acar invertido, em que reduz a
cristalizao de sacarose, influencia positivamente no tempo de prateleira, na cor e na
diminuio de quebras do produto (MOROZ et al., 1973).
Outra aplicao do acar lquido invertido em produtos confeitados. Utiliza-se
entre 0 10% de acar invertido em balas, fondants e entre 15-25% em doce de leite,
caramelo, nougat, marshmallow e gelias a base de Agar. A adio de pequenas quantidades
de acar lquido invertido durante a fabricao de produtos assados, como bolos, melhora a
cremosidade dos acares e gorduras, assim como a rpida e uniforme distribuio dos
ingredientes. (MOROZ et al., 1973).
Se comparado o acar invertido com o acar cristal, o invertido apresenta diversos
benefcios, tais como (MARQUEZ, 2007):
- Melhoria do controle do processo de fabricao e da manuteno de condies
higinicas nas indstrias alimentcias;
- Alta pureza qumica evitando a gerao de precipitados indesejveis em funo
de elevados teores de ferro, cobre ou clcio;
- Alto controle microbiolgico, devido menor atividade de gua, dispensando a
necessidade de pasteurizao por parte do cliente;
- Menor espao necessrio para a estocagem;
- Economia de despesas operacionais para o tratamento de acar cristal, como
gastos com energia, gua e vapor;
- Elimina a necessidade de investimentos em equipamentos para a dissoluo e
filtrao do acar;
- Reduo das perdas, menor poluio e gastos com seu controle.
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Alm destes benefcios, em diversas aplicaes industriais o acar invertido
apresenta propriedades mais interessantes se comparado soluo de sacarose, tais como
(MARQUEZ, 2007):
- Apresenta maior higroscopicidade, retendo umidade mesmo em ambientes
muito secos;
- Maior solubilidade, atuando como inibidores de cristalizao e reduzindo
custos com frete;
- Reduz o ponto de congelamento, propriedade til em produtos que so
conservados em congeladores;
- Em produtos com baixo teor de gordura, sua utilizao evita que esses
comecem a quebrar e secar;
- Possui viscosidade baixa, conferindo plasticidade a sorvetes, cremes e
fondants;
2.2.4 Processos de Fabricao de Acar Lquido Invertido
A inverso da sacarose para produo do acar invertido pode ser realizada em
meio cido a quente, em resina de troca catinica fortemente cida ou por ao da enzima
invertase (MOROZ et al., 1973; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80). O processo
enzimtico pode ocorrer pela adio direta da enzima ou pela imobilizao da mesma em
suportes inertes (AKGOL et al., 2001; RODRIGUES, 2000). A inverso pode ser realizada
diretamente em uma soluo de sacarose ou em alimentos contendo este acar
(RODRIGUES et al., 2000).
Algumas matrias primas podem ser utilizadas na fabricao de acar invertido
como, por exemplo, o melado de cana e beterraba, tmaras, uvas e xarope de milho por
isomerizao enzimtica (MOROZ et al., 1973; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80).
Desde 1951, em que se iniciou a produo de acar invertido na Irlanda, novas tcnicas de
fabricao do acar lquido invertido tm sido descritas na literatura. Algumas delas so
apresentadas a seguir.
2.2.4.1 Inverso cida
A inverso cida o mtodo mais antigo e mais econmico para produzir acar
invertido a partir da sacarose, em que o cido age como um catalisador da reao.
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A concentrao dos reagentes e do cido, a temperatura e o tempo de reao so as
principais variveis que controlam a inverso qumica. A inverso cida pode gerar um
produto altamente colorido, em que o aumento da temperatura e reduo do pH causam um
aumento da velocidade de inverso (RODRIGUES et al., 2000). Este tipo de inverso resulta
em um produto de qualidade inferior, alm do inconveniente de utilizar altas temperaturas e
agentes corrosivos que comprometem a segurana dos operrios e a manuteno dos
equipamentos (AKGOL et al., 2001). Existe ainda a necessidade da neutralizao final do
produto e a gerao de subprodutos, como furfurais e outros aromticos indesejveis, alm de
oligossacardeos por reao de polimerizao (VICENTE, 2000). Geralmente o problema de
neutralizao resolvido adicionando cal ao xarope, o que provoca incrustaes nos
equipamentos, alm de ocasionar perda de aucares no armazenamento devido presena de
sais insolveis de clcio.
2.2.4.2 Inverso com Resinas Catinicas
A inverso com resinas de troca inica outra tcnica para a produo do acar
invertido. Segundo VICENTE (2000), este mtodo foi desenvolvido e patenteado por
HUGHES em 1952, para a produo contnua de xaropes de acar invertido. A operao
contnua e o xarope de sacarose passa atravs de uma coluna vertical contendo ons
hidrognio necessrios para a inverso. O meio cido promovido pela resina catinica pode
causar degradao do acar resultando em hidroximetilfurfural com a subseqente formao
de cor no xarope (RODRIGUES et al., 2000). O grau de inverso depende do tempo de
contato, temperatura, concentrao de ons hidrognio na resina, grau de reticulao e
porosidade da resina (MOROZ et al., 1973). A eficincia da inverso da sacarose reduz com a
exausto da resina, que pode ser regenerada com cido sulfrico ou clordrico (MOROZ et al.,
1973; BRUDER e MOROZ, 1981, PASCHOALIM, 1990).
A mudana de cor durante o processo de inverso, em meio cido ou com resina
catinica, pode ser reduzida mantendo o pH e a temperatura baixos. O teor de cinzas do
acar invertido funo da qualidade do acar e da gua utilizados (MARIGNETTI e
MANTOVANI, 1979/80).
2.2.4.3 Inverso por Via Enzimtica
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A produo do acar lquido invertido pode ser realizada ainda atravs de um
terceiro processo, a hidrlise enzimtica. A hidrlise catalisada pela enzima invertase produz
um xarope de alta qualidade com baixas concentraes de hidroximetilfurfural e sem
desenvolvimento de cor. Os mtodos enzimticos empregam as enzimas livres ou
imobilizadas. (CHEN et al., 2000; ALMEIDA et al., 2005).
Este processo utilizado quando se deseja produzir pequenas quantidades de xarope
e um produto com caractersticas especiais de aroma e cor, os quais poderiam ser prejudicados
pela hidrlise cida (MOROZ et al., 1973; PASCHOALIM, 1990). O processo de inverso
enzimtica apresenta vantagens em relao ao mtodo cido. Na inverso enzimtica no
ocorre alterao na cor do produto ou no flavor do xarope, menos corrosivo aos
equipamentos da planta e por ser um mtodo mais brando no decompe os carboidratos e
no h a formao de compostos indesejveis, como o furfural. O produto apresenta baixo
teor de cinzas, pois no ocorre a utilizao de cido para a inverso, nem de base para a
neutralizao (MOROZ et al., 1973; MARIGNETTI e MANTOVANI, 1979/80; GROVES,
1998; RODRIGUES et al., 2000).
2.3 Enzimas Imobilizadas
Biocatalisadores, enzimas ou clulas, tm sido amplamente utilizadas em diversos
processos, seja em escala laboratorial ou industrial. H muitos anos, esforos intensivos tm
sido empreendidos no somente no desenvolvimento de biocatalisadores com propriedades
superiores, mas tambm na elucidao de tcnicas que permitam o seu uso repetido ou em
processos contnuos. Apesar destes esforos intensivos, amplamente documentados na forma
de publicaes tcnicas e registros de patentes, poucos processos baseados em tcnicas de
imobilizao, seja de enzimas ou de clulas, foram implementados em escala industrial
(CANILHA, CARVALHO e SILVA, 2006).
De acordo com a 1 Conferncia em Engenharia de Enzimas (Henniker, Estados
Unidos, 1971), biocatalisadores imobilizados, enzimas ou clulas, so catalisadores
fisicamente confinados ou localizados em uma regio definida do espao, com reteno de
suas atividades catalticas, e que podem ser utilizados repetida ou continuamente
(KATCHALSKI-KATZIR e KRAEMER, 2000).
A imobilizao um processo que pode ser definido como o movimento no
independente das clulas ou enzimas na parte aquosa do sistema, por estarem alojadas dentro
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ou na superfcie do agente imobilizador (TAMPIOM e TAMPIOM, 1988). A imobilizao
pode ser definida tambm como a fixao de enzimas ou clulas vivas em um ambiente, de
maneira que sua atividade cataltica no seja afetada negativamente (CANTARELLI, 1989).
O uso em processo contnuo, o aumento da estabilidade e o reaproveitamento do
biocatalisador so as principais vantagens propiciadas pela imobilizao (CARVALHO,
CANILHA e SILVA, 2006).
A dificuldade em se recuperar a enzima do meio reacional ao final da catlise, aliada
instabilidade e frequente inadequabilidade para uso em determinados solventes e/ou
condies de pH, temperatura e exposio a agentes desnaturantes, podem ser superadas por
meio da imobilizao. A enzima imobilizada pode ser reutilizada e normalmente mais
estvel em relao enzima livre, com a vantagem adicional de possibilitar a utilizao de
processo contnuo (CANILHA, CARVALHO e SILVA, 2006).
As enzimas imobilizadas possuem vrias vantagens sobre as enzimas livres
(BERGAMASCO et al., 2000; AKGOL et al., 2001; GRSEL et al., 2003; GMEZ et al.,
2005; SZYMANSKA et al., 2007), tais como:
- Processos com enzimas imobilizadas podem ser conduzidos preferencialmente
de modo contnuo, usando leitos fixos ou fluidizados, por serem facilmente controlados;
- Reutilizao sem um significativo decrscimo da atividade;
- possvel usar alta dosagem de enzima por volume de reator, comparada ao
uso de enzimas livres;
- Os produtos so facilmente separados do meio reacional;
- Em alguns casos a estabilidade e a atividade so aumentadas pela imobilizao;
- Esta tcnica permite a reduo do capital operacional j que a vida til de uma
enzima imobilizada suficientemente longa.
As principais desvantagens da imobilizao so: a possvel perda da atividade
enzimtica durante o processo de imobilizao e os efeitos difusionais devido ao transporte do
substrato e do produto ao stio ativo da enzima imobilizada (RIBEIRO, 1989;
BAYRAMOGLU et al., 2003).
O primeiro trabalho sobre imobilizao de enzimas data do incio do sculo XX,
quando Nelson e Griffin (1916) adsorveram invertase em carvo ativado e alumina, com
reteno de atividade na inverso de sacarose.
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2.3.1 Mtodos de Imobilizao de Enzimas
O mtodo e o tipo de suporte a serem empregados em um determinado processo de
imobilizao devem ser estabelecidos empiricamente, recaindo a escolha do binmio suporte-
mtodo sobre aquele que apresentar maior reteno de atividade. A escolha do mtodo de
imobilizao e do tipo de suporte depender basicamente de dois fatores. Primeiramente, das
caractersticas peculiares do material biolgico, e em seguida das condies de uso do sistema
imobilizado. Diante da variabilidade destes fatores, pode-se afirmar que no existe um
mtodo geral de imobilizao e nem um suporte universal, adequados para qualquer processo
(CORCORAN, 1985; VITOLO, 2001).
De acordo com Brena e Batista-Vieira (2006), o histrico do desenvolvimento dos
procedimentos de imobilizao pode ser dividido em trs fases: a) 1815: uso emprico para
produo de cido actico e tratamento de guas residuais; b) 1960: produo de L-
aminocidos e isomerizao da glicose atravs de imobilizao de uma enzima; c) 1985-1995:
imobilizao de mltiplas enzimas, incluindo cofatores regeneradores e imobilizao de
clulas para a produo de L-aminocidos a partir de ceto-cidos em reatores de membrana.
Mas ainda na dcada de 1970, a enzima penicilina-G-acilase passou a ser imobilizada e
utilizada na produo de cido amino-penicilnico (6-APA), que precursor de penicilinas
semi-sintticas. Isso aconteceu na Inglaterra e, ao mesmo tempo nos Estados Unidos, quando
teve incio a produo de xarope de alto teor de frutose a partir da isomerizao de glicose
com a enzima glicose ismeras imobilizada. Estes processos esto plenamente ativos e
comprovam a eficincia da utilizao de enzimas imobilizadas (UHLIG, 1998).
A imobilizao pode afetar a estabilidade, o pH, a temperatura tima, as constantes
cinticas e a mxima velocidade de reao da enzima (DANISMAN et al., 2004; ERGINER
et al., 2000). A imobilizao pode oferecer uma estabilidade adicional para uma variedade de
enzimas sendo que essa influenciada pelo nmero de laos formados entre a enzima e o
suporte, a natureza dos laos (covalentes, no-covalentes), o grau de aprisionamento das
molculas de enzima na matriz e as condies de imobilizao (DANISMAN et al., 2004;
CAO, 2005).
Vrias tcnicas podem ser aplicadas para imobilizar ou confinar as enzimas em
suportes slidos, estando baseadas em mecanismos fsicos e qumicos. Entre os mtodos de
imobilizao esto: reteno fsica, que consiste no aprisionamento das molculas da enzima
em matriz polimrica, microcpsula ou membrana; a imobilizao por ligao da enzima a um
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material insolvel, e pelo uso de um reagente multifuncional por ligaes cruzadas (HAIDER
e HUSAIN, 2008), conforme pode ser verificado na Figura 2.4.
Figura 2.4 Mtodos para imobilizao de enzimas (FISCHER , 2010).
2.3.1.1 Tipos de Imobilizao
2.3.1.1.1 Imobilizao por reteno fsica
O aprisionamento consiste em separar o biocatalisador do meio reacional por meio
de um envoltrio semipermevel. O material da pelcula envolvente deve possuir porosidade
adequada para reter o biocatalisador e, ao mesmo tempo, deixar a passagem livre para
molculas de baixa massa molar. A imobilizao por aprisionamento tem como vantagens
principais: o mesmo processo pode ser usado para imobilizar enzimas, clulas ou organelas;
facilidade de preparao da membrana envolvente semipermevel; a disponibilidade no
mercado dos materiais para confeccionar o suporte; o biocatalisador uma vez envolto pela
membrana fica protegido do ataque de hidrolases (sobretudo de proteases) e/ou de inibidores
de alta massa molar; o procedimento de imobilizao no afeta seriamente a estrutura
macromolecular do biocatalisador. Entretanto, apresenta como principais desvantagens a no
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recuperabilidade do suporte e de no poder ser usado para aprisionar enzimas que atuam sobre
substratos de alta massa molar. Esse mtodo inclui encapsulao (em gel e em fibras) e a
microencapsulao (ROSEVEAR, KENNEDY e CABRAL, 1987).
A encapsulao consiste na reteno fsica da enzima nas cavidades internas de uma
matriz slida porosa constituda geralmente por polmeros entrecruzados como
poliacrilamida, gelatina, alginato, carragenana, resinas de poliuretano e silanos. As principais
vantagens da encapsulao de enzimas referem-se grande rea superficial para contato do
substrato e da enzima no interior de um volume relativamente pequeno, e possibilidade de
imobilizao simultnea de diferentes enzimas em uma nica etapa. Como principais
desvantagens, tm-se: a restrio de que os biocatalisadores podem ser aplicados somente
com substratos de baixa massa molecular; a possvel inativao da enzima durante o
procedimento de imobilizao; a alta concentrao de enzima necessria para garantir a
encapsulao e, os possveis efeitos de difuso de substratos e/ou produtos no interior da
matriz porosa (HANEFELD, GARDOSSI e MAGNER, 2009; LOPEZ-GALLEGO et al.,
2005; VILLENEUVE et al., 2000).
Uma tcnica de imobilizao denominada microencapsulao consiste em aprisionar
a enzima em membranas polimricas semipermeveis, com grande superfcie de contato.
um sistema limitado para substrato com baixa massa molecular, pois este precisa atravessar a
membrana para ter acesso enzima. H uma grande vantagem na utilizao desta tcnica; a
enzima no interage quimicamente com o polmero evitando, assim, a desnaturao. Contudo,
h a possibilidade de haver incorporao da enzima na parede da membrana (DALLA-
VECCHIA et al., 2004; MARIOTTI, 2000).
2.3.1.1.2 Ligao a Suportes Insolveis
Pode ser dividido em cinco categorias de acordo com o tipo de interao enzima-
suporte (adsoro fsica, ligao inica, ligao metlica, ligao covalente e ligaes
cruzadas e co-cruzadas).
O mtodo de ligao a suportes insolveis pode ser dividido em adsoro fsica,
ligao metlica, ligao covalente e ligao inica:
- Adsoro fsica: o mtodo mais simples e o mais empregado para imobilizao
de enzimas. As principais vantagens deste processo de imobilizao so a facilidade e a
simplicidade do processo e, alm disso, a estrutura conformacional da enzima pouco
alterada. A adsoro da enzima dependente do pH, da natureza do solvente, fora inica,
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concentrao de enzimas e temperatura. O controle dessas variveis requerido para a
adsoro otimizada e reteno da atividade, devido ligao fraca entre suporte e enzima.
Embora este tipo de imobilizao seja fcil de executar, os mecanismos envolvidos
na unio suporte/enzima so complexos, pois envolvem vrios tipos de ligaes no
covalentes atuando simultaneamente, a saber, pontes de hidrognio, foras de Van der Waals,
interaes dipolo-dipolo, foras eletrostticas e foras hidrofbicas. Todas estas ligaes so
rompidas com facilidade atravs da variao do pH, da fora inica, temperatura e da natureza
do solvente. A fraqueza da interao suporte/enzima o fator responsvel pela fragilidade
apresentada por este tipo de sistema imobilizado. Para que o mesmo seja estvel
indispensvel que as condies de adsoro da enzima ao suporte sejam idnticas s do
sistema reacional no qual se utilizar o sistema imobilizado. Caso a interao suporte/enzima
seja de natureza essencialmente inica, uma ligeira mudana do pH ou da fora inica do
meio de reao ser suficiente para causar a dessoro da protena (DALLA-VECCHIA et
al., 2004; JEGANNATHAN et al., 2008).
No trabalho de DSouza e Godbole (2002) a invertase foi imobilizada em casca de
arroz por adsoro seguida de ligao cruzada utilizando 2% de glutaraldedo. Como a casca
de arroz possui slica obteve timas caractersticas de estabilidade. Oosterom et al., (1998)
tambm utilizou a adsoro seguida da ligao cruzada para imobilizar a enzima -
galactosidase em uma resina de troca inica tipo Duolite S-761 para utilizar na sntese de
galactosdios.
- Ligao metlica: Neste mtodo usa-se um metal de transio como ativador da
superfcie do suporte, permitindo o acoplamento direto da enzima. Tambm um mtodo de
simples preparao e fora de ligao intermediria. Mantm a atividade da enzima, porm a
estabilidade operacional obtida, quando se trabalha com substratos de alta massa molecular,
baixa, devido aos metais envolvidos (ZANIN e MORAES, 2004).
- Ligao covalente: A imobilizao por ligao covalente baseia-se na ativao de
suportes com a insero de grupos reativos que reagem com os grupos nucleoflicos da
enzima. Esta tcnica no comum como o mtodo de adsoro fsica, mas apresenta a
vantagem de evitar o fenmeno de dessoro. A seleo das condies para a imobilizao
por ligao covalente mais difcil que em outros mtodos de ligao em suportes.
necessrio conhecer a densidade dos grupos ativos por unidade de rea do suporte e a sua
geometria para reduzir a formao do complexo enzima-suporte inativo. Este mtodo pode
tambm afetar a estrutura ativa da enzima, devido alterao do centro ativo. Suas principais
vantagens so a maior resistncia do biocatalisador quanto variao de pH, temperatura e
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influncia de solventes orgnicos; os derivados preparados podem ser empregados em
diversas conformaes de reatores, como fluxo contnuo, empacotado, tanque agitado e leito
fluidizado e, a carga de enzima permanece constante aps a etapa de imobilizao
(JEGANNATHAN et al., 2008; MATEO et al., 2007; FREITAS et al., 2011 ).
Amaya-Delgado, Hidalgo-Lara e Montes-Horcasistas, (2005) imobilizaram invertase
covalentemente em nylon-6, a qual foi estvel em uma ampla faixa de pH e temperatura
similar a da enzima livre e Coutinho Filho, Ribeiro e Maugeri Filho, (2005) imobilizaram
invertase em slica de porosidade controlada, a qual mostrou ser um excelente suporte para
imobilizao desta enzima.
-Ligao inica: O princpio envolvido no mtodo de imobilizao por ligao
inica baseia-se na atrao da enzima pelo suporte slido, que contm resduos para troca
inica. A principal diferena entre a adsoro fsica e a ligao inica a energia envolvida
entre a enzima e o suporte, pois as ligaes inicas so mais fortes do que as foras de Van
der Waals ou ligaes de hidrognio, porm mais fracas do que a ligao covalente
(FERNANDES et al., 2006).
O procedimento deste mtodo feito da mesma forma que no processo de adsoro
fsica. Como desvantagem, neste mtodo tambm pode haver a liberao da enzima pelo
suporte, por variaes de pH e fora inica do meio, visto que para este mtodo h total
dependncia destes. As vantagens so: possibilidade de reutilizao do suporte, baixo custo,
simplicidade do mtodo, disponibilidade de suportes, pouca mudana conformacional na
enzima, devido ao carter inico d