hidroelectricidade em portugal - memória e desafio
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História da Energia Hídrica em PortugalTRANSCRIPT
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memria e desafio
Hidroelectricidadeem Portugal
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Hidroelectricidadeem Portugal
memria e desafio
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ndice
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56
Nota de Apresentao
Introduo
Parte 1
Captulo I
O passado
Captulo II
O presente
Captulo III
O futuro
Parte 2
Captulo IV
Qual o melhor programa
de desenvolvimento do subsistema
hidroelctrico?
Captulo V
A revalorizao dos aproveitamentos
hidroelctricos
Captulo VI
Uma viso sobre o Douro Que
futuro?... O confrangedor presente?
Bibliografia
Anexo
Tentativa de estabelecimento do
melhor programa hidroelctrico
a mdio e longo prazo
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 5
Nota de apresentao
A obra Hidroelectricidade em Portugal Memria e Desafio que a REN, S.A.
apresenta considerao pblica vale por si e pelos autores.
Tem havido, nos ltimos anos, a preocupao de tornar conhecidas
as barragens que so a parte de paisagem mais visvel do aproveitamento
energtico dos recursos hdricos.
Faltava olhar a parte menos visvel do trabalho de recolha de informao
e de conhecimento do perfil dos rios de Portugal que conduz formulao duma
proposta de equipamento tcnico dum stio, para produzir energia elctrica.
H sempre um outro lado para tudo e o trabalho no foge a essa regra. Os autores,
Engenheiros Carlos Madureira e Victor Baptista, tm as suas carreiras feitas em
contacto com essa realidade.
Porque a REN tem a responsabilidade de manter actualizada uma carteira de stios
para produo de energia, no mbito do Sistema Elctrico de Servio Pblico, SEP,
e porque herdeira de boa parte do acervo de conhecimento da complexa
engenharia dos recursos hdricos, justifica-se partilhar, com a comunidade
interessada, este conhecimento. dele que nasce a preocupao. E a partilha
do conhecimento pode alargar o espao da preocupao sobre a melhor via para
aproveitar integralmente os recursos hdricos nacionais.
O ltimo grande aproveitamento hidroelctrico, antes de Alqueva, no chegou ao fim:
conhecida de todos a deciso de suspenso, primeiro, abandono do projecto,
depois, da construo da barragem de Foz Ca.
A deciso teve na base a preservao das gravuras paleolticas do Ca, como tal
validadas por uma Comisso Cientfica Internacional, com o reconhecimento formal
da Unesco, que as fez entrar para o patrimnio da humanidade.
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6 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Recordar isto no um exorcismo de quem teve participao prpria na deciso.
avivar a memria do compromisso, coetneo da suspenso, de lanar um novo
aproveitamento, na mesma rea geogrfica, na margem direita do Douro, num outro
afluente, o rio Sabor, no stio conhecido como Quinta das Laranjeiras. No o nico
stio para equipar tecnicamente nesta zona do Pas: mas aquele sobre o que
repousa um compromisso nacional, ainda por cumprir.
No estamos em situao energtica, em Portugal mais do que noutros pases
comunitrios, para abandonar pura lgica da gravidade a escorrncia das guas.
preciso ret-las para abastecimento humano e outros fins, entre os quais, sempre
que seja evidenciado o interesse tcnico, est a produo de energia elctrica.
nossa responsabilidade continuar a obra que, no sculo XX, marcou a paisagem
nacional e foi parte motora do processo de desenvolvimento industrial.
Que este livro possa fazer a ponte entre o rico passado da engenharia portuguesa
no sector e o promissor futuro que a nova ateno s energias renovveis augura
o desafio que a REN, S.A. quis materializar.
Jos Penedos
(Presidente do Conselho de Administrao da REN)
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 7
Introduo
Para a vida humana e animal no planeta Terra apenas o ar o elemento maisimportante do que o precioso bem que a gua. Mas se esta existe em quantidadevastssima no planeta, apenas 3% do total se encontra na forma de gua doce e desta cerca de 1/3 no estado lquido, ou seja, somente 1% do total (ao qual corresponde um escoamento sobre a superfcie terrestre estimado em cercade 45 000 km3/ano, dos quais apenas cerca de 12 000 km3/ano sero aproveitveis,devido perda em inundaes incontroladas e a dificuldades espaciais e temporais de acesso ao escoamento total(*)).
Nada tem um valor comparvel ao da gua; nem a lenha, o carvo, o petrleo, o gsnatural ou o urnio ... nem a prata, o ouro ou os diamantes.
A gua , assim, o elemento essencial vida nas suas mais diversas utilizaes, as quais se referem seguidamente pela ordem cronolgica pela qual foram surgindodesde as primeiras civilizaes da antiguidade:
1 consumo humano e uso pecurio;
2 rega e uso mineiro;
3 produo de fora motriz;
4 proteco contra cheias (desde 2600 anos a.C., no Egipto),
e cuja satisfao j exigiu a construo de cisternas e de sistemas de diques e de barragens, o que se verificou desde o tempo da civilizao egpcia.
Todavia, o problema fulcral em que assenta a disponibilidade da gua para taisutilizaes decorre da sua errtica distribuio espacial e temporal, o que levanta aquesto da necessidade de construir as infra-estruturas necessrias, tais comoreservatrios para o seu armazenamento e aquedutos, tneis ou canais para o seutransporte e distribuio. Este problema foi sendo resolvido a partir das civilizaesmais antigas, desde h 4000 a 5000 anos atrs, existindo inmeros exemplos deobras desse tipo, particularmente as construdas na poca da civilizao romana.
, pois, ancestral o conceito de construir barragens criando albufeiras paraarmazenamento de gua nos perodos em que ela excede as necessidades e suaposterior utilizao, em alturas de carncia do recurso, seja mediante a transfernciasazonal (dentro do mesmo ano) ou intersazonal (de um ano para outro), ou seja,aquilo que normalmente se chama como o efeito de regularizao.
(*) Apresentao de Elas Fereres Castiel Sesin Tcnica II da 4 CONFERNCIA INTERNACIONAL RESOLUCION DECONFLICTOS HDRICOS, promovida pela IBERDROLA em 10-11 de Dezembro de 1998 realizada em Valncia.
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8 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
A utilizao da gua como fora matriz para produo de energia elctrica inicia-se anvel mundial em meados do sculo XIX e em Portugal na ltima dcada dessesculo, tendo-se desenvolvido inicialmente de uma forma espontnea at por voltade 1930, ditada pela necessidade de satisfazer consumos locais, nomeadamentepara alimentar pequenas instalaes de iluminao pblica e oficinas de moagens,fiao e tecelagem e, logo a seguir, de fbricas de txteis e lanifcios.
Todavia, a partir de 1930 comea a desenhar-se um quadro em que, visando odesenvolvimento industrial e econmico do Pas, emerge a ideia da necessidade deaproveitar a energia da gua dos rios para a produo de electricidade a qual, nosendo um fim em si, antes foi o meio para atingir o objectivo da industrializao.
Tal poltica sectorial, da qual tambm viria mais tarde a resultar uma rede elctricanacional, comea a concretizar-se, no papel, por volta de 1940 e a produzir efeitos,no terreno, a partir de 1950, fundamentalmente com a construo dos grandesaproveitamentos hidroelctricos dotados de albufeiras com significativa capacidade deregularizao nas bacias dos rios Cvado e Zzere e dos aproveitamentos no troointernacional do rio Douro reservado a Portugal, at cerca de 1965, a que se seguiu aconstruo dos cinco aproveitamentos, do tipo fio-de-gua, no leito nacional domesmo rio, at cerca de 1985, aproveitando a regularizao que os espanhis haviamimplementado na sua parte da bacia do rio.
Assim se promoveu a realizao dos grandes aproveitamentos hidroelctricos quecomearam a produzir a to necessria energia elctrica a partir de 1950 e que seforam desenvolvendo da para diante, ainda que em ritmo varivel, at ao incio dosanos 90.
Porm, desde a data de entrada em servio do ltimo grande aproveitamentohidroelctrico de raiz, o do Alto Lindoso em 1992, que a situao se caracteriza poruma estranha e incompreensvel falta de novas realizaes que importar analisar.
Efectivamente, cabe aqui sublinhar que uma das directrizes da poltica energticanacional e comunitria reside no aproveitamento dos recursos endgenos,nomeadamente atravs das energias renovveis e no poluentes. Assim, emborareconhecendo que, prioritariamente, a gua deve ser utilizada para outros fins, temtodo o sentido enfatizar o seu aproveitamento como recurso energtico renovvel eno poluente para a produo de electricidade, contribuindo simultaneamente para aconteno das emisses de CO2 e, tambm, de SO2, NOX e cinzas (algumas destascontendo elementos radioactivos).
Da a ideia de, neste livro, chamar a ateno, em termos de desafio de futuro, para opotencial hidroelctrico ainda existente e por aproveitar no Pas, particularmente o dabacia do rio Douro, o qual, sem margem para dvida, constitui uma das maioresvalncias dos recursos hdricos nacionais.
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 9
Entende-se, assim, ser perfeitamente justificvel a retoma de um programa derealizao dos aproveitamentos hidroelctricos os quais, todavia, devero serencarados numa ptica de potenciais Aproveitamentos de Fins Mltiplos,hierarquizados pela seguinte ordem:
1 abastecimento de gua a populaes, indstria e pecuria;
2 rega;
3 contribuio para mitigar os efeitos danosos em situaes extremas, tais como:
garantia de caudais ecolgicos e ambientais satisfatrios a jusante emperodos crticos, visando reduzir os efeitos da poluio difusa;
em situaes de cheia, contribuio para o amortecimento dos caudais deponta;
4 produo de electricidade;
5 em certos casos, como o leito nacional do rio Douro (e porque no no rioTejo?), a criao de condies necessrias navegabilidade comercial eturstica;
6 criao de condies para prticas de recreio e lazer.
Este o desafio que aqui se deixa, para que os vindouros saibam que algum antesdeles no se esqueceu da qualidade de vida que merecem usufruir e que tm o plenodireito de esperar que lhes seja facultada.
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Aproveitamento hidroelctrico do Alto Lindoso
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A base deste texto uma comunicao apresentada s Jornadas
Luso-Espanholas sobre Energia (23/24.Novembro.1992)
promovidas pela Associao Portuguesa de Energia e pelo Clube
Espanhol da Energia, tendo-se, no entanto, procedido a uma
actualizao no que respeita aos captulos O presente e O futuro.
Parte I
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12 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I
O passadoDos finais do sculo XIX a 1930
A utilizao das guas fluviais como fora motriz para a produo de energia elctrica(hidroelectricidade) iniciou-se em Portugal em finais do sculo XIX.
No Continente, a primeira realizao deste tipo ter sido a iniciada pela CompanhiaElctrica e Industrial de Vila Real, fundada em 1892, cuja concesso passou maistarde para o cidado alemo Emlio Biel que concluiu, em 1894, um aproveitamento no rio Corgo, constitudo por um aude, no lugar do poo do Agueirinho, e uma central equipada com uma turbina (KNOP) que, para um caudal de 645 l/s,fornecia uma potncia de 160 HP, para uma queda de cerca de 25 metros. Esteaproveitamento viria mais tarde, em 1926, a ser substituido por um aproveitamentoconstituido por uma barragem, no stio da Insua, e uma central, em Terrajido,equipada com uma turbina Francis Voith ainda com a potncia de 160 HP.
A segunda realizao ter pertencido Sociedade de Electricidade do Norte dePortugal (SENP), para a qual havia sido transferida a adjudicao, inicialmenteconcedida ao cidado francs August Lavarr, por volta de 1892, para a explorao doservio de iluminao pblica em Braga. Assim, em 1895 ou 1896 ter entrado emservio a central de Furada, no rio Cvado, aproveitando uma queda de 4 metros eequipada com 3 turbinas (JONVAL/ESCHER WYSS) de 125 HP, acopladas aalternadores (OERLINKON) de 95 kVA. Praticamente neste mesmo local viria muito maistarde, em 1951, a ser instalado o aproveitamento de Penide promovido pelo CHENOP.
oportuno assinalar que por esta poca, finais do sculo XIX, referida pela primeiravez a ideia de recorrer ao aproveitamento das guas do rio Guadiana.
Com a devida vnia, transcrevem-se os seguintes dois pargrafos de umacomunicao apresentada pelo ilustre Engenheiro Joaquim Faria Ferreira, que, entreoutros, desempenhou os altos cargos de Director-Geral dos Servios Hidrulicos e deVogal do Conselho Superior de Obras Pblicas, ao Congresso sobre o Alentejo,realizado em 1995:
O fornecimento de gua s populaes, em paralelo com a introduo do regadioem grande escala, est, desde h mais de um sculo, reconhecidamente aceite edemonstrado como a melhor via, entre outras, para o progresso econmico esocial da regio alentejana. Alm do reconhecimento da sua viabilidade tcnica,esta uma ideia fora dos alentejanos.
Foi na ltima dcada do sculo passado que se tomou conscincia deste facto e pela primeira vez essa ideia foi concretizada no projecto-lei de fomento rural da responsabilidade de Oliveira Martins, apresentado ento cmara dossenhores deputados. Mas tudo ficou parado...
As referncias existentes indiciam que esse projecto se baseava no aproveitamentodas guas do rio Guadiana a jusante da confluncia do rio Degebe, seu afluente da margem direita, ou seja, praticamente no local onde s agora (mais de um sculodepois!) se encontra a barragem de Alqueva...
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 13
O passado Captulo I
Ano Central Potncia (KVA)
1899
1902
1904
1908
1911
Central da Vila
Salto do Cabrito
Fbrica da Cidade
Salto do Cabrito
Central da Praia
60
60
300
+ 180
150
No Continente, entretanto, tinham entrado em servio: em 1906 a central de Riba Ca, no rio Ca, em 1908 a central de Canios, no rio Vizela, e em 1909as centrais do Varosa da Companhia Hidroelctrica do Varosa, no rio Varosa, e daSenhora do Desterro, da Empresa Hidroelctrica da Serra da Estrela, no rio Alva.
Entretanto, e na senda do que essa excepcional personalidade que foi o EngenheiroEzequiel de Campos (1874-1965) vinha preconizando insistentemente desde os anos20 a urgncia da electrificao do Pas tendo em vista o desenvolvimento industriale a defesa da ideia da necessidade do Estado fomentar e apoiar financeiramente a realizao de aproveitamentos hidroelctricos e de uma rede elctrica nacional ,
surge em 1926 a Lei dosAproveitamentos Hidrulicos. Esta leiregulava a produo, designadamentepor via das centrais hidrulicas, o transporte e a distribuio da energiaelctrica, e veio a servir de base e inspirao para a elaborao da Lei n. 2002, de Dezembro de 1944, da autoria do Engenheiro Ferreira Dias, qual se far referncia mais adiante.
No Quadro 2 apresentam-se as centraishidroelctricas dos servios pblico e privado, de potncia superior a 100 kW, que entraram em servioentre 1900 e 1930.
De uma maneira geral, as primeirascentrais destinaram-se a abastecerconsumos locais ou limtrofes e
alimentavam certas indstrias, como moagens, fiao,tecelagem e lanifcios, localizadas, nomeadamente,nas zonas do Vale do Ave, da Covilh e de Portalegre.
RIBA CA (1906) Aude
SENHORA DO DESTERRO (1909) Aude
SENHORA DO DESTERRO (1909) Central (300 kW)
No fossem as duas realizaes acima referidas e os louros pelo incio da produode energia pela via hidroelctrica em Portugal pertenceriam ilha de S. Miguel, nosAores, onde, devido capacidade tcnica e organizadora do Engenheiro JosCordeiro, se inauguraria em 1899 a primeira de quatro centrais hidroelctricas, a saber:
Quadro 1 Primeiras centrais hidroelctricas nos Aores
LINDOSO (1922) Central (7,5 MW + 7,5 MW, em 1924)
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14 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I O passado
Ano de
Entrada
em Servio
Servio Pblico Servio Privado
Nome RioPotncia (kW)
Inicial (Final)Nome Rio
Potncia (kW)
Inicial (Final)
1906
1907
1908
1909
1910
1911
1912
1913
1914
1915
1916
1917
1918
1919
1920
1921
1922
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
Riba Ca
Varosa
Sr. do Desterro
Covas
Giestal
Corvete
Olo
Drizes
Lindoso
Pt. Jugais
Chocalho
Freigil
Terrajido
Rei de Moinhos
Pvoa
Caldeiro
Pises
Bruceira
Ca
Varosa
Alva
Coura
Selho
Bugio
Olo
Vouga
Lima
Alva
Varosa
Cabrum
Corgo
Alva
Niza
Almonda
Dinha
Niza
105
100
300
110
240
430
68
35
7500
3000
1890
225
118
230
700
105
100
1800
(2000)
(730)
(2350)
(136)
(120)
(60000)
(12000)
(14000)
(1020)
(4121)
(460)
(155)
Canios
Deles
Hortas-Lever
Moinho do Buraco
Ronfe
Campelos
Fb. do Prado
Mina do Pintor
Matrena
Palhal
S. Martinho Campo
Barcarena
Fb. Mendes Godinho
Fervena
Tomar
Lugar de Ferro
Rues
Bugio
S. Marta Aliviada
Pinguela do Romo
Abelheira
Vizela
Ave
Lima
Selho
Ave
Ave
Nabo
Caima
Nabo
Caima
Vizela
Barcarena
Nabo
Alcoa
Nabo
Ferro
Cvado
Bugio
Ovelha
Ave
Ave
225
100
114
30
412
240
210
96
10
892
392
125
135
356
300
684
98
435
255
150
100
(750)
(250)
(114)
(240)
(440)
(1200)
(250)
Quadro 2 Centrais hidroelctricas de potncia superior a 100 kW
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 15
O passado Captulo I
As dcadas de 30 e 40
No ano de 1930, o Governo comea a encarar a realizao de grandesaproveitamentos hidroelctricos, visando o aumento da produo industrial eagrcola, pela irrigao dos campos*.
Entretanto, o potencial energtico dos nossos rios era ainda desconhecido, assimcomo as respectivas topografia e geologia.
S ento se inicia a realizao de estudos sistemticos dos rios e da viabilidade doseu aproveitamento para produo de electricidade e abastecimento de gua pararega, desenvolvidos, respectivamente, pelos Servios Hidrulicos e pela JuntaAutnoma das Obras de Hidrulica Agrcola, do que resultou a elaborao de umprimeiro inventrio dos recursos hidrulicos nacionais.
Nesta dcada foram publicados pelo Ministrio das Obras Pblicas e Comunicaesalguns diplomas com o intuito de preparar as medidas de viabilizao das grandesrealizaes que o Governo perspectivava, a saber:
Decreto n. 25 220 (1935-Abr-04), com o qual caduca a concesso doaproveitamento das guas dos rios Borralha e Rabago, que havia sido outorgadapor decreto em 1920-Dez-15.
Decreto n. 26 470 (1936-Mar-28), criando a Junta de Electrificao Nacional.
Decreto n. 27 712 (1937-Mai-19), com o qual caduca a concesso paraaproveitamento hidroelctrico das guas do rio Zzere, que havia sido outorgadapor decreto em 1930-Mar-30 Companhia Nacional de Viao e Electricidade.
Assim se foram criando condies para a realizao dos grandes aproveitamentoshidroelctricos, a qual, no entanto, apenas se iniciaria depois do termo da 2. GuerraMundial, em 1945.
A produo de energia elctrica, por volta de 1940, pode caracterizar-se do seguintemodo:
Predomnio de recursos estrangeiros dois teros dos recursos utilizados para a produo de electricidade so estrangeiros, considerando, tambm como tal, a produo da central hidroelctrica do Lindoso.
Predomnio de trs centrais a central hidroelctrica do Lindoso e as duas centraistermoelctricas do Tejo e de Santos que produziam, at 1940, mais que todas as outras, cerca de 180, de servio pblico.
Excessiva pulverizao da potncia um total de 660 centrais, sendo 176 de servio pblico, das quais apenas 10 de potncia superior a 5 MW (3 hidrulicas e 7 trmicas) e 484 de servio particular, das quais somente uma com mais de 5 MW, embora com oito grupos.
PONTE DE JUGAIS (1923) Central (3000 kW)
CHOCALHO (1925) Central (1890 kW)
REI DOS MOINHOS (1927) Aude e Central (230 kW)
* Discurso de Oliveira Salazar na Sala do Risco
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16 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I O passado
Elevado custo de produo como consequncia da pulverizao da potnciainstalada resultava uma carestia excessiva do custo do kW instalado e do kWhproduzido por to grande nmero de unidades.
No incio da dcada de 40, apresentado pelo Engenheiro Zuzarte de Mendona,Chefe da Repartio de Estudos de Hidrulica, um anteprojecto de umaproveitamento hidroelctrico em Castelo do Bode, no rio Zzere.
No ano seguinte, o notvel ministro que foi o Engenheiro Duarte Pacheco concedemeios para a intensificao dos estudos em curso nos Servios Hidrulicos e, em1942, promove a reviso do anteprojecto do aproveitamento de Castelo do Bode,ento confiada ao especialista francs Andr Coyne.
Em 1943, os Servios Hidrulicos apresentam o Plano Geral do AproveitamentoHidroelctrico do rio Zzere, desde Cambas at Foz. O Governo decide ento iniciara construo de grandes aproveitamentos hidroelctricos e define orientao para talefeito. Duarte Pacheco manda elaborar o caderno de encargos da concesso doaproveitamento da energia das guas do rio Zzere, desde Cambas at Foz, osprogramas de trabalho e financeiro para a construo do escalo de Castelo do Bodee os estatutos da empresa concessionria a criar, de que 1/3 do capital seria doEstado, 1/3 das empresas produtoras e distribuidoras de electricidade existentes e 1/3 do pblico. Tudo estava pronto para deciso em Conselho de Ministros quando um acidente de automvel vitima Duarte Pacheco.
Entretanto, os Servios Hidrulicos apresentam os planos gerais do aproveitamentohidroelctrico do Sistema Cvado Rabago (1944) e do troo nacional do rio Douro(1948), e continuam a desenvolver estudos relativamente ao troo internacional do rioDouro e aos afluentes deste rio, assim como aos rios Lima, Mondego e Guadiana.
A 1944-Dez-26 publicada a Lei n. 2002 da autoria do grande paladino da electrificaodo Pas que foi o Engenheiro Ferreira Dias (1900-1966), estabelecendo as bases daproduo, transporte e distribuio da energia elctrica, de cuja Base II se destaca:
A produo de energia elctrica ser principalmente de origem hidrulica.As centrais trmicas desempenharo as funes de reserva e apoio, consumindoos combustveis nacionais pobres na proporo mais econmica e conveniente.
Em 1945, o Governo define a poltica respeitante execuo de novosaproveitamentos hidroelctricos e anuncia a deciso de promover a constituio deduas empresas para o estabelecimento e explorao de obras hidrulicas e decentrais produtoras de electricidade nos rios Zzere, Cvado e Rabago.
Em Outubro desse ano so constitudas as empresas Hidro-Elctrica do Cvado, nodia 24, e Hidro-Elctrica do Zzere, no dia 29, dando-se incio construo dos doisprimeiros grandes aproveitamentos hidroelctricos: o de Castelo do Bode no rioZzere, com 139 MW, e o de Venda Nova no rio Rabago, com 81 MW, que viriam a ser inaugurados em 1951, tal como o de Belver no rio Tejo, com 32 MW, realizadopela Hidro-Elctrica do Alto Alentejo, empresa entretanto criada.
Em 1947, o Governo constitui a Companhia Nacional de Electricidade, qual outorgada a concesso para estabelecimento e explorao de linha de transporte e subestaes destinadas interligao dos sistemas Zzere e Cvado, entre si e
APROVEITAMENTO DE GUILHOFREI:Barragem (1937) e Central
(1,6 MW, em 1939), ao fundoCENTRAL DO ERMAL (4,7 MW
em 1937 + 6,5 MW, em 1947), em primeiro plano
SANTA LUZIA (1943) Barragem e Albufeira
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 17
O passado Captulo I
com os sistemas existentes, e ao abastecimento de energia elctrica aos grandescentros de consumo.
Entre 1930 e 1950 merecem referncia, para alm do reforo da central do Lindosopromovido pela Electra del Lima com + 15 MW em 1933 e + 15 MW em 1945, asrealizaes dos seguintes aproveitamentos:
Quadro 3 Aproveitamentos realizados entre 1930 e 1950
Acresce referir que as primeiras trs centrais do Sistema Ave foram promovidas pelaElectro-Hidrulica de Portugal, a de Santa Luzia pela Companhia Elctrica das Beiras e a ltima, no Ave, pela CHENOP (resultante, em 1943, da fuso da E.H. de Portugale da Hidro-Elctrica do Varosa a qual, entretanto, comprara a SENP em 1939).
A dcada de 50
Esta a dcada de ouro da hidroelectricidade, durante a qual se desenvolveuprincipalmente o aproveitamento das bacias dos rios Cvado e Zzere, tal como seapresenta nas Figuras I e II (pgina 18 e 19).
CASTELO DO BODE (1951) Barragem, Descarregador de Cheias e Central (139 MW)
VENDA NOVA (1951)Barragem e Descarregador de Cheias
Ano de Entrada em Servio Escalo
Potncia Instalada(MW)
Ermal
Guilhofrei
Ponte da Esperana
Santa Luzia
Senhora do Porto
4,7
+ 6,5 em 1947
1,6
2,8
23,2
8,8
Rio
1937
1939
1942
1943
1945
Ave
Ave
Ave
Unhais
Ave
VENDA NOVA (1951) Central de Vila Nova (81 MW)
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18 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I O passado
BACIA HIDROGRFICA DO RIO CVADO
Figura I
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 19
O passado Captulo I
BACIA HIDROGRFICA DO RIO TEJO
Figura II
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20 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Nesta dcada a seguinte a cronologia dos eventos mais importantes:
Quadro 4 Eventos mais importantes na dcada de 50
Ano de Entrada em Servio Escalo
Potncia Instalada(MW)
Castelo do Bode
Venda Nova
Pracana
Belver
Salamonde
Cabril
Caniada
Bou
Paradela
Picote
Miranda
139
81
15
32
42
97
60
50
54
180
174
Rio
1951
1953
1954(*)
1955
1956
1958
1960
Zzere
Rabago
Ocreza
Tejo
Cvado
Zzere
Cvado
Zzere
Cvado
Douro Int.
Douro Int.
(*) Neste ano o Governo promoveu a constituio da Hidroelctrica do Douro e da EmpresaTermoelctrica Portuguesa encarregada de estudar a realizao de uma central trmica de apoio e reserva destinada a consumir combustveis nacionais (dos trs grupos previstos para essa central, a da Tapada do Outeiro, o primeiro grupo, de 50 MW, entrou em servio em 1959-Maio).
SALAMONDE (1953) Barragem,Edifcio de Comando e Subestao
Captulo I O passado
BELVER (1951) Barragem/Descarregador
de Cheias e Central (32 MW)
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 21
O passado Captulo I
Esta dcada observa a viragem na estrutura do parque produtor com a seguinteevoluo (ver quadro 7, pg. 25):
As centrais hidrulicas passam apenas de 113 para 117, mas a potncia nelasinstalada sobe de 152,8 MW (44% do total) para 1085,2 MW (81% do total), ou seja, um acrscimo de 610%.
O nmero das centrais trmicas passa de 519 para 301 (reduo de 42%) e a potncia nelas instalada de 192,4 MW (56% do total) para 249,8 MW (19% do total), ou seja, um acrscimo de 30%.
A energia produzida, passando de 941,8 GWh para 3263,5 GWh, regista um acrscimo de 246,5% (a que corresponde uma taxa anual mdia de 13,2%),tendo a contribuio das centrais hidrulicas subido de 46% para 95% e a dastrmicas descido de 54% para 5%.
Na capitao dos consumos regista-se uma subida do modestssimo valor de 99,3 kWh/hab. para 338,9 kWh/hab. (um valor mdio de 13% para a taxa decrescimento anual!).
CABRIL (1954) Barragem e Central (97 MW)
BOU (1955)Barragem (com Descarregador em Lmina Livre), Central (50 MW) e Subestao
PARADELA (1956) Barragem de Enrocamento
-
22 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I O passado
A dcada de 60
Nesta dcada entra-se numa nova fase de evoluo do sistema electroprodutor: o crescimento dos consumos justifica, por razes de garantia da sua satisfao a nvel global, a introduo de grupos trmicos de grande dimenso queimandocarvo nacional e fuelleo (+ 2x50 MW, em 64 e 67, na Tapada do Outeiro, e 2x125 MW, em 68 e 69, no Carregado), o que acarreta uma desacelerao na evoluo do subsistema hidrulico, onde apenas 3 novos grandes aproveitamentosentram em servio:
Quadro 5 Aproveitamentos realizados na dcada de 60
CANIADA (1955) Barragem e Albufeira
Ano de Entrada em Servio Escalo
Potncia Instalada(MW)
Bemposta
Alto Rabago(*)
Vilar-Tabuao
210
72
64
Rio
1964
1965
Douro
Rabago
Tvora
(*)Primeiro escalo do Pas com instalao de bombagem das guas da albufeira de jusante (Venda Nova), para transferncia sazonal e interanual.
PICOTE (1958) Barragem, Descarregadores
e Edifcio de Comando
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 23
O passado Captulo I
BEMPOSTA (1964) Barragem, Descarregadores e Edifcio de Comando
MIRANDA (1960) Barragem, Descarregadores e Edifcio de Comando
Nesta dcada so ainda realizadas obras complementares nos escales de Paradelae Venda Nova para reforo das afluncias s respectivas albufeiras, por derivao deguas das cabeceiras de afluentes a jusante.
Entretanto, na segunda metade desta dcada regista-se uma retoma das realizaeshidroelctricas com o lanamento das obras dos escales do Carrapatelo, Rgua eValeira, no troo nacional do rio Douro, de Vilarinho das Furnas, no rio Homem, e deFratel, no rio Tejo.
Em 1969-Ago-27, e na sequncia do Decreto-Lei n. 47240 de 1966-Out-06,contendo disposies tendentes reestruturao da indstria de electricidade, publicado o Decreto-Lei n. 49211, no qual autorizada a fuso das sociedadesconcessionrias de aproveitamentos hidroelctricos, de empreendimentostermoelctricos e de transporte de energia elctrica cujos centros e instalaesconstituem a Rede Elctrica Primria. A fuso veio a concretizar-se em Dezembrodesse ano, com a criao da CPE Companhia Portuguesa de Electricidade,abrangendo 5 empresas: as Hidro-Elctricas do Cvado, Douro e Zzere, a Empresa Termoelctrica Portuguesa e a Companhia Nacional de Electricidade.
ALTO RABAGO (1964)Barragem e Descarregador Lateral
-
24 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo I O passado
As dcadas de 70 e 80
As dcadas de 70 e 80 so caracterizadas por elevadas taxas de crescimento dosconsumos de electricidade, fruto no s do desenvolvimento econmico mas tambmde outros factores dos quais se destaca a electrificao em superfcie. Estanecessidade de energia assegurada pela continuao da introduo de grupostrmicos de cada vez maior dimenso (4x125 MW, em 74 e 76, no Carregado, 4x250 MW, em 79, 80, 82 e 83, em Setbal, e 4x300 MW, em 85, 86, 87 e 89, em Sines, estes para a queima de carvo importado).
Paralelamente o programa hidroelctrico assinala uma retoma, registando-se asseguintes entradas em servio:
Quadro 6 Entradas em servio nas dcadas de 70 e 80
VILAR TABUAO (1971) Barragem de Enrocamento
e Descarregador Lateral
Ano de Entrada em Servio Escalo
Potncia Instalada(MW)
Carrapatelo
V. das Furnas
Rgua
Fratel
Valeira
Aguieira
Raiva
Pocinho
Crestuma
V. das Furnas II
Torro
180
64
156
130
216
270(*)
20
186
105
74(*)
146(*)
Rio
1971
1972
1973
1974
1976
1981
1982
1983
1985
1987
1988
Douro Nac.
Homem
Douro Nac.
Tejo
Douro Nac.
Mondego
Mondego
Douro Nac.
Douro Nac.
Homem
Tmega
(*) Equipamento reversvel.
Entretanto, em 1976, pelo Decreto-Lei n. 502, de 30 de Junho, e na sequncia da nacionalizao das vrias empresas do sector elctrico operada no ano anterior e da consequente reestruturao do sector, criada a Electricidade de Portugal Empresa Pblica, abreviadamente EDP. Esta tem por objectivo principal o estabelecimento e a explorao do servio pblico de produo, transporte e distribuio de energia elctrica no territrio do continente, sendo o servio pblico cometido EDP explorado em regime de exclusivo, o que, todavia, no impede a produo e distribuio de energia elctrica para uso prprio por outras entidades.
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 25
O passado Captulo I
Figura IV Produo de energia elctrica
30000
25000
20000
15000
10000
5000
01930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Hdrica Trmica
GWh
100
80
60
40
20
01930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Hdrica
(%)
Figura V Sistema electroprodutor da EDP: evoluo da potncia instalada
7
6
5
4
3
2
1
080
Hdrica
Fuelleo
103 MW
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
Carvo Nacional
Carvo Importado
Quadro 7 Nmero de centrais entre as dcadas de 30 e 90
Ano 1930(*)
395
150,4
260,0
75
73
2
-
-
36,6 (24%)
89,3 (34%)
320
317
3
-
-
113,8 (76%)
170,7 (66%)
35,3
1940(*)
660
280,8
460,0
109
106
3
-
-
83,5 (30%)
178,7 (39%)
551
544
7
-
-
197,3 (70%)
281,3 (61%)
54,0
1950(*)
632
345,2
941,8
113
106
7
-
-
152,8 (44%)
436,8 (46%)
519
512
7
-
-
192,4 (56%)
504,8 (54%)
99,3
1960(*)
418
1335,0
3263,5
117
93
7
10
7
1085,2 (81%)
3104,8 (95%)
301
288
7
5
1
249,8 (19%)
158,6 (5%)
338,9
1970(*)
332
2186,3
7294,2
115
78
7
20
10
1556,3 (71%)
5789,6 (79%)
217
202
7
6
2
630,0 (29%)
1504,6 (21%)
690,6
1980(**)
56
3900
14064
50
22
4
8
16
2268 (58%)
7847 (57%)
6
-
-
1
5
1632 (42%)
6117 (43%)
1540
1990(**)
395
67
6624
26467
60
27
4
9
20
3069 (46%)
9186 (35%)
7
-
-
-
7
3555 (54%)
17281 (65%)
2510
Total(*)
N. Centrais
MW
GWh
Hidralicas(*)
N. de Centrais
MW < 5
5 < MW < 10
10 < MW < 50
50 < MW
MW
GWh
Trmicas(*)
N. de Centrais
MW < 5
5 < MW < 10
10 < MW < 50
50 < MW
MW
GWh
kWh/Hab.
Taxa anual mdiade crescimento
(*) Fonte: DGSE (nmeros nacionais)(**) Fonte: EDP (nmeros apenas do sistema explorado pela EDP)
Figura III Potncia instalada
Nas Figuras III e IV apresentam-se as evolues das potncias instaladas e dasprodues de energia elctrica no perodo compreendido entre 1930 e 1990 e, naFigura V, a evoluo da potncia instalada por tipo de central durante a dcada de 80.
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
01930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Hdrica Trmica
MW
100
80
60
40
20
01930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Hdrica
(%)
Gasleo
4,3% 6,3% 13,1% 7,4% 8,4% 5%
-
26 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo II
O presente
O potencial energtico bruto dos nossos rios encontra-se avaliado em cerca de 32 000 GWh, dos quais 24 500 GWh e 20 000 GWh so considerados,respectivamente, como tcnica e economicamente aproveitveis. Destes ltimosencontravam-se j aproveitados e em construo, em 1990, cerca de 11 600 GWh,estando identificados outros 6 600 GWh como candidatos a futura integrao no sistema electroprodutor em aproveitamentos de grande e mdia dimenso.Restam cerca de 1 800 GWh como realizveis em aproveitamentos de pequenadimenso (mini-hdricos).
Nos Quadros 8, 9, 10 e 11 apresentam-se respectivamente:
Os aproveitamentos hidroelctricos explorados pelo Grupo EDP at 1990 compotncia igual ou superior a 10 MW.
Os aproveitamentos hidroelctricos em construo na dcada de 90 (o de Foz-Cadeve ser considerado sem efeito visto a obra ter sido suspensa em 1996).
Os aproveitamentos hidroelctricos em estudo (aos nveis de projecto-base, estudoprvio ou simplesmente inventrio).
A sntese dos recursos inventariados.
Durante a dcada de 90 entraram em explorao os seguintes aproveitamentoshidroelctricos:
Alto Lindoso, 630 MW, em 1992.
Touvedo, 22 MW, em 1993.
Reforo de potncia de Pracana, 25 MW, em 1993 (com nova central, reparaodos paramentos da barragem e novo descarregador de cheias).
Reforo de potncia do Sabugueiro, 10 MW, em 1993, (com nova centralalimentada pela albufeira criada pela nova barragem de Lagoacho).
Caldeiro, 40 MW, em 1994.
Reforo de potncia do escalo de Miranda, 189 MW, em 1995, com nova central.
A situao verificada no Sistema Elctrico de Servio Pblico, SEP, no ano 2000caracteriza-se resumidamente da forma seguinte:
Potncia total instalada: 8 758 MW.
Emisso total das centrais: 34 489 GWh.
Componente hidroelctrica: a potncia instalada de 3 903 MW, 45% da total,contribuiu com 10 227 GWh, ou seja, 30% da emisso total de energia.
Componente termoelctrica: a potncia instalada de 4 855 MW, 55% da total,contribuiu com 24 262 GWh, ou seja, 70% da emisso total de energia.
VILARINHO DAS FURNAS (1972) Barragem
VILARINHO DAS FURNAS (1972) Central (64 MW + 74 MW
reversveis, em 1987)
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 27
O presente Captulo II
Aproveitamento Bacia
Lima
Cvado
Ave
Douro
Mondego
Tejo
Curso de gua Tipo
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
Fio de gua
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
rea da BaciaVertente
(km2)
179
169
426
395
113
407
103
82
52
57
68
88
20
27
26
31
9
452
180
52
60
16
594
238
209
22
12
41
313
108
57
80
0,9
550
159
95
57
116
144
21
1,1
6
13
20
12
12
13
16
19
96
13
77
253
12
15
-
-
21
12
102
51
614
-
900
50 (2)
72 (R)
135
42
64+74 (R)
60
10,8
10
174
180
210
186
216
156
180
105
64
22
144 (R)
270 (R)
20
13,2
12,6
11,8
130
80
14,7
23,2
97
50
139
3 016
395260
95
535
175
185
283
27
14
868
941
1 034
530
748
682
882
363
148
34
254
256
44
43
40
39
382
239
41
57
312
162
412
10 085
Lindoso
Alto Rabago
Paradela
Venda Nova
Salamonde
Vil. Furnas I e II
Caniada
Ermal
Senhora do Porto
Miranda
Picote
Bemposta
Pocinho
Valeira
Rgua
Carrapatelo
Crestuma/Lever
Vilar-Tabuao
Chocalho
Torro
Aguieira
Raiva
Sabugueiro
Ponte Jugais
Vila Cova
Fratel
Belver
Pracana
Santa Luzia
Cabril
Bou
Castelo do Bode
Total
Lima
Rabago
Cvado
Rabago
Cvado
Homem
Cvado
Ave
Ave
Douro
Douro
Douro
Douro
Douro
Douro
Douro
Douro
Tvora
Varosa
Tmega
Mondego
Mondego
Rb. Cania
Alva
Alva
Tejo
Tejo
Ocreza
Unhais
Zzere
Zzere
Zzere
Entrada em
Servio
Altura de Queda
Mdia (m)
Cap. tilda
Albufeira(hm3)
PotnciaInstalada
(MW)
Produtibili-dade Mdia
Anual(GWh)(1)
1922
1964
1956
1950
1953
1972/1987
1955
1947
1945
1960
1958
1964
1983
1976
1973
1971
1985
1965
1934
1988
1981
1982
1947
1923
1937
1974
1952
1950
1943
1954
1955
1951
1 506
210
167
342
623
78
160
122
28
63 500
63 750
63 850
81 000
85 395
90 800
92 040
96 520
359
306
2 252
3 100
3 326
14
42
47
59 582
1 830
1 411
45
2 340
2 525
3 950
Quadro 8 Aproveitamentos hidroelctricos explorados pela EDP at 1990 com potncia >10 MW
(1) Lquida de bombagem(2) Limitada pelo canal existente(R) Equipamento reversvel
-
28 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo II O presente
Quadro 9 Aproveitamentos hidroelctricos em construo na dcada de 90
Aproveitamento Bacia
Lima
Lima
Mondego
Tejo
Mondego
Douro
Douro
Curso de gua Tipo
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
rea da BaciaVertente
(km2)
280
25
193
57
418
55
98
270
4,0
5,4
69
4,9
6
355
634
22
32
26
10
194
140 (R)
1058
910
61
50
23
33
223
330
1630
Alto Lindoso
Touvedo
Caldeiro
Pracana (1)
Sabugueiro II
Miranda II
Foz-Ca
Total
Lima
Lima
Rb. Caldeiro
Ocreza
Rb. Cania
Douro
Ca
Entrada em
Servio
Altura de Queda
Mdia (m)
Cap. tilda
Albufeira(hm3)
PotnciaInstalada
(MW)
Produtibili-dade Mdia
Anual(GWh)
1922/93
1993
1993
1993
1993
1995
1998
1 525
1 700
174
1 410
14,4
63 500
2 424
(1) Reforo de potncia(R) Equipamento reversvel
Aproveitamento Bacia
Lima
Cvado
Douro
Douro(Ca)
Douro(Sabor)
Douro
Douro(Tua)
Douro(Paiva)
Curso de gua Tipo
Albufeira
Peq. Armaz.
Fio de gua
Fio de gua
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Bombag. Pura
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
rea da BaciaVertente
(Km2)
33
1,6
-
-
16
13
20
364
217
212
560
511
10
1,3
222
263
256
115
61
648
28
19
53
19
16
609 (R)
235
157
45
77 (R)
113
118
119 (R)
40
460 (R)
70 (R)
190
233
19
100
165
73
27
95
34
29
26
262
140
66
136
201
192
193
66
-
67
306
377
35
170
337
130
Castro Laboreiro
Assureira
Alto Vez
Mdio Vez
Venda Nova II
Picote II
Bemposta II
Atalaia
Sr. de Monforte
Pero Martins
Sampaio
Qt. das Laranjeiras
Feiticeiro
Linhares
Mente
Rebordelo (+ Valpaos)
Foz-Tua
Portela
Castro Daire
Alvarenga
Castelo de Paiva
C. Laboreiro
C. Laboreiro
Vez
Vez
Rabago
Douro
Douro
Ca
Ca
Ca
Sabor
Sabor
Sabor
Rb. Linhares
Mente
Rabaal
Tua
Paiva
Paiva
Paiva
Paiva
Altura de Queda
Mdia (m)
Cap. til da Albufeira
(hm3)
Potncia a instalar
(MW)
Produtibi-lidade MdiaAnual (GWh)(1)
25
56
23
83
240
63 750
63 850
784
1351
1939
2442
3441
3485
43
607
1301
3718
223
375
709
779
(1) Lquida da bombagem(R) Equipamento reversvel
220
395
388
120
432
68
64
123
142
152
115
91
31
486
77
187
125
93
234
192
70
Quadro 10 Aproveitamentos hidroelctricos em estudo
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 29
O presente Captulo II
Aproveitamento Bacia Curso de gua Tipo
rea da BaciaVertente
(Km2)
509
94
131
18
143
63
83
62
164
184
245
95
12
12
-
-
417
3 150
373
47
4,8
Rabago/Bea
Bea
Tmega
Tmega
Tmega
Louredo
Vouga
Vouga
Vouga
Mondego
Mondego
Mondego
Tejo
Tejo
Erges
Erges
Ocreza
Guadiana
Guadiana
Guadiana
Minho
Altura de Queda
Mdia (m)
Cap. til da Albufeira
(hm3)
Potncia a Instalar
(MW)
Produtibi-lidade MdiaAnual (GWh)(1)
210
311
1559
1964
2608
108
256
404
963
189
988
1432
67 300
67 500
878
1165
965
55 000
61 000
62 000
15 500
(1) Lquida de bombagem.(2) Estudo prvio aprovado pelo CG da EDP em Maio/89.(3) A produo no Tmega aps a ligao cascata do Cvado conseguida custa de um decrscimo da produo no
Cvado de 266 GWh, que se deduz no total.(4) Projecto concludo em Maro/88. (5) Parcela portuguesa (35,6% do total).(R) Equipamento reversvel.
416
125
94
64
82
653
178
114
90
636
131
63
13
11
50
90
109
67
73
9
26,5
Quadro 10 Aproveitamentos hidroelctricos em estudo (continuao)
Douro(Tmega)
Vouga
Mondego
Tejo
Tejo(Erges)
Tejo
Guadiana
Minho
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
Fio de gua
Fio de gua
Albufeira
Albufeira
Albufeira
Peq. Armaz.
Peq. Armaz.
163 (R)
86 (R)
136 (R)
88
166
105
44
45
108
163 (R)
88
54
76
88
27
64
56
360 (R)
438 (R)
25
54 (5)
5364
231
152
219 (3)
178
346
150
65
66
150
304
189
109
277
290
38
86
93
327
473
31
191 (5)
6598
Alto Rabago/Tmega
Padroselos
Vidago
Daives
Frido (2)
Alvo
Pvoa
Pinhoso
Ribeiradio
Asse-Dasse
Girabolhos
Mides
Almourol
Santarm
Erges II
Erges I
Alvito
Alqueva (4)
Rocha da Gal
Pomaro
Sela
Contribuio Lquida para o Sistema Electroprodutor
N. deAprov.
Potncia Instalada
%
10 085169
1 370
6 598 (2)
18 222
54,40,9
7,5
36,2
100,0
Aproveitamentos em Potncia 10 MWexplorao pela EDP Potncia < 10 MW
Aproveitamentos em construo pela EDP (1)ou com deciso tomada para construo
Aproveitamentos em Estudo
Total
31,90,6
10,7
56,8
100,0
Produtibilidade Mdia Anual
GWh%MW
3 01656
1 008
5 364
9 444
3229
7
42
110
Quadro 11 Sntese dos recursos inventariados
(1) Deduzido o Lindoso antigo.
(2) Aps deduo de 266 GWh de decrscimo da produo no Cvado devido ligao do Alto Rabago ao Tmega.
Aproveitamentos
-
30 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo III
O futuro
Tendo em ateno os valores do potencial hidroelctrico anteriormente referidos,poder-se- levantar a questo:
Porque razo no se intensifica o programa de realizaes hidroelctricas, uma vez que ainda resta aproveitar cerca de 40% do potencial hidroelctrico nacional?
De uma maneira simplista poder-se-ia afirmar: daqueles 40% do potencialhidroelctrico, cerca de 7 200 GWh, em termos de produtibilidade anual mdia,representam apenas cerca de 4 000 GWh numa ptica de garantia para o sistema, ou seja, o valor com uma probabilidade de ser ultrapassada em 95% dos regimeshidrolgicos. Assim, na hiptese limite (utopia) de ser possvel realizar imediatamenteos cerca de 40 aproveitamentos a que correspondem aqueles 4 000 GWh, estacontribuio seria insuficiente para satisfazer o crescimento dos consumos a partir deum horizonte de 4 anos, mesmo para uma modesta taxa anual de crescimento de3%. A partir da, o desenvolvimento do sistema electroprodutor realizar-se-ia combase em unidades de produo trmicas. Tal estratgia, atendendo ao carctercapital-intensivo associado aos aproveitamentos hidroelctricos, seria financeira eeconomicamente desastrosa.
Assim, o futuro equipamento hidroelctrico, cuja contribuio ser fundamentalmenteem potncia para a cobertura da ponta do diagrama de cargas, dado a relao energia-potncia ser sensivelmente inferior do parque em explorao, ter que ser introduzido de uma forma equilibrada e emsimultneo com os futuros grupos trmicos, que garantiro basicamente o acrscimodos consumos, colocando a sua energia na base. A optimalidade das vrias configuraes previstas para a evoluo do sistemaelectroprodutor condicionar o ritmo da entrada em servio dos vrios equipamentosde produo, particularmente dos hidroelctricos e, mais especificamente, o seudimensionamento.
De acordo com o PESEP 99, o ltimo Plano de Expanso do SEP superiormenteaprovado, a evoluo da expanso da componente trmica do sistema produtor far-se- com base na introduo de grupos trmicos de ciclo combinado queimandogs natural e de turbinas a gs de ciclo simples para apoio de servio de ponta.Simultaneamente a componente hidroelctrica poderia evoluir at ao ano 2010, damaneira seguinte:
Aproveitamento de Alqueva, no rio Guadiana, em 2002: 236 MW reversveis a partirde 2004, quando existir o contra-embalse criado pelo aude de Pedrgo.
Reforo de potncia do escalo de Venda Nova, em 2004: 179 MW reversveis.
Aproveitamento do Baixo Sabor, em 2007: 138 MW reversveis.
Aproveitamento de Frido, no rio Tmega, em 2009: 128 MW.
FRATEL (1974)Barragem, Descarregador de Cheias
e Central (130 MW)
RAIVA (1982) Barragem, Descarregadores
e Central (20 MW)
AGUIEIRA (1981)Barragem, Descarregadores laterais
e Central (270 MW reversveis)
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 31
O futuro Captulo III
No quadro seguinte apresenta-se, para o SEP, a evoluo prevista at 2010 daenergia emitida e da potncia instalada.
Quadro 12 Evoluo at 2010 da energia e potncia
AnoEvoluo da Energia Emitida (TWh)
40,1
48,5
Total
2005
2010
Hdrica Trmica
Evoluo da Potncia Instalada (MW)
6 620
11 195
Total Hdrica Trmica
10,6 (26%)
11,1 (23%)
29,5 (74%)
37,4 (77%)
4 318 (45%)
4 584 (41%)
5 302 (55%)
6 561 (59%)
TORRO (1988)Barragem, Descarregadores e Central (146 MW reversveis)
Em concluso:
A contribuio da componente hdrica reduz-se gradualmente desde 1990 at aohorizonte 2010:
- Em energia, de 30% para 23% da energia total.
- Em potncia, de 45% para 41% da potncia total.
O peso do equipamento reversvel ir crescer, duplicando praticamente a potnciainstalada de 560 MW, em 2000, para 1 113 MW, em 2010, reflexo de uma cada vezmaior utilizao da bombagem hidroelctrica.
Finalmente, na Figura VI apresenta-se a composio do parque hdricocorrespondente ao estdio de total aproveitamento dos recursos hdricoseconomicamente aproveitveis em realizaes de grande e mdia dimenso.
Os aproveitamentos hidroelctricos a integrar de futuro no sistema electroprodutorpossuem uma relao energia-potncia sensivelmente inferior do parqueactualmente em explorao, o que representa uma ntida vocao para a utilizao da sua potncia em servio de ponta.
Assim, a figura revela:
Para o parque existente: 56% da energia total, ou seja, 10 190 GWh, so obtidoscom 33% da potncia total, isto , 3 100 MW, qual corresponde uma utilizao de 3 250 horas.
Para o parque futuro: 44% da energia total, 8 011 GWh, so obtidos com 67%da potncia total, ou seja, 6 300 MW, qual corresponde uma utilizao de 1 210 horas.
A inverso das percentagens verificada nos pares de valores energia/potncia (56/33 na situao actual para 44/67 no futuro) espelha flagrantemente a evoluo do critrio de dimensionamento dos aproveitamentos hidroelctricos utilizado nopassado e a utilizar no futuro.
Globalmente, a utilizao limite do parque hdrico situar-se- nas 1 935 horas, o querepresenta 22% do tempo total.
TB30%
T1%
T26%
TB6%
T9%
T28%
39%
1%
55%
5%
Figura VIRecursos hdricos inventariados Potncia Instalada
Energia mdia
Em explorao P>10 MW
Em construo
Em estudo
Em explorao P
-
Barragem da Bemposta
-
Parte II
O ttulo A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos
corresponde apresentao, no encontro sobre hidroelectricidade,
intitulada o passado, o presente e o futuro dos grandes
aproveitamentos hidroelctricos. Porto, Setembro/2001
O titulo Uma viso sobre o Douro Que futuro?... O confragedor
presente? tem como base o artigo publicado na revista INGENIUM,
de Abril/Maio de 2002, editada pela Ordem dos Engenheiros.
-
34 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo IV
Qual o melhor programa de desenvolvimento do subsistema hidroelctrico?
No final dos anos 70, e na sequncia do choque dos preos do petrleo, a produohidroelctrica, quando posta a competir com a produo termoelctrica, volta a ganhar interesse para um desenvolvimento mais acentuado e, assim contrariar o arrefecimento verificado na construo de novos aproveitamentos.
Entretanto, e no que diz respeito situao portuguesa, constata-se o desenvolvimento de know-how especfico nesta rea de projecto, construo e explorao de aproveitamentos hidroelctricos comprovado at por realizaesnacionais fora de portas, nomeadamente em territrios de frica sob administraoportuguesa.
Ao nvel do planeamento verifica-se tambm o desenvolvimento deferramentas/modelos de ajuda deciso em face da caracterstica bastante capitalintensiva do sector energtico. No admira, pois, que tambm do lado do sector
ALTO LINDOSO (1992) Barragem e Albufeira
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 35
Qual o melhor programa de desenvolvimento do subsistema hidroelctrico? Captulo IV
(1) WASP Wien Automatic System Planning Package(2) Metodologia proposta por uma equipa portuguesa no seminrio Improvements to the IAEAS WASP III - Viena, 1987
elctrico tenham aparecido modelos baseados nos diversostipos de programao matemtica (linear, no linear, dinmica,estocstica, etc.), utilizando os mais sofisticados algoritmos.
De entre eles merece destaque o modelo WASP(1) que passa aser utilizado nos estudos de planeamento do sistemaelectroprodutor nacional. Contudo, este modelo tinha fortesdeficincias no tratamento da componente hidroelctrica peloque as trajectrias ptimas de evoluo do sistema no seajustavam a sistemas com forte componente hidroelctrica,como o nosso.
Do ponto de vista metodolgico, surge a ideia de, em lugar detentar construir/implementar um super-modelo onde as componentes trmica e hdrica fossem devidamentemodelizadas, analisar o problema da expanso do sistemarecorrendo utilizao interactiva de dois modelos: um, especialista nacomponente hidroelctrica VALORAGUA e outro o WASP mais vocacionadopara a componente termoelctrica e numa perspectiva de muito longo prazo.
Esta utilizao conjunta de modelos de optimizao complementares(2) veio mais tardea ser adoptada pelo Banco Mundial na avaliao de projectos hidroelctricos e aindahoje utilizada no mbito de estudos de planeamento efectuados sob a gide daAIEA (Agncia Internacional de Energia Atmica) e DOE (Departamento de Energia, do Governo Americano), como comprovam os recentes estudos de viabilizaofinanceira para a construo de duas linhas de transmisso de energia elctrica nosBalcs (ref. http://www.adica.com/main/index.asp) e o estudo do sector elctricopara a Repblica da Macednia (CEEESA Center for Energy, Environmental and Economic Systems Analysis ref. http://www.adica.com/main/index.asp),financiado pelo Banco Mundial.
No incio da dcada de 80, a existncia de maturidade da indstria nacional noprojecto e construo de aproveitamentos hidroelctricos e o renovado interesse pelahidraulicidade face aos preos dos combustveis, levou a analisar a seguinte questo:
Do ponto de vista econmico, qual a melhor sequncia de realizao dosaproveitamentos hidroelctricos ainda por construir?
De observar que, ao contrrio do que hoje acontece, a avaliao da componenteambiental tinha pouca preponderncia nos critrios de deciso.
ALTO LINDOSO (1992) Central Subterrnea (630 MW)
-
36 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo IV Qual o melhor programa de desenvolvimento do subsistema hidroelctrico?
Aspectos metodolgicos
Face ao universo de variveis em jogo na anlise daquela questo numa perspectivade muito longo prazo, foi estabelecida uma metodologia que, fundamentalmente, sebaseava no seguinte:
a) Admitir a laborao simultnea de quatro estaleiros, o que implicava um ritmo deentrada de duas novas obras de trs em trs anos no caso de deciso pelaincluso da cascata do Guadiana ou, no caso de no se considerar esta cascata,um ritmo de entrada de uma nova obra de dois em dois anos (horizonte: 2010).
b) Admitir fixa a evoluo da componente termoelctrica de base at um horizontelongnquo de desenvolvimento do sistema electroprodutor.
c) Considerar para tal horizonte longnquo um consumo total de electricidade de 70 TWh(3), tal como um s cenrio de preos de combustveis.
d) Analisar as diversas cascatas, constitudas por um total de 24 aproveitamentoshidroelctricos, correspondentes ao potencial tcnico e econmico previamentedefinido, distribudos pelas seguintes bacias hidrogrficas: Tmega, Ca, Paiva,Sabor, Tua, Ocreza, Mondego e Guadiana.
Os centros electroprodutores assignados a cada uma das bacias hidrogrficas,candidatos integrao no sistema, foram depois agrupados em quatro cenrios de desenvolvimento compatveis com as restries de ordem tcnica de construosimultnea e, portanto, de capacidade de realizao nacional na altura consideradacomo possvel.
Resultados
O critrio do interesse econmico foi praticamente o nico a ser considerado combase em estimativas para os custos de investimento associados a cada um doscandidatos hidroelctricos, os encargos de operao e manuteno e,fundamentalmente, os benefcios traduzidos pela valorizao das energias colocadasno sistema elctrico por cada um dos candidatos atravs dos custos marginaisestabelecidos(4) em cada um dos patamares do diagrama de consumos a satisfazer.Foram ento estimados ndices de rendibilidade por aproveitamento hidroelctrico epor bacia hidrogrfica e, de acordo com o objectivo final do estudo, estabelecida amelhor referncia de realizao que, por memria, aqui recordada:
Torro (em construo), Alto Lindoso (em construo), reforo de Miranda, Foz-Ca,Frido, Senhora da Graa, reforo de Picote, Alvarenga, Vidago, Daives, Foz-Tua,Castelo de Paiva, Padroselos e Alto Tmega.
Em anexo apresenta-se, com algum detalhe, a descrio do estudo realizado em1985, intitulado Tentativa de estabelecimento do melhor programa hidroelctrico amdio e longo prazo, o qual ter talvez o mrito de, pela primeira vez, abranger deforma equitativa a anlise do valor econmico de praticamente todo o potencialhidroelctrico ainda por aproveitar atravs da realizao de aproveitamentos degrande e mdia dimenso.
(3) Na altura os cenrios de evoluo demogrfica estimavam uma populao de cerca de 14 milhesde habitantes para o horizonte 2030.
(4) Custo Marginal de Produo o custo varivel unitrio de produo (em PTE/kWh) da centralmarginal, isto , do meio de abastecimento da procura (que pode ser uma central ou umaimportao) que em cada momento satisfar o incremento de consumo de 1 kWh, caso ele se verifique.
TOUVEDO (1993) Barragem, Descarregadores
e Central (22 MW)
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 37
Captulo V
A revalorizao dos aproveitamentoshidroelctricos
A abordagem do problema da (re)valorizao dos aproveitamentos hidroelctricos emPortugal est intimamente relacionada com a prpria evoluo do sector elctrico e o papel por si desempenhado na actividade econmica nacional.
Recordem-se, ento, as razes principais que motivaram uma poltica de desenvolvimento acelerado da hidroelectricidade a partir da construo, no inciodos anos 50, de Venda Nova e de Castelo do Bode: explorao de um recursoendgeno; desenvolvimento da indstria nacional nas suas diversas vertentes,incluindo o do conhecimento; qualidade de vida da populao em geral.
Nesta fase inicial, a valorizao da energia hidroelctrica assentava numa comparao tcnico-econmica directa com a soluo alternativa termoelctrica que,como sabido, agravava ainda mais a dependncia do exterior.
PRACANA (1993) Barragem, nova Central (25 MW) e novo Descarregador de Cheias
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38 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo V A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos
(5) Note Bleue Nota da Direco de Equipamento da EDF intitulada Tentativa de determinao de um critrio devalor dos equipamentos utilizada entre 1953 e 1968; a partir de 1968 a sua adaptao/reformulao face scondies ento vigentes deu origem Nouvelle Note Bleue.
A irregularidade das afluncias aos aproveitamentos hidroelctricos, alis caractersticacomum dos cursos de gua no sul da Europa, aliada ao forte crescimento dos consumos de energia elctrica, levou ao aparecimento da componentetermoelctrica de que a velha central da Tapada do Outeiro exemplo. Entra-se na fase da existncia de um sistema electroprodutor misto, embora com umpredomnio da componente hidroelctrica, e a metodologia comparao directa vema ser substituda por outra, mais complexa, assente na competio directahidroelctrica-termoelctrica nos trs principais segmentos de mercado: horas de vazio, horas de ponta e horas cheias. Deste modo, consoante a alocao da produo hidroelctrica esperada, a energia de uma determinada central eravalorada pela componente termoelctrica que substitua, j que correspondiam a equipamento com caractersticas econmicas e tcnicas bem diferenciadas.(5)
Contudo, medida que crescia a complexidade de explorao de um sistema misto,nomeadamente na vertente da optimizao da gesto dos aproveitamentos dotadosde grande capacidade de regularizao, tambm se desenvolvia o clculo automtico.Por conseguinte, as metodologias de anlise so aperfeioadas e aparecem os modelos computacionais de simulao/optimizao da explorao combinadatrmica-hdrica. a fase em que o sistema, embora considerado como um todo, analisado nos diversos perodos de tempo nos quais se torna importante simular o equilbrio oferta-procura com o objectivo da minimizao dos custos globais de produo, F(x), sujeito s restries habituais da satisfao dos consumos e dos limites tcnicos inerentes aos diversos componentes do sistema, ou seja:
minx F(x) sujeito a b(x) = B x E X
em que:x so as potncias colocadas por cada central (em MW)B a procura a satisfazer (em MW)
Consoante a hidraulicidade e as caractersticas tcnicas do centro hidroelctrico emanlise, este considerado como integrado no parque electroprodutor, sendo a suaproduo valorizada ao custo marginal de produo estimado em cada perodo dodiagrama de consumos a satisfazer.
Esta metodologia de valorizao da produo hidroelctrica, normalmentedenominada de valia elctrica do centro electroprodutor em questo, foi sendoaperfeioada e, medida que a componente termoelctrica vai ganhando cada vezmais importncia no contexto do sistema produtor nacional, relevada a capacidadedos centros electroprodutores hidroelctricos de responderem, sem qualquerdificuldade, a grandes variaes da procura ou at da oferta, devido sadaintempestiva de grandes unidades termoelctricas. Esta valncia passa a serreconhecida como uma das caractersticas dos centros produtores de energia que eraimportante valorizar, nascendo, assim, o conceito de valia dinmica (ou cintica).
De referir, a este propsito, um estudo elaborado pelo grupo de trabalhoHYDROVAL, da UNIPEDE, datado de Maro de 1997, onde, a partir de um conjuntode centros produtores hidroelctricos integrados na rede europeia, se determina o valor a atribuir a cada um daqueles centros devido sua capacidade intrnseca de resposta instantnea quando comparado com o rival termoelctrico.
LAGOACHO (1993) Barragem e Albufeira (alimentando a
Central do Sabugueiro II)
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 39
A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos Captulo V
Esta componente da valia elctricadepende de diversos factores como, porexemplo, a maior ou menor capacidadede regularizao e a existncia ou no deequipamento reversvel (bombagem).
Contudo, o aproveitamento hidroelctricode stios potenciais constitui um recursoesgotvel e, portanto, com um custo deproduo unitrio crescente at, ao pontode, luz de apenas se consideraremcaractersticas tcnicas e econmicas(6),se tornar no competitivo com oconcorrente termoelctrico. a fase dadesacelerao da construo deempreendimentos hidroelctricosassociada aos custos mais baixos daproduo termoelctrica.
Entretanto, as preocupaes de ndoleambiental, comeam a ganhar terreno,sendo os aproveitamentos hidroelctricossujeitos a estudos de impacte ambientalbastante rigorosos e muitas das vezesfortemente polmicos pelos impactesestimados (Foz-Ca um exemplo).Algumas vezes, os impactes ambientaisestimados sobrepem-se, para alm dascomponentes de valias elctricas acimamencionadas, ao valor adicional para asegurana de abastecimento global queos aproveitamentos de grandecapacidade de regularizao prestam. Estavalia, aqui denominada de valia de emergncia, est associada capacidade, apenasobservvel em alguns aproveitamentos hidroelctricos, de prestar uma adequadagarantia de abastecimento da procura em situaes muito crticas evitando, por isso, o aparecimento de rupturas do sistema produtor.
Por outro lado, tambm a produo termoelctrica contribui com emisso de gasesnocivos para o ambiente, nomeadamente os gases de efeito estufa (CO2). Com o aparecimento da utilizao mais intensiva do combustvel gs natural e a utilizao da tecnologia dos ciclos combinados assistira-se na dcada anterior a um crescimento notvel deste tipo de centrais acompanhado de ganhos deeficincia relevantes. E, em simultneo, tambm nas tecnologias que utilizam o carvose tem assistido a melhorias de rendimento impensveis at h alguns anos atrs. Dequalquer modo, tanto o gs natural como o carvo no deixam de ser combustveisfsseis e, portanto, penalizadores para o ambiente, nomeadamente no caso do CO2.
Actualmente, o peso da componente ambiente na avaliao de projectos de produo de energia elctrica preponderante e bastar-nos- relembrar
(6) Esquecendo outros efeitos, na altura apenas de ordem qualitativa, como o da regularizao, recurso endgeno, etc.
CALDEIRO (1994) Barragem e Albufeira
-
40 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo V A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos
a recente publicao da conhecida Directiva das Renovveis. Associado a este forteincentivo encontra-se, naturalmente, a produo hidroelctrica. Se se considerar um prmio ambiental para as pequenas hidroelctricas pelo facto de evitarememisses atmosfricas (CO2), porque no tambm aplicar idntico critrio para os projectos de mdia/grande dimenso? o caso, por exemplo, dos reforos de potncia que, em termos de valor esperado na mdia dos regimes, ainda poderodar contribuio importante na reduo de produo de origem termoelctrica.Aparece ento a noo de valia ambiental associada a um projecto hidroelctricoque, como se apresenta nas figuras seguintes, poder ser quantificada consoante a metodologia aplicada: ou se atribui idntico valor ao prmio ambientallegal de uma mini-hdrica ou, considerando a integrao do aproveitamento em estudo no conjunto de todo o sistema electroprodutor, determina-se o valor associado produo termoelctrica evitada (gs natural, carvo, fuelleo e, algumas vezes, gasleo) e, por conseguinte, o valor das emisses de CO2 evitadas.
Assim, em sntese, associado a um projecto hidroelctrico poder-se- considerar queo seu valor econmico constitudo pela soma de vrias parcelas: a valia elctrica dereferncia, a valia dinmica, a valia de emergncia (s nos casos dispondo de umaimportante reserva e de localizao estratgica) e a valia ambiental (Figuras VII e VIII).
Custo aparente nivelado
Figura VII
Valia ambiental
Valia dinmica
Custo de referncia(valia elctrica)
Valia ambiental
Valia dinmica
Custo de referncia(valia elctrica)
23%
10%
67%
Figura VIII
Para efeitos equitativos, comparao com o custo total do kWh produzido por grupos trmicos
Custo aparente nivelado
Para efeitos equitativos, comparao com o custo total do kWh produzido por grupos trmicos
50%
17%
13%
20%Valia de emergncia
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 41
A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos Captulo V
A posio relativa que a hidroelectricidade assume entre os diversos meios deproduo de energia elctrica pode ser tambm analisada luz do novo conceitoEnergy Payback Ratio, entendido como a relao entre a energia produzida por umacentral, durante o seu perodo de vida normal, e a energia necessria para construir,manter e alimentar a mesma central (Figura IX).
Figura IX Novo conceito Energy Payback Ratio
300
250
200
150
100
50
0
Alb
ufei
ra
Fio
de
g
ua
Car
vo
Fue
l
Nuc
lear
Gs
Nat
ural
Bio
mas
sa
E
lica
So
lar/
Fo
tovo
lt.
Med
idas
DS
M (*
)
(*) DSM Demand Side Management Medidas de gesto da procura de poupana,para as quais o ratio passa a ter o significado de Energia Poupada / Acrscimo de Energia Investida em Tecnologia mais Eficiente.
Ener
gia
prod
uzid
a /
ene
rgia
inve
stid
a
A finalizar, e tendo em ateno a liberalizao crescente do sector elctrico em toda a Unio Europeia, levanta-se a questo de como valorar a produohidroelctrica segundo as regras de mercado. E, tal como apresentado no Quadro 13, no admiraria que:
a) valia elctrica de referncia fosse associada a valorizao da energia colocadanas diferentes horas do dia consoante os preos de mercado ento estabelecidos.
b) componente dinmica/cintica fosse associado o valor de mercado dos ServiosComplementares onde, pelas suas caractersticas intrnsecas, a hidroelectricidade competitiva face termoelectricidade.
c) valia de emergncia, entendida como valor imputado ao centro electroprodutorpara evitar situaes de ruptura no abastecimento da procura, fosse associado oconceito de potncia interruptvel (situaes crticas no equilbrio oferta/procura),muito provavelmente a ser negociado no futuro atravs de produtos de mercadocomo contratos de interruptibilidade, opes, etc.
?
-
42 Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio
Captulo V A revalorizao dos aproveitamentos hidroelctricos
Actual Futuro
Valia elctrica
Valia dinmica
Valia ambiental
Valia da reserva de emergncia
Produo x Custo marginal
ssss Produo x Custo marginal
Produo x Factor de emisso equivalente x Custo de CO2 emitido
ssss Energia no fornecida x Custo ENF
Produo x Preo de Mercado
ssss Produo x Preo de servios complementares de Mercado
Comrcio de crditos de emisso
Funo do custo ENF e/ou Stock de Combustvel
d) valia ambiental seja, muito provavelmente, associado o mercado de certificadosverdes ou outro equivalente, onde energia elctrica com origem renovvel seratribudo um valor de mercado prprio devido proteco do ambiente induzida.
Quadro 13 Valorizao dos aproveitamentos hidroelctricos em ambiente de mercado
Estamos a atravessar uma fase de grandes mudanas no sector elctrico, assente naliberalizao crescente dos mercados onde se espera que seja encontrado umequilbrio permanentemente estvel entre diversos objectivos, partida conflituantes:custos de produo e proteco do ambiente, segurana de abastecimento ecompetitividade, maximizao da utilidade (consumidores) e do lucro (empresa), etc.
-
Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 43
Captulo VI
Uma viso sobre o Douro - Quefuturo?... O confrangedor presente?
A bacia nacional do rio Douro o maior manancial de recursos hdricos de que o Pasdispe, sendo de realar que, compreendendo apenas 18 600 km2 (19% da rea dabacia total), o escoamento anual mdio por ela gerado de cerca de 8 200 hm3
(representando 35% do total).
preponderante a sua importncia sob o ponto de vista energtico, o qual, nasituao actual, j bastante afectada pela magnitude dos consumos em Espanha,representa ainda cerca de 6 000 GWh em mdia anual (33% do potencialeconomicamente aproveitvel em todo o Portugal Continental, estimado em cerca de 18 200 GWh), ainda que tal seja obtido praticamente apenas pelas oito centraissituadas sobre o seu leito principal.
Os cinco principais afluentes encontram-se praticamente desaproveitados quando,sob o ponto de vista energtico, ainda poderiam acrescentar cerca de 2 500 GWh em mdia anual (40% do valor actual), o que elevaria a percentagem da contribuiodo Douro em relao ao potencial total para 47%.
Todavia a justificao para a necessidade de realizar aproveitamentos hidroelctricoscom significativa capacidade de regularizao nos principais afluentes no se restringe sua importncia sob o ponto de vista energtico, antes deve ser encarada numaptica de aproveitamentos de fins mltiplos, tal como se realar adiante, o que lheconfere uma altssima importncia do ponto de vista do interesse pblico para o Pas.
CARRAPATELO (1971)Barragem/Descarregador, Central (180 MW) e Eclusa de Navegao
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1. 1955 a 1985 O aproveitamento do potencialhidroelctrico no leito principal
H cerca de 40 anos, no incio da dcada de 1960 (na altura em que j se encontrava em desenvolvimento o aproveitamento do troo internacional do rioDouro atribudo a Portugal), a Hidro-Elctrica do Douro (HED) ultimava o Plano Geral de Aproveitamentos Hidrulicos do Rio Douro e seus Afluentes. Este planocontemplava, alm dos 5 escales a instalar no troo nacional do rio (Pocinho, Valeira, Rgua, Carrapatelo e Crestuma) para o aproveitamento do seu enormepotencial energtico, cerca de 2 dezenas de aproveitamentos a instalar nos seus 5 principais afluentes (Ca, Sabor, Tua, Paiva e Tmega), os quais visavam, para alm do seu aproveitamento energtico, contribuir para mitigar os prejuzos provocados pelas situaes hidrologicamente extremas, nomeadamente:
a) Para o amortecimento dos caudais de ponta de cheia.
b) Para a diminuio dos efeitos da poluio das guas fluviais em perodos deescassez de caudais.
c) Para a garantia dos abastecimentos de gua para uso urbano e rega, a partir daregularizao que os escales dotados de albufeira de suficiente capacidade dearmazenamento iriam induzir no futuro.
Em 1965, e no que respeita ao aproveitamento hidroelctrico da bacia portuguesa dorio Douro e do seu troo internacional atribudo a Portugal, a situao caracterizava-seda seguinte maneira (para alm de uma meia dezena de centrais antigas e de muitoreduzida dimenso):
Quadro 14 Aproveitamento hidroelctrico do Douro at 1965
Data de entrada em servio
Varosa
Picote
Miranda
Bemposta
Vilar
1934
1958
1960
1964
1965
22
180
174
210
64
Escalo Tipo/Volume total (hm3)Potncia
instalada (MW)
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Albufeira / 100
A partir de 1965, as atenes voltaram-se para o aproveitamento do importantepotencial hidroelctrico disponvel no leito nacional do rio Douro, ento estimado em cerca de 3 700 GWh/ano, o qual, adicionalmente, vinha beneficiando da regularizao que os espanhis j haviam introduzido e continuavam a implementarna sua parte da bacia (particularmente com a criao, por volta de 1970, da grandealbufeira de Almendra, no rio Tormes, com um volume total de 2 650 hm3).
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 45
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Data de entrada em servio
Carrapatelo
Rgua
Valeira
Pocinho
Crestuma
1971
1973
1976
1983
1985
Escalo Tipo/Volume total (hm3)Potncia
instalada (MW)
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Fio de gua / Sem significado
Total
201
180
240
186
117
924
Assim, a partir daquela data, o aproveitamento do troo nacional do rio Douroprocessou-se da seguinte maneira:
Quadro 15 Aproveitamento hidroelctrico do Douro depois de 1965
2. 1985 a 1995 Os aproveitamentos nos principaisafluentes
A deciso de realizar os cinco aproveitamentos sobre o troo nacional do rio, pelosmotivos j referidos, teve como efeito perverso o adiamento da implementao danecessria e suficiente capacidade de regularizao, com a excepo da realizaodo escalo do Torro, no troo terminal do rio Tmega (mas, para o efeito,marginalmente irrelevante).
Quadro 16 Aproveitamento hidroelctrico do Torro
Data de entrada em servio
Torro 1988
Escalo Tipo/Volume total (hm3)Potncia
instalada (MW)
Albufeira / 115 140
Entretanto, a partir de 1970 (no mbito dos Gabinetes de Engenharia das Direcesdo Equipamento Hidrulico da Companhia Portuguesa de Electricidade, CPE, at1976, e, a partir da, da Electricidade de Portugal, EDP), foram realizados diversosestudos, a nvel de inventrios e de planos gerais, cujo objectivo era o de proceder reviso/actualizao dos esquemas previstos nos planos gerais que a HED realizarano incio da dcada de 1960. Tais estudos incidiram sobre as bacias do Tmega, do Alto Tua, do Baixo Sabor, do Ca e do Paiva e conduziram, aps vrias iteraes, definio do esquema cuja configurao se apresenta na Figura X.
De sublinhar que neste esquema se verificava um perfeito equilbrio entre aquilo quese previa para as duas partes da bacia, em termos de relao escoamento gerado emregime natural / armazenamento total previsto (s nos afluentes).
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O Quadro 17 permite constatar esta afirmao:
Quadro 17 Escoamento em regime natural/Armazenamento previsto
RguaCarrapatelo Valeira PocinhoCrestuma
Torro
Frido
Daives
Vidago
Padroselos
Tmega
Paiva Ca
Varosa Tvora
Feiticeiro
Qt. Laranjeiras
AziboVinhais
Rebordelo
Foz Tua
Ct. Paiva
Alvarenga
Castro Daire
Portela
Miranda
Picote
Bemposta
Rio Douro
Tua Sabor
Foz
450155
325211
23166
155170
63,5115
13,2---------
8444
207 84
510 65
610151
46,5---------
26413
73,5---------
552100Varosa
Vilar
105-------- 125,5------------
230700
380380
525263
790114
13830
2341090
200340
459312
5398
60254
402--------
528--------
471-------
cota mdia 3,0
Foz-Ca
Pero Martins
Sr. Monforte
Sabugal
Aproveitamento hidroelctrico existente
Aproveitamento hidroelctrico previsto
Aproveitamento hidroagrcola existente
Total
rea da Bacia Hidrogrfica (km2)
Escoamento em regime natural (hm3)
Armazenamento total previsto (hm3)
97 500
23 000
12 935
Espanha Portugal
79 000 (81%)
15 000 (65,2%)
8 470 (65,5%)
18 500 (19%)
8 000 (34,8%)
4 465 (34,5%)
Fonte: [1] da Bibliografia
Cota N.P.A. (Nvel de Pleno Armazenamento)
Volume Total Armazenado (hm3)
Observao: No se entrou em considerao com os volumes dos aproveitamentos instalados nocurso principal do rio Douro (S. Jos, Roman, Villalcampo, Castro, Aldeadavila e Saucelle, emEspanha, e Miranda, Picote, Bemposta, Pocinho, Valeira, Rgua, Carrapatelo e Crestuma, emPortugal), visto serem explorados praticamente a fio de gua, no contribuindo, assim, para umasignificativa regularizao do rio.
Figura VIII
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 47
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Com o aproximar do fim da dcada de 1980 tomou-se finalmente conscincia danecessidade imperiosa de implementar albufeiras de significativa capacidade deregularizao nos afluentes do Douro Nacional, o que deveria, naturalmente, comearpelos situados o mais a montante possvel.
Foi assim lanado o aproveitamento de Foz-Ca, que iria constituir a primeira reservaestratgica de gua a instalar no Douro Superior, a qual, todavia, no seria suficiente,antes devia ser seguida de idntica reserva a instalar no Baixo Sabor.
A altssima valia daquela reserva residia no seu interesse sob o ponto de vista dosector energtico, como se ver adiante, mas tambm pelo seu contributo para oamortecimento dos caudais de ponta de cheias, o aumento da garantia dosabastecimentos de gua, urbano e industrial, e a melhoria das condies ambientaisem perodos crticos.
Todavia, a deciso poltica, tomada no incio de 1996, de suspender a construo doescalo de Foz-Ca fez o problema voltar estaca zero, ou seja, situao que, sobo ponto de vista de quase inexistncia de capacidade de regularizao na parteportuguesa da bacia, se retrata assim (em hm3):
Quadro 18 Armazenamento total
Total
Armazenamento total global (hm3) 7 441
Espanha Portugal
7 045 (95%)
(83% do total previsto)
396 (5%)
(9% do total previsto)
Fonte: [1] da Bibliografia e Figura VIII
RGUA (1973) Barragem /Descarregador, Central (156 MW) e Eclusa de Navegao
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3. O problema global
A reconhecida falta de capacidade de armazenamento e da correspondenteregularizao nos afluentes do Douro Nacional reflecte-se de forma gritante no graude satisfao dos consumos, o que se constata no Quadro 19 (em hm3/ano):
Quadro 19 Satisfao dos consumos
SituaoActual
SituaoFutura
Volumes Necessrios
Volumes Satisfeitos
Volumes Necessrios
Volumes Satisfeitos
Espanha Portugal
(85%)
(86%)
(40%)
(34%)
Fonte: [1] da Bibliografia(*) Se, entretanto, no for construdo mais nenhum aproveitamento
2 500
1 000
2 900
1 000(*)
3 860
3 300
5 400
4 600
Situaes Volumes
V-se assim que, enquanto Espanha tem um grau de satisfao dos consumos de85%, em Portugal esse valor se situa nuns modestos 40% (com tendncia paradecrescer se entretanto nada se fizer).
Tambm sob o ponto de vista ambiental imprescindvel a contribuio de albufeirascom significativa capacidade de armazenamento e, portanto, de regularizao, com oobjectivo de garantir caudais mnimos satisfatrios.
VALEIRA (1976) Barragem/Descarregador,
Central (216 MW) e Eclusa de Navegao
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Hidroelectricidade em Portugal memria e desafio 49
Uma viso sobre o Douro Que futuro?... O confrangedor presente? Captulo VI
Relativamente a estes aspectos garantia de satisfao dos consumos e condiesambientais satisfatrias , vale a pena referir a importncia dada aos impactospositivos sob o ponto de vista ambiental e dos abastecimentos, no documentoelaborado pelo INAG/COBA em 1995, onde se conclui:
Para evitar a dependncia total em relao a Espanha ser no entanto de toda aconvenincia (e, mesmo, urgncia) que se disponha em territrio nacional, o mais amontante possvel, de uma grande albufeira de armazenamento capaz de acudir deforma eficiente a situaes de emergncia, potencialmente gravosas para o troonacional do Douro.
Outro aspecto extremamente importante que tem de ser considerado no planeamentoe na gesto do aproveitamento hidrulico de uma bacia hidrogrfica o respeitante sinfra-estruturas a implementar com o objectivo da diminuio dos efeitos gravososprovocados pelas cheias, com particular relevncia para o amortecimento dos valoresdos caudais de ponta, ou seja, a laminagem das pontas de cheias.
A este respeito a situao actual na bacia nacional do rio Douro preocupante, poispraticamente caracteriza-se pela quase total inexistncia de albufeiras nos seusafluentes com a necessria capacidade de armazenamento para assegurar talobjectivo (as albufeiras do Torro, do Varosa e de Vilar no dispem de capacidadesuficiente para terem algum significado).
A este propsito, atente-se num exemplo recente ocorrido durante as ltimas cheias,em Maro de 2001, observadas na cascata do Douro: a Espanha, que domina 80%da bacia total, lanou na seco de Barca dAlva cerca de 1800 m3/s, enquanto quePortugal, que no domina os restantes 20% da mesma, contribuiu com 6