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XXII ENCONTRO NACIONAL DA ANPOCS GRUPO DE TRABALHO FAMÍLIA E SOCIEDADE (98GT0511) HERALDO PESSOA SOUTO-MAIOR DURKHEIM E A FAMÍLIA (Da "Introdução à Sociologia da Família" à "Família Conjugal") CAXAMBU - MG 27-31 DE OUTUBRO DE 1998

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  • XXII ENCONTRO NACIONAL DA ANPOCS

    GRUPO DE TRABALHO FAMLIA E SOCIEDADE (98GT0511)

    HERALDO PESSOA SOUTO-MAIOR

    DURKHEIM E A FAMLIA (Da "Introduo Sociologia da Famlia" "Famlia Conjugal")

    CAXAMBU - MG 27-31 DE OUTUBRO DE 1998

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    DURKHEIM E A FAMLIA (Da "Introduo Sociologia da Famlia" "Famlia Conjugal") 1

    Heraldo Pessoa SOUTO-MAIOR2

    Em um texto j bastante antigo, intitulado "A Sociologia da Famlia: Horizontes na

    Teoria da Famlia", GOODE (1960: p. 179) queixava-se:

    "De Gemeinschaft und Gesellschaft at o presente, tericos de primeira classe no escreve-ram qualquer obra importante sobre a sociologia da famlia. De Weber, Pareto e Durkheim, por exemplo, somente Durkheim fez suficientes observaes sobre a famlia como parte da es-trutura social para permitir uma compilao de suas idias sobre essa instituio - e ningum se preocupou em fazer tal compilao."

    O texto de GOODE, inicialmente uma apresentao oral, foi publicado em uma cole-

    tnea intitulada Sociologia Hoje: Problemas e Perspectivas (MERTON, BROOM and

    COTTRELL, JR., 1960) e tinha o objetivo geral de "comunicar o que vemos no cume das

    coisas e onde pretendemos ir". Mais particularmente, pretendia examinar "rapidamente certos

    problemas de qualquer teoria da famlia", sugerir "a reformulao de importantes atributos e

    funes estruturais da famlia" e "produzir uma seqncia de proposies desenvolvidas no

    tema anterior e usando a teoria sociolgica geral como guia."

    possvel que o lamento de GOODE ainda tenha sentido. No que concerne a Weber

    possvel mencionar-se o livro de Blustone, Max Weber's Theory of Family; os captulos 11 e

    12 de COLLINS (1986), e a seguinte referncia em COLLINS (1986a; pp. 139-140):

    "Weber tambm tem uma teoria da famlia, baseada em evidncia comparativa, que pe fato-res tanto polticos como econmicos por trs da anlise daquela instituio. Ele oferece uma perspectiva muito iluminadora da famlia atravs da histria mundial que se harmoniza bem com a vigorosa pesquisa atual sobre aquele tpico; e de interesse especial para ns agora, porque lida diretamente com estratificao sexual, com a posio de homens e mulheres, que

    1 Trabalho apresentado na XXII Encontro Anual da ANPOCS, GT Famlia e Sociedade, Caxambu, Minas Gerais, 27-31/10/1998. 2 Professor e Pesquisador do Programa de Ps-Graduao em Sociologia (PPGS/UFPE) e Consultor Senior da Uni-versidade Federal de Pernambuco.

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    tanto um tpico intelectual maior como uma controvrsia social de hoje em dia. [...] Aqui co-mo alhures Weber continua muito contemporneo em sua relevncia terica."

    No que concerne a Durkheim, pouca coisa parece ter sido feita. Alguns de seus textos

    so mais conhecidos. Poder-se-ia citar, possivelmente, "La prohibition de l'inceste et ses ori-

    gines" (L'Anne Sociologique, Premire Anne, 1896-1897: 1-70) e as discusses contidas em

    O Suicdio.

    Nos textos mais populares publicados sobre a obra de Durkheim, Alpert (1939,

    1961), Bellah (1973), Giddens (1978), Lukes (1973), Nisbet (1965, 1974), apenas o de Lukes

    dedica um documentado captulo, "Famlia e Parentesco" (Pp. 179-190) a esse tema.

    TRAUGOTT (1994 [1978]) contm uma parte "Sociologia da Famlia" (Pp. 205-252), inclu-

    indo trs textos bsicos ("Introduo Sociologia da Famlia", "A Famlia Conjugal" e "Di-

    vrcio por Consentimento Mtuo") , alm da anlise crtica do livro de Marianne Weber, E-

    hefrau und Mutter in der Rechtsentwickelung (Pp. 139-144), esta includa na parte "Recenses

    e Anlises Crticas", todos traduzidos para o ingls.

    na coletnea Textes (1975a, 1975b, 1975c), organizada por Victor Karady, que va-

    mos encontrar o maior repositrio dos escritos de Durkheim sobre a famlia, publicados em

    lugares diversos, e, no ndice remissivo, referncias abundantes ao assunto em outros tipos de

    textos.

    O bsico dos escritos de Durkheim sobre a famlia pode ser subdividido em trs ttu-

    los: 1. Memrias originais (para conservar o ttulo de uma das partes da Anne Sociologique;

    2. Cursos, e 3. Anlises (tambm uma parte da Anne). Estes podem ser considerados os mais

    importantes. Contudo, no deve ser esquecido que, em outros locais, inclusive em O Suicdio,

    vamos encontrar o tema servindo para ilustrar a exposio ou o debate. A famlia pode apare-

    cer para exemplificar a metodologia da anlise das instituies, o debate sobre as relaes

  • 4

    entre a sociologia e a histria e esta como fonte para a anlise sociolgica, ou ainda em de-

    bates sobre a moralidade.

    Neste trabalho, apenas uma introduo ao estudo da famlia em Durkheim, vamos fo-

    calizar principalmente dois textos, "Introduction la sociologie de la famille" e "La famille

    conjugale". O primeiro foi publicado inicialmente nas Annales de la Facult de Lettres de

    Bordeaux, 10, 1888: pp. 257-281 e constitui a sua aula de abertura de seu Curso Pblico de

    Sociologia (1888-1989) na referida Faculdade, intitulado "A Famlia, origens, tipos princi-

    pais". Posteriormente foi includa em DURKHEIM, 1975c (pp. 9-34) e tambm traduzida e

    publicada em ingls por TRAUGOTT (1978: pp. 205-228). O segundo, publicado com notas

    por MARCEL MAUSS em 1921 (Revue Philosophique, 90: pp. 1-14), foi a ltima aula, de

    22 de abril de 1882, a 27a de seu curso "A Famlia: a partir da famlia patriarcal", oferecido

    em 1891-1892.

    Como lembra Lukes (1975: p. 179), o "trabalho publicado de Durkheim sobre a fam-

    lia est muito sub-representado". Em observao de rodap, feita na publicao de 1921,

    MAUSS esclarece:

    "Por muito tempo foi inteno de Durkheim publicar o conjunto de suas pesquisas so-bre a . Pouco tempo antes da guerra, no momento em que empreendeu a publica-o de sua , ele entretanto hesitava: sonhava a dar apenas a substncia que tinha passado em seu curso de , o qual constitui a Segunda parte de seu Curso de moral. A guerra veio resolver a questo. Durkheim, muito antes de morrer, havia renuncia-do definitivamente a esse projeto, que todos aqueles que tinham seguido esse curso teriam querido v-lo realizar. Ele nos recomendou publicar apenas a sua . certo que no poderia aparecer na forma definitiva de um vasto tratado seno ao preo de um longo trabalho de verificao e de atualizao. A histria do di-reito domstico, sobretudo nas sociedades primitivas tinha tido, com efeito, inmeros pro-gressos aps 1892. Por outro lado, ao rever este curso, tantas partes dele nos parecem, aps mais de um quarto de sculo, ainda to justas e to profundas, que julgamos de nosso dever de fazer o p-blico beneficiar-se dele o mais possvel." (DURKHEIM, 1975e, p. 35)

    Para o pesquisador de hoje, apenas o texto inicial e o final dos cursos e pesquisas de

    Durkheim, acima mencionados, existem. Tem razo Lukes (1975: p. 179) ao lamentar, em

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    nota de rodap, que Mauss no tivesse desobedecido as ordens de seu mestre e publicado es-

    ses manuscritos. Lembra, contudo, que se consulte o texto de Davy (1925), "Vises sociol-

    gicas sobre a famlia e o parentesco segundo Durkheim".

    Uma apreciao crtica do pensamento durkheimeano sobre a famlia envolve hoje,

    talvez, um trabalho mais longo de que o imaginado por Mauss para o vasto tratado que resul-

    taria da reviso dos manuscritos dos cursos. Como estes, que deveriam ter uma viso sistem-

    tica e ordenada, no existem mais (exceto os dois de que vamos tratar), ser necessrio ga-

    rimpar, nas diversas anlises publicadas na Anne e em outros lugares durante muitos anos, as

    nuanas desse pensamento. Alm disso, faz-se mister rever os progressos feitos por antrop-

    logos e historiadores, suas principais fontes de dados no estudo da famlia, para avaliar at

    onde suas idias continuam de p. So, sem dvida, duas tarefas que ultrapassam os limites

    desta comunicao, o que a restringe aos dois textos analisados.

    Em sua aula inaugural de 1888 Durkheim apresenta as idias bsicas que nortearo o

    seu curso, depois de uma breve sntese dos "resultados a que chegamos no curso do ano ante-

    rior" , que foram sobre "as formas gerais da sociabilidade e suas leis". Agora que "so bem

    conhecidas por ns, iremos empregar todo este ano ao estudo de uma espcie social particu-

    lar". O grupo escolhido " o mais simples de todos e cuja histria a mais antiga", a famlia.

    (DURKHEIM, 1975c: p. 11). Mas,

    "De todos os grupos familiares, o que nos interessa acima de qualquer outro e que importa sobretudo conhecer e compreender, o que existe presentemente sob nossos olhos e no seio do qual vivemos. Ns tomaremos por ponto de partida e por tema a famlia tal qual se apresenta hoje em dia nas grandes sociedades europias." (Id., ibid.)

    Isso tem que ver, certamente, com o que Durkheim considerava ser o objetivo da so-

    ciologia, "... fazer compreender as instituies sociais presentes de maneira que ns possamos

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    entrever o que elas so destinadas a ser e o que ns devemos querer que elas sejam."

    (DURKHEIM, 1908: p. 132).

    A anlise a ser feita dever compreender "um sistema de relaes cujo conjunto cons-

    titui a vida da famlia" (DURKHEIM, 1975d, p. 12). Os elementos que entram nas relaes

    so, nas prprias palavras de Durkheim:

    "... para comear, as pessoas e os bens; depois, entre as pessoas, ter-se-ia que levar em consi-derao, alm dos esposos e os filhos, o grupo geral dos consangneos, os ancestrais em todos os graus; isto que resta em uma palavra da antiga gens cuja autoridade era antigamente to poderosa e que, ainda agora, intervm no crculo restrito da famlia propriamente dita.. H en-fim o Estado que, ele tambm, em casos determinados , vem se misturar vida domstica e torna-se mesmo todos os dias um fator importante dela. Isto feito, procuraramos como esses elementos funcionam, isto , que relaes as unem umas com as outras." (Id., p. 11)

    Se observarmos o quadro completo de anlise proposto por Durkheim (ANEXO A),

    veremos que antecipa e se assemelha ao sistema de relaes familiares proposto por DAVIS

    (1956 [1948]: pp. 414-416), cinqenta ou sessenta anos depois. O de DAVIS (ANEXO B)

    reduz-se famlia nuclear como sistema fechado e no inclui explicitamente os bens, enquan-

    to de DURKHEIM introduz relaes "externas" como a "grande famlia" e o Estado. Fica aqui

    a referncia, sendo lcito indagar-se se o texto do primeiro era conhecido pelo segundo.

    bom que se observe que o esquema proposto era provisrio e tinha uma influncia

    decisiva do direito de famlia, ficando os exemplos buscados nos costumes para momento

    posterior conforme est explcito no texto. Alm disso, o quadro serve para descrever (anali-

    sar) as relaes familiares, mas "uma anlise no uma explicao. Depois de se ter descrito

    as diferentes relaes ter-se- de procurar quais so as suas razes de ser". (Id., p. 13) Isto

    implica, no meu modo de entender, duas novas observaes sobre o modo de DURKHEIM

    trabalhar em seus cursos e no estudo das instituies.

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    Em primeiro lugar, no caso do curso sobre famlia v-se que, durante a sua realizao,

    o prprio autor vai obtendo novos dados. O quadro oferecido "apenas para precisar idias.

    Somente no fim do curso que veremos se poderemos obter qualquer coisa de mais definiti-

    vo" (ANEXO A) . O curso no ir "resolver todos os problemas que iremos encontrar diante

    de ns" DURKHEIM, 1975d: p. 16); "apenas um primeiro ensaio destinado a ser revisto.

    [...] esta maneira de proceder ter a grande vantagem de dar mais vida a nossas pesquisas e a

    vos fazer sentir melhor o interesse" (Id., ibid.).

    Essas pesquisas durkheimeanas sobre a famlia continuaro por muitos anos e delas

    temos conscincia pela quantidade de revises crticas que fez para a Anne Sociologique at

    seu ltimo volume, o XII (1909-1912), dezessete somente neste. Como veremos, os estudos

    histricos e etnogrficos so fontes fundamentais na metodologia durkheimeana. Qual essa

    metodologia?

    Em segundo lugar, bom observar que DURKHEIM est sempre recorrendo s suas

    concepes tericas e metodolgicas gerais e no perde oportunidade para sustent-las. Na

    abordagem de seus objetos e na metodologia h, tambm, um esforo constante de estabele-

    cer a sociologia como cincia autnoma da sociedade. Ou como disse em um certo momento

    "a obra qual, com tantos outros, empreguei minha vida" (DURKHEIM, 1908: p. 132).

    Basicamente, como sabemos, o mtodo adotado o comparativo e o modelo ideal, que

    o pensamento de Claude Bernard sobre o mtodo experimental, ilumina as comparaes

    tornando-as experimentos indiretos. Em vrias passagens possvel perceber a presena da

    lgica de Mill.

    Sendo a metodologia adotada indutiva, as "indues no tero valor se no repousam

    sobre fatos, sobre muitos fatos" (DURKHEIM, 1975d: p. 16). Mas no se trata apenas de reu-

    nir grande nmero de fatos. "importante escolher bem os que convm utilizar" (Id., 16-17).

  • 8

    O relato dos viajantes visto com extrema suspeita. O grande perigo o da subjetivi-

    dade e dos preconceitos desses observadores. Por exemplo,

    "Assim, para um missionrio imbudo de idias crists sobre o casamento, os casos de polian-dria sero o smbolo de uma verdadeira anarquia domstica e da mais grosseira imoralidade. Ao contrrio, um esprito um pouco revolucionrio, por pouco que se vanglorie de socialismo, levado por sua paixo pelos fracos e pelo hbito de tomar sua defesa, julgar os tipos familia-res de acordo com o tratamento que do mulher. Ora, a situao privilegiada da mulher, bem longe de estar sempre apoiada em um ndice de progresso, tem s vezes por causa uma orga-nizao domstica ainda rudimentar. Enfim, alm disso, pode acontecer que esses fatos isola-dos, to surpreendentes como paream, no tenham relao com o estado constitucional da famlia. [...]

    necessrio ento, em geral, recusar esses relatos e essas descries que podem ter um interesse literrio e mesmo uma autoridade moral mas que no so documentos suficien-temente objetivos. Essas impresses pessoais no so material de que a cincia possa servir-se utilmente." (Id.: p. 17)

    O nico meio de se conhecer "com alguma exatido a estrutura de um tipo familiar"

    busc-lo nele mesmo evitando "simples incidentes da vida pessoal" e buscando "prticas re-

    gulares e constantes, resduos de experincias coletivas, realizadas por uma seqncia de ge-

    raes (Id., 17-18). So recomendaes que, no geral, se aplicariam a qualquer pesquisa em-

    prica sobre qualquer instituio.

    E quais so as fontes confiveis? E a resposta: "O direito, os costumes tal como a

    etnografia e a histria nos fazem conhec-los, enfim a demografia da famlia, tal a fonte

    tripla onde iremos buscar a matria de nossas indues." (Id.: 23). Por que o direito e os cos-

    tumes? Por serem "maneiras de agir consolidadas pelo uso", "no somente habituais mas o-

    brigatrias para todos os membros da sociedade". O que distingue um costume "no sua

    freqncia mais ou menos grande; sua virtude imperativa", "no o que se faz mais freqen-

    temente, mas o que deve ser feito", "a existncia de uma sano, tal o critrio que impede

    confundir um costume com um simples hbito".

    Aqui discordamos de LUKES (1975: 180), quando afirma que s nos meados dos anos

    noventa, quando teve conhecimento mais amplo da etnografia americana, Durkheim percebeu

  • 9

    toda a relevncia dos dados etnogrficos para o estudo da famlia; a aula introdutria de que

    estamos tratando de 1888. Como vimos, a sua profunda desconfiana era para com os rela-

    tos de viajantes e observadores no cientficos. De sada, a etnografia est ao lado da histria

    como fonte de dados.

    Um ponto a ser discutido hoje como todo um captulo na anlise durkheimeana da

    famlia a natureza dos dados etnogrficos usados por Durkheim, diante dos progressos feitos

    pela antropologia, como j relembrava Mauss em 1925, na publicao comentada que fez de

    A Famlia Conjugal". Ver, por exemplo, Maybury-Lewis (1965), citado pelo prprio LUKES.

    Se a histria e a etnografia tomam conta do direito e dos costumes, a que vem a de-

    mografia?

    DURKHEIM explica que aquelas nos expem a alguns inconvenientes, pois o direito e

    os costumes "exprimem apenas as mudanas sociais j fixas e consolidadas"; no nos dizem

    sobre os fenmenos que "ainda no chegaram ou no devem chegar a esse grau de cristaliza-

    o, isto , que no determinam modificaes de estrutura". Existem fenmenos fluidos que

    so muito importantes. O direito pode no exprimir o estado real da sociedade. "H ento

    certos fenmenos que estamos sujeitos a no perceber seno depois de muito tempo que so

    produzidos, ou mesmo deix-los despercebidos." (Id.: p. 22) a demografia que nos vem

    socorrer dessas imperfeies. Vale a pena transcrever o que diz DURKHEIM (Id.: p. 23):

    "Por outro lado chegar um momento no curso em que poderemos corrigir esta imperfeio de nosso mtodo; quando chegarmos famlia contempornea. Neste caso, graas demografia, poderemos atingir com segurana os fenmenos da vida domstica, mesmo quando eles no tomaram uma forma jurdica. A demografia, com efeito, consegue exprimir quase dia a dia os movimentos da vida coletiva. Um observador isolado no percebe jamais que uma poro res-trita do horizonte social: a demografia abraa a sociedade no seu conjunto. Era sempre de se temer que o primeiro misturando suas impresses realidade no a desfigurasse: a estatstica nos pe defronte de nmeros impessoais. No somente os nmeros traduzem de uma maneira autntica e objetiva os fenmenos sociais, mas os traduzem melhor porque tornam sensveis suas variaes quantitativas e permitindo sua medida. Quando ento estudarmos a famlia eu-ropia atual, tiraremos proveito do direito e dos costumes, mas ainda das indicaes demogr-ficas."

  • 10

    Essas pesquisas sobre a famlia devem ser enfrentadas com um "sentimento profundo

    de sua complexidade", mas preciso no esquecer que "estamos na presena de fenmenos

    naturais, por conseguinte sujeitos a leis" (Id.: 24). Em uma teoria da famlia deve-se evitar

    dois perigos a que est sujeita, o do simplismo e o da ausncia de generalizao. No deve-

    mos cair no pecado de alguns autores que "querem tudo explicar por um s princpio" (Id.,

    ibid.), ou no de outros que renunciam a "toda sistematizao, sob o pretexto de que essa mas-

    sa de fatos heterogneos no pode servir de matria para generalizaes cientficas" (Id., i-

    bid.). Seria "postular um milagre" "admitir que h um mundo no mundo onde no reinaria a

    lei da causalidade" (Id., ibid). Quanto a ele, diz:

    "... desconfiando das explicaes simples, das classificaes lineares e geomtricas, mantere-mos que h nessa parte da natureza como em todas as outras uma ordem, mas de uma grande complexidade. Procuraremos a encontrar as linha principais, isto , sistematizar todos esses fatos, mas sem confundi-los artificialmente. Esforar-nos-emos para descobrir suas relaes, respeitando as diferenas que as separam." (Id., ibid.)

    Mais adiante adverte-nos para nos prevenirmos contra preconceitos "otimistas" ou

    "pessimistas", ou seja, tomar modelos antigos de famlia para serem imitados ou considerar o

    nosso tipo atual como superior e "nos vangloriarmos de nosso progresso" (Id., ibid.), pois,

    "Para a cincia , os seres no esto uns acima dos outros; so apenas diferentes porque seus ambientes diferem. No h uma maneira de ser e viver melhor para todos, com a excluso de qualquer outra, e por conseguinte no possvel classific-las hierarqui-camente segundo se aproximem ou distanciem desse ideal nico. [...] A famlia de ho-je no mais nem menos perfeita que a de antigamente: ela outra porque as circuns-tncias so diferentes. [...] O cientista estudar ento cada tipo em si mesmo e sua nica preocupao ser a de procurar a relao que existe entre os caracteres constitu-tivos desse tipo e as circunstncias que os cercam." (Id.: 25)

    Um aspecto que ressalta aqui a necessidade de nos estudos sobre a famlia (pode-

    ramos dizer sobre as instituies) a sua conexo com a estrutura social. Como lembra

    LUKES (1975: p. 181) seu ponto de partida "era uma firme assertiva do ponto de vista de que

  • 11

    famlia e casamento so instituies sociais e que h uma relao definitiva entre elas e outras

    formas de organizao social."

    Como trabalho preparatrio, " necessrio constituir de incio os principais tipos fami-

    liares, descrev-los em gneros e espcies, procurar enfim tanto que possvel as causas que

    determinaram sua apario e sobretudo sua sobrevivncia." (Id., p. 15) Mas, no se pense que

    devemos "...nos limitar a uma simples classificao de espcies desaparecidas; mas desse es-

    tudo do passado se sair uma explicao do presente que se tornar cada vez mais completa,

    na medida em que avanamos em nossas pesquisas." (Id., ibid.) E por que? Durkheim explica.

    "Porque as formas da vida domstica, mesmo as mais antigas e mais distantes de nos-sos costumes no cessaram completamente de existir; mas delas resta qualquer coisa na famlia de hoje. Porque os seres superiores saram dos seres inferiores, eles os lem-bram e resumem de alguma forma. A famlia moderna contm, como uma sntese, to-do o desenvolvimento histrico da famlia; ou, se no seria correto dizer que todos os tipos familiares se reencontram no tipo atual, porque no est demonstrado que todos estiveram em comunicao direta ou indireta com ele, pelo menos isso verdadeiro em boa parte. Assim consideradas, as diferentes espcies de famlia que se formaram sucessivamente aparecem como as partes, como os membros da famlia contempor-nea, que a histria nos oferece, por assim dizer, naturalmente dissociadas.. Sob essa forma bem mais fcil de estud-las que no estado de penetrao ntima e mtua em que esto hoje. Em conseqncia cada vez que tivermos constitudo uma espcie familiar, procuraremos o que ela tem de comum com a famlia de hoje e o que ela explica. (Destaque nosso) (Id., ibid.)

    Da comparao dos diversos tipos familiares, atravs da anlise das semelhanas e

    variao concomitante, possvel dar conta da condio que explica os caracteres fundamen-

    tais e de sua causa. Durkheim exemplifica com a ligao conjugal, que se encontra em qual-

    quer tipo e com a indissolubilidade do matrimnio que no encontrado em todos. No pri-

    meiro exemplo, se se determina "quais so os fatos concomitantes que no variaram, se ter

    o direito de a ver a condio que d conta desses caracteres fundamentais". (Id., pg. 14) No

    segundo exemplo, os "caracteres que seriam comuns a todos esses tipos, que no seriam en-

  • 12

    contrados nos outros, que variariam como esta propriedade mesma, dela seriam a causa." (Id.,

    ibid.).

    A "Introduo" prope um roteiro terico e metodolgico para o estudo da famlia e de

    outras instituies sociais. Nela vamos encontrar as posies bsicas de Durkheim quanto a

    esses pontos e uma fonte para o estudo da evoluo do pensamento de Durkheim nessa rea.

    Datando de 1888, anterior, portanto, Diviso do Trabalho (1893), s Regras (1894) e ao

    Suicdio (1897), torna-se uma referncia bsica para acompanhar essa evoluo.

    Como j vimos, o manuscrito das pesquisas sobre famlia e prelees intermedirias

    at "A Famlia Conjugal" no foram publicadas e no mais existem (LUKES, 1975: 179),

    projeto que os que as seguiram "teriam querido ver realizado" (MAUSS, in DURKHEIM,

    1975e: 35, Nota de rodap). Depreende-se que DURKHEIM estudou os diversos tipos de fa-

    mlia at chegar famlia contempornea, ou seja, como ele denominou, a famlia conjugal,

    cumprindo os objetivos traados na aula inaugural.

    Pelo menos trs tipos anteriores foram (devem ter sido) abordados, o do comunismo

    domstico, a famlia patriarcal e a famlia paternal. MAUSS (Id., ibid) informa-nos:

    "A aula precedente tinha sido sobre a Famlia paternal. Era o nome que Durkheim da-va s instituies domsticas dos povos germnicos e que ele distinguia fortemente daquelas da famlia patriarcal romana. A principal diferena consistindo na concen-trao absoluta e excessiva do poder em Roma da patria potestas entre as mos do pater familial; os direitos da criana, da mulher, e sobretudo o dos parentes em linha maternal eram ao contrrio caracterstica da famlia paternal." Para DURKHEIM, a famlia conjugal "resulta de uma contrao da famlia paternal.

    Esta compreendia o pai, a me e todas as geraes sadas deles, salvo as filhas e seus descen-

    dentes. A famlia conjugal compreende apenas o marido, a mulher, os filhos menores e celi-

    batrios." (Id.: 35-36) O que ele vai analisar a famlia tal como a regulamenta o Cdigo Ci-

    vil napolenico.

  • 13

    Por que famlia conjugal? "Como os seus nicos elementos permanentes so o marido

    e a mulher, j que todos os filhos cedo ou tarde deixam a casa [paternal] eu proponho cha-

    m-la a famlia conjugal." (Id.: 35) Neste caso, a fonte mesma de estudo a prpria lei, a

    famlia cristalizada nas regras jurdicas, com a intromisso definitiva do Estado. Trata-se de

    um sistema de direitos e obrigaes, de papis sociais definidos pelo direito. Neste tipo, "ces-

    sa o estado de dependncia perptua que era a base da famlia patriarcal e da famlia pater-

    nal." (Id., ibid.) O que resta das duas anteriores a obrigao de alimentos para com os pais

    em caso e doena e, inversamente, direito a uma parte da herana dos bens familiares, j que

    no direito francs os filhos no podem ser deserdados inteiramente. A famlia conjugal ,

    portanto, um tipo estrutural novo. No seu interior, diz Durkheim (1975e p. 37), o que a fam-

    lia conjugal "apresenta de novo, uma desestruturao do velho comunismo familial de que

    no tnhamos encontrado um s exemplo. At o presente, com efeito, o comunismo permane-

    ceu a base de todas as sociedades domsticas, com exceo talvez da famlia patriarcal."

    Nesta, o comunismo familial tem por substrato "no mais a prpria famlia [viva] de uma

    maneira indivisa, mas a pessoa do pai. Tambm a sociedade domstica a forma um todo em

    que as partes no tm mais individualidade distinta." (Id., ibid.) Isto no acontece na famlia

    conjugal: "Cada um dos membros que a compem tem sua individualidade, sua esfera de ao

    prpria." (Id., ibid.)

    Aqui se pem duas questes tericas importantes. A primeira diz respeito dinmica

    da passagem de um tipo para outro. fcil verificar-se que a estrutura das relaes diferente

    nos dois casos, justificando-se a distino tipolgica. Mas, como o prprio DURKHEIM a-

    chava, a sociologia no est a simplesmente para descrever e explicar o passado; deve ir

    alm, procurar encontrar leis, entender porque as instituies chegaram a ser o que so e o que

    devero ser. um problema de previso e de utilidade da sociologia para polticas sociais, se

  • 14

    isto possvel. Trata-se de averiguar como as circunstncias (hoje diramos o sistema externo)

    mudam e como ao mudarem afetam as instituies. Ser que a passagem da solidariedade

    mecnica para a orgnica d conta disso? E ser que DURKHEIM, posteriormente, ainda es-

    tava ligado a essa distino? NISBET (1965) acha que no. At onde a questo da diferencia-

    o social estava por ele desenvolvida para vir em nosso auxlio?

    A segunda diz respeito proposio de procurar o que cada tipo de famlia anterior

    tem de comum com a famlia contempornea. Aqui cabe analisar, no nosso modo de entender,

    at onde ia o evolucionismo de DURKHEIM, ou seus "preconceitos evolucionistas" como diz

    LUKES (1975; p. 181). Certamente, o que deveria resultar de todas essas comparaes e dis-

    tines seriam as caractersticas bsicas que estariam presentes em qualquer tipo, passado ou

    presente, e constituiriam os elementos constantes, nunca ausentes, de uma definio da fam-

    lia, de qualquer famlia em qualquer tempo. Ou, talvez, da funo ou funes da famlia que

    restaria ou restariam, aps o processo histrico de diferenciao final. O ncleo ltimo e

    irremovvel.

    Afinal, como vimos, os dois textos aqui analisados so que resta do que teria sido

    uma exposio mais ampla e sistemtica do pensamento durkheimeano sobre a famlia. Vi-

    mos, tambm, que os textos completos, se existissem, necessitariam de uma ampla reviso, o

    que j ocorreria em vida de DURKHEIM. Hoje, o que tem de ser feito uma anlise detalha-

    da de outros textos, alguns no includos na bibliografia do ANEXO C, e tentar sistemati-

    z-los. Importante, ainda, ao longo do tempo em que foram escritos, verificar a contribuio

    para o pensamento terico de nosso autor, ou sua integrao nesse pensamento.

  • 15

    Referncias Bibliogrficas ALPERT, Harry, mile Durkheim and his Sociology. New York, 1961 (1939) BELLAH, Robert N., mile Durkheim on Morality and Society. Selected writings, edited and

    with na Introduction by Robert N. Bellah. Chicago and London: The University of Chi-cago Press, 1973.

    BLUSTONE, Leslie David, Max Weber's Theory of Family. (?) COLLINS, Randall, Max Weber. A Skeleton Key. Beverly Hills, London, New Delhi: Sage

    Publications, 1985. _______________, Weberian Sociological Theory. New York: Cambridge University Press,

    1986. DAVIS, Kigsley, Human Society. New York, NY: Macmillan, 1956. DAVY, George, "Vues sociologiques sur la famille et la parent d'aprs mile Durkheim",

    Revue Philosophique, 100, 1925: 79-117. Tambm publicado em George DAVY, Socio-logues d'hier et dujourd'hui. Paris, 1931, 2nd d., 1950.

    DURKHEIM, mile, "Introduction la sociologie de la famille", in mile DURKHEIM, Textes. 3. Fonctions sociales et institutions. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975d: pp. 9-34.

    ________________, "La famille conjugale", in Textes. 3. Fonctions sociales et institutions. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975e: pp. 35-49.

    ________________, "Remarque sur la mthode en sociologie". Les Documents du Progrs, 2, 1908: 131-134. Reproduzido em "'Emile DURKHEIM, Textes. 1. Elments d'une thorie sociale. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975a: 58-61.

    ________________, Textes. 1. Elments d'une thorie sociale. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975a.

    ________________, Textes. 2. Religion, morale, anomie. Prsentation de Victor Karady. Pa-ris: Les ditions de Minuit, 1975b.

    ________________, Textes. 3. Fonctions sociales et institutions. Prsentation de Victor Ka-rady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975c.

    GIDDENS, Anthony, As Idias de Durkheim. So Paulo: Cultrix, 1981. GOODE, William J., "The Sociology of the Family. Horizons in Family Theory", in Robert

    K. Merton, Leonard Broom and Leonard S. Cottrell, Jr., Sociology Today. Problems and Prospects. New York, NY: Basic Books, Inc., 1960: 180-196.

    LUKES, Steven, mile Durkheim. His Life and Work. A Historical and Critical Study. Lon-don, UK: Penguin Books, 1975.

    MAYBURY-LEWIS, David, "Durkheim on Relationship Systems". Journal for the Scientific Study of Religion, 4, 1965: 253-260.

    NISBET, Robert A. Ed., mile Durkheim. Englewood Cliffs, NJ: , 1965. _______________, The Sociology of mile Durkheim. New York : Oxford University Press,

    1974. TRAUGOTT, Mark, mile Durkheim on Institutional Analysis. Edited, translated, and with

    an Introduction by Mark Traugott. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1978.

  • 16

    ANEXO A

    DURKHEIM: SISTEMA DE ANLISE DA FAMLIA AS PESSOAS E OS BENS OS CONSANGUNEOS 1o Relaes do marido com seus prprios parentes e os de sua mulher. 2o Relaes da mulher com seus prprios parentes e os de seu marido.

    1o Quanto s pessoas. 2o Quanto aos bens. (Emancipao pelo casamento. Dote. Direito sucessrio. Conselho judicirio. Parentesco por aliana: sua natureza e conseqncias). 3o Relaes dos filhos com os consangneos paternais e maternais. 1o Quanto s pessoas. 2o Quanto aos bens. (Conselho de famlia. Tutela. Direito sucessrio, etc.)

    OS ESPOSOS

    1o Relaes dos futuros esposos no ato gerador da famlia (casamento). (Nubilidade. Consentimento. No existncia de um casamento anterior. Monogamia. -

    No existncia de parentesco em um grau proibido, etc.). 2o Relaes dos esposos quanto s pessoas.

    (Direitos e deveres respectivos dos esposos. Natureza da ligao conjugal: dissolubilidade ou indissolubilidade, etc.). 3o Relaes dos esposos quanto aos bens. (Regime dotal, comunho, separao dos bens. Doaes. Direito sucessrio, etc.).

    OS FILHOS

    1o Relaes dos filhos com os pais quanto s pessoas. (Ptrio poder. Emancipao. Maioridade, etc.). 2o Relaes dos filhos com os pais quanto aos bens. (Herana. Direito de reserva. Bens prprios do filho. Tutela dos pais, etc.). 3o Relaes dos filhos entre eles. (Se reduzem atualmente quase ao direito sucessrio).

  • 17

    O ESTADO

    1o Interveno geral do Estado em tanto que sanciona o direito domstico. (A famlia como instituio social). 2o Interveno especfica nas relaes entre futuros esposos.

    (Celebrao do casamento) 3o Interveno especfica nas relaes entre esposos. (Substituio do marido pelo tribunal para certas autorizaes). 4o Interveno especfica nas relaes entre pais e filhos. (Participao do tribunal para o exerccio do ptrio poder. - Garantias criana. - Projeto de lei sobre a derrogao da autoridade paternal). 5o Interveno especfica nas relaes com consangneos. (Nos conselhos de famlia. - Nos pedidos de interdio, etc.).

    1. Este quadro no , entenda-se, que inteiramente provisrio e ns o oferecemos apenas para precisar as idias. Somente no fim do curso que veremos se poderemos obter qual-quer coisa de mais definitivo.

    Observar-se- ademais que todos os exemplos so tomados de emprstimo ao direito e no aos costumes. que a determinao dos costumes domsticos atuais constitui um problema que vir a seu tempo mas que no poderamos supor resolvido em nossa primeira aula).

    ( Traduzido de "Introduction la sociologie de la famille", in mile DURKHEIM, Textes.

    3. Fonctions sociales et institutions. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minu-it, 1975c: 12-13)

  • 18

    ANEXO B

    SISTEMA DE RELAES FAMILIARES/ESQUEMA DE VARIAES

    1. Relao Conjugal A. Nmero de Cnjuges Monogamia Poligamia

    Poliginia Poliandria B. Tipo de Cnjuges Casamento

    Concubinato C. Grau de Autoridade Igualitrio Patriarcal (Patrirquico) Matriarcal (Matrirquico) D. Fora da Ligao Temporria

    Fraca (Divrcio fcil) Indissolvel E. Possibilidade de Novo Casamento No casamento aps a morte ou divrcio Novo casamento permitido Novo casamento obrigatrio

    F. Idade ao Casar Cedo (casamento em criana) Tarde

  • 19

    G. Escolha do Cnjuge Quem determina a escolha: Escolha livre pelos jovens/parceiros Seleo controlada pelos pais/sociedade Bases da escolha (endogamia e exogamia): Parentesco Casta/classe Regio Religio H. Trocas no Casamento Preo da noiva Preo do noivo Trocas iguais

    I. Residncia depois do casamento: Matrilocal

    Patrilocal Neolocal 2. Pais-Filhos A. Nmero de Filhos Nascidos Alta fertilidade Baixa fertilidade

    B. Grau de Autoridade Paterna C. Durao e Aspectos da Autoridade Parental At a morte dos pais At a "aposentadoria" dos pais At um tempo prefixado (Ex.: puberdade ou casamento do filho) D. Disposio do Filho Na morte dos pais No divrcio dos pais Aps nascimento ilegtimo

  • 20

    E. Lidando com a Ilegitimidade Tipos de ilegitimidade reconhecidos Atribuio de responsabilidades Possibilidade de legitimao

    F. Tipos de Descendncia Patrilinear Matrilinear Bilateral G. Tipo de Herana Testamentria

    No testamentria 3. Irmos A. Fora da Ligao B. Participao na Herana Herana igual Primogenitura Ultimogenitura Excluso de gnero

    C. Durao da Residncia Comum D. Tipos e Durao de Obrigaes Mtuas (Traduzido com adaptaes de DAVIS, Kigsley, Human Society. New York, NY: Macmillan, 1956: pg. 414-416)

  • 21

    ANEXO C

    BIBLIOGRAFIA DE DURKHEIM SOBRE A FAMLIA

    Memrias Originais

    1895 LOrigine du mariage dans lespce humain daprs Westmarck, Revue Philosophique, XL, , pp. 606-623 (recenso do livro de Westmarck History of Human Marriage). Tambm publicado em 1975: pp. 70-92.

    1898 La Prohibition de linceste et ses origines, Anne Sociologique, Premire Anne (1896-1897): 1-70.

    1906 "Le Divorce par consentement mutuel" , Revue Bleue, 5e srie, V : pp. 149-154.

    (Traduzido para o ingls em Traugott, M., ed., mile Durkheim on Institutional Analysis. Chicago and London: University of Chicago Press, 1978: pp. 240-252).

    1963 Incest : The Nature and Origin of the Taboo. New York: Lyle Stuart.

    1975 Textes. 3. Fonctions sociales et institutions. dit et prsent par Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit: pp. 9-153. (Inclui memrias originais e recenses)

    Cursos

    1988 Introduction la sociologie de la famille, Annales de la Facult des Lettres de Bordeaux, 10: pp. 257-281 (aula de abertura do curso de 1888-1889 intitulado La Famille: origines, types principaux). Tambm publicado em 1975: pp. 9-34.

    (Traduzido para o ingls em Traugott, M., ed., mile Durkheim on Institutional Analysis. Chicago and London: University of Chicago Press, 1978: pp. 205-228).

    1921 La Famille conjugale: conclusion du cours sur la famille, Revue Philosophique, XC, pp. 1-14 [ltima aula do curso de 1891-1892 em Bordeaux, La Famille ( partir de la famille patriarcale)]. Editado com uma nota por Marcel Mauss. Tambm publicado em 1975: pp. 35-49.

    (Traduzido para o ingls em Traugott, M., ed., mile Durkheim on Institutional Analysis. Chicago and London: University of Chicago Press, 1978: pp. 229-239).

    1965 "A Durkheim Fragment : The Conjugal Family", American Journal of Sociology, LXX, 5: pp. 527-536.

  • 22

    Exames de Teses

    1904 M. Glotz, La Solidarit de la Famille dans le Droit Criminelle en Grce. Rvue de Philosophie, 5, pp. 491-2.

    (Tambm em DURKHEIM, mile, Textes. 1. Elments d'une thorie sociale. Prsentation de Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975: pp. 241-243).

    1905 M. L-Germain Lvy. Tbe Family in Ancient Israel. Rvue de Philosophie, Volume VI,

    April 1905 pp. 484-90. (Tambm em DURKHEIM, mile, Textes. 2. Religion, morale, anomie. Prsentation de

    Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975: 130-132). (Traduzidos para o ingls em LUKES, Steven, mile Durkheim. His Life and Work. A Histo-

    rical and Critical Study. London, UK: Penguin Books, 1975)

    Recenses (Anne Sociologique)*

    Premire Anne (1896-1897) Paris: Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, Flix Alcan, diteur, 1898: pp. 306-347.

    Deuxime Anne (1897-1898) Paris: Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, Flix Alcan, diteur, 1899: pp. 315-344.

    Troisime Anne (1898-1899) Paris: Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, Flix Alcan, diteur, 1900: pp. 365-393.

    Quatrime Anne (1899-1900) Paris: Flix Alcan, diteur, Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, 1901: pp. 340-365.

    Cinquime Anne (1900-1901) Paris: Flix Alcan, diteur, Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, 1902: pp. 364-393.

    Sixime Anne (1901-1902) Paris: Flix Alcan, diteur, Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, 1903: pp. 342-369.

    Septime Anne (1902-1903) Paris: Flix Alcan, diteur, Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, 1904: pp. 416-441.

    Huitme Anne (1903-1904) Paris: Flix Alcan, diteur, Ancienne Librairie Germer Baillire et Cie, 1905: pp. 119-147, 408-434, 487-488.

    Neuvime Anne (1904-1905) Paris: Flix Alcan, diteur, Librairies Flix Alcan et Guillaumin Runies, 1906: pp. 355-395.

  • 23

    Dixime Anne (1905-1906) Paris: Flix Alcan, diteur, Librairies Flix Alcan et Guillaumin Runies, 1907: pp. 420-442.

    Tome XI (1906-1909) Paris: Flix Alcan, diteur, Librairies Flix Alcan et Guillaumin Runies, 1910: pp. 305-384.

    Tome XII (1909-1912) Paris: Librairie Flix Alcan, 1913: pp. 378 -441.

    * Um bom nmero das anlises contidas na Anne esto reproduzidas em mile DURKHEIM, Textes. 3. Fonctions sociales et institutions. dit et prsent par Victor Karady. Paris: Les ditions de Minuit, 1975: pp. 9-153).

    Uma lista das publicaes de Durkheim que o autor considera completa oferecida em Steven LUKES, mile Durkheim. His Life and Work. A Historical and Critical Study. London, UK: Penguin Books, 1975: 561-595. As referncias esto listadas por ano de publicao, mas no por assunto. Todas as recenses da Anne esto includas.

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    ANEXO D

    CURSOS DE DURKHEIM SOBRE A FAMLIA 1888-9 Cours public de sociologie: (i) La Famille, origines, types principaux; (2.) Morale et philosophie du droit chez Kant. Confrence de pdagogie: Explication des auteurs. ducation de l'intelligence. 1890-91 Cours public de sociologie: Physiologie du droit et des moeurs [La Famille] (*). Confrence de pdagogie: Pdagogie franaise au XVIIIe et XIXe sicle. ducation intellectuelle. 1891- 1892 - La Famille ( partir de la Famille patriarcale) 1895-6 Cours de socidologie: I'Histoire du socialisme [La Famille] (*). Confrence de psychologie: Les motions; LActivit. Exercises pratiques pour les candidats de l'agrgation de philosophie. PARIS 1905-6 [La Famille.] (*) Formation et dveloppement de l'enseignement secondaire en France.L'ducation intellectuelle l'colc primaire.Exercices pour Ia prparation au diplme d'tudes et l'agrgation. 1907-8 L'volution du mariage et de la famille. Formation et dveloppement de l'enseignement secondaire en France. L'Enseignement. de la morale l'cole. (LUKES, Steven, MILE DURKHEIM. His Life and Work: A Historical and Critical Study. London: Penguin Books, 1988: pgs. 625-628) (*) LUKES tem dvidas sobre a preciso das informaes sobre esses cursos por divergncia entre as fontes.