henri regnault - a morte não existe

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  • 8/14/2019 Henri Regnault - A Morte no Existe

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    www.autoresespiritasclassicos.com

    Henri Regnault

    A Morte no Existe

    Com base nas obras de Lon Denis

    Incluindo a novela espritaGiovanna

    escrita em 1885 por Lon Denis

    Eugne Bodin

    O Esturio da Bretanha

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    Contedo resumido

    O presente volume um estudo da misso e, em especial, daobra literria de Lon Denis, o apstolo do Espiritismo,considerado o principal continuador de Allan Kardec no trabalhode divulgao da Doutrina Esprita.

    Henri Regnault inicia o seu trabalho com uma biografia deLon Denis, fazendo, a seguir, um estudo da essncia de cadauma de suas obras magistrais, destacando a elevada qualidadefilosfica de seus conceitos. No decorrer de seu estudo, Regnaultune a sua prpria experincia esprita ao pensamento de LonDenis, com o objetivo de oferecer provas incontestveis dapossibilidade de comunicao entre os seres encarnados e oshabitantes do mundo espiritual.

    Este trabalho revela a unidade de pensamento entre LonDenis e o mestre Kardec, ambos com um objetivo comum: levars massas o conhecimento de nossa evoluo infinita e,consequentemente, nossa imortalidade pessoal.

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    Sumrio

    Prefcio.....................................................................................5

    Explicao.................................................................................7

    Introduo.................................................................................8

    Captulo I

    A vida de Lon Denis.............................................................10Captulo II

    O Porqu da Vida....................................................................30

    Captulo III

    Depois da Morte......................................................................39

    Captulo IV No Invisvel.............................................................................53

    Captulo V

    O Alm e a Sobrevivncia do Ser..........................................65

    Captulo VI

    Cristianismo e Espiritismo.....................................................71Captulo VII

    O Problema do Ser e do Destino............................................95

    Captulo VIII

    O Grande Enigma.................................................................105

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    Captulo IX

    Joana dArc, Mdium...........................................................114

    Captulo X

    O Mundo Invisvel e a Guerra..............................................134

    Captulo XI

    Espritos e Mdiuns..............................................................147

    Captulo XII

    O Gnio Cltico e o Mundo Invisvel..................................150

    Captulo XIII

    O Espiritismo e a Vida Social..............................................168

    Captulo XIV

    Sigamos o exemplo de Lon Denis......................................192Vocabulrio onomstico.......................................................198

    Referncias bibliogrficasdo vocabulrio onomstico...................................................212

    Apndice

    Giovanna

    Novela esprita escrita por

    Lon Denis............................................................................213

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    Prefcio

    Henri Regnault teve a feliz idia de apresentar um minuciosoestudo da obra de Lon Denis, o grande discpulo e o perfeitocontinuador do mestre Allan Kardec.

    EmA Morte no Existe, encontraremos provas irrefutveis dapossibilidade que os desencarnados tm de se comunicar com osvivos.

    O simptico e devotado vice-presidente da SociedadeFrancesa de Estudos dos Fenmenos Psquicos estava realmentequalificado para pr, vigorosamente, em destaque a elevadaqualidade filosfica dos livros de Lon Denis, e lhe devemos terto bem compreendido a importncia capital que essas obraspossuem para todos os pensadores que desejam ver o Espiritismoadotado, no apenas pelos crentes sinceros, mas tambm pelomundo cientfico ainda um pouco hesitante e prisioneiro das

    estreitas e ultrapassadas frmulas.Henri Regnault j escreveu uma srie de obras notveis: Le

    Bonheur Existe (A Felicidade Existe), Seul le Spiritisme PeutRnover le Monde (S o Espiritismo pode Renovar o Mundo), La Ralit Spirite (A Realidade Esprita), La Mdiumnit Incarnations (A Mediunidade nas Encarnaes), Les Vivants etles Morts (Os Vivos e os Mortos), Tu Revivras (Tu Vivers).Todos esses livros, que foram to bem acolhidos pela crtica,continuam a tradio esprita.

    Eis por que o autor to bem soube, em sua anlise da obra deLon Denis, mostrar a elevada verdade que ela, sublimemente,apresenta. Captulo por captulo, ele ps, minuciosamente, emdestaque o pensamento de Lon Denis.

    Do escrnio to bem ornado das mais valiosas jias, eleextraiu os mais belos diamantes para melhor apresentar seus

    brilhantes efeitos.

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    Do conjunto de flores esplendentes, colheu as mais belas paratorn-las admiradas, com um brilho maravilhoso.

    Colocou, bem apropriadamente, no mesmo pedestal o mestree o discpulo. Mostrou-os unidos nos mesmos nobrespensamentos e deu s suas obras uma solidez ao p das quais sequebrantaro, definitivamente, a ignorncia, a idiotia e amaldade humanas, que os dois apstolos, Allan Kardec e LonDenis, se esforaram por vencer, em prol da felicidade e do bem-estar da humanidade.

    Assim fazendo, Henri Regnault compreendeu que o maiorbenefcio para os espritas era, presentemente, conhecer bem osbons seareiros da mais bela das doutrinas e, nos ofertando umanova obra, ele ps seu zelo, utilmente, a servio da melhor dascausas.

    Regnault teve a sorte de encontrar uma obra de Lon Denis, pouco conhecida e completamente esgotada atualmente:Giovanna. Encontraremos extensos trechos de Giovanna em AMorte no Existe.1

    A difuso dos livros de Lon Denis um dever a que seusadmiradores devem-se impor. Eles podero cumprir essa tarefacom facilidade e mtodo quando tiverem conhecimento das maisbelas passagens de sua obra e, assim, estaro altura de torn-laconhecida, utilmente, a todos os pesquisadores sedentos daverdade.

    Paul BodierPresidente da Sociedade Francesa de Estudos Psquicos.

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    Explicao

    Denominando esta obra A Morte no Existe, no tivenenhuma inteno de demonstrar a inexistncia da morte docorpo fsico.

    Aps a desencarnao, este se decompe e retorna matria,porm esse corpo apenas o invlucro transitrio dado alma,no curso de suas diversas existncias terrenas.

    Muito alm da destruio desse corpo fsico, a alma e operisprito (que serve de liame entre ela e esse corpo) continuamsua evoluo. Eles no so destrudos.

    Nesse caso, tenho o direito, estudando a obra de Lon Denis,de afirmar, como esse grande pensador, que a morte no existe.

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    Introduo

    Antes de comear o estudo da obra de Lon Denis e a suainfluncia, recolhi-me e solicitei, ardentemente, o auxlio e aassistncia, no apenas de meus guias e de meu amigodesaparecido a nossos olhos fsicos, mas tambm a proteo deAllan Kardec, Camille Flammarion, Dr. Geley, ComandanteDarget, Gabriel Delanne e demais pioneiros do Espiritismo, que

    precederam Lon Denis no Alm. Todos realizaram, em nossomundo, uma tarefa ingrata, muitas vezes bem difcil.Eles poderiam, melhor que os outros invisveis, me ajudar a

    concluir o trabalho empreendido e me inspirar, a fim de queminha nova obra pudesse ser til.

    Desejo lembrar a obra de Lon Denis aos que, j espritas,encontraram, em sua companhia intelectual, alegrias ideais e um precioso reconforto, porm gostaria, principalmente, que meu

    livro fosse lido pelos que ainda no esto iniciados noEspiritismo.

    Possam meus inspiradores me ajudar a bem narrar as provasirrefutveis da realidade esprita; possam meus incrdulosleitores estar devidamente interessados em ler, atentamente,nossos autores e achar, graas a eles, os meios dessa real ecompleta felicidade que eu, pessoalmente, conquistei, peloestudo de nossa doutrina.

    Desde que, por sua feliz intermediao, compreendi as reaisrazes de nossa passagem pela Terra, estou perfeita ecompletamente feliz.

    Conhecendo os motivos de minha vinda ao nosso planeta,guardo a segurana e a calma, mesmo nos frequentes perodosem que passei as diversas provaes que, alis, neste mundo,atingem a todos.

    Se me sinto feliz, tenho o dever de tornar conhecido de todosos motivos de minha felicidade; nunca tive tanta razo de aplicar

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    este sbio preceito de Sneca: Toda felicidade que no repartida perde sua doura.

    Desde que comecei uma ativa propaganda para fazerconhecer s massas o que exatamente o Espiritismo, tive agrande satisfao de levar a algumas pessoas as possibilidades deserem felizes, o que lhes parecia que jamais obteriam.

    No momento de apresentar meu trabalho apreciao dopblico, desejo, de todo o corao, que ele sirva, por vezes, defarol queles que, levados pela tempestade nas lutas terrestres,estando inclinados ao desnimo e mesmo ao fracasso, vejambrilhar ao longe o mgico claro que o Espiritismo projeta emnosso planeta.

    16 de janeiro de 1928.Henri Regnault

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    CAPTULO I

    A vida de Lon Denis

    Em 1889, no Congresso Esprita realizado em Paris, de 9 a 16de setembro, o Relator Geral, Papus,2 assim se expressava:

    Penso no me enganar, afirmando que a maioria dosmembros desse Congresso foi despertada para se ocupar com

    as questes espritas, psquicas e ocultistas, por influnciamediata e imediata do fundador do Espiritismo filosfico Allan Kardec.

    Quando Allan Kardec deixou nosso planeta para o luminosoretorno ao Alm, ele sabia ter fiis discpulos. Ele, portanto, partiu tranquilo. Entre os melhores de seus continuadoresfigurava Lon Denis.

    Em 12 de abril de 1927, s 21 horas, Praa das Artes n 19,numa casa de Tours, com uma vista maravilhosa para as margensdo Loire, um homem morria.

    Por toda a sua existncia e de todas as formas, esse homemtinha sido til Sociedade. Sua obra foi fecunda em consolaes.Seu nome: Lon Denis.

    Ele acabava de escrever uma obra: O Gnio Cltico e oMundo Invisvele j pensava no livro que ainda queria escrever.3

    Trabalhou quase at o ltimo segundo de vida; entretanto,estava bastante idoso, pois, nascido em Foug, em Meurthe-et-Moselle, a alguns quilmetros de Toul, a 1 de janeiro de 1846,tinha, no momento de sua morte, 81 anos.

    Conheci muitos espritas bem idosos. Citarei, por exemplo,meu excelente amigo Jules Gaillard, antigo deputado, que, hpouco tempo, tinha a mesma idade de Lon Denis.

    Lembrarei, ainda, uma mulher admirvel, a Sra. BlancheBarchou; de uma forma desprendida, inteiramente sua custa, edurante muitos anos ela fez em Frana interessantes

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    conferncias de propaganda esprita. Ela tem atualmente 83anos.4 Recebo, frequentemente, cartas suas, e se as mostrassesem dizer de quem era, acreditar-se-ia logo serem de uma jovem

    de 18 anos.5Para retratar, rapidamente, a vida de Lon Denis, servir-me-ei

    de uma biografia, aparecida em 1924, escrita por meu excelenteamigo Henri Sausse, que foi durante muitos anos, Secretrio-geral da Federao Esprita Lionesa.

    Luce, que era um grande amigo de Lon Denis, teve ocarinho de recolher os fatos ntimos do mestre; atualmente,prepara uma biografia completa de Lon Denis 6 e me forneceualgumas informaes. Agradeo-lhe, fraternalmente.

    O Presidente de Honra da Unio Esprita Francesa teve umaprova viva do que o trabalho e a vontade podem proporcionar auma criatura humana.

    A situao bem modesta de seu pai, honesto trabalhador, nolhe permitiu fazer grandes estudos; na idade de 12 anos, logo queterminou o curso primrio obrigatrio, comeou uma

    aprendizagem de ocupao manual. Todavia, Lon Denis tinhauma sade muito frgil. Esse trabalho foi muito sacrificial. Aos18 anos, muda de profisso e se torna representante comercial,viajando at o fim de sua velhice.

    Quando estava no trabalho, no lugar de recrear-se, tarde,com os pequenos aprendizes e fazer as clssicas travessuras(tocar as campainhas, por exemplo), o menino se instrua o mais possvel. Lia obras srias e adquiriu, pelos prprios esforos,

    uma certa cultura.Aos 16 anos, inscreveu-se como membro da Loja dos

    Demfilos (Loge des Dmophiles) de Tours, onde, bem depressa, por causa de suas qualidades de assimilao, de seu dom deeloquncia natural, tornou-se um dos melhores oradores e umdos mais ardorosos propagandistas.

    Tinha 24 anos e se encontrava em Tours, quando a guerra de1870 explodiu. Seu estado de sade frgil lhe teria permitido noser soldado. Ele se apresentou. Entretanto, professava idiasmuito democrticas que seriam consideradas hoje como bem

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    normais, bem naturais, porm, naquela poca, eram muitoavanadas, sem serem, todavia, como o so hoje, as teoriascomunistas e soviticas que tm como base o dio e a inveja.

    Tornou-se logo tenente das Tropas de Indre-et-Loire; eratitular desse posto, por ocasio da assinatura da paz.

    Retornando a Tours, recomeou sua vida de viajantecomercial; indo de cidade em cidade, para colocar suasmercadorias, aproveitava suas viagens para fazer, alm de seutrabalho, a propaganda de suas idias.

    Em 1877, uma tendncia nova surgiu na Franc-Maonnerie,

    cuja origem espiritualista e ocultista.Lon Denis tentou lutar contra esse movimento, semresultado, e, apesar de sua posio relevante e moral na loja, preferiu deixar seus companheiros. Tinha, ento, 31 anos,quando se demitiu.

    Trs anos mais tarde, Jean Mac fundou a Liga do Ensino.As idias generosas que esto na base dessa Sociedadeagradaram a Lon Denis, que logo se tornou adepto, porm,

    destacando-se suas qualidades de orador, bem depressaultrapassou o quadro da Franc-Maonnerie e se tornou a alma doCrculo Tourangeau.

    Ele fez conferncias onde seus afazeres o chamavam,fundando por toda parte crculos e bibliotecas populares.Preenchia, assim, uma bem til necessidade social.

    Orador habilidoso, sabendo interessar, Lon Denis conseguiumuitas adeses.

    Seria bem difcil avaliar o grande nmero de conferncias queele fez na Frana, para divulgar os objetivos da Liga do Ensino.

    Ele havia comeado essa tarefa em 1880; em 1884, julgounecessrio fazer, igualmente, palestras para divulgar as idiasespritas. Tinha, ento, 38 anos, porm, aos 18 anos, em 1864,havia adquirido O Livro dos Espritos, de Allan Kardec.7

    Alis, aquele que se devia tornar um mestre em nossa

    Doutrina havia feito confisso pblica de esprita; encontrei, na

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    coleo Le Spiritisme, um artigo sobre a grande tradio dosgauleses, que aparece no comeo de julho de 1883.

    Como ns escrevia ele , os druidas afirmavam ainfinidade da vida, as existncias progressivas da alma, apluralidade dos mundos habitados.

    nessas doutrinas viris, no sentimento da imortalidade queda decorre, que nossos ancestrais apoiavam o seu esprito deliberdade, de igualdade social, o seu herosmo diante damorte.

    Nesse artigo, escrito aos 37 anos, Lon Denis j defendia as

    idias que desenvolveu em seu ltimo livro, O Gnio Cltico e oMundo Invisvel.

    Encontra-se a um admirvel exemplo de unidade de vistas etenho o dever de assinal-la em meu trabalho sobre a obra doapstolo do Espiritismo.

    Ningum melhor do que ele soube pr em prtica esse sbioconselho de Amiel: Seja o que voc deseja que os outros sejam.Que seu ser, e no suas palavras, seja uma pregao.

    Naturalmente, Lon Denis se vinculou obra de AllanKardec, que ele desenvolveu e continuou, sem nenhumsectarismo. Segundo ele, no se deve considerar uma teoriaoficial do Espiritismo. Ele escreveu com justa razo:

    A doutrina de Allan Kardec resulta do combinado dosconhecimentos de duas humanidades que se interpenetram, porm ambas imperfeitas e em busca da verdade e do

    desconhecido, embora superior a todos os sistemas e a todasas filosofias do passado, permanece aberta s retificaes, aosesclarecimentos do futuro.

    Lon Denis fez conferncias pelo interior, em Paris e noestrangeiro. Nas colees das diversas revistas que defendemnossa doutrina, constantemente encontramos seu nome; suareputao de conferencista ultrapassa de muito o quadro dosrgos especiais de mltiplos jornais que anunciaram suaspalestras e destacaram suas preciosas qualidades de orador.

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    Em 30 de maro de 1884, Lon Denis proferiu umaconferncia em Nantes, no anfiteatro da Escola Profissional,intitulada A Guerra dos 100 Anos, Joana dArc, falando na

    qualidade de Secretrio do Crculo Tourangeau e da Liga doEnsino. Em 1 de abril de 1884, o Le Populaire publicava aseguinte apreciao:

    O conferencista de domingo no um homem comum.Alm de ser uma capacidade, ele , principalmente, umpensador e um filsofo.

    Lon Denis uma dessas almas nobres que sentem o

    corao da humanidade e que gostariam que todos os homensse amassem uns aos outros, fizessem um esforo sobre simesmos para se libertarem das estreitezas do velho mundo eorganizarem uma sociedade de fraternidade e de amor.

    O Capito Mandy, relatando noLe Spiritisme, escrevia:8

    Por que essas mesmas vozes (as ouvidas por Joana) no sefariam ouvir tambm hoje, pelo eminente orador quecomprova a necessidade imensa de se devotar a seus irmos,de ajudar a humanidade, em sua marcha para o progresso?

    So elas, sem dvida, que do s palavras de nosso amigoesse atrativo, essa delicadeza de expresso, esse tantoagradvel que evita atritar as convices dos que no pensamcomo ele.

    Essa passagem da conferncia, tendo semelhana com asvozes de Joana, era difcil de desenvolver em Nantes, onde,

    at hoje, nada de to preciso fora dito sobre nossas crenasespritas.Era preciso fazer justia ao conferencista, que, impondo ao

    pblico sua maneira de ver, teve coragem moral de apresentaro que para ele uma verdade, verdade que no admitem osque aceitam as crenas de um culto, nem os que limitam seusdestinos vida humana (...).

    Convido todos os espritas a reunirem seus esforos para

    conseguirem os benefcios citados por essa conferncia.

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    Entretanto, ofenderia a modstia de nosso irmo Denis, seno prevenisse aos meus confrades que agiriam mal, sebuscassem, num esprito de cordialidade, preparar-lhe uma

    homenagem qualquer.Ele deseja que o tratem, quando chega, com a simplicidade

    de um verdadeiro apstolo, pois seu devotamento causaesprita todo moral, desprendido, sem compensaes deespcie alguma.

    Nosso amigo no v nessas homenagens seno meios deatrair crticas tolamente ferinas de alguns falsos irmos etambm de arruinar a sua sade.

    que Denis no pertence a nenhuma pessoa: ele de todosos seus irmos em humanidade.

    Em 12 de maro de 1885, Lon Denis fez, em Mans, umaconferncia sobre Joana dArc e suas vozes. Victor Goutardexpressou sua admirao pelo divulgador esprita nos seguintestermos:9

    O orador prendeu, durante uma hora e meia, o auditrio ssuas palavras; era belo ver aquela multido atenta,recolhendo, piedosamente, as frases do orador, palavrascalorosas e enrgicas que fazem vibrar as mais sensveisfibras de nossos coraes.

    Quando ele fala da ptria, sente-se um corao de ourobater nesse peito varonil e sabe-se que so suas prpriascrenas que ele manifesta, porque, apesar da facilidade deexpresso de um conferencista, quando s pronuncia frasesfeitas e apenas exprime idias encomendadas, ele noencontra todos esses motivos que tanto emocionam umpblico, mantendo-o em suspenso e realizando o milagre defaz-lo abdicar de suas crenas pessoais para adotar,momentaneamente pelo menos, as do orador.

    Os dons oratrios do mestre foram exaltados no Congresso de1889, por Papus, que em seu relatrio geral dizia a seus

    colegas:10

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    Lon Denis foi com justia festejado por vs. Sentistes,ouvindo sua voz convincente, que, se nossa causa tivesseapstolos do mesmo porte, seu progresso certamente estaria

    garantido.Para mostrar quanto Lon Denis era apreciado, aproveito

    algumas citaes da obra de Henri Sausse.11

    Em 21 de maro de 1895, lia-se noL'Evnement(Paris):

    Orador literrio, pleno de ardorosa convico, Lon Denissoube depressa conquistar o auditrio mundano que secomprimia no salo de festas do Hotel de Pomar, e era um

    verdadeiro prazer ver aquele enxame de belas senhoras daaristocracia parisiense, divertindo-se inicialmente com algunspensamentos frvolos, modificar, pouco a pouco, a expressode seus olhares para se tornarem graves e mostrarem umatento interesse.

    Le Progrs (Nantes) escreveu:

    Lon Denis, que ouvimos na Renaissance, , certamente,

    um conferencista fora de srie. Tem estilo imaginoso, idiasnobres, elevadas, emoes contagiantes, ele tem voz egestos.

    La Petite Gironde (Bordeaux), afirmou:

    Lon Denis um orador de talento, de palavra nervosa ecolorida, muito ntida e, por vezes, eloquente, ao mesmotempo artista e poeta, que sabe, sem esforos, dramatizar suas

    narrativas e lhes dar um extraordinrio relevo.La Dpche (Tour) deu assim sua opinio:

    Lon Denis possui as qualidades mestras que consagramum orador: profunda erudio, forma elegante, harmonia nosperodos, gestos sbrios e, acima de tudo, a voz, que tornasua eloquncia particularmente comunicativa e lhe possibilitalogo as simpatias do auditrio.

    LEst Rpublicain (Nancy) faz estes comentrios:

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    Com sua eloquncia ardorosa, imaginosa, frasesharmoniosas e perodos vibrantes, Lon Denis tratou doproblema do destino...

    Sua conferncia, bem digna de entusiasmar e consolidar asalmas apaixonadas por um ideal, terminou em meio aaplausos e felicitaes.

    Lon Denis no se envaidecia de seus numerosos sucessos,realizando, muitas vezes, conferncias com debates e tendo ohbito de responder a seus auditrios, jamais ficando calado,mesmo diante das mais complexas questes.

    Quando se esprita, dizia-me ele, e quando se defende oEspiritismo, frequentemente temos a impresso de que nofalamos por ns mesmos, que somos um instrumento nasmos dos Invisveis e que so eles que nos fazem usar, nomilsimo de segundo, a palavra exata que preciso empregarpara tocar um ou para convencer outro.

    A ao de Lon Denis no era muito fcil, era bem fatigante,considerando-se que a ela se juntava o exerccio de suaprofisso.

    Desde fevereiro de 1927, conciliei o trabalho da livraria comminhas ocupaes jornalsticas; durante os meses de agosto esetembro, passei, exclusivamente no interior, minha vida comorepresentante comercial. Entretanto, nunca tivera uma nooexata dessa existncia especial e, no obstante, eu era favorecido,porque viajava de automvel.12

    Nada mais cansativo do que essa vida; preciso, durante odia, correr, de um lado para outro, achar diversos argumentoscapazes de convencer o possvel cliente. noite, ainda se precisaocupar em preparar a jornada do dia seguinte e fazer suacorrespondncia comercial; isso toma bastante tempo.

    Naturalmente, aproveitava minha passagem pelas localidades para fazer a divulgao esprita; empregava, entre outros, umexcelente meio, antes dos demais: colocar prospectos de

    propaganda no maior nmero possvel de caixas decorrespondncia.

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    No sei se Lon Denis usava esse sistema. Em todo caso, elecostumava fazer conferncias em todos os lugares. Toma-sefacilmente conhecimento do seu extenuante labor.

    Alm de seu trabalho material, devia fazer estudos pessoais,participar de reunies experimentais, preparar suas confernciase escrever seus livros. So tarefas mltiplas e uma s j bastariapara ocupar a atividade de uma pessoa.

    Apesar de sua delicada sade, Lon Denis pde fazer face ssuas diversas obrigaes. Vejo a uma prova, juntada a tantasoutras, de que aqueles que se dedicam sincera e completamenteaos seus semelhantes recebem uma proteo das foras especiais.

    Quando, de forma desprendida, nos consagramos por inteiro auma causa que julgamos justa, recebemos foras psquicas, podemos trabalhar quotidianamente sem cansao ou quase,contentando-nos com algumas horas de sono.

    Tal foi a existncia de Lon Denis, que era impulsionado pordois estimulantes aos quais impossvel resistir: o Dever e aVerdade.

    Desejando que suas palestras fossem to eficazes quanto possvel, Lon Denis comps uma pequena brochura, queexplicava ntida e simplesmente o que o Espiritismo. Emsetembro de 1885, ele publicava O Porqu da Vida, finoopsculo que continha um inteligente resumo de suas idias, que,de 1883 at sua morte, nosso mestre jamais cessou de defenderardorosamente.

    Os livros No Congresso Esprita de 1889, quando acabava de ser

    nomeado Presidente da Comisso de Propaganda, Lon Denisfalava a Henri Sausse de uma proposta para a edio popular deuma obra de Allan Kardec ou de outra que condensaria oEspiritismo.

    Henri Sausse disse a Lon Denis: Ora, voc me parece o

    escolhido para fazer isso. Denis no respondeu, mas a idiaprosseguiu seu caminho e, em 25 de dezembro de 1890, a poucosdias de seu natalcio o autor fazia aparecer Depois da Morte

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    obra que teve um grande sucesso de livraria. Os demais livrosforam publicados numa lenta cadncia.

    Exercendo sua profisso de viajante comercial, continuandosua obra de propaganda, prosseguindo em suas confernciasespritas, Lon Denis escrevia obras que apareceram, umas em brochuras e outras em livros. Eis a lista, segundo a ordemcronolgica dada por Paul Leymarie:

    Livros

    Depois da MorteNo Invisvel Espiritismo e Mediunidade

    Cristianismo e EspiritismoO Problema do Ser e do DestinoO Grande Enigma Deus e o UniversoJoana dArc, MdiumO Mundo Invisvel e a GuerraO Gnio Cltico e o Mundo Invisvel

    Brochuras

    O Porqu da VidaO Alm e a Sobrevivncia do SerO Espiritismo e o Clero CatlicoSntese EspiritualistaEspritos e Mdiuns

    A essas obras convm juntar a novela esprita Giovanna,

    publicada em folhetim emLe Spiritisme, de janeiro a maro de1885.13

    Sobre essa novela discorre Henri Sausse:14

    Lon Denis estampa, com a poesia e delicadeza de estiloque lhe so particulares, alguns episdios de um idlio, toencantador quanto juvenil, que um cruel destino destroouem seu desabrochar.

    A morte de Giovanna, tragada pelo tifo, deixa seu noivototalmente desamparado e destroa todos os seus projetos

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    futuros. ento que ele se dobra sobre si mesmo e acalmasua dor buscando consolar a dos outros.

    Quando nos sentimos muito infelizes, convm tratar de nosesquecermos, pensar em todos os que sofrem mais, seja do pontode vista moral, seja do ponto de vista fsico, seja do ponto devista material.

    preciso perguntarmos o que possvel fazer para tentarajudar mesmo que a um s desses inmeros seres que, sobre anossa Terra, sofrem sem parar.

    Isso permite tirar de si mesmo o segredo da felicidade que a

    base humana da filosofia esprita: esquecer seus prpriossofrimentos, tentando diminuir os dos outros.A obra literria de Lon Denis sobretudo esprita, entretanto

    ele escreveu outras obras.

    No pude ainda encontrar uma sequer. Esto todas esgotadas.Qual sua importncia?

    So livros? So brochuras? No sei de nada.

    Elas so intituladas, segundo Henri Sausse: A Tunsia, OProgresso,A Ilha de Sardenha, etc.15

    Lon Denis tinha a inteno de preparar uma publicao,segundo seus recentes artigos na Revista Esprita; ele a teriaprovavelmente intitulado O Espiritismo e o Socialismo.

    Alm de todos esses volumes, se pudssemos reunir todos osartigos que, nas revistas francesas, estrangeiras e nos jornais,foram escritos por Lon Denis, sobre assuntos espritas ou

    assuntos sociais, chegaramos, sem dvida, a compor sete ou oitogrossos volumes. Tudo isso demonstra qual era o poder detrabalho de Lon Denis.

    Apesar das dificuldades de sua vida, de sua competnciacomercial, de suas obras literrias, de sua ao importante nassociedades em que se ama, ao mesmo tempo, seu pas e ahumanidade, Lon Denis ficar sobretudo, para a Histria, comoo defensor e o apstolo do Espiritismo. A autoridade adquirida

    por esse homem lhe conferia uma potncia moral considervel.

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    Desde o ms de maio de 1885, ele era vice-presidente daUnio Esprita Francesa, fundada em 24 de dezembro de 1882.

    Ele foi membro honorrio de mltiplas sociedades;assinalemos, notadamente, as Unies Espritas da Catalunha, doBrasil, a Federao Algeriana e Tunisiana dos EspiritualistasModernos, por ele fundada, a Federao Esprita do Sudeste daFrana, etc.

    Nos congressos, teve um lugar preponderante:

    em 1889, em Paris, de 9 a 16 de setembro, foi elepresidente da Comisso de Propaganda;

    tambm em Paris, em 1900; em Lige, 1910; em Genve,1913;em Paris, em 1925, foi presidente efetivo dos trabalhos.

    Essas altas e delicadas funes no o impediam de apresentarat mesmo propostas importantes.

    Fora de seu papel presidencial e sem fugir a seu dever, eleproferia discursos nos quais indicava sua confiana no futuro da

    humanidade atravs dos atos de elevao de cada dia, onde,enfim, a maioria dos homens comungar, se no for noEspiritismo, pelo menos no espiritualismo.

    Denomino espiritualismo, por oposio ao materialismo, oconjunto de todas as religies, as filosofias e diferentes escolasque acreditam firmemente na realidade de um ser superior, naexistncia de um princpio pensante dentro do corpo fsico e nasobrevivncia desse princpio pensante aps a morte.

    Estou entre os que fazem esforos constantes para chegar areunir em federao todos os espiritualistas do mundo inteironuma luta sem quartel16 contra o materialismo, que ,verdadeiramente, no sentido real da palavra, a praga dahumanidade.

    Conheo espiritualistas que so seres humanos piores quecertos materialistas, que sem se dar conta disso, deixam-se guiar por suas conscincias, afirmando que nada existe alm da

    matria.

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    O desprendimento de Lon Denis era proverbial, no meioesprita.

    No curso de minhas conferncias espritas,17 alguns pensavamme embaraar, dizendo-me: Vocs lutam contra a mediunidadeassalariada, mas voc mesmo, o que faz quando vende seuslivros? Por que no os doa?

    Pude replicar, facilmente, que a existe um trabalho real e queos editores so obrigados a pagar o papel e os impressores,porm tenho geralmente respondido, como poderia faz-lo LonDenis: Nossos livros? Venham, pois, ver nossas contas econstataro quanto pagamos ao editor para d-los aos que nopodem pag-los.

    Da mesma forma que Lon Denis, acho que os espritas notm o direito de viver do Espiritismo.

    A resignao de Lon Denis igualmente proverbial. Emuma certa poca de sua vida, tornou-se quase cego. Ele aindapodia se dirigir um pouco, mas lhe era impossvel ler e escrever.

    Nessa adversidade, nessa terrvel provao, ele manteve toda

    sua calma, tornando-se o apstolo do Espiritismo, continuando atrabalhar. Encontrou sempre os recursos que lhe permitiramcontinuar sua tarefa, embora no tivesse fortuna.

    Teve, em seu derredor, os devotamentos necessrios,secretrias que escreviam seus ditados, essas pginas admirveisque j tm consolado tantas criaturas, permitindo a tantasmulheres e homens no sucumbirem tentao do suicdio,quando diante deles tudo parecia definitivamente perdido.

    A simplicidade de Lon Denis inimaginvel.Minhas relaes com ele datam do momento em que eu

    comeava minha propaganda esprita. De incio, foi uma troca decartas. Depois, publiquei meu primeiro livrinho: S oEspiritismo pode renovar o mundo!

    No curso de minhas viagens, pude, por vezes, ir a Toursfazer-lhe visita. As horas passadas perto dele so para mim

    lembranas inesquecveis.

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    Era um homem extraordinrio; no queria que parecesse quetnhamos admirao por ele. Considerava o que tinha feito comocoisa normal, bem natural. Conhecia muito bem no apenas tudo

    o que se referia ao Espiritismo, mas tambm todas as questessociais.

    Em 1920, antes de fundar a Phalange e de tentar pr emprtica, na vida pblica, as idias que decorrem do Espiritismo,eu pedi a Lon Denis sua opinio a propsito.

    Em 1924, comuniquei-lhe o projeto de entrar na poltica; nocurso de nossa conversa, senti que o grande apstolo mecompreendia e me aprovava. Isso foi para mim um grandereconforto moral.

    Seus artigos naRevista Esprita, sobre o Socialismo, mostramque no preciso, na poca em que vivemos, acantonar-se nodomnio da propaganda moral; necessrio tambm tentar aaplicao de nossos ensinos na vida social. preciso tentarconciliar nossas idias com a poltica, com a vida pblica.

    Assim, os que so chamados a dirigir as criaturas humanas

    possuiro a moralidade que decorre, obrigatoriamente, de nossadoutrina, isto para aqueles que a tenham compreendido; porqueestaro protegidos de todas as tentaes do poder e conseguirosalvar nosso pas e a humanidade toda do caos em que estaatualmente se encontra mergulhada em consequncia da onda dematerialismo que desabou sobre os homens.

    Lon Denis teve oportunidade de fazer mltiplas experinciasespritas que relata em seus livros e que teremos ocasio de

    estudar.18

    Denis tinha uma excelente mdium, a Sra. Forget, que eratambm sua secretria. Infelizmente, ela morreu antes de tercompletado a tarefa que o mestre esperava obter por seuintermdio.

    Aos 62 anos, Lon Denis aprendeu piano e o alfabeto braile.

    Ele no temia a morte e falava dela com a naturalidade quecaracterizava todos os espritas, quando tratam dessas questes.Tratava-a com resignao e perfeita serenidade. Alis, ele bemcomprovou isso

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    Pude conversar com algum que assistia o mestre em seusltimos momentos; era coisa admirvel v-lo naquela situao eisso demonstrava qual era o real poder do Espiritismo.

    No basta fazer a propaganda, preciso provar, por simesmo, que se est com a verdade; preciso saber aceitardignamente as provaes que os militantes do Espiritismotambm tm de suportar como as demais criaturas.

    Denis, em toda a sua vida e hora da morte, demonstrou umadmirvel exemplo.

    Procedeu da mesma forma que um outro apstolo do

    Espiritismo: Gabriel Delanne.No havia ningum que no tivesse o corao partido, quandoia Villa Montmorency, vendo o presidente da Unio EspritaFrancesa se arrastar, dolorosamente, de um lugar para outro. Eleno podia fazer qualquer movimento, sem dar gemidos de dor;entretanto estava sempre calmo, sempre amvel, sempresorridente.

    Quem no se lembra tambm de ter visto Lon Denis aceitar

    suas provaes de todas as espcies, com a resignao ativa, queeu preconizo em minhas obras?

    A Srta. Claire Baumard, secretria de Lon Denis, escrevia Sra. Brissonneau, diretora dosAnnales du Spiritisme:19

    O mestre morreu em 12 de abril, s nove da noite, com 81anos, sem agonia, com magnfica serenidade, vitimado poruma congesto pulmonar. Todos os cuidados com os quais o

    cercamos foram vos. Ele demonstrou uma doura, umapacincia, uma bondade de que todos nos maravilhamos; elepensava nos que o rodeavam, esquecendo-se dele mesmo. 20

    O Sr. Forestier, Secretrio-geral da Unio Esprita Francesa,escrevia tambm Sra. Brissonneau:21

    A morte to suave do mestre foi edificante. Minhaemoo foi profunda, quando me ajoelhei perto do leitomorturio. Entretanto, logo depois eu me senti penetrado deuma fora espiritual suave, que fez desaparecer minhatristeza Vi ento todo o encanto da paz que desprendia o

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    venervel rosto. Uma bela serenidade se notava em suasfeies to conhecidas e to amadas.

    A partida radiosa da alma, a alegria que havia

    experimentado, imediatamente, s portas do Invisvel, haviacolocado uma beleza espiritual no rosto do augusto ancio.

    Quinta-feira, dia 14, s 17 horas, assisti, com dois amigosntimos do mestre, colocao do corpo no caixo. Todosvimos, pela ltima vez, a forma terrestre do amado mestreque vai retornar terra, na tarde de 16 de abril, s 15 horas.

    No choremos o mestre; ele no o deseja. Nossa tristezano deve existir em ns, espritas, porque o futuro temnecessidade de nossos esforos. Trabalhemos ainda comcoragem, com alegria, como lembrana do grandedesaparecido!

    Eu mesmo tive igual sensao que meu colega Forestier,quando fui aos despojos de meu amigo Gabriel Delanne.

    J fazia algum tempo que eu acompanhava as etapas dadoena que, afinal, parecia querer dominar o corpo do presidente

    da Unio Esprita Francesa. Ele me falava de sua morte prximacom uma grande serenidade de alma.

    Apesar da existncia to bem vivida de Lon Denis, apesardos inapreciveis servios por ele prestados humanidade, agrande imprensa no falou muito da morte de Lon Denis.22

    Se ele tivesse morrido de forma escandalosa ou imoral, seuretrato teria figurado em todos os jornais e teriam apresentado omau exemplo aos milhes de leitores dos jornais informativos.Todavia, tratava-se de um homem de bem e um grande silnciofoi mantido.

    Entretanto, Lon Denis teve uma vida de bondade, degenerosidade, que era conhecida.

    Le Matin, no qual ele havia colaborado durante longo tempo,e os outros jornais no falaram de sua morte. Os grandes serviosprestados por Lon Denis humanidade foram, naturalmente,

    louvados pelas revistas espritas e espiritualistas do mundointeiro.23

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    Entretanto, cinquenta e cinco dias aps sua morte, o LeMatin24 publicou, na primeira pgina, um excelente artigo,ilustrado com o retrato do autor, graas ao qual o povo pde

    conhecer a desencarnao de uma alma de elite; esse elogiomerece ser integralmente citado:

    O fim de um sbioLON DENIS

    Apstolo do Espiritismo

    Poucas notcias foram feitas em torno da morte de LonDenis. No se noticiou o bastante.

    Podia-se jurar que a humanidade vacila em honrar osderradeiros sbios, que procuraram conciliar a Cincia e a f,porque o gnero humano , na superfcie, cptico, mas nofundo, sempre crente, pois so muito poderosos o enigma, oatrativo e a angstia do mistrio; como se a paz e o progressopudessem reflorir sem o maravilhoso apoio do ideal.

    preciso reparar essa injustia.A vida inteira de Lon Denis foi devotada sobrevivncia.

    Mais do que ningum, ele negou o aniquilamento total do serpensante.

    Sem dvida, poeta e grande artista meditativo, sempre seesforou para provar que no perdemos para sempre os seresque nos so caros e que suas invisveis presenas semanifestam, ao mesmo tempo, ao nosso esprito, ao nossocorao e por nossos sentidos, contanto que no os

    esqueamos.Nele, a inspirao no exclua o esprito cientfico. Ele seencontrava com Sir William Barrett, que proclamava ser oEspiritismo o caminho seguro que conduz a todos os avanosdo conhecimento humano.

    Com uma doce obstinao ainda que o psiquismoparanormal questionasse as escolas afastadas do Espiritismo,que acredita na sobrevivncia da entidade humana, e do

    metapsiquismo, que no admite seno a interao das forasainda mal definidas dos vivos ele desenvolveu suas

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    convices nas obras que se impem como incontestveis eem que o filsofo o disputa com o sbio: O Alm e aSobrevivncia, O Problema do Ser e do Destino, O Grande

    Enigma,Depois da Morte, O Porqu da Vida.At a idade de 81 anos, Lon Denis foi um comovente

    exemplo de fidelidade a seus princpios de inesgotvelbondade; Denis se extingue, certo de progredir no Alm, decolaborar na evoluo da humanidade com uma assiduidadeao mesmo tempo enrgica e ainda mais serena do que aquelaencontrada no curso de sua longa existncia de santo leigo.

    E s podemos nos inclinar diante da memria desse sbioto digno que dizia dos espritas to ridicularizados e toescarnecidos: eles tiveram esse imenso mrito de despertar aateno da humanidade pensante, no apenas sobre umconjunto de fatos que revelam a existncia de todo um mundoinvisvel, vivo, agitando-se em nossa volta, mas tambmsobre as consequncias filosficas e morais decorrentesdesses fatos.

    Desses espritas ele foi o chefe, depois de Allan Kardec, aolado de Gabriel Delanne, de Camille Flammarion, de WilliamCrookes e tantos outros sbios valorosos.

    Tudo isso representa um meio para o conhecimento das leiseternas que regem a vida, a evoluo, e asseguram ofuncionamento da justia no Universo.

    O autor desse artigo agiu bem, fazendo destacar a unidade davida de Lon Denis.

    Tal continuidade de propsitos existe, de resto, entre osdivulgadores espritas, desde o momento em que adquiriramnossas idias.

    Tomemos o exemplo de Gabriel Delanne: durante toda a suaexistncia, ele no modificou seus pensamentos, exceto empequenos pontos. Tambm Camille Flammarion escreveu vriasobras, nas quais encontramos sempre o enunciado depensamentos idnticos.

    Tal constatao tem sua importncia; nisso vejo uma provaformal da sinceridade de um homem que do comeo de sua ao

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    at ao final de sua carreira terrestre, no varia e defende sempreas mesmas idias.

    Segundo penso, os que assim agem possuem, tanto quantopossvel neste mundo, uma das parcelas mais importantes dagrande verdade, dessa grande verdade que no somente aterrestre, que no unicamente a humana, mas a verdadeuniversal, isto , a que rege todos os mundos.

    Tenho a impresso bem ntida de que essa verdade mltipla;uns e outros, mesmo os materialistas e tambm aqueles quesemeiam o dio e a inveja, possuem no corpo de suas doutrinasum claro de verdade. A reunio de todas essas luzes forma averdade que s poderemos conhecer integralmente quandotivermos atingido o objetivo final de nossa evoluo.

    O artigo consagrado pelo Le Matin obra de Lon Denismarca um verdadeiro progresso, porque esse jornal no tem sidosempre favorvel defesa do Espiritismo. Essa consagraoincentivou a realizao do 3 Congresso Internacional dePesquisas Psquicas, realizado em Paris, de 26 de setembro a 20

    de outubro de 1927.Como luminosamente demonstrou Andr Ripert, Secretrio-geral da Federao Esprita internacional, esse congresso foimarcante. Na Sorbonne, sbios reconheceram que os fenmenoschamados por eles de metapsquicos, porm, desde muito,estudados pelos espritas, tm uma existncia real.

    Tenhamos pacincia e continuemos com perseverana nossapropaganda.

    O Espiritismo faz seu caminho. Numerosos ainda so os quepartilham de nossas convices, mas no querem confessar queso espritas; numerosos, igualmente, so os que admitem acoisa, sem aceitar a etiqueta esprita; no nos inquietemos comesses contingentes humanos e perseveremos em nossasatividades.

    No esqueamos de que a semente espiritual que foi lanadaaos quatro ventos, fazendo proselitismo, pode produzir seusfrutos, s vezes, nossa revelia.

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    Alexandre Delanne fazia, em novembro de 1884, essa judiciosa observao; seu pensamento vale para todos ostempos.25

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    CAPTULO II

    O Porqu da Vida

    Como eu dizia, narrando, rapidamente, a vida de LonDenis,26 essa brochura ele comps com a inteno de apoiar suaobra de conferncias e permitir a seus ouvintes conservar umresumo da Doutrina Esprita.

    O Porqu da Vida teve um grande sucesso de livraria. Oautor tinha mandado imprimir cinco mil exemplares emsetembro de 1885; conforme carta que escreveu a Henri Sausse,quatro mil exemplares j estavam vendidos, em novembro domesmo ano, e ele foi obrigado a tirar uma nova edio.

    Hoje,27 essa brochura deve atingir 160 edies, o quecomprova quanto grande o nmero dos que ele pde ajudar aconhecer o Espiritismo e suas consolaes.

    Em Le Spiritisme, primeira quinzena de setembro de 1885,julgou-se assim O Porqu da Vida:

    Recebemos uma brochura de nosso amigo Lon Denis, deTours, sob um curto ttulo: O Porqu da Vida.

    Desnecessrio elogiar o estilo dessa obra; basta-nos dizerque ela devida pena de nosso colaborador e facilmente sedescobrir de quem se trata...

    Ele desenvolve, com um talento superior, no restrito espaode que dispe, os esplndidos horizontes que a nova filosofianos abre. De incio, coordena o dever e a liberdade; depois,apresenta os misteriosos problemas da existncia. Da,estabelece as duas formas da natureza: esprito e matria.

    Aps ter analisado a harmonia do Universo, chega s vidassucessivas, que tm por base a justia e o progresso.

    Afinal, faz entrever, numa apreciao sobre o

    incognoscvel, qual o objetivo supremo e comprova essas

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    proposies com as experincias que o Espiritismo fornecesobre a imortalidade da alma.

    Eu possuo uma das edies de capa rosa; a mais preciosajia de minha biblioteca; jamais consigo olhar essa fina brochurasem sentir uma sincera emoo e sem deixar de lembrar daquelede quem ela conserva, ainda, o pseudnimo de ClaudeClodovitch: O Almirante dA., graas a quem me tornei esprita.

    O Porqu da Vida foi o primeiro livro sobre nossa Doutrinaque consegui ler.

    Durante muito tempo, frequentei um salo onde se tratava de

    Espiritismo, o da Sra. M., hoje desencarnada; mulher de umoficial superior e que, realmente, muito fez pela causa esprita,embora tenha sido, de certa forma, do nmero desses exaltados 28

    que procuram principalmente os fenmenos, sem saber distinguirquando as manifestaes so mistificadas.29

    Conheci a Sra. M. durante uma palestra, seguida desauterie,30 no Parthnon. Um de meus amigos veio a mim e medisse:

    Voc jornalista; quer ter ocasio para uma pesquisaengraada?

    Com prazer.

    V aquela senhora l embaixo? Ela sabe conversar com osmortos!

    Com os mortos?! No, voc est pensando que sou imbecil?

    No digo para voc acreditar, meu caro! Vou apresentar

    voc a ela, que gosta de convidar todo mundo. Faa um ar de queest um pouco interessado e, certamente, l existir, para voc,assunto para crnicas curiosas.

    Naquela poca, tendo abandonado o Catolicismo, tornara-meateu e materialista ao extremo. Proferia palestras, nas quaisdefendia essas desagradveis idias; e isto constitui um dosmaiores arrependimentos de minha existncia. Fiquei feliz poruma tal oportunidade e me fiz apresentar Sra. M.

    Voc sabe, disse-me logo, eu converso com os espritos.B i h h

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    Quer ver isso? Com prazer, senhora.

    Durante alguns anos frequentei sua casa, cada tarde dequinta-feira. Vi muitos fenmenos ditos espritas, mas os que osaceitam como tal so geralmente dignos de entrar para uma casade alienados. Vi pessoas que imaginavam falar com seus mortose vi mulheres que se diziam mdiuns.

    Trs homens me fazem a corte... Quem que me pagar omais belo casaco?

    Vi homens que perguntavam qual era o valor da bolsa onde

    poderiam especular ou qual cavalo iria ganhar o Grande Prmio!Eu havia preparado, ento, um romance que teria

    ridicularizado os que, de boa-f, eu chamava de espritas; estavaconvencido de que uma pessoa no podia se ocupar dessascoisas, a no ser que estivesse um pouco desequilibrada;outrossim, eu jamais abrira um livro que tratasse de Espiritismo.

    Em suma, eu fazia o que fazem nossos adversrios e porisso que lhes respondo com cortesia a seus ataques. Eu criticava

    uma coisa que pensava conhecer, mas que eu mal conhecia, poisfrequentara um mau ambiente.

    A guerra sobreveio. Reformado em tempo de paz portuberculose contrada em servio militar, tentara me inscrevercomo piloto, porque possua diploma de aviador civil. No oconseguindo, pude tornar-me til organizando, na regio dePersan Baumont, um servio de consertos de automveis e havia,naturalmente, perdido de vista a Sra. M. e seus frequentadores.

    Minha mulher, tendo-a encontrado e tendo sido convidada aretornar s quintas-feiras s suas reunies, aceitou o convite equis me levar, mas recusei, energicamente. Meus documentosestavam em ordem para o meu servio e meu livro podia serescrito. No havia, portanto, necessidade de retornar a esse meio.

    Tinha sido mobilizado como enfermeiro militar em Paris.Minha mulher era catlica praticante, possua boas noes de

    teologia e meu atesmo a desolava. Frequentemente,mantnhamos longas discusses a propsito, mas sempre se

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    achava desarmada quando eu lhe perguntava como Deus pode tercriado o inferno.

    Distraindo-se muito em casa da Sra. M., l ela ia,regularmente, e me contava as experincias a que assistira, semlhes prestar muita ateno e sem admitir outras causas como asugesto, a alucinao ou a fraude.

    Certa feita, ela me falou que reencontrara em casa da Sra. M.o Almirante dA, o qual eu conhecia bem, tendo-o como colega,participando de uma obra de beneficncia.

    Eu tinha por esse homem uma grande simpatia e havia

    constatado suas qualidades de calma, de moderao e dejulgamento sereno.

    Como poderia ele acreditar na realidade do Espiritismo? Tivecom minha mulher uma longa e interessante conversa a respeito.

    Voc deveria ir comigo, quinta-feira prxima, casa da Sra.M. disse-me ela. O almirante l estar e ficar muito contenteem v-lo e em poder adormecer um mdium em sua presena. Osono do mdium pareceu-me real. Existe algo de espantoso. Que

    diferena com o charlatanismo que vimos naquele salo! Almdisso, a Sra. M. ficar contente em rever voc.

    Eu havia dito, francamente, Sra. M. e a seus frequentadoreso que pensava de suas prticas; apesar de minha franqueza, elame pedia para retornar sua casa. Eu no estava aborrecido porretornar e rever o almirante, perdido de vista desde o comeo dashostilidades.

    No pude lembrar tudo isso sem uma real emoo; o instanteem que tomei a deciso de reencontrar os frequentadores dosalo da Sra. M. foi aquele em que comecei o caminho dafelicidade.

    Sem o saber, buscava uma existncia feliz; at ento, tinhaestado muitas vezes desesperado, nada compreendendo dosmotivos da vinda do homem Terra.

    Minha conversa com o almirante foi decisiva; pela primeira

    vez, tinha a ocasio de conhecer o que , realmente, oEspiritismo, explicado por um homem competente; de aprenderbi i i i l i d l l Willi

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    Crookes, tinham sido obrigados a declarar, oficialmente, arealidade do fenmeno, aps haverem investigado seriamente.E, entretanto, minha incredulidade me obrigava a guardar uma

    atitude zombeteira. Meu caro amigo disse-me o almirante no negue assim.

    No baseie seu julgamento no que voc viu e ouviu aqui. Leia.

    No quero ler toda essa literatura de loucura.

    Seu dever de homem instruir-se. Quando voc l umromance policial, sabe estar lendo uma obra de imaginao.Pegue uma obra esprita e faa o mesmo; voc no obrigado a

    aceitar o autor em suas concluses. Por exemplo, Depois daMorte, de Lon Denis, atraente como um romance e a formaliterria lhe agradar, estou certo. Se voc quiser, faa de contaque uma obra de pura inveno.

    No estou disposto a desperdiar meu tempo.

    Ao contrrio, voc no o desperdiar.

    Tirando de seu bolso uma pequena brochura rosa, o almiranteme disse:

    Leia estas poucas pginas, pouca coisa. Estude estepequeno fascculo: O Porqu da Vida. Faa-me esta promessa,eu lhe peo.

    Isso se passava em 1915, pelo ms de fevereiro. Prometi e li.Pude assim compreender que existe algo de srio no Espiritismo.

    At ento, no havia podido ter uma impresso assim.

    Havia assistido a experincias de enganadores, aproveitadores

    da ingenuidade de uma mulher da sociedade para se servirem deseu salo; eu vira pretensos professores de hipnologia,quiromancia e ocultismo... Vira falsos mdiuns que lanamurros: Ai... um esprito me mordeu... um esprito me beliscou.Era sempre numa parte do corpo onde no se podia verificar.

    Faziam experincias em minha frente. O professor gritava:

    Ateno, vou adormec-la... ateno... ela dorme...perguntem-lhe o que quiser... faam-lhe uma pergunta... ela vairesponder...

    A l

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    Ela no lhes pode dizer tudo; v muitas coisas, venham ameu consultrio.

    Naturalmente, a consulta em domiclio custava bastante caro.Como, diante de tais espetculos, teria podido conhecer oEspiritismo e abandonar minha atitude contestadora?

    Todavia, lendo O Porqu da Vida, tive que reformular meu julgamento e pude, em seguida, ter longas conversas com oAlmirante dA., ao qual consagrei um grande reconhecimento pelos preciosos conselhos que me deu e por apresentar-me,experimentalmente, o magnetismo.

    Quando, finalmente, parti para a aviao militar, elecontinuou a me guiar, escrevendo-me com frequncia e meincentivando a ler obras de Allan Kardec.

    Eu devia, sobretudo, conhecer a obra de Lon Denis, apsmeus ferimentos de guerra; permaneci durante muito tempoacamado e, em diferentes hospitais onde era tratado, tinha tempode me aprofundar no estudo do Espiritismo.

    Paul Leymarie me havia remetido, amavelmente, uns livros e

    a Sra. M. me enviou Depois da Morte, tendo podido, assim, pouco a pouco, aprender a me resignar, a suportar meussofrimentos.

    Devotei a Lon Denis uma profunda gratido e tenhoigualmente por Gabriel Delanne um grande reconhecimento.

    Tendo estudado muito Matemtica, e mesmo me preparadopara a Escola Politcnica, pude encontrar nas obras desse tcnicoargumentos valiosos, porque ele emprega processos dedemonstrao precisos, abandonando na maior parte do tempo oenvolvimento literrio ou filosfico.

    por isso que Lon Denis e Gabriel Delanne se completamto bem.

    Se, sem se tomar partido e sem idia preconcebida, lermosuma obra de Lon Denis e uma obra de Gabriel Delanne,chegaremos realidade do Espiritismo.

    Em O Porqu da Vida, j se percebe o objetivo pretendido por Lon Denis. Sente-se que, para ele, a propagao do

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    Espiritismo foi a continuidade lgica da ao social que ele tinhapretendido na Loja dos Demfilos de Tours e na Liga do Ensino.

    Desejava ele outra coisa a no ser proporcionar a felicidadepara todos os seres humanos? Certamente no, e encontramos aprova disso no captulo IX - Resumo e Concluso da referidaobra:

    O espetculo das desigualdades sociais, os sofrimentos deuns em oposio s aparentes alegrias, s satisfaessensuais, indiferena de outros, esse espetculo lana nocorao dos deserdados um ardente fogo de dio, e a busca

    dos bens materiais se acentua. Que as massas profundas seorganizem, se levantem, e o velho mundo pode ser abaladopor terrveis convulses.

    A Cincia impotente para conjurar o mal, para modelar oscaracteres, para curar os ferimentos dos combatentes da vida.

    Em verdade, s h, em nossa poca, cincias especiais paracertos aspectos da natureza, acumulando fatos, trazendo aoesprito humano uma soma de conhecimentos sobre o assunto

    que lhes prprio. assim que as cincias fsicas so prodigiosamente

    enriquecidas, h meio sculo, porm esses conhecimentosesparsos so falhos de conexo, de unidade, de harmonia.

    A Cincia em especial, aquela que, da srie dos fatoschegar causa que os produz; aquela que deve religar, uniressas cincias diferentes numa grande e magnfica sntese,fazendo jorrar uma concepo geral da vida, fixar nossos

    destinos, deduzir uma lei moral, uma base para omelhoramento social, essa cincia universal, indispensvel,ainda no existe.

    Se as religies agonizam, se a velha f se amortece, se aCincia impotente para fornecer ao homem o idealnecessrio a regular sua marcha, a melhorar as sociedades,ser tudo uma desesperana?

    No, porque uma doutrina de paz, de fraternidade, de progresso se levanta nesse mundo perturbado e vem

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    apaziguar os dios selvagens, acalmar as paixes, ensinar atodos a solidariedade, o perdo, a bondade.

    Ela oferece Cincia essa sntese desejada, sem a qual

    seria para sempre estril. Ela triunfa sobre a morte e, paraalm desta vida de provaes e males, abre para o esprito asradiosas perspectivas de um progresso sem limites naimortalidade.

    Ela diz a todos: Venham a mim, eu os aliviarei, eu osconsolarei; eu lhes tornarei a vida mais suave, a coragem e a pacincia mais fceis, as provaes mais suportveis.Iluminarei com um poderoso claro seus caminhos obscurose tortuosos. Aos que sofrem, dou esperana; aos que buscam,dou a luz e aos que duvidam e se desesperam, dou a certeza ea f.

    Ela diz a todos: Sejam fraternos, auxiliem-se, sustentem-seem sua caminhada coletiva.

    Seu objetivo est alm desta vida material e transitria. nesse futuro espiritual que estaro unidos como membros de

    uma s famlia, ao abrigo dos sofrimentos e dos males semconta.Procurem, pois, tornar-se merecedores, com seus esforos e

    trabalho.A humanidade se elevar, grande e forte, no dia em que

    essa doutrina, fonte infinita de consolaes, sejacompreendida e aceita.

    Nesse dia, a inveja e o dio se extinguiro do corao das

    crianas; o poderoso, sabendo que ele foi fraco, e que a issopode reverter, que sua riqueza apenas um depsito do Alto,tornar-se- fraterno, mais amvel para com seus irmosnecessitados.

    A Cincia, completa, fecundada pela nova filosofia,expulsar as supersties e as trevas. No haver mais ateusnem incrdulos.

    Uma f simples, ampla, fraterna, se estender sobre as

    naes, far cessar seus ressentimentos, suas rivalidadesprofundas.

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    A Terra, livre dos flagelos que a devastam, prosseguir seuprogresso moral e se elevar a um grau mais alto na escalados mundos.

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    CAPTULO III

    Depois da Morte

    Depois da Morte a primeira obra abrangente de Lon Denis.Como todas as outras, j foi traduzida em vrias lnguas.

    No Congresso de 1889, Lon Denis foi nomeado Presidenteda Comisso de Propaganda. Ele tomou como secretrio, Henri

    Sausse; este lhe aconselhou fazer uma sntese do ensino espritae um resumo da obra de Allan Kardec.Lon Denis pensou no conselho e escreveu Depois da Morte,

    verdadeira obra-prima, tanto do ponto de vista literrio purocomo no que concerne exposio de nossa Doutrina.

    Publicada em 25 de dezembro de 1890, Depois da Morte foibem acolhido pela crtica.

    G. dHailly escreveu, naRevue des Livres Nouveaux:

    Entre as obras que li nesta semana, no encontrei umacom maior soma de condies morais que esta de LonDenis:Depois da Morte.

    Ainda no conhecia obra mais bem pensada, nem livroescrito em um estilo mais correto, mais elevado.

    Talvez eu seja um pouco cptico em relao aoEspiritismo, embora haja razes que me inclinem a uma

    aceitao. Entretanto, no conheo doutrina maisconsoladora, mais reconfortante, mais digna de respeito.O belo livro de Lon Denis nos pretende dar a soluo

    cientfica e racional dos problemas da vida e da morte, danatureza e do destino do ser humano e nos demonstra aexistncia e a razo das vidas sucessivas.

    Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria, e seas coisas so assim, s posso louvar a Providncia Divina.

    Pode-se ler emLe Temps:

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    Esse volume realmente notvel, possui todas asqualidades que lhe podem garantir o sucesso. Emboraeminentemente clssico, profundo e srio, suas pginas

    brilham com uma luz viva e so impregnadas de umaardorosa eloquncia.

    Como seu ttulo indica, trata do formidvel problema dodestino humano, dando uma soluo para essa questobastante controvertida durante todos os tempos: o porqu davida.

    Problema rduo, em verdade, porm tratado com um talencanto de estilo e de evoluo que, em todo o livro, no seencontra uma pgina sequer com uma leitura fatigante oudesprovida de interesse.

    Dando, em Le Journal, sua apreciao sobre esse livro, AlexHepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de 1899:

    H um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e omais precioso livro que jamais li. Seu nome Lon Denis eseu livro intitula-seDepois da Morte.

    Leiam-no e uma grande piedade, porm, libertadora efecunda, vir bruscamente de nossas manifestaes detristezas, de nosso medo da morte e de nosso grande pesarpor aqueles que supomos perdidos.

    Em Depois da Morte, o leitor encontra, notadamente, ahistria das religies, o estudo dos grandes problemas o domundo invisvel, a maneira pela qual, segundo as comunicaes,

    podemos ter uma idia da vida no Alm, o reto caminho, etc.Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor estudoucomo os homens conheceram nossa doutrina e quais podem sersuas consequncias:31

    Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas sedestacam uma concepo do mundo e da vida, umconhecimento das leis superiores, uma afirmao da justia eda ordem universais, bem-feitas para despertar no corao dohomem, com uma f mais segura e mais esclarecida dofuturo um sentimento profundo de seus deveres um interesse

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    real por seus semelhantes, capazes de transformar a face dassociedades.

    Esse livro, escrito sem nenhuma pretenso pessoal desucesso, destinado aos que esto cansados de viver na cegueira,aos filhos e s filhas do povo.

    O nico objetivo de Lon Denis prestar servio aoshumildes e aos infelizes. Ele se revolta que ainda se possa,atualmente, morrer de frio e de misria; e prova que as bases denossa doutrina so unicamente o testemunho dos sentidos e aexperincia da razo.

    Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que apresentauma nova apario de fenmenos existentes desde o comeo daTerra, ele faz um resumo bem ntido, rpido, porm completo, dahistria das religies.

    As religies so muitas, em nosso globo, nas suas formas eaparncias, mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-seque seu esoterismo, isto , a parte reservada s aos iniciados,comporta uma doutrina nica, superior e imutvel, sempre a

    mesma em todas as latitudes.Lon Denis consagra morte muitas pginas, esparsas em sua

    obra.Que , realmente, a morte? Na introduo, o autor j prope a

    questo:

    Esse problema interessa a todos, pois todos estamossujeitos lei.

    Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a morte apenas um calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrrio,a entrada em uma outra esfera de sensaes...

    A morte o ponto de interrogao, incessantemente postodiante de ns, a primeira das questes qual se ligaminmeras questes, cujo exame faz a preocupao, odesespero das idades, a razo de ser de uma multido desistemas filosficos.

    Muitos no querem ouvir falar da morte.

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    Pode-se viver sem preocupaes, quando se tem a chanceaparente de ser rico, mas isso no basta para impedir que amorte venha, no momento certo.

    Dizendo: Todas essas questes so macabras, no quero meocupar dessas coisas, podemos nos distanciar de uma segundachegada da morte? Se a morte uma coisa terrvel, no melhor,entretanto, conhec-la?

    Quando o estado de sade de uma criana bastante mau, para necessitar, na aparncia, de uma interveno cirrgica, aresponsabilidade dos pais tanto mais sria quanto o pequenovenha a sofrer com esta deciso, sem poder opinar; antes deaceitarem a operao, o pai e a me se encontram diante destaquesto angustiante: Qual resultado vamos obter? Convm ouno operar?

    Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operao, porm uma operao que ser obrigatria, num momentodesconhecido.

    , portanto, indispensvel conhecer, antes, o que o destino

    de todos os humanos; convm, pois, estar sempre preparado paraenfrent-la, quando aparecer.

    Diz-nos Lon Denis:32

    A morte no outra coisa que uma transformaonecessria, uma renovao. Em realidade, nada morre. Amorte aparente. Somente a forma exterior muda; o princpioda vida, a alma, continua em sua unidade permanente,indestrutvel. Ela se encontra no alm-tmulo, ela e seu corpofludico, na plenitude de suas faculdades, com todas asaquisies; luzes, aspiraes, virtudes, poderes de que seenriqueceu durante suas existncias terrenas.

    Eis os bens imperecveis de que fala o Evangelho, quandodiz: Nem os vermes, nem a ferrugem os consumiro e nemos ladres os roubaro. So as nicas riquezas que podemoslevar conosco, para utilizar na vida futura.

    (...)A morte a grande reveladora. Nas horas de provaes,d d d

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    Por que existo? Por que no permaneci na noite profunda,onde nada se sente, no se sofre, onde se dorme o sonoeterno?

    E, nessas horas de dvida, de agonia, de desnimo, umavoz subia at ns e dizia: Sofra para crescer e para resgatar!Saiba que o destino grandioso.

    Esta fria Terra no ser o seu sepulcro. Os mundos que brilham no fundo dos cus so suas futuras moradas, aherana que Deus lhe reserva.

    Voc , para sempre, cidado do Universo, pertencendo aossculos futuros como aos sculos passados e, no presente, prepara sua evoluo. Suporte, pois, com calma ossofrimentos que voc mesmo escolheu.

    Semeie, na dor e nas lgrimas, o gro que brotar em suasprximas vidas; semeie tambm para os outros, como osoutros semearam para voc!

    Esprito imortal, avance com passo firme para as alturas deonde o futuro lhe aparecer sem vus.

    A subida rude e o suor inundar muitas vezes seu rosto,porm do alto ver despontar a grande luz, ver brilhar nohorizonte o sol da verdade e da justia!

    Os leitores da obra de Lon Denis conhecem, pois,exatamente, a morte; no mais temem as manifestaesespontneas dos fantasmas. Eles no se assemelharo ao heri deum conto de Guy de Maupassant, intituladoApparition.33

    Eis a anlise:Cinquenta e seis anos aps uma aventura contada por ele aalguns amigos, o Marqus de la Tour Samuel tremia ainda com aidia do que se produziu uma s vez no curso de sua vida. Eleguardou desse acontecimento uma lembrana do medo e,todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes dedemonstrar sua bravura.

    Na guarnio de Rouen, ele havia encontrado um amigo de

    juventude e ficou surpreso com sua aparncia envelhecida:demonstrava em seu rosto traos indelveis de grande sofrimento

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    causado pela morte de sua esposa. Tendo encontrado nela afelicidade perfeita, tivera a tristeza de perd-la subitamente, eno podia consolar-se. Jamais tivera a coragem de retornar a uma

    propriedade onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.Encantado em reencontrar um velho colega em quem

    depositava plena confiana, o desesperado lhe disse:

    No posso mais voltar quele lugar, isso me faz sofrer.Voc quer ir l? No longe. Voc ir ao meu quarto, abrir asecretria aqui tem a chave e apanhar os papis de quetenho necessidade. Para voc um passeio a cavalo, de apenasalguns quilmetros. Pode me prestar esse favor?

    O marqus aceitou e se dirigiu propriedade de seu amigo;quando l chegou, o caseiro ficou espantado com a deciso domarqus de entrar na pea designada. O oficial no atribuiuimportncia admirao do vigia da propriedade, mas a verdade que, quando penetrou no quarto, que exalava o odorcaracterstico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu umaemoo incompreensvel.

    Estando sentado diante da secretria para dali apanhar ospapis pedidos por seu amigo, teve a sensao de que andavamatrs dele; voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar desua bravura, tremeu. Tinha a impresso de que essa morta ia lhefalar, toc-lo, lhe pedir alguma coisa. Teve foras para apanharrapidamente os documentos, depois se livrou desse lugar mal-assombrado.34

    Para retornar a Rouen, galopou como um louco.

    Diante do amigo, tomou conscincia de si mesmo e tirou suatnica de oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, emvolta de um boto, alguns longos fios de cabelos.

    Se o heri de Guy de Maupassant tivesse conhecido oEspiritismo, teria fugido? No, pelo contrrio, ele tentaria saberos motivos dessa manifestao e, sem dvida alguma, teria podido prestar um bom servio, porque o Espiritismo maravilhoso. No somente permite dar consolo aos vivos, masainda estende aos mortos benefcios numerosos.

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    No entanto, o Marqus de la Tour Samuel no conheceunossa Doutrina. Assim, aos 82 anos, 56 anos aps sua trgicaaventura, apesar das provas dos cabelos enrolados num boto de

    seu uniforme, ele ainda considerava o fato como uma crise deloucura, um segredo vergonhoso, uma lamentvel fraqueza quesomente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.

    LendoDepois da Morte, aprendemos coisas bem importantes;citarei, por exemplo, o que magnetismo, como podemos nosservir de seu fluido, quais os sbios e quais os grandes homensque aceitaram o Espiritismo; quais objees so feitas e asrespostas que permitem mostrar aos contraditores quanto eles

    esto errados.Coisa interessante: todas as vezes que se trata de refutar

    objees, Lon Denis emprega argumentos; jamais utilizainsultos.

    Os franceses gostam de ler jornais que tm por objetivo fazerpolmica entre uns e outros. Quando se trata de choques deidias, est certo; infelizmente, h com frequncia choques de

    pessoas.De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo etoda obra nos quais algum, para demonstrar a realidade de suatese, insulta os que pensam diferente.

    Quando se procura transmitir suas convices aos outros, bom ter sua disposio argumentos, fatos e experincias, e noinjrias.

    Em Depois da Morte a teoria da reencarnao s

    esquematizada. Ela ser estudada profundamente em outrasobras, particularmente em O Problema do Ser e do Destino.

    Lendo Depois da Morte, aprendemos igualmente como sepode adquirir vontade e dela se utilizar para sermos felizes nestemundo.

    Lon Denis no receia atrair a ateno de seus leitores sobreos perigos do Espiritismo, que, de resto, podem parecer umpouco bizarros, mas existem. A esse respeito, lembro-me de umapequena histria:

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    Certa vez, na sala de Geografia, numa reunio da Phalange,veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em lgrimas,ele me diz:

    Ah, se o senhor soubesse que desgraa; meu filho morreu!Desde sua morte, temos em mos uma pequena brochura quetrata de como fazer girar as mesas. Desde a morte de meu filho,minha mulher deseja estar certa de que ele no estverdadeiramente morto. Ela quis colocar as mos sobre a mesa econseguiu movimento, porm, depois pareceu louca. No sepode deix-la sozinha, porque quer se jogar pela janela, poisacha que escuta vozes que lhe ordenam se matar.

    Eu vi, logo, de que se tratava: ou era auto-sugesto, ou umenvolvimento, por obsesso de um mau esprito.

    Pedi a esse homem para levar sua esposa minha casa, sempreveni-la de que eu estava sabendo de seu estado. Isso mepermitiu estud-la vontade. Pude diagnosticar bem claramenteuma obsesso.

    Esse homem tinha grande confiana em mim e me pediu para

    tentar curar sua esposa.35

    Em trs semanas consegui restituir quela mulher toda a suarazo, e desembara-la daquela obsesso.

    Para obter esse resultado no usei gestos ou palavras rudes,porque pela persuaso que se consegue esclarecer os espritosobsessores sobre aquilo em que esto errados. preciso tambmexplicar aos obsidiados a necessidade de perdoar seusperseguidores invisveis e pedir a proteo de seus guias. Este

    um ponto bem delicado.Os perigos da prtica do Espiritismo so reais.Leitores, se vocs tiverem a inteno de praticar em nossa

    doutrina, no se atrevam a fazer experincias sem terem antesestudado o Espiritismo.

    Quando so discutidas essas questes, eu faofrequentemente uma comparao que me parece de natureza a

    bem impressionar a imaginao de meu interlocutor.

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    Primeiramente, levo-o a imaginar que ele teria obtido, emtempos passados, algumas vagas noes de Fsica e Qumica,esquecidas depois que as exigncias da vida o afastaram dos

    estudos.Em seguida eu o conduzo a ver comigo, pela imaginao,

    uma usina de explosivos. Essa usina bem interessante etambm curiosa: mistura-se um pouco de plvora, um pouco deoutro produto, coloca-se isso num pequeno tubo e, quando h umchoque, obtm-se a exploso destruidora.

    Meu interlocutor est cativado; ele decide experimentar fazero mesmo. Antes de entrar em casa, vai a um droguista.

    Sua memria lhe permite lembrar-se que preciso colocar umpouco de tal produto, um pouco mais daquele outro, porm eleno se lembra mais de todas as medidas e precisamente isto oessencial. Que arrisca ele realizando a experincia?

    Ou no produzir o explosivo e ter perdido seu tempo, ouento conseguir um explosivo perigoso que no sabercontrolar, com o qual poder provocar uma catstrofe, matar

    seus vizinhos, semear a runa e o pnico em seu derredor.Sem dvida, seria difcil encontrar uma criatura bastante

    imprudente para querer fazer um explosivo sem ter antesestudado a fundo essa matria, porque a h um perigo bemaparente. Infelizmente no acontece o mesmo com o Espiritismo.

    Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:

    Ah, voc se ocupa com essas coisas! Eu tambm me divirtofazendo as mesas girarem.

    Tais divertimentos so perigosos; por ser invisvel edesconhecido da maioria, o perigo da experimentao psquicarealizada sem preocupaes no menos real.

    Aos olhos de Lon Denis, essa questo dos perigos doEspiritismo muito sria. Ele julgou necessrio, em sua primeiraobra, indic-los muito claramente, consagrando um captuloespecial a esse problema.36 Ele havia compreendido a

    necessidade absoluta de atrair a ateno de seus leitores sobre osperigos de uma experimentao irresponsvel.

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    Assinalo, igualmente, um possvel inconveniente: as pesquisas nesse domnio so atraentes, mas preciso no seentregar sem reservas experimentao. No se deve abandonar

    a vida normal, material, para se consagrar unicamente a questesque no devem ser um meio de ganho.

    Portanto, no convm experimentar antes de se estarsuficientemente preparado para faz-lo sem imprudncia.

    Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso crtico.Nunca se deve aceitar um fenmeno como uma emanao doalm, sem ter tentado encontrar uma explicao humana.

    Para se entregar seriamente a pesquisas espritas e psquicas, indispensvel experimentar com perseverana, tenacidade eregularidade.

    Se se quer constituir um grupo, preciso que ele se rena emdia e hora certos, no mesmo local, sempre com o mesmo nmerode pessoas, no se permitindo estranhos em suas reunies.

    Tenho dado frequentemente o conselho de Allan Kardec paraa criao do que ele chama de grupo familiar.

    Meu excelente amigo Marty, colega da Comisso da UnioEsprita Francesa, tambm pensa assim e temos ambos obtidonotveis resultados.

    Dedico uma particular importncia ao captulo da provao.37

    Constantemente ouo confidncias de desesperados, alis, sonumerosas as pessoas acossadas pelos males fsicos, materiais oumorais.

    Sempre aconselhei meus interlocutores e meuscorrespondentes a lerem ou relerem as pginas consagradas porLon Denis a explicar por que sofremos neste mundo.

    Muitas so, em meus arquivos, as cartas daqueles para osquais essa medicina moral foi eficaz.

    Em 23 de outubro de 1927, eu realizava, na Sala deGeografia, na Unio Espiritual, uma conferncia sobre a obra deLon Denis e aconselhava meus ouvintes a adquirirem logo

    Depois da Morte, dizendo-lhes finalmente:

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    Meus amigos, desejo que todos sejam bem felizes, parano terem nunca necessidade da consolao pregada peloEspiritismo.

    Alguns de vocs esto de luto. Eu gostaria de ter podido,no momento da cruel separao fsica, oferecer-lhes umavaliosa consolao em nossa doutrina.

    Se, atualmente, esto felizes, talvez no o estejam numaoutra ocasio.

    Pensem com Lon Denis, logo no deixem de lerDepoisda Morte e aproveitar essa preciosidade.

    Uma dona de casa previdente tem sempre em sua dispensaalgumas conservas que lhe permitam improvisar umarefeio, se alguns amigos aparecerem de surpresa. Umamulher prevenida tem sempre em sua farmcia domstica osmedicamentos que possibilitem os primeiros socorros, emcaso de acidente ou de doena.

    Imitem essas pessoas prudentes e tenham sempre aoalcance da mo esse livro que contm todas as possibilidades

    de torn-los felizes.Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovao do poder

    dessa obra:

    As livrarias, ontem noite, estavam fechadas,escreveram-me, e s na manh seguinte pude seguir seuconselho. Li e reli a pgina 174 e as seguintes.

    bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um

    sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhassublimes nos devolvem o gosto de viver.

    Dificuldades de toda sorte no me tm poupado. Por vezes, aluta parece tornar-se impossvel, com tudo sombrio em meuderredor, e fico tentado em me deixar abater. Ento releio ocaptulo que Lon Denis consagrou s provaes e tudo volta aonormal.

    Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral espantosoque me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficcia dosremdios que aconselho aos outros As exigncias do jornalismo

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    me haviam obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma hora defolga, fui me isolar numa praia, tendo comigoDepois da Morte etambm Les Grands Initis, de meu eminente amigo Edouard

    Schur, que eu no tinha ainda a alegria de conhecerpessoalmente.

    Eu estava realmente deprimido e lamentava no ter o direitode me destruir, como pensava quando era materialista.

    Abatido ao extremo, no podia afastar meu pensamento doassunto de minha profunda depresso, envolvia-me na desgraa,tudo era sombrio em minha volta. Pressentia todas as catstrofese a vida me parecia para sempre terminada. Todavia o hbito decultivar minha vontade me ajudou a ter a necessria energia pararetomar contato com Lon Denis e Edouard Schur.

    Quando pude livrar-me de minhas preocupaes, seguindo opensamento do autor esprita, estava salvo.

    Recobrei confiana, senti o auxlio de meus amigos invisveise me lembrei de que o nico meio de ser realmente feliz esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos

    outros.Lon Denis se alegra em repetir que todas as suas obras

    foram inspiradas pelos espritos:38

    Uma nica ambio nos anima: desejamos que, quandonosso corpo j gasto retornar terra, nosso esprito imortalpossa afirmar: minha passagem no mundo no foi estril, sepude contribuir em pacificar uma nica dor, em esclareceruma nica inteligncia em busca da Verdade e em reconfortaruma alma cambaleante e triste.

    Quando traava essas linhas, o defensor do Espiritismo teve aintuio da sua brilhante carreira de escritor?

    Pouco importa se ele era bastante modesto para no se ocuparcom essas contingncias terrestres. Antes de tudo, ele queria obem de seus leitores.

    Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa

    alegria, durante sua vida, de ter inmeros testemunhos da felizeficcia de suas obras.

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    Bem hbil seria o estatstico que conseguisse obter o nmerodos que, graas aDepois da Morte, puderam ser consolados.

    O patriarca do Espiritismo retornou espiritualidade e,durante sua longa trajetria, conheceu todas as provaes, semjamais se deixar abater.

    Seus despojos, bem gastos por 81 anos de vida terrena, sedecompuseram, lentamente, no solo de Tours, porm seuesprito 39 plana nas altas esferas.

    Denis deve continuar sua misso, pois, durante sua recenteencarnao, se esmerou em provar que a morte uma simples

    evoluo e que continuamos nosso trabalho, qualquer que seja olado em que nos encontremos.

    Pouco tempo depois de sua morte, Lon Denis teria semanifestado em Rochefort-sur-Mer, no crculo Allan Kardec. EmAnnales du Spiritisme,40 o casal Luce, de Tours, amigos ntimosdo mestre, e Claire Baumard, secretria, declararam,formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares, sualinguagem brilhante, impossvel de imitar, mesmo que se

    decorassem certas passagens de suas obras.Houve uma manifestao verdadeira? Nada sei, porm o casal

    Luce confirmou a sua autenticidade.Conheo pessoalmente a Srta. Brasseaud, mdium do Crculo

    Allan Kardec; em 1912, ela produziu a escrita direta em ardsia,sob minucioso controle.41

    Se a comunicao de Lon Denis autntica, tanto melhor,porque uma prova formal de que o grande apstolo no estavaenganado em suas afirmativas; se no se trata de umamanifestao de Lon Denis, fato bem possvel, tanto pior, porm isso no impede que nos arquivos mundiais doEspiritismo se encontrem muitos exemplos bem controlados demanifestaes de mortos, na hora prevista por eles em vida e nascondies que haviam indicado.

    Para ser conciliatrio em relao queles que no participamde nossas idias, eu aceitaria, a rigor, admitir que os espritasesto errados.

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    Quando vemos o exemplo de Lon Denis, de Gabriel Delannee de tantos outros, quando constatamos o bem que eles fizeram humanidade, s numerosas criaturas que consolaram, temos o

    direito de pensar: se eles se enganaram, tanto pior; mais vale esseerro que o de outros tericos, cujo ensino produz a dvida e gerao sofrimento.

    Nossa doutrina ajuda aqueles que tm a oportunidade deconhec-la e de aplicar os seus ensinamentos, a viver bem. Issono o mais importante?

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    CAPTULO IV

    No Invisvel

    No Invisvel Espiritismo e Mediunidade apareceu em 1901 efoi reeditado em 1911. Esta segunda obra publicada por LonDenis um livro prtico sobre o Espiritismo experimental. Acapa traz, em subttulo, indicaes sobre as matrias estudadas.Com efeito, lemos:

    NO INVISVELESPIRITISMOE MEDIUNIDADE

    Tratado de espiritualismo experimental.Os fatos e as leis.

    Fenmenos espontneos, tiptologia e psicografia.Os fantasmas dos vivos e os espritos dos mortos.

    Incorporaes e materializaes dos mortos.A mediunidade atravs dos tempos.Formao e direo dos grupos.

    Mtodos de experimentao.Identidade dos espritos.

    Essa enumerao d uma idia da importncia da obra, muitobem acolhida pela crtica.

    Le Mercure de France disse:Lon Denis um homem de grande talento e de grande

    elevao de pensamento. Como orador, sabe atrair, reter econquistar seus ouvintes, por sua palavra arrebatadora, pelaseduo de suas belas imagens e de seus lricos vos.

    Como escritor, demonstra as mesmas qualidades, pormlivres dos riscos que a improvisao deixa: o relaxamento, asimprecises nas idias e na sua expresso. So qualidades

    disciplinadas pela regra de uma lgica mais severa.

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    Seu ltimo livro, No Invisvel, um tratado deespiritualismo experimental, porm, se instrutivo como umtratado, sobretudo atraente como um romance. E que

    romance mais repleto de misteriosa ansiedade e de triunfalalegria como a histria da alma humana!

    Seria desmerecer o escritor mencionar apenas uma frianomenclatura dos materiais de seu trabalho. No oarcabouo da obra que se deveria apresentar, a prpria obra,com sua substncia, sua estrutura, sua medula, mas tambmcom suas qualidades de encanto vigoroso e de um delicadocolorido. So as combinaes de idias e de palavras. So as

    breves observaes empregadas em frmulas lapidares.Le Mmorial de la Librairie Franaise escreveu:

    Em menos de 500 pginas, de um formato cmodo, comtexto claro, o leitor encontrar, numa forma e num estiloelegante e solidamente documentada, a soluo de todos osproblemas vinculados ao Espiritismo.

    Temos 26 captulos, cujo interesse crescente, numa

    exposio atrativa das leis que regem o mundo oculto e a vidado Alm. Aps sua leitura, ficamos admirados de que, em tocurto espao, possa conter tantas coisas.

    LAutorit publicou o seguinte artigo:

    Os problemas do alm atraem e apaixonam cada vez mais,em nossa poca.

    Para atender a essa curiosidade, Lon Denis acaba de

    publicar um livro sinttico, numa forma clara, precisa eatraente, contendo o conjunto dos trabalhos realizadosdurante meio sculo do domnio do espiritualismoexperimental, abrangendo os fatos mais recentes.

    Aos testemunhos dos sbios, em favor das manifestaesde alm-tmulo, Lon Denis acrescenta a exposio defenmenos numerosos e inditos, que ele observou no cursode 30 anos de experimentao.

    O lugar ocupado pelo autor entre os escritores de nossotempo sua competncia sua autoridade nessas matrias que

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    lhe valeram a honra de presidir o Congresso Espiritualista,realizado em Paris em 1900, do a essa obra uma importnciae um interesse excepcionais.

    Ele possui, em alto grau, as qualidades de estilo e erudioque fizeram o sucesso das suas obras precedentes.

    Possuindo os livros de Lon Denis, temos constantemente emcasa um amigo real, capaz de consolar, se estamos emsofrimento.

    Lendo suas obras, temos uma impresso estranha;frequentemente senti isso em meus estudos favoritos: no mais

    a mesma coisa. Tem-se a impresso de que tudo em nossa voltase apaga, se atenua e se usufrui dessa alegria maravilhosa eprofunda de estar constantemente em comunho de pensamentoscom o autor, cujo principal desejo, ao escrever seus livros, foi prever que um dia qualquer seus leitores poderiam ternecessidade dos meios maravilhosos de consolao que ele tobem soube apresentar.

    No Invisvelcontm a demonstrao da existncia da alma, o

    estudo do magnetismo, a apresentao de diferentes fenmenosespritas e de mltiplas provas da realidade do Espiritismo.Dentre muitas, citarei uma:42

    Em 13 de janeiro de 1899, doze pessoas estavam reunidasem casa do Sr. David, na Place des Corps-Saints n 9, emAvignon, para uma reunio esprita semanal.

    Aps um instante de recolhimento, viu-se a mdium, Sra.

    Gallas, em estado de transe, voltar-se para o lado do AbadeGrimaud e lhe falar, na linguagem dos sinais empregados porcertos surdos-mudos. Sua rapidez mmica era tal que oesprito foi solicitado a se comunicar mais devagar, ao queele imediatamente atendeu.

    Por uma precauo que consideramos importante, o AbadeGrimaud s enunciava as letras medida que a transmissoera feita pela mdium.

    Como cada letra isolada nada significava, era impossvelinterpretar o pensamento do esprito, mesmo que se quisesse.fi l d i f i h id

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    mensagem, tendo sido feita a leitura por um dos doismembros do grupo, encarregados de transcrever oscaracteres.

    Alm disso, a mdium empregou um duplo mtodo: aqueleque enuncia todas as letras de uma palavra para lhe indicar aortografia, nica forma sensvel para os olhos, e aquele queenuncia a articulao sem lhe dar a forma grfica, mtodoeste inventado por Fourcade e que est em uso na instituiodos surdos-mudos de Avignon. Esses detalhes foramfornecidos pelo Abade Grimaud, diretor e fundador doestabelecimento.

    A comunicao relativa obra de alta filantropia, qual sededicou o Abade Grimaud, estava assinada: Irmo Fourcade,morto em Caen.

    Nenhum dos assistentes, com exceo do venerandoeclesistico, conhecera o autor dessa comunicao e nem seumtodo, se bem que o autor passara algum tempo emAvignon, havia 30 anos.

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