heleno de freitas - o craque maldito 7

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ESPORTES BELO HORIZONTE • DOMIGO • 19 DE FEVEREIRO DE 2006 PÁGINA B5 O TEMPO PEDRO BLANK Um exercício interessante é imaginar como foi o último a- plauso recebido por Heleno de Freitas. Durante os quase cinco anos que ficou internado agonizando com uma sífilis cerebral, a- té morrer em novembro de 1959, na Casa de Saúde São Sebas- tião, em Barbacena, o ex-astro botafoguense bateu uma “boli- nha” no amador Independente, mantido pela Polícia Militar, e no Olimpic, semiprofissional. Nos dois times, platéias sempre minguadas, nunca ultrapas- sando 30 pessoas, ansiosas por ver Heleno, geralmente não mais que alguns minutos, em ação. Quem descreve como foi a última vez que o goleador atormentado balançou as redes é o professor de história Antoninho Stefani, 67. Nos anos em que Heleno ficou internado em Barbacena, Stefani era repórter de uma rádio local e por diversas oportunidades trombou com o ídolo. Admirava tanto Heleno que jamais teve coragem de lhe fazer uma pergunta, pois temia uma reação destemperada do craque. O pai, Avante Stefani, dono de padaria na década de 50, forne- cia pães para o São Sebastião. Lá, conversou com Heleno. “Ti- nha dias, papai falava, que Heleno estava ótimo, mostrava fir- meza na voz, um pouco rouca, e nem parecia doido. No entanto, em outras vezes, não tinha forças para dizer nada”, afirma. Nasceu um fascínio natural por Heleno em Antoninho. Por is- so, ele se considera um privilegiado por ter visto o derradeiro a- plauso que o atacante recebeu. O professor relata com tanta emo- ção que derrama lágrimas e precisa segurar o soluço para dar de- talhes do último gol. Para manter a fidelidade da descrição do lan- ce, O TEMPO reproduz na íntegra a crônica de Antoninho. Leia com atenção e tire suas conclusões. O último aplauso Crônica de um sonho real ANTONINHO STEFANI (*) Corria o ano de 1959. O Olimpic, time de futebol de Barbacena, re- presentava a cidade no campeonato de profissionais da região. Seus trei- nos eram normalmente assistidos por boa parte da torcida. Naquele tempo, Barbacena ainda vibrava com seus clubes de futebol e com seus jogos. Eu era repórter esporti- vo de uma das rádios da cidade e es- tava sempre indo ao campo do Olim- pic para reportar seus treinos e suas novidades. Por muitas vezes ia também assistir aos treinos, um interno da Casa de Saúde São Sebastião, que abrigava doen- tes mentais, chamado Heleno de Freitas. Sim, era o famoso Hele- no de Freitas, o grande Heleno, outrora jogador do Botafogo, Vas- co e outros grandes times, até do exterior. Sua aparência não dei- xava lembrar o elegante e vaidoso Heleno do passado. Estava gor- do, desengonçado e “sedado” constantemente por remédios mi- nistrados no hospital para suas crises nervosas. Ele ia aos trei- nos sempre acompanhado de dois enfermeiros. Para Heleno, as- sistir aos treinos, creio eu, devia ser uma terapia. Apesar de tu- do o que se passava em campo e suas dependências, Heleno só o- lhava e nada manifestava. Um dia, entretanto, aconteceu uma coi- sa fantástica. Houve um pênalti contra o time chamado reserva. Bola na marca e o cobrador da falta não executou bem seu traba- lho ou o goleiro executou muito bem o seu, defendendo a bola na cobrança. Enquanto alguns gritavam e aplaudiam, outros execra- vam gritando. Heleno, rápido e sorrateiro, levantou-se, passou pelo portão do alambrado e entrou em campo, nervoso, esbrave- jando e caminhando em direção à área onde havia sido cobrado o pênalti dizendo: “Vou ensinar como se bate um pênalti!”. E repe- tiu a mesma frase mais vezes enquanto todos olhavam surpresos e incrédulos Heleno apanhar a bola e ir colocá-la na marca da co- brança. A surpresa do fato, parece ter cortado qualquer tipo de reação dos presentes, inclusive dos enfermeiros. Heleno mandou que o goleiro tomasse posição, o que foi, até parece, feito automa- ticamente. Preparou-se Heleno. Nesse momento, já o silêncio to- mava conta de todos e de tudo. Todos olhavam a cena que acon- tecia em campo. Heleno afastou-se da bola mais ou menos dois metros. Eu olhava maravilhado tudo aquilo. De repente, não era o Heleno gordo, desengonçado e “sedado” que estava ali, em pé para bater o pênalti. Era o Heleno garra, amor à camisa, cabelos “englostorados” e elegantemente uniformizado. Parecia cingido por tênue luz azulada e no peito uma estrela solitária compunha o ornamento em seu corpo. O silêncio doía em meus ouvidos. He- leno correu com vagar em direção à bola. Chutou. O goleiro só o- lhou e viu a bola morrer mansa e suave no fundo da rede. Pare- cia que tudo no mundo havia parado. Senti o silêncio gritar exta- siado. Somente Heleno não havia parado e caminhava de volta em direção aos enfermeiros e ao seu mundo de demência e cruel rea- lidade. Não sei quem é que começou a bater palmas e isso pouco me interessou no momento, mas todos acompanharam, e Heleno firme nos passos antes trôpegos, passou por mim, tão perto e tão rente, que eu vi as lágrimas que brotavam de seus olhos. Muitos outros marejaram-se de lágrimas furtivas. Os meus olhos tam- bém. Creio até, que os deuses do futebol se calaram e choraram arrependidos de ter tirado dos campos de futebol um outro deus dos estádios. Foram as últimas salvas de palmas que Heleno re- cebeu em sua vida. Heleno morreria 15 dias depois, no hospital São Sebastião e o Santo Deus era o único que na hora segurava suas mãos. Quem assistiu a tudo isto, assistiu um grande aconte- cimento e eu vi tudo com esses que a terra haverá de comer. Nin- guém me contou e eu, graças a Deus, vi e ainda hoje vejo várias vezes em meus momentos de sonhos e devaneios. (*) Professor universitário e repórter esportivo em Barbacena na década de 50 PEDRO BLANK Mais de 46 anos depois de sua morte, Heleno de Freitas, o craque maldito do Botafogo, ficou imortaliza- do pelo que fez e pelo que não reali- zou também. A grandiosidade em tor- no de Heleno é tamanha que o brasi- leiro ostenta uma estátua imaginária na Colômbia – façanha cantada em verso e prosa por uma escola de São João Nepomuceno, sua cidade natal. O ex-técnico da seleção brasileira, João Saldanha, procurou o monu- mento em todo território colombiano, porém, não achou nada. Nem vestígio de que homenagem similar tenha a- contecido. O jornalista Marcos Eduardo Ne- ves, autor de uma biografia sobre He- leno de Freitas que será lançada em março, explica que o ex-botafoguense era uma atração na Colômbia. Quan- do ia entrar em campo pelo Atlético Barranquilla, em 1950, existia uma ansiedade grande por parte de todos. Que bela jogada o goleador atormen- tado iria fazer? Será que ele derru- baria um adversário com um murro? Ou a vítima seria um companheiro de time? O árbitro teria coragem de pu- nir Heleno caso ele aprontasse uma das suas? Por tudo isso, Heleno era um show na Colômbia. Os torcedores e dirigentes do Atlético Barranquilla começaram a comentar que o arti- lheiro merecia uma estátua. Como na brincadeira do telefone sem fio, a his- tória virou realidade. “De tanto falar nessa coisa, criou-se o mito da está- tua. No final dos anos 60, o (João) Saldanha, então técnico da seleção brasileira, revirou a Colômbia atrás dessa estátua e comprovou que es- queceram de construí-la. Nunca nin- guém viu essa estátua, nem em foto, porque ela jamais existiu”, disse Mar- cos Eduardo. Sobrinha Heleno, de fato, era adorado na Colômbia. Apesar de já apresentar sintomas clássicos da sífilis cerebral, longe de sua melhor forma, e cada vez mais demente, o então astro con- quistou os torcedores e gravou seu nome da história daquele país. Em 1971, a sobrinha Helenize e o primo Bebeto, juntos na seleção brasileira de vôlei feminino, sentiram o peso da fama do parente. “Fizeram um repor- tagem de página inteira com os Frei- tas”, diz Helenize. Helenize preferiu largar definitiva- mente o esporte e hoje tem um confec- ção de roupas em São João Nepomu- ceno. Bebeto, porém, concretizou um grande sonho e hoje é o presidente do Botafogo. No clube carioca, explica que os feitos de Heleno com a camisa da estrela solitária são constantemen- te lembrados. “O Heleno foi o nosso grande nome antes do advento da era Garrincha. Jogou bola demais. Tanto que está na seleção de todos os tem- pos do Botafogo”, disse Bebeto. Ex-dirigente do Atlético e de famí- lia mineira, Bebeto elogiou a iniciati- va de O TEMPO em produzir uma se- mana de matérias sobre Heleno de Freitas, descrevendo sua trajetória e a agonia no interior de Minas Gerais. “Sua imagem no Rio ficou forte e to- dos aqui conhecem ele. É muito baca- na recontar o que aconteceu com o Heleno e apresentá-lo ao povo minei- ro. Quero parabenizá-los como presi- dente do Botafogo e parente do Hele- no”, disse Bebeto. (PB) A estátua que nunca existiu Lápide será corrigida Dente de onça como lembrança ESPORTES BELO HORIZONTE • DOMIGO • 19 DE FEVEREIRO DE 2006 O TEMPO PÁGINA B4 É hora, a Esaca é verde e rosa Hoje vem homenagear a esse mito do esporte popular Nascido em São João Nepomuceno Foi no Mangueira que o menino iniciou No Botafogo da estrela solitária Surgiu pro mundo um perfeito jogador Refrão Rola bola rola bola, de pé em pé. Olha a rede balançando e a torcida grita olé (duas vezes) Mas eu digo Heleno... Heleno de Freitas conquistou toda a Argentina No Boca Juniors o artilheiro virou capa de revista Foi adorado por Evita de Perón Com a elegância de um perfeito bon vivant Em Bogotá uma estátua o imortalizou O Deus da bola que a platéia tanto amou E de volta... De volta ao berço da pátria No Vasco da Gama a carreira encerrou O diamante branco é saudade da felicidade que nos proporcionou Refrão Rola bola rola bola, de pé em pé. Olha a rede balançando e a torcida grita olé (duas vezes) SAMBA-ENREDO HELENO DE FREITAS Apresentado pela Escola Avenida Doutor Carlos Alves (Esaca) no Carnaval de 1992 em São João Nepomuceno O mito Heleno de Freitas foi i- mortalizado no samba-enredo do Carnaval de 1992 em São João Nepo- muceno. A Escola Avenida Doutor Carlos Alves (Esaca) resolveu home- nagear o jogador, trazendo na letra de seu enredo toda a trajetória vito- riosa do goleador nascido em São João Nepomuceno. O seu início no Mangueira, a ascensão no Botafogo e no futebol internacional, as paixões e homenagens recebidas pelo craque caíram na boca do povo na avenida. Cléa Muniz Coelho, 67, atual pre- sidente da escola, se lembra da grande mobilização em torno do Carnaval de 1992, quan- do também estava à frente da Esaca. “Um amigo nosso, Sérgio Torres pe- diu que nós fizéssemos um samba-en- redo sobre o Heleno. De início eu pensei que não fosse dar certo, por ser um jogador de futebol. Mas foi maravilhoso, pois descobrimos que e- le tem uma bagagem enorme.” A car- navalesca admitiu ter sido um dos melhores carnavais de Nepomuceno, cidade mineira com o Carnaval gran- dio- so, inspirado no vizinho Rio de Janei- ro. “Foi muito mais empolgante que os outros anos e só não ganhamos, porque não tinha concurso na época.” Familiares de Heleno e, inclusive seu único filho, Luiz Eduardo, parti- ciparam do desfile. Tamanho foi o su- cesso do samba de Heleno, que a E- saca interrompeu o ensaio para o Carnaval deste ano para relembrar o enredo. Música inesquecível para os puxadores Canário, estreante no Carnaval da cidade com esse samba, Pato Rouco e o cavaquinista Mancha. (MM) Imortal também no samba Galã global irá interpretar o craque botafoguense no cinema; previsão é que o filme esteja em cartaz no Brasil em 2007 MAURÍCIO MIRANDA Durante os quase cinco anos que passou internado na Casa de Saúde São Sebastião, em Barbacena, Hele- no de Freitas sempre se recusou a assistir às sessões de cinema junta- mente com os outros internos. Numa das poucas vezes que tentou encarar um longa-metragem o goleador ator- mentado teve a seguinte reação: “Pá- ra com isso, tá muito ruim. Eu faço melhor”. Mal poderia imaginar o cra- que que a sétima arte iria se render aos seus pés e atender o seu desejo de se tornar o astro das telas, mais de 46 anos após a sua morte. Heleno de Freitas vai virar filme, com previsão de entrar em cartaz no Brasil entre o final deste ano e o iní- cio de 2007. A informação partiu do escritor carioca Marcos Eduardo Ne- ves. Integrante do Projeto Heleno de Freitas, ele lançará a biografia do jo- gador em março, na mesma solenida- de do lançamento do elenco do filme. Neves deu detalhes a O TEMPO so- bre o longa metragem dirigido pelo cineasta José Henrique Fonseca e com a participação do co-roteirista argentino Fernando Castets (“O Filho da Noiva”). “O elenco está quase todo certo e muitos atores já aceitaram participar. O filme vai falar muito pouco do Hele- no no futebol e sim da sua vida aristo- crática, destacando sua riqueza e sua influência nas altas rodas do Rio de Janeiro.” O ator escolhido para prota- gonizar Heleno de Freitas é o global Rodrigo Santoro, cuja aparência se assemelha muito com o galã dos gra- mados. O roteiro do filme será baseado na biografia do jogador, de autoria do escritor carioca. Inicialmente, Neves pretende lançar sua obra em quatro cidades, sendo duas minei- ras: Belo Horizonte e São João Ne- pomuceno, além de Rio de Janeiro e São Paulo. O escritor adiantou o que os leitores vão encontrar na biogra- fia, construída após três anos e meio de pesquisa. “Vão encontrar muito mais que um simples jogador de futebol, mas um bon vivant que sabia curtir a vida melhor que nin- guém. Será uma viagem aos anos dourados do Rio de Janeiro, com a capital da República.” A orelha da biografia será escrita por Ruy Castro, responsável por “Es- trela Solitária”, obra que contou a trajetória, igualmente trágica, de ou- tro botafoguense: Garrincha. “Per- guntaram para o Ruy se ele escreve- ria mais uma biografia de jogador de futebol. Ele respondeu que só pensa- ria no projeto se o cara fosse um tal de Heleno de Freitas. O Ruy gostou do trabalho e escreveu para mim a quarta capa”, disse Neves. Erratas 1 Por um erro de digitação, a legenda da foto do casamen- to de Heleno saiu errada. O nome correto da ex-esposa é Hilma e não Hilda como foi publicado na segunda-feira. 2 Na edição do dia 14, o nome correto da escola em que Heleno estudou em Barbacena é Ginásio Mineiro e não Grêmio Mineiro. 3 Heleno morreu num domingo de novembro e não de de- zembro, conforme foi publicado no último parágrafo da matéria de sexta-feira. O atacante Heleno de Freitas fi- nalmente terá o dia exato de sua mor- te inscrito na sua lápide. No último domingo, O TEMPO publicou que a data do falecimento gravada no túmu- lo do goleador atormentado não confe- ria com o que estava escrito no ates- tado de óbito. O responsável por orga- nizar o acervo de Heleno de Freitas para a Prefeitura de São João Nepo- muceno, Everson Rezende, não soube explicar o motivo do equívoco, infor- mando à reportagem que a lápide se- rá trocada por uma nova dentro de pouco tempo. Em contato com a redação, no iní- cio da noite de sexta-feira, Rezende explicou que procurou o registro de ó- bitos na prefeitura e confirmou que Heleno morreu no dia 8 de novembro de 1959 e não no dia 3 do mesmo mês como está no jazigo. Um fato chamou sua atenção. Todos os óbitos trazem o nome dos pais do falecido, à exceção de Heleno. “De diferente, só o fato de não ter o nome do pai e da mãe. Isso é até desrespeitoso, mas vamos con- sertar também”, disse Rezende. A causa da confusão sobre a tro- ca de datas permanece um mistério para Rezende. Segundo ele, não há uma explicação lógica para o ocorri- do. “É mais um mistério que envolve o Heleno. Não há nada para falar so- bre isso. O importante é que tere- mos a chance de reparar esse erro histórico”, afirmou. (PB) O atestado de óbito de Heleno de Freitas, as fichas contendo todo o tratamento e o túmulo de São João Nepomuceno tinham de tudo para ser as últimas lembranças vivas do goleador atormentado, falecido em 1959. Mas não são. O atacante está mais vivo do que nunca na vida do funcionário público Valter Antônio, 61, que admite não passar um dia se- quer sem se lembrar do companhei- ro querido. Se não bastasse a depen- dência espiritual do ídolo botafo- guense, Valtinho só consegue se le- vantar da cama ou ir a qualquer lu- gar com o amuleto recebido de pre- sente de Heleno. Diante ou não das diversas histó- rias folclóricas contadas sobre Hele- no, Valtinho tem a sua verdade sobre o colega conhecido nos tempos em que jogava no Independente. Clube onde, segundo ele, o goleador enlou- quecido se tornava auxiliar-técnico quando deixava a Casa de Saúde. Mesmo mais de 46 anos após o fale- cimento do atacante místico, o fun- cionário público mantém vivo o seu guru. “O maior prêmio que ganhei na minha vida foi ter conhecido o Hele- no. Rezo por ele todos os dias e estou vendo ele no campo agora e lembran- do dos conselhos que nos dava para amar a bola e viver em função dela.” Valtinho não conseguiu conter a emoção ao tirar do peito um colar banhado a ouro com o pingente que ganhara de Heleno de Freitas, na Casa de Saúde São Sebastião. Um dente canino de aproximadamente 5 cm, tomado por uma mancha ama- relada. “Um índio da Amazônia foi ao Rio de Janeiro entregar a ele um dente de onça. O dente acompanhou o Heleno durante todo o tempo que ele ficava na Casa de Saúde São Se- bastião e um dia ele me disse: ’To- ma, leva uma lembrança minha com você’”, disse, mostrando seu amule- to inseparável. (MM) Um índio da Amazônia foi ao Rio de Janeiro entregar a ele um dente de onça. O dente acompanhou o Heleno durante todo o tempo que ele ficava na Casa de Saúde São Sebastião Valter Antônio A carnavelesca Cléa Muniz Coelho, atual presidente da Esaca, lembra da mobilização em torno do Carnaval de 1992; no detalhe o puxador de samba Canário e integrantes da Esaca interromperam o ensaio para tocar a música sobre Heleno de Freitas Valter Antônio carrega na sua corrente banhada a ouro a lembrança que ganhou de Heleno de Freitas SANTORO VAI INCORPORAR HELENO NA TELONA AGÊNCIA O GLOBO – 24.9.2004 O ator Rodrigo Santoro, segundo os produtores do filme sobre o goleador atormentado, se parece com Heleno de Freitas FOTOS CHARLES SILVA DUARTE

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Reportagem do Jornal O Tempo finalista dos prêmios Esso e Embratel em 2006, de autoria dos jornalistas Pedro Blank e Maurício Miranda

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ESPORTESBELO HORIZONTE • DOMIGO • 19 DE FEVEREIRO DE 2006

PÁGINA B5O TEMPO

PEDRO BLANK

Um exercício interessante é imaginar como foi o último a-plauso recebido por Heleno de Freitas. Durante os quase cincoanos que ficou internado agonizando com uma sífilis cerebral, a-té morrer em novembro de 1959, na Casa de Saúde São Sebas-tião, em Barbacena, o ex-astro botafoguense bateu uma “boli-nha” no amador Independente, mantido pela Polícia Militar, e noOlimpic, semiprofissional.

Nos dois times, platéias sempre minguadas, nunca ultrapas-sando 30 pessoas, ansiosas por ver Heleno, geralmente não maisque alguns minutos, em ação. Quem descreve como foi a últimavez que o goleador atormentado balançou as redes é o professorde história Antoninho Stefani, 67. Nos anos em que Heleno ficouinternado em Barbacena, Stefani era repórter de uma rádio locale por diversas oportunidades trombou com o ídolo.

Admirava tanto Heleno que jamais teve coragem de lhe fazeruma pergunta, pois temia uma reação destemperada do craque.O pai, Avante Stefani, dono de padaria na década de 50, forne-cia pães para o São Sebastião. Lá, conversou com Heleno. “Ti-nha dias, papai falava, que Heleno estava ótimo, mostrava fir-meza na voz, um pouco rouca, e nem parecia doido. No entanto,em outras vezes, não tinha forças para dizer nada”, afirma.

Nasceu um fascínio natural por Heleno em Antoninho. Por is-so, ele se considera um privilegiado por ter visto o derradeiro a-plauso que o atacante recebeu. O professor relata com tanta emo-ção que derrama lágrimas e precisa segurar o soluço para dar de-talhes do último gol. Para manter a fidelidade da descrição do lan-ce, O TEMPO reproduz na íntegra a crônica de Antoninho. Leiacom atenção e tire suas conclusões.

O último aplauso

Crônica de um sonho realANTONINHO STEFANI (*)

Corria o ano de 1959. O Olimpic,time de futebol de Barbacena, re-presentava a cidade no campeonatode profissionais da região. Seus trei-nos eram normalmente assistidospor boa parte da torcida. Naqueletempo, Barbacena ainda vibravacom seus clubes de futebol e comseus jogos. Eu era repórter esporti-vo de uma das rádios da cidade e es-tava sempre indo ao campo do Olim-pic para reportar seus treinos e

suas novidades. Por muitas vezes ia também assistir aos treinos,um interno da Casa de Saúde São Sebastião, que abrigava doen-tes mentais, chamado Heleno de Freitas. Sim, era o famoso Hele-no de Freitas, o grande Heleno, outrora jogador do Botafogo, Vas-co e outros grandes times, até do exterior. Sua aparência não dei-xava lembrar o elegante e vaidoso Heleno do passado. Estava gor-do, desengonçado e “sedado” constantemente por remédios mi-nistrados no hospital para suas crises nervosas. Ele ia aos trei-nos sempre acompanhado de dois enfermeiros. Para Heleno, as-sistir aos treinos, creio eu, devia ser uma terapia. Apesar de tu-do o que se passava em campo e suas dependências, Heleno só o-lhava e nada manifestava. Um dia, entretanto, aconteceu uma coi-sa fantástica. Houve um pênalti contra o time chamado reserva.Bola na marca e o cobrador da falta não executou bem seu traba-lho ou o goleiro executou muito bem o seu, defendendo a bola nacobrança. Enquanto alguns gritavam e aplaudiam, outros execra-vam gritando. Heleno, rápido e sorrateiro, levantou-se, passoupelo portão do alambrado e entrou em campo, nervoso, esbrave-jando e caminhando em direção à área onde havia sido cobrado opênalti dizendo: “Vou ensinar como se bate um pênalti!”. E repe-tiu a mesma frase mais vezes enquanto todos olhavam surpresose incrédulos Heleno apanhar a bola e ir colocá-la na marca da co-brança. A surpresa do fato, parece ter cortado qualquer tipo dereação dos presentes, inclusive dos enfermeiros. Heleno mandouque o goleiro tomasse posição, o que foi, até parece, feito automa-ticamente. Preparou-se Heleno. Nesse momento, já o silêncio to-mava conta de todos e de tudo. Todos olhavam a cena que acon-tecia em campo. Heleno afastou-se da bola mais ou menos doismetros. Eu olhava maravilhado tudo aquilo. De repente, não erao Heleno gordo, desengonçado e “sedado” que estava ali, em pépara bater o pênalti. Era o Heleno garra, amor à camisa, cabelos“englostorados” e elegantemente uniformizado. Parecia cingidopor tênue luz azulada e no peito uma estrela solitária compunhao ornamento em seu corpo. O silêncio doía em meus ouvidos. He-leno correu com vagar em direção à bola. Chutou. O goleiro só o-lhou e viu a bola morrer mansa e suave no fundo da rede. Pare-cia que tudo no mundo havia parado. Senti o silêncio gritar exta-siado. Somente Heleno não havia parado e caminhava de volta emdireção aos enfermeiros e ao seu mundo de demência e cruel rea-lidade. Não sei quem é que começou a bater palmas e isso poucome interessou no momento, mas todos acompanharam, e Helenofirme nos passos antes trôpegos, passou por mim, tão perto e tãorente, que eu vi as lágrimas que brotavam de seus olhos. Muitosoutros marejaram-se de lágrimas furtivas. Os meus olhos tam-bém. Creio até, que os deuses do futebol se calaram e choraramarrependidos de ter tirado dos campos de futebol um outro deusdos estádios. Foram as últimas salvas de palmas que Heleno re-cebeu em sua vida. Heleno morreria 15 dias depois, no hospitalSão Sebastião e o Santo Deus era o único que na hora seguravasuas mãos. Quem assistiu a tudo isto, assistiu um grande aconte-cimento e eu vi tudo com esses que a terra haverá de comer. Nin-guém me contou e eu, graças a Deus, vi e ainda hoje vejo váriasvezes em meus momentos de sonhos e devaneios.

(*) Professor universitário e repórter esportivo em Barbacena nadécada de 50

PEDRO BLANK

Mais de 46 anos depois de suamorte, Heleno de Freitas, o craquemaldito do Botafogo, ficou imortaliza-do pelo que fez e pelo que não reali-zou também. A grandiosidade em tor-no de Heleno é tamanha que o brasi-leiro ostenta uma estátua imagináriana Colômbia – façanha cantada emverso e prosa por uma escola de SãoJoão Nepomuceno, sua cidade natal.O ex-técnico da seleção brasileira,João Saldanha, procurou o monu-mento em todo território colombiano,porém, não achou nada. Nem vestígiode que homenagem similar tenha a-contecido.

O jornalista Marcos Eduardo Ne-ves, autor de uma biografia sobre He-leno de Freitas que será lançada emmarço, explica que o ex-botafoguenseera uma atração na Colômbia. Quan-do ia entrar em campo pelo AtléticoBarranquilla, em 1950, existia umaansiedade grande por parte de todos.Que bela jogada o goleador atormen-tado iria fazer? Será que ele derru-baria um adversário com um murro?Ou a vítima seria um companheiro de

time? O árbitro teria coragem de pu-nir Heleno caso ele aprontasse umadas suas?

Por tudo isso, Heleno era umshow na Colômbia. Os torcedores edirigentes do Atlético Barranquillacomeçaram a comentar que o arti-lheiro merecia uma estátua. Como nabrincadeira do telefone sem fio, a his-tória virou realidade. “De tanto falarnessa coisa, criou-se o mito da está-tua. No final dos anos 60, o (João)Saldanha, então técnico da seleçãobrasileira, revirou a Colômbia atrásdessa estátua e comprovou que es-queceram de construí-la. Nunca nin-guém viu essa estátua, nem em foto,porque ela jamais existiu”, disse Mar-cos Eduardo.

SobrinhaHeleno, de fato, era adorado na

Colômbia. Apesar de já apresentarsintomas clássicos da sífilis cerebral,longe de sua melhor forma, e cadavez mais demente, o então astro con-quistou os torcedores e gravou seunome da história daquele país. Em1971, a sobrinha Helenize e o primoBebeto, juntos na seleção brasileira

de vôlei feminino, sentiram o peso dafama do parente. “Fizeram um repor-tagem de página inteira com os Frei-tas”, diz Helenize.

Helenize preferiu largar definitiva-mente o esporte e hoje tem um confec-ção de roupas em São João Nepomu-ceno. Bebeto, porém, concretizou umgrande sonho e hoje é o presidente doBotafogo. No clube carioca, explicaque os feitos de Heleno com a camisada estrela solitária são constantemen-te lembrados. “O Heleno foi o nossogrande nome antes do advento da eraGarrincha. Jogou bola demais. Tantoque está na seleção de todos os tem-pos do Botafogo”, disse Bebeto.

Ex-dirigente do Atlético e de famí-lia mineira, Bebeto elogiou a iniciati-va de O TEMPO em produzir uma se-mana de matérias sobre Heleno deFreitas, descrevendo sua trajetória ea agonia no interior de Minas Gerais.“Sua imagem no Rio ficou forte e to-dos aqui conhecem ele. É muito baca-na recontar o que aconteceu com oHeleno e apresentá-lo ao povo minei-ro. Quero parabenizá-los como presi-dente do Botafogo e parente do Hele-no”, disse Bebeto. (PB)

A estátua que nunca existiu

Lápide será corrigida

Dente de onça como lembrança

ESPORTESBELO HORIZONTE • DOMIGO • 19 DE FEVEREIRO DE 2006

O TEMPOPÁGINA B4

É hora, a Esaca é verde e rosaHoje vem homenagear a essemito do esporte popularNascido em São João NepomucenoFoi no Mangueira que o meninoiniciouNo Botafogo da estrela solitáriaSurgiu pro mundo um perfeitojogadorRefrãoRola bola rola bola, de pé empé. Olha a rede balançando e a torcida grita olé (duas vezes) Mas eu digo Heleno...Heleno de Freitas conquistou toda a ArgentinaNo Boca Juniors o artilheiro virou capa de revista

Foi adorado por Evita de Perón

Com a elegância de um perfeitobon vivant

Em Bogotá uma estátua o imortalizou

O Deus da bola que a platéiatanto amou

E de volta...

De volta ao berço da pátria

No Vasco da Gama a carreira encerrou

O diamante branco é saudade da felicidade que nos proporcionou

RefrãoRola bola rola bola, de pé empé. Olha a rede balançando e atorcida grita olé (duas vezes)

SAMBA-ENREDO HELENO DE FREITAS Apresentado pela Escola Avenida Doutor Carlos Alves

(Esaca) no Carnaval de 1992 em São João Nepomuceno

O mito Heleno de Freitas foi i-mortalizado no samba-enredo doCarnaval de 1992 em São João Nepo-muceno. A Escola Avenida DoutorCarlos Alves (Esaca) resolveu home-nagear o jogador, trazendo na letrade seu enredo toda a trajetória vito-riosa do goleador nascido em SãoJoão Nepomuceno. O seu início noMangueira, a ascensão no Botafogo eno futebol internacional, as paixões ehomenagens recebidas pelo craquecaíram na boca do povo na avenida.

Cléa Muniz Coelho, 67, atual pre-sidente da escola, se lembrada grande mobilização

em torno do Carnaval de 1992, quan-do também estava à frente da Esaca.“Um amigo nosso, Sérgio Torres pe-diu que nós fizéssemos um samba-en-redo sobre o Heleno. De início eupensei que não fosse dar certo, porser um jogador de futebol. Mas foimaravilhoso, pois descobrimos que e-le tem uma bagagem enorme.” A car-navalesca admitiu ter sido um dosmelhores carnavais de Nepomuceno,cidade mineira com o Carnaval gran-d i o -

so, inspirado no vizinho Rio de Janei-ro. “Foi muito mais empolgante queos outros anos e só não ganhamos,porque não tinha concurso na época.”

Familiares de Heleno e, inclusiveseu único filho, Luiz Eduardo, parti-ciparam do desfile. Tamanho foi o su-cesso do samba de Heleno, que a E-saca interrompeu o ensaio para oCarnaval deste ano para relembrar oenredo. Música inesquecível para ospuxadores Canário, estreante noCarnaval da cidade com esse samba,

Pato Rouco e o cavaquinistaMancha. (MM)

Imortal também no samba

Galã global irá interpretar o craque botafoguense no cinema; previsão é que o filme esteja em cartaz no Brasil em 2007

MAURÍCIO MIRANDA

Durante os quase cinco anos quepassou internado na Casa de SaúdeSão Sebastião, em Barbacena, Hele-no de Freitas sempre se recusou aassistir às sessões de cinema junta-mente com os outros internos. Numadas poucas vezes que tentou encararum longa-metragem o goleador ator-mentado teve a seguinte reação: “Pá-ra com isso, tá muito ruim. Eu façomelhor”. Mal poderia imaginar o cra-que que a sétima arte iria se renderaos seus pés e atender o seu desejode se tornar o astro das telas, maisde 46 anos após a sua morte.

Heleno de Freitas vai virar filme,com previsão de entrar em cartaz noBrasil entre o final deste ano e o iní-cio de 2007. A informação partiu doescritor carioca Marcos Eduardo Ne-ves. Integrante do Projeto Heleno deFreitas, ele lançará a biografia do jo-

gador em março, na mesma solenida-de do lançamento do elenco do filme.Neves deu detalhes a O TEMPO so-bre o longa metragem dirigido pelocineasta José Henrique Fonseca ecom a participação do co-roteiristaargentino Fernando Castets (“O Filhoda Noiva”).

“O elenco está quase todo certo emuitos atores já aceitaram participar.O filme vai falar muito pouco do Hele-no no futebol e sim da sua vida aristo-crática, destacando sua riqueza e suainfluência nas altas rodas do Rio deJaneiro.” O ator escolhido para prota-gonizar Heleno de Freitas é o globalRodrigo Santoro, cuja aparência seassemelha muito com o galã dos gra-mados.

O roteiro do filme será baseadona biografia do jogador, de autoriado escritor carioca. Inicialmente,Neves pretende lançar sua obra emquatro cidades, sendo duas minei-

ras: Belo Horizonte e São João Ne-pomuceno, além de Rio de Janeiro eSão Paulo. O escritor adiantou o queos leitores vão encontrar na biogra-fia, construída após três anos emeio de pesquisa. “Vão encontrarmuito mais que um simples jogadorde futebol, mas um bon vivant quesabia curtir a vida melhor que nin-guém. Será uma viagem aos anosdourados do Rio de Janeiro, com acapital da República.”

A orelha da biografia será escritapor Ruy Castro, responsável por “Es-trela Solitária”, obra que contou atrajetória, igualmente trágica, de ou-tro botafoguense: Garrincha. “Per-guntaram para o Ruy se ele escreve-ria mais uma biografia de jogador defutebol. Ele respondeu que só pensa-ria no projeto se o cara fosse um talde Heleno de Freitas. O Ruy gostoudo trabalho e escreveu para mim aquarta capa”, disse Neves.

Erratas

1Por um erro de digitação, a legenda da foto do casamen-to de Heleno saiu errada. O nome correto da ex-esposa éHilma e não Hilda como foi publicado na segunda-feira.

2Na edição do dia 14, o nome correto da escola em queHeleno estudou em Barbacena é Ginásio Mineiro e nãoGrêmio Mineiro.

3Heleno morreu num domingo de novembro e não de de-zembro, conforme foi publicado no último parágrafo damatéria de sexta-feira.

O atacante Heleno de Freitas fi-nalmente terá o dia exato de sua mor-te inscrito na sua lápide. No últimodomingo, O TEMPO publicou que adata do falecimento gravada no túmu-lo do goleador atormentado não confe-ria com o que estava escrito no ates-tado de óbito. O responsável por orga-nizar o acervo de Heleno de Freitaspara a Prefeitura de São João Nepo-muceno, Everson Rezende, não soubeexplicar o motivo do equívoco, infor-mando à reportagem que a lápide se-rá trocada por uma nova dentro depouco tempo.

Em contato com a redação, no iní-cio da noite de sexta-feira, Rezendeexplicou que procurou o registro de ó-bitos na prefeitura e confirmou queHeleno morreu no dia 8 de novembrode 1959 e não no dia 3 do mesmo mêscomo está no jazigo. Um fato chamousua atenção. Todos os óbitos trazem onome dos pais do falecido, à exceçãode Heleno. “De diferente, só o fato denão ter o nome do pai e da mãe. Issoé até desrespeitoso, mas vamos con-sertar também”, disse Rezende.

A causa da confusão sobre a tro-ca de datas permanece um mistériopara Rezende. Segundo ele, não háuma explicação lógica para o ocorri-do. “É mais um mistério que envolveo Heleno. Não há nada para falar so-bre isso. O importante é que tere-mos a chance de reparar esse errohistórico”, afirmou. (PB)

O atestado de óbito de Heleno deFreitas, as fichas contendo todo otratamento e o túmulo de São JoãoNepomuceno tinham de tudo paraser as últimas lembranças vivas dogoleador atormentado, falecido em1959. Mas não são. O atacante estámais vivo do que nunca na vida dofuncionário público Valter Antônio,61, que admite não passar um dia se-quer sem se lembrar do companhei-ro querido. Se não bastasse a depen-dência espiritual do ídolo botafo-guense, Valtinho só consegue se le-vantar da cama ou ir a qualquer lu-gar com o amuleto recebido de pre-sente de Heleno.

Diante ou não das diversas histó-rias folclóricas contadas sobre Hele-no, Valtinho tem a sua verdade sobreo colega conhecido nos tempos emque jogava no Independente. Clubeonde, segundo ele, o goleador enlou-quecido se tornava auxiliar-técnicoquando deixava a Casa de Saúde.

Mesmo mais de 46 anos após o fale-cimento do atacante místico, o fun-cionário público mantém vivo o seuguru. “O maior prêmio que ganhei naminha vida foi ter conhecido o Hele-no. Rezo por ele todos os dias e estouvendo ele no campo agora e lembran-do dos conselhos que nos dava paraamar a bola e viver em função dela.”

Valtinho não conseguiu conter aemoção ao tirar do peito um colarbanhado a ouro com o pingente queganhara de Heleno de Freitas, naCasa de Saúde São Sebastião. Umdente canino de aproximadamente 5cm, tomado por uma mancha ama-relada. “Um índio da Amazônia foiao Rio de Janeiro entregar a ele umdente de onça. O dente acompanhouo Heleno durante todo o tempo queele ficava na Casa de Saúde São Se-bastião e um dia ele me disse: ’To-ma, leva uma lembrança minha comvocê’”, disse, mostrando seu amule-to inseparável. (MM)

Um índio da Amazônia foi ao Rio de Janeiro entregar a ele um dente de onça. O dente

acompanhou o Heleno durante todo o tempo queele ficava na Casa de Saúde São Sebastião

Valter Antônio

“”

A carnavelesca Cléa Muniz Coelho, atual presidente da Esaca, lembra da mobilizaçãoem torno do Carnaval de 1992; no detalhe o puxador de samba Canário e integrantes da Esaca interromperam o ensaio para tocar a música sobre Heleno de Freitas

Valter Antônio carrega na sua

corrente banhada a ouro a

lembrança que ganhou de

Heleno de Freitas

SANTORO VAI INCORPORAR HELENO NA TELONA

AGÊNCIA O GLOBO – 24.9.2004

O ator Rodrigo Santoro, segundoos produtores do filme sobreo goleador atormentado, se

parece com Heleno de Freitas

FOTOS CHARLES SILVA DUARTE