helena, a antiestrela · uma atriz avessa ao estrelismo e à excessiva popularidade, que se...
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HELENA, A ANTIESTRELA
Livro - Depoimento de Helena Ignez - Atriz - Diretora
São Paulo 2012
Sergio Batisteli
Capa: Marcos Paulo Bernardi Revisão: Wilson Honório da Silva
Dedico este livro aos meus pais, à Kátia Cardozo, e aos
amigos que pacientemente suportaram minhas
ausências, mas contei com o apoio de todos, sem
medida. Ao Cinema Brasileiro. A Carlos Henrique Taira,
amigo cinéfilo de todas as horas. À atriz Helena Ignez,
pelas informações que me foram passadas de forma
atenciosa.
Muito obrigado a todos!
“É preciso passar algo positivo
para o outro, porque estamos juntos, e sozinho ninguém se
salva”
Helena Ignez
ÍNDICE
Introdução – Sergio Batisteli 09
A retomada 13
A origem 16
Não sou marginal 21
Os anos 60: Tempos de transformação 25
Filmes além da atriz 29
Os anos 70: A época do racha 38
A alegria de trabalhar 41
Anos 80 e 90: Os desastres na sétima arte 45
Século XXI: Novos tempos, novos filmes 47
Gostos, processos criativos e opiniões sobre as artes 51
Posicionamentos de vida: Religião, política, mulheres, mãe e
cidadã 57
Uma prole cinematográfica 64
Filmografia 79
Referências bibliográficas 111
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Introdução
O cinema é uma forma de expressão essencial
para Helena Ignez. Aos 69 anos, a atriz que nos marcou
com viscerais atuações, é referência no meio artístico
nacional e internacional, agora consolida uma nova fase
na carreira.
Praticante de Tai Chi Chuan, em duas
especialidades (Leque e Espada), neste depoimento ela
analisa o passado, reflete sobre o presente e anuncia o
futuro dentro de uma visão bastante própria: que o
aperfeiçoamento humano pode melhorar a sociedade.
Helena Ignez Pinto de Mello e Silva tem uma fala
baixa e serena. Ao mesmo tempo, é uma personalidade
firme e corajosa. Em nenhum momento pediu para
desligar o gravador, mesmo quando o assunto era
polêmico. O que se expressou nas poucas pausas nas
nossas conversas. Ela é sempre intensa, cheia de
sentimentos, quando se refere à sua trajetória com mais
de 30 filmes, nas décadas de 1950 a 2010.
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O nosso primeiro encontro foi em seu
apartamento em São Paulo. O segundo foi no Rio de
Janeiro, no lindo playground do apartamento de sua
filha Sinai Sganzerla, onde soprava uma suave brisa em
frente ao Pão de Açúcar. Lá falamos muito.
Principalmente sobre cinema. E conversamos sobre
seus gostos pessoais, processos criativos, opiniões
sobre as artes, religião, política, sociedade etc.
Também entrevistei suas três filhas: Paloma Rocha,
Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla a respeito da
importância de Helena para o cinema.
O título para o livro surgiu de forma natural, após
estudos e a observação sobre o caráter de Helena. Ela
é uma antiestrela por natureza, ou seja, não se
deslumbra com os tradicionais holofotes da fama. É
uma atriz avessa ao estrelismo e à excessiva
popularidade, que se contrapõe ao star system1. Fez
parte de movimentos artísticos contestadores e
revolucionários. Teve filhos de dois pais diferentes, vê o
1 O fenômeno do star system surge nos anos 20 e nasce da concorrência entre os
grandes estúdios norte-americanos. O sistema de "fabricação" de estrelas de cinema encantaram as plateias. O star system chega ao Brasil como um modelo importado, sem tentar encontrar caminhos próprios ou, na melhor das formas, imitando-o.
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processo de envelhecimento sem medos. Enfim, é uma
libertária desde os 17 anos de idade.
Em 12 de março de 2007, a “Musa do Cinema
Novo”, foi homenageada na Cinemateca Brasileira e
recebeu o Título de Cidadã Paulistana.
Este livro foi escrito em primeira pessoa, para
preservar o estilo coloquial da entrevistada no
depoimento e a apresentação da “personagem”, como
sujeito da sua própria história.
Para quem nunca a esperou em um personagem
como esse, boa leitura. Ela está muito bem. Com vocês,
a Helena Ignez mulher, atriz, mãe e hari krishna
budista.
Sergio Batisteli
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Capítulo I
A RETOMADA
No cinema estou vivendo uma continuidade em
minha carreira, mas também é uma retomada2.
Atualmente e principalmente agora, sem Rogério3.
Sozinha, assumi novas responsabilidades, então é uma
retomada no sentido autoral (dirigindo e produzindo).
Desde o início dos anos 2000, dirigi dois curtas-
metragens. Em 2008, lancei Canção de Baal, na Mostra
Internacional de Cinema de S. Paulo e no Festival do
Rio. É um filme musical, inspirado na peça teatral Baal,
O Associal de Bertolt Brecht4. É um texto pelo qual me
interessei e quis fazer. Ouço coisas muito boas sobre
2 Cinema da "Retomada" é o nome dado ao cinema brasileiro atual a partir da
recuperação da produção cinematográfica no Brasil de 1993-1994, em processo que gerou filmes de grande impacto, como "Central do Brasil" e "Cidade de Deus". 3 Cineasta catarinense (26/11/1946 - 09/01/2004). Rogério Sganzerla nasceu em
Joaçaba, muda-se para São Paulo no começo dos anos 60. Frequentador das sessões da Cinemateca Brasileira interessa-se profundamente pela obra do diretor norte-americano Orson Welles. 4 Eugen Berthold Friedrich Brecht foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador
alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o mundialmente conhecido a partir das apresentações de sua companhia o Berliner Ensemble realizadas em Paris durante os anos 1954 e 1955.
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ele e estou feliz. Atuei em Encarnação do Demônio
(2008) de José Mojica Marins5. Também interpretei um
papel no filme Hotel Atlântico com roteiro e direção de
Suzana Amaral6, que foi lançado em 2009.
Agora, vou lançar nos cinemas Luz Nas Trevas –
A Volta do Bandido da Luz Vermelha, com a produtora
Mercúrio Produções, que é minha e das minhas filhas.
O roteiro de Rogério e eu co-dirigo com Ícaro Martins7.
Trata-se de uma espécie de “continuação” de O
Bandido da Luz Vermelha (1968).
Portanto, é nesse sentido que digo que vivo uma
retomada nesse sentido de uma posição mais
abrangente de produção mais pessoal que digo que
5 Maior realizador do cinema de terror brasileiro é o criador e intérprete do célebre
personagem Zé do Caixão, protagonista dos clássicos “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964) e “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967). 6 Cineasta paulista, nascida em 1932, fez seu primeiro longa-metragem aos 53
anos, uma adaptação do romance de Clarice Lispector “A Hora da Estrela” (1985). O filme lançou a atriz Marcélia Cartaxo e ganhou o Urso de Prata de melhor interpretação feminina no Festival de Berlim. Suzana foi aluna da primeira turma de cinema da Escola de Comunicação Social e Artes da Universidade de São Paulo (1968-1971) e realizou em seguida seu primeiro filme, o documentário de curta-metragem “Sua Majestade Piolim” (1971). 7 Diretor dos longas-metragens “Estrela Nua” (1984), “O Olho Mágico do Amor”
(1981), “Onda Nova” (1983), entre outros.
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vivo uma “retomada”. Um momento mais abrangente,
de uma produção mais pessoal.