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HEGEL E A HISTORICIDADE DA RAZÃO: PARA COMPREENDER O DESAFIO DA LIBERDADE José Mario Angeli (Universidade Federal de Goiás) De todas as qualidades do espírito subsistem apenas a liberdade (Hegel) 1. HEGEL (1770-1831), em seus escritos, confronta a filosofia e a história. Ele estabelece como tarefa da filosofia:“pensar a vida”. A vida para ele é essencialmente a história da humanidade. Pensar a história é o primeiro elemento de sua reflexão. Uma vez que, a história é tempo de agitação, de conflito, de drama, ela é propício à elaboração de um pensamento globalizante, porque ela é facultada pela vida. Hegel retoma as aquisições da metafísica e coloca-a num nível mais elevado, no momento que, ele busca uma identificação entre o ser e o pensamento, a unidade objetiva e subjetiva, presente na razão. Esse vir a ser (movimento) tornou-se um elemento primordial presente na sucessão de momentos da consciência humana. Nosso autor estabelece que o conhecimento do tempo serviu de fundamento ao conhecimento humano. A história do pensamento é também história da razão. A razão contém uma correnteza de pensamento formado por gerações de pessoas. Com isto, ele introduz uma critica à intemporalidade que anteriormente era atribuída à verdade e à razão, agora verdade e razão é fruto do desenvolvimento histórico da humanidade. Hegel compreende por um lado, que a idéia de progresso intelectual e material herdada da Idade das Luzes está radicalizada por um acontecimento maior: a Revolução Francesa. Tanto os governantes como os povos do mundo compreendem a Revolução Francesa à custa do sofrimento e do seu destino histórico. Ele irá formalizar esse acontecimento numa analise compreensiva e posteriormente numa analise critica. Por outro, ele parte desse acontecimento para construir o saber que torna inteligível o devir da humanidade e que organiza o seu presente, sob os auspícios da razão. Assim, ele irá constituir uma síntese de todo o saber filosófico e reunirá nos seus escritos as descobertas feitas pelo pensamento moderno.

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HEGEL E A HISTORICIDADE DA RAZÃO:

PARA COMPREENDER O DESAFIO DA LIBERDADE

José Mario Angeli (Universidade Federal de Goiás)

De todas as qualidades do espírito subsistem apenas a liberdade (Hegel)

1. HEGEL (1770-1831), em seus escritos, confronta a filosofia e a história. Ele

estabelece como tarefa da filosofia:“pensar a vida”. A vida para ele é essencialmente a

história da humanidade. Pensar a história é o primeiro elemento de sua reflexão. Uma

vez que, a história é tempo de agitação, de conflito, de drama, ela é propício à

elaboração de um pensamento globalizante, porque ela é facultada pela vida.

Hegel retoma as aquisições da metafísica e coloca-a num nível mais elevado, no

momento que, ele busca uma identificação entre o ser e o pensamento, a unidade

objetiva e subjetiva, presente na razão. Esse vir a ser (movimento) tornou-se um

elemento primordial presente na sucessão de momentos da consciência humana. Nosso

autor estabelece que o conhecimento do tempo serviu de fundamento ao conhecimento

humano. A história do pensamento é também história da razão. A razão contém uma

correnteza de pensamento formado por gerações de pessoas. Com isto, ele introduz uma

critica à intemporalidade que anteriormente era atribuída à verdade e à razão, agora

verdade e razão é fruto do desenvolvimento histórico da humanidade.

Hegel compreende por um lado, que a idéia de progresso intelectual e material

herdada da Idade das Luzes está radicalizada por um acontecimento maior: a Revolução

Francesa. Tanto os governantes como os povos do mundo compreendem a Revolução

Francesa à custa do sofrimento e do seu destino histórico. Ele irá formalizar esse

acontecimento numa analise compreensiva e posteriormente numa analise critica. Por

outro, ele parte desse acontecimento para construir o saber que torna inteligível o devir

da humanidade e que organiza o seu presente, sob os auspícios da razão. Assim, ele irá

constituir uma síntese de todo o saber filosófico e reunirá nos seus escritos as

descobertas feitas pelo pensamento moderno.

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A grande novidade de seu pensamento é o fato de que nenhum homem podia ser

excluído da “comunidade organizada”. Segundo ele “é o direito que, embora

conservando o seu caráter infinito e ideal, se encontra ligado a uma natureza, e é o

direito da natureza particular que se realiza na história, isto é, a bela totalidade ética

situada na antiguidade grega” (Hyppolite, 1983, p.78). Para a realização desta idéia,

tarefa infinita propostas aos homens, ele recupera a idéia romântica do progresso. A

idéia de liberdade.

Ele entende que o homem só poderá ser livre se viver num mundo de homens

livres. Isto significa que ele leva em conta o que foi estabelecido pelos teóricos políticos

e o que foi feito pelos franceses por ocasião da Revolução Francesa.

A Revolução dá uma nova dimensão à história. E, ao mesmo tempo, ela se impõe

à filosofia, doravante indispensável, para a compreensão da razão humana. A história

invade a totalidade do real e isso tem conseqüências no discurso filosófico. Pois é o

filosofo que compreende e formaliza no discurso as contribuições de cada período e

daqueles que foram os seus agentes mais decisivos.

Tivemos que esperar Hegel, para realizar tal tarefa. Por que? Exatamente, porque

ele que irá compreender que o ser é devir se identificam e que a única coisa que existe é

o movimento. Por isso, não existe uma razão desvinculada de um tempo. O único ponto

fixo a que a filosofia possa se ater é a própria história. O que significa dizer que tanto a

razão quanto a realidade é dinâmica e, por conseguinte, a verdade é processual.

Nós iremos nos fixar na compreensão da filosofia da história hegeliana e tentar

entender qual é a interpretação e a crítica que Hegel faz da Revolução Francesa. Qual a

critica á racionalidade hegeliana feita por alguns de seus críticos. E, num mundo em que

cada vez mais, a exclusão, a “consciência infeliz” do homem – ainda que representada

na corrupção e outras trapaças por parte daqueles que gozam de um lugar ao sol –

continuam sendo a marca do presente, muito distante da realização daquela consciência

prevista por Hegel.

2. Hegel, em Lições sobre a filosofia da história mundial, tem uma passagem em

que analisa a natureza da Revolução Francesa. Ele afirma que “do momento em que o

sol brilha sobre o firmamento e os planetas giram em torno dele, não se tinha ainda

dado conta, que o homem se baseava sobre a sua cabeça, isto é, sobre o seu

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pensamento e constrói a realidade conforme a sua cabeça é. Anaxágoras foi o primeiro

a dizer que o Nous governa o mundo: mas somente agora o homem reconhece que o

pensamento deva governar a realidade espiritual” (1967, p. 205).

Este texto pode ser o texto clássico de sua adesão à razão revolucionária. Hegel

entendia que o fato revolucionário irá implementar uma nova realidade espiritual capaz

de iluminar o pensamento humano. Ele estabelece uma estreita relação entre a idéia e a

realidade. A idéia trabalha na história. O papel do espírito é trabalhar as instituições

para que possa realizar a liberdade do homem. Segundo Hegel “o aperfeiçoamento do

espírito sem o aperfeiçoamento das instituições, assim que este estiver em contradição

com aquele, isto é suficiente para originar não só a discórdia, mas também a revolução

(Hegel, Die Philosophie des Rechts, 146, p.173).

Nos anos de juventude, associado à Schelling e à Hoerderlin, amigos

inseparáveis, saudaram a queda da Bastilha e a proclamação da Declaração dos

Direitos do Homem e do Cidadão (26 de agosto de 1789) plantando uma “arvore da

liberdade”. Mas, è na maturidade que, ele sustenta que a Revolução só é compreensível

a partir do princípio de Liberdade. Ele afirma na Fenomenologia do Espírito (1807) “de

resto, não é difícil ver que o nosso tempo é um tempo de nascimento e passagem para

um novo período. O espírito rompeu com o mundo de seu existir e do seu representar

que até subsistia e, no trabalho de sua transformação, está para mergulhar esse existir

e representar no passado. Na verdade o espírito nunca está em repouso, mas é

concebido sempre num movimento progressivo. (....) Esse lento desmoronar-se, que não

alterava os traços fisionômicos do todo, é interrompido pela aurora que, num clarão,

descobre de uma só vez a estrutura de um novo mundo” (cfr., citado por Brandão, 2005,

p. 104).

A Revolução faz da liberdade o fundamento da vida comum dos homens. Ela é o

principio e o caminho da sociedade e do Estado. Esse princípio elucida a convivência

racional: enquanto o homem é portador de direitos e somente quando se atinge essa

universalidade e que pode emergir uma sociedade propriamente racional, isto é política,

no momento em que se estabelece a vontade livre enquanto vontade universal.

Com Hegel pode-se estabelecer um corte no movimento universal do ser e do

pensamento. A chegada da Revolução interrompeu o devir da humanidade. Hegel,

anteriormente estava preocupado com a cidade grega, “a bela totalidade grega”, isto é,

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o direito da natureza humana particular que se realizou na história, agora o direito ganha

um espectro de universalidade. Objetivamente, é a liberdade descoberta pelos gregos,

que ganham uma dimensão maior com a Revolução. Antes dos gregos os homens eram

homens, mas viviam sem pensar na liberdade, no mundo grego ser e pensamento se

apresentam diferenciados. Não se pensavam como livres, ou, mais exatamente, havia,

nos despotismos orientais precedentes, homens livres, os chefes, mas o conjunto da

população era dominado pelos chefes.

Os Gregos estendem a uma parte mais vasta da humanidade o princípio de

liberdade. Hegel mostra como a razão serviu de instrumento de compreensão entre esses

diversos homens livres e como os gregos, que desejavam a liberdade, construíram o

projeto do discurso racional. E mostra por que razão se introduziu a decadência no

mundo grego pelo Império Romano. O Império Romano é a superação da forma de vida

anterior que irá reagrupar elementos presentes daquela vida e integrá-los em uma

perspectiva diferente. O Império Romano contribui com a humanidade através do

direito. Mas, no momento em que, o pensamento cristão incidindo sobre o pensamento

grego, o Império Romano, combina os empréstimos de uma cultura cristã para fazer

surgir uma nova figura da humanidade: a tragicidade. Isto é, nada menos que, a vida

absoluta e as formas particulares que essa vida deve assumir.

O direito romano por um lado irá assegura a particularidade de uma vida cindida,

e por outro irá reconciliá-la pelo direito. Essa reconciliação para o homem trágico-

cômica, porque ele está ligado com o direito divino, firmado pelo cristianismo. Então

ele é a forma de elevar o homem acima do todo o destino. Jean Hyppolite, afirma que

“o desaparecimento e o nascimento de uma certa separação em dois mundos,

relacionada com o cristianismo, são traços característicos da consciência infeliz”

(Hyppolite , 1983, p. 23). Desta dicotomia tem-se a filosofia da história hegeliana. Ela

não é uma mera acumulação de fatos, mas ela é o devir essencialmente dramático da

humanidade.

Do período de juventude ao período de Jena até aquele de Berlin que vai da

Fenomenologia do Espírito à “Lições sobre a filosofia da historia mundial”, poucas

foram às mudanças do conceito de liberdade.

O período de maior reflexão sobre a liberdade depois de Jena, Frankfurt, pudesse

ter sido aquecido pelos acontecimentos de 1793 está sob o regime do Terror. Alguns

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historiadores colocam-no como restaurador do período revolucionário. O fato que

importa para nós aqui é que Hegel se comporta com um espírito livre, e propõe uma

análise das causas que justifique a ação revolucionária e porque a Revolução sobreviveu

por si mesma.

Nos anos de 1789 se encontravam reunidas todas as condições para estourar a

Revolução na França. Apareceram idéias inovadoras e, no entanto, o governo não

realizou nenhuma reforma que pudesse evitar a Revolução. Hegel coloca duas grandes

idéias como causa da Revolução: uma de ordem intelectual e a outra de ordem

econômico-jurídico.

A primeira se refere aos cidadãos e a segunda aos Burgueses. Segundo Hegel a

Revolução é importante porque foi além das fronteiras da França diz ele ”devemos

considerar a Revolução Francesa como o evento da história universa; porque isso está

no seu conteúdo ... No que toca a difusão exterior, quase todos os estados modernos

foram desobstruídos com a conquista deste principio” (Hegel, Lições, p. 931). A sua

grandeza é, pelo fato dela ser a filha da filosofia, diz ele “se diz que a Revolução

Francesa saiu da filosofia, e não é sem motivo que seja definida a filosofia como a

sabedoria mundana, já que essa não é somente a verdade em si e por si, em quanto

pura essencialidade, mas também a verdade enquanto vivente no mundo” (Hegel,

Lições, p. 124).

As idéias de Kant e de Rousseau - essencialmente a idéia de liberdade – agora

anteciparam as idéias das luzes presente na Revolução. Isto é, num certo sentido, pois a

idéia de liberdade é muito antiga. Na Filosofia do Direito (1821) Hegel afirma que a

grande descoberta desta idéia está no cristianismo. Ele observa, “mais de um milhão e

meio de anos, que a liberdade da pessoa graças ao cristianismo começou a florescer e

tornou-se um principio universal” (Hegel, 1990, p. 64).

A idéia de liberdade apenas foi descoberta. A liberdade subjetiva a do cidadão

agora existe: “o direito da particularidade do sujeito, se encontrava apagado, o que é o

mesmo, o direito da liberdade subjetiva, constitui o ponto nodal e central na diferença

entre a antiguidade e a idade moderna” (Hegel 1978). Em conseqüência deste fato – a

particularidade - que a Revolução tomou como principio a liberdade da pessoa e que

redigiu no seu texto das Declarações dos direitos do homem e dos cidadãos. Um vez

que se tomou consciência da grandeza da pessoa humana aquele direito antigo não tinha

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mais razão de ser. Então, a Revolução pode declarar que “os homens nascem livres e

morem livres e são iguais nos seus direitos”.

Hegel está de acordo com essa decisão, por isso, ele pode afirmar “Precisa-se

valorizar como qualquer coisa de grande o fato de que hoje o homem em quanto tal é

portador de direitos de sorte que esse ser humano é qualquer de superior de seu status.

Juntos dos Israelitas somente os Hebreus tinham direitos; juntos dos Gregos somente

os Gregos livres; juntos dos Romanos somente os Romanos; estes tinham direitos na

sua qualidade de Hebreus, Gregos e Romanos, não na sua qualidade de homem em

quanto tal. Mas, agora o principio universal está em vigor, tal é a fonte do direito, e

também deste modo que houve inicio uma nova época” (Hegel, Die Philosphie dês

Rechts, p., 98).

Por um lado ele mostra a contribuição da civilização romana para a humanidade e

diz que o direito é a “prosa do mundo”; por outro os romanos perderam certos

elementos que os gregos tinham fornecido, vem então o período de síntese, o

pensamento cristão incidindo sobre o grego.

A segunda idéia que causa a Revolução Francesa é a refutação da ordem

econômico-jurídico antiga que estava baseada na desigualdade social. Ela subverte o

antigo regime porque este não corresponde mais á situação da nova época econômica.

Ele escreve à Zellmann: “a nação francesa foi liberta de muitas instituições que o

espírito humano saído da infância havia superado e que de conseqüência pesavam

sobre ela e sobre outras nações como absurdas correntes” (Lettres à Zellmann, Brief i,

138) o que significa que a Revolução Francesa assume aspectos sociais dos quais Hegel

foi um defensor. Ela permitiu aos homens aumentarem sua capacidade de auto-

determinação.

Mas, Hegel em Lições mostra um quadro no mínimo negro da França diz ele “a

complexidade da situação da França nesta época se apresenta um quadro da mais

grave corrupção. É um selvagem agregado de privilégios contrários à cada idéia e à

razão, um estado sem sentido e acompanhado pela máxima de corrupção dos costumes

e do espírito de injustiça”. (Lições, p. 925). Oprimia-se o povo através de impostos e a

arrecadação era destinada à Nobreza e ao Clero, para as suas frivolidades. Mesmo assim

ele se alegra do avanço daquele Estado: “na nossa época foi feito um passo avante na

realização do Estado, coisa que nunca tinha tido lugar desde mil anos” (idem ibidem).

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Sendo assim, é possível perceber que Hegel aderiu a Revolução Francesa porque ela

traduziria a dignidade do cidadão na sua realidade política e que ele teria traduzido para

a sua filosofia, a tal ponto poder entender a sua filosofia fortemente imbricada com a

idéia de Revolução e por conseguinte teria ele sido um revolucionário.

Essa percepção da adesão parece estar em desacordo com a compreensão de H.K.

ILting que o entendeu como um restaurador. Segundo ele “o fato que a filosofia do

direito de Hegel seja uma filosofia da revolução é seguramente uma crítica grotesca: a

sua opção em favor de uma política de reforma (aperfeiçoamento das leis e das

instituições) é indubitável” ((Ilting., Erauterungen zu Hegel. p.342).

Ela está também em desacordo com a compreensão de Habermas. Para Habermas,

Hegel possui uma visão ambígua da Revolução. Ele teria tido uma grande consideração

pelos princípios fundamentais que estaria em jogo nesse acontecimento; mas porque ele

teria feito uma crítica radical à particularidade destes princípios, isto é o que fez dele

profundo adversário do pensamento liberal (Habermas, 1967, ps.89).

Isto não quer dizer que faria dele um adepto do pensamento democrático

roussoneano, até porque, Hegel não aceita o ideal do estado democrático de Rousseau, e

não o aceita justamente porque, para ele a totalidade pensada por Rousseau presente na

“vontade geral” significa a eliminação pura e simples da vontade particular.

3. Uma Revolução é sempre o resultado de um conflito entre o Estado social

obsoleto e a refutação ao poder político que se opõe em aceitar as necessárias

mudanças. No momento que, a autoridade não está em grau de satisfazer as exigências

de sua época, a sociedade política está em perigo. Neste sentido, Hegel percebe que a

Revolução é necessária, porque os políticos não realizavam as reformas que demandam

a sociedade. Então, Hegel aparece como defensor da Revolução Francesa num primeiro

momento, e, posteriormente ele reaparece como crítico do principio da Revolução. O

princípio – liberdade, igualdade e fraternidade – segundo ele, serve de manto para a

Declaração dos direitos do homem e do cidadão, mas na vida real do povo, pouco ele

se faz valer.

Vejamos! Na Fenomenologia do Espírito (1807), Hegel afirma que, “a única obra

e operação da liberdade universal é por isso a morte, e mais propriamente uma morte

que não tem nenhum espaço interno sequer seja preenchida, de fato, aquilo que é

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negado é o ponto, que falta ser preenchido, de si absolutamente livre: esta morte é

entretanto a mais fria e a mais serena morte sem qualquer outro significado a não ser

aquele de cortar a cabeça de um cavalo ou de tomar um gole de água” (Hegel, 1960).

Hegel aceita o ideal da Revolução, enquanto ela traz no seu bojo a liberdade dos

indivíduos, mas a verdadeira liberdade, a liberdade absoluta, só se realiza com a morte.

Nos anos da Fenomenologia, ele critica o fato que a Revolução não fosse fiel ao seu

ideal. E, aqui o elemento no mínimo complicado parece ser o fato de aceitar a morte, o

que dá a entender de que ele não se oporia ao Terror.

Os textos que referimos dão a entender que Hegel seria de acordo com o primeiro

período da revolução e que não se opõem ao período de Terror que aconteceu no pós-

Revolução. Como ele é o filosofo que parte da vida, o princípio – liberdade, igualdade

e fraternidade – da Revolução é o objeto de sua indagação bem como o conteúdo que

está escondido sob estes termos: Revolução e Terror.

Segundo Hegel, a Declaração dos direitos do homem é um produto da razão. Mas,

como a Declaração está longe das relações econômicas, sociais e políticas da França e

conseqüentemente, também ela está distante da razão. Então, ele critica a Revolução

porque essa se vale de um principio abstrato.Segundo ele, as mais belas abstrações

colocam a vida sempre em perigo. A Revolução não explodiu por causa da precipitação

com que se realizava um programa social, mas ela explodiu porque tentou traduzir,

politicamente o seu principio abstrato de liberdade da pessoa, recorrendo ao contrato

social, que nada mais é que uma forma arbitrária. Ele afirma que: “a idéia que o Estado

seja um contrato social entre indivíduos teve uma grande influência sobre a Revolução.

Se pensava que construir um povo dependesse do bom animo de qualquer um desses

indivíduos (Hegel, Die Philosophie des Rechts, 140, 165).

Seria Hegel um anticontratualista? Ou até que ponto ele é um contratualista? Para

Bobbio há em Hegel uma recusa da teoria contratualista. O fato dessa recusa faz faz

Bobbio compreendê-lo, que seu pensamento se situa em posições conservadoras e hostis

ao liberalismo (Losurdo, 1998, p. 85). Já para Losurdo não se pode dizer que se trata de

um pensador conservador. Segundo ele “com a polêmica anticontratualista, Hegel não

pretende, de modo algum, dissociar-se dos objetivos reformadores e constitucionais,

mas salientar a absoluta inadequação do contratualismo como plataforma teórica de

um programa de renovação político institucional” (Losurdo, op. cit., p. 87).

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Para Losurdo, Hegel, assim não faria o jogo da reação. O que pode ser criticado

nele seria o contratualismo liberal-democrático, pois enquanto ele defende bens

universais e inalienáveis, esses bens não podem ser objetos de compra e de venda e

muito menos de um contrato.

O problema para Hegel, naquele momento histórico da Revolução, estava na

constituição da República. Porque o contrato social, para ele, é uma idéia abstrata tanto

quanto é aquela da liberdade e da igualdade da Revolução. Hegel não é um conservador

das estruturas de poder da monarquia francesa, e, nem um adversário das

transformações sociais e política advindas com a Revolução, antes ele parece ser um

reformador, pelo simples fato, de perceber que a Revolução Francesa terminou por

absorver o Burguês no cidadão.

Pensava Hegel que para libertar os sujeitos de seu jogo secular não bastava

destruir todas as associações, as corporações e classes sociais. Para ele seria necessário

também reorganizar a vida da sociedade civil que se constitui sobre as associações e

corporações. A Revolução apareceu incapaz de fazer isto. Num primeiro momento ela

distrói essas organizações para posteriormente reorganizá-las. A crítica hegeliana vai no

sentido de que o contrato social fosse suficiente para unir a vontade particular à vontade

geral. Isto denota um discurso conservador de Hegel. Além do que a experiência

demonstrava que ao invés de se ter um Estado harmônico, tem-se um agregado de

indivíduos sempre em luta incessante entre uns contra os outros. Luta que é decorrente

da sociedade burguesa, enquanto, ela manteve a ordem econômica-jurídica antiga que se

baseava na desigualdade social. .

Uma das criticas à Revolução feita por Hegel, trata-se do enfraquecimento do

poder executivo. Ao abolir o direito de veto do rei, pela Assembléia Constituinte,

segundo Hegel, enfraqueceu o poder executivo e com isso não se pôde opor mais à

Assembléia. A burguesia para defender-se da desobediência do povo e da recusa à pagar

impostos, cria a Assembléia Parlamentar, fazendo-se defensor do governo

representativo, onde o povo elege os seus “defensores”. Hegel denuncia essa

subordinação do executivo ao legislativo. Assim, segundo ele, “Juntos aos Franceses,

onde o Rei não dispõe que de uma participação negativa ao poder geral, não tinha a

não ser vetar de frente aos projetos do corpo legislativo, à frente do Estado era muito

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fraca e a tensão era inevitável, tanto mais que o corpo legislativo retinha ter o direito

de manter as suas proposições bem distante do Rei” (Fleischmann, p. 72).

O deputado da Revolução ao dizer-se o representante direto da nação, ele se

isolava do indivíduo e do cidadão privado. A abolição por parte da Revolução das

corporações e associações e da Nobreza e do Clero, para Hegel, não foi expressão da

liberdade, mas sim da autoridade. Segundo Hegel a pessoa livre, é certamente a pessoa

possuidora de um Estado livre e o Estado francês parecia refém de uma Assembléia

Parlamentar.

Ele foi muito atento à importância da vida econômica moderna que estava

nascendo, no seio da sociedade civil e aos seus sistemas de necessidade. .Entendeu que

uma tal sociedade não poderia fazer sem as classes sociais. E o pecado da Revolução foi

de não ter dado direito a esta exigência elementar e de conseqüência de ter absorvido o

homem privado no cidadão. Hegel não está falando de “luta de classe”, mas de um

conflito frutífero que leva avante as transformações da sociedade. Tais transformações

não se dão no sentido de superação, mas no de reconciliação de interesses no interior da

sociedade civil.

O contratualismo que esperava fundar o novo Estado sob o consenso de todos, e,

que declarava ser a única teoria que poderia reconhecer o pleno desenvolvimento da sua

liberdade foi totalmente impotente para realizar o bem comum. Dessa maneira que, o

Estado não seria nada mais do que uma associação de indivíduos que terminam por

serem comandados por provocadores e por aventureiros da política.

Disto decorre o Terror. Conseqüentemente, Hegel se afasta da Revolução em

quanto ela não está em grau de satisfazer as justas exigências do burguês, isto é, do

homem da sociedade civil.

Kojeve apresenta Hegel favorável ao período de Terror. Para Kojeve o Terror foi

um grande educador. E com ele que desaparece a escravidão. Segundo ele na dialética

do senhor e do servo, Hegel demonstrou que aquele que se tornou servo é aquele que

tremeu diante da morte, ele preferiu conservar a vida pelo preço da liberdade perdida.

Kojeve diz “através do Terror o homem toma consciência do que é realmente: nada. É

somente por meio desta experiência que o homem se torna “razoável” e busca realizar

uma sociedade onde a liberdade seja verdadeiramente possível. Neste exato momento

(Terror), o homem (ainda servo) separa a alma do corpo é ainda cristão. Mas por meio

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do Terror ele compreende de querer realizar a liberdade abstrata e querer a própria

morte” (Kojeve, 143), no Terror a morte passou a não ter nenhum valor e por isso

Hegel se afasta da Revolução.

Não pretendo discutir a questão do Terror. Mas é no Terror que a morte torna

insignificante ou significante. E neste momento que o homem descobre a sua nulidade.

Hegel vive um drama enquanto ele separa o processo do Terror da Revolução burguesa

e ele nega o seu ideal, isto é, o direito abstrato que justifica a sua realização, pois parece

que é no Terror que se realiza a liberdade absoluta que é o momento mais alto da

cultura. Então, se isto for correto dizer, quanto mais Terror houver, tanto maior será a

Revolução.

4. Para concluir, a analise e a crítica de Hegel sobre a Revolução e a crítica de

seus crítico, penso que esta leitura evidencia a preocupação hegeliana e dos críticos com

as possibilidades da razão humana de realizar aqui e agora, a critica à corrupção e às

trapaças existente no interior do estado. Transportado esse tema para a nossa realidade,

A corrupção e as trapaças do poder não deixam de ser um tema recorrente em nossa

sociedade e nosso mundo político. Hegel percebeu seja no processo da Revolução

Francesa seja no Terror, que as Assembléias Populares insistiam na soberania do povo,

baseada na idéia e na prática do cotidiano do povo, na revocabilidade tanto dos

deputados quanto dos funcionários públicos corruptos, mas, que essas idéias e práticas

não tardaram a ser sufocadas, e por isso, a Revolução não realizou a liberdade absoluta,

com que Hegel tanto sonhou.

A liberdade real defendida por Hegel, implicaria que o povo não fosse

representado e nem abandonado aos eleitos, mas sim de procurar lutar socialmente, por

si mesmo, através da sociedade organizada.

A compreensão hegeliana entendeu que o Terror, não foi mais que o massacre

realizado pela Convenção termidoriana. Ela foi um procedimento de Terror. O Terror

não se confinou nas mãos dos jacobinos, ele foi usado pela contra-revolução, durante os

anos de 1794. Os termidorianos usaram o poder ditatorial dos proprietários o que

significou instalar a corrupção no coração do Estado. Os termidorianos agora são os que

afirmam o caráter popular da soberania do Estado. Assim, a fonte do Terror é o Estado

baseado no mando dos proprietários. O fracasso jacobino baseou-se na virtude enquanto

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o Terror estatal baseou-se nos interesses particulares, particularmente os dos

proprietários e dos comerciantes.

Ora, não seria isso que assistimos nestes últimos governos da sociedade brasileira.

Vivemos sob termidorianos que, após terem alardeado “ética na política” e dogmas de

“esquerdas”, juntam-se com oligarquias endinheiradas ao longo da história brasileira às

custas do erário público; nós que assistimos o espetáculo do cinismo dos que elogiam a

sensibilidade social de Antonio Carlos Magalhães e José Sarney e outros para

sacramentar o pior oportunismo e a sobrevivência no poder; nós que atestamos a ternura

governamental pelos Bancos e o desprezo pela educação e saúde do povo; sabemos

muito bem o que significa um termidoriano.

Isso é que Hegel questiona. Essencialmente a causa que produz o Terror é a

mesma que produziu a Revolução, isto é o poder. É o culto da liberdade em que cada

cidadão se sente livre e destacado de qualquer constrição. Qualquer indivíduo enquanto

indivíduo isolado se crê autorizado a pensar e em fazer qualquer coisa. O mundo deve

ceder de fronte a minha vontade, pela onipotência do poder.

Hegel na Fenomenologia do espírito expõe o Terror. Hegel diante do Terror, ele

entendeu que se trata de “uma abstração do princípio revolucionário” ou seja a

Revolução Francesa não concebeu a liberdade como liberdade absoluta, pois o Terror

não é uma fase, é sim um momento em que a necessidade de subverter uma ordem foi

obrigado a recorrer a força e até a violência.

Hegel poderia ser concorde com Saint-Just, quando afirma que “cada Revolução

tem necessidade de um ditador para salvar o Estado com a força”. O fato é que, isto se

volta para a filosofia de Hegel, no momento em que se entende que o devir é dramático

e que o papel do povo desempenhado na história da humanidade é dramático. Então a

dramaticidade estaria fundada sobre a idéia de que os homens progridem através desse

tipo específico de violência que é a guerra. Hegel, joga com a posição-oposição-

superação da Revolução como a forma encontrada dialeticamente que reconcilia a busca

da inteligibilidade integral entre os aspectos mais concretos, mais vivos da realidade

humana na história, que é a Razão da Revolução: colocar fim ao antigo regime. Mas,

para que isto possa acontecer será preciso que a razão seja uma razão que caminha com

astúcia.

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A questão é por que foi preciso esperar a chegada de Hegel para pensar o devir da

humanidade? Por que os homens ainda não tinham compreendido que o ser é devir?

Porque o Estado instituído por Napoleão Bonaparte, com o prolongamento dessa

instituição no interior da sociedade, e, com as transformações políticas que se produzem

na Inglaterra, na Alemanha, na França, depois do fracasso de Napoleão, o Estado

moderno se estabelece como a realização da razão.

Segundo Hegel “a essência do Estado moderno consiste na união da

universalidade com a total liberdade da particularidade e da prosperidade dos

indivíduos, de modo que, por um lado, o interesse da família e da sociedade civil deve

ajustar-se ao Estado, mas, por outro, a universalidade da finalidade não pode

progredir sem o saber e o querer da particularidade, que deve conservar o seu direito.

É apenas porque esses dois momentos subsistem com toda a sua força que se pode

considerar o Estado como um Estado verdadeiramente bem diferenciado em suas

partes e verdadeiramente organizado em seu conjunto” (Hegel, Principio da filosofia

do direito, citado por Chatelet., 1997, p. 116 ).

No fundo tudo se resume ao Estado. E, no nosso caso específico, ele é o grande

causador e instituidor da violência por meio da coerção e do consentimento. Quando

Hegel coloca que a corrupção está no coração do Estado, ele não só dá uma exata

dimensão do Estado de seu tempo, mas também do nosso, uma vez que o centro da

atividade estatal não está mais nos parlamentares, mas reside principalmente na

burocracia dos órgãos de fomentos internacionais, onde o presidente e o parlamento,

não fazem mais a grande política.

Daí, então a necessidade de repensar o Estado, pois Estado e corrupção caminham

juntos, como dizia Hegel, mas Estado e razão, como pretendia Hegel não se manifesta

como conceitos unívocos.

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