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170 RJ. Kohlenbers et !- Havei , S c . A Wilson, K. G (2003) Mindfulocss: Mclhod and processo Clinica i Pfychnhgy. ScienceandPractice. 10(2). 161-165 Kanicr, J. W., Parkcr, C. R . A Kohlcnberg. R. J. (2001). Fioding lhe self: A bchav ionil mcasurv and iis clinicai implicalions Psydtolherapy Hicvry.Rcscorc h . Praciicr. Traimmg. 33(21. 198-211. Kohlcnbcry. R. j. (2004) Usinf funclioo.il analyiic p*yvhothcrapy when (reiting a dicnf wilh unxicly and depression. In World GrandRounds. Annua l Convenrion ofthe Asioitallonfor Advanccmenl of Bcluivior Jfterapy Ncw Orlcans, Novcmlcr 2004. Kohlcnbcrg. R J..&T&ai. M (1991) FutctirmalAnalptlc Psychoiheropy: Creaiing iniense andCHrotttt rhempeuHc relotio*thips. Ne* Y ofi Plcnuai Prcsi Kohlcnbcrj. R. i . & Tui. M. (1995). I ipcak. tbenrfore I amo Tne Behaiutr Thcr.ipiti. 18(6). 113-116. Kohlcnbcrj. RJ.* Vandcnbotghc, L. (2007). Tremmeti I-resistam OCf», inflatcd rrsponiihility, and lhe Iherapcutic rclalionship Twocasc e.õmp lev Ptychnlngy arul Ptychuthcrapy: Thcory, Rcscarch andPracticc. 80,155-465. Linchnn , M M. (1993). Cognllive-Mia\ioraltreatmnu ofborderhnepenonaliiy disoidc Ncw Y oik: Guilfoid Preu. LipUn*. R., l(a>cs. S. C. * Itayc». L. J. (199Longitudinal uudy oflhe devdopam of derived relations in an in&ot Jovrml of ' Esptrimtntol Ould Psfchebfy. 56*2). 201-239. Marlall, ti. A . & Marques, J. f 1977). Mmlilalion. M!ll-uiiiilrul, anu alculiul use, In R. D. Slu.ii1 (Ed.). Bchuviura!si j-munueDwii! (pp 117-153). Ncw York: Biuner/Mo/cl. Parier , C. R . Botting. M. Y. & Kohtcnbcrg. R. J. (i V98) Opcraal thcory of penouality Chapter 7. In D. Barone. M. Ilcrtcn. & V. B Van lla*scll(Eds.),/4Jv<;ACi./ peuonahty (pp. 155-171). Ncw M Plenain Pre**. Peter*, A. N.(I983>. Tkeuniuoflongutme acquisilion I.ondon:CambridgeUnivcruiy Prc»». Rottcr, I. D. (1966). Gcncrali/cd cxpectancics fer internai versus externai conirot of rciníoiccmcni PwchologlcalMonographs: Central & Apphed, 60(1). I-2S Skinncr, I). F (1953). Scltncc úndhionon bchavior \ ' ew Yoiic: Macnillan Skinne*. B F. (1957). Verhal hchorú* Kcw Yori: AppIcion-CcMury-CroAs. Skàncr, B F. (1974). .4N*rf ívAd»t- rism Ncw Yort- Knopf Surrcy, J. L (2005). Reljlion.il ps/chothcrapy, rclaiional mmdfutocw. In C. K. Genncr, R D Sicgcl. P. R Fulton. A E Tollc (Eds), Mindfulncss and psychoihcrupy (pp. 91-112». Ncw York: Guilford. Tollc, E. (2004). Tlitpoxtr 01 no*. A guide tospiriluoler./ighr,-n/KC<ii Vancouvcr. BC: Namailc Publtshcrv Witkicwiu, K . & Marlall, G A. (2005). MindfutncM-biicd relapsc prevealion for alcohnl use divorircs. Jouinal 01 Cogniiive Psychoiheropy, 19, 221-221. Woods . D W, Wfcocmcck. C. T. & Fievv- r. C. A (2006). Acomrodcd c%»lua:ion of acceplancc and comnnimcnl lherapy phs* habti rever vil for inchotillomania Behavloir Reseaich and Thvrapy, 44(5), 639-656 Capítulo 6 Intimidade Robert J. Kohlenbcrg, Barbara Kohlenberg c Mavis Tsai Intimidade c uni estado (interjpcssoalmente íntimo, definido como " pensamentos ou sentimentos secretos; procedendo dc c. referindo-se àquilo que dc mais íntimo: pessoalmente próximo" (Dicionário de Inglês Oxford . 1989). Nosso entendimento comportamental desta definição c que intimidade seria um repertório interpessoal que envolve a revelação dos pensamentos ou sentimentos mais profundos, e resulta em uma sensação dc conexão , apego c proximidade com o outro. Essa definição será elaborada durante esie capítulo , referindo-sc a temas ou características derivadas de nossa experiência clinica c da literatura relevanteComparlilhando com o modelo interpessoal, a noção dc "conexão interpessoal, i incorporada nas definições de Laurcnceau, Rivera, Schaffer c Pictromonaco (2004), que apontam que "intimidade pode ser melhor definida, como uma sensação pessoal, subjetiva (c frequentemente momentânea) de conectividade, que resulta de um processo intcrpc>soal e transacional que consiste na auto-revelação e responsividade do parceiro" (p. 62). Popovic (2005) menciona um tema similar, lembrando que "o substantivo intimidade deriva do termo intfmus cm latim, que significa o mais profundo e se refere a compartilhar o que c mais profundo com os outros. É ' sensocomum " que intimidade diz respeito a uma familiaridade ou amizade próxima " (p. 31). Kovacs (1965) assinala também a relevância terapêutica e o risco pessoal inerentes à intimidade, ressaltando que "muito do av. - fa/emos como terapeutas pode ser visto como tentativas dc participar c en jj-r nossos pacientes a entender seus conflitos sobre intimidade" e ainda " intimidade é algo que parece nos aterrorizar (p99). Kovacs ainda escreve que "as partes dc um relacionamento intimo estão interessadas nele c obtém prazer (que seguramente virá acompanhado dc alguma ansiedade) a partir da exposição progressiva dc um para o outro"* I Kofcfcntvii ICOKHDvfMtliwni of ... ut Wnfeiyt..*WA KSA fhnl Iip'tu.»niliirt-i>" d<lu M-», tlC M

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170 R. J. Kohlenbers et !-

Havei, S c . A Wilson, K. G (2003) Mindfulocss: Mclhod and processo Clinicai

Pfychnhgy. ScienceandPractice. 10(2). 161-165Kanicr, J. W., Parkcr, C. R . A Kohlcnberg. R. J. (2001). Fioding lhe self: A bchav ionil

mcasurv and iis clinicai implicalions Psydtolherapy Hicvry.Rcscorch.

Praciicr.

Traimmg. 33(21. 198-211.

Kohlcnbcry. R. j. (2004) Usinf funclioo.il analyiic p*yvhothcrapy when (reiting a dicnfwilh unxicly and depression. In World GrandRounds. Annual Convenrion oftheAsioitallonfor Advanccmenl of Bcluivior Jfterapy Ncw Orlcans, Novcmlcr 2004.

Kohlcnbcrg. R J..&T&ai. M (1991) FutctirmalAnalptlc Psychoiheropy: Creaiing inienseandCHrotttt rhempeuHc relotio*thips. Ne* Y ofi Plcnuai Prcsi

Kohlcnbcrj. R. i . & Tui. M. (1995). I ipcak. tbenrfore I amo Tne Behaiutr Thcr.ipiti.18(6). 113-116.

Kohlcnbcrj. RJ.* Vandcnbotghc, L. (2007). Trem meti I-resistam OCf», inflatcdrrsponiihility, and lhe Iherapcutic rclalionship Twocasc e.õmplev Ptychnlngy arulPtychuthcrapy: Thcory, Rcscarch andPracticc. 80,155-465.

Linchnn, M M. (1993). Cognllive-Mia\ioraltreatmnu ofborderhnepenonaliiy

disoidc Ncw Y oik: Guilfoid Preu.

LipUn*. R., l(a>cs. S. C. * Itayc». L. J. (1993» Longitudinal uudy of lhe dev dopamof derived relations in an in&ot Jovrml of

'

Esptrimtntol Ould Psfchebfy. 56*2).201-239.

Marlall, ti. A . & Marques, J. f 1977). Mmlilalion. M!ll-uiiiilrul, anu alculiul use, In R. D.Slu.ii1 (Ed.). Bchuviura!si j-munu eDwii! (pp 117-153). Ncw York: Biuner/Mo/cl.

Parier, C. R . Botting. M. Y. & Kohtcnbcrg. R. J. (i V98) Opcraal thcory of penouality

Chapter 7. In D. Barone. M. Ilcrtcn. & V. B Van lla*scll(Eds.),/4Jv<;ACi./peuonahty (pp. 155-171). Ncw M Plenain Pre**.

Peter*, A. N.(I983>. Tkeuniuoflongutme acquisilion I.ondon:CambridgeUnivcruiyPrc»».

Rottcr, I. D. (1966). Gcncrali/cd cxpectancics fer internai versus externai conirot ofrciníoiccmcni PwchologlcalMonographs: Central & Apphed, 60(1). I-2S

Skinncr, I). F (1953). Scltncc úndhionon bchavior \'ew Yoiic: Macnillan

Skinne*. B F. (1957). Verhal hchorú* Kcw Yori: AppIcion-CcMury-CroAs.Skàncr, B F. (1974). .4N*rf ívAd»t- rism Ncw Yort- Knopf

Surrcy, J. L (2005). Reljlion.il ps/chothcrapy, rclaiional mmdfutocw. In C. K. Genncr,R

. D Sicgcl. P. R Fulton. A E Tollc (Eds), Mindfulncss and psychoihcrupy (pp.91-112». Ncw York: Guilford.

Tollc, E. (2004). Tlitpoxtr 01 no*. A guide tospiriluoler./ighr,-n/KC<ii Vancouvcr. BC:Namailc Publtshcrv Witkicwiu, K . & Marlall, G A. (2005). MindfutncM-biicdrelapsc prevealion for alcohnl use divorircs. Jouinal 01 Cogniiive Psychoiheropy, 19,221-221.

Woods. D W, Wfcocmcck. C. T. & Fievv- r. C. A (2006). Acomrodcd c%»lua:ion of

acceplancc and comnnimcnl lherapy phs* habti rever vil for inchotillomaniaBehavloir Reseaich and Thvrapy, 44(5), 639-656

Capítulo 6Intimidade

Robert J. Kohlenbcrg, Barbara Kohlenberg c Mavis Tsai

Intimidade c uni estado (interjpcssoalmente íntimo, definido como"

pensamentos ou sentimentos secretos; procedendo dc c. referindo-se àquiloque há dc mais íntimo: pessoalmente próximo" (Dicionário de Inglês Oxford

.

1989). Nosso entendimento comportamental desta definição c que intimidadeseria um repertório interpessoal que envolve a revelação dos pensamentosou sentimentos mais profundos, e resulta em uma sensação dc conexão

,

apego c proximidade com o outro. Essa definição será elaborada duranteesie capítulo, referindo-sc a temas ou características derivadas de nossaexperiência clinica c da literatura relevante

.

Comparlilhando com o modelo interpessoal, a noção dc "conexãointerpessoal, i incorporada nas definições de Laurcnceau, Rivera, Schafferc Pictromonaco (2004), que apontam que "intimidade pode ser melhordefinida, como uma sensação pessoal, subjetiva (c frequentementemomentânea) de conectividade, que resulta de um processo intcrpc>soal etransacional que consiste na auto-revelação e responsividade do parceiro"(p. 62). Popovic (2005) menciona um tema similar, lembrando que "osubstantivo intimidade deriva do termo intfmus cm latim, que significa omais profundo e se refere a compartilhar o que c mais profundo com osoutros. É 'sensocomum

"

que intimidade diz respeito a uma familiaridade ouamizade próxima"

(p. 31). Kovacs (1965) assinala também a relevânciaterapêutica e o risco pessoal inerentes à intimidade, ressaltando que "muitodo av. - fa/emos como terapeutas pode ser visto como tentativas dc participarc en jj-r nossos pacientes a entender seus conflitos sobre intimidade" eainda "intimidade é algo que parece nos aterrorizar (p. 99). Kovacs aindaescreve que "as partes dc um relacionamento intimo estão interessadasnele c obtém prazer (que seguramente virá acompanhado dc algumaansiedade) a partir da exposição progressiva dc um para o outro".

* I Kofcfcntvii ICOKHI» DvfMtliwni of ... ut Wnfeiyt..*. WA KSA fhnlIip'tu.»niliirt-i>" d<lu

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I7JR

_ J Kotilcnbrrg d ai

O que expusemos acima pode ser analisado em ires (emas. Primeiro,

questões relacionadas à intimidade são clinicamente importantes. Ou seja,

são signi ficativas paia pessoas que procuram psicoterapia c são cuidadosamenteatendidas por seus psicotcrapeutas. Segundo, intimidade envolve uma exposiçãomútua ou revelação de si (expressando pensamentos e sentimentos), o que

pode ser difícil c até aterrorizante. Terceiro, intimidade envolve se apegar ouse conectar emocionalmente com outros. Cada uma dessas idéias será

explorada com mais detalhes. Antes disso, no entanto, será descritaresumidamente a definição analitico-comportamental de intimidade propostapor Cordova e Scotl (200IX poi* 9CU trabalho provfi uma importante contribuiçãopara a compreensão dc intimidade em nossa abordagem behaviorista.

Cordova e Scolt (2001) definem intimidade como um processo que ocorreem dois passos. Primeiro, um indivíduo emite um comportamento vulnerável auma punição interpessoal. Segundo, a outra pessoa responde de maneira talque o comportamento interpessoal vulnerável (da primeira pessoa) é reforçado.Os autores apontam que expressar tristeza, amor e mágoa pode ser comparado

com fa/er amor, dar afeto a uma criança querida, e ser totalmente aberto ehonesto com seu parceiro romântico ou com um amigo próximo. Cada

expressão dc intimidade é caracterizada pelo risco, ou seja. a possibilidade decensura ou punição do comportamento pelo outro. É claro que cada um denós tem diferentes histórias com este tipo dc comportamento de intimidade.Os extremos são representados por aqueles de nós que tiveram longas histórias

envolvendo abuso c rejeição ou aqueles que tiveram a sorte de terem sidoexpostos ao amor e aceitação incondicional. Vulnerabilidade interpessoal ocorre

quando uma pessoa age cm um caminho que no passado foi punido, e mesmoassim continua a emitir o comportamento punido previamente. Assim, quandoa vulnerabilidade comportamental é reforçada, esses eventos recíprocos setomam os processos centrais para o estabelecimento dc intimidade. Voltaremos

agora aos três temas da intimidade definidos anteriormente.

Intimidade é clinicamente importante

Interações continuas com pessoas próximas (ou a falta delas) influenciamo desenvolvimento de (todos) processos da relação interpessoal (Gable &Reis, 2006). Esses processos, por sua vez, estão implícitos na instalação,

manutenção e/ou recaída da maioria das desordens clínicas (Pielagc, Luteijn& Arrindcll, 2005; Van Ordcn, Wingatc, Gordon & Joiner, 2005), problemas

dc conexão e intimidade interpessoal também estão relacionados a abusos de

substâncias (Thorberg & Ly vers, 2006). Engajar-se cm uma relação íntima csatisfatória é tido como a fonte mais importante de felicidade c bem-estar(Kussel & Wclls, 1994); em contraponto, uma relação estressante

, constitui

um importante fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias(Uurmwi & Margolin, 1992). Sabe-se bem que traumns na primeira infância,

6 Intirniduilc

particulai mente abuso físico ou sexual vindo dc um cuidadorconllável, podem

levar a dificuldades interpessoais significativas (Kohlenbcrg, Tsai &Kohlenbcrg, 2006). McAdams (1982) descreve a intimidade como umamotivação social fundamental

. Ele assinala que há muito foram reconliecidosos benefícios c virtudes do zelo c proximidade

, assim como o fato dc queindivíduos diferem de modo marcante em sua habilidade de conquistar taisrelações Cita ainda que a intimidade pode promover crescimento psicológicopara todas as pessoas c adicionar uma experiência profundamente terapêuticacm momentos de stress. Na área da saúde fisica

, Prager (1995) relata que afalta dc relações íntimas está associada ao aumento dc taxas de mortalidade

,

doenças mentais c físicas, sintomas relacionados ao stress e acidentes

.

O apoio social é considerado um processo interpessoal chave, relacionadoã prevenção e recuperação dc quase todas as fornias de psicopatologias.

Também é parte essencial de interações intimas. Dois tipos de resposta dos

clientes podem 'estragar' os efeitos positivos do apoio social. Uma delas e

a resposta de bloqueio do cliente em relação à aceitação do suporteinterpessoal quando lhe c oferecido. Coync (1976) argumenta que indivíduosdeprimidos, por exemplo, interagem de forma a negara oferta dc apoio.

Em

particular, eles duvidam da sinceridade do carinho c úo feedback oferecidopor outros. Um segundo tipo de resposta problema seria a de desencorajaros outros a darem tal apoio, e, quando isto acontece

, tende a causar umareação de frustração ou irritação. Quando a oferta dc apoio social é umcomportamento interpessoal vulnerável e é punida pelo receptor, a intimidadec comprometida.

Na perspectiva da l-AP, o processo acima ocorre, durante u interaçaoterapêutica, quando clientes não aceitam o carinho, a preocupação ou amorterapêutico oferecido pelo terapeuta. É bastante comum que os clientescheguem a expressar suas dúvidas sobre a sinccndadc ou genuinidade dessasexpressões sugerindo que o terapeuta é pago para fazer comentárioscarinhosos

. É nessa dinâmica (que definimos por intimidade comprometida)que se fornia o centro da teoria interpessoal da depressão dc Coyncs (1976).

A expressão dc carinho do terapeuta pode até ser um 12 (comportamentoalvo do terapeuta), particularmente se o terapeuta está emitindocomportamentos que suo intcrpcssoalmcntc vulneráveis para ele ou cia.

Intimidade envolve expressar pensamentos esentimentos - o que pode ser difícil e arriscado

De acordo com a formulação dc Cordova e Scott (2001), compartilharpensamentos e sentimentos se torna um evento intimo quando muitos dessescomportamentos foram punidos no passado. Em outras palavras, cm uma

situação em que um convite à autorrevelação t oferecido, existe um risco

dc que essa resposta seja punida caso isso tenha ocorrido em interações

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174 R. J. Kolilcnberg el al.

prévias. Assim, um convite á abertura pode ser de Fato ura estímulo avereivo,

que evoca tendências a escapar, se esquivar, ou mesmo atacar. Dado tal

histórico, o comportamento de se auto-rcvelar seria difícil c ate mesmoassustador. Na relação certa é claro, o comportamento interpessoal vulnerávelserá provocado, criado c reforçado, e a intimidade ocorrerá. Uma relação

semelhante é esperada na I AP, na qual o terapeuta ativamente cria um

ambiente em que o comportamento de intimidade vai sendo construído,

modelado e reforçado.É importante notar que a relação terapêutica, è claro, é imperfeita. Isto

c, existem limites frente aos quais os clientes podem ter reações clinicamente

relevantes, por exemplo, o tempo limite da sessão, número total de sessões,

o fato de não ver o terapeuta fora da sessão, entre outros. Existe sim um

poder desigual na psicoterapia, com o cliente revelando muito mais

informações que o terapeuta. Além disso, o terapeuta pode, sen» perceber,punir algumas autorrevelaçõcs íntimas por parte do cliente. Por exemplo, o

terapeuta poderia esquecer algo importante para o cliente, o que poderiafazer com que a autorrevelação fosse punida ou invalidada. Ou simplesmente,o terapeuta poderia não atender prontamente a uma autorrevelação emergente

e, assim, perder a oportunidade de se comportar de maneira reforçadora.Nós consideramos que essas imperfeições, na verdade, adicionam a

efetividade da sessão dc psicoterapia, dando oportunidades (evocando CRBs)para nossos clientes aprenderem habilidades dc intimidade. Ou seja, é ilusórioacreditar que qualquer interação humana pode ser

,perfeita"

, c que se podeprovidenciar um local totalmente protegido onde interaçòes dc intimidade

sempre serão encorajadas c nutridas. Por essa razão, comportamentos dc

intimidade deveriam ocorrer quando uma avaliação do risco tiver sido feitade forma razoável. Acreditamos que uma relação terapêutica efetiva temuma taxa muito alta de respostas reforçadoras do terapeuta, comparadacom suas respostas punitivas. Ainda assim, sempre há algum risco.

Comportamentos íntimos envolvem proceder de forma auto expositiva,mesmo quando existe a possibilidade de punição.

Intimidade envolve estar apegado ou conectado aoutros

A experiência de estar apegado ou conectado a outros é uma parteimportante da experiência humana, e existem aqueles (como o caso dc Kari,discutido abaixo) que tem dificuldade cm se identificar com essa experiência.Parece haver pouca discussão sobre a experiência dc se conectar na literaturabehaviorista. Mesmo não emergindo de uma tradição comportamental, existeuma vasta produção sobre a teoria do apego (Rowlby, 1969), que é consistentecom uma conceitualização comportamental. Segundo a hipótese fundamentalde Bowlby, as contingências dc sobrevivência (seleção natural) levaram

6 inlimlilailn

mães e crianças aos braços umas das outras. Em outras palavras, existiamreforçadorcs poderosos para comportamentos dc apego (ex.: agarrar-se,

voltando-sc ao cuidador primário em tempos de stress). De acordo comKonner (2004), ambos, Freud e Skinner, essencialmente compartilhavamessa visAo

.

Os primeiros estudos tendiam a examinar o processo dc apego durante ainfância. Mais recentemente

, o foco se estendeu para sua expressão adulta,

particularmente em relações muito próximas e românticas. Baseado em

uma história individual de contingências expericnciadas de comportamentoíntimo, um repertório amplo de comportamentos dc apego pode influenciarapropensão a se relacionar dc forma íntima c efetiva

. Por exemplo, o medoda rejeição - e como isso pode causar impacto ao desenvolvimento dcrelações próximas - seria resultado claro de uma história individual dereforçamento e punição

, relacionados ao comportamento íntimo. Estudiososda teoria do apego classificam esses repertórios comportamentais cm termoscomo "seguro; ansioso-ambivalentc c, o estilo ansioso que evita. São estilosde ligação que descrevem se os pacientes (e terapeutas) tendem a se sentirconfortáveis e seguros em relacionamentos

, com medo de seremabandonados

, ou se separam defensivamente" (Meyer & Pilkonis, 2001, p.466). Na curta revisão de literatura de Meycrs e Pilkonis, eles sugerem queexistem similaridades entre: (1) a forma como as crianças se apegam aosseus cuidadores; (2) como os adultos se apegam a seus parceiros românticos,

c. (3) como clientes podem se apegar a seus terapeutas.

Eles também

concluíram que o estilo dc apego dc um cliente influencia a aliança terapêuticae o resultado da terapia. Pielage et al. (2005), usando uma grande amostrada comunidade

, encontrou que a segurança do apego estava negativamenterelacionada à solidão e depressão, mas positivamente relacionada à satisfaçãocom a vida. Embora repertórios dc apego aparentemente gcrcin umavulnerabilidade a psicopatologias duradouras (Van Orderct al., 2005), Meyere Pilkonis sugerem que a FAP tem potencial para modificar o estilo deligações dos clientes.

Implicações terapêuticasNa psicoterapia, intimidade envolve convidar clientes a se abrirem e

revelarem segredos profundamente guardados em seu coração. Esseelemento básico da terapia arranja o cenário para evocar comportamentosinterpessoais vulneráveis. O terapeuta está pedindo, implicitamente, que osclientes se arrisquem e confiem que não serão punidos por assumirem taisriscos. Levando em conta suas grandes implicações clínicas

, acreditamosque muitos, se não a maioria dos clientes podem se beneficiar dc melhorasem seus repertórios de relações de intimidade. Além disso

, e comum descobrirque problemas de intimidade podem ter se iniciado cedo na história de vida

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do clicnlo. Mesmo assim, a relação terapêutica, do ponto de vista da FAP,idealmente deveria evocar (regra 2) o comportamento do cliente que evita odesenvolvimento da intimidade (CRB 1) e prontamente reforçar melhoras(regra 3) nos comportamentos de intimidade (CRB2).

É por essa razào que um terapeuta ativo e carinhoso, que emitacomportnincntos interpessoais vulneráveis, está geralmente melhor posicionadopara evocar os problemas do cliente c criar um ambiente apropriado paramelhoras. Um cliente que deseja desenvolver relações próximas

, mas ainda

fka ajustado com o cuidado das outras pessoas, pode claramente se beneficiarde um terapeuta que expressa carinho. É claro que um terapeuta cuidadoso.mas que se comporta reservadamente, também pode evocar CRBs I, e clientes

que estuo aprendendo ii discriminar comportamentos mais reservados, mas

não menos carinhosos por parle do terapeuta, também podem sentir que seuscomportamentos de correr riscos interpessoais estio sendo reforçados.

Reforçar comportamentos interpessoais vulneráveis

Buscando melhorar as expressões de emoções intimas do cliente, éessencial que o terapeuta reforce naturalmente seus comportamentos

interpessoais vulneráveis (CRBs2). Na vida diária do cliente, expressões d=intimidade geralmente são reforçadas pelo aumento do interesse do outro,atenção focada e autorrcvelações recíprocas. Respostas arbitrárias ouartificia;tais como "obrigada por se abrir

"

, provavelmente não seriam umreforço natural. Assim, um cliente que se abre e expressa dor pela perda deuma criança pode se sentir melhor com um terapeuta que responda revelando

seus sentimentos mais profundos de tristeza, sobre como resistir a uma perda

deste tipo, junto com a disposição cm ouvir a profundidade sobre esta doresmagadora.

Alem de se aceitar o risco em se autorrevclar, o cliente prei isa aprendera reforçar comportamentos interpessoais íntimos dos outros para criar emanter relacionamentos próximos. Assim, as expressões interpessoais

vulneráveis do terapeuta também devem ser reforçadas. Por exemplo, umterapeuta expressando carinho c preocupação por um cliente, revelando

que pensou bastante nele durante a semana O cliente que responde. ~é

para isso que cu lhe pago"

, está punindo este tipo de revelação por parte do

terapeuta. Isso poderia ser uma oportunidade para o terapeuta apontar umCRMI, indicando que o cliente havia bloqueado uma possibilidade deaprofundar ii relação. Um CRB2 poderia ser o cliente dizer: "eu estou tão

tocado, até um pouco assustado com a intensidade do seu carinho comigo.

Isso é tão novo para mim. ter aiguém que se importe desse jeito, que é atédifícil de acreditar".

Também há casos cm que os terapeutas nunca serão capazes de reforçarperfeitamente os riscos interpessoais, e podem inadvertidamente punir uma

6 Intimidade177

expressão vulnerável do cliente. Caso esses eventos sejam reconhecidos no

contexto da regra 2 (evocar CRBs), providenciarão oportunidades para ocliente aprender a recuperar c reparar as habilidades requeridas para lidarcom as inevitáveis decepções associadas a relações intimas. Enquanto anoção de ruptura c reparo de um relacionamento é claramente pane detodos os relacionamentos íntimos

, o conceito de problemas na aliançaterapêutica que levam a sua ruptura c reparo 6 uin princípio geral significativopara vários tipos de terapia (Kohlenberg, Yeater& Kohlenbcig, 1998; Safran

,

Crockcr, McMain & Murray, 1990; Safran & Muran, 1998.2005)

Técnicas Especificas

Dada nossa ênfase na análise funcional, relutamos cm sugerir técnicas ou

exercícios específicos independentemente do contexto de uma relaçãotcrapeuta-clicnte particular Acreditamos fortemente que a relação terapêutica,como ela é, c altamente evocativa de comportamentos íntimos e a esquivadeles. Reconhecemos, no entanto, que algumas vezes isto pode ser útil paraprogramar exercícios específicos com o intuito de evocar c intensificarcomportamentos interpessoais de correr nscos (ver cap. 4). Nesse sentido

,

discutiremos agora exemplos de exercícios cxpericnciais que podem ajudar aexplorar o tema da intimidade na terapia

A meditisão do coração aberto, adaptado de Deida (2001), c um dessesexercícios. Nessa meditação é pedido ao cliente que:

Foque na nu respiração, solte tua bamga c relaxe sua mandíbula enquanto voeirespira. Sinta «cu coraçio batendo cm seu pcilo, c nnla seu ritmo radiando para fura,

pulsando cm suas mãos e pés c pcicoço. Agora, c em lodos os outros momentos, ou

você cstu ubrindo ou fechando seu coraçflo. Veja sc você consegue wiiiu a» bulida» <1o

seu coraçio, c vc permita rela* ar c abrir seu coraçio ccxno se você «sti vcmc oferecendo

o bali mento do seu coração para o mundo Coiu seu coxeio abeno. você podeoferecer vera te tegurar. *ccêpode rvcíber tem iccuur. Dcíxc-k seetir aouacomio

,

pcrmita-w icatir meu carinbo por você.

A ideia de abnr seu coração é uma metáfora para o ato de se tomarvulnerável, que corresponde ao comportamento envolvido cm desenvolverum relacionamento íntimo ou próximo. O coração é visto historicamente comoórgão mais essencial para manter a vida. Assim abrir seu cotação aos outrosé arriscara maior vulnerabilidade de todas

, sabendo seresta a perda da própriavida. A seguir, letras de algumas músicas populares ilustram essa metáfora.

"\fecc nlo vai encontrar nada*cai arac4cccr tc« coraçio"

Kcith Grcen ("Softe* Yomr tlrart ~).

"Ah.ah.nh. ah

abra seu coração, cu vou fa/.cr você me amar

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R J KokkotoK « at

não e tio difícil. M você apctia» virar a chave".

Madoniu ("Cfrwi fówr «m/7").

"Baby, ubca seu coraçio.\fccê nio vai me dar urna ttgMdl chancec eu estarei aqui pra »emprc

~

Ncsllifc (?Open Your Heart").

Há até uma referenda à metáfora do coração na bíblia.

Deu» enrijeceu o coração do faraó (Êxodo, 9:12). c o* corações do*egípcios(Êxodo. 14: >7).

Exercícios adicionais de conexão são descritos por Surrcy (2005, p. 108-110), em que se pode *respirar com, um cliente, ,comeditar na fluência daconexão e desconexão*

e *aprender a ver um ao outro". Quando essesexercícios sào combinados, as instruções básicas envolvem: (1) sentar-sefrente-a-frcnte a uma distância confortável; (2) atentar-se para sua própriarespiraçào; (3) abrir um campo de atenção que inclui a presença do outrocom um leve foco respeitoso na respiração dele(a); (4) notar pensamentosc sentimento? que surjam, mas permanecer ali e respirar juntos; (5) expandira atenç2o para a fluência do conexão c desconexão, incluindo desconforto,

rcaçòes emocionais ou de autoperccpção; (6) olhar nos clhos um do outro esentir essas palavras no seu coração: "Que você seja feliz, que você sejalivre de sofrimento. Que vocc alcance as maiores alegrias da vida. Quevocê possa seguir cm paz.

" (p. 109); (7) notar como é se sentir conectado,dando c recebendo; (8) processar como c compartilhar esse exercício umcom uma outra pessoa.

Pedir aos clientes para abrirem seus corações também pode aparecerespontaneamente durante uma interaçâo terapêutica, como no exemplo deMT c sua cliente Cindy, que está trabalhando cm permitir que os outroscuidem dela

, uma pedra fundamental da construção do apoio social.

T: Vamos nos focar neste exato momento. Basicamente, cm

qualquer momento vocc pode escolher se abrir para aimportância c o carinho que os outros sentem por você, oupode se fechar c se odiar. Você está aberta ao meu carinhopor você agora?

C Eu quero estar.T: Liguc-se à energia que estou lhe enviando. O que você está

recebendo de mim?

C: Existe uma luta acontecendo na minha cabeça. Existe um"carinho" vindo de você. mas também um medo inconsciente

de aceitá-lo. Se cu me abrir para seu amor, tenho que sentir

179

toda essa dor aqui com ele, a perda dele quando cu não recebê-lo. Sc cu me abrir

, vou sentir essa enorme onda de dor.T: Então você sente que, se aceitar meu amor, vai sentir essa

onda enorme de dor. Você pode ficar com essa contradição,

pode apenas ser amável com você mesma apesar disto? Porque o que estou sentindo não é que você tem que aceitar meuamor. O que estou sentindo é simplesmente amor

, é como amorpela contradição que você esta sentindo, por esse dilema intensono qual você está, e ficando ao seu lado. Você pode ficar comvocê mesma apesar disso, que isto é mesmo um dilema. Isso érealmente

, realmente angustiante.C: E admitir não apenas minha dor, mas também meus irmãos c

irmãs, que estão com 30,40 anos, e ver a dor cm seus rostos e

vendo a dor cm suas vidas.

T: Isso é muita, muita coisa. Tudo que eu estou pedindo é para

você respirar c estar comigo neste momento.

C: Isso é uma coisa que tem ajudado nos últimos dias.

T: Cindy, Cindy (Bloqueando seu CRBI de esquiva).C: Sim.

T: Você nào quer fazer isso, quer? Vòcê quer falar c quer estar

nestes últimos dias com seus irmãos c irmãs. Você não quer

respirar e estar comigo neste momento? (dito cm um tom devoz gentil.)

C Siin é difícil estar neste momento.

T: Apenas sinta sua respiração.

C. (Chora.)T: Está tudo bem

. você pode fazer sons. você nào tem que ficarquieta.

C: (Chora por alguns minutos.) Há tanta dor e cu estou assustadade abrir tanto a porta.

T: Tudo bem se abrir um pouquinho apenas sentindo suarespiraçào? Como é abrir a poria apenas um pouquinho?

C Está ludo bem.

T: Entào ai está a dor. e há também a alegria c a liberdade de

levar você mesma a sentir o que quer que seja que estiver ai.

Eu me sinto realmente abençoado por você estar sendo vocêmesma em sua plenitude, na sua vulnerabilidade e em sua

confiança em mim. [reforçando o CRB2 dela.]C: Bom este está sendo um dos poucos lugares realmente seguros

cm minha vida.

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180 R. J. KotiUmbcrg et ai

Discussão c avaliação ilo apego e conexão

Dada à natureza instável da topografia do apego c conexão, pode ser útilavaliar esses conceitos com os seus clientes. I ssa discussão pode ser

facilitada pedindo ao cliente para responder ao questionário "Experiências

da FAP de Aproximação na Relação Tcrapcuta-cliente" depois de cada

sessão (FAP-HCR, Apêndice L). O FAP-ECR é unia versão modificada da

vefslo mais ampla, o Questionário de Experiência cm Relações Próximas

(ECR; Fralcy, Walter & Brennan. 2000), que avalia o apego adulto. Enquantoo ECR indica o apego c a proximidade da vida co<idiana, o FAP-ECR tem

como alvo identificar CRBs relacionados. Por exemplo, o item original do

ECR, "Eu me sinto desconfortável quando um parceiro romântico quer se

tomar muito próximo" passa a ter, no item da FAP-ECT, a configuração"Eu me sinto desconfortável quando meu terapeuta quer ficar muito próximo

"

.

Essa forma e seu uso será discutido a seguir no estudo de caso de Kari.Além disto, o FIAT-Q (citado no cap. 3) ê um instrumento de avaliação

útil, que inclui todos os elementos envolvidos na relação intima. O FIAT-Q,

juntamente com as questões do "Formulário de Ligação entre sessões"

(Apêndice D) c o "Relatório Sessão Terapeuta-Clientc (PTSR) sobreRelacionamentos" (Apêndice M), ambos criados na Universidade deWashington, podem alertar os terapeutas para potenciais CRBs.

Exemplo de Caso

Kari, uma estudante dc graduação de 25 anos. procurou tratamento comRJK para depressão e parar dc fumar. Ela relatou estar deprimida desde oprincipio dc sua infância c de fato. não se lembra de um (empo em que não

estivesse deprimida. Teve algumas poucas amizades e se envolveu em

romances breves, que eram emocionalmente distantes, mas não estabeleceu

relacionamentos íntimos. Sua pontuação no item do FAP-ECT "Eu prefironão ser muito próxima do meu terapeuta

" foi dc 5.5 (concordo) a 2.2

(discordo), em uma escala dc 7 pontos, após a sessão discutida a seguir.Nas duas sessões anteriores. RJK c Kari discutiram brevemente sua faltade "conexão** ou apego a RJK. mesmo que ela soubesse que ele se sentiaconectado e se importava com ela.

Segmento I(Kari estava lamentando como ela ia m3l na escola e não tinha amigos)

T: Bem, dcixe-mc oferecer algumas soluções ou ideias.C: Eu preciso diminuir minhas expectativas, sei que isso parece

dramático c ridiculo, e cu não quero dizer isto seriamente, maspreciso encontrar uma nova vida que seja feliz, significativa etranquila . Nào quero, obviamente, viver cm um trailcr com

6 Intimiiliile

oito crianças, mas preciso desistir das minhas esperanças,

sonhos c dc ter um PH D que nào me servirá para nada.

T: OK, então me deixe mostrar isso para você. Vocc prontamente

se recusou a sentir qualquer conexão comigo (traz o tópico doapego)... mesmo que eu me sinta conectado a você. (12

,

emitindo comportamento interpessoal vulnerável.)C: Eu nào queria recusar.

T: Bom. cu poderia dizer que você recusa, isto é, dc algumamaneira você pára vocc mesma. Não ê apenas comigo, vocc

faz isso cm geral, mas cu sinto que liá um bloqueio real quevocê coloca entre nós. Você diz que cu sou um profissionalque está sendo legal coir. .*ocê porque ê minha profissão gostarde você - esta c realmente uma forma dc proteger você mesmade se conectar

, então eu acho que ê justamente esta a peçaque es ti faltando.

C: Eu sinto uma obrigação enorme c mesmo que cu não consigaparar de fumar, está se tomando algo para eu me sentir melliore fazer mais coisas

, mas realmente eu nâo estou no caminho.

Eu ncho que você está fazendo todo possível para me ajudar,

me dando seu tempo e atenção,

T: Eu estou dando a você meu tempo c minha atenção e achoque o que está faltando, de alguma forma, c que você não estáconectada a mim. Eu sei que sc isto existisse ajudaria.

proporcionaria a cola para que pudéssemos realmente começara trabalhar juntos.

O Eu não sei como fazer o que você está pedindo. Eu acho queposso fazé-lo. mas não sei como, ou como cu posso não fazê-lo. Até nas minhas amizades c assim. Minha colega dc quartogritou comigo ontem, então, toda a relação que cu construi ccomo cu confiava nela

, eu cortei. É ridículo, ela nem gritoucomigo, ela só achou que eu tinha feito algo que eu não fiz.

T: E você a cortou?

C Ela estava tâo brava comigo. Isso era tão irritante, cu

simplesmente não posso mais ser amiga dela. Eu não vou seramiga dela (lacrimejando), não vou.

Segmento 2 (mais tarde na sessão)T: É por isso que você nào se conecta comigo.

Essa sua falsa dc

comprometimento é altamente prejudicial. Sua colega de quartoficou brava com você e você ficou tão chateada que não

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IS2 R. J. KOblcobcíg ci »!.

conseguiu lidar com isso. Isso mostra a você mesma porquevocê precisa se proteger de se conectar com outras pessoas.Você na verdade gosta das pessoas, mas dessa forma, vocêse arrisca a se machucar. Eu gostaria de poder dizer que você

está querendo se arriscar a se machucar na relação comigo.

Eu gostaria que você olhasse essa relação como um local paraexperimentar se aproximar, mesmo que eu não vá ver vocêtoda semana pelo resto da sua vida.

C: Sim certamente.T: Mas cu nunca vou me esquecer de você, c cu vou continuar a

vê-la, c farei o que precisar para tentar te ajudar a se conectarcomigo. Eu acho que eu realmente posso ser um recurso.[interpcssoalmente vulnerável T2.]

C: Eu só preciso de um passo. Só não estou certa de como fazê-lo, eu realmente não sei. [CRB2, se arriscando, se abrindo,reforçando o terapeuta por ser tcrapeuticamente íntimo].

T: Bem, uma coisa é tentar daresse passo, e para isso cu acreditoque você tem um grande potencial, o talento real para fazer

bem ao mundo. Lu lo conheço bem o suficiente e me importomuito com vocc para não tentar ajudar você a chegar lá.

C: Eu gostaria de descobrir uma forma disso, por que cu não queroser fria e distante o tempo iodo.

T: Eu acho que agora, você está muito comprometida em termosde "eu e você". Mas você me ignorou quando eu disse que eume importava [traz um CRB1, a cliente não está respondendo

a sua expressão de cuidado).C: Eu estou. Eu não acho que poderei algum dia me importar

com alguém.T: Então, você não acha que poderia se sentir verdadeiramente

conectada a mim?

C: Eu não sei, por que você vê, eu não sei o que c essa barreira.T: E se você mc deixar entrar, ou seja, ficar emocionalmente

próximo a você.C: Eu só não sei como, precisa ficar claro para você que cu tenho

este problema.7: Eu acho que isso é um ponto central- algo relacionado a todas

as partes da sua vida, em que você não está satisfeita neste

momento.

C: Eu nunca estive realmente com alguém que não mcmachucasse.

6 Intimidade 183

T: Eu mc sinto próximo a você. Eu não sei exatamente como

você se sente, mas eu me sinto muito ligado a você. Eu olho

pra você como uma filha, alguém que eu realmente me importo,e ai está. Você pode se machucar nesse relacionamento, mas

posso te prometer uma coisa, isso vai passar.C: Será mais fácil aqui, não será? Eu vou pensar sobre isso. Eu

não tenho certeza do que está acontecendo. Eu não me sintoligada a você, mas me sinto confortável com você, e te respeitomuito.

T: Mas não há conexão?

C: Eu acho que cu nem sei o que isso significa. Eu acho que háuma conexão

, eu sinto que sei um pouquinho sobre você- vocêdirige um híbrido.

T: Há mais alguma coisa que você queira saber sobre mim?C: Não

, eu não tenho que saber detalhes.T: Eu responderia quase tudo que você me perguntasse.

C: Eu não sei qual é o meu problema, cu acho que há uma conexão.Eu sinto que sei quem você é.

T: Bem, isso é um começo muito bom. Agora meu carinho por

você, faz com que se sinta desconfortável.

C: Mas eu gosto disso.T: Mas é real?

C: É real, mas não é sobre mim, é você querendo ajudar as

pessoas.

T: Então é realmente impessoal.C: Eu acho que você realmente quer ajudar. Eu não acho que

você se dá conta que eu realmente valorizo isso. que vocêpensa sobre mim, e tenta me ajudar. Eu realmente valorizoisso. Eu apenas não entendo qual parte estou perdendo.

T: É a parte da ligação emocional que não está aqui.

C: Sim, estou pensando nos meus cx-namorados, se eles

terminavam comigo eu ficava muito chateada por dois dias, c

então esquecia isso. Eu não pensava sobre eles, não pensavanisso

, cu era chamada de rainha do gelo 110 colegial por essarazão. Eu sinto que sou uma pessoa carinhosa, mas se algoacontece c cu não vejo essa pessoa mais, então depois de umdia ou dois está acabado, sabe?

T: É isso que você ganha por não se conectar, no entanto, é o que

você faz.

C: São poucas pessoas que cu me importo que ficam comigo.

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184 R. J. Koiílcnbcrg et ai

T: Eu fiquei com vocc nesta terapia, c e aqui que cu gostaria quenós tentássemos ter uma experiência de conexão. Eusinceramente estou interessado cm saber como você c capa/de manter distância, quando eu estou sentindo essaproximidade.

Na sessão seguinte, Kari disse que, pela primeira vez, percebeu queK

.IK estava no seu ,time>. Ela disse que mudou a forma como via RJK, esentiu que nào precisava mais se opor a ele. No fim desta sessão, as taxasde proximidade de Kari melhoraram drasticamente e, pela primeira vez emquatro meses, se manteve assim. Quatro semanas após a sessão acima, ela

começou um novo relacionamento c estava conscientemente usandohabilidades paro construir intimidade. Ela implorou para que RJK. não adeixasse "cortar" isso, como ela estava inclinada a fazer mesmo que essafosse a melhor relação na qual ela já esteve. RJK prometeu que ele faria oseu melhor ajud3ndo-a a desenvolver sua ligaçào com RJK, com seu parceiroc com outros que ela se importava.

Conclusão

Intimidade emocional pode ser a fonte de nossas maiores alegrias e denossas dores mais profundas. Intimidade é o alo de compartilhar o que há

dc mais profundo, os segredos mais protegidos com outra pessoa e reforçaros outros por fazerem o mesmo. É o ato de autorrcvelação, no contexto deuma relação compassiva, ainda que imperfeita. É o ato dc correr o risco de

se machucar, c mesmo que esteja ferido, ainda assim, experimentar, tentarempenhar-se cm reparar essas feridas. Há momentos em que essas feridasexperimentadas nào podem ser reparadas, como ocasiões em que a pessoaíntima morre ou, por alguma razão, a relação se acaba antes que ossentimentos íntimos tenham chegado ao fim.

Na psicoterapia, intimidade emocional por parte do cliente é evocada enutrida através de muitas modalidades terapêuticas. Intimidade emociona! é

o foco da FAP, c c evocada e reforçada naturalmente quando isto é solicitadodurante a formulação do caso. Na FAI1, assim como cm todas aspsicoterapias, limites como tempo dc sessão, termino do tratamento, partidado terapeuta, busca do cliente por uma relação mais extensa com o terapeuta(cx.: intimidade física ou amizade além do que ocorre na terapia), sãooportunidades para o cliente aprender a arriscar sua vulnerabilidade mesmodiante de um prelúdio doloroso e dc outros riscos conhecidos.

AI AP ajuda a criar um ambiente dc compaixão, evocativo e reforçador,no qual o cliente aprende a melhorar suas hábil idades de intimidade. Também

é um contexto no qual estão presentes muitas características conflitantes e

6 Intimidade

incongruentes que interferem no desenvolvimento da intimidade na vidacotidiana. Há uma equivalência funcional entre imperfeições e limites navida cotidiana e algumas características da relação terapêutica, tal comopagar pela sessão, acabar a sessão na hora, mesmo que o cliente não estejapronto e imperfeições do terapeuta. Apesar desses desafios, terapeutas daFAP estão comprometidos a criar um ambiente que seja um "espaço sagrado,(CAP. 4), no qual os clientes podem se arriscar a ser interpessoalmentevulneráveis

, e no qual eles podem cuidar c ser cuidados, para que cies possamrecuperar sua vida cotidiana dc intimidade, que é seu direito de nascença.

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