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ERICH HAUSCH Sistemática de desenvolvimento para projeto de produtos com qualidade dimensional na indústria automobilística. São Paulo 2009

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básico de dimensionamento de veículo

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  • ERICH HAUSCH

    Sistemtica de desenvolvimento para projeto de produtos com qualidade

    dimensional na indstria automobilstica.

    So Paulo

    2009

  • ERICH HAUSCH

    Sistemtica de desenvolvimento para projeto de produtos com qualidade

    dimensional na indstria automobilstica.

    Trabalho de concluso de curso apresentado

    Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    para obteno do Ttulo de Mestre Profissional em

    Engenharia Automotiva.

    rea de Concentrao:

    Engenharia Automotiva

    Orientador:

    Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski

    So Paulo

    2009

  • I

    FICHA CATALOGRFICA

    Hausch, Erich

    Sistemtica de desenvolvimento para projeto de produtos com qualidade dimensional na indstria automobilstica / E. Hausch. -- So Paulo, 2009.

    90 p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia Mecnica.

    1. Indstria automobilstica (Projeto) 2. Produtos (Controle; Dimensionamento) 3. Montagem do produto 4. Controle da qua- lidade 5. Produtos novos) I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia Mecnica II. t.

  • II

    DEDICATRIA

    minha esposa e amiga Tatiana, e aos meus filhos, Joao e Beatriz razo de minha busca pelo crescimento e evoluo profissional e pessoal. Aos meus pais, Erich e Maria Luiza por tudo o que me proporcionaram e exemplo de dedicao.

  • III

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por me dar fora e sade durante a elaborao do trabalho. minha esposa Tatiana, pela pacincia e apoio durante meus perodos de ausncia. Aos meus pais, Erich e Maria Luiza por todo o apoio e incentivo. Aos amigos, profissionais e a empresa pesquisada pelo apoio na execuo do trabalho. Ao Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski pela competncia no processo de orientao.

  • IV

    RESUMO

    A definio das caractersticas dimensionais de um produto representa um desafio

    no desenvolvimento de projetos na indstria automobilstica devido a sua

    complexidade construtiva, onde diversos componentes oriundos de diferentes reas

    de desenvolvimento e fornecedores devero interagir entre si na forma de um

    produto final. Entende-se por caractersticas dimensionais as relacionadas a

    tolerncias, folgas, encaixes, ajustes entre peas, medidas de restrio em

    desenhos de produto e cartas de controle. Para possibilitar que o produto seja

    montado sem a necessidade de ajustes adicionais e dentro do tempo especificado

    para a sua montagem, necessrio que todas estas caractersticas tenham sido

    especificadas, verificadas e atestadas nas peas unitrias e nos conjuntos que elas

    iro compor. Este trabalho prope uma sistemtica que possibilite identificar, avaliar,

    definir e controlar as caractersticas dimensionais no desenvolvimento de um novo

    produto, desde as fases iniciais do projeto at sua fabricao em srie, fazendo uso

    de diferentes ferramentas e conceitos de anlise de tolerncias existentes. Esta

    sistemtica exemplificada a partir da aplicao a dois componentes

    automobilsticos: lanterna traseira e frontend.

    Palavras chave: Anlise de tolerncias; Variabilidade; Montagens deformveis;

    Projeto seis sigma; Desenvolvimento dimensional; Montabilidade.

  • V

    ABSTRACT

    The product dimensional features represents a challenge to the product development

    process in the automotive industry due to their constructive complexity where many

    components from different development areas and suppliers will have to interact as

    an unique final product. Dimensional features can be understood as ones related to

    tolerances, gaps, fittings, adjustments, restraint measures in product drawing and

    control charts. To enable product assembly with no need of additional adjustment

    and within the assembly cycle time is necessary that all those characteristics have

    been specified, verified, and certified in individual components and in the assemblies

    they will compose. This work proposes a systematic to identify, evaluate, define and

    control the product dimensional features in a new product development, from the

    initial phase until the serial production, making use of different development tools and

    existing tolerance analysis concepts. This systematic is exemplified with the

    application in two automotive cases: backlight and Frontend.

    Key words: Tolerance analysis, variability, compliant assemblies, dimensional

    management, assemblability.

  • VI

    SUMRIO

    RESUMO............................................................................................................. IV

    ABSTRACT........................................................................................................... V

    SUMRIO............................................................................................................. VI

    LISTRA DE ILUSTRAES................................................................................. X

    LISTA DE TABELAS............................................................................................. XIII

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................ XIV

    1. INTRODUO................................................................................................... 1

    1.1 Objetivos .............................................................................................. 2

    1.2 Organizao............................................................................... .......... 3

    2. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E PROCESSOS NA INDSTRIA

    AUTOMOBILSTICA.............................................................................................. 4

    2.1 Desenvolvimento de produtos.............................................................. 4

    2.1.1 Projeto do produto................................................................. 4

    2.1.2 Fabricao de prottipos....................................................... 7

    2.1.3 Liberao para fabricao de ferramentas............................ 8

    2.2 Desenvolvimento de processos............................................................ 8

    2.2.1 Manufatura enxuta e o planejamento dimensional................ 8

    2.2.2 Influncia no tempo de fabricao......................................... 9

    2.2.3 Influncia das caractersticas dimensionais na qualidade

    do produto.............................................................................. 11

    2.3 Premissas de projeto de produto para o processo............................... 12

    2.4 Pontos de referncia para o processo.................................................. 12

    2.5 Relaes funcionais.............................................................................. 14

    2.6 Fase de lanamento.............................................................................. 14

    3. FERRAMENTAS DE ANLISE DIMENSIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTOS E PROCESSOS............................................................................... 18

  • VII

    3.1 Conceitos e ferramentas de avaliao dimensional.............................. 18

    3.1.1 Variabilidade............................................................................18

    3.1.2 Controle estatstico de processo............................................. 20

    3.1.3 Capacidade de processos, CP e CPK.................................... 20

    3.1.4 Tolerncias.............................................................................. 23

    3.1.5 Liguagens cartesiana e geomtrica de representao e

    identificao de tolerncias.............................................................. 24

    3.1.5.1 Linguagem geomtrica.............................................. 24

    3.1.5.2 Linguagem cartesiana................................................ 25

    3.1.6 Tolerncias de dimenso e posio ....................................... 27

    3.1.7 A zona de tolerncia de posio cartesiana e cilndrica.......... 27

    3.2 Analises de tolerncias............................................................... .......... 28

    3.2.1 Cadeia de tolerncias.............................................................. 28

    3.2.2 Anlise de tolerncias e sntese de tolerncias...................... 29

    3.2.3 Tipos de anlise de tolerncias............................................... 30

    3.2.3.1 Anlise pelo pior caso................................................ 30

    3.2.3.2 Anlise estatstica...................................................... 31

    3.2.3.3 Anlise em um grau de liberdade.............................. 33

    3.2.3.4 Anlise nos trs graus de liberdade........................... 33

    3.2.4 Fator geomtrico..................................................................... 34

    3.2.5 Anlise de sensibilidade.......................................................... 34

    3.2.6 Montagens deformveis.......................................................... 35

    3.2.6.1 Montagem funcional................................................... 35

    3.3 Processo de anlise de tolerncias...................................................... 37

    3.4 Consideraes...................................................................................... 39

    4. SISTEMTICA DE DESENVOLVIMENTO DIMENSIONAL APLICVEL AO

    PROJETO AUTOMOBILSTICO............................................................................ 41

    4.1 Desenvolvimento dimensional.......................................................... 41

    4.2 Identificao e avaliao das interfaces........................................... 43

    4.2.1 Avaliao de montabilidade..................................................... 44

    4.2.2 Avaliao da estabilidade dimensional.................................... 44

  • VIII

    4.2.3 Compensao de variaes .................................................. 44

    4.2.4 Viabilidade de ajustes.............................................................. 45

    4.3. Desenvolvimento dimensional na rea de qualidade........................... 46

    4.4. Desenvolvimento dimensional na fase de prottipos .......................... 47

    4.5 Processo de desenvolvimento dimensional......................................... 47

    5. EXEMPLOS DE APLICAO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

    DIMENSIONAL.

    5.1 Lanterna da tampa traseira................................................................... 49

    5.1.1 Aplicao do conceito desenvolvimento dimensional ............ 49

    5.1.1.1 Identificao de premissas de qualidade .................. 50

    5.1.1.2 Conceito de produto................................................... 50

    5.1.1.3 Conceito de processo................................................ 52

    5.1.1.4 Processo de anlise de tolerncias........................... 53

    5.1.1.5 Referncias de processo ......................................... 54

    5.1.1.6 Cadeia de tolerncias ............................................ 56

    5.1.1.7 Aplicao do software de anlise de tolerncias em

    uma dimenso ...................................................................... 58

    5.1.1.8 Aplicao do software de anlise de tolerncias

    em trs dimenses ................................................................ 60

    5.1.1.9 Anlise de montagens deformveis........................... 61

    5.1.1.10 Aplicao das aes no projeto............................... 62

    5.1.1.11 Avaliao de interfaces............................................ 62

    5.1.2 Descrio dos problemas de montagem................................. 63

    5.1.3 Correlao entre problemas avaliados na fase de projeto e

    produo........................................................................................... 65

    5.2 Frontend................................................................................................ 66

    5.2.1 Aplicao do conceito desenvolvimento dimensional ............ 66

    5.2.1.1 Identificao de premissas de qualidade .................. 67

    5.2.1.2 Conceito de produto................................................... 68

  • IX

    5.2.1.3 Conceito de processo................................................ 68

    5.2.1.4 Processo de anlise de tolerncias........................... 69

    5.2.1.5 Referncias de processo........................................... 71

    5.2.1.6 Cadeia de tolerncias................................................ 72

    5.2.1.7 Aplicao do software de anlise de tolerncias

    em uma dimenso................................................................. 74

    5.2.1.8 Aplicao do software de anlise de tolerncias

    em trs dimenses .............................................................. 75

    5.2.1.9 Anlise de montagens deformveis........................... 76

    5.2.1.10 Aplicao das aes no projeto............................... 76

    5.2.1.11Avaliaode interfaces.............................................. 77

    5.2.2 Descrio dos Problemas de montagem................................. 79

    5.2.3 Correlao entre problemas avaliados na fase de projeto

    e produo..................................................................................... 79

    5.3 Documentos de controle.................................................................. 80

    5.4 Verificao de conformidade............................................................ 81

    5.5 Consideraes.................................................................................. 83

    6. CONCLUSO ...................................................................................................85

    6.1 Recomendao para futuros trabalhos............................................ 86

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................. 87

  • X

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1 Sequncia simplificada de desenvolvimento de produtos

    automotivos............................................................................................................04

    Figura 2.2 Principais grupos de desenvolvimento de componentes

    automobilsticos..................................................................................................... 05

    Figura 2.3 Detalhamento das pricipais reas de desenvolvimento de

    produtos.................................................................................................................06

    Figura 2.4 Envolvimento de outros departamentos no desenvolvimento de

    produto................................................................................................................... 07

    Figura 2.5 Quantidade de horas por veculo: carroceria, pintura, acabamento,

    chassis, e montagem final..................................................................................... 10

    Figura 2.6 Elementos bsicos de construo de uma carroceria veicular........ 15

    Figura 3.1 Representao grfica de desvio e variao................................... 21

    Figura 3.2 Representao de referncias e tolerncias pelo mtodo

    geomtrico............................................................................................................. 24

    Figura 3.3 Representao grfica de tolerncias de forma, orientao e

    posio...................................................................................................................25

    Figura 3.4 Sistema global de coordenadas....................................................... 26

    Figura 3.5 Representao de referncias e tolerncias pelo mtodo

    cartesiano.............................................................................................................. 27

    Figura 3.6 Zona de tolerncia de posio cartesiana e geomtrica.................. 28

    Figura 3.7 Cadeia de tolerncias....................................................................... 29

    Figura 3.8 Anlise de tolerncias e sntese de tolerncias............................... 30

    Figura 3.9 Somatria de tolerncias pelo pior caso.......................................... 31

    Figura 3.10 Cadeia de tolerncias estatstica...................................................... 32

    Figura 3.11 Aumento do campo de tolerncia devido ao fator geomtrico......... 34

    Figura 3.12 Anise de sensibilidade.................................................................... 35

    Figura 3.13 Fluxograma do processo de anlise de tolerncias......................... 39

    Figura 4.1 Fluxograma do processo de planejamento dimensional.................. 42

    Figura 4.2 Fluxograma do processo bsico de avaliao de interfaces............ 46

    Figura 4.3 Fluxograma do processo geral de desenvolvimento

  • XI

    dimensional no projeto automobilstico................................................................. 48

    Figura 5.1 Incio da sistemtica de desenvolvimento dimensional........................ 49

    Figura 5.2 Regio de ajuste e vedao da lanterna..........................................50

    Figura 5.3 Elementos construtivos da tampa traseira ...................................... 51

    Figura 5.4 Representao do dispositivo de geometria da tampa traseira ...... 52

    Figura 5.5 Processo de anlise de tolerncias na sistemtica de

    Desenvolvimento dimensional............................................................................... 53

    Figura 5.6 Cota a ser analisada........................................................................ 53

    Figura 5.7 Sequncia de processo.................................................................... 54

    Figura 5.8 Referncias para formao do conjunto folhas externas................. 55

    Figura 5.9 Referncias para montagem do alojamento da lanterna.................. 55

    Figura 5.10 Referncias para formao do conjunto tampa................................ 56

    Figura 5.11 Referncias para montagem do alojamento da lanterna.................. 56

    Figura 5.12 Cadeia de tolerncias....................................................................... 57

    Figura 5.13 Anlise de tolerncias em um grau de liberdade............................. 59

    Figura 5.14 Anlise de tolerncias em um grau de liberdade, com dispositivo de

    geometria............................................................................................................... 60

    Figura 5.15 Resultados da anlise de tolerncias em trs dimenses............... 60

    Figura 5.16 Visualizao da variao entre lanterna e tampa com anlise em trs

    dimenses..............................................................................................................61

    Figura 5.17 Avaliao de interfaces na sistemtica de desenvolvimento

    Dimensional........................................................................................................... 63

    Figura 5.18 Incio do processo de desenvolvimento dimensional....................... 67

    Figura 5.19 Regio de ajuste entre farol e pra-lamas....................................... 67

    Figura 5.20 Elementos construtivos do veculo e frontend................................. 68

    Figura 5.21 Montagem do conjunto frontend...................................................... 69

    Figura 5.22 Processo de anlise de tolerncias na sistemtica de

    desenvolvimento dimensional............................................................................... 69

    Figura 5.23 Cota a ser analisada......................................................................... 70

    Figura 5.24 Sequncia de processo.................................................................... 70

    Figura 5.25 Referncias para montagem dos pra-lamas.................................. 71

  • XII

    Figura 5.26 Referncias de montagem dos elementos do frontend.................... 72

    Figura 5.27 Referncias de montagem do frontend na carroceria...................... 72

    Figura 5.28 Cadeia de tolerncias....................................................................... 73

    Figura 5.29 Anlise de tolerncias em um grau de liberdade............................. 74

    Figura 5.30 Resultados da anlise de tolerncias em trs dimenses............... 75

    Figura 5.31 Visualizao da variao entre farol e pra-lamas com anlise em

    trs dimenses.......................................................................................................76

    Figura 5.32 Avaliao de interfaces na sistemtica de desenvolimento

    dimensional............................................................................................................ 77

    Figura 5.33 Aplicao de aes dimensionais nos documentos de controle...... 81

    Figura 5.34 Verificao de conformidade na sistemtica de desenvolvimento

    dimensional............................................................................................................ 82

    Figura 5.35 Correlao entre clculos em uma e trs dimenses com medies

    na linha de montagem para o exemplo da lanterna.............................................. 83

    Figura 5.36 Correlao entre clculos em uma e trs dimenses com medies

    na linha de montagem para o exemplo do frontend.............................................. 84

  • XIII

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1 Relao entre valores de CP e quantidade de defeitos por milho

    ............................................................................................................................... 22

    Tabela 3.2 Correlao entre valores de tolerncias geomtricas e

    cartesianas.............................................................................................................28

    Tabela 5.1 Avaliao de interfaces.................................................................... 64

    Tabela 5.2 Correlao entre problemas previstos na anlise de interfaces e

    identificados na montagem.................................................................................... 66

    Tabela 5.3 Avaliao de interfaces.................................................................... 78

    Tabela 5.2 Correlao entre problemas previstos na anlise de interfaces e

    identificados na montagem.................................................................................... 80

  • XIV

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    RPS Reference point system.

    GD&T Geometrical design & tolerances.

    CP ndice de capacidade de processos, considerando a variao.

    CPK ndice de capacidade de processos, considerando a variao e desvio.

  • 1

    1. INTRODUO

    Para que um negcio maximize o valor para acionistas ele precisa equilibrar

    satisfao do cliente e foras competitivas com outras consideraes sobre custos e

    resultados (COHEN; GRAHAN, 2002). Para empresas do ramo automobilstico este

    equilbrio representa produtos com qualidade, processos estveis, custos

    operacionais adequados e, por consequncia, bons resultados financeiros.

    Segundo Fallu (2004), a competitividade de custos de uma empresa em particular

    depende de muitos fatores, e o desenvolvimento de produtos exerce grande

    influncia sobre como estes custos podem se apresentar.

    O aumento da competitividade mundial pelo crescimento de marcas anteriormente

    sem expresso e sua entrada em mercados antes no explorados, obriga as

    montadoras a realizar lanamentos de produtos em perodos de desenvolvimento

    mais reduzidos. Hammet, Wahl e Baron (1999) acrescentam que conforme o ciclo de

    vida dos produtos se encurta, montadoras colocam grande nfase no

    desenvolvimento de novos produtos. Estes esforos tm levado a reduo de custos

    e prazos de entrega. O principal direcionamento destas melhorias tem sido uma

    melhor integrao dos recursos de desenvolvimento nos processos de

    desenvolvimento de produto e design atravs de prticas como engenharia

    simultnea, design para manufatura e parceria com fornecedores.

    A necessidade cada vez maior de diferenciao pela inovao e qualidade tem

    elevado o nvel de qualidade dos produtos obrigando as montadoras a trabalhar com

    estilos mais arrojados e complexos sob o ponto de vista de manufaturabilidade,

    folgas com dimenses nominais e tolerncias cada vez mais apertadas e variaes

    dimensionais de componentes sob controle.

    Como consequncia, uma enorme presso exercida sobre departamentos de

    engenharia, cada vez mais enxutos sob o ponto de vista de disponibilidade de mo

  • 2

    de obra, constantemente submetidos a modificaes tardias de produto devido a

    mudanas de mercado ou lanamentos por parte da concorrncia.

    O crescimento expressivo apresentado por empresas que adotaram sistemas de

    produo enxuta, tornou fundamental sua implementao sob o ponto de vista de

    competitividade. Womack et. al. (1998), descreveu os princpios da manufatura

    enxuta: Perfeio, Fluxo, Produo Puxada e Ciclo. Ao se avaliar a relao entre

    qualidade dimensional e os princpios descritos, possvel perceber sua direta

    relao, devido ao efeito no tempo de montagem e retrabalhos.

    Em sua anlise dos processos de engenharia no desenvolvimento de produtos de

    empresas automobilsticas, Fallu (2004) expe que na tentativa de melhorar o

    processo de desenvolvimento de produto e a qualidade da engenharia, muitas

    empresas automobilsticas implementaram e continuam a implementar numerosas

    iniciativas visando a melhoria da disciplina dentro do processo de engenharia, na

    esperana de atender custos, prazos e objetivos de satisfao e qualidade.

    Neste contexto se insere o conceito de desenvolvimento dimensional como

    ferramenta para auxiliar o desenvolvimento de produtos e processos de maneira

    sistmica e disciplinada com foco na qualidade dimensional. Planejamento que de

    grande importncia e para qualidade final de produtos e eficincia operacional das

    empresas automobilsticas.

    1.1 Objetivos

    O objetivo deste trabalho propor uma sistemtica para possibilitar projeto de

    produtos de maneira sistmica, com foco na qualidade dimensional. Entende-se por

    qualidade dimensional todas as caractersticas dimensionais de peas unitrias e

    conjuntos que possibilitem uma montagem da forma planejada, sem retrabalhos ou

    ajustes adicionais no ambiente fabril. Para o consumidor final, qualidade dimensional

    representa equipamentos com boa esttica, funcionando da forma adequada, sem

    rudos ou quebras inesperadas.

  • 3

    1.2 Organizao

    No primeiro captulo foi traado o cenrio de competitividade da indstria

    automobilstica mundial sob os aspectos de qualidade, manufatura, desenvolvimento

    de produtos e como o planejamento dimensional est inserido neste conceito. So

    apresentados os objetivos, justificativa e a estrutura do trabalho.

    No segundo captulo apresentado o processo de desenvolvimento de produtos e

    processos na indstria automobilstica, e como o desenvolvimento das

    caractersticas dimensionais est inserido neste processo.

    O terceiro captulo apresenta o conhecimento necessrio e as tcnicas para anlise

    de tolerncias. No seu final apresentada uma sistemtica para anlise de

    tolerncias.

    O quarto captulo apresenta o conceito de planejamento dimensional e um mtodo

    de avaliao de interfaces. No final do captulo apresentada a sistemtica geral de

    planejamento dimensional como integrao das ferramentas de anlises

    dimensionais na indstria automobilstica.

    O quinto captulo apresenta dois casos de aplicao da sistemtica de planejamento

    dimensional no projeto de um produto automobilstico. O sexto captulo apresenta a

    concluso e o stimo as referncias bibliogrficas.

  • 4

    2. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E PROCESSOS NA

    INDSTRIA AUTOMOBILSTICA.

    2.1 Desenvolvimento de produtos

    2.1.1 Projeto do produto

    O processo de desenvolvimento de produtos automobilsticos segue, de maneira

    resumida, uma sequncia conforme indicado na figura 2.1. A partir de uma definio

    de conceito e design externo, segue-se o detalhamento das caractersticas internas

    como carroceria, motor, chassis e acabamento interno. Finalizadas estas fases,

    liberada a fabricao de prottipos para testes do produto e avaliao fsica de suas

    caractersticas de fabricao.

    Figura 2.1 Seqncia simplificada de desenvolvimento de produtos automotivos.

  • 5

    Aps a concluso da fase de prottipos feita a liberao de fabricao das

    ferramentas de produo de peas e dispositivos de processo.

    As etapas de design e detalhamento no envolvem fabricao de peas, apenas

    desenvolvimento de conceitos de produto e os desenhos para fabricao de

    prottipos. Por ser uma fase inicial de desenvolvimento, deve-se decidir sobre

    diferentes conceitos de projeto e fabricao com base nas premissas de projeto.

    fundamental que neste perodo sejam definidos conceitos de produto que atendam

    s exigncias de qualidade de fabricao e para o cliente final. Para isto, as

    premissas de qualidade e histrico de produtos em fabricao devem estar

    claramente especificadas.

    Nesta fase comeam a trabalhar os grupos de engenharia simultnea, verificando o

    projeto com relao viabilidade de fabricao e qualidade de conceitos de produto.

    A figura 2.2 exemplifica os principais conjuntos e correspondentes reas envolvidas

    no desenvolvimento de um novo conceito. Grupos de engenharia simultnea so

    criados dentre outros motivos, para tentar resolver os problemas de processo e

    produto de maneira integrada, com especialistas de diferentes reas da empresa

    colocados em conjunto, para evitar falhas de desenvolvimento.

    Figura 2.2 Principais grupos de desenvolvimento de componentes automobilsticos.

    O produto automobilstico composto por diversos componentes correlacionados

    entre si e cada elemento construtivo possuindo o seu ndice de variabilidade. A

    somatria das variabilidades do produto final se no avaliada ou calculada pode

  • 6

    representar um problema crnico de fabricao resultando em um potencial

    problema ao cliente interno como a manufatura, ou o cliente final que adquire o

    produto. So exemplos destas falhas mecanismos com mau funcionamento, rudos,

    infiltrao de gua e peas desajustadas.

    Um grande fluxo de informaes tcnicas oriundas de diferentes reas e

    departamentos com necessidades de viabilidades diferentes ou at mesmo

    conflitantes deve convergir nos desenhos de produto. A figura 2.3 apresenta um

    detalhamento das principais reas de desenvolvimento de produtos e as interfaces

    de desenvolvimento.

    Figura 2.3. Detalhamento das pricipais reas do desenvolvimento de produtos.

    fundamental o estabelecimento claro das interfaces para definio de premissas e

    registro de informaes entre as reas de desenvolvimento dos subsistemas,

    envolvendo at mesmo fornecedores, pois todos os componentes devero interagir

    entre si quanto ao desempenho de sua funo no produto final. A figura 2.4

    exemplifica outros departamentos envolvidos no processo de desenvolvimento de

    produtos.

  • 7

    A avaliao do produto na fases fases iniciais de desenvolvimento dependente da

    orientao, nvel de instruo e mtodos do grupo para identificar registrar e resolver

    problemas especficos de produto e processo. Uma sistemtica deve ser utilizada

    para evitar uma discusso sobre conceitos de produto de forma aleatria, apenas

    com base na experincia dos integrantes.

    Figura 2.4. Envolvimento de outros departamentos no desenvolvimento de produtos.

    Uma sistemtica de desenvolvimento das caractersticas dimensionais de produto

    deve ser desenvolvida juntamente com um FMEA (failure mode and effect analysis)

    de produto e/ou processo, para garantir que as aes identificadas sejam

    implementadas no conceito ou desenho de produto.

    2.1.2 Fabricao de prottipos

    Na avaliao de prottipos possvel avaliar fisicamente conceitos de fabricao,

    montagem e qualidade em conjunto com as reas de desenvolvimento responsveis.

    Desta forma, diversos conceitos so aprovados com base na avaliao de

    prottipos, por se tratar do primeiro produto fsico do projeto. importante salientar

    que a avaliao de caractersticas dimensionais em prottipo, pode representar um

  • 8

    risco por se tratar de apenas um nico veculo. A avaliao de um prottipo no

    possbilita avaliar o comportamento do produto em produo seriada, quando ele

    comea sofrer efeitos da variabilidade dimensional de seus componentes. Seus

    dispositivos de montagem no so os definitivos e, com frequncia, um veculo

    prottipo extensamente retrabalhado at a concluso da sua montagem.

    2.1.3 Liberao para fabricao de ferramentas

    A partir da liberao de fabricao do ferramental, qualquer modificao de produto

    vai representar maior complexidade e custos elevados devido a modificaes nas

    ferramentas de fabricao do produto. Dependendo da sua complexidade, a

    modificao pode comprometer os prazos de entrega de ferramental para a

    fabricao seriada do produto.

    Um conceito de produto est frequentemente associado ao desenvolvimento de

    diversos componentes, ou seja, se um conceito no definido com a devida

    profundidade, uma simples modificao de produto pode resultar na modificao de

    diversos componentes, consumindo tempo de desenvolvimento e desperdiando-se

    o tempo gasto com componentes j desenvolvidos.

    Um pequeno perodo transcorre da liberao para o desenvolvimento de conceitos e

    a concluso da fase de prottipos, quando o projeto se encontra prximo liberao

    de ferramentas. Neste perodo, comum se avaliar diferentes alternativas de

    produto e processo, buscando a melhor relao custo qualidade.

    O tempo disponvel para avaliaes de manufaturabilidade fica, desta forma,

    reduzido. fundamental que os mtodos e ferramentas de projeto estejam bem

    especificados e sejam utilizados de maneira sistmica para se rastrear, avaliar e

    definir conceitos de produto com relao a sua robustez para manufatura.

    2.2 Desenvolvimento de processos

    2.2.1 Manufatura enxuta e o planejamento dimensional

  • 9

    A introduo dos conceitos de manufatura enxuta com base nos comprovados

    resultados de produtividade, obriga as empresas automobilsticas a planejar ou

    atualizar seus novos processos seguindo as premissas de perfeio, fluxo, produo

    puxada e ciclo. Para se atender a estas premissas, cada operao de montagem

    deve ocorrer da forma planejada, respeitando-se sequncia de montagem,

    movimentaes, sequncia de fixaes, tempo e qualidade final de montagem.

    Uma operao de montagem mal sucedida devido dificuldade ou impossibilidade

    encaixe entre peas, ou mesmo uma montagem cujos resultados de ajustes no

    atendam s especificaes de produto vo gerar um retrabalho no momento da

    operao ou, no pior dos casos, gerar retrabalhos em pontos posteriores da linha de

    montagem.

    A variao dimensional de componentes pode ser causada por diversos problemas,

    tais como: instabilidade de processos que esto apresentando problemas de desvios

    ou variabilidade excessiva, especificaes de produto muito apertadas e por

    consequncia difceis de manufaturar, e conceitos que no prevem absoro de

    variaes dimensionais resultando em dificuldade de ajuste ou problemas de

    montabilidade.

    2.2.2 Influncia no tempo de fabricao

    Outro fator relevante para a produtividade de empresas automobilticas a reduo

    do tempo de montagem. Grande ateno tem sido dada a eliminao de operaes

    e movimentaes desnecessrias que nada agregam de valor ao produto.

  • 10

    Figura 2.5. Quantidade de horas por veculo: Carroceria, pintura, acabamento, chassis, e montagem final. (JP Morgan Harbour Conference, 2007)

    A quantidade de horas por veculo um importante indicador de eficincia

    operacional de uma montadora. Por meio de reconhecidos padres elaborados por

    empresas de consultoria possvel comparar diferentes montadoras sob um mesmo

    critrio. A figura 2.5 demonstra a reduo da quantidade de horas para montar um

    veculo nos ltimos anos pelas maiores montadoras americanas na busca por

    eficincia operacional.

    Uma grande ateno dada na definio dos ciclos de trabalho, buscando-se uma

    reduo de movimentaes desnecessrias e balaceamento das operaes de

    forma a usar com mxima eficincia o tempo produtivo. O retrabalho gerado por uma

    m especificao de produto ou processo exerce influncia direta no tempo de

    montagem devido ao tempo adicional de ajuste e retrabalhos que requerem maior

    tempo de mo de obra. O resultado um desbalanceamento do processo produtivo

    e o tempo final de produo, com efeito na eficincia operacional da empresa.

    Deming (1990) salienta que a melhoria da qualidade transforma o desperdcio de

    homens-hora na fabricao de um bom produto e uma melhor prestao de servios.

    O resultado uma reao em cadeia - custos mais baixos e melhor posio

    competitiva.

  • 11

    necessrio que no momento de entrar em produo, as caractersticas

    dimensionais do conjunto de componentes que compem o produto tenham sido

    especificadas, avaliadas, detalhadas em desenho e atestadas com relao

    manufaturabilidade por meio de simulaes na sua futura condio em processo.

    Deming (1990), completa que o custo de retrabalho representa apenas uma parte do

    custo provocado pela baixa qualidade. Baixa qualidade gera queda qualitativa e de

    produtividade ao longo de toda a linha de produo, e alguns dos produtos

    defeituosos acabam chegando s mos do consumidor.

    2.2.3 Influncia das caractersticas dimensionais na qualidade do produto.

    Aspectos de qualidade podem ser avaliados sob diferentes perspectivas e clientes.

    Qualidade percebida pelo consumidor como design, acessrios, itens de conforto e

    qualidade no percebida pelo consumidor que ser identificada apenas se o produto

    apresentar alguma no conformidade, como mau funcionamento, quebras, rudos.

    Para o cliente interno, qualidade de fabricao significa processos robustos com

    capacidade de produzir produtos com repetibilidade dentro de especificaes

    factveis de produto. cada vez maior a necessidade de produtos com baixa

    variabilidade devido ao risco qualidade e a eficincia operacional de montadoras e

    fornecedores. Conforme Deming (1990), a produtividade realmente aumenta com a

    reduo da variabilidade.

    A reduo de problemas de qualidade em campo, possibilita melhores resultados de

    satisfao dos clientes com consequente melhora da percepo de qualidade do

    consumidor perante a marca. Possibilita tambm, uma reduo de custos de

    fabricao e uma maior flexibilidade para reagir com preos mais competitivos, de

    acordo com o cenrio de mercado no qual est inserida a empresa.

    A tentativa de se impor uma reduo de variabilidade pela especificao apertada de

    caractersticas de produto far com que os responsveis pela manufatura

    desenvolvam processos mais robustos, capazes e caros para se atender a

    especificaes definidas. Por outro lado, se no houver um consenso sobre a

  • 12

    viabilidade do conceito, o resultado pode ser um retrabalho significativo durante o

    ciclo de vida do produto.

    2.3 Premissas de projeto de produto para o processo

    O desenvolvimento dos processos produtivos se inicia quase ao mesmo tempo dos

    conceitos iniciais de produto devido a necessidade de se analisar a viabilidade

    tcnica de manufaturabilidade. A partir da avaliao dos desenhos ou modelo em

    Clay, engenheiros de manufatura, principalmente das reas de estamparia e

    armao de carrocerias, participam dos times de engenharia simultnea para dar

    viabilidade a conceitos de design ou novos conceitos de montagem de carrocerias.

    No muito diferente a realidade dos engenheiros responsveis pela rea de

    montagem final, pois estes devem avaliar as caractersticas de modularizao e

    viabilidade de conceito de componentes que sero montados na carroceria.

    Apesar de inicial, esta fase crucial para o desenvolvimento de conceitos de

    produtos para se avaliar e definir antes do incio dos desenhos, os conceitos de

    produto e concepo do processo produtivo, possibilitando desta forma o projeto de

    processos mais enxutos, flexveis e padronizados.

    Apesar de totalmente interligado, o desenvolvimento do detalhamento das

    caractersticas dos componentes internos do veculo segue um caminho diferente

    dos externos, que tm envolvncia do estilo. Enquanto o design faz o

    desenvolvimento e aprovao das caractersticas de superfcie do veculo, tais como

    partes externas da carroceria, dimenses gerais, design do painel de instrumentos e

    faris, os times de desenvolvimento ou em muitos casos os fornecedores, esto

    fazendo o desenvolvimento das caractersticas intrnsecas do produto como

    componentes internos, funcionais e estruturais do veculo. Definem tambm detalhes

    como materiais, espessura e subdiviso de partes. A definio destas caractersticas

    o que vai definir a condio de manufaturabilidade do produto.

    2.4 Pontos de referncias para o processo

  • 13

    Com a definio da diviso das partes internas que iro compor a carroceria,

    definida a sequncia de montagem e a partir deste ponto possvel definir a

    seqncia de processo. Engenheiros de produto, de manufatura e qualidade podem,

    a partir deste momento, iniciar a definio dos pontos de referncia de montagem

    dos componentes.

    Esta uma definio de extrema importncia para a qualidade e flexibilidade final do

    produto, pois estes pontos representam a possibilidade de fabricar peas

    estampadas, soldar componentes, montar e medir componentes da forma adequada

    e com qualidade.

    Pontos de referncia so caractersticas fsicas das peas, tais como furos e

    superfcie por onde so apoiadas e referenciadas, trazendo as peas para a posio

    de montagem ou medio. Todo o sistema de coordenadas, nos seis graus de

    liberdade, e por consequncia todos os pontos de medio passam a ser baseados

    nestes pontos.

    Deve-se definir os pontos de referncia nas partes mais estveis dimensionalmente,

    pois estes sero as referncias de montagem e medio dos futuros componentes.

    A posio deste ponto de referncia est diretamente relacionado s caractersticas

    construtivas como forma, espessura e o conceito de fabricao.

    O projeto de peas unitrias e conjuntos deve levar em considerao o

    posicionamento destas referncias para que seja possvel seu uso repetitivo, sem

    troca de referncias durante as operaes produtivas, o que pode adicionar

    variabilidade do processo produtivo ao produto. Para montagem final, da mesma

    forma, as referncias devem ser usadas para a formao dos mdulos e sua

    montagem na carroceria.

    A discusso tcnica gerada nesta fase de fundamental importncia para se

    predizer o comportamento dimensional do produto, pois para se definir pontos de

    referncia de montagem necessrio avaliar todo o conceito de montagem do

    veculo e a forma como seus componentes vo se relacionar.

  • 14

    2.5 Relaes funcionais

    Quando peas, conjuntos ou mdulos vo ser montados em um veculo, estes

    necessitam se encaixar nos vos correspondentes da carroceria. Mdulos so

    formados por diversos componentes e sua montagem deve respeitar certos limites

    de variabilidade. Da mesma forma, diferentes pontos da carroceria podem estar em

    contato com uma mesma pea e a dimenso desta pea se estender at o outro

    lado do veculo.

    A determinao dos limites de variabilidade de mdulos e vos correspondentes de

    carroceria deve ser feita para permitir que a sua montagem ocorra da forma

    adequada, sem retrabalhos ou desvios que podem comprometer o desempenho do

    produto.

    Quando a montabilidade de dois conjuntos depende da variabilidade de diversos

    componentes, faz se necessrio uma avaliao de tolerncias para determinao da

    variabilidade dos conjuntos, do produto final e do resultado da montagem com

    relao a uma especificao de produto. Existem diversos mtodos de avaliao de

    tolerncias. Estes mtodos sero discutidos no captulo 3. Relaes funcionais esto

    relacionados ao conceito de montagem funcional ou montagens deformveis,

    assunto discutido tambm no captulo 3.

    2.6 Fase de lanamento

    A fase de lanamento representa o desafio de atestar a condio adequada de

    fabricao do produto, alm de identificar novos problemas com o produto em

    condies definitivas de operao. Grande foco dado pela administrao a

    estabilizao de processos para fabricao de componentes dentro das

    especificaes de produto e qualidade, devido a necessidade de atender os prazos

    de projeto e colocar o produto no mercado.

    Dada a complexidade de desenvolvimento de um produto como um veculo

    completo, a falta de avaliao de problemas de qualidade dimensional durante o

    projeto resulta em um grande volume de problemas nas fases de lanamento, pois

  • 15

    perde-se a rastreabilidade de problemas potenciais que deveriam ser discutidos na

    fase de desenvolvimento de conceito.

    As figuras 2.6 a e b ilustram os componentes principais envolvidos na construo de

    uma carroceria, sem considerar elementos como pequenos suportes para fixao de

    componentes de motor ou acabamento.

    Figura 2.6 Elementos bsicos de construo de uma carroceria.

  • 16

    Figura 2.6 Elementos bsicos de construo de uma carroceria (continuao).

    A maior parte dos problemas so eliminados durante a fase de lanamento, mesmo

    que com elevados custos de modificao, mas existe a possibilidade de no se

    conseguir resolv-los e ainda de se tornarem problemas crnicos durante o ciclo de

    vida do produto.

    Especial ateno dada a avaliao criteriosa dos problemas. Deve-se identificar

    quais problemas so de fato relevantes sob o ponto de vista de conceito ou se so

    resultado de um processo instvel. Conforme Deming (1990) pode-se formular duas

  • 17

    fontes de perda devido a confuso entre causas comuns e especiais: atribuir uma

    variao a uma causa especial, ou atribuir uma causa especial a uma variao

    (causa comum).

    A definio clara de valores de tolerncia em projeto, permite aos reponsveis pelo

    lanamento identificar com maior rapidez e facilidade problemas de fabricao, pois

    os fatores crticos esto previamente identificados.

    Nos projetos seguintes procura-se diminuir a incidncia de problemas, mas a prtica

    mostra que frequentemente muitos ou, em alguns casos, os mesmos problemas

    voltam a acontecer por falta de uma sistemtica de desenvolvimento com foco na

    qualidade dimensional. A questo como integrar de maneira sistmica as

    caractersticas dimensionais dos componentes de forma a identific-los nas fases

    anteriores de projeto, possibilitando s reas tcnicas explorar alternativas de

    eliminao, conteno e controle de problemas, podendo ainda modificar conceitos

    de produto identificados como crnicos sob o aspecto dimensional.

    Para isso, necessrio um sistema de projeto que possibilite o uso de ferramentas

    que identifiquem requisitos dimensionais importantes para uma fabricao eficiente e

    atestem, por meio de simulaes, a sua futura condio em processo. Deming

    (1990) salienta que a qualidade deve existir no produto j na fase de projeto. Todo

    produto deve ser encarado como parte de um todo. Depois que os planos j esto

    sendo executados, pode ser tarde demais.

    Conforme Gerth e Baron (2003), os grupos de design, estamparia, montagem,

    lanamento, fornecedores de ferramentas, fornecedores de equipamentos de

    montagem e fornecedores de peas estampadas podem melhor se interagir quando

    dentro de uma estrutura formalizada e com a devida metodologia.

    Nos captulos 3 e 4 so propostas respectivamente ferramentas e sistemtica para o

    desenvolimento de projetos com vista a qualidade dimensional de projeto.

  • 18

    3. FERRAMENTAS DE ANLISE DIMENSIONAL NO

    DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E PROCESSOS.

    O desenvolvimento de uma avaliao de tolerncias requer um conhecimento bsico

    sobre conceitos dimensionais e ferramentas de anlise. Conceitos dimensionais

    esto relacionados a tcnicas de controle de variao, ou seja, comportamento

    dimensional de componentes e tcnicas de representao e identificao de

    tolerncias. A informao sobre as caractersticas, valores e efeito das tolerncias

    no produto fundamental para o modelamento de uma anlise, j que os valores de

    tolerncia se compem de um dos dados de entrada para o processo de construo

    de um modelo.

    As ferramentas de anlise so compostas por anlises numricas e/ou geomtricas

    de diferentes tipos feitas por meio de softwares disponveis no mercado. A seleo

    da ferramenta vai ocorrer de acordo com a necessidade de anlise identificada ou

    possibilidade de investimento e recursos disponveis.

    O conhecimento e disponibilidade de ferramentas dimensionais se caracterizam

    como elementos bsicos para o desenvolvimento de uma anlise de tolerncia. Sua

    execuo deve, no entanto, ser feita com uma metodologia adequada para facilitar a

    identificao de elementos de influncia, construo do modelo de anlise, alm de

    evitar a ocorrncia de erros na construo do modelo.

    O objetivo deste captulo identificar o conhecimento necessrio para identificar,

    extrair e organizar as informaes dimensionais do produto, descrever as

    ferramentas de anlise de tolerncias disponveis e apresentar uma metodologia

    para que a anlise possa ser feita de maneira estruturada.

    3.1 Conceitos e ferramentas de avaliaes dimensionais .

    3.1.1 Variabilidade

  • 19

    Todo componente manufaturado possui variao dimensional. No caso da indstria

    automobilstica, o controle da variabilidade tem grande importncia por possibilitar

    processos estveis e bons valores de produtividade.

    A variao pode ser oriunda de diversos fatores. Dentre estes fatores pode-se citar

    os que exercem influncia sobre processos produtivos como meio ambiente,

    variao devido a troca de ferramentas, diferentes ajustes de processo, desgaste

    natural de ferramentas, manuteno, ou ainda variao de caractersticas de matria

    prima.

    O conhecimento de variabilidade importante para o projetista de produto, para que

    seja possvel prever o comportamento dimensional da pea, com relao ao

    conjunto veculo. Parkinson (1995), examinou como modelos de engenharia podem

    ser usados para desenvolver projetos robustos, que toleram variao. Estes modelos

    podem predizer a performance e controlar o efeito da variabilidade no projeto.

    Ainda segundo Parkinson (1995), contabilizar a variao dimensional essencial

    para o desenvolvimento de produtos de classe mundial. Virtualmente, cada desenho

    de engenharia est sujeito a variao que pode ser oriunda de diversas causas,

    incluindo operaes de manufatura, propriedades do material e meio ambiente

    operacional. Quando a variao ignorada, projetos no robustos podem resultar

    em produtos caros para se produzir ou que falham em servio.

    Para carrocerias, Lee (1998) exemplifica como a variao dimensional em

    carrocerias e partes mveis um fator crtico relacionado a funcionalidade de uma

    carroceria e produtividade de um processo de montagem. Baixa integridade

    dimensional vai causar problemas funcionais como entrada de gua, rudo de vento

    e excessivo esforo de fechamento de portas. Elevada variao dimensional de

    carroceria ou partes mveis vai tambm causar problemas de montabilidade nos

    processos de ajustes com consequentes resultados baixos de produtividade.

    A ocorrncia de variao dimensional pode ser classificada em duas formas:

    variao devido a causas comuns e variao devido a causas especiais.

  • 20

    Variao devido a causas comuns se constitui da somatria de variaes aleatrias

    dos diversos parmetros de processo. Devido a caracterstica aleatria deste tipo de

    variao ela a mais difcil de reduzir e pode requerer uma mudana em processo.

    Por outro lado, variao devido a causas especiais o resultado de comportamento

    no aleatrio especfico de alguns parmetros no processo. Uma troca de

    ferramenta, por exemplo, representa uma causa especial, por causar um desvio nas

    medidas dimensionais.

    3.1.2 Controle estatstico de processo

    Os valores de variabilidade so obtidos com informao de processo e para isso

    deve-se recorrer a tcnicas de avaliao de medidas de processo que possibilitem a

    obteno de uma informao segura de variabilidade, para a adoo de valores de

    projeto com base na avaliao de peas e processos semelhantes.

    Conforme Kawlra (1994), as folhas de controle estatstico de processo foram

    introduzidas por Shewhart em 1920 para ajudar a entender e controlar os processos

    de manufatura, baseado em inspeo peridica de uma pequena e representativa

    parte da produo. Uma folha tpica tem os limites de controle superior e limite de

    controle inferior. Os limites de controle so dirigidos pela variabilidade natural do

    processo (medido pelo desvio padro ) e no a especificao no desenho da pea.

    Os grficos X e R so normalmente usados para controlar o valor mdio e

    variabilidade de uma caracterstica dimensional. Para obter limites de controle

    suficientes e precisos, uma regra comum ter pelo menos 25 subgrupos de cinco

    partes.

    Softwares de avaliao de dados dimensionais esto disponveis no mercado e

    permitem obter relatrios dimensionais com elevada preciso, incluindo a emisso

    de relatrios de diversos lotes de produo, facilitando a comparao e avaliao de

    informaes de status dimensional de componentes. importante que o projetista

    faa uso adequado das tcnicas de avaliao, para que seus valores possam ser

    levados em considerao no projeto da maneira adequada.

    3.1.3 Capacidade de processos, CP e CPK.

  • 21

    Os ndices CP e CPK representam os indicadores estatsticos das variaes e

    desvios dimensionais. CP ou capacidade de processos indica o quanto o processo

    est variando em relao ao seu campo nominal de tolerncias. CPK indica o quanto

    a variao de processo est desviada do valor nominal.

    Figura 3.1 Representao grfica de desvio e variao.

    Um pr-requisito para avaliao da capacidade de um processo que o mesmo

    deve estar em estado de controle estatstico. Isto significa que os grficos de

    controle estatstico esto sendo controlados e, se qualquer ocorrncia fora de

    controle for observada esta deveria ter uma causa registrada. Desta forma, para

    caracterizar de maneira realista a capacidade de um processo, os valores de CP e

    CPK devem ser conhecidos.

    A importncia destes indicadores representarem numericamente o que um

    processo capaz de produzir com relao s tolerncias dimensionais e diferenciar

    o que a variao natural do processo de um desvio aleatrio, ou uma causa

    especfica. O domnio destas informaes de grande importncia para a anlise de

    tolerncias, por definirem caractersticas de variabilidade de tolerncias unitrias que

  • 22

    sero colocadas no clculo estatstico, influenciando diretamente o resultado do

    clculo.

    Kawlra (1994), explicou em seu trabalho que com a nfase cada vez maior em

    qualidade, a comunidade do produto tem constantemente apertado os valores de

    tolerncias dimensionais para obter melhores montagens. Como conseqncia, os

    engenheiros automotivos tem demandado capacidade de processo cada vez maior

    para novos equipamentos. O custo de investimento (mquinas e dispositivos com

    mais preciso) e custo unitrio de manufatura (troca freqente de ferramentas e

    sistemas de compensao mais sofisticados) para obter estas tolerncias tem

    subido de maneira dramtica.

    Bulba (2003), descreveu os valores adequados para CP e CPK, que so 2,0 e 1,5

    respectivamente.

    A tabela 3.1 detalha a relao entre valores de CPK e quantidade de defeitos por

    milho:

    Tabela 3.1 Relao entre valores de CPK e quantidade de defeitos por milho.

    Convm salientar que os valores de CP e CPK tm uma relao direta com o valor

    da tolerncia, ou seja, projetos com tolerncias mais abertas tero maior facilidade

    de atingir os valores adequados quando comparados aos com tolerncias mais

    apertadas.

  • 23

    3.1.4 Tolerncias

    Entende-se por tolerncias o desvio ou variao dimensional permissvel, de um

    componente em relao ao seu valor nominal. Um projeto normalmente iniciado

    com os desenhos em seu valor nominal, mas responsabilidade do projetista atribuir

    valores de tolerncias nos desenhos de acordo com requisitos construtivos,

    funcionais e de fabricao do produto.

    No caso de um produto automobilstico, cada componente tem interfaces ou ajustes

    com diversos outros componentes e todos esto sujeitos a variaes nos seis graus

    de liberdade. Este fato torna complexa a tarefa de atribuir tolerncias de desenho s

    caractersticas fsicas de produto. Como conseqncia, prtica comum nos

    desenhos a definio das tolerncias gerais de fabricao com tolerncias

    apertadas, para evitar eventuais problemas de fabricao ou montagem do produto.

    Peas com tolerncias muito apertadas podem ser difceis de aprovar. Por outro

    lado, peas com tolerncias muito abertas podem trazer um problema funcional ou

    qualitativo. Por isso, a deciso sobre a reduo de tolerncia de um componente,

    deve ser tomada com critrio. Havendo a necessidade de apertar a tolerncia de

    uma caracterstica fsica de um componente, deve-se fazer especificamente para

    esta caracterstica e no para todo o componente.

    Chase e Greenwood (1998), mencionaram que a aplicao adequada de tolerncias

    dimensionais para partes manufaturadas est se tornando reconhecida pela

    indstria como um elemento chave nos esforos para melhorar a produtividade.

    Modestos esforos nesta rea podem render significantes redues de custos com

    pouco investimento. o primeiro exemplo do sucesso que resulta de se incluir

    consideraes de manufatura nos estgios iniciais de projeto. A anlise de

    tolerncias uma ferramenta valiosa para reduzir os custos de manufatura por

    melhorar a produtividade.

    Kawlra (1994) complementou que tolerncias realistas que so nem muito apertadas

    ou muito abertas so muito difceis de definir sem conhecimento de manufatura.

    Como exemplo, para um novo produto fabricado em um equipamento j existente,

  • 24

    diferenas em material, forma e dimenses (rigidez) da pea, ou ferramenta, sero

    suficientes para resultar em uma mudana nas tolerncias. Dada uma tolerncia

    especifica para uma caracterstica, a manufatura tenta selecionar o processo menos

    oneroso que produzir peas dentro da tolerncia especificada.

    Se as tolerncias so muito apertadas, a planta encorre de um investimento inicial

    alto para a compra de equipamentos caros e mtodos para assegurar que as

    tolerncias sero atingidas. No dia a dia de operaes isto pode significar freqentes

    ajustes de ferramentas e mquinas, ou maior refugo e custo de retrabalho. Por outro

    lado, se as tolerncias so muito abertas, o produto pode no funcionar de maneira

    adequada. Isto levaria a maiores custos de garantia e insatisfao do cliente.

    3.1.5 Liguagens cartesiana e geomtrica de representao e identificao de

    tolerncias.

    3.1.5.1 Linguagem geomtrica Linguagem geomtrica, ou GD&T (geometrical design & Tolerancing)

    regulamentada pela norma ASME Y14.5 de 2009 e se constitue de uma linguagem e

    representao simblica para indicar requisitos dimensionais de peas e montagens

    de maneira clara e padronizada, facilitando a comunicao entre especialistas. Tem

    sido usado ao longo de muitos anos pelas indstrias automobilsticas americanas e

    aeronuticas. A ASME Y14.5 2009 semelhante a norma ISO 1101 GPS.

    Figura 3.2 Representao de referncias e tolerncias pelo mtodo geomtrico.

  • 25

    As tolerncias geomtricas podem ser classificadas como de forma, orientao e

    posio. A figura 3.4 demonstra os smbolos e caractersticas das tolerncias

    geomtricas.

    Figura 3.3 Representao grfica de tolerncias de forma, orientao e posio.

    (ISO 1101 GPS Geometrical Product Specification )

    3.1.5.2 Linguagem cartesiana

    A linguagem cartesiana faz uso do sistema global de coordenadas, demonstrado na

    figura 3.5, que se constitui de trs planos ortogonais atravessando o veculo nos

    eixos X, Y e Z. O sistema global de coordenadas est relacionado forma de

    localizao dos componentes no espao. A localizao das referncias dos

    componentes nos trs eixos ortogonais permite identificar a localizao exata dos

  • 26

    componentes no projeto do veculo. Permite tambm localizar as referncias no

    espao para a confeco do processo de manufatura e acolhedores para controle

    dimensional, dentro de um sistema de coordenadas unificado.

    Figura 3.4 Sistema global de coordenadas.

    Esta caracterstica faz do sistema cartesiano uma ferramenta atrativa para empresas

    automobilsticas, pois possvel desenvolver o projeto do produto, processo de

    fabricao e acolhimento de medio no mesmo sistema de referncias.

    As tolerncias das peas unitrias estaro da mesma forma, relacionadas aos

    pontos de referncia da pea e estes pontos localizados, se possvel, fisicamente

    paralelos ao sistema global de coordenadas.

  • 27

    Figura 3.5 Representao de referncias e tolerncias pelo mtodo cartesiano.

    3.1.6 Tolerncias de dimenso e posio.

    Peas podem apresentar variaes nas dimenses de suas caractersticas fsicas

    como formas ou furos, ou estar com estas dimenses deslocadas em relao a suas

    referncias. Esta a diferena entre tolerncias de dimenso ou tolerncias de

    posio. A identificao das duas caractersticas de tolerncia em um componente

    relevante para uma anlise de tolerncias devido a possibilidade das duas

    caractersticas se somarem no mesmo componente. Estas caractersticas de

    variao ocorrem em componentes mecnicos independentemente do sistema de

    tolerncias adotado (GD&T ou Cartesiano).

    3.1.7 Zona de tolerncia de posio cartesiana e cilndrica.

    Uma diferena significativa entre tolerncias cartesianas e geomtricas est no

    ganho de tolerncia com a zona de tolerncia circular. Este ganho pode ser

    identificado na figura 3.7, com a sobreposio grfica de dois pontos, um em cada

    conceito. A rea quadrada identifica o campo de tolerncia cartesiano, e o crculo o

    campo geomtrico. As regies na cor cinza identificam o campo de tolerncia no

    usado pelo sistema cartesiano, para o mesmo valor final de tolerncia. O ponto final

    de tolerncia identificado pelo ponto de encontro entre diagonal do quadrado e o

    crculo circunscrito.

  • 28

    Figura 3.6 Zona de tolerncia de posio cartesiana e geomtrica.

    Existe desta forma, uma correlao de valores entre as tolerncias geomtricas e

    cartesianas. Esta correlao pode ser vista na tabela 3.2.

    Tabela 3.2 Correlao entre valores de tolerncias geomtricas e cartesianas.

    3.2 Anlises de tolerncias

    3.2.1 Cadeia de tolerncias

    No processo de desenvolvimento de produtos, as peas unitrias de um veculo so

    desenvolvidas com tolerncias dimensionais projetadas a atender seus requisitos

    tcnicos, funcionais, de viabilidade de manufatura e qualidade. Estes componentes

    de diferentes reas de desenvolvimento ou at empresas devem convergir na forma

    de um produto final. Sob o aspecto dimensional esta integrao resulta na somatria

    de variaes dimensionais unitrias.

  • 29

    Para construir um modelo de anlise de tolerncias, deve-se identificar todos os

    componentes que exercem influncia sobre os resultados do clculo. Esta

    identificao deve levar em considerao os componentes que compem o produto,

    a seqncia de montagem e a seqncia de processo. A variao final resultante

    funo da somatria das variaes que a compe, e esta somatria chamada de

    cadeia de tolerncias. Uma cadeia de tolerncias esta exemplificada na figura 3.9.

    A construo da cadeia de tolerncias deve ser feita de maneira detalhada,

    respeitando-se as seqncias de montagem do produto e de processo, as interfaces

    entre componentes e as referncias de processo. Deve-se tambm avaliar as trocas

    de referncias durante o processo produtivo. Seu sentido da variao especificado

    para verificar se representa um aumento ou diminuio do campo de tolerncias em

    anlise.

    Figura 3.7 Cadeia de tolerncias

    Por identificar os componentes que exercem influncia na variao final do produto,

    anlise da cadeia de tolerncias permite obter melhorias no projeto devido

    identificao de caractersticas criticas de construo.

    3.2.2 Anlise de tolerncias e sntese de tolerncias

    No desenvolvimento de uma anlise, engenheiros normalmente enfrentam duas

    situaes ao construir um modelo: determinar a tolerncia resultante de um sistema

    composto por diversos subsistemas ou, com base em uma definio de tolerncia

  • 30

    final, definir a tolerncia mxima dos componentes deste sistema para que o objetivo

    seja atingido.

    A definio das tolerncias resultantes de um sistema d-se o nome de anlise de

    tolerncias. A distribuio de tolerncias nos subsistemas devido a uma

    especificao de tolerncia j conhecida d se o nome de sintese de tolerncias. A

    figura 3.10 exemplifica os casos.

    Figura 3.8 Anlise de tolerncias e sntese de tolerncias

    Os mtodos se diferem principalmente devido aos objetivos da anlise e na

    formulao matemtica para que se chegue a um resultado. Enquanto a anlise de

    tolerncias faz uso de mtodos se soma aritmtica, quadrtica ou estatstica para

    chegar a um resultado, a alocao de tolerncias faz uso de modelos como srie de

    Taylor ou mtodo dos momentos para distribuir o valor entre componentes do

    sistema.

    3.2.3 Tipos de anlise de tolerncias

    3.2.3.1 Anlise pelo pior caso

    O conceito de anlise pelo pior caso est baseado na somatria das variaes dos

    componentes, estando cada um deles no mximo de tolerncia unitria permissvel.

    Desta maneira, a somatria dos valores feita de maneira aritmtica, conforme

    demonstrado na figura 3.11.

  • 31

    O problema deste tipo de clculo reside no fato de que raramente todos os

    componentes estaro no mximo da tolerncia ao mesmo tempo. O resultado do

    clculo apresenta campos de variao bastante grandes e frequentemente no so

    viveis no projeto do produto.

    Deve-se atentar ao fato de que no caso de um projeto com objetivos de tolerncia

    muito apertados, com sub-componentes com elevado potencial de ultrapassar seus

    limites, ou algum que apresente um desvio excessivo, a probabilidade de o resultado

    ser maior aos limites de projeto ser grande. Para tens de segurana aonde no

    deve existir a possibilidade de variao acima de certos limites, recomenda-se o uso

    de anlises aritmticas.

    Uma caracterstica da anlise aritmtica possibilitar a identificao e locao das

    tolerncias, facilitando a identificao da cadeia de tolerncias para um posterior

    clculo estatstico.

    Figura 3.9 Somatria de tolerncias pelo pior caso.

    3.2.3.2 Anlise estatstica

    Ao se deparar com uma situao de projeto que existir dificuldade de se atingir o

    valor de tolerncia necessrio, comum apertar as tolerncias dos subsistemas

    para se atingir o valor final adequado. Esta prtica resulta em tolerncias difceis e

    caras de se produzir, com potencial de retrabalho e desperdcios de produo.

  • 32

    A principal caracterstica da anlise de tolerncias estatstica considerar a

    variabilidade de todos os componentes que compem a cadeia. Desta forma,

    dificilmente todos os componentes estaro na sua tolerncia mxima

    simultaneamente. Neste caso, com o indicado na figura 3.12, cada elemento

    representado por uma variao estatstica unitria. Mesmo que um dos

    componentes tenha um valor de variao maior que o permitido, o valor de outro

    componente absorve este excesso por estar abaixo do seu limite ou no sentido

    oposto de variao.

    Figura 3.10 Cadeia de tolerncias estatstica.

    Anlises estatsticas podem ser feitas por mtodos de integrao numrica ou

    avaliaes pelo mtodo de Monte Carlo, com base em geradores randmicos. Pelo

    clculo numrico, a definio do tipo de variao estatstica de cada um dos

    componentes (CP e CPK) de fundamental importncia, pois cada um apresenta

    um comportamento estatstico especfico.

    A definio do comportamento estatstico das tolerncias de dimenso de um

    componente, pode ser definida segundo ferramentas estatsticas descritas

    anteriormente. A definio de seus valores na fase de projeto se torna complexa,

    pois um novo componente pode possuir caractersticas fsicas como espessura,

    forma geomtrica e processos de fabricao diferenciados. Neste caso, o

    comportamento estatstico das tolerncias atribudo com base em padres ou na

    experincia dos projetistas. De grande utilidade neste momento a utilizao de

  • 33

    banco de dados de tolerncias dimensionais, normalmente disponveis nos

    departamentos de medio de componentes, devidamente avaliados

    estatisticamente com uso de softwares ou ferramentas matemticas, que serviro de

    base para deciso.

    3.2.3.3 Anlise em um grau de liberdade

    Este tipo de analise pressupe que todas as variaes so lineares, ou seja, esto

    ocorrendo no mesmo plano ortogonal. Se uma medida no estiver no plano

    estudado, ser necessrio projetar sua variao para o plano em anlise.

    As anlises em um grau de liberdade possibilitam rpidas avaliaes, pois seu

    modelamento simples quando comparado com outros tipos de anlise. Seu

    modelamento deve, no entanto, seguir critrios semelhantes aos das anlises mais

    complexas para garantir a construo correta do modelo.

    3.2.3.4 Anlise nos trs graus de liberdade

    Devido s caractersticas fsicas dos componentes automobilsticos, a variao

    normalmente ocorre nos trs sentidos ortogonais. Como resultado, a variao de um

    componente em um sentido ortogonal exerce influncia sobre outro sentido se a

    superfcie dos componentes tem um perfil complexo.

    Para desenvolver a anlise 3D, softwares fazem uso de geradores randmicos de

    medidas e com isso conseguem reproduzir a variabilidade de processo. A

    recomendao do fornecedor do software simular no mnimo 5000 operaes de

    montagem com base na gerao randmica. Este volume de operaes adequado

    para que os resultados estatsticos extrados desta simulao possam ser confiveis.

    A concluso numrica do clculo ento feita com anlise de Monte Carlo.

    Softwares 3D permitem visualizar a variao dimensional por meio de animao,

    possibilitando demonstrar o efeito do acmulo de tolerncias no produto final. Esta

    ferramenta facilita a identificao e demonstrao de problemas dimensionais sendo

    tambm de grande utilidade para aplicao em projetos como a fbrica digital.

  • 34

    3.2.4 Fator geomtrico.

    Um benefcio das anlises em ambiente 3D geomtricas a avaliao do chamado

    efeito geomtrico ou Geofactor. Este efeito ocorre quando uma pea apoiada em

    uma pequena superfcie deve ser alinhada com relao a uma caracterstica externa

    muito maior do que esta superfcie. Ocorre neste caso, uma ampliao da tolerncia

    devido ao fator geomtrico. Na figura 3.14 possvel observar graficamente o

    aumento do campo de tolerncia +-Z para +- Z, devido relao entre as medidas

    Y1 e Y2.

    Figura 3.11 Aumento do campo de tolerncia devido ao fator geomtrico.

    3.2.5 Anlise de sensibilidade

    Um dos dados de sada da anlise de tolerncias o diagrama de Pareto. Com ele,

    pode-se avaliar a contribuio de cada tolerncia para o resultado final e identificar

    em qual medida atuar inicialmente para obter resultados significativos. A Figura 3.15

    exemplifica um resultado de contribuio aritmtica e estatstica resultante da

    avaliao de uma cadeia de tolerncias com 7 elementos.

  • 35

    Figura 3.12 Anlise de sensibilidade.

    3.2.6 Montagens deformveis

    A anlise de tolerncias por modelos matemticos est baseada na condio de que

    a contribuio de cada componente est relacionada apenas a sua tolerncia

    unitria, e que estes elementos no sejam deformados pelas foras geradas nas

    montagens. O conceito de montagens deformveis ou Compliant Assemblies leva

    em considerao a resistncia e deformao nas peas.

    O foco do conceito de montagens deformveis est na confeco de carrocerias,

    pois peas metlicas se deformam de acordo com as tenses geradas no processo,

    mas o conceito pode tambm ser aplicado a componentes plsticos.

    3.2.6.1 Montagem funcional

    Variaes do processo de armao de carrocerias so difceis de predizer e por isso,

    com base no conceito de montagens deformveis, recomenda-se definir as

    tolerncias de medidas apenas aps a avaliao dos resultados de processo, e/ou

    um veculo avanado. Os valores iniciais so estimados com base na experincia de

    projetos anteriores e sero atestados ou revisados nos veculos de pr srie.

    Hammet, Wahl e Baron (1999), descreveram o conceito de montagem funcional para

    montagens complexas que levam em considerao o critrio de flexibilidade de

  • 36

    peas metlicas como alternativa ao mtodo seqencial de aprovao de

    componentes, depois pr montagens, e finalmente o produto acabado, que resultam

    em tolerncias apertadas devido a tentativa de conter problemas de montagem com

    o acmulo de tolerncias.

    Gerth e Baron (2003), explicam o conceito de montagem funcional praticado por

    empresas americanas, que consiste em assegurar que componentes atendam ao

    seu campo de processo, ao contrrio do campo de tolerncias. Isto acontece porque

    o processo de montagem frequentemente mais robusto perante a variao dos

    componentes. Como exemplo, chapas de metal que desviam do seu nominal

    quando fora do dispositivo ficam muito perto do nominal durante o processo de

    montagem por estarem apoiadas e posicionadas por grampos no processo de solda.

    Majeske e Hammet (2000), complementam que durante o processo de

    desenvolvimento, fabricantes tipicamente vem especificaes de projeto como

    requisitos no flexveis. Esta abordagem est baseada num dos princpios

    fundamentais do moderno controle de qualidade: para produzir produtos finais

    dentro da especificao, deve-se usar componentes dentro da especificao. De

    uma perspectiva estatstica, isto implica que a varincia e mdia do comportamento

    dimensional so somadas no processo de montagem. Para componentes rgidos

    esta colocao verdadeira. Entretanto para componentes no rgidos podem

    mudar a sua forma durante um processo de montagem.

    Aguardar para definir caractersticas dimensionais nas fases de laamento pode ser

    conveniente, por usar dados reais de produto e processo. , no entanto,

    fundamental que o conceito do produto j tenha sido concebido e avaliado na fase

    virtual levando-se em considerao a variabilidade admissvel em processo. Na fase

    de lanamento, quando produto e o processo j se encontram concludos, qualquer

    modificao representar custos elevados.

    Os cuidados na especificao de projeto dos componentes e dos seus futuros

    processos produtivos leva a processos mais estveis, evitando a somatria de

    desvios, o que pode ser prejudicial a qualidade final mesmo se considerada a

    deformao de componentes com base no conceito de montagens funcionais. Se for

  • 37

    identificada a possibilidade de se trabalhar com tolerncias mais abertas devido a

    montagens deformveis, sem influenciar os requisitos do produto, estas

    modificaes podero ser implementadas no projeto e no processo por representar

    uma economia de recursos para a empresa.

    Gerth e Baron (2003) acrescentam que a carroceria de um veculo o sistema mais

    complexo para projetar e produzir. Requer a coordenao de muitos grupos

    separados (design, estampabilidade, montagem, lanamento, fornecedores de

    ferramentas, fornecedores de equipamentos de montagem, fornecedores de peas

    estampadas) sobre restries de prazo para construir um sistema de manufatura que

    no bem entendido.

    Uma implicao prtica da adoo de medidas devido a imprevisibilidade de

    resultados so as medidas funcionais de carroceria, discutidas no captulo 2. As

    medidas funcionais permitem verificar a variabilidade de processos semelhantes,

    ajudando adotar um valor inicial para os clculos de tolerncia se o valor definitivo

    de uma montagem deformvel ainda desconhecido.

    Existem no mercado softwares para anlise de variao de elementos deformveis,

    que fazem uso de anlises por elementos finitos e possibilitam avaliar a deformao

    de conjuntos em diferentes etapas do processo produtivo. Possibilitam tambm

    avaliar e visualizar a deformao elstica de conjuntos quando so retirados do

    dispositivo de geometria.

    3.3 Processo de anlise de tolerncias.

    A aplicao de anlise de tolerncias no projeto automobilstico requer a adoo de

    uma sistemtica para possibilitar identificar e organizar os dados dimensionais de

    acordo com o conceito de produto e sequncia de processo.

    Com o modelo de anlise construido, possivel fazer uma avaliao crtica para se

    optar por diferentes ferramentas de clculo de acordo com o tipo de anlise

    necessria, software disponvel e/ou prazos de desenvolvimento.

  • 38

    O primeiro fator a considerar a definio clara da dimenso a ser avaliada, que

    pode ser a resultante da somatria de variaes ou um dos elementos da somatria.

    Esta dimenso nem sempre est especificada ou conhecida, e para isso pode ser

    necessrio recorrer a ferramentas para identificar quais as medidas relevantes para

    o produto. Esta ferramenta denominada avaliao de interfaces ser descrita no

    capitulo 4.

    Deve-se identificar o conceito de produto, ou seja, a diviso e sequenciamento de

    partes, os pontos de referncia e tambm as tolerncias de forma e posio. Estas

    informaes sero usadas para identificar ou definir a seqncia de processo. Com

    base em todas as informaes de produto e processo descritas, ser definida a

    cadeia de tolerncias que serve de modelo para colocao dos dados no software.

    O processo de detalhamento das caractersticas dimensionais de produto e processo

    para anlise de tolerncias, j um beneficio qualitativo para o projeto, por obrigar a

    detalhar conceitos construtivos que poderiam passar despercebidos. A figura 3.16

    apresenta o fluxograma do processo de anlise de tolerncias.

  • 39

    Figura 3.13 Processo de anlise de tolerncias

    Conforme Lee (1998), um dos esforos usados para melhorar a qualidade

    dimensional e manter os custos a nveis competitivos aplicar anlise de tolerncias

    no projeto de produtos e processos. Anlise de tolerncias um mtodo usado para

    acumular tolerncias de componentes individuais em uma montagem nas etapas

    iniciais de design. um mtodo importante para verificar se o empilhamento das

    tolerncias propostas para os componentes aceitvel para um produto, baseado

    em especificaes atestadas.

    3.4 Consideraes.

    Neste captulo foram apresentados o conhecimento bsico, as ferramentas e a

    sistemtica para o desenvolvimento de anlises de tolerncias. As ferramentas

    possibilitam predizer o comportamento dimensional do produto, integrando

  • 40

    componentes de diferentes reas de desenvolvimento com vista a atender requisitos

    tcnicos ou de qualidade. Possibilitam tambm predizer requisitos de processo e/ou

    caractersticas de produto para processo com base no futuro comportamento

    dimensional de produto.

    Desta forma, possvel identificar problemas que seriam descobertos apenas na

    fase de lanamento ou durante a fabricao em srie, que resultariam retrabalhos,

    perda de eficincia operacional ou de qualidade para o cliente final, conforme

    apresentado no captulo 2.

    Existem diferentes ferramentas que devem ser aplicadas de acordo com o tipo de

    anlise a ser efetuada ou recursos disponveis. Estas ferramentas devem, no

    entanto, estar integradas no processo de desenvolvimento de produto, e ser

    aplicadas no momento adequado.

    A aplicao das ferramentas de anlise permite solucionar ou conter um problema

    dimensional, mas existe a possibilidade do problema no ser identificado ou que os

    problemas identificados nas anlises no sejam implementados no projeto ou nos

    documentos de controle. Para isso necessria uma sistemtica que permita

    gerenciar problemas dimensionais.

    O captulo 4 prope uma sistemtica para trabalhar com caractersicas dimensionais

    desde a sua investigao at a sua implementao no projeto ou documentos de

    controle dimensional. No capitulo 5 sero apresentados casos de anlise de

    tolerncias e identificao de problemas dimensionais em projetos reais.

  • 41

    4. SISTEMTICA DE DESENVOLVIMENTO DIMENSIONAL

    APLICVEL AO PROJETO AUTOMOBILSTICO.

    4.1 Desenvolvimento dimensional.

    A identificao de todas as caractersticas dimensionais crticas do produto na fase

    de projeto representa um dos desafios enfrentados pelo projetista de produtos

    automobilsticos. A integrao de um componente com outros sub componentes ou

    conjuntos depende de uma anlise do veculo como sistema e subsistemas,

    integrando variao de todos os componentes envolvidos em um aspecto funcional

    ou qualitativo.

    Esta capacidade de identificao fica, no entanto, condicionada ao conhecimento ou

    bom senso do projetista. Um exemplo de iniciativa para melhorar a possibilidade de

    identificao antecipada de problemas de projeto, foi a criao dos grupos de

    engenharia simultnea. Nestes grupos, especialistas de diferentes reas da empresa

    so colocados em um time de desenvolvimento, e com o conhecimento especfico

    de cada rea contribuem para as informaes de projeto.

    Deve-se, no entanto, orientar um time de engenharia simultnea a prever o

    comportamento dimensional de um produto. O trabalho de diversos especialistas

    trabalhando em conjunto, sem a aplicao de um processo sistemtico de

    identificao de problemas, pode fazer com que problemas potenciais passem

    despercebidos.

    A anlise de tolerncias uma ferramenta de grande utilidade para predizer o

    comportamento dimensional de um produto. Todas as tcnicas de anlise

    apresentadas no captulo 3 so ferramentas eficientes para identificao e soluo

    de problemas dimensionais. A garantia de efetividade das aes identificadas pelas

    ferramentas de anlise de tolerncias vai, no entanto, alm de anlises numricas.

    necessrio um mtodo de trabalho que garanta a identificao, anlise e

    implementao de aes corretivas de caractersticas crticas dimensionais. Este

  • 42

    processo chamado planejamento dimensional. O processo de planejamento

    dimensional vai alm da anlise de tolerncias por garantir a efetividade das aes

    de garantia de qualidade dimensional. A figura 4.1 apresenta o processo de

    planejamento dimensional.

    Figura 4.1 processo de planejamento dimensional.

    Segundo Craig (1996) o planejamento dimensional uma metodologia de

    engenharia combinada com ferramentas de simulao por computador usada para

    melhorar a qualidade e reduzir custos pelo design robusto e variao controlada. O

    objetivo do planejamento dimensional criar um projeto e processos que absorvam

    variao ao mximo possvel sem prejudicar a funo do produto.

  • 43

    4.2 Identificao e avaliao de interfaces

    A somatria de variao dimensional de componentes unitrios que iro exercer

    influncia sobre uma caracterstica de produto se d pelo contato ou interface entre

    peas durante uma seqncia de montagem ou processo produtivo. A avaliao

    cuidadosa destas interfaces representa uma oportunidade de identificar problemas

    dimensionais.

    A aplicao da anlise de tolerncias como ferramenta de desenvolvimento de

    projeto est condicionada a identificao pelos projetistas de caractersticas de

    qualidade do produto. a partir da identificao de um problema que se inicia um

    clculo de tolerncias.

    Problemas de produto e processo esto relacionados a outras caractersticas fsicas

    de produto que podem resultar em dificuldade de montagem ou problemas de

    qualidade. A avaliao das interfaces baseada em critrios e aplicada de maneira

    sistmica permite a identificao de caractersticas crticas de produto que poderiam

    passar despercebidas se feitas de maneira aleatria.

    Para identificar como as peas esto se interligando necessrio conhecer a

    seqncia e as referncias de processo. Com base nestas informaes ser definida

    a formao dos subconjuntos, e conjuntos.

    A avaliao das interfaces se constitui em identificar todos os pontos de contato

    entre as peas e avaliar nos trs sentidos ortogonais do sistema global de

    coordenadas, qual ser o efeito deste contato no comportamento dimensional do

    produto, tendo-se em vista a variao dimensional.

    Esta avaliao permite predizer o comportamento futuro do componente com base

    nos fatores dimensionais que vo alm das tolerncias, e podem at identificar a

    necessidade de anl