haijin de vez em quando
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isaias de faria
haijin de vez
em quando
(haicais)
belo horizonte
porospoesia
2014
2
© Isaias de Faria / porospoesia
Capa, foto da capa, diagramação e revisão: Isaias de Faria
Contatos:
http://isaiasfaria.blogspot.com.br/
Faria, Isaias de
F225s - Haijin de vez em quando
Belo Horizonte: porospoesia, 2014. 72 p.
1.Poesia Brasileira. I.Título
CDD. 869.1
3
“Haijin é a pessoa que faz haikai.
Hai de haikai mais jin de pessoa.
Portanto, poeta.”
Alice Ruiz S.
Haicai: ” Parece fácil e simples. Uma brincadeira.
Três versos sem rima que retratam um instante. Uma
fotografia escrita de um momento, de um lugar.
Apenas três versos, mas que em poucas palavras
devem dizer o suficiente... A aparente simplicidade,
porém, camufla a dificuldade...”
Denise Góes
HAICAI - Ou haikai, ou haiku. Poema japonês breve
que apresenta uma cena ou um evento natural em
linguagem cotidiana. Os termos haiku e haicai podem
ser usados como sinônimos. Muitos autores usam
haicai para denominar o poema japonês feito no Brasil
e haiku para o tradicional poema feito no Japão. O
haiku foi criado pelo mestre Shiki, no século XIX para
designar o poema independente de 5-7-5 sílabas: hai-
cai +hok -ku.
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haicais
5
madrugada com frio
o vigia
a brisa espia
6
na janela espera
e ao seu lado
um vaso de flor
7
se tem pouca lua
tem lampião
se tem lua cheia não
8
um átimo:
a pétala do ipê ao vento
até o chão
9
formiga com asas
evita ficar
longe da luz
10
alísios quase visíveis
na manhã cinzaclaro -
ela treme o queixo
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no chão sem água
o mamoeiro amarelado
resiste calado
12
noite escura
mas os vagalumes
iluminam o capinzal
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da sala de sua árvore
a cigarra
te olha com canto
14
barulho, fanfarra
grilos e rãs
num dia pós-chuva
15
menininho dentro do ônibus
a pampulha passa
e ele chora
16
madrugada em silêncio
os grilos no quintal
quebram o gelo
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no encalço do esmero
de linguagem
velha borracha acaba
18
risco de infância,
ladeiras ladeiras, bicicletas:
combinação perfeita
19
a rã não se contém
a um pulo-bote
na água que paira
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boina fora da cabeça
e a voz do lenin
e c o a
21
esperava você:
por um minuto
veio e foi
22
mesa com 4 pessoas
ela monossilábica
porém, toda sorriso
23
na claraboia pousa
a centopeia
andaluz
24
é outono e faz frio -
se de tardezinha saio
levo minha blusa marrom
25
prato de louça branco
raso e grande
sujo de tomate
26
o que faz a moçoila
adormecer no sofá:
o cafuné ou o dave brubeck?
27
na varanda:
chá de hortelã
e o cheiro do inverno
28
a caminho de ouro preto
neblinas presas
entre montanhas
29
os olhos nada enxergam
mas na calçada ele grita:
adesivos de unhas 1 real
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beijo quente & literatura
sorvete com mel e
patativa do assaré
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tropeço logo peço –
dê-me a mão, galega!
pra que eu a devore
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passar in solitude:
o desejo lá
na orla noturna
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jazzmineiro convivas
dentro e fora do lar –
jazz aqui e acolá
34
rumores de tua volta/
nada a temer/ a não ser/
tua cintura venenosa/
35
chá de maracujá
pra me deixar
menos desatento
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no teu corpo
passar geleia de maracujá
e degustar
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progesterona numa ampola
via correios
praquela mulher sem anseios
38
os poetas dizem ó musa
e eu coloco
teu púbis pra fora
39
pupilas escaldantes
unhas terríveis
pele de veludo inflamável
40
dentro do tênis
meu pé molhado
envelhece mais rápido
41
exalta-me os nervos,
ver purpurinas
nos teus cabelos
42
pomar sem dono
festa à vista
pros meninos da rua
43
depois da sua saliva
na minha saliva
tamarindo não fica amargo
44
road movie na tv:
paro, e fico
querendo partir
45
primavera chegou
sorriso largo
estampa o vestido
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depois do banho
anda pela casa
mas não sai poema
47
teus olhos
roubam cor
de jambo & mel
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haicai para heráclito
rio corrente
entro uma vez
pra nunca mais
49
passarei saudades -
minha deidade,
anda sumida
50
medo de rima
em três linhas:
pobre ou fina?
51
sábado à tarde
tédio de não ter
o balanço da rede
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dez da manhã
teus seios ainda
com cheiro de avelã
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no vasto descampado
o fino capim
espia o tempo
54
na metade da manhã
faz sol e depois
esfria um pouquinho
55
caule de mamona
faz também
bolha de sabão
56
o lilás chegou
nas folhas da castanheira -
já é outono
57
passados os anos,
brancos os cabelos -
nem percebi
58
ela solta na chuva
braços nas nuvens
saia e tomara que caia
59
é uma grande amiga
a copa da mangueira
no verão escaldante
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o sono do gato
mostra-nos
a idade da calma
61
borboleta sobrevoa
de pertinho
meu andar distraído
62
no meio da madrugada
dois amigos bêbados
cantam abraçados
63
no rio abaixo
seu leitmotiv:
a foto da musa
64
(para o poeta cássio amaral)
e ele sorria
porque a cada dia
um ippon se repetia
65
um beijo que pode matar diabético
duna de açúcar
não chega aos pés
da doçura do teu beijo
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dois icebergs no mar
parecem muito
seus seios no inverno
67
vôlei, peteca e bambolê
moça de mãos estendidas
tapas e rebolado
68
quê semântica o quê
eu tô é
cuspindo as palavras
69
acho que sou bem assim
carta que nunca
entrou no baralho
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ainda posso usar
uma colher de sopa
pra regar teus pés
71
pronto. minha saliva pronta
pra lambuzar
tuas tetas transcendentes
72
a cor do dia vai vai
lentamente passa
e o arrebol vira noite