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1 HÁBITOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA Orientadora: Maria Lúcia Bonfleur 1 Professora PDE: Rosana do Rosário Ossucci 2 RESUMO Os hábitos alimentares de adolescentes têm sido objeto de estudo da nutrição. Os resultados dos mesmos sugerem fortemente que os adolescentes apresentam grande vulnerabilidade para a alimentação e formação de hábitos alimentares saudáveis. A falta de conhecimento sobre alimentação e nutrição e sua importância ao organismo, induz ao não desenvolvimento de bons hábitos alimentares e consequente aparecimento de problemas relacionados à alimentação. Vários autores destacam a importância da escola no trato deste tema, como espaço efetivo para a realização de ações educativas que possibilitam ao educando análise e orientação para a reeducação alimentar. Este trabalho objetivou desenvolver com adolescentes das sétimas séries, atividades diversificadas envolvendo seus hábitos alimentares. Ficou explícita a aceitabilidade demonstrada pela participação ativa dos alunos e verificada por meio dos resultados satisfatórios das atividades desenvolvidas. Palavras chaves: Adolescentes, escola, hábitos alimentares ABSTRACT Adolescents nourish habits have been object of study of the Nutrition. The results of the study strongly suggest that the adolescents present great vulnerability for the feeding and formation of healthful alimentary habits. The lack of knowledge on nourishment and nutrition and its importance to the organism, induces to a non-development of good alimentary habits and consequent appearance of problems related to the diet. A great number of authors stand out the importance of the school in the treatment of this subject as the effective space for the accomplishment of educative actions that make possible to educating the analysis and orientation for alimentary re-education. This study was done with students of the 7 th grade and diversified activities were done considering the adolescents alimentary habits. Acceptability was demonstrated by active participation of the students as well as verified through satisfactory results of the developed activities. Key words: Adolescents, school, nourish habits 1 Professora da UNIOESTE, Campus Cascavel. [email protected] 2 Professora C. E. Jd. Maracanã de Toledo, Paraná. [email protected]

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HÁBITOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA

Orientadora: Maria Lúcia Bonfleur1

Professora PDE: Rosana do Rosário Ossucci 2

RESUMO

Os hábitos alimentares de adolescentes têm sido objeto de estudo da nutrição. Os resultados dos mesmos sugerem fortemente que os adolescentes apresentam grande vulnerabilidade para a alimentação e formação de hábitos alimentares saudáveis. A falta de conhecimento sobre alimentação e nutrição e sua importância ao organismo, induz ao não desenvolvimento de bons hábitos alimentares e consequente aparecimento de problemas relacionados à alimentação. Vários autores destacam a importância da escola no trato deste tema, como espaço efetivo para a realização de ações educativas que possibilitam ao educando análise e orientação para a reeducação alimentar. Este trabalho objetivou desenvolver com adolescentes das sétimas séries, atividades diversificadas envolvendo seus hábitos alimentares. Ficou explícita a aceitabilidade demonstrada pela participação ativa dos alunos e verificada por meio dos resultados satisfatórios das atividades desenvolvidas.

Palavras chaves: Adolescentes, escola, hábitos alimentares

ABSTRACT

Adolescents nourish habits have been object of study of the Nutrition. The results of the study strongly suggest that the adolescents present great vulnerability for the feeding and formation of healthful alimentary habits. The lack of knowledge on nourishment and nutrition and its importance to the organism, induces to a non-development of good alimentary habits and consequent appearance of problems related to the diet. A great number of authors stand out the importance of the school in the treatment of this subject as the effective space for the accomplishment of educative actions that make possible to educating the analysis and orientation for alimentary re-education. This study was done with students of the 7th grade and diversified activities were done considering the adolescents alimentary habits. Acceptability was demonstrated by active participation of the students as well as verified through satisfactory results of the developed activities.

Key words: Adolescents, school, nourish habits

1Professora da UNIOESTE, Campus Cascavel. [email protected]

2Professora C. E. Jd. Maracanã de Toledo, Paraná. [email protected]

2

1. INTRODUÇÃO

A adolescência apresenta como característica o crescimento físico, a

alta vulnerabilidade para deficiências nutricionais e parece constituir também,

período de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta.

Por esse motivo tem-se priorizado a vigilância nutricional nessa fase com o

objetivo de avaliar e intervir no comportamento alimentar, prevenindo assim os

prejuízos ao crescimento e à saúde desse grupo (Vitolo, 2003; Accioly et al,

2002; Balabriga & Carrascosa, 2001, Shils et al, 1999 apud Vitolo,Baú e

Pedroso, 2006).

Ao verificar os hábitos atuais de alimentação, nem sempre saudáveis,

praticados pelos adolescentes, viu-se a necessidade do desenvolvimento de

atividades que envolvessem adolescentes e seus hábitos alimentares e,

considerando a importância do papel desempenhado pela escola na vida do

educando, confirma-se que a escola representa o local ideal para informações

e para a promoção de hábitos alimentares adequados (Ada, 2004 apud Pegolo,

2005).

Os adolescentes puderam fazer relação entre o bem-estar de seu corpo

e seu funcionamento com a nutrição e assim, trilhar um caminho entre bons

hábitos alimentares e estilo de vida saudável, fazendo disso uma satisfação e

não uma obrigação, à qual, muitos adultos se encontram a fazer, frente a

doenças e conseqüências de maus tratos ao organismo ao longo da vida.

A unidade escolar na qual se desenvolveu o projeto atende educandos

oriundos de famílias de condições econômicas variadas (Projeto Político

Pedagógico, Colégio Estadual Jardim Maracanã, 2008) os quais, seja por

condição econômica ou cultural, apresentam hábitos alimentares bastante

diversificados. Assim, verificou-se a importância de trabalhar o tema “Hábitos

Alimentares na Adolescência” propondo um trabalho diferenciado ao ensino de

Ciências com ênfase na abordagem dos conteúdos acerca do corpo humano,

enfatizando o sistema digestório, uma vez que se tem observado hábitos nem

sempre saudáveis na alimentação destes adolescentes.

O projeto foi proposto objetivando-se conscientizar os adolescentes das

sétimas séries sobre os benefícios de uma alimentação saudável e da

reeducação alimentar por meio do desenvolvimento de atividades relacionadas

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com os seus hábitos alimentares cotidianos. Expondo a relação entre algumas

doenças e uma alimentação inadequada com a intencionalidade de despertar o

interesse e a atenção do adolescente para o que come, como come e a

quantidade do que consome. Envolveu os alunos na coleta de dados e na

apresentação dos resultados obtidos na pesquisa.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido com alunos das 7ª séries dos períodos

matutino e vespertino do Colégio Estadual Jardim Maracanã do município de

Toledo.

O Colégio atende alunos oriundos de famílias de classes sociais

variadas, apresentando então, uma diversidade grande nas condições

econômicas e culturais para o desenvolvimento de hábitos alimentares.

Inicialmente, em Março foi proposto um questionário para verificar

hábitos de alimentação dos adolescentes e os alimentos com maior

predominância. Em novembro foi reaplicado o mesmo questionário.

Durante as aulas de ciências foram trabalhadas as funções dos

nutrientes no corpo humano, bem como o desenvolvimento de doenças

relacionadas aos hábitos alimentares. Após, os alunos confeccionaram

cartazes informativos contendo figuras ilustrativas sobre alimentos importantes

para a saúde e as conseqüências da ingestão de alimentos não saudáveis.

Uma atividade prática com os alimentos foi proposta, onde os alunos com os

olhos vendados, cheiraram, manipularam e degustaram alguns alimentos como

laranja, maçã, suco de uva, refrigerante, maionese e banana. Foram

organizados em grupos de cinco alunos que se retiraram da sala e tiveram

seus olhos vendados para retornarem posteriormente. Enquanto os demais

alunos da turma aguardaram na sala e receberam orientações para

desempenharem funções como observadores e relatores, em que anotariam as

sensações descritas pelos colegas que tinham os olhos vendados.

Os alunos realizaram o cálculo do IMC (índice de massa corpórea), para

tanto, foram à farmácia próxima ao Colégio e fizeram a verificação da massa

corpórea, após, em grupos, realizaram a verificação de suas alturas no saguão

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do Colégio com o auxílio de um fita métrica, em seguida retornaram à sala para

os cálculos e comparações com tabela própria para adolescentes (Conde.

Wolney L. & Monteiro. Carlos A..Jornal de Pediatria. Valores críticos do índice

de massa corporal para classificação do estado nutricional de crianças e

adolescentes brasileiros: http://www.scielo.br/pdf/jped/v82n4/v82n4a07.pdf.

Acesso em 11/05/2009).

Foram propostas atividades de pesquisas em sites, os alunos

desenvolveram as buscas no laboratório de informática da escola e

apresentaram em plenária para a turma os resultados das pesquisas. Também

desenvolveram atividades lúdicas (jogos educativos) envolvendo os alimentos,

cadeia alimentar e hábitos alimentares em computadores do laboratório de

informática.

Com o auxílio de um profissional de nutrição e estagiárias do curso de

nutrição foram realizadas palestras com a participação dos alunos e alguns

pais ou responsáveis e ao final das palestras foi aberto para questionamentos

objetivando sanar dúvidas. Como conclusão das atividades sobre o tema

hábitos alimentares na adolescência, foi realizado um café da manhã e lanche

da tarde saudável, onde os alunos sob orientação da professora montaram o

cardápio com base nos conhecimentos adquiridos. Os alunos ajudaram a

preparar e organizar os alimentos que foram dispostos nas mesas do refeitório

para que pudessem degustar.

2. DESENVOLVIMENTO E DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS

A adolescência é um dos períodos mais desafiadores no

desenvolvimento humano. Isso se deve às inúmeras mudanças físicas e

fisiológicas que ocorrem. Uma série de conseqüências importantes surge que

influenciam o bem estar nutricional de um adolescente. A formação dos hábitos

alimentares ocorre um pouco antes dessa fase, e para entendermos melhor o

adolescente e seu estado nutricional necessitamos citar alguns aspectos da

infância, (Mahan & Escott-Stump, 1998).

A nutrição das crianças é sem dúvida um dos grandes problemas da

pediatria. O crescimento, a saúde e o desenvolvimento geral, têm relação

5

direta com a ingestão e digestão dos alimentos. Para que esses processos

ocorram adequadamente é necessário considerar o vínculo mãe e filho, os

fatores que o determinam e todos os vaivens que o envolvem. Na escola ou até

mesmo no cotidiano das pessoas às quais convivemos podemos observar que

crianças e adolescentes que tem problemas de obesidade ou desnutrição,

geralmente têm ou tiveram algum problema de vínculo entre mãe/pai e filho,

gerando emoções fortes, que desenvolvem desprazer ou a gratificação em

comer, associando emoções vividas com o ato de comer para obter satisfação

(Nobrega et al., 2000).

A mídia, de maneira geral, surge como outra preocupação na busca de

hábitos alimentares adequados ou errôneos, pois ao mesmo tempo em que

mostra corpos perfeitos, modelos lindas, alimentos que prometem a melhor

forma física, mostram também muitos alimentos inadequados para o consumo,

alimentos com excesso de gorduras e açúcares. Desta forma, pode levar o

adolescente a desenvolver bulimia e anorexia, para chegar ao corpo perfeito,

bem como podem influenciar no desejo por consumir alimentos calóricos,

levando a uma compulsão alimentar e desenvolvimento da obesidade (Castro,

2001 apud Pegolo, 2005).

Grande parte da população desconhece, ou quando conhece, por cultura

ou descuido, deixa de praticar uma alimentação saudável. Segundo Oliveira

(2007), a alimentação e a conseqüente nutrição, são fatores que embasam e

garantem o pleno desenvolvimento físico e intelectual de cada pessoa, e

conseqüentemente, sua qualidade de vida.

O organismo humano precisa de consumo diário e contínuo de

alimentos, em qualidade e quantidade capazes de suprir todas as

necessidades e o funcionamento normal. É necessário verificar e dar

importância ao valor nutricional do que se come. A falta de conhecimento sobre

alimentação e nutrição, sua importância para o desenvolvimento físico e mental

e para a qualidade de vida, induz as pessoas ao não desenvolvimento de bons

hábitos alimentares e conseqüentemente, ao aparecimento de problemas

relacionados à alimentação. Assim, é necessário discutir e propor medidas de

prevenção em educação alimentar (Oliveira, 2007).

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De acordo com César e Sezar (2002), o organismo, para manter sua

homeostasia, deve continuamente obter, transformar, assimilar e eliminar

substâncias, as quais são chamadas de nutrientes. Estes devem ser fornecidos

pelos alimentos e consumidos em quantidades e variedades adequadas.

Os alimentos são classificados de acordo com suas funções no

organismo. Assim, existem três tipos básicos de nutrientes: plásticos,

energéticos e reguladores, que podem ter diferentes naturezas químicas, ou

seja, pertencer a diferentes grupos de substâncias. As substâncias plásticas

são especialmente as proteínas, que constroem e constituem a massa de

matéria viva. As substâncias energéticas são representadas pelos carboidratos

(glucídios), que fornecem energia para as funções vitais do organismo e pelos

lipídios que constituem as membranas plasmáticas e organelas celulares

(membranas lipoprotéicas), além de ficarem armazenados no tecido adiposo.

Em algumas situações, quando há pequena disponibilidade de carboidratos, os

lipídios são mobilizados pelas células para oxidação e liberação de energia,

agindo como reserva energética dos organismos e tendo, portanto, dupla

função: plástica e energética. As substâncias reguladoras são as vitaminas,

responsáveis pela regulação do desenvolvimento e das funções orgânicas

(César e Sezar, 2002).

Em relação às mudanças nos hábitos alimentares, deve-se considerar

que os adolescentes passam por um processo de independência crescente e

por esse motivo, as tentativas para auxiliá-los na melhoria de seu estado

nutricional devem ser cuidadosas. Faz-se necessário primeiramente, verificar a

demonstração de interesse do adolescente para a mudança. Encorajar o

desejo de mudar deve ser uma tarefa contínua e demanda desenvolvimento de

atividades que proporcionem conhecimento, mudança de comportamento e de

atitudes aos adolescentes. A família deve auxiliar no processo de mudança

adquirindo também bons hábitos alimentares e agindo como sustentadores.

Segundo Monteiro, Mondini, Costa (2000), a atual dieta caracterizada

pelo alto consumo de gorduras saturadas, proteína animal, açúcares simples,

alimentos industrializados e pelo baixo consumo de carboidratos complexos e

de fibras, tem contribuído para o desenvolvimento de doenças crônico-

degenerativas.

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Conforme Damiani, Carvalho, Oliveira (2000), essas mudanças nos

hábitos alimentares são percebidas nas populações mais jovens,

principalmente entre os adolescentes, que realizam várias refeições durante o

dia e consomem lanches, altamente calóricos. Diante desse pressuposto,

observa-se que a tendência para a má alimentação, destacando-se a

alimentação de adolescentes, é fator de risco que pode levar ao

desenvolvimento de vários problemas de saúde, desencadeando doenças

ainda na adolescência ou na vida adulta, como moléstias cardiovasculares,

hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia.

Nos questionários aplicados, foi possível perceber os hábitos de

alimentação e os alimentos com maior predominância entre os adolescentes.

Conforme demonstram os gráficos do questionário de março, o hábito de tomar

café da manhã não é comum a todos os adolescentes, sendo que

aproximadamente 48,4% tomam café da manhã todos os dias, 20% não tomam

café da manhã e 31,6% tomam café da manhã de 1 a 5 vezes por semana.

Pães, acompanhados por leite com chocolate ou café, são os destaques nesta

refeição. 91,5% dos adolescentes almoçam todos os dias, 5,25% não almoçam

mais que duas vezes por semana, enquanto que 3,35% não almoçam pelo

menos uma vez por semana. Arroz, feijão, saladas e carnes vermelhas são os

destaques nesta refeição. Sobre a ingestão de frituras, 2,1% não ingerem

frituras, 80,1% ingerem frituras de 1 a 4 vezes por semana e 17,8% ingerem

frituras mais que 4 vezes por semana. Quando questionados se fazem lanche

da tarde, 6,3% responderam nunca, 42,2% lancham de 1 a 4 vezes por

semana e 51,5% lancham mais que 4 vezes por semana. Pães, frutas,

biscoitos e bolos são os destaques nesta refeição. Sobre o jantar, 8,4% nunca

jantam, 14,82% jantam de 1 a 4 vezes por semana e 76,8% jantam mais que 4

vezes por semana. Arroz, feijão, saladas, carnes vermelhas e sopas são os

destaques nesta refeição. Quando questionados se fazem algum lanche antes

de ir dormir, 36,8% responderam nunca, 45,4% lancham de 1 a 4 vezes por

semana e 17,8% lancham mais que 4 vezes por semana. Leite, café, pães e

biscoitos são os destaques destes lanches.

Em novembro foi apresentado o mesmo questionário para que

respondessem, com o seguinte resultado: o hábito de tomar café da manhã

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continuou não sendo comum a todos os adolescentes, sendo que

aproximadamente 52,5% tomam café da manhã todos os dias, 15% não tomam

café da manhã e 32,5% tomam café da manhã de 1 a 5 vezes por semana.

Pães acompanhados por leite com chocolate ou café são os destaques nesta

refeição. 88,7% dos adolescentes almoçam todos os dias, 7,5% não almoçam

mais que duas vezes por semana, enquanto que 3,8% não almoçam pelo

menos uma vez por semana. Arroz, feijão, saladas e carnes vermelhas são os

destaques nesta refeição. Sobre a ingestão de frituras, 3,7% não ingerem

frituras, 75,1% ingerem frituras de 1 a 4 vezes por semana e 21,2% ingerem

frituras mais que 4 vezes por semana. Quando questionados se fazem lanche

da tarde, 5% responderam nunca, 58,8% lancham de 1 a 4 vezes por semana

e 36,2% lancham mais que 4 vezes por semana. Pães, frutas, biscoitos e bolos

são os destaques nesta refeição. Sobre o jantar, 12,5% nunca jantam, 13,8%

jantam de 1 a 4 vezes por semana e 73,7% jantam mais que 4 vezes por

semana. Arroz, feijão, saladas, carnes vermelhas e sopas são o destaque nesta

refeição. Quando questionados se fazem algum lanche antes de ir dormir,

42,5% responderam nunca, 48,8% lancham de 1 a 4 vezes por semana e 8,7%

lancham mais que 4 vezes por semana. Leite, café, pães e biscoitos são os

destaques destes lanches.

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Gráficos referentes ao questionário apresentado em Março (as séries 1, 2, 3,... correspondem às alternativas a, b, c,...)

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Gráficos referentes ao questionário apresentado em Novembro

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Pesquisa em Março

Pesquisa em Novembro

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O número de alunos que respondeu ao questionário variou de março

para novembro, caindo de 95 para 80, motivado pela ausência no segundo

momento do questionário, transferência de escola e/ou abandono.

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Dos alunos que participaram da atividade de verificação do IMC (índice

de massa corpórea), 27 eram meninas e 27 eram meninos, todos entre 12 e 15

anos de idade. Entre as meninas, 22,2% apresentaram baixo peso, 25,9%

excesso de peso, 3,7% obesidade baixa e 48,1% apresentaram peso normal.

Entre os meninos, 7,4% apresentaram baixo peso, 33,3% excesso de

peso, 7,4% obesidade baixa e 51,9% apresentaram peso normal.

Se somadas as meninas que apresentam excesso de peso e obesidade

baixa, tem-se 29,6% do total de meninas acima do peso. Quanto aos meninos,

o valor é ainda maior, totalizando 40,7%. Mesmo considerando que a

adolescência é o período de grande transição de mudanças corporais, esses

índices merecem observação e acompanhamento especial, pois os hábitos

alimentares que levam ao excesso de peso na adolescência, se não forem

modificados, acarretarão na formação de adultos obesos.

Estudos epidemiológicos prospectivos demonstram que, estilos de vidas

mais ativos, como um condicionamento aeróbico moderado, estão associados

de forma independente, à diminuição do risco de incidência de DCNT (Doenças

Crônicas não Transmissíveis), da mortalidade geral e da mortalidade por

doenças cardiovasculares. Verifica-se também que adolescentes obesos

tendem a ingerir maiores quantidades de fast food e não compensar esse

excesso energético e ainda, aqueles com vida mais sedentária, que assistem

mais à televisão, também ingerem maior quantidade de refrigerantes. Por outro

lado, as estratégias que investem na redução de comportamentos sedentários

mostram resultados positivos no controle de obesidade (Guia Alimentar Para a

População Brasileira, Brasília, 2005).

16

As atividades físicas regulares exercidas em quantidades moderadas,

por 30 minutos diários todos os dias, são eficazes na prevenção do diabetes II

e da doença cardiovascular, mesmo parecendo ser insuficiente para muitas

pessoas prevenirem o ganho de peso, enquanto que os hábitos sedentários,

especialmente as ocupações e recreações sedentárias, o promovem. No Brasil

a freqüência de atividades físicas é inferior à observada em países

desenvolvidos, sendo que a proporção de 87% de adultos brasileiros inativos

no lazer supera em 2 a 3 vezes a encontrada nos Estados Unidos e na média

dos países europeus (Guia Aalimentar Para a População Brasileira, Brasília,

2005).

A proposta de Estratégia Global para a promoção da Alimentação

Saudável, Atividade Física e Saúde da OMS (organização mundial de saúde),

sugere a formação e implementação de linhas de ação efetivas para reduzir

substancialmente as mortes e doenças em todo o mundo. Um dos seus

principais objetivos para que isto ocorra é aumentar a atenção e conhecimento

sobre alimentação e atividade física.

A escola ocupa um lugar central na prevenção de vários problemas

relacionados à saúde. A escola é a atividade diária mais importante na vida do

adolescente. Durante os anos que o adolescente permanece na escola, será

influenciado pelos professores e amigos, que deixarão marcas benéficas ou

negativas na sua personalidade e conduta, bem como na sua responsabilidade

social. Assim, discussões em sala de aula sobre alimentação e nutrição

representam um espaço efetivo para a realização de ações educativas

possibilitando ao educando a chance para que possa analisar e reorientar seus

hábitos alimentares (Coroba, 2002 apud Pegolo, 2005).

Foi acreditando que realmente a escola é o espaço que pode contribuir

para o desenvolvimento de bons hábitos alimentares que se desenvolveu o

projeto e percebeu-se grande satisfação por parte dos adolescentes em

participar das diferentes atividades que foram propostas, confirmando o que diz

Coroba.

Como exemplo, os alunos relataram que gostaram muito de participar da

atividade lúdica que consistiu na vendagem dos olhos para o redescobrimento

dos alimentos por meio dos diferentes órgãos dos sentidos. Alguns alunos não

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conseguiram identificar imediatamente os alimentos somente pelo olfato, ou

ainda pelo paladar, outros, não conseguiram identificar alguns alimentos por

nenhum órgão dos sentidos enquanto tinham os olhos vendados.

Foi interessante verificar a disponibilidade que os alunos demonstraram

em servir-se de alimentos saudáveis como frutas e biscoitos integrais, por

exemplo, fortalecendo a idéia de que a apresentação dos alimentos

proporcionando o contato pelo adolescente contribui para a formação dos

hábitos alimentares (Pegolo, G.E. 2005)

Libâneo (2004) considera a escola o lugar de mediação cultural,

cabendo aos educadores “investigar como ajudar os alunos a se constituírem

como sujeitos pensantes e críticos, capazes de pensar e lidar com os

conceitos, argumentar em faces de dilemas e problemas da vida prática”. A

escola que atua como mera repassadora de uma carga exaustiva de

informações fica aquém de alcançar seus objetivos e de levar o educando a

compreender o que estuda e porque estuda determinado conteúdo, sem

conseguir fazer relações ao seu cotidiano. Permitir que o educando leve para o

ambiente escolar o que conhece a cerca das discussões propostas, pode dar

significados relevantes ao objeto de estudo.

A integração dos conceitos básicos que o educando tem com os

conceitos cientificamente produzidos, levará a apropriação e produção de

novos conceitos cientificamente corretos, bem como à superação de conceitos

errôneos produzidos pelo senso comum. Segundo as Diretrizes Curriculares de

Ciências, a apropriação do conhecimento científico pelo estudante no contexto

escolar implica a superação de obstáculos conceituais. Para que isso ocorra, o

conhecimento anterior do estudante, construído nas interações e nas relações

que estabelece na vida cotidiana, num primeiro momento deve ser valorizado.

Denominam-se tais conhecimentos como alternativos aos conhecimentos

científicos e por isso podem ser considerados como primeiros obstáculos

conceituais a serem superados. (DCE Ciências, 2008, p.24). Ao educando cabe

desenvolver a percepção da vida como um todo através da contextualização do

seu aprendizado.

Percebeu-se a importância dada pelos alunos na abordagem do tema e

dos conteúdos relacionados, quando a discussão deu-se a partir dos relatos e

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conhecimentos apresentados pelos próprios alunos. Também o fato de discutir

obesidade, anorexia e outras doenças relacionadas aos hábitos alimentares,

desperta a curiosidade dos adolescentes que trazem relatos de seu cotidiano

sobre amigos, parentes ou conhecidos questionando sobre conseqüências e

tratamentos. .

Para Pelizzari A. et al (2002), uma das condições primordiais para

possibilitar uma aprendizagem significativa do conteúdo escolar é a sua

transposição para contextos potencialmente significativos. A escola, por meio

dos professores, cumpre então seu papel de formar cidadãos críticos e

participativos, ao invés de transmitir apenas os conteúdos sem significados

para o educando. Segundo Carvalho (2006), a meta do professor não deve ser

repetir indefinidamente a lição, mas promover uma catarse psíquica no

educando, para que ascenda a uma condição de aprendiz do conhecimento.

Diante disso, percebeu-se a importância do desenvolvimento de

atividades envolvendo adolescentes e relacionando seus hábitos alimentares à

sua saúde, propondo desta forma novas concepções para uma vida mais

saudável.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento das atividades com os adolescentes proporcionou

momentos de discussões e reflexões relevantes. O interesse demonstrado

pelos alunos sugere que, embora esta fase da vida possa ser muito conflituosa,

adolescentes também são capazes de participar ativamente quando

estimulados.

A escola representa o espaço apropriado para tais discussões,

promovidas por meio da aproximação e de laços de confiança que podem ser

desenvolvidos quando os alunos sentem-se seguros para falar de seus

próprios hábitos alimentares de forma descontraída, sem preconceitos. Tais

discussões realizadas no ambiente escolar e estendidas ao ambiente familiar

por meio de ações que encorajem para a mudança do hábito alimentar do

adolescente e para a prática de atividades físicas é que poderão resultar

positivamente para a superação de hábitos alimentares inadequados, uma vez

19

que os adolescentes costumam ingerir várias refeições durante o dia com

consumo de alimentos altamente calóricos em diversos lanches que fazem.

Na pesquisa desenvolvida, as variações nos hábitos alimentares dos

adolescentes foram pequenas, em alguns aspectos para melhor, em outros

para pior, demonstrando que a formação de hábitos alimentares saudáveis

demanda exercício de paciência, persistência e tempo para que mudanças

significativas ocorram (Mahan, L. K. & Escott-Stump, S. Krause).

O trabalho desenvolvido objetivou sensibilizar os adolescentes para a

reeducação alimentar e a prática de atividades físicas. Não foi possível

identificar um resultado imediato, como demonstram as análises dos gráficos

apresentados nas discussões, mas percebeu-se a disponibilidade para as

mudanças.

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ANEXO 1 COLÉGIO ESTADUAL JARDIM MARACANÃ – ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO TOLEDO – PARANÁ PROFESSORA: ROSANA DO ROSÁRIO OSSUCCI O seguinte questionário tem por objetivo verificar os alimentos mais freqüentes nas refeições diárias dos alunos das sétimas séries do Colégio Estadual Jardim Maracanã. NOME DO (A) ALUNO (A): ______________________________________________________ IDADE: ______________________________________________________________ QUESTIONÁRIO 1 - Você costuma tomar café da manhã? a) ( ) Todos os dias b) ( ) De 1 a 3 vezes por semana c) ( ) De 3 a 5 vezes por semana d) ( ) Não toma café da manhã 2 - O que você prefere come/beber no café da manhã? a) ( ) pães b) ( ) biscoitos c) ( ) bolos d) ( ) leite com chocolate e) ( ) leite com café f) ( ) café preto g) ( ) chás h) ( ) queijos i) ( ) geléias j) ( ) outros 3 - Você almoça? a) ( ) Todos os dias b) ( ) Não almoça uma vez por semana c) ( ) Não almoça mais que duas vezes por semana 4 - Que tipo de alimento costuma ingerir no almoço? a) ( ) arroz b) ( ) feijão c) ( ) massas d) ( ) saladas e) ( ) carne vermelha f) ( ) peixe g) ( ) legumes cozidos h) ( ) outros 5 - Quantas vezes por semana, ingere frituras? a) ( ) Nenhuma b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana

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c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes 6 - Costuma fazer lanche da tarde? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 7 - O que ingere nos lanches da tarde? a) ( ) Frutas b) ( ) Sucos c) ( ) Chás d) ( ) Leite e) ( ) Café f) ( ) Pães g) ( ) Biscoitos h) ( ) Bolos i) ( ) Queijos j ( ) Outros 8 - Costuma jantar? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 9 - Que tipos de alimentos costuma ingerir no jantar? a) ( ) arroz b) ( ) feijão c) ( ) massas d) ( ) saladas e) ( ) carne vermelha f) ( ) peixe g) ( ) legumes cozidos h) ( ) sopas i) ( ) outros 10 - Faz algum lanche antes de ir dormir? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 11 - O que costuma ingerir? a) ( ) leite b) ( ) chás c) ( ) café d) ( ) pães e) ( ) biscoitos f) ( ) outros