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HÁBITOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA
Orientadora: Maria Lúcia Bonfleur1
Professora PDE: Rosana do Rosário Ossucci 2
RESUMO
Os hábitos alimentares de adolescentes têm sido objeto de estudo da nutrição. Os resultados dos mesmos sugerem fortemente que os adolescentes apresentam grande vulnerabilidade para a alimentação e formação de hábitos alimentares saudáveis. A falta de conhecimento sobre alimentação e nutrição e sua importância ao organismo, induz ao não desenvolvimento de bons hábitos alimentares e consequente aparecimento de problemas relacionados à alimentação. Vários autores destacam a importância da escola no trato deste tema, como espaço efetivo para a realização de ações educativas que possibilitam ao educando análise e orientação para a reeducação alimentar. Este trabalho objetivou desenvolver com adolescentes das sétimas séries, atividades diversificadas envolvendo seus hábitos alimentares. Ficou explícita a aceitabilidade demonstrada pela participação ativa dos alunos e verificada por meio dos resultados satisfatórios das atividades desenvolvidas.
Palavras chaves: Adolescentes, escola, hábitos alimentares
ABSTRACT
Adolescents nourish habits have been object of study of the Nutrition. The results of the study strongly suggest that the adolescents present great vulnerability for the feeding and formation of healthful alimentary habits. The lack of knowledge on nourishment and nutrition and its importance to the organism, induces to a non-development of good alimentary habits and consequent appearance of problems related to the diet. A great number of authors stand out the importance of the school in the treatment of this subject as the effective space for the accomplishment of educative actions that make possible to educating the analysis and orientation for alimentary re-education. This study was done with students of the 7th grade and diversified activities were done considering the adolescents alimentary habits. Acceptability was demonstrated by active participation of the students as well as verified through satisfactory results of the developed activities.
Key words: Adolescents, school, nourish habits
1Professora da UNIOESTE, Campus Cascavel. [email protected]
2Professora C. E. Jd. Maracanã de Toledo, Paraná. [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
A adolescência apresenta como característica o crescimento físico, a
alta vulnerabilidade para deficiências nutricionais e parece constituir também,
período de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta.
Por esse motivo tem-se priorizado a vigilância nutricional nessa fase com o
objetivo de avaliar e intervir no comportamento alimentar, prevenindo assim os
prejuízos ao crescimento e à saúde desse grupo (Vitolo, 2003; Accioly et al,
2002; Balabriga & Carrascosa, 2001, Shils et al, 1999 apud Vitolo,Baú e
Pedroso, 2006).
Ao verificar os hábitos atuais de alimentação, nem sempre saudáveis,
praticados pelos adolescentes, viu-se a necessidade do desenvolvimento de
atividades que envolvessem adolescentes e seus hábitos alimentares e,
considerando a importância do papel desempenhado pela escola na vida do
educando, confirma-se que a escola representa o local ideal para informações
e para a promoção de hábitos alimentares adequados (Ada, 2004 apud Pegolo,
2005).
Os adolescentes puderam fazer relação entre o bem-estar de seu corpo
e seu funcionamento com a nutrição e assim, trilhar um caminho entre bons
hábitos alimentares e estilo de vida saudável, fazendo disso uma satisfação e
não uma obrigação, à qual, muitos adultos se encontram a fazer, frente a
doenças e conseqüências de maus tratos ao organismo ao longo da vida.
A unidade escolar na qual se desenvolveu o projeto atende educandos
oriundos de famílias de condições econômicas variadas (Projeto Político
Pedagógico, Colégio Estadual Jardim Maracanã, 2008) os quais, seja por
condição econômica ou cultural, apresentam hábitos alimentares bastante
diversificados. Assim, verificou-se a importância de trabalhar o tema “Hábitos
Alimentares na Adolescência” propondo um trabalho diferenciado ao ensino de
Ciências com ênfase na abordagem dos conteúdos acerca do corpo humano,
enfatizando o sistema digestório, uma vez que se tem observado hábitos nem
sempre saudáveis na alimentação destes adolescentes.
O projeto foi proposto objetivando-se conscientizar os adolescentes das
sétimas séries sobre os benefícios de uma alimentação saudável e da
reeducação alimentar por meio do desenvolvimento de atividades relacionadas
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com os seus hábitos alimentares cotidianos. Expondo a relação entre algumas
doenças e uma alimentação inadequada com a intencionalidade de despertar o
interesse e a atenção do adolescente para o que come, como come e a
quantidade do que consome. Envolveu os alunos na coleta de dados e na
apresentação dos resultados obtidos na pesquisa.
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido com alunos das 7ª séries dos períodos
matutino e vespertino do Colégio Estadual Jardim Maracanã do município de
Toledo.
O Colégio atende alunos oriundos de famílias de classes sociais
variadas, apresentando então, uma diversidade grande nas condições
econômicas e culturais para o desenvolvimento de hábitos alimentares.
Inicialmente, em Março foi proposto um questionário para verificar
hábitos de alimentação dos adolescentes e os alimentos com maior
predominância. Em novembro foi reaplicado o mesmo questionário.
Durante as aulas de ciências foram trabalhadas as funções dos
nutrientes no corpo humano, bem como o desenvolvimento de doenças
relacionadas aos hábitos alimentares. Após, os alunos confeccionaram
cartazes informativos contendo figuras ilustrativas sobre alimentos importantes
para a saúde e as conseqüências da ingestão de alimentos não saudáveis.
Uma atividade prática com os alimentos foi proposta, onde os alunos com os
olhos vendados, cheiraram, manipularam e degustaram alguns alimentos como
laranja, maçã, suco de uva, refrigerante, maionese e banana. Foram
organizados em grupos de cinco alunos que se retiraram da sala e tiveram
seus olhos vendados para retornarem posteriormente. Enquanto os demais
alunos da turma aguardaram na sala e receberam orientações para
desempenharem funções como observadores e relatores, em que anotariam as
sensações descritas pelos colegas que tinham os olhos vendados.
Os alunos realizaram o cálculo do IMC (índice de massa corpórea), para
tanto, foram à farmácia próxima ao Colégio e fizeram a verificação da massa
corpórea, após, em grupos, realizaram a verificação de suas alturas no saguão
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do Colégio com o auxílio de um fita métrica, em seguida retornaram à sala para
os cálculos e comparações com tabela própria para adolescentes (Conde.
Wolney L. & Monteiro. Carlos A..Jornal de Pediatria. Valores críticos do índice
de massa corporal para classificação do estado nutricional de crianças e
adolescentes brasileiros: http://www.scielo.br/pdf/jped/v82n4/v82n4a07.pdf.
Acesso em 11/05/2009).
Foram propostas atividades de pesquisas em sites, os alunos
desenvolveram as buscas no laboratório de informática da escola e
apresentaram em plenária para a turma os resultados das pesquisas. Também
desenvolveram atividades lúdicas (jogos educativos) envolvendo os alimentos,
cadeia alimentar e hábitos alimentares em computadores do laboratório de
informática.
Com o auxílio de um profissional de nutrição e estagiárias do curso de
nutrição foram realizadas palestras com a participação dos alunos e alguns
pais ou responsáveis e ao final das palestras foi aberto para questionamentos
objetivando sanar dúvidas. Como conclusão das atividades sobre o tema
hábitos alimentares na adolescência, foi realizado um café da manhã e lanche
da tarde saudável, onde os alunos sob orientação da professora montaram o
cardápio com base nos conhecimentos adquiridos. Os alunos ajudaram a
preparar e organizar os alimentos que foram dispostos nas mesas do refeitório
para que pudessem degustar.
2. DESENVOLVIMENTO E DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS
A adolescência é um dos períodos mais desafiadores no
desenvolvimento humano. Isso se deve às inúmeras mudanças físicas e
fisiológicas que ocorrem. Uma série de conseqüências importantes surge que
influenciam o bem estar nutricional de um adolescente. A formação dos hábitos
alimentares ocorre um pouco antes dessa fase, e para entendermos melhor o
adolescente e seu estado nutricional necessitamos citar alguns aspectos da
infância, (Mahan & Escott-Stump, 1998).
A nutrição das crianças é sem dúvida um dos grandes problemas da
pediatria. O crescimento, a saúde e o desenvolvimento geral, têm relação
5
direta com a ingestão e digestão dos alimentos. Para que esses processos
ocorram adequadamente é necessário considerar o vínculo mãe e filho, os
fatores que o determinam e todos os vaivens que o envolvem. Na escola ou até
mesmo no cotidiano das pessoas às quais convivemos podemos observar que
crianças e adolescentes que tem problemas de obesidade ou desnutrição,
geralmente têm ou tiveram algum problema de vínculo entre mãe/pai e filho,
gerando emoções fortes, que desenvolvem desprazer ou a gratificação em
comer, associando emoções vividas com o ato de comer para obter satisfação
(Nobrega et al., 2000).
A mídia, de maneira geral, surge como outra preocupação na busca de
hábitos alimentares adequados ou errôneos, pois ao mesmo tempo em que
mostra corpos perfeitos, modelos lindas, alimentos que prometem a melhor
forma física, mostram também muitos alimentos inadequados para o consumo,
alimentos com excesso de gorduras e açúcares. Desta forma, pode levar o
adolescente a desenvolver bulimia e anorexia, para chegar ao corpo perfeito,
bem como podem influenciar no desejo por consumir alimentos calóricos,
levando a uma compulsão alimentar e desenvolvimento da obesidade (Castro,
2001 apud Pegolo, 2005).
Grande parte da população desconhece, ou quando conhece, por cultura
ou descuido, deixa de praticar uma alimentação saudável. Segundo Oliveira
(2007), a alimentação e a conseqüente nutrição, são fatores que embasam e
garantem o pleno desenvolvimento físico e intelectual de cada pessoa, e
conseqüentemente, sua qualidade de vida.
O organismo humano precisa de consumo diário e contínuo de
alimentos, em qualidade e quantidade capazes de suprir todas as
necessidades e o funcionamento normal. É necessário verificar e dar
importância ao valor nutricional do que se come. A falta de conhecimento sobre
alimentação e nutrição, sua importância para o desenvolvimento físico e mental
e para a qualidade de vida, induz as pessoas ao não desenvolvimento de bons
hábitos alimentares e conseqüentemente, ao aparecimento de problemas
relacionados à alimentação. Assim, é necessário discutir e propor medidas de
prevenção em educação alimentar (Oliveira, 2007).
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De acordo com César e Sezar (2002), o organismo, para manter sua
homeostasia, deve continuamente obter, transformar, assimilar e eliminar
substâncias, as quais são chamadas de nutrientes. Estes devem ser fornecidos
pelos alimentos e consumidos em quantidades e variedades adequadas.
Os alimentos são classificados de acordo com suas funções no
organismo. Assim, existem três tipos básicos de nutrientes: plásticos,
energéticos e reguladores, que podem ter diferentes naturezas químicas, ou
seja, pertencer a diferentes grupos de substâncias. As substâncias plásticas
são especialmente as proteínas, que constroem e constituem a massa de
matéria viva. As substâncias energéticas são representadas pelos carboidratos
(glucídios), que fornecem energia para as funções vitais do organismo e pelos
lipídios que constituem as membranas plasmáticas e organelas celulares
(membranas lipoprotéicas), além de ficarem armazenados no tecido adiposo.
Em algumas situações, quando há pequena disponibilidade de carboidratos, os
lipídios são mobilizados pelas células para oxidação e liberação de energia,
agindo como reserva energética dos organismos e tendo, portanto, dupla
função: plástica e energética. As substâncias reguladoras são as vitaminas,
responsáveis pela regulação do desenvolvimento e das funções orgânicas
(César e Sezar, 2002).
Em relação às mudanças nos hábitos alimentares, deve-se considerar
que os adolescentes passam por um processo de independência crescente e
por esse motivo, as tentativas para auxiliá-los na melhoria de seu estado
nutricional devem ser cuidadosas. Faz-se necessário primeiramente, verificar a
demonstração de interesse do adolescente para a mudança. Encorajar o
desejo de mudar deve ser uma tarefa contínua e demanda desenvolvimento de
atividades que proporcionem conhecimento, mudança de comportamento e de
atitudes aos adolescentes. A família deve auxiliar no processo de mudança
adquirindo também bons hábitos alimentares e agindo como sustentadores.
Segundo Monteiro, Mondini, Costa (2000), a atual dieta caracterizada
pelo alto consumo de gorduras saturadas, proteína animal, açúcares simples,
alimentos industrializados e pelo baixo consumo de carboidratos complexos e
de fibras, tem contribuído para o desenvolvimento de doenças crônico-
degenerativas.
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Conforme Damiani, Carvalho, Oliveira (2000), essas mudanças nos
hábitos alimentares são percebidas nas populações mais jovens,
principalmente entre os adolescentes, que realizam várias refeições durante o
dia e consomem lanches, altamente calóricos. Diante desse pressuposto,
observa-se que a tendência para a má alimentação, destacando-se a
alimentação de adolescentes, é fator de risco que pode levar ao
desenvolvimento de vários problemas de saúde, desencadeando doenças
ainda na adolescência ou na vida adulta, como moléstias cardiovasculares,
hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia.
Nos questionários aplicados, foi possível perceber os hábitos de
alimentação e os alimentos com maior predominância entre os adolescentes.
Conforme demonstram os gráficos do questionário de março, o hábito de tomar
café da manhã não é comum a todos os adolescentes, sendo que
aproximadamente 48,4% tomam café da manhã todos os dias, 20% não tomam
café da manhã e 31,6% tomam café da manhã de 1 a 5 vezes por semana.
Pães, acompanhados por leite com chocolate ou café, são os destaques nesta
refeição. 91,5% dos adolescentes almoçam todos os dias, 5,25% não almoçam
mais que duas vezes por semana, enquanto que 3,35% não almoçam pelo
menos uma vez por semana. Arroz, feijão, saladas e carnes vermelhas são os
destaques nesta refeição. Sobre a ingestão de frituras, 2,1% não ingerem
frituras, 80,1% ingerem frituras de 1 a 4 vezes por semana e 17,8% ingerem
frituras mais que 4 vezes por semana. Quando questionados se fazem lanche
da tarde, 6,3% responderam nunca, 42,2% lancham de 1 a 4 vezes por
semana e 51,5% lancham mais que 4 vezes por semana. Pães, frutas,
biscoitos e bolos são os destaques nesta refeição. Sobre o jantar, 8,4% nunca
jantam, 14,82% jantam de 1 a 4 vezes por semana e 76,8% jantam mais que 4
vezes por semana. Arroz, feijão, saladas, carnes vermelhas e sopas são os
destaques nesta refeição. Quando questionados se fazem algum lanche antes
de ir dormir, 36,8% responderam nunca, 45,4% lancham de 1 a 4 vezes por
semana e 17,8% lancham mais que 4 vezes por semana. Leite, café, pães e
biscoitos são os destaques destes lanches.
Em novembro foi apresentado o mesmo questionário para que
respondessem, com o seguinte resultado: o hábito de tomar café da manhã
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continuou não sendo comum a todos os adolescentes, sendo que
aproximadamente 52,5% tomam café da manhã todos os dias, 15% não tomam
café da manhã e 32,5% tomam café da manhã de 1 a 5 vezes por semana.
Pães acompanhados por leite com chocolate ou café são os destaques nesta
refeição. 88,7% dos adolescentes almoçam todos os dias, 7,5% não almoçam
mais que duas vezes por semana, enquanto que 3,8% não almoçam pelo
menos uma vez por semana. Arroz, feijão, saladas e carnes vermelhas são os
destaques nesta refeição. Sobre a ingestão de frituras, 3,7% não ingerem
frituras, 75,1% ingerem frituras de 1 a 4 vezes por semana e 21,2% ingerem
frituras mais que 4 vezes por semana. Quando questionados se fazem lanche
da tarde, 5% responderam nunca, 58,8% lancham de 1 a 4 vezes por semana
e 36,2% lancham mais que 4 vezes por semana. Pães, frutas, biscoitos e bolos
são os destaques nesta refeição. Sobre o jantar, 12,5% nunca jantam, 13,8%
jantam de 1 a 4 vezes por semana e 73,7% jantam mais que 4 vezes por
semana. Arroz, feijão, saladas, carnes vermelhas e sopas são o destaque nesta
refeição. Quando questionados se fazem algum lanche antes de ir dormir,
42,5% responderam nunca, 48,8% lancham de 1 a 4 vezes por semana e 8,7%
lancham mais que 4 vezes por semana. Leite, café, pães e biscoitos são os
destaques destes lanches.
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Gráficos referentes ao questionário apresentado em Março (as séries 1, 2, 3,... correspondem às alternativas a, b, c,...)
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O número de alunos que respondeu ao questionário variou de março
para novembro, caindo de 95 para 80, motivado pela ausência no segundo
momento do questionário, transferência de escola e/ou abandono.
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Dos alunos que participaram da atividade de verificação do IMC (índice
de massa corpórea), 27 eram meninas e 27 eram meninos, todos entre 12 e 15
anos de idade. Entre as meninas, 22,2% apresentaram baixo peso, 25,9%
excesso de peso, 3,7% obesidade baixa e 48,1% apresentaram peso normal.
Entre os meninos, 7,4% apresentaram baixo peso, 33,3% excesso de
peso, 7,4% obesidade baixa e 51,9% apresentaram peso normal.
Se somadas as meninas que apresentam excesso de peso e obesidade
baixa, tem-se 29,6% do total de meninas acima do peso. Quanto aos meninos,
o valor é ainda maior, totalizando 40,7%. Mesmo considerando que a
adolescência é o período de grande transição de mudanças corporais, esses
índices merecem observação e acompanhamento especial, pois os hábitos
alimentares que levam ao excesso de peso na adolescência, se não forem
modificados, acarretarão na formação de adultos obesos.
Estudos epidemiológicos prospectivos demonstram que, estilos de vidas
mais ativos, como um condicionamento aeróbico moderado, estão associados
de forma independente, à diminuição do risco de incidência de DCNT (Doenças
Crônicas não Transmissíveis), da mortalidade geral e da mortalidade por
doenças cardiovasculares. Verifica-se também que adolescentes obesos
tendem a ingerir maiores quantidades de fast food e não compensar esse
excesso energético e ainda, aqueles com vida mais sedentária, que assistem
mais à televisão, também ingerem maior quantidade de refrigerantes. Por outro
lado, as estratégias que investem na redução de comportamentos sedentários
mostram resultados positivos no controle de obesidade (Guia Alimentar Para a
População Brasileira, Brasília, 2005).
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As atividades físicas regulares exercidas em quantidades moderadas,
por 30 minutos diários todos os dias, são eficazes na prevenção do diabetes II
e da doença cardiovascular, mesmo parecendo ser insuficiente para muitas
pessoas prevenirem o ganho de peso, enquanto que os hábitos sedentários,
especialmente as ocupações e recreações sedentárias, o promovem. No Brasil
a freqüência de atividades físicas é inferior à observada em países
desenvolvidos, sendo que a proporção de 87% de adultos brasileiros inativos
no lazer supera em 2 a 3 vezes a encontrada nos Estados Unidos e na média
dos países europeus (Guia Aalimentar Para a População Brasileira, Brasília,
2005).
A proposta de Estratégia Global para a promoção da Alimentação
Saudável, Atividade Física e Saúde da OMS (organização mundial de saúde),
sugere a formação e implementação de linhas de ação efetivas para reduzir
substancialmente as mortes e doenças em todo o mundo. Um dos seus
principais objetivos para que isto ocorra é aumentar a atenção e conhecimento
sobre alimentação e atividade física.
A escola ocupa um lugar central na prevenção de vários problemas
relacionados à saúde. A escola é a atividade diária mais importante na vida do
adolescente. Durante os anos que o adolescente permanece na escola, será
influenciado pelos professores e amigos, que deixarão marcas benéficas ou
negativas na sua personalidade e conduta, bem como na sua responsabilidade
social. Assim, discussões em sala de aula sobre alimentação e nutrição
representam um espaço efetivo para a realização de ações educativas
possibilitando ao educando a chance para que possa analisar e reorientar seus
hábitos alimentares (Coroba, 2002 apud Pegolo, 2005).
Foi acreditando que realmente a escola é o espaço que pode contribuir
para o desenvolvimento de bons hábitos alimentares que se desenvolveu o
projeto e percebeu-se grande satisfação por parte dos adolescentes em
participar das diferentes atividades que foram propostas, confirmando o que diz
Coroba.
Como exemplo, os alunos relataram que gostaram muito de participar da
atividade lúdica que consistiu na vendagem dos olhos para o redescobrimento
dos alimentos por meio dos diferentes órgãos dos sentidos. Alguns alunos não
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conseguiram identificar imediatamente os alimentos somente pelo olfato, ou
ainda pelo paladar, outros, não conseguiram identificar alguns alimentos por
nenhum órgão dos sentidos enquanto tinham os olhos vendados.
Foi interessante verificar a disponibilidade que os alunos demonstraram
em servir-se de alimentos saudáveis como frutas e biscoitos integrais, por
exemplo, fortalecendo a idéia de que a apresentação dos alimentos
proporcionando o contato pelo adolescente contribui para a formação dos
hábitos alimentares (Pegolo, G.E. 2005)
Libâneo (2004) considera a escola o lugar de mediação cultural,
cabendo aos educadores “investigar como ajudar os alunos a se constituírem
como sujeitos pensantes e críticos, capazes de pensar e lidar com os
conceitos, argumentar em faces de dilemas e problemas da vida prática”. A
escola que atua como mera repassadora de uma carga exaustiva de
informações fica aquém de alcançar seus objetivos e de levar o educando a
compreender o que estuda e porque estuda determinado conteúdo, sem
conseguir fazer relações ao seu cotidiano. Permitir que o educando leve para o
ambiente escolar o que conhece a cerca das discussões propostas, pode dar
significados relevantes ao objeto de estudo.
A integração dos conceitos básicos que o educando tem com os
conceitos cientificamente produzidos, levará a apropriação e produção de
novos conceitos cientificamente corretos, bem como à superação de conceitos
errôneos produzidos pelo senso comum. Segundo as Diretrizes Curriculares de
Ciências, a apropriação do conhecimento científico pelo estudante no contexto
escolar implica a superação de obstáculos conceituais. Para que isso ocorra, o
conhecimento anterior do estudante, construído nas interações e nas relações
que estabelece na vida cotidiana, num primeiro momento deve ser valorizado.
Denominam-se tais conhecimentos como alternativos aos conhecimentos
científicos e por isso podem ser considerados como primeiros obstáculos
conceituais a serem superados. (DCE Ciências, 2008, p.24). Ao educando cabe
desenvolver a percepção da vida como um todo através da contextualização do
seu aprendizado.
Percebeu-se a importância dada pelos alunos na abordagem do tema e
dos conteúdos relacionados, quando a discussão deu-se a partir dos relatos e
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conhecimentos apresentados pelos próprios alunos. Também o fato de discutir
obesidade, anorexia e outras doenças relacionadas aos hábitos alimentares,
desperta a curiosidade dos adolescentes que trazem relatos de seu cotidiano
sobre amigos, parentes ou conhecidos questionando sobre conseqüências e
tratamentos. .
Para Pelizzari A. et al (2002), uma das condições primordiais para
possibilitar uma aprendizagem significativa do conteúdo escolar é a sua
transposição para contextos potencialmente significativos. A escola, por meio
dos professores, cumpre então seu papel de formar cidadãos críticos e
participativos, ao invés de transmitir apenas os conteúdos sem significados
para o educando. Segundo Carvalho (2006), a meta do professor não deve ser
repetir indefinidamente a lição, mas promover uma catarse psíquica no
educando, para que ascenda a uma condição de aprendiz do conhecimento.
Diante disso, percebeu-se a importância do desenvolvimento de
atividades envolvendo adolescentes e relacionando seus hábitos alimentares à
sua saúde, propondo desta forma novas concepções para uma vida mais
saudável.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento das atividades com os adolescentes proporcionou
momentos de discussões e reflexões relevantes. O interesse demonstrado
pelos alunos sugere que, embora esta fase da vida possa ser muito conflituosa,
adolescentes também são capazes de participar ativamente quando
estimulados.
A escola representa o espaço apropriado para tais discussões,
promovidas por meio da aproximação e de laços de confiança que podem ser
desenvolvidos quando os alunos sentem-se seguros para falar de seus
próprios hábitos alimentares de forma descontraída, sem preconceitos. Tais
discussões realizadas no ambiente escolar e estendidas ao ambiente familiar
por meio de ações que encorajem para a mudança do hábito alimentar do
adolescente e para a prática de atividades físicas é que poderão resultar
positivamente para a superação de hábitos alimentares inadequados, uma vez
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que os adolescentes costumam ingerir várias refeições durante o dia com
consumo de alimentos altamente calóricos em diversos lanches que fazem.
Na pesquisa desenvolvida, as variações nos hábitos alimentares dos
adolescentes foram pequenas, em alguns aspectos para melhor, em outros
para pior, demonstrando que a formação de hábitos alimentares saudáveis
demanda exercício de paciência, persistência e tempo para que mudanças
significativas ocorram (Mahan, L. K. & Escott-Stump, S. Krause).
O trabalho desenvolvido objetivou sensibilizar os adolescentes para a
reeducação alimentar e a prática de atividades físicas. Não foi possível
identificar um resultado imediato, como demonstram as análises dos gráficos
apresentados nas discussões, mas percebeu-se a disponibilidade para as
mudanças.
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ANEXO 1 COLÉGIO ESTADUAL JARDIM MARACANÃ – ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO TOLEDO – PARANÁ PROFESSORA: ROSANA DO ROSÁRIO OSSUCCI O seguinte questionário tem por objetivo verificar os alimentos mais freqüentes nas refeições diárias dos alunos das sétimas séries do Colégio Estadual Jardim Maracanã. NOME DO (A) ALUNO (A): ______________________________________________________ IDADE: ______________________________________________________________ QUESTIONÁRIO 1 - Você costuma tomar café da manhã? a) ( ) Todos os dias b) ( ) De 1 a 3 vezes por semana c) ( ) De 3 a 5 vezes por semana d) ( ) Não toma café da manhã 2 - O que você prefere come/beber no café da manhã? a) ( ) pães b) ( ) biscoitos c) ( ) bolos d) ( ) leite com chocolate e) ( ) leite com café f) ( ) café preto g) ( ) chás h) ( ) queijos i) ( ) geléias j) ( ) outros 3 - Você almoça? a) ( ) Todos os dias b) ( ) Não almoça uma vez por semana c) ( ) Não almoça mais que duas vezes por semana 4 - Que tipo de alimento costuma ingerir no almoço? a) ( ) arroz b) ( ) feijão c) ( ) massas d) ( ) saladas e) ( ) carne vermelha f) ( ) peixe g) ( ) legumes cozidos h) ( ) outros 5 - Quantas vezes por semana, ingere frituras? a) ( ) Nenhuma b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana
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c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes 6 - Costuma fazer lanche da tarde? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 7 - O que ingere nos lanches da tarde? a) ( ) Frutas b) ( ) Sucos c) ( ) Chás d) ( ) Leite e) ( ) Café f) ( ) Pães g) ( ) Biscoitos h) ( ) Bolos i) ( ) Queijos j ( ) Outros 8 - Costuma jantar? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 9 - Que tipos de alimentos costuma ingerir no jantar? a) ( ) arroz b) ( ) feijão c) ( ) massas d) ( ) saladas e) ( ) carne vermelha f) ( ) peixe g) ( ) legumes cozidos h) ( ) sopas i) ( ) outros 10 - Faz algum lanche antes de ir dormir? a) ( ) Nunca b) ( ) De 1 a 2 vezes por semana c) ( ) De 2 a 4 vezes por semana d) ( ) Mais que 4 vezes por semana 11 - O que costuma ingerir? a) ( ) leite b) ( ) chás c) ( ) café d) ( ) pães e) ( ) biscoitos f) ( ) outros