habitar a margem

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TFG sobre a estruturação urbana e econômica da orla de Corumbá-MS

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101

303

ESCOLA DA CIDADEAssociação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo

Maria Emília Marinho de Barrosorientador Newton Massafumi

Habitar a margemestruturação urbana e econômica da orla de Corumbá

São Paulo 2012

agradeço

505

Primeiramente a Deus, que me proporcionou estudar nesta instituição e que me deu forças todo o tempo para prosseguir e realizar este trabalho; à minha família que esteve sempre ao meu lado me apoiando, minha mãe, pai, irmãos e, principalmente, meu marido com sua paciência interminável.

Aos amigos: Ana Emília Andrade, André Godinho, Anita Freire, Carolina Sacconi, João Walliig, Marina Rosenfeld, Renata Gaia, Paula Marques, Tiago Testa.

Aos professores: Chico Fanucci, Cristiane Muniz, Eduardo Ferroni, Fernando Viegas, Marcos Acayaba, Newton Massafumi,Vera Domschke.

Aos colaboradores: Marina Rosenfeld (caderno), Vitor Isawa (maquete física).Aos que me ajudaram em Corumbá: Lausie Mohamed Xavier (Prefeitura e

CAU), Renato Ebole(prefeitura), Pedro Paulo Marinho (meu irmão - prefeitura), Flavio Nascimento (EMBRAPA), Joana (Associação Amor Peixe), pescadores ribeirinhos, Beto da VIP, Colônia Z1 de pescadores.

À Escola da Cidade.

Croquis

707

Trabalho final de graduaçãoHabitar a margem:

estruturação urbana e econômica da orla de Corumbá

índice

909

tema

recorte

bibliografia

pantanal

terminal pesqueiro

território

projeto

análises

maquete

p.10

p.34

p.74

p.14

p.42

p.102

p.18

p.54

p.106

tema

11

O tema deste trabalho discorre sobre o habitar a beira do Rio Paraguai na cidade de Corumbá-MS, a partir da população ribeirinha ali existente que tem como sua principal fonte de trabalho a pesca. A orla, a qual o trabalho se desenvolve, é o foco principal, pois a cidade começou desta área e ao longo do tempo abandonou-a, tornando este lugar um bairro dormitório, sem infraestrutura e planejamento, o que desarticulou o porto da cidade. O rio Paraguai que antes era a chegada da cidade, hoje é o fim, pois as suas conexões foram abandonadas pela lógica de substituição de vetores de transportes, como será explicado ao longo do trabalho.

Neste sentido, o trabalho tem o intuito de analisar as situações existentes e propor uma nova ocupação na orla e uma nova lógica econômica para a área, e em consequência, para a cidade, a fim de que o rio se reconstitua como eixo e elemento primordial para a vida da cidade.

A pesca hoje é uma atividade marginal, sem infraestrutura e perspectivas futuras, porém isso só poderia ser revertido se esta atividade se estruturasse numa cadeia produtiva, a fim de que o pescado seja utilizado em todos as suas potencialidades comerciais e de consumo. Hoje a única parte da cadeia que existe, e ainda assim, com dificuldades de organização e incentivos, é o curtume, ou seja, a transformação da pele do peixe em couro, e foi a partir desta atividade que o trabalho se baseou e se desenvolveu.

Portanto, o intuito é desenvolver a orla de Corumbá, a partir da principal atividade portuária hoje,mas não única, que é a pesca.

Inquietações:Pesquisar, respirar, trazer tudo à tona junto com o desenho, trazer memórias,

vivências, poesia, pessoas, histórias. Trazer Corumbá para São Paulo e São Paulo para Corumbá, num diálogo simultâneo dinâmico e ativo, ao mesmo tempo nostálgico e poético. A cultura, música, comida, dança, expressões, isso tudo mergulhando e inundando a arquitetura para pensar num objeto conector. Objeto que chama a cidade Alta para a Baixa, que convida diariamente a cidade a retornar ao rio, que nasce dele e ao longo do tempo ignora-o. O porto se torna um cenário para turistas, um museu da cultura e em outros momentos, abrigo indesejado e irregular para moradores de baixa renda, gerando zonas de conflito sociais muito sérias e determinantes para o lugar. Há, então, uma vontade dessa cidade baixa se integrar de fato na cidade, numa leitura sensível, poética e de entendimento da sua importância histórica e cultural para a cidade. Programas que promovem mais habitabilidade e convívio coletivo.

Vista da Cidade Alta

Vista para o casario do porto

território

15

Apresentação do território e as influências entre cidades | Fonte: mapa de base REGIC 2007

Linhas de transportes

Fronteira nacional

Pantanal

Município de Corumbá

A cidade de Corumbá é o maior município no bioma do Pantanal, o que a torna peculiar, com problemáticas específicas a serem tratadas neste trabalho. Além disso, faz fronteira com dois países, Bolívia e Paraguai, e está no ponto mais central e estratégico do percurso do rio Paraguai. Desta forma Corumbá se configura como um nó intermodal de transportes pois conecta hidrovia, rodovia e ferrovia, como pode-se observar no mapa anterior. Esta situação geográfica é muito favorável para o crescimento econômico da cidade, porém não é o que de fato tem acontecido até hoje.

A ferrovia, que ligava o centro-oeste ao sudeste pelas cidades de Corumbá e Campinas, respectivamente, está desativada, e o rio é usado hoje para escoar parte do minério explorado na região e, principalmente, para o turismo que se configura como predatório na cidade. Neste mapa de influências entre cidades do IBGE, é possível observar a rede de cidades existente pelas influencias que elas exercem entre elas, e Corumbá não tem relevância nesta rede.

CORUMBÁ

17

Casario do Porto

pantanal

19

PANTANAL É O LIMITE DA CIDADE CONSTRUÍDA

CIDADE ALTA CIDADE bAIxA

O Pantanal é um bioma singular por conta do regime de suas águas que consiste na alternância de cheias e vazantes. Este fenômeno é responsável pela biodiversidade aquática e períodos de procriação da fauna, assim como diz Aziz AB’SABER, “Bioma central no percurso da hidrovia do Paraguai, funciona como esponja de chuvas”, o que torna a atividade da pesca uma importante alternativa econômica de estruturação da cidade.

Além do regime das águas, há o fator cultural de desenvolvimento da atividade pesqueira, imbuído no pescador pantaneiro que detém um saber específico desta atividade e do bioma inserido. A falta de políticas sustentáveis de fortalecimento desta cadeia produtiva da pesca, e falta de organização e conhecimento da classe pesqueira, torna o pescador uma classe marginalizada.

A pesca é uma atividade muito difundida na região do Pantanal por conta da sua vasta rede hídrica e pela facilidade da população encontrar nesta atividade a sua subsistência. Porém, a pesca ainda é uma atividade pequena no âmbito nacional se comparada à agricultura ou pecuária. Apesar de o Brasil conter 80% do seu território permeado por rios e mar, ainda importa-se 50% de todo pescado

consumido. Apesar da atividade estar ganhando território a cada ano, como é o caso da Sadia no Mato Grosso, que encontrou na piscicultura uma alternativa à criação de aves, ainda é pequena a produção nacional de pescado se comparada a outras atividades.

Hoje em Mato Grosso do Sul, a maior produtora de pescado é a região de Dourados, destacando Itaporã, depois Campo Grande e Três Lagoas, como maiores produtores de pescado da região. Esses municípios se encontram fora do bioma do Pantanal. São cidades que se situam no leste do Estado e estão organizadas em rede entre si. Já na porção oeste do Estado isto não ocorre e a produção de pescado se restringe a pequenos produtores particulares, ou a pescadores artesanais. Diante deste cenário, o trabalho primeiramente se atentou a desenvolver uma rede de cidades da pesca no oeste do Estado, onde cada região ou núcleo de cidade seja um potencial econômico para o seu entorno, onde as trocas comerciais, tecnológicas e de conhecimento e pesquisa, constituem o principio básico, como qualquer sistema em rede.

BIOMA DO PANTANAL

21

Cheia e vazante | acervo MUHPAN

maiores áreas inundáveis e de longa permanência menores áreas inundáveis e de menor permanência menores áreas inundáveis e de curta permanência

23

corredor ecológico áreas de preservação da biodiversidade

Apresentando os mapas de bioma do Pantanal, percebe-se que as áreas de maior relevância ambiental se concentram na região de Corumbá, o que reforça a necessidade e possibilidade de desenvolvimento desta atividade na região. Isso porque, como diz no artigo da EMBRAPA PANTANAL, “A pesca realiza o importante serviço de conservação – pelo uso – dos recursos pesqueiros e o monitoramento da qualidade ambiental do Pantanal para a sociedade”. Portanto, pensar na pesca em Corumbá é essencial para a questão social, econômica e urbana da orla. Os ribeirinhos, sendo grande parte pescadores, reforçam a necessidade de se criar um sistema integrado de economia e inserção social na cidade baixa.

Média prioridade

Baixa prioridade

Alta prioridade

A rede de cidades, portanto constitui-se a partir do eixo principal Norte-sul do Rio Paraguai com a cidade de Corumbá no centro pela sua estratégia de intermodalidade com a ferrovia e rodovia. Corumbá está estrategicamente localizada no extremo oeste de Mato Grosso do Sul, dispõe de eixos viários que permitem inserir o espaço geográfico, podendo integrar uma rede de influência com os países da América do Sul, chegando até o oceano Pacífico, por um lado, e até o oceano Atlantico por outro. Portanto, a rede se configura desta forma: no extremo norte do rio paraguai, a cidade de Cáceres, que já possui a atividade de pesca de grande importância na região, se conecta com o extremo sul Porto Murtinho, que nasceu por causa da ferrovia e que hoje apresenta uma necessidade visível de geração de renda e crescimento urbano com a destivação da linha férrea, com a cidade de Corumbá entre elas. Nesta rede macro estão envolvidos os dois Estados do Mato Grosso e os países de fronteira, configurando então uma macro região de comércio e conexões.

REDE DE CIDADES

rede de cidades Cárceres - Corumbá - Porto Murtinho possíveis influências da rede

25

Mapa regional do Pantanal com povoados e sistema hídrico. Diagrama sub-rede

Rio

Estrada parque

Ferrovia Gasoduto BR-BO RodoviaSubrede Corumbá

Estabelecida a rede macro Cáceres – Corumbá – Porto Murtinho, aproximando-se mais da região de Corumbá, surge uma sub-rede que consiste na região de Corumbá – Ladário – Porto da Manga – Porto Esperança, já pesqueiras. Isso porque a região de Corumbá está afastada dos polos da rede macro cerca de 500km, portanto há a necessidade de estabelecer um vínculo mais local com as cidades vizinhas, onde Corumbá já é o ponto de referencia delas.

HISTÓRICO

A cidade foi fundada em 1779 como um destacamento militar, pela posição estratégica no Rio Paraguai e a fronteira com a Bolívia, para defesa dos limites territoriais do Brasil. Esta situação foi determinante para a constituição da cidade no âmbito arquitetônico e cultural que hoje tem um conjunto de casario reconhecido pelo IPHAN como patrimônio Histórico e cultural. Pela posição estratégica, Corumbá sempre esteve atrelado aos interesses militares do país, que por sua vez construiu Fortes na região para assegurar o território.

A cidade passou por momentos dramáticos na história com a Guerra do Paraguai em 1865, momento em que foi tomada pelos paraguaios e ficou sob o comando de Solano Lopez por dois anos e meio, quando teve a retomada pelo Brasil. Neste período paraguaio a cidade teve um desenvolvimento econômico atrasado, com graves crises e descaso público, o que interrompeu o crescimento econômico proporcionado pelo decreto de D.Pedro II de livre trânsito de embarcações nacionais e estrangeiras pelo rio Paraguai. Três anos depois Corumbá foi transferido para três quilômetros de onde estava para atender à nova demanda, e em pouco tempo se tornou em um dos maiores entrepostos de comercio do país, depois de Santos e Rio de Janeiro. Depois da reconquista de território pelo Brasil, voltou também o comércio com países vizinhos, como Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, e até com a Europa por conta da bacia do prata. Os transportes predominantes eram os vapores sul-americanos, e navios europeus. O porto de Corumbá chegou a ter 25 agencias de banco e cinco consulados estrangeiros. Foi o maior entreposto comercial da região com mercadorias que chegavam de vários lugares, como os vinhos portugueses e tecidos franceses e ingleses. De lá saiam o charque, o couro, o cal e a erva-mate.

Havia também os aspectos negativos desta condição territorial de livre acesso e transito. “Os poucos grandes empresários monopolizavam os negócios e a maioria da população vivia na pobreza. Atraídos pelo intenso comércio, nativos dos países vizinhos engrossavam o contingente de miseráveis.” (artigo do jornal “O Correio do Estado” de Corumbá, Eumano Silva e Silvia Pavesi).

A economia corumbaense começou a entrar em crise com a chegada da ferrovia em 1914, que substituiu o transporte hidroviário pelo ferroviário, e a cidade passou a ser rota de passagem e não de parada, desta forma grande parte do comercio foi transferido para Campo Grande. Com isso, novas atividades econômicas cresceram e tomaram território, como a mineração e a pecuária, predominante até hoje. O comércio e serviços locais passaram a ser economia secundária de subsistência da cidade. Porém Corumbá perdeu importância nacional como polo de importação e exportação.

27

Acervo histórico do MUHPAN – Corumbá - 1910

Antigo porto de comércio | Acervo histórico do MUHPAN – Corumbá - 1910

Porto do comércio transformado em Porto Turístico,

O problema da lógica de substituição dos vetores de transporte acarretou na situação das fotos anteriores: duas fotos no mesmo local tiradas em épocas diferentes. A primeira, quando o porto ainda era o maior entreposto comercial da América Latina, e o terceiro maior porto do Brasil. A segunda foto, atual, mostra o abandono das funções comerciais do porto e a atividade turística predominante, com isso o porto se torna área subutilizada, dependente de um turismo que beneficia uma pequena classe de comerciantes.

O potencial conector do rio Paraguai é vasto, como pode-se observar no mapa do IBGE de trechos navegáveis dos rios brasileiros. A hidrovia do Paraguai conecta Estados, ultrapassa fronteiras e faz de Corumbá um nó intermodal de transportes. Portanto, restringir o porto de Corumbá ao turismo é restringir todas as potencialidades que esta hidrovia apresenta.

O PORTO E O RIO

31

trechos rios navegáveis – Rio Paraguai | Fonte: IBGE 2007

Rio Paraguai - vista para a Fronteira da Bolívia

33

Rios e topografia - Rio Paraguai relevância continental

rios

rio paraguai

análises

Orla de Corumbá - Rio Paraguai

foto aérea BR-BO

Puerto Quijarro Corumbá Ladário

37

Estabelecida a conexão entre as cidades de interesse, o trabalho se aproximou da cidade de Corumbá, mais precisamente da orla fluvial da cidade, para detalhar um ponto desta rede.

A mancha urbana de Corumbá, como na foto aérea acima está diretamente conectada com a fronteira da Bolívia, a Oeste no mapa, e com a cidade de Ladário a Leste. O que torna a cidade o pólo principal entre as três.

Primeiro, A cidade começou sua ocupação na beira do rio como porto de trocas comerciais e foi se espraiando para o sentido norte-sul, ocupando a base dos morros. A topografia acidentada na cidade baixa para a alta denota que toda a cidade alta está assentada num maciço demonstrado no mapa de topografia, pela estreita faixa construída na várzea. Além do fator topográfico de crescimento da mancha urbana, há o vetor de transporte como indicador do crescimento urbano, que se configurou na historia da cidade como elemento mais importante para direcionamento do que a cidade é hoje.

Topografia

várzea

rios e transporte

25 - 40m

40 - 50m

50 - 65m

65 - 80m

80 - 110m

39

Cidade hoje

2004 programa PAC, surgimento de um novo bairro diretrizes do plano diretor

1772 - 1857 cidade original e o rio como vetor de transporte e comércio mais importante

LÓGICA DE SUBSTITUIÇÃO DOS VETORES DE TRANSPORTES

2009 anel rodoviário de ligação da cidade com a froteira

1920 primeiro crescimento urbano, traçado de Almirante Delamare, linha férrea em projeto

linhas de ônibus conectoras

1956 a chegada da ferrovia, consequente abandono do rio, crescimento da cidade ultrapassa os trilhos

1970 a chegada da rodovia e abandono da ferrovia

o idela de intermodalidade

41

A análise aproximada da cidade foi feita a partir do crescimento dos vetores de transporte ao longo da historia. Isso porque a lógica de crescimento da mancha urbana sempre dependeu do transporte. Como ja dito anteriormente, a cidade começou na beira do rio por conta da conexão hidroviária entre as cidades e países vizinhos, que proporcionava o transito de mercadorias e trocas comerciais. Porém, com a chegada da ferrovia, o eixo hidroviário perdeu força totalmente e a cidade entrou numa crise economica avassaladora. Desde então, a cidade continuou na lógica de substituição de transportes. A ferrovia substituiu a hidrovia, a rodovia a ferrovia, e desta forma espaços vazios e abandonados foram surgindo, como podemos observar na sequência de mapas ao lado, com o patio da ferrovia desocupado. A desarticulação do porto com a cidade e a desativação do seu funcionamento, acarretou no abandono de muitos edificios desta área e no processo de favelização nos bairros vizinhos ao casario do porto, como o bairro Beira-rio, Generoso e Cervejaria. A pesca passou a ser a economia de subsistencia principal para os ribeirinhos, porém é uma atividade que não participa da economia da cidade de fato. Além da falta de infraestrutura e organização geral.

recorte

43

O recorte de aproximação do trabalho visou abranger as áreas de influências mais próximas da orla, principalmente considerando o terminal de ônibus existente, as vias de maior fluxo e de conexões com todos os bairros. O foco do trabalho neste momento é possibilitar uma reintegração da área portuária na cidade através de conexões pontuais e rápidas, como se pode ver nos mapas subsequentes.

Dentro deste recorte está o perímetro de tombamento do IPHAN, que consiste na preservação arquitetônica do complexo do casario do porto. Este tombamento foi responsável pelo projeto de restauração de um trecho da orla, ocupada pelo turismo essencialmente. Isto acabou por delimitar espaços muito díspares na orla, ao invés de possibilitar um investimento na orla inteira. Apenas o casario do porto foi restaurado, bem como o espaço público circunvizinho, porém a outra parte da orla, que foi ocupada por habitações auto-construídas, ficou esquecida, com edificações abandonadas, possibilitando ocupações indesejáveis na beira do rio, e que está ocupada pela maioria dos pescadores da cidade.

Habitação de baixa renda na Cidade Baixa

45

perímetro de tombamento IPHAN

áreas de habitação precária

Estratégias de intervenção

Construção de área de lazer para o bairro foto 02

Construção de um apoio para a horta existente foto 01

foto aérea BR-BO

47

ampliação do mirante existente foto 06

demolição do teatro em construção, reforma do antigo

galpão do porto

transposição da cidade alta para a baixa - elevador público, conectado ao terminal de ônibus urbano

foto 04

parada de barcos pesqueiros, construção de um atracadouro e do terminal pesqueiro público

foto 03

relocação da habitação precária para a encosta, fora da área de risco

foto 07

novo do limite construído delimitado por um parque contínuo beira-rio com uma ciclovia nova

desenho de implantação

perímetro de tombamento IPHAN

áreas de habitação precária

Foto 01 a e b Foto 02 a e b

49

Foto 03 a e b Foto 04 a e b

Foto 05 Foto 06 a e b

51

Foto 07 a e b

Orla turística restaurada

A história da cidade ficou marcada na arquitetura e no traçado urbano. O porto preserva ainda as ladeiras originais e uma parte do casario comercial dos anos 1860. A primeira área urbana, denominada Cidade Baixa, localiza-se às margens do rio Paraguai e está na cota mais baixa do maciço do Urucum, onde se localiza o perímetro de tombamento do IPHAN. A segunda área, denominada de Cidade Alta, se encontra no sítio urbano superior, de cota 30-45 metros acima da cidade baixa, constituindo assim, uma espécie de falésia em frente ao rio delimitando a orla do Paraguai. A orla, porém, consiste em uma área três vezes maior que a do perímetro de tombamento, sendo que na parte não histórica a moradia é precária e há falta de infraestrutura urbana básica, como saneamento básico, drenagem, acesso a equipamentos públicos e de lazer e à economia da cidade. A área portuária hoje se restringe, portanto, à moradia de baixa renda, favelas, e transbordo turístico operado em uma porção onde está o casario histórico. E ainda assim, o turismo não é absorvido pela cidade em escala econômica e nem pelo porto, pois a pesca

53

Orla esquecida

é a principal atividade do turismo e o lugar onde ocorre é distante da área urbana, através de viagens pelo rio Paraguai que costumam durar até quatro dias, depois o turista volta para a área urbana e logo retorna à cidade de origem, muitas vezes levando grandes quantidades de pescado.

Esta condição existente hoje na cidade configura um panorama econômico que desarticula o porto do restante urbano, trazendo problemas socioculturais para a região. O pescador que ali reside depende de uma cadeia turística muitas vezes predatória, ou de um mercado de peixes completamente restrito e desestruturado, no qual o pescador ganha muito pouco e o consumidor paga muito caro, tornando o pescado um produto pouco consumido pela população. Isto se deve pelo fato dos custos com a pescaria serem caros, como a gasolina, o gelo, e por não haver um ponto de comercialização oficial dos próprios pescadores que dependem dos “atravessadores”, ou seguem de porta em porta vendendo seus peixes a preços mais dignos.

projeto

55

desenho da orla+

programa da pesca

a cidade reconstitui o rio

“a agua do rio é fundamental para a existencia da cidade, do agrupamento humano : abastecimento, irrigação, comunicaçao

entre cidades.” (a.delijaicov)

POR QUE PESCA?

DESENVOLVER A CADEIA PRODUTIVA ORGANIZADA DA PESCA

“Pesca, uma atividade estratégica para a conservação do pantanal”(CPAP – EMBRAPA – 2012)

“A pesca é um modo de vida e parte integrante da cultura dos pescadores profissionais e de subsistência, detentores de um valioso conhecimento ecológico tradicional(CET)”(CPAP – EMBRAPA – 2012)

“A pesca realiza o importante serviço de conservação – pelo uso – dos recursos pesqueiros e o monitoramento da qualidade ambiental do Pantanal para a sociedade”(CPAP – EMBRAPA – 2012)

“O setor de aquicultura carece de coordenação do seu desenvolvimento. Os aquicultores têm baixo nível de organização”(CPAP – EMBRAPA – 2012)

Atual estacionamento de barcos pesqueiros

57

Neste sentido o trabalho tem o intuito de desenvolver uma cadeia produtiva da pesca para organizar a atividade e, a partir deste programa indutor, traçar um plano urbano para a orla.

A pesca é uma atividade muito difundida na região do Pantanal por conter uma rede hídrica abundante e população ribeirinha habitando ao longo dos rios.

Analisando os fluxos na cidade, as conexões existentes, percebe-se que a região portuária, a cidade baixa, está fora do eixo comercial da cidade, portanto não faz parte da economia da cidade e por isso se torna um bairro praticamente dormitório, exceto o que acontece no Moinho Cultural e nos finais de semana na praça restaurada pelo IPHAN, já citada anteriormente. Além da problemática econômica, há a problemática social se observarmos a população ribeirinha que mora em áreas de risco na orla, e que não estão inseridos numa área devidamente urbanizada.

Levando em conta os aspectos acima e todos citados anteriormente, o trabalho tem o intuito de elaborar um novo desenho urbano para orla toda, desde o bairro Beira-rio até a Cervejaria, com um equipamento pesqueiro de escala regional, que pode alavancar a economia portuária e gerar oportunidades de novos empregos e inserção social da população ali residente, mantendo a população ribeirinha morando no mesmo lugar, com situações urbanas mais dignas, e inserida economicamente na cidade, para que a pesca seja de fato um item de sustentabilidade na cidade.

Neste cenário traçado, o desenho da orla consiste no novo limite da cidade construída, com parque contínuo e bolsões com mirantes e avanços em passarela ao longo dele, áreas de lazer, habitação, estacionamentos, apoio à horta comunitária existente, e o terminal pesqueiro com um atracadouro para os pescadores. A seguir, as análises da área e propostas de implantação.

Transposição e conexão da Cidade Alta e Baixa

várzea

25 - 40m

40 - 50m

Orla

Rio e conexões

Praça Generoso Ponce e Praça do terminal de ônibus

5959

Construção do novo limite da orla

6161

Maquete de implantação

Praça da escola

Uso saxonal da planície

6363

bairro cervejaria

bairro cervejaria

igreja

igreja

planície de alagamento

planície de alagamento

Corte antes e depois

Horta comunitária - atividade alternativa da pesca

PROBLEMAS:

- HORTA EXISTENTE SEM INFRA-ESTRUTURA

- MORADIAS EM ÁREA DE RISCO

- LOTES E EDIFICAÇÕES ABANDONADAS

6565

horta comunitáriahabitação precária

horta comunitáriaapoio horta

Corte antes e depois

Fundo das casas na planície de alagamento

PROBLEMAS:

- VIAS DE ACESSO ESTREITAS

- MORADIAS EM ÁREA DE RISCO

- PAISAGEM INTERROMPIDA

- LOTES E EDIFICAÇÕES ABANDONADAS

6767

mirante existente

ampliação do miranteCorte antes e depois

68

Fundo das casas na planície de alagamento

6969

habitação existente

habitação nova ciclovia e parqueCorte antes e depois

70

Orla turística

7171

antiga estação de energia em ruínas

terminal pesqueiro público

banca de peixe

nova banca de peixe

Corte antes e depois

Casario do porto tombado pelo IPHAN

7373

casario do porto praça IPHAN

praça IPHANconexão Cidade Alta e BaixaCorte antes e depois

terminal pesqueiro

7575

Diagrama do desenvolvimento da cadeia produtiva

Termo usado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Terminal Pesqueiro Público, é “a estrutura física construída e aparelhada para atender às necessidades das atividades de movimentação e armazenagem de pescado e de mercadorias relacionadas à pesca, podendo ser dotado de estruturas de entreposto de comercialização de pescado, de unidades de beneficiamento de pescado e de apoio à navegação de reembarcações pesqueiras.”(www.mpa.gov.br).

A cadeia da pesca, portanto, se desenvolverá no Terminal Pesqueiro contemplando a planta de beneficiamento de pescado, para que haja o aproveitamento total do peixe, gerando assim mais empregos e renda para a populaçao ribeirinha, e consequentemente, integrando o porto com a cidade novamente através da economia da pesca.

PEIxE FRESCO FILÉ

POLPA

COURO

PLANTA DEbENEFICIAMENTO

bANCA DE PEIxE

recorte desenvolvido

77

Diagrama de fluxos na implantação do terminal pesqueiro público

praça Generoso Ponce

novo desenho da praça

perímetro de tombamento

Antiga estação de energia em ruínas

7979

A implantação do terminal pesqueiro se deu a partir da ruína da antiga estação de energia, localizada no porto, fora do perímetro de tombamento e próximo ao atual estacionamento de bascos pesqueiros. A ideia, desde o início, foi de estabelecer um ponto conector do projeto do terminal com os espaços públicos relacionados, para que toda a planta de beneficiamento do pescado pudesse ser contemplada pela população. Portanto, a ruína, com o projeto de restaurante no seu interior, se torna o ponto de encontro do terminal, o espaço de distribuição dos visitantes, organizador do programa. Primeiro, surge a necessidade de reforçar a transposição já existente na ruína que conecta a praça Generoso Ponce, onde acontecem todos os eventos culturais da cidade, com o porto. Segundo, surge a necessidade de estabelecer uma conexão direta e contínua entre o atracadouro novo e o edifício do terminal, para que não haja fluxo de alimentos na orla. Com isso, o edifício ganha o segundo pavimento para transpor a rua com a mercadoria que será beneficiada. Terceiro, a partir das edificações abandonadas, um corredor de serviços conecta todas as partes do terminal, costurando a quadra e abrindo espaços públicos de sombra no térreo.

Conforme diagrama ao lado.

Produção do couro - Associação Amor peixe em Corumbá

8383

banca de peixe

telecentro da pesca

polpa

filés

curtume

administração

restaurante

Desenvolvimento do programa

O curtume é a única parte da cadeia produtiva da pesca que já ocorre em Corumbá, e foi a partir dele que a ideia de desenvolver a cadeia surgiu. A Associação Amor Peixe é composta por 12 mulheres que, em sistema cooperativo, produzem peças, vestuários, acessórios tudo em couro de peixe. O couro é o subproduto do peixe que pode trazer valor agregado até cinco vezes mais que o peixe in natura. Além de aproveitar todas as sobras do pescado, o couro de peixe ainda é considerado mais resistente que o couro de vaca. O mercado ainda é muito restrito ao turismo, o que dificulta a comercialização do produto. Porém, através desta cadeia que organiza a produção, é possível estabelecer relações comerciais mais consistente entre as cidades, tornando o produto viável e mercadológico.

A cadeia produtiva do peixe se dá desde o cultivo até a comercialização do produto beneficiado, com o aproveitamento total deste peixe: cultivo - planta de processamento de alimentos e insumos - curtume para a transformaçõ da pele em couro. Quanto ao cultivo, pode se dar através da pesca artesanal ou de piscicultura em tanques - rede. A planta de processamento consiste na produção de filés e do aproveitamento da polpa retirada por máquinas especiais de separação.

Implantação geral da orla 1000

Terminal pesqueiro público 250

praça generoso ponce

Planta do térreo 250

apoio para praça

praça de água

8787

croqui de implantação no terreno

planta térreo

banca de peixe

gelo

telecentro da pesca

restaurante

costuras do couro

moinho cultural cooperativas

apoio para os pescadores

100

doca

faculdade

recepçãopraça dos estudantes

mercado

ciclovia

planta do pavimento superior - produção

separação das partes do peixe

gelo

circulação com esteiras

apoio

mezanino do restaurante

preparação dos filés

polpa

100

curtume saída do peixe

copa

administração recepção

CORTE AESCALA 1:250

CBA

CORTE BESCALA 1:250

PLANTA CHAVE1:1000

cortes transversais

CBACORTE BESCALA 1:250

PLANTA CHAVE1:1000

CORTE AESCALA 1:250

93

100

CORTE CESCALA 1:250

CORTE DESCALA 1:250

cortes transversais

CORTE CESCALA 1:250

CORTE DESCALA 1:250

95

100

CORTE EESCALA 1:250

cortes transversal e longitudinal

CORTE F - RESTAURANTE

CORTE EESCALA 1:250

97

100

CORTE G - PASSARELA DE SERVIÇOESCALA 1:250

CORTE H

cortes longitudinais

CORTE H

CORTE G - PASSARELA DE SERVIÇOESCALA 1:250

99

100

ELEVAÇÃO FRONTALESCALA 1:250

elevação

ELEVAÇÃO FRONTALESCALA 1:250

101

100

maquete

103

105

bibliografia

107107MPA.Sessão infraestrutura e fomento. Governo Federal,2012. Disponível em:<http://www.mpa.gov.br/index.php/infraestrutura-e-fomentompa/infraestrutura/unidades-de-apoio-a-

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Orgãos de pesquisa visitados:

Instituto da Pesca , São Paulo-SPEMBRAPA Pantanal - Corumbá-MSMoinho Cultural Corumbaense - Corumbá-MSIBGE cidades- Corumba-MS.