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AGROALIMENTARIA Vol. 16, Nº 31; julio-diciembre 2010 65 Grisa, Catia 1 Gazolla, Marcio 2 Schneider, Sergio 3 AGROALIMENTARIA. Vol. 16, Nº 31; julio-diciembre 2010 (65-79) A "PRODUÇÃO INVISÍVEL" NA AGRICULTURA FAMILIAR: AUTOCONSUMO, SEGURANÇA ALIMENTAR E POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL Recibido: 09-12-2009 Revisado: 27-04-2010 Aceptado: 30-04-2010 1 Engenheira Agrônoma (UFPel, Brasil); Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS, Brasil); Doutoranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (UFRRJ, Brasil). Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima 64, Ap. 401, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Brasil. Telefone: +51-81300207; e-mail: [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo (UFSM, Brasil); Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS, Brasil); Doutorando em Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS). Professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, Brasil)-Campus de Frederico Westphalen-RS. Endereço: Campus da UFSM. Linha 7 de Setembro, s/n. Caixa postal 54-CEP: 98400-000. Frederico Westphalen-RS. Telefone: +55-37448942. URL da homepage: http://www.ufsm.br; e-mail: [email protected] 3 Sociólogo (UFRGS, Brasil); Mestre; Doutor e Pós-Doutor em Sociologia (UFRGS, Brasil e Cardiff, Gales). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS). Avenida João Pessoa- 31. Centro. 90040-000-Porto Alegre, RS-Brasil. Telefone: +51-33084115-Ramal: 6898. Fax: +51-33083281. URL da homepage: http://www.ufrgs.br/pgdr; e-mail: [email protected] RESUMO O objetivo do presente artigo é demonstrar a importância que a produção para autoconsumo possui para os agricultores familiares do Rio Grande do Sul-Brasil, em importantes dimensões do seu processo de reprodução social, como é o caso da geração da segurança alimentar e nutricional, assim como nos processos diversificação produtiva e econômica destas famílias. Esta produção longe de ser «invisível» como muitos estudos rurais do passado a definiram, ela é base importante dos processos de manutenção das formas familiares no rural, sejam estas mais ou menos integradas aos mercados. As políticas públicas, assim mesmo, muitas vezes desconsideram este tipo de produção, ou no pior dos casos, acabam solapando os seus processos produtivos, devido estas políticas incentivarem produções com maiores valores nos mercados, como é o caso das commodities agrícolas e a integração agroindustrial a grandes empresas de alimentos. Palavras chaves: autoconsumo, agricultura familiar, políticas públicas e autonomia, Rio Grande do Sul, Brasil. RESUMEN El objetivo del presente artículo es demostrar la importancia que la producción para autoconsumo tiene para los agricultores familiares de Rio Grande do Sul-Brasil, en importantes dimensiones de su proceso de reproducción social, como es el caso de la generación de la seguridad alimentaria y nutricional, así como de los procesos de diversificación productiva y económica de estas familias. Esta producción, lejos de ser «invisible» como muchos estudios rurales del pasado la definieron, es base importante para los procesos de manutención de la agricultura familiar rural, independientemente de que estén más o menos integrados a los mercados. Asimismo, muchas veces las políticas públicas omiten este tipo de producción, o en el peor de los casos, acaban solapando sus procesos productivos; esto debido a que tales políticas incentivan producciones con mayores valores en los mercados, como es el caso de las commodities agrícolas y la integración agroindustrial en grandes empresas de alimentos. Palabras clave: autoconsumo, agricultura familiar, políticas públicas, autonomía, Río Grande del Sur, Brasil.

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Vol. 16, Nº 31; julio-diciembre 2010 65

Grisa, Catia1

Gazolla, Marcio2

Schneider, Sergio3

AGROALIMENTARIA. Vol. 16, Nº 31; julio-diciembre 2010 (65-79)

A "PRODUÇÃO INVISÍVEL" NAAGRICULTURA FAMILIAR: AUTOCONSUMO,

SEGURANÇA ALIMENTAR E POLÍTICASPÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL

Recibido: 09-12-2009 Revisado: 27-04-2010 Aceptado: 30-04-2010

1 Engenheira Agrônoma (UFPel, Brasil); Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS, Brasil); Doutoranda no Programa de Pós-Graduaçãode Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (UFRRJ, Brasil). Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima 64, Ap. 401,Centro, Rio de Janeiro, RJ. Brasil. Telefone: +51-81300207; e-mail: [email protected] Engenheiro Agrônomo (UFSM, Brasil); Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS, Brasil); Doutorando em Desenvolvimento Ruralpelo Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS). Professor daUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM, Brasil)-Campus de Frederico Westphalen-RS. Endereço: Campus da UFSM. Linha 7 de Setembro,s/n. Caixa postal 54-CEP: 98400-000. Frederico Westphalen-RS. Telefone: +55-37448942. URL da homepage: http://www.ufsm.br;e-mail: [email protected] Sociólogo (UFRGS, Brasil); Mestre; Doutor e Pós-Doutor em Sociologia (UFRGS, Brasil e Cardiff, Gales). Professor da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS). Avenida João Pessoa-31. Centro. 90040-000-Porto Alegre, RS-Brasil. Telefone: +51-33084115-Ramal: 6898. Fax: +51-33083281. URL da homepage:http://www.ufrgs.br/pgdr; e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo do presente artigo é demonstrar a importância que a produção para autoconsumo possui para os agricultoresfamiliares do Rio Grande do Sul-Brasil, em importantes dimensões do seu processo de reprodução social, como é o caso dageração da segurança alimentar e nutricional, assim como nos processos diversificação produtiva e econômica destas famílias.Esta produção longe de ser «invisível» como muitos estudos rurais do passado a definiram, ela é base importante dosprocessos de manutenção das formas familiares no rural, sejam estas mais ou menos integradas aos mercados. As políticaspúblicas, assim mesmo, muitas vezes desconsideram este tipo de produção, ou no pior dos casos, acabam solapando os seusprocessos produtivos, devido estas políticas incentivarem produções com maiores valores nos mercados, como é o caso dascommodities agrícolas e a integração agroindustrial a grandes empresas de alimentos.Palavras chaves: autoconsumo, agricultura familiar, políticas públicas e autonomia, Rio Grande do Sul, Brasil.

RESUMENEl objetivo del presente artículo es demostrar la importancia que la producción para autoconsumo tiene para los agricultoresfamiliares de Rio Grande do Sul-Brasil, en importantes dimensiones de su proceso de reproducción social, como es el casode la generación de la seguridad alimentaria y nutricional, así como de los procesos de diversificación productiva y económicade estas familias. Esta producción, lejos de ser «invisible» como muchos estudios rurales del pasado la definieron, es baseimportante para los procesos de manutención de la agricultura familiar rural, independientemente de que estén más o menosintegrados a los mercados. Asimismo, muchas veces las políticas públicas omiten este tipo de producción, o en el peor de loscasos, acaban solapando sus procesos productivos; esto debido a que tales políticas incentivan producciones con mayoresvalores en los mercados, como es el caso de las commodities agrícolas y la integración agroindustrial en grandes empresas dealimentos.Palabras clave: autoconsumo, agricultura familiar, políticas públicas, autonomía, Río Grande del Sur, Brasil.

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RÉSUMÉ

ABSTRACTThis article expresses the importance that the self-consumption production have for the social reproduction of the familyfarmers in the Rio Grande do Sul, Brazil, mainly for food security and productive diversification process. This production isfar from being treated as «invisible», as many rural studies of past described, it is an important basis for reproduction processof rural family farms, whether more or less integrated markets. However, very often the public policies disregard thisproduction and, at this place, stimulate the production of commodities and the integration to conventional agro-foodmarkets.Keywords: self-consumption, family farm, public policies, autonomy, Rio Grande do Sul, Brazil.

L’objectif de cet article et de démontrer l’importance de la production de l’autoconsommation pour les agriculteurs familialesde la zone de Rio Grande do Sul-Brésil, par ses dimensions importantes de son processus de reproduction sociale, commec’est le cas de la génération de la sécurité alimentaire et nutritionnel, ainsi que des processus de différentiation productive etéconomique de ces familles. Différemment de ce que beaucoup d’études ruraux ont approuvés, loin d’être «invisible» cetteproduction est une base importante pour le processus de sustentation des différentes forme familiales dans le milieu rural,celles-ci qui sont plus ou moins intégrées dans les marchés. En outre, souvent les publiques politiques omettent ce type deproduction, ou dans le pire des cas, achèvent aves des dissimulations de leurs processus de production. Cela à cause de tellespolitiques qu’encouragent les productions avec des valeurs plus élevées sur les marchés. C’est comme le cas des produitsagricoles et l’intégration agro industrielle pour les grandes entreprises alimentaires.Mots-clé: autoconsommation, agriculture familiale, politiques publiques, autonomie, Rio Grande du Sud, Brésil.

1. INTRODUÇÃOEste artigo discute a importância de uma das estratégiasde reprodução social da agricultura familiar que, emboratradicional, muitas vezes é «invisível» no âmbito dosestudos rurais e das políticas públicas: trata-se daprodução para autoconsumo. Também denominadocomo produção para autoprovisionamento ou «pro gas-to», o autoconsumo refere-se a toda produção realiza-da pela família cujos produtos são destinados ao seupróprio consumo. Diz respeito ao cultivo de alimentospara o consumo familiar (horta, pomar, criação deanimais etc.) e dos animais presentes noestabelecimento, à fabricação de ferramentas e àprodução de insumos para o processo produtivo.

Pretende-se argumentar neste trabalho que,diferentemente de outrora quando era qualificado comouma produção «marginal» ou «insignificante» do pontode vista econômico, o autoconsumo é tradição re-contextualizada que exerce vários papéis junto aos agri-cultores familiares e no mundo rural contemporâneo.Em diferentes contextos sociais e em distintas dinâmicasda agricultura familiar é possível observar que, malgradoas mudanças tecnológicas advindas a partir das déca-das de 1960/1970 e a crescente integração aos merca-dos, esta produção é uma estratégia recorrente. Todasas formas familiares de produção, sejam elas mais

empresariais ou mercantis, sejam menos inseridas nomercado (produtores de subsistência), realizam algumtipo de produção cujo fim é o consumo familiar. Aocontrário de desaparecer ou definhar, assiste-se emmuitas regiões rurais um fortalecimento da produçãopara autoconsumo, cujas razões e significadospermanecem ainda, em certa medida, desconhecidosou mal entendidos.

Estudos recentes vêm insistindo na idéia de que osagricultores não são atores sociais passivos. Afirma-seque os mesmos desempenham um papel ativo naconstrução de suas estratégias de resistências, o quelhes permite retomar a autonomia e criar «espaços demanobra» em face do contexto e da sociedade em quese situam. Para Van der Ploeg (2008), os camponeses eagricultores familiares tornam-se atores que manipulamuma base de recursos autocontrolada, o que lhes garan-te certa autonomia em relação à existência de um am-biente hostil. Da mesma forma, Scott (2002) assinalaque o campesinato define sua identidade e condiçãoatravés de formas cotidianas de resistência, queconstituem dispositivos de luta e resistência contra osgrupos dominantes e o próprio Estado. Também Ellis(2000) alude que os agricultores perseguem diferentesestratégias, sejam elas de resistência ou reação, paramanter e ampliar os seus meios de vida (livelihoods). De

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um modo geral, estes autores assinalam a importânciado desenvolvimento de estratégias autocontroladas (self-controled) pelos camponeses e agricultores de modo acriar e fortalecer sua autonomia em face de ambienteshostis que ameaçam ou restringem sua reprodução.

Não significa, todavia, afirmar que os mesmosbuscam um «isolamento» da sociedade envolvente ou aconstrução de economias semi-autônomas. Os agricul-tores familiares contemporâneos encontram-seintrinsecamente ligados aos mercados e a sua reproduçãosocial depende das relações estabelecidas com estes.Pensar uma reprodução autônoma, como defende Vander Ploeg (2006), denota a participação nos mercadose o acesso a outras instituições, mas desde que estesnão acarretem dependência a recursos externos e acrescente externalização da agricultura4 (como ocorreno caso do mercado de insumos agrícolas). Trata-se deperseguir estratégias que possibilitem às famílias o máxi-mo de controle sobre os recursos necessários a suareprodução.

É neste sentido, portanto, que o autoconsumo deveser interpretado: como uma estratégia que é utilizadapelas unidades familiares visando garantir a autonomiasobre uma dimensão vital: a alimentação. Com efeito, aprodução para autoconsumo possibilita o acesso diretoaos alimentos. Estes seguem direto da unidade deprodução (lavoura) para a unidade de consumo (casa),sem nenhum processo de intermediação que a tornevalor de troca. Como afirma Garcia Jr. (1989: 127), «(...)ao autoconsumir diretamente durante parte do ano, [as unida-des familiares] diminuem o tempo em que estão expostas àflutuação dos preços pagos ao consumidor, reduzindo os mo-mentos em que são apenas compradoras». Ademais, as famíliaspodem escolher os alimentos segundo seus «gostos ecostumes» e portam o saber-fazer necessário paracultivá-los. Todos elementos fundamentais em se tra-tando de segurança alimentar.

Além da autonomia alimentar, pode-se citar aimportância do autoconsumo em pelo menos mais doissentidos: a) esta produção constitui-se como uma fontede renda não-monetária, a qual possibilita que as famíliaseconomizem recursos na aquisição de alimentos nosmercados, fazendo frente a outras necessidades rele-vantes a sua reprodução social e; b) é uma estratégia dediversificação dos meios de vida, contribuindo, porconseguinte, para maior estabilidade econômica dasfamílias rurais.

4 Segundo Van der Ploeg (2006; 1992), a externalização refere-se aseparação de um número crescente de tarefas do processo de trabalhoagrícola, as quais são designadas a organismos externos. Os objetos,os instrumentos e progressivamente o próprio trabalho tornam-semercadorias mobilizadas em diversos circuitos mercantis.

Retomar este tema, já discutido por autores clássicosda sociologia e da antropologia (Chayanov, 1974; Wolf,1976), em contextos como o Brasil e a América Latinaé de extrema importância haja vista a forte presença docampesinato e da pobreza no meio rural. A posse deum pedaço de terra e a existência de certa da autonomiana produção de alimentos pode ser considerada nestesuniversos sociais a principal «arma dos fracos» (Scott,2002). Deste modo, este artigo apresenta dois objeti-vos principais. O primeiro é justamente debater aimportância do autoconsumo e demonstrar que estaprática integra o conjunto de estratégias de reproduçãosocial, econômica e alimentar que caracterizam o modode vida dos agricultores. O segundo consiste em evi-denciar como as políticas públicas brasileiras têminteragido com esta estratégia de reprodução social.Dada a sua importância, é mister discutir se as políticaspúblicas têm estimulado esta «fonte» de autonomia ouincitado a externalização do processo produtivo e adependência aos mercados.

Os dados apresentados neste trabalho são oriundosdo projeto de pesquisa intitulado «Agricultura Fami-liar, Desenvolvimento Local e Pluriatividade: eemergência de uma nova ruralidade no Rio Grande doSul» desenvolvido em conjunto pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural/UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul e Programa de Pós-Graduação em Agronomia/Universidade Federal dePelotas (Sacco Dos Anjos e Schneider, 2003). Esteprojeto teve por objetivo principal a realização de umestudo comparativo da dinâmica da agricultura fami-liar em quatro regiões da geografia gaúcha, com ênfasenas condições de ocupação e na diversidade de rendasdas famílias, dentre estas a renda do autoconsumo.Buscando captar a diversidade da agricultura familiargaúcha foram escolhidos os municípios de Veranópolis,representando a Serra Gaúcha, Morro Redondo, a Serrado Sudeste, Salvador das Missões, as Missões, e TrêsPalmeiras, o Alto Uruguai. Foram investigados 238estabelecimentos rurais (nos quais foram aplicadosquestionários semi-estruturados) e a produção para oautoconsumo esteve presente em todos eles.

Visando apresentar alguns dos principais resultadosdecorrentes desta pesquisa, este artigo está disposto emquatro seções. Na primeira discute-se a forma de cál-culo e os «meandros» que a estimação do autoconsumoenvolve. Na segunda são apresentados os principaisfatores determinantes da existência e intensidade doautoconsumo no universo familiar. Na terceira, trazem-se os dados quantitativos que mostram o papel destena reprodução social, alimentar e econômica dasfamílias. E na última seção discute-se o modo como as

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políticas públicas, particularmente o Programa Nacio-nal de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)e as iniciativas e políticas públicas locais, tratam aprodução para autoconsumo.

2. PARA COMPREENDER E ESTIMAR A PRODUÇÃOPARA AUTOCONSUMOUma das primeiras dificuldades ao estudar oautoconsumo situa-se em como mensurar esta produção.Para contribuir neste debate e fomentar estudos sobreeste tema, esta seção sumariza e discute as metodologiasutilizadas por alguns autores e projetos de pesquisa noBrasil.

A primeira indagação que surge, como brevementeapontado na introdução, é o que considerar comoprodução para autoconsumo. Para Garcia Filho (1999),o autoabastecimento alimentar envolve a produçãoproduzida e consumida pela família: alimentos, instru-mentos domésticos, artesanato, lenha, materiais paraconstrução ou para fabricação de objetos de uso dafamília, plantas medicinais, etc. Já Leite (2004) consi-dera à fração da produção agropecuária (agrícola,pecuária, extrativista e aquela resultante de produtosprimários beneficiados) produzida em umestabelecimento familiar e destinada ao consumo dafamília, dos responsáveis, à alimentação animal e outrosusos da atividade produtiva. Aqui, o conceito deautoconsumo é mais amplo que aquele utilizado porGarcia Filho (1999). A definição adotada no projeto depesquisa «Estratégias de desenvolvimento rural,multifuncionalidade da agricultura e agricultura fami-liar: identificação e avaliação de experiências em dife-rentes regiões brasileiras», cujos resultados estão com-pilados em Maluf (2003), referem-se à produção desti-nada à alimentação da família, dos animais e a produçãode lenha. Por fim, outro exemplo, o conceito utilizadopelo projeto de pesquisa «Agricultura familiar,desenvolvimento local e pluriatividade: a emergênciade uma nova ruralidade no Rio Grande do Sul» (SaccoDos Anjos e Schneider, 2003) -projeto cujo este artigoé resultante-, que diz respeito ao autoconsumo alimen-tar, ou seja, a parte da produção animal, vegetal etransformação caseira produzida pela família e consu-mida por esta.

Com base nestas distintas concepções, pode-se con-cluir que a definição de produção para autoconsumodepende do recorte atribuído pelo pesquisador, segun-do critérios próprios. Contudo é sempre importanteconsiderar, como faz Lovisolo (1989: 143), que não sãocaracterísticas ou quantidades que definem oautoconsumo. O que define é a lógica que orientou aprodução. Assim, «(...) o produto vendido não é nem um

resíduo nem um excedente da produção de autoconsumo, damesma forma que este último não é uma subtração ao produtocomercial». Esta é a definição que deve anteceder e orien-tar o recorte metodológico dos pesquisadores.

A segunda dúvida emerge quando na escolha dométodo de levantamento dos dados. Garcia Filho (1999)indica proceder à identificação da produção obtida (in-clusive os subprodutos) e o destino da mesma:comercialização, autoconsumo, consumo improdutivo,semente para a próxima safra etc. A parteautoconsumida constituirá o produto bruto deautoconsumo. Dos Santos e Ferrante (2003), baseando-se nesta metodologia, realizaram um levantamento daquantidade autoconsumida durante uma semana emcada mês, pelo período de doze meses consecutivos.Estes dados eram recolhidos ao fim de cada semanapelo técnico de campo, que identificava falhas ou errosde medidas, submetendo-os a correções. O grau dedetalhamento, a periodicidade da coleta e oacompanhamento dos dados tornam o resultado destemétodo muito próximo aos dados reais.

Na pesquisa de Sacco Dos Anjos e Schneider (2003),os alimentos autoconsumidos, diferenciados quanto àorigem animal e vegetal, também foram discriminados,porém o levantamento ocorreu através de umquestionário que indagava a quantidade consumidaanual, sem acompanhamento periódico. De modo dife-rente ocorreu no levantamento dos alimentos oriundosda horta e pomar, no qual foi solicitado aos entrevista-dos que estimassem o consumo em valores monetários,tendo em vista a grande variabilidade destes alimentosentre as unidades familiares e, sobretudo, peladificuldade de conseguir contabilizar as quantidadesconsumidas em um ano agrícola (por exemplo, quantospés de alface, laranjas, tempero verde etc.). Tambéminfluenciou na decisão, o grau de detalhamento doquestionário, o trabalho e o tempo de coleta dasinformações.5

Outra metodologia utilizada para o levantamento daprodução para autoconsumo é sugerida por Leite (2004),que deduziu da produção total a parte comercializada,as doações, a armazenada e a perdida. O resultante destaoperação refere-se à produção autoconsumida. Embora

5 È importante destacar ainda na metodologia desta pesquisa o fatode que, embora se tenha levantado os dados referentes a transformaçãocaseira, estes valores não foram contabilizados no produto bruto deautoconsumo total, em virtude do questionário não permitir aseparação da matéria-prima consumida diretamente pela famíliadaquela utilizada para a produção de derivados. Deve-se mencionar,no entanto, que esta é uma questão difícil até mesmo para as unidadesfamiliares, que dificilmente contabilizam seus gastos, ainda maisquando isto exige muita acuidade.

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pareça ser simples de executar, esta metodologia tambémdemanda a descrição das quantidades de todos os ali-mentos autoconsumidos para depois calcular o seu va-lor monetário.

Por fim, o procedimento utilizado na pesquisaconduzida por Maluf (2003), o qual adotou o critérioda est imação pelos agricultores do valor quedespenderiam para adquirir estes alimentos no merca-do, complementado pela discriminação dos principaisbens produzidos. Este procedimento possui a vantagemda praticidade e da economia de tempo, porém, comolembram os próprios autores, as unidades familiaresgeralmente não têm o hábito de contabilizar suaprodução, muito menos quando se trata da produçãopara autoconsumo, o que dificulta uma aproximaçãomaior à realidade, contribuindo para uma subestimaçãodesta produção.

A terceira questão referente ao cálculo utilizado paramensurar o autoconsumo, e provavelmente a maispolêmica, situa-se em que valor atribuir a estes alimen-tos. Entre os estudos brasileiros, a metodologia maisassídua é a utilizada por Garcia Jr. (1989), que conside-ra os preços ao consumidor (preço de compra). O autorassim procedeu para demonstrar que existia umaracionalidade que orientava a escolha dos cultivos.Entre produzir para o «gasto da casa» e produzir lavourascomerciais, existiam elementos que interferiam nadecisão ou no «cálculo» das unidades familiares, comoa flutuação dos preços, a existência de condições técni-cas de produção, o consumo e a disponibilidade de forçade trabalho da família. O somatório destes determinariaa opção por produzir ou comprar, autoconsumir ou ven-der determinado alimento. Se os preços fossem de talordem que produzindo lavouras comerciais, com omesmo trabalho despendido, pudessem fazer frente àsdemandas da família, a opção seria pela produção delavouras comerciais e não pelo autoconsumo. É parademonstrar a existência desta racionalidade guiando aescolha dos cultivos, e que não há nada de subjetivoneste cálculo, que Garcia Jr. (1989) utiliza como base opreço ao consumidor. Segundo o autor, é somente combase neste que as unidades familiares conseguem cal-cular se a produção comercial é compensadora ou secontinuam produzindo para o autoconsumo.

Outra forma de mensurar o autoconsumo éatribuindo o preço ao produtor (preço de venda) comoprocedido na pesquisa de Sacco Dos Anjos e Schneider(2003). Esta se justifica pela grande variação de preçosao consumidor entre mercados, disparidade que sepotencializa quando se trata de universos sociais dis-tintos e distantes geograficamente como era o caso dapesquisa (Sacco dos Anjos et al., 2004). Considera-se

igualmente o fato de que os produtos com a finalidadede autoconsumo nem sempre alcançam o padrão demercado, não atingindo os mesmos preços dos produtoscomerciais (Dos Santos e Ferrante, 2003) e, deste modo,os preços de venda refletem mais intensamente ascondições de reprodução das unidades familiares.Ademais, esta pesquisa visava calcular a renda total dasfamílias rurais e se atribuído o preço de compra, estar-se-ia superdimensionando a proporção do autoconsumosobre esta.

Alguns podem, em função desta escolha, argumen-tar que ao utilizar o preço de venda, o valor doautoconsumo foi subestimando o que está correto, masse trata de uma opção metodológica que tinha que serfeita. No entanto, pode-se contra-argumentar que utili-zando o preço ao consumidor ocorre umasuperestimação. Neste sentido, considera-se quenenhuma metodologia está equivocada. Em pese aslimitações e potencialidades das duas, ambaspossibilitam demonstrar a importância do autoconsumoe deve-se adotar uma ou outra dependendo dos objeti-vos da pesquisa.

Também há a particularidade do método utilizadopor Norder (1998), que atribuiu valor monetário aoautoconsumo a partir de informações dos nutrientesautoconsumidos e comprados. No levantamento reali-zado pelo autor, foram evidenciados nove nutrientesproduzidos e consumidos pela própria família, optan-do-se pela comparação do percentual de calorias, porser o nutriente com a menor média de autoconsumoentre os nutrientes apurados. Dispondo da porcentagemde calorias autoconsumidas e do valor em reais utiliza-do para comprar o restante (complementar a 100%),chega-se ao valor monetário atribuído aoautoabastecimento. Por exemplo, se uma famíliaautoconsumiu um percentual de 49,11% e comprou50,89% correspondendo a 0,37 salários mínimos percapita, o valor monetário do autoconsumo será de 0,36.Deste modo, o valor do autoconsumo oscila de acordocom o gasto com alimentação comprada e do percentualde consumo calórico destes alimentos (Norder, 1998).O questionamento que insurge a esta metodologia, dizrespeito à consideração apenas da porcentagem decalorias, e se o valor do autoconsumo, ao ser calculadocom base no custo das calorias compradas, correspon-de ao seu valor real.

Quanto à estimação do autoconsumo, é mister men-cionar ainda que, geralmente trabalha-se com produtobruto de autoconsumo e não líquido. Isto se deve aofato de não ser possível isolar, de forma exata, asdespesas que incorrem sobre esta produção daqueladestinada à venda. Por exemplo, são remotas as

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possibilidades de conseguir separar o custo da energiaelétrica utilizada na ordenha das vacas, cujo leite emparte vai para a venda e outra para o consumo, daquelado consumo geral da família. Sendo assim, prefere-secalcular o autoconsumo na forma de produto bruto (va-lor bruto) e não produção líquida.

Observadas estas questões, afirma-se que não exis-te uma metodologia única ou mais adequada para men-surar o autoconsumo. Todas oferecem vantagens edesvantagens, potencialidades e limitações. Contudo,antes de qualquer método, cabe considerar que, comojá advertia Chayanov (1981), as unidades econômicascamponesas não podem ser analisadas e tratadas a par-tir dos conceitos e princípios utilizados para medir aeficiência de uma empresa capitalista. Isto se deve, se-gundo o autor, ao fato dos agricultores organizarem seutrabalho e sua produção não com a finalidade de obterlucro, mas, sobretudo, de atender o bem-estar de suafamília e viabilizar a sua reprodução social.

Não foi objetivo de esta seção apontar a melhormetodologia, certo ou errado. Como dito inicialmente,deseja-se iniciar um debate metodológico buscandoqualificar o estudo. Uma padronização quiçá fosseinteressante vista a comparação entre regiões. Até omomento, cada pesquisador, segundo critérios próprios,recorta o que considera como produção paraautoconsumo e, do mesmo modo, procede com o mé-todo de coleta de dados e com o valor atribuído a estaprodução. Sabendo que uma padronização demetodologias não é uma tarefa fácil, unânime e rápida,espera-se que ao menos esta seção tenha contribuídopara elaboração de novas pesquisas e estimulado ospesquisadores a apresentar e discutir suas metodologias.Este é um exercício pouco realizado no Brasil e que,além de fornecer subsídios metodológicos, pode con-tribuir para o próprio reconhecimento da produção paraautoconsumo.

3. DETERMINANTES DA PRODUÇÃO PARA OAUTOCONSUMONo estudo realizado pela pesquisa de Sacco Dos Anjose Schneider (2003) e em outros trabalhos de estudiososdo mundo rural brasileiro (Maluf, 2003; Leite, 2004;Dos Santos e Ferrante, 2003; Menasche, 2007) obser-va-se que a produção para autoconsumo apresentadiferença de importância entre distintas dinâmicas daagricultura familiar e entre unidades familiares locali-zadas em um mesmo contexto social. O que pode ex-plicar estas diferenças? Responder esta questão é o ob-jetivo desta seção que apresenta os principais fatoresque interferem na produção para o consumo familiar.

Conforme já apontava Chayanov (1974) em seuestudo clássico sobre o campesinato, alguns destesfatores são a composição e o ciclo demográfico dafamília. Observou-se que à medida que aumenta o nú-mero de membros e o número de Unidades de TrabalhoHomem (UTH’s) na família, aumenta o valor do produtobruto de autoconsumo. Um número maior de «pessoasde trabalho em casa» permite uma melhor distribuiçãodas tarefas no interior do estabelecimento e mais tempodisponível à produção para consumo familiar.

Esta confluência, no entanto, não foi observadaquando concernente ao número de consumidores. Masisto não quer dizer que este não seja um fator determi-nante. Como afirmado por Garcia Jr. (1989), este é umdado que antecede qualquer decisão do processo detrabalho. É a relação entre o número de consumidorese trabalhadores que determinará a quantidade e a própriaexistência da produção para autoconsumo. Conformeexemplo explicitado por Garcia Jr. (1989), uma famíliade agricultores composta pelo casal e três filhos criançasapresenta um número maior de consumidores que deunidades de trabalho, neste caso, dependendo dascondições de preço de determinados alimentos, adecisão pode ser de comprá-los e não de produzi-los.Isso não minimiza a importância do número de consu-midores. «(...) O consumo semanal de farinha de seu grupodoméstico é um dado anterior a qualquer decisão do processo detrabalho, uma ‘imposição social’ de sua condição de chefe doestabelecimento» (Garcia Jr., 1989: 120, grifos no origi-nal).

Também se observou que esta geralmente é umatarefa das mulheres, como demonstraram tambémZanetti e Menasche (2007). Outro sim se notou quequando há mulheres beneficiárias da previdência socialno estabelecimento, o autoconsumo é mais elevado. Istoporque, muitas vezes, esta atividade é tida como umaprática de lazer.

Outras variáveis consideradas inscrevem-se noâmbito das condições técnicas de produção,nomeadamente a área total, o capital disponível emmáquinas e equipamentos, o acesso ao crédito e aassistência técnica. Observou-se que unidades familia-res com menores porções de terra e menos capitaliza-das produzem menos autoconsumo. Isto porque, comocitado por Garcia Jr. (1989: 240), «(...) diante de um esto-que de terras cada vez mais reduzido e em contínua valorização,simultaneamente as dificuldades de financiarem o acesso aequipamentos mais modernos, [os agricultores] fazem então uso,em larga escala, da intensificação do uso do próprio trabalho edos membros de suas unidades domésticas». Famílias nestascondições intensificam a força de trabalho disponívelem atividades que ofereçam maior retorno econômico

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(culturas comerciais), obtendo recursos para atendertodas as necessidades, inclusive as alimentares. Comefeito, o acesso ao crédito, à assistência técnica e àmedida que se intensifica a área total e o capitaldisponível, é respondido pelos agricultores com o au-mento do autoconsumo.

Estes resultados também foram importantes paraconfirmar que a produção para autoconsumo perma-nece mesmo em condições que as unidades familiaresadentram na mercantilização da agricultura (insiram-senos mercados, adquirem capitais, acessem créditos etc.),ou seja, não há uma relação direta entre aquelaprodução e este processo. Como afirmam Van der Ploeg(1990) e Gazolla (2004), a diminuição do autoconsumonão significa maior mercantilização da agricultura e, domesmo modo, maior mercantilização da agricultura nãoé sinônimo de redução do autoconsumo alimentar.

Percebeu-se também que alguns cultivos agrícolasinfluenciam o autoconsumo de forma mais ativa. Cul-tivos intensivos em mão-de-obra (a exemplo davitivinicultura, piscicultura e produção leiteira)interferem na produção para autoconsumo pelo tempodedicado que demandam. A soja e algumas anterior-mente citadas também influenciam, porém, devido àpredileção das famílias àqueles cultivos mais rentáveiseconomicamente. Menciona-se ainda a criação defrangos de corte no sistema de integração, no qual asempresas solicitam o término da criação de aves do-mésticas, repercutindo, mormente, no consumo degalinha caipira. Assim, unidades familiares que possuemalgum destes cultivos e/ou produções podem ter me-nor autoabastecimento alimentar.

A interface do autoconsumo com outras fontes derendas também foi considerada. No caso da renda oriun-da da previdência social, em alguns casos, esta podefavorecer o consumo de alimentos comprados pelaestabilidade econômica que oferece à família benefi-ciada e, por conseguinte, a diminuição do autoconsumo.Em outros, esta produção é mantida, sendo atribuída àconotação de lazer, um passa-tempo para os aposenta-dos rurais. Quanto à interface com as rendas deatividades não-agrícolas, esta é variável. Depende dotempo dedicado à atividade não-agrícola, do númerode pessoas na família e de quem a executa. Mas, análo-go a previdência social, esta renda oferece estabilidadepodendo favorecer a aquisição de alimentos via merca-dos.

Em relação à renda agrícola e total, percebeu-se queestabelecimentos com rendas mais elevadas apresentammaior produção para o consumo familiar, ou seja, oautoconsumo é superior nas unidades familiares maiscapitalizadas, como observaram também Norder

(2004), Dos Santos e Ferrante (2003) e Guevara (2002).Isto se deve ao fato de que, as unidades familiares commenores rendas tendem a concentrar os esforços emculturas agrícolas ou atividades que proporcionem maiorretorno econômico no tempo e por mão-de-obraempregada, fazendo frente às necessidades que emanam.Trata-se de uma estratégia para maximizar os recursosdisponíveis. Ao contrário do que alguns poderiam pre-sumir, estes dados também reiteram que a produçãopara o autoconsumo não está restrita a unidades maispropensas a decadência, e sim, também naquelas comagricultura familiar consolidada.

O repertório cultural é outro fator. Conforme Vander Ploeg (2003), este pode ser definido como um con-junto de noções estratégicas que guiam as ações práticase o comportamento dos agricultores. Trata-se de ummodelo de tomada de decisão que é amiúde partilhadopor um amplo número de agricultores, onde é discutidoe transformado. O repertório cultural dos agricultoresde hoje não é o mesmo daquelas unidades familiarespouco inseridas nos mercados, mormente antes damodernização tecnológica da agricultura. Contudo, ele-mentos permanecem, como é o caso da produção paraautoconsumo, tida como uma «herança que vem decasa». Referente a este fator, percebem-se diferençasna acuidade da produção «pro gasto» entre famílias quepossuem esta herança cultural daquelas que não a tem.A experiência acumulada junto aos pais e o fato de tertrabalhado na agricultura são elementos citados pelosagricultores como responsáveis pelo conhecimento eexistência donsumo também é influenciado pelo con-texto local, particularmente as dinâmicas dedesenvolvimento da agricultura familiar. Destaca-seaqui, sobretudo, o processo de modernização da agri-cultura que estimulou as unidades familiares aproduzirem commodities e não mais sua alimentação.Deste modo, universos sociais cujas mudanças da basetécnica foram mais acentuadas podem apresentar me-nor produção para o autoconsumo. Porém este não é oúnico fator. Universos sociais onde a economia e asatividades agrícolas são mais diversificadas tendem ater o autoabastecimento alimentar mais elevado. Emmunicípios ou regiões onde as técnicas e os hábitostradicionais foram preservados, esta produção é maisacentuada. Outro exemplo é o caso onde a dinâmica dedesenvolvimento está alicerçada nos recursos locais e,nestes casos, o autoconsumo pode surgir com novasroupagens, como trunfo para o turismo rural,valorização da qualidade e do modo de vida rural.Assim, o contexto local vem a somar na existência eintensidade da produção para o consumo familiar. Cadauniverso empírico possui uma especificidade ou um

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conjunto de elementos próprios conformando umadinâmica de desenvolvimento da agricultura familiarespecífica, que o distinguirá dos demais e queinfluenciará de modo particular a produção paraautoconsumo.

Poder-se-ia supor que a proximidade geográfica aosmercados seria outro fator relevante, contudo, alocalização já não é mais obstáculo. Tornou-se mais fácilalcançar os centros urbanos e os mercados por meio detransporte público ou veículo particular, e os merca-dos, do mesmo, tornaram-se mais próximos (porexemplo, através dos feiristas que comercializam seusprodutos na porta das casas). Esta contigüidade aosmercados aparece, então, como um fator que interfereno autoabastecimento alimentar, particularmente na suaredução. Soma-se a isto, o preço de muitos alimentosque se tornam atrativos à aquisição pelas famílias rurais.

Os meios de comunicação, os eletrodomésticos (ageladeira e freezer) e os alimentos prontos igualmentepodem ser elementos que interferem noautoabastecimento alimentar, porém não explicam asdiferenças entre universos sociais e entre unidades fa-miliares. Estes interferem em decorrência das mudançasnos hábitos alimentares provocadas pelas propagandase/ou facilidades oferecidas. No caso doseletrodomésticos, particularmente a geladeira e ofreezer, estes têm fomentado mudanças no consumoalimentar através da conservação dos alimentos. Porexemplo, antigamente a carne mais consumida era a desuíno que se conservava por mais tempo (a carne eraimersa na gordura e aí permanecia por longo período,até ser consumida); hoje a carne mais consumida entreos agricultores do Sul do Brasil é a bovina, emdecorrência da conservação em ambientes refrigerados.A geladeira e o freezer prolongam, ainda, a conservaçãode muitos outros alimentos e, desta maneira, a oferta econsumo. Por outro lado, no caso dos meios de

comunicação, estes também podem ser importantes ins-trumentos para o fortalecimento do autoconsumo viaincentivo através de programas técnicos e educativos.

Estes são fatores que podem explicar a diferença deimportância do autoconsumo entre unidades familiarese universos sociais. Não há como afirmar apredominância de um elemento sobre outro. Em con-junto ou alguns de modo especial em alguma unidadefamiliar ou universo empírico, estes elementosperpassam a tomada de decisão das famílias. Conclui-se que a produção para o consumo familiar estáimbricada num complexo conjunto de elementos erelações objetivas e subjetivas, muito além de uma sim-ples aversão ao mercado ou ao trabalho.

4. O PAPEL DO AUTOCONSUMO NA REPRODUÇÃOSOCIAL, ECONÔMICA E ALIMENTAR DOS AGRICULTORESAlém de estar presente, o autoconsumo responde porvalores monetários importantes para a família rural. ATabela Nº 1 apresenta os valores do produto bruto deautoconsumo diferenciados quanto à origem (vegetal eanimal) e o total nos municípios pesquisados. Verifica-se que se trata de valores expressivos, alcançando ovalor total anual médio de R$ 4.308,08 em Veranópolis,R$ 2.161,05 em Morro Redondo, R$ 4.223,08 em Sal-vador das Missões e em Três Palmeiras, R$ 3.026,02.Observa-se que há diferenciações relevantes entre osmunicípios, diferenças estas decorrentes dos fatoresdiscutidos na seção anterior. Chama a atenção, porexemplo, o fato de Morro Redondo apresentar umproduto br uto de autoconsumo total médiocorrespondente a 50,16% de Veranópolis. Todavia, oautoconsumo continua em todos os universospesquisados exercendo funções importantes à agricul-tura familiar, sobretudo no que concerne a condiçãosocioeconômica e autonomia.

T otal R$ % R$ % (R$)

Veranópolis 2.414,17 56,04 1.894,31 43,96 4.308,08M orro Redondo 1.081,39 50,04 1.079,66 49,96 2.161,05Salvador das Missões 2.026,01 47,97 2.197,87 52,03 4.223,88Três Palm eiras 1.425,48 47,11 1.600,00 52,89 3.026,02Total 1.736,76 50,63 1.692,96 49,37 3.430,02

Fonte: Sacco Dos Anjos e Schne ide r (2003).

Pro duto Bruto de autoconsumo animal, vegetal e total nos estabelecimentos pesquisados (valor m édio anu al em R$)

Produto Bruto do autocon sum o médio anual Vegetal Anim alM unicípio

Tabela 1

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6 Em Veranópolis, o produto bruto total corresponde a R$ 23.624,18;em Morro Redondo, R$ 12.411,81; em Salvador das Missões, R$25.503,48; e R$ 19.686,14 em Três Palmeiras.

Prod uto bruto to tal a nua l Ren da to tal anu al Cu sto da ce sta Vera nóp olis 2 9,39 21,87 68 ,31M orro Re don do 2 5,50 32,01 42 ,67Salvad or da s Missõ es 2 8,82 16,73 69 ,09Tr ês Palm eiras 3 1,80 38,34 54 ,22To tal 2 8,88 27,24 58 ,33

Fonte: Sa cco Dos Anjos e Schne ide r (20 03).

Pro porção do p ro duto bruto de auto cons umo total sobre o prod uto bruto tota l, a re nda total a nua l e o c usto da c esta bás ica nos esta bele cime ntos pes quisa dos (em % )

M unicíp ioPropo rç ão d o produ to bruto do a utoco nsum o (%) sobre…

A segunda consideração a ser feita a respeito daTabela Nº 2 é que, em média, 27,24% da renda total éfruto da produção para autoconsumo, contribuindoexpressivamente à condição econômica das famílias. EmTrês Palmeiras e Morro Redondo, casos maisexpressivos, as unidades familiares deixam de gastar,respectivamente, 38,34 % e 32,01% da renda total anualcom a aquisição de alimentos nos mercados, fazendofrente a outras demandas também necessárias àreprodução familiar. O pagamento de muitas despesas(luz, telefone, água, etc.) ou até mesmo o acesso a outrosalimentos necessários poderiam ficar comprometido ourestrito, caso a unidade familiar tivesse que adquirir todasua alimentação, necessidade primária, em mercados.Trata-se de uma importante forma de economização,segundo expressão utilizada por Lovisolo (1989). EmSalvador das Missões e Veranópolis, as porcentagensem relação à renda total anual são menores, resultadodesta ser mais elevada comparativamente aos demaismunicípios, fato que dilui a importância relativa doautoconsumo7.

A terceira consideração, complementando a anterior,é sobre o percentual do autoconsumo por consumidor8

sobre o custo médio da cesta básica no ano agrícola dapesquisa (2001/2002; R$ 132,21). Em Veranópolis eSalvador das Missões, onde a produção paraautoconsumo é uma estratégia mais valorizada pelasunidades familiares, o autoabastecimento respondequase a 70% do custo da cesta básica. Nestes, as uni-dades familiares deixam de gastar em torno de R$ 90,00por mês com alimentação. Morro Redondo e TrêsPalmeiras apresentam valores inferiores, 42,67% e

Tabela 2

7 Em Salvador das Missões, a renda total média anual é de R$18.911,28; em Veranópolis é R$ 26.969,50; em Três Palmeiras, R$11.033,12; e, em Morro Redondo, R$ 12.914,83.8 Uma unidade consumidora equivale a um individuo com idadesuperior a nove anos, e crianças até nove anos contabilizam meiaunidade consumidor, segundo metodologia empregada por Tavaresdos Santos (1984).

A importância social e econômica do autoconsumo émelhor apreendida na Tabela Nº 2, que apresenta aproporção deste sobre o produto bruto total, sobre a ren-da total e o custo da cesta básica. A primeira consideraçãoa ser feita a partir desta Tabela é que entre 25% e 30% doque é produzido (produto bruto) nos estabelecimentospermanece nestes para o consumo familiar, permitindo afamília o controle sobre uma parte considerável de suaalimentação, e, assim, sobre sua autonomia. Os alimentosseguem direto da unidade de produção (lavoura) para aunidade de consumo (casa), sem nenhum processo deintermediação com valores de troca. «Quando a gente quernão precisa ir ao super [mercado], já tem em casa», como referiuum agricultor entrevistado (Grisa, 2007). Segundo GarciaJr. (1989: 127), as unidades familiares, «(...) ao autoconsumirdiretamente durante parte do ano, diminui o tempo em que estãoexpostas à flutuação dos preços pagos ao consumidor, reduzindo osmomentos em que são apenas compradoras». Ou seja, diminuema exposição e desproteção frente aos mercados e suavulnerabilidade.

As diferenças entre municípios decorrem dos valo-res do produto bruto total6 e das proporções doautoconsumo. Em Veranópolis e Salvador das Missões,cujos valores do autoconsumo são 29,39% e 28,82%,respectivamente, embora as unidades familiaresproduzam mais para o seu consumo, o produto brutototal é mais elevado, diluindo a importância destaprodução. No caso de Morro Redondo (25,5%), os agri-cultores estão diminuindo a produção agrícola, inclusivepara o autoabastecimento alimentar, e, assim, se justificao valor baixo. Em Três Palmeiras (31,8%), as famíliasproduzem mais para o consumo familiar, comparado com

Morro Redondo, e apresentam menor produto bruto totalque Salvador das Missões e Veranópolis, contribuindo paraconcentrar a importância do autoconsumo. 1

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54,22% respectivamente, mas nem por isso menos im-portante. Não obstante as diferenças, percebe-se maisuma vez, nos quatro municípios investigados, o poten-cial do autoabastecimento alimentar para a autonomiada agricultura familiar e a confluência desta prática comos princípios da segurança alimentar, expressos porMaluf et al. (2001).

Neste caso, o princípio da segurança alimentar estárelacionado ao acesso aos alimentos, já que aquelesagricultores que possuem o autoconsumo nãovulnerabilizado nas suas unidades de produção, nãoterão necessidade de comprar alimentos para atingir omínimo calórico9 a que Wolf (1976) se referiu, podendoutilizar os recursos economizados em outrasnecessidades essenciais. Ademais, produzindo interna-mente na unidade de produção, estes agricultores nãose tornam vulneráveis em relação à oferta e aos preçosdos alimentos nos mercados.

Além destes, outros três princípios da segurança ali-mentar são alcançados com o autoconsumo. Um destesé o da qualidade nutricional dos alimentos. A produçãopara autoconsumo é sempre interpretada pelos agricul-tores como geradora da segurança alimentar por conteruma qualidade nutritiva que seria «superior» aos alimen-tos comprados. Isto se deve ao fato de que, geralmente,esta prática é realizada sem agrotóxicos e outrosprodutos químicos10. Já os alimentos comprados sãopercebidos com certa insegurança diante dodesconhecimento da origem dos mesmos, das formasde manejo e processamento, dos atributos de qualidadeetc.

Outro princípio da segurança alimentar que é aten-dido pela produção para autoconsumo refere-se aofornecimento de uma alimentação coerente com os há-bitos de consumo locais. Isto significa que o agricultorpode ter acesso a uma alimentação que condiga com oque ele e a sua família gostam de comer em suasrefeições diárias, possibilitando às famílias suprirem assuas necessidades, como formulou Chayanov (1974),sem se desfazerem da sua «cultura» alimentar, dos há-bitos alimentares herdados dos seus ascendentes e docorpo de saber relacionado ao consumo e preparo dosalimentos. Significa a manutenção da bagagem históri-co-cultural das gerações anteriores de um dado local.

9 Wolf (1976: 17) chamou de mínimo calórico o que: «(...) pode serdefinido como o consumo diário de calorias alimentares exigidos para compensaro desgaste de energia que o homem despende em seu rendimento diário de trabalho».10 Menasche (2003), estudando a questão dos transgênicos no Nortedo Rio Grande do Sul e no Centro Sul do Estado também observouque os agricultores não utilizavam agrotóxicos e nem organismosgeneticamente modificados (OGM’s) quando se tratava da produçãopara a sua própria alimentação.

Um último princípio da segurança alimentar que éatendido pelo autoconsumo concerne à diversidade dealimentos que podem ser produzidos e consumidos nasunidades familiares. A agricultura familiar guarda todasas possibilidades de alimentar os membros do grupodoméstico com uma alimentação diversificada e quecontenha todos os tipos de «alimentos funcionais», con-templando os protéicos, os carboidratos, os gordurososou lipídicos etc. A segurança alimentar é derivada jus-tamente desta multiplicidade de alimentos que podemser obtidos nas unidades familiares e que é fornecidaao consumo dos seus membros de modo constante,«uma coisa ou outra, sempre tem», como aludiu umagricultor entrevistado na pesquisa de Sacco Dos Anjose Schneider (2003).

Outra forma de demonstrar a importânciasocioeconômica do autoconsumo consiste em relacio-nar essa produção com uma linha de pobreza, comoprocederam Hoffmann (1995), Norder (1998) e Leite(2004). Esta linha de pobreza equivalente a ½ saláriomínimo11 per capita, contraposta ao rendimento líquidoper capita (renda total) «com» e «sem» autoconsumo,determinará famílias abaixo da linha da pobreza efamílias consideradas não-pobres. Conforme a TabelaNº 03, quando comparado o valor do salário mínimocom a renda total «sem» o autoconsumo, em média23,5% dos estabelecimentos situam-se abaixo da linhada pobreza, considerados, portanto, pobres. EmVeranópolis é encontrado o menor número deestabelecimentos, (6,8%) abaixo desta linha, enquantoem Três Palmeiras encontra-se o maior (37,3%). Estespercentuais alteram-se quando se adiciona o valor doproduto bruto de autoconsumo total. Respectivamen-te 22,0% e 15,5% dos estabelecimentos deixaram a linhada pobreza em Três Palmeiras e Salvador das Missões,casos mais emblemáticos, tendência esta também iden-tificada no trabalho de Leite (2004) e Norder (1998).

Embora a problemática da pobreza não seja resolvidasimplesmente aumentando alguns algarismos acima deuma linha imaginária, estes resultados apontam para arelevância do autoconsumo. Frequentemente esquecidanas estatísticas oficiais e nas políticas públicas, aprodução «pro gasto» cumpre um importante papel nocombate à pobreza, que segundo Maluf et al. (2001),ocupa o lugar de determinante principal da insegurançaalimentar. Reitera-se a importância do autoconsumodado que a pobreza concentra-se principalmente emáreas rurais. Muitas regiões do Brasil e da própria

11 No ano agrícola da pesquisa (setembro/agosto 2002), o saláriomínimo (SMm) nacional variou de R$ 180,00 para R$ 200,00, umvalor médio ponderado de R$ 188,33.

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América Latina poderiam, quiçá, ter seus índices de po-breza reduzidos se o autoconsumo fosse consideradouma renda nas estatísticas. Produzir para consumo fa-miliar é uma estratégia dos agricultores familiares paraaumentar a qualidade de vida, a condiçãosocioeconômica e diminuir a vulnerabilidade, estratégiaque não está disponível para muitos outros segmentossociais em situação de pobreza (Norder, 1998).

O autoconsumo também contribui para a condiçãosocioeconômica da agricultura familiar por se tratarde uma estratégia de diversificação dos modos devida (Ellis, 2000). Recentemente, quando o preçoda soja esteve em elevação, algumas unidades fami-liares decidiram dedicar-se exclusivamente ao culti-vo deste cereal, reduzindo e até extinguindo aprodução para o consumo familiar. As famíliasincrementaram a mercantilização da agricultura e areprodução social ficou a mercê de um único cultivoagrícola. No ano seguinte (2005-2006), o preço docereal decaiu e a crise foi acentuada pela estiagem(seca) que atingiu o Sul do Brasil. As famílias ficaramsem recursos e nem dispunham de outras estratégiaspara fazer frente as suas necessidades, como épercebido no depoimento.

«O próprio agricultor que vendeu as vacas, ele searrependeu logo e as famílias na volta ficaram preocupadas-como é que vai ser? Agora sem leite, e o soja não tem, qual éa renda que ele vai ter pra viver?- e sabe, o rancho tem quefazer, o cara que não tem produto para subsistência tem quecomprar no mercado, a luz cada mês vence, água, carro, ga-solina pra andar» (Entrevista 16, SM).

A especialização deixou as unidades familiaresexpostas às crises financeiras e climáticas, e desprotegias.Sentindo esta fragilidade, sobretudo no caso de Salva-dor das Missões e Três Palmeiras onde a especializaçãoprodutiva em soja é mais acentuada, as famílias têm

< 0,5 SMm * > 0,5 SM m < 0,5 SM m > 0,5 SMmVeranópolis 2 .414,17 56,04 1.894,31 4.308,08M orro Redondo 1.081,39 50,04 1.079,66 2.161,05Salvador das Missões 2.026,01 47,97 2.197,87 4.223,88Três Palm eiras 1.425,48 47,11 1.600,00 3.026,02To tal 1 .736,76 50,63 1.692,96 3.430,02

(*) SMm : salário mín im o.Fonte: Sacco Dos Anjos e Schneider (2003).

Diferenças devido à prese nça do prod uto b ruto de autoconsumo total nos estab elec imentos e nos município s pesquisados

M unicípioNível de pobreza

Sem autoconsu mo Com auto consumo

Tabela 3

procurado diversificar a produção. A fruticultura e aprodução leiteira tornam-se atividades atrativas junta-mente com os cultivos anuais. Também se retoma e in-tensifica-se o autoconsumo.

A diversificação e a produção para o autoconsumo,neste caso, surgem como uma resposta a uma situaçãode crise e insegurança, como uma «necessidade ereação», conforme definido por Ellis (2000). Trata-sede estratégias que visam aumentar a autonomia e mini-mizar a vulnerabilidade advinda da mercantilizaçãointensa. De modo semelhante, Buainain, Romeiro eGuanzirolli (2002: 13) afirmam que a diversificação «éuma clara e consciente estratégia de redução de riscos eincerteza, sem dúvida um trunfo de muitos sistemas deprodução explorados por agricultores familiares».

Mesmo que não monetária, o autoconsumoconstitui uma importante fonte de renda, conformeobservado nas Tabelas anteriores, e, sendo assim,apresenta o mérito de auxiliar na estabilidadeeconômica e social das unidades familiares expostasàs oscilações das culturas comerciais e falhas nasrendas, intensificando o controle sobre o processoprodutivo. Conforme Lovisolo (1989: 70), referindo-se às unidades familiares baseadas no binômio soja-trigo, «os agricultores (...) que fazem acompanhar ao binômioa produção de autoconsumo podem, em tese, resistir melhora ambas às crises: a dos preços e as naturais». Isto porque,como demonstrado por Leite (2004), esta produçãoconfere um efeito anticíclico; compensando as épo-cas de baixos rendimentos monetários nosestabelecimentos e as variações destes ao longo doano agrícola, proporcionando uma renda total maisconstante. É, portanto, um importante «instrumentode proteção frente às incertezas e oscilações da produção mer-cantil» (Maluf et al., 2001: 8).

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Manter uma produção diversificada e garantir aprodução para o consumo familiar, além destes elemen-tos já citados, também permite investir na propriedade,ou seja, trata-se de uma estratégia de acumulação ou«de escolha e adaptação», como definiu Ellis (2000) edemonstram os depoimentos. Organiza-se a propriedadede tal modo que uma fonte de renda, por exemplo, aprodução leiteira, é destinada ao pagamento das despesasordinais, como a energia elétrica, o combustível, etc.; aprodução para o autoconsumo faz frente às demandasalimentares da família; e com outra renda, a produçãode soja, é possível investir na propriedade e acumular,comprar mais terras, por exemplo. Assim, todas asnecessidades da unidade familiar são contempladas egarante-se a autonomia.

«As miudezas a gente não pode deixar, não tem como.Olha que tem um custo pra comprar tudo. Não adianta ali,que nem nossos vizinhos, produziram leite e disseram -como leite eu compro isto, compro aquilo- não plantaram nemfeijão mais pro gasto. Isto não tem, tu tira o leite, não tesobra nada. Ass im não , tu t em o l e it e e todas asmiudezas12, ali sempre sobra um pouco do leite senão não.A gente aqui abastece trator, abastece os carros, paga luztudo com o dinheiro do leite. Dai o dinheiro da lavoura vaipra investir : nós temos uma filha em Chapecó, demos casa(...), meu filho tem 21 anos, já tem 18 hectares de terra.Isto que quando nos casemos saímos da estaca zero» (I 25,TP).

Independente da diversificação resultar de uma«reação/necessidade» ou «escolha/adaptação», oautoconsumo é sempre uma estratégia importante, ob-servada em todos os universos pesquisados, oracontribuindo para a estabilidade socioeconômica emanutenção das unidades familiares, ora permitindomelhorias na qualidade de vida e infra-estruturas, e atémesmo ascensão e diferenciação social frente às demaisem alguns casos. Deste modo, pelos dados aquiapresentados, pode-se concluir, ao final desta seção, queo autoconsumo é um dos fatores explicativos dacondição socioeconômica e da reprodução social dasunidades familiares.

6. POLÍTICAS PÚBLICAS, INICIATIVAS LOCAIS DEDESENVOLVIMENTO E A PRODUÇÃO PARA OAUTOCONSUMOEsta seção aborda as políticas públicas e iniciativaslocais de desenvolvimento para a agricultura familiar.Primeiramente, se analisa o papel do Pronaf Crédito deCusteio e Investimento (Programa Nacional de

12 Expressão sinônimo de produção para o autoconsumo utilizadapor descendentes de italianos.

Fortalecimento da Agricultura Familiar) e, na segunda,as chamadas políticas públicas e iniciativas locais dedesenvolvimento13. Esta análise objetiva verificar quaisas interfaces que há entre estas políticas públicas paraa agricultura familiar e a produção para autoconsumo.Dito de outra forma: pretende-se verificar até que pon-to estas políticas públicas e iniciativas locais dedesenvolvimento no Rio Grande do Sul, têm fomenta-do a produção e as atividades ligadas ao autoconsumofamiliar.

O Pronaf é uma política pública desenhada espe-cialmente para os agricultores familiares e possui a suaefetivação a partir dos anos 90 (especificamente 1997)devido ao crescente reconhecimento socioeconômicopela sociedade e pelo Estado da importância da agri-cultura familiar e, também, devido as suas lutas emobilizações sociais desenvolvidas nesta década. Deinício o programa concentrou os recursos em algumasregiões, grupos de agricultores «mais consolidados» epossuía um perfil voltado à modernização produtiva etecnológica das unidades familiares (Carneiro, 1997;Abramovay e Veiga, 1999; Ferreira et al., 2001). Devidoa este seu viés, recebeu várias críticas nesta primeirafase.

Com isso o programa se reestruturou no início dosanos 2000, diversificou suas linhas de financiamento,incluiu novas atividades produtivas, de serviços e detransformação da produção que até então não eram fi-nanciadas. Também, propôs-se a partir de 2003 a esti-mular a produção de alimentos (Pronaf Alimentos),dentre outras iniciativas como menores taxas de juros eaumento dos valores dos recursos por grupos debeneficiários, etc. Todas estas mudanças aperfeiçoaramo programa e o melhoraram ainda mais. O interesse dopresente artigo é enfocar a produção agropecuária e dealimentos para o consumo familiar e verificar em quemedida o Pronaf exerceu efeitos pró ou contra este tipode produção da agricultura familiar do Rio Grande doSul.

13 O que se denomina de políticas públicas e de iniciativas locais dedesenvolvimento são as ações, trabalhos e capacitações de atores sociaisem torno da agricultura familiar, desenvolvidas por instituições eorganizações como as Secretarias da Agricultura Municipais (SAMs),as Prefeituras Municipais (PMs), os Conselhos Municipais deDesenvolvimento Rural (CMDRs), os Conselhos deDesenvolvimento (Coredes), os escritórios municipais da Emater eas organizações sociais e de representaçã o política da agricultura fami-liar como cooperativas de produção agropecuária, o Movimento dosPequenos Agricultores (MPA), as organizações sindicais como aFederação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul(Fetag) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar doSul do país (Fetraf-Sul), dentre outras instituições e organizaçõesligadas ao desenvolvimento. Algumas destas instituições sãopúblicas e outras privadas ou de representação política.

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Verificou-se que o principal empreendimento finan-ciado pelo Crédito de Custeio diz respeito à implantaçãodas lavouras de grãos e commodities agrícolas como a soja,o milho, o trigo e o fumo. Estas lavouras são as principaisresponsáveis, em parte, pelo movimento histórico demercantilização dos agricultores familiares e pelosprocessos de especialização produtiva e econômica dosmesmos, como já se demonstrou em outros trabalhos(Conterato, 2004; Gazolla, 2004). Com base nestesempreendimentos que o Pronaf financia, pode-se afir-mar que ele é um programa de crédito rural que estálevando os agricultores familiares à especializaçãoprodutiva. É também a especialização produtiva doagricultor familiar que desloca espacialmente e temporal-mente os pequenos cultivos e criações para oautoconsumo das unidades familiares (Gazolla, 2004;Gazolla e Schneider, 2005)14.

Estudos mais atuais também enfatizam esta lógicado programa (Mattei, 2006; 2007; Toledo, 2009) eendossam muitas das afirmações desenvolvidas nestetrabalho. Se poderia formular que há uma espécie depath dependence (North, 1990; 1994) das instituições edos atores sociais em relação ao padrão dedesenvolvimento produtivista existente, que faz comque as políticas públicas, mesmo as que se propõemserem diferentes das do passado, reforcem o caminhohistórico e a trajetória adotada por um local ou território.

Resumindo: tanto das linhas do Crédito de Custeiocomo de Investimento visam estimular as atividadesda agricultura familiar voltadas aos mercados(atividades produtivas de grãos e commodities agrícolas)e ligar esta agricultura ao padrão de desenvolvimentohegemônico em voga. O apoio à produção de alimen-tos ocorre como se fosse uma conseqüência secundáriado estímulo das atividades produtivas mercantis. É poreste motivo, que se insiste no presente trabalho, que oseu fortalecimento se dá de forma indireta e periféricanas unidades de produção familiares.

No Rio Grande do Sul também existem váriostrabalhos locais e municipais que se usa chamar de «ini-ciativas e políticas locais de desenvolvimento», devidoao seu caráter público - privado. Estas ações sedesenvolvem na área da bovinocultura de leite, dafruticultura, do tratamento da água e do saneamentobásico, de prestação de assistência técnica e extensãorural voltados ao autoconsumo e, de cursos ecapacitações profissionais visando ao aprendizado daprodução, elaboração e preparo dos alimentos.

14 Desloca espacialmente os cultivos devido às lavouras comerciaistomarem o lugar (o espaço) das lavouras destinadas ao autoconsumo.E, temporalmente, devido a estas retirarem o tempo do agricultorfamiliar em cultivar os gêneros para o autoprovisionamento da família.

Essas iniciativas e políticas públicas locais dedesenvolvimento postas em prática no Rio Gande doSul também estimulam, em grande medida, o padrãode desenvolvimento produtivista, mormente pelo in-centivo a produção de commodities agrícolas e a integraçãovertical às grandes agroindústrias processadoras – oschamados impérios alimentares, como definiu Van derPloeg (2008). Muitas das ações locais fortalecem opadrão hegemônico de desenvolvimento agrícola e,assim, contribuem para o aprofundamento damercantilização social e econômica da agricultura fa-miliar, a sua fragilização social e a vulnerabilização daprodução de alimentos. Ou seja, a prioridade é ofortalecimento da trajetória e do caminho histórico dedesenvolvimento (path dependence), como formulado porNorth (1994).

Assim, pode-se afirmar que as iniciativas e políticaspúblicas rurais locais possuem uma ambigüidade, poisfortalecem tanto as atividades produtivas para os mer-cados como a produção de alimentos básicos às famílias.No caso da segunda, alguns tipos de fortalecimentogerados na produção de alimentos decorrem da criaçãode novas alternativas de inserção mercantil como nocaso da bovinocultura de leite e da fruticultura. Ofortalecimento da produção para alimentação dasfamílias ocorre de uma forma indireta e secundária nadinâmica das unidades. Em outros casos, há umfortalecimento direto através da construção de hortas,pomares e pequenas lavouras demonstrativas, oumesmo no caso das orientações institucionais repassadasaos agricultores sobre a importância deste tipo deprodução.

7. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAISDiferentemente do que aconteceu com muitas práticase cultivos tradicionais, e ao contrário do muitospoderiam presumir, as mudanças técnicas da agricultu-ra na década de 1970 não eliminaram a produção dealimentos para o consumo familiar. Esta continua umaestratégia recorrente e desempenha diversos papéis nareprodução social, econômica e alimentar das formassociais familiares existentes no rural do Rio Grande doSul. Esta produção se reveste de vários significados,valores e importâncias para os agricultores que apossuem de uma forma fortalecida em suas unidadesprodutivas, perpassando desde papéis em torno dadiversificação da produção e dos modos de vida dasfamílias, geração da segurança alimentar e nutricional ese constituindo em um fator responsável pelaautonominização e preservação de que Van der Ploeg(2008) chama de uma base de recursos auto-controla-da pelos agricultores. Se isso não bastasse, o

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Grisa, Catia; Gazolla, Marcio e Schneider, SergioA «produção invisível» na agricultura familiar: autoconsumo, segurança alimentar e políticas públicas de desenvolvimento rural (65-79)78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS____________________________________________________

autoprovisionamento responde por valores monetáriosanuais relevantes, representando uma importante for-ma de economização (agricultura econômica) e de ren-da não monetária gerada anualmente nosestabelecimentos.

Com relação à análise das interfaces entre as políti-cas públicas, as iniciativas locais de desenvolvimento ea produção para autoprovisionamento, pode-se formu-lar que estas possuem um papel contraditório e ambíguodo ponto de vista do fortalecimento deste tipo deprodução, evidenciando-se que, muitas vezes, asmesmas favorecem a redução desta produção em proldos cultivos comerciais, não raro, commodities destina-das aos mercados externos. Em alguns poucos casos,estas políticas e iniciativas locais geram processos reaisde apoio ao autoprovisionamento, mas que na maiorparte da realidade rural em estudo os seus resultadossão secundarizados e podem ser chamados de periféricosna dinâmica mais geral das unidades de produção fami-liares.

A exemplo de países como Argentina, Chile e Bolíviaque apresentam políticas de incentivo à produção paraautoconsumo (respectivamente Programa Pró-Horta,Programa Criar (Criação de Iniciativas AlimentaresRurais) e Programa de Produção Familiar para oAutoconsumo, ressalta-se a necessidade das políticaspúblicas rurais brasileiras caminharem neste mesmosentido. Por exemplo, as políticas de redução da pobre-za e da insegurança alimentar e nutricional no Brasilpoderiam ter como preceito o fortalecimento destaprática, ao mesmo tempo em que deveriam estar arti-culadas com outras políticas setoriais, agrícolas e atéurbanas, visando uma complementação entre ambas.Reafirma-se que o fortalecimento da agricultura fami-liar passa por um conjunto de iniciativas dos própriosagricultores enquanto atores sociais do seu próprio des-tino e desenvolvimento, mas também por ações ativasdo Estado, principalmente em locais de maiorvulnerabilidade social, que poderiam ser mescladas compolíticas de transferência de renda (Bolsa Família, porexemplo), com políticas agrícolas que incentivam aprodução de mercadorias (produtos destinados aosmercados) e também por políticas que incidem sobreoutras dimensões das famílias como a cultura, asociabilidade, as relações sociais, o trabalho e«produções invisíveis», como é o caso do autoconsumo.

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