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  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    A

    AMAR A IGREJA"Se queres ser amigo da Igreja preciso estender a tua amizade em toda a altura,largura e profundidade da Igreja. Sers amigo dos primeiros cristos, companheirode peregrinao dos peregrinos de Emas. Achars bela a palavra de Pedro, belosos ps do apstolo que anunciam Jesus, bela a autoridade de Incio de Antioquia eainda mais bela a sua humildade, mas ainda muito mais belo o seu testemunho.Conhecers histrias dos que creram e cada um a seu modo trouxe umtestemunho. Como possvel amar a Igreja sem gostar da convivncia antiga dosirmos na F? Como possvel amar a Igreja sem considerar com sobrenaturalternura, com estremecimentos de gratido, a galeria dos Padres, e sem admirartoda uma civilizao povoada de santos e marcada de Evangelho? Como possvelamar a Igreja sem admirao agradecida por todos os que deixaram a passagemmarcada no cho do mundo ou no mundo das almas?"(Amizades, 10/05/69)

    AMIZADES"Todo amigo amigo de infncia. No importa se voc o conheceu no ms passadoou se soltou papagaio com ele na Rua do Matoso. Se a amizade verdadeira, elatem esta fora que vence as distncias e os anos, e tem necessidade de umaprofunda comunho de vida. O amigo no quer o amigo apenas no momento quepassa, no se contenta com encontros e trocas fortuitas; o amigo quer o amigo emtodas as suas dimenses, quer conhecer suas razes e apreciar seus frutos. Oamigo quer o amigo como companheiro de caminhar neste mundo. E por isso, aprimeira idia que nos acode quando pensamos na perfeio da amizade a dafidelidade.

    "Observai quantas e quantas vezes a Sagrada Escritura nos fala da amizade,insistindo sempre na idia de longa fidelidade: "O amigo amigo todos os dias,mas na hora da desgraa irmo" (Prov. XVII, 17). "Um amigo fiel uma proteopoderosa, e quem o achou possui um tesouro. Nada vale mais do que um amigofiel, nenhum peso de ouro marca seu preo. Um amigo fiel remdio da vida, eaqueles que temem o Senhor o encontram. Quem teme o Senhor capaz deverdadeira amizade, pois v no amigo o seu semelhante". (Ecc. VI, 14-17).

    Por outro lado, o que marca o falso amigo justamente a sua inconstncia: "Este amigo em tal hora, mas no o ser no dia da aflio; este outro hoje amigo eamanh inimigo; aquele amigo quando est sentado mesa, mas no o na horada dor." (Ecc. VI, 8-10)

    H entretanto uma amizade maior do que as outras: a de quem d a vida por seusamigos. "Sois meus amigos se fizerdes o que mando", disse-nos o Senhor, e logoacrescentou: "J no vos chamo servos, porque o servo no sabe o que faz osenhor, chamo-os amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer".

    E por isso que Santo Toms nos ensina que a caridade uma amizade porqueinclui um paralelismo de vontades e uma comunho de beatitude."(Amizades, 10/05/69)

    AMOR

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    "A conversao amorosa tem esse carter especial: todos os assuntos sopretextos. Dentro da infinita variedade que a vida e o mundo proporcionam, ocorao enamorado v no assunto um lugar de encontro, um modo de contato."(Wolfgang Amadeus Mozart, in Dez Anos)

    "Antigamente, quando se acreditava demais nos valores extrnsecos e nofuncionamento das instituies, que seriam capazes at de arredondar as arestasvivas das almas, era costume aconselhar casamento em funo das qualidades edos ttulos. Havia por exemplo o casamento do "bom partido". E ainda hoje muitame calejada, ou de si mesma esquecida, espanta-se e assusta-se quando v afilha recusar um desses bons partidos. Diz que amor poesia que passa. Ensinaque a vida diferente. Alega sua experincia. Mas no caso quem tem razo afilha, porque ningum se casa com adjetivos. Por melhores que sejam de ambas aspartes, a convivncia ser um doloroso desencontro se faltar a misteriosa afinidadeque s pode ser revelada e descoberta na experincia do amor. Ningum se casacom ttulos. com a pessoa, essa coisa espessa e compacta, integrante de todas as

    qualidade numa substncia concretssima e singularssima, com a pessoa, com oser total do outro, que a gente se casa. E isto s se manifesta quando funcionam asfinas intuies do corao, e o amor a virtude de multiplicar por mil as secretassensibilidades desse instinto. A intuio amorosa no despreza as qualidades, nofaz tbula rasa dos ttulos e recomendaes, mas integra-os no todo da pessoaamada. O amor essencialmente totalizador, ao contrrio do desamor que essencialmente analista. Quando a gente gosta de uma pessoa, pessoalmente, ato fundo, da pessoa total que se gosta; quando porm a pessoa aborrece sempre pelas partes e pelas superfcies que aborrece."(A Boa Escolha, in Claro Escuro)

    "Muita gente diz que amor cego, e portanto mau conselheiro. Mas no verdade.Cego o amor prprio, que muita vez se finge de amor. Ao contrrio, amor compreenso, penetrao, conhecimento."(A Boa Escolha, in Claro Escuro)

    "Dizer que o amor cego equivale a afirmar a radical incompatibilidade entre oamor e a razo. O caloroso amor ser cego; a lcida razo ser glida. Divide-seento o homem em si mesmo, de um modo irremedivel, e o jogo do amor seruma loteria com poucos prmios e muitos bilhetes brancos. A razo vir mais tarde,quando esfriar o amor, para passar um pito no apaixonado; ou para se rir amareloda iluso dos que ainda vivem nos amorosos torpores.

    "[...] Ao contrrio, o amor lcido. O amor, o verdadeiro amor ardentementecompreensivo. S quem ama verdadeiramente, conhece verdadeiramente. Se verdade que o conhecimento precede o amor, verdade tambm que o amorprecede a dilatao do conhecimento.

    "O amor, o verdadeiro amor tem um conhecimento penetrante, candente, fino,lcido; tem um conhecimento de ressonncia profunda, de identificao, deconaturalidade.

    "O amor, o verdadeiro amor advinha, penetra, descobre, simpatiza, faz suas as

    aflies do outro, d ao outro suas prprias alegrias. compreensivo. Mas no compreensivo no sentido que se d a esse vocbulo, quando quer significar uma

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    tolerncia que fecha os olhos. No. O amor verdadeiro compreensivo num sentidomaior, que no fecha os olhos, mas que tambm no fecha o corao. V as falhasdo outro, v as misrias do outro, com uma generosa inquietao, com umapiedosa solicitude. Mas v. V com amor. Mas v. E nessa viso que ele encontraas foras de pacincia para os dias difceis, e que se defende das amargas

    decepes. A misria, o defeito, a falha, apresentados pelo amor, conservamsempre a dignidade do contexto em que foram apreendidos, sem sacrifcio daveracidade. Porque o amor veraz, verdico, essencialmente amigo da verdade.E como compete razo guiar a alma nos caminhos da verdade, segue-se comlgica irresistvel que a razo o piloto do amor."(Amor, casamento, divrcio, A Ordem fev/52)

    AMOR AO PRXIMO"Um de ns, que nunca viu o sr. Joo Amazonas, e que s o conhece de nome, noo pode amar. Como possvel amar o interventor do Par ou o maraj deKapurtala, a algum que nunca tenha encontrado esses ilustres personagens?

    Amanh ou depois um dos nossos talvez venha a encontrar o maraj ou o deputadocomunista, numa dessas intersees da vida, como aconteceu com o bomsamaritano que permitiu ao Senhor a lio sobre o prximo, mas antes dissoacontecer ridculo dizer que j os amamos.

    Ridculo e um pouco hipcrita. Amamos o prximo; e antes de tudo amamos aDeus. Quanto ao maraj e ao interventor, est na mo de Deus, pelo ministrio dosanjos, a distribuio do afeto dentro da comunho dos santos. Este o nico modode que dispomos, neste mundo, de honrar a humanidade dos desconhecidos, pelasanta humanidade de Cristo. Nosso amor a Deus descer como uma chuva nascasas dos japoneses e nas choas dos ndios, mas no nos fica bem enunciar esse

    mistrio dizendo desde j que sentimos palpitaes de amor quando pensamos nosr. Joo Amazonas. Ser prefervel, mais sincero, mais varonil, talvez mais cristodizer claramente que sentimos uma veemente indignao pelo que dele sabemoscomo homem pblico, que nas cmaras procura nos arrastar para uma iniquidade."("Combate ao Comunismo",A Ordem, Editorial, Janeiro de 1947)

    AMOR MATERNO"Tambm o amor materno, que fez a violncia de rachar o corpo ao meio, emgrandes dores, para dar luz, isto , para se separar, muitas vezes se arrependefreneticamente e volta-se contra o filho com um vampirismo monstruoso que seprolonga para a vida inteira. O primeiro gesto maternal de agarrar o filho ao colo j

    uma mistura de amor e de avareza. Mais tarde sero agasalhos, conselhos,solicitudes que tentaro se interpor para tirar a luz depois de ter dado a luz. Equando o filho se aproxima da idade das npcias, podendo em cada instantedescobrir pelo amor a prodigiosa objetividade da noiva, a me devorante semultiplica silenciosamente, cerca, abafa, agasalha, transforma-se ela toda numenorme tero, tpido, escuro, palpitante".(A Descoberta do Outro, pg. 184)

    ARTE"No por mero floreio literrio que disse estarem os homens preparando umaexposio para o juzo final. Na verdade, o fazer artstico, saiba ou no saiba o

    artfice, uma espcie de ofertrio". ("Quadros em uma exposio", in O Desconcerto do Mundo)

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    ARTE MODERNA"A mais humilhada das artes tirou uma desforra completa. Fugiu do internato. Oudo orfanato. Rasgou o uniforme, e andou pelas ruas da cidade descabelada eimpudica. Fauvismo, cubismo, dadasmo, futurismo, orfismo, sincronismo,

    construtivismo, suprematismo, purismo, surrealismo, ps-cubismo, ps-surrealismo, abstracionismo, concretismo... A histria continua a descrever a curvaperigosa. E foi nos solavancos e na vertigem da mudana geral de valores ecritrios que se realizaram as ofegantes experincias estticas. difcil discriminaro falso e o genuno, o estril e o fecundo, nessa Babel de tentativas. difcil saberqual a parte de todo esse conjunto que ter ingresso, no nos sales oficiais dos

    juzes carregados dos preconceitos da poca, mas naquele salo universal eapotetico que os anjos contemplam."("Quadros em uma exposio", in O Desconcerto do Mundo)

    "Passaram-se os tempos. A curva continua, mas agora ns nos habituamos

    vertigem. Pode-se at dizer que de tal modo nos habituamos curvatura dahistria que at passamos a considerar os solavancos como rotinas. Temos ouapregoamos uma facilidade enorme de aceitar todas as inovaes. Temos atvergonha, respeito humano, de demonstrar um sincero ahurissementdiante dealguma tela exposta na bienal. No fica bem manifestar estranheza diante do que estranho. Escancarada e complacente, a opinio pblica aceita tudo. O espritoburgus, vivendo a anttese do fixismo derrubado, tornou-se revolucionrio. E aaudcia de recusar foi substituda pela audcia de aceitar e de fingir quecompreende tudo. E assim, ao farisasmo de 1870 responde o mundo moderno comum publicanismo de infinita tolerncia, que muitos pensam ser uma infinitasabedoria, e alguns ousam pensar que uma infinita caridade. Quando a forma da

    msica ou da poesia parecer esdrxula demais, o pblico tem um moedadesvalorizada para compr-la, ou uma frmula para conjur-la: arte moderna. Nsnos rimos hoje dos crticos que riam de Manet, do pacato Manet, do tranqiloManet. Quem se rir de ns?"("Quadros em uma exposio", in O Desconcerto do Mundo)

    ARTISTAS"O pobre do artista, por mais que falem de suas vaidades e jactncias, sempreum inseguro. Um msero, que s vezes sabe o que faz, mas quase sempre ignora oque fez. Um mendigo que precisa, mais do que ningum, de pancadinhas noombro. Um sequioso de confirmao. Um faminto de elogio. S no precisa de

    elogios o homem muito santo ou o homem muito orgulhoso. O primeiro, porquetem a alma repleta do elogio da Graa; o segundo porque carrega em si mesmo asua claque, a sua bancada, a sua maioria.

    "Mas o artista do vulgar meio termo, que anda na montanha russa da vida, oramais alto, ora mais baixo, sem atingir a santidade e sem se endurecer desuficincias, esse precisa de palmas, de sinais que o confirmem, de mos que osalvem do oceano de perplexidades."(Agradecimento, in Dez Anos)

    "Com j tive a ocasio de salientar mais de uma vez, tenho a convico de que a

    arte, se lhe tiram o sentido, a dimenso escatolgica, deixa de ser o que , perde-se, desmancha-se. Os artistas esto aqui, neste mundo obscuro e bastante

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    desconcertado para mostrar aos homens os preparativos de uma festa a que todosesto convidados. O trabalho deles, dentro de tal concepo, como as estrelasque brilham sem vencer a escurido da noite. Estamos aqui no mundo, no apenasvendo sombras, como disse Plato, mas vendo lampejos, como disse o ApstoloPaulo. E nesse sentido mais alto que agora coloco o esforo de tornar visvel o

    que est escondido no mago das coisas: os poetas, os escritores como Ea, sosemeadores de estrelas em nosso caminho escuro; e nisto, queiram ou noqueiram, sejam liberais ou anti-clericais de um modo mais ou menos pueril, comonosso excelente portugus, estaro sempre a servio de Deus. Canta a Igreja, naQuinta-Feira Santa, durante o Lava-ps, a antfona tirada do Evangelho de SoJoo: Ubi caritas, et amor, Deus ib est. Ora, o que o Evangelista disse do amor,creio que se possa analogamente dizer da beleza. Onde estiver algumas cintilaesda beleza, a Deus est."("Na mesma lngua em que chorou Cames", in O Desconcerto do Mundo)

    AVENTURA

    "(...) ns naqueles verdes anos estvamos simplesmente realizando o que prpriodo homem: a aventura. Na verdade toda a humanidade no tem feito outra coisaseno cometer extraordinrias imprudncias que depois se transformam emimprios, em fama e glria, em histria, em lenda, em canto.

    "Vejam se o velho do Restelo no tinha razo em apostrofar os bravos lusitanosque sob o comando de Vasco da Gama iam ao outro lado do mundo fundar novosreinos e comprar especiarias. Vejam os fencios que certamente andaram aqui porperto; vejam os vikings, vejam todos os grandes navegantes e grandesaventureiros e assim tambm vejam o sagaz e astuto Ulisses, que no fazia outracoisa seno aventurosamente voltar para casa, que a maior das aventuras.

    "Os economistas que costumam explicar os atos humanos pelas causas materiais,na verdade so uma raa de gente que v o mundo pelo en dessous das coisas.Eles pensam que assim explicam melhor os atos humanos, os grandes feitos,aventuras e guerras. Na verdade em todo o mundo fsico, as leis que governam osmovimentos dos astros e das coisas so aquelas do caminho mais curto. Eu no seiqual a verso que dariam, esses explicadores de tudo pelo lado do nada, expedio do sbio dinamarqus Amundsen ao Plo Sul. A mim, hoje, parece-meque esses intrpretes da histria, nas explicaes que do, explicam tudo menosdaquilo que o principal no homem, a saber, o esprito. Eles no sabem que hduas leis regendo os movimentos humanos. s vezes o homem se sujeita tcnica

    e procura a lei do menor caminho, mas antes disso j aceitara a lei da aventura edo caminho mais longo."("Sete Quedas", in Conversa em Sol Menor)

    B

    BOM SENSO"O bom-senso no apenas um prmio da moderao e do bom comportamento: um trofu violentamente arrebatado".("Uma restrio", in Trs Alqueires e uma Vaca)

    BURRICE

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    "Os catlicos, em todas as pocas foram sujeitos aos pecados de todos os matizes,mas nunca pecaram, como hoje, de um modo to humilhantemente burro. Tudoisto porque abriram portas e janelas quando deviam fech-las: isto , quando eraevidente que o melhor servio que a Igreja podia prestar a um mundo enlouquecidoera a defesa de sua virgindade. Apregoaram admirao e at agradecimentos,

    SINCEROS AGRADECIMENTOS, quando deviam clamar sem cessar que o homem homem, e Deus Deus. Todas as baixezas e tolices foram praticadas em nome deecumenismos, dilogos e outros apelidos da prostituio. Levaram a fria deAGRADAR AO MUNDO at a infinita soberba de DESPREZAR A DEUS.

    At quando Deus manteria o sombrio mistrio de sua permisso? E ns? Quedevemos fazer para opor quela onde de AGRADO DO MUNDO uma onda deAGRADO DE DEUS que Ele espera de ns para suspender a terrvel permisso"("Cosmolatria"-- editorial de Abril/Maio de 74 da Revista Permanncia)

    C

    CARIDADE"A Caridade a luz que nos revela a coisa mais extraordinria do mundo: o outro.Nem sempre conseguimos essa prodigiosa banalidade, e no meio da multidosentimo-nos isolados, nicos, como se todas as pessoas que vemos no passassemde meras sombras, de sinais sados de nosso interior. Mesmo em famlia ainda cadaum tem uma significao relativa ao nosso eu. Esta minha mulher, aquele meucunhado (...)

    "A luz da Caridade opera uma separao; pe-nos diante do outro. Separa-nos paranos livrar da insuportvel solido. Os maus poetas que s conhecem o amorertico, no sabem que o verdadeiro amor separa, e que separa de um modoperfeito. A unio da amizade no um aniquilamento de um no outro, mas oesplendor de uma separao. Os amigos no se desmancham, os santos no sedissolvem, mesmo diante de Deus, mas renem-se de mos dadas e cantam omesmo louvor, cada um com sua voz, separados e reconciliados. O modelo perfeitodo amor a Santssima Trindade, onde as trs pessoas se amam numa perfeitaseparao."("A Maior das Trs", in A Descoberta do Outro)

    "O reino de Deus vem. A mais ardente prece que Jesus ensinou diz "adveniat" e aorao inefvel do Esprito Santo diz "veni". O cu vem. A esposa vem. Mas comoseria possvel imaginar o grito ardente que chama, que pede a vinda, o "veni", semo impulso ainda mais ardente de correr ao encontro de quem chama? Que esposoapaixonado chamaria a esposa, gritaria: vem! sem se levantar de sua cadeira, semesticar os braos, sem atirar corpo e alma ao encontro da bem-amada? Assimtambm s podemos entender a mensagem da esperana na caridade, e o reino deDeus est nesse encontro impetuoso em que Pai e filhos se atiram num imensoabrao de reconciliao.

    "E quando ele ainda estava longe, seu Pai o viu; e, tocado de compaixo, correu,atirou-se em seus braos e cobriu-o de beijos."("Ainda um pouco de tempo", in Descoberta do Outro)

    CARIDADE FRATERNA

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    "O cristianismo todo ele uma soma de pequenssimas histrias familiares. Bastaver nas epstolas. Depois do Dogma vm os nomes de uns poucos amigos; depoisda doutrina, os abraos da cordialidade paroquial. Lembranas a Prisca e Aquila.Lembranas e abraos a Andrnica, Amplius, Urbano, Persida e Rufus.

    "Quem so esses santos ignorados cujos nomes vm assim arrastados pelossculos e sculos na cauda da doutrina?

    "E Lucius, Jaso, Sosipater; e Erastos, o tesoureiro da cidade; e Quartus, nossoirmo?

    "Quem so esses que ficaram gravados na Sagrada Escritura pela fora dosabraos?"(O Elogio da Pequenez, A Ordem, Dezembro de 1946)

    "No h mal em ser pequeno grupo dentro da Igreja Universal. Ao contrrio, o mal

    est em supor que possvel a vida crist na solido das multides, ou emimaginar que as grandes concentraes constituem resultado mais genuinamentecristo do que o pequeno grupo. O homem se perde, s ou nas multides. Isoladoou dissolvido na massa o homem deixa de ser homem, e por mais forte razo, deser catlico. Uma parquia com cinqenta mil paroquianos um absurdo,simplesmente porque no possvel abraar e mandar lembranas a cinqenta milindivduos.

    "O mundo moderno padece de hipertrofia em tudo, e persegue implacavelmentetodos os pequenos grupos, desde a oficina do arteso at a famlia, desde aparquia at a granja. O pequeno grupo a clula crist por excelncia, sendo

    medido com o cvado da amizade, esse metro humano que aproximadamenteigual aos braos de uma cruz."(O Elogio da Pequenez, A Ordem, Dezembro de 1946)

    "Mais de uma vez amigos escrupulosos externaram seus temores sobre os riscos dopequeno grupo. fato que existe nele uma tendncia ao fechamento e uma outra aum certo sentimento de superioridade. Mais de uma vez, como medida deprecauo, nos foi proposto um alargamento de horizontes.

    "Eu creio, porm, que h um engano nesses temores. claro que nada existe semriscos, mas convm notar antes de tudo que a Igreja e no cada um de seus

    grupos que propriamente universal. o corpo tem as propriedades gerais da soma,os membros, porm, tm as suas especificaes. Alargar o mbito das mos e dosps qualquer coisa como meter os ps pelas mos. O Papa um s, e se cada umde ns se mete na cabea ser um papa em miniatura, ento o corpo ser ummonstro formado de mirades de cabeas.

    "Quanto ao sentimento de superioridade que se torna a equao de um grupo, euno vejo o inconveniente, nem vejo como seria possvel funcionar, ou sequerexistir, um grupo sem esse sentimento. Tudo depende do critrio em que se firmaesse sentimento. Se no objeto que ele se prende, ento no h nenhuminconveniente, pois na firmeza e na dureza de um objeto que ns nos gloriamos."

    (O Elogio da Pequenez, A Ordem, Dezembro de 1946)

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    "Quando durante a guerra atroz que pulverizou mosteiros seculares, eu subia aladeira de So Bento, cada vez mais ngreme para o peso dos dias; e quando, emcima, eu via a clara fachada de sol, as torres, os sinos, o porto monumental comlavores em ferro, e o pequeno alpendre ao lado, onde dois ou trs amigos j delonge me sorriam; muitas vezes eu pensei que aquilo a casa, o porto, as torres,

    o alpendre acolhedor tudo poderia um dia me faltar, reduzido a um monto deescombros, como a tantos no mundo aconteceu. Bem sabia que a Igreja de Deus imperecvel sendo frgil porm cada um de seus sinais. Frgil o mosteiro apesarda ingnua grossura das paredes que, para os bons portugueses de trezentos anosatrs, seriam eternas como o cu; frgil o grupo de amigos; frgil o bronze, apedra, a vida tudo o que no seja a palavra de Deus.

    "Poderia o Senhor consentir que o Demnio me cobrisse o corpo de chagas e, deuma s vez, me arrebatasse a famlia, o mosteiro, a clara fachada, os sinos e oalpendre, e de uma s vez cobrisse a face de meus amigos: mas ento, eu pediria aDeus, num clamor de suplicaes, que sem demora me descobrisse sua prpria

    Face."(O Elogio da Pequenez, A Ordem, Dezembro de 1946)

    "Tenho para mim com firmssima convico: as almas dadas, dedicadas,debruadas no se podem perder."(Regina, in conversa em Sol Menor)

    CASAMENTO"A fragilidade do matrimnio decorre de uma desmedida exigncia de felicidade, oumelhor, da aplicao dessa exigncia a uma coisa que no suporta tal presso. Huma insolncia nossa nessa impaciente cobrana de ventura, e h sobretudo um

    equvoco, porque pretendemos tirar da casa, do matrimnio, do amor humano, uminfinito rendimento, quando finita e sempre muito exgua a nossa prpriacontribuio. Depositamos com mesquinharia e queremos juros generosos,infinitamente generosos. E no desejo desse absurdo balano ns somos injustoscom o prximo, e injustos com Deus."(Patriotismo e Nacionalismo, inAs Fronteiras da Tcnica)

    "No caso vertente, e para descobrir que as famlias esto funcionando mal, eu nopreciso andar de porta em porta com um impertinente questionrio. Basta-meobservar a rua, os bondes, os cafs, para poder concluir que as casas j no retmas pessoas. A febre nas ruas prova a agonia das casas. E como a felicidade

    conjugal est vinculada casa, ao equilbrio, ao poder de reteno da casa, possodeduzir do aspecto publicado nas ruas as infelicidades escondidas nas casas."(Amor, casamento, divrcio, A Ordem, fevereiro de 52)

    "Quando se diz que o fim principal do casamento a prole ou a fundao de umaclula social, no se pretende, de modo algum, que deva ser este o mais veementedesejo dos noivos, nem que contrarie a essncia do estado conjugal quem dele seaproxime sem sentir arroubos de ternura pelas criancinhas que vo nascer. Com orisco de parecer contraditrio, declaro que no veria com bons olhos o futuro genroque tivesse mais ternos sentimentos pela prole futura, ou pelo bem comum social,do que pela noiva. Seria at capaz de vetar tal casamento, na medida em que hoje

    pode um pai vetar alguma coisa. E se o moo viesse dizer que seguia nisso as

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    minhas lies, seria obrigado a dizer-lhe, com a mxima sinceridade, que ento tenha pacincia! no entendeu nada.

    "[...] Est na natureza das coisas comear o casamento pela exaltao amorosarecproca, como tambm est na natureza das coisas vir a flor antes do fruto. E no

    se diga, por favor, que essas flores so ardis da natureza astuta e traioeira queassim pega desprevenidos os coraes e as abelhas. Nem se diga que so ilusriosos idlios e as paixes. As flores e os amores so realidades que jorram da profundae intrnseca generosidade do ser. No pecam, pois, por individualismo os noivosque se amam de um modo esquecido de tudo, os noivos que se isolam numailha, in a kingdom by the sea..., e que pe a mxima nfase nesse recproco afetoao se acercarem do altar."(Um caminhar lado a lado, in Claro Escuro)

    "Um encontro no se transforma em npcias gradativamente e inevitavelmente;entre uma coisa e outra preciso inserir um elemento decisivo.

    H um provrbio de aparncia imbecil que diz assim: Quem pensa no casa. costume ver nesse provrbio um encorajamento para se ficar, durante a vidainteira, fechado numa prudncia burguesa. Pensar, nesse caso, quer dizer: calculardespesas, prever doenas, avaliar a liberdade perdida em confronto com os novosencargos contrados. Quempensarassim no casar; resta-lhe a sabedorianegativa do provrbio para consolo. No casa, mas pensa. livre e pensa; umaespcie de livre-pensador.

    Atrs desse sentido comodista, o provrbio encerra uma advertncia e sugere que melhor casar do que ficar pensando. Quando um sujeito, nos caprichos da vida,

    encontra moa que acha de sua afeio e que lhe corresponde, tem essaalternativa: escolher ou pensar. O escolher precedido, evidentemente, de umcerto pensar; de toda prudncia que se conviva com a moa, que se converse,que se observem umas tantas coisas, antes de decidir a escolha. O homem dotado de razo tambm para casar e deve aplic-la na justa medida.

    A tarefa no fcil. A moa se esconde atrs de certas manobras que, no dizer demuitos autores, lhe moram nas glndulas. O pretendente pode estar certo que elamudar enormemente; no assim como agora se ri que ela vai rir; no dissoque hoje chora que vai chorar. Seus gestos sero diferentes, sua forma se alterar,e sua prpria voz, que tanto agrada hoje, ser mais cheia e mais dura no difcil

    cotidiano. O mais atento leitor de um Bourget ou de um Montherlant se enganarredondamente se quiser fazer previses psicolgicas sobre a esposa escondida nanoiva. Assim sendo, justo que se pense e razovel que se cogite. Mas num certoponto do conhecer preciso decidir. Ou escolhe, abrindo mo nesse nico ato detodas as outras moas, entregando-se totalmente, correndo todos os riscos,agentando todas as conseqncias, querendo desde j no seu corao agent-las, tendo confiana, pelo pouco que sabe, no muito que desconhece, trocandogenerosamente o pouco pelo muito, empenhando a vida inteira a vir em cima dealguns meses que j passaram; ou ento continua pensando. E se pensa no casa.No casa porque pode passar a vida inteira pensando. Sondando; sopesando;excogitando. Conheo diversos casos assim, de namoros tristes que duraram mais

    de vinte anos: o noivo pensava. Num caso desses, em vez de festa de npciashouve luto, porque o noivo morreu pensando... "

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    (Quem Pensa no Casa, in Descoberta do Outro)

    "Existir sempre esse problema, essa tenso entre os dois sexos. Como dizChesterton, o homem e a mulher so de fato incompatveis. Vivero sempre emdificuldades. Sero sempre dois estrangeiros cada um a falar mal o idioma do

    outro. Prolongaro indefinidamente esse duelo que leva as maiores santas a nostratarem, pobres de ns, ora com astcia, ora com provocao. Santa Escolstica,para iludir o rigor monstico de seu santo irmo, rezou pedindo uma chuvatorrencial. Santa Teresa dvila, espanhola e atrevida, dizia, pensando num diretorespiritual que fora injusto com uma de suas filhas: Olhe que ns outras no somosassim to fceis de compreender. E a histria de Helosa e Abelardo no foi outracoisa seno uma contnua e ininterrupta esgrima de provocaes.

    "Essa tenso entre os dois plos da humanidade no um mal. O homem e amulher podem viver, em honroso convvio, uma civilizao, discutindo e brigando como no matrimnio desde que mantenham a honra do combate. claro que o

    bom entendimento recproco bom. No casamento o bom entendimento, oparalelismo de gostos e opinies, uma coisa maravilhosa, mas no creiam queseja, como se diz, o elemento mais importante. No casamento, o decisivo compreender bem, em tempo e contratempo, a natureza mesma do atomatrimonial, e a honra do novo estado. Enquanto essa bandeira estiver no mastroda nau familiar, pode chover e ventar, podem as ondas avolumarem-se emmontanhas e cavarem-se em abismos, que a arca portadora desse casal, que Deusprefere a todos os outros casais, chegar ao monte da salvao. No sero muitofelizes os viajantes dessa tormentosa travessia, sem dvida, mas chegaro. Enuma travessia isso o que importa."(A Vocao da Mulher, in As Fronteiras da Tcnica)

    CASTELO BRANCO"Em outra ocasio em que tambm o Presidente me honrou com um convite quetambm no pude aceitar, a conversa prolongou-se e eu queria perguntar-lhe umacoisa e dizer-lhe outra:

    " Posso perguntar uma coisa ao meu Presidente?

    "Ele olhou-me com aqueles olhos profundos de que no me esquecerei e, pousandoa mo no meu brao, disse-me:

    " Ao Sr. eu abrirei meu corao.

    "E eu que dantes nunca entrara em palcios, que sou por vocao muito mais povoque fidalgo, embora admire a fidalguia dos que a sabem trazer, vi de repentenaquele varo as duas coisas sem as quais no pode haver estadista: a pequenezda condio comum que nos irmanava, e a majestade de um verdadeiro Chefe deEstado designado por Deus. Sa do Palcio Laranjeiras indeciso nas minhasconvices republicanas."(Castelo Branco, O Globo 20/07/72)

    CATARINA DE SENA

    "Lembrei-me de escrever estas linhas de homenagem dolce mamma Caterina,porque ultimamente tenho pensado muito na moleza e tolerncia dos tempos

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    modernos, que nos mais altos lugares so apregoadas como virtudes mximas.Apeguemo-nos adamantina dureza da santidade. Santa Catarina de Sena jamaisabriria a boca, jamais emprestaria o seu sorriso de virgem ardorosa e pura parapronunciar essas melosas declaraes de incondicional tolerncia e falsa bondade.Catarina de Sena tinha dios. Santa Catarina de Sena no saberia, jamais, fazer

    um programa de promoo do Reino de Deus naquele tom de amaciamento davontade e de derrame sentimental. O que nos ensinam os santos, com palavras eobras, que no basta o sentimento enternecido, nem basta traar na areia atnue linha que separa o bem do mal. O que nos ensinam os santos que preciso, resolutamente, entre os cus e os infernos, erguer muralhas de dio ecavar abismos de amor. E o que nos ensina com particular insistncia essa moa devinte e poucos anos, Catarina, filha do tintureiro Benincasa, de Sena, quedevemos andar como os paladinos do Santo Sepulcro, entre duas cruzes, no peito enas costas: a cruz do santo dio e a cruz do santo amor. E por isso que a Igreja,no dia de sua festa, dizia no Intrito da Missa: Dilexisti justitiam et odistiiniquitatem, frmula que bem exprime o claro-escuro, ou melhor, o preto-e-branco

    da vontade bem polarizada pelos mandamentos de Deus."(Catarina de Sena, O Globo 4/5/78)

    Desde os primeiros anos de sua peregrinao na terra, "entre as aflies doshomens e as consolaes de Deus", a Igreja sempre marcou uma especial devoopelo Sangue de nossa salvao. J o Apstolo em Hebreus IX, 22 diz: " comsangue que quase todas as coisas se purificam e sem efuso de sangue no hsalvao".

    Mas foi no tormentoso sculo XIV que Catarina de Sena, nas cartas e nas liesditadas aos seus discpulos, ps uma singular nfase na riqueza de significaes do

    Sangue, sim, uma nfase marcante no Sangue! Transcrevemos a seguir algumasamostras de sua pregao colhidas ao acaso no livro Sainte Catherine de Siennevous parle do Pe. S. Bezin O.P., ed. LAbeille, Lyon, 1941: "Corramos, ento,corramos todos cristos fiis, atrados pelo odor do Sangue" (pg. 251)."Inebriemo-nos do Sangue de Jesus crucificado j que o temos ao nosso alcance.No nos deixemos morrer de sede. No nos contentemos com pouco, mas tomemosmuito para nos embriagarmos e nos afastarmos de ns mesmos". "Ns no fomosresgatados por preo de ouro, nem somente por amor mas pelo Sangue". "No houtra maneira de saciar o homem: somente neste Sangue poder algum sedesalterar". "Este Sangue nosso, foi derramado para ns, ningum n-lo podetirar a no ser ns mesmos" (pg. 252).

    Folheando o epistolrio de Santa Catarina de Sena em seis volumes (Le Lettere diS. Catarina de Siena, Casa Editrice Marzocco, Firenze 1947) no resistimos aodesejo de transcrever mais este grito da Dolce Mama: "Caminho sobre o sanguedos mrtires, o sangue dos mrtires ferve e convida os vivos a serem fortes".

    Tenho a firme convico de que Santa Catarina de Sena falava com esta obsessivainsistncia por uma razo muito simples e muito extraordinria: a vigsima terceirafilha do tintureiro Benincasas via o Sangue do nosso Salvador em todos os sinaissagrados da Igreja. Quando por exemplo ela procurava seu confessor FreiRaimundo de Capua costumava dizer: "Vou-me ao Sangue".

    (No Sangue, O Globo, 13/7/78)

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    CETICISMO"O que mais entristece e irrita na atitude do ctico em relao ao milagre no aincredulidade, por teimosa que seja em face das evidncias. De certo modo, eudiria que o homem catlico mais depressa simpatiza com o incrdulo, com ohomem que defende o reduto intelectual de qualquer rpido assentimento, do que

    com a credulidade fcil que traduz negligncia intelectual. Se me permitem oparadoxo, direi que ns somos terrivelmente incrdulos, porque temos cristalizadoe bem definido o nosso sistema de crenas. A rigor, o catlico o homem que noacredita numa imensidade de coisas em que todos acreditam. No pois aincredulidade que mais nos afasta do homem que no cr em milagres; antesuma posio puramente intelectual e puramente metafsica, antes de ser umaatitude de F teologal. O homem que no acredita em milagres se apresentageralmente como indivduo mais racional, mais raciocinante e at mais razovel doque o homem que acredita. No ntimo, est convencido de ser mais inteligente oupelo menos de ser mais fiel aos dados da pura inteligncia contra as armadilhas dosdados emocionais. Ora, o que acontece exatamente o contrrio. O homem infenso

    ao mistrio e ao milagre justamente aquele que no tem olhos lavados para aprofundidade do ser, para as riquezas da realidade, para o que h de extraordinriona simples existncia do mais ordinrio dos seres (...) Dizia Santo Agostinho que ohbito de ver embota a inteligncia e torna vis as coisas. Essas almas rotineirasusam a parte cartesiana da razo, a parte quadriculada do esprito, e estoconvencidas de que todo o esprito, toda a alma humana e toda a realidade douniverso cabe no magro diagrama que no seno o esqueleto do real. No vemo que o poeta chamou a lgrima das coisas, e que poderia ter chamado tambm oriso das coisas. No vem a novidade permanente de todos os seres contingentespendurados na fonte viva que lhes garante a existncia. Para o olhar do poeta, dometafsico e do mstico no h senectude, no h repetio essencial e mecnica

    dum universo montado como imensa relojoaria: eles vem a origem absolutaescondida, e vem no frmito da contingncia uma perptua ressonncia do atocriador."(O Centenrio de Lourdes,A Ordem, Julho de 1958)

    CHARLES MAURRAS"Tomada como "movimento histrico", que realizava o mais vigoroso engajamentonuma realidade nacional em movimento jamais visto, A. F. surgiu como adversrioimplacvel da corrente revolucionria, que evoluiria rapidamente em direo aomarxismo. Concretamente, Charles Maurras opunha-se, atravessava-se no caminhode Marc Sangnier e dos sillonistas com a disposio marcial de Ptain em Verdum:

    "ON NE PASSE PAS".("Estamos no sculo XX" in O Sculo do Nada)

    "O fato que Charles Maurras, dizendo-se um homem sem f, e depois de umaliteratura ostensivamente pag e s vezes quase blasfematria, pe-se frente deum movimento que defende a Igreja de todos os sucessivos ultrajes sofridos dosgovernos da repblica e congrega em torno de si os catlicos mais srios da Frana.O mundo catlico inteiro sentiu a irradiao dessa alma poderosa, e aqui no BrasilJackson de Figueiredo, fundador do Centro D. Vital, foi um maurrasiano fervoroso."("Estamos no sculo XX" in O Sculo do Nada)

    CHARLES PGUY

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    "Pguy, de fato, no freqentou os sacramentos; e no os freqentou por umarazo extremamente simples: porque morreu durante o processo de converso. Oque amamos nele esse itinerrio, longo, difcil, penoso, que ele percorreu com osolhos postos na Virgem Santssima. Comeou, esse singular convertido, por ondegeralmente termina o filho prdigo: pelo culto de Nossa Senhora e pelo gosto da

    orao. Se ns vssemos um amigo querido, um irmo, seguir esse itinerrio emdireo Igreja, rezando e honrando a me de Deus; se ns soubssemos queesse amigo, ou esse irmo, tinha morrido com uma bala na testa, em defesa de suahonra, de sua ptria, e da verdadeira Rainha de Frana; e se nos contassem que navspera da morte, esse amigo, ou esse irmo, tinha passado a noite a enfeitar derosas um altar para a festa de Nossa Senhora; ns teramos uma imensa esperanaem sua salvao (...)

    "O espetculo que guardamos no corao e que no parece ter impressionado o sr.Mesquita Pimentel este: um homem passa correndo numa pista difcil; umhomem passa, cantando e rezando; um homem passa, levando a vida de seus

    filhos numa longa peregrinao; para entregar a quem de direito, a vida de seusfilhos; e vai, e passa, e anda, e corre pelas terras da Normndia, vendo ao longe,afinal desenhar-se contra o cu a agulha fina e escura de uma catedral, onde osreis de Frana dormem, espera da ressurreio. Vemo-lo passar, vemo-lo correr;rezando e cantando. De repente, em meio do caminho, quando o horizonte se cobrede nuvens escuras e estremecem as catedrais, vemos um vulto de p, reto, varonil,estender os braos em cruz e cair, molhando com seu bom sangue, beijando emsua agonia, a antiga terra de mrtires e de heris...

    Heureux ceux qui sont morts pour la terre charnelleMais pourvu que ce ft dans une juste guerre.

    Heureux ceux qui sont morts pour quatre coins de terre.Heureux ceux qui sont morts d'une morts solennelle.Heureux ceux qui sont morts dans les grandes batailles,Couchs dessus le sol la face de Dieu.Heureux ceux qui sont morts sur un dernier haut lieu,Parmi tout l'appareil des grandes funrailles.Heureux ceux qui sont morts pour des cits charnelles.Car elles sont le corps de la cit de Dieu.Heureux ceux qui sont morts pour leur tre et leur feu,Et les pauvres honneurs des maisons paternelles.

    "Ora, depois disto, chega-nos o sr. Mesquita Pimentel, de roupa marrom e colarinhoduro, para nos dizer secamente, com argumentos de corretor de seguros, quelamenta muito, mas que o nosso cliente morreu sem pagar sua ltima aplice."(Respondendo a uma Provocao, A Ordem, Dezembro de 1947)

    CHESTERTON"Chesterton trouxe-me uma libertao, uma recuperao da infncia, encheu-meda confiana que mais tarde, pela misericrdia de Deus, seria vestida deEsperana".(A Descoberta do Outro, pg. 112)

    "... posso dizer que h um pequeno equvoco a respeito da obra de Chesterton.Realmente, ela foi escrita sobreo homem da rua, mas nopara ele. O autor ingls

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    trata sempre do homem ordinrio, mas dirige-se indiscutivelmente aos intelectuais,tentando convenc-los da vantagem imensa de tornarem a ser homens ordinrios."(A Descoberta do Outro, pg. 115)

    CIME

    "O cime puro, o cime congnito, no consiste numa falta de confiana; antesuma avareza, que no pode tolerar que alguma coisa da mulher, sua figura, seucalor, seu perfume, possa ser atingida por um outro. Um contato causal numacadeira de teatro basta para produzir nele uma angstia insuportvel, ainda quetenha a certeza da sua casualidade e da sua inconseqncia. O cime puro no sealimenta de dramas; no tem histria; no depende de um enredo. uma tragdiaseca, toda instalada no presente, na idia de uma posse absoluta, como a doavarento. Pelo seu gosto, o ciumento desse puro cime esconderia a mulher, comoo avaro esconde na terra o seu tesouro."(Lies de Abismo, 15a. edio, Agir, pg. 101).

    "No. Otelo no foi avaro nem suspeitoso de Desdmona. Otelo foi um crdulo, umgrande e generoso confiante, que s representou, do drama do cime, as cenas deira e da violncia. Sua clera teve a medida de sua confiana trada. Esse foi o seudrama. Qual o ciumento que precisa da astcia e da perfdia de um Iago? (...)

    "O cime do curioso, do desconfiado (...) dramtico, inventivo, inquieto, urdidor,e dispensa qualquer intriga, porque ningum melhor do que ele as fabrica.Dispensa os ardis, porque ningum melhor do que ele os executa. E tem febre deesmiuar, febre de saber, chegando a experimentar uma lvida satisfao ao verconfirmadas as suas suspeitas. E raramente castiga. Diante da evidncia da traio,ele desfruta a mesma esquisita alegria intelectual que leva as pessoas mais

    compassivas a dizer "eu bem sabia..." quando vem os seus pressgiosconfirmados"(Lies de Abismo, 15a. edio, Agir, pg. 102-103).

    COLETIVISMO"O coletivismo de que morre o mundo e de vivem os novos aventureiros a teoriado ajuntamento sem unidade; a tentativa de encontrar significado na multido, jque no se consegue descobrir o significado de cada um: a conspirao dos quese ignoram; a unio dos que se isolam; a sociabilidade firmada nos mal-entendidos; o lugar-geomtrico dos equvocos."(Lies de Abismo, 15a. edio, Agir, pg. 87).

    COMUNISMO" [...] deve ou no deve ser extirpado o comunismo do corpo da democracia, noqual figura como um fibroma?

    "Deve. Deve ser extirpado, sem a menor dvida (...) portanto errado dizer que ademocracia, como a entendemos, confere direitos a qualquer idia se discutir e aqualquer doutrina arrolar adeptos. Este indiferentismo moral o grave erro doliberalismo, fulminado pela Igreja."(Combate ao Comunismo, Editorial de "A Ordem", Janeiro de 1947)

    "H uma frmula bondosa que parece muito crist e que diz assim: combater ocomunismo amando os comunistas. Esta frmula parcialmente verdadeira, mas

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    carece de uma distino justamente quando parece estar fazendo uma finadistino. Na verdade podemos e devemos combater o comunismo combatendo oscomunistas. O que se pretende dizer, com aquela disposio de amar oscomunistas refere-se a pessoas como pessoas, e no s pessoas como comunistas.Rigorosamente falando no estamos obrigados em relao ao comunista como tal,

    mesmo porque impossvel combater praticamente o comunismo sem combater oscomunistas e sem os detestar na medida em que so comunistas. Levando aquelafrmula a rigor, cairamos no erro de reduzir nosso combate ao campo puramentedoutrinrio, de que j nos ocupamos. A luta tem de ser prtica, e por conseguintetem de se realizar num corpo a corpo onde aquela distino se manifestaimperfeita. claro que em qualquer fase da luta, em cada caso particular, nossaindignao estar pronta a se transformar em amizade crist. Mas isso no podeconstituir uma condio vaga, preliminar luta.

    No devemos ter medo da justa indignao; da justa detestao. Devemos, aocontrrio, ter medo dessa dulurosa falta de combatividade que nos obriga a recuar

    para dentro das capelas. Nos evangelhos, a divina indignao no se dirige aofarisaismo, mas aos fariseus. claro que cada homem mereceu o sangue doredentor e pode amanh se tornar santo. O sr. Prestes poder ser um santo. Isto ponto de doutrina. Mas o que claro tambm, de modo ofuscante, que hoje o sr.Prestes nosso adversrio poltico e deve ser considerado como tal.(...)Passaram os tempos de douras; saibamos ser duros com justia. E entreguemos aDeus nosso amor, para que dele disponha, e para que escolha quem vir amanhao nosso encontro."("Combate ao Comunismo",A Ordem, Editorial, Janeiro de 1947)

    CONFIDNCIAS"Todos ns temos nossos santos prediletos, mais prximos segundo no sei queespcie de afinidade, ou talvez mais favorveis por algum decreto de Deus para acomunho dos santos. O fato que os temos. Depois de Deus tu solusaltissimus... depois da Virgem Santssima e dos santos apstolos, comea entoa lista caprichosa dos afetos sobrenaturais de cada um. No escondo a minha, ondeo leitor em vo procurar a razo que tambm no encontrei de tal predileo. Ei-la: Santo Toms, So Bento, Santa Perptua, Santa Catarina de Sena, So JooCancio, Santa Bernardete, Santo Cura d'Ars, Santa Teresa d'Avila, So Francisco eSo Pio X, o mais prximo na data de canonizao e o mais importunado para queinterceda no cu, como trabalhou na Terra, em defesa da F e da Igreja peregrina.

    Vou mais longe na confidncia: trago sempre comigo, no bolso da camisa, em cimado corao, uma medalha do grande e Santo Papa, e tenho no missal uma imageme uma orao."(So Pio X, in O GLOBO, 21/8/69)

    "Nos dias que se seguiram, lembro-me bem, eu no podia passar quinze minutossem pensar no santo nome de Deus. Era um assdio, um atropelo, era umaverdadeira perseguio que me acuava contra o altar. Uma onda de mrito detodos os santos, um vento de todas as oraes, puxava-me o cho em baixo dosps. E eu no sabia que o silencioso mover de lbios de toda a cristandade cuidavade mim, dizia um segredo que me interessava, como os cochilos de gente grande

    nas vsperas de Natal, quando eu era pequenino..."(Nas portas de um Reino, in A Descoberta do Outro)

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    CONTRADIES DO HOMEM"A est nessa esplndida imagem a figura do homem: um ser capaz de galopar emtodas as direes. Em outras palavras, o homem, como o vemos, na situao emque est, o mais evasivo dos seres. Sua explosiva natureza, composta de esprito

    e matria, isto , de fogo e plvora, j deixaria entrever, em abstrato, que suahistria no seria cmoda. Sua natureza to aventurosa, que parece melhorrealizar-se quando rompe seus prprios limites e se ofende a si mesma.

    "No admira muito que, na origem de nossa histria, a integridade de to explosivanatureza e a observncia de to dinmicos limites precisassem apoio num pacto desagrada obedincia. Ora, essa obedincia foi uma vez quebrada, os diques do pactorompidos, e a humanidade precipitou-se pelos vales da histria como umaavalanche. E ns vemos passar em tumulto esses estranhos seres crivados decontradies, capazes de desejar com ardor aquilo mesmo que fere a sua prprianatureza, capazes de assaltar e pilhar o prprio domiclio, capazes de morder o

    prprio corao."("O valor da vida", in As Fronteiras da Tcnica)

    COTIDIANO"A vida s crist quando tudo pesa na balana da eternidade, e por isso a mesado trabalho, ainda do mais obscuro trabalho, que no nada, menos do que nada,se pretende ser uma atividade salvadora do mundo, muito e pesa, se significa aaceitao da tarefa diria, a entrega do cotidiano, a preparao de um ofertrio.Evidentemente, fazem-se nessa mesa coisas sem brilho e sem festa e ningumcair em xtase diante dum memorando. Mas a vida no s festa, nem mesmopara os filhos de Deus e aos ps de Deus, porque ainda temos que caminhar um

    pouco de tempo carregando a cruz de Nosso Senhor.

    "No adianta nada evitar o realismo cotidiano e banal com a espera de situaesideais, dum emprego apostlico, duma ocupao herica, duma noiva total eperfeita, porque bem possvel que essas coisas no existam. Alis, essa idia deaguardar coisas que pesem, que valham realmente a pena de nosso esforo, umaimpertinncia e uma presuno. Caram nisso homens muito piedosos comoaqueles que So Cipriano exortava: atacados duma prosaica peste, achavam ruimporque j haviam decido, cada um no seu foro ntimo, que queriam ser mrtires...Esse escrpulo de levar a srio um oramento ou um horrio, essa preocupao deser despreocupado, tambm traduz um desejo de ser cada um o prprio autor dos

    acontecimentos ou ento uma displicncia bomia em relao ao fluxo de fatosreais que nos vm ao encontro cada dia."("Ainda um pouco de Tempo", in A Descoberta do Outro)

    CRISE DA IGREJA"Sim, cruel demais ter de explicar, ou tentar explicar o que acontece em nossaIgreja. Na verdade ainda no medimos bem a extenso de nossa desgraa. Mais doque nunca, a Igreja, que conheci jovem e bela como a mais bela das filhas deJerusalm, nos aparece como uma pessoa viva, preciosa em sua carne e em suaalma, preciosa para o mundo, carregada de promessas, de dons, de beleza, dedoura e agora ferida, cada no cho, indizivelmente humilhada, a esmolar de seus

    filhos uma gota de piedade...

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    "A impresso que todos ns sentimos, todos ns que a amamos e h tantos sculosa vemos sempre virgem e sempre bela, e sempre moa, a de que Ela foi tradapor todos os lados. Essa idia corresponde sem dvida realidade, desde que se d palavra traio um sentido muito mais extenso, mais complexo, e ao mesmotempo muito mais doloroso e menos carregado de intenes criminais do que se

    costuma dar. um sentido mais profundo e mais antigo... E tambm desde que detodas as traies de que falo s de uma tenha uma certeza ntima e indiscutvel,uma certeza experimentada que, com a graa de Deus por Ela mesma servida, aofilho ingrato lhe d foras para cair de joelhos e chorar..."("Encruzilhada de Traies" in O Sculo do Nada")

    "A histria da Igreja ser necessariamente uma imitao da histria de Cristo. Tevesua infncia obscura, teve o massacre dos inocentes, teve um perodo deconstruo e consolidao da doutrina da Salvao. Teve durante mil anos odomingo de Ramos. Entrou depois em quatro sculos de Gethsemani. E agora terno sei quantos milnios de flagelao.

    Estamos no comeo do segundo mistrio doloroso. O Corpo Mstico de Cristo insultado, chicoteado, cuspido. E a mais bela das casas expe aos viandantes umdeplorvel aspecto de desolao e runa. Viro depois os milnios da coroa deespinhos, os milnios do caminho da cruz e os milnios da crucificao. O que no admissvel mas foi longamente admitido por equvoco a confortvel e rotineirainstalao da Igreja no Mundo. E o que tambm no admissvel que a promessade que no prevalecero as portas do Inferno se aplique aos Suos do Vaticano,aos paramentos e cor das meias dos prelados. Entre as notas essenciais da Igrejasabemos que sua santa visibilidade foi desde o incio concebida por Deus, mastambm sabemos que a Igreja no visvel em todas as suas partes, nem

    sempre visvel em todos os momentos naquelas partes em que se concentra ofulgor de sua visibilidade.

    Preparemo-nos, sem iluses, sem apegos, e sem medo, ao dia do grande eclipse."("Um Otimismo Descabido", O Globo, 02/12/1972)

    "Misria, dolncia, fraqueza, tudo isto se entende, ou se admite sem se entender,ou se entende sem se admitir tudo isto constitui o imenso ptio dos milagres que o campo do Cristo neste mundo; mas inimigos? inimigos militantes? inimigosatuantes, de consciente hostilidade, dentro da Igreja?... Eis o que nos parece umexponencial e hiperblico abismo dos abismos do mal.

    [...] Um eclesilogo rigoroso poder, das prprios palavras do Evangelho, deduzir afalta de homogeneidade entre o joio e o trigo, e concluir que esses inimigosrealmente s para efeito visvel de sua odiosa ttica esto dentro do recinto daIgreja, mas no esto dentro de sua substncia santa. o contato que tm com aIgreja no o dos pecadores que pensam no regao materno e chegam a mancharo seu manto; um contato mais ntimo: o que tiveram os flageladores com a Carnesantssima de Jesus Nosso Senhor."(Editorial, Permanncia no. 27, Dez de 1970)

    "O que particularmente penoso, ou particularmente repugnante, o tom de

    superioridade, o ar inteligente e adiantado com que esses relapsos criticam ostempos em que a cristandade detestava e castigava heresias, e a Igreja

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    pronunciava antemas. Esses senhores progressistas no chegam e no chegarojamais a compreender que, em favor de uma cordial permissiveness paraseqestradores, comunistas, autores de burrssimas fichas catequticas etc. etc,eles deixaram de apreciar o valor das coisas de F."(A Casa de Tolerncia, O Globo, 13/2/1971)

    "Peo ao leitor a pacincia de suportar a insistncia com que bato na mesma tecla:o nervo de toda a subverso e de toda a agitao que se observa hoje no mundocatlico, especialmente no clero, o da contestao do Mandamento honrars pai eme".("O 4o. Mandamento", Permanncia no. 59)

    "No posso hesitar em meu testemunho, j que a isto se reduz tudo o que me cabeneste resto de vida. Deus o quer. J tenho dito mais de uma vez que professo aReligio Catlica e que, em muita algaravia que vem de Roma ou das ConfernciasEpiscopais, e agora do Snodo, eu mais ouo os relinchos do Cavalo de Tria do que

    a voz de minha Me e Mestra; continuo tranqilamente, e peo a Deus que merenove todos os dias a mesmssima F, continuo a crer na Igreja de Cristo,depositria e distribuidora da doutrina da Salvao; continuo a pensar que essamesma doutrina que deve ser ensinada a jovens e velhos, para que se salvem;continuo a pensar, em termos de F e de senso comum, que os pais, padres earcebispos devem diligentemente dizer aos moos que com Deus no se brinca eque a salvao da alma deve ser o principal cuidado de sua vida.Conseqentemente, no de admirar que eu continue a seguir o conselho de S.Paulo aos Glatas: a quem fizer profisso pblica de outra doutrina,direi: anathema sit. Ou ento, em vernculo: no seja idiota!"("A Salvao das Almas", Permanncia, no. 74)

    CRISE DE ESCOLHAS"Ora, fcil mostrar que a sociedade moderna, na grave crise que atravessa,parece ter esquecido essa pequena regra elementar das escolhas ntidas. Quemcasa, continua muitas vezes a viver como se no se tivesse casado; quem estudamedicina no afasta de si muitas vezes a idia de fazer disto um negcio; quemcinge a espada no deixa de espreitar, muitas vezes, as menores oportunidades deocupar cargos civis. No discuto aqui as causas. Vejo somente o fato bruto: a todosns, homens deste sculo e desta cultura mrbida, repugna a escolha."("O valor da vida", in As Fronteiras da Tcnica)

    "O mundo um anrquico depsito, uma loja monumental onde a gente compraestrelas e flores para a festa silenciosa e recatada no recesso da alma. No assimque fazem os escultores, quando arrancam o barro do cho e o trazem para oencontro do amor? No assim, por excluso, por ablao, que o poeta destaca oque quer do annimo e bulhento reservatrio comum? O importante, na poesia ena vida, a escolha; e por conseguinte a recusa. A poesia uma greve, umprotesto, como o que fazem os lmpidos cristais, com suas intolerantes arestas, noseio opressivo da montanha. Ningum rejeita tanto como o poeta, e como oapaixonado."(Lies de Abismo, 15a. edio, Agir, pg. 35).

    D

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    DESCONCERTO DO MUNDO"Na verdade, a causa principal do desconcerto do mundo que tanto aflige o poeta,est no fato de ser o homem maior do que o mundo por sua principal dimenso(...)

    "O homem est nesse mundo sempre de algum modo desfalcado, e portanto, dealgum modo obrigado a submeter o maior ao menor, o eterno ao transitrio, oespiritual ao corpreo. E por isso estar sempre em posio mais ou menos cmica,ou mais ou menos trgica."(O Desconcerto do Mundo, in O Desconcerto do Mundo)

    "Todas as almas afinadas, um Pascal, um Peguy, a seu turno, e cada um com seumodo, diro que o homem uma incngrua criatura, "un monstre decontradictions, un puits dinquietude". O prprio Cames, mais de uma vez volta obsessiva idia do "desconcerto do mundo" trazido pela mesma conturbadacondio humana. Ns sabemos pela F que tais desconcertos e contradies so

    conseqncias do pecado de nossos primeiros pais, e Chesterton dizia que, detodos os dogmas e mistrios da f, o mais claro, o mais evidente sem dvida o dopecado original. Basta efetivamente olhar em torno de si com alguma ateno paradescobrir que o animal racional o menos razovel dos seres, e para comear acrer que algum grave mal-entendido est na origem do homem, e perdura em suacondio ao longo dos sculos."(Msera sorte! Estranha condio, O Globo, 13/5/78)

    "Ser preciso dizer que muitos filsofos, e atrs deles muita gente, julgam que noexiste o universo de seres imateriais; que a alma humana apenas um princpio devida fsica, como a alma dos animais; que o conhecimento sensvel e o racional so

    de mesma natureza e que, por conseguinte, pura fico a diferena especfica dohomem? Um dos mais estridentes desconcertos do mundo, como atrs j disse,reside nessa tentativa de achatar o homem para acomod-lo, para naturaliz-lo noplaneta. Se so suas excrescncias que impedem a boa instalao, reduzamo-la. Nabase de todas as grandes tentativas para diminuir o homem, est aquela filosofiaque risca a diferena especfica, como se fosse possvel solucionar nosso problemacortando-nos o que temos de principal! Em todo o caso no percamos de vista ofato. H filsofos e seguidores que recomendam a prtica da castrao espiritual, eque dizem que a alma espiritual sonho de alguns, como a borboleta amarela dochins, ou como o chins da borboleta amarela."(O Desconcerto do Mundo, in O Desconcerto do Mundo)

    DESTINO"Para os gregos antigos o trgico humano estava no confronto com um destinoimplacvel, consistia numa escatologia fechada e opressiva que calcava a vidahumana de cada dia, pesando em cada gesto, penetrando cada palavra, orientadonada passo. A encarnao e a ressurreio do Cristo vieram abrir as portas daParusia e libertar o homem; e uma nova luz acesa no mundo revelou com nitidez overdadeiro trgico humano, a treva que contrasta com o Cristo, o mistrio dainiqidade. O cristo acha hoje ridcula a ameaa antiga do destino, acha risvel aprpria palavra que ficou relegada para a literatura amorosa de subrbios, porquetem conscincia de uma liberdade terrvel e de uma tremenda batalha com o mal."

    ("Vade Retro, Satana", in A Descoberta do Outro)

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    DIVERSIDADE"O mundo moderno, por lamentvel engano, pensa que o mal e o sofrimentohumano vem da diversidade. Procura ento destru-la, arrastando limites eparedes, e fundindo numa grossa pasta, onde sero trituradas, todas as coisas queconstituem o esplendor da civilizao. No justo dizer que isto seja uma idia de

    brbaro: um brbaro no teria nunca uma idia to prodigiosamente estpida. Nopodemos imaginar um selvagem a fundar doutrina para simplificar seu"boomerang" ou a composio do seu curare. Mas posso dizer que essa idiaconduz barbrie: o primeiro que a formula geralmente um indivduo muitocivilizado, que num certo ponto de sua histria, toma nojo da sua condio; osegundo, que a repete, geralmente um tolo; o terceiro, um idiota; o quarto ou oquinto ser ento um brbaro, e esse j no se dar ao trabalho de formularidias".(Introduo a um livro,A Ordem, Janeiro de 1947)

    DOM HELDER CMARA

    "... Dias depois li a famosa entrevista concedida por Dom Helder a L'Express, onde,entre outras coisas contava que "felizmente tivera na sua adolescncia deseminrio um PADRE MESTRE QUE O LIBERTARA DO TEMOR DE DEUS; e maisadiante incitava os seqestradores e assassinos de refns com palavras deentusiasmo: "eu os amo, eu os amo..."

    (...) Escrevi-lhe logo outra carta mais breve e simples: "Depois de ler a entrevista aL'Express esperei desmentido seu em vo. No o tendo, quero dizer-lhe quedoravante o Sr. est dispensado de me escrever qualquer carta, e at de me dizerbom-dia, porque, depois de sua entrevista, o senhor perdeu o direito estima e aorespeito dos homens de bem".

    (Dom Helder, O Globo 14/5/77)

    DOR HUMANA"Eu li o comovente artigo de Carlos Drummond sobre o outro menino, apaixonadode um dia, que teve pressa de matar-se. Li, e creio ter compreendido a pungenteaflio daquela enorme alma de poeta quando lhe passa pela mente que o meninopoderia salvar-se se algum, naquelas poucas horas de um preldio de dor, otomasse pela mo, o levasse praia, e risse com ele nas espumas do mar.Raramente senti tamanha afinidade, tamanha simpatia, como nesse artigo escritoele todo com um n na garganta; (...)

    "Mas no basta, poeta, mostrar s almas aflitas a doura das relvas, a frescuradas ondas, e a ternura dos regaos de amor. Porque isto no toda a verdade davida. E preciso ser verdadeiro. preciso, sempre, ser verdadeiro. Em toda aextenso. Em toda a profundidade. Nos dois hemisfrios de luz e sombras daverdade.

    "O que preciso dizer, a esses moos que por to pouco desesperam, que existeuma dignidade no centro mesmo da dor; que a dor no excomunga; que a dor jfoi santificada para que possa santificar. O que preciso, poeta de alma grande, abrir velas ao mar, e descobrir a verdadeira extenso do mundo e da vida.

    "Ah! essa histria maravilhosa, que a mim me contaram, como eu gostaria de lhecontar, longamente! longamente!"

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    (Os Meninos se Matam, in Dez Anos)

    DOR SOBRE-HUMANA"Sabei ao menos leitor impaciente, que por vs mesmos que grito e choro. Di-me s de pensar um segundo no mal imenso que fazem os destruidores da Santa

    Igreja mal que no se traduz somente nos tenebrosos novssimos, mas desde jproduz esse inferno na terra, que est sendo triunfal desfecho de uma civilizaoque estrepitosamente professa a averso de Deus e a converso carne.

    "No me gabo do monoplio da dor. Todos eles sofrem, mais ou menosobscuramente, mais ou menos vertiginosamente. Agradeo a Deus a graa desaber qual a causa da dor pela qual o mundo chora e de, sabendo-a, sofr-la dezvezes mais, porque ento dor do mundo, que partilhamos, se somam a dor doCu, as lgrimas de Nossa Senhora e a flagelao de Nosso Senhor, que pelossculos e sculos se perpetua. Peo-vos, pois mltiplo e vago leitor vernestas pginas de to variado tom sempre o mesmo agradecimento e a mesma

    compaixo."(Agradecimentos, in Conversa em Sol Menor)

    DOSTOIEVSKI"A leitura de Crime e Castigo me trouxe a convico melanclica de estarmosvivendo uma depresso histrica. O mundo inteiro est passando por um processode laminao, de mediocrizao, de perseguio de um conforto elementar e nocreio ser possvel em algum lugar deste mundo de hoje algum escrever um livrocomo este e outros de Fedor Dostoievski. Quem sabe se no seria melhor, maishiginico, mais decente, calarmo-nos todos durante um milnio?"(Relendo Dostoievski, 4/3/71)

    E

    EA DE QUEIRS"Nos romances de Ea de Queirs tudo claro, tudo visvel e colorido. Comoporm lhe falta o gnio de um Tolstoi ou de um Proust, essa claridade mais umverniz do que uma radiao prpria que venha de dentro das coisas. Sualuminosidade, em suma, uma superficialidade. No que concerne ao jogopsicolgico das situaes dramticas, essa visibilidade chega freqentemente ate omau gosto. O autor no deixa nada implcito, no supe uma vida interior, e nemde longe imagina os abismos inconscientes da alma humana. Tudo se diz, tudo seexplica e tudo se compreende (...)

    O que torno a dizer dos romances de Ea de Queirs, com o acrscimo do que disseacima, que seu enorme talento de descrever estava ligado a um talento menor deacompanhar os passos das humanas paixes"("Na mesma lngua em que chorou Cames", in O Desconcerto do Mundo)

    EDUCAO"Quem enlouqueceu, leitor, foi o mundo, sim, o mundo na sua efervescentepluralidade e majestosa rotundidade. Foi o mundo, a civilizao, a poca, o sculo -ou que outro nome lhe dem; e um dos muitos efeitos dessa loucura, que refluisobre os indivduos na variada proporo da permeabilidade que encontra, est naidia que atribui aos aparelhos institucionais, s mquinas de educar, o principal

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    papel na formao dos valores humanos. Este erro funestssimo prprio de umapoca gregria, cujos critrios pegajosos, colantes e massificantes sufocam eestrangulam as iniciativas pessoais, que desde So Toms, e at desde Aristteles,so o fator principal da formao dos veros valores da pessoa humana."(Ensina-te a ti mesmo, Permanncia, Jan/Fev de 1975)

    EMPIRISMO"O homem filosofa, ainda que freqentemente filosofe mal. A existncia doempirismo prova contra o empirismo. Se as teses do empirismo fossemverdadeiras, no existiria o empirismo. Se o materialismo fosse verdadeiro, ohomem seguiria seu caminho sem se deter para apregoar o materialismo. A nicafilosofia que se pode apregoar com lgica aquela que permite filosofar.

    "Em resumo, o homem s pode negar a vida do esprito, embora com veementefalta de lgica, porque espiritual; s pode negar a liberdade e a lei moral porque livre."

    (O Tecnicismo e suas Origens, in As Fronteiras da Tcnica)

    EROTISMO"Estamos numa Guerra. A Guerra Mundial III. E contra quem? Contra o homem,contra a Imagem e semelhana de Deus.

    "No Oriente a Guerra toma a forma de escravido. No Ocidente, liberal, relaxado,entregue ao igualitarismo e ao mito da liberdade total; no Ocidente que deu luz oque j se chama a "permissive society" - e que ns traduziramos por "sociedade dovale tudo" - a Guerra toma a forma da liquefao e putrefao de todo o briohumano. Com violncia aturdidora, espalha-se um furor de erotismo, uma

    febricitante promoo da sexualidade, degradante e destrutiva como se todas asenergias humanas se concentrassem no mesmo propsito: levar o homem adescrer definitivamente de todos os seus ttulos de transcendncia e nobreza."("A Escalada do Erotismo e a Censura", in Carta Mensal, julho de 1970)

    " galata pouco inteligente! geme So Paulo. leitor desatento! Gememos ns.Consideremos o espetculo dos costumes que aflige tantas famlias, lembremos oscasos de tantas e tantas moas que se transviam, que se perdem, que seprostituem, e que ainda respondem aos pais que eles esto por fora e noentendem nada.

    "Pergunto eu: qual o critrio principal que norteia a vida dessas pobres moasembrutecidas? Todos proclamam: o hoje a atualidade unanimementeafinada pelo diapaso do orgulho que esmaga o 4 Mandamento, despreza Deus ediz aos moos que s eles so juizes de seus atos, como, com todas as letras, j foidito num catecismoeditado pela Sono-Viso, aprovado pela CNBB e evidentementeinspirado pelo Diabo.

    "O inimigo evidente das pobres moas que se perdem o que todo mundo faz, o que se v nos filmes, nas TVs, ora, esse gnio mau que Jesus chama mundo.E os jovens idiotas, quando pensam que esto sendo movidos por sua esplndida ebrilhante soberba, quando pensam que esto agindo livremente, COITADOS !!!,

    justamente nesses arrebatamentos que esto sendo arrastados, puxados, levados

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    para a sarjeta e para o prostbulo pelo aparelho da perdio que Jesus chamamundodo qual Ele nos veio apartar, do qual nos veio salvar."(Editorial da Revista Permanncia, n 76-77, Maro-Abril de 1975.)

    "E ns, herdeiros desse jbilo divino, devemos compreender que a dignidade

    humana mais depressa comea pelo decoro da veste do que pela conquista daLua."(Editorial Permanncia, n18, Ano III, Maro de 1970.)

    ESCRITOR"Imagino que as pessoas alheias ao ofcio julguem que a substncia de um escritor feita de mistura e da soma de outros escritores e que, assim sendo, caberia aquium largo tpico onde eu discorresse sobre os livros que li e os autores que devorei.Parece-me todavia que um escritor mais se parece com uma salada do que com umpanteo ou com uma academia. Salada de qu? De experincias, de cabeadas, esobretudo de malogros.

    (Quando nasce o escritor? in Conversa em Sol Menor)

    "Como pode o escritor ser escritor se no tiver o gosto supremo das mais finasexatides? E como pode o escritor ser escritor, e lograr comunicao, se nopossuir nos recncavos da alma as ressonncias, os abalos da terra, do cho, dorumor dos passos e descompassos das marchas e das danas?"(Quando nasce o escritor? in Conversa em Sol Menor)

    "Mas o escritor no nascer somente da matria que lhe d corpo. Para que elevenha a nascer preciso que dentro dele nasa a paixo violenta, invencvel, dedeixar sinais escritos, mots, words, vocbulos, sinais, lngua. O escritor nascer

    para escrever, para passar a vida pondo tudo o que viveu neste imperativo vital derespirar escrevendo ou neste veredicto de no respirar se no escrever."(Quando nasce o escritor? in Conversa em Sol Menor)

    ESPERANA"Nossa esperana, senhores, vem de Deus mesmo. No somos ns que ainventamos, que a deduzimos, que a fabricamos. Deus mesmo quem no-ladeposita na alma, com as outras virtudes teologais, a F e a Caridade, que amaior. E ns sabemos, agora, que nosso Destino no a fora cega que empurravao rei dipo para o parricdio e para o incesto. Ns sabemos que as portas de nossosdestinos abriram-se; sabemos que o Filho de Deus deitou-se sobre o abismo de dor

    e morte para que ns todos, um por um, pudssemos passar por cima de seucorpo. Ns sabemos que uma festa est sendo preparada para ns, desde toda aeternidade, e, quando apuramos os ouvidos, conseguimos distinguir os rudosdesses preparativos...

    "Quando ramos pequeninos, nas vsperas dos aniversrios, ou das noites deNatal, ficvamos s vezes acordados na cama, nervosos, impacientes; etrocvamos olhares compreensivos com nossos irmos, noite a dentro, ouvindo ospassos, as vozes, os rudos novos de objetos novos, e trocvamos olhares cheiosde suposies, ouvindo a surda azfama dos pais que povoavam nossa noite demistrios e esperanas.

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    "Ora, nossa esperana de hoje, essa esperana teologal, parece-se muito comaquela esperana filial de antigamente. Ns sabemos, com a certeza da f, que huma festa preparada para ns, e sabemos, desde j, que os preparativosescondidos no nos esto inteiramente escondidos. Ouvimos sinos que batem,ouvimos passos em procisso, ouvimos, como um rio de amor, um murmrio de

    oraes - e sabemos que aqui mesmo, aqui em baixo, aqui e agora, entre velas,clices, e pes, que o Cristo Jesus e sua Me preparam, para ns!, as garantias daressurreio..."("O valor da vida", in As Fronteiras da Tcnica)

    "Bem sabemos, Senhor, que a beleza maior da Igreja, a beleza sem par, estguardada para o cu. Bem sabemos, Senhor, que aqui na jornada nossas alegriasso de esperanas e portanto de lgrimas. Mas no s por ns mesmos, pornosso pobre irmo corpo que nos apegamos s alegrias deste cho to doce depisar, desta gua to bela de beber, deste sol que comemos com os olhos. No spor ns e para ns que rogamos um reflexo de esperana nas nossas pobres coisas,

    esta mesa, os livros, a casa l dentro, a pobre famlia mal amada... no s pornossa casa que rogamos uma beleza de vergel, uma largueza de mar, umasuavidade de jardim, tambm, Senhor, para vossa Igreja que rogamos a belezada terra. E perdoai-nos, Senhor, a fraqueza de nossa esperana..."("Encruzilhada de Traies" in O Sculo do Nada)

    ESTUDO"Na vida do estudante temos a supervalorizao da Universidade: os moosesperam demais da universidade. Sim, esperam receber dela no apenas umainiciao, no apenas um aperfeioamento a ser continuado, mas quase asubstncia plstica de sua personalidade profissional.

    "Abrem-se as torneiras das aulas e os estudantes se enchem daquela "matriadada". Ora, ns sabemos que, ainda hoje, qualquer profissional que se destaca quase totalmente um autodidata. Aprendeu sem dvida alguma coisa nos bancosescolares, mas sobretudo aprendeu por iniciativa prpria muitssimo mais. Nocontraponho aqui o estudo prtica da vida, como se costuma fazer num esquemaconvencional; contraponho o estudo escolar com o estudo por iniciativa prpria, oestudo solitrio, o estudo personalssimo, que o nico capaz de formar elitescriadoras de que o mundo precisa constantemente para seus repetidos emperros.

    "Os moos de hoje acreditam demais na universidade, e acreditam de menos no

    valor prprio, no esforo prprio, e na fecundidade desse esforo procurado nasolido da alma. Ns sabemos h mais de mil anos que o agente principal daeducao e do ensino a atividade imanente do prprio educando, sabemos que omestre, e portanto toda a universidade, um agente ministerial secundrio, mas osmoos de hoje perderam essa noo que s individualstica na cabea daspessoas que raciocinam com o rudo das palavras."("O Valor Prprio", in A Tempo e Contratempo)

    "Qualquer transmisso de experincia viva, qualquer magistrio, s pode funcionarcom o primado da palavra e por isso qualquer pedagogia tem de serfundamentalmentepassiva. Esse vocbulo considerado hoje obsceno; mas para

    um cristo ele tem o mais elevado sentido e com ele afrontamos o ridculo domundo, porque toda nossa vida consiste em ser compassiva."

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    (A Descoberta do Outro, pg. 176)

    EUTANSIA"s vezes tentamos esse empreendimento de medir o que incomensurvel, etomamos o metro da dor fsica para concluir que melhor que morra o paciente se

    o pouco que lhe resta de vida est condenado ao sofrimento. A eutansia a ilgicaconseqncia do excesso de lgica. Ela aconselha a matar baseada na certeza damorte prxima, e no direito sobre a dor. Ora, se a morte prxima, porqueabrevi-la? E qual a diferena essencial entre o moribundo e um de ns? Se porcausa da dor qual o critrio, a medida, o grau centgrado de dor que perdoa oucondena? E quem poder dizer o significado de cinco minutos de vida?"("O valor da vida", in As Fronteiras da Tcnica)

    EVOLUCIONISMO"Parece-nos indispensvel marcar bem a intolerncia em relao Evoluo dosevolucionistas, que tira o mais do menos, que faz passar a potncia ao ato sem

    nada que esteja em ato, o que consiste precisamente em ser um processoautocriador que torna sub-repticiamente aceitvel a criao ex-nihilo sem umDeus Todo Poderoso, desde que essa criao se torne infinitesimal esuficientemente lenta para que as inteligncias tardas no percebam o mecanismodo absurdo, e fiquem, de tantos em tantos metros, ou de tantos em tantos sculos,diante de uma situao de fato.

    " preciso denunciar a absoluta inaceitabilidade do evolucionismo dos racionalistase dos empiristas."(As Descontinuidades da Criao, Ed. Permanncia, 1992)

    FFAMLIA"Em relao aos muros da casa de famlia h porm um problema semelhante aodas fronteiras das naes. H casas patriticas e casas nacionalistas. Poderamostambm mencionar as casas internacionalistas, onde entra e sai quem quer, ondetodo o mundo faz o que lhe passa pela cabea, e onde, em suma, impera tamanhatolerncia que no seria imprprio cham-las casas de tolerncia.

    "As nacionalistas so aquelas que mais abrigam uma quadrilha do que uma famlia.No porque sejam os seus membros ferozmente desunidos; antes porque sounidos ferozmente. Unidos contra as outras casas."(A Casa, O Globo 3/1/76)

    FILHOS"Vejam, vejam senhores como o mundo do homem feito de sucessivas econcntricas fronteiras que vo, desde aquelas que vemos no mapa com rios ecordilheiras, at a porta fechada da cmara conjugal. Mas agora apreciam o reversodo fenmeno: cada uma dessas muralhas sucessivamente superada, comobarragem de aude que se quer cheio para que transborde em servio. Odinamismo das fronteiras est voltado para fora. E agora, vejam, vejam nessa novadireo como se expande o mundo do homem.

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    "De fato, se verdade que os esposos se escondem, em compensao no h nadamenos escondido do que o fruto do seu segredo e no h nada mais apregoado,mais publicado do que a criana que nasce. Toca cem vezes o telefone, essepequeno sino familiar do natal dos homens. menino ou menina? Expedem-secartes. Abrem-se janelas. Como se chama? Quanto pesa? Com quem se parece?

    As vizinhas comentam; as criadas, esquecidas de tudo, enternecem-se, e varremmelhor, lavam melhor, como se o filho, sendo da casa, fosse como pouco delastambm; e as tias e as avs emitem vaticnios, ou confirmam profecias de que alisningum mais se recorda.

    "O segredo tornou-se pblico. A porta misteriosa foi arrombada por um ladrorecm-nascido. E o aroma de alfazema que sai pelas frestas da casa, que se diluino ar, no ar da rua, da parquia, da cidade, j a primeira suave emanao daamizade cvica, o oxignio das almas.

    "A casa nesse dia deu o seu fruto. Fez a sua entrega.

    "Nasceu hoje uma criana. Nem preciso telefonar para saber que naquela casanasceu hoje uma criana. V-se de longe. Quem estiver acaso janela pelascercanias logo ver que alguma coisa aconteceu naquela casa, naquele navioancorado: porque no seu exguo convs, em sinal de festa, tremula uma carreira defraldas ao vento bandeiras brancas de jbilo e de paz."(A Casa, O Globo 3/1/76)

    FILOSOFIA POLTICA"Seu Joo soltou ento um grande rugido que a custo reprimia.

    -- Ai, minha senhora, os maons mataram nosso Rei, e mais o Prncipe Luiz.Estamos sem Rei. uma desgraa uma grande desgraa...

    E para bem exprimir seus sentimentos, Seu Joo, no tom mais respeitoso domundo, soltava palavres (...). Foi nesse tempo que ouvi as lies de umainsuspeitada sabedoria que naquele tempo nos fazia sorrir. Foi preciso viver 77anos para descobrir que valeu a pena prestar ouvido as palavras aladas de seuJoo. Sobretudo as que exprimiam a sua filosofia poltica. Uma noite resolvienfrentar seu mximo furor, e perguntei-lhe porque se apegava tanto monarquiae tanto se enfurecia contra a repblica. Com palavras e argumentos precoces parameus nove anos de menino vivo nascido numa repblica, tentei confundir o lusitano

    perguntando-lhe porque razo fazia questo de um Rei. Erguendo seus quase doismetros de altura, e ainda avantajando com os braos enormes atirados ao teto, seuJoo soltou um rugido de leo flechado; mas depois comeou a falarpausadamente. O menino era muito novo; a experincia da vida que ensina. Ora,o que ela ensina que, para governar um povo nada se inventou melhor do queum rei. E seu Joo repetia com uma voz grave e lenta: "Um RRRei! Sim, meumenino, um Rei". Sentando-se com as mos nos joelhos, debruado e didticoprosseguiu: -- O que l est e se diz presidente, o tal de Bombardino Rachado(Beranrdino Machado), sai rua com um guarda-chuva e diz que igual a um dens, pedreiro como eu ou carpinteiro como Jos. Ora m'o M'nino, se ele igual aJoo Martins Duarte, pedreiro, como que pode governar Portugal?

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    "E depois de uma pausa para meditao seu Joo me deixou cravado na memriaesse argumento sublime e definitivo: -- Naquele tempo (o da monarquia) m'om'nino, quando Sua Majestade saa de seu Palcio de Viosa, quem estivesse nasruas, alava-se nas pontas dos ps, quem estivesse nas lojas assomava porta,quem estivesse em casa chegava janela, a GENTE VIA O REI PASSAR.

    "Naquele tempo o menino de 9 anos ria-se do fantstico argumento de seu JooMartins Duarte e precisou viver 77 anos para desconfiar que se ria com risoerrado."(O Globo, 5/12/74)

    "E agora, sem nenhum receio dos adjetivos e advrbios que me atiraro, ouso dizerque, nas circunstncia do mundo contemporneo, para ser razoavelmente bom oregime poltico deve ser preliminarmente anticomunista e nesta conditio sine quanon deve evitar qualquer sinal de nostalgia democrtica. As naes do mundointeiro esto espera de um regime onde os dirigentes procuram fazer o bem e

    evitar o mal. E tambm ouso dizer que o governo que disso mais se aproximou nosculo XX foi o governo de Franco na Espanha que durou 39 anos de paz eprosperidade"(O Globo, 11/5/78)

    FREUD"O que h de curioso na obra de Freud, a meu ver, o seu completo desinteressepelo centro do homem. Suas admirveis descobertas vieram revelar a diversidade,a riqueza misteriosa de nosso organismo psquico. Conclui ele ento que o homem um pobre ser dilacerado e sem unidade. Ora, isto me parece ilgico. A mim,quanto mais diferenciado e decidido se evidenciar nosso psiquismo, mais forte se

    afirmar o princpio de unificao que apesar de tudo ainda consegue uma vitria,mais penosa, mas por isso mesmo mais valiosa, por ser um domnio sobrenumerosos e dispersos elementos. Na doutrina de Freud, ao contrrio, a ilgicaconcluso a que se chega, ou pelo menos aquela a que ele nos convida cominsistncia, a do enfraquecimento de nosso centro de gravidade. Na estrutura queFreud prope para o nosso psiquismo, como j observou um moderno psiclogo, aparte principal do drama se passa entre o ide o super-ego. O enredo interessanteest todo nas obscuras intrigas de nosso inconsciente e nas categricas repressespoliciais da zona exterior do super-ego, ficando no meio do palco, andino, inerme,com as mos abanando, o Ego consciente. V-se pois que essa psicologia, e suasderivadas, se caracteriza por um forte extrinsecismo, disfarado, porque chega

    muito perto do centro, e tanto mais forte e resoluto quanto resiste com maiordeliberao poderosa atrao da proximidade. Ao que me parece, essa psicologia,com toda a sua respeitvel contribuio, antes uma fora de dissociao dohomem do que uma tentativa de descoberta do princpio que faz de um eu a coisamais una, mais separada, mais brutalmente segregada do universo. Ela contraria,por curiosidade analtica, por dissociao, o primeiro fato bruto da primeiraexperincia da alma."(Lies de Abismo, 15a. edio, Agir, pg. 199-200)

    G

    GOSTOS

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    "J ouvi dizer inmeras vezes que gosto no se discute. Ultimamente disseram-meessa frase, que bem figuraria entre as proclamaes do direito do homem, apropsito da obra de Machado de Assis e da pintura de Picasso. Estou pronto aconcordar que gosto no se discute quando se trata de pratos. Custa-me um pouco,mas reconheo a perfeita legitimidade do gosto pela beterraba. No que concerne

    pintura de Picasso ou aos livros de Machado, compreende-se ainda uma certarelatividade na simpatia temperamental, um gosto, mas no posso concordar que ojuzo sobre tais coisas se reduza a esse elemento da ordem do sensvel. Seria altima concesso da inteligncia: a submisso aos sentidos.

    "Diante de um quadro de Picasso, uma pessoa afetada desse liberalismo subjetivo,convencida da alta dignidade da livre opinio, no hesita em formular umacondenao peremptria ainda que o difcil problema da arte no tenha tomado dezminutos de reflexo em toda sua vida. Antes da reflexo, do estudo, do esforo deprocurar, antes de qualquer coisa est o direito, estranhamente glorificado, daopinio."

    (A Descoberta do Outro, pg. 67)

    GUERRA"Se uma guerra s justa quando seus dirigentes puderem ter a certeza de poderevitar qualquer excesso, qualquer crueldade acidental, ento voltamos ao quadrocaricato de uma guerra com espingardas de rolha, baionetas de papelo e bombasde creme. S essa ser justa. E ento concluiremos que um cristo um homemque jamais deve combater em defesa dos valores cristos. E quanto mais crist fora razo de sua guerra, mais odiosa e menos justa ser essa guerra. Curiosadoutrina? Curioso pacifismo que contradiz toda a civilizao crist e que troca ascores violentas dos vitrais de nossa Histria por um cinzento budismo ou quietismo

    de qualquer inspirao sem sangue!"("Espanha, Roma e Frana" in O Sculo do Nada)

    "O conselho evanglico me diz que ser bom para minha vida personalssima, einteriorssima, isto , para minha intimidade sobrenatural, oferecer a outra face seme esbofeteiam numa; mas no me diz que seja bom oferecer a face de minhasfilhas e de meus netos. O conselho evanglico nos diz que quem com ferro fere comferro ser ferido; mas o preceito, desdobrado em moral natural e sobrenatural, noscomanda a defesa do prximo, a defesa da famlia, a defesa da civilizao crist,que s pde durar um milnio porque seus habitantes usavam espadas e preferiamimitar o rei Lus de Frana, filho de Branca de Castela, a imitar os pacifistas

    hindus."("Espanha, Roma e Frana" in O Sculo do Nada)

    H

    HITLER"Lembro-me bem da primeira vez que vi em Jacarepagu, num cinema poeira, afigura de Adolf Hitler, a discursar num cenrio wagneriano. Levantei-me, comoquem acorda, sem poder sopitar uma exclamao: "Esse homem um louco!"Minha mulher puxou-me pelo casaco, e eu me espantava com a tranqilidade daplatia. Naquele momento tive uma fulgurante intuio de que comeava umperodo de demncia universal, mas no imaginava que traos tomaria e queintinerrios seguiria."

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    (O Sculo do Nada, Introduo, pg. 19)

    HUMOR"O contedo do humorismo, isto , o humour, vem dum senso ldico como tambma poesia (...) e eu diria at que o humorismo uma espcie de poesia dos

    canhotos."(Chesterton e Maritain, in A Descoberta do Outro)

    I

    IDADE MDIA"Para ns, o esplendor medieval no est no brilho das cortes, na oficializao, napenetrao do poder temporal; diramos at que no est no desenvolvimento daescolstica e na altura das catedrais: para ns, o maior, o nico esplendor da IdadeMdia est numa cruz de carvo que So Toms traou numa porta que dava parao pecado e nas chagas que um dia apareceram sangrando nas mos dum pobre deAssis.""Quem presta ouvidos quela crnica das derrotas da Igreja, onde se diz que elaperdeu oportunidades e terreno, presta ouvidos aos pruridos e no s palavras daf. No lhe passa pelo esprito que foi o mundo que perdeu terreno no reino deDeus e no a Igreja que o perdeu nas cidades do mundo. No se recorda mais queo banquete de npcias ser completo um dia, ainda que bilhes de convidadosinventem as mais engenhosas desculpas para no comparecerem."(A Descoberta do Outro, pg. 146)

    IDEALISMO"O grande desvio do pensamento moderno tem origem nessa inverso interior pelaqual a vontade se arroga um direito de conquista onde somente inteligncia cabeo primado. Todos ns, mais ou menos europeus, estamos impregnados deidealismo filosfico at medula dos ossos, estamos convencidos de que nossadignidade mais alta reside nesse subjetivismo obstinado que tenta reduzir todas ascoisas do cu e da terra a meia dzia de opinies. Muita gente pensa que isso grandeza e marca de carter e que a personalidade humana se define por essefechamento diante dos objetos e se engrandece por essa deformao interior.Diante dos objetos mais simples, o homem liberal, que agasalha suas opinies, quedesconfia de tudo que no seja o morno recncavo de sua interioridade, cai emguarda numa posio crispada; a vontade mete-se de permeio entre a porta dossentidos e a inteligncia, e como o seu caminho mais curto, ou porque seja elamais gil, sua sugesto chega antes do conceito e gera o preconceito. A intelignciaperde a liberdade e a vontade ento convence o sujeito de que ele um livre-pensador"(A Descoberta do Outro, pg. 66)INTELECTUAIS"Por essas e outras que sempre aconselho aos jovens intelectuais a prtica detrabalhos manuais. Aprendam a consertar torneiras, a descobrir curto-circuitos eassim tero um exerccio de docilidade ao real. No s com a cabea que ohomem pensa, tambm com as mos. preciso nunca ter mudado um fusvel oununca ter pregado um boto nas calas para chegar ao irrealismo profundo dosintelectuais que trazem seus brilhantes talentos para pronunciamentos que

  • 7/28/2019 Gustavo Coro - Citaes

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    deveriam versar sobre coisas simples como po e a gua e por excesso decategorias mentais deixam de ver o elefante, o piano e outras coisas maisvolumosas."(O Globo 29/08/1970)

    IMATURIDADE"Numa reunio de pais de famlia, uma pergunta lanada madre superiora:"- Ento a Sra. acha que no devemos obrigar os filhos a ir missa?"Houve um silncio. Um suspense. E ento a madre, com voz clara e resoluta,respondeu:"- No. A missa no deve ser imposta s crianas como um castigo, do qual no sepode escapar. A criana deve ser despertada para o significado e a beleza desseencontro semanal com o Cristo. Os pais devem dar o exemplo e mostrar criana

    que ela livre de fazer a escolha..."E a est. Tudo isto que pareceu muito bonito a vrios pais de famlia simplesmente monstruoso."Em primeiro lugar obrigao no castigo. Em segundo lugar, a educao consisteessencialmente em preparo e em indicar aos educandos as suas obrigaes e osseus deveres para com Deus, consigo mesmos e com o prximo. E educaocatlica consiste essencialmente em preparar a alma do educando para ocumprimento da vontade de Deus, expressa nos mandamentos.

    "Todos ns sabemos h mais de dez mil anos, para o que concerne a lei natural, eh quase dois mil anos, para a lei revelada, que essa tarefa tem de ser feita comamor, dedicao incansvel, alternativas de persuaso e severidade, e, sobretudo,sabemos que o desnvel da autoridade paterna se atenua com o crescimento dosfilhos. Ningum pensar em obrigar um filho de 48 anos a cumprir o preceitodominical; mas tambm nenhum pai cristo de bom senso dever consentir que umfilho de 7 anos no v missa porque no quer. Diremos at que bom, vez poroutra, algum atrito, para lembrar criana que h uma obrigao a cumprir emrelao a Deus, e que nessa matria ela tem de obedecer como o pai e a meobedecem. Chamo a ateno do leitor para um aspecto muito curioso da respostadaquela madre. Na religio nova ou na nova filosofia de vida que ela prega, os pais

    devem... os pais devem... mas os filhos no devem nem aprendem a dever.Observem especialmente esta passagem: Os pais devem dar o exemplo e mostrar criana que ela livre de fazer a escolha.... Do lado dos pais o dever, do la