guia separao casal_verspt.pdf

Upload: beatriz-rodrigues

Post on 13-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    1/13

    1

    SEPARAODO CASAL

    Guia para enfrent-la sem prejudicar os lhos

    Jos Manuel Aguilar Cuenca . Psiclogo

    Guia.indd 1 12/03/28 12:10:43

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    2/13

    3

    As famlias esto a passar por mudanas signicativas na sociedadeportuguesa, acabando as nossas crianas, os nossos/as lhos/as, por seconsistir no elemento mais vulnervel a essas mudanas. A separao/

    divrcio um fenmeno relativamente recente em Portugal, exigindoa todos os intervenientes, em especial ao casal, uma capacidadede rearranjo familiar em face da dissoluo conjugal. A aquisio edesenvolvimento de competncias de forma a garantir que as refernciasfamiliares dos nosso/as lhos/as se mantenham o mais estveispossveis so fundamentais, contribuindo assim para o seu harmoniosodesenvolvimento socioemocional.

    A Associao Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos,com o apoio do Defensor do menor de la Comunidad de Madrid e dopsiclogo Jos Aguilar Cuenca, pretende com a apresentao deste guiatraduzido contribuir para que os casais em fase de separao/divorciopossam adquirir informao e competncias e desenvolver estratgiaspara enfrentar essa mudana signicativa nas suas vidas, de forma aminimizar as consequncias para os seus lhos/as.

    Associao Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos

    Maro 2012

    a.indd 2-3 12/03/28 12:10:51

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    3/13

    5

    A publicao do livro, Separao do casal - guia para enfrent-la sem prejudicar os filhos, de Jos Aguilar Cuenca, assume-secomo um contributo de excelncia para os pais, ajudando-os na

    obteno de conhecimentos que lhes permitam reflectir sobrediversas questes associadas separao e ao seu impacto nascrianas. Ao longo de todo o livro, os pais so ajudados a encontrara melhor forma de viver um momento de crise e a apoiar os seusfilhos, procurando uma nova forma de famlia, diferente da anterior,mas que permita manter uma relao saudvel entre todos. Deuma forma simples e objectiva, mas tambm com elevado rigor,aborda um tema complexo que, na sociedade actual, se revelaextremamente pertinente, atendendo ao aumento crescente donmero de separaes e divrcios.

    A separao de um casal marca o fim da relao conjugal, certo,mas no da relao parental. Entre pais e filhos no h divrcio,e desejvel, na perspectiva da criana, que esta mantenha umconvvio regular com ambos os pais e respectivas famlias deorigem. Porque a famlia de uma criana no se limita aos pais.

    A maior parte das crianas passa tambm a ter duas casas aps

    a separao dos pais: a casa da me e a casa do pai, igualmenteimportantes para si. Mas ter duas casas no significa que passe ater duas famlias - a sua famlia , e ser sempre, apenas uma, namedida em que as relaes familiares transcendem as residncias.Neste contexto, considera-se que o ajustamento da criana aoprocesso de separao ou divrcio dos pais depende, acima detudo, da forma como estes lidam com o mesmo como e quandoo explicam criana, como o sentem, como aprendem a gerir asmudanas inevitveis que dele decorrem, como protegem a crianae a ajudam a manter uma imagem positiva de ambos os pais.

    Se acreditamos que a criana tem a necessidade, e tambm o direito,em manter com ambos os progenitores uma relao de proximidadee afecto positivo, ser ento errado falar-se em regime de visitas.

    Porque no de uma mera visita que a criana precisa, mas sim detempos repartidos de forma igualitria, que lhe permitam viver comcada um dos progenitores e experienciar interaces em diferentescontextos. Assim, a coparentalidade surge como a melhor forma deassegurar criana a satisfao das suas necessidades e a salvaguardados seus direitos, permitindo-lhe conservar os dois progenitorescomo figuras principais de vinculao e de identificao.

    Joo, uma criana de 7 anos , di sse-me u m dia: gost ava de te r ti doum irmo gmeo, porque assim era mais fcil, umficava com o pai,outro com a me. Porque eu no me consigo dividir e no sei como

    fazer

    Que este guia possa ajudar os pais que se separam a ajudar os seusfilhos.

    Rute Agulhas

    Psicloga, Terapeuta FamiliarPsicloga Consultora na Delegao Sul do Instituto Nacional

    de Medicina LegalProfessora Assistente Convidada no ISCTE-IUL

    Prefcio

    a.indd 4-5 12/03/28 12:10:52

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    4/13

    7

    Apresentao

    A separao do casal , na maior parte dos casos, um processo complicadoe doloroso, especialmente para os mais pequenos. As crianas so aparte mais vulnervel da famlia e uma separao mal orientada pode

    coloc-las numa clara situao de risco, comprometendo seriamente asua estabilidade emocional e o seu processo de maturao.

    Os adultos so responsveis por evitar tais consequncias, enfrentandoo processo, sem nunca esquecer que os bens mais importantes so oslhos. Com o m da relao, todos os membros da famlia enfrentamnovas situaes e diversos problemas (emocionais, econmicos, deorganizao, ...) que fazem parte de uma nova vida qual se deveroadaptar o quanto antes. Para os mais pequenos , sem dvida, maisdifcil, vem-se numa situao que os afecta particularmente e que nocontrolam. Rapidamente surgem novas rotinas e situaes que enfrentamcom insegurana e, certamente, com muita tristeza.

    Este guia pretende orientar os pais para que enfrentem a sua separaocom maturidade suciente, pacicamente e com respeito, assumindoque a estabilidade dos lhos, depende, em grande parte, dessa atitude.D orientaes sobre formas de actuao, bem como informaes sobreaquilo que nunca se deve fazer. Explica igualmente, de uma maneira

    simples, como a separao afecta as crianas, de acordo com a idade ecom a forma como o processo decorre.

    Esperamos que estas reexes e conselhos sejam teis e que contribuampara preservar, nesses momentos complicados, a estabilidade emocionalde todos os membros da famlia, em especial a dos mais pequenos.

    Arturo Canalda

    Defensor do menor

    a.indd 6-7 12/03/28 12:10:55

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    5/13

    9

    A vida muda

    A primeira coisa de que os mais pequenos se apercebem de que jno desfrutam de contacto simultneo com os pais. Esta percepo podeocorrer, inclusivamente, antes da separao fsica. Uma vez concretizadaa separao, as crianas devem habituar-se a ter a companhia do pai eda me, alternando a sua permanncia entre as duas casas que agorafrequentaro. No existe fundamento cientco para a ideia de que hdesestabilizao das crianas devido mudana da sua residncia, dolocal onde estudam ou brincam.

    muito importante que os pais as ajudem a criar as suas novas rotinas.Assim, as crianas rapidamente superaro a situao, assumindo comohabitual o que temporariamente foi novo. Nessas alturas, ajud-las aorganizarem-se, distribuindo as suas coisas entre as duas casas ou faz-las participar na decorao dos novos quartos so estratgias simplesmas ecazes.

    Os adultos tambm mudam as suas rotinas. Muitos tm que encarregar-se de tarefas em casa que quem assumia anteriormente era o cnjuge.Outros tm que comear a trabalhar fora de casa ou aumentar operodo de trabalho dirio, uma vez que as despesas a enfrentar, agorasozinhos, aumentam. Quanto mais cedo normalizarem a nova situao,assimilando os novos desaos e encarando-os de forma positiva ecriativa, mais fcil ser ajudar os lhos. Normalidade na vida dos paisorigina normalidade na vida dos lhos.

    Os sentimentos mudam

    Todas as separaes originam dor e sentimento de perda. Para uns,a dor originada pelo sentimento de falha num projecto de vida,para outros, o afastamento da pessoa amada, a solido imposta, ousimplesmente a saudade do que j no existe. Seja como for, paratodos os implicados um momento em que as emoes esto muitopresentes, algo de que nunca nos devemos esquecer.

    Os membros do casal devem perceber que so normais os sentimentosde zanga ou de raiva, mas tambm que sua responsabilidade controlar

    essas emoes, orient-las adequadamente e, especialmente, afastaros lhos delas. Os pais divorciam-se, mas os lhos no. Na ltimadcada, os servios pblicos e os psiclogos tm construdo ferramentasque servem para apoiar os pais nesses momentos. Graas a elas, ossentimentos de abatimento, de medo ou de insegurana perantea nova etapa que se inicia podem ser superados mais facilmente. importante que os pais orientem as suas emoes de forma s parapoderem ajudar os lhos a fazer o mesmo.

    Uma das situaes que pode prejudicar mais os lhos ocorre quandoum dos pais, levado pelas emoes atrs referidas, comea a falarmal do outro frente das crianas. Levado pelos seus sentimentosnegativos, tece comentrios depreciativos sobre o outro ou coloca emdvida a capacidade do outro para cuidar dos lhos. Esta situaoorigina um enorme sofrimento s crianas, provocando sempre ummal estar que pode derivar em problemas de conduta, alteraes naalimentao ou no sono, deteriorao dos resultados escolares e, noscasos mais graves, rejeio do contacto com o outro progenitor.

    a.indd 8-9 12/03/28 12:11:26

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    6/13

    11

    Emoes dos pais

    normal que os pais se sintam ansiosos, uma vez que tm de estar sozinhoscom as crianas ou por terem de assumir responsabilidades que, at ento,nunca tinham tido. O apoio da restante famlia ou de amigos que possamajud-los com a sua experincia uma boa opo. A autoconanaconstri-se com a demonstrao de que, a pouco e pouco, se alcana oque antes parecia simplesmente impossvel.

    O sentimento de culpa, por ter provocado a separao da famlia, ou porno ter podido evitar que aquela ocorresse, outra das emoes que surge

    com frequncia. Os pais que agora se vm obrigados a trabalhar sentem-seculpados por no poder dedicar tempo suciente aos lhos. Por outro lado,os que cam com uma menor capacidade nanceira cam sentidos porno lhe poderem comprar tudo o que desejam.

    muito importante que os pais percebam que o que os lhos necessitampara crescerem e serem felizes deles mesmos, do seu afecto, da suapresena, da possibilidade de poderem participar na sua vida diria astarefas da escola, as condncias, as aventuras e preocupaes para sesentirem bem no precisam de presentes, viagens ou, ainda pior, de faltade correco. Muitos pais caem neste erro, reduzem as exigncias com ocomportamento ou com as tarefas escolares, acreditando que, desta forma,os compensam pelo mal que consideram ter-lhes feito.

    um erro frequente car preso separao. Muitos pais no deixam defalar dela, recorrendo-lhe frequentemente como tema de conversa, focandoassim a sua vida num sentimento de ressentimento ou de frustrao.Remoer na dor s serve para reviv-la. No cura nem permite livrar-se dela.

    Para superar uma separao necessrio aceitao e vontade. Aceitaoda situao, j que esta no exclusivamente escolha nossa, e vontadepara iniciar o quanto antes um projecto. As crianas observam-nos, mesmoquando esto a brincar no quarto ao lado. Percebem as expresses dos pais,o seu silncio, ou as pausas na conversa. impossvel no comunicar.

    No comunicar um tipo de comunicao. Mesmo que a me noqueira toca num assunto que pense ser incmodo para os lhos, no querdizer que esse tema no esteja presente em casa e, mas ainda, nas suascabeas. O silncio apenas a ausncia de palavras; por si s no originao desaparecimento de uma preocupao.

    Os pais tm tendncia para subestimar a capacidade dos lhos deperceberem o que se est a passar, mas s vezes cam surpreendidos comuma maturidade inesperada nas respostas e atitudes deles. As crianaspodem no entender quais foram as razes que levaram separaomas percebem perfeitamente que aconteceu e que trar mudanas ssuas vidas.

    Dizer aos lhos que se vo separar dever de ambos os pais. Conversemprimeiro sobre o que lhes vo dizer, escolham um momento em que

    estejam prximos deles, sem pressas e sentem-se a seu lado. Este momento para eles e no deve ser misturado com expresses emocionais dospais. Se no se sente preparado e acha que no vai aguentar a situao,separe-se primeiro e fale depois com eles.

    No minta aos seus lhos, mas tambm no lhes d mais explicaesque as necessrias. Uma estratgia muito til para perceber o quese deve contar ou no perguntar a outra pessoa se o que vai contarajuda a perceber o que se passa, ou, se, pelo contrrio, poder originarsentimentos negativos em relao a um dos pais. Pergunte se o que vaidizer algo que realmente precisa de saber, ou se, pelo contrrio, algoque poder ter inuncia sobre a maneira como v um dos pais. Os seusproblemas com o seu cnjuge no devem passar para as crianas.

    Se o que pensa contar no ajuda a superar a situao, no conte. Aos lhosno interessa saber se houve uma terceira pessoa, se foi tempo demasiadofora de casa, a insatisfao do dia-a-dia ou a falta de entendimento entreos pais que provocou a separao. O que precisam de saber que os pais

    continuam a gostar deles e que vo estar sempre disponveis para eles.

    Se no lhe explica claramente o que se est a passar, pode acontecerque a criana ache que tem a culpa da separao. Culpabilizar algumpela situao no ajuda a criana. Os pais devem continuar a ser assuas guras de referncia, aqueles a quem sabe que pode recorrer, semimportar se falharam na relao ou se perderam o interesse por esta.Expresse o seu afecto, explique-lhes com tranquilidade e sem se deixarlevar pelas emoes como esto a pensar organizar a vida a partir destemomento. Se demonstrar que est tranquilo, ser mais fcil para oslhos aceitarem facilmente a situao.

    a.indd 10-11 12/03/28 12:11:27

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    7/13

    13

    Transmita-lhes que a deciso que tomaram no tem nada que ver com o amorque sentem por eles. Esclarea que eles no tm nada que decidir ali, que umadeciso dos pais. Assim, evitam que tomem decises dolorosas que faam com quese aliem a um ou a outro. As crianas costumam apoiar quem sentem mais dbil,aquele que acham que necessita de maior proteco com a separao da famlia.A consequncia disto seria uma aliana contra alguma coisa, sendo que essa coisa

    seria um dos pais.

    Os lhos no so a sua terapia, nem to poucouma muleta para se apoiar. Os paisdevem ser os seus guias, a basea partir da qual conhecemo mundo.

    Se a si,um adultocomexperinciae recursosemocionais,lhe custa superara separao, imagineo que custar auma criana assumi-la e,

    para alm disso, enfrentara dor que observa nos seuspais. Construa a sua nova vidaa partir do exacto momentoem que ocorra a separao doseu cnjuge. Assim ser mais fcilultrapassar o momento e criaras condies para os seus lhos sesentirem felizes.

    Em que pode mudar ocomportamento das crianas?

    No incio da separao os pais tero que estar atentos s mudanas decomportamento dos lhos. Estas podem demonstrar-se na comida, no sono,no acatamento de regras ou nos resultados escolares. As crianas mostram-semais inquietas ou desaam continuamente os pais. Demonstram assim, o seuincmodo e ansiedade causados pela situao.

    O normal que, passadas umas semanas, estas alteraes diminuam atdesaparecerem. No se alarme. Mantenha-se atento e procure voltar normalidade

    o quanto antes, o que facilitar com que os seus lhos se tranquilizem. Informe aspessoas, em especial o professor/ director de turma, sobre o que est a acontecer,com o intuito de perceberem a etapa vital pela qual os seus lhos esto a passar. Noentanto, esta no dever nunca ser uma desculpa para no cumprirem com as suasresponsabilidades nem para mais nada, para alm de um tempo de adaptao.

    costume comterem-se, nesta altura, dois erros. O primeiro dar criana umlugar que no lhe corresponde. Se passa a ser um amigo dos seus lhos transforma-os em rfos. Pode compreender, pr-se no lugar dos seus lhos para entend-los, mas no pode comportar-se como eles. Os pais so o guia da casa, devemimpor as regras das refeies, das sadas, dos horrios, das responsabilidades, daeducao ou das tarefas escolares.

    Se desiste de lhes impor limites est a maltratar os seus lhos porque no saberoonde esto e far com que se sintam perdidos. Por outro lado, quando istoacontece, algumas crianas sentem-se com a capacidade e obrigao de tentarque os seus pais se reconciliem. Ao perceber que no conseguem, a frustraoaumenta os sentimentos negativos.

    O segundo erro voltar-se excessivamente para eles, convertendo-os no eixo detodas as decises de adulto. Aqui, os pais condicionam qualquer acto nas suasvidas aos lhos, deixando de lado as suas prprias necessidades e emoes.Demonstrar-lhes uma ateno excessiva entendido pela criana como umganho, o que pode implicar um reforo do comportamento que queremos queacabe. ainda pior quando as crianas interpretam o comportamento dos paiscomo submisso aos seus desejos. Estas crianas podem pensar que so elasque tomam as decises, condicionando a organizao familiar aos seus desejosinfantis. Estas crianas podem chegar a aproveitar-se da situao de comunicaodisfuncional entre os pais, manipulando-os segundo os seus prprios interesses.

    a.indd 12-13 12/03/28 12:11:29

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    8/13

    15

    Divrcio segundoa idade das crianas

    At aos trs anos as crianas necessitam da presena frequente e contnuade ambos os pais. No conseguem perceber o que se passa entre os paismais isso no impede que sejam perfeitamente capazes de sentir ansiedade,alterando o seu comportamento. O erro mais comum aqui motivadopelo medo. Muitos pais sentem-se incapazes de cuidar de uma crianato pequena. Muitas mes tm um medo exagerado de que lhes retirem olho. A presena constante e com qualidade dos pais, que permita partilhar

    o banho, a comida ou o passeio um passo imprescindvel. As crianasconstroem os seus afectos nestes anos e estes estabelecem-se com quemcuida deles. muito mais importante dar-lhes esta oportunidade do quedormirem sempre no mesmo quarto ou comerem sempre mesma hora.

    Dos trs aos sete anos, o comportamento das crianas evolui desdea incapacidade de expressar o seu desgosto at compreenso do queacontece. No incio, algumas crianas exprimem o seu mal-estar com doresde barriga ou cabea, birras ou recuperando comportamentos infantis quej tinham ultrapassado, como o controlo das necessidades fsicas.Os pais devem lembrar-se de que, nestas idades, as crianas no sabem

    orientar o seu mal-estar e as expresses somticas so uma linguagem quelhes permite comunicar. Dizer-lhes que os pais vo estar sempre com eles,insistir para que vejam quais sos as suas casas e quanto se gosta deles a melhor estratgia para superar estes episdios. Conforme vo crescendo,vo-se apresentando conitos de lealdades, em conjunto com as saudades doprogenitor ausente. Nesta altura os pais devero facilitar a comunicao como outro progenitor, com inteno de acalmar a sua ansiedade perante a sua

    ausncia e para transmitir-lhes que estar com um no implica que no possamcomunicar com o outro.

    A partir dos 7 anos e at adolescncia as crianas tendem a sentir-se comraiva pela deciso que os seus pais tomaram. Pode dar-se o caso de se aliarema um dos pais e expressarem juzos negativos acerca do outro. Se os paisno detiverem estes comportamentos nestes anos, com o tempo provocaroproblemas e reaces muito mais severas. No se pense que estas alianas seestabelecem unicamente pelo afecto ou pela maior inclinao que sentempor um ou por outro. Em muitas situaes do-se por interesse da criana,para se livrarem da disciplina de um progenitor mais rigoroso ou pelo desejode fazer pagar o pai ou a me pela sua deciso de romper com a convivncia.Se um dos pais permitir isto, no est apenas a prejudicar o desenvolvimentodo seu lho, como ele mesmo se pode ver impossibilitado de impor o seucritrio como adulto. Se desautoriza o outro progenitor perante o seu lho,deve ter noo que se vai tornar difcil exigir ao seu lho essa autoridade erespeito para si.

    A partir dos 14 anos as crianas comeam a distanciar-se dos pais, constroemos seus prprios mundos. O centro das suas vidas passa a ser o grupo de amigos.Os gostos, as sadas em grupo, a msica ou a moda so agora mais importantesque o tempo que passam com os seus pais. Se os pais no desenvolveremum bom trabalho, os lhos podem encerrar-se nestas actividades ou procuraractivamente afastarem-se de casa, procurando a companhia dos amigos. Osproblemas mais srios nestas idades so comportamentos de risco que afectamtodos os adolescentes independentemente do que se passa nas suas casas.Pode lev-los a consumir drogas, desenvolver alteraes no comportamentoalimentar ou a manter relaes sexuais de risco.

    a.indd 14-15 12/03/28 12:11:31

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    9/13

    1717

    Entender-se ou enfrentar-se

    Voc decide que atitude tomar. Ainda que pense que se v obrigado aenfrentar o seu ex, lembre-se que, para existir conito, tem que haver duaspartes. O conito nasce do desejo de imposio, quer a partir da prpriapostura, quer ao sentir que, a partir de fora nos querem impor algo que noaceitamos. O problema est em que, no meio, esto sempre os lhos, quercomo objecto a lanar, quer como espectadores assustados perante a brigadaqueles que mais amam e de quem necessitam.

    O conito judicial destri as emoes positivas e delapida o patrimnio dos

    seus lhos. Viver enfrentado obriga a odiar. Odiar impedi-lo- de desfrutardo resto das suas emoes e experincias que a vida lhe oferece. O diono nos d nada e consome tudo em que toca, impede a comunicao,anula a nossa capacidade de compreender o outro e de lhe dar um papelna vida dos nossos lhos. Num divrcio, o dio transforma-se em processosjudiciais que nada faro seno aumentar o buraco em que tudo cair.Nunca um tribunal, cdigo ou lei resolveu um problema emocional. Nomelhor dos casos no evoluir; o normal que o multiplique.

    Com a separao do casal, alguns pais desenvolvem comportamentoscom os lhos que prejudicam seriamente a sade de todos. Levados poremoes como a frustrao, a culpa ou, por outro lado, as presses sociais,muitos deles adoptam a postura de considerar que os lhos esto apenassob a sua alada. Deste modo, no deixam que a criana se relacione como outro progenitor at que a autoridade judicial o determine, no informamdas actividades acadmicas ou das visitas e tratamentos mdicos do menor,impedem a comunicao uida entre o progenitor no residente e o menore, em casos extremos, falam mal do outro progenitor em frente criana.

    Noutras situaes, o que motiva estes comportamentos de interferncia odesejo de um dos progenitores castigar o outro pelas mais diversas razes.O progenitor que sofreu indelidade ou aquele que deseja refazer a sua vidae cr que o antigo companheiro um estorvo para os seus novos planosutiliza os lhos como instrumentos, esquecendo as suas necessidades eemoes ao colocar o seu prprio rancor e interesses pessoais antes dosdos menores. Isto um erro e prejudica gravemente o desenvolvimento doslhos em comum.

    a.indd 16-17 12/03/28 12:11:34

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    10/13

    19

    Os riscos do divrciopara a criana

    Seja o motivo que for que provoque aquela situao, na base de tudo est a faltade considerao do papel do outro na vida dos lhos em comum. O facto deno se ter encontrado no companheiro o que desejava no signica que no sejaum bom pai/ me dos seus lhos. Chega-se ao divrcio quando no se desejaviver ao lado de determina pessoa de quem se gostou; a relao torna-se impos-svel e procura-se uma alternativa. O papel dos lhos muito diferente. Eles noescolhem os pais que tm, abandonando um ou outro quando a convivncia

    acaba ou quando favorvel aos seus interesses. So obrigados a aceitar as suasdecises, mas nunca devem ser obrigados a deixar de quer-los.

    Os dois grandes problemas que devemos evitar, se queremos que os nossoslhos sejam afectados pela separao o mnimo possvel, so envolv-los noconito adulto e interferir nas suas relaes com qualquer das suas guras decuidado e de afecto.

    O primeiro pressupe no exp-los a situaes em que se apercebam da zangados pais. Isto inclui no ofender verbalmente, fazer gestos ofensivos ou silncioscarregados de tenso. Se surgir algum problema que seja necessrio resolvercom o outro progenitor, ou se tivermos que tomar alguma deciso sobre ascrianas, teremos que falar longe da sua presena ou, se a comunicao forimpossvel, atravs de mensagens, ou, em ltimo caso, dos advogados. Nuncadevemos utilizar as crianas como mensageiros e, para alm disso, nunca de-veremos falar mal do outro progenitor na sua presena.

    Se no quiser ter contacto com o seu ex-companheiro, a escola um lugar

    que as crianas tm como seguro. Um progenitor pode levar a criana escolade manh e o outro pode ir busc-la sada. Deste modo as crianas no sosujeitas ao que poderia surgir por os pais se verem. Se o seu lho tiver de ir aopediatra, telefone, envie uma mensagem, um e-mail ou um fax ao seu ex-com-panheiro, de forma a inform-lo de tudo. o seu direito e obrigao.

    O segundo problema d-se quando um dos pais, normalmente o que detma custdia dos lhos, perturba a comunicao e o tempo de estncia do outrocom os lhos em comum. Pode procurar desculpas, no atender o telefone,ou ocupar os lhos no tempo em que deveriam estar com o outro progenitor. muito comum que tente organizar o que devem fazer e que, para isso, os

    ponha em aulas extracurriculares ou, utilizando o telefone que os lhos levam,telefone com muita frequncia ou faa com que os lhos lhe telefonem duranteas horas de convivncia.

    As situaes anteriores no so mais do que falta de respeito pela necessidadeque os lhos tm de manter uma ligao com ambos os progenitores. Todas es-sas estratgias geram sentimentos negativos nas crianas, conito de lealdades

    e, nos casos mais extremos, podem originar relutncia em estar com o outroprogenitor, de forma a no passarem por aquela situao e satisfazer, assim, osdesejos do progenitor que os obriga a isso. Pressionar emocionalmente os lhospara escolherem ou desenvolverem estes comportamentos no seno um tipode mau trato psicolgico que no podemos aceitar.

    A custdia dos lhos

    Os pais nunca visitam os lhos porque ser pai ou me no pode ser exercido numavisita. Os pais partilham tempo e espaos com os lhos; por este motivo, quando acustdia no partilhada, falamos de pais com que as crianas vivem e de pais comquem no vivem. As crianas passam a maior parte do tempo com o progenitor comquem vivem, que tem a sua custdia e uma menor parte com o outro progenitor,

    normalmente tardes durante a semana e ns-de-semana alternados.

    Em todo o mundo, a tendncia adoptar, com a separao, a custdia partilhadados lhos, o que se organiza com a partilha equilibrada do tempo por ambos osprogenitores, procurando que ambos continuem a ter uma presena relevante navida dos seus lhos. Em Espanha, por exemplo, vrias Comunidades Autnomaselaboraram leis para pr esta situao em prtica.

    As vantagens deste modelo de custdia esto precisamente em apoiar a manutenodas ligaes emocionais com ambos os progenitores e favorecerem as condiespara afastar o conito da vida dos lhos. Estar contnua e amplamente na vida

    a.indd 18-19 12/03/28 12:11:35

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    11/13

    21

    dos lhos permite aos pais envolverem-se, acompanh-los nos trabalhos, nas suasactividades acadmicas ou desportivas, dar-lhes banho, deit-los e ter uns minutospara que lhe contem as suas preocupaes antes de dormir. Assim, a qualidade darelao com os lhos aumenta. Aqui os pais no acompanham apenas, mas vivema vida dos lhos, permitindo-lhes ser um modelo com o qual aprendero.

    O segundo problema contra o qual este modelo luta o prprio conito. Umconito surge quando existe uma hiptese de ganncia. Os lhos no podem seralgo que se ganha ou perde em tribunal. Se permitirmos isto, alguns pais, cegos peloseu ressentimento, podem adoptar comportamentos prejudiciais para s crianas.Os lhos devem ser afastados da guerra pela casa ou pelo dinheiro. Nenhumacriana poder ser dividida em dois e, por melhor que queira fazer, nenhum juiz

    poder decidir o que melhor para uma criana que os prprios pais.

    Por m, este modelo de custdia equilibra a partilha das responsabilidadesentre homens e mulheres, permitindo e obrigando ambos a exercer as suasresponsabilidades como protectores e educadores. Os homens tm as mesmascapacidades para tomar conta de um lho que as mulheres, independentementeda idade daquele. As crianas, em determinada altura, querero esta mais comum, noutra com outro. s vezes preferiro o colo da me, outras, um abrao dopai. So as crianas que devem escolher; no devem ser obrigadas a escolher umou outro.

    Os avs e os novoscompanheiros

    tambm so famliaA famlia no acaba nos pais. Os novos companheiros e os avs tambmso guras fundamentais na educao das crianas e devem ter um papelfundamental na sua vida.

    Os novos companheiros so um apoio fundamental para os pais das crianas.s vezes caro a tomar conta deles, outras ajudaro na difcil tarefa de educar.Se o novo companheiro tambm se separou, existe ainda a possibilidade de ascrianas terem contacto com outras que tambm passaram pela experincia

    a.indd 20-21 12/03/28 12:11:38

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    12/13

    23

    Bibliografa.

    Aguilar, J.M. (2008). Tenemos que hablar.

    Madrid, Ed. Santillana Ediciones Generales.

    Cynthia, M. (2004). El divorcio explicado a los

    nios: cmo ayudar a los nios a afrontar el

    divrcio de sus padres.

    Barcelona, ed. Obelisco.

    Wallestein, J.S. y Blakeslee, S. (2006). Y los

    nios... qu? Cmo guiar alos hijos antes,

    durante y despus del divrcio. Barcelona, Ed.

    Granica.

    Coordenao Portuguesa:Associao Portuguesa para a Igualdade Parentale Direitos dos FilhosIlustraes:Luisa CatarinuTraduo:Slvia FontoPaginao:Ndia Carreira

    da separao dos pais. Ainda que no sejam os progenitores, os novoscompanheiros so adultos que devem ser referncia quando os pais no esto.Se acompanham na educao, tambm devem ter autoridade e respeito detodos; de contrrio, o seu papel e contribuio ser impossvel de levar a cabo.Os novos companheiros no substituem os pais das crianas; se surgir algumproblema ou mal entendido deve esclarecer-se entre todos o seu papel na famlia,respeitando e diferenciando sempre o papel das crianas do dos adultos.

    Os avs so uma gura de afecto fundamental na vida de uma criana. Os avsno tm a responsabilidade primeira de criar, mas na vida actual exercem umpapel imprescindvel de ajuda aos lhos na educao dos netos.

    Tm direito a desfrutar da companhia dos seus netos. Direito a serem avs. Aseparao de um casal nunca deve implicar a perda dessa ligao. No apenasum dano absolutamente evitvel, mas um privilgio num mundo em que ambosos progenitores so obrigados a cumprir longas jornadas de trabalho, em que osavs se tornam num apoio insubstituvel. Os avs tambm oferecem um afectoe um modelo de comportamento nico para as crianas, uma riqueza de quetodos os adultos se lembram com um sorriso e que as nossas crianas devem tera oportunidade de desfrutar.

    a.indd 22-23 12/03/28 12:11:47

  • 7/23/2019 guia separao casal_versPT.pdf

    13/13

    SEPARAODO CASAL

    Guia para enfrent-la sem prejudicar os lhos