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PNAPRI – PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS Lisboa Novembro 2000 GUIA TÉCNICO SECTOR DOS CURTUMES

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Guia Técnico - Curtumes

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Page 1: Guia Sectorial - Curtumes

PNAPRI – PLANO NACION

S

GUIA TÉCNICO

ECTOR DOS CURTUMES

AL DE PREVENÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS

Lisboa

Novembro 2000

Page 2: Guia Sectorial - Curtumes

GUIA TÉCNICO

SECTOR DOS CURTUMES

Elaborado no âmbito do

PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS (PNAPRI)

Sob a Coordenação de

José Miguel Figueiredo(INETI)

Equipa de Trabalho do Sector dos Curtumes

Carlos A. NogueiraFátima Pedrosa

Joana Guimarães(INETI)

Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial – INETIDepartamento de Materiais e Tecnologias de Produção - DMTP

Estrada do Paço do Lumiar, 1649-038 LisboaTel. 21 7165141Fax. 21 7166568

Novembro de 2000

Page 3: Guia Sectorial - Curtumes

ÍNDICE GERAL

ÍNDICE GERAL i

ÍNDICE DE QUADROS ii

ÍNDICE DE TABELAS iv

AGRADECIMENTOS vi

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1

2. OBJECTIVOS E METODOLOGIAS ............................................................................................ 3

3. CARACTERIZAÇÃO DO SECTOR ............................................................................................. 4

3.1 Actividades Industriais e Distribuição Geográfica .......................................................................... 43.2 Caracterização dos Processos de Fabrico ..................................................................................... 103.3 Resíduos Industriais ....................................................................................................................... 19

3.3.1 Resíduos no sector dos curtumes e sua actual gestão ........................................................................ 193.3.2 Classificação e quantificação dos resíduos industriais ......................................................................... 26

4. POTENCIAL DE PREVENÇÃO DENTRO DO SECTOR ............................................................ 34

4.1 Tecnologias e Medidas de Prevenção Identificadas para o Sector ............................................... 354.1.1 Controlo da salinidade dos efluentes .................................................................................................... 364.1.2 Consumo de água ................................................................................................................................. 364.1.3 Reutilização dos banhos processuais ................................................................................................... 374.1.4 Selecção dos reagentes químicos e eficiência no seu uso ................................................................... 374.1.5 Uso de equipamentos adequados e sua correcta operação e manutenção ......................................... 49

4.2 Capacidade de Produção por Operação e Quantificação dos Benefícios ..................................... 53

5. ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÓMICA E DOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS ...... 57

5.1 Estado Actual da Implementação das Tecnologias e Medidas de Prevenção no País ................. 575.2 Tecnologias e Medidas de Potencial Aplicação: Descrição Técnica e Análise da Viabilidade ...... 61

5.2.1 Caleiro com recuperação do pêlo ......................................................................................................... 635.2.2 Descarnagem antes do caleiro ............................................................................................................. 695.2.3 Divisão em tripa ...................................... ............................................................................................. 705.2.4 Desencalagem com dióxido de carbono ............................................................................................... 745.2.5 Processos de elevada exaustão do crómio .......................................................................................... 795.2.6 Recirculação dos licores de curtimenta. Recuperação do crómio por precipitação e reciclagem ........ 845.2.7 Aplicação de acabamentos com tecnologias avançadas ...................................................................... 92

6. CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 95

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 97Sites na Internet relacionados com o sector e a produção mais limpa ........................................... 99

LISTA DE EMPRESAS .................................................................................................................... 100LISTA GERAL DE ENTIDADES, INSTITUIÇÕES E ASSOCIAÇÕES NACIONAIS E SECTORIAIS .......... 101NOTA SOBRE LEGISLAÇÃO ....................................................................................................................... 102

i

Page 4: Guia Sectorial - Curtumes

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Quantidades produzidas e valor das vendas no sector dos curtumes em 1997 6

Quadro 2 - Poluição típica das águas residuais (não tratadas) de uma instalação decurtumes; valores em Kg por ton. de pele salinizada (ws), excepto quandoindicadas outras unidades

22

Quadro 3 - Especificação da amostra de empresas do sector dos curtumes usada naestimativa dos quantitativos de resíduos produzidos

26

Quadro 4 - Listagem, classificação e quantificação dos resíduos gerados no sector doscurtumes

27

Quadro 5 - Comparação das várias tecnologias para a gestão do crómio nas instalaçõesde curtumes

45

Quadro 6 - Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector doscurtumes, sua correlação com a operação onde se aplica e o resídue queprevine

50

Quadro 7 - Estimativa da capacidade de produção no país por operação unitária equantificação dos benefícios da aplicação de algumas tecnologias/medidasde prevenção pelas empresas do sector

54

Quadro 8 - Simulação dos benefícios da aplicação de algumas tecnologias/medidas deprevenção em conjunto, pelas empresas do sector, para a capacidade deprodução do país

56

Quadro 9 - Implementação de algumas tecnologias e medidas de prevenção no paíspara o sector e identificação dos bloqueios

59

Quadro 10 - Comparação entre o processo de caleiro convencional e as tecnologiasavançadas de recuperação do pêlo. Base: 1 t pele (ws) alimentada aoprocesso

66

Quadro 11 - Avaliação económica comparativa entre o processo de caleiro convencionale os processos avançados de recuperação do pêlo. Base: 1 t/h de pele (ws)alimentada ao processo

67

Quadro 12 - Avaliação económica comparativa entre o processo de caleiro convencionale os processos avançados de recuperação do pêlo, para várias capacidadesde produção

68

Quadro 13 - Comparação entre o processo convencional de divisão e o processo dedivisão em tripa. Base: 1 t pele (ws) alimentada no processo

71

Quadro 14 - Comparação dos custos inerentes ao processo convencional e ao processode divisão em tripa. Base: 3 máquinas de dividir e 1 t pele (ws)/ h alimentadano processo

72

Quadro 15 - Avaliação económica comparativa entre o processo de divisão convencionale o processo de divisão em tripa, para várias capacidades de produção

73

ii

Page 5: Guia Sectorial - Curtumes

Quadro 16 - Comparação entre o processo convencional de desencalagem e o processode desencalagem com dióxido de carbono. Base: 1 t de pele (ws) alimentadano processo

76

Quadro 17 - Comparação dos custos inerentes ao processo convencional e ao processode desencalagem com dióxido de carbono. Base: 3 fulões e 1 t pele (ws) / halimentada no processo

77

Quadro 18 - Avaliação económica comparativa entre o processo de desencalagemconvencional e o processo de desencalagem com dioxido de carbono, paravárias capacidades de produção

78

Quadro 19 - Comparação entre o processo de curtume ao crómio convencional e osprocessos de elevada exaustão. Base: 1 t pele (ws) alimentada ao processo

81

Quadro 20 - Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómioconvencional e os processos de elevada exuastão. Base: 1 t/h de pele (ws)alimentada ao processo

84

Quadro 21 - Comparação entre o processo de curtume ao crómio convencional e osprocessos de recirculação dos licores e recuperação do crómio porprecipitação. Base: 1 t pele (ws) alimentada ao processo.

88

Quadro 22 - Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómioconvencional e os processos de recirculação dos licores e recuperação docrómio por precipitação. Base: 1 t/h de pele (ws) alimentada ao processo

90

Quadro 23 - Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómioconvencional e os processos avançados de recirculação dos licoresesgotados e recuperação do crómio por precipitação, para váriascapacidades de produção

91

Quadro 24 - Comparação das tecnologias de acabamento 93

Quadro 25 - Avaliação económica comparativa entre o processo convencional de pinturaà pistola e o processo de pistolas de baixa pressão (HVLP). Base: 1 t/h depele (ws) alimentada = 140 m2/h de couro acabado

94

iii

Page 6: Guia Sectorial - Curtumes

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Distribuição por região do sector dos curtumes: (a) Empresas; (b)Trabalhadores

5

Figura 2 - Distribuição consoante o número de trabalhadores ao serviço: (a) Empresas;(b)Trabalhadores

5

Figura 3 - Contabilização do fluxo de materiais no mercado nacional de peles debovino, para o ano de 1997. Os valores indicados com (*) são os dadosestatísticos, sendo os restantes estimados

7

Figura 4 - Valor percentual das vendas para os vários tipos de produto, no ano de 1997 8

Figura 5 - Valor percentual da produção para os vários tipos de produto, no ano de1997

8

Figura 6 - Distribuição das empresas por tipos de produto fabricado 9

Figura 7a - Diagrama típico de uma instalação de curtumes (processamento de peles debovino), com indicação dos balanços mássicos à pele e à agua ao longo doprocesso. Fases da Ribeira e Curtume

17

Figura 7b - Diagrama típico de uma instalação de curtumes (processamento de peles debovino), com indicação dos balanços mássicos à pele e à agua ao longo doprocesso. Fases de Pós-Curtume e Acabamento

18

Figura 8 - Resíduos sem crómio (a) e com crómio (b) gerados por tonelada de pelealimentada, para algumas empresas do sector, e valores comparativosconsiderados de referência a nível internacional

21

Figura 9 - Descargas de água na fase da Ribeira em empresas portuguesas, em funçãoda quantidade produzida

23

Figura 10 - Distribuição percentual dos resíduos sólidos orgânicos gerados no país (a) esua comparação com a previsão dos mesmos baseada no funcionamentotípico das instalações de curtumes (b)

30

Figura 11 - Resíduos sólidos com e sem crómio gerados no país em função dadimensão das empresas, expressa em escalões do número de trabalhadores

31

Figura 12 - Distribuição percentual dos resíduos sólidos sem crómio (a) e com crómio (b)em função da dimensão das empresas, expressa em escalões do número detrabalhadores

31

Figura 13 - Resíduos com e sem crómio gerados por tonelada de pele acabada, paraempresas do sector de diferentes escalões

32

Figura 14 - Balanço mássico típico ao crómio numa instalação de curtumes com umprocesso convencional. As quantidades apresentadas referem-se às massaspor tonelada de pele salgada (ws) alimentada e as percentagens sãoreferidas ao total de crómio introduzido no processo

41

Figura 15 - Processo de caleiro convencional. Base: 1 t de pele salgada (ws) alimentadaao processo

64

iv

Page 7: Guia Sectorial - Curtumes

Figura 16 - Processos de caleiro com tecnologias avançadas de recuperação do pêlo.Base: 1 t de pele salgada (ws) alimentada ao processo

65

Figura 17 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para osprocessos avançados de recuperação do pêlo no caleiro

69

Figura 18 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para oprocesso de divisão em tripa (o Investimento neste caso é apenas adiferença para o processo convencional).

73

Figura 19 - Processos de desencalagem convencional (1) e com dióxido de carbono (2).Base: 1 t de pele salgada (ws) alimentada ao processo

75

Figura 20 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para oprocesso de desencalagem com dióxido de carbono

78

Figura 21 - Processo de curtume convencional. Base: 1 t de pele salgada (ws)alimentada ao processo

81

Figura 22 - Processos de curtume com elevada exaustão do crómio, por sequestração(2) e aumento da reactividade do colagénio (3). Base: 1 t de pele salgada(ws) alimentada ao processo

82

Figura 23 - Processo de curtume com recirculação do licor esgotado de crómio para apiquelagem e para o curtume. Base: 1 t de pele salgada (ws) alimentada aoprocesso

86

Figura 24 - Recuperação do crómio dos banhos esgotados de curtume por precipitaçãoe redissolução, e posterior reciclagem do licor obtido para o curtume. Base: 1t de pele salgada (ws) alimentada ao processo

87

Figura 25 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para oprocesso de recirculação dos licores de curtume e para o processo derecuperação do crómio por precipitação/redissolução

91

v

Page 8: Guia Sectorial - Curtumes

AGRADECIMENTOS

Agradece-se a todas as pessoas e instituições que de alguma forma prestaram a sua

colaboração para a elaboração deste Guia Técnico. Particularmente, agradece-se ao

Centro Tecnológico das Indústrias do Couro (CTIC) o acompanhamento na realização

das visitas às empresas do sector assim como as informações prestadas e as sugestões

dadas. Finalmente, agradece-se ainda às empresas visitadas pela disponibilidade, pelo

atendimento e pelos dados fornecidos.

vi

Page 9: Guia Sectorial - Curtumes

1

1. INTRODUÇÃO

Na última década tem sido prestada uma atenção crescente às questões de natureza ambiental

relacionadas com a actividade produtiva. A ecologia, a toxicologia e a protecção da saúde são

temas cada vez mais presentes em todos os ramos da actividade industrial, e o sector dos

curtumes não é excepção, tendo-se registado uma evolução visível neste domínio. Esta

evolução resulta não só das imposições legais cada vez mais restritivas, mas também da

progressiva consciencialização do tecido empresarial sobre as questões de natureza

ambiental.

Na indústria dos curtumes produz-se couro (pele curtida e acabada) a partir de peles de

animais, que é uma matéria-prima natural e renovável, essencialmente gerada como um sub-

produto da indústria da carne. Pode-se afirmar, em aproximação, que virtualmente todas as

peles de animais produzidas nos matadouros são convertidas em couro. Assim e nesta

perspectiva, a indústria dos curtumes presta à sociedade o serviço importante de dar destino a

um produto que de outra forma constituiria um resíduo. Por outro lado, é também sabido que

esta actividade industrial gera potencialmente emissões para o ambiente extremamente

variadas e particularmente incómodas ou mesmo perigosas. Assim, as empresas do sector

viram-se forçadas a investir em sistemas de tratamento e gestão das suas emissões, o que lhes

originou aumentos substanciais nos custos de produção, que se reflectem no preço do produto

final e consequentemente na diminuição da sua competitividade.

Actualmente está completamente ultrapassada a ideia de que os problemas ambientais estão

resolvidos uma vez instaladas as infraestruturas para regular as emissões (ETAR’s, sistemas

de filtração de gases, etc.) que asseguram o cumprimento da legislação por parte das

empresas. Para além do facto de que a legislação está continuamente a ser actualizada, sendo

cada vez mais exigente, não tem qualquer sentido que a resolução dos problemas ambientais

seja necessariamente um custo para as empresas. De facto, em certos casos estas podem ter à

disposição tecnologias que, aplicadas no seu processo de fabrico, resultem num menor grau

de emissões poluentes através da substituição de substâncias perigosas ou da sua diminuição,

e do aproveitamento mais eficiente dos fluxos do processo. Esta actuação preventiva, para

além dos benefícios ambientais, tem na maior parte dos casos uma correspondência ao nível

dos benefícios tecnico-económicos para a empresa, porque uma maior eficiência de utilização

Page 10: Guia Sectorial - Curtumes

2

dos fluxos corresponde a uma maior incorporação das matérias-primas e subsidiárias nos

produtos finais, logo um menor consumo e uma menor geração de resíduos. As tecnologias,

medidas e processos que se enquadram nesta filosofia são habitualmente denominadas de

tecnologias de prevenção ou ainda tecnologias mais limpas.

Estas medidas e tecnologias não são de forma nenhuma “especiais”, sendo antes processos e

tecnologias de fabrico mais avançadas do que as consideradas convencionais, que pela sua

forma de actuar ou pelo seu enquadramento, promovem uma maior eficiência na operação em

que actuam. A aplicação destas tecnologias deve pois ser enquadrável na estratégia de

modernização das empresas de forma a melhorar a sua performance, incrementar a qualidade

dos processos e dos produtos e assim aumentar a sua competitividade no mercado.

Com esta filosofia empresarial, as empresas assumem-se, para além de factores de

desenvolvimento económico, como agentes activos na protecção do ambiente. Na perspectiva

da prevenção da poluição não há pois nenhuma contradição entre as questões económicas e

as ambientais. Elas actuam em uníssono no sentido da modernização e da qualidade. As

empresas podem (e devem) tirar ainda outros benefícios da introdução de medidas e

tecnologias preventivas, nomeadamente a atribuição de “etiquetas ecológicas” aos seus

produtos, a melhoria e a promoção da sua imagem no mercado e ainda a facilidade na

certificação dos seus processos e produtos.

A aplicação das medidas e tecnologias no terreno e o sucesso da sua implementação passa

obviamente pela iniciativa dos industriais, mas também pela intervenção dos órgãos do

Estado, quer em acções de sensibilização quer em acções concretas de apoio tecnológico e

financeiro. Estas acções revelam-se fundamentais em sectores onde proliferam as pequenas e

médias empresas, como o sector dos curtumes. Efectivamente, só com incentivos reais é que

as empresas poderão enfrentar as dificuldades técnicas e os custos inerentes à conversão das

operações do seu processo de fabrico, que no caso deste sector são extremamente sensíveis a

alterações operacionais, com períodos de adaptação e de estabilização previsivelmente

prolongados. Estas dificuldades não podem ser, no entanto, um bloqueio à implementação

dos processos preventivos. Importa reunir esforços de forma a atingir estes objectivos a

médio prazo.

Page 11: Guia Sectorial - Curtumes

3

2. OBJECTIVOS E METODOLOGIAS

Este guia técnico para o sector dos curtumes foi elaborado no âmbito do Plano Nacional de

Prevenção dos Resíduos Industriais (PNAPRI). Os objectivos da sua elaboração inserem-se

no âmbito do referido Plano, destacando-se os seguintes:

! Fazer um retrato actualizado do sector em Portugal, caracterizando-o do ponto de vistados mercados, dos processos e tecnologias praticados e das questões de naturezaambiental;

! Caracterizar os resíduos e as águas residuais produzidas pelas empresas industriais dosector e apresentar uma estimativa credível das respectivas quantidades geradas no país;

! Reforçar a consciencialização dos industriais para as questões da prevenção da poluição edas tecnologias mais limpas, como forma de promover a sua competitividade;

! Demonstrar com credibilidade as vantagens de natureza técnica, ambiental e/oueconómica resultantes da aplicação das tecnologias ou medidas de prevenção nosprocessos produtivos.

! Criar um guia compreensível e adequado ao sector, que resuma as melhores práticas,medidas e tecnologias, que sirva de referência para todos os agentes ligados aos curtumese de ponto de partida à implementação do Plano.

A execução deste guia envolveu um vasto trabalho de recolha e tratamento de informação

variada, proveniente de várias fontes, com destaque para os dados e opiniões recolhidos junto

de várias empresas do sector e de entidades a ele ligadas, as fontes de informação oficiais e

ainda pesquisas bibliográficas em bases nacionais e internacionais. Importa ainda referir ao

nível das emissões de poluentes para o ambiente, que foram considerados como objectos das

acções aqui propostas, não só os resíduos gerados na actividade industrial, como também as

águas residuais descarregadas. Efectivamente, estando este guia inserido no conjunto de

documentos de um plano de prevenção de “resíduos”, poderia admitir-se que a prevenção da

poluição das águas dos processos não fosse aqui incluída. Essa não foi no entanto a

interpretação assumida, porque as águas com cargas poluentes quando tratadas em ETAR

acabam por gerar lamas, que são efectivamente um resíduo. Assim sendo, as tecnologias de

prevenção aplicadas à redução da carga poluente das águas residuais acabam por ter

implicação na quantidade e/ou perigosidade das lamas geradas, devendo pois ser

consideradas neste estudo. As emissões gasosas difusas ultrapassam efectivamente o âmbito

deste guia.

Page 12: Guia Sectorial - Curtumes

4

3. CARACTERIZAÇÃO DO SECTOR

3.1 Actividades Industriais e Distribuição Geográfica

A indústria dos curtumes é uma das mais antigas e tradicionais do País. A sua importância

económica reside no facto de 85-90% da sua produção se destinar à indústria do calçado, que

é uma das principais exportadoras nacionais. A actividade económica dos curtumes insere-se

na classificação CAE 19101 e 18301. A maior parte das empresas são de pequena dimensão,

sendo muitas de carácter familiar, mas existem igualmente algumas empresas de dimensão

bastante razoável, empregando mais de 100 trabalhadores e gerando anualmente volumes de

negócios acima dos 2 milhões de contos.

De acordo com uma pesquisa realizada1 foi possível identificar 159 empresas de curtumes

com actividade de fabrico. Contudo, especialistas do sector afirmam que o número correcto

de empresas a operar deverá situar-se entre 120 e 130. Destas, 83 são filiadas na Associação

Portuguesa dos Industriais dos Curtumes (APIC). O tecido empresarial é constituído

fundamentalmente por pequenas e médias empresas, cerca de 40% com menos de 10

trabalhadores, 42% com 10 a 50 trabalhadores, 13% com 50 a 100 trabalhadores e só 5% é

que empregam mais de 100 trabalhadores. O número máximo de trabalhadores identificado

por empresa foi de aproximadamente 200. O número total de trabalhadores no sector estima-

se em cerca de 3800.

No que respeita à localização geográfica (ver figura 1), cerca de 75% das empresas situam-se

em Alcanena (distrito de Santarém) sendo responsáveis por 80% da produção nacional. O

segundo maior polo de empresas, cerca de 15%, concentra-se na região do distrito do Porto.

Na figura 2 apresentam-se gráficos elucidativos sobre a distribuição das empresas e dos

trabalhadores do sector de acordo com a dimensão das empresas (representada por escalões

de mão-de-obra). Verifica-se que a maior parte das empresas do sector são de pequena

dimensão, mas que a maior parte da mão-de-obra se concentra nas empresas de média

dimensão (77% dos trabalhadores trabalham em empresas de escalões compreendidos na

gama 20-199).

1 Fontes de informação: Guianet; Guião da Indústria Têxtil, Confecção e Calçado; APIC

Page 13: Guia Sectorial - Curtumes

5

Fig. 1 – Distribuição por região do sector dos curtumes: (a) Empresas; (b) Trabalhadores.

Fig. 2 – Distribuição consoante o número de trabalhadores ao serviço: (a) Empresas;

(b)Trabalhadores.

A indústria dos curtumes dedica-se fundamentalmente à produção de peles de bovino sem

pêlo para a indústria do calçado. O valor de vendas em 1997 foi de 42 milhões de contos

(fonte: INE – Estatísticas da Produção Industrial), dos quais 85% se destinaram ao mercado

nacional. No Quadro 1 apresentam-se os dados da produção e do valor das vendas para os

principais produtos do sector.

0 20 40 60 80

Empresas (%)

Algarve

Alentejo

Lisboa e Vale do Tejo

Centro

Norte

(a)

0 20 40 60 80

Trabalhadores (%)

Algarve

Alentejo

Lisboa e Vale do Tejo

Centro

Norte

(b)

0 10 20 30 40

Empresas (%)

1-9

10-19

20-49

50-99

100-199

200-500

Esca

lão

de tr

abal

hado

res

(a)0 10 20 30 40

Trabalhadores (%)

1-9

10-19

20-49

50-99

100-199

200-500

Esca

lão

de tr

abal

hado

res

(b)

Page 14: Guia Sectorial - Curtumes

6

Quadro 1 – Quantidades produzidas e valor das vendas no sector dos curtumes em 1997.

Fonte: : INE – Estatísticas da Produção IndustrialProduto Quantidade

produzidasValor das

vendas (contos)Couros e peles acamurçados (incluída a camurça combinada) 264 809 m2 825 868

Outros couros e peles de bovino de sup. Unit <=2.6 m2, preparados de outromodo, para calçado 1 982 850 m2 7 403 659

Couros e peles de bovinos, com a flor, divididos, para calçado 5 927 183 m2 20 920 513

Couros e peles de bovinos, com a flor, divididos, para mobiliário (estofos) 8 287 m2 33 630

Couros e peles de bovinos, sem a flor, preparados após curtimenta, paracalçado 2 204 492 m2 6 895 433

Total de peles de bovino ou equídeo acabadas 10 387 621 m2 36 079 103

Outros couros e peles de bovinos e de equídeos, simples/ curtidos ourecurtidos, wet-blue 1 364 822 Kg 156 857

Peles depiladas de ovinos, apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para vestuário 128 000 m2 543 606

Peles depiladas de ovinos, apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para calçado 8 242 m2 20 676

Peles depiladas de ovinos, apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para outros usos 7 302 m2 18 603

Peles depiladas de caprinos apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para vestuário 76 296 m2 278 414

Peles depiladas de caprinos apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para calçado 95 152 m2 359 562

Peles depiladas de caprinos apergaminhadas ou preparadas após curtimenta,para outros usos 1 180 m2 6 787

Total de peles depiladas de ovino e caprino acabadas 316 172 m2 1 227 648

Peles com pêlo inteiras, curtidas ou acabadas, de coelho ou de cordeiro, nãomontadas

151 860 peles 4 203 924

Couros e peles de bovinos, com a flor, para solas 330 891 Kg 505 205

TOTAL - 42 172 737

Conjugando os dados estatísticos da produção com as matérias primas compradas e

recorrendo a rácios de produção, por operação, válidos para este tipo de produtos, é possível

realizar, para o caso das peles de bovino, um balanço material ao mercado nacional, o qual se

apresenta na figura 3. É de crer que neste balanço haja valores por defeito, pois há dados

Page 15: Guia Sectorial - Curtumes

7

desconhecidos devido ao segredo estatístico. O aspecto mais importante a realçar neste

balanço será a elevada quantidade de wet-blue comprado (a maioria proveniente do

estrangeiro) o que demonstra que muitas empresas estão a apostar no processamento de peles

já previamente curtidas.

Fig. 3 – Contabilização do fluxo de materiais no mercado nacional de peles de bovino, para o ano de

1997. Os valores indicados com (*) são os dados estatísticos, sendo os restantes estimados.

Notas:- para uma melhor compreensão das designações técnicas dos diversos produtos e operações, consultar a

descrição do processo de fabrico mais adiante.- Nas conversões entre peso e área admitiram-se valores típicos para os produtos em causa. Obviamente as

conversões usadas são apenas indicativas, pois dependem de diversos factores como o tipo de pele, aespessura, a humidade, o acabamento, etc.

RIBEIRA / CURTUME

Peles salgadas(*) 32 083 t

5 005 000 m2

Wet-blue produzido14 615 t

3 877 000 m2

Wet-blue vendido(*) 1 365 t

528 000 m2

Wet-blue comprado(*) 18 209 t

7 044 000 m2

Wet-blue processado18 341 t

9 995 000 m2

PÓS-CURTUME (Químico)

Crust14 603 t

10 840 000 m2

PÓS-CURTUME (Mecânico)ACABAMENTO

Couro acabado14 678 t

(*) 10 388 000 m2

DIVISÃOREBAIXAMENTO

Page 16: Guia Sectorial - Curtumes

8

Mais de 90% da produção e cerca de 85% das vendas destina-se à indústria do calçado (ver

figuras 4 e 5) e a restante abrange a confecção de vestuário de couro, marroquinaria, artigos

de viagem e de uso pessoal, o fabrico de solas, o fabrico de estofos para mobiliário,

aplicações para a indústria automóvel e outros meios de transporte, e ainda o fabrico de

vestuário de pele com pêlo. Não será pois de estranhar que a evolução do sector dos curtumes

esteja intimamente relacionada com o sector do calçado. Actualmente são sentidas

dificuldades em ambos os sectores relacionadas com a quebra nas exportações de calçado

para os países do Leste Europeu e Rússia.

Fig. 4 – Valor percentual das vendas para os vários tipos de produto, no ano de 1997 (Fonte: INE –

Estatísticas da Produção Industrial).

Fig. 5 – Valor percentual da produção para os vários tipos de produto, no ano de 1997 (Fonte: INE –

Estatísticas da Produção Industrial).

0 20 40 60 80 100

Valor das vendas (%)

Peles bovino p/ calçado

Peles caprino p/ calçado

Peles p/ solas

Peles vest./marroq

Peles p/ estofos

Peles com pêlo

Peles p/ ind. automóvel

Tip

o d

e p

rod

uto

0 20 40 60 80 100

Volume da produção em área (%)

Peles bovino p/ calçado

Peles caprino p/ calçado

Peles p/ solas

Peles vest./marroq

Peles p/ estofos

Peles com pêlo

Peles p/ ind. automóvel

Tip

o d

e p

rod

uto

Page 17: Guia Sectorial - Curtumes

9

Fig. 6 – Distribuição das empresas por tipos de produto fabricado (Fonte: APIC).

Se observarmos a distribuição das empresas pelos vários tipos de produto (figura 6) verifica-

se que cerca de 70% das empresas produzem peles de bovino para calçado enquanto que

peles para vestuário e marroquinaria são produzidas por cerca de 50% das empresas. A

grande maioria das empresas dedicam-se ao fabrico de vários tipos de produto. Contudo, ao

nível da quantidade produzida e do volume de vendas, são as peles de bovino para calçado

que claramente lideram o mercado nacional, com se viu anteriormente.

As principais dificuldades dos industriais do sector prendem-se não só com a crise de certos

mercados de consumidores, mas também com a concorrência vinda do exterior, da parte dos

industriais italianos e espanhóis. Estes têm elevados índices de produtividade devido à

especialização dos seus processos (as empresas dedicam-se a fases muito específicas do

processo produtivo), o que permite uma maior automatização e uma melhor gestão dos

recursos humanos. Em Portugal também se tem vindo a assistir à reformulação da actividade

de algumas empresas, as quais têm abandonado ou reduzido substancialmente as fases

iniciais do processo, dedicando-se mais intensamente à transformação e acabamento de peles

já previamente curtidas.

Com a progressiva abertura dos mercados, tem-se também observado uma crescente

concorrência por parte de países menos desenvolvidos, cujas empresas têm menores encargos

sociais e ambientais.

0 20 40 60 80

Empresas (%)

Peles bovino p/ calçado

Peles caprino p/ calçado

Peles p/ solas

Peles vest./marroq

Peles p/ estofos

Peles com pêlo

Peles p/ ind. automóvelT

ipo

de

pro

du

to

Page 18: Guia Sectorial - Curtumes

10

3.2 Caracterização dos Processos de Fabrico

A curtimenta das peles é um processo complexo que objectiva a transformação de um

produto natural de forma a torná-lo imputrescível e a conferir-lhe propriedades apropriadas

(resistência, macieza, textura, etc) para a utilização na fabricação de produtos de uso comum.

O produto final do processo é vulgarmente denominado couro.

São conhecidos essencialmente três tipos de curtimenta: a mineral, a vegetal e a sintética. A

curtimenta vegetal é a mais antiga e utiliza extractos vegetais no curtume. É ainda utilizada

nos nossos dias na produção de solas, porque confere à pele uma elevada dureza e resistência

mecânica. Contudo, os elevados tempos de permanência necessários neste tipo de curtume

não se compadecem com as actuais exigências dos processos de fabrico modernos, pelo que

esta forma de curtume foi substituída nas outras aplicações.

A curtimenta mineral é hoje em dia a mais utilizada no sector. O agente de curtimenta por

excelência é o crómio, o qual não encontra actualmente nenhum substituto que consiga

produzir uma pele com as mesmas características, apesar de se conhecerem outros agentes de

curtimenta mineral (como o alumínio, o zircónio, o titânio e o magnésio). No caso específico

da produção de peles para a indústria do calçado é absolutamente essencial que as peles

sejam curtidas a crómio, dado que toda a maquinaria usada naquela indústria está projectada

para funcionar com as características desse tipo de pele. Não é previsível a curto prazo uma

generalização no uso de agentes de curtimenta alternativos ao crómio.

Na curtimenta sintética usam-se como agentes alguns compostos orgânicos – os taninos

sintéticos ou syntans. Este tipo de compostos são habitualmente utilizados como

complementares na fase de recurtume, ou ainda como auxiliares do crómio no próprio

curtume.

Os processos de fabrico utilizados no sector são constituídos por uma série de operações

sequenciais que se colocam a montante e a juzante do curtume propriamente dito, e que

visam, respectivamente, preparar a pele para a curtimenta e conferir-lhe as características

finais após o curtume. Embora haja variações na sequência e no tipo de operações usadas

consoante o produto pretendido, a “espinha dorsal” dos processos não difere muito de

empresa para empresa.

Page 19: Guia Sectorial - Curtumes

11

As peles frescas são habitualmente recebidas pelas empresas na forma salgada (wet-salted,

ws), que é o método mais simples e barato de conservação no período compreendido entre a

sua obtenção nos matadouros e o seu processamento. Embora sendo menos comum, as peles

podem também ser recebidas frescas, secas ou então conservadas pelo frio. Os processos

típicos dividem-se essencialmente em três fases, podendo as empresas que operam no sector

realizá-las todas ou apenas actuar em algumas delas:

! Fase da Ribeira: consiste numa sequência de operações em que a pele é preparada para o

curtume. Constituem esta fase operações de natureza química (por via húmida) e

operações de natureza mecânica. Destacam-se a dessalinização da pele, a remoção do

pêlo no caleiro, a remoção dos tecidos adiposos, das aparas e por vezes do crute. Dá-se

finalmente a preparação para o curtume por desencalagem (remoção gradual da cal

utilizada no caleiro), purga (ou lixo ou confitagem) e piquelagem. As operações por via

húmida da fase da Ribeira processam-se habitualmente em séries de tambores rotativos

(os fulões), com tempos de permanência elevados (por vezes muitas horas por operação).

É uma fase muito consumidora de água (tipicamente 18-35 m3 por tonelada de pele

salgada alimentada).

! Fase de Curtume: nesta fase dá-se o curtume propriamente dito, utilizando agentes de

curtimenta apropriados, vulgarmente o crómio. O curtume é também um processo lento,

envolvendo um consumo de água muito menor (1-3 m3 / t pele salgada). A operação de

piquelagem, anteriormente referida e que precede o curtume, é por vezes classificada

nesta fase, dada a estreita ligação com o curtume.

! Fase de Pós-Curtume e Acabamentos: na fase final do processo, várias operações

conferem as propriedades finais ao couro e eliminam-lhe os defeitos. Tais operações são

essencialmente mecânicas (rebaixamento ou desbaste para equalizar a espessura,

aparação, lixagem) mas também envolvem etapas fisico-químicas em meio húmido

(recurtume, tingimento, engorduramento) com utilização de cerca de 5-10 m3 de água por

tonelada de pele salgada. O processo termina habitualmente com acabamentos que visam

conferir as propriedades finais ao produto como a côr, macieza, textura, brilho, etc.

Da descrição anterior ressalta desde logo que a curtimenta é um processo fortemente

consumidor de água (cerca de 24-48 m3 / t de pele salgada, incluindo a água de processo -

15% - e das lavagens das peles entre operações consecutivas - 85%). A estes valores acresce

Page 20: Guia Sectorial - Curtumes

12

a água associada à lavagem de equipamentos e instalações e a água associada aos processos

mecânicos (∼ 8 m3) e ainda o consumo relativo à água de serviços (∼ 8 m3). Casos há em que

é possível reduzir os consumos de água a valores bem menores do que os indicados como

típicos. No entanto e em qualquer dos casos geram-se quantidades muito apreciáveis de

efluentes, de composições complexas e com cargas orgânicas e inorgânicas elevadas, que

constituem o principal problema ambiental deste sector.

A indústria de curtumes produz igualmente elevadas quantidades de resíduos sólidos,

constituídos essencialmente por partes da pele que vão sendo removidas ao longo do processo

produtivo, visando a obtenção final de um couro com a espessura e a qualidade desejadas.

Tais resíduos são, no essencial, constituídos por carnazes (tecidos adiposos), aparas, raspas e

poeiras. Para se ter uma ideia da quantidade de resíduos sólidos produzida, pode-se estimar

em cerca de 600-700 Kg a quantidade de resíduos produzidos (curtidos e não curtidos) por

cada tonelada de pele salgada alimentada. O produto final acabado constitui apenas cerca de

20-25% do peso da pele bruta inicial.

A existência de elevados quantitativos de resíduos sólidos não resulta normalmente de uma

falta de eficiência dos processos mas sim da necessidade incontornável de remover

constituintes da pele, que pelas suas características ou defeitos não poderão fazer parte do

produto final. Referimo-nos concretamente à parte exterior – a epiderme e os pêlos – ricos em

queratina, uma proteína fibrosa, e à parte interior, a camada subcutânea, constituída pelos

tecidos adiposos ricos em gordura. A camada central que constitui a derme ou corium é uma

zona proteica essencialmente formada por colagéneo e que constitui a parte que se transforma

em couro. Mas mesmo desta parte aproveitável resultam desperdícios subsequentes ao acerto

da espessura e à aparação das extremidades defeituosas.

Descrevem-se de seguida de forma mais pormenorizada as operações de cada fase do

processo produtivo. A figura 7 ilustra a sua sequência, bem como indica os balanços típicos à

pele e à água no processo. Este exemplo, que corresponde ao tratamento de peles de bovino, é

puramente exemplificativo. Em outros casos haverá alterações a considerar, mas as operações

fundamentais mantêm-se. Por exemplo, no caso do processamento de peles de ovino há a

considerar a recuperação da lã antes dos fulões do caleiro; no caso da curtimenta vegetal para

Page 21: Guia Sectorial - Curtumes

13

a produção de solas não se processa a operação de divisão e não é usado crómio no curtume,

obtendo-se uma pele mais espessa e dura.

FASE DA RIBEIRA

Molho: destina-se à inversão do processo de salinização, dissolvendo o sal e re-hidratando a

pele. Para facilitar e acelerar este processo utilizam-se agentes molhantes, emulsionantes e

enzimas, em banhos com um excesso de água (~8 m3 / t pele salgada). Resulta deste processo

um licor salino sujo (com gorduras, sangue, pedaços de pele desagregados, etc.). Pode

também ser considerado como um resíduo o sal desagregado contendo sujidade da própria

pele, obtido quando as peles são sacudidas antes do Molho.

Caleiro ou Calagem: nesta zona do processo procede-se à remoção do pêlo (descabela ou

depilação) o qual é pulverizado e dissolvido num banho de sulfureto de sódio e cal. O

sulfureto actua sobre a queratina do pêlo e da camada epidérmica promovendo a sua

degradação química pela destruição das pontes de enxofre que estabilizam a proteína.

Simultaneamente dá-se a abertura da estrutura fibrosa da pele (relaxamento alcalino) para

facilitar o acesso dos reagentes de curtimenta na fase posterior. Alguns reagentes auxiliares

como aminas e soda podem ser utilizados. Esta operação é também fortemente consumidora

de água (~10 m3 / t pele salgada) resultando um efluente alcalino com elevada carga orgânica

e sulfureto de sódio. Estas águas residuais são responsáveis por cerca de 50% do teor total de

CQO e CBO5 no efluente final e têm uma forte contribuição para a quantidade de lamas

orgânicas resultantes. Uma outra característica do efluente do caleiro é o elevado teor de

sólidos suspensos, dos quais fazem parte os resíduos de pêlo não dissolvidos. O teor de pêlo

em suspensão depende do grau de dissolução/pulverização atingido o qual é controlável pelo

teor de sulfuretos. Se estes resíduos forem removidos das águas, diminui o teor de sólidos nas

mesmas obtendo-se no entanto um resíduo sólido. Em determinadas condições poderão

ocorrer nesta operação emissões difusas de gás sulfídrico, mas este tipo de poluição

ultrapassa o âmbito do Plano em execução.

Descarnagem, Aparação e Divisão: nesta parte do processo produtivo, uma série de

operações mecânicas, realizadas em equipamentos apropriados, removem partes da pele não

aproveitáveis. Na descarnagem são retirados os tecidos adiposos da pele e a matéria

subcutânea remanescente, resultando um resíduo sólido – os carnazes ou tripa. Pode também

nesta fase realizar-se a aparação (corte manual das zonas laterais da pele). Na operação de

Page 22: Guia Sectorial - Curtumes

14

divisão separa-se a pele em duas camadas, uma interior denominada crute (com menos valor)

e outra exterior que constitui a camada principal que continua na linha de produção. A

divisão da pele nesta fase, denominada divisão em tripa, é uma operação tecnicamente difícil

de realizar sendo por isso frequentemente operada numa fase posterior do processo, após o

curtume. A vantagem da realização da divisão nesta fase consiste na produção de menor

quantidade de resíduos curtidos. Os crutes podem ou não ser processados para

aproveitamento como pele de menor qualidade.

Desencalagem e Confitagem: são de novo operações realizadas em meio aquoso,

envolvendo um consumo global de água de cerca de 7 m3 / t pele salgada. A desencalagem

destina-se à neutralização da cal presente na pele, realizada de uma forma gradual e doseada,

utilizando sais de amónio e por vezes ácidos orgânicos fracos. Desta forma consegue-se a

remoção de parte substancial dos agentes alcalinos retidos na pele sem que ocorra a perda da

estrutura relaxada adquirida na calagem. Na confitagem, vulgarmente realizada no mesmo

equipamento, confere-se a macieza necessária à pele por acção de agentes amaciadores e

enzimas. A pele nesta fase designa-se habitualmente por pele em tripa. As águas residuais

descarregadas nestas operações são águas com algum teor em azoto amoniacal.

Desengorduramento: esta operação só é usualmente realizada no tratamento de peles de

suíno, ovino e caprino, sendo habitualmente omitida no processamento de peles de bovino.

Utilizam-se solventes orgânicos ou desengorduramento aquoso. No caso do

desengorduramento orgânico há a considerar a geração de resíduos de solventes orgânicos,

que constituem o único resíduo considerado perigoso na indústria dos curtumes.

FASE DE CURTUME

Piquelagem: esta operação precede o curtume propriamente dito e destina-se a criar as

condições fisico-químicas para uma eficiente difusão do agente curtiente (o crómio,

vulgarmente) na pele, evitando a sua imobilização precoce por precipitação. Usam-se banhos

salinos (com cloreto de sódio) contento ácido sulfúrico, para eliminar o carácter alcalino

ainda presente na pele. Esta operação pode (e deve) estar integrada na operação de curtume.

Geram-se águas residuais acídicas.

Curtume: é a operação central de todo o processo de curtimenta, em que o reagente curtiente

(vulgarmente o crómio trivalente adicionado como sulfato básico de crómio) reage com o

Page 23: Guia Sectorial - Curtumes

15

colagénio da pele, fixando-se na forma de um complexo com os grupos carboxílicos

terminais das cadeias de aminoácidos. Esta reacção confere à pele um carácter imputrescível

e as propriedades adequadas à sua posterior utilização. Este processo realiza-se em fulões,

durante várias horas, envolvendo um volume de água de 1-3 m3 / t pele salgada (incluindo a

operação da piquelagem). São adicionados agentes basificantes lentos (MgO, dolomite) de

forma a controlar o pH em limites tais (3-4) que permitam maximizar o rendimento da

operação, sem que ocorra a precipitação do crómio como hidróxido. Os agentes alternativos

ao crómio são, como já foi referido, outros agentes minerais, agentes baseados no

glutaraldeído e taninos sintéticos (syntans). Nos processos de curtume ao crómio, destacam-

se como descargas importantes os licores esgotados contendo crómio ou, se descarregados e

tratados em ETAR, as respectivas lamas com crómio. As peles curtidas ao crómio apresentam

nesta fase uma tonalidade azul designado-se por wet-blue. Nos casos de curtume com agentes

minerais alternativos, a designação utilizada é de wet-white.

Escorrimento: após o curtume, as peles são escorridas utilizando-se máquinas de rolos com

feltros para o efeito.

FASE DE PÓS-CURTUME E ACABAMENTOS

Divisão e Rebaixamento / Desbaste: as operações do pós-curtume destinam-se, no essencial,

a conferir as dimensões adequadas, a uniformidade e as propriedades finais aos couros. Na

divisão é retirada a camada interior da pele (de menos valor), podendo esta operação realizar-

se alternativamente sobre as peles em tripa, como já foi oportunamente referido. No

rebaixamento faz-se o acerto final da espessura da pele por desbaste da parte interior

utilizando sistemas de lâminas helicoidais. Estes processos realizam-se de forma mecanizada,

resultando quantidades importantes de resíduos curtidos de divisão e rebaixamento (com

crómio), denominados na linguagem comum do sector por raspas azuis.

Recurtume, Tingimento e Engorduramento: constituem a única etapa húmida da fase de

pós-curtume, onde se processa o complemento do curtume utilizando o mesmo ou outros

agentes curtientes. Nesta etapa, as peles são também tingidas com anilinas ou outros corantes,

e engorduradas com óleos vegetais, animais ou minerais. Estas operações podem processar-se

no mesmo fulão e envolvem um consumo médio de água de 7 m3/t pele salgada, constituindo

mais uma contribuição para o volume total de águas residuais e de lamas.

Page 24: Guia Sectorial - Curtumes

16

Estiragem e Secagem: as peles são estiradas para eliminação de rugas e secas em máquinas

de vácuo seguido-se uma secagem natural ao ar. Resulta nesta fase uma pele quase acabada

designada por crust.

Operações mecânicas finais – Abrandamento, Aparação, Lixagem e Prensagem: estas

operações sequenciais, de natureza mecânica, destinam-se a conferir as propriedades finais à

pele e a eliminar defeitos ainda existentes. Em termos de resíduos destacam-se as aparas

azuis produzidas na aparação e as poeiras resultantes da lixagem (realizada vulgarmente

sobre a face exterior da pele, ou por vezes em ambas as faces).

Acabamentos: Os acabamentos conferem determinadas características à pele que

determinam a sua aparência final, de acordo com a utilização, como sejam a côr superficial, a

macieza, o brilho ou lustro, a textura, etc. Para tal utilizam-se agentes de superfície usuais

(tintas e graxas à base de resinas, pigmentos, caseínas, ceras, etc.), cujos desperdícios

constituem resíduos do processo. Tal como referido no caso do desengorduramento, estes

resíduos são pouco relevantes neste sector, sendo mesmo omitidos muito frequentemente nas

questões de análise ambiental das empresas.

Classificação e Medição: as peles são finalmente classificadas e medidas para serem

comercializadas.

Page 25: Guia Sectorial - Curtumes

17

Fig. 7 (a) – Diagrama típico de uma instalação de curtumes (pindicação dos balanços mássicos à pele e à agua ao longo do prde Pós-Curtume (operações até wet-blue com espessura acertad

MOLHO

Pele salgada1000 Kg - 156 m2

(6-12 m3) Água - 8 m3

Molhantes, surfactantes,enzimas, bactericidas

CALEIRO(7-15 m3) Água - 10 m3

Na2S, NaHS, aminasCa(OH)2, NaOH

1

DESCARNAGEM

(5-8 m3) Água - 7 m3

o

H2S, e

DESENCALAGEM / CONFITAGEM

1

Pele em tripa1100 Kg - 152 m

DIVISÃO (em Tripa)

Crutes (em tripa) e raspas da divisão

M(0.3-1 m3) Água – 0.6 m3

NaCl, H2SO4

ESCORRIMENTO

(0.6-1.5 m3) Água – 0.8 m3

Sulfato básico Crómio,NaHCO3, MgO, aditivos

DIVISÃO

REBAIXAMENTO

APARAÇÃO

Pele em Wet-Blue260 Kg - 141 m2

7.5 m3 - Águas residuais salinas (6-11 m3)

0 m3 - Águas residuais alcalinas sulfurosas c/ carga orgânica elevada (7-15 m3)

300 Kg - Resíduos de descarna (150–350 Kg)

ventualmente

100 Kg – Aparas verdes (50–120 Kg)

7 m3 - Águas residuais amoniacais (5-8 m3)

2

Sais de amónio, Ácidosrgânicos, amaciadores

1500 Kg - 165 m2

APARAÇÃO (em Tripa)

1200 Kg

100 Kg

PIQUELAGE

2.0 m3 - Águas residuais com3

CURTUME crómio (1.3-3.6 m )

773 Kg

573 Kg - 152 m2

105 Kg – Raspas azuis da divisão (70–120 Kg)

88 Kg – Crutes

380 Kg

100 Kg – Raspas azuis do rebaix. (70-120 Kg)

280 Kg

rocessamento de peles de bovino), comocesso. Fases da Ribeira, de Curtume ea).

20 Kg – Aparas azuis (15–40 Kg)

Page 26: Guia Sectorial - Curtumes

Fig. 7 (b) – Diagrama típico de uma

indicação dos balanços mássicos à

Acabamento.

Nota: os valores numéricos entre pliteratura especializada, sendo indicat

RECURTUMETINGIMENTO

ENGORDURAMENTO

Pele em Wet-Blue260 Kg - 141 m2

7 m3 - Águas residuais com crómio (5-10 m3)

(5-10 m3) Água - 7 m3

NeutralizantesAgente de recurtume (Cr, syntans),

Corantes, Gorduras

S

Pele em194 Kg -

(Am

Revestimentos(Lacas, Tintas, etc)

414 Kg

a

ESCORRIMENTO

294 Kg

ins

pe

rêiva

4 Kg – Aparas em crust (2–6 Kg)

ESTIRAGEMECAGEM (Vácuo)

0.10 m3 - Águas residuais

Crust144 m2

Vapor

ABRANDAMENTOaciamento Mecânico)

C1

APARAÇÃO

t

le

n

5 Kg – Poeiras (1–10 Kg)M

9

LIXAGE

185 Kg

18

alação de curtumes (proc

e à agua ao longo do

teses referem-se à gamada dispersão dos mesmo

ouro Acabado5 Kg - 138 m2

1 Kg – Resíduos de Acabamento

ACABAMENTOS

Orgânicos voláteis, eventualmente

essamento de peles de bovino), com

processo. Fases de Pós-Curtume e

de valores encontrada em diversas nos processos de fabrico.

Page 27: Guia Sectorial - Curtumes

19

3.3 Resíduos Industriais

3.3.1 Resíduos no sector dos curtumes e sua actual gestão

A descrição do processo produtivo apresentada na secção anterior demonstra claramente que

a actividade industrial do sector dos curtumes é fortemente geradora de resíduos sólidos. O

elevado consumo de água (24-48 m3/t de pele salgada alimentada, como já se viu) e a

potencial carga poluente das águas residuais descarregadas permite igualmente antever a

geração de lamas em ETAR que também constituem resíduos importantes no sector. De

forma simplificada, podemos sistematizar os resíduos como se segue:

" Resíduos sólidos sem crómioResíduos de pêlo, carnazes, aparas em tripa e raspas da divisão em tripa. Resíduoscurtidos da curtimenta sem crómio.

" Resíduos sólidos com crómioResíduos de pele curtida a crómio, nomeadamente raspas azuis, aparas azuis e poeiras.

" LamasLamas orgânicas sem crómio e lamas com crómio, ambas produzidas em ETAR.

" Licores de curtimenta esgotadosLicores sem crómio e licores com crómio.

" Resíduos líquidos de desengorduramento com solventes

" Resíduos do acabamentoResíduos de lacas, tintas e outras substâncias rejeitadas na fase de acabamento.

Os resíduos líquidos de desengorduramento com solventes orgânicos são os únicos

considerados como perigosos segundo o Catálogo Europeu dos Resíduos (CER). Contudo, a

operação de desengorduramento só se realiza no processamento de peles de ovino, caprino ou

suíno, cujo mercado nacional é, como já vimos, bastante reduzido. Além disso, o

desengorduramento aquoso já está bastante implementado nos processos de fabrico pelo que

os resíduos de solventes orgânicos têm pouca relevância neste sector industrial.

Numa tentativa de realizar alguma hierarquização dos restantes resíduos pela sua relativa

perigosidade, podemos adiantar que os resíduos com crómio (sólidos orgânicos e lamas)

também têm alguma potencial perigosidade. De facto, em determinadas circunstâncias, as

condições ambientais podem originar, a médio ou longo prazo, alguma oxidação do crómio

Page 28: Guia Sectorial - Curtumes

20

(estabilizado na pele) à valência VI, tornando-se perigoso. A probabilidade desta ocorrência é

pequena porque os resíduos curtidos são bastante estáveis e não biodegradáveis, mas contudo,

não será despropositado que sejam hierarquizados acima dos resíduos não curtidos.

Relativamente aos licores de curtimenta, refira-se que estes resíduos em geral acabam por não

existir fisicamente nas empresas porque podem ser tratados e recirculados para o processo, ou

então são descarregados como águas residuais e posteriormente tratados em ETAR, gerando

as respectivas lamas. Finalmente, os resíduos de acabamento são também usualmente

descarregados nas águas residuais, pois são arrastados pelas cortinas de água das cabinas

onde se processam as aplicações.

Os resíduos sólidos orgânicos (com e sem crómio) são resíduos fatais, pois a sua geração não

resulta de baixos rendimentos dos processos de fabrico, mas sim de uma necessidade

irremediável de retirar da pele bruta partes da sua constituição não aproveitáveis para o

produto final. Há no entanto algumas medidas/tecnologias que podem ser aplicadas nos

processos e que permitem uma redução dos quantitativos de resíduos com crómio, como se

verá mais adiante.

Foi realizado um levantamento junto de algumas empresas a fim de avaliar a relação entre os

vários tipos de resíduos gerados e também para inferir se as quantidades correspondentes

estão ou não dentro dos limites considerados internacionalmente como típicos para as

instalações de curtumes (ver p.e. Ana Ferraz, 1998; J. Buljan, 1997; S. Rydin, 1998; UNIDO-

SID, 1999). Na figura 8 apresentam-se as quantidades de resíduos sólidos curtidos e não

curtidos, gerados por algumas empresas portuguesas do sector, referidos a 1 tonelada de pele

alimentada ao processo. Nota-se uma razoável dispersão dos quantitativos unitários de

resíduos gerados, o que demonstra a existência de diversas formas de operação entre as várias

empresas, provavelmente condicionadas pelo tipo e origem da matéria prima e também pelas

características do produto final que oscila conforme a solicitação do cliente (peles mais ou

menos espessas, mais ou menos encamurçadas, etc). Podemos realçar a empresa Nº1 que só

processa peles a partir de wet-blue, razão pela qual não tem resíduos sem crómio. A empresa

Nº4, por sua vez, produz uma quantidade de resíduos bastante superior aos valores de

referência, com particular relevância para os resíduos da operação de descarna. Produzem-se

mais aparas de pele curtida do que de pele não curtida, o que demonstra que nas empresas

analisadas a aparação em tripa é pouco relevante.

Page 29: Guia Sectorial - Curtumes

21

Fig. 8 – Resíduos sem crómio (a) e com crómio (b) gerados por tonelada de pele alimentada, para

algumas empresas do sector, e valores comparativos considerados de referência a nível internacional.

A gestão correcta dos fluxos das águas do processo assume-se como crucial nas empresas do

sector pois as instalações de curtumes são, como já se verificou, fortemente consumidoras de

água. Os efluentes gerados, de composições complexas e com cargas orgânicas e inorgânicas

elevadas, são por isso o principal problema ambiental deste sector. No Quadro 2 apresenta-se

a composição típica das águas residuais produzidas numa instalação de curtumes, onde se

pode observar a contribuição relativa de cada operação ou conjunto de operações para a carga

poluente do efluente final e subsequentemente das lamas geradas no seu tratamento. A carga

orgânica das águas residuais é bastante elevada, contribuindo o caleiro para 50% do total.

Esta operação é também a responsável pela maior parte do azoto orgânico, por mais de 60%

dos sólidos em suspensão e pelo total dos sulfuretos. A grande responsável pelo azoto

amoniacal é a operação de desencalagem, enquanto que o curtume é, obviamente, a operação

que gera mais de 80% do crómio existente nos efluentes.

0

200

400

600

Re

síd

uo

s (K

g)

Resíduo da descarna Aparas s/ crómio

(a) Resíduos sem Cr por ton de pele alimentada

1

2

3

4

5

6

referência

0

50

100

150

200

Re

síd

uo

s (K

g)

Raspas rebaix. c/crómio

Aparas c/ crómio Poeiras c/ crómio

(b) Resíduos com Cr por ton de pele alimentada

1

2

3

4

5

6

referência

Page 30: Guia Sectorial - Curtumes

22

Quadro 2 - Poluição típica das águas residuais (não tratadas) de uma instalação de curtumes; valores em Kg por ton. de pele salinizada (ws), excepto quandoindicadas outras unidades

Ribeira Curtume Pós-Curtume TotalParâmetro Molho Caleiro Desencalagem /

Confitagem(piquelagem incl.) (Químico - fase húmida) Kg/t ws mg/L (**)

Sólidos totais (ST) 170 125 45 175 65 580 13 810

Cinzas totais 150 75 35 160 30 450 10 715

Sólidos em suspensão (SST) 15 (7-15) 60 (60-75) 3 5 7 90 (90-150) 2 143CBO5 10 (7-10) 30 (30-60) 3 3 (1-3) 14 (12-15) 60 (60-100) 1 428

CQO 40 (30-40) 85 (85-120) 6 14 (2-15) 30 (30-60) 175 (175-250) 4 167

N (Kjel.) 1.5 6 5 1 0.8 14.3 340NH4 - 0.3 4.1 0.5 0.6 5.5 131

S2- - 6 - - - 6 (5-10) 143

Cr3+ - - - 5 (2-5) 1 6 (3-6) 143

Cl- 82 (80-130) 12 8 (8-20) 56 (35-60) 5 (5-15) 163 (150-200) 3 880

Gorduras (mg/L) 757

pH forte/ alcalino 8 3-4 2-3 11

Toxicidade (Keq/t ws) 1.9 0.6 2.5

Água (m3 / t ws) 8 10 7 2 7 42 (*)

NOTAS: (*) Assumindo que às águas das operações acrescem 8 m3 de águas associadas aos processos mecânicos e lavagens gerais.(**) Assumindo um consumo de 42 L H2O / Kg pele ws

Os valores de kg/t ws apresentados entre parênteses são gamas recolhidas em diversa literatura especializada.Fontes: A maioria dos valores foram adoptados de: “Sectoral Profile of the Leather Industry”, UNIDO–SID, Fev. 1999

Outras fontes: “Audit and Reduction Manual for Industrial Emissions and Wastes”, UNIDO-UNEP, 1991Ana Ferraz, “A problemática ambiental na Indústria dos Curtumes”, AIP Ambiente, Nº23, Set. 1998

Page 31: Guia Sectorial - Curtumes

23

Muitas empresas nacionais têm conseguido optimizar algumas operações do seu processo

produtivo, reduzindo algumas cargas poluentes das águas residuais, com as consequentes

vantagens económicas subjacentes ao seu tratamento. São particularmente relevantes a

diminuição do uso de sulfuretos no caleiro e o aumento da eficiência na utilização do crómio.

O consumo de água também é importante neste contexto, não só pelo seu preço mas

principalmente porque o custo do seu tratamento é proporcional ao caudal descarregado. Na

figura 9 apresentam-se os consumos de água nas operações da Ribeira em algumas empresas

portuguesas, em função da produção. Para efeitos de comparação e avaliação destes

quantitativos, são também apresentados limites típicos de elevado e baixo consumo para a

fase do processo em análise. Estes limites foram fixados em 18 m3 / t pele alimentada como o

valor abaixo do qual se considera uma boa eficiência na gestão da água, e 35 m3 / t pele

alimentada como limite acima do qual se considera existir um excessivo consumo de água.

Verifica-se que, no caso das empresas consideradas, a maior parte se encontra abaixo do

limite considerado de baixo consumo, pelo que se concluiu que algumas empresas

portuguesas já operam com uma eficiente gestão da água. Há no entanto outras empresas que

ainda apresentam gastos de água muito excessivos, como também demonstra a figura. Este

facto revela discrepâncias muito significativas entre as empresas do sector. Demonstra-se

também de acordo com os dados obtidos, que não há uma correlação entre o tamanho da

empresa e a forma como é realizada a gestão da água, pois em toda a gama de produção há

empresas com baixas e elevadas descargas de água.

Fig. 9 – Descargas de água na fase da Ribeira em empresas portuguesas, em função da quantidade

produzida.

0

20000

40000

60000

80000

100000

0 200 400 600 800 1000 1200 1400

Couros acabados (ton/ano)

Águ

as r

esid

uais

da

Rib

eira

(m

3/a

no)

Empresas

Elevado consumo

Baixo consumo

Page 32: Guia Sectorial - Curtumes

24

No pólo de Alcanena foram criadas, desde 1988, infraestruturas importantes visando dotar a

região de soluções de tratamento das águas residuais e deposição dos resíduos. Estas

infraestruturas, a cargo da AUSTRA (Associação dos Utilizadores do Sistema de Tratamento

de Águas Residuais de Alcanena), são:

• Rede de colectores de acesso à ETAR.

• ETAR de tratamento de efluentes líquidos.

• Aterro controlado de resíduos sólidos e lamas de ETAR.

• Unidade de reciclagem de licores de crómio, SIRECRO.

Os custos de tratamento de efluentes e deposição de resíduos oscilam consoante o volume e

composição dos mesmos, sendo os valores típicos de 200-400 escudos por cada m3 de

efluente tratado na ETAR e de 1000-1500 escudos por cada m3 de resíduo sólido deposto no

aterro. As instalações industriais ligadas ao sistema de Alcanena têm unidades de pré-

tratamento dos seus efluentes que removem os sólidos suspensos e reduzem o teor de

sulfureto a níveis aceitáveis, antes da descarga na ETAR. A dessulfuração é vulgarmente

realizada com borbulhamento de ar e catalisada por sulfato de manganês. A utilização de

oxigénio em alternativa ao ar é uma opção já utilizada. Os teores de sulfureto e crómio são

controlados, existindo multas nos casos de não cumprimento dos limites fixados.

A unidade de reciclagem do crómio baseia-se num processo de precipitação deste metal como

hidróxido, seguido de separação do sólido e sua redissolução em ácido sulfúrico, gerando

uma solução de sulfato de crómio pronta a ser reutilizada. As empresas recolhem

separadamente os licores de curtimenta e enviam-nos para esta unidade, recebendo de volta

um licor para reutilização. O sucesso da utilização deste sistema não é total, dado que alguns

industriais receiam reutilizar os licores reciclados, pois temem a diminuição da eficiência do

curtume.

As infraestruturas referidas não existem noutras regiões do país e o sistema de Alcanena não

recebe resíduos provenientes de empresas situadas fora da sua região. Assim, os industriais

que operam noutros pontos do país debatem-se com fortes problemas de gestão dos seus

resíduos e efluentes, sendo obrigados a construir as suas próprias estações de tratamento ou

então a descarregar directamente os seus efluentes sem qualquer tratamento e a depor os

Page 33: Guia Sectorial - Curtumes

25

resíduos directamente no terreno. A opção de transporte e deposição dos resíduos fora do país

é impraticável pois os custos envolvidos não são suportáveis pelos industriais, podendo ser

até 50 vezes superiores aos custos de deposição no aterro de Alcanena. Casos há em que os

efluentes da fase da Ribeira são separados dos efluentes com crómio, objectivando produzir

dois tipos diferentes de lamas. Desta forma, torna-se mais viável em certos casos escoar as

lamas orgânicas (sem crómio) para aplicações agrícolas, reduzindo-se assim os volumes e os

custos de gestão dos resíduos. Opcionalmente há a possibilidade de deslocação das

instalações que operam nos diferentes pontos do país para a zona de Alcanena. Esta opção foi

já praticada por algumas empresas. De referir ainda que outra estratégia seguida por algumas

empresas foi a de concentrar o seu esforço produtivo nas operações finais de Pós-curtume e

Acabamento, desactivando progressivamente as fases da Ribeira e Curtume, fortemente

poluentes, optando por alimentar o seu processo com peles curtidas (na forma de wet-blue ou

crust).

Existe uma empresa que opera no sector que recolhe e armazena resíduos sólidos não

curtidos, distribuindo-os posteriormente por unidades agrárias da região para serem utilizados

como fertilizantes, com um custo semelhante ao pago na deposição dos resíduos curtidos em

Alcanena. Em termos de utilização de resíduos refira-se ainda que existe uma unidade

industrial que recupera algumas raspas com crómio transformando-as num aglomerado

utilizado em palmilhas para calçado. Os resíduos ricos em gordura (carnazes e aparas em

tripa) podem ser usados no fabrico de gelatinas, colas, gel, pomadas, produtos farmacêuticos

e rações, não havendo no entanto aplicações deste género no País. O desenvolvimento destas

aplicações e a sua concretização a nível industrial, de uma forma integrada, seria deveras

importante para o aproveitamento dos resíduos sólidos não curtidos.

Outra forma possível de tratamento dos resíduos de pele é a sua valorização energética por

incineração. Este procedimento pode no entanto causar alguns problemas em relação à

possível oxidação do crómio nas cinzas geradas. Em Portugal não se pratica a incineração dos

resíduos do sector de curtumes.

Page 34: Guia Sectorial - Curtumes

26

3.3.2 Classificação e quantificação dos resíduos industriais

Os resíduos gerados na indústria de curtumes foram classificados segundo o código CER

sendo apresentados no Quadro 4. É igualmente identificada a operação que os gera (ver

também o diagrama de fabrico apresentado na figura 7), sendo apresentada a composição

genérica dos resíduos, o seu destino usual, as quantidades geradas anualmente e ainda alguma

informação complementar referente a possíveis utilizações, quando aplicável. Os

quantitativos de resíduos apresentados foram estimados a partir de dados recolhidos das

seguintes fontes:

(1) Mapas de registo de resíduos de 38 empresas (1996, 1997 e 1998), consultados no

Instituto dos Resíduos.

(2) Visitas a 13 empresas do sector e subsequente recolha de informações em inquérito.

A estimativa dos resíduos baseou-se no pressuposto de que o universo do sector é constituído

por 130 empresas empregando 3800 trabalhadores. Por sua vez, a amostra analisada envolveu

49 empresas (38% do total) com 1947 trabalhadores (51% do total). O Quadro 3 apresenta a

especificação da amostra por escalão do número de trabalhadores, donde se pode concluir que

todos os escalões foram devidamente representados neste estudo. Toda a informação

apresentada nesta secção refere-se ao tratamento dos dados desta amostra.

A partir da informação recolhida, os quantitativos de cada resíduo foram calculados para cada

escalão, sendo de seguida extrapolados em cada escalão para o total de trabalhadores do

mesmo. Do somatório dos resíduos produzidos por escalão resultou a estimativa final do total

de resíduos produzidos anualmente no sector dos curtumes.

Quadro 3 – Especificação da amostra de empresas do sector dos curtumesusada na estimativa dos quantitativos de resíduos produzidos.

Escalão de Nº total de Empresas amostradastrabalhadores empresas no sector Nº %

1-9 51 12 2410-19 29 12 4120-49 26 14 5450-99 17 6 35

100-199 7 5 71

Page 35: Guia Sectorial - Curtumes

27

Quadro 4 – Listagem, classificação e quantificação dos resíduos gerados no sector dos curtumes.

Resíduo Cod.CER

Composição genéricaaproximada

Operaçãoque o gera

Destino usual Quantidade anualgerada

Possíveis utilizações

1. Resíduos sólidos sem crómio

Sal desagregado“sujo”

04.01.99 NaCl contaminado Preparação da matériaprima, Armazenagem

Armazenado oudescarregado 87 t

Reutilização na conservação ou napiquelagem, após calcinação

Resíduos do caleiro(pêlo)

04.01.02 Proteínas-queratinaÁgua

Calagem ou Caleiro Deposição em lixeira ouno solo, utilização naagricultura

1 063 tUtilização como adubo, apósdessulfuração

Resíduos dedescarna

04.01.01 Proteínas-colagénio (8%)Gorduras (4%)Água e sais (88%)

Descarnagem Deposição em lixeira ouno solo, utilização naagricultura

16 074 tFabrico de gelatinas, rações para animaise utilização como adubo, apósdessulfuração

Resíduos de divisãoem tripa

04.01.01 Proteínas-colagénio (18%)Gorduras (3%)Água e sais (79%)

Divisão em tripa Deposição em lixeira ouno solo, utilização naagricultura

3 415 t-

Aparas em tripa(verdes)

04.01.01 Proteínas-colagénio (18%)Gorduras (3%)Água (79%)

Aparação em tripa Deposição em lixeira ouno solo 603 t

Fabrico de rações para animais, gelatinase produtos farmacêuticos, apósdessulfuração

Total de resíduos sólidos sem crómio 21 242 t

2. Resíduos sólidos com crómio

Raspas com crómio(raspas azuis)

04.01.08 Proteínas-colagénio (45%)Crómio (2.5%)Água (50%)

Divisão e Rebaixamento Aterro de Alcanena,deposição em lixeira ouno solo

13 028 tProdução de aglomerados para calçado;produção de adubos após descurtimentapor hidrólise

Aparas com crómio(aparas azuis e doacabamento)

04.01.08 Proteínas-colagénio (45-60%)Crómio (2.5-3.5%)Água (15-50%)Corantes, gorduras (0-13%)

Aparação Aterro de Alcanena,deposição em lixeira ouno solo

6 514 t-

Poeiras com crómio 04.01.08 Proteínas-colagénio (60%)Crómio (3.5%)Água (15%)Corantes, gorduras (13%)

Lixagem Aterro de Alcanena,deposição em lixeira ouno solo

814 t-

Total de resíduos sólidos com crómio 20 356 t

Page 36: Guia Sectorial - Curtumes

28

Quadro 4 (cont.) – Listagem, classificação e quantificação dos resíduos gerados no sector dos curtumes.

Resíduo Cod. CER Composição Operaçãoque o gera

Destino usual Quantidade anualgerada

Possíveis utilizações

3. Lamas

Lamas sem crómio(de ETAR individual)

04.01.07 Lamas do tratamento dos efluentes daRibeira (quando tratados individualmente),com elevada carga orgânica, azoto, cal eágua

Tratamento dos efluentesda fase de Ribeira

Aterro de Alcanena,deposição em lixeira ouno solo

37 t-

Lamas com crómio(de ETAR individual)

04.01.06 Lamas do tratamento dos efluentes doCurtume ao crómio ou dos efluentesglobais, com hidróxido de crómio, matériaorgânica e água.

Tratamento dos efluentesdas fases de Curtume ePós-curtume, ou dosefluentes globais

Aterro de Alcanena,deposição em lixeira ouno solo

2 432 t-

Lamas com crómio(da ETAR deAlcanena)

04.01.06 Lamas do tratamento dos efluentes sosistema de Alcanena, com hidróxido decrómio, matéria orgânica e água.

Tratamento dos efluentesdo sistema de Alcanena

Aterro de Alcanena25 200 t

-

Total de Lamas 27 669 t

4. Licores de Curtimenta

Licores sem crómio 04.01.05 Licores esgotados de curtimenta mineralsem Cr, vegetal ou sintética.

Curtume e Recurtume semcrómio

Descarga directa 50 m3 -

Licores com crómio 04.01.04 Licores esgotados de curtimenta comcrómio (III)

Curtume e Recurtume comcrómio

Descarga directa 5 500 m3 -

5. Outros Resíduos

Resíduos líquidos dedesengorduramentocom solventes

04.01.03(Perigoso)

Resíduos contendo solventes orgânicos /diluentes

Desengorduramento (pelesde ovino, caprino ou suíno)

Descarga directa ouarmazenagem

11 t -

Resíduos deacabamento

04.01.09 Restos de tintas, graxas e outros agentesde acabamento

Acabamento - 107 t -

NOTA: Não estão aqui contabilizados os resíduos de embalagens porque a maioria das empresas não os contabiliza. É de crer, contudo, que este tipo de fluxo não seja relevante no sector.

Page 37: Guia Sectorial - Curtumes

29

O total de resíduos do sector estima-se em cerca de 75 000 t/ano, das quais apenas 11 t são

resíduos considerados perigosos. A quantidade anual gerada de resíduos sólidos orgânicos

atinge cerca de 41 000 t/ano, das quais 21 000 t são resíduos sólidos orgânicos sem crómio e

20 000 t são resíduos sólidos com crómio. Relativamente às lamas, são geradas anualmente

cerca de 28 000 t no tratamento das águas residuais.

Em termos quantitativos não existe outra informação detalhada sobre os resíduos produzidos

pelo sector. O dado mais actual e fidedigno existente é o relatório da Tecnivest (actualização

de 1997) o qual estima a quantidade de residuos produzida em 36 000 t/ano de lamas

orgânicas e 33 000 t/ano de sólidos orgânicos. Segundo o mesmo relatório, deste total de

resíduos (69 000 t/ano) cerca de 50 000 t/ano são depositadas no aterro de Alcanena,

carecendo os restantes 19 000 t/ano de solução adequada. Comparando estes totais com os

estimados no presente relatório verifica-se que a ordem de grandeza não é substancialmente

diferente, embora hajam a considerar alguns desvios entre as duas estimativas.

Os volumes de licores de curtimenta apresentados merecem uma reflexão cuidada. Ao nível

do Catálogo Europeu de Resíduos, é nosso entendimento que o legislador ao referir-se a

“licores de curtimenta” quereria designar unicamente os licores dos banhos da operação de

curtume e eventualmente de recurtume. No entanto constatou-se na consulta dos mapas de

resíduos, que muitas empresas classificam todas as suas águas residuais nestas categorias,

incluindo, por exemplo, os banhos da Ribeira na classe “licores de curtimenta sem crómio”.

Só assim se compreendem os elevados volumes anuais estimados para o país para estas

classes a partir dos mapas de registo e que foram respectivamente 846041 m3 para os licores

sem crómio e 92329 m3 para os licores com crómio. Na estimativa aqui apresentada e que

consta no Quadro 4 consideraram-se só os licores com crómio que não são tratados nem

reciclados para o processo, o que resultou em cerca de 5 500 m3/ano. Quanto ao licores de

curtimenta sem crómio, apresenta-se uma estimativa que corresponde aos banhos não tratados

de processos de curtimenta vegetal e outros tipos de curtimenta mineral e sintética

(50 m3/ano).

Regressando agora à análise dos resíduos sólidos, verifica-se serem os resíduos de descarna/

divisão em tripa e também as raspas da divisão e rebaixamento os que mais contribuem para

o total de resíduos sólidos no sector. Este facto está de acordo com a normal operação das

unidades de curtumes, como se pode observar na figura 10. Nesta figura, compara-se a

Page 38: Guia Sectorial - Curtumes

30

distribuição dos resíduos sólidos obtida nesta estimativa, com uma distribuição de referência

expectável a partir do fluxo de materiais do sector no País. A principal diferença reside na

quantidade de aparas em tripa (menor do que o expectável) e também na quantidade de

aparas azuis (maior do que o expectável).

Fig. 10 – Distribuição percentual dos resíduos sólidos orgânicos gerados no país (a) e sua comparação

com a previsão dos mesmos baseada no funcionamento típico das instalações de curtumes (b).

Nota: a previsão foi realizada com base nas quantidades típicas de resíduos gerados operação a

operação (vd. fig. 7), calculados em relação ao fluxo de materiais do sector (vd. fig. 3).

Um outro estudo realizado foi a avaliação dos quantitativos de resíduos sólidos gerados em

função da dimensão das empresas, representadas por escalões do número de trabalhadores.

De acordo com a figura 11, verifica-se que as empresas de maior dimensão são as grandes

geradoras dos resíduos do sector. Cerca de 68 % do total de resíduos sólidos são produzidos

por 20% das empresas (as que têm ao serviço mais de 50 trabalhadores). Em todos os

escalões analisados as quantidades de resíduos com crómio são superiores aos resíduos sem

crómio, excepto no maior escalão, onde se dá uma clara inversão desta tendência. Este facto

revela que muitas das empresas de pequena e média dimensão optam por concentrar o seu

esforço produtivo nas operações finais do processo. Por outro lado, são as maiores empresas

que operam o processo completo (ribeira, curtume e pós-curtume). A relação entre os

resíduos com e sem crómio observada no escalão 100-199 é típica das instalações de

curtumes completas.

Resíduos do caleiro

3%

Descarna / Divisão

47%

Aparas em tripa1%

Raspas azuis31%

Aparas c/ Cr16%

Poeiras2%

(a) Valores reais no país

Resíduos do caleiro

3%Descarna /

Divisão45%

Aparas em tripa15%

Raspas azuis32%

Poeiras1%

Aparas c/ Cr4%

(b) Previsão baseada no funcionamento típico das instalações de curtumes

Page 39: Guia Sectorial - Curtumes

31

Fig. 11 – Resíduos sólidos com e sem crómio gerados no país em função da dimensão das empresas,

expressa em escalões do número de trabalhadores.

Fig. 12 – Distribuição percentual dos resíduos sólidos sem crómio (a) e com crómio (b) em função da

dimensão das empresas, expressa em escalões do número de trabalhadores.

Ao especificar-se a distribuição dos resíduos gerados com e sem crómio (figura 12) verifica-

se que as empresas com mais de 100 trabalhadores (6% das empresas) são por si só

responsáveis por quase 50% dos resíduos sem crómio. No caso dos resíduos com crómio,

verifica-se ser o escalão 50-99 o que mais contribui para a geração destes resíduos (42% do

total).

0

2000

4000

6000

8000

10000

Re

síd

uo

s (t

on

/an

o)

1-9 10-19 20-49 50-99 100-199

Escalão de trabalhadores

s/ Cr

c/ Cr

(a) % de resíduos sem Cr por escalão de trabalhadores

100-19948%

10-194%

1-93% 20-49

8%

50-9937%

(b) % de resíduos com Cr por escalão de trabalhadores

1-92%

10-198%

20-4919%

50-9942%

100-19929%

Page 40: Guia Sectorial - Curtumes

32

A avaliação dos quantitativos de resíduos por unidade de pele processada ou acabada permite

avaliar a forma como as empresas operam o seu processo de fabrico. A figura 13 ilustra

exactamente este tipo de análise, para os vários escalões do número de trabalhadores. É

possível observar uma razoável dispersão dos quantitativos unitários, verificando-se serem as

empresas de maior dimensão as que produzem mais resíduos por tonelada de produto

acabado. Este facto reforça a ideia de que as empresas de menor dimensão privilegiam nos

seus processos produtivos as operações de acabamento enquanto que as empresas maiores

operam com processos mais extensos. A título comparativo, refira-se que uma instalação de

curtumes com o processo completo gera, por tonelada de couro acabado, aproximadamente

1500-1700 Kg de resíduos sem crómio e 700-1000 Kg de resíduos com crómio.

Fig. 13 – Resíduos com e sem crómio gerados por tonelada de pele acabada, para empresas do sector

de diferentes escalões.

Do estudo realizado sobre os resíduos no sector dos curtumes, apresentado nesta secção,

resumem-se de seguida as principais conclusões:

! São gerados anualmente no país cerca de 41 000 toneladas de resíduos sólidos orgânicos,

divididos quase equitativamente entre resíduos com e sem crómio.

! As lamas de ETAR geradas totalizam cerca de 28 000 toneladas por ano.

0

500

1000

1500

2000

2500

Re

síd

uo

s (K

g)

1-9 10-19 20-49 50-99 100-199

Escalão de trabalhadores

Resíduo por ton. de pele acabada

s/ Cr

c/ Cr

Page 41: Guia Sectorial - Curtumes

33

! A maior parte dos resíduos sem crómio resultam das operações de descarna e divisão em

tripa. Para os resíduos com crómio contribuem essencialmente as raspas do rebaixamento

e divisão da pele curtida.

! A relação entre resíduos com crómio e sem crómio é superior ao considerado normal em

instalações de curtumes porque muitas empresas dedicam maior esforço ao

processamento de peles já curtidas. Este facto é mais relevante nas empresas de média

dimensão (entre 10 e 100 trabalhadores).

! As empresas com mais de 50 trabalhadores (20% do total) geram quase 70% dos resíduos

sólidos orgânicos do sector.

Page 42: Guia Sectorial - Curtumes

34

4. POTENCIAL DE PREVENÇÃO DENTRO DO SECTOR

A descrição do processo produtivo anteriormente realizada e a sua correspondente associação

à geração dos resíduos, permitiu concluir que os processos de curtimenta são potencialmente

problemáticos ao nível das descargas para o ambiente. O potencial de poluição é elevado e

muito diversificado. A assimilação desta realidade tem levado ao desenvolvimento de

processos e tecnologias mais limpas que visam a prevenção da poluição. Muitas dessas

tecnologias têm sido aplicadas industrialmente com sucesso no mundo inteiro, resultando em

benefícios reais para o ambiente. Assim o potencial de prevenção no sector pode-se

considerar como elevado.

Em Portugal têm-se registado alguns avanços neste domínio, tanto ao nível de projectos de

investigação e desenvolvimento aplicados, como na transferência e implementação de

algumas tecnologias mais limpas nas empresas. Neste esforço têm estado envolvidas diversas

Empresas, Instituições de I&D e Universidades, destacando-se o Centro Tecnológico das

Indústrias do Couro (CTIC) pelo seu trabalho constante no sector, sem menosprezo para as

outras entidades.

Neste capítulo faz-se uma abordagem sistemática sobre o potencial de prevenção nos

curtumes, analisando sequencialmente os seguintes aspectos:

! Identificam-se as principais acções-base a desenvolver para fazer face aos problemas

existentes;

! Identificam-se as tecnologias potencialmente aplicáveis para a execução dessas acções,

associando-as às operações unitárias em que se aplicam e aos resíduos que previnem;

! Estima-se a capacidade de produção no sector, por operação passível de prevenção, e as

descargas poluentes correspondentes;

! Avaliam-se os benefícios expectáveis da aplicação das principais medidas/tecnologias

descritas.

Page 43: Guia Sectorial - Curtumes

35

4.1 Tecnologias e Medidas de Prevenção Identificadas para o Sector

A identificação das tecnologias e medidas de prevenção para a indústria dos curtumes foi

realizada com base numa alargada pesquisa bibliográfica, auxiliada pela consulta a

especialistas e industriais do sector. Foram encontradas tecnologias e medidas de diversa

índole, mostrando a importância que tem sido dada às questões da prevenção e da produção

mais limpa neste sector industrial. Essas tecnologias foram desenvolvidas com base no

conhecimento dos principais problemas inerentes aos processos produtivos. As acções-base

para o desenvolvimentos dessas tecnologias podem-se resumir da forma seguinte:

• Minimizar o consumo de água.

• Optimizar o uso e a reutilização dos banhos reaccionais, adaptando se necessárioprocessos de purificação e de recirculação dos mesmos.

• Promover a eficiência do consumo dos reagentes químicos, limitando a sua descarga(processos de elevada exaustão dos reagentes).

• Seleccionar os reagentes químicos que conduzam ao menor impacte ambiental, dentro dosdisponíveis e aplicáveis ao processo.

• Instalar, sempre que possível, equipamento mais eficiente que promova uma mistura maiseficaz, uma maior reactividade, um melhor aproveitamento da matéria-prima, menosperdas e menos emissões.

• Manter os equipamentos em perfeita operação.

• Integrar no processo de fabrico mecanismos de gestão que permitam reduzir os acidentes,descargas acidentais e avarias nos equipamentos.

O conjunto de princípios anteriores, a ser observado, resultará numa melhor performance

ambiental (e económica) da empresa. O problema reside em saber, em cada caso, se existem

tecnologias provadas para atingir esses objectivos e, principalmente, em avaliar a sua

aplicabilidade a cada empresa, em sintonia com as características da matéria prima e com o

tipo de produtos finais a obter. No sector dos curtumes esta questão da aplicabilidade das

tecnologias e medidas de prevenção é crucial, dada a natureza do material processado, que

por ser um produto natural de origem animal tem inerentemente características únicas. Toda e

qualquer medida ou tecnologia tem que ser, no limite, validada caso a caso.

Page 44: Guia Sectorial - Curtumes

36

No Quadro 6 (ver págs. 50-52) apresentam-se as tecnologias e medidas de prevenção

identificadas para o sector. Esta listagem é tão exaustiva quanto possível, não sendo nesta

fase avaliada a importância relativa de cada tecnologia ou medida nem o seu potencial de

prevenção. Discutem-se de seguida alguns princípios de prevenção aplicáveis ao sector em

estudo, os quais estão na origem das principais tecnologias listadas.

4.1.1 Controlo da salinidade dos efluentes

A grande maioria da salinidade dos efluentes é gerada na operação do molho. A forma de

diminuir esta salinidade passa pela remoção mecânica de parte do sal das peles antes de as

introduzir nos equipamentos ou pela utilização de alternativas de conservação,

nomeadamente pelo frio. Esta última alternativa implica custos para as empresas que estas

normalmente não estão dispostas a pagar. Além disso, haveria que implementar

simultâneamente essas técnicas de conservação junto dos fornecedores da matéria prima. A

pouca importância que é vulgarmente atribuída à salinidade dos efluentes torna também

difícil a implementação destas alternativas.

4.1.2 Consumo de água

Dado que as instalações de curtumes são bastante consumidoras de água, a optimização do

seu uso torna-se essencial na estratégia da empresa. Para além dos benefícios económicos

inerentes (da captação e principalmente do tratamento de fim de linha), descarregar menos

água com menos contaminantes implica a geração de menos lamas e subsequentemente tais

medidas tornam-se relevantes para a prevenção dos resíduos.

Tradicionalmente cerca de 80-85% da água consumida numa instalação de curtumes provém

das lavagens da pele entre operações e de outras lavagens de carácter geral dentro do

processo de fabrico. A optimização no consumo de água pode passar por:

• Utilização de processos de lavagem em descontínuo em alternativa aos contínuos.

• Uso de banhos curtos ou seja relações água/pele menores (técnicas low-float), dentro delimites aceitáveis em termos de eficiência e de qualidade da pele. Banhos curtos malconduzidos podem originar o aparecimento de rugas ou mesmo o esfolamento da pele.

Page 45: Guia Sectorial - Curtumes

37

• Maior controlo operacional dos caudais utilizados (utilização de instrumentaçãoadequada).

• Introdução de medidas operacionais e regulamentos específicos junto dos trabalhadores,em conjugação com acções de sensibilização e formação.

4.1.3 Reutilização dos banhos processuais

A reutilização dos banhos processuais pode em determinadas circunstâncias ser realizada sem

qualquer tratamento, nas operações menos críticas, ou após um tratamento mais ou menos

complexo, em outras operações. Os tratamentos podem passar por operações simples de

remoção dos sólidos suspensos mais grosseiros utilizando sistemas de crivagem, ou

utilizando tecnologias avançadas como a ultrafiltração (com possível aplicação nos banhos do

caleiro). A reutilização dos banhos é não só uma medida de poupança de água como também

uma forma de maximizar o uso dos reagentes químicos, que é essencial em processos que

utilizam reagentes extremamente diversificados, com formulações complexas e normalmente

caros, como é o caso dos curtumes.

A reutilização dos banhos alcalinos do caleiro é possível desde que se opere esta operação

sem dissolução do pêlo. Após remoção deste usando filtros adequados, as águas podem ser

reutilizadas, total ou parcialmente, no banho seguinte. A reutilização dos banhos pode ser

encarada não só dentro da mesma operação, como entre operações diferentes: é exemplo a

utilização dos banhos esgotados de curtume ao crómio na piquelagem. A água utilizada nos

processos mecânicos e nas cortinas de água dos acabamentos é também passível de

reutilização desde que se introduzam equipamentos de separação dos sólidos suspensos

(filtros, decantadores, centrífugas, etc.).

4.1.4 Selecção dos reagentes químicos e eficiência no seu uso

Uma escolha correcta de produtos químicos e a sua eficiente utilização são obviamente dois

aspectos fundamentais para reduzir as descargas poluentes desta indústria. Têm sido feitas

tentativas de substituição de alguns reagentes considerados mais problemáticos, sem contudo

ter havido um grande sucesso na sua implementação. Dois exemplos claros são a utilização

de sulfuretos no caleiro e do crómio no curtume. Estes são os reagentes considerados mais

problemáticos neste sector industrial, pelas razões sobejamente conhecidas.

Page 46: Guia Sectorial - Curtumes

38

Controlo do uso de sulfuretos no caleiro

As tentativas de total substituição dos banhos alcalinos de sulfureto por outros agentes

alternativos, nomeadamente compostos orgânicos sulfurados, enzimas e aminas, não foram

totalmente conseguidas. Contudo têm-se registado progressos importantes na diminuição do

teor de sulfuretos nos banhos, quer pelo uso de auxiliares de depilação quer pelo controlo

expedito das condições processuais. Tal facto é não só relevante na medida em que se reduz a

utilização e a descarga de um reagente potencialmente tóxico (libertação de gás sulfídrico a

pH<9), como também se mostra essencial na diminuição da carga orgânica das águas

residuais e subsequentemente das lamas. Os processos com baixo teor de sulfuretos

promovem a remoção do pêlo (com ou sem auxiliares mecânicos) evitando a sua dissolução,

diminuindo substancialmente o teor de CQO e CBO5 nas águas residuais e subsequentemente

nas lamas orgânicas geradas em ETAR. O pêlo separado do banho reaccional é

potencialmente utilizável como adubo devido ao seu elevado teor em azoto. Existem imensos

processos comerciais em operação à escala industrial, no estrangeiro, que utilizam os

processos de caleiro com recuperação do pêlo.

Os processos de caleiro com baixo teor de sulfuretos e recuperação do pêlo realizam-se

geralmente em três etapas fundamentais e sequenciais, que se podem realizar no mesmo

banho com adições progressivas dos reagentes, ou em diferentes banhos:

! Imunização controlada da queratina do pêlo: no processo de imunização, vulgarmente

realizado num banho de cal, as pontes de enxofre das proteínas são consolidadas

aumentando a resistência à degradação por redução na fase seguinte de depilação. Deve-

se evitar a sobre-imunização pois esta pode originar dificuldade na libertação do pêlo.

! Depilação com agentes redutores fortes: utilizam-se misturas de sulfureto de sódio

(Na2S) e sulfidrato de sódio (NaHS), em quantidades controladas, permitindo a quebra

das ligações de enxofre da queratina de forma a libertar o pêlo, mas minimizando a sua

pulverização e dissolução. Existem formulações comercializadas por conhecidos

fornecedores de produtos químicos (BASF, TFL) que contêm auxiliares de depilação que

permitem reduzir a quantidade de sulfuretos usada. São essencialmente baseados em:

Page 47: Guia Sectorial - Curtumes

39

• Compostos orgânicos sulfurados: tioglicolato (SHCH2COO-), tioetilenoglicol

(SHCH2CH2OH) e sais do ácido formamidinosulfínico (CH(NH2)2+SO(OH)-), que actuam por

redução das pontes de enxofre das proteínas, tal como os sulfuretos. A pele obtida tem uma

superfície lisa e a recuperação em área pode ser superior.

• Agentes de depilação enzimática: as enzimas proteolíticas reagem com as proteínas do pêlo

promovendo a sua libertação. Os processos utilizando estes compostos devem ser operados

com precaução devido à possibilidade do ataque das enzimas sobre o colagéneo da camada

dérmica.

Estes compostos são vulgarmente utilizados em conjunto com o Na2S e o NaHS, embora

em alguns casos os fornecedores os promovam como potenciais agentes de depilação na

ausência de sulfuretos.

! Re-calagem: nesta etapa final do caleiro completa-se o relaxamento alcalino da pele

(vulgarmente num novo banho de cal) procedendo-se por vezes a uma adição suplementar

de sulfuretos para auxiliar o inchamento da pele e para eventual remoção de alguma

camada epidérmica ou pêlo remanescentes.

Existem vários processos comerciais utilizando diferentes tipos de receitas e formulações,

mas que genericamente seguem os princípios acima descritos. O controlo da temperatura é

fundamental (valores típicos de 27-28ºC) para assegurar uma eficiente velocidade do

processo. Contudo, temperaturas acima dos 30ºC podem degradar a camada granular dérmica

da pele. Quase sempre são utilizados banhos curtos, conseguindo-se desta forma um grande

esgotamento dos reagentes e logo menores descargas nos efluentes. A utilização de agentes

protectores da acção mecânica (lubrificantes) é aconselhável para evitar o aparecimento de

rugas ou o esfolamento. A optimização do volume do banho deve ser feita em estreita

conjugação com a quantidade de sulfureto usada. Nos processos de caleiro com recuperação

do pêlo sugere-se a utilização de banhos na gama 100-300%2 de água com adição de

sulfureto na gama 0.12-0.37%2.

Nos processos mais modernos a remoção do pêlo do banho faz-se continuamente à medida

que este se vai libertando, utilizando para o efeito filtros que podem estar acoplados

directamente aos fulões. Desta forma minimiza-se o tempo de contacto do pêlo com os

Page 48: Guia Sectorial - Curtumes

40

sulfuretos evitando a sua deterioração, melhora-se a filtrabilidade e evitam-se os efeitos

nocivos que o pêlo libertado pode provocar na superfície da pele.

A maior parte dos compostos orgânicos sulfurados utilizados como auxiliares de depilação

reagem com grande eficiência, e mesmo os vestígios remanescentes nos banhos são

facilmente oxidáveis pelo ar, não constituindo por isso um problema ambiental. A

probabilidade de libertação gasosa de orgânicos sulfurados livres (mercaptanos) é muito

pequena, sendo bastante inferior à probabilidade de libertação de H2S nos processos

convencionais.

Gestão da utilização do crómio no curtume

O curtume propriamente dito constitui a operação central de todo o processo. É nesta fase que

as peles são convertidas em couro, por reacção do reagente curtiente com o colagénio.

Actualmente cerca de 80-90% do couro produzido a nível mundial utiliza o crómio como

agente curtiente, apesar de toda a discussão relativa à utilização de certos metais pesados e do

crómio em particular. As razões que justificam esse facto são vastas, destacando-se:

• A qualidade do couro curtido a crómio é inultrapassável por outros processos,nomeadamente no que respeita à resistência a altas temperaturas (elevada temperatura deencolhimento, > 110ºC).

• A pele na forma de wet-blue permite a preparação de inúmeros tipos de couro.

• O curtume ao crómio é ainda o processo mais económico em termos de tempo, de energiadispendida e de custo de reagentes.

• A forma wet-blue é facilmente comercializada em todo o mundo.

• A maquinaria e as tecnologias de produção instaladas nas indústrias de fabrico de bens apartir do couro estão praticamente todas projectadas para processar peles curtidas acrómio.

• O mercado de pigmentos, agentes de recurtume, engordurantes e tintas está vocacionadopara as peles curtidas a crómio.

A substituição do crómio como agente curtiente implicará pois uma necessária adequação dos

sectores de processamento dos couros, com particular relevo para a indústria do calçado. As

2 As percentagens referem-se à quantidade de pele alimentada, ou seja p.e., kg por 100 kg de pele.

Page 49: Guia Sectorial - Curtumes

exigências impostas por estes e outros industriais estarão na base da conversão das

tecnologias, mas este será seguramente um processo lento e gradual. Um exemplo típico

deste tipo de imposições são os couros para a indústria automóvel, necessáriamente livres de

crómio. Existe em Portugal uma empresa de curtumes que reconverteu o seu processo de

fabrico, com sucesso, para entrar neste mercado.

No actual estado da indústria do sector, a gestão do crómio nas instalações de curtumes é pois

de importância crucial. A figura 14 mostra um balanço típico ao crómio numa instalação

industrial, referido a 1 tonelada de pele alimentada. Do crómio introduzido no processo

(cerca de 17 Kg Cr/t pele) verifica-se que pouco mais de 70% é efectivamente incorporado na

pele, sendo o restante perdido nas águas residuais. É exactamente sobre esta fracção do

crómio perdida que se devem concentrar os esforços, objectivando uma maior eficiência no

seu uso. Relativamente ao crómio incorporado na pele, parte é também perdida como resíduo

sólido. Esta fracção, que constitui quase 30% do crómio alimentado, é porém inevitável na

maioria dos casos.

Fig.

conv

alime

PROCESSO

Pele salgada(1 tonelada)

Águas Residuais

Resíduos

Produ

BPel

Tanino de Cr16.7 Kg Cr

41

14 – Balanço mássico típico ao crómio numa instalação de curtumes com um

encional. As quantidades apresentadas referem-se às massas por tonelada de pele salg

ntada e as percentagens são referidas ao total de crómio introduzido no processo.

Couro Acabado(195 Kg)

Crutes(60 Kg)

( 100 %)4

0

(35 %) ( 10 %)

( 28 %)

( 73 %) ( 27

( 45 %) ( 55 %)

BALANÇOtos vs. Rejeitos

ALANÇOe vs. Águas

Curtume.0 Kg Cr

( 24 %)

Recurtume.53 Kg Cr

( 3 %)

5.8 Kg Cr 1.6 Kg Cr

Raspas, Aparas,Poeiras

4.77 Kg Cr

Crómio incorporado na Pele (produtos e rejeitos de pele)12.2 Kg Cr

Crómio nas Ág. Residuais4.53 Kg Cr

Crómio nos Produtos7.4 Kg Cr

Crómio nos Resíduos e Águas Residuais9.3 Kg Cr

processo

ada (ws)

%)

Page 50: Guia Sectorial - Curtumes

42

A correcta gestão do crómio numa instalação de curtumes passará pela aplicação de medidas

ou tecnologias, que aplicadas por si ou em conjunto, resultem no máximo aproveitamento

deste reagente. Das tecnologias existentes, as que têm maior potencialidade de aplicação por

estarem demonstradas à escala industrial são:

! Processos de elevada exaustão do crómio: pode-se conseguir uma elevada eficiência na

penetração e reacção do crómio na pele, com a subsequente diminuição do crómio

descarregado. É possível atingir eficiências de utilização do crómio acima dos 90% em

comparação com os cerca de 75% obtidos em processos convencionais. Os processos de

exaustão podem-se realizar de diferentes formas, nomeadamente:

• Controlo rigoroso das condições operacionais, como o volume do banho, a concentração do

crómio, o pH, a temperatura e o tempo de permanência:

Volume do banho: a utilização de banhos curtos provoca uma acção mecânica que por sua vez

favorece a velocidade de difusão do crómio pelo interior da pele até aos grupos carboxílicos

terminais das cadeias de aminoácidos. Este processo pode também ser auxiliado pelo controlo

da velocidade de agitação do fulão. Em qualquer dos casos deve ter-se em consideração que

situações extremas podem provocar defeitos irreversíveis na pele. O uso de agentes

lubrificantes é pois recomendável nestes casos.

Concentração do crómio: a eficiência de utilização do crómio depende obviamente da

quantidade do mesmo alimentada à operação de curtume. Menores concentrações de crómio

implicam necessariamente maiores exaustões, mas simultameamente um maior perigo de um

curtume incompleto ou de um couro com baixa temperatura de encolhimento. Sugerem-se

valores de 1.6-2.0% Cr2O3, ou seja, 11-14 kg Cr / t. pele.

Controlo do pH, da temperatura e do tempo de permanência: o controlo do pH é crucial nos

processos de exaustão. Este deve ser o maior possível tendo como limite o valor de pH de

precipitação do hidróxido de crómio. O valor máximo de pH atingível será de 4.5, sendo a

nível industrial mais seguro não ultrapassar o valor 4.0. O controlo do pH é realizado

industrialmente pela adição de agentes basificantes que neutralizam não só a possível acidez

remanescente da operação de piquelagem como também a acidez gerada na própria reacção de

curtume. Estes reagentes podem ser adicionados separadamente ou em conjunto com o agente

curtiente. São utilizados basificantes lentos como o MgO. O aumento da temperatura também

favorece a fixação do crómio, podendo utilizar-se valores até 45ºC, sendo importante que o

Page 51: Guia Sectorial - Curtumes

43

aquecimento se efectue desde o início do processo. O aumento gradual e lento tanto da

temperatura como do pH ao longo do tempo de reacção é crucial para o sucesso do processo.

Finalmente refira-se que o tempo de permanência favorece a eficiência de reacção do crómio;

terá em cada caso de se encontrar um compromisso entre o grau de fixação pretendido e o

tempo de reacção utilizado, de acordo com critérios de natureza técnica e económica.

• Utilização de auxiliares de curtimenta como agentes sequestrantes e activadores do colagénio:

Agentes sequestrantes: estes compostos, vulgarmente ácidos dicarboxílicos de cadeia curta

mas também dicarboxilatos alifáticos e poliacrilatos de baixo peso, actuam por complexação

do crómio estabilizando-o em solução e evitando a sua precipitação. Desta forma consegue-se

realizar o processo de curtimenta a um pH superior (4.5, por exemplo) sem que ocorra

formação de hidróxido de crómio. Através de uma migração eficiente dos complexos

formados, conseguem-se distribuições do crómio muito uniformes por toda a secção da pele.

Estes compostos encontram-se em formulações de agentes taninos fornecidas pelos principais

fabricantes de matérias-primas para o sector.

Activadores do colagénio: por este processo conseguem-se aumentar o número de centros

activos no colagénio da camada dérmica, favorecendo pois a fixação do crómio. Para tal

utiliza-se o ácido glioxílico (OHCCOOH), que ao reagir com os grupos “amina” das cadeias

proteicas, fornece grupos carboxílicos adicionais à estrutura. Verificou-se que a eficiência do

processo é melhorada quando o agente activador é adicionado na operação de piquelagem.

Existem produtos comerciais no mercado contendo estes auxiliares de curtimenta.

Verifica-se pois que existem actualmente uma série de opções para melhorar a eficiência

reactiva do crómio. Cada empresa deverá avaliar qual das opções é a mais favorável para

o seu processo. Refira-se que, idealmente, a melhor solução será a utilização conjunta de

várias das estratégias anteriormente referidas. De facto, a combinação entre a

optimização dos parâmetros e a utilização de agentes auxiliares é a base dos processos de

curtimenta modernos e ambientalmente mais limpos. Os custos inerentes à utilização de

produtos químicos bastante mais caros do que os convencionais deverá ser compensado

pelos ganhos em eficiência e pela diminuição dos custos de tratamento dos efluentes.

! Reutilização dos banhos esgotados de curtume: a forma mais óbvia e aparentemente mais

simples de reaproveitamento dos banhos esgotados de crómio é a sua reutilização directa

no processo. Podem-se utilizar vários arranjos no esquema processual, de que são

exemplos:

Page 52: Guia Sectorial - Curtumes

44

• Recirculação do banho esgotado (incluindo as águas do escorrimento) para o banho seguinte

de curtume.

• Recirculação do banho esgotado de curtume para a piquelagem.

• Utilização de uma etapa de pré-curtume utilizando o crómio residual dos banhos de curtume.

Este tipo de processos permitem não só um reaproveitamento da água, diminuindo o seu

consumo e os custos do seu tratamento, como também a reutilização do crómio residual e

logo uma maior eficiência global no seu uso. Obviamente que em todas as opções

apresentadas está subjacente a reposição da quantidade de produtos químicos consumida

no banho anterior. Este facto pode originar a necessidade de um controlo analítico

permanente dos banhos, o que nem sempre é possível com os meios existentes. Outra

desvantagem será a acumulação de sais solúveis nos banhos, que ao fim de algumas

recirculações atingem níveis impraticáveis, pelo que o banho terá de ser descarregado

definitivamente, ou em alternativa purgado regularmente. O balanço de volumes nos

processos de recirculação terá também de ser acautelado. Sendo os mecanismos

reaccionais do curtume extremamente sensíveis aos parâmetros do sistema, a

recirculação dos banhos pode originar variações nas condições do processo tornando-o

difícil de controlar. A acumulação de impurezas (gorduras, por exemplo) pode também

originar o aparecimento de manchas ou a descoloração. Estas serão seguramente fortes

razões para uma certa resistência (justificável) na aplicação destes processos de

recirculação dos banhos.

! Recuperação do crómio residual e sua reciclagem para o processo: Neste processo,

utilizado em Portugal no sistema de Alcanena (unidade SIRECRO), o crómio nos banhos

esgotados é precipitado a pH∼ 8.5 com um agente alcalino (soda, carbonato de sódio ou

magnésia), sendo o hidróxido resultante posteriormente repolpado com ácido sulfúrico

para redissolução do crómio. A solução resultante pode então ser reciclada para o

processo produtivo. Esta opção, quando comparada com a recirculação directa dos

banhos, tem a vantagem de evitar ou pelo menos minimizar a acumulação de sais solúveis

e de impurezas nos circuitos do processo, mas exige um investimento razoável em

Page 53: Guia Sectorial - Curtumes

45

equipamento (crivos, tanques, bombas, doseadores, misturadores e eventualmente um

filtro-prensa).

Os exemplos apresentados demonstram que existem diversificadas soluções para uma melhor

gestão do crómio nas instalações de curtumes, adaptáveis a várias situações e a esquemas

produtivos diversificados. No Quadro 5 apresentam-se resumidamente as principais

características das três alternativas tecnologicas apresentadas, de onde se podem inferir as

vantagens e inconvenientes das mesmas.

Quadro 5 – Comparação das várias tecnologias para a gestão do crómio nas instalações de curtumes.

TecnologiaFactor comparativo Processos de

exaustãoRecirculação debanhos

Recuperação ereciclagem do crómio

Aspectos de natureza ambientalCrómio descarregado Muito reduzido Reduzido Muito reduzidoSais descarregados Pouco reduzidos Pouco reduzidos Pouco reduzidosFixação do crómio e sua lixiviabilidade Melhorada Sem alteração Sem alteração

ConsumosConsumo de crómio Reduzido Reduzido ReduzidoConsumo de químicos auxiliares Existente Inexistente InexistenteConsumo de água Reduzido Muito reduzido Sem alteração

Aspectos operacionaisControlo operacional no curtume Muito exigente Menos exigente Menos exigenteControlo analítico das impurezas Sem alteração Muito exigente ExigenteEquipamento adicional Pouco Algum BastanteRelação com outras operações Desencalagem eficiente Eventualmente EventualmenteNecessidade de lavagem após curtume Minimizada Sem alteração Sem alteração

Aspectos económicosInvestimento Pequeno ou nenhum Médio ElevadoCustos operacionais globais Acrescidos Sem grande alteração Acrescidos ... do consumo de crómio Reduzidos Reduzidos Reduzidos ... dos químicos adicionais Acrescidos Inexistentes Inexistentes ... energéticos Acrescidos Sem grande alteração Acrescidos ... de mão de obra e outros Sem grande alteração Acrescidos Bastante AcrescidosCustos de tratamento final de efluentes Reduzidos Reduzidos Reduzidos

Page 54: Guia Sectorial - Curtumes

46

Agentes de curtimenta alternativos ao crómio

Para além do curtume ao crómio, existem um variado número de métodos alternativos de

curtimenta, que no entanto têm actualmente uma relevância secundária pelas razões já

invocadas anteriormente. Destacam-se três tipos de processos: (1) curtimenta mineral

utilizando alumínio, titânio, zircónio, ferro ou magnésio; (2) curtimenta sintética com

compostos orgânicos e (3) curtimenta com extractos vegetais. Esta última é, como já se

referiu, o mais antigo processo de curtume conhecido e é ainda hoje utilizado no fabrico de

couros duros (solas e cabedais). Quanto aos outros processos, eles revelam-se particularmente

importantes como adjuvantes dos processos de curtume ao crómio, sendo pouco usual a sua

utilização como agentes exclusivos de curtimenta devido à baixa temperatura de

encolhimento dos couros resultantes (normalmente na gama 70-80ºC).

Os sais de alumínio são utilizados há muito tempo em processos de curtimenta. Actualmente

são conhecidos processos em que este agente é utilizado numa etapa de pré-curtume,

conseguindo-se reduções importantes no consumo de crómio na etapa seguinte. Além disso, a

etapa de pré-curtume permite a realização do rebaixamento da pele antes do curtume com as

subsequentes vantagens na eficiência e rapidez do curtume, na dimuinuição do consumo do

agente curtiente e na diminuição dos resíduos com crómio.

Os di-aldeídos são compostos orgânicos extremamente reactivos com propriedades curtientes

na pele. O glutaraldeído é o agente orgânico mais utilizado para este fim, sendo tal como os

agentes minerais, utilizado em etapas de pré-curtume. Dada a elevada reactividade destes

compostos, eles são incorporados irreversivelmente na pele e a eficiência de utilização é

virtualmente de 100% , pelo que não é de esperar nenhum teor residual nos efluentes. A

curtimenta com di-aldeídos é vulgarmente auxiliada com taninos sintéticos (syntans)

apropriados, para regular a reactividade do curtiente ou para conferir à pele uma temperatura

de encolhimento superior.

Actualmente há cada vez mais a tendência na utilização de combinações de curtimenta para

atingir as melhores propriedades possíveis nos produtos finais. Combinações de curtume

típicas são:

• Vegetal e sintética

• Sintética e polimérica

Page 55: Guia Sectorial - Curtumes

47

Estas combinações são vulgarmente precedidas de um pré-curtume com di-aldeídos. As

propriedades dos couros resultantes são adequadas para uma série de aplicações, com

particular relevância naquelas em que a ausência de crómio é exigência absoluta (caso da

indústria automóvel).

Desencalagem alternativa aos sais de amónio

As descargas de azoto amoniacal nos processos de curtumes devem-se essencialmente à

operação de desencalagem, que utiliza como agentes desencalantes sais de amónio (sulfato ou

cloreto). Existem tecnologias alternativas para a desencalagem, que utilizadas

individualmente ou em combinação permitem a eliminação, ou pelo menos a redução, das

descargas de amónio nos efluentes:

• Desencalagem com ácidos orgânicos como ácidos carboxílicos (láctico, acético, etc), seus

ésteres e ácidos aromáticos.

• Desencalagem com misturas de ácidos orgânicos e inorgânicos.

• Desencalagem com dióxido de carbono.

A utilização de ácidos orgânicos e inorgânicos deve ser realizada com precaução para evitar o

inchamento ácido da pele. Misturas de sais de amónio com ácidos orgânicos são vulgarmente

utilizadas. A desencalagem com ácido clorídrico diluído é também reportada na literatura,

após uma basificação com bicarbonato de sódio.

Uma tecnologia promissora e já implementada industrialmente em vários países do mundo é

a desencalagem com dióxido de carbono. Esta é sem dúvida uma tecnologia limpa e bastante

barata, havendo no entanto que proceder a algumas alterações ao nível dos fulões,

nomeadamente a sua transformação para admissão, distribuição e purga de gases. O maior

bloqueio na aplicação desta tecnologia prende-se com a dificuldade na distribuição eficiente

do gás no banho e na sua solubilização, podendo em certos casos originar uma desencalagem

incompleta, ou então exigir elevados tempos de permanência para esta se tornar efectiva.

Estas dificuldades são particularmente sentidas no processamento de peles espessas. Para

melhorar a eficiência e a velocidade do processo podem-se utilizar combinações de dióxido

de carbono com ácidos orgânicos, embora neste caso se desvaneçam as vantagens

Page 56: Guia Sectorial - Curtumes

48

económicas referidas. Outra alternativa, implementada com sucesso no estrangeiro e já

experimentada no nosso País, consiste na combinação do dióxido de carbono com uma menor

quantidade de sais de amónio, conseguindo-se os resultados esperados com menor

contaminação dos efluentes com azoto amoniacal e com vantagens económicas.

Produtos químicos no pós-curtume e nos acabamentos

Os principais problemas de natureza ambiental associados à utilização e descarga de produtos

químicos nas instalações de curtumes, tanto pela quantidade como pela perigosidade, foram

já abordados. Contudo, nas fases de pós-curtume e acabamentos são também utilizados

variados tipos de formulações de compostos químicos, que importa prestar a devida atenção.

Algumas medidas aplicáveis a estes casos que visam a redução da poluição gerada nas

operações do pós-curtume e acabamento são de seguida enunciadas:

• Priveligiar a utilização de formulações de compostos orgânicos que tenham a máxima

biodegradabilidade e que minimizem os valores de CQO e CBO5. Para tal devem-se

controlar rigorosamente a adição destes reagentes e as condições operacionais de forma a

atingir elevadas exaustões.

• Evitar o uso no recurtume e tingimento de azo-compostos potencialmente redutíveis a

arilaminas (aminas carcinogénicas) como a benzidina.

• Utilizar no recurtume polímeros acrílicos com baixo teor monomérico, em substituição de

amino-resinas.

• Evitar o uso de engordurantes baseados em cloroparafinas.

• Evitar o uso de corantes contendo metais pesados perigosos como o chumbo, o cádmio e

o crómio (VI), no tingimento e na pintura.

• Utilizar nos acabamentos (pinturas e revestimentos em geral) dispersões poliméricas

solúveis em água em alternativa aos sistemas de base orgânica.

Vários fornecedores de reagentes químicos para o sector já apresentam, na sua gama de

produtos, alternativas que têm em consideração os aspectos aqui apresentados.

Page 57: Guia Sectorial - Curtumes

49

4.1.5 Uso de equipamentos adequados e sua correcta operação e manutenção

O uso de equipamentos adequados, nomeadamente fulões com eficiente rotação e agitação,

devidamente operados, em perfeitas condições de funcionamento e equipados tanto quanto

possível com sistemas de monitorização e controlo, conduz a uma melhor gestão no consumo

de água e a uma utilização mais eficiente dos reagentes.

Nas fases do processo de natureza mecânica é extremamente importante a optimização dos

sistemas de corte (manual ou mecanizado) de forma a reduzir a quantidade de resíduos

sólidos e consequentemente maximizar a quantidade de produto final.

A aplicação de sistemas de filtração aos fulões utilizados em determinadas operações, como

no caleiro e no recurtume / tingimento, para a remoção contínua dos sólidos suspensos, é uma

medida que contribui para a melhoria da qualidade das águas residuais descarregadas e

subsequentemente para a diminuição dos encargos com o seu tratamento. Acrescem ainda as

vantagens de natureza processual, pois a ausência de sólidos suspensos evita o aparecimento

de defeitos na pele e melhora a eficiência reaccional dos produtos químicos.

Nas operações de acabamento, a utilização de equipamentos com elevado rendimento de

aplicação dos químicos contribui para a redução do consumo dos mesmos e para a

minimização da geração de resíduos (os reagentes perdidos) ou da contaminação das águas.

Neste âmbito devem-se utilizar pistolas de baixa pressão (sistema HVLP) e máquinas de

rolos. Existem também disponíveis no mercado sistemas de filtração das águas das cortinas

das cabines de pintura, que impedem a descarga dos desperdícios e permitem a recirculação

da água.

Para além da instalação dos equipamentos mais adequados no processo de fabrico, é

absolutamente essencial que estes sejam correctamente operados por pessoal devidamente

formado, pois de contrário as vantagens inerentes à sua utilização podem-se desvanecer.

Assim, uma formação profissional cuidada e periódica do pessoal ao serviço, tanto ao nível

dos aspectos técnicos como ao nível da sua responsabilização em todas as questões de

natureza ambiental na empresa, é imprescindível e contribuirá decisivamente para a melhoria

do processo produtivo e da qualidade.

Page 58: Guia Sectorial - Curtumes

50

Quadro 6 – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, suacorrelação com a operação onde se aplica e o resídue que previne.

Tecnologia ou Medida Operação emque se aplica

Resíduo que previne Benefícios Expectáveis(*)

Processos alternativos à salinização para a conservaçãodas peles:(1) Conservação pelo frio (arrefecimento, refrigeração,

congelação)(2) Aditivos auxiliares de perservação (antisépticos

alternativos: biocidas, sulfito/ácido acético), desde quenão tóxicos.

(3) Preservação das peles por irradiação

Conservaçãodas peles eMolho

Efluentes salinos e suacontribuição para asalinidade das lamas.

Redução da salinidade doefluente e das lamas:(1) e (3): 90%(2): 50%

Eventual redução do volumedas águas do molho.

Remoção mecânica do sal antes do Molho e sua possívelreutilização (após purificação) na conservação ou napiquelagem

Molho Efluentes salinos e suacontribuição para asalinidade das lamas.

Redução da salinidade dodo efluente e das lamas(10%) e do volume doefluente.

Utilização e gestão eficiente da água:(1) Utilização de equipamentos tipo fulão com eficientes

mistura e distribuição da águaMolho e Caleiro

(2) Utilização de sistemas em descontínuo para osprocessos de lavagem

Operações daRibeira

(3) Reutilização da água na mesma ou em outrasoperações, após remoção dos sólidos suspensos ereposição dos químicos

Operações daRibeira

Contaminação daslamas com agentesquímicos residuaisutilizados nasoperações.

Redução do volume dosefluentes da fase da Ribeirae dos contaminantes daslamas.

Caleiro com imunização do pêlo, baixo teor de sulfuretos erecuperação do pêlo:(1) Processo Sirolime – sistema multibanhos com

controlo do uso de sulfuretos e recuperação do pêlo.(2) Processo Blair-Hair – Baixo teor de sulfuretos e amina

auxiliar de depilação.(3) Processo Darmstadt – uso de meios auxiliares

mecânicos de descabela, baixo teor de sulfuretos eauxiliares enzimáticos.

Calagem ouCaleiro

Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.

Teor residual desulfuretos nos efluentes.

Redução da carga orgânica(35% CQO e CBO5, 23%NKjel) e dos sulfuretos(56%) nas águas residuais.

Redução do volume dossólidos, incluindo lamas deETAR (10%)

Caleiro com substituição parcial de sulfuretos erecuperação do pêlo:(1) Uso de enzimas proteolíticas para a depilação,

utilizando meios mecânicos auxiliares (se necessário)(2) Uso de agentes comerciais orgânicos sulfurados

baseados no tioglicolato, no tioetilenoglicol ou em saisdo ácido formamidinosulfínico.

(3) Uso de auxiliares enzimáticos com ou sem aminasauxiliares.

(4) Uso de Polisacarídeos modificados.

Calagem ouCaleiro

Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.

Teor residual desulfuretos nos efluentes.

Redução da carga orgânica(25% CQO e CBO5, 26%NKjel) e dos sulfuretos(70%) nas águas residuais.

Redução do volume dossólidos, incluindo lamas deETAR (14%)

Nota: valores apresentadospara o caso (2)

(*) Relativamente aos processos convencionais. Percentagens de redução referentes aos efluentes e sólidos globais.

Page 59: Guia Sectorial - Curtumes

51

Quadro 6 (cont.) – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, suacorrelação com a operação onde se aplica e o resíduo que previne.

Tecnologia ou Medida Operação emque se aplica

Resíduo que previne Benefícios Expectáveis

Sistemas de Recirculação dos licores alcalinos de sulfureto.(1) Banhos separados de descabela e alcalinização, com

recirculação destes após reposição de químicos.(2) Filtração dos banhos do Caleiro, com recuperação do

pêlo, e reutilização das águas(3) Ultrafiltração dos banhos esgotados do Caleiro e

reciclagem do permeado para a mesma operação.(4) Utilização dos banhos esgotados em outras operaçõs

após dessulfurização catalítica(5) Acidificação dos banhos esgotados e recolha do H2S

libertado em soda para posterior aplicação

Calagem ouCaleiro

Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.

Teor residual desulfuretos nos efluentes.

Redução da carga orgânicae dos sulfuretos nas águasresiduais e redução dovolume, carga orgânica econtaminação das lamas.

Remoção do pêlo no matadouro por têmpera com águaquente.

Calagem ouCaleiro

Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.

Teor residual desulfuretos nos efluentes.

Redução da carga orgânicae dos sulfuretos nas águasresiduais e redução dovolume, carga orgânica econtaminação das lamas.

Realização da operação de descarnagem antes do caleiro Descarnagem Contaminação dosresíduos de descarnacom sulfureto

Maior probabilidade nautilização dos resíduos dedescarna.

Realização da operações de divisão na pele não curtida(divisão em tripa)

Divisão Raspas da divisão comcrómio.

Redução (45%) daquantidade de resíduos comcrómio.

Possível utilização das ras-pas não curtidas no fabricode gelatinas, colas, etc.

Desencalagem alternativa aos sais de amónio:(1) Desencalagem com dióxido de carbono(2) Desencalagem com ácidos orgânicos (láctico, acético)(3) Desencalagem com sais de magnésio(4) Desencalagem com ácido clorídrico e bicarbonato de

sódio

Desencalagem Contaminação dosefluentes e das lamascom azoto amoniacal.

Redução da contaminaçãocom azoto amoniacal daságuas residuais e das lamas:(1) 65%(2) 75%

Desengorduramento aquoso ou enzimático, em alternativaaos solventes

Desengordura-mento

Resíduos líquidoscontendo solventesorgânicos.

Redução (100%) dosresíduos com solventesorgânicos.

Centrifugação das peles antes do curtume para estimativaprecisa do peso da pele

Preparaçãopara o curtume

Licores de curtimentacom crómio.Lamas com crómio.

Redução na sobredosagemde reagentes (crómio) esubsequente redução do seuteor nas águas e nas lamas

(*) Relativamente aos processos convencionais. Percentagens de redução referentes aos efluentes e sólidos globais.

Page 60: Guia Sectorial - Curtumes

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Quadro 6 (cont.) – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, suacorrelação com a operação onde se aplica e o resíduo que previne.

Tecnologia ou Medida Operação emque se aplica

Resíduo que previne Benefícios Expectáveis

Processos de exaustão do crómio:(1) Curtume “a seco” (utilização de banhos curtos):

técnicas low-float(2) Controlo rigoroso da temperatura, dos tempos de

basificação e de reacção, e do pH(3) Utilização de compostos de crómio autobasificantes(4) Uso de auxiliares de curtume para fixação do crómio

(essencialmente di ou policarboxilatos e poliacrilatos,mas também aminas, polifosfatos e silicatos)

Curtume aocrómio

Licores de curtimentacom crómio.Lamas com crómio.

Redução do crómiodescarregado nas águasresiduais:(2) 50%(4) 70%

Redução (10%) do volumedas lamas e redução (65%)do seu teor em crómio.

Recirculação dos banhos de curtimenta, recuperação ereciclagem do crómio(1) Recirculação directa: recirculação de parte do banho

esgotado após passagem por crivo, filtro ouhidrociclone, e reposição dos químicos

(2) Recirculação para a Piquelagem: recirculação de partedos banhos esgotados de crómio para a piquelagem,após crivagem e arrefecimento.

(3) Recuperação do sulfato de crómio: precipitação doCr(OH)3, sua redissolução em ácido e reciclagem dolicor para o curtume.

Curtume aocrómio

Licores de curtimentacom crómio.Lamas com crómio.

Redução do crómio descar-regado nas águas residuais:(1)+(2): 45% (3): 78%

Redução do volume daslamas:(1)+(2): 7% (3): 12%

Redução do teor em crómionas lamas:(1)+(2): 65% (3): 85%

Utilização de agentes de curtimenta alternativos ao crómio(1) Curtimenta mineral alternativa: utilização de outros

agentes como alumínio, titânio ou zircónio (wet-white).(2) Processo TAL (ICI) – utilização de substâncias

curtientes alternativas como Ti, Al e Mg(3) Curtume com agentes taninos orgânicos alternativos

como o glutaraldeído (wet-white)(4) Redução no uso do crómio por introdução de um pré-

curtume de alumínio ou de glutaraldeído(5) Utilização de agentes de curtimenta auxiliares do

crómio: minerais, orgânicos, vegetais e syntans

Curtume Licores de curtimentacom crómio.Lamas com crómio.

Redução ou eliminação docrómio descarregado naságuas residuais.

Redução do volume daslamas e do seu teor emcrómio.

Exaustão dos agentes de tingimento e engorduramento, porutilização de polímeros anfotéricos e controlo rigoroso dascondições operacionais (pH, temperatura, volume do banho)

Tingimento eEngordura-mento

Contaminação daságuas residuais e daslamas

Redução da quantidade decorantes e/ou gorduras naságuas residuais e nas lamas(redução de 60% do CQO)

Filtração dos banhos de tingimento e sua reciclagem parcial(50%, p.ex.) após reposição dos agentes

Tingimento Contaminação daságuas residuais e daslamas

Redução da quantidade decorantes e/ou gorduras naságuas residuais e nas lamas

Fulões equipados com sistemas contínuos de filtração dosbanhos

CaleiroCurtumeTingimento

Contaminação daságuas residuais e daslamas

Redução da quantidade dematéria orgânica, pêlo,corantes e gorduras naságuas residuais e nas lamas

Equipamentos de pintura e de outros revestimentos comelevada eficiência:(1) Máquinas de rolos rotativos(2) Sistemas de spray HVLP (high-volume-low-pressure)(3) Sistemas de filtração e reciclagem das águas nas

cortinas das cabines de acabamentos

Acabamentos Contaminação daságuas e das lamas comresíduos de acabamento(lacas, tintas, graxas,etc).

Redução dos desperdíciosde produtos de acabamento:30% em (1) e 10% em (2)

Redução do seu teor naságuas e nas lamas.

(*) Relativamente aos processos convencionais. Percentagens de redução referentes aos efluentes e sólidos globais.

Page 61: Guia Sectorial - Curtumes

53

4.2 Capacidade de Produção por Operação e Quantificação dos Benefícios

A estimativa da capacidade de produção por operação unitária do processo, para a totalidade

do sector, combinada com a previsão dos benefícios resultantes pela aplicação das principais

tecnologias de prevenção, permite uma avaliação dos efeitos da aplicação das mesmas no

País. Esta estimativa foi realizada com base nos dados disponíveis das quantidades de matéria

prima tratada, dos produtos finais produzidos e dos resíduos gerados, cujos resultados já

foram apresentados no capítulo anterior. Aplicando a estes dados as reduções previsíveis (na

quantidade ou contaminação) resultantes da aplicação das tecnologias de prevenção, obtêm-

se os resultados apresentados no Quadro 7. Estes resultados correspondem aos benefícios

calculados por operação e para todo o país, no pressuposto de que se aplica uma dada

tecnologia a essa operação mantendo as outras operações a funcionar segundo o processo

convencional.

A aplicação das tecnologias de recuperação do pêlo à operação do caleiro pode resultar numa

redução de cerca de 50-70% na carga orgânica dos efluentes da operação e de 56-70%

nos sulfuretos (45-56 toneladas/ano de S2- não descarregadas). Poupa-se igualmente quase

100 000 m3 de água anualmente.

A realização da descarnagem antes do caleiro permitiria reduzir os resíduos contaminados

com sulfureto em 16 mil toneladas/ano, enquanto que a operação de divisão em tripa

reduziria anualmente os resíduos com crómio em cerca de 4 mil toneladas. Estas estimativas

correspondem obviamente a limites máximos admitindo que todas as empresas passariam a

operar desta forma, o que é irrealista. Podem-se no entanto traçar cenários a partir destes

valores de referência.

A adopção dos processos de exaustão do crómio ou de recirculação dos licores esgotados, de

acordo com a previsão apresentada, reduziria as descargas deste metal nos banhos de curtume

em cerca de 100-120 toneladas/ano. Um maior aproveitamento seria ainda possível por

utilização do processo de recuperação do crómio por precipitação, mas estando este sistema

já implementado em Alcanena, o seu efeito real no país aplicado às empresas fora dessa

região seria globalmente pouco significativo.

Page 62: Guia Sectorial - Curtumes

54

Quadro 7 – Estimativa da capacidade de produção no país por operação unitária e quantificação dosbenefícios da aplicação de algumas tecnologias/medidas de prevenção pelas empresas do sector.

Capacidade de Tecnologia / medida Descargas(1) e quantificação dos benefíciosOperação produção anual

(estimativa)a instalar No processo

convencionalPor aplicação da

tecnologia / medidaCaleiro 338 000 m3 água

32 100 t peleImunização, baixo teor desulfuretos e recuperação dopêlo por filtração

CQO = 2700 t/anoCBO5 = 963 t/anoN(Kjel) = 193 t/anoS2- = 80 t/anoLamas(2)=8 100 t/anoÁgua=338 000 m3/ano

CQO = 835 t/anoCBO5 = 290 t/anoN(Kjel)= 80 t/anoS2- = 35 t/anoLamas(2)=5 400 t/anoÁgua=236 600 m3/ano

Idem mas com uso deagentes orgânicos sulfuradospara depilação

CQO = 1284 t/anoCBO5 = 482 t/anoN(Kjel) = 80 t/anoS2- = 24 t/anoLamas(2)=5 500 t/anoÁgua=247 000 m3/ano

Descarnagem 48 150 t pele Descarnagem antes docaleiro

Resíduos contaminadoscom S2- = 20 093 t/ano

Resíduos contaminadoscom S2- = 4 019 t/ano

Divisão 14 615 t pele Divisão em tripa Resíduos com crómio =20 356 t/ano

Resíduos com crómio =16 285 t/ano

Desencalagem 237 000 m3 água28 057 t pele

Desencalagem com ácidosorgânicos

N(NH4) = 154 t/anoÁgua=237 000 m3 /ano

N(NH4) = 3.2 t/anoÁgua=203 000 m3 /ano

Desencalagem com dióxidode carbono

N(NH4) =23 t/anoÁgua=169 000 m3 /ano

Curtume (3) 28 057 t pele59 400 m3 água

Exaustão com controlo dascondições operacionais

Crómio = 128 t/anoNaCl = 1 770 t/anoSais (4) = 1 570 t/anoÁgua=59 400 m3/anoLamas(2)= 5 000 t/ano

Crómio = 32 t/anoNaCl = 1 770 t/anoSais (4) = 1 500 t/anoÁgua=56 800 m3/anoLamas(2)= 3 800 t/ano

Exaustão com utilização deauxiliares de curtimenta(sequestrantes ouactivadores)

Crómio = 8.7 t/anoNaCl = 1 770 t/anoSais (4) = 1 310 t/anoÁgua=55 800 m3/anoLamas(2)= 3 800 t/ano

Recirculação dos licores decurtimenta após filtração

Crómio = 21 t/anoNaCl = 1 770 t/anoSais (4) = 900 t/anoÁgua=7 060 m3/anoLamas(2)= 4 150 t/ano

Recuperação do crómio porprecipitação e sua reciclagempara o curtume

Crómio = 2.6 t/anoNaCl = 1 770 t/anoSais (4) = 2 500 t/anoÁgua=58 400 m3/anoLamas(2)= 3 600 t/ano

RecurtumeTingimento/En-gorduramento

18 700 t pele200 000 m3 água

Exaustão dos agentes doprocesso

CQO = 960 t/anoCBO5 = 450 t/ano

CQO = 380 t/anoCBO5 = 190 t/ano

Acabamentos 10 500 000 m2 pele Utilização de pistolas HVLP Prod. acabamento = 107t/ano

Prod. acabamento = 94t/ano

Utilização de máquinas derolos

Prod. acabamento = 40t/ano

(1) Na operação unitária e para posterior tratamento em ETAR.(2) Estimativa da quantidade de lama gerada relativamente à operação unitária, excluindo sólidos grosseiros suspensos.(3) Piquelagem incluída.(4) Outros sais que não o NaCl, nomeadamente sulfatos de sódio e magnésio.

Page 63: Guia Sectorial - Curtumes

55

As descargas de produtos de acabamento (tintas, lacas, óleos, etc) podem também ser

reduzidas por aplicação das tecnologias apresentadas. As pistolas de baixa pressão

permitiriam reduzir em 13 t/ano os desperdícios destes produtos, enquanto que a utilização

das máquinas de rolos os reduziriam em 67 t/ano. Deve-se no entanto notar que este último

valor é certamente inatingível, pois a tecnologia de pintura (ou outro revestimento) a rolo não

é sempre alternativa à pistura a pistola, pois estes dois processos podem conferir diferentes

tipos de acabamento à pele. O que se pode efectivamente afirmar é que, sempre que possível,

dever-se-à optar pela pintura a rolo.

A diminuição da quantidade de lamas gerada está associada à aplicação da maioria das

tecnologias e medidas de prevenção apresentadas, tal como se pode avaliar pelos valores

apresentados no Quadro. Estes valores representam a contribuição de cada operação unitária

para a formação das lamas no tratamento de efluentes e são, obviamente, valores meramente

indicativos.

A aplicação simultânea de várias tecnologias/medidas de prevenção a diversas operações

unitárias permitirá resultados globais mais significativos. No Quadro 8 apresenta-se o

exemplo da aplicação de quatro tecnologias e a respectiva estimativa dos benefícios

expectáveis, em relação à capacidade de produção do país. A tecnologia de caleiro com

recuperação do pêlo conjuntamente com a exaustão dos agentes de

recurtume/tingimento/engorduramento permitiriam reduzir substancialmente a matéria

orgânica descarregada (redução de 2000 t/ano CQO, 700 t/ano CBO5 e 120 t/ano N-kjel). A

descarga anual de sulfuretos seria reduzida de 60 toneladas. A desencalagem com dióxido de

carbono reduziria em 135 t/ano as emissões de azoto amoniacal, enquanto que os processos

de exaustão do crómio contribuiriam para diminuir a descarga de crómio em 110 t/ano. A

redução em cerca de 6 mil toneladas das lamas de ETAR produzidas anualmente seria

também um forte benefício da aplicação destas tecnologias.

Estes exemplos devem ser interpretados com valor indicativo e sugestivo, pois a conjugação

simultânea das diferentes tecnologias apresentadas nem sempre pode ser aplicada na

fabricação de determinados produtos.

Page 64: Guia Sectorial - Curtumes

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Quadro 8 – Simulação dos benefícios da aplicação de algumas tecnologias/medidas de prevenção emconjunto, pelas empresas do sector, para a capacidade de produção do país.

OperaçãoCapacidade deprodução anual Tecnologias / medidas

Descargas e quantificação dos benefícios

(estimativa) a instalar No processoconvencional

Por aplicação dastecnologias / medidas

Processocompleto

1 105 000 m3 água32 100 t pele

Combinação das tecnologiasreferidas atrás:- Caleiro com imunização e

agentes orgânicos sulfurados- Desencalagem com CO2- Exaustão no curtume e no

tingimento- Utilização de pistolas HVLP

CQO = 5 620 t/anoCBO5 = 1 900 t/anoN(Kjel) = 460 t/anoS2- = 80 t/anoN(NH4) = 200 t/anoCrómio = 160 t/anoProd.Acab=107 t/anoLamas=17500 t/anoÁgua=1105 000 m3/ano

CQO = 3 600 t/anoCBO5 = 1 190 t/anoN(Kjel) = 340 t/anoS2- = 22 t/anoN(NH4) = 65 t/anoCrómio = 48 t/anoProd.Acab=94 t/anoLamas=11400 t/anoÁgua=940 000 m3/ano

Page 65: Guia Sectorial - Curtumes

57

5. ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÓMICA E DOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

5.1 Estado Actual da Implementação das Tecnologias e Medidas de Prevenção no País

Nos últimos anos tem-se assistido a uma progressiva consciencialização das empresas

nacionais nos aspectos de natureza ambiental. De facto, algumas empresas introduziram-nos

activamente nos mecanismos da sua gestão e outras utilizam-nos mesmo como imagem de

marca. Contudo, se é certo que muitas empresas já cumprem a legislação ambiental, tendo

instalado atempadamente as suas estações de tratamento de efluentes, já nos aspectos da

prevenção da poluição e da produção mais limpa há ainda muito a fazer no sector. Muitas das

tecnologias e medidas de prevenção identificadas não estão ainda implementadas no país ou

pelo menos não estão divulgadas em larga escala nas empresas. No Quadro 9 apresenta-se o

cenário da implementação no país de algumas tecnologias preventivas consideradas como

importantes, sendo igualmente referidos os principais bloqueios à sua implementação.

Além dos bloqueios e constrangimentos apresentados individualmente para cada tecnologia

proposta, há ainda outros de carácter mais geral que podem ser apresentados e que se

resumem de seguida.

Riscos associados com as alterações do processo produtivo

Este é seguramente o principal constrangimento à implementação de algumas das tecnologias

preventivas às empresas do sector. De facto, o processamento de um produto de origem

natural como são as peles dos animais é extremamente sensível e de difícil operação e

controlo. Qualquer alteração ao processo, mesmo que aparentemente menor, pode resultar em

variantes a montante e a jusante da operação actuada, originando um descontrolo cujo

reajustamento pode ser moroso e portanto dispendioso. Casos há de empresas que testaram

algumas tecnologias (processos com baixo teor de sulfuretos, exaustão do crómio e

desencalagem com dióxido de carbono) e que regrediram para os processos convencionais,

por esta razão. Ver as tecnologias demonstradas e instaladas com sucesso em outras empresas

do sector é factor considerado primordial. As empresas tecnologicamente mais avançadas e

com melhor formação ao nível do pessoal são as que mais facilmente implementarão este tipo

de tecnologias.

Page 66: Guia Sectorial - Curtumes

58

Inexistência de alternativas de escoamento dos resíduos não curtidos

Certas tecnologias como a descarnagem antes do caleiro e a divisão em tripa, só têm sentido

numa perspectiva de melhorar o escoamento destes residuos menos contaminados (com

sulfuretos ou com crómio). Não havendo no país unidades que aproveitem os resíduos de pele

não curtida (na produção de colas, gelatinas, rações) torna-se difícil a implementação de tais

tecnologias, pois as empresas não reconhecem as vantagens inerentes. A aplicação destes

resíduos na agricultura, numa perspectiva mais integrada e generalizada, é uma outra forma

de fomentar a aplicação das referidas tecnologias.

Funcionamento das ETAR’s e controlo dos parâmetros de descarga

É reconhecido que existem discrepâncias na forma como as descargas são controladas pelas

diferentes autoridades locais, as quais apresentam diversificados níveis de exigência e de

controlo. Este facto, além de constituir uma injustiça do ponto de vista da competitividade,

pode também ter implicações na adopção por parte das empresas de determinadas tecnologias

de prevenção. Exemplificando, (1) quando não é controlada a descarga de azoto amoniacal

torna-se mais difícil a implementação pela empresa de processos de desencalagem com

baixos teores de sais de amónio; (2) quando o controlo da carga orgânica nos efluentes é

realizado em gamas muito alargadas, a redução dos valores de CQO e CBO5 resultantes da

aplicação de tecnologias de recuperação do pêlo no caleiro, pode não ser suficiente para

originar os benefícios que justifiquem a sua aplicação.

Outro exemplo claro refere-se aos processos de exaustão do crómio aplicados às empresas

que utilizam o sistema de gestão de efluentes de Alcanena. A aplicação destas tecnologias

pode resultar num problema para a empresa, podendo esta ver-se na situação de gerar um

efluente cujo teor em crómio é inferior ao mínimo exigível para a unidade de reciclagem do

crómio (SIRECRO) e simultaneamente superior ao máximo permissível para a descarga no

colector geral da ETAR.

Outros constrangimentos importantes e invocados por empresas do sector referem-se à falta

de incentivos financeiros ou fiscais para fazer face aos investimentos ou aos custos inerentes

e ainda a falta de apoio técnico para avaliar correctamente as opções processuais.

Page 67: Guia Sectorial - Curtumes

59

Quadro 9 – Implementação de algumas tecnologias e medidas de prevenção no país para o sector eidentificação dos bloqueios.

Tecnologia ou medida Importânciarelativa

Difusão e aplicação no sector Bloqueios e constrangimentos

Processos de conservaçãoalternativos à salinização

Pequena Praticamente nenhuma aplicaçãoe com poucas potencialidades amédio prazo.

A conservação no frio é cara eimplicaria uma reconversão tambémao nível dos fornecedores.

Remoção mecânica do sal esua reutilização

Pequena Pouco divulgada e aplicada.Potencialidade pequena a médioprazo.

Possível acumulação demicroorganismos no sal reciclado.Calcinação do sal dispendiosa.

Gestão eficiente da água porcontrolo dos caudais e/ourecirculação de banhos

Moderada Divulgada e aplicada em algumasempresas. Possibilidade real dedifusão no sector.

Informação, divulgação e apoiotécnico necessário.

Caleiro com imunização dopêlo, baixo teor de sulfuretose recuperação do pêlo

Elevada Muito rara. Pensa-se que apenasuma empresa a pratica. Compossibilidades de difusão a médioprazo.

Controlo do processo mais difícil,exigindo preparação técnica.Dificuldades no escoamento deresíduos não curtidos.

Idem, mas com auxiliares dedepilação orgânicos

Elevada Muito rara. Com possibilidadesde difusão a médio prazo, desdeque demonstrado na prática queresulta num aumento da área dapele.

Controlo do processo mais difícil eencarecimento dos produtosquímicos. Dificuldades noescoamento de resíduos nãocurtidos.

Sistemas de recirculação doslicores alcalinos de sulfuretoapós filtração

Elevada Vulgarmente associado às duastecnologias anteriores, portantodependente da aplicação dasmesmas.

Não há bloqueios excepto osresultantes dos referentes às duastecnologias anteriores.

Sistemas de recirculação doslicores alcalinos de sulfuretoapós ultrafiltração

Elevada Não existem casos no país.Possibilidade de implementaçãoa médio prazo.

A ultrafiltração é dispendiosa e teráde ser demonstrada com rigor e alarga escala a sua aplicabilidade àságuas do caleiro.

Descarnagem antes docaleiro

Moderada Não muito aplicada. Compotencialidades de difusão.

Origina alteração na ordem dasoperações do processo produtivo.

Divisão em tripa Elevada Moderadamente divulgada eaplicada em algumas empresas,principalmente no produção depeles para estofos.

Origina alteração na ordem dasoperações do processo produtivo.Tecnicamente mais difícil de operar.Dificuldades no escoamento deresíduos não curtidos.

Desencalagem com ácidosorgânicos

Elevada Aplicada mas em combinaçãocom os sais de amónio.

Encarecimento do processo devidoaos produtos químicos.

Desencalagem com dióxidode carbono

Elevada Conhecida, testada por algumasempresas, mas nãoimplementada a grande escala.

Dificuldade de implementação àspeles espessas. Necessita dedemonstração inequívoca.

Desengorduramento aquoso Elevada Divulgada e implementadagenericamente.

-

Processos de elevadaexaustão do crómio

Elevada Aplicada em algumas empresas.Boas potencialidades de difusãodentro do sector.

Exige controlo rigoroso dascondições operacionais, logoformação técnica adequada. Riscode curtimenta ineficiente.

Recirculação dos banhos decurtimenta após filtração

Elevada Raramente aplicada. Menorpotencialidade de divulgação doque os processos de exaustão.

Exige controlo rigoroso dascondições operacionais, logoformação técnica adequada. Riscode acumulação de impurezas.

Page 68: Guia Sectorial - Curtumes

60

Quadro 9 (cont.) – Implementação de algumas tecnologias e medidas de prevenção no país para osector e identificação dos bloqueios.

Tecnologia ou medida Importânciarelativa

Difusão e aplicação no sector Bloqueios e constrangimentos

Recuperação do crómio esua reciclagem para oprocesso

Elevada Aplicada em Alcanena no sistemaglobal SIRECRO. Poucaspossibilidades de aplicação emoutras regiões.

Elevado investimento, sócomportável para capacidades deprodução relativamente elevadas.

Agentes de curtimentaalternativos ao crómio

Moderada Utilizada por vezes como comple-mento ao crómio. Utilizada naprodução de peles para a indús-tria automóvel por uma empresa.Poucas potencialidades no paísem larga escala.

Dificuldade de aplicação à produçãode peles para calçado.

Exaustão de agentes detingimento e engorduramento

Moderada Divulgação e utilizaçãomoderadas. Possibilidades dedifusão no sector.

A utilização de auxiliares (fixadores)pode aumentar os custos com osreagentes químicos.

Cabinas de aplicação deacabamentos com pistolasHVLP

Moderada Divulgada e implementada emalgumas empresas. Aplicaçãogeral a curto prazo muitoprovável.

-

Acabamentos por aplicaçãocom máquinas de rolos

Moderada Muito divulgada e implementadano sector.

-

Page 69: Guia Sectorial - Curtumes

61

5.2 Tecnologias e Medidas de Potencial Aplicação: Descrição Técnica e Análise da Viabilidade.

Após a apresentação das principais tecnologias e medidas de prevenção para o sector e da

avaliação do grau de implementação das mesmas no país, torna-se importante realizar uma

descrição mais detalhada de algumas dessas tecnologias, pormenorizando alguns aspectos de

natureza tecnológica, evidenciando os benefícios de natureza ambiental subsequentes à sua

aplicação e finalmente analisando a sua viabilidade em termos económicos.

As tecnologias avaliadas neste guia foram:

(1) Caleiro com recuperação do pêlo

(2) Descarnagem antes do caleiro

(3) Divisão em tripa

(4) Desencalagem com dióxido de carbono

(5) Processos de elevada exaustão do crómio

(6) Recirculação dos licores de curtimenta e recuperação do crómio por precipitação

(7) Aplicação de acabamentos com tecnologias avançadas

Para cada uma destas tecnologias, apresenta-se uma descrição técnica evidenciado os seus

benefícios quando comparadas com as tecnologias convencionais e procede-se a uma

avaliação económica. Nesta avaliação, estima-se o investimento necessário (quando fôr caso

disso), a variação dos custos operacionais do processo, essencialmente os que envolvem os

produtos químicos utilizados e ainda a variação dos custos de tratamento de efluentes e de

deposição dos resíduos.

Os dados de natureza técnica assim como os preços e custos unitários utilizados, foram tanto

quanto possível obtidos com base em dados nacionais, essencialmente através das empresas

potenciais fornecedoras das tecnologias e dos produtos químicos para o sector. Contudo, em

alguns casos foi necessário transpor dados da literatura internacional, quer pela sua

inexistência no país quer pela impossibilidade de os obter em tempo útil.

Page 70: Guia Sectorial - Curtumes

62

Os custos referentes ao tratamento da efluentes e à deposição de resíduos foram avaliados

com base nos valores praticados no sistema de gestão de Alcanena (aproximadamente 300$00

/m3 de efluente e 1500$00/m3 de resíduo deposto). Dado que a aplicação da maioria das

tecnologias apresentadas não representam necessariamente uma diminuição no volume dos

efluentes mas sim uma melhoria no nível da sua contaminação (por exemplo CQO/CBO5, Cr,

S2-, etc) houve a necessidade de decompor o custo unitário (300$00) em parcelas que

reflectissem a influência nesse custo dos vários parâmetros. Exemplificando, a concentração

em crómio influencia os custos dos neutralizantes usados na ETAR e os custos da

decantação/filtração; os valores de CQO/CBO5 influenciam o arejamento do tratamento

biológico; o teor de sulfuretos também condiciona o arejamento dos tanques de

dessulfuração. A decomposição do custo unitário foi realizada de forma mais ou menos

empírica tendo em consideração dados recolhidos na literatura sobre variações dos custos de

tratamento em função da alteração dos parâmetros do efluente, ajustando estes dados com

informações recolhidas junto de especialistas. De referir ainda que a quantidade de lama

gerada nas ETAR’s depende dos parâmetros dos efluentes descarregados, tendo-se

considerado também estas variações nos cálculos realizados. Sendo certo que as empresas

que operam fora da região de Alcanena têm custos ambientais de tratamento e gestão de

efluentes/resíduos muito superiores aos indicados, também é um facto que ao ser

demonstrada a viabilidade de algumas tecnologias para a situação presente, maior sentido

essas mesmas tecnologias terão para os casos em que os custos ambientais sejam superiores.

De qualquer forma, a informação aqui contida deve ser sempre interpretada com carácter

indicativo e sugestivo, devendo em cada caso o industrial proceder a cálculos mais concretos

e objectivos de forma a encontrar as respostas adequadas à sua situação particular.

Refira-se ainda que nos exemplos apresentados são comparados apenas os custos que de

alguma forma são relevantes para o caso em estudo. Quando são referidos os totais dos custos

operacionais é óbvio que não se trata de todos os custos da operação mas apenas o total

daqueles que são comparáveis e relevantes nessa situação.

Page 71: Guia Sectorial - Curtumes

63

5.2.1 Caleiro com recuperação do pêlo

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

Os processos de caleiro com recuperação do pêlo objectivam a remoção do pêlo da pele

evitando a sua pulverização/solubilização. Consegue-se desta forma diminuir acentuadamente

a carga orgânica dos efluentes e permitir a eventual valorização do pêlo como fertilizante.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

Esta tecnologia processa-se habitualmente em três fases: a imunização da queratina do pêlo, a

depilação com Na2S / NaHS ou agentes orgânicos e finalmente a recalagem. O pêlo é

continuamente filtrado do banho, durante o processo, por acção de um filtro acoplado ao

fulão. Este ultimo, por sua vez, deve estar equipado com um fundo falso que recolhe a

solução para permitir a recirculação desta. A utilização de menores teores de sulfureto

combinada com a remoção contínua do pêlo (diminuindo assim o seu tempo de contacto com

o banho sulfuretado), evita a sua destruição.

Na figuras 15 e 16 apresentam-se os diagramas processuais correspondentes a esta

tecnologia, nomeadamente:

(1) O processo convencional;

(2) O processo com recuperação do pêlo utilizando baixo teor de sulfuretos;

(3) O processo com recuperação do pêlo utilizando reagentes orgânicos baseados no

tioetilenoglicol, TEG, (ou mercaptoetanol) como agente de depilação;

(4) O processo com recuperação do pêlo utilizando reagentes orgânicos baseados no

tioglicolato, NaTG, (sais do ácido mercaptoacético) como agente de depilação.

Os balanços de produtos químicos e de água referem-se aos consumos e descargas globais da

operação unitária, sem haver nenhuma referência à sequência das adições desses químicos

nem aos tempos de permanência. Mais pormenores referentes aos procedimentos para

aplicação das tecnologias aqui apresentadas devem ser recolhidos junto dos fornecedores das

tecnologias, nomeadamente nas empresas vendedoras de produtos químicos. O controlo das

condições operatórias é importante, particularmente da temperatura (aconselha-se 28ºC). A

Page 72: Guia Sectorial - Curtumes

título de exemplo resumem-se de seguida a sequência das operações, para 1 tonelada de pele

(ws) alimentada:

Baixo teor desulfuretos

Auxiliar dedepilação TEG

Auxiliar dedepilação NaTG

Imunização 1 m3 água + agenteredutor + 15 Kg cal1 hora de rotação

0.5 m3 água + 11 Kg TEG1 hora de rotação8 Kg cal (pH=11.5)1 hora de rotação

0.8 m3 água + 13 Kg NaTG +10 Kg cal (pH=12)1.5 horas de rotação

Depilação 10 Kg NaHS1 hora de rotaçãoRecirculação do banhoe filtração3 horas de rotação

10 Kg Na2S, agente lubrificante,recirculação e filtração2 horas de rotação

10 Kg NaHS, recirculação efiltração1.5 horas de rotação

Recalagem 5 Kg Na2S + 7.5 Kg calrotação durante a noite

16 Kg cal, 0.5 m3 água0.5 hora de rotaçãoDurante 10 horas aplicar ciclos de 5min de rotação e 30 min de repouso

0.8 m3 água + 4 Kg Na2S +25 Kg cal + agente lubrificante0.5 h de rotaçãoDurante 16 horas aplicar ciclosde 1 min de rotação por hora

Nos processos convencionais utiliza-se tipicamente cerca de 6 Kg de S2- por cada tonelada de

pele alimentada ao processo. A aplicação das tecnologias aqui descritas permite reduzir este

consumo para valores na gama 2.5-4.7 Kg S2-. Mais importante é no entanto o decréscimo do

sulfureto residual nos banhos esgotados, o qual decresce de 2.5 Kg no processo convencional

para 0.7-1.1 Kg nos processos avançados de recuperação do pêlo. Os benefícios na

diminuição da carga orgânica do efluente são também evidentes (ver Quadro 10).

Fig. 15 – Processo

2 m3 água (+8m3 lav.)

12 Kg Na2S 60% + 8.9 Kg

1500 Kg pele(73% hum.)

(1) Processo convencional

33 Kg cal

64

de caleiro convencional. Base: 1 t de pele salgada (ws) alimentada ao proce

1500 Kg pele(77% hum.)

NaHS 60%

1 (+6) m3 água residual2

685

30 6 K

0.3 K

.5 Kg S2-

0 Kg SST Kg CQOKg CBO5g N(Kjel)g N(NH4)

6 Kg S2-

sso.

Page 73: Guia Sectorial - Curtumes

Fig. 16 – Proces

salgada (ws) alim

1 m3 água (+6m3 lav.)

10 Kg11

Aglubr

1500 Kg pele(73% hum.)

(3) Utilização de tioetilenoglicol,TEG, como agente de depilação

1.6

4 Kg Na2S 60%, 10 Kg13 Kg NaT

Alub

4

1500 Kg pele(77% hum.)

1 m3 água (+6m3 lav.)

l

5 Kg Na2S 60%, 10 Kg NaHS 60%

1500 Kg pele(73% hum.)

5

1 (+6) m3 água residual 1269

2.7 K0.2 K

(2) Utilização de baixo teorde sulfuretos

4 Filtro

24 Kg cal

65

sos de caleiro com tecnologias avançadas de recuperação do pêlo

entada ao processo.

1500 Kg pele(77% hum.)

Na2S 60%Kg TEG

enteificante

1 (+6) m3 água residual

1500 Kg pele(77% hum.)

m3 água (+6m3 lav.)

NaHS 60%G

genterificante

1500 Kg pele(73% hum.)

1.6 (+6) m3 água residual

(4) Utilização do tioglicomo agente de depilaç

Filtro

Filtro

50 Kg pêlofiltrado

. Base: 1

140

152.5 K0.2 K

41

2.5 0.2

colato, Naão

0.7 Kg S2-

5 Kg SST Kg CQO

Kg CBO5

g N(Kjel)g N(NH4)

TG,

35 Kg cal

50 Kg pêlofiltrado

10

5KK

0.8 Kg S2-

5 Kg SST Kg CQO

Kg CBO5

g N(Kjel)g N(NH4)

2.5 Kg S2-

.4 Kg S2-

23 Kg ca

0 Kg pêlofiltrado

1.1 Kg S2-

5 Kg SST Kg CQO

Kg CBO5g N(Kjel)g N(NH4)

.7 Kg S2-

t de pele

Page 74: Guia Sectorial - Curtumes

66

Quadro 10 – Comparação entre o processo de caleiro convencional e as tecnologias avançadas derecuperação do pêlo. Base: 1 t pele (ws) alimentada ao processo.

Factores Processo Caudal 1 Parâmetros referentes às águas residuais descarregadascomparativos (m3) S2- SST CQO CBO5 N(Kjel) N(NH4)Composição do Convencional 42 60 2143 4167 1429 340 131efluente global Baixo S2- 39 28 1154 2974 1000 282 148(mg/L) TEG 39 18 1154 3333 1153 277 138

NaTG 40 20 1136 3283 1137 273 136Redução2 na Convencional - - - - - -carga poluente Baixo S2- 56 % 75 % 69 % 70 % 55 % 32 %do efluente TEG 72 % 75 % 53 % 50 % 58 % 32 %do caleiro (%) NaTG 68 % 75 % 53 % 50 % 58 % 32 %Redução2 na Convencional - - - - - -carga poluente Baixo S2- 56 % 50 % 34 % 35 % 23 % 2 %do efluente TEG 72 % 50 % 26 % 25 % 24 % 2 %global (%) NaTG 69 % 50 % 26 % 25 % 24 % 2 %

1 Caudal referente ao processo global. 2 Em relação ao processo convencional.

Avaliação económica

A economia relativa à implementação dos processos de caleiro com recuperação do pêlo pode

ser avaliada de uma forma genérica ponderando os custos adicionais e os benefícios

resultantes da aplicação da tecnologia. Os custos e benefícios a considerar serão neste caso:

Custos adicionais de produção:

• Custos de novos produtos químicos

• Custos adicionais de energia, devidos ao efeito mecânico dos banhos curtos

• Custos adicionais de mão de obra

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo de químicos convencionais

• Poupança nos custos de tratamento de efluentes e de deposição dos sólidos/lamas, devido

à diminuição do volume tratado/depositado ou da carga poluente dos mesmos (CQO,

CBO5, SST, N-Kjel)

• Melhoria na qualidade ou quantidade de pele produzida (eventual aumento da área da

pele)

• Venda do pêlo

Page 75: Guia Sectorial - Curtumes

67

Investimento:

• Compra e instalação de filtros e bombas para recirculação dos banhos e remoção do pêlo.

No estudo aqui referido não se vão considerar alguns destes factores, nomeadamente os

custos adicionais de energia e de mão-de-obra, porque são de importância menor face aos

outros. Também não se considerará a receita da eventual venda do pêlo porque cremos tal não

ser possível no País nas actuais circunstâncias. No Quadro 11 apresenta-se a estimativa dos

custos e benefícios para a implementação das tecnologias em causa, válidos para o

processamento de 1 tonelada de pele.

Quadro 11 – Avaliação económica comparativa entre o processo de caleiro convencional e osprocessos avançados de recuperação do pêlo. Base: 1 t/h de pele (ws) alimentada ao processo.

Processo Processos avançadosFactor económico comparativo convencional Baixo teor de S2- Agente de

depilação TEGAgente de

depilação NaTGQuímicos convencionais (contos/h) 2.8 2 1.8 2Químicos adicionais (contos/h) - - 3.4 4Tratamento de efluentes edeposição de resíduos (contos/h) 14.4 12.4 12.4 12.6

Total dos custos operacionais (contos/h) 17.2 14.4 17.6 18.6Aumento da área da pele 1 (contos/h) - - 4 4Benefícios expectáveis (contos/h)(Convencional – Processos avanç.)

-sem aumento da área da pele 2.8 - 0.4 - 1.4-com aumento da área da pele - 3.6 2.6

Benefícios anuais (contos/ano) 5 434 6 986 5 046

Investimento (contos) 2 3 400 2 3 400 2 3 400

Período de recuperação do Investimento 8 meses 6 meses 8 meses

1 Admitiu-se um aumento de 0.5% da área da pele em m2 (apesar do fornecedor indicar 2%), sendo o benefício calculado pelo aumentoda receita na venda da área adicional de pele (1 ton. de pele origina 198m2 de couro acabado, a 4 contos/m2)2 Instalação de filtros em dois fulões de 3.5x3.5 m (φxh)

A implementação do processo de caleiro com baixo teor de sulfuretos, para além dos óbvios

benefícios ambientais associados, tem todas as vantagens na natureza económica resultantes

da poupança em produtos químicos e nos custos de gestão dos efluentes e resíduos. A

utilização de agentes orgânicos de depilação, que podem ser até 80% mais caros que os

vulgares agentes sulfuretados inorgânicos, torna o processo avançado mais caro que o

processo convencional. Mas se considerarmos válido o aumento da área da pele por aplicação

dos agentes orgânicos, então o processo torna-se económico.

Page 76: Guia Sectorial - Curtumes

68

Para outras capacidades de produção, nomeadamente para 0.2, 0.5 e 2 t/hora de pele

processada, realizou-se o mesmo tipo de estudo, cujos resultados se encontram resumidos no

Quadro 12 e na Figura 17. É obvio que para maiores capacidades obtêm-se maiores

benefícios, pois os investimentos não dependem muito da capacidade produtiva, ao contrário

dos custos operacionais. Torna-se evidente que a aplicação deste tipo de tecnologias não é um

problema de natureza económica. Os principais bloqueios serão sem dúvida as dificuldades

na fase de implementação, a qual provocará necessariamente alterações aos balanços do

processo e à estabilidade e estacionaridade das operações unitárias subsequentes.

Quadro 12 – Avaliação económica comparativa entre o processo de caleiro convencional e osprocessos avançados de recuperação do pêlo, para várias capacidades de produção.

Capacidade de Processos avançadosFactor económico comparativo produção Baixo teor de S2- Agente de

depilação TEGAgente de

depilação NaTG0.2 t pele/h 1 098 1 500 1 120

Benefícios anuais 1 (contos/ano) 0.5 t pele/h 2 748 3 700 2 8451 t pele/h 5 434 6 986 5 0462 t pele/h 10 992 14 480 10 670

0.2 t pele/h 2 3 200 2 3 200 2 3 200Investimentos (contos) 0.5 t pele/h 3 3 200 3 3 200 3 3 200

1 t pele/h 4 3 400 4 3 400 4 3 4002 t pele/h 5 4 200 5 4 200 5 4 200

0.2 t pele/h 3 anos 2.1 anos 2.9 anosPeríodo de recuperação do Investimento 0.5 t pele/h 1.2 anos 10 meses 1.1 ano

1 t pele/h 8 meses 6 meses 8 meses2 t pele/h 5 meses 4 meses 5 meses

1 No caso dos processos com agentes orgânicos, consideram-se os ganhos em área de pele.2 Instalação de filtros em dois fulões de 3x2 m (φxh)3 Instalação de filtros em dois fulões de 3x3 m (φxh)4 Instalação de filtros em dois fulões de 3.5x3.5 m (φxh)5 Instalação de filtros em dois fulões de 4.2x4.5 m (φxh)

Page 77: Guia Sectorial - Curtumes

69

Fig. 17 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para os processos avançados

de recuperação do pêlo no caleiro.

5.2.2 Descarnagem antes do caleiro

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

O processo de descarnagem antes do caleiro consiste em remover os carnazes antes da

remoção do pêlo. Consegue-se desta forma carnazes isentos de sulfureto, os quais têm um

melhor escoamento directo para a agricultura como fertilizante.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

A aplicação desta tecnologia implica a alteração da sequência das operações do caleiro e da

descarnagem. Esta modificação tecnológica envolve ainda a aquisição de uma máquina de

descarna com características diferentes da utilizada no processo convencional. A quantidade

de resíduos gerada não é substancialmente alterada pela aplicação da tecnologia, nem o

consumo de reagentes nas operações seguintes.

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

0 0.5 1 1.5 2 2.5

Capacidade de produção (t pele/h)

Per

íodo

de

recu

pera

ção

(ano

s)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

Inve

stim

en

to (

con

tos)

PRI, Baixo S2-

PRI, TEG

PRI, NaTG

Investimento

Page 78: Guia Sectorial - Curtumes

70

Avaliação económica

Os benefícios económicos resultantes da aplicação desta tecnologia não são evidentes. De

facto não se perspectiva nenhuma alteração ao nível do consumo de reagentes nem de

energia. No entanto, de acordo com as circunstâncias de cada empresa, podem surgir

benefícios económicos pela maior facilidade de escoamento dos resíduos. A quantificação

torna-se no entanto difícil de realizar, devendo ser avaliada caso a caso.

Refira-se ainda que é necessário um maior investimento para efectuar a descarnagem da pele

antes do caleiro (25 000 contos por máquina) comparativamente com o equipamento

convencional (20 000 contos por máquina).

5.2.3 Divisão em tripa

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

O processo de divisão em tripa tem como objectivo separar a pele em duas camadas antes

desta ser curtida. A utilização desta tecnologia minimiza a geração de resíduos curtidos,

podendo os resíduos sem crómio assim produzidos ser valorizados, por exemplo como

fertilizantes na agricultura.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

A máquina de dividir em tripa é basicamente idêntica à utilizada na divisão em wet-blue,

diferendo essencialmente no mecanismo de alimentação e de movimentação das peles.

Apesar dos benefícios ambientais resultantes desta tecnologia, a sua implementação nas

empresas tem resultado essencialmente de opções de natureza tecnológica. De facto, no

fabrico de peles para estofos utiliza-se frequentemente esta tecnologia, sendo menos vulgar o

seu uso no fabrico de peles para calçado. Da operação de divisão em tripa resultam, para além

da pele propriamente dita e dos crutes, pedaços de raspas de pele inutilizadas, desta forma

removidas do processo. A pele (crutes incluídos) alimentada nas operações seguintes

(desencalagem, piquelagem e curtume) é reduzida em 14%, pelo que se conseguem

Page 79: Guia Sectorial - Curtumes

71

poupanças significativas de produtos químicos. Em termos ambientais obtém-se uma menor

quantidade de resíduos com crómio.

No Quadro 13 são apresentados os quantitativos referentes aos produtos químicos necessários

aos processos de desencalagem, de piquelagem e de curtume para o processo convencional

(divisão depois do curtume) e para o processo de divisão em tripa.

Quadro 13 - Comparação entre o processo convencional de divisão e o processo de divisão em tripa.Base: 1 t pele (ws) alimentada no processo

Produtos químicos Processoconvencional

Divisão em tripa

Quantidade Quantidade % redução 1

Desencalagem:Saisde amónio (Kg)Ácido formico (Kg)

273

232.6

14 %14 %

Piquelagem:NaCl (Kg)Ácidos (Kg)

5511

479.4

14 %14 %

Curtume:Extracto de Crómio (Kg)Agentes basificantes (Kg)

848

726.8

14 %14 %

1 Em relação ao processo convencional

Avaliação económica

Os factores a considerar no caso da divisão em tripa estão intimamente relacionados com a

poupança de produtos químicos, inerente à alteração da sequência das operações do processo,

não existindo custos adicionais na produção.

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo de produtos químicos, necessários nas operações de desencalagem,

piquelagem e curtume

• Poupança nos custos de tratamento de efluentes, devido à diminuição do volume tratado

• Diminuição da quantidade de resíduos curtidos, com possibilidade de valorização dos

resíduos sem crómio

Page 80: Guia Sectorial - Curtumes

72

Investimento:

• Compra de uma máquina de dividir em tripa

O investimento a considerar será a diferença de preços entre uma máquina de dividir em tripa

e uma de dividir após curtume. No Quadro seguinte são apresentados os custos e benefícios

da aplicação da divisão em tripa.

Quadro 14 - Comparação dos custos inerentes ao processo convencional e ao processo de divisão emtripa. Base: 3 máquinas de dividir e 1 t pele (ws)/ h alimentada no processo

Factor económico comparativo Processoconvencional

Processo comDivisão em tripa

Consumo de produtos químicos (contos/h)- Desencalagem 1.8 1.6- Piquelagem 2.8 2.4- Curtume 17.4 15

Total dos custos operacionais (contos/h) 22 19Benefícios expectáveis (contos/h)(convencional – processo avanç.)

3

Benefícios anuais (contos/ano) 5 820

Investimentos comparativos (contos) 1 72 000 1 78 000Investimento adicional (proc. avançado - conv.) (cts) 6 000

Período de recuperação do Investimento 1 ano

1 Três máquinas de divisão

Nota: A utilização da diferença de preço (“Investimento adicional”) entre os dois tipos de máquinas de divisão no cálculo económico,explica-se pelo facto de não ser expectável que o industrial compre novas máquinas de dividir em tripa enquanto as outras aindaestão dentro do seu tempo de vida. O que se propõe antes é que, na altura de investir em máquinas de dividir, se opte pela divisãoem tripa, sendo assim de considerar a diferença de custo entre os dois tipos de máquinas.

As vantagens económicas tornam-se notórias pela análise dos dados apresentados, podendo o

período de retorno do investimento ser ainda menor se considerarmos os custos referentes ao

tratamento de efluentes, que foram omitidos neste exemplo. Convém ainda alertar para a

possibilidade destes valores oscilarem significativamente consoante a natureza da pele, as

espessuras envolvidas e a eficiência da operação de divisão. No limite, se a divisão for

operada sem a geração de nenhum rejeito de pele, não haveria vantagens económicas

evidentes.

Efectuou-se um estudo semelhante para outras capacidades de produção, cujos resultados se

apresentam no Quadro 15 e na Figura 18.

Page 81: Guia Sectorial - Curtumes

73

Quadro 15 – Avaliação económica comparativa entre o processo de divisão convencional e oprocesso de divisão em tripa, para várias capacidades de produção.

Factor económico comparativo Capacidade de produção Processo de divisãoem tripa

0.2 t pele/h 1 160Benefícios anuais (contos/ano) 0.5 t pele/h 2 910

1 t pele/h 5 8202 t pele/h 11 640

0.2 t pele/h 1 2 000Investimentos (contos) 0.5 t pele/h 2 4 000

1 t pele/h 3 6 0002 t pele/h 4 8 000

0.2 t pele/h 1.7 anosPeríodo de recuperação do Investimento 0.5 t pele/h 1.5 anos

1 t pele/h 1 ano2 t pele/h 9 meses

1 Investimento correspondente a uma máquina2 Investimento correspondente a duas máquinas3 Investimento correspondente a três máquinas4 Investimento correspondente a quatro máquinas

Fig. 18 - Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para o processo de divisão

em tripa (o investimento, neste caso, é apenas a diferença para o processo convencional).

Salienta-se que o investimento é diferente consoante a capacidade de produção, dependendo

este da quantidade de máquinas de dividir necessárias para escoar a produção.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

0 0.5 1 1.5 2 2.5

Capacidade de produção (t pele/h)

Pe

río

do

de

re

cup

era

ção

(a

no

s)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

Inve

stim

ento

(co

ntos

)

PRI

Investimento

Page 82: Guia Sectorial - Curtumes

74

5.2.4 Desencalagem com dióxido de carbono

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

O dióxido de carbono quando usado como desencalante, funciona como ácido fraco

neutralizando o hidróxido de cálcio e gerando carbonato de cálcio, o qual passa

posteriormente à forma solúvel como bicarbonato.

A utilização do dióxido de carbono em substituição dos sais de amónio (processo

convencional), como desencalante, diminui drasticamente a contaminação dos efluentes em

termos de azoto amoniacal e sulfatos.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

A desencalagem com dióxido de carbono pode ser aplicada a peles divididas em tripa ou a

peles com espessura inferior a 3 mm. No caso das peles com espessuras superiores é

aconselhável a adição de uma pequena quantidade de sais de amónio, cerca de 0.4%

relativamente ao peso da pele salgada, para acelerar o processo. Contudo, o tempo de

operação é sempre superior ao do processo convencional.

A quantidade de dióxido de carbono necessário para se efectuar a desencalagem depende da

espessura da pele, podendo variar entre 10 e 20 kg por tonelada de pele salgada (1-2%). Neste

processo é conveniente a adição de água oxigenada após a injecção do dióxido de carbono,

para promover a oxidação dos sulfuretos a sulfatos e evitar deste modo a formação de ácido

sulfídrico. A água oxigenada (0,1 a 1,5%) deve utilizar-se em excesso, uma vez que para

além dos sulfuretos também é consumida na oxidação parcial das proteínas solúveis.

A injecção do CO2 pode realizar-se de duas formas: directamente no fulão usando um

injector/distribuidor ou por meio de um venturi acoplado a um sistema de recirculação do

banho. No caso da injecção directa, os fulões devem ser adaptados por meio da introdução de

uma campânola oval no seu interior, para protecção do injector de gases dos movimentos das

peles.

Page 83: Guia Sectorial - Curtumes

75

Na figura 19 apresentam-se os diagramas processuais correspondentes ao processo

convencional de desencalagem (1) e ao processo de desencalagem com dióxido de carbono

(2), com os balanços mássicos de produtos químicos e de água referentes aos consumos e

descargas.

Fig. 19 – Processos de desencalagem convencional (1) e com dióxido de carbono (2

pele salgada (ws) alimentada ao processo.

No Quadro 16 comparam-se os parâmetros referentes à alimentação e descarg

convencional e da desencalagem com dióxido de carbono. A aplicação de

permite reduzir em 85% o teor de azoto amoniacal no processo, com as evide

3 m3 água (+ 4 m3 lav.)

27 Kg (NH4)2SO4

1100 Kg pele(76% hum.)

3 (+4) m3 água residual

(1) Processo convencionalde desencalagem

3 Kg ácido fórmico

3 m3 água (+ 2 m3 lav.)

4 Kg (NH4)2SO4

1100 Kg pele(76% hum.)

3 (+2) m3 ág

(2) Processo dcom dióxido de c

2 Kg H2O2

1100 Kg pele(76% hum.)

1100 Kg pele(76% hum.)

CO2

o

15 Kg CO2

4.1 Kg N(Kjel)4.8 Kg N(NH4)

). B

a d

sta

ntes

ua re

e desencalagemarbono

4.1 Kg N(Kjel)0.7 Kg N(NH4)

sidual

Reservatóri Evaporador

ase: 1 t de

o processo

tecnologia

vantagens

Page 84: Guia Sectorial - Curtumes

76

de natureza ambiental, reduzindo simultaneamente os custos inerentes ao tratamento de

nitrificação / desnitrificação em ETAR.

Quadro 16 - Comparação entre o processo convencional de desencalagem e o processo de desencalagem comdióxido de carbono. Base: 1 t de pele (ws) alimentada no processo.

Processo convencional Desencalagem com dióxido decarbonoFactores de avaliação

Valor Valor % redução 1

N(NH4) alimentado (Kg) 2

N(NH4) descarregado (Kg) 35.7

4.8

0.85

0.72

85%

85%

Sulfatos alimentados (Kg) 2

Sulfatos descarregados (Kg) 219.6

19.6

2.9

2.9

85%

85%

Água alimentada (m3)

Água descarregada (m3)

7

7

5

5

29%

29%

1 Em relação ao processo convencional2 Provenientes dos 27 Kg de sais de amónio adicionado (sulfato de amónio) no processo convencional e dos 4 Kg na desencalagem com

dióxido de carbono3 Considerando que 15% do azoto amoniacal é perdido.

Avaliação económica

A aplicação desta tecnologia implica uma alteração dos reagentes químicos utilizados,

exigindo também modificações ao nível do equipamento. Os custos e benefícios a considerar

da aplicação desta tecnologia serão:

Custos adicionais de produção:

• Custos de novos produtos químicos

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo de químicos convencionais

• Poupança nos custos de tratamento de efluentes

Investimento:

• Instalação de gases e adaptação dos fulões

Habitualmente o reservatório, o evaporador de CO2 e o regulador de pressão são instalados

na empresa na modalidade de aluguer, sendo o seu custo operacional incluído no custo do

Page 85: Guia Sectorial - Curtumes

77

dióxido de carbono consumido. Assim, o investimento é relativamente pequeno, consistindo

somente na tubagem de admissão, no rotâmetro e no injector, para além da adaptação do

fulão.

No Quadro 17 estão representados os custos e benefícios da aplicação da desencalagem com

dióxido de carbono para três fulões que desencalam 1 t/h de pele salgada alimentada no

processo.

Por análise dos dados económicos apresentados, pode-se verificar que o investimento

necessário para a implementação da desencalagem com dióxido de carbono é rapidamente

recuperado, tendo esta tecnologia não só benefícios ambientais como económicos. O

principal factor que justifica este facto são os ganhos derivados da poupança de produtos

químicos.

Quadro 17 - Comparação dos custos inerentes ao processo convencional e ao processo dedesencalagem com dióxido de carbono. Base: 3 fulões e 1 t pele (ws) / h alimentada no processo.

Factor económico comparativo Processoconvencional

Processo dedesencalagem com CO2

Químicos convencionais - sulf. amónio, ác. fórmico (cts/h) 1.8 0.2Químicos adicionais - CO2, H2O2 (contos/h) - 1Água do processo (contos/h) 0.8 0.6Tratamento de efluentes edeposição de resíduos (contos/h)

0.4 0.14

Total dos custos operacionais (contos/h) 3 1.94Benefícios expectáveis (contos/h)(Convencional – Processos avanç.)

1.06

Benefícios anuais (contos/ano) 2 060

Investimento (contos) 750

Periodo de recuperação do Investimento 4 meses

Não foi contabilizado neste estudo o custo inerente ao aumento do tempo de permanência

pela aplicação desta tecnologia. De facto, poderá em algus casos ser necessária a instalação

de mais fulões para manter a mesma capacidade de produção. Contudo, na situação actual do

sector em que a maioria das empresas estão a operar muito abaixo da capacidade instalada,

pode-se admitir que uma mais eficiente gestão dos fulões existentes (alguns sub-

aproveitados) permitirá operar com a tecnologia de desencalagem alternativa, sem

necessidade de aquisição de equipamento novo. Este raciocínio também se pode aplicar a

outras operações descritas neste guia.

Page 86: Guia Sectorial - Curtumes

78

Com vista a efectuar uma melhor avaliação económica da aplicação desta tecnologia,

apresenta-se no Quadro 18 os benefícios anuais e os investimentos necessários para diversas

capacidades de produção. A Figura 20 também ilustra este tipo de análise.

Quadro 18 – Avaliação económica comparativa entre o processo de desencalagem convencional e oprocesso de desencalagem com dioxido de carbono, para várias capacidades de produção.

Factor económico comparativo Capacidade de produção Processo de desencalagemcom CO2

0.2 t pele/h 620Benefícios anuais (contos/ano) 0.5 t pele/h 1 160

1 t pele/h 2 0602 t pele/h 3 920

0.2 t pele/h 1 400Investimentos (contos) 0.5 t pele/h 2 600

1 t pele/h 3 7502 t pele/h 4 900

0.2 t pele/h 8 mesesPeríodo de recuperação do Investimento 0.5 t pele/h 6 meses

1 t pele/h 4 meses2 t pele/h 3 meses

1 Modificação de dois fulões de 3x2 m (φxh)2 Modificação de três fulões de 3x2 m (φxh)3 Modificação de três fulões de 3x3 m (φxh)4 Modificação de três fulões de 4.2x4.5 m (φxh)

Fig. 20 – Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para o processo de

desencalagem com dióxido de carbono.

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0 0.5 1 1.5 2 2.5

Capacidade de produção (t pele/h)

Per

íodo

de

recu

pera

ção

(ano

s)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Inve

stim

en

to (

con

tos)

PRI

Investimento

Page 87: Guia Sectorial - Curtumes

79

5.2.5 Processos de elevada exaustão do crómio

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

Os processos de exaustão do crómio baseiam-se no controlo das condições operacionais e/ou

na adição de compostos orgânicos apropriados que permitem melhorar a difusão do crómio,

evitar a sua precipitação precoce ou ainda estabilizar os complexos formados na pele. Por

conseguinte é possível operar com menores teores de crómio, reduzindo simultaneamente o

seu consumo e a sua descarga.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

Os processos de exaustão do crómio não necessitam de nenhuma peça de equipamento

adicional, pois baseiam-se unicamente na actuação ao nível da reactividade do crómio na

pele. No entanto, à semelhança dos processos avançados de caleiro, também se podem

utilizar filtros acoplados aos fulões para remoção de alguns sólidos suspensos. Desta forma

evita-se a acção erosiva que os sólidos podem provocar na pele. O controlo mais rigoroso das

condições processuais também pode obrigar à utilização de medidores/controladores dos

parâmetros do processo. Contudo, na avaliação aqui apresentada não se vão considerar estas

eventuais alterações nos equipamentos, supondo-se que os processos avançados decorrem em

equipamentos semelhantes aos utilizados no caso de referência.

Nas Figuras 21 e 22 apresentam-se os diagramas de três processos de curtume (incluindo a

piquelagem) para estudo comparativo:

(1) Curtume ao crómio convencional.

(2) Curtume com elevada exaustão por utilização de agentes sequestrantes, nomeadamente

ácidos di ou policarboxílicos ou ainda policarboxilatos.

(3) Curtume com elevada exaustão por utilização na piquelagem de um activador do

colagénio – o ácido glioxílico.

Uma outra forma de realizar a exaustão do crómio pode ser por simples controlo das

condições operacionais, sem utilização de aditivos comerciais. Essa opção não vai aqui ser

tratada. Contudo, esse controlo operativo também se aplica aos casos apresentados.

Page 88: Guia Sectorial - Curtumes

80

Os aditivos orgânicos utilizados nestes processos encontram-se disponíveis no mercado em

formulações comerciais. É aconselhável a consulta aos fornecedores destes produtos para

uma melhor aplicação dos mesmos. A título exemplificativo apresentam-se duas “receitas

típicas” para este tipo de processos:

Etapa Exaustão com utilização desequestrante

Exaustão com aumento da reactividadedo colagénio

Piquelagem 0.44 m3 água + 55 Kg sal + 11 Kgácidos (sulfúrico e fórmico), 20ºC1.5 horas de rotação

0.44 m3 água + 55 Kg sal + 11 Kg ácidos(sulfúrico e fórmico) + ácido glioxílico,25ºC4 horas de rotação

Curtume 0.75 m3 água + 10.8 Kg Cr naforma de extracto de crómio (25%Cr2O3) e agente orgânicosequestrante autobasificante (7%Cr2O3), 42ºC, pH=4.28 horas de rotação

0.75 m3 água + 66 Kg de extracto de crómio(25% Cr2O3)2 horas de rotação6 Kg MgO (basificação)2 horas de rotaçãoAumento lento da temperatura até 50ºC,pH=4.26 horas de rotação após basificação

O consumo de crómio nos processos convencionais é de cerca de 14.5 Kg de Cr (ou 21 Kg de

Cr2O3) por tonelada de pele (ws) alimentada ao processo. Deste, pouco mais de 70% é

efectivamente incorporado na pele, sendo o restante descarregado nas águas residuais. Com a

aplicação dos processos de exaustão consegue-se operar com menores teores de Cr

(aproximadamente 11 Kg de Cr ou 16 Kg de Cr2O3) conseguindo-se uma eficiência de

utilização acima dos 90% e uma substancial diminuição nas descargas (de 4 Kg para 0.3-0.9

Kg de Cr). De acordo com os factores comparativos apresentados no Quadro 19, facilmente

se podem avaliar as vantagens dos processos de exaustão. Para além da poupança de um

pouco mais de 20% no crómio alimentado, a composição do banho esgotado é também

favorecida (0.16 g/L Cr no caso mais favorável comparado com 2.2 g/L Cr no processo

convencional). O teor de crómio no efluente global, se admitirmos a junção de todas as

descargas do processo, seria de cerca de 7 mg/L Cr para um total 40 m3/t pele. Este valor não

estaria muito afastado do limite de descarga directa do crómio (2 mg/L). É claro que neste

cálculo não foi contabilizado o crómio eventualmente usado no recurtume, mas também se

pode partir do princípio de que os processos de exaustão são igualmente aplicáveis nessa

operação.

Page 89: Guia Sectorial - Curtumes

Os processos de exaustão também permitem um menor consumo de água, embora este

aspecto não seja o mais importante. A variação dos sais descarregados nos efluentes,

provenientes do extracto de crómio (Na2SO4) e da neutralização processada no curtume

(sulfatos de sódio e magnésio) não é significativa.

Quadro 19 – Comparação entre o processo de curtume ao crómio convencional e os processos deelevada exaustão. Base: 1 t pele (ws) alimentada ao processo.

Factor de avaliaçãoProcesso

convencionalExaustão com sequestrante Exaustão com activação do

colagénioValor % redução 1 Valor % redução 1

Cr alimentado (Kg) 14.5 10.8 26 % 11.4 21 %Cr descarregado (Kg) 4.0 0.27 93 % 0.89 78 %Água alimentada (m3) 1.30 1.19 8 % 1.19 8 %Água descarregada (m3) 1.85 1.74 6 % 1.74 6 %Sais alimentados (Kg) 2 89 78 12 % 81 9 %Sais descarregados (Kg) 2 104 96 8 % 99 5 %Cr incorporado (%) 72 % 97 % 92 %Cr perdido (%) 28 % 2 % 8 %Composição do licor Cr 2.2 0.16 0.51esgotado de curtimenta, NaCl 30 32 32incluindo piquelagem eescorrimento (g/L)

outrossais

26 24 25

1 Em relação ao processo convencional.2 Incluindo o NaCl da piquelagem e outros sais de Na e Mg. O balanço entre os sais alimentados e descarregados são os sais formadosna neutralização.

Fig. 21 – Processo de

++

+

1100 Kg pele(76% hum.)

0.55 m3 água

1100 Kg pele(76% hum.)

0.75 m3 água

84 Kg extracto Cr (25% Cr2O3)8 Kg MgO / NaHCO3

[

NÁcidos resta 41 Kg sais

Alg

775 Kg pele(63% hum.)

575 Kg pelewet blue

(50% hum.)

Escorrimento

8 Kg saisAlg

49 Kg sais55

(1) Processo de curtumeao crómio convencional

55 Kg NaCl11 Kg ácidos (H2SO4+HCOOH)

0.55 m3

água residual

81

curtume convencional. Base: 1

14.5 Kg Cr]

Piquelagem

Curtume

aClntes

3.4 Kg Cr Na e Mgum NaCl

t

1.10 m3

água residual

de pele salgada (ws) alimentad

0.20 m3

água residual

0.6 Kg Cr Na e Mgum NaCl

a ao proce

1.85 m3 ág

4.0 Kg Cr Na e Mg Kg NaCl

sso.

ua residual

Page 90: Guia Sectorial - Curtumes

Fig. 22 – Processos d

reactividade do colagé

++

+

1100 Kg pele(76% hum.)

0.44 m3 água

1100 Kg pele(76% hum.)

0.75 m3 água

2 3

m

NÁcidos resta 35 Kg sa

A

775 Kg pele(63% hum.)

575 Kg pelewet blue

(50% hum.)

Escorrimento

6 Kg saAl

41 Kg sa5

(2) Processo de curtume comexaustão do Cr por sequestração

55 Kg NaCl11 Kg ácidos (H2SO4+HCOOH)

1100 Kg pele(76% hum.)

0.44 m3 água

Ácidos resta

55 Kg NaCl11 Kg ácidos (H2SO4+HCOOÁcido glioxílico

0.44 m3

água residual

e curtume co

nio (3). Base

110(76

0.7

H)

Extracto Cr (25% Cr2O3)Tanino Cr c/ sequestranteautobasificado (7% Cr O )

82

m elevada exaustã

: 1 t de pele salgad

0 Kg pele% hum.)

5 m3 água[

37 Kg saA

[10.8 Kg Cr]

Piquelage

Curtume

aClntes

0.23 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

o d

a (

1.10 m3

água residual

o crómio, por sequestração (2

ws) alimentada ao processo.

++

+

775 Kg pele(63% hum.)

Escorrimento

7 Kg saA

(3) Processo de curtexaustão do Cr por aureactividade do colagén

0.20 m3

água residual

0.04 Kg Cris Na e Mggum NaCl

) e aume

1.74 m3 á

57

(5

1.74 m3 ág

44 Kg sa5

ume commento daio

0.27 Kg Cris Na e Mg5 Kg NaCl

gua residual

5 Kg pelewet blue0% hum.)

0.44 m3

água residual

66 Kg extracto Cr (25% Cr2O3)6 Kg MgO

11.4 Kg Cr]

Piquelagem

Curtume

NaClntes

0.76 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

1.10 m3

água residual

0.20 m3

água residual

0.13 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

0.89 Kg Cris Na e Mg5 Kg NaCl

nto da

ua residual

Page 91: Guia Sectorial - Curtumes

83

Avaliação económica

Os factores a considerar no caso dos processos de exaustão estão intimamente relacionados

com a variação nos custos dos reagentes químicos, embora haja outros factores a ter em

conta, como se descreve seguidamente:

Custos adicionais de produção:

• Custos de novos produtos químicos

• Custos adicionais de energia, devidos ao efeito mecânico dos banhos curtos

• Custos adicionais de mão de obra

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo de químicos convencionais, principalmente no extracto de crómio

mas também nos basificantes.

• Poupança nos custos de tratamento de efluentes e de deposição dos resíduos, devido

principalmente à diminuição do crómio descarregado, que se reflecte no consumo de

precipitante na ETAR e na quantidade de lama formada.

Investimento:

• Nos processos de exaustão não há, em princípio, investimentos significativos a

considerar.

A variação dos custos de mão-de-obra e de energia não serão considerados nesta análise. Os

resultados obtidos para o caso da aplicação dos processos de exaustão do crómio a uma

capacidade de 1 t pele/h alimentada ao processo, são apresentados no Quadro 20.

Em nenhum dos processos de exaustão avaliados se encontrou um benefício económico pela

aplicação da tecnologia de prevenção. De facto, os ganhos na poupança do crómio não são

suficientes para compensar o custo dos reagentes adicionais, que são bastante mais caros que

o extracto de crómio convencional. O processo de curtume com agente sequestrante encarece

em 22% os custos dos reagentes químicos no curtume, enquanto que o processo com aumento

da reactividade do colagénio aumenta os custos dos químicos na piquelagem em 250%.

Page 92: Guia Sectorial - Curtumes

84

Quadro 20 – Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómio convencionale os processos de elevada exuastão. Base: 1 t/h de pele (ws) alimentada ao processo.

ProcessoProcessos avançados

(exaustão do Cr)Factor económico comparativo convencional Agente

sequestranteActivação do

colagénio Químicos na piquelagem (contos/h) convencionais 2.8 2.8 2.8

adicionais - - 7Químicos no curtume (contos/h) convencionais 17.4 11 13.8

adicionais - 10.2 -Tratamento de efluentes e deposição de resíduos (contos/h) 13.6 11.4 11.8

Total dos custos operacionais (cts/h) 33.8 35.4 35.4Benefícios expectáveis (contos/h)(Convencional – Processos avanç.) - 1.6 - 1.6

A alternativa de realizar exaustão sem aditivos de curtimenta auxiliares, ou seja por simples

controlo das condições operacionais do banho, é uma opção obviamente mais económica.

Mesmo a utilização dos agentes auxiliares pode-se tornar rentável se os custos de tratamento

de efluentes e de deposição de resíduos forem superiores aos que têm vindo a ser

considerados nestas estimativas. Efectivamente, já serão de esperar benefícios para as

empresas que operam fora de Alcanena e que têm que escoar as suas lamas com crómio para

aterros fora do país, a custos extremamente superiores. Também nos casos em que as

empresas pretendem instalar ou modificar ETARs, os custos de investimento deverão ser

menores no caso da utilização de processos de exaustão, pois o dimensionamento do

equipamento terá em consideração a diminuição da quantidade de lama produzida. Em

qualquer situação, porém, as vantagens de natureza ambiental não podem ser secundarizadas,

porque este tipo de preocupações devem fazer parte integrante da politica de gestão das

empresas que se querem modernas, avançadas e competitivas.

5.2.6 Recirculação dos licores de curtimenta. Recuperação do crómio por precipitação e reciclagem

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

Nas tecnologias de recirculação e reciclagem do crómio objectiva-se reutilizar o crómio

residual contido nos banhos esgotados de curtume, através da sua recuperação por processos

mais ou menos complexos, de forma a reduzir o seu consumo e a diminuir as descargas, tal

Page 93: Guia Sectorial - Curtumes

85

como no caso anterior. Estas tecnologias são alternativas e não complementares aos

processos de exaustão, pois não é expectável que se aplique um processo de

recuperação/recirculação do crómio num banho onde a concentração deste é já bastante

pequena.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

As tecnologias de recirculação do crómio exigem, ao contrário dos processos de exaustão, a

associação de equipamentos ao processo tradicional. Concretamente, há a considerar a

filtração dos licores esgotados antes da sua recirculação, para remover impurezas. A

utilização de decantadores, flotadores ou hidrociclones é também desejável para evitar a

acumulação de gorduras que podem provocar a descoloração da pele. Teores acima de 45

mg/L de gordura não são recomendáveis. Os processos de recirculação podem ser realizados

de formas muito diversas, utilizando partes ou o total dos licores esgotados, podendo estes ser

reutilizados nos banhos seguintes de curtume e/ou de piquelagem. Um possível arranjo deste

tipo de processos é exemplificado na Figura 23. Neste caso, 80% do banho esgotado de

curtume é passado por um filtro (ou outro equipamento como um hidrociclone ou um

flotador) para remoção dos sólidos suspensos e gorduras, sendo então 60% deste volume

recirculado ao banho seguinte de curtume e os restantes 40% recirculados para a piquelagem,

juntamente com as águas de escorrimento. O banho de piquelagem é sempre totalmente

descarregado em cada ciclo, enquanto que apenas 20% do banho de curtume é purgado. Esta

purga destina-se ao controlo da acumulação dos sais neutros no processo de recirculação,

conseguindo-se assim manter a concentração destes a níveis praticáveis.

Com o arranjo apresentado é apenas necessário um make-up de 0.22 m3 de água (83% da

água requerida no processo convencional), o que se consegue não só pela acção de recircular

o banho mas também pelo aproveitamento da água existente na pele, resultante da forte

variação de humidade entre a pele no estado wet-blue e no estado pré-curtido.

Neste processo de recirculação reduz-se em 16% o crómio alimentado e em cerca de 60% o

crómio descarregado. Apesar disso, a concentração do efluente do curtume (piquelagem

incluída) não sofre alteração em relação ao processo convencional (2.2 g/L) embora a

quantidade descarregada seja muito menor, como já se referiu, por acção da diminuição do

Page 94: Guia Sectorial - Curtumes

volume. A eficiência de utilização do crómio é de 86% (14% superior ao processo

convencional).

Fig. 23 –

o curtume

Uma alte

por prec

significa

a remoçã

(com ras

onde se d

uma base

gama 8-9

mais cris

praticam

hidróxido

++

+

água

1100 Kg pele(76% hum.) 1100 Kg pele

(76% hum.)

0.22 m3 água

62 Kg saisAlg

775 Kg pele(63% hum.)

575 Kg pelewet blue

(50% hum.)

Escorrimento

55 Kg NaCl11 Kg ácidos (H2SO4+HCOOH)

31 Kg saA

água rec

30 Kg saA

0.55 m3

residual

Processo de curtume com r

. Base: 1 t de pele salgada

rnativa à recirculação d

ipitação e redissolução

tiva de equipamento com

o dos sólidos suspensos

padores de superfície inc

á a precipitação do hidr

forte (soda/carbonato d

. A vantagem da utiliza

talino o que promove f

ente completa e o crómi

e eventualmente da su

12.4 Kg saA

0.55 m3 água recirculada

70 Kg extracto Cr (25% Cr2O3)8 Kg MgO / NaHCO3

86

ecirculação do

(ws) alimentada

os licores é a

. Esta opção

o se ilustra na

e das gordura

orporados). A

óxido de cróm

e sódio) ou fr

ção do óxido

ortemente a p

o nas águas fin

a filtração em

a

[12.2 Kg Cr]

Piquelagem

Curtume ~ 55 Kg NaCl1 Kg Cr31 Kg sais Na e MgÁcidos restantes

3.4 Kg Cr Na e Mgum NaCl

lic

a

re

F

s

so

io

ac

de

o

a

á

1.10 m3

água residual

or esgotado de crómio para a piquela

o processo.

cuperação do crómio dos banhos

implica a instalação de uma q

igura 24. Neste processo dá-se in

utilizando crivos e decantadores

lução é então encaminhada para

(III), vulgarmente a quente, com

a (óxido de magnésio), mantend

magnésio é a formação de um p

sterior separação dos sólidos. A

is é apenas vestigial. Após sedim

filtro-prensa (no caso da precipi

Filtro ouhidrociclone

0.88 m3

gua residual

0.20 m3

água residual

/

u

e

0.60 Kg Cr11 Kg sais Na e MgAlgum NaCl

Purg

0.22 m3

água residual

0.66 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

Sólidos suspensosGorduras

1.70 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

0.53 m3

irculada

1.64 Kg Cris Na e Mglgum NaCl

gem e para

esgotados

uantidade

icialmente

flotadores

m reactor

adição de

o o pH na

recipitado

reacção é

ntação do

tação com

Page 95: Guia Sectorial - Curtumes

soda), a suspensão é conduzida para um reactor de redissolução onde o crómio é reconvertido

à forma de sulfato solúvel por adição de ácido sulfúrico, a quente. A redissolução deve ser

realizada logo após a precipitação, para evitar o envelhecimento do hidróxido que o torna

menos reactivo. Produz-se por este processo um licor carregado de crómio fortemente

concentrado (no caso exemplificado com 63 g/L Cr, ou seja cerca de 90 g/L Cr2O3) que pode

ser reciclado para a operação de curtume.

Por utilização desta tecnologia, todo o crómio é virtualmente reaproveitado no processo,

havendo apenas a considerar uma perda de cerca de 1% devido à lama de hidróxido insolúvel.

A poupança no consumo de crómio estima-se em quase 30% e as águas descarregadas

contêm apenas cerca de 6 mg/L Cr. No Quadro 21 apresenta-se um resumo dos vários

parâmetros de avaliação das tecnologias aqui descritas, bem como a comparação com o

processo de curtume convencional.

Fig

pos

pro

águ

Sólidos suspensos

Polielectrólito9/12 Kg NaOH/Na2CO3

1.30 m3

a residual

4 Kg Cr39 Kg sais Na e Mg

Crivagem 1.27 m3

águas da precipitaçãoou 4.7 Kg MgO

Do Curtume eEscorrimento

87

. 24 – Recuperação do crómio dos banhos esgotados de cur

terior reciclagem do licor obtido para o curtume. Base: 1

cesso.

Decantaçãocom separaçãode gordura

Gorduras

Precipitação /Sedimentação

Filtração(opcional) Lama de hidró

de crómio

Para a ETAR

0.028 m3 água 11.3 Kg H2SO4

tume p

t de p

xido

Redissolução

0.062 m3 água

Licor recicladoao Curtume

Lamainsolúvel

0.07 Kg Cr

or precipitação e red

ele salgada (ws) ali

3.92 Kg Cr1 Kg sais Na e Mg

0.01 Kg Cr38 Kg sais Na e Mg

issolução, e

mentada ao

Page 96: Guia Sectorial - Curtumes

88

Quadro 21 – Comparação entre o processo de curtume ao crómio convencional e os processos derecirculação dos licores e recuperação do crómio por precipitação. Base: 1 t pele (ws) alimentada aoprocesso.

Factor de avaliaçãoProcesso

convencionalRecirculação dos licores

após filtraçãoRecuperação do Cr por

precipitação / redissoluçãoValor % redução 1 Valor % redução 1

Cr alimentado (Kg) 14.5 12.2 16 % 10.6 27 %Cr descarregado (Kg) 4.0 1.66 59 % 0.08 98 %Água alimentada (m3) 1.30 0.22 83 % 1.24 5 %Água descarregada (m3) 1.85 0.77 58 % 1.82 2 %Sais alimentados (Kg) 2 89 83 7 % 79 11 %Sais descarregados (Kg) 2 104 98 6 % 94 10 %Cr incorporado (%) 72 % 86 % 99 %Cr perdido (%) 28 % 14 % 1 %Composição do licor Cr 2.2 2.2 0.006final descarregado, NaCl 30 71 30incluindo piquelagem eescorrimento (g/L)

outrossais

26 56 26

1 Em relação ao processo convencional.2 Incluindo o NaCl da piquelagem e outros sais de Na e Mg. O balanço entre os sais alimentados e descarregados são os sais formadosna neutralização.

Avaliação económica

Nos processos de recirculação dos licores esgotados de crómio não há a considerar a

utilização do novos reagentes químicos, ao contrário dos processos de exaustão. As variações

nos custos de mão-de-obra e de energia também não serão significativas. Assim não haverá a

considerar custos adicionais de produção. A viabilidade económica será pois avaliada pela

comparação entre os benefícios expectáveis e os investimentos necessários:

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo de químicos convencionais, principalmente o extracto de crómio.

• Poupança nos custos de tratamento de efluentes e de deposição dos resíduos, devido

principalmente à diminuição do crómio descarregado, que se reflecte no consumo de

precipitante na ETAR e na quantidade de lama formada.

Page 97: Guia Sectorial - Curtumes

89

Investimento:

• Instalação de filtros e eventualmente hidrociclones para remoção de sólidos suspensos e

gorduras, e também das bombas de recirculação.

No processo alternativo de recuperação do crómio por precipitação e redissolução, haverá a

considerar a instalação do equipamento apropriado (já anteriormente descrito), mas também

será necessário ter em consideração os custos de operação desse equipamento e os gastos de

reagentes (neutralizante e ácido) correspondentes. Assim, ao contrário dos casos

anteriormente tratados, a implementação desta tecnologia obrigará a gastos adicionais no

pessoal, nas utilidades (água e energia), na manutenção, etc, pois corresponde efectivamente

a um ligeiro “crescimento” do lay-out da fábrica. Uma estimativa dos custos de operação

anuais equivalentes ao processamento do licor esgotado do curtume para uma capacidade de

1 tonelada pele/hora será:

Custos de Operação

Custos directos (reagentes químicos, mão-de obra, pessoal, utilidades, manutenção) ........

Custos fixos (amortização, seguros) ....................................................................................

Custos indirectos ..................................................................................................................

Despesas gerais ...............................................................................................................

3 550 cts

1 600 cts

390 cts

400 cts

Total de custos operacionais ........................................................................................... 5 940 cts

Esta estimativa refere-se ao processo de neutralização com MgO, o que dispensa a filtração

do hidróxido de crómio por filtro-prensa. Verifica-se que este tipo de instalação tem custos de

operação relativamente baixos, dado que se utilizam reagentes químicos baratos e

equipamentos simples e fáceis de operar. O investimento para uma instalação destas é cerca

de 18 000 contos, o que também é bastante acessível. No caso da utilização de filtro-prensa, o

investimento seria muito superior (cerca de 40 000 contos).

No Quadro 22 apresentam-se os resumos dos custos e benefícios calculados para as duas

tecnologias agora apresentadas. Os custos operacionais são bastante mais baixos do que os do

processo convencional, devido essencialmente aos elevados ganhos no reaproveitamento do

crómio. Comparando as duas tecnologias alternativas, verifica-se que apresentam custos de

operação algo semelhantes, pois as despesas adicionais da instalação de precipitação do

crómio são compensadas pelo elevado rendimento de recuperação deste. Quanto aos

Page 98: Guia Sectorial - Curtumes

90

investimentos requeridos, o processo de precipitação do crómio é obviamente mais

dispendioso, mas a diferença desvanece-se quando da utilização do hidrociclone no processo

de recirculação dos licores. De qualquer forma, o período de recuperação do investimento é

no máximo de 2 anos, o que é perfeitamente admissível.

Quadro 22 – Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómio convencionale os processos de recirculação dos licores e recuperação do crómio por precipitação. Base: 1 t/h depele (ws) alimentada ao processo.

Processo Processos avançadosFactor económico comparativo convencional Recirculação dos licores

esgotados de CrRecuperação do Cr porprecipitação / redissol.

- Custos operacionais do processo:Extracto de crómio (contos/h) 16 13.4 11.6Tratamento de efluentes edeposição de resíduos (contos/h) 13.6 12 11.2

- Custos operacionais da recuperação do Cr - - 2

Total dos custos operacionais (contos/h) 29.6 25.4 24.8Benefícios expectáveis (contos/h)(Convencional – Processos avançados) 4.2 4.8Benefícios anuais (contos/ano) 8 150 9 300Investimento (contos) 1 7 100

2 16 0003 18 000

Período de recuperação do Investimento 1 10 meses2 2 anos

2 anos

1 Caso da instalação de filtros para 3 fulões de 3x3 m (φxh) tanques de recolha dos licores e bombas de recirculação.2 Idem caso anterior, mas com hidrociclone incluído3 Equipamento para recuperação do crómio: crivo, reactores de precipitação e redissolução, decantadores, tanques e bombas.

Realizou-se um estudo semelhante para outras capacidades de produção, cujos resultados se

apresentam no Quadro 23 (ver também a Figura 25). Numa perspectiva puramente económica

verifica-se que o processo de recirculação dos licores esgotados é mais favorável, embora

envolva maiores riscos de natureza técnica, ao nível da possível acumulação de impurezas

(sais, gorduras) no circuito. Por outro lado, o processo de recuperação do crómio por

precipitação só tem sentido para capacidades de produção razoáveis, pois de outra forma o

período de recuperação do investimento é demasiado elevado, o que o torna pouco atractivo.

Page 99: Guia Sectorial - Curtumes

91

Quadro 23 – Avaliação económica comparativa entre o processo de curtume ao crómio convencionale os processos avançados de recirculação dos licores esgotados e recuperação do crómio porprecipitação, para várias capacidades de produção.

Capacidade de Processos avançadosFactor económico comparativo produção Recirculação dos licores

esgotados de CrRecuperação do Cr porprecipitação / redissol.

0.2 t pele/h 1 640 1 450Benefícios anuais (contos/ano) 0.5 t pele/h 4 020 4 400

1 t pele/h 8 150 9 3002 t pele/h 16 100 19 100

0.2 t pele/h 1 4 200 12 000Investimentos (contos) 0.5 t pele/h 1 4 700 14 000

1 t pele/h 1 7 100 18 0002 t pele/h 1 9 800 26 000

0.2 t pele/h 2.6 anos 8.3 anosPeríodo de recuperação do Investimento 0.5 t pele/h 1.2 anos 3.2 anos

1 t pele/h 10 meses 2 anos2 t pele/h 7 meses 1.4 anos

1 Para o caso da não utilização do hidrociclone.

Fig. 25 – Investimento e Período de Recuperação do Investimento (PRI) para o processo de

recirculação dos licores de curtume e para o processo de recuperação do crómio por

precipitação/redissolução.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 0.5 1 1.5 2 2.5

Capacidade de produção (t pele/h)

Per

íodo

de

recu

pera

ção

(ano

s)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

Inve

stim

ento

(co

ntos

)

PRI - Recuperação Cr PRI - Recirculação licores

Invest. - Recuperação Cr Invest. - Recirculação licores

Page 100: Guia Sectorial - Curtumes

92

5.2.7 Aplicação de acabamentos com tecnologias avançadas

Identificação da tecnologia e objectivos da sua aplicação

A utilização de tecnologias avançadas de acabamento, nomeadamente as aplicações com

pistolas de baixa pressão (HVLP) ou máquinas de rolos, permitem uma minimização das

perdas de produtos químicos.

Descrição técnica e avaliação dos benefícios

Os produtos de acabamento (graxas, tintas, vernizes, lacas, etc.) utilizados na fase final dos

processos de curtumes são essenciais à qualidade dos couros, pois são eles que atribuem o

aspecto final ao produto, de acordo com as especificações dos clientes. Além disso, estes

produtos são vulgarmente caros e são constituídos, por vezes, por compostos voláteis

potencialmente perigosos. A sua correcta aplicação e a minimização das perdas é pois

essencial tanto em termos económicos como ao nível da qualidade ambiental. Neste âmbito

há dois aspectos que concorrem para a optimização dos procedimentos a nível industrial: (1)

a utilização de equipamentos mais avançados; (2) a escolha correcta do produto a aplicar,

tendo em consideração a sua potencial perigosidade.

No Quadro 24 apresentam-se dados comparativos sobre tecnologias alternativas de aplicação

de produtos de acabamento. Os valores apresentados baseiam-se numa base de consumo

unitário de 150 g/m2 de pele. As vantagens da utilização das pistolas HVLP e das máquinas

de rolos são evidentes.

A utilização de produtos de base aquosa ou de emulsão, contendo respectivamente cerca de

7% e 35% de solventes orgânicos, tem também grande vantagem em relação aos produtos de

base solvente, com 90% de solventes orgânicos.

Page 101: Guia Sectorial - Curtumes

93

Quadro 24 - Comparação das tecnologias de acabamento.

Tecnologia Perdas (%) Consumo unitário(g/m2) (Kg/t pele ws)

Pistola convencional 40 250 35Pistola HVLP 35 230 32Máquina de rolos 15 176 25

Avaliação económica

Na avaliação económica apenas terá sentido comparar o sistema de pistola convencional com

o sistema HVLP, porque a aplicação de acabamentos com máquinas de rolos não é sempre

uma alternativa aos outros processos, sendo vulgarmente utilizada com o fim de obter um

acabamento com diferentes características.

Na avaliação dos custos dos diferentes processos de acabamento, importaria considerar os

seguintes items:

Benefícios ou ganhos:

• Poupança no consumo dos produtos de acabamento, por via da diminuição das perdas

• Poupança dos custos de tratamento de efluentes e deposição das lamas, devido à menor

contaminação das águas residuais com os produtos perdidos

Investimento:

• Compra de pistolas HVLP

No exemplo comparativo aqui apresentado não se vão incluir os custos de

tratamento/deposição, porque a contribuição das perdas para esses custos são bastante

menores quando comparados com o custos da compra desses produtos. Os valores obtidos

para este caso encontram-se no Quadro 25, e são válidos para o processamento de 1 tonelada

de pele salgada (ws) alimentada ao processo (equivalente a 140 m2 de pele acabada). No

investimento considerou-se a compra e instalação de 16 pistolas HVLP em cabina de pintura

já existente.

Page 102: Guia Sectorial - Curtumes

94

Quadro 25 - Avaliação económica comparativa entre o processo convencional de pintura à pistola e oprocesso de pistolas de baixa pressão (HVLP). Base: 1 t/h de pele (ws) alimentada = 140 m2/h decouro acabado.

Factor económico comparativoProcesso convencional Processo avançado

com pistolas HVLPSolvente Emulsão Aquosa Solvente Emulsão Aquosa

Consumo de produtos deacabamento (contos/h) 25.9 17.4 23.9 23.5 15.8 21.9Benefícios expectáveis (contos/h)(convenc. – proc. avançado) 2.4 1.6 2Benefícios anuais (contos/ano) 4 660 3 100 3 880

Investimento (contos) 750 750 750

Período de recuperação do Investimento 2 meses 3 meses 2 meses

Tal como seria de esperar, as vantagens económicas da instalação das pistolas de baixa

pressão são claras, para além dos benefícios de natureza ambiental subjacentes.

Page 103: Guia Sectorial - Curtumes

95

6. CONCLUSÕES

O sector industrial dos curtumes é um dos mais tradicionais do país, produzindo

essencialmente couro acabado para a indústria do calçado, a partir de pele de bovino. Outros

mercados, de muito menor dimensão, são as peles curtidas para a indústria de vestuário e

marroquinaria, peles para solas e peles para estofos. O tecido industrial, constituído

essencialmente por pequenas e médias empresas, está concentrado em dois pólos: a região de

Alcanena com cerca de 75% das empresas e a região do distrito do Porto com cerca de 15%

das empresas. As principais dificuldades que o sector enfrenta relacionam-se com a forte

dependência do sector do calçado e a crescente concorrência das empresas estrangeiras no

mercado global.

Em termos de emissões para o ambiente, a actividade industrial das empresas de curtumes

gera essencialmente águas residuais e resíduos sólidos orgânicos. As águas residuais têm

elevadas cargas orgânicas (elevados valores de CQO, CBO5 e azoto orgânico) e inorgânicas

(essencialmente crómio, sulfureto e azoto amoniacal), constituindo por isso o principal

problema ambiental do sector. Estas águas são habitualmente tratadas em ETAR’s

(individuais ou colectivas de que é exemplo o sistema de tratamento de águas de Alcanena),

produzindo-se lamas. Os resíduos sólidos orgânicos são essencialmente rejeitos de peles

(raspas, aparas e poeiras) curtidas ou não curtidas. Estima-se que são gerados anualmente no

país cerca de 40 000 toneladas de resíduos sólidos orgânicos (aproximadamente metade

destas contendo crómio) e cerca de 28 000 toneladas de lamas de ETAR.

O potencial poluente das descargas das empresas de curtumes tem fomentado o

desenvolvimento de tecnologias mais limpas, essencialmente vocacionadas para a redução da

carga poluente das águas residuais. Destacam-se os processos de caleiro com recuperação do

pêlo, a desencalagem com dióxido de carbono, os processos de elevada exaustão do crómio, a

recirculação dos licores de curtimenta e a aplicação de acabamentos com equipamentos de

elevada eficiência. Muitas destas tecnologias já foram aplicadas industrialmente a nível

internacional, embora seja reconhecido que a sua generalização é lenta e difícil, devido à

grande especificidade dos processos neste sector. Em Portugal algumas das tecnologias

preventivas identificadas estão ainda em fase inicial de implementação. É necessário um

Page 104: Guia Sectorial - Curtumes

96

esforço conjugado de divulgação e sensibilização, bem como a prossecução de acções de

demonstração tecnológica, de forma a acelerar a sua efectiva implementação nas empresas.

Relativamente aos resíduos sólidos orgânicos (desperdícios de pele), essencialmente

constituídos por fragmentos de peles (curtidas e não curtidas), a diminuição substancial dos

seus quantitativos por aplicação de medidas e tecnologias preventivas não se afigura possível

porque a maior parte destes são resíduos fatais. Importará antes criar as condições para um

reaproveitamento efectivo destes resíduos, através da implementação de soluções já

conhecidas, assim como pelo incentivo ao desenvolvimento de novas aplicações.

Page 105: Guia Sectorial - Curtumes

97

BIBLIOGRAFIA

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Tanneries and the Environment – a Technical Guide to Reducing the Environmental Impactof Tannery Operations, UNEP – IEO, 1991

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W. Frendrup, Hair-Save Unhairing Methods in Leather Processing, UNIDO Project Report,US/RAS/92/120, 1998

Page 107: Guia Sectorial - Curtumes

99

Sites na Internet relacionados com o sector e a produção mais limpa

American Leather Chemists Association (http://www.leatherchemists.org)

Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes (http://www.apic.pt)

BLC Leather Technology Centre (http://www.blcleathertech.com)

Centro Tecnológico das Indústrias do Couro – CTIC (http://www.apic.pt/ctic/index.html)

CSIRO Leather Research Centre (http://www.wark.csiro.au/leather/)

Environet Australia (http://www.environment.gov.au/portfolio/epg/environet/)

Institute for Prospective Technological Studies (IPTC), TWG1 Tanneries(http://eippcb.jrc.es/pages/twg/tan/m1.htm)

International Leather Industry Directory (http://www.leatherdirectory.com)

Joint Research Centre (http://eippcb.jrc.es/exe/FActivities.htm)

Leathernet (http://www.leathernet.com/)

M. Redwood, Leather Marketing and Processing Guide (http://www.redwood.uk.com)

National Centre for Clean Industrial and Treatment Technologies(http://cpas.mtu.edu/cencitt/)

Sectoral Profile of the Leather Industry, Agro-industries, UNIDO–SID(http://www.unido.org/ssites/env/sectors/SIDleather.html)

United Nations Environmental Programme – Industry and Environment(http://www.unepie.org/cp)

US Environment Protection Agency – EPA (http://www.epa.gov/ost/guide/leather.html)

Page 108: Guia Sectorial - Curtumes

100

LISTA DE ALGUMAS EMPRESAS EVENTUAIS FORNECEDORAS DAS TECNOLOGIAS EPROCESSOS DESCRITOS NESTE GUIA (*)

Maquinaria e Equipamento para as Instalações de Curtumes

Catalana – Representações de Máquinas e Produtos, S.A.

Delgado & Filhos, Lda.

Honório Roque e Irmão, Lda.

Joaquim Fernando Santos Jorge, Lda.

Manuel Joaquim Ferreira Nico & Filhos, Lda.

Meireles & Carneiro, Lda.

Moita Santos, Lda.

RP - Equipamentos e Serviços para Modernização Industrial, S.A.

Tecnopele – Máquinas e Matérias Primas para a Indústria de Curtumes, Lda.

Topcor – Comercialização de Produtos Químocos, Lda.

Zima – Comércio Internacional, Lda.

Produtos químicos e processos a eles associados

Ar Líquido, S.A.

BASF Portuguesa, Lda.

BAYER

Carlos Henriques (Henkel)

Clariant

Codyeco

CURPATEX

Foret S.A.

Gasin – Gases Industriais, S.A.

HORQUIM

INDINOR

J. Nicolau Mateus, Lda.

Miguel Oliveira

MULTICOR

Praxair, S.A.

PRODERMA

Propele – Comércio Produtos Químicos e Peles, Lda.

Stahl Portuguesa, Lda.

UNISIDA

(*) Nota importante: não é uma lista exaustiva, nem reflecte nenhuma ordem ou preferência.

Page 109: Guia Sectorial - Curtumes

101

LISTA GERAL DE ENTIDADES, INSTITUIÇÕES EASSOCIAÇÕES NACIONAIS E SECTORIAIS

Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Territóriohttp://ambiente.gov.pt

Direcção-Geral do Ambientehttp://www.dga.min-amb.pt

Instituto dos Resíduoshttp://www.inresiduos.pt

Direcção-Geral da Indústriahttp://www.dgi.min-economia.pt

POE – Programa Operacional da Economiahttp://www.poe.min-economia.pt

INETI – Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrialhttp://www.ineti.pt

Associação Industrial Portuguesahttp://www.aip.pt

Associação de Empresários de Portugalhttp://www.aeportugal.pt

Confederação da Indústria PortuguesaAvenida 5 Outubro 35,1º - Lisboa1069-193 LISBOATelef. 213 164 700

APIC - Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumeshttp://www.apic.pt

CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Courohttp://www.apic.pt/ctic/index.html

Page 110: Guia Sectorial - Curtumes

102

NOTA SOBRE LEGISLAÇÃO

A classificação CER usada neste trabalho, é a actualmente em vigor, que foi adoptada pela

Legislação Portuguesa através da Portaria 818/97 de 5 de Setembro, por transposição da

Decisão 94/3/CE do Comissão da Comunidade Europeia de 20 de Dezembro de 1993.

Convém notar que, a nível da Comunidade Europeia, esta Decisão está a ser alvo de revisão,

prevendo-se a entrada em vigor da nova Decisão em final de 2001.

É ainda de notar que existem vários diplomas que concedem benefícios fiscais, de que se

destacam, para as empresas que realizem despesas em I&D (Decreto-Lei 292/97 de 22 de

Outubro), e para as que invistam em equipamentos destinados a reduzir as suas emissões

poluentes, tanto gasosas como líquidas ou sólidas (Decreto-Lei 477/99 de 9 de Novembro,

rectificado através da Declaração de Rectificação 4-B/2000 de 31 de Janeiro, e

regulamentado através do Despacho2531/2000de 1 de Fevereiro e pela Portaria 271-A/2000

de 18 de Maio).