guia incorreto da história do brasil

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Guia INCORRETO da História do Brasil – Leandro Narloch – Resenha crítica Muito, muito ruim !"s simo uso #ar a cel ulose, tinta e im#res s$o %m des#erdício monstruoso e in&usti'ic()el de (r)ores do Brasil  Politicamente Incorreto – O a. intitula seu trabalho de Guia “Politicamente” incorreto, inserindo-se claramente na ideologia conservadora estadunidense contemporânea, que contamina a de todos os pases peri!"ricos ao Imp"rio, a in!ormar que palavras como “negro” devem ser evitadas e substitudas por “a!ro-descendente”# “ndio”, por “americano nativo”# “esquerda” deve ser chamada de “ideologia” e “direita” passa a ser considerada “isenta de ideologia ”. $l"m disso, os her%is culturais da resist&ncia ao dom nio es tr angeiro devem ter suas hist%rias respeitadas 'e o a. se prop(e pr ecisamente a enlamear a mem%r ia des tes), assim como os vi l(es, genocidas e gatunos em geral devem ser e*postos pelas suas crueldades 'o a., no entanto busca em v+o, partindo de premissas !alsas ou !alaciosas, colocar lindas cores nos criminosos enquanto oga lama nos her%is). O livro cont"m vrias outras imprecis(es e incorre(es polticas que ultrapassam esta acep+o mais recente, “da moda”, por assim di/er .  0 rata-se de um livro politicamente incorreto, em diversas acep(es do termo, sem d1vida2 3as tamb"m antropologicamente incorreto, eticamente incorreto, economicamente incorreto, geopoliticamente incorreto e historicamente impreciso.4+o !ar !alta alguma a quem n+o o ler.  O a. !a/ um apanh ado a esmo de hist%rias e prec onceit os e os resume na pr imeira aba do livro, “5uem mais matou ndios !oram os pr%prios ndios” – o que seria isso6 Ouvindo a notcia da chegada da brutal “civili/a+o ocidental” resolveram cometer suicdio coletivo para n+o cair nas m+os do inimigo6 7eve haver algo mais dentro desse livro, n+o " poss vel uma abordagem assim simplista. “$ntes de entrar em guerra o Paraguai era um pas rural e burocrtico” – em termos... $ posse da terra se concentrava nas m+os da !amlia 8opes, que era a 1nica casta endinheirada do pas. 0odo o restante da popula+o era constituda de descendentes de uma longa mesti agem de guaranis com descendentes de espanh%is no pas bilngue e sem anal!abetismo. 9m :;<= todos os paraguaios com mais de :> anos sabiam ler e escrever em espanhol e guarani. O pa s era eminentemente agrrio, mas contava com !errovias de !abrica+o pr%pria '?olano 8opes contratou mais de centenas de pro@s sionais de diversos pases para ensinar a tecnologia industrial nascente aos paraguaios. 9ram os estrangeiros a servio do Paraguai e n+o o pas a servio dos estrangeiros como usualmente ocorre na $m"rica 8atina) e as armas que o Paraguai usou na Guerra 'canh(es, p%lvora, !u/is, balas, morteiros, etc. eram !abricadas no Paraguai, na Aundi+o Bbicu), ao contrrio dos pases coligados contra o

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Guia INCORRETO da História do Brasil –Leandro Narloch – Resenha crítica

Muito, muito ruim !"ssimo uso #ara celulose, tinta e im#ress$o %mdes#erdício monstruoso e in&usti'ic()el de (r)ores do Brasil

 

Politicamente Incorreto – O a. intitula seu trabalho de Guia “Politicamente”incorreto, inserindo-se claramente na ideologia conservadora estadunidensecontemporânea, que contamina a de todos os pases peri!"ricos ao Imp"rio,a in!ormar que palavras como “negro” devem ser evitadas e substitudaspor “a!ro-descendente”# “ndio”, por “americano nativo”# “esquerda” deve

ser chamada de “ideologia” e “direita” passa a ser considerada “isenta deideologia”. $l"m disso, os her%is culturais da resist&ncia ao domnioestrangeiro devem ter suas hist%rias respeitadas 'e o a. se prop(eprecisamente a enlamear a mem%ria destes), assim como os vil(es,genocidas e gatunos em geral devem ser e*postos pelas suas crueldades 'oa., no entanto busca em v+o, partindo de premissas !alsas ou !alaciosas,colocar lindas cores nos criminosos enquanto oga lama nos her%is). O livrocont"m vrias outras imprecis(es e incorre(es polticas que ultrapassamesta acep+o mais recente, “da moda”, por assim di/er.

  0rata-se de um livro politicamente incorreto, em diversas acep(es

do termo, sem d1vida2 3as tamb"m antropologicamente incorreto,eticamente incorreto, economicamente incorreto, geopoliticamenteincorreto e historicamente impreciso.4+o !ar !alta alguma a quem n+o oler.

  O a. !a/ um apanhado a esmo de hist%rias e preconceitos e osresume na primeira aba do livro, “5uem mais matou ndios !oram ospr%prios ndios” – o que seria isso6 Ouvindo a notcia da chegada da brutal“civili/a+o ocidental” resolveram cometer suicdio coletivo para n+o cairnas m+os do inimigo6 7eve haver algo mais dentro desse livro, n+o "possvel uma abordagem assim simplista. “$ntes de entrar em guerra oParaguai era um pas rural e burocrtico” – em termos... $ posse da terra seconcentrava nas m+os da !amlia 8opes, que era a 1nica casta endinheiradado pas. 0odo o restante da popula+o era constituda de descendentes deuma longa mestiagem de guaranis com descendentes de espanh%is nopas bilngue e sem anal!abetismo. 9m :;<= todos os paraguaios com maisde :> anos sabiam ler e escrever em espanhol e guarani. O pas eraeminentemente agrrio, mas contava com !errovias de !abrica+o pr%pria'?olano 8opes contratou mais de centenas de pro@ssionais de diversospases para ensinar a tecnologia industrial nascente aos paraguaios. 9ramos estrangeiros a servio do Paraguai e n+o o pas a servio dos estrangeiroscomo usualmente ocorre na $m"rica 8atina) e as armas que o Paraguai usou

na Guerra 'canh(es, p%lvora, !u/is, balas, morteiros, etc. eram !abricadas noParaguai, na Aundi+o Bbicu), ao contrrio dos pases coligados contra o

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Paraguai 'Cruguai, $rgentina e Drasil) que precisavam comprar da Inglaterrao armamento, a muni+o, os uni!ormes e mesmo os grilh(es para condu/iros “voluntrios da ptria” ao !ront de combate. Os arquivos daquela guerrano Drasil seguem selados, portanto, qualquer pesquisador tem de con@arnas !ontes primrias do Cruguai, da $rgentina, da Inglaterra e mesmo dos

9C$, onde se encontra in1meras in!orma(es. $ vers+o do 9*"rcitoDrasileiro segue imutvel desde :;<= e est em conEito com as outrasvers(es dos arquivos abertos, mas " a que o a. de!ende em sua obra,claramente incorreta, particularmente do ponto de vista poltico mesmo.4+o me conto entre os que de!endem a tese de que a Inglaterra, de alguma!orma, !omentou aquela guerra. 3as " absolutamente inegvel que aInglaterra !oi a maior vencedora do conEito com todos os pases envolvidosbrutalmente endividados para com a Pot&ncia 9urop"ia.

  $s outras cita(es na aba inicial do livro n+o merecem mais que umboceo, pois n+o chegam a constituir novidadeF “umbi tinha 9scravos”#

“?antos 7umont n+o inventou o avi+o”, etc. 

4a aba da contracapa entendemos melhor um pouco osensacionalismo e o amadorismo da apro*ima+o do a. Cm ovem, e*-editorda revista “?uperinteressante”, sem !orma+o em hist%ria e com vontade deirritar e “se vingar” dos pro!essores que – qui eles mesmos con!usos emal preparados – transmitiram como “O@cial” a 4ova Hist%ria rtica,aumentando a con!us+o. O !olhetim “?uperinteressante”, para quem n+o serecorda bem, !alava de pessoas que teriam sido abdu/idas pore*traterrestres, gente que ouvia pela barriga, contatos medi1nicos comgente morta, publicava !otos sensacionalistas questionando o pouso dosastronautas estadunidenses na 8ua e outras mi*%rdias sensacionalistasintelectualmente va/ias de conte1do.

  $brimos o livro e o a. !a/ uma con!us+o sem sentido nemnecessidade com as nomenclaturas dadas J Historiogra@a o@cial. 4+o "culpado. $l"m de n+o ter !orma+o na rea, a educa+o no Drasil vemmesmo ladeira abai*o h d"cadas2 Aico triste por ele...

  $ partir de meados do s"culo KK, os historiadores s"rios !oram Js!ontes primrias 'sobreviventes de determinados eventos ou seusdescendentes, ornais de "poca, registros de bati/ado, casamento ou – se no perodo republicano – cart%rios de registros) e revisaram a Hist%ria O@cialpassando a cham-la de 4ova Hist%ria rtica do Drasil. 9sta vers+o, bem

mais pro!unda e acurada, procurava a precis+o hist%rica com todo oempenho e concluiu algumas coisas que passaram a ser ensinadas nasescolas p1blicas e privadas a partir da segunda metade do s"culo KK '"poca

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em que o a. !requentava bancos escolares). Dem, o a. se rebela contra ahist%ria que coloca o negro, o ndio e as mulheres no mesmo patamar dehumanidade que os brancos vindos da Pennsula Ib"rica. Para ele, “" precisoremover o rano de ideologia e reconhecer a superioridade do homembranco sobre o ndio, o negro e as mulheres” – n+o o di/ com essas palavras

e*atamente, mas " nelas que se @rma para criticar a 4ova Hist%ria rtica,voltando precisamente J Hist%ria O@cial, tradicional, de Oliveira Lianna eoutros epgonos da direita brasileira. hama de “O@cial” a Hist%ria rticaque nos levou d"cadas para limpar de todo o rano conservador da Hist%ria

 0radicional de meados do s"culo passado e chama de “4ova Hist%ria” esteretrocesso J hist%ria J la Oliveira Lianna, dando ares de novidade a coisas conhecidas e desconsideradas por imprecisas em meados e @nais do s"culopassado. Hist%ria Incorreta mesmo, portanto. 7i/ desear “causar raiva a umbocado de gente”. 0alve/ eu estea um tanto /angado, mas n+o com o a.,coitado, que se sueitou a essa herana maldita da p"ssima educa+o dasescolas que o levou a rebelar-se contra os !atos, voltando Js @c(es do

tradicionalismo historiogr@co.

  Provavelmente, por causa das ditaduras militares plantadas no one?ul da $m"rica 8atina pelos 9C$ no auge da chamada “Guerra Aria” contra ocomunismo, os intelectuais de direita brasileiros pre!erem alegar-se “semideologia”. “om ideologia” s+o aqueles que acreditam numa alternativamais humani/ada, menos cruel, n+o capitalista a tudo o que vemosdesmoronar em nosso pas e vi/inhana.

  Pois bem, como um pequenino Arancis AuMuNama tupiniquim, alia-seao tamb"m direitista 'ou “n+o ideol%gico”) os" 3urilo de arvalho e celebra“o @m das ideologias”. ano das ditaduras militares no Drasil, hile,$rgentina, Cruguai, Paraguai, etc., os ide%logos da direita s% conseguemvislumbrar ideologia na contesta+o. ?ua ideologia voltada a elogiar otradicional, voltar ao antigo dando-lhe nomes novos 'inovando em palavrase !ontes – sempre secundrias, mais um de!eito de um n+o historiador seimiscuir em seara que lhe " desconhecida, amais visita cemit"rios paracon!erir datas, ou mesmo l& ornais de "poca, menos ainda entrevistapessoas – descendentes ou mesmo testemunhas oculares de alguns !atosnarrados para a!erir sua veridicidadeF satis!a/-se com a pesquisa super@cialem livros com cua orienta+o ideol%gica concorda). $bordagem incorreta,“politicamente” incorreta, se se !a/ quest+o.

  essalto que grandes intelectuais de direita nos 9C$ e 9uropa,!a/em quest+o de assim o a@rmarF o citado Arancis AuMuNama, IrvingQristol, 4orman Podhoret/, ?am Harris, 3ilton Ariedman... Dah, contam-seentre milhares e se orgulham de estar entre os principais ide%logos dadireita. 7e esquerda s+o os que de!endem os interesses do povotrabalhador, o que gera a rique/a 'n+o na propaganda, como 8ula e seuscomparsas, mas na prtica). 7eles o mundo contemporâneo tamb"m estbem servido. 4o topo da lista, sem sombra de d1vida, 4oam homsMN, mastamb"m 1lio os" hiavenatto, 9duardo Galeano, Igncio amonet, ?lavoi/eM e por a vai.

  4+o sendo orientado por uma corrente ideol%gica, quem desearescrever o que quer que sea @ca mais perdido que barata em danceteria. O

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!ato de o a. do livro em anlise haver selecionado autores de direita comosua 1nica !onte de pesquisa cient@ca o coloca ideologicamente em seunicho, quer ele goste disso ou n+o, o que " irrelevante.

9tnocentrismo, o maior buraco no livro

  R um trabalho 9tnoc&ntrico, mais especi@camente 9uroc&ntrico, queperde totalmente o valor, se por mais nada, por esta ra/+o singelaF aultura 9urop"ia, com toda a sua bele/a e grande/a, n+o " nem pode ser a1nica a ser considerada em contatos culturais entre civili/a(es di!erentescomo a 9urop"ia com a $merndia e a $!ricana. on@ra mais detalhes sobreisso em 9tnocentrismo e o S$bandono ?alutarS do Drasil entre :<== e :<T=

 

9studos de casos

 

omo !a/ o a., n+o vou me debruar sobre tudo o que escreveu, hcoisas que s+o por demais %bvias para merecer considera(es mais

apro!undadas. Cma revis+o acurada e s"ria implicaria, sim, em outro livro... 

: – Undios

O estudo aqui chega a um primarismo atro/F o a. “descobriu” que os ndios  !a/iam guerra entre si antes da chegada dos europeus por aqui e que osportugueses se aliavam com algumas tribos para massacrar outras, a seguircom terceiras para massacrar as segundas, envolviam-nos nas disputas deterras com os navegadores oriundos de pases protestantes quecontestavam o direito do soberano da Igrea at%lica “dividir o mundo entre

Portugal e 9spanha” e assim, levavam muitos ndios a aliar-se com osportugueses para lutar contra !ranceses 'que tamb"m tinham aliados entreos ndios), holandeses, etc. Aa/endo as contas, simF ndios mataram muitosndios. 9ram motivados internamente, entre eles, para isso6 laro que n+o.Os ndios podem ser considerados responsveis pela sua pr%pria e*tin+o6idculo...

  H um conceito em antropologia, chamado de 904O940I?3O que,resumidamente signi@ca algo como “considerar a pr%pria cultura oucivili/a+o como superior a todas as demais ou mesmo a 1nica vlida”, oque " um erro, pois os seres humanos percorrem todos os rinc(es doPlaneta 0erra h pelo menos :<=.=== anos, culturas e civili/a(es distantesoptaram por atuali/ar determinados potenciais humanos e outras o !a/emde maneira di!erente. 0vetan 0odorov em “$ onquista da $m"rica” coloca

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com clare/a as di!erenas de vis+o de mundo entre os 9uropeus e os nativosdesta terra. $ 9uropa enascentista estava !echada nas certe/asescolsticas da Igrea at%lica e, em guerra contra muulmanos e udeus,por ila+o contra tudo o que n+o !osse crist+o. Os “ndios” !oramsurpreendidos com um acontecimento !abuloso cua dimens+o somente aos

poucos se descortinou.  $ntropologicamente ainda, sabemos que a 9sp"cie Humana " a1nica no Planeta 0erra que pratica sacri!cios conscientes de membros dapr%pria esp"cie, “sacri!cios humanos” como no caso de Giordano Druno – etantos milh(es de seres humanos que iluminaram a 9uropa com as!ogueiras da ?anta Inquisi+o. li em algum lugar que “n+o !oram milh(es,!oram apenas algumas centenas de milhares...” de pessoas que morreramporque eram “bru*as”, “hereges”, “maons”, cat%licos entre osprotestantes, protestantes entre os cat%licos, etc. Os ?acri!cios Humanos –sempre praticados em todas as sociedades humanas em todos os tempos –

seguem uma ritualstica e, milh(es, centenas de milhares ou que n1mero!or, n+o me parece usti@cvel. Hoe em dia, no centro do capitalismo os?acri!cios Humanos s+o decididos em tribunais e cortes 'os 9C$ s+o o1ltimo pas do :V mundo que ainda pratica esse tipo de ritual) e a !orma dee*ecu+o varia de lugar para lugarF !u/ilamento, cadeira el"trica, ine+oletal, gs... $s comunidades tribais da $m"rica n+o s+o di!erentes e tamb"mtinham l seus rituais para os sacri!cios humanos. Il%gico considerar queum tipo de sacri!cio humano " “aceitvel” e outro tipo “n+o " aceitvel”. $decis+o, tradicionalmente se d pelas armas, quem disp(e de maior aparatob"lico vence e a sua !orma de ?acri!cio Humano adota nomes mais amenos'mas segue !a/endo vtimas). 4ote bemF n+o h “superioridade moral” em

quest+o neste caso. $ superioridade b"lica !oi o su@ciente para determinar“que c%digo de conduta moral deve ser considerado superior”.

  ?abemos ainda que a 9sp"cie Humana " a 1nica capa/ de untargrupos grandes de pessoas para “!a/er guerra” contra outro grupo 'issoocorre entre ulus e Dantos# entre 0upinambs e Guaranis# entre Arancesese $lem+es# entre estadunidenses e muulmanos, entre udeus epalestinos...) 7a que, “in!ormar” que “os ndios tamb"m !a/iam guerra” "mais ou menos como in!ormar que “os ndios tamb"m s+o humanos” – n+oacrescenta nem subtrai absolutamente nada ao conhecimento a despeito don1mero de pginas dedicadas a este tema espec@co, buscando,

904O940I$39409, usti@car as lutas dos brancos contra os ndios como“ustas” e as resist&ncias dos ndios aos brancos como “inustas” ou, nolimite, “burrice”, uma ve/ que os europeus aqui estavam para “tra/er acivili/a+o”... 9urop"ia, que n+o era do interesse dos ndios, como @couclarssimo e @ca claro at" hoe, quando os madeireiros paulistas despeam –de avi+o – cargas enormes com doces, chocolates, camisetas, brinquedos eoutras bugigangas para os Ianomâmi no $ma/onasF tudo in!ectado comLarola. 3orta a popula+o Ianomâmi da rea pretendida pela madeireira,v+o para l os brancos vacinados e desmatam mais um pedao grande do!uturo 7eserto $ma/Wnico.

$40OPO8OGI$39409 I4O90O " outro ttulo que cabe ao livro emanlise, portanto.

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  Os ndios do Drasil @caram literalmente 9409 $ C 9 $ 9?P$7$Fou se convertiam J mensagem da cru/ – e morriam enquanto cultura – oumantinham seus costumes e eram passados ao @o da espada. O genocdiodos ndios do Drasil continua a pleno vapor em pleno s"culo KKI, como digoacima e n+o h nada moralmente superior na cultura europeia que usti@que

este !ato. 

X – 9uclides da unha

  $lguns dados pinados pelo a. da Obra de 3arco $ntonio Lilla s+orealmente precisos. Lilla " um pesquisador s"rio que vai J !onte, busca a!onte primria sempre e n+o escrevinha sobre o que leu em outros livrossomente. Pessoas s"rias con!erem o que est publicado em livros –ideologicamente orientados todos, por de@ni+o – atrasava reportagens#talve/ seu e*cesso de /elo o levasse a con!erir a acuidade dos !atos antesde remet&-los a ?+o Paulo com a sua assinatura e isso !requentemente !a/iacom que outros ornalistas apresentassem “!uros” antes dele.

  O !ato de estar dedicado J acuidade dos !atos est patenteado emseu livro mais !amoso 'e concordo com o a. neste ponto, para o leitor dos"culo KKI, chatssimo2) “Os ?ert(es”. 9scrito numa "poca em que e*ibirerudi+o era praticamente obrigat%rio em livros s"rios 'como hoe e*ibirignorância parece cumprir o mesmo papel), para o leitor da "poca !oiaclamadssimo, vrias edi(es se @/eram publicar, vrias leituras p1blicasde trechos do livro !oram reali/adas em diversos saraus no io de aneiro

mas, evidentemente, n+o era “?uperinteressante”, n+o !oi escrito com ainten+o de “ser popular”. R realmente um livro para poucos, desde a suapublica+o.

  R !ato not%rio que 9uclides da unha dedicava mais tempo a seuslivros, suas cartas, seu trabalho e seus estudos que J !amlia. 0amb"mnot%rio que $nna da unha precisava !requentemente do suporte paterno#quando o 3aor ?%lon ibeiro !aleceu, ela realmente @cou numa situa+obastante di!cil.

  $nna era uma mulher admirvel. $s aus&ncias do marido a @/eram

apro*imar-se de 7ilermando de $ssis 'que, por sinal, ela audou a criardesde a in!ância), amigo da !amlia, h%spede constante e $nna, solitria e!ogosa, numa viagem que 9uclides !e/ J $ma/Wnia a pedido do Dar+o do ioDranco, acabou engravidando de 7ilermando pela primeira ve/. $ crianamorreu poucos dias ap%s o parto, o que " !ato. $s vers(es sobre a morte domenino s+o divergentes. udite de $ssis, terceira @lha do casal, escreveu umlivro impregnado de insultos e inverdades sobre 9uclides da unha, que a!amlia de 9uclides 'eu, que assino estas linhas, tenho a honra de contarentre meus amigos os !amiliares de 9uclides da unha, alis) re!uta linhapor linha. Para udite, 9uclides da unha impediu $nna de alimentar acriana 'o que, !rancamente, n+o me parece condi/ente com o per@l de um

che!e de !amlia t+o ausente quanto 9uclides o era...). 9uclides da unha eseus descendentes acusam $nna de $ssis de tomar abortivos que acabaram

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por minar o pouco de vida que nasceu com a criana. omo n+o houve uminqu"rito policial apro!undado e n+o h consenso quanto J causa mortis dacriana, o a. pre!eriu @car com a OPI4IYO da udite. 7ireito dele, o de “tomarpartido”, claro. 3as di/er que 9uclides da unha !oi um “in!anticida” " ume*agero desnecessrio e, do ponto de vista hist%rico meramente !actual,

simplesmente I4O90O.  O segundo @lho que $nna teve com 7ilermando, 9uclides da unhacriou como seu e se re!eria a ele em suas cartas como “minha espiga demilho no ca!e/al”, pois ele e $nna eram morenos e o menino, loirinho, era“a cara do 7ilermando”... O a. da “Hist%ria Incorreta do Drasil” omite este!ato – o segundo @lho de 7ilermando e $nna, estando ela ainda casada com9uclides, por ignorância ou omiss+o calculada a @m de re!orar a imagemde “in!anticida” criada pela udite, o a. 9OC 79 4OLO.

  $rthur ?choppenhauer, provavelmente o homem que melhorcompreendeu a mulher em toda a sua comple*idade, assim se re!ere ao

adult"rioF

  “$ honra !eminina quer que n+o ocorra um coito ilegtimo, poissomente assim o inimigo 'os homens) " obrigado J capitula+o 'ocasamento)# por isso, toda a c%pula ilegtima " punida pela comunidade!eminina como uma trai+o em !avor do inimigo, por meio da imposi+o dedesonra J culpada e da e*puls+o do grupo.

  $ honra masculina quer que n+o ocorra nenhum adult"rio, poissomente assim o inimigo 'as mulheres) " obrigado a, pelo menos, manter acapitula+o obtida# por isso, todo aquele que tolera conscientemente o

adult"rio de sua mulher " punido pela comunidade masculina como traidor,por meio da imposi+o da desonra.”

  7i!cil entrar nos pensamentos de outros seres humanos, mas " !atoque 9uclides da unha conhecia as in@delidades de sua mulher h muitotempo. Pode ter acontecido o que ?choppenhauer sugereF punido pelasociedade pela imposi+o da desonra, somado ao !ato de estar @sicamenteacabado 'a necropsia de 9uclides da unha detectou que se ele n+omorresse daqueles tiros des!eridos por 7ilermando, morreria rpido de umdos muitos males que o aEigiamF 0uberculose, tumores no trato digestivo,suspeita de 3al de hagas...) de@niu a situa+o. 4+o tinha como sair vivodaquele “bangue-bangue” com uma pistolinha emprestada !oi desa@ar ocampe+o de tiro do 9*"rcito em sua pr%pria casa...

T – Interesses 9conWmicos como mola da hist%ria

  O a. se apresenta irritadio com a anlise da hist%ria –particularmente da hist%ria da e*pans+o europeia, a 1nica que o interessa,despre/ando os ndios e negros como seres in!eriores – a partir deinteresses econWmicos. 7espede a anlise a partir de interesses econWmicoscom uma ou duas !rases mal alinhavadas. O ide%logo da direita que seseguiu a 3ar*, 3a* Zeber, teve um tanto mais de cuidado e !undamentousua crtica ao mar*ismo com alguma elegância e pro!unda erudi+o. O a. da

“Hist%ria Incorreta” simplesmente se recusa a analisar a partir deste prismanuma !rase e passa a !a/&-lo !requentemente ao longo do livro.

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  4+o gosta de ver o quintal dos 9C$ ser assim re!erido, como setiv"ssemos outra alternativa. Lea-se o que se tem !eito, por e*emplo naHist%ria do Drasil 'o mesmo valendo para $rgentina, hile, Cruguai,Paraguai...) nas 1ltimas d"cadasF 9ntre :[<< e :[\= os 9C$ criaram uma9scola ?uperior de Guerra e chamaram militares de alto escal+o de todo o

subcontinente para !requentar suas aulas 'aprendia-se “m"todos dee*tra+o de con@ss+o”, eu!emismo para tortura, outro !enWmeno que, noreino animal, s% ocorre na 9sp"cie Humana, a tortura# “combate aocomunismo”# “controle de dist1rbios populares” e outros temas angelicaiscong&neres. 7e volta aos pases de origem, todos os militares de altapatente criaram suas pr%prias “9scolas ?uperiores de Guerra” com o mesmotipo de orienta+o ideol%gica. 9m :[\> !oi a ve/ dos militares brasileirosdarem um golpe no presidente constitucional, com largo apoioestadunidense que mantinha uma !rota a postos para intervir a qualquermomento caso os militares brasileiros n+o conseguissem controlar asitua+o. $qui n+o !oi necessria uma interven+o direta, como a que

ocorreu no hile em :[]T com o desembarque dos boinas verdesestadunidenses atirando a esmo no que se me*esse, como usualmente!a/em nos pases que invadem.

4o @nal do s"culo KK !oi a ve/ do Poder decis%rio de !ato nos 9C$ !oitrans!erido da asa Dranca para Zall ?treet e os ide%logos da direitaestadunidense – 3ilton Ariedman J !rente – e toda a economia dosubcontinente !oi orientada segundo o que se convencionou chamar“onsenso de Zashington”# no Drasil, “Plano eal”, na $rgentina, “Planoavallo”. O princpio " bem simplesF privati/a(es subvencionadas porrecursos oriundos dos impostos dos povos do pas dominado# eleva+o das

ta*as de uros# moeda mais ou menos paritria ao d%lar estadunidense n+oimporta a que meios ou custos ao povo do pas vtima# congelamento desalrios# conten+o de “gastos” com sa1de, educa+o e segurana p1blica,tornando o pas “seguro” para o apital e tremendamente inseguro para avida humana# “internali/a+o”, na moeda local, da dvida e*terna a serpaga, com uros maiores aos mesmos credores. O modelo se espalha pelomundo inteiro e, como n+o " “sustentvel” – uma dvida crescente cuos

 uros n+o pagos s+o agregados ao principal numa escalada sem @m. $t" opresente as “alternativas” encontradas s+o as de “redu/ir os custos da m+ode obra” e “redu/ir os gastos do governo” – obin Hood Js avessas arrancardinheiro de quem tem pouco para trans!erir aos senhores do cassino

internacional em que se tornou o capitalismo contemporâneo.

9m nada disso consegue o a. encontrar “interesses econWmicos”conEitantes entre os agressores e os agredidos6 Inoc&ncia, incoer&ncia ouideologia6 $ resposta aparece claramente na e*press+o – “isenta deideologia” com que o a. termina o livro, em minha edi+o na pgina TT\F“Liva o Drasil apitalista2”

 

oando mosquito

 

7/26/2019 Guia INCORRETO Da História Do Brasil

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  Lale a pena ler este livro, mas eu tomaria o cuidado de somente orecomendar a quem tem algum conhecimento pelo menos demetodologia cient@ca s"ria. 0rabalhos elaborados a partir de !ontessecundrias ou tercirias n+o s+o s"rios nem merecem ser levados a s"rio.?ervem, no m*imo, como uma re!er&ncia parcial a um recorte muito

particular de eventos selecionados de acordo com a orienta+o ideol%gicado a., sem compromisso com a realidade hist%rica.

  O samba nasceu do a//...

  umbi n+o se chamava Arancisco e tinha escravos...

  Os Portugueses aprenderam a escravid+o com os negros e a !eioadatem origem europeia...

  $leiadinho !oi um personagem de @c+o 'o a. de!ende l o seuponto de vista. R preciso reconhecer que h mais obras atribudas a um1nico artista do que seria racional imaginar, mas se vamos a ongonhas doampo, vemos as esttuas em pedra-sab+o e, de@nitivamente, aquilo n+o "obra de um personagem de quadrinhos da ?uperinteressante2)

  $ princpio os esutas “deram uma !olga” na mata atlântica, ?I,pois eram os ndios que a estavam destruindo '?I de novo2). 4o @m dascontas, os Portugueses aprenderam com os ndios a prtica da coivara'assusta como os portugueses s% aprenderam o que n+o presta com ospovos da ^!rica e da $m"rica...).

  Os ndios eram viciados em cachaa e n+o davam sossego Jspessoas que viviam suas vidas pacatas nos povoados adacentes –

estranho... 9 eu que pensava que a cachaa era uma inven+o europeia...  ?obre 3onarquia e Imp"rio um elogio J '?I) voca+o paci@sta egradualista do brasileiro...

  Os comunistas eram trapalh(es e atrapalhados em sua luta contra aditadura militar. 7eve ser por isso que os generais mandaram tantos avi(esH"rcules -:T= carregados com “essa gente desagradvel” para ser ogadano meio do Oceano $tlântico.

  ?antos 7umont n+o cometeu suicdio por que viu sua inven+o serusada na Primeira Guerra 3undial – em verdade, os irm+os Zright

claramente passaram a sua !rente e ?antos 7umont n+o tinha problemasem ver seus bal(es e avi(es usados para despear bombas... Por algummotivo que s% o a. pode e*plicar, a vers+o corrente na "poca e at" bemrecentemente de que !oi o homosse*ualismo de 7umont o que o levou Jdepress+o e ao suicdio n+o aparece e este vi"s tem um potencial bem aogosto do pequenino a., sensacionalista.

  $ 7outora 4i_de Guidon enviou amostras de suas descobertas na?erra da apivara, em ?+o aimundo 4onato, Piau para anlise e data+oprecisa em laborat%rios na Arana e 9C$ – inclusive copr%litos – !e/es!ossili/adas, 1teis para se descobrir o que as pessoas que ali moravam

comiam. $ data+o atrav"s do arbono :> e outras metodologias maisso@sticadas vaticinaramF o stio arqueol%gico de ?+o aimundo 4onatoapresenta ocupa+o humana datada de mais de ><.=== anos atrs. 9ste

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!ato em si tra/ mais perguntas que respostas – havia seres humanosorgani/ados em alguma !orma de comunidade em ?+o aimundo 4onato hmais de ><.=== anos. omo chegaram ali6 5ual era o clima, a vegeta+o e ahidrologia do lugar h >< milhares de anos6 5ual teria sido sua traet%ria e oque os atraiu ali6 R preciso pesquisar mais a !undo os pontos intermedirios

que necessariamente nossos ancestrais trilharam antes de chegar at" ali,etc. Interessante como, neste caso, que n+o cabe, a 1nica coisa que o a.consegue ver 'sempre vemos o mundo com nossos pr%prios olhos, claroest) s+o “interesses econWmicos escusos”, o que ele se recusa a admitirem casos concretamente documentados e provados... R de se lamentar, n+ocausar ira ou raiva, que a educa+o no Drasil tenha chegado a ponto de uma. poder colocar uma barbaridade dessas num livro publicado embora poreditora obscura. 4+o creio que a 7outora 4i_de Guidon, grande ser humano,v se rebai*ar a responder ao leandro, tadinho... R uma acusa+o t+oabsurdamente risvel que sequer mereceria comentrio se esse livro n+ohouvesse atingido 'ao lado daqueles de auto-auda ao $utor e li*o

intelectual similar) um lugar de destaque entre “os mais lidos” num pas t+oculturalmente pauperi/ado quanto o nosso...

 

Leredicto

  0rata-se de um livro bem escrito, super@cial ao estremo, semapro!undar tema algum al"m das !ontes secundrias ou tercirias,completamente in1til ao estudioso ou estudante de Hist%ria do Drasil queapresenta – mal, muito mal e super@cialmente – alguns !atos curiosos quetalve/ meream um olhar mais aguado de algum historiador realmente

s"rio.

  7o ponto de vista hist%rico, !actual, por se !undamentar em !ontessecundrias ou tercirias apresenta-se HI?0OI$39409 I4O90O.

  7o ponto de vista antropol%gico, por centrar-se na vis+o euroc&ntricae apresentar despre/o monumental a qualquer cultura di!erente da europeiao livro " $40OPO8OGI$39409 I4O90O.

  7o ponto de vista da orienta+o ideol%gica, ao tomar o partido dos“vencedores” contra os “vencidos”, volta J Hist%ria O@cial do Drasil do inciodo s"culo KK, apoia o Imp"rio, a ditadura militar e a ditadura do apital. R

I79O8OGI$39409 OI940$7O ` 7I9I0$ 9 PO8I0I$39409 I4O90O.  9m sntese, como digo acima e rea@rmo aquiF SR um livreco muito,muito ruim. P"ssimo uso para celulose, tinta e impress+o. Cm desperdciomonstruoso e inusti@cvel de rvores do Drasil.S

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opNle!t 8 Publica(es 9letrWnicas 0odo o conte1do desta pgina podeser copiado e divulgado para @ns n+o comerciais. R educado sempre citar a!onte... ontatoFhttpsF.!acebooM.comla/aro.chaves