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EDUCAÇÃO PARA A
CIDADANIA DEMOCRÁTICA
GUIA DOPROFESSOR
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORALESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL (EJE/TSE)FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF)
BRASÍLIA, MARÇO DE 2017.BRASÍLIA, MARÇO DE 2017.
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GUIA DOPROFESSOREDUCAÇÃO PARA A
CIDADANIA DEMOCRÁTICA
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORALESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL (EJE/TSE)FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF)
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
BRASÍLIA, MARÇO DE 2017.
4 5
PREFÁCIO • 6
1. QUESTIONANDO TUDO! • 8
TEMA 1: a liberdade de expressão e o papel da mídia na democracia • 11
Texto Conceitual: “A liberdade de expressão e o papel da mídia na democracia” • 11
Texto para discussão: “A mídia virou partido político?” • 15
Questões para debate • 18
Atividade complementar • 21
Leituracomplementar:“Ojornalismoeofimdosjornais” • 22
TEMA 2: A função dos partidos políticos • 28
Texto Conceitual: “Partidos Políticos no Brasil e no mundo” • 28
Texto para discussão: “Partidos políticos e democracia: experiências inovadoras” • 34
Questões para debate • 38
Atividade complementar • 41
Leituracomplementar:Quemfiscalizaospartidospolíticos?•41
TEMA 3: Igualdade, diferença, pluralismo político e participação: o exemplo das mulheres • 44
Texto conceitual: Participação da mulher na política • 44
Texto para discussão: Existe igualdade na participação política das mulheres, no Brasil? • 50
Questões para debate: • 55
Atividade complementar • 57
Leitura complementar: Como são escolhidos os candidatos? • 58
2. SUGESTÃO DE USO DO GUIA DO PROFESSOR • 60
Competências a serem construídas em conjunto com os alunos • 60
Estrutura do Guia • 60
Temas gerais do “Projeto Educação para a Cidadania no Ensino Médio” • 61
• Tópico i: Cidadania, democracia e política no Estado Democrático de Direito (na Constituição de 1988) • 61
• Tópico ii: O processo eleitoral no Brasil • 61
• Tópico iii: Responsabilidade Política e prestação de contas (Accountability Político) • 62
3. PROPOSTA DE TRABALHO • 63
Desafiosparaatuaçãoemtemastransversais•63
Blocos temáticos • 64
Quadro resumo da estrutura do guia • 65
Dinâmica proposta • 66
Orientações gerais • 67
Organizaçãodocurrículoecargahorária•68
Sites de referência • 69
Sumário
Guia do professor : educação para a cidadania democrática no ensino médio / Escola Judiciária Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral, Fundo das Nações Unidas para a Infância. – Brasília : TSE/EJE : UNICEF, 2017.
69 p. : il. color.
ISBN : 978-85- 86611-94- 0
1. Educação para a cidadania – Ensino médio. I. Tribunal Superior Eleitoral (Brasil). Escola Judiciária Eleitoral. II. UNICEF.
CDD 379.81 CDU 37.017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Tribunal Superior Eleitoral – Biblioteca Prof. Alysson Darowish Mitraud)
© 2016 Tribunal Superior Eleitoral e Fundo das Nações Unidas para a Infância É permitida a reprodução parcial desta obra desde que citada a fonte.
Escola Judiciária Eleitoral SAFS, Quadra 7, Lotes 1/2 – CEP 70070-600 – Brasília/DF – Telefone: (61) 3030-7474
Secretário-Geral da Presidência do TSE Luciano Felício Fuck
Diretor da Escola Judiciária Eleitoral EJE/TSE Fábio Lima Quintas
Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF Escritório do Representante do UNICEF no Brasil: SEPN 510, Bloco A, 2º andar – CEP 70750-521 – Brasília-DF www.unicef.org.br • www.facebook.com/unicefbrasil • www.twitter.com/unicefbrasil Instagram: @UnicefBrasil • Email: [email protected]
Representante do UNICEF no Brasil Gary Stahl
Representante Adjunta do UNICEF no Brasil Esperanza Vives
Coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes Mário Volpi
Oficial do Programa Cidadania dos Adolescentes Gabriela Goulart Mora
Assistente do Programa Cidadania dos Adolescentes Daniel Graziani
Revisão de Língua Portuguesa Caroline Sant’ Ana Delfino (EJE/TSE)
Produção Editorial Pesquisa, redação e edição: Marina Oliveira Colaboração: Gabriel de Campos Carneiro e Guilherme Burnett Projeto gráfico e diagramação: Propeg Apoio: Cintercoop e IIDAC
As ideias e opiniões expostas são de responsabilidade exclusiva dos autores e podem não refletir a opinião do Tribunal Superior Eleitoral.
6 7
Prefácio EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA DEMOCRÁTICA NO ENSINO MÉDIO Prezad@s professoras e professores,
A Escola Judiciária Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (EJE/TSE) e o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) desenvolveram o “Projeto Educação
para a Cidadania no Ensino Médio” com o objetivo de preparar os jovens para a
vivência político-democrática, aproximando-os do processo eleitoral brasileiro.
Sabemos que o papel dos professores nesse processo, como um dos principais
responsáveis por estimularem a curiosidade e a participação de crianças e
adolescentes em todas as esferas da vida social, é fundamental! Como não poderia
deixar de ser, o Guia, ora apresentado, primeiro produto deste Projeto, destina-se
aos docentes, público preferencial e estratégico desta iniciativa.
Espera-se que ele possa ajudar a fortalecer competências que permitam aos
jovens conquistar maior autonomia e ampliar sua consciência política em bases
suprapartidárias e pluralistas, para atuarem como agentes transformadores da
ordem política nacional.
Concebido para oferecer aos professores, sobretudo aos da rede pública, da área
de Ciências Humanas (sem prejuízo da sua utilização em outras áreas), sugestões
de abordagem para tratar conceitos necessários ao exercício da cidadania política
no contexto brasileiro, este Guia também pretende servir de estímulo às simulações
de vivências práticas nas quais os direitos e reponsabilidades das cidadãs e dos
cidadãos possam ser compreendidos.
Esperamos assim oferecer, a você professora e a você professor, um material
prático o suficiente para permitir sua aplicação imediata em sala de aula. Procurou-
se, ainda, valorizar os estudantes como protagonistas desse processo formativo,
destacando a importância de trazer para dentro de sala aula suas trajetórias,
conhecimentos e autonomia, como instrumentos poderosos de uma pedagogia
fundamentada no diálogo e não numa relação de autoridade.
Como é do seu conhecimento, os temas transversais atuam como eixo unificador, em
torno do qual se organizam as áreas, devendo ser trabalhados de modo coordenado
e não como um assunto descontextualizado. O que importa é que os alunos possam
construir significados e conferir sentido àquilo que aprendem, tendo a escola o
papel de facilitar, fomentar e integrar as ações, através da interdisciplinaridade e
transversalidade, buscando não fragmentar em blocos rígidos os conhecimentos,
para que a Educação realmente seja um meio de transformação social.
O material foi pensado inicialmente para professores do Ensino Médio, mas pode
ser aplicado em diferentes contextos, tanto do ensino formal quanto do informal,
bem como na Educação de Jovens e Adultos (EJA), em atividades pedagógicas
relacionadas à formação para a cidadania. Ao final do Guia, encontram-se instruções
detalhadas sobre diferentes possibilidades de utilização do material, apenas a título
de sugestão. O ponto central é estimular a curiosidade e o interesse dos jovens pela
política, semeando uma postura crítica nos alunos diante de informações e discursos
aos quais sejam expostos no seu cotidiano, tendo como foco do trabalho em sala de
aula a fixação dos conceitos e a diferenciação entre OPINIÃO, FATO e ARGUMENTO.
O material que segue bebe nas lições aprendidas em experiências bem-sucedidas
de aplicação de conteúdos relacionados aos temas transversais, a exemplo da
publicação “Competências para a vida – trilhando caminhos de cidadania” 1, do
UNICEF, utilizado nos últimos anos, em oficinas com adolescentes do Semiárido
nordestino, da Amazônia e dos Grandes Centros Urbanos, revisado recentemente
com base nas contribuições de seus usuários (professores e adolescentes).
O Guia possui ainda uma versão eletrônica que pode incorporar referências
encaminhadas por aqueles que o utilizarem. Quanto mais receber contribuições
e críticas, mais será capaz de cumprir o objetivo de auxiliar a formação para a
cidadania na educação formal. Nunca é demais lembrar que o Guia é apenas uma
parte de um projeto mais amplo de educação política que inclui outros materiais
audiovisuais.
Cientes de que este é um material em constante aprimoramento, esperamos
que seja instigante no tratamento de temas tão complexos e, ao mesmo tempo,
sensíveis na contemporaneidade. Bom trabalho!
________________________________________________________________________________________________________________________________________________
1 FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA INFÂNCIA. Competências para a vida – trilhando caminhos de cidadania. UNICEF: Brasília, 2012. Disponível em https://www.unicef.org/brazil/pt/br_competencias_para_a_vida.pdf, acesso em 17/03/2017.
8 9
1. QUESTIONANDO TUDO!
“Somos pessoas comuns. Somos como vocês: pessoas que se levantam de manhã
para estudar, trabalhar ou procurar emprego, pessoas com famílias e amigos. Pessoas
que dão duro todo dia para viver e proporcionar um futuro melhor a todos os que nos
rodeiam… Porém, neste país, a maioria da classe política nem sequer nos escuta. Suas
funções deveriam ser levar nossa voz às instituições, facilitando a participação política
cidadã e procurando o maior benefício para a sociedade em geral, e não enriquecer
às nossas custas, atendendo apenas às ordens dos grandes poderes econômicos e
mantendo uma ditadura partidocrática… Somos pessoas, não mercadorias”.
O texto acima poderia ter sido escrito por jovens brasileiros, que acompanham o
noticiário político, e certamente ressoaria nos corações e mentes de muitos outros
homens e mulheres, nem tão novos assim. O trecho, entretanto, foi publicado na
Internet e replicado nas redes sociais, a partir de 2 de março de 2011, na Espanha,
como convocação para ocupação das ruas, em sinal de protesto, aproveitando a
oportunidade das eleições municipais espanholas que aconteceriam naquele período.
A campanha anônima era assinada pela “Democracia Real Ya”, um conglomerado
de blogs, de diferentes grupos e pessoas, que assumiram um rótulo, sem nenhum
tipo de suporte institucional ou partidário. O que começou como uma espécie de
desabafocoletivocontraasinstituiçõesorganizadasecontraasconsequênciasda
crise econômica, agravadas pelas medidas de austeridade tomadas pelo governo
socialista, logo após o seu início, levou milhares de pessoas, especialmente jovens
entre 18 e 25 anos, a acamparem em praças de várias cidades e a organizarem
diferentestiposdemanifestação,nosmesesqueseseguiram,nomovimentobatizado
pela mídia como os “Indignados”.
Nesse mesmo período, mundo afora, jovens usaram as redes sociais e as ferramentas
de internet para mobilizar a indignação das pessoas e tomar conta do espaço
público com as mais diversas reinvindicações. Esses movimentos, analisados em
conjunto no livro de Manuel Castells “Redes de Indignação e Esperança: Movimentos
Sociais na Era da Internet” guardam traços comuns: a insatisfação com a política, a
desconfiançacomomodeloderepresentaçãoconsagradonomundoeasensação
de que os eleitos defendem interesses de corporações, sem qualquer compromisso
de prestação de contas com os seus eleitores.
Nesse conjunto de manifestações estão incluídas a Primavera Árabe, os Indignados
na Espanha, o Occupy Wall Street, e também os protestos brasileiros, iniciados em
junho de 2013, a partir do aumento das tarifas de transporte público, nas grandes
cidades, que depois evoluiu para pautas as mais diversas possíveis.
Segundo Castells, a leitura conjunta desses acontecimentos desenha um cenário no
qual jovens empoderados pela facilidade de comunicação e produção de conteúdo
na internet,mas com imensa dificuldade para entrarem nomercado de trabalho
e nos espaços constituídos de representação política, lideram mobilizações que
questionam o sistema político e os benefícios efetivamente entregues por ele
paraamaioriadapopulação.Acrisefinanceira,apartirde2008,ea lentidãona
recuperação das economias, bem como as medidas adotadas pelos eleitos para
enfrentaroproblema,fizeramexplodiressa indignaçãogeneralizadapelomundo.
Esse ciclo ainda não terminou.
ComodizobordãodeumcanaldoYouTube, muito assistido pelos adolescentes
brasileiros para formarem sua visão sobre os fatos políticos do momento: “vamos
questionar tudo!”.Essaposturadedesafiarosistematrazumdilemaespecialparaas
jovens democracias do mundo, maiorias hoje, forçadas a repensarem seus modelos
de representação e a maneira como a participação popular acontece cotidianamente.
Exige,dapartedojovem,umacapacidadecadavezmaiordediferenciarfatosde
opiniões e, principalmente, de compreender e criticar os argumentos apresentados
nos discursos e nas ações, questionando seus próprios conceitos sobre o mundo ao
seu redor, antes de tomar uma posição. Como destacam Marta Lagos e Richard Rose,
“nas novas democracias do mundo, o papel da juventude tem especial importância,
e no mundo atual há mais democracias novas do que democracias estabelecidas”.
Criar condições para que essas transformações possam ser canalizadas para o
aprimoramento das instituições passa necessariamente pelo desenvolvimento de
habilidades de leitura crítica atreladas ao processo de ensino-aprendizagem, em
especial da área de Ciências Humanas. São os conhecimentos transmitidos nos
conteúdos dessa área que irão dar ao estudante uma perspectiva ampla e sólida dos
conceitos, da origem e das implicações de uma série de argumentos apresentados
hoje na política, bem como um entendimento de como se formou o sistema de
10 11
representação existente. Mais do que isso. Irão garantir a compreensão das novas
gerações de que, apesar de todas as falhas dos sistemas representativos, eles são
uma das maiores conquistas da humanidade na garantia das liberdades individuais.
Em diferentes setores dos governos e da sociedade no mundo inteiro, existe uma
expectativa de que adolescentes e jovens exercitem seu direito à participação e
contribuam desde cedo para o fortalecimento da democracia, ajudando a encontrar
as soluções necessárias para a construção de um mundo melhor. Esse direito à
participação é uma demanda clara dos adolescentes e jovens, que extrapola as
categoriastradicionaisdeclassificaçãotrazendograndeinovaçãoàsmobilizações
sociais. Daí a importância de ter em mente o tempo inteiro os debates e as vivências
dos próprios adolescentes e jovens deste novo milênio, em qualquer atividade de
formação política.
O respeito à divergência, o apreço pelo diálogo e pela constante negociação
entre os diferentes para a busca de consensos, base de qualquer democracia, está
indubitavelmenteenraizadoemconhecimentosfilosóficos,históricos,sociológicos
egeográficos,entretantosoutros.Evincularconteúdoepráticademocráticaéum
dosmaioresdesafiosdaformaçãoparaacidadania.Vamosvencê-lojuntos!
Referências:
CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pg. 90-120
ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL/TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Educação para a Cidadania Democrática no Ensino Médio. TSE: Brasília, 2016.
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA INFÂNCIA. Participação cidadã de adolescentes e jovens.Unicef:Brasília,2014.Disponívelem:https://www.unicef.org/brazil/pt/participacao_cidada2015i.pdf, acesso em 11/03/2017.
LAGOS, Marta; ROSE, Richard. Young People in Politics: A multi-continental survey. Disponível em: <http://archive.idea.int/df/99df/daniela-int3.html>. Acesso em set. 2016.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL E FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA INFÂNCIA. Deolhonahistória–Sistematizaçãodasexperiênciasdoprojeto“EleitordoFuturo”.TSE/
UNICEF: Brasília, 2017. Disponível em:
TEMA 1: A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O PAPEL DA MÍDIA NA DEMOCRACIA
Objetivos pedagógicos
Neste tópico, pretende-se que o estudante possa: I) Compreender o papel da mídia
na democracia brasileira ao longo do século XX; II) Conhecer as principais teorias
políticas sobre mídia e democracia; III) Perceber a transição em curso na mídia em
face das novas tecnologias da informação.
TEXTO CONCEITUAL: “A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O PAPEL DA MÍDIA NA DEMOCRACIA”
SejanafilosofiadePlatãoeAristóteles,sejanonaturalismodeJohnLockeouno
utilitarismo de John Stuart Mill, a liberdade sempre ocupou posição central entre as
preocupações humanas. Trata-se de um bem que se busca instintivamente, assim
como a vida. No plano político, atentar contra a liberdade individual tem se mostrado
cadavezmaisumaestratégia “suicida”, sendoa tutelada liberdadeumconceito
jurídico consagrado.
A Constituição Federal de 1988 ressalta a proteção da liberdade desde o seu preâmbulo,
comênfaseespecialaelanoart.5º,quetrazumroldedireitosegarantiasfundamentais
sem as quais a ordem constitucional deixa de existir. Diversos dispositivos promovem
a proteção da liberdade – temos a liberdade de manifestação do pensamento (art.
5º,IV);aliberdade de consciência e de crença(art.5º,VI);aliberdade de associação
(art. 5º,XVII); ea liberdade individual (no sentido físico, de exercício do aclamado
direito de ir e vir-art.5º,LIVeLXVIII),entremuitasoutras.Nocampoeducacional,a
Constituição contempla em seu art. 206, II, a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar
e divulgar o pensamento, a arte e o saber, como base do ensino.
Maisà frente,naesteiradocitadoart.5º,ocapítuloVdaConstituição,dedicado
à comunicação social, assevera que “a manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição” (art. 220).
12 13
Este amplo panorama conduz ao reconhecimento da existência na CartaMagna
brasileira de várias liberdades2 fundamentais, entre elas, a de expressão, que assume
maiorrelevânciacomarevoluçãotecnológica,queintensificouofluxodeinformações
etransformousubstancialmenteomodocomoseproduzeseconsomeinformação.
As mídias, assim como os tipos de liberdades garantidas no estado democrático
de direito, são plurais. No Brasil, por exemplo, cada cidadão tornou-se potencial
produtor e transmissor de informação de caráter jornalístico, em decorrência de
entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a Constituição não permite
quesejaexigidoodiplomadejornalismoparaoexercíciodestaprofissão3.
MÍDIA E POLÍTICA
Como a própria Constituição indica, liberdade e informação caminham juntas. São
essenciais à autodeterminação pessoal e, por conseguinte, para o desenvolvimento de
uma sociedade humana. É aqui que a importância da mídia aumenta, ao se colocar como
veículo,atravésdoqualosfluxoscomunicacionaisseprocessamdeformacadavezmais
intensa.Eoqueissotemhavercomapolítica?Tudo.Afinalsemacessoàinformação
ademocraciarepresentativatorna-seinviável.Afinal,paraescolheroseleitos,pessoas
comuns precisam conhecer suas ideias, assim como os assuntos aos quais as políticas
públicas se relacionam. Mais do que isso. Na atualidade, o espaço público onde ocorrem
os debates e as interações sociais que levam à formação de posições políticas a respeito
de quase todos os temas ocorre essencialmente via mídia e redes sociais.
Portanto, como notável interveniente do processo eleitoral, a atuação da mídia
é parte da política e por isso deve se pautar na responsabilidade com relação às
informações veiculadas, primeiro limite da liberdade de expressão. O filósofo e
pensador francês, Jean-Paul Sartre, relacionou de forma indissociável liberdade e
responsabilidade, afirmando que a segunda é consequência lógica da primeira4.
Domesmomodo,nãoháliberdadeverdadeirasemtolerância.DiziaNorbertoBobbio
queodireitodenãoserescravizadopressupõeasupressãododireitodeescravizar5,
raciocínio que também se aplica ao relacionamento entre liberdade e tolerância. Ou
seja, só é possível exercer a liberdade de expressão em um ambiente de tolerância
a ideias e opiniões divergentes. Estas considerações não se aplicam apenas à mídia
tradicional, mas também às chamadas mídias sociais, que transformaram o modo
defazerpolíticanosúltimosanos.Apossibilidadedeumcontatomaispróximoe
interativo com o eleitorado, dada a candidatos e mesmo a titulares de mandatos
eletivos, temsidocadavezmelhoraproveitada,nãoapenasparaaapresentação
de propostas e de plataformas de governo, mas para a captação de apoiadores e
financiadores.
As redes sociais também têm se mostrado
propícias ao debate entre cidadãos, em que
pese ser constante a irresponsabilidade, a
publicação de factóides, e a intolerância
nesses espaços, multiplicando a segregação
social amparada no discurso político,
religioso, homofóbico, machista, entre
outros, realidade que não é exclusiva do
Brasil6. Como consta do Dossiê Intolerâncias
Visíveis e Invisíveis no Mundo Digital7, “se
a internet não criou a intolerância, ela a
reproduz, aumenta seu alcance e ajuda
a naturalizar e a conservar discursos de
ódio”. Enfim, a mídia, enquanto veículo
comunicacional tem potencialidades
positivas e negativas no âmbito político.
Cabe à sociedade por meio de regulamentações e outras formas de controle social
garantir que a manipulação de informações, e a corrupção da consciência política
sejam coibidas, ao mesmo tempo em que a diversidade de opinião seja promovida
e intensificada. Dentro destes parâmetros, os meios de comunicação, novos ou
tradicionais, encontrarão a sua real vocação democrática, enquanto indispensável
interveniente do processo político-eleitoral.
2 Nas palavras de Paulo Gonet Branco, “o catálogo de direitos fundamentais na Constituição consagra liberdades variadas e procura garanti-las por meio de diversas formas. Liberdade e igualdade foram dois elementos essenciais ao conceito de dignidade da pessoa humana, que o constituinte erigiu à condição de fundamento do Estado Democrático de Direito e vértice do sistema dos direitos fundamentais”. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gonet Branco, Curso de Direito Constitucional, p. 263.3 Supremo Tribunal Federal, Supremo decide que é inconstitucional a exigência de diploma para o exercício do jornalismo. Disponível em: www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=109717, acesso em 30/01/2017.4 SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. p. 678.5 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. , p. 14.
6 Cfr. The political environment on social media. Disponível em: www.pewinternet.org/2016/10/25/the-political-environment-on-social-media/7 Cfr. Dossiê Intolerâncias Visíveis e Invisíveis no Mundo Digital. Disponível em: www.comunicaquemuda.com.br/dossie/quando-intolerancia-chega-as-redes/
O que é factóide?
É um fato divulgado com
sensacionalismo pela imprensa,
verdadeiro ou não. Trata-se
também de propaganda política
mal intencionada. Termo usado
a partir da década de 50.
Tem o propósito de gerar
deliberadamente um impacto
sobre a opinião pública
com objetivo de manipular
politicamente sua visão, em
favor de um grupo determinado
que aspira ao poder.
14 15
De olho na história
As pesquisas sobre os meios de comunicação de massa, também conhecidas como
Communication Research, tiveram início no período entre as duas grandes guerras
mundiais. O trabalho começou a partir do interesse de sociólogos, psicólogos, filósofos,
antropólogos e políticos, entre outros, em entenderem as ligações existentes entre o
advento dos mass media e a ascensão de governos totalitários na Europa, que usaram
a propaganda massiva no rádio para conseguir o domínio político de países como a
Alemanha, com o nazismo de Hitler, e a Itália com o fascismo de Mussolini.
Bibliografia:
BBC BRASIL. Por que a primeira batalha de Trump como presidente é contra a imprensa. Disponível em: www.bbc.com/portuguese/internacional-38725154?ocid=wsportuguese.chat-apps.in-app-msg.whatsapp.trial.link1_.auin
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
PEREIRA,Bia;etal.DossiêIntolerânciasVisíveiseInvisíveisnoMundoDigital.Disponívelem: www.comunicaquemuda.com.br/dossie/quando-intolerancia-chega-as-redes/
PEW RESEARCH CENTER. The political environment on social media. Disponível em: www.pewinternet.org/2016/10/25/the-political-environment-on-social-media/
SARTRE,Jean-Paul.Osereonada.20ed.Petrópolis:EditoraVozes,2011.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Supremo decide que é inconstitucional a exigência de diploma para o exercício do jornalismo. Disponível em: www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=109717.
Conceitos destacados no texto conceitual, listados na ordem em que aparecem:
• Liberdade de expressão
• Responsabilidade
• Tolerância
• Discursos de ódio
• Limites
• Pesquisa em comunicação (meios de comunicação de massa)
TEXTO PARA DISCUSSÃO: “A MÍDIA VIROU PARTIDO POLÍTICO?”
Existe um grande debate em torno do posicionamento dos meios de comunicação
na cobertura dos fatos políticos recentes no Brasil. Acusam a imprensa de ser
um “partido de oposição”, agindo de forma articulada e uníssona para atacar um
governo democraticamente eleito em 2014. Os defensores da postura da imprensa
afirmamque não houve uma ação orquestrada a partir de um comando central,
como pressupõe a ideia de partido. O que teria acontecido foi o exercício natural de
fiscalizaçãoecríticaaopoder,inerentesaobomjornalismo.Essegrupoobservaque
a imprensa pende naturalmente para a oposição, sendo enfrentar e tentar desmontar
a retórica do poder, irritando as autoridades, um mérito jornalístico8.
Masháquemenxergueproblemasnessavisão.Afinal,qualolimiteentrefiscalizar
umpodereagirparadesestabilizá-lo?Numgovernoestabelecidocomoditadura
é fácil perceber que toda resistência será legítima por parte da imprensa. Mas,
numa democracia, como se distinguem essas posições?9 Quais são os mecanismos
existentes para coibir abusos por parte dos meios de comunicação?
Trata-se de uma questão especialmente sensível no Brasil. Embora a Constituição
de 1988 tenha estabelecido uma série de diretrizes para a atuação da imprensa
em seu capítulo V, sobre a Comunicação Social (artigos 220º a 224º), nenhum
deles foi regulamentado até hoje, tornando inócuas grande parte das orientações
constitucionais. Desde 2009, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a
antiga Lei da Imprensa, de 1967, existe um vácuo legal com relação ao tratamento
dos abusos cometidos pela imprensa contra cidadãos e instituições. Esse quadro
reforça adesconfiançadepartedapopulação com relação à imparcialidadedos
meios de comunicação.
Ao transmitir ao vivo manifestações públicas nos últimos meses, foi impossível,
por exemplo, não ouvir o coro de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”. Em
resposta, apresentadores disseram das bancadas dos telejornais que a “imprensa
não produz grampos, nem conduz investigações da justiça e da polícia”. É verdade,
mashámaiscoisasasedizersobreissotambém10.
8 BUCCI, Eugênio. In: “Dos que tanto amam odiar a imprensa”, reproduzido do Estado de São Paulo de 26/12/2013 e disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/_ed779_dos_que_tanto_amam_odiar_a_imprensa/. Acesso em 12/12/2016.9 SILVA, Luiz Martins. In: “Imprensa: poder fiscal ou de oposição?”, Observatório da Imprensa de 10/05/2016, disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/crise-politica/imprensa-poder-fiscal-ou-de-oposicao/. Acesso em 12/12/2016.10 CHRISTOFOLETTI, Rogério. In: “Grampos e responsabilidades da mídia”, republicado do site ObjETHOS, em 24/03/2016, disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/crise-politica/grampos-e-as-responsabilidades-da-midia/. Acesso em 12/12/2016.
16 17
Interceptações telefônicas, por exemplo, são recursos bastante usados em
investigações. As liberdades individuais garantidas pela Constituição como os sigilos
telefônico,postal,fiscalebancário,podemserquebradosporordemjudicial.Eembora
asemissorasdeTVnãoproduzamosgrampos,decidemseecomoirãodivulgarseus
conteúdos. Quando o teor da gravação é claramente de interesse de toda sociedade
nãoháduvidasobrealegitimidadedesuapublicação,entretantoosvazamentosde
conversas pessoais, cuja relevância para a compreensão dos fatos seja questionável,
abrem espaço para dúvidas e críticas ao posicionamento da imprensa.
E A COBERTURA NO FACEBOOK E NO TWITTER, COMO FICA?
Na atualidade, entretanto, a mídia vai muito além dos meios de comunicação
tradicionais,organizadosverticalmente,comumacadeiadecomandoedecisãoclara
sobre os conteúdos publicados. Incluem, necessariamente, as redes sociais, em especial
Facebook e Twitter, mas também o Youtube e muitas outras plataformas virtuais. O uso
intensivo feito por manifestantes de todo mundo desses meios gerou polêmica sobre a
relaçãoentreasruaseasredes.Atesemaisdifundidaéadequeocaráterhorizontal
e participativo dessas redes sociais, nas quais cada um é simultaneamente consumidor
eprodutordeconteúdo,moldouaformadeorganizaçãodosprotestossurgidosno
mundo, a partir da crise econômica internacional, em 2008.
O desenvolvimento desse tipo de comunicação horizontal foi marcado por um
processo de desintermediação, ou seja, pela supressão da mediação jornalística. O
papeldojornalismoéodeapurar,organizareapresentarainformaçãodemaneira
precisa, simples e equilibrada. Enquanto a comunicação que vem sendo praticada
pelos novos movimentos é direta e engajada. Trata-se de uma forma na qual quem
era objeto do discurso jornalístico fala diretamente a quem lê (ou vê, ou escuta) e
busca tanto informar como persuadir da justiça de uma causa.
É uma forma de comunicação que convoca, instiga e debate, sem mediação. E esse
é justamente o tipo de comunicação mais acessado pelos jovens. E, na medida em
queaumentaadesconfiançadapopulaçãosobreaimparcialidadedosveículosde
comunicação, os leitores de todas as idades passam a se informar por meio de canais
declaradamenteligadosaumavisãoespecíficadapolítica.Issomostraque,assim
como os partidos, as mídias tradicionais também estão em cheque.
Afinalmídiaepolíticanãoseseparam.Assim,osnovosmodelosdecomunicaçãosem
mediação afetam profundamente o debate político, que hoje se transformou numa
espécie de polêmica religiosa, em muitos aspectos11.Valelembrarqueasideologias
podemsertambémconsideradasfenômenosreligiosos.Maisprecisamente,fazem
partedeumacategoriaampla:aidolatria,sendoumtipoespecíficodamesma.Essa
percepção foi desenvolvida, principalmente, por dois cientistas políticos cristãos:
BobGoudzwaard(Idols of Our Time)12eDavidKoyzis(VisõeseIlusõesPolíticas)13.
A tese, defendem alguns, é muito valiosa para compreendermos a situação da política
brasileira – bem como as interações sobre o assunto nas redes sociais.
O que seria a idolatria? A teologia judaico-cristã sempre denunciou fortemente a
idolatria como um pecado porque escolhe um elemento da criação e o eleva ao nível
dadivindade.GoudzwaardeKoyzisaplicaramesseprincípionaanálisepolítica:a
ideologia tem seu viés religioso porque transforma uma ideia importante em um
ídolo,queprocurasujeitartodarealidadeaquelaideiadeificada.Aideologiaclassifica
como “dobem” ou “domal” elementos intrínsecos da realidade. Elas identificam
os bons elementos, mas os superestimam, enquadrando toda a realidade a partir
deles, combatendo tudo que se opõem ao ídolo escolhido. É o caso do combate à
corrupção.Quemécontraessabandeira?Ninguém.Afinal,trata-sedeumacoisaboa.
Oquenãosignificaqueaquelespreocupadosemdiscutirosabusosdeautoridade
e perseguições, eventualmente cometidos, sejam maus ou corruptos, nem que se
oponham ao enfrentamento desse grave problema.
É possível perceber esse tipo de leitura nos posts políticos. No Facebook, não se
discordasobreideias:sebrigaferozmente.Asdiscordânciassobreaoperação Lava
Jato, por exemplo, não são simplesmente debates. Existe um componente idólatra
que obscurece a visão, enxerga elementos da realidade como fontes do mal e a
partir daí o debate passa a ser sobre moral, enfraquecendo as possibilidades de
diálogo construtivo entre pessoas com visões diferentes14.
Os elementos utilizados pelas ideologias não são completamente falsos, nem
criados. Há realmente desigualdade, opressão, falta de segurança e de liberdade,
assim como há elitistas, machistas, racistas, intolerantes, vadios, aproveitadores e
preconceituosos.Oproblemaéqueaidolatriasimplificaexcessivamentearealidade,
sempre mais complexa do que uma única ideia central.
11 NASCIMENTO, Bruno Ribeiro. In: “O debate político se transformou numa polêmica religiosa”, publicado no Observatório da Imprensa, em 07/03/2016 e disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/dilemas-contemporaneos/o-debate-politico-se-transformou-numa-polemica-religiosa/. Acesso em 12/12/2016.12 GOUDZWAARD, Bob. “Idols of our time”. Editora Barnes & Nobles, 1984.13 KOYZIS, David. “Visões e ilusões políticas, uma análise crítica cristã das ideologias contemporâneas”. Ed. Vida Nova: São Paulo, 2013.14 NASCIMENTO, Bruno Ribeiro. In: “O debate político se transformou numa polêmica religiosa”, publicado no Observatório da Imprensa, em 07/03/2016 e disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/dilemas-contemporaneos/o-debate-politico-se-transformou-numa-polemica-religiosa/. Acesso em 12/12/2016.
18 19
E isso encaixa bem com o Facebook,porexemplo.Afinal,ninguémtempaciênciade
lerumtextomaislongonocelular;ouderefletirmelhorsobreumfatoemfrenteao
computador. Não há tempo para pensar e raciocinar: é preciso postar. Ser rápido.
Opinarsobretudo.Enadamelhorqueideiasprontas,simplificadas.
HannahArendtafirmavaquetodaideologiapossuiumviéstotalitário,umavezque,
ao tentar ler a realidade a partir de uma ideia suprema, busca moldá-la de acordo
com a lógica da sua ideia central.
Ao mesmo tempo, a grande mídia precisa repensar o seu distanciamento com
relação ao cidadão comum e a cobertura das noticias de seu interesse. A maior
parte dos grandes jornais dos Estados Unidos, por exemplo, não previram a vitória
de Donald Trump na eleição presidencial de 2016. Mostraram assim, que entre as
fontes de informação da imprensa (políticos e altos funcionários da administração
principalmente), não estavam os americanos comuns que elegeram Trump15.
A imprensa, entretanto, tem uma série de técnicas consagradas para se buscar a
responsabilidadenadivulgaçãodeinformações,quepoderiamserutilizadaspelas
redes sociais com ganhos para toda a sociedade. Da mesma forma, os veículos de
comunicaçãopodemsebeneficiardeumamaior interaçãoeaproximaçãocoma
produção de conteúdo nas redes, revisando os formatos e as fontes adotadas e
ganhando entrada junto ao público jovem.
Conceitos destacados no texto para discussão:
• Desintermediação
• Papel do jornalismo
• Ideologia
• Idolatria
• Totalitarismo
QUESTÕES PARA DEBATE:
Sugerimosalgunsaspectosparareflexãoquepodemfacilitaraidentificaçãodos
argumentos a serem trabalhados com os alunos. Essas questões servem de ponte
15 CASTILHO, Carlos. In: “Radicalismo nas redes sociais ganha espaço com erros da imprensa”, publicado em 18/11/2016 no Observatório da Imprensa e disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/sem-categoria/erros-politicos-da-imprensa-beneficiam-radicalismo-em-redes-sociais/. Acesso em 12/12/2016.
entre o debate e os conteúdos programáticos, assim como ajudam os alunos
a identificarem e problematizarem os argumentos, conforme o exercício geral
sugeridonesteGuia,nocapítulofinalsobresugestãodeutilizaçãodestematerial.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico I: Compreender o papel da mídia na
democracia brasileira ao longo do século XX.
Hoje a mídia desempenha um papel fundamental na formação do pensamento
político das pessoas. Nesse sentido, há algumas questões recorrentes quando se
trata desse tema, entre eles a liberdade de expressão, bem como os limites entre
controlesocialecensura.OBrasilviveumcontextomuitoespecíficocomrelaçãoa
essa discussão, que é dos eixos para a compreensão deste bloco temático.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Qual a importância da mídia na política brasileira? Quais os papéis que
desempenha hoje? E na história recente (especialmente no período de 1954
até os dias atuais)?
2. Quem fiscaliza a mídia?
3. Liberdade de expressão e controle social são incompatíveis?
4. Qual a diferença entre censura e controle social?
Referências sugeridas:
LIMA,Venício.“Emdefesadademocratizaçãodosmeiosdecomunicação”.In:Comunicação & Educação, Revista do Departamento de Comunicações e Artes da ECA/USP, volume 19, número 1 (2014). Disponível em www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/78571, acesso em 27/01/2017.
RAMOS, Murilo César. “Comunicação, direitos sociais e políticas públicas”. In: MARQUES DE MELO, J.; SATHLER, L. Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação. São Bernardo doCampo,SP:Umesp,2005.Disponívelem:http://www.andi.org.br/sites/default/files/legislacao/245_253_direitos_a_comunicacao_politicas_publicas_murilo_ramos.pdf,acessoem 05/06/2017.
SANTOS,SuzyeMuriloCésarRamos.“Políticasdecomunicação:buscasteóricasepráticas”, São Paulo: Editora Paulus, 2007.
20 21
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico II: Conhecer as principais teorias
políticas sobre mídia e democracia.
Como surgiu a mídia tal qual a conhecemos? E como essa história ajuda a explicar a
relaçãotãoíntimaentremídiaepolítica?Dequeformaoscidadãospodemfiscalizar
otrabalhodosmeiosdecomunicação,fazendocomquetenhamqueprestarcontas
aos cidadãos, assim como os demais participantes da arena política? Essas perguntas
ligadas às teorias políticas e à história da Revolução Industrial, bem como do
surgimentodasdemocraciasmodernasfazempartedosconteúdosprogramáticos
deváriasdisciplinas.Nessecaso,chamaraatençãoparaessasligações,introduzindo
temas específicosdamatriz curricular pode enriquecer odebate eos resultados
obtidos, a partir desse trabalho.
Para facilitar, formulamos algumas perguntas que exemplificam os debates que
podem surgir. Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam
a responder e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1 Quais as teorias políticas associadas ao surgimento e ao fortalecimento da mídia?
2. Que papéis atribuem à mídia?
3. Qual a relação entre mídia e democracia, segundo essas teorias?
4. Esse papel está sendo cumprido hoje?
5. A mídia tem ideologia? Em caso afirmativo, isso é algo necessariamente ruim?
Por que?
6. O que é accountability? E como ele se aplica à mídia na democracia?
Referências sugeridas:
CEBRIÁN, Juan Luis. “O Pianista e o Bordel”. Críticas e Ensaios. São Paulo: Editora Objetiva, 2010.
FONSECA, Francisco. “Mídia, poder e democracia: teoria e práxis dos meios de comunicação”. In: Revista Brasileira de Ciência Política, número 6, Brasília, jul./dez. 2011, disponível em:www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522011000200003, acesso em27/01/2017.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico III: Perceber a transição em curso na
mídia em face das novas tecnologias da informação.
As mudanças tecnológicas sempre moldaram, em grande parte, o trabalho dos
veículosdecomunicaçãodemassa.Asredessociaissãoaboladavez,sobretudo
em termos de formação de visões políticas dos jovens. Mostrar como essa nova
formadeproduzirecompartilharinformaçãosediferenciadaspráticastradicionais
do jornalismo pode ser um bom caminho para garantir a recepção crítica dos alunos,
dos conteúdos aos quais assistem na Internet.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgir.Logoabaixodasquestões,elencamos
algumas referências que ajudam a responder e aprofundar os principais pontos
levantados neste objetivo pedagógico.
1. Como as redes sociais estão mudando o papel da mídia na sociedade?
2. E o que isso tem haver com política?
3. Quais as vantagens desse novo modelo?
4. Quais as desvantagens?
5. Como fiscalizar os meios de comunicação digital? Será que eles devem ser
fiscalizados? Como?
6. Como os alunos se informam sobre política? Quais são os critérios que aplicam
para saber se as informações que recebem são verdadeiras?
Referências sugeridas:
OBSERVATÓRIODAIMPRENSA.“Redessociaismudaramaproduçãoeadistribuiçãodenotícias”,publicado em 11/11/2014, disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/monitor-da-imprensa/_ed824_redes_sociais_mudaram_producao_e_distribuicao_de_noticias/, acesso em27/01/2017.
CAVALCANTI,M.E. TV. eNeto,M.P.R. “Ousodas redes sociais napráticado jornalismocolaborativo”.In:QUIPUS(RevistaCientíficadasEscolasdeComunicaçõesearteseeducação),Ano III, número 2, jun./nov. 2014, disponível em: http://portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/quipus_a4n2.pdf,acesoem05/06/2017.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR:
Selecione junto com os alunos uma notícia ou tema recente que tenha alguma
ligaçãocomapolítica.Peçaparacadaumdosgrupostrazeremnotíciascurtas
ou vídeos de, no máximo, três minutos, relacionados à notícia ou tema escolhidos,
para compartilhar em sala de aula. Seria interessante que os alunos buscassem
notícias ou vídeos sobre o tema ou notícia escolhida, nas fontes de informação
22 23
que costumam consultar para formar os seus próprios posicionamentos. Isso
ajudará a formar uma leitura crítica com relação a essas fontes, bem como a tomar
consciência da própria visão e ideologia que possuem sobre vários assuntos, muitas
vezessemsedaremcontadisso.Essaéumacompetênciafundamentalnasociedade
contemporânea. Peça para os alunos identificarem nomaterial trazido a posição
defendidapelosdiferentesveículoseproblematizaressaposição,tendoemvistaos
objetivos pedagógicos i, ii e iii. As questões para debate, sugeridas no item anterior,
podemajudaraorganizaradiscussãoapartirdomaterialutilizado.
LEITURA COMPLEMENTAR: “O JORNALISMO E O FIM DOS JORNAIS”
Nãocontemparaminhamãequesoujornalista.Prefiroqueelacontinuepensando
que toco piano num bordel. Engraçado, mas o ditado popular espanhol tem lá um
quê de nostalgia, além de nos contar sobre o estado de espírito de uma das grandes
grifes do jornalismo do século 20.
Juan Luis Cebrián, fundador e primeiro diretor do El País, um dos melhores e mais
importantes diários do mundo, não hesita em apelar para o humor quando se trata
derefletirsobreofuturodaimprensanaeradigital.Cebriánavançacomseuarsenal
de argumentos para explicar por que teremos de aceitar que jornais impressos, tal
como os conhecemos hoje, são típicos produtos da Revolução Industrial e, queiramos
ou não, já se tornaram obsoletos graças à Revolução Digital. Esta conversa de altas
emoções aconteceu, em São Paulo, por onde Cebrián passou para lançar o livro O
Pianista no Bordel (editoraObjetiva),conjuntodedez reflexõessobre jornalismo,
democracia e solavancos tecnológicos.
Ao repassar neste livro momentos de sua trajetória no jornalismo, Cebrián vai
recuperando personagens e momentos históricos. Uma das reflexões mais
instigantesquefazpoderáserconfundidacomadefesadojornalismocomogênero
literário. Tanto que fecha o livro com um capítulo cujo título é Escritores de Jornal,
em que insiste ser impossível imaginar a obra de grandes nomes da literatura
comoHemingway,CamuseGarcíaMárquezsemlevaremcontaquetodostiveram
passagens como redatores, editorialistas ou correspondentes.
Histórias a perder de vista temperam as páginas de O Pianista no Bordel. Cebrián
parece preparado para tudo, inclusive receber romances pelo celular, o que certamente
abalaráosmembrosdaRealAcademiaEspanhola,daqualfazparte.Masnãoabre
mão do capital humano. Acredita que enquanto houver jornalistas, produtores,
escritores,roteiristas,enfim,enquantohouvercriadorescompaixãosuficientepara
traduzirnossosdesejoseestadosdeespírito,entãoestaremossalvos.Eojornalismo
sobreviverá no exercício cotidiano da liberdade. A seguir trechos da entrevista:
Parte da sua carreira na imprensa se deu como jornalista combativo e influente. Outra
parte como executivo de um grande grupo de comunicação. Ao refletir sobre os
impasses da imprensa hoje, quem fala mais alto – o jornalista ou o executivo?
Juan Luis Cebrián – Eu me tornei um executivo com o passar do tempo, e fui me
envolvendo com as questões do grupo, mas a verdade é que sou um executivo de
uma empresa de comunicação, não de um banco ou de uma empresa de engenharia.
Ao menos no meu caso, o executivo não modificou o jornalista. Fora isso, um
executivo também precisa de tempo para pensar, daí o fato de eu ter aceitado o
convite do meu editor para escrever estes ensaios sobre jornalismo, aproveitando
reflexõesfeitasemconferências,masgerandonovastambém.
No livro, você retrata a passagem da censura institucional para a liberdade de imprensa
na Espanha. Mas dá a entender que houve um período meio regressivo no governo
José Maria Aznar (1996/2004). Afinal, a transição espanhola está encerrada?
J.L.C.–Emtermospolíticos,temosumademocraciaestabilizada. Issosefazcom
a chegada ao poder de Felipe González, um socialista, e se confirma na vitória
seguintedadireita,comAznar,vitóriapelovoto,enãopelogolpe.Depois,voltamos
ao socialismo com Zapatero, mais uma prova de que tudo funciona bem. Mas a
liberdade é sempre um bem escasso. E a democracia, ameaçada até pelos sistemas
queadefendem.Portanto,nãopoderemosdizerqueconseguimosumsistemade
liberdadeplena,equeestátudofeito,quandosemprehátudoporfazer.Emoutro
livro, desenvolvo melhor a ideia de que a democracia não é uma ideologia, mas um
método. Há uma tendência nos países latinos, sobretudo nos setores de esquerda,
a defini-la de modo ideológico. Disputas entre governantes, parlamentos, juízes,
partidosemeiosdecomunicaçãotambémpodemparecerregressivas,masfazem
partedosaspectosformaisdademocracia.Aznarfoiregressão?Podetersidosob
vários aspectos, mas ele teve participação na alternância de poder, o que é algo
importante.
Mas a relação do El País com Aznar não era serena.
J.L.C.–Verdade.Enatural,até,jáescuteiemdebatesqueastransiçõesdemocráticas
na América Latina foram difíceis porque os países não contaram com um jornal como
El País, que se transformou, ele próprio, no emblema de um processo político. Ouvi
24 25
muito jornalista latino-americano se queixando disso. Bobagem. A verdade é que os
meiosdecomunicaçãotendemater,sempre,umarelaçãoconflituosacomopoder.
Porquefazempartedele.Aideiadequeojornalismoéo‘quartopoder’meparece
absurda. Nós, jornalistas, pertencemos ao establishment desde que se fundou o
jornalismo moderno. E os meios de comunicação compõem a institucionalidade de
democracia representativa. Somos parte dessa estrutura, para o bem e para o mal.
O que está mudando é o exercício do poder. Hoje há pressões para que se adote
a democracia direta, feita de consultas, plebiscitos, enquetes online, e tudo isso é
muito complicado.
Por quê?
J.L.C. – Porque no fundo a internet é um fenômeno de desintermediação. E que
futuro aguarda os meios de comunicação, assim como os partidos políticos e os
sindicatos, num mundo desintermediado? Do início ao fim da última campanha
presidencial americana (refere-se a 2008, eleição de Barak Obama), circularam pela
web algo como 180 milhões de vídeos sobre os candidatos Obama e McCain, mas
apenas 20 milhões haviam saído dos partidos Democrata e Republicano. As próprias
organizaçõespolíticasforamultrapassadaspelamovimentaçãodoscidadãos.Como
ordenar tudo isso? Não sei. Ao mesmo tempo, estamos assistindo a um processo de
radicalizaçãodasideiaspolíticas,queafetaojornalismo.Oquedizerdoalinhamento
da Fox com os republicanos para fazer oposição a Obama?O envolvimento da
imprensa com a política é um fenômeno antigo. O que é novo é a instantaneidade,
aglobalidadeeacapacidadedetransmissãodedadosque,porsisó,configuraum
poder fabuloso.
Há diferença entre estar mais informado e estar bem informado?
J.L.C.–Vejamos,nossosleitores,hoje,sãomelhoresqueosdopassado.Façoessa
observaçãomeguiandopeloprocessohistóricodahumanidade,quesebeneficiou
do progresso em diferentes setores. Mas considere que hoje existem 2 bilhões de
internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária já tem acesso
à rede. Há 200 milhões de páginas web à escolha do navegante. Na rede, você
dizoquequer,quandoquisereaquemouvir,portanto,oacessoà informação
aumentou de forma espetacular. Isso é fato. Só que, paradoxalmente, vamos de
encontro a um modelo de concentração: 90% das buscas estão no Google, 80% dos
navegadores de internet são propriedade da Microsoft e 90% dos vídeos postados
moram no YouTube.
Estudiosos se perguntam se o jornalismo online vai preservar os valores do
jornalismo da era moderna, num tempo em que reputações estão sujeitas a virar pó
instantaneamente, num blog qualquer.
J.L.C. –Posso lhedizer que sou uma vítimadadifamaçãoonline.NaEspanha, a
rede está ocupada pela extrema direita, que é sempre muito cáustica. Os chamados
confidenciales,pretensamentenoticiosos,sãoblogsquementem,caluniam,sabotam,
sem qualquer apuração. Esse fenômeno é típico de um mundo sem hierarquias, como
o da internet. E nós, acostumados ao mundo piramidal, com instituições fortes, o
Estado,aIgreja,ospartidos,enfim,comordemestabelecida,agoratemosquenos
achar nessa imensa rede onde todos mandam e ninguém obedece. A sociedade
democráticasemovepelanorma,quenosconduzàlei.Nomundovirtual,anorma
nãoconduzàlei,masaosoftware.Ouseja,quemtemsoftwarecontrolaanorma.
Esta pergunta já virou um mantra, mas é preciso fazê-la: qual será o futuro dos jornais
impressos, na sua opinião?
J.L.C. - Os jornais, tal como os conhecemos, se acabaram. Adiós… (diz em tom
teatral, balançando no ar um exemplar do ElPaís).Nãosignificadizerquedeixarão
de existir. Esse adiós resulta tão somente da constatação de que os impressos
pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na sociedade
digital. No ano passado, cerca de 600 jornais fecharam as portas nos EUA, alguns
delescommuitatradição.Hácidadesamericanasquesimplesmenteficaramsemo
seu jornal local, o que chega a ser traumático. Em geral, jornais nascem defendendo
bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam
sua independência.Comoessemodeloficará?EmboraaediçãodigitaldoEl País
venha crescendobastante, eunãoposso lhedizerque se trata sódeumabem-
sucedida transposição do impresso para o online, porque não é verdade. São veículos
diferentes. Gastamos horas e horas de discussão para saber se devemos ou não
cobrar por nossos conteúdos na internet ou oferecê-los de graça. A esta altura do
jogo, me parece uma pergunta sem sentido. O que nos cabe perguntar é que tipo de
jornalismo queremos ter na rede. Não está claro.
Seria possível uma investigação jornalística na internet como a de Watergate?
J.L.C. –Porquenão?OcasodeMonicaLewinskyapareceunainternetequase
derrubou um presidente. Há investigações importantes em curso na web. Como
há novas maneiras de informar. Hoje, as melhores imagens que tenho visto,
do ponto de vista jornalístico, estão saindo dos celulares de amadores, e não
26 27
das máquinas dos fotógrafos profissionais. Há um terremoto no Chile e as
primeirasimagensquerecebemosvêmdecidadãosanônimos.Eoquedizerde
reportagens feitas por leitores? Extrapolando esse raciocínio, um jornal de 300
mil leitores tem potencialmente 300 mil redatores. Quem sabe, se soubermos
lidar bem com esta situação, poderemos garantir a sobrevivência dos nossos
diários…
Se a informação pode ser captada e distribuída por qualquer pessoa, o jornalista
torna-se um tipo descartável. É isso?
J.L.C. – Ao contrário, teremos de investir em capital humano na rede se quisermos
fazerdiferença: terbons jornalistas,gentecompreparoparaenfrentaroperações
globais.Maséprecisomudarnossaformadepensar.Nóscontinuamosafazerjornais
como se fôssemos o centro do mundo. Obama ganhou as eleições porque teve
dois ou três editoriais favoráveis no New York Times ou porque contou com uma
avassaladora campanha na internet? Creio que já me livrei da dúvida de se a internet
é uma ameaça ou uma oportunidade. Estou convicto de que é uma oportunidade.
Mas tenho uma visão europeia, de quem vem enfrentando muitos problemas e
precisa reagir. Os jornais brasileiros vão indo bem. Também há dados apontando
que na Índia e no Japão os jornais estão crescendo, ou seja, ainda não chegamos
aofimdomundo (ri).Enquanto isso, vamosnosacostumandoà ideiadequeos
impressos são vistos como produtos que podem levar a danos ecológicos. Se todos
os indivíduos no mundo tiverem acesso a jornais e livros nos patamares dos países
desenvolvidos, asflorestasdaAmazônia somememdezanos.Eisaíumaspecto
positivo da sociedade digital.
Em seu livro, você ressalta que jornais tradicionais foram marcas que resistiram ao
passar do tempo, preservando anseios e valores até civilizatórios.
J.L.C. – São marcas fortes, que resistiram a muita coisa. Mas, do que se fala hoje?
DeGoogle,Microsoft, Yahoo, Facebook, Twitter,marcas que nunca existiram no
campo analógico. Elas nem precisaram de campanha publicitária de lançamento, ou
seja,nuncaviumcartazdizendo‘compreGoogle’.Entramosneleporqueasportas
estavam abertas. E há um aspecto desconcertante a considerar: nenhuma dessas
marcas nasce de um processo convencional, tendo uma estrutura por trás. Todas
foram boladas por estudantes em quartos, sótãos e garagens das casas paternas,
ouemdormitóriosdeuniversidades. Todas. Isso já refleteumamudança cultural
impressionante.
Idiomas socializam, portam legados históricos, firmam identidades culturais. Como
eles sobreviverão no mundo online, onde já reina uma língua web, esquisita, mas
compreensível em escala global?
J.L.C. – Se pensarmos em termos de culturas dominantes e dominadas, vamos ter
de admitir que a da web não foi imposta pelo poder das armas, mas pela tecnologia.
E está afetando o uso do idioma. Por outro lado, adotar todos esses neologismos,
clic, blog, chat, post, bit, web, internauta e por aí vai, dá a sensação de pertencer ao
ciberespaço. Também é importante. Ainda assim, creio que os espaços linguísticos,
tal como os entendemos, podem ganhar relevância. Fezmuito bem o Brasil em
estabelecerumacordoortográficoqueunificaalíngua,poissehá190milhõesde
brasileiros, há outros tantos milhões de falantes do português em lugares como
Angola,Moçambique,MacauouPortugalmesmo,totalizandoummercadolinguístico
imenso.VejocomoumaboaoportunidadeoBrasilglobalizarsuaspublicaçõesnão
só para o mundo que fala português, mas estendendo também ao mundo que fala
espanhol.Setemosalgumadificuldadeparaentenderoquevocêsfalam,nãotemos
para ler o que vocês escrevem. E há uma cultura em comum. Sempre digo que
PortugalnãoseseparoudaEspanha,somentedaGalícia.Efezbem(ri).
TEMA 2: A função dos partidos políticos
Objetivos pedagógicos
Nesse tópico, pretende-se: I) Compreender o papel dos partidos políticos na
democracia brasileira após a Constituição de 1988; II) Desenvolver um entendimento
geral sobre os principais debates colocados na atualidade para o aprimoramento
da democracia representativa (accountability político, principais diferenças entre
critério majoritário e proporcional nas eleições, entre outros) e III) Conhecer algumas
inovações pelo mundo que vem articulando a democracia representativa com a
democracia direta.
TEXTO CONCEITUAL: “PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL E NO MUNDO”
Numa democracia partidária, como é o caso da brasileira, a vontade política do povo
só pode ser manifestada pela atuação de seus intermediários: os partidos políticos. O
artigo 14, §3°, da Constituição Federal de 1988, estabelece como condição para ser
eleito – seja como vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou presidente
da república - a filiação partidária. Em outras palavras, não é possível no Brasil,
obterummandato,semfazerpartedeumpartidopolítico, transformandoassim,
essasorganizações,emelementoscentraisparaofuncionamento,aprimoramentoe
transformação da democracia.
A atuação dos partidos é, portanto, permanente, chegando ao seu ápice durante o
processo eleitoral. Na complexa relação entre o povo e o Estado, regulada pelas leis,
os partidos políticos exercem função central. Por isso mesmo, muita das questões
mais importantes da tão falada Reforma Política tratam diretamente de temas
relacionados aos partidos.
Organização dos partidos políticos
O ponto inicial para entender os partidos é o art. 17 da Constituição Federal. Merece
destaque, inicialmente, como decorrência da própria liberdade de associação (art.
5°, XVII daCartaMagna), a liberdadede criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, bem como a sua autonomia de organização interna. Essa
liberdade não é absoluta, sendo que o próprio art. 17 estabelece alguns limites: o
partido precisa ter compromisso com a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.
Além disso, os partidos devem ter caráter nacional, não podem receber recursos
financeirosestrangeiros,devemprestarcontasàJustiçaEleitoralefuncionamento
parlamentar de acordo com a lei, além de não poderem ter caráter paramilitar.
Aorganizaçãoeofuncionamentointernotambémprecisamserexercidosdemodo
que tenhamos não apenas uma democracia de partidos, mas também dentro deles.
Esse é um ponto essencial para a garantia de participação na política de grupos
específicoscomoéocasodasmulheres,porexemplo.Temaqueserátratadoem
maior profundidade no próximo tópico deste Guia.
Para saber mais
A Constituição já foi definida como a suprema e primordial lei de um País. Como esclarece
Marcelo Casseb Continentino, a Constituição “simboliza o projeto comum da sociedade
que queremos, com os valores e os princípios mais essenciais: vida, liberdade, dignidade,
responsabilidade, moralidade, dentre outros. Como no casamento, a Constituição nos
impõe direitos e deveres, os quais, caso ignorados, irromperão na própria dissolução da
Constituição, algo não tão inusitado se lembrarmos da história constitucional brasileira”
(Disponível no site www.conjur.com.br/2012-out-06/observatorio-constitucional-
constituicao-antes-tudo-aprendizagem
O que são condições de elegibilidade?
Exigências que precisam ser cumpridas para ser candidato. Além de estar vinculado
a um partido político, o candidato precisa ter nacionalidade brasileira, estar no pleno
exercício dos direitos políticos, ter feito o alistamento eleitoral, ter domicílio eleitoral
na circunscrição e idade mínima (variável a depender do cargo para o qual o cidadão se
candidata) e ser alfabetizado.que aspira ao poder.
Você sabia?
Forças paramilitares são associações civis, armadas e com estrutura semelhante à militar
28 29
30
Sistema proporcional vs. Sistema majoritário. Qual a diferença?
No Sistema majoritário quem obtém mais votos ganha. No proporcional, os votos computados
são os de cada partido ou coligação e, em uma segunda etapa, os de cada candidato.
O que são coligações partidárias?
No sistema político brasileiro fazer alianças é fundamental devido à existência de dezenas
de legendas diferentes. Os acordos com outros partidos tornam possível se destacar e
ganhar terreno. Coligação é o nome dado às alianças entre partidos, nas eleições, com
vistas a aumentar as chances de obter resultados positivos nas urnas.
Para entender a importância dos partidos nas eleições, é preciso lembrar que há
eleições que seguem o critério majoritário, como é o caso dos pleitos para prefeito,
governador, senador e presidente da república e outras que seguem o critério
proporcional, caso da eleição para vereador, deputados estaduais e federais.
No sistema proporcional aumenta ainda mais a importância dos partidos. Isto
porqueoeleitor,mesmosemterconsciênciadissomuitasvezes,votanãoapenas
no candidato, mas também no partido. É como se, o mesmo voto, servisse para
duas contagens diferentes. A primeira resulta numa lista dos partidos mais votados,
enquanto a segunda ordena, dentro de cada partido, os candidatos individuais mais
votados.Aofinal,omesmovotoproduzdoisresultadoscruzadosparapreencher
os cargos legislativos. Por um lado, indica o número de vagas conquistadas por
cada partido ou coligação nas eleições para vereador, deputado estadual e federal,
por outro, gera uma lista de quem deve ocupar essas mesmas vagas ordenada de
acordo com o número de votos individuais recebidos pelos candidatos. A lista dos
suplentes aos cargos também resulta dessa mesma votação. É por isso que o critério
proporcional permite, por exemplo, que o eleitor vote na legenda (partido), sem
indicarnecessariamenteonomedeumcandidatoespecífico,oquenãoépossível
nas eleições que seguem o critério majoritário. Para saber mais sobre o impacto do
critério proporcional na política acesse: www.cartacapital.com.br/politica/como-e-
eleito-um-deputado-7022.html
Essaprimaziadafiguradospartidospolíticosnosistemaproporcionalseconfirmou
recentemente no debate em torno da titularidade do mandato eletivo em caso
de infidelidade partidária. Em 2007, o SupremoTribunal Federal (STF)mudou a
orientação que prevalecia desde 1989, ao decidir que o mandato eletivo pertence ao
partido e não ao parlamentar.
Dessa forma a infidelidade partidária
pode resultar em perda do mandato.
Em 2015, o STF esclareceu ainda
que a perda do mandato em caso
de infidelidade não se aplicava aos
cargos preenchidos pelo sistema
majoritário, no qual o eleitor vota
numapessoaespecífica.Essaposição
veio reforçar a peculiaridade do voto
e da relação entre o povo e o partido,
no sistema proporcional, utilizado
principalmente para a escolha dos
integrantes do Poder Legislativo.
O financiamento das
campanhas eleitorais
Tema importante, e que envolve
diretamente os partidos políticos,
é o financiamento das campanhas.
De início, o artigo 17 da Constituição
atribui aos partidos políticos o direito
a recursos públicos advindos do
fundo partidário e o acesso gratuito
ao rádio e televisão (§3°). Trata-se
do Fundo Especial de Assistência
Financeira aos Partidos Político, mais
conhecido como Fundo Partidário,
constituído por verbas da União,
multas, penalidades, doações e outros
recursosfinanceiros.
Quanto ao financiamento das
campanhas, recentemente, o STF
decidiu que não poderiam mais contar
com doações de pessoas jurídicas,
Reforma política
A Reforma Política é o nome dado
ao conjunto de projetos de lei (PL) e
propostas de emendas constitucionais
(PEC) ligadas à temática eleitoral, com
fins de melhorar o sistema eleitoral,
proporcionando, segundo seus
defensores, maior correspondência
entre a vontade do eleitor ao votar e o
resultado das urnas. Desde 1994, fala-
se nesse assunto, mas as mudanças
realizadas até agora, em nível
constitucional ou infraconstitucional,
se deram, em sua maioria, aos poucos,
e de forma pontual pela atuação do
Congresso ou do Poder Judiciário, e não
numa grande reforma.
Infidelidade partidária
A infidelidade partidária acontece
quando os detentores de cargos eletivos
saem do partido pelo qual foram eleitos
sem justa causa. O art. 22-A da Lei 9.096,
de 19/09/1995, acrescentado em 2015,
especifica os três casos considerados
como justos para desfiliação partidária:
mudança substancial ou desvio
reiterado do programa partidário; grave
discriminação política pessoal; mudança
de partido efetuada até 30 dias antes
do prazo exigido em lei para concorrer à
eleição, ao final do mandato vigente do
candidato.
De olho na notícia
O STF decidiu, em abril de 2011, por 10
votos a um, que quando um parlamentar
eleito no sistema proporcional se
licencia, deve assumir a vaga o
suplente da coligação a qual pertence.
Isso porque é direito dos partidos
formarem coligações para melhorarem
seus resultados eleitorais e a decisão
partidária que formou a coligação
prevalece na hora de definir quem
assumirá a vaga.
31
32 33
gerandointensodebatesobreformasalternativasdefinanciamento.Considerando
que, nas últimas eleições presidenciais (2014), somadas as três principais candidaturas,
95% das arrecadações vieram de pessoas jurídicas, a decisão do Supremo opera uma
mudançaconsiderávelnomododefinanciamentodademocraciabrasileira.Otema
está em aberto e, assim como ocorre em outros países, ainda merece profundas
reflexões.OsEstadosUnidosdaAmérica,porexemplo,lidamcomoassuntohápelo
menosquatrodécadas,semqueodebatetenhasidopacificado.
O controle dos representantes eleitos pelo
povo: a prestação de contas
Outro assunto da maior relevância é o controle
da atuação de candidatos e partidos por parte do
eleitorado. O que na experiência internacional
se convencionou chamar de accountability
político está no centro das reflexões atuais
sobre a democracia representativa. Isso
porque o modelo pressupõe a outorga de
um mandato do eleitor (povo) ao candidato
eleito, que passará a atuar e a tomar decisões
políticas na condição de seu representante.
Neste sentido, o mandato eleitoral não é um
“cheque em branco”, e assim, o controle da
atuação do representante não se baseia apenas
no imperativo de honestidade e retidão pelo
qual deve se pautar todo agente político, mas
também na coerência quanto aos interesses
de suas bases, que prometeu defender.
Mas qual é o nível ideal de controle que o eleitor deve exercer sobre seu representante?
Paraalguns,aatuaçãopolíticaexigeconfiançaplena,jáquemuitasdasdecisõessão
tomadas a partir de informações que não estão disponíveis para todos, tendo em
vista a quantidade e a complexidade dos interesses em jogo. O controle excessivo,
portanto, inviabilizaria o próprio exercício da representaçãopolítica. Para outros,
o controle deve ser pleno como é o caso da iniciativa internacional do Flux Party,
fundado na Austrália, o partido propõe que cada passo do representante, cada voto
De olho na história
Foi um pedido da Ordem
dos Advogados do Brasil
(OAB) numa ação direta de
inconstitucionalidade que
resultou na proibição do Supremo
para que empresas realizem
doações a campanhas e partidos
políticos. Houve entendimento
da Corte de que isso significa
interferência do poder econômico
nas eleições. Pessoas físicas
ainda podem contribuir nos
termos da lei. Na primeira eleição
realizada após a decisão, em
2016, observou-se que um grande
número de prefeitos eleitos
é milionário, o que tem sido
apontado por muitos como um
resultado imprevisto e negativo
da decisão do STF, que merece
maior atenção e análises futuras.
no parlamento, seja precedido de consulta aos
membros da legenda. No caso Australiano, as
consultassãorealizadasporumaplicativoe
vinculam o representante, transformando-o
em um porta-voz. O sugestivo slogan da
agremiação é “aprimorar o sistema e devolver
o poder para o povo”.
De todo modo, a discussão sobre o mandato
político e o controle do eleitor sobre ele passa,
necessariamente, pelos partidos. Afinal, uma
dasrazõespelasquaisaConstituiçãoobrigaos
indivíduos a estarem ligados aos partidos para
se candidatarem é justamente para facilitar a
prestação de contas do candidato ao eleitor.
Isso porque os partidos devem possuir uma
agenda política conhecida, que em última
instância, serve para orientar o eleitor na hora da escolha do candidato. Afinal, a
agenda do partido revela as suas bandeiras, ideologia, e os interesses que pretende
defender,estabelecendoasdiretrizeseos limitesmaisamplosdentrodosquaisos
membros do partido devem atuar. Essa é uma parte fundamental do accountability
político que começa no partido e se estende aos representantes eleitos.
Emsuma, o funcionamento, o aperfeiçoamento e a fiscalizaçãodospartidos são
centrais para o desenvolvimento e o fortalecimento da democracia moderna. Há
certamente muito debate e inovação em curso a respeito desse tema, transformando
permanentemente a estrutura da democracia tal qual a conhecemos.
Bibliografia:
Boletim Informativo da Escola Judiciária Eleitoral. Quem financia a democraciabrasileira? Disponível em: www.youtube.com/watch?v=89FkJmgRbCw&index=13&list= PLljYw1P54c4xPFVfNDWdr5iRhZwNZoGx0,acessoemdezembrode2016.
MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G.. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
NICOLAU,Jairo.Sistemaseleitorais.RiodeJaneiro:FGVEditora,2004.
NICOLAU, Jairo. “Os partidos brasileiros envelheceram” publicado em 19 de junho de 2013. Disponível em: http://oglobo.globo.com/brasil/jairo-nicolau-os-partidos-brasileiros-envelheceram-8741631,acessoemdezembrode2016.
PORTO,W.C.OvotonoBrasil:dacolôniaà6arepública.RiodeJaneiro:Topbooks,2002.
Em outras palavras
A tradução de Accountability
é associada ao termo
“Responsabilização” em
português, e normalmente
aplicada aos domínios da
política e da administração. Em
se tratando da esfera pública, o
termo encontra-se relacionado
à fiscalização, avaliação e,
muitas vezes, à ética no trato
do bem público, visto que seu
significado remete à obrigação da
prestação de contas de membros
de um órgão administrativo ou
instituição representativa às
instâncias controladoras ou a seus
representados.
34 35
TRIBE, L.; MATZ, J. Financiamento de campanha: siga o dinheiro. In: Revista Estudos Eleitorais, Brasília, v. 1, n. 2, p. 271/325, maio/agosto 2016. Disponível em: http://www.tse.jus.br/hotsites/catalogo-publicacoes/pdf/estudos_eleitorais/estudos_eleitorias_v11-n2.pdf, acesso emdezembrode2016.
CONTINENTINO,M.C.AConstituiçãoéaprendizagem,assimcomoosfilhos.In:CONJUR,colunaObservatório Constitucional, 6 de outubro de 2012. Disponível no site http://www.conjur.com.br/2012-out-06/observatorio-constitucional-constituicao-antes-tudo-aprendizagem, acessadoemdezembrode2016.
Conceitos destacados no texto, listados na ordem em que aparecem:
• Condições de elegibilidade
• Reforma política
• Paramilitar
• Sistema proporcional vs. Sistema Majoritário
• Coligações partidárias
•InfidelidadePartidária
• Financiamento dos partidos políticos (Fundo Partidário)
• Accountability político
TEXTO PARA DISCUSSÃO: “PARTIDOS POLÍTICOS E DEMOCRACIA: EXPERIÊNCIAS INOVADORAS”
As inquietações de cidadãos do mundo inteiro sobre os rumos da democracia
representativa aliadas às novas ferramentas de comunicação emobilização pela
Internetvêmproduzindoinovaçõesnarelaçãoentreopovoeospartidos.Imagine,
por exemplo, uma Constituição escrita a várias mãos via Facebook, Twitter, YouTube
e Flickreaprovada,emsuaversãofinal,apósdiscussõesnoParlamento,pelamaioria
dos cidadãos. Pois bem, ela já existe e está em vigor desde 2012, na Islândia. Trata-se
de uma história extremamente interessante na qual os representantes eleitos pelo
voto popular, usaramos poderes neles investidos para dar voz às demandas da
população, colocando o Parlamento a serviço dos movimentos sociais e de todos os
que protestavam contra a situação do país.
Em2008,quandoteveinícioacrisefinanceirainternacional,aIslândiatinhaaquinta
renda média mais alta do mundo, ganhavam 160% mais do que os norte-americanos.
Essa prosperidade alcançada de forma meteórica provinha, em grande parte, de
operações financeiras internacionais realizadas pelos três grandes bancos locais.
O que se descobriu, na época, é que muitas delas eram fraudulentas e a partir da
revelação desses esquemas e da pressão internacional para adotar regras mais
rígidas e transparentes, a economiadopaís foi devastada, trazendoum impacto
repentino e profundo para a população.
Na esteira de grandes protestos promovidos por meio de redes sociais, e que
tomaramas ruaseespaçospúblicosdopaís, foiorganizadaumaeleiçãopopular
para designar um Conselho da Assembleia Constitucional (CAC) com 25 integrantes.
Todos os cidadãos, independente de filiação partidária poderiam participar e 522
pessoas disputaram os 25 assentos disponíveis. A eleição ocorreu em novembro
de 2010 e teve a participação de 37% do eleitorado, mas a Suprema Corte anulou o
pleito por motivos técnicos.
O Parlamento islandês, então, assumiu uma postura inovadora e nomeou, usando
os seus poderes institucionais previstos em lei, os 25 cidadãos eleitos no pleito
para comporem o CAC e prepararem a minuta de uma nova Carta Magna. O
Conselho tinha quatro meses, de acordo com as previsões legais, para apresentar
o documento. Usaram todas as ferramentas e plataformas tecnológicas disponíveis
paracumpriremoprazo,eaomesmotempoampliaremaomáximoodebateea
participação popular.
O Facebook foi a plataforma básica do debate público. Usaram o Twitter como canal
pararelataroprogressodotrabalhoetirardúvidasdoscidadãos.ViaYouTube e
Flickr era realizada uma comunicaçãodireta entre osmembros doConselho e a
população, propiciando ampla participação nos debates que aconteciam em toda
a Islândia.
Para saber mais:
Numa democracia direta, o cidadão vota e expressa sua opinião sem intermediários.
No entanto, trata-se de um modelo aplicável apenas a populações e territórios pequenos.
Por este motivo a maioria dos governos democráticos utiliza uma forma de democracia
indireta, a democracia representativa, em que as decisões políticas não são tomadas
diretamente pelos cidadãos, mas por representantes eleitos por eles. Apenas os representantes
têm direito a voto e depende das leis de cada país democrático se o voto dos cidadãos é
obrigatório (como no Brasil) ou facultativo (como nos Estados Unidos).
Conheça mais sobre o tema em http://educacao.globo.com/sociologia/assunto/organizacao-
social/democracia-direta-indireta-e-representativa.html
36 37
Dentrodoprazolegalprevisto,foienviadaaoParlamentoumaminutadeConstituição
com 114 artigos e nove capítulos. Depois de discussões na Casa, que pouco mudaram
o teordapropostadevidoàgrandepressãoemobilizaçãopopularem tornodo
assunto, o governo decidiu que o texto final seria submetido à aprovação dos
cidadãos em geral e comprometeu-se a respeitar a decisão popular, abrindo mão
de uma prerrogativa que é do Parlamento de referendar as leis do país. No mesmo
dia da votação presidencial de junho de 2012, o texto foi aprovado pelos cidadãos.
Em seus princípios, a nova Constituição trazia expressos os valores e as formas
de representação política que se destacavam, então, nas demandas e visões dos
movimentos sociais surgidos no mundo todo a partir de 201117.
A Islândia, entretanto, é um país com condições muito particulares para o exercício
de formas mais diretas e instantâneas de democracia. São 320 mil habitantes
apenas, com uma taxa de 100% de inclusão digital. Mesmo assim, o exemplo tem
inspirado outras nações com situações concretas muito diferentes na busca por
maior participação direta na democracia representativa.
Na visão do professor português da Universidade de Coimbra e de Wisconsin-Madison
(EUA), Boaventura de Sousa Santos, a tão falada reforma política no Brasil, que
tem como objetivo principal aumentar o controle do povo sobre os partidos e seus
representantes eleitos, deve ser orientada por três ideias. “Para que a democracia
prevaleça é necessário inventar novas institucionalidades que permitam articular,
nas diferentes escalas de governação, a democracia representativa e a democracia
participativa; especialmente em sociedades dominadas por relações capitalistas,
coloniais e patriarcais”18.
PAÍS DO BEM?!
Outra estratégia mais tradicional e que vem sendo reforçada pela facilidade de
comunicaçãoemobilizaçãodasredessociaiséaumentarapressãopúblicasobreos
eleitos.Nessesentido,sitesespecializadosemcoletarassinaturasparaprojetosdelei
de iniciativa popular, bem como abaixo-assinados de protesto contra determinadas
leis e até atitudes de políticos são comuns em todo o mundo, e também no Brasil.
Interessado em avançar com relação a causas de interesse global, sobretudo na esfera
das questões ambientais, o consultor político inglês, Simon Anholt, por exemplo,
criou em novembro de 2014, o chamado Partido do Bom País (Good Country Party,
em inglês). O objetivo do “Partido do Bom País” é ser uma associação global que
mobilizeasociedadecivilmundialparapressionarosgovernosaagiremsobreos
problemas que afetam a comunidade internacional, como as mudanças climáticas
e as violações aos direitos humanos. O Partido deriva de um índice com o mesmo
nome, lançadoporAnholtalgunsmesesantes,queclassificaospaísesdeacordo
comobemqueelesfazemparaahumanidade.OBrasil,porexemplo,alcançoua49ª
posição entre 125 países19.
A ideia básica é que um “país bom” é aquele que lembra e cumpre suas obrigações
internacionais. Uma das primeiras e mais importantes responsabilidades do “partido”,
que não existe e nem tem a pretensão de se registrar formalmente em qualquer
país,éajudarocidadãoaexigirmudançasdospolíticos.Parasefiliarbastafazera
inscriçãopela internet. “As informaçõesdosfiliadossãoconfidenciais,nãovamos
pedir dinheiro ou assinaturas. Eles vão receber e trocar muita informação, aprender e
encontrar pessoas. Não há restrições. Não há idade ou nacionalidade exigida para se
filiar.Tudoqueeuqueroéqueelesentremnaconversaequeosmembrosdopartido
sejam mais ativos (politicamente em suas próprias sociedades)”, explica Anholt.
No Brasil, a Rede Sustentabilidade, partido formadoe lideradopela,duasvezes
candidata à presidência, Marina Silva, foi criada como partido político legalmente
constituído,buscandoumaformadiferenciadadeatuação.Ositeoficialdescreve
a iniciativa como: “Fruto de um movimento aberto, autônomo e suprapartidário
que reúne brasileiros decididos a reinventar o futuro do país. É uma associação
de cidadãos e cidadãs dispostos a contribuir de forma voluntária e colaborativa
para aprofundar a democracia no Brasil e superar o monopólio partidário da
representaçãopolíticainstitucional...Umalegendacapazdeabrigarcandidaturas
de cidadãos que não façam parte de seus quadros, mas que compartilhem de seus
ideais, comprometida com a transparência de seus processos internos e empenhada
na renovação de suas lideranças20”. Os desafios encontrados pelo partido para
colocar em prática seus objetivos e ao mesmo tempo se posicionar de forma clara,
em meio à crise política e econômica dos últimos anos no país, entretanto, ilustram
17 CASTELLS, Manuel. Prelúdio à revolução: Onde tudo começou. In: Redes de Indignação e Esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013 (pgs. 27 a 47).18 SANTOS, Boaventura Souza. “Quinze Questões para uma nova esquerda”. In: Caros Amigos, publicada em 08/07/2016. Disponível em: www.carosamigos.com.br/index.php/politica/7291-boaventura-de-sousa-santos-quinze-questoes-para-uma-nova-esquerda, acessado em 04/01/2017.
19 GABRIEL, Juan de Souza. “Precisamos de partidos internacionais”. In: Revista Época, publicada em 11/12/2014. Disponível em: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/12/bsimon-anholtb-precisamos-de-partidos-politicos-internacionais.html, acessada em 05/01/2017.20 REDE SUSTENTABILIDADE 19. “Quem somos”. Disponível em https://redesustentabilidade.org.br/a-rede/, acessado em 05/01/2017.
38 39
bem a dificuldade para se criar novos modelos de participação, sem precisar
abrir mão do avanço que é a democracia representativa. O papel e a atuação dos
partidospolíticos(gostevocêdelesounão!),estãonocentrodessaquestãovital
para o futuro da humanidade.
Conceitos destacados no texto para discussão:
• Democracia direta
• Democracia representativa ou indireta
• Relações capitalistas
• Relações coloniais
• Relações patriarcais
• Suprapartidário
• Projetos de lei de iniciativa popular
• Transparência
QUESTÕES PARA DEBATE:
Sugerimos alguns aspectospara reflexãoquepodem facilitar a identificaçãodos
argumentos a serem trabalhados com os alunos. Essas questões servem de ponte
entre o debate e os conteúdos programáticos, assim como ajudam os alunos a
identificaremeproblematizaremosargumentos,conformeoexercíciogeralsugerido
no último capítulo deste Guia.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico I: Compreender o papel dos partidos
políticos na democracia após a Constituição de 1988.
NenhumapessoapodeseelegersemestarfiliadaaumpartidopolíticonoBrasil.Apartir
disso, não é possível entender a democracia brasileira sem analisar o funcionamento
dos partidos e os espaços existentes para a participação e a transformação dessas
estruturas, com especial atenção para o papel dos jovens nesse processo.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Qual a importância dos partidos políticos na democracia brasileira, de acordo
com a Constituição de 1988?
2. Por que no sistema proporcional aumenta a importância dos partidos nas
eleições? Em qual dos poderes essa relação se torna, portanto, mais importante
para compreender a política?
3. Quem financia os partidos políticos?
4. Qual a importância da fidelidade partidária para a democracia?
5. Qual o problema ou as vantagens de se fazer mudanças na legislação eleitoral
de forma pontual, no lugar de realizar uma ampla reforma política?
Referências sugeridas:
BRANCO,A.L.V.“OpapeldospartidospolíticosnoEstadoDemocráticoBrasileiro”.In:Revistaeletrônica da EJE, n. 6, ano 3, 2014. Disponível em: www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-eleitoral/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-6-ano-3/o-papel-dos-partidos-politicos-no-estado-democratico-brasileiro, acesso em 27/01/2017.
CRUZ, J. H. R. “A função do partido político no regime democrático”. In: Âmbito Jurídico.com.br,publicadoem27/01/2017,disponívelem:http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16762,acessonadatadapublicação.
TRIBUNALSUPERIORELEITORAL.“Perguntasfrequentes–filiaçãopartidária”.Disponívelem:www.tse.jus.br/partidos/filiacao-partidaria/perguntas-frequentes-filiacao-partidaria, acesso em27/01/2017.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico II: Desenvolver um entendimento
geral sobre os principais debates colocados na atualidade para o aprimoramento
da democracia representativa (accountability político, principais diferenças entre
critério majoritário e proporcional nas eleições, entre outros).
De uma maneira geral, os partidos políticos estão com sua imagem completamente
desgastada junto aos eleitores e, em especial, entre os mais jovens. Mas pensando
no aprimoramento dos partidos como “instituição” chave da democracia
representativa, quais seriam os caminhos e os temas fundamentais nos quais atuar,
e prestar atenção no cotidiano? Trata-se de um ângulo extremamente construtivo
para resgatar a política e separá-la dos indivíduos (os políticos) cujos crimes e
desvios éticos têm sido noticiados tão intensamente nos últimos anos, no Brasil.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
40 41
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Quem fiscaliza os eleitos?
2. Qual o nível de controle ideal de um eleitor sobre o seu representante?
3. Qual a importância da agenda partidária na democracia representativa? Como
é possível conhecer as agendas dos partidos? O Brasil possui hoje 35 partidos
políticos. Existem diferenças significativas nas agendas de cada um deles?
Quais? (esse ponto é aprofundado na Atividade Completar, que segue)
4. O que o funcionamento interno dos partidos tem haver com a inclusão de
segmentos historicamente excluídos da população na política (mulheres, negros,
índios, LGBTT, etc)?
Referências sugeridas:
OLIVEIRA,Vinícius.“Jovemnãoquervotarempartidos,masemcausas”.In:PORVIR,publicadoem25desetembrode2014,disponívelem:http://porvir.org/53-dos-jovens-nao-simpatizam-
nenhum-partido-politico-diz-pesquisa/,acessoem27/01/2017.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico III: Conhecer algumas inovações pelo
mundo que vem articulando a democracia representativa com a democracia direta.
As inovações apresentadas no texto para discussão falam de contextos muito
distantes do brasileiro como é o caso da Islândia, mas também passeiam por iniciativas
muito fortes por aqui. Conhecer melhor essas iniciativas, muitas delas lideradas por
jovens,efazeraligaçãoentreelaseopapeldospartidospolíticospodeserumaboa
abordagem para esse objetivo.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Como as redes sociais estão mudando o papel dos partidos políticos?
2. E o que isso tem haver com a sua realidade?
3. Quais as vantagens desse novo modelo?
4. Quais as desvantagens?
5. Qual sua visão sobre as inovações apresentadas no texto para discussão? Que
outras maneiras enxerga para tornar os partidos políticos mais democráticos e
acessíveis?
6. Você participa de algum tipo de coletivo ou iniciativa de mobilização na sua
comunidade? Em caso afirmativo, o que ela tem haver ou como ela se comunica
com os partidos políticos?
Referências sugeridas:
SONHO BRASILEIRO DA POLÍTICA. Pesquisa Sonho Brasileiro da política. Disponível em: http://
sonhobrasileirodapolitica.com.br/a-pesquisa/, acesso em 27/01/2017.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR
Éfundamentalqueosalunosdespertem,apartirdasdiscussões realizadas,paraa
centralidade dos partidos na democracia. Um exercício interessante seria dividir os
alunos em grupos para pesquisarem as agendas e o funcionamento de um partido
específicocomobjetivodeapresentaremasinformações,emsaladeaula.Parafacilitar,
seria importante escolher um tema relevante da agenda de acordo com o interesse
dos alunos (Segurança, Saúde, Educação, Direitos Humanos, entre outros) como foco
da pesquisa para tornar mais claras as diferenças ideológicas e de posicionamento (ou
não) entre os partidos pesquisados. Depois dessa atividade, sugere-se compartilhar
as informações da Leitura Complementar,abaixo,parainstrumentalizarosalunosa
conheceremmelhorospartidosetambémfiscalizaremsuaatuação.
LEITURA COMPLEMENTAR: QUEM FISCALIZA OS
PARTIDOS POLÍTICOS?
Todos os partidos políticos devem prestar contas à Justiça Eleitoral. A cada ano,
apresentam ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as informações referentes ao
exercíciodoanoanterior.Existeumprazolegalparaqueessaexigênciasejacumprida.
Após a publicação do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do
Exercício de cada partido no Diário da Justiça Eletrônico (DJe), o conteúdo dos
doisdemonstrativosédisponibilizadopeloPortaldoTSEnainternet,noendereço:
www.tse.jus.br/partidos/contas-partidarias/prestacao-de-contas-partidarias
42
AResoluçãoTSEnº23.432dedezembrode2014determinaque, imediatamente
após o recebimento das contas, a Secretaria Judiciária do Tribunal providencie a
publicação do Balanço Patrimonial e do Demonstrativo do Resultado do Exercício
de cada legenda. Pela resolução, os autos da prestação de contas devem ficar
disponíveispeloprazode15dias,paraquequalquerinteressadopossaconsultá-los.
Em seguida, o Ministério Público ou qualquer partido político têm mais cinco dias
para impugnar as contas, se desejar.
Segundo as normas, os diretórios nacionais das legendas devem entregar no TSE as
respectivas prestações de contas. Já os diretórios estaduais devem apresentá-las aos
TribunaisRegionaisEleitorais(TREs),eosdiretóriosmunicipais,naszonaseleitorais.
A apresentação da prestação de contas pelos diretórios nacionais, estaduais e
municipais e comissões provisórias dos partidos deve seguir as orientações do TSE.
A entrega da prestação de contas anual pelos partidos é determinada pela
Constituição Federal (artigo 17, inciso III) e pela Lei dos Partidos Políticos (Lei nº
9.096/1995 – artigo 32). De acordo com a legislação, compete à Justiça Eleitoral
fiscalizarascontasdospartidoseaescrituraçãocontábilepatrimonial,paraverificar
a correta regularidade das contas, dos registros contábeis e da aplicação dos recursos
recebidos, próprios ou do Fundo Partidário.
As prestações de contas devem conter: a discriminação dos valores e a destinação
dos recursos recebidos do Fundo Partidário; a origem e o valor das contribuições e
doações; as despesas de caráter eleitoral, com a especificação e comprovação dos
gastos com programas no rádio e televisão, comitês, propaganda, publicações,
comícios e demais atividades de campanha; e a discriminação detalhada das
receitas e despesas.
Há dois tipos de prestações de contas que devem ser feitas: a do período eleitoral e
a partidária anual. No caso de ano eleitoral, os candidatos, os partidos e os comitês
financeirostêmdeencaminharasprestaçõesdecontasemtrêsmomentos,entregas
parciaisemagostoesetembro,eaprestaçãofinal,tantodoprimeiroturnoquanto
do segundo, se houver, até o término de novembro. Com relação à prestação anual,
todos os partidos registrados na Justiça Eleitoral têm de entregar as contas até 30
de abril do ano posterior ao exercício.
Após a entrega das contas, os técnicos analisam toda a documentação apresentada
combasenalegislaçãoeleitoralepartidária.OstécnicosdoTSEverificamaspeças
que estão faltando e sugerem ao ministro relator das contas que seja aberto ao
partidoprazo,deaté72horas,parapreencheraslacunasobservadas.Tambémpode
serfixadoprazodeaté20diasparaopartidopodercomplementaradocumentação,
se for detectada a necessidade de esclarecimentos por parte da legenda.
Casoopartidonãoentregueaprestaçãodecontasdentrodoprazo,aPresidência
do Tribunal é informada que a sigla está inadimplente quanto a essa obrigação. O
partido,então,éintimadoaapresentarascontasemumprazode72horas.Após
esseprazo,seasiglapermanecerinadimplente,opresidentedoTribunalouojuiz
eleitoral deverá determinar a suspensão imediata da distribuição ou repasse de
novas cotas do Fundo Partidário, sujeitando-se, ainda, o partido ao julgamento de
contas não prestadas.
Se a prestação estiver completa, a Justiça Eleitoral determinará, imediatamente, a
publicaçãodosbalançosnaimprensaoficial,e,ondeelanãoexistir,aafixaçãodos
balanços no cartório eleitoral, para que algum outro partido ou cidadão, caso queira,
possa questionar as contas ou impugná-las.
De olho na notícia
O que é Caixa dois? Trata-se do dinheiro utilizado em campanhas eleitorais não-declarado
à Justiça na prestação de contas dos partidos. É uma forma de delito de falsidade
ideológica (prestação de declaração falsa) e no campo eleitoral está previsto no art. 350
do Código Eleitoral, com pena de até cinco anos de prisão. O julgamento dos chamados
escândalos do “mensalão” de diversos partidos seja no nível federal ou estadual, por
exemplo, tratavam basicamente de recursos de caixa dois.
Um exemplo da importância do processo de prestação de contas dos partidos sobre
recursos usados em campanhas eleitorais é o exame da movimentação da chapa Dilma-
Temer, vencedora das eleições presidenciais de 2014. Em dezembro daquele ano, as
contas foram aprovadas por unanimidade no TSE com algumas ressalvas, conforme
o processo descrito acima. No entanto, o processo foi reaberto por questionamentos
apresentados pelo PSDB. Até o início de 2017, tal procedimento não havia sido
encerrado, mas a quantidade de documentos apresentados e de investigações, perícias
e diligências realizadas nesse período dão a dimensão da complexidade de se fiscalizar a
utilização de recursos em campanhas eleitorais.
Fique por dentro
O Portal do Tribunal Superior Eleitoral é referência para quem quer acompanhar de perto
a prestação de contas dos partidos, bem como outras notícias e informações relevantes
nessa área. Ele pode ser acessado pelo endereço: http://www.tse.jus.br/
43
44 45
TEMA 3: Igualdade, diferença, pluralismo político e participação: o exemplo das mulheres
Objetivos pedagógicos
Nesse tópico, pretende-se: I) Compreender o papel dos partidos políticos na
escolha dos candidatos a cargos eletivos e na promoção da participação política de
segmentos historicamente excluídos (mulheres, negros, índios, LGBTT, entre outros);
II) Desenvolver um entendimento geral sobre a história da inclusão das mulheres
e de outras minorias no processo político brasileiro e III) Apresentar ao jovem os
mecanismos internos aos partidos que determinam a escolha dos candidatos e a
participação política nas eleições.
TEXTO CONCEITUAL: “PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA”
Há mais homens do que mulheres no mundo, sendo que a proporção média global
é de 101,8 homens para cada 100 mulheres, tendência registrada desde 1960. No
Brasil, entretanto, a realidade é outra: são 96,7 homens para cada 100 mulheres, uma
proporçãoquenãoserefletenapolítica,onde90%dosnossosrepresentantessão
homens; e apenas 10% mulheres21.
A participação feminina na política é muito recente no Brasil, embora a discussão
venha de longe. A Constituição de 1824, primeira depois da independência de
Portugal, atribuía o direito ao voto aos “cidadãos brasileiros”, e a Constituição de 1891,
aos “cidadãos”, mas apesar disso o alistamento eleitoral de mulheres, permaneceu
proibido. Apenas em 1932, com o primeiro código eleitoral brasileiro, consagrou-
se expressamente a condição da mulher como eleitora, embora haja registros
históricos pontuais de alistamento de mulheres, como por exemplo, os decorrentes
de lei estadual do Rio Grande do Norte que assegurava o direito ao voto a todos os
cidadãos “sem distinção de sexos”, em 1926.
E se eram inúmeros os entraves ao alistamento eleitoral feminino, é lógico que
isto se fez sentir na tardia estreia da mulher na condição de representante,
consagrando-se a sua capacidade eleitoral passiva, ou seja, a sua aptidão para
ser votada. Apenas em 1933 teríamos a primeira mulher eleita pelo voto popular
emâmbitofederal:amédicapaulistaCarlotaPereiradeQueiroz,deputadada
Assembleia Nacional Constituinte que ocorreria no ano seguinte.
No plano constitucional, é justamente na Carta de 1934 que o voto feminino é
consagrado. Contudo, o alistamento e o voto femininos só eram obrigatórios para
mulheres que exercessem função pública remunerada. A regra da facultatividade
permaneceu no texto de 1937, que impunha o alistamento “na forma da lei”.
A lei, o Decreto-Lei nº 7.586/1945, em seu art. 4º, dispunha que o alistamento e o
voto eram obrigatórios, mas abria exceção para as mulheres que não exerciam
profissão lucrativa, maioria na época.
A obrigatoriedade plena veio com a Constituição de 1946, em seu art. 133: “o
alistamento e o voto são obrigatórios para os brasileiros de ambos os sexos,
salvoasexceçõesprevistasemlei”.Taisexceçõesnãodiziamrespeitoasexo,
mas a causas de suspensão ou perda dos direitos políticos.
De volta à atualidade, hoje, apesar de estarem os direitos políticos das mulheres
formalmente assegurados, a política é francamente dominada pelos homens. No
mundo, apenas dois países têm 50% ou mais de mulheres em seus parlamentos:
Ruanda e Bolívia22. Tal quadro obrigou a comunidade internacional a adotar
medidas mais drásticas de ampliação da participação feminina na política, na
condição de representantes eleitas.
Desde 1997 o Brasil adota cotas de candidaturas para cada sexo, a teor do §3°
do art. 10 da lei 9504/97: “Do número de vagas resultante das regras previstas
neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta
por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada
sexo”. No entanto, as cotas de candidaturas femininas não têm se revertido
em representatividade, já que poucas são eleitas, sem contar que muitos
partidos burlam a lei, recorrendo a candidaturas fictícias, chamadas “candidatas
laranjas”23.
21 XXX Xxxxxx. Xxx xx
22 XXX Xxxxxx. Xxx xx 23 BBC Brasil. Lei abre brecha para desrespeito à cota de candidatas mulheres. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141215_eleicao_mulheres_mdb>
46 47
A falta de representatividade
políticafemininarefleteumquadro
sociocultural mais amplo e complexo
presente no mundo inteiro. Os
índices de violência contra a mulher
e as diferenças de remuneração
com base em critérios de gênero no
mercado de trabalho, revelam esse
quadro geral.
AOrganizaçãoMundialdoTrabalho
(OIT) estima, por exemplo, que
em se mantendo as tendências
verificadasem2016,“serãonecessários70anosparaeliminarasdisparidadessalariais
de gênero no mundo”, de acordo com o Relatório Mulheres no Trabalho: Tendências
2016.Omesmodocumentoafirmaque“anívelglobal,estimam-seem23porcento
as disparidades salariais de gênero, com as mulheres ganhando 77 por cento do que
ganham os homens nas mesmas funções”24 ·.
Maria da Penha
A violência contra mulher no Brasil não para de aumentar, apesar das políticas
adotadas com objetivo de tentar melhorar essa situação. Segundo dados do Mapa
da Violência 2015, os homicídios contra a mulher crescem sensivelmente: “entre
2003 e 2013, o número de vítimas do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762,
incrementode21,0%,nadécada,significando 13homicídios femininospordiano
país”25. Como mais uma tentativa de reverter tal quadro, a Lei nº 13.104/2015 criou
a figura do feminicídio, espécie de agravante do crime, no caso de homicídios
cometidos contra mulheres. No plano legislativo, o Brasil é referência pela edição da
Lei nº 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Tudoissotemreflexonapolíticaeacabaserevertendonumadiminutaparticipação
feminina,quereforçaadificuldadedeeliminaçãodadesigualdadedegênero,num
círculo vicioso resultado de um contexto sociocultural que precisa ser rompido.
Segundo a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luana
Pinheiro, “em cima de construções sociais feitas a partir de noções como habitus,
gênero e dominação masculina a sociedade se estruturou – e, mais tarde, remodelou –
lugaresespecíficosparacadaumdossexos”.Nessaremodelagemapolíticaeopoder
foram transformados em espaços de homens, onde as mulheres não conseguem
entrar.Transformaressasituaçãoexigereflexõesepráticassociaisdecadaumdenós
e,acimadetudo,açõesgovernamentaiseciviscadavezmaisintensas.
Bibliografia:
BBC Brasil. Lei abre brecha para desrespeito à cota de candidatas mulheres. Disponível em: www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141215_eleicao_mulheres_mdb
OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho.Mulheresnotrabalho:Tendências2016.Disponívelem:www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/wcms_457096.pdf
PINHEIRO,LuanaSimões.VozesFemininasnaPolítica:umaanálisesobremulheresparlamentaresno pós-Constituinte. Disponível em: www.observatoriodegenero.gov.br/menu/publicacoes/outros-artigos-e-publicacoes/vozes-femininas-na-politica-uma-analise-sobre-mulheres-parlamentares-no-pos-constituinte/at_download/file
WAISELFISZ,JulioJacobo.MapadaViolência2015:HomicídiodemulheresnoBrasil.Disponívelem:www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf
Conceitos destacados no texto conceitual, na ordem em que aparecem:
• Representação feminina
• Participação feminina
• Cotas
•Violênciadegênero
• Feminicídio
PARA SABER MAIS26
Em1993,foiaprovadapelaONUaDeclaraçãosobreaEliminaçãodaViolênciacontra
aMulher.Foiapartirdadefiniçãodadaporesteinstrumentointernacionalaotermo
“violênciacontraamulher”queoproblemapassouasertratadocomoespecífico.A
ConvençãoInteramericanaparaPrevenir,PunireErradicaraViolênciacontraaMulher,
conhecidacomoConvençãodeBelémdoParáfoiadotadapelaOrganizaçãodos
EstadosAmericanos(OEA)em1994eratificadapeloBrasilem1995.Esteinstrumento
24 Organização Internacional do Trabalho, Mulheres no trabalho: Tendências 2016, p. 9.25 Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil, p. 13.
26 Fonte: SOUZA, M. C e Luiz Fernando BARACHO. In: Revista Eletrônica do Curso de Direito - PUC Minas Serro – n. 11 – Jan./Agost. 2015. Disponível em: file:///C:/Users/Marina/Downloads/8695-37769-1-PB.pdf, acesso em 12/03/2017.
O que é uma candidata laranja?
É um termo específico que designa
candidaturas femininas com registro deferido,
mas que tiveram votação zero nas urnas,
ou seja, não receberam nem o próprio
voto. São pessoas que deixam seus nomes
serem utilizados pelos partidos apenas para
preencher as cotas de gênero. Quando a
Justiça eleitoral comprova a existência desse
tipo de candidata em determinado partido,
os homens eleitos pela legenda ou coligação,
podem ter o mandato impugnado por se
beneficiarem desta ilegalidade.
48 49
é de grande relevância, na medida em que foi uma das reivindicações dos movimentos
de mulheres e feminista ao longo da história, sendo o primeiro instrumento de cunho
regional de proteção aos direitos humanos das mulheres a reconhecer expressamente a
violênciacontraamulhercomoumproblemageneralizadonasociedade.Dessemodo,
aviolênciacontraamulherconstitui-seemumpadrãodeviolênciaespecífico,baseado
no gênero, que causa morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher.
Em 1998, o Centro para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino
Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), juntamente com
Maria da Penha Maia Fernandes, encaminharam à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA petição contra o Estado brasileiro, concernente ao caso de violência
doméstica contra Maria da Penha, ocorrido em 1983, sem qualquer tipo de punição para
o agressor, até então. Ela sofreu tentativa de homicídio por parte do marido, que atirou
em suas costas, deixando-a paraplégica.
Duas semanas após o atentado, Maria da Penha sofreu nova tentativa de assassinato
porpartedomarido,que,dessavez,tentoueletrocutá-laduranteobanho.Conforme
apurado junto às testemunhas do processo, o agressor teria agido de forma premeditada,
pois,semanasantesdaagressão,tentouconvenceraentãoesposaafazerumseguro
de vida em seu favor.
Apartirdamobilizaçãodomovimentodemulheresedeváriasinstituiçõesdefensoras
de direitos humanos no país em torno desse caso na OEA, chegou-se à aprovação
em 2006, da nova lei, que recebeu o nome de Maria da Penha. A partir disso o Estado
brasileiroficouobrigadoa intervirdemododiretoafimdeevitarqualquer tipo de
agressão contra mulheres e meninas.
A lei é considerada uma das mais avançadas em toda a região ibero-americana. Além
de contemplar a criação de um sistema integral de prevenção, proteção e assistência,
estabelece competências e obrigações do Estado em âmbitos federal, estadual e
municipal. Ponto bastante importante é o conceito da expressão “violência de gênero”
adotado em seus vários aspectos: físico, psicológico, patrimonial, econômico,
trabalhista, institucional, sexual e de matrimônio.
Assim,oEstadodeverádestinarrecursosfinanceirosparaocombateàviolênciacontra
asmulheres. Ummarco histórico, pois, passados dezoito anos da promulgação da
ConstituiçãoCidadã,taldocumentoveioenfimregulamentaroartigo226,parágrafo
8°, que impõe ao Estado assegurar “assistência à família, na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas
relações”. Com a aprovação da lei, o Estado brasileiro deu cumprimento aos acordos
internacionais dos quais é signatário.
IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAMENTO DE MENINAS E MULHERES27
A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a
Mulher (CEDAW) é um documento internacional que enumera os direitos de todas
as meninas e de todas as mulheres. É um acordo importante sobre igualdade entre
meninas/mulheres emeninos/homens. A CEDAW afirma que qualquer forma de
discriminação contra meninas e mulheres deve ser eliminada.
ACEDAWfoiaprovadapelaONUnodia18dedezembrode1979,comoobjetivo
de eliminar a discriminação contra todas as meninas e todas as mulheres. Em 2010,
aCEDAWhaviasidoratificadapor186países,ossignatáriosselaram,assim,acordo
nosentidodefazertodoopossívelparagarantirosdireitosprevistosnaCEDAW,
inclusive incorporando-os à sua própria legislação. Assim sendo, os governos que
ratificaramaCEDAW têmodever de eliminar a discriminação contrameninas e
mulheres em seus países. O Brasil é signatário deste acordo.
ACEDAWafirmaqueosgovernosdevem fazer tudooque forpossívelparaque
meninas e mulheres sejam tratadas de maneira igualitária. Os governos devem garantir
que nada impeça que usufruam de seus direitos. De acordo com a CEDAW, os governos
devem adotar todas as ações necessárias ou especiais para garantir que o direito à
igualdade de fato esteja presente na vida de meninas e mulheres. Essa exigência está
relacionada ao conceito de “igualdade substantiva” que a CEDAW promove.
A igualdade substantiva requer ações ou medidas para assegurar igualdade de
acesso, oportunidades e resultados para meninas e mulheres. Por exemplo, tanto
meninas quanto meninos devem poder ir à escola. No entanto, frequentar a escola
nãoé suficienteparagarantir igualdadenaeducação.Meninasemeninosdevem
receber também educação de boa qualidade, devem ter oportunidades iguais de
participar nas aulas, devem ser estimulados a estudar as matérias de sua escolha e
também a assumir papéis de liderança. Além disso, meninas e meninos devem ter
oportunidades iguais de concluir sua educação, de conquistar um diploma e de ter
acesso ao mercado de trabalho.
27 FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA.” Convenção de eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres em resumo – para adolescentes”. UNICEF: Nova Iorque, 2011. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/pt/CEDAWAdolescentes.pdf
50 51
A igualdade real entre homens e mulheres, independentemente de faixa etária,
tambémfazpartedosObjetivosdeDesenvolvimentoSustentável(ODS),acordados
em 2015, por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável. As metas pactuadas entre os países participantes deverão orientar as
políticasnacionaiseasatividadesdecooperaçãointernacionalnospróximosquinze
anos,sucedendoeatualizandoosObjetivosdeDesenvolvimentodoMilênio(ODM).
TEXTO PARA DISCUSSÃO: EXISTE IGUALDADE NA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES, NO BRASIL?
As mulheres são maioria no eleitorado brasileiro desde 2008, quando chegaram a
51,7% desse universo, passando a 51,82% em 2010 e 51,9%, em 2012. Apesar disso,
ocupavam no início de 2015, 13% dos cargos eletivos. Dos 64.678 escolhidos para
exercer mandato político nas eleições de 2012 e 2014, apenas 8.499 são mulheres,
conforme levantamento da Revista Congresso em Foco com base em dados do
TSE28. Os resultados englobam tanto as eleições municipais de 2012 quanto as gerais
de 2014 e incluem, portanto, as mulheres eleitas para cargos tanto do Executivo
quanto do Legislativo nesses dois pleitos.
As mulheres quebraram recordes em número de candidaturas nas eleições de 2014,
dando um salto de 46,5% em relação a 2010. Na disputa pela Câmara, o aumento no
registrodecandidaturasfemininaschegoua88%,fazendocomqueopaíschegasse
perto,pelaprimeiraveznahistória,decumpriracotaestabelecidapelaleieleitoral
que reserva 30% das vagas a mulheres, atingindo 28,6% na eleição de 2014.
O desempenho nas urnas, entretanto, mostra que estabelecer cotas de candidatas
não basta para aumentar a representação das mulheres nos poderes Executivo e
Legislativo. Issoporqueaexplosãodecandidaturasfemininasnãoserefletiunum
número significativamentemaior de eleitas, em 2014, ficandomuito próximo do
dado registrado em 2010. Ocupam, na atual legislatura do Congresso Nacional, por
exemplo, 51 cadeiras de 513 na Câmara e 13 de 81 no Senado. Hoje, o Brasil, em
termos de representação feminina na política, fica atrás até de alguns países no
Oriente Médio como é o caso do Irã, apesar de ter elegido uma mulher presidente
em 2010 e em 2014.
Ascampanhascadavezmaiscaras,ofinanciamentoprivadoeoacessorestritoao
dinheiro do fundo partidário, distribuído de maneira desigual pelos que controlam as
máquinas dos partidos, explica, em grande parte esse desempenho. Problema que
também mantêm longe do poder outros segmentos historicamente excluídos como
negros, índios e pardos.
Em2009,areformaeleitoralintroduzidapelaLein°12.034instituiunovasdisposições
na Lei dos Partidos Políticos (Lei n° 9.096/1995) de forma a tentar corrigir essas
distorções. Entre elas, a determinação de que os recursos do Fundo Partidário
devem ser aplicados na criação e manutenção de programas de promoção e
difusão da participação política das mulheres, observado o mínimo de 5% do total
repassado ao partido. A reforma eleitoral exige ainda que a propaganda partidária
gratuita dedique às mulheres, no mínimo, 10% do tempo concedido a cada partido.
Caciques e currais
A definição dos candidatos nas eleições ocorre dentro dos partidos. Por isso, a
política partidária é determinante e nela são os chamados caciques,asfigurasmais
importantes do processo29. O termo se refere aos principais líderes de uma legenda,
homens na sua esmagadora maioria, com uma longa e consolidada trajetória política
emâmbitomunicipal,estadualounacional,commuitainfluênciadentrodeseupartido
e de sua circunscrição eleitoral, os popularmente chamados “currais eleitorais” que
podem ser do tamanho de municípios, estados ou regiões inteiras, a depender da
força do cacique em questão.
Não é raro ver uma única figura política dentro de um partido definindo
unilateralmente os candidatos até mesmo de aliados, no caso de coligações. Um
exemplodecomooapoiodeumafigurapartidáriaimportantepesanoresultado
eleitoraléClarissaGarotinho(PRB-RJ),filhadoex-governadordoRiodeJaneiro,
Anthony Garotinho, deputada federal mais votada em 2014, em todo o Brasil. Isso
demonstra que, quando devidamente apoiadas pelo seu partido, as mulheres têm
desempenho compatível ao dos homens.
“Ocurralestáfechado”,observaasenadoraLúciaVânia(PSDB-GO),paraquema
principal barreira a ser superada pelas mulheres é o próprio partido, nos quais os
28 COSTA, Sylvio e Edson Sardinha. “Mulheres ocupam apenas 13% dos cargos eletivos no Brasil”. Publicada em 30/04/2015 in: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/mulheres-so-ocupam-13-dos-cargos-eletivos-no-pais/, acesso em 23/01/2017.
29 BLUME, Bruno André. “Como são definidos os candidatos?”. In: www.politize.com.br/como-sao-definidos-os-candidatos/, acesso em 23/01/2017.
52 53
30 COSTA, Sylvio e Edson Sardinha. “Mulheres ocupam apenas 13% dos cargos eletivos no Brasil”. Publicada em 30/04/2015 in: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/mulheres-so-ocupam-13-dos-cargos-eletivos-no-pais/, acesso em 23/01/2017.31 TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. “Série inclusão: a conquista do voto feminino no Brasil”. Publicada em 18/04/2013 in: www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Abril/serie-inclusao-a-conquista-do-voto-feminino-no-brasil, acesso em 23/01/2017.
32 TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. “Série inclusão: a conquista do voto feminino no Brasil”. Publicada em 18/04/2013 in: www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Abril/serie-inclusao-a-conquista-do-voto-feminino-no-brasil, acesso em 23/01/2017.
homensdecidemquaiscandidaturasserãopriorizadasemtermosdeinvestimento
políticoefinanceiro. “Pensamquenós somosumespaçodecorativo”, acrescenta
a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), primeira mulher a comandar a prefeitura de
Salvador, em 1992. Deputadas constituintes, as duas recordam que, em meados dos
anos 80, sequer havia banheiro para as mulheres parlamentares no Congresso30.
Para a ministra do TSE Luciana Lóssio quando se compara a participação das
mulheres no mundo político e no meio Judiciário, por exemplo, onde o ingresso
costuma acontecer por meio de concurso público, fica clara a necessidade de
avanços nos poderes Legislativo e Executivo. “Hoje, na mais alta Corte Eleitoral,
temos uma maioria feminina”, compara31.
Minoria?!
DesdequeaprofessoraCelinaGuimarãesVianaconseguiuseuregistroparavotar,
em 1927, as mulheres lutaram muito para consolidarem sua participação como
eleitoras no Brasil. Celina viveu em Mossoró e aproveitou a colocação em vigor de
lei estadual que determinava que, no Rio Grande do Norte, não haveria distinção de
sexos para votar e ser votado, para obter o seu registro. A partir disso, mulheres das
Quem é o coronel?
O poder dos grandes proprietários de terra, principalmente no Nordeste, era enorme durante o Império (1822-1889). Para mantê-los “sob controle” da coroa brasileira, o governo resolveu dar-lhes poder político e militar. Seus capangas também passaram a integrar a Guarda Nacional. Nascia, assim, a figura do coronel, homem que comandava a política local e fazia valer seu poder de forma violenta. Durante as eleições, era o coronel que dizia em quem as pessoas iriam votar e ai de quem desobedecesse.
O que é curral eleitoral?
Expressão utilizada na República Velha para indicar uma região onde um político possuía grande influência. A origem da expressão vem do tempo em que o voto era aberto e os coronéis mandavam capangas para os locais de votação para intimidar os eleitores. As regiões controladas pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais, onde eles ofereciam também aos eleitores trabalho, dinheiro, e moradia em troca do voto.
cidades de Natal, Mossoró, Açari e Apodi, todas naquele estado, alistaram-se como
eleitoras a partir de 192832.
Assim, o Rio Grande do Norte foi pioneiro no reconhecimento do voto feminino. Não
poracaso,foilá,ondeseelegeuaprimeiraprefeitadopaís:AlziraSoriano,em1929,
na cidade de Lages. No restante do Brasil foi uma longa caminhada, com vitórias a
conta-gotas. Em tese, a partir da eleição para a Assembleia Nacional Constituinte,
em maio de 1933, as brasileiras puderam votar e ser votadas em âmbito nacional. Mas
os detalhes dessa história mostram que esse direito só foi efetivamente conquistado
para todas as brasileiras, muitos anos depois.
O marco inicial das discussões parlamentares sobre o voto feminino antecedeu a
Constituiçãode1824,quenãotraziaqualquerimpedimentoaoexercíciodosdireitos
políticos por mulheres, mas, por outro lado, também não era explícita quanto a essa
possibilidade. Essa dubiedade deixou as brasileiras alijadas da política até que, em
1932, foi expresso em texto legal federal (Código Eleitoral de 1932) essa possibilidade.
Emseuartigo2º,oCódigodizia:“Éeleitorocidadãomaiorde21anos,semdistinçãode
sexo” direito levado ao texto Constitucional de 1934, mas com ressalvas importantes.
A Carta Magna de então restringia o voto às mulheres que trabalhassem fora de casa
em função remunerada, muito poucas naquele tempo.
Embora a Constituição de 1946 tenha ampliado a todas as brasileiras, em seu artigo
131, o direito de votar, foi só em 1965, com a edição do Código Eleitoral atual, que
ele foi regulamentado, equiparando homens e mulheres no voto obrigatório, mas
deixando de fora os analfabetos, um grupo que englobava, na década de 80, segundo
o IBGE, 27.1% do total de brasileiras adultas, além de um contingente enorme de
negros e índios. Finalmente, em 1985, com a conquista do direito de votar (mas não
de ser votado) pelos analfabetos, a possibilidade de participação política ampla das
brasileiras foi assegurada, pelo menos como eleitoras.
Outras lutas
Na história política do Brasil, mulheres, negros, pobres e analfabetos tiveram de
enfrentar questões étnico-raciais, preconceitos de classe e de gênero, escamoteadas
pelos textos legais que não traziam vedação direta ao voto desses grupos,mas
54 55
na letra miúda barravam sua participação. Isso porque a proibição de voto aos
analfabetos acabava deixando grande parte da população de mulheres, negros,
índios e pobres, impedidos de exercerem esse direito.
Oito anos antes da instituição da República, os analfabetos perderam o direito de votar e
departicipardavidapolítica.ALeiSaraivade1881,reformaeleitoralrealizadanoimpério,
não por coincidência pouco antes da abolição da escravidão, retirou deles a possibilidade
de voto, ao estabelecer o “censo literário”, proposto por Rui Barbosa, que exigia do eleitor
saberlereescrevercorretamente.MuitoshistoriadoresfazemumaconexãoentreaLei
Saraiva e a abolição, tendo em vista que a grande massa de negros egressos do cativeiro
era de analfabetos, que estariam, assim, excluídos do processo eleitoral.
Essaideia,devincularapráticadovotoàinstruçãoformal,ficoutãoarraigadano
meio político, intelectual e na sociedade brasileira que o direito dos analfabetos de
votarem, em caráter facultativo, só foi reconquistado em 1985, com a promulgação
da Emenda Constitucional nº 25.
A polêmica em torno da eleição, em 2010, do palhaço Tiririca para o Congresso
Nacional, ilustra bem a questão. O parlamentar teve que se submeter a um teste
para comprovar que sabia ler e escrever para conseguir assumir o mandato
conquistado com expressiva votação nas urnas. Pelo Censo de 2010, do IBGE, a taxa
de analfabetismo na população de 15 anos ou mais no Brasil caiu de 13,63% para 9,6%
entre 2000 e 2010, sendo a maior proporção de pessoas analfabetas residentes em
cidades com até 50 mil habitantes, da região Nordeste.
ÍNDIOS
Segundo o IBGE, no censo de 2010, 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas,
representando 0,4% da população. Como o voto no Brasil é obrigatório, os índios
commaisde16anosalfabetizadosnaLínguaPortuguesapodemvotar.Noentanto,os
índios, se viverem na aldeia e, segundo seus usos e tradições, o povo, coletivamente,
decidir não votar, esta decisão prevalece sobre a obrigatoriedade da lei brasileira. O
índio também pode ser candidato, desde que tenha mais de 21 anos, conhecimento da
Língua Portuguesa, habilitação para o exercício de alguma atividade e compreensão
dos usos e costumes nacionais.
No caso dos índios e de outros grupos, o efetivo exercício do direito ao voto, garantido
em lei, depende em grande parte do trabalho do Estado para dar condições de acesso
adequadas desses cidadãos às urnas em dias de eleição. É o caso das pessoas com
deficiênciae tambémdosadolescenteseadultosprivadosde liberdade.Todos têm
direitospolíticosassegurados,comexceçãodospresoscomcondenaçãodefinitivaque
não podem votar, mas exigem esforço por parte da Justiça Eleitoral para que possam de
fatoiràsurnas,porrazõescompletamentediversas.Nosúltimosanos,váriosprogramas
têm sido desenvolvidos para assegurar a esses grupos participação nas eleições.
Você sabia?
Votar e ser votado são direitos fundamentais da pessoa humana. Em 1948, a
Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos
Direitos Humanosemquerelacionagarantiasquevalemparatodos,enela,afirma,
em seus artigos 20 e 21, que toda pessoa têm direito de opinião e de liberdade para
seassociarcomfinspolíticos,podendoparticipardogovernocomodireitodevotar
e de ser votado.
Conceitos destacados no texto para discussão, na ordem em que aparecem:
• Caciques eleitorais
• Currais eleitorais
•Votofeminino
•Votoanalfabeto
•Votodeficientes
• Direitos fundamentais
QUESTÕES PARA DEBATE:
Sugerimos alguns aspectos para reflexão que podem facilitar a identificação dos
argumentos a serem trabalhados com os alunos. Essas questões servem de ponte entre
odebateeosconteúdosprogramáticos,assimcomoajudamosalunosaidentificareme
problematizaremosargumentos,conformeoexercíciogeralsugeridoaofinaldesteGuia.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico I: Compreender o papel dos partidos
políticos na escolha dos candidatos a cargos eletivos e na promoção da participação política
de segmentos historicamente excluídos (mulheres, negros, índios, LGBTT, entre outros).
De alguma maneira o tema 3, aprofunda o tema 2, mostrando uma questão crucial
que é a participação política, diretamente dependente do funcionamento interno dos
56 57
partidos. Pode ser interessante ampliar o olhar dos alunos sobre a participação de
outrossegmentos,alémdasmulheres,dentrodospartidospolíticos,refletindosobre
comoosjovenspodeminfluenciareatuarnessesespaçosquedeterminam,emgrande
parte, quem serão os candidatos nos quais os partidos irão efetivamente investir.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Quais os espaços de participação disponíveis hoje para os jovens dentro dos
principais partidos políticos?
2. Qual a importância desses espaços jovens no conjunto da estrutura partidária,
sobretudo no que se referem ao desenho do programa do partido, suas
bandeiras e metas para a juventude?
3. E os jovens estão bem representados na política? Quais as razões que explicam
essa situação?
4. Quando se compara o espaço de participação dada aos jovens nos partidos
com os de outros segmentos organizados como mulheres, negros, GLBTT, entre
outros, existe alguma diferença entre eles em termos de importância, número de
participantes, influência geral nas decisões partidárias?
Referências sugeridas:
GROSSI, M.P; MIGUEL, S.M. “Transformando a diferença: mulheres na política”. In: Revista de Estudos Feministas, volume 9, número 1, Florianópolis (2001), disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2001000100010,acessoem30/01/2017.
OBSERVATÓRIOJOVEM.“Formaseconteúdosdaparticipaçãodejovensnavidapública”.In:Revista Proposta – Fase. Juventude: a arte do poder, ano 32, jan/mar (2008), número 115, páginas 66-71, disponível em: www.uff.br/observatoriojovem/materia/formas-e-conte%C3%BAdos-da-participa%C3%A7%C3%A3o-de-jovens-na-vida-p%C3%BAblica, acesso em 30/01/2017.
Aspectos referentes ao objetivo pedagógico II e III: Desenvolver um entendimento
geral sobre a história da inclusão das mulheres e de outras minorias no processo
político brasileiro (II). Apresentar ao jovem os mecanismos internos aos partidos que
determinam a escolha dos candidatos e a participação política nas eleições (III).
A história do voto no Brasil explica em grande parte a representação política e o
fato de segmentos significativos do ponto de vista populacional estarem sub-
representados nos espaços políticos. É importante chamar a atenção para esse
aspecto que permeia o entendimento da conquista do direito à participação plena
na democracia, inclusive do voto jovem.
Para facilitar o trabalho em sala de aula, formulamos algumas perguntas que
exemplificamosdebatesquepodemsurgirapartirdaleituradotextoparadiscussão.
Logo abaixo das questões, elencamos algumas referências que ajudam a responder
e aprofundar os principais pontos levantados neste objetivo pedagógico.
1. Quais as principais características da história do voto no Brasil? O que
caracteriza o processo de expansão e luta por esse direito fundamental?
2. Como os diferentes grupos tem usado o voto como estratégia para mobilização
e conquista de direitos no Brasil?
3. Qual a importância dos jovens de 16 a 18 anos poderem votar no Brasil, desde a
Constituição de 1988? Como esse direito tem sido convertido em melhorias na
vida dessa população?
Referências sugeridas:
ACERVOOGLOBO. “NaConstituintede88, jovensde 16 anos conquistamdireitode votarno Brasil”, publicado em 20/06/2014, disponível em http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/na-constituinte-de-88-jovens-de-16-anos-conquistam-direito-de-votar-no-brasil-12938949#ixzz4XGxuiZob,acessoem30/01/2017.
CASTRO, LúciaRabello. “Participaçãopolítica e juventude: domal-estar à responsabilizaçãofrente ao destino comum”. In: Revista de Sociologia e Política, volume 16, número 30, Curitiba, Junho (2008), disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782008000100015, acesso em 30/01/2017.
CHAIA,Vera.“Alongaconquistadovotonahistóriapolíticabrasileira”,disponívelem:http://www.pucsp.br/fundasp/textos/downloads/O_voto_no_Brasil.pdf,acessoem30/01/2017.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR:
O professor pode dividir a turma em grupos com equilíbrio o mais diverso possível
de gênero, etnia, preferência religiosa e etc. Cada grupo será um partido político,
com a missão de elaborar uma proposta para aumentar efetivamente a participação
58 59
de mulheres, negros, LGBTT, jovens, entre outros grupos, no partido e nas eleições.
Caso desejem podem pesquisar na internet experiências concretas de participação
para servirem de inspiração para o exercício. Devem ainda endereçar as questões
levantadas no texto para discussão sobre os principais entraves existentes para a
participação desses grupos nos partidos.
LEITURA COMPLEMENTAR: COMO SÃO ESCOLHIDOS OS
CANDIDATOS?
Quando os caciques políticos ou líderes partidários não chegam a um consenso sobre
quem deve ser o candidato porque há mais de um nome forte querendo disputar
a eleição majoritária (prefeito, presidente ou governador), na qual há apenas uma
vagaporpartidooucoligação,algumaslegendasfazemconsultasinternas,abertas
paratodos(ouquasetodos)osfiliados.Essasconsultassãochamadasdeprévias
epodemserrealizadasmesesantesdaseleiçõesacontecerem.
Prévias: Disputa entre pré-candidatos
Conforme decisão do TSE em 2009, as prévias não determinam nada do ponto
de vista legal. Tecnicamente, o vencedor de uma prévia continua a ser pré-
candidato até as convenções partidárias. O partido pode até mesmo escolher
outro candidato na convenção – às vezes isso pode ser necessário, como no
casodeopré-candidatoserconsideradofichasuja,porexemplo.Apósolongo
período de pré-candidatura, que perdura por meses, os partidos se reúnem
em convenções.
Convenções partidárias: para que servem?
Sãoespaçosemqueospartidosdefinemoficialmenteseuscandidatos.Também
é ali que se decide quais serão as coligações com outros partidos. Todos devem
realizar essas convenções e enviar as atas à Justiça Eleitoral. Teoricamente, a
convençãoéomomentoemqueospartidosdeliberamedefinemseuscandidatos.
Masnaprática,amaioriadospartidosdefineosnomesmuitoantes,sejapormeio
das prévias, seja por decisão tomada nos bastidores.
Paraqueserve,então,umaconvenção?Suafunçãoprincipal,dedefinironomede
candidatos,torna-seumameraformalidade,jáqueosnomesforamdefinidosem
acordo prévio. Resta, então, aproveitar o momento para apresentar os candidatos
do partido aos militantes e criar uma sinergia positiva para as campanhas, que
começam logo em seguida.
Exemplos práticos
Conheçaosprocessosdostrêsmaiorespartidosbrasileiros,utilizadosparaaescolha
de candidatos em eleições majoritárias (prefeito, governador e presidente):
PT
Como escolhe os candidatos: no caso de haver mais de um pré-candidato
para concorrer, o partido realiza uma votação prévia (artigo 147 do estatuto do
partido).Podemvotarosfiliadoshápelomenosumano,desdequeestejamcom
suas contribuições financeiras emdia.Conheça a íntegradoEstatutodoPartido
em: www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/03/ESTATUTO-PT-2012-VERSAO-
FINAL-alterada-outubro-de-2015-2016mar22.pdf, acesso em 18/03/2017.
PSDB
Como escolhe candidatos:realizapréviasquandohámaisdeumpré-candidatona
disputa (artigo 151 do Estatuto do partido). Conheça a íntegra do Estatuto do Partido
em: www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-estatuto-psdb-de-9-12-2015-deferido-
em-29-3-2016, acesso em 18/03/2017.
PMDB
Como escolhe o candidato a prefeito: o estatuto do partido determina que prévias
podem ser convocadas pela maioria dos membros de um diretório, e o processo será
disciplinado por resolução do Conselho Nacional do partido.
Fonte: Site “Politize”, In:www.politize.com.br/como-sao-definidos-os-candidatos/, acesso em23/01/2017.
60 61
2. SUGESTÃO DE USO DO GUIA DO PROFESSOR
COMPETÊNCIAS A SEREM CONSTRUÍDAS EM CONJUNTO
COM OS ALUNOS
Com o apoio deste Guia, e a partir da abordagem dos temas de democracia e
de cidadania política em sala de aula, espera-se estimular os estudantes a serem
capazesde:
• reconhecer seus direitos e responsabilidades como cidadãos e cidadãs brasileiros
politicamente conscientes;
•conhecerosinstrumentosqueviabilizamaparticipaçãonavidapolíticaeeleitoral;
•identificaroexercíciodapolíticacomoinstrumentovitalparaofortalecimentoda
cidadania e da democracia;
• reconhecer-se como participante ativo do processo eleitoral e político e como
sujeito autônomo de direitos e responsabilidades.
ESTRUTURA DO GUIA
O Guia buscou associar, na sua estrutura, três referências principais – um tema
abrangente de interesse dos jovens, ligado à sua realidade, o conteúdo programático
do Ensino Médio das disciplinas de Ciências Humanas, e o conteúdo geral do projeto
de Educação para a Cidadania, ao qual está vinculado.
A primeira referência cumpre o papel de estabelecer um diálogo direto com
os estudantes por meio de temas nos quais possuem interesse e conhecimento,
buscando construir a partir da bagagem dos próprios alunos, um processo
de aprendizagem horizontal e de diálogo, tendo o professor como facilitador.
A segunda, objetiva ancorar o tema transversal da cidadania no bojo dos conteúdos
programáticos, fortalecendo e estreitando a ligação entre esse tema e as diversas
disciplinas e permitindo aproveitar o Guia de diversas formas de acordo com o projeto
pedagógico de cada escola. A terceira consiste na indicação do referencial teórico
do projeto, voltado a aproximar os jovens eleitores e eleitoras do processo político,
e a garantir, por meio de ações educativas e em bases apartidárias, a formação de
pessoas conscientes e o exercício pleno dos direitos políticos.
TEMAS GERAIS DO “PROJETO EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
NO ENSINO MÉDIO”
O Projeto abrange conteúdos relacionados a três tópicos: i) Cidadania, Democracia
e Política no Estado Democrático de Direito (no contexto da Constituição de 1988);
ii) Processo Eleitoral no Brasil; e iii) Responsabilidade Política e Prestação de Contas
(Accountability). Conheça, abaixo, os conteúdos relacionados a cada um deles, que
serão trabalhados em diferentes materiais ao longo do projeto:
Tópico i: Cidadania, democracia e política no Estado Democrático de Direito (na
Constituição de 1988).
• A adolescência como fase de oportunidade para o desenvolvimento
integral do sujeito e da sociedade brasileira;
• Direitos e responsabilidades dos cidadãos (com ênfase no Estatuto
da Criança e do Adolescente, Estatuto da Juventude, Convenções
InternacionaisratificadaspeloBrasil,LeideDiretrizeseBasesdaEducação
e outros marcos legais);
• O exercício da política por meio do voto e para além do voto;
• Igualdade, diferença, pluralismo político e a participação na política (as
questões políticas associadas a gênero, grupos étnico-raciais, religiosos, etc.);
•Soberaniaeademocracianomundoglobalizado;
•Exercíciodacidadaniaeresoluçãodeconflitos:oacessoasistemasde
Justiça;
• A liberdade de expressão e o papel da mídia na democracia.
Tópico ii: O processo eleitoral no Brasil.
• Os sistemas eleitorais e o exercício do voto (voto obrigatório e voto consciente);
• A Justiça Eleitoral e as eleições;
• A função dos partidos políticos.
62 63
Tópico iii: Responsabilidade Política e prestação de contas (Accountability
Político).
• O mandato político (a relação de representação política);
• O problema da corrupção na política e na sociedade;
•Participação popular na definição e no controle de políticas públicas: o
controle social (experiências de controle social: Observatório Social, Portais
de Transparência);
• A função do Poder Judiciário no fortalecimento da cidadania.
OGuiaquesegue,apresentaoconteúdoespecíficoparatrabalhoemsaladeaula,de
três temas, escolhidos por se tratarem de grandes questões de fundo que permeiam
todos os tópicos do projeto elencados acima. São eles:
TEMA 1: A liberdade de expressão e o papel da mídia na democracia.
TEMA 2: A função dos partidos políticos.
TEMA 3: Igualdade, diferença, pluralismo político e participação: o exemplo das
mulheres.
3. PROPOSTA DE TRABALHO
DESAFIOS PARA ATUAÇÃO EM TEMAS TRANSVERSAIS
1) Um dos objetivos principais das Ciências Humanas no Ensino Médio é ajudar os
adolescentes a desenvolverem uma leitura crítica do mundo que os cerca, tendo em
vista a multiplicidade semiótica dos textos pelos quais se informam e comunicam
(conteúdos impressos, digitais, redes sociais e muitos outros).
2) Como trabalhar o tema transversal da cidadania, tendo em vista o baixo letramento
do corpo discente e o tempo já escasso em sala de aula?
Diantedosdesafios colocados, foi desenvolvida umapropostade trabalho como
objetivo de tornar as atividades relacionadas com a cidadania uma ferramenta útil
para o ensino e a fixação do conteúdo obrigatório nas disciplinas de Ciências
Humanas, sem prejuízo de poder ser utilizada também por professores de outras
áreas do conhecimento.
Assim, o Guia propõe atividades simples de leitura e debate voltados para despertar
nos alunos a capacidade de identificar ARGUMENTOS em textos impressos,
em vídeos, programas de televisão, nas redes sociais e outros tipos de material
em qualquer mídia. O coração da proposta está no exercício constante de uma
leituracrítica,queidentifiqueeproblematizeosargumentos,fazendoumarelação
direta com os conteúdos das disciplinas, trabalhando também o letramento dos
estudantes. Além disso, pretendem despertar a curiosidade nos alunos sobre temas
associados à política, levando-os a buscar por conta própria conteúdos associados.
Para tanto, sugere-se usar conceitos concretos e simples extraídos do dicionário
Aurélio de língua portuguesa, sobre FATO, OPINIÃO e ARGUMENTO, base dos
exercícios propostos.
FATO: coisa ou ação feita. Aquilo que realmente existe, que é real.
OPINIÃO: parecer,juízosobrealguémoualgumacoisa.Mododeveroupensar.
ARGUMENTO: afirmaçãoqueservedebaseaumjuízooudejustificativadeuma
ação. Raciocínio pelo qual se tira uma consequência ou dedução.
64 65
BLOCOS TEMÁTICOS
Cadablocotrazumtexto conceitual, voltado para apoiar a preparação do professor
para a aplicação dos exercícios propostos. Nele, estão relacionados conceitos gerais
ligados a temas pertinentes dos debates políticos da atualidade, sobre os quais os
jovensescutam,discutemeseinformampordiversosmeios.Aofinal,sãodestacados
os conceitos apresentados na ordem em que aparecem.
Em seguida, há um texto para discussãooriginalproduzidoparaesteGuiaapartir
de uma série de referências (todas elas elencadas). A princípio, esse documento se
destina a ser a base para o exercício com os alunos, como ponto de partida para as
dinâmicasdeaprendizagempropostas.Nele,estãoembutidos,osconceitosdotexto
anterior, destinado ao professor, mas apresentados de forma mais argumentativa e
provocativa, na linha dos materiais aos quais os jovens são expostos no seu dia-a-dia. O
objetivo é justamente simular em sala de aula, uma situação o mais próxima possível
da realidade cotidiana, onde os alunos se deparam com esse tipo de mensagem.
Em conjunto, o texto conceitual e o de discussão, ancoram as atividades de forma a
evitar que o professor precise expor sua posição pessoal sobre os temas, bem como
ajudaamediareventuaisconflitosquepossamsurgirentreosalunosemmeioàs
dinâmicas. Dessa forma, o Guia afasta-se completamente da ideia de doutrinação
de qualquer tipo, concentrando-se nas competências essenciais para a vida em
sociedades democráticas.
A função desses dois textos lidos em conjunto é central e, portanto, foram buscadas
referênciasquetrazemasmaisdiferentesvisões, incorporandoinclusivemateriais
defontesacessadasouproduzidasmajoritariamenteporjovens.Dessaforma,foram
reunidosargumentosdosmaisdiversosmatizesideológicos,destacando que o que
realmente se está buscando do ponto de vista da formação é saber identificar
o argumento, analisa-lo criticamente, questionar os seus próprios conceitos
(subjetividade) e, depois, desenvolver, de forma consciente e autônoma, um
posicionamento próprio.
Em seguida, aparecem algumas sugestões de questões para debate suscitadas pela
leitura dos textos. Agregadas a cada uma delas, constam referências de leitura que
trazemmaioraprofundamentosobreasbaseslegaisparaostemastratados,artigos
e materiais acadêmicos, bem como outras fontes acessadas pelos jovens como
vídeos,canaisdoYoutube,sites,páginasdoFacebook,documentários,músicas,entre
outras possibilidades. O objetivo destas referências é instrumentalizar um pouco
mais o professor na sua preparação para a aplicação das atividades, facilitando o
estabelecimento de ligações entre os textos do Guia e os conteúdos programáticos.
Cadablocotrazainda,deacordocomaespecificidadedotema,umasugestãode
atividade complementar, que pode ou não ser desenvolvida, a critério do professor.
Dessa forma, buscamos oferecer mais de uma sugestão ao docente sobre como
utilizaromaterialapresentado.
Porfim,relacionamosumaleitura complementar. Trata-se de material pensado para
ser compartilhado com os alunos, de acordo com a avaliação do professor, com
o objetivo de provocar maior interesse e levar a um aprofundamento individual, a
posteriori e no seu próprio tempo, sobre os temas debatidos.
QUADRO RESUMO DA ESTRUTURA DO GUIA
Seção ObjetivoA quem se
destina
Texto conceitualapoiar a preparação do professor para a aplicação dos exercícios
do GuiaProfessor
Texto para discussão
base para o exercício com os alunos, como ponto de
partida para as dinâmicas de aprendizagem
Estudantes
Questões para debate
instrumentalizar o professor na preparação e aplicação das
atividades do GuiaProfessor
Atividade complementar
oferecer uma sugestão alternativa de dinâmica para
utilização do material do GuiaProfessor
Leitura complementar
provocar maior interesse e curiosidade em professores
e alunos, levando a um aprofundamento individual,
posterior, nos temas relacionados com a formação política
Estudantes e professores
66 67
DINÂMICA PROPOSTA
TodososblocosdoGuiaservemparaaaplicaçãodoexercícioabaixo,semprejuízo
deutilizaçãodomaterialdeoutrasformas,acritériodoprofessor.Segueumpequeno
roteiro para a integração dos conteúdos à rotina da sala de aula:
1) Leitura do texto para discussão de acordo com preferência/orientação do
professor (individualmente ou em grupo). Caso o professor opte pelo trabalho em
grupo,sugere-seadivisãobalanceadadadiversidadedaturma,afimdequecada
grupo tenha representantes variados em termos de gênero, religião, pessoa com
deficiência,raça,etc.;
2)Cadagrupooucadaalunotemumtempoparaidentificarnotextoparadiscussão
os principais FATOS, OPINIÕES e ARGUMENTOS apresentados;
3) Em seguida, cada grupo ou aluno apresenta de forma rápida, os FATOS, OPINIÕES
e ARGUMENTOS, encontrados;
4)A partir dessas informações, o professor pode fixar o conceito de FATOS
e OPINIÕES, de forma mais geral, e escolher aqueles ARGUMENTOS mais
diretamente relacionados ao conteúdoespecíficoqueestá trabalhandocoma
turmaparafazerasuaproblematização,usandoasinformaçõeseconceitosdo
conteúdoprogramáticopararealizaressatarefa.O texto conceitual, produzido
inicialmente para leitura do professor, serve para apoiar essa parte da dinâmica,
trazendo conceitos e pontos relevantes para a discussão, relacionados na sua
maioria com o conteúdo programático do 3º ano. Caso deseje, o professor pode
também compartilhar com a turma o texto conceitual deste Guia, depois de
realizaroexercícioproposto.
5) Numa segunda rodada de atividades com o mesmo texto para discussão, os
alunos podem:
a. Individualmente, redigir um texto curto (sugere-se entre 15 e 30 linhas) no
qualtratariamdeFATOSespecíficos,identificadospelogruponoitem4,a
partir dos quais irão construir uma análise na qual elaboram ARGUMENTOS
próprios, nos quais assumirão uma posição diante do fato escolhido, de
forma crítica e consciente, tendo emvista asdiscussões realizadas e os
conteúdos das disciplinas.
b.Produzirumvídeocurtocomusodecâmerasdecelular,noqualrealizariam
a mesma atividade do item anterior em outro formato.
c.Fazer uma breve apresentação ao final para toda a turma. Nesse caso,
sugere-se dar um tempo para discussão entre os integrantes do grupo
sobre o posicionamento que irão assumir, visto que podem surgir visões
diferenteseatémesmoconflitantesentreosseusintegrantes.Avantagem
desse modelo é ensinar também o exercício do diálogo coletivo e respeitoso.
ORIENTAÇÕES GERAIS
Todo o material deste Guia está ligado ao Eixo Transversal da ÉTICA dos Parâmetros
CurricularesNacionais.Eporissotemumareflexãoéticacomoeixonorteador,por
envolver posicionamentos e concepções a respeito de suas causas e efeitos, de sua
dimensão histórica e política.
Areflexãoéticatrazàluzadiscussãosobrealiberdadedeescolha,interrogasobre
a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume.
Abrange tanto a crítica das relações entre os grupos, nas instituições e perante elas,
quanto a dimensão das ações pessoais. Trata-se, portanto de discutir o sentido ético
da convivência humana com foco, no caso deste Guia, na política.
É fundamental que o professor chame a atenção dos alunos, durante todo o
exercício,paraaidentificaçãodosARGUMENTOSapresentados,equestioneatéque
ponto tratam-se realmente de ARGUMENTOS e não de OPINIÕES. Em alguns casos,
podeserinteressanteaprofundaroexercício,criticandoasolidezdasafirmaçõese
raciocíniosquedãobaseaargumentosespecíficos,acritériodoprofessor.
Exemplo: numa sala de aula onde o machismo, preconceitos religiosos, étnicos ou
de orientação sexual, entre outros, sejam percebidos como uma questão importante
ou sensível por parte do professor pode valer a pena dedicar mais tempo ao
questionamento dos ARGUMENTOS apresentados pelos alunos que reforcem visões
demundopreconceituosas.Levandoassimosalunosasequestionaremerefletirem
sobre os seus próprios preconceitos (ou pré-conceitos).
Lembrando que o objetivo principal do ponto de vista da formação proposta é que
os alunos passem a ler um texto (escrito ou não), ou ouvir um discurso qualquer de
formacrítica,identificandoquaisasinformaçõescolocadaspertencemaogrupodas
68 69
OPINIÕES e quais são, de fato, ARGUMENTOS. Para em seguida, analisar a validade
ou não dos mesmos argumentos. Essa é a competência essencial que este Guia
pretende ajudar o professor a construir junto com os estudantes, como condição
fundamental para o diálogo e a promoção de valores éticos e democráticos.
ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO E CARGA HORÁRIA
TendoemvistaaorganizaçãodocurrículodoEnsinoMédio,deacordocomaLeide
DiretrizeseBasesdaEducação(LDB),emumapartediversificadaeoutracomum,
desde que cumprida a carga horária anual de 800 horas mínimas em 200 dias letivos,
existem diversas possibilidades de aplicação deste Guia.
Pela natureza transversal do seu conteúdo, ele tanto pode servir para embasar
atividades da carga horária destinada à parte comum do currículo quanto da parte
diversificada.Cadaescola temumprojetopedagógicopróprio, alinhadoàmatriz
curricular do estado, portanto, o guia foi concebido para se ajustar a diversas
situações, sem necessariamente requerer umamudança na organização atual da
escola ou mesmo no planejamento das disciplinas. Algumas possibilidades de
aplicaçãoestãoelencadasabaixo, semprejuízodeexistiremoutrasconcebidasa
partir da realidade de aplicação local:
•Por iniciativa do professor, pode ser utilizado para cumprir o planejamento da
disciplina, de acordo com os conteúdos previstos na base curricular comum. Nesse
caso, o tempo destinado às atividades será ajustado pelo próprio docente em seu
planodeaula,tendooGuiaafunçãoprincipaldediversificarasrotinaspedagógicas
previstas.
• Por iniciativa de um ou mais professores, em articulação com a direção da escola,
pode ocupar um pedaço da carga horária da parte diversificada do currículo,
determinando o tempo a ser investido nas atividades propostas e a forma como
seráapresentadoaosalunos.Nessesentido,podeagregaraotrabalhojárealizado
no que se refere a conteúdos relacionados ao eixo transversal da ÉTICA ou mesmo
permitir a sua inclusão, ou ampliação de carga horária, a partir deste material.
•Umaterceiraopçãoéserutilizadocomoeixodeprojeto,conformeprevistonos
ParâmetrosCurricularesNacionais,queintegrediferentesmodosdeorganização
curricular, a partir da iniciativa da direção da escola ou de um conjunto de professores
de determinada área de concentração, como Ciências Humanas, por exemplo.
Nesse caso, pode ser utilizado, emmomentos específicos do desenvolvimento
curricular de modo a envolver mais de um professor e uma turma, e articular o
trabalho de várias áreas tendo como norte o projeto pedagógico.
SITES DE REFERÊNCIA
No trabalho de elaboração do presente Guia foi pesquisada uma série de referências
na Internet com conteúdo relacionado à formação cidadã. Destacamos abaixo
alguns sites voltados para o público de adolescentes e jovens, que podem ser úteis
no trabalho dos professores no tema transversal da Ética e Pluralidade Cultural.
COMUNICA QUE MUDA
http://www.comunicaquemuda.com.br/
POLITIZE
http://www.politize.com.br/
PORVIR – Inovação e Educação
http://porvir.org/
Porfim,ressaltamosqueéousodoGuiaemsituaçõesreaisdesaladeaulaeasua
qualificaçãopermanente,pormeiodoenviodesugestõesdemelhoriaedecríticas
de professores e alunos, que irá tornar essa ferramenta um verdadeiro instrumento
de formação cidadã.
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