guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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ESTADO DE SANTA CATARINA SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA TREINAMENTO DE TÉCNICOS DE LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA Santa Catarina Atualizado - 2015

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ESTADO DE SANTA CATARINASISTEMA ÚNICO DE SAÚDESECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEDIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAGERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA

GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA TREINAMENTO DE TÉCNICOS DE LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA

Santa CatarinaAtualizado - 2015

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................... 4

1 ENTOMOLOGIA .................................................................................... 51.1 Conceito ..............................................................................................51.2 Entomologia em Saúde Pública ..........................................................61.2.1 Objetivos ..........................................................................................6

2 AGRAVOS E VETORES ........................................................................ 72.1 Dengue ................................................................................................72.1.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no mundo ..... 82.2 Febre Amarela .................................................................................... 82.2.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo ..... 82.3 Malária ................................................................................................. 92.3.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no mundo ..... 92.4 Doença de Chagas ............................................................................ 102.4.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no Continente Americano ............................................................................. 112.5 Leishmaniose Tegumentar Americana .............................................. 112.5.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo ... 122.6 Leishmaniose Visceral Americana .....................................................132.6.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo ... 13

3 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS VETORES ...........................143.1 Artrópodes .........................................................................................143.1.2 Triatomíneos .................................................................................. 143.1.3 Família Culicidae ............................................................................ 163.1.3.1 Subfamília Toxorhynchitinae .......................................................173.1.3.2 Subfamília Anophelinae ...............................................................183.1.3.2.1 Gênero Anopheles ....................................................................183.1.3.2.1.1 Subgênero Nyssorhynchus ....................................................193.1.3.2.1.2 Subgênero Kerteszia .............................................................193.1.3.3 Subfamília Culicinae .................................................................... 193.1.4 Família Psychodidade ....................................................................203.1.4.1 Subfamília Phlebotominae ...........................................................20

4 NOÇÕES SOBRE AEDES AEGYPTI E AEDES ALBOPICTUS .........224.1 Aedes aegypti ....................................................................................224.1.1 Origem ............................................................................................224.1.2 Distribuição Geográfica .................................................................. 224.1.3 Desenvolvimento ............................................................................ 224.1.3.1 Ovo ..............................................................................................234.1.3.2 Larva ...........................................................................................234.1.3.3 Pupa ............................................................................................234.1.3.4 Adulto ..........................................................................................244.2 Aedes albopictus ...............................................................................254.2.1 Origem ............................................................................................254.2.2 Distribuição Geográfica .................................................................. 254.2.3 Desenvolvimento ............................................................................ 26

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4.2.3.1 Ovo ..............................................................................................264.2.3.2 Larva ...........................................................................................264.2.3.3 Pupa ............................................................................................264.2.3.4 Adulto ..........................................................................................27

5 MORFOLOGIA DE AEDES AEGYPTI E AEDES ALBOPICTUS ........285.1 Aedes aegypti ....................................................................................285.1.1 Ovo ................................................................................................. 285.1.2 Larva ..............................................................................................285.1.2.1 Cabeça ........................................................................................285.1.2.2 Tórax ...........................................................................................285.1.2.3 Abdômen .....................................................................................285.1.3 Pupa ...............................................................................................285.1.3.1 Cefalotórax .................................................................................. 285.1.3.2 Abdômen .....................................................................................285.1.4 Adulto .............................................................................................285.1.4.1 Tórax ...........................................................................................285.1.4.2 Abdômen .....................................................................................295.2 Aedes albopictus ...............................................................................355.2.1 Ovo ................................................................................................. 355.2.2 Larva ..............................................................................................355.2.2.1 Cabeça ........................................................................................355.2.2.2 Tórax ...........................................................................................355.2.2.3 Abdômen .....................................................................................355.2.3 Pupa ...............................................................................................355.2.3.1 Cefalotórax .................................................................................. 355.2.3.2 Abdômen .....................................................................................355.2.4 Adulto .............................................................................................355.2.4.1 Tórax ...........................................................................................355.2.4.2 Abdômen .....................................................................................36

6 LABORATÓRIOS ................................................................................ 426.1 Organização dos laboratórios de entomologia no estado .................. 426.2 Atividades desenvolvidas nos laboratórios de entomologia .............. 446.3 Normas de biossegurança para laboratórios de entomologia ........... 466.3.1 Práticas padrões ............................................................................. 466.3.2 Práticas especiais ........................................................................... 476.3.3 Equipamentos de segurança ..........................................................476.3.4 Instalações laboratoriais ................................................................. 47

7 MICROSCOPIA .................................................................................... 497.1 Instruções para uso e limpeza de microscópios ................................497.1.1 Componentes ópticos e mecânicos do microscópio .......................497.1.2 Técnicas de utilização do microscópio ........................................... 517.1.3 Cuidados com o microscópio .........................................................517.1.3.1 Limpeza .......................................................................................517.1.3.2 Armazenamento .......................................................................... 527.1.3.3 Transporte ................................................................................... 527.2 Orientações para montagens e identificação de larvas e pupas ....... 527.3 Instruções para montagem de adultos .............................................. 53

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8 BOLETINS ...........................................................................................548.1 Boletim de foco .................................................................................. 548.1.1 Instruções para preenchimento dos boletins de foco .....................548.2 Boletim semanal ................................................................................ 568.2.1 Instruções para preenchimento dos boletins semanais .................. 568.3 FAD ................................................................................................... 588.3.1 Instruções para preenchimento dos boletins FAD ..........................628.3.1.1 Boletim Diário (FAD 1) ................................................................. 628.3.1.2 Boletim de Armadilha (FAD 3) .....................................................638.3.1.3 Etiqueta de remessa de espécimes (FAD 2) ...............................638.4 Fluxograma para encaminhamento dos boletins ...............................648.4.1 Boletim de foco ............................................................................... 648.4.2 Boletim semanal ............................................................................. 648.4.3 FAD ................................................................................................658.4.3.1 Boletim diário ............................................................................... 658.4.3.2 Boletim de armadilha ................................................................... 65

9 CONTROLE DE QUALIDADE .............................................................669.1 Procedimentos para controle de qualidade no laboratório de entomologia .............................................................................................669.2 Instruções para preenchimento do boletim de remessa de larvas para revisão .............................................................................................69

10 SUGESTÕES .....................................................................................7010.1 Sugestões de sites para pesquisa bibliográfica............................... 7010.2 Sugestões de bibliografias ..............................................................70

11 GLOSSÁRIO ......................................................................................71

12 REFERÊNCIAS .................................................................................. 73

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APRESENTAÇÃO

Este guia destina-se àqueles que exercem suas atividades em laboratórios de entomologia das Secretarias Municipais de Saúde ou Gerências Regionais de Saúde de Santa Catarina.

Foi idealizado para ser um instrumento auxiliar aos profissionais que atuam nos laboratórios, na rotina de identificação de larvas e alados de mosquitos (Culicídeos), com ênfase nas espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, no Programa de Controle da Dengue no Estado.

O mesmo tem por objetivos apresentar o conceito básico de entomologia, bem como sua importância em saúde pública e direcionar as práticas de laboratório de entomologia.

Em abril de 2008, foi realizada em Florianópolis reunião com técnicos da Gerência de Vigilância de Zoonoses e Entomologia da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da SES/SC e dos Laboratórios Regionais de Entomologia, abaixo relacionados, com o objetivo de elaborar este guia.

O presente instrumento representa o esforço coletivo dessa equipe, visando oportunizar aos profissionais que atuam nos laboratórios um acesso mais adequado às informações técnicas.

Participantes:

Nome Função Lotação

João Cezar do NascimentoBiólogo Entomologista Responsável pelo Setor de Suporte Laboratorial

Gerência de Vig. de Zoonoses e Entomologia / [email protected]

João Goulart Técnico de laboratórioGerência de Vig. de Zoonoses e Entomologia / DIVE

Juliana Chedid Nogared RossiBiólogaConsultora técnica

Gerência de Vig. de Zoonoses e Entomologia / DIVE

Maria da Graça Teixeira PortesBiólogaTécnica de laboratório

Gerência de Saúde de Joinville

Mathiê Alves RossiniBiólogaTécnica de laboratório

Gerência de Saúde de Tubarão

Patrícia Aline Ferri VivianBiólogaConsultora técnica

Gerência de Saúde de Chapecó

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1 ENTOMOLOGIA

1.1 Conceito

Entomologia é a ciência que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o ambiente.

De modo esquemático, podemos dividir a Entomologia em Aplicada,Industrial e Científica:

Entomologia Aplicada - se ocupa do estudo dos insetos que possam atingir diretamente o homem ou as suas propriedades e compreende:

Entomologia Médica - estuda e procura mecanismos de controle para os insetos transmissores de doenças ao homem;

Entomologia Veterinária - estuda e procura mecanismos de controle para os insetos transmissores de doenças aos animais;

Entomologia Agrícola - estuda e procura mecanismos de controle para os insetos causadores de danos à agricultura.

Entomologia Industrial - se ocupa do estudo da produção, exploração e comercialização de produtos úteis fornecidos pelos insetos, como a seda, o mel, a cera, a laca e o carmim.

Entomologia Científica - se ocupa da pesquisa pura e compreende:Morfologia - estuda a estrutura do corpo dos insetos;Fisiologia - estuda as funções dos órgãos dos insetos;Ecologia - estuda os hábitats e as relações dos insetos com o meio;Comportamental - estudo do comportamento entre os insetos;Genética - estudo da herança de caracteres e padrões genéticos;Sistemática - estuda a classificação e a identificação dos insetos.

Para uma melhor compreensão dos próximos capítulos deste Guia, faz-se necessário explorar um pouco mais da sistemática, no que diz respeito àclassificação dos seres vivos.

Imagine todos os seres vivos do planeta, tanto animais como vegetais. Agora, tente pensar em uma maneira de agrupá-los conforme suas características em comum. Difícil, não é? Mas é exatamente isso que um ramo da biologia faz. Existem pessoas que trabalham apenas para identificar e nomear espécies: os botânicos (no caso das plantas) e os zoólogos (no caso dos animais) e são chamados sistematas.

É muito importante para a ciência que todos os seres vivos sejam identificados, ou não seria possível estudá-los. A ciência agrupa os seres vivos conforme as características que eles apresentam em comum. Como num jogo de encaixar, cada grupo possui um subgrupo, o qual possui outro subgrupo, e a cada divisão as similaridades ficam cada vez mais acentuadas.

Para agrupar os organismos, houve a necessidade de serem criadas unidades de classificação (ou taxons), sendo que a unidade básica é a

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espécie. As unidades de classifica��o b�sicas dos seres vivos s�o, em ordem decrescente: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.

Um reino � formado por filos, que s�o formados por classes, que s�o formadas por ordens, que s�o formadas por fam�lias, que s�o formadas por g�neros, que s�o formados por esp�cies. Assim, o reino � a unidade em que encontramos maior n�mero de indiv�duos, mas o grau de semelhan�a entre eles � pequeno ao contr�rio do que ocorre em uma esp�cie.

Espécies semelhantes formam o gênero; g�neros semelhantes formam a família; fam�lias semelhantes formam a ordem; ordens semelhantes formam a classe; classes semelhantes formam o filo; filos semelhantes formam o reino.

Em muitos casos, h� tantas particularidades que estas unidades n�o s�o suficientes. Por isso foram criadas algumas subdivis�es dentro de classe, ordem, fam�lia, g�nero e esp�cie. No caso da unidade "classe", encontram-seas subclasses. Da mesma maneira ocorre com a unidade “ordem”, ondeexistem as subordens, na unidade “fam�lia’, as subfam�lias, na unidade “g�nero”, os subg�neros e na unidade “esp�cie”, as subesp�cies”. Essas subdivis�es s�o muito comuns no caso dos insetos.

1.2 Entomologia em Saúde Pública

� respons�vel pelo estudo dos insetos transmissores de doen�as que afetam a sa�de e a qualidade de vida do homem.

1.2.1 Objetivos:

- Investiga��o b�sica (biologia, comportamento, distribui��o de vetores);

- Avalia��o de indicadores;- Elabora��o de metodologia para a��o de controle para vetores;- Avalia��o do impacto das a��es de controle;- Pesquisa operacional para testar as metodologias e as a��es de

controle;- Monitoramento da suscetibilidade de vetores aos inseticidas.

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2 AGRAVOS E VETORES

Na saúde humana, diversos insetos atuam como vetores de agentes infecciosos de vários agravos como: Dengue, Febre Amarela, Malária, Doença de Chagas, Leishmaniose Tegumentar Americana, Leishmaniose Visceral, e outros.

Como exemplo de vetores de agentes infecciosos humanos temosmoscas, mosquitos, pulgas, piolhos e barbeiros.

2.1 Dengue

É uma doença febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresente: infecção inaparente, dengue clássico (DC), febre hemorrágica da dengue (FHD) (Figura 1) ou síndrome do choque da dengue (SCD). Atualmente, é a mais importante arbovirose que afeta o ser humano e constitui sério problema de saúde pública no mundo. Ocorre e dissemina-se especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor.

Figura 1: Paciente com FHD

O agente etiológico é um vírus. São conhecidos quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4.

Os vetores são mosquitos do gênero Aedes. A espécie Aedes aegypti é a mais importante na transmissão da doença e também pode ser transmissora da febre amarela urbana. O Aedes albopictus, já presente nas Américas, com ampla dispersão nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, é o vetor de manutenção da dengue na Ásia, mas até o momento não foi associado à transmissão da dengue nas Américas.

A transmissão se faz pela picada de fêmeas infectadas do mosquitoAedes aegypti. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito está apto a transmitir o vírus depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito,

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imediatamente, se alimenta num hospedeiro susceptível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com pessoa sadia, nem por intermédio de água ou alimento.

2.1.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no mundo:

A dengue é uma das mais importantes arboviroses que atinge principalmente os países de clima tropical. A Organização Mundial de Saúde estima que três bilhões de pessoas vivem em áreas de risco para contrair dengue no mundo. Estima-se que anualmente 50 milhões de pessoas se infectam, com 500 mil casos de Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e 21 mil óbitos, principalmente em crianças. Nas Américas, a partir de 1963, foi comprovada circulação dos sorotipos 2 e 3 em vários países. Em 1977, o sorotipo 1 foi introduzido nas Américas, inicialmente pela Jamaica. A partir de 1980, foram notificadas epidemias em vários países. No Brasil, a primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista - RR, causada pelos sorotipos 1 e 4. A partir de 1986, foram registradas epidemias em diversos estados, com a introdução do sorotipo 1. A introdução dos sorotipos 2 e 3 foi detectada no Rio de Janeiro, em 1990 e 2000 respectivamente. O sorotipo 3 apresentou rápida dispersão para 24 estados do país no período de 2001-2003.

2.2 Febre Amarela

Doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus, que possui dois ciclos epidemiológicos distintos (silvestre e urbano). Reveste-se da maior importância epidemiológica, por sua gravidade clínica e elevado potencial de disseminação em áreas urbanas.

Na febre amarela urbana (FAU) o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica. Na febre amarela silvestre (FAS) os primatas não-humanos (macacos) são os principais hospedeiros do vírus amarílico, sendo o homem um hospedeiro acidental.

A transmissão se dá através da picada de fêmeas de mosquitos infectadas com o vírus. Não há transmissão de pessoa a pessoa.

O mosquito da espécie Aedes aegypti é o principal transmissor da febre amarela urbana. Na febre amarela silvestre, os transmissores são mosquitos, com hábitos estritamente silvestres, sendo os dos gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes na América Latina. No Brasil, a espécie Haemagogus janthinomys é a que se destaca na transmissão do vírus.

Devido a persistência do vírus em seu organismo por tempo mais longo do que nos macacos, os mosquitos seriam os verdadeiros reservatórios, além de vetores.

2.2.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo

É encontrada nas regiões tropicais da África e América do Sul. Na África, onde tem maior disseminação, é endêmica em 34 países. Na América do Sul, nos últimos 20 anos, sua ocorrência tem sido registrada em 7 países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru e Venezuela. A doença tem caráter sazonal, ocorrendo com maior freqüência entre os meses

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de janeiro a abril, quando fatores ambientais propiciam o aumento da densidade vetorial.

No Brasil, no per�odo de 1996 a 2006 ocorreram 343 casos com 158 �bitos. O maior n�mero de registros foi em Minas Gerais (98 casos), seguido do Par� (68 casos) e Amazonas (38 casos).Em Santa Catarina, ocorreu, em 1966, no extremo oeste, em quatro munic�pios fronteiri�os com a Argentina, um surto epid�mico da forma silvestre, com o registro de algumas dezenas de casos. O estado possui 28 munic�pios situados na �rea de transi��o para Febre Amarela Silvestre, localizados no extremo oeste: Anchieta, Bandeirante, Barra Bonita, Belmonte, Caibi, Cunha Por�, Descanso, Dion�sio Cerqueira, Flor do Sert�o, Guaraciaba, Guaruj� do Sul, Ipor� do Oeste, Iraceminha, Itapiranga, Maravilha, Mondai, Palma Sola, Palmitos, Para�so, Princesa, Riqueza, Romel�ndia, Santa Helena, S�o Jo�o do Oeste, S�o Jos� do Cedro, S�o Miguel da Boa Vista, S�o Miguel do Oeste e Tun�polis.

2.3 Malária

Doen�a infecciosa febril aguda, causada por protozo�rios e transmitida por vetores. Reveste-se de import�ncia epidemiol�gica por sua gravidade cl�nica e elevado potencial de dissemina��o em �reas com densidade vetorial que favore�a a transmiss�o. Causam consider�veis perdas sociais e econ�micas na popula��o sob risco, concentrada na regi�o amaz�nica.

Os agentes etiol�gicos s�o protozo�rios do g�nero Plasmodium. No Brasil, tr�s esp�cies causam a mal�ria em seres humanos: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Uma quarta esp�cie, o P. ovale, s� � encontrado em �reas restritas do continente africano.

Os vetores s�o mosquitos do g�nero Anopheles. Este g�nero compreende mais de 400 esp�cies. Em nosso pa�s, as principais esp�cies transmissoras da mal�ria, tanto na zona rural quanto na urbana, s�o: Anopheles darlingi, Anopheles aquasalis, Anopheles albitarsis s.l., Anopheles cruzii e Anopheles bellator. A esp�cie Anopheles darlingi � o principal vetor no Brasil, destacando-se na transmiss�o da doen�a pela distribui��o geogr�fica, antropofilia e capacidade de ser infectado por diferentes esp�cies de plasm�dios. Popularmente, os vetores da mal�ria s�o conhecidos por “carapan�”, “muri�oca”, “sovela”, “mosquito-prego” e “bicuda”.

A transmiss�o se d� atrav�s da picada da f�mea do mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium. Os vetores s�o mais abundantes nos hor�rios crepusculares, ao entardecer e ao amanhecer. Todavia, s�o encontrados picando durante todo o per�odo noturno, por�m em menor quantidade em algumas horas da noite. N�o h� transmiss�o direta da doen�a de pessoa a pessoa.

2.3.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no mundo

Estima-se que mais de 40% da popula��o mundial est� exposta ao risco de adquirir mal�ria. No ano de 2006, o Brasil registrou 545.696 casos de mal�ria, sendo a esp�cie Plasmodium vivax de maior incid�ncia (73,4%). A Regi�o da Amaz�nia Legal concentra 99,7% dos casos de mal�ria, tendo sido

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identificados nesta regi�o 90 munic�pios como sendo de alto risco para a doen�a. A transmiss�o nessa �rea est� relacionada a fatores biol�gicos (presen�a de alta densidade de vetores (mosquitos), agente etiol�gico e popula��o suscet�vel); geogr�ficos (altos �ndices de pluviosidade, amplitude da malha h�drica e a cobertura vegetal); ecol�gicos (desmatamentos, constru��o de hidroel�tricas, estradas e de sistemas de irriga��o, a�udes); e sociais (presen�a de numerosos grupos populacionais, morando em habita��es com aus�ncia completa ou parcial de paredes laterais e trabalhando pr�ximo ou dentro das matas).

O estado de Santa Catarina eliminou a transmiss�o da Mal�ria na d�cada de 80. A partir da� ocorreram uns poucos casos aut�ctones, isolados e espor�dicos nos munic�pios de Gaspar (1 caso em 2003), Indaial (2 casos, 1999 e 2003) e Rodeio (1 caso em 2000).

2.4 Doença de Chagas

Doen�a infecciosa de curso cl�nico cr�nico, que se caracteriza por fase inicial aguda, com sinais ou sintomas quase sempre inespec�ficos, quando presentes, e que pode evoluir para a fase cr�nica, com comprometimento card�aco ou digestivo.

O agente etiol�gico � um protozo�rio da esp�cie Trypanosoma cruzi.Os mais importantes reservat�rios s�o aqueles que coabitam ou

encontram-se pr�ximos do homem, como o c�o, o rato, o gamb�, o tatu e at� mesmo o porco dom�stico, encontrado associado com esp�cies silvestres na Amaz�nia.

A transmiss�o natural, ou prim�ria, da doen�a de Chagas � a vetorial, que ocorre atrav�s das fezes de insetos chamados de triatom�neos, tamb�m conhecidos como “barbeiros” ou “chup�es”. Esses, ao picar o homem, em geral defecam ap�s o repasto, eliminando fezes contaminadas por Trypanosoma cruzi que penetram pelo orif�cio da picada. A transmiss�o transfusional ganhou grande import�ncia epidemiol�gica nas duas �ltimas d�cadas, em fun��o da migra��o de indiv�duos infectados para os centros urbanos e da inefici�ncia no controle das transfus�es, nos bancos de sangue.

A transmiss�o cong�nita ocorre, mas muitos dos conceptos t�m morte prematura, n�o se sabendo, com precis�o, qual a influ�ncia dessa forma de transmiss�o na manuten��o da endemia. Ocorrem ainda a transmiss�o acidental em laborat�rio e a transmiss�o pelo leite materno, ambas de pouca signific�ncia epidemiol�gica. Sugere-se a hip�tese de transmiss�o, por via oral, em alguns surtos epis�dicos. Recentemente, foi relatado em Santa Catarinacasos da doen�a de Chagas na forma aguda, conseq�entes � transmiss�o por via oral ap�s ingest�o de caldo de cana contaminado com fezes de barbeiros.Neste epis�dio, durante as investiga��es entomol�gicas, foram coletados, em palmeiras, exemplares da esp�cie T. tibiamaculata.

Das mais de 128 esp�cies conhecidas de triatom�neos, 48 foram identificadas no Brasil, das quais 30 j� capturadas no ambiente domiciliar. Dessas, cinco t�m especial import�ncia na transmiss�o da doen�a ao homem. Por ordem de import�ncia: Triatoma infestans, T. brasiliensis, Panstrongylusmegistus, T. pseudomaculata e T. sordida.

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2.4.1 Características gerais da sua distribuição no Brasil e no Continente Americano

A distribui��o espacial da doen�a est� limitada ao continente americano – por isso � tamb�m chamada de tripanosom�ase americana –depende da distribui��o dos vetores e, al�m disso, da distribui��o da pobreza e das condi��es por ela geradas, que determinam o conv�vio do homem com o vetor, no ambiente domiciliar.

Em fun��o de a��es de controle de vetores a partir da d�cada de 1980, em 2006 o Brasil recebeu a Certifica��o Internacional pela Interrup��o da Transmiss�o de Doen�a de Chagas pelo Triatoma infestans, esp�cie importada e respons�vel pela maior parte da transmiss�o vetorial no passado.

Existem aproximadamente 12 milh�es de portadoresda doen�a cr�nica nas Am�ricas, cerca de 1.600.000 no Brasil.

2.5 Leishmaniose Tegumentar Americana

A leishmaniose tegumentar americana (LTA) � uma doen�a infecciosa, n�o contagiosa, causada por protozo�rios do g�nero Leishmania,que acomete pele e mucosas (Figura 2). � transmitida atrav�s da picada de insetos vetores chamados de flebotom�neos. � primariamente uma infec��o zoon�tica, afetando outros animais que n�o o homem, o qual pode ser envolvido secundariamente.

Figura 2: Les�o ulceradaFonte: Manual de Controle da LTA/SVS

H� diferentes subg�neros e esp�cies de Leishmania, sendo as mais importantes no Brasil:

Leishmania (Leishmania) amazonensis: distribu�da pelas florestas prim�rias e secund�rias da Amaz�nia (Amazonas, Par�, Rond�nia, Tocantins e sudoeste do Maranh�o), particularmente em �reas de igap� e de floresta tipo “v�rzea”. Sua presen�a amplia-se para o Nordeste (Bahia), Sudeste (Minas Gerais e S�o Paulo) e Centro-Oeste (Goi�s).

Leishmania (Viannia) guyanensis: aparentemente limitada ao norte da Bacia Amaz�nica (Amap�, Roraima, Amazonas e Par�) e estendendo-

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se pelas Guianas, � encontrada principalmente em florestas de terra firme –�reas que n�o se alagam no per�odo de chuvas.

Leishmania (Viannia) braziliensis: tem ampla distribui��o, do sul do Par� ao Nordeste, atingindo tamb�m o centro-sul do pa�s. Na Amaz�nia, a infec��o � usualmente encontrada em �reas de terra firme.

Os reservat�rios tamb�m variam conforme a esp�cie da Leishmania:Leishmania (Leishmania) amazonensis: tem como hospedeiros

naturais v�rios marsupiais e roedores, tais como “rato-soi�” (Proechymis).Leishmania (Viannia) guyanensis: v�rios mam�feros silvestres

foram identificados como hospedeiros naturais, tais como a pregui�a (Choloepus didactilus), o tamandu� (Tamanduá tetradactyla), marsupiais e roedores.

Leishmania (Viannia) braziliensis: � freq�ente o encontro desta esp�cie em animais dom�sticos como o c�o (CE, BA, ES, RJ e SP), eq�inos e mulas (CE, BA e RJ), albergando em propor��o expressiva o parasita.

Os vetores transmissores da LTA s�o insetos conhecidos como flebotom�neos, de diferentes g�neros (Psychodopigus, Lutzomyia), dependendo da localiza��o geogr�fica. Assim como os reservat�rios, os vetores tamb�m mudam de acordo com a esp�cie de Leishmania:

Leishmania (Leishmania) amazonensis: seus principais vetores s�o Lutzomyia flaviscutellata, Lutzomyia reducta e Lutzomyia olmeca nociva (Amazonas e Rond�nia), t�m h�bitos noturnos, v�o baixo e s�o pouco antropof�licos.

Leishmania (Viannia) guyanensis: os vetores s�o Lutzomyia anduzei, Lutzomyia whitmani e Lutzomyia umbratilis, que � o principal vetor, tendo o h�bito de pousar durante o dia em troncos de �rvores e atacar o homem em grande quantidade, quando perturbado.

Leishmania (Viannia) braziliensis: em �rea silvestre, o �nico vetor demonstrado transmissor foi o Psychodopigus wellcomei, encontrado na Serra dos Caraj�s, altamente antropof�lico, picando o homem mesmo durante o dia e com grande atividade na esta��o das chuvas. Em ambientes modificados, rural e peridomiciliar, s�o mais freq�entemente implicadas a Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia, Lutzomyia neivai e Lutzomyia migonei.

2.5.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo

A LTA tem ampla distribui��o mundial e no continente americano h� registro de casos desde o sul dos Estados Unidos ao norte da Argentina, com exce��o do Chile e Uruguai. Em 1909, foi descrita em indiv�duos que trabalhavam na constru��o de rodovias no interior de S�o Paulo. Desde ent�o, a doen�a vem sendo descrita em v�rios munic�pios de todos os estados.

O Estado de Santa Catarina era considerado indene para LTA at� o registro dos primeiros casos no ano de 1987, em munic�pios da regi�o oeste (Quilombo e Coronel Freitas) e em 1997 em Pi�arras, sendo este o �nico que manteve transmiss�o aut�ctone com a ocorr�ncia anual de casos at� 2006. No ano de 2005 ocorreu um surto em Balne�rio Cambori� com 30 casos. Em 2006 foram registrados casos em novos munic�pios: Jaragu� do Sul, Massaranduba, Corup�, Presidente Nereu, Botuver� e um surto em Blumenau com 108 casos.

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2.6 Leishmaniose Visceral Americana

A leishmaniose visceral americana (LVA) foi primariamente uma zoonose, caracterizada como doença de caráter eminentemente rural. Mais recentemente, vem se expandindo para áreas urbanas de médio e grande porte e se tornou crescente problema de saúde pública no país e em outras áreas do continente americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica. É uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia, adinamia e anemia, dentre outras manifestações. Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.

No Brasil, a transmissão se dá através da picada de insetos (flebotomíenos) infectados por protozoários da espécie Leishmania (L.) chagasi.

Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que no homem. No ambiente silvestre os reservatórios são as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris).

No Brasil, duas espécies de flebotomíneos, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da doença, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira é considerada a principal espécie transmissora da L. (L.) chagasi, mas a Lu cruzi também foi incriminada como vetora no estado do Mato Grosso do Sul. São conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros. Em nosso país, a distribuição geográfica de Lu. longipalpis é ampla e parece estar em expansão. Esta espécie é encontrada em quatro das cinco regiões geográficas: Nordeste, Norte, Sudeste e Centro-Oeste. A Lu. longipalpis adapta-se facilmente ao peridomicílio e a variadas temperaturas, podendo ser encontrada no interior dos domicílios e em abrigos de animais domésticos. Há indício de que o período de maior transmissão da leishmaniose visceral ocorra durante e logo após a estação chuvosa, quando há aumento da densidade populacional do inseto.

2.6.1 Características gerais de sua distribuição no Brasil e no mundo

É endêmica em 65 países e, no continente americano, está descrita em pelo menos 12.

Dos casos registrados na América Latina, 90% ocorrem no Brasil. Em 1913 é descrito, por Migonei, o primeiro caso, em necropsia, de paciente oriundo do Porto Boa Esperança, Mato Grosso. A doença, desde então, vem sendo descrita em vários municípios brasileiros, apresentando mudanças importantes no padrão de transmissão, inicialmente predominando em ambientes silvestres e rurais e mais recentemente em centros urbanos.

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3 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS VETORES

3.1 Artrópodes

Os artr�podes podem causar numerosas doen�as no homem e em animais dom�sticos, por sua a��o direta ou pela transmiss�o de agentes patog�nicos de v�rios tipos.

Parasitoses como a mal�ria, as leishmanioses e a doen�a de Chagas causam grande morbidade e mortalidade em v�rias regi�es do mundo.

No Brasil, por seu clima variado e predominantemente tropical, ocorrem v�rias dessas parasitoses, com grande import�ncia sanit�ria e econ�mica.

O filo Arthropoda constitui um grupo muito variado e bem-sucedido em v�rios ambientes. O grupo inclui mais de 85% das esp�cies de animais conhecidas. O filo inclui caranguejos, aranhas, escorpi�es, carrapatos, insetos etc.

A classe Hexapoda � uma das muitas do filo Arthropoda e � usualmente dividida em 31 ordens. Tr�s delas (Protura, Collembola e Diplura) constituem os Entognatha, que n�o tem asas e nem antepassados alados e possuem v�rias caracter�sticas que os distinguem dos insetos propriamente ditos, ou seja, das outras 28 ordens.

As outras ordens constituem os Ectognatha e s�o consideradas como Insecta. As seguintes ordens de Insecta cont�m muitas esp�cies de grande import�ncia m�dica e veterin�ria: Hem�ptera (percevejos), Siphonaptera (pulgas), Diptera (mosquitos, moscas).

Em Hemiptera, a subordem Heteroptera inclui os triatom�neos, transmissores de Trypanosoma cruzi, causador da doen�a de Chagas.

Na ordem Diptera, numerosas fam�lias incluem esp�cies que causam doen�as diretamente ou pela transmiss�o de parasitos. Na fam�lia Culicidae h� numerosas esp�cies de mosquitos (culicideos – Anopheles, Aedes, Culex) que desempenham importante papel como vetores de parasitos de mal�ria, v�rus da febre amarela, dengue, que acometem o homem em v�rias regi�es do mundo. Dentro da fam�lia Psychodidade, a subfam�lia Phlebotominae transmite parasitos de leishmanioses.

3.1.2 Triatomíneos

Os triatom�neos s�o chamados popularmente de barbeiros, chup�es, chupan�a e outros nomes. A maioria das 128 esp�cies conhecidas ocorre nas Am�ricas. V�rias delas podem ocorrer em domic�lio e peridom�c�lio, assumindo assim maior import�ncia na transmiss�o de parasitos para o homem. Certas esp�cies, por invadirem o domic�lio, podem levar o parasito para este ambiente; outras apenas mant�m o parasito na natureza, entre animais silvestres.

A maioria das esp�cies de triatom�neos vive em ambientes silvestres, em geral associadas a abrigos de animais.

As esp�cies do g�nero Triatoma ocorrem principalmente em abrigos em pedras, as de Panstrongylus em tocas de animais no solo e as de Rhodnius em palmeiras. Algumas esp�cies dos tr�s g�neros, pela destrui��o do meio em

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que vivem, pela construção de casas precárias e por seu potencial de adaptação, passaram a colonizar domicílios. Nestes passam a viver em frestas de paredes, sob camas, entre objetos amontoados e atrás de quadros e armários.

Os triatomíneos sugam apenas sangue de vertebrados. Costumam ser oportunistas, sugando o hospedeiro disponível. A sucção de sangue costuma ser demorada, e a picada usualmente é indolor, costumam picar à noite. Algumas espécies como o Triatoma infestans, por serem mais atraídas pelo CO2 da respiração, têm maior tendência a picar o rosto, mas os triatomíneos podem picar qualquer parte do corpo.

Sugam uma quantidade de sangue proporcionalmente grande, com o extremo de 10 vezes o próprio peso e usualmente uma ou duas sucções completas são suficientes para uma muda. Voltam para os abrigos para a digestão do sangue, a muda e a postura. Durante e logo após a sucção, eliminam fezes e urina.

Os adultos, após alimentados, põem algumas centenas de ovos, aderidos ao substrato, no caso de insetos originalmente de árvores ou solos. Após duas a quatro semanas, eclode a ninfa de primeiro instar. As ninfas vão se alimentando e sofrendo mudas, e o ciclo completo pode durar, a depender da espécie, da temperatura e da disponibilidade de sangue, de dois a 24 meses. A sua vida costuma ser longa e, em geral, podem resistir a alguns meses ao jejum, especialmente as ninfas de quinto instar (Figura 3).

Costuma voar pouco e a sua dispersão para novas localidades ocorre em geral em objetos de uso doméstico, lenha, malas, caminhões e trens. Podem ser atraídos pela luz e é freqüente o encontro de adultos perto de postes de luz e lâmpadas externas em casas.

Os triatomíneos podem hospedar Trypanosoma cruzi. Uma vez infectado, o triatomíneo pode permanecer assim por toda a vida. Como é comum os triatomíneos eliminarem fezes e urina durante e logo após a hematofagia, podem transmitir o parasito T. cruzi sobre a pele ou em mucosas causando a doença conhecida como Doença de Chagas.

Figura 3: Ciclo evolutivo dos triatomíneos

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3.1.3 Família Culicidae

Na família Culicidae há numerosas espécies de mosquitos (culicideos) que desempenham importante papel como vetores de parasitos de malária, de filarioses, de vírus da febre amarela, dengue, que acometem o homem em várias regiões do mundo.

Os mosquitos são insetos dípteros conhecidos também como pernilongos, muriçocas ou carapanâs. Os adultos são alados, possuem pernas e antenas longas e na grande maioria são hematófagos, enquanto as fases imaturas são aquáticas. Seu ciclo biológico compreende as seguintes fases: ovo, quatro estágios larvais, pupa e adulto.

Esta família inclui muitas espécies de mosquitos de importância médica como as dos gêneros Aedes, Anopheles e Culex (Figura 4):

Figura 4: Larvas de mosquitos dos gêneros Aedes, Anopheles e Culex

Numerosas espécies de mosquitos com hábitos de sugar o sangue do homem e de outros animais incluem-se no rol de insetos de importância epidemiológica. O hematofagia é precedida da inoculação de saliva com substâncias que desencadeiam reações alérgicas. É por ocasião das picadasque as fêmeas atuam como transmissoras de organismos patogênicos, que determinam várias enfermidades no homem e em outros animais.

A família Culicidae engloba três subfamílias: Toxorhynchitinae, Anophelinae e Culicinae.

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3.1.3.1 Subfamília Toxorhynchitinae

A subfamília Toxorhynchitinae é formada por um só gênero, o Toxorhynchites. Este gênero conta com cerca de 76 espécies, a maioria nas regiões tropicais. As larvas (Figura 5) são vorazes, predadoras de outros mosquitos. Quando na fase adulta são predadoras da fase larvária. Procriam-se em ocos de árvores, internódios de bambu e taquara, em axilas de bromélias e em recipientes artificiais, que acumulam água da chuva, como latas, garrafas e pneus. Ocasionalmente são introduzidas em criadouros para reduzir o número de mosquitos vetores. Os adultos são de grande porte. Seu tegumento é recoberto por escamas de cores metálicas brilhantes. As fêmeas, não sendo hematófagas, não transmitem organismos patogênicos.

Figura 5: Larva de mosquito do gênero Toxorhynchites

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3.1.3.2 Subfamília Anophelinae

A subfamília Anophelinae reúne três gêneros: Chagasia, Bironella e Anopheles. Os mosquitos pertencentes ao gênero Chagasia são silvestres, cujos adultos têm aspecto amarronzado e se concentram ao nível das copas das árvores. As larvas proliferam em pequenos córregos de água limpa e dentro destes criadouros protegem-se nas margens entre raízes e detritos vegetais. Até o momento, nenhuma de suas espécies evidenciou algum interesse epidemiológico. O segundo gênero, Bironella, com onze espécies, é de ocorrência exclusiva em Nova Guiné e na Austrália. Nenhuma de suas espécies tem importância sanitária.

3.1.3.2.1 Gênero Anopheles

Atualmente, o gênero Anopheles tem cerca de 517 espécies distribuídas nas regiões tropicais e temperadas do mundo. Deste total, cerca de 70 espécies são vetoras de protozoários da malária humana. No Brasil, contam-se cerca de 54 espécies. Os transmissores da malária em nosso país estão incluídos nos subgêneros Nyssorhynchus e Kerteszia.

Características gerais dos anofelinos: ovos postos isoladamente na água e que apresentam flutuadores, larvas não apresentam sifão respiratório e posicionam-se paralelas à superfície da água, e adultos são conhecidos popularmente por mosquitos prego, pois pousam com o corpo em linha reta, quase em ângulo reto com o substrato (Figuras 6 e 7).

Figura 6: Larva de mosquito do gênero Anopheles. Observar a posição paralela à superfície da água.

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Figura 7: Adulto de mosquito do gênero Anopheles. Observar a posição em relação ao substrato.Fonte: CDC, Public Health Image Library (PHIL)

3.1.3.2.1.1 Subgênero Nyssorhynchus

O subgênero Nyssorhynchus contém 29 espécies na Região Neotropical. O subgênero inclui alguns vetores importantes da malária: Anopheles darlingi, Anopheles aquasalis, Anopheles albitarsis, Anopheles deaneorum, Anopheles oswaldoi.

São anofelinos de pequeno e médio porte, com tarsos posteriores completamente brancos. Suas formas imaturas desenvolvem-se em coleções líquidas no solo, desde os grandes cursos d`água até as pequenas poças.

As espécies que ocorrem no Brasil são eurigâmicas. Machos e fêmeas abrigam-se no ambiente silvestre, semi-silvestre ou rural, antes de formarem o vôo nupcial. As fêmeas de algumas espécies brasileiras podem invadir a habitação humana, mas geralmente não utilizam este ambiente como abrigo, não permanecendo ali prolongadamente. É raro o encontro de machos deste subgênero dentro dos domicílios.

3.1.3.2.1.2 Subgênero Kerteszia

O subgênero Kerteszia agrupa 12 espécies na Região Neotropical. O subgênero inclui alguns vetores importantes da malária: Anopheles cruzzi, Anopheles bellator, Anopheles homunculus.

Os anofelinos deste subgênero são caracteristicamente bastante delicados, com pernas listradas de branco e preto.

Os adultos são eurigâmicos. Suas formas imaturas sempre se desenvolvem em criadouro do tipo natural, principalmente em água que se acumula nas axilas das folhas de bromélias.

3.1.3.3 Subfamília Culicinae

É a maior subfamília, cerca de 3000 espécies distribuídas pelo mundo. Esta subfamília inclui muitas espécies de importância médica, em especial, as dos gêneros Aedes, Coquillettidia, Culex, Haemagogus, Mansonia,

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Psorophora e Sabethes. No próximo capítulo são apresentadas as principais características dos mosquitos da espécie Aedes aegypti e Aedes albopictus.

3.1.4 Família Psychodidade

3.1.4.1 Subfamília Phlebotominae

No Brasil, os flebotomíneos adultos são comumente conhecidos pelos nomes: Asa Branca, Asa Dura, Berebere, Biriqui, Mosquito do rio, entre outros.

Os flebotomíneos são dípteros holometábolos, cujo ciclo de vida compreende: ovo, quatro estádios larvais, pupa e adultos (Figuras 8, 9 e 10).

Os ovos quando postos são brancos e tornam-se escuros após algumas horas. A postura pode ser de forma isolada ou em pequenos grupos, em solos ricos em matéria orgânica e alto teor de umidade, em locais, tais como: entre as raízes, embaixo de folhas caídas, tocas de animais, embaixo de pedras, margem de cursos de água. No peridomicílio, em solo de chiqueiro, galinheiro, entre as raízes de árvores frutíferas e, em domicílio, entre as frinchas de paredes. Quando sofrem imersão por até dois dias, não sofrem danos, mas por períodos maiores, a taxa de eclosão pode ser afetada. Em condição muito seca ou com incidência direta do sol, podem secar.

As larvas assemelham-se a pequenas lagartas. Movem-se lentamente no 1º estádio e à medida que desenvolvem, tornam-se mais ativas sobre o substrato, alimentando-se de matéria orgânica.

Quando se transforma em pupa, a exúvia do 4º estádio permanece presa à parte terminal do seu abdômen. Não se alimenta, permanece Imóvel e presa a um substrato.

Entre os adultos, de um modo geral, a eclosão dos machos inicia-se anterior à das fêmeas. Após a eclosão, os alados permanecem abrigados em locais que os protejam dos perigos (abrigos naturais), caracterizados por condições climáticas que lhes protejam da dessecação, situados próximos aos criadouros, até que haja o enrijecimento das partes moles.

Apresentam basicamente dois tipos de vôo: movimentos saltitantes sobre a superfície em que estão pousados e vôos continuados para vencer distâncias mais longas. Ambos os movimentos são silenciosos o que permite a aproximação sem que o hospedeiro os percebam.

Os conhecimentos sobre dispersão dos flebotomíneos são poucos. Estudos têm demonstrado que a maioria dos espécimes podem se deslocar até 300m.

A atividade hematofágica depende de estímulos tais como:proximidade do hospedeiro, temperatura, umidade e luminosidade. A maioria das espécies inicia esta atividade pouco antes do crepúsculo vespertino e podem desenvolvê-las noite adentro, cessando-a antes do crepúsculo matutino.

De um modo geral, as formas aladas dos flebotomíneos são mais capturadas nas épocas mais quentes e úmidas do ano.

Ambos os sexos necessitam de açúcares em sua dieta, como fonte energética. Apenas as fêmeas são hematófagas, sendo o sangue a fonte para a maturação dos ovos. Muitas necessitam mais que um repasto sangüíneo para a maturação dos ovos.

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A preferência alimentar varia conforme as espécies. Algumas se alimentam em animais de sangue frio, outras de tatus, mamíferos e aves.

A quantidade de sangue que uma fêmea ingere é equivalente ao seu próprio peso, que pode ser obtido de uma única sucção ou mais. Pelo fato de estarem pesadas, elas tendem a não se afastarem muito do local do repasto. A duração da digestão de sangue pode variar de 2 a 10 dias, dependendo da espécie e das condições ambientais.

Flebotomíneos de várias espécies podem transmitir ao homem parasitos do gênero Leishmania, que são responsáveis pelo desenvolvimento de doenças como a Leishmaniose Tegumentar Americana e a Leishmaniose Visceral Americana.

Figura 8: Ovos de Flebotomíneo Figura 9: Larva de Flebotomíneo Foto de Geofray e M.Kili Kendrick Fonte: WHO

Figura 10: Exemplar adulto de FlebotomíneoFonte: Manual de Controle da LTA/SVS

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4 NOÇÕES SOBRE AEDES AEGYPTI E AEDES ALBOPICTUS

4.1 Aedes aegypti

4.1.1 Origem

Existem evidências de que tenha se originado na África, vivendo em ambientes silvestres, nos tocos das árvores e escavações em rochas.

Esta espécie se diferenciou adaptando-se aos centros urbanos, onde as alterações provocadas pelo homem propiciam sua proliferação. Nas Américas somente tem sido encontrada a variedade doméstica, que se acredita tenha sido transportada em barris que vinham dos navios de exploradores e colonizadores.

4.1.2 Distribuição GeográficaVive na faixa tropical e subtropical da Terra, limitada pela

temperatura em torno de 10º C, na altitude aproximada de 1000 metros. Foi registrada em todos os países das Américas, com exceção do

Canadá. No Brasil esta espécie é detectada em todo o território.

4.1.3 Desenvolvimento

O mosquito, até completar seu desenvolvimento, passa pelas fases de: ovo, larva, pupa e mosquito adulto (Figura 11). As fases larva e pupa ocorrem na água.

Figura 11: Ciclo de desenvolvimento do Aedes aegypti e Aedes albopictus

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4.1.3.1 Ovo

As f�meas de Aedes aegypti colocam seus ovos fixando-os em paredes �midas, pr�ximas ao n�vel da �gua. Em contato com a �gua as larvas eclodem.

O tamanho varia entre 0,6 a 0,7mm. Estes ovos suportam grandes per�odos de seca (podem persistir na

natureza por aproximadamente 18 meses), sem sofrer nenhum dano.

4.1.3.2 Larva

As larvas (Figura 12) vivem na �gua se alimentando e vindo � superf�cie para respirar.

Mudam de tamanho 4 vezes (o que chamamos de est�dios). A atividade alimentar � intensa e r�pida. Alimentam-se de algas e part�culas org�nicas dissolvidas na �gua. N�o resistem a longos per�odos sem alimenta��o. N�o toleram �guas polu�das e luz intensa.

A larva � composta de cabe�a t�rax e abd�men. No final do abd�men encontra-se o segmento anal e o sif�o respirat�rio. O sif�o � curto, grosso (quando comparado aos mosquitos do g�nero Culex) e mais escuro que o corpo. Para respirar, a larva vem � superf�cie, onde fica em posi��o quase vertical. Movimenta-se em forma de serpente, fazendo um “S” em seu deslocamento. Quando h� movimentos bruscos na �gua e sob feixe de luz desloca-se com rapidez para o fundo do dep�sito demorando a retornar � superf�cie.

Ap�s o 4� est�dio as larvas se transformam em pupas (3 a 4 dias).

Figura 12: Larvas de Aedes aegypti

4.1.3.3 Pupa

Durante esta fase n�o se alimentam, utilizando a energia armazenada na fase larv�ria. A pupa (Figura 13) � dividida em cefalot�rax (cabe�a + t�rax) e abd�men tendo o formato de uma v�rgula.

Tem um par de tubos respirat�rios ou trombetas, que atravessam a �gua e permitem a respira��o.

Nesta etapa, sofrem as �ltimas transforma��es para a forma��o do adulto. Ap�s 2 a 3 dias, emerge o adulto.

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O tempo total de ovo at� a fase adulta leva em m�dia 7 a 8 dias. Dependendo da temperatura, por exemplo, temperaturas abaixo de 20�C, este per�odo de desenvolvimento pode ser mais extenso.

Figura 13: Pupa

4.1.3.4 Adulto

Necessitam de um per�odo de v�rias horas para endurecimento do esqueleto externo e das asas. Dentro de 24 horas podem voar e acasalar.

As f�meas se alimentam freq�entemente de sangue, de prefer�ncia humano. Na falta deste, pode se alimentar de sangue de outros animais. Machos, e tamb�m f�meas, alimentam-se de sucos vegetais, fontes de carboidratos, para os processos metab�licos para a manuten��o b�sica da vida.

O repasto sangu�neo (refei��o) das f�meas fornece prote�na para matura��o dos ovos, acontecendo geralmente durante o dia, com picos de maior atividade ao amanhecer e pouco antes do entardecer. Quando o repasto n�o � completo, pode alimentar-se mais de uma vez entre duas posturas, principalmente quando s�o perturbadas durante o repasto. Em condi��es �timas o intervalo entre o repasto e a oviposi��o (postura dos ovos) � de tr�s dias. As oviposi��es ocorrem geralmente no final da tarde. A f�mea gr�vida � atra�da para recipientes escuros, sombreados, �midos ou com �gua, com superf�cies �speras nas quais depositam os ovos. Preferem �gua limpa ao inv�s de �gua polu�da ou com muita mat�ria org�nica. Em cada postura a f�mea distribui seus ovos em v�rios recipientes de prefer�ncia artificiais como pneus, latas, garrafas, floreiras que acumulam �gua da chuva. Costuma invadir caixas d’�gua e cisternas mal vedadas ou piscinas, aqu�rios mal cuidados, vasos com �gua no interior de resid�ncias e nos cemit�rios.

Tanto no Brasil quanto em outros pa�ses americanos o Aedes aegypti tem sido surpreendido criando-se em recipientes naturais como brom�lias, buracos em �rvores, escava��o em rocha e bambu. Escava��es no solo com fundo argiloso ou forrado de cimento ou pedra, tamb�m s�o empregadas por esse mosquito para se criar. Tais encontros s�o muito raros em compara��o com os criadouros preferenciais.

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A tendência do Aedes aegypti é permanecer onde nasceu, abrigado dentro das habitações. Quando a quantidade de mosquito é muito grande (densidade alta), ele se espalha para diversos pontos (dispersa) num vôo em torno de 100 metros. A fêmea grávida, quando não encontra depósitos para oviposição, pode se deslocar através do vôo até 1000 metros.

Vive em média 30 a 35 dias na natureza, podendo ser maior este período no laboratório.

Deposita em média 400 a 600 ovos durante a vida.Seu tamanho médio é de 5 mm. Possuindo cor amarronzada, com

anéis brancos nas pernas e um desenho prateado em forma de lira na parte dorsal do tórax e escamas branco-prateadas no corpo (Figura 14).

Figura 14: Exemplar adulto de Aedes aegyptiFonte: bvsms.saude.gov.br

4.2 Aedes albopictus

4.2.1 Origem

Acredita-se que o Aedes albopictus seja originário de floresta tropical do sudeste Asiático, nos ocos de árvores, bambus, axilas de folhas, onde vive com muitas outras espécies. Alterando essa característica selvática, passou a criar e alimentar nas margens dos bosques adaptando-se ao ambiente urbanizado, em áreas abertas com vegetação em torno das habitações, procriando-se também em recipientes artificiais.

No Brasil é encontrado com maior freqüência em cidade e áreas próximas a elas (áreas suburbanas) com presença de vegetação.

4.2.2 Distribuição Geográfica

Tem ampla distribuição na Ásia e no Pacífico, Estados Unidos, República Dominicana e Honduras, nas regiões temperadas e tropicais. Recentemente foi encontrado na Itália, África do Sul e Nigéria.

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No Brasil esta esp�cie est� presente em diversos Estados, apenas seis n�o registraram seu encontro: Amap�, Acre, Piau�, Roraima, Sergipe e Tocantis.

J� foi encontrado a uma altitude de 1800m e resiste bem a baixas temperaturas.

4.2.3 Desenvolvimento

O Aedes albopictus passa pelas mesmas fases de desenvolvimento do Aedes aegypti (Figura 11).

4.2.3.1 Ovo

As f�meas de Aedes albopictus colocam seus ovos tamb�m em paredes �midas, de prefer�ncia pr�ximas � �gua. Escolhe como h�bitat para desenvolvimento das formas imaturas, tanto recipientes artificiais como naturais. Quanto aos primeiros, podem ser mencionados os pneus e todos os poss�veis artefatos e dispositivos capazes de armazenar �gua, seja de forma tempor�ria, seja permanente, desde que contenham microorganismos ou mat�ria org�nica em decomposi��o.

Em rela��o aos recipientes naturais o mosquito utiliza-se de tocos de bambus, ocos de �rvores, axilas de plantas e brom�lias.

O tamanho do ovo � de aproximadamente 1 mm.Estes ovos suportam longos per�odos de seca, aproximadamente

243 dias sem sofrer nenhum dano. Em contato com a �gua as larvas eclodem do ovo.

4.2.3.2 Larva

As larvas de Aedes albopictus tamb�m vivem na �gua alimentando-se de microorganismos e mat�ria org�nica existente nos dep�sitos, vindo � superf�cie para respirar.

A respira��o � feita pelo sif�o respirat�rio existente no final do abd�men. Ficam em posi��o quase vertical em rela��o � �gua e se movimentam em forma de serpente fazendo um “S”. S�o sens�veis a movimentos bruscos na �gua, afundando e demorando a retornar � superf�cie e n�o suportam muita luminosidade (fotofobia).

A fase larv�ria (4 est�dios) dura em torno de 5 a 10 dias, quando se transforma em pupa.

4.2.3.3 Pupa

Durante esta fase n�o se alimentam.S�o divididas em cefalot�rax e abd�men e tem um formato de

v�rgula.Possuem um par de trompetas respirat�rias no cefalot�rax que

atravessam a �gua e permitem a respira��o.Nesta etapa ocorrem as �ltimas transforma��es para emerg�ncia do

adulto, ap�s 2 dias sob condi��es ideais.

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4.2.3.4 Adulto

Os machos emergem primeiro que as fêmeas.Abrigam-se nas partes externas das habitações, geralmente em

locais úmidos sombreados e na vegetação.As fêmeas se alimentam de sangue e, juntamente com os machos,

de sucos vegetais. As fontes primárias de alimentos são os bovinos e eqüinos, ficando o homem como fonte secundária. Observou-se que o Aedes albopictustem uma fonte de alimentação (sangue) muito variada. Possui hábito oportunista, sugando o sangue daqueles animais de sangue quente, inclusive aves, que se aproximam até um raio de 4 a 5 metros do seu abrigo na vegetação.

As fêmeas podem fazer vários repastos sanguíneos entre duas posturas. O intervalo entre alimentação (repasto) e a oviposição é de aproximadamente 72 a 84 horas. As oviposições ocorrem geralmente ao final da tarde.

A fêmea grávida é atraída para recipientes escuros, sombreados, úmidos ou com água, com paredes rugosas (ásperas) nas quais depositam seus ovos. Preferem depósitos com água limpa e com condições próximas daquelas existentes nos depósitos naturais como ocos de árvores.

Aedes albopictus possuem uma capacidade de dispersão através do vôo em torno de 200 metros.

Vivem em média 45 a 50 dias.Estudos em laboratório demonstram que uma fêmea pode ovipor

950 ovos durante a vida.São de cor preto piche, patas com anéis prateados, no meio e ao

longo do dorso possuem uma seta prateada e seu corpo apresenta escamas também branco-prateadas (Figura 15).

Figura 15: Exemplar adulto de Aedes albopictusFoto de: Susan Ellis Courtesy - InsectImages.org

É um vetor de difícil controle pela diversidade de depósitos naturais e artificiais onde colocam seus ovos; pela maior tolerância ao frio e pela quantidade de ovos que depositam.

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28

5 MORFOLOGIA DE AEDES AEGYPTI E AEDES ALBOPICTUS

5.1 Aedes aegypti

5.1.1 Ovo

Os ovos s�o el�pticos de cor vari�vel, de marrom a negra, com desenhos formados por elementos alongados e fusiformes (Figura 16).

5.1.2 Larva

5.1.2.1 Cabeça

Antenas cil�ndricas e curtas, a cerda antenal � curta e simples. Cerdas 5, 6 e 7 simples (Figura 17).

5.1.2.2 Tórax

Espinhos laterais fortes, grandes e quitinizados, no meso e metatorax (Figura 17).

5.1.2.3 Abdômen

O p�cten do 8� segmento abdominal � formado por fileira �nica com n�mero vari�vel de pentes, que tem forma de espinho agudo central acompanhado de outros menores de ambos os lados. Sif�o respirat�rio curto, o p�cten sifonal � constitu�do por elementos alongados, espiniformes, serrilhados na por��o basal (Figura 17).

5.1.3 Pupa

5.1.3.1 Cefalotórax

Trompetas respirat�rias curtas e escuras (Figura 18).

5.1.3.2 Abdômen

Cerda n�. 1 do primeiro segmento com tufo de pelos simples ou b�fido. Cerda n�. 9 do oitavo segmento em forma de penacho com poucos pelos; palheta natat�ria com pelos curtos em sua borda (Figura 18).

5.1.4 Adulto

5.1.4.1 Tórax

Mesonoto recoberto de escamas escuras e escamas branco-prateadas, dispostas em linhas longitudinais formando o desenho classicamente comparado a uma “lira”. As faixas externas s�o constitu�das por escamas largas e as “cordas” s�o formadas por um par de linhas finas e as escamas branco-prateadas s�o mais estreitas. As pernas s�o escuras com

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manchas claras nas articulações; os artículos tarsais possuem anéis claros na extremidade basal, maiores nos tarsos posteriores principalmente no 5º que pode ser totalmente branco, nos tarsos anteriores e médios essa marcação é menor. A asa tem suas veias recobertas de escamas escuras (Figuras 19 e 20).

5.1.4.2 Abdômen

O abdômen tem os tergitos recobertos de escamas escuras e a partir do 2º segmento existem faixas basais e basolaterais de escamas claras (Figuras 19 e 20).

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30Figura 16: Ovo de Aedes aegypti

Page 32: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

31Figura 17: Larva de Aedes aegypti

Page 33: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

32Figura 18: Pupa de Aedes aegypti

Page 34: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

33Figura 19: Macho adulto de Aedes aegypti

Page 35: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

34Figura 20: Fêmea adulta de Aedes aegypti

Page 36: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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5.2 Aedes albopictus

5.2.1 Ovo

São de cor negra, possui pequenas projeções em forma de grão ao redor de todo o seu corpo (Figura 21).

5.2.2 Larva

5.2.2.1 Cabeça

Antena longa e lisa com a cerda antenal simples, cerdas nº 5, 6, e 7 bifurcadas (Figura 22).

5.2.2.2 Tórax

Os espinhos laterais do meso e metatorax são curtos e hialinos(Figura 22).

5.2.2.3 Abdômen

Péctem do 8º segmento abdominal com dentes longos e dispostos em uma só fileira, apresentam aspectos característicos de um espinho longo com base serrilhada. Sifão respiratório curto dotado de um pécten (Figura 22).

5.2.3 Pupa

5.2.3.1 Cefalotórax

Trompetas respiratórias curtas e escuras (Figura 23).

5.2.3.2 Abdômen

Cerda nº1 do primeiro segmento com grande quantidade de pelos dicotomizados. Cerda nº. 9 do 8º segmento simples com pequenos pelos laterais. Palheta natatória com franja de pelos longos em toda sua borda(Figura 23).

5.2.4 Adulto

5.2.4.1 Tórax

Mesonoto com uma faixa mediana longitudinal de escamas branco-prateadas estendendo-se da parte anterior até o nível da base da asa. Asa recoberta de escamas escuras. Pernas com marcação branca nas articulações. Tarsos do par posterior com anéis branco basal do 1º ao 4º; 5º totalmente branco. Os tarsos dos pares médios e anteriores com anel branco basalsomente no 1º e 2º (Figuras 24 e 25).

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5.2.4.2 Abdômen

Tergitos abdominais recobertos de escamas negras, faixas basais de escamas brancas do 2º ao 8º segmento (Figuras 24 e 25).

Tabela 1: Principais características morfológicas diferenciais

Fase Evolutiva EspécieAedes aegypti Aedes albopictus

Ovo Cório com desenhos Cório com projeções granulosas

LarvaCabeça Cerdas 5, 6 e 7 simples Cerdas 5, 6 e 7 bifurcadaTórax Meso e metatorax com

espinhos laterais grandes e fortemente quitinizados

Meso e metatorax com espinhos laterais curtos e hialinos

Abdome Pécten do 8º segmento com dentes em forma de espinho agudo central acompanhado de outros menores de ambos os lados

Pécten do 8º segmento com dentes longos em forma de espinho com base serrilhada

PupaAbdome Cerda nº 1 do primeiro

segmento com tufo de pelos simples ou bífido

Cerda nº. 9 do oitavo segmento em forma de penacho com poucos pelos.

Palheta natatória com pelos curtos em sua borda

O tufo da cerda nº 1 do primeiro segmento com grande quantidade de pelos com dicotomia

Cerda nº. 9 do oitavo segmento simples com pequenos pelos laterais

Palheta natatória com franja de pelos longos em toda borda

AdultoTórax Mesonoto recoberto de

escamas escuras com desenho em forma de lira de escamas branco-prateadas

Mesonoto recoberto de escamas escuras com uma faixa mediana longitudinal de escamas branco-prateadas

Page 38: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

37Figura 21: Ovo de Aedes albopictus

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38Figura 22: Larva de Aedes albopictus

Page 40: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

39Figura 23: Pupa de Aedes albopictus

Page 41: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

40Figura 24: Macho adulto de Aedes albopictus

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41Figura 25: Fêmea adulta de Aedes albopictus

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6 LABORATÓRIOS

6.1 Organização dos laboratórios de entomologia no estado

A Diretoria de Vigilância Epidemiológica é responsável por gerenciar uma rede de laboratórios de entomologia que tem a função de desenvolver atividades relacionadas aos vetores de doenças. Atualmente, estão assim distribuídos (Figura 26):

- 1 laboratório de entomologia central (DIVE);- 15 laboratórios de entomologia regionais (localizados nas

Gerências Regionais de Saúde de Blumenau, Canoinhas, Chapecó, Criciúma,Concordia, Itajaí, Joaçaba, Joinville, Jaraguá do Sul, Lages, Laguna, Rio do Sul, São José, São Miguel do Oeste e Tubarão);

- 24 laboratórios de entomologia municipais ( Araranguá, Blumenau, Balneário Camboriú, Camboriú, Chapecó, Criciúma, Itapema, Itapiranga, Itajaí, Florianópolis, Garopaba, Joinville, Jaraguá do Sul, Lages, Laguna, Piçarras,Penha, Rio do Sul, São Bento do Sul, São Francisco do Sul, São José, São Miguel do Oeste, Videira e Xanxeré).

Essa rede de laboratórios conta com uma equipe de 72 profissionais, entre eles: biólogos, bioquímicos, veterinário, técnicos de laboratório e agentes de saúde. Os laboratórios estão tecnicamente subordinados ao Setor de Suporte Laboratorial da DIVE, hoje sob responsabilidade de um entomologista.

Esse setor é responsável por coordenar as ações necessárias à vigilância dos vetores envolvidos na cadeia de transmissão de agravos como Dengue, Febre Amarela, Leishmaniose, Malária, Doença de Chagas, Febre Maculosa, entre outras.

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Figura 26: Organização dos laboratórios de entomologia do estado de Santa Catarina.

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6.2 Atividades desenvolvidas nos laboratórios de entomologia

Atualmente, as atividades de rotina desenvolvidas nos laboratórios de entomologia são:

Laboratórios municipais e regionais:-Identificação de larvas e adultos de mosquitos para o Programa de

Controle da Dengue;-Triagem de triatomíneos;-Digitação de boletins (Semanal, Foco e Remessa de espécies);-Preenchimento de boletins (Semanal, Foco, Remessa de espécies

e FADs);-Controle de qualidade;-Envio de insetos para o laboratório da DIVE;-Participação em atividades educativas; -Limpeza e conservação dos microscópios;-Emissão de resultados de focos para as SMS, GESA e DIVE;-Lavagem de tubitos e distribuição para as SMS.

Laboratório do nível central (DIVE):- Identificação de ixodides (carrapatos), anofelinos, outros culicídeos,

flebotomíneos, triatomíneos e outros insetos de importância para vigilância epidemiológica;

- Coleta de vetores (culicídeos, exceto Aedes, flebotomíneos e triatomíneos);

- Manutenção de uma coleção entomológica;- Revisão de amostras para Controle de Qualidade;- Colaboração na identificação de larvas para as Gerências de

Saúde;- Realização de treinamentos e palestras.Para o bom desenvolvimento das atividades acima relacionadas é

necessário que os técnicos trabalhem com os seguintes materiais (Tabela 2):

Tabela 2: Material de consumo utilizado, por laboratório, no desenvolvimento das atividades de entomologia.

MATERIAL CONSUMO ANUALÁlcool 70º GL 12L

Algodão 12 pacotes de 100g

Bacia plástica 1 unidade

Balde 1 unidade

Bloco de anotações 20 unidades

Borracha 12 unidades

Caneta vermelha e azul 2 caixas de cada cor

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Cartucho de tinta para impressora 6 unidades preto

CD 1 caixa

Clips 1 caixa de cada tamanho

Coletor para resíduos hospitalares 4 unidades

Corretivo líquido 2 unidades

Detergente 12L

Elástico de dinheiro 20 pacotes

Envelopes diversos tamanhos 100 unidades de cada tamanho

Esponja de espuma para limpeza 12 unidades

Etiquetas auto adesivas 1 rolo

Fita adesiva durex 3 rolos

Grampo para grampeador 3 caixas

Lâminas para microscopia 1 caixa

Lamínulas 2x2 1 caixa

Lâmpada 25W para armário estufa 4 unidades mês

Lápis 24 unidades

Lenço de papel yes 24 caixas

Lixeira 2 unidades

Luvas descartáveis 2 unidades para cada técnico por dia

Papel A4 4 resmas

Papel toalha 12 pacotes

Pinças 2 unidades ano para cada técnico

Pincéis para pintura artística nº 0 3 unidades ano para cada técnico

Pipetas Pasteur descartáveis 50 unidades

Pissetas 2 unidades ano para cada técnico

Placas de Petri 2 unidades ano para cada técnico

Saco de lixo 1 por dia

Tesoura 2 unidades

Tubitos 100 unidades

Vidro relógio 50mm de diâmetro 2 unidades ano para cada técnico

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6.3 Normas de biossegurança para laboratórios de entomologia

Biossegurança é definida como:“Conjunto de a��es voltadas para a preven��o, minimiza��o, ou elimina��o de riscos inerentes �s atividades de pesquisa, produ��o, ensino, desenvolvimento tecnol�gico e presta��o de servi�os, as quais possam comprometer a sa�de do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos”

(Hirata e Filho, 2002).Considerando as normas de boas práticas de laboratório, em

especial quanto à adoção de medidas de biossegurança, a fim de prevenir a ocorrência de doenças nos técnicos ou a disseminação delas através do laboratório, foram estabelecidos níveis de risco, denominados níveis de biossegurança. A estes níveis foram determinadas formas de conduta e critérios quanto à estrutura física desses espaços com a finalidade de evitar a ocorrência dos riscos acima.

De acordo com os tipos de organismos que os nossos laboratóriosreceberão e a forma destes serem manipulados, a classificação do grupo de risco será de nível de biossegurança 2 (NB2): baixo risco individual e baixo risco para a comunidade, ou seja, um agente patogênico que costuma causar doenças em humanos ou em animais, sob circunstâncias normais, porém, não chega a ser um perigo sério para pessoas que trabalham com animais de laboratório.

Atualmente, os nossos laboratórios de entomologia não estão planejados para manter colônias de insetos. No entanto, a atividade de identificação e exame parasitológico de triatomíneos, que será implantada num futuro próximo, implica em receber insetos vivos que, após os exames, serão sacrificados. Assim, as seguintes práticas padrões e práticas especiais, equipamentos de segurança e instalações deverão ser aplicados:

6.3.1 Práticas padrões

- O acesso ao laboratório deverá ser limitado ou restrito de acordo com a definição do técnico responsável pelo laboratório;

- As pessoas deverão lavar as mãos após o manuseio de materiais viáveis, após a remoção das luvas e antes de saírem do laboratório;

- Não é permitido comer, beber, fumar, manusear lentes de contato, aplicar cosméticos ou armazenar alimentos para consumo nas áreas de trabalho. Os alimentos deverão ser guardados fora das áreas de trabalho em armários ou geladeiras específicos para tal fim;

- Todos os procedimentos devem ser realizados cuidadosamente a fim de minimizar a criação de borrifos ou aerossóis;

- As superfícies de trabalho devem ser descontaminadas, pelo menos, uma vez ao dia e sempre depois de qualquer derramamento de material viável.

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6.3.2 Práticas especiais

- O t�cnico respons�vel pelo laborat�rio dever� assegurar a capacita��o da equipe em rela��o �s medidas de biosseguran�a;

- Deve-se sempre tomar uma enorme precau��o em rela��o a qualquer objeto perfurocortante, incluindo l�minas, tubitos, vidros quebrados, lancetas, agulhas. Vidros quebrados n�o devem ser manipulados diretamente com a m�o, devem ser removidos por outros meios, tais como vassoura e p� de lixo e pin�as. Os objetos devem ser descartados em coletores para res�duos hospitalares.

6.3.3 Equipamentos de segurança

- No interior do laborat�rio, os freq�entadores dever�o utilizar jalecos, aventais ou uniformes pr�prios, para evitar contamina��o ou sujeira de suas roupas normais. Antes de sair do laborat�rio para �reas externas, a roupa protetora deve ser retirada e deixada no laborat�rio;

- Recomenda-se o uso de luvas para os casos de rachaduras ou ferimentos na pele das m�os. Luvas descart�veis n�o poder�o ser lavadas, reutilizadas ou usadas para tocar superf�cies “limpas” (teclado, telefones, etc.) e n�o devem ser usadas fora do laborat�rio.

6.3.4 Instalações laboratoriais

- Os laborat�rios dever�o possuir portas para o controle de acesso;- Cada laborat�rio dever� conter uma pia para lavagem das m�os;- O laborat�rio deve ser projetado de modo a permitir f�cil limpeza.

Carpetes e tapetes n�o s�o apropriados para laborat�rios;- � recomend�vel que a superf�cie das bancadas seja imperme�vel �

�gua e resistente ao calor moderado e aos solventes org�nicos, �cidos, �lcalis e qu�micos usados para a descontamina��o da superf�cie de trabalho e do equipamento;

- Os laborat�rios dever�o ser constru�dos em salas pr�prias, afastados de passagens p�blicas e �reas de atendimento a pacientes;

- Paredes, teto e ch�os devem ser lisos, sem juntas, para f�cil limpeza e desinfec��o, al�m de resistentes a produtos qu�micos. No caso de manipular insetos vivos, superf�cies sem juntas facilitam a captura. Revestimentos sugeridos para piso: alta resist�ncia resinado; parede: alvenaria de tijolo ou de concreto celular revestida com pintura acr�lica; divis�rias em gesso acartonado revestidas com pintura acr�lica; teto: gesso com pintura acr�lica, laje de concreto ou pr�-moldada e argamassa com pintura acr�lica, gesso acartonado com pintura acr�lica;

- Teto, ch�o e paredes devem ser claros, para facilitar a visualiza��o e captura de insetos que porventura escapem;

- Dever�o ser seladas quaisquer perfura��es no teto, parede e piso a fim de serem evitados locais de esconderijo para os insetos, as portas devem ter fechamento autom�tico e os cantos das paredes devem ser arredondados;

- A digita��o dos boletins deve estar localizada fora dos laborat�rios. N�o necessita sala exclusiva. Caso for instalada na sala ao lado dos laborat�rios, poder� ser feita porta de passagem na parede;

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- O piso do laboratório não deve possuir ralo, pois pode servir como local de postura ou fuga para os insetos;

- As instalações elétricas e hidráulicas devem ser posicionadas de forma a não facilitar o surgimento de esconderijos (canos preferencialmente embutidos nas paredes).

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7 MICROSCOPIA

7.1 Instruções para uso e limpeza de microscópios

7.1.1 Componentes ópticos e mecânicos do microscópio

Existem diversos tipos de microsc�pios, dependendo da fun��o para a qual se destinam. Para o exame de larvas o mais utilizado � o tipo bacteriol�gico, binocular, com sistema de ilumina��o incorporado e regul�vel.

O microsc�pio tem uma parte mec�nica com os seguintes componentes: bra�o ou estativa, ao qual est�o ligados o mecanismo coaxial e bilateral de focaliza��o macro/microm�trica (parafuso de corre��o di�ptrica), o rev�lver ou porta-objetivas, o corpo binocular com ajuste interpupilar, o diafragma-�ris, o parafuso do condensador, o parafuso de avan�o lateral-frontal do carro ou charriot, o porta-filtro, a presilha ou garra de l�mina, a platina e a base ou p� do equipamento (Figura 27). H� uma parte situada acima da platina e que corresponde ao sistema para aumento e resolu��o, composta por prismas, lentes oculares e objetivas. Outra parte, abaixo da platina, serve para a ilumina��o, possuindo fonte de luz incorporada e regul�vel ou sistema convencional com espelho.

Geralmente, o microsc�pio � equipado com um ou dois pares de lentes oculares – para amplia��o de 10 vezes (10x) e/ou 7x. O corpo binocular possui prismas que, ap�s realizado o ajuste da dist�ncia interpupilar, levam a imagem ao observador.

As objetivas formam a imagem dos objetos aumentada pelas lentes oculares, adaptadas numa pe�a circular chamada rev�lver. S�o em n�mero de quatro e proporcionam aumentos de 4x, 10x, 40x e 100x (este �ltimo necessita de imers�o em �leo adequado). A amplia��o final da imagem � o resultado do produto das amplia��es produzidas pelas oculares e objetivas. Por exemplo, 7x (na ocular) multiplicado por 4x (na objetiva) gera uma amplia��o de 28 vezes.

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Figura 27: Componentes do microscópio

Oculares decampo amplo

Ajuste interpupilar

Cabeçote binocularde observação

Prismas

Estativa

Revólverou portaobjetivas

ObjetivasGarra delâmina

Charriot

Botãomacrométrico

Botão micrométrico

Interruptor principalBase

Lâmpada debaixa voltagem

Ajuste verticaldo condensador

Controle deslizante paravariação da intensidade de luz

Diafragmade abertura

Condensador

Platina

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7.1.2 Técnicas de utilização do microscópio

- Colocar a lâmina entre as presilhas da platina mecânica, verificando se ficou firmemente presa à barra móvel da mesma;

- Ajustar a posição da lâmina de modo que uma área do material coincida com o orifício de iluminação da platina;

- Regular o sistema de iluminação do microscópio, fechando um pouco o diafragma-íris ou abaixando o condensador. Regular a intensidade da luz através do reostato ou do balão de vidro, se for o caso;

- No momento de observação das larvas, inicie sempre pela objetiva de menor aumento. Mova o botão macrométrico para obter a imagem, assim que a imagem aparecer, complete a focalização com o botão micrométrico.

7.1.3 Cuidados com o microscópio

7.1.3.1 Limpeza

- Não manusear o equipamento com as mãos sujas ou molhadas;- Jamais comer ou beber próximo ao equipamento;- Na rotina de limpeza, ater-se apenas às partes de fácil acesso, que

não necessitam o uso de ferramentas para serem abertas. Oculares e objetivas não devem ser desmontadas, mesmo as que são montadas apenas por sistema de rosca;

- Limpar freqüentemente as oculares com lenço de papel fino, pois o contato com os cílios e mesmo poeira podem sujá-las. Nunca toque as lentes com os dedos, pois gordura atrai poeira;

- Para limpeza de eventuais manchas de gordura, dedos, limpar as lentes com solução de limpeza 50% éter sulfúrico PA, 50% clorofórmio PA. Umedecer um cotonete com solução de limpeza, e iniciar a aplicação pelo centro da lente, fazendo-se um movimento em espiral, tomando cuidado para não inundar as lentes;

- Caso as lentes estejam com fungo, utilizar água oxigenada 10 volumes, executando-se o mesmo procedimento citado no item anterior;

- Para retirar poeira da face posterior da objetiva, usa-se um pincel de pêlo muito macio;

- Não utilizar a solução de clorofórmio e éter em plásticos, pois isto irá danifica-los, Alguns microscópios possuem filtros e lentes de plástico ou acrílico;

- Não utilizar solventes como álcool, xilol, toluol e acetona, pois esses podem infiltrar-se entre as lentes e dissolver o verniz utilizado para colar as lentes;

- A parte mecânica pode ser limpa com flanela. A lubrificação dos sistemas mecânicos é feita com vaselina, não sendo recomendável utilizar óleo;

- É recomendável uma manutenção preventiva por ano, a qual deve ser feita por técnicos especializados.

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7.1.3.2 Armazenamento

O microsc�pio, quando n�o est� em uso, merece cuidados especiais para evitar a forma��o de fungos:

- Ap�s o uso do microsc�pio, conserv�-lo sob uma capa protetora, que n�o dever�o ser de pl�stico, pois estas ret�m a umidade, mas sim de pano ou qualquer outro tecido que permita a aera��o do aparelho e que n�o soltefiapo;

- A utiliza��o de estufas de madeira, dotadas de l�mpada de 25 W constantemente acesa, � mais eficiente que o uso de capas protetoras.

7.1.3.3 Transporte

- Transportar sempre o microsc�pio pelo bra�o, com apoio da m�o sob a base, e nunca pelos parafusos;

- Nunca desloque o aparelho com a l�mpada acesa ou logo ap�s ter sido apagada;

- Em caso de transportes mais longos colocar o aparelho em sua caixa original (madeira ou isopor).

7.2 Orientações para montagens e identificação de larvas e pupas do Programa de Controle da Dengue

- Separar os boletins FAD dos tubitos, conferir n�mero de amostras com n�mero de etiquetas;

- Retirar o algod�o do tubito, com espeto ou agulha de croch�, colocar as larvas e ou pupas na placa de Petri com �lcool 70%;

- Com um pincel fino, colocar larva por larva (ou pupa) na l�mina, o mais pr�ximo poss�vel uma das outras, sempre com um pouco de �gua para n�o secar e danificar, sendo no m�ximo 10 exemplares por l�mina. N�o � necess�rio colocar lam�nula;

- Colocar esta l�mina na posi��o que, ao se visualizar as larvas no microsc�pio, as mesmas estejam com a cabe�a para cima e o sif�o respirat�rio para baixo, para facilitar a identifica��o dos seus aspectos morfol�gicos;

- Ap�s a identifica��o, se for “outros” ou Aedes albopictus, eliminar a amostra, mas antes anotar o resultado no boletim FAD e na etiqueta de remessa de esp�cimes, caso esta amostra não seja selecionada para o controle de qualidade;

- Quando o resultado for Aedes aegypti, anotar o resultado com caneta vermelha no boletim FAD e na etiqueta, separar a amostra para revis�o e preencher o boletim de foco.

Quando as fases imaturas estiverem no primeiro e segundo est�dios, recomenda-se colocar a lam�nula sob a larva e observar na objetiva de 40x. Para facilitar a identifica��o, as mesmas podem ser fixadas com esmalte incolor para unhas. Para a fixa��o as larvas devem estar secas.

Para larvas que apresentam colora��o escura de dif�cil visualiza��o ao microsc�pio, recomenda-se, com o aux�lio de estilete entomol�gico ou agulha de insulina, fazer um corte no s�timo segmento abdominal, separando este segmento do restante da larva (Figura 28). Fazer uma leve press�o com a agulha para retirar a sujeira do segmento, retirar o excesso de umidade com

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lenço de papel, colocá-lo na lâmina e fixá-lo com esmalte incolor e recobrir com a lamínula, fazendo uma leve pressão para distribuição homogênea do esmalte. Após seca e montada a lâmina já está pronta para ser levada ao microscópio.

Figura 28: Corte no segmento abdominal

7.3 Instruções para montagem de adultos

Um pequeno triângulo de cartolina branca é colocado em um alfinete entomológico com auxílio de um suporte de isopor ou cortiça. Coloca-se então uma pequena gota de esmalte de unhas incolor na ponta livre do triângulo. A seguir encosta-se, com cuidado, essa ponta no tórax do mosquito, de maneira que a maior parte das pernas fique posicionada na direção do alfinete.

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8 BOLETINS

Nas atividades de rotina dos laboratórios de entomologia são utilizados os boletins de foco, semanal e FAD 1, 2 e 3.

8.1 Boletim de foco

Quando é identificada, pelo técnico de laboratório, uma larva ou adulto de Aedes aegypti, deverá ser preenchido, na data da identificação, o Boletim de Foco (Lab 1) (Figura 29).

8.1.1 Instruções para preenchimento dos boletins de foco

Gerência de Saúde de: preencher, por extenso o nome da Gerência a qual o laboratório de entomologia pertence;

Município: anotar o nome do município ao qual pertence a amostra positiva para Aedes aegypti;

Localidade: anotar o nome do bairro pertencente ao município onde foi encontrada a amostra positiva para Aedes aegypti;

Endereço: anotar o endereço onde foi encontrada a amostra positiva;

Q.: anotar, em algarismos arábicos, o número do quarteirão onde foi encontrada a amostra positiva;

Tipo imóvel: anotar o tipo de imóvel onde foi coletada a amostra positiva;

Tipo dep. : anotar o tipo de depósito em que foi coletada a amostra positiva;

Data ent. : dia, mês e ano em que a amostra entrou no laboratório;

Data exame: dia, mês e ano em que o técnico examinou a amostra;

Data coleta: dia, mês e ano em que a amostra foi coletada em campo;

Nº. de F. AQ. : anotar, em algarismos arábicos, o número de exemplares de Aedes aegypti examinados, que se apresentam na fase larvária e na fase pupa;

Nº. de AD. : anotar, em algarismos arábicos, o número de exemplares de Aedes aegypti examinados, que se apresentam na fase adulta;

Data: dia, mês e ano em que os exames foram feitos;

Técnico: nome do(s) técnico(s) responsável(eis) pelo exame;

Assinatura: assinatura do(s) técnico(s) responsável(eis) pelo exame;

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Figura 29: Boletim de Foco

RELATÓRIO DIÁRIO DE FOCOS DE Aedes aegypti 200_

GERÊNCIA DE SAÚDE DE:

MUNICÍPIO LOCALIDADE ENDEREÇO Q. TIPO TIPO DATA DATA DATA Nº DE DF 1º CICLO 2º CICLO

IMÓVEL DEP. ENT. EXAME COLETAF.

AQ. AD. IN TERM IN TERM IN TERM

LAB. 01

TÉCNICO: DATA: ____/____/_________ASSINATURA: ____________________________

ESTADO DE SANTA CATARINASECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESISTEMA ÚNICO DE SAÚDE SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEDIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAGERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA

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8.2 Boletim semanal

Para acompanhamento da produção laboratorial, pelo nível central, os técnicos devem preencher o Boletim Semanal (Lab 2) (Figura 30). O mesmo é preenchido, ao final de cada semana epidemiológica, com o número total de tubitos, formas aquáticas e ou adultos examinadas por município por dia.

8.2.1 Instruções para preenchimento dos boletins semanais

Gerência de saúde de: preencher, por extenso o nome da Gerência a qual o laboratório de entomologia pertence;

Semana epid: preencher em algarismos arábicos o número da semana epidemiológica correspondente ao período em que foram feitas as identificações. Consultar o Calendário de Notificação para o ano corrente;

Data: dia, mês e ano em que os exames foram feitos;

Município: anotar o(s) nome(s) do(s) município(s) que tiveram tubitos analisados naquela data;

Nº. tubitos ex: preencher o número correspondente ao total de tubitos que foi examinado daquele município, naquela data;

Fase aquática: corresponde aos exemplares examinados que se apresentam na fase larvária e na fase pupa;

EX: anotar o número de exemplares da fase aquática (larva + pupa) examinados. Contar cada indivíduo contido no tubito. Não utilizar o recurso de média, estimativa ou porcentagem para expressar essa quantidade;

AEGY: preencher o número de exemplares examinados e identificados como Aedes aegypti;

ALB: preencher o número de exemplares examinados e identificados como Aedes albopictus;

ADULTO: corresponde aos exemplares examinados na forma adulta;

EX: anotar o número de exemplares adultos examinados;

AEGY: anotar o número de exemplares adultos examinados e identificados como Aedes aegypti;

ALB: anotar o número de exemplares adultos examinados e identificados como Aedes albopictus;

Total: somar o total da semana do número de tubitos e do número de exemplares examinados;Técnico: nome do(s) técnico(s) responsável(eis) pela atividade.

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Figura30: Boletim Semanal

RELATÓRIO SEMANAL DAS ATIVIDADES DO LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA - 200_

GERÊNCIA DE SAÚDE DE: SEMANA EPID:

DATA MUNICÍPIO Nº DE FASE AQUÁTICA ADULTOS

TUBITOS EX AEG ALB EX AEG ALB

TOTALLAB 02TÉCNICO:_____________________________________________

ESTADO DE SANTA CATARINASISTEMA ÚNICO DE SAÚDESECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEDIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAGERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA

Page 59: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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8.3 FAD

No Programa de Controle da Dengue, para a descrição das informações coletadas nas atividades de campo, são utilizados os boletins FAD (Febre Amarela e Dengue). Dependendo do tipo de atividade existe um boletim específico:

Boletim diário (FAD 1): para atividades de PE (Ponto Estratégico) ePVE (Pesquisa Vetorial Especial), DF (Delimitação de Foco), Li + T (levantamento de índice + tratamento) (Figura 31);

Boletim de armadilha (FAD 3): para atividades de pesquisa em armadilhas (Figura 32).

Em caso de encontro de larvas e ou adultos de mosquitos, em algumas dessas atividades, os boletins (FAD 1 , FAD 3) são encaminhados ao laboratório de entomologia, juntamente com as amostras armazenadas em tubitos, para identificação, e a etiqueta de remessa de espécimes (FAD 2)(Figura 33).

Após o preenchimento dos boletins as informações são digitadas emum banco de dados informatizado chamado SISFAD (Sistema de Informação Febre Amarela e Dengue).

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59Figura 31: Boletim Diário (FAD 1) - frente

Page 61: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

60Figura 31: Boletim Diário (FAD 1) - verso

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61Figura 32: Boletim de Armadilha (FAD 3)

Page 63: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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Figura 33: Etiqueta para remessa de espécimes (FAD 2)

8.3.1 Instruções para preenchimento dos boletins FAD

8.3.1.1 Boletim Diário (FAD 1)

No boletim diário o técnico de laboratório é responsável por preencher os itens do campo Resumo do Laboratório que se encontra no verso:

Nº. e seq dos quarteirões com Aedes aegypti: preencher com o número do(s) quarteirão(ões) e as seqüências com presença do Aedes aegypti;

Nº. e seq dos quarteirões com Aedes albopictus: preencher com o número do(s) quarteirão(ões) e as seqüências com presença do Aedes albopictus;

Nº. depósito com espécimes por tipo: preencher com a soma dos depósitos positivos por espécimes e por tipo de depósito;

Nº. de imóveis com espécimes por tipo: preencher com a soma dos imóveis positivos por espécime por tipo de depósito;

Nº. de exemplares: preencher com o número de exemplares de larvas, pupas e adultos por espécime;

Data da entrada: dia, mês e ano da entrada do material no laboratório;

Data da conclusão: dia, mês e ano da realização do exame;

Laboratório: preencher com o nome do laboratório onde foi realizado o exame da amostra;

Assinatura: preencher com a assinatura do técnico que realizou os exames.

Page 64: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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8.3.1.2 Boletim de Armadilha (FAD 3)

Os seguintes itens do boletim deverão ser preenchidos pelo técnico de laboratório:

Laboratório Quantidade Ovos: não preencher este item;

Laboratório Quantidade Larvas: preencher com a quantidade de larvas do tubito correspondente;

Laboratório Espécie Aeg.: preencher com a quantidade de larvas de Aedes aegypti do tubito correspondente;

Laboratório Espécie Alb.: preencher com a quantidade de larvas de Aedes albopictus do tubito correspondente;

Laboratório Espécie Outras: preencher com a quantidade de larvas de outrasespécies do tubito correspondente;

Total de ovos: não preencher este item;

Total de larvas: preencher com número total de larvas correspondente a todos os tubitos;

Total de aeg.: preencher com o número total de larvas, identificadas como Aedes aegypti, correspondente a todos o tubitos;

Total de alb.: preencher com o número total de larvas, identificadas como Aedes albopictus, correspondente a todos o tubitos;

Total de outras: preencher com o número total de larvas, identificadas comosendo de outras espécies, correspondente a todos os tubitos;

Assinatura do laboratorista: preencher com a assinatura do técnico que realizou os exames.

8.3.1.3 Etiqueta de remessa de espécimes (FAD 2)

Os itens a serem preenchidos pelo técnico de laboratório são:

Aedes aegypti Larvas: preencher com o número de larvas identificadas como Aedes aegypti, do tubito correspondente;

Aedes aegypti Pupas: preencher com o número de pupas identificadas como Aedes aegypti, do tubito correspondente;

Aedes albopictus Larvas: preencher com o número de larvas identificadas como Aedes albopictus, do tubito correspondente;

Aedes albopictus Pupas: preencher com o número de pupas identificadas como Aedes albopictus, do tubito correspondente;Outras Larvas: preencher com o número de larvas identificadas como sendo de outra espécie, do tubito correspondente;

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Outras Pupas: preencher com o número de pupas identificadas como sendo de outra espécie, do tubito correspondente;

Após ser preenchida envolvê-la no tubito correspondente caso seja encaminhada para o controle de qualidade.

8.4 Fluxograma para encaminhamento dos boletins

8.4.1 Boletim de foco

O mesmo deverá ser encaminhado imediatamente após o preenchimento, via e-mail: [email protected], conforme fluxograma abaixo (Figura 34).

8.4.2 Boletim semanal

O mesmo deverá ser encaminhado ao término de cada semana epidemiológica, na segunda-feira subseqüente, via e-mail: [email protected], à Diretoria de Vigilância Epidemiológica/GEZOO/DVRH (Figura30).

Figura 34: Fluxograma para encaminhamento dos boletins semanal e de foco

Page 66: Guia de orientação para treinamento de técnicos de laboratório de

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8.4.3 FAD

8.4.3.1 Boletim diárioApós o término do preenchimento do boletim diário devolvê-lo,

preferencialmente no mesmo dia, ao município de origem da amostras.

8.4.3.2 Boletim de armadilha

Após o término do preenchimento do boletim de armadilha entregá-lo ao responsável por sua digitação no programa SISFAD.

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9 CONTROLE DE QUALIDADE

A atividade de Controle de Qualidade nos laborat�rios de entomologia do estado tem a finalidade de aprimorar as a��es de controle da Dengue.

O mesmo consiste na revis�o, pelo n�vel central, das amostras de larvas identificadas nos laborat�rios regionais e municipais, objetivando assegurar a qualidade dos resultados da identifica��o.9.1 Procedimentos para controle de qualidade no laboratório de entomologia

1- Selecionar todos os tubitos positivos para Aedes aegypti identificados no per�odo de cada semana epidemiol�gica;2- Selecionar, aleatoriamente, 10% dos tubitos negativos para Aedes aegypti identificados no per�odo de cada semana epidemiol�gica. Sugerimos fazer a triagem diariamente, a fim de evitar ac�mulo de amostras no final da semana;3- Manter a etiqueta para remessa de esp�cimes preenchida junto com o tubito;4- Preencher o boletim de remessa de larvas (Lab 3 e 4) (Figuras 35 e 36);5- Acondicionar adequadamente as amostras embrulhando os tubitos em papel e colocando-os em caixa de papel�o;6- Remeter na segunda-feira subseqüente via malote para:

Diretoria de Vigil�ncia Epidemiol�gicaLaborat�rio de Entomologia Rua Esteves Junior, 390. 1.� andar, Centro – Florian�polis – SCCEP 88015-130 Fone/Fax: 3664-7400

Caber� ao laborat�rio da DIVE a revis�o das amostras e o retorno dos resultados

Exemplo:

Segunda-feira o laborat�rio recebeu 158 tubitos, sendo que dois foram positivos para Ae. aegypti:

- Separar os dois tubitos positivos para remeter;- Selecionar 10% : total de tubitos – tubitos positivos para Ae. aegypti X 0,10

158 – 2 X 0,10: 15,6

Crit�rios de arredondamento: casa decimal de 1 a 5, manter o algarismo;casa decimal de 6 a 9, arredondar para cima.

Assim, dever�o ser selecionados aleatoriamente 16 tubitos;

- Enviar os tubitos selecionados com a etiqueta de remessa e a ficha de amostras para controle de qualidade preenchida.

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Figura 35: Boletim de remessa de larvas para laboratórios municipais

ESTADO DE SANTA CATARINASECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEDIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAGÊRENCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA

BOLETIM DE REMESSA DE LARVAS PARA REVISÃO

Município: ________________________________________________________________________

Semana Epidemiológica: ____________________________

Nº. daAmostra Municípo Localidade

Data

Coleta

Data De

Exame

RESULTADO MUNICIPAL REVISÃO REGIONALNº. de Larvas Nº. de Larvas

Aegypti Albopictus Outros Aegypti Albopictus Outros Data da RevisãoLarva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa

LAB. 04_____________________________________________NOME e ASS. LABORATORISTA MUNICIPAL

_____________________________________________NOME e ASS. LABORATORISTA DA REGIONAL

Data de envio: ____/____/____

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Figura 36: Boletim de remessa de larvas para laboratórios regionais

ESTADO DE SANTA CATARINASECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEDIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAGÊRENCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E ENTOMOLOGIA

BOLETIM DE REMESSA DE LARVAS PARA REVISÃO

Gerencia de Saúde: ________________________________________________________________________

Semana Epidemiológica: ____________________________

Nº. daAmostra Municípo Localidade

Data

Coleta

Data De

Exame

RESULTADO REGIONAL REVISÃO LABORATÓRIO CENTAL - DIVE Nº. de Larvas Nº. de Larvas

Aegypti Albopictus Outros Aegypti Albopictus Outros Data da RevisãoLarva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa Larva Pupa

LAB. 03_____________________________________________

NOME e ASS. LABORATORISTA REGIONAL _____________________________________________

NOME e ASS. LABORATORISTA DA DIVE

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9.2 Instruções para preenchimento do boletim de remessa de larvas para revisão

Gerência de Saúde ou Município: preencher, por extenso, o nome da Gerência ou Município a qual o laboratório de entomologia pertence;

Semana Epidemiológica: preencher em algarismos arábicos o número da semana epidemiológica correspondente ao período em que foram separadas as amostras para revisão. Consultar o Calendário de Notificação para o ano corrente;

Nº. da amostra: preencher em algarismos arábicos o número da amostra que está na etiqueta de remessa de espécimes;

Município: anotar o nome do município em que foi coletada a amostra;

Localidade: anotar o nome da localidade em que foi coletada a amostra;

Data da coleta: dia, mês e ano em que a amostra foi coletada no campo;

Data do exame: dia, mês e ano em que a amostra foi analisada no laboratório;

Resultado: preencher em algarismos arábicos o número de larvas e ou pupas, por espécie (Aegypti, Albopictus ou Outros), de cada amostra;

Nome e Ass. Laboratorista: preencher o nome e a assinatura do técnico de laboratório responsável pela análise das amostras;

Data de envio: dia, mês e ano em que as amostras serão enviadas para revisão.

Os demais itens serão preenchidos pelos técnicos do laboratório de entomologia da DIVE responsáveis pela revisão.

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10 SUGESTÕES

10.1 Sugestões de sites para pesquisa bibliográfica

www.scielo.br

www.saude.gov.br/svs

www.bvsalutz.coc.fiocruz.br

www.bvsdip.bvs.br

www.bireme.br

http://memorias.ioc.fiocruz.br

10.2 Sugestões de bibliografias

CONSOLI, R. A. G. B.; OLIVEIRA, R. L. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. São Paulo: FIOCRUZ, 1994.

FORATTINI, O. P. Culicidologia Médica. São Paulo, EDUSP, 1996. v. 1 546p.

FORATTINI, O. P. Culicidologia Médica. São Paulo, EDUSP, 2002. v. 2 864p.

MARCONDES, Carlos Brisola. Entomologia médica e veterinária. São Paulo,Atheneu, 2001. 432 p.

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11 GLOSSÁRIO

Agente etiológico: é a denominação dada ao agente causador de uma doença.

Alado: fase adulta do vetor, presença de asas.

Antropofilia: preferência dos vetores a se alimentar do ser humano.

Arbovirose: o termo arbovirose deriva da expressão inglesa ARthropod BOrne VIRUSES para designar grupo de doenças virais, cujos agentes etiológicos são tranportados por artrópodes.

Artrópodes: (do grego arthros: articulado e podos: pés, patas, apêndices) são animais invertebrados caracterizados por possuírem membros rígidos e articulados. São o maior grupo de animais existentes, representados pelos insetos, aracnídeos, crustáceos, quilópodes e diplópodes.

Crepúsculo: são os instantes do nascer do sol (crepúsculo matutino) ou pôr do sol (crepúsculo vespertino).

Endemia: designa-se como endemia qualquer doença espacialmente localizada, temporalmente ilimitada, habitualmente presente entre os membros de umapopulação de caráter mais contínuo e restrito a uma determinada área.

Enzootia: Presença constante ou prevalência usual da doença ou agente infeccioso na população animal de uma dada área geográfica.

Epidemia: uma epidemia se caracteriza pela incidência, em curto período de tempo, de grande número de casos de uma doença.

Epizootia: (do grego clássico: epi, por sobre + zoon, animal) é o conceito utilizado para qualificar uma doença que atinge grande número de animais, ao mesmo tempo e na mesma região, e que se propaga com rapidez.

Eurigâmicas: cópula depende da formação de enxames.

Exúvia: é o nome do esqueleto externo deixado pelos artrópodes quando realizam uma muda (ecdise).

Hematofagia: hábito de se alimentar de sangue.

Hospedeiro: chama-se de hospedeiro o organismo que abriga o agente infeccioso.

Indene: área onde não se tem relato da ocorrência de alguma doença.

Morbidade: é a taxa de portadores de determinada doença em relação aosnúmeros de habitantes não doentes, em determinado local e em determinado momento.

Mortalidade: é a taxa de óbitos por determinada doença em relação ao número de habitantes não doentes, em determinado local e em determinado momento.

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Muda: chama-se ecdise ou muda o processo de troca do esqueleto externo dos atrópodes para realizar seu crescimento.

Oviposição: ato do inseto fêmea pôr ovos.

Parasitoses: doenças causadas por organismos parasitas (que sobrevivem às custas de outro organismo).

Reservatório: chama-se de reservatório o organismo que abriga o agente infeccioso.

Susceptibilidade: em ciências da saúde utilizamos susceptibilidade para demonstrar facilidades, ou predisposições que os organismos têm a determinadas doenças ou agravos de saúde.

Vetores: quem transporta o agente infeccioso.

Transmissor: quem transmite o agente infeccioso.

Tubito: pequeno tubo usado para condicionamento de larvas na remessa ao laboratório.

Zoonose: são doenças de animais transmissíveis ao homem e vice-versa.

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12 REFER�NCIAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA. Diretrizes para projetos f�sicos de unidades de controle de zoonoses e fatores biol�gicos de risco. Brasília, 2002.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Guia de Vigil�ncia Epidemiol�gica. 6ª ed. Brasília: MS, 2005. 816p.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Manual de Vigil�ncia da Leishmaniose Tegumentar Americana. 2ª ed. Brasília: MS, 2007. 182 p.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Manual de Diagn�stico Laboratorial da Mal�ria. Brasília: MS, 2005.

CONSOLI, R. A. G. B.; OLIVEIRA, R. L. Principais Mosquitos de Import�ncia Sanit�ria no Brasil. São Paulo: FIOCRUZ, 1994.

FORATTINI, O. P. Culicidologia M�dica. São Paulo, EDUSP, 1996. v. 1 546p.

FORATTINI, O. P. Culicidologia M�dica. São Paulo, EDUSP, 2002. v. 2 864p.

GALATI, E. A. B. Biologia de Phlebotominae – Apostila Curso de Especializa��o em Entomologia M�dica. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

GOMES, A. C., Biologia e Ecologia de Aedes aegypti e Aedes albopictus, São Paulo: USP, 1998.

MARCONDES, Carlos Brisola. Entomologia m�dica e veterin�ria. São Paulo,Atheneu, 2001. 432 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Par�metros de Biosseguran�a para Inset�rios e Infect�rios de Vetores. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005.

SUCAM. Resumo dos principais caracteres morfol�gicos diferenciais do Aedes aegypti e do Aedes albopictus. Brasília, 1989.