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1 GUIA DE ESTUDOS DE SOCIOLOGIA ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL Na sociologia, estratificação social é um conceito que envolve a "classificação das pessoas em grupos com base em condições socioeconômicas comuns... um conjunto relacional das desigualdades com as dimensões econômicas, social, política e ideológica". Quando as diferenças levam a um status de poder ou privilégio de alguns grupos em detrimento de outros isso é chamado de estratificação social. É um sistema pelo qual a sociedade classifica categorias de pessoas em uma hierarquia. A estratificação social é baseada em quatro princípios básicos: 1) É uma característica da sociedade, e não simplesmente um reflexo das diferenças individuais, 2) A estratificação social continua de geração para geração, 3) É universal, mas variável; 4) Envolve não só a desigualdade, mas também crenças. MOBILIDADE SOCIAL Mobilidade social é o movimento de indivíduos, famílias ou grupos através de um sistema de hierarquia social ou Estratificação social. A mobilidade social vertical pode ser: - Ascendente ou ascensão social quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar um grupo economicamente superior a seu grupo anterior; - Descendente ou queda social quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo economicamente inferior. - Horizontal quando a pessoa muda de posição dentro de um determinado grupo, mas permanece no mesmo estrato social. A exemplo disto temos o caso de morador que se torna síndico. Ele não muda substancialmente de renda, status ou poder aquisitivo, mas percebe-se que a posição social dele é maior dentro da esfera simbólica por conta do cargo que ele ocupa. REVOLUÇÕES BURGUESAS E O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade como um objeto, assim como as ciências naturais. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução Industrial que se iniciou no século XVII foi o marco da transição da sociedade feudal para a capitalista e trouxe a substituição do trabalho artesanal, que utilizava ferramentas, pelo trabalho assalariado, em que predominava o uso das máquinas. A produção fabril fez com que houvesse uma grande migração do campo para as principais cidades trazendo o aumento da prostituição, da violência e das doenças de massa. Surgiu o trabalho assalariado, o proletariado, a jornada de trabalho e com isso a organização da classe operária para enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho. Com o ideal burguês de igualdade, fraternidade e liberdade, a Revolução Francesa, que teve início no final do século XVII, representou o final do regime feudal. A burguesia contou com a participação da população de miseráveis das cidades, dos pequenos produtores e comerciantes e dos camponeses explorados pela servidão para destruir a decadente estrutura do Antigo Regime. Mas no lugar dos direitos reservados para aqueles que nascessem nobres, colocou o privilégio social da conquista de riquezas econômicas. Influenciada pelos pensamentos iluministas a burguesia defendia a igualdade jurídica no comercio, mas não igualdade econômica, uma sociedade livre para favorecer o comercio e o direito a propriedade privada. Além disso, era contra o poder da igreja e desejava o avanço da ciência. " O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os avanços do pensamento científico. Para Francis Bacon (1561-1626) a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade cederia lugar para a dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. A partir da observação e experimentação propôs um programa para acumular os dados disponíveis e com eles realizar experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais sobre a sociedade." A sociologia como disciplina científica surgiu no início do século XIX, como uma resposta acadêmica para o novo desafio da modernidade: o mundo estava se tornando cada vez menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o mundo estava aumentando e dispersando. Os sociólogos não só esperavam entender o que mantinha os grupos sociais unidos, mas desenvolver um “antídoto” para a desintegração social. O sistema econômico capitalista criava a possibilidade de mobilidade social para uma grande parcela da população, mas implantava também uma nova forma de interpretação da realidade: Se, por um lado, os indivíduos poderiam se projetar no futuro, conjecturando seu possível sucesso social, o sucesso se tornava comumente irrealizável. POSITIVISMO O positivismo é uma linha teórica da sociologia, criada pelo francês Auguste Comte (1798-1857), que começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o primado da razão, da teologia e da metafísica. Segundo Henry Myers (1966), o "Positivismo é a visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa, mas, sim, confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação". Em outras palavras, os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos externos, como a criação do homem, por exemplo, para buscar explicar coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como no caso das leis, das relações sociais e da ética. Para Comte, o método positivista consiste na observação dos fenômenos, subordinando a imaginação à observação. O fundador da linha de pensamento sintetizou seu ideal em sete palavras: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Comte preocupou-se em tentar elaborar um sistema de valores adaptado com a realidade que o mundo vivia na época da Revolução Industrial, valorizando o ser humano, a paz e a concórdia universal.

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GUIA DE ESTUDOS DE SOCIOLOGIA

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL Na sociologia, estratificação social é um conceito que envolve a "classificação das pessoas em grupos com base em condições

socioeconômicas comuns... um conjunto relacional das desigualdades com as dimensões econômicas, social, política e ideológica".

Quando as diferenças levam a um status de poder ou privilégio de alguns grupos em detrimento de outros isso é chamado de

estratificação social. É um sistema pelo qual a sociedade classifica categorias de pessoas em uma hierarquia. A estratificação social é

baseada em quatro princípios básicos:

1) É uma característica da sociedade, e não simplesmente um reflexo das diferenças individuais,

2) A estratificação social continua de geração para geração,

3) É universal, mas variável;

4) Envolve não só a desigualdade, mas também crenças.

MOBILIDADE SOCIAL Mobilidade social é o movimento de indivíduos, famílias ou grupos através de um sistema de hierarquia social ou Estratificação

social.

A mobilidade social vertical pode ser:

- Ascendente ou ascensão social – quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar

um grupo economicamente superior a seu grupo anterior;

- Descendente ou queda social – quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo

economicamente inferior.

- Horizontal – quando a pessoa muda de posição dentro de um determinado grupo, mas permanece no mesmo estrato social. A

exemplo disto temos o caso de morador que se torna síndico. Ele não muda substancialmente de renda, status ou poder aquisitivo,

mas percebe-se que a posição social dele é maior dentro da esfera simbólica por conta do cargo que ele ocupa.

REVOLUÇÕES BURGUESAS E O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade como um objeto, assim como as ciências

naturais. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa que mudaram completamente o curso que a sociedade estava

tomando na época.

A Revolução Industrial que se iniciou no século XVII foi o marco da transição da sociedade feudal para a capitalista e trouxe a

substituição do trabalho artesanal, que utilizava ferramentas, pelo trabalho assalariado, em que predominava o uso das máquinas. A

produção fabril fez com que houvesse uma grande migração do campo para as principais cidades trazendo o aumento da prostituição,

da violência e das doenças de massa. Surgiu o trabalho assalariado, o proletariado, a jornada de trabalho e com isso a organização da

classe operária para enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho.

Com o ideal burguês de igualdade, fraternidade e liberdade, a Revolução Francesa, que teve início no final do século XVII,

representou o final do regime feudal. A burguesia contou com a participação da população de miseráveis das cidades, dos pequenos

produtores e comerciantes e dos camponeses explorados pela servidão para destruir a decadente estrutura do Antigo Regime. Mas no

lugar dos direitos reservados para aqueles que nascessem nobres, colocou o privilégio social da conquista de riquezas econômicas.

Influenciada pelos pensamentos iluministas a burguesia defendia a igualdade jurídica no comercio, mas não igualdade econômica,

uma sociedade livre para favorecer o comercio e o direito a propriedade privada. Além disso, era contra o poder da igreja e desejava

o avanço da ciência.

" O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os avanços do pensamento científico. Para Francis Bacon

(1561-1626) a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade cederia lugar para a dúvida metódica, a fim

de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. A partir da observação e experimentação propôs um programa para acumular

os dados disponíveis e com eles realizar experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais sobre a sociedade."

A sociologia como disciplina científica surgiu no início do século XIX, como uma resposta acadêmica para o novo desafio da

modernidade: o mundo estava se tornando cada vez menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o mundo estava

aumentando e dispersando. Os sociólogos não só esperavam entender o que mantinha os grupos sociais unidos, mas desenvolver um

“antídoto” para a desintegração social.

O sistema econômico capitalista criava a possibilidade de mobilidade social para uma grande parcela da população, mas

implantava também uma nova forma de interpretação da realidade:

Se, por um lado, os indivíduos poderiam se projetar no futuro, conjecturando seu possível sucesso social, o sucesso se tornava

comumente irrealizável.

POSITIVISMO O positivismo é uma linha teórica da sociologia, criada pelo francês Auguste Comte (1798-1857), que começou a atribuir fatores

humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o primado da razão, da teologia e da metafísica. Segundo Henry Myers

(1966), o "Positivismo é a visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte

externa, mas, sim, confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação".

Em outras palavras, os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos externos, como a criação do homem, por

exemplo, para buscar explicar coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como no caso das leis, das relações sociais e da

ética.

Para Comte, o método positivista consiste na observação dos fenômenos, subordinando a imaginação à observação. O fundador

da linha de pensamento sintetizou seu ideal em sete palavras: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Comte

preocupou-se em tentar elaborar um sistema de valores adaptado com a realidade que o mundo vivia na época da Revolução Industrial,

valorizando o ser humano, a paz e a concórdia universal.

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O positivismo teve fortes influências no Brasil, tendo como sua representação máxima, o emprego da frase positivista “Ordem e

Progresso”, extraída da fórmula máxima do Positivismo: "O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", em plena

bandeira brasileira. A frase tenta passar a imagem de que cada coisa em seu devido lugar conduziria para a perfeita orientação ética

da vida social.

Embora o positivismo tenha tido grande aceitação na Europa e também em outros países, como o Brasil, e talvez seja, a base do

pensamento da sociologia, as ideias de Comte foram duramente criticadas pela tradição sociológica e filosófica marxista, com

destaque para a Escola de Frankfurt.

COMTE E A LEI DOS TRÊS ESTADOS O Teológico: mentalidade mítica- os fenômenos resultam da ação dos deuses.

O Metafísico: contexto da razão filosófica em que se busca explicar a origem e o destino do universo.

O Positivo: contexto do aparecimento da ciência – a maturidade do espírito humano.

ÉMILE DURKHEIM (1858-1917)

“É um FATO SOCIAL toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou

ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independentemente

de suas manifestações individuais.”

ASPECTOS DA TEORIA SOCIOLÓGICA DE DURKHEIM:

· Existem fenômenos sociais que devem ser analisados e demonstrados com técnicas especificamente sociais;

· A sociedade era algo que estava fora e dentro do homem ao mesmo tempo, graças ao que se adotava de valores e princípios

morais;

· As pessoas se educam influenciadas pelos valores da sociedade onde vivem;

· A sociedade está estruturada em pilares, que se manifestam através de expressões (conceito de estrutura);

· Divisão do trabalho social: numa sociedade cada indivíduo deve exercer uma função específica, seguindo direitos e deveres, em

busca da solidariedade social. Desta forma, pode-se chegar ao progresso e avanço para todos.

O MÉTODO FUNCIONALISTA: COMO ESTUDAR OS FATOS SOCIAIS?

Formulação da metodologia funcionalista;

Os fatos sociais (ou as maneiras padronizadas como agimos na sociedade) não existem por acaso: existem porque cumprem

uma função;

Durkheim compara a sociedade a um “corpo vivo”;

Cada órgão cumpre uma função (metodologia funcionalista).

O todo predomina sobre as partes;

As partes (os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade);

Função social: a ligação que existe entre as partes e o todo.

Cada instituição cumpre uma função para o bom funcionamento da sociedade.

É na determinação da função social que as instituições cumprem que o método funcionalista procura explicar sua existência, bem

como das nossas formas de agir.

A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso

social, a vontade coletiva, ou o acordo do grupo a respeito de determinada questão.

Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante

de um acontecimento de caráter patológico e de uma sociedade doente.

FATO SOCIAL NORMAL E PATOLÓGICO

Normal: aqueles fatos que não extrapolam os limites dos acontecimentos mais gerais da sociedade; Reflete os valores e as

condutas aceitas pela maior parte da população.

Patológico: Aqueles fatos que se encontram fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente; Os fatos

patológicos, como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais.

O CRIME

Não existe, pois, fenômeno que apresente de maneira mais irrecusável todos os sintomas de normalidade, uma vez que aparece

estreitamente ligado às condições de toda a vida coletiva.

Não há dúvida que o próprio crime pode apresentar formas anormais; é o que acontece quando, por exemplo, atinge taxas

exageradas;

O que é normal é simplesmente a existência da criminalidade, desde que, para cada tipo social, atinja e não ultrapasse determinado

nível.

O crime é um fator da saúde pública, é parte integrante de toda sociedade sã.

Criminoso: agente regular da vida social normal.

Quando comparamos sociedades estruturalmente semelhantes, e alguns fatos sociais se repetem, temos a indicação de que estes

são fatos sociais "normais", que fazem parte do próprio funcionamento desse sistema. Um exemplo de fato social normal, é quando

as crianças vão desde cedo para a escola.

Se encontrarmos, porém, fatos sociais que só existem em uma sociedade entre várias comparáveis, podemos considerá-los como

"patológicos". Por exemplo, o aumento no número de usuário de drogas.

O SUICÍDIO

O suicídio é, segundo Durkheim, “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo,

executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”.

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Cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre

o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo,

sobre o conjunto da sociedade.

Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio.

• Suicídio Egoísta: é aquele em que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma

individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não

veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver;

• Suicídio Altruísta: é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável.

É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos

a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World

Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.;

• Suicídio Anômico: é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na

sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica,

por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma

situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso

mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem.

É importante ressaltar que as taxas de suicídio altruísta são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor

com as situações.

ANOMIA

Condição do indivíduo caracterizado pela falta de objetivos e pela perda de identidade.

Segundo Durkheim, este estado é em grande medida originado pelas intensas transformações que ocorrem nas sociedades

modernas e que não fornecem novos valores para colocar no lugar daqueles que por elas são demolidos.

Em suma, Durkheim, com o conceito de anomia procura sintetizar a ideia de que o progresso constitui uma ameaça às estruturas

éticas e sociais.

A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo

social moderno.

O conceito foi estabelecido por Émile Durkheim nas suas obras Da Divisão do Trabalho Social e em O Suicídio. Durkheim

emprega este termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de

forma patológica ou "anomicamente." Em seu famoso estudo sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente

da sociedade moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento suicida, sendo a anomia uma

dessas influências.

Durkheim concluiu que o suicídio anômico era causado por uma ausência de regulação social, devido a contextos de mudança

repentina ou de instabilidade na sociedade. A perda no que que diz respeito às normas e desejos, pode perturbar a harmonia da vida

das pessoas, tal como acontece em tempos de convulsões económicas ou de fortes conflitos pessoais.

O termo anomia é também utilizado para designar sociedades ou grupos no interior delas, que sofrem do caos gerado pela ausência

de regras de boa conduta comumente admitidas, implícita ou explicitamente, ou, pior ainda, devido à instalação de regras que

promovem o isolamento ou mesmo a predação ao invés da cooperação.

Individualismo exacerbado

• Os indivíduos passam a se ver como partes isoladas, sem qualquer conexão com a engrenagem maior. Passam a priorizar

suas próprias vontades, e não mais os valores coletivos

• A consequência do individualismo exacerbado é a Anomia Moral (perdem-se os valores comuns pelos quais os indivíduos

podem se orientar. Os interesses individuais e os coletivos não se comunicam mais).

A educação como elemento integrador

• Toda a educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não

chegariam espontaneamente;

• Desde os primeiros anos de vida as crianças são forçadas a beber, comer, dormir em horas regulares; são constrangidas a

terem hábitos higiênicos, a serem obedientes;

• A educação tem justamente por objeto formar o ser social;

• A pressão que sofre a todos os instantes a criança é a própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem.

COESÃO, SOLIDARIEDADE E A CONSCIÊNCIA COLETIVA

• Solidariedade social – responsável pela coesão entre os homens;

• A existência de uma solidariedade social vem da divisão do trabalho; a solidariedade social é um fenômeno completamente

moral;

• A solidariedade social varia de acordo com o tipo de organização social, dada a presença mais forte ou mais fraca da divisão

do trabalho e de uma consciência mais ou menos similar entre os membros da sociedade.

• Consciência Coletiva: “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade

[que] forma um sistema determinado que tem vida própria”;

• Quanto maior é a consciência coletiva, mais a coesão entre os participantes da sociedade refere-se a uma “conformidade de

todas as consciências particulares de tipo comum”, o que faz com que todos se assemelhem.

O PAPEL DA DIVISÃO DO TRABALHO:

• Aumenta simultaneamente a força produtiva e a habilidade do trabalhador;

• É a condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades;

• É a fonte da civilização;

• Função de criar entre duas ou várias pessoas um sentimento de solidariedade.

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• Estabelece uma ordem social e moral sui generis: indivíduos que, sem isso, seriam independentes, estão ligados uns aos

outros/conjugam seus esforços/são solidários.

SOLIDARIEDADE SOCIAL

Solidariedade Mecânica Solidariedade Orgânica

Laço de solidariedade Consciência Coletiva Divisão social do trabalho

Organização social Sociedade Fragmentada Sociedade coesa

Solidariedade Mecânica:

• Liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário;

• A sociedade é um conjunto mais ou menos organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo: É O

TIPO COLETIVO;

• A consciência individual é uma simples dependência do tipo coletivo: o indivíduo não se pertence os direitos pessoais não

se distinguem dos reais;

• Só pode ser forte na medida em que as ideias e as tendências comuns a todos os membros da sociedade ultrapassam as que

pertencem pessoalmente a cada um deles.

• Total predomínio do grupo sobre os indivíduos;

• Forte semelhança entre os indivíduos, há pouco espaço para a individualidade;

• Os indivíduos vivem em sociedade pelo fato de que eles partilham de uma “cultura comum” que os obriga a viver em

coletividade.

• Nas sociedades em que predomina a solidariedade mecânica, o DIREITO É REPRESSIVO, ou seja, a preocupação primordial

é a punição do sujeito infrator por meio da privação da liberdade, dor ou humilhação.

Solidariedade Orgânica

• A sociedade é um sistema de funções diferentes e especiais que unem relações definidas.

• É produzida pela divisão do trabalho;

• Supõe que os indivíduos difiram entre si;

• Só é possível se cada um tem uma esfera própria de ação e, por conseguinte, uma personalidade;

• O indivíduo depende da sociedade porque depende das partes que a compõem;

• Cada um depende tanto mais da sociedade quanto mais dividido é o trabalho;

• A atividade de cada um é tanto mais pessoal quanto mais especializada;

• A unidade do organismo é tanto maior quanto mais marcada é a individuação das partes

• Nas sociedades mais complexas predomina o DIREITO RESTITUTIVO, ou seja, elas não compreendem um direito fundado

unicamente na punição sem critérios, e a pena possui a intenção de recuperação e reinserção do indivíduo na sociedade.

A sociedade (objeto) é superior ao indivíduo (sujeito);

As estruturas sociais funcionam de modo independente dos indivíduos, condicionando suas ações.

O TODO condiciona as PARTES.

O método científico: Intenção de fazer da sociologia uma ciência “madura”, como as ciências naturais; A realidade social é

idêntica à realidade da natureza: equipara-se aos fenômenos por ela estudados; “a primeira regra [da sociologia] e a mais

fundamental é considerar os fatos sociais como coisas” (1878, p. 94)

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MAX WEBER (1864-1920) A reivindicação fundamental do trabalho de Weber foi mostrar o estatuto ontológico diferenciado das ciências históricas e sociais

diante das ciências da natureza.

Max Weber concorda com o fato de que as ciências humanas lidam com o fenômeno do VALOR.

O sociólogo analisa aqueles elementos da realidade que tem algum sentido para as pessoas, a partir das referências de valor dessas

pessoas. Mas, nem por isso ele rejeitava o valor da imputação causal nas ciências humanas, pois eram um instrumento indispensável

para a explicação dos mecanismos de entendimento da vida social. Em síntese, Weber propunha a unificação das ciências humanas

integrando a "verstehen" (compreensão) e a "erklären" (explicação) em uma visão unitária de ciência.

Como é possível, apesar da existência dos valores, alcançar a objetividade nas ciências sociais?

A sociologia deve levar em conta:

• Compreender a ação social dos seres humanos individualmente.

• As motivações do indivíduo no agir social.

• Não fazer julgamento de valor sobre as ações humanas.

Ação Social

Ação Social é Toda conduta humana dotada de um significado subjetivo (sentido) dado por quem a executa e que orienta essa

ação. Exemplos: moda, consumo, mercado, política, religião, crime, trabalho, etc.

A explicação sociológica busca compreender e interpretar o sentido da ação social, não se propondo a julgar a validez de tais atos

nem a compreender o agente enquanto pessoa.

Compreender uma ação é captar e interpretar sua conexão de sentido, somente a ação com sentido pode ser compreendida pela

Sociologia.

As ações sociais são de quatro tipos ideais:

Tipo ideal é um modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerados essenciais para a determinação da

causalidade, segundo os critérios de quem pretende explicar um fenômeno. O tipo ideal é utilizado como instrumento para conduzir

o autor numa realidade complexa.

1. Ação racional com relação a fins:

- A ação é estritamente racional. Toma-se um fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios

para se realizar um fim;

. Estudar para passar de ano;

. Ser comportado para ganhar prêmio;

. Aplicar na bolsa para ganhar dinheiro.

2. Ação racional orientada por valores:

- Não é o fim que orienta a ação, mas o valor, seja este ético, religioso, político ou estético;

. Ser contra o aborto;

. O Capitão que afunda com o seu navio;

. Não comer carne na Semana Santa;

. Não mentir;

. Não aceitar suborno;

. Cumprir sua palavra.

3. Ação Afetiva:

- A conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja, medo, etc.

. Ter ciúmes do amigo da namorada;

. Vingar-se de uma ofensa recebida;

. Idolatrar pessoas ou artistas famosos;

4. Ação Tradicional:

- É a ação menos consciente, tem como fonte motivadora os costumes e os hábitos arraigados. Totalmente irracional.

. Adoração dos ingleses pela monarquia;

. Votar sempre nos mesmos políticos;

. Fazer o sinal da cruz diante de igrejas.

DURKHEIM X WEBER

Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista do objeto de estudo sociológico:

• Durkheim dirá que a Sociologia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser gerais, exteriores e coercitivos, além de

objetivos, para esta ser chamada corretamente de “ciência”.

• Enquanto Weber optará pelo estudo da ação social, ou seja, condutas dotadas de significados subjetivos. Dessa forma, Weber

direciona seu olhar aos indivíduos.

• Diferentemente de Durkheim, Weber não se apoia nas ciências naturais a fim de construir seus métodos de análises e nem

mesmo acredita ser possível encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do mundo social.

• O interesse de Weber não é, portanto, descobrir regras universais para fenômenos sociais. Mas quando rejeita as pesquisas

que se resumem a uma mera descrição dos fatos, ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as quais são suscetíveis

de entendimento a partir da racionalidade científica.

A ÉTICA PROTESTANTE E O 'ESPÍRITO' DO CAPITALISMO

Considerada a grande obra de Max Weber, é o seu texto mais lido e conhecido. Nela, Weber procurou mostrar que o protestantismo

de caráter ascético dos séculos XVI e XVII tinha um influxo direto com o conceito de vocação profissional, base motivacional do

moderno sistema econômico capitalista.

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O espírito do capitalismo não é caracterizado pela busca desenfreada do prazer e pela busca do dinheiro por si mesmo.

O espírito do capitalismo deve ser entendido como uma ética de vida, uma orientação na qual o indivíduo vê a dedicação ao

trabalho e a busca metódica da riqueza como um dever moral

Na tradução de Martinho Lutero, ao contrário da concepção católica, "vocação" deixa de ter o sentido de um chamado para a vida

religiosa ou sacerdotal e passa a ter o sentido do chamado de Deus para o exercício da profissão no mundo do trabalho.

Com Lutero o ascetismo praticado pelos monges fora do mundo é transferido das celas dos mosteiros para o mundo secular, nasce

daí o ascetismo intramundano.

Vê-se em muitas seitas protestantes e na vida religiosa em geral uma tendência para a racionalização das condutas dos fiéis. Isso,

segundo Weber, foi fundamental para a transformação das práticas econômicas e estruturas das sociedades modernas.

Antigamente: ética dos virtuosos (só minoria “iluminada”). Oriente mais do que Ocidente. Depois da origem das religiões

(êxtase, milagres, etc.), as religiões tendem para a burocracia sacerdotal – viram “igrejas”, com hierarquia (tipo Igreja Católica).

Esta hierarquia com o tempo se afasta dos princípios espirituais que derem origem ao nascimento das religiões.

Com o tempo, as religiões têm que explicar as injustiças sociais terrenas e a razão dos bons sofrerem tanto – daí algumas práticas

religiosas que defendem a salvação pelo sofrimento/fé, como o cristianismo medieval, evitando tais “explicações”.

O Protestantismo mudou tudo isso. Criou uma ética (valores/princípios que orientam a vida em geral) do trabalho como vontade

de Deus e caminho para a salvação

É o contrário do “misticismo” tradicional, que levava a pessoa à “sair do mundo” concreto.

É uma ética nova que penetra todas as relações sociais: vizinho, amigos, pobres, débeis, vida amorosa, política, economia, artes

e lazer (ou falta de tal coisa).

Este novo modo de vida vai mudar toda a concepção de mundo e tornar a religião uma mola para o sucesso pessoal.

PROTESTANTISMO X CAPITALISMO

O Capitalismo surgiu como empreendimento racional – técnicas, direito, comércio, ideologias e ética racional na economia

(ética dos resultados e lucro). Ética calvinista (protestante) era uma constante na Europa mais capitalista. Por quê? Porque era uma

ética que abominava a preguiça, a perda de tempo, a ociosidade, o lazer, o luxo e o excesso de sono.

TEORIA DA DOMINAÇÃO

É necessário que as pessoas obedeçam à autoridade dos detentores do poder, sempre que esta autoridade seja legitimamente

reconhecida, para que o mesmo funcione e/ou exista. E dessa forma percebe-se que a dominação sempre foi e, é uma presença

marcante dentro da sociedade.

A dominação muitas vezes se dá devido às inúmeras formas de interesses, sejam eles nas suas mais variadas formas. E, é claro,

sempre que há indivíduos que estejam prontos a obedecer a ordens de conteúdos determinados. De acordo com Weber “dominação é

a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”.

Weber ainda aponta que, conforme a relação de dominação tem o seu alcance ampliado, torna-se necessária à adoção de

mecanismos que possibilitem a sua eficiência e que garantam a execução de suas ordens, mecanismos estes que geralmente se

apresentam sob a forma de equipes de apoio.

A dominação é sempre resultado de uma relação social de poder desigual, onde se percebe claramente a existência de um lado que

comanda (domina) e outro que obedece.

Podemos assemelhar assim a dominação a qualquer situação em que encontremos indivíduos subordinados ao poder de outros.

Mas a dominação difere das relações de poder em geral por apresentar uma tendência a se estabilizar, a procurar manter-se sem

provocar confrontos. Em outras palavras, as relações de dominação dentro de uma sociedade se caracterizam por buscar formas de

legitimação, de serem reconhecidas como necessárias para a manutenção da ordem social.

Por que e como as relações sociais se mantêm?

Resposta de Weber: por conta da dominação ou produção de legitimidade – submissão de um grupo a um “mandato”, aceitação

de uma “autoridade” (alguém que “representa” o coletivo). Aí, então, entra a questão do “poder”.

Poder é a probabilidade de impor sua vontade. Os meios para alcançá-lo são muito variados: emprego da violência,

palavra/oratória, sufrágio, sugestão, engano grosseiro, tática no parlamento, tradições, etc.

OS TIPOS IDEAIS OU PUROS DE DOMINAÇÃO

1. Dominação Tradicional

É a forma mais antiga de dominação. Basicamente é aceita em nome da tradição e dos níveis de hierarquias, onde o exercício da

autoridade se dá através, por exemplo, do comando do rei aos súditos, do pai aos filhos, dentre outros.

Segundo Weber a dominação tradicional ocorre devido a fatores como: afetividade, respeito, admiração, crença, e até no prazer

de ver o “senhor” feliz ou satisfeito. Assim, com uma inexplicável legitimidade, determina-se que tal hierarquia é inflexível a

mudanças. Essa dominação se estrutura de duas formas distintas, uma quando há obediência devido a dependência dos indivíduos aos

senhores ou quando a hierarquia é estabelecida devido a privilégios de alguns sobre outros.

Weber relaciona a “fidelidade tradicional” para explicar, por exemplo, a dominação patriarcal, onde o respeito e a admiração em

virtude da tradição levam a obediência. Isso leva a entender que existe uma forma de lei moral entre os indivíduos. Assim a dominação

está relacionada diretamente aos costumes, ações cotidianas e valores pessoais.

Weber ainda ressalta a dominação tradicional como sendo uma dominação estável, devido à solidez do meio social e à dependência

direta que a tradição tem com a consciência coletiva. E essa cultura já está enraizada a muito tempo na sociedade e estima-se que

perdure ainda por muito mais.

2. Dominação Carismática

A dominação carismática é influenciada diretamente pelos fatores emocionais e afetivos, e a obediência não é estabelecida por

regra ou cargo, mas sim pela crença nas qualidades do líder, ao caráter sagrado, à força heroica, ao valor exemplar ou ao poder da

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palavra que distingue de modo especial e, é aceita devido a devoção afetiva por parte dos dominados. Esta devoção deve-se ao

reconhecimento que os heróis e demagogos alcançam, convertendo a fé e o reconhecimento em deveres invioláveis que devem ser

seguidos pelos governados.

A dominação carismática se opõe às bases da legitimidade da ordem estabelecida e institucionalizada, onde o líder carismático,

em certo sentido, é sempre revolucionário, na medida em que se coloca em oposição consciente a algum aspecto estabelecido da

sociedade em que atua. Mas para que a autoridade seja estabelecida, é necessário que os seguidores considerem o apelo do líder como

legítimo, estabelecendo-se assim, uma lealdade de tipo pessoal.

Como a obediência a um líder deve-se às suas qualidades pessoais, não há nenhum procedimento ordenado para a nomeação ou

substituição deste e, sendo assim não há carreiras e nem é necessário formação profissional para se obter o carisma. Contudo, a fonte

do poder é estabelecida em cima do novo, do que nunca existiu, carecendo da existência previa de vínculos predeterminados. Tratando-

se de um fenômeno excepcional, a dominação carismática não pode estabilizar-se sem sofrer profundas mudanças estruturais e,

dependendo dos padrões de sucessão que adotar e com a evolução do corpo administrativo, tornar-se-á ou racional-legal ou tradicional,

em algumas de suas configurações básicas.

3. Dominação Racional-Legal

A dominação legal tem como ideia base a existência de um estatuto que pode criar e modificar normas, desde que seu processo

(forma) esteja previamente estabelecido. Portanto, constitui uma relação desprovida de sentimentos, ou seja, baseia-se unicamente no

profissionalismo e na hierarquia da empresa.

Para Weber, o dever da obediência está graduado numa hierarquia de cargos, com subordinação dos inferiores aos superiores,

onde aquele que ordena é o superior. Também quem ordena obedece. Essa forma de dominação é sustentada por regras, regulamentos

e leis. Quando elas falham, valem pontos de vista de conveniência, "sem consideração da pessoa”.

Apesar das condições do mercado de trabalho, o ingresso numa empresa é livre, estando-se, a partir de então, submetido às suas

regras; no entanto, sua renúncia é igualmente livre. O admitido terá a sua submissão regulada por um contrato, configurando-se,

assim, como legal.

Como exemplo de dominação legal pode-se citar o Estado, o município, uma empresa capitalista privada, numa associação com

fins utilitários ou qualquer união em que haja uma hierarquia regulada por um estatuto. Sendo assim, a forma mais pura de dominação

legal é a burocracia, e todo o elemento burocrático é essencial para o trabalho rotineiro.

Os princípios fundamentais da burocracia, segundo Weber são a hierarquia funcional, a administração baseada em documentos, a

demanda pela aprendizagem profissional, as atribuições são oficializadas e há uma exigência de todo o rendimento do profissional.

A obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e

em que extensão se há de obedecer. Weber classifica este tipo de dominação como sendo estável, uma vez que é baseada em normas

que são criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente. Ou seja, o poder de autoridade é legalmente

assegurado.

Weber faz uma analogia entre o desenvolvimento de um Estado Moderno e o da moderna burocracia; também entre a evolução

do capitalismo moderno e a burocratização crescente das empresas econômicas.

KARL MARX (1818-1883) "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo."

“Não se trata de interpretar diferentemente o mundo, mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao

mundo posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente”.

“Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas.

Têm um mundo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!” (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Manifesto do

Partido Comunista - 1848)

MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

Karl Marx nasceu na Alemanha, em 1818. Formou-se em Direito e doutorou-se em Filosofia, apesar de nunca ter exercido o

magistério. Trabalhou como jornalista e exilou-se na França até se fixar, definitivamente, em Londres, onde faleceu em 1883. Dentre

suas obras destacam-se: O manifesto do partido comunista e A ideologia alemã – escritas em parceria com Friedrich Engels –, O

dezoito de brumário de Luís Bonaparte, A miséria da Filosofia, Contribuição à crítica da economia política e O Capital.

Seu pensamento foi fruto de três grandes teorias: a filosofia alemã (especificamente de Hegel), o socialismo francês e a economia

política inglesa.

A filosofia alemã contribuiu com a dialética, daí a razão de o materialismo histórico de Marx, também conhecido como

materialismo dialético. A dialética é uma lógica de entendimento que tem como fundamento a contradição, encadeada em tese, antítese

e síntese. Para Marx, a dialética é um instrumento de entendimento do processo social, que, por sua vez, movimenta a história da

humanidade, por meio de uma constante luta de classes sociais. Como afirmou Marx: “a luta de classes sociais é o motor da História”.

Dessa forma, Marx entendia que a vida humana é marcada por uma relação entre as pessoas e as coisas, ou relações de produção.

Destas se estabeleceram as classes sociais que, basicamente, sempre se definiram em classe dominante, ou proprietária, dos meios de

produção, e a classe dominada, ou não-proprietária, dos meios de produção. Os meios de produção são fundamentalmente terras,

máquinas e ferramentas em geral. Daí sua Sociologia ser conhecida também como materialismo histórico. A luta de classes sociais

se manifesta a partir dos conflitos entre dominados e dominantes, sempre levando em conta o caráter histórico desse processo. Disso

tem-se o chamado modo de produção. Desde o surgimento da propriedade privada, temos tido vários modos de produção, como o

primitivo, o asiático, o escravista, o feudal e o capitalista.

Marx via nesse processo histórico dos modos de produção um sentido evolutivo e, no caso do capitalismo, a classe dominada (os

operários) seria capaz de, por meio de uma união internacional do proletariado, destituir o poder econômico e político da burguesia,

estabelecendo a ditadura do proletariado, que seria responsável pela posse dos meios de produção.

Nesse período de domínio da ditadura do proletariado, haveria o modo de produção socialista ou socialismo. Sem deixar muito

claro como seria a passagem do socialismo para o comunismo, Marx acreditava, como escreveu no seu livro A ideologia alemã, que

o socialismo seria um sistema intermediário entre o capitalismo e o comunismo, sistema este que seria responsável pelo

desaparecimento das classes sociais e, consequentemente, do Estado.

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Assim, poderíamos resumir a sociologia de Marx como uma visão da sociedade através da luta de classes sociais, devido aos seus

interesses antagônicos, sendo o capitalismo mais uma manifestação histórica dessa luta. Os problemas decorrentes desse sistema

socioeconômico só poderiam ser solucionados por meio de uma forma radical: a eliminação do modo de produção capitalista ou

assalariado, a partir de uma revolução proletária internacional contra a burguesia, ou seja, Marx condenava qualquer proposta que

pudesse dar sobrevida ao capitalismo.

MATERIALISMO HISTÓRICO: A INFRAESTRUTURA E A SUPERESTRUTURA

Segundo Marx, é necessária a existência do homem para que este possa pensar, ou seja, primeiro o homem tem que produzir suas

condições materiais e concretas de vida, pelo trabalho, que são os bens necessários à sua existência e à sua sobrevivência. A esse

processo Marx deu o nome de infraestrutura.

Existe uma base econômica na sociedade que está relacionada às formas de produção de bens necessários para a sobrevivência. A

própria sociedade cria necessidades sempre superiores em quantidade e sem qualidade e são essas necessidades crescentes que

incentivam o desenvolvimento constante das forças produtivas. Assim, o trabalho para o homem é ontológico, quer dizer, é

indissociável da existência humana – não é uma opção. É por isso que o modo de produção consiste nas forças produtivas e nas

relações sociais de produção que, juntas, criam a existência numa determinada sociedade.

A desigualdade de propriedade cria contradições que provocam um processo revolucionário. As forças produtivas e as relações

sociais determinadas por elas modificam-se a cada momento, por isso são determinadas historicamente e esse movimento ocorre à

medida que vão aumentando as necessidades. É materialismo porque o homem está produzindo sua existência de forma concreta,

trabalhando e produzindo as coisas da vida e, assim, a cada mudança nessa maneira de produção faz com que mude a maneira de se

viver também. Para Marx, não são os pensamentos que determinam a vida; é a vida que determina os pensamentos. Esta é a base do

materialismo histórico em contraposição ao idealismo hegeliano. Não são as relações sociais que determinam a vida, mas é a vida que

determina as relações sociais. Vivemos de acordo com a nossa época e produzimos os bens necessários para esse modo de viver, a

cada época.

Entretanto, vejamos como, segundo Marx, a realidade aparece invertida e tomada de ideologia. Tendo o poder nas mãos, a

burguesia faz o discurso filosófico que convence os trabalhadores de que a proposta de modernidade seria o melhor para o futuro. O

Estado burguês de direito político, ou, nas palavras de Marx, a superestrutura, institui as ideias de igualdade e liberdade, conseguindo,

com isso, a dominação através de sua ideologia. A burguesia tem poder econômico e consegue tomar o poder político para convencer

a todos que esse é o melhor caminho; essa classe social dominante faz uso de um discurso que consiste na afirmação de que todos

têm direitos iguais, desde que aceitem a relação de exploração.

A superestrutura serve para reafirmar a ideologia de que esse modo de vida é o correto, a fim de manter o sistema. Para tanto, a

Filosofia empresta sua contribuição para a formação do Estado burguês. O poder vem de cima para baixo, dizendo que existe uma lei

e esta tem de ser respeitada. A sociedade é composta de classes opostas. Existem os opressores e os oprimidos, ou seja, aqueles que

detêm o poder e os outros que têm que segui-los. Existe um conflito constante de interesses opostos. A dominação, portanto, é

mascarada, mas está presente. Existe e sempre existiu a luta constante entre interesses opostos.

O Estado, as leis e as normas existem para reproduzir o sistema burguês e com isso promover a alienação da consciência das

classes. A Revolução Industrial acelerou o processo de alienação do trabalhador, dos meios de produção e dos produtos de seu

trabalho. Marx acreditava que, pelo fato de o homem ter perdido sua liberdade em função do trabalho, houve uma desvalorização do

mundo humano, crescente em razão direta da valorização do mundo das coisas, porque o objeto que o trabalho produz, o seu produto,

contrapõe-se-lhe como um ser estranho, como um poder independente do produtor.

Materialismo é um conjunto de doutrinas filosóficas que busca explicações para os problemas diretamente relacionados ao plano

da realidade no mundo material ao longo da história. Uma explicação materialista dentro de uma interpretação marxista, por exemplo,

coloca um problema social do plano real dentro de um modo de produção.

O Materialismo Histórico é uma tese do marxismo, que com auxílio do conceito de modo de produção da vida material busca

explicações para o conjunto de acontecimentos do plano real envolvendo o social, o político, o econômico e o cultural. Trata-se de

um método de compreensão e analise do campo da historiografia. O mesmo que coloca sobre a mesa o conceito de lutas de classes.

Uma análise sobre a ótica do materialismo histórico explica a realidade da seguinte forma: a produção material é o pilar da ordem

social, é algo que sempre existiu em todas as sociedades. A repartição do que é produzido, aliado a divisão dos homens em classes é

determinada pelo o que, e como, a sociedade produz. Um exemplo prático: o modo de produção escravista da antiguidade: o senhor

e seu escravo, o patrício e o plebeu em Roma; o modo de produção feudal: o senhor e o seu servo; e o modo de produção capitalista:

o burguês e o proletariado.

As relações sociais do homem são tidas pelas relações que o homem mantém com a natureza, onde desenvolve suas práticas, ou

seja, o homem se constitui a partir de seu próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condições materiais de

produção, que dependem de fatores naturais (clima, biologia, geografia...) ou seja, relação homem-Natureza, assim como da divisão

social do trabalho, sua cultura. Logo, também há a relação homem-Natureza-Cultura.

Dialética é arte do diálogo, onde é possível demonstrar uma tese através de uma argumentação forte, que consiga distinguir, com

clareza, os conceitos da discussão. É contrapor ideias e delas tirar novas ideias que comprovem o que está sendo dito. Enquanto

Dialético é desenvolvimento de processos por oposições que se resolvem em sínteses temporárias, donde deriva a noção de história

dialética.

A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu"

e só lhes admite a ideia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega

a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento

são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a "verdade" dos momentos superados.

Hegel considerava ontologicamente a contradição (antítese) e a superação (síntese);

Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava

uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente);

Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as

exigências de superação.

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A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é

pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é

contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições,

identidade: "a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam

uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como

coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad.

Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192).

CLASSES SOCIAIS: FORÇAS MOTRIZES E CONCRETAS

As contradições que mantêm entre si forjam e estruturam a própria Sociedade.

Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável ocorre uma revolução, ou rompimento violento entre as classes, o

que resulta na transformação da Sociedade.

A Revolução Francesa (1789) foi uma das expressões dessa transformação.

CRÍTICA AO CAPITALISMO:

O verdadeiro valor de uma mercadoria só pode ser o da quantidade de trabalho necessário para produzir aquela mercadoria – e

nenhuma mercadoria existe sem trabalho. É o chamado “valor trabalho”, muito diferente do preço de mercado. Em linhas gerais,

o capitalismo só pode existir exatamente porque não usa o valor trabalho, mas o preço. A diferença entre os dois é chamada de “mais-

valia” ou “trabalho não pago”, como também gostava de denominar Marx.

Em síntese, para Marx, política é luta de classes e isso ocorreu sempre em todas as épocas da humanidade, porém o modo capitalista

de produção seria o último dessa série de dominadores e dominados, pois o capitalismo trás em si a ganância sem limites.

A acumulação da riqueza pelos burgueses em detrimento do proletariado, através da mais-valia gera no capitalismo o veneno

que há de matar este modo de exploração.

DUAS FORMAS DE EXPLORAÇÃO

1. Mais-valia absoluta: fazer com que trabalhem mais horas recebendo os mesmos salários, o que, claro, aumenta a produção.

Pode ser também uma redução dos salários sem reduzir as jornadas de trabalho, o que causa o mesmo efeito. Nos primórdios do

capitalismo isso era comum, mas ainda existe até hoje.

2. Mais-valia relativa: manter os salários e jornadas de trabalho, mas aumentar a produção através da introdução de novas e

melhores tecnologias e técnicas de administração, o que expande a produção e o trabalho não pago. É a forma por excelência de

exploração do capitalismo mais desenvolvido – o mundo atual, etc.

IDEOLOGIA Expressão criada no começo do século XIX pelo francês Destutt de Tracy com o significado de ciência que tem por objeto o

estudo das ideias. Mais tarde, Karl Marx e Friedrich Engels deram a ela o sentido de consciência social de uma classe dominante,

ou conjunto de ideias falsas e enganadoras destinadas a mascarar a realidade social aos olhos das classes dominadas, encobrindo

as relações de dominação e exploração a que estão submetidas essas classes. Nessa acepção, ideologia teria o mesmo significado de

“falsa consciência”. Atualmente, o termo é empregado com o sentido de conjunto de ideias dominantes em uma sociedade, ou como

“visão de mundo” de uma classe social, de uma sociedade ou de uma época. OLIVEIRA, P. S. de. Introdução à Sociologia. 25. ed.

São Paulo: Ática, 2004.

O conceito de ideologia aparece em Marx como equivalente de ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade

é invertida e as ideias aparecem como motor da vida real.

No marxismo posterior a Marx, sobretudo na obra de Lênin, ganha um outro sentido, bastante diferente: ideologia é qualquer

concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses de certas classes sociais particulares.

Através da ideologia, são construídos (produzidos) imaginários e lógicas de identificação social cuja função seria escamotear o

conflito (entre as classes sociais), dissimular a dominação e ocultar a presença do particular, dando-lhe a aparência de universal.

A ideologia tem funções como a de preservar a dominação de classes apresentando uma explicação apaziguadora para as diferenças

sociais.

Seu objetivo é evitar o conflito aberto entre dominadores e dominados.

A ideologia, portanto, seria uma forma de consciência, mas uma consciência parcial, ilusória e enganadora que se baseia na criação

de conceitos e preconceitos como instrumentos de hegemonia.

Segundo Marx, ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o indivíduo

é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder.

Portanto, a ideologia:

• Constitui um corpo sistemático de representações que nos “ensinam” a pensar e de normas que nos “ensinam” a agir.

• Determina a relação entre os indivíduos e as condições de existência deles adaptando-os às tarefas prefixadas pela sociedade.

• Camufla as diferenças de classe e os conflitos sociais, ora concebendo a sociedade “una e harmônica”, ora justificando as

diferenças existentes.

• Garante a coesão social e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade

de Deus”, do “dever moral” ou simplesmente como decorrência da “ordem natural das coisas”.

• Mantém a dominação de uma classe sobre outra.

É interessante observar que a ideologia não é uma mentira que a classe dominante inventa para subjugar a classe

dominada, porque inclusive os que se beneficiam dos privilégios estão impregnados por ela, e também eles se convencem da

verdade dessas ideias.

CARACTERÍSTICAS DA IDEOLOGIA

1. Naturalização: consiste em aceitar como naturais situações que na verdade resultam da ação humana e, como tais, são históricas.

Por exemplo: afirmar que desde sempre existiam pobres e ricos, sendo impossível mudar esse conceito de estado de coisas.

2. Universalização: os valores da classe dominante são estendidos aos que a ela se submetem.

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3. Abstração e aparecer social: as representações ideológicas não referem ao concreto, mas ao aparecer social.

4. Lacuna: a universalização e a abstração supõem uma lacuna ou a ocultação de algo que não pode ser explicitado, sob pena de

desmascarar a ideologia. Por isso, ela é ilusória, não no sentido de ser “falsa ou errada”, mas por ser uma aparência que oculta a

maneira pela qual a realidade social é produzida.

5. Inversão: a ideologia representa a realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é posto como produto e vice-

versa: o que é efeito é tomado como causa. Exemplo: segundo a ideologia burguesa, a desigualdade social resulta de diferenças

individuais: os indivíduos são desiguais por natureza, e a desigualdade social é, portanto, inevitável. Se o filho do operário não

melhora o padrão de vida, a explicação ideológica atribui o insucesso à incompetência, falta de força de vontade ou indisciplina.

ALIENAÇÃO Os trabalhadores não têm consciência dessa exploração – são alienados – pois tudo funciona como se fosse “natural”. Isso ocorre

porque, no processo de trabalho capitalista, com a divisão social do trabalho [tão elogiada por Durkheim], os trabalhadores não

percebem que são os verdadeiros produtores das riquezas (mercadorias finais) – cada um só se vê fazendo uma pequena parte do

processo, pouco entendendo do processo completo.

A ALIENAÇÃO SOB QUATRO ASPECTOS:

1. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence a outro. Isto tem como consequência que o produto se

consolida, perante o trabalhador, como um “poder independente”, e que, “quanto mais o operário se esgota no trabalho, tanto

mais poderoso se torna o mundo estranho, objetivo, que ele cria perante si, mais ele se torna pobre e menos o mundo interior

lhe pertence”

2. O trabalho deixa de ser uma manifestação essencial do homem, para ser um “trabalho forçado”, não voluntário, mas determinado

pela necessidade externa. Por isso, o trabalho deixa de ser a “satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer

necessidades externas a ele”. O trabalho não é uma feliz confirmação de si e desenvolvimento de uma livre energia física e

espiritual, mas antes sacrifício de si e mortificação. A consequência é uma profunda degeneração dos modos do comportamento

humano;

3. Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se também do gênero humano. (Perda completa da humanidade).

A livre atividade consciente é o caráter específico do homem; a vida produtiva é vida “genérica”. Mas a própria vida surge no

trabalho alienado apenas como meio de vida. A vantagem do homem sobre o animal – isto é, o fato de o homem poder fazer de

toda natureza extra-humana o seu “corpo inorgânico” – transforma-se, devido à alienação, numa desvantagem, uma vez que

escapa cada vez mais ao homem, ao operário, o seu “corpo inorgânico”, quer como alimento do trabalho, quer como alimento

imediato, físico;

4. A consequência imediata desta alienação do trabalhador da vida genérica, da humanidade, é a alienação do homem pelo homem.

“Em geral, a proposição de que o homem se tornou estranho ao seu ser, enquanto pertencente a um gênero, significa que um

homem permaneceu estranho a outro homem e que, igualmente, cada um deles se tornou estranho ao ser do homem”. Esta

alienação recíproca dos homens tem a manifestação mais tangível na relação operário-capitalista.

ALIENAÇÃO E RELIGIÃO

A religião é uma projeção de nossa realidade terrena para um plano superior metafísico.

A religião consiste num mundo fantástico, criado pela mente humana que tenta dar a certos fenômenos naturais um ar

sobrenatural, isto significa que religião com o seu Deus não passa de uma mera ilusão, algo a que não se deve dar crédito.

"A religião é o ópio do povo" (em alemão "Die Religion... Sie ist das Opium des Volkes") é uma citação da Crítica da Filosofia

do Direito de Hegel (em alemão, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie) de Karl Marx, obra publicada em 1844.

Para Marx, é a luta de classes, que pode ser “encoberta” – quando os trabalhadores lutam contra a exploração, mas ainda

não têm muita consciência sobre a necessidade da revolução, etc. – ou “aberta” – quando a revolução está em seu estágio final

e os comunistas dirigem as massas com um projeto claro de transformação social, econômica e política.

Política, então, é para transformar o mundo e não só interpretá-lo.

PRÁXIS Práxis é a atividade do sujeito que de algum modo aproveita algum conhecimento ao interferir no mundo, transformando esse

mesmo mundo ao passo que transforma também a si mesmo.

Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre

de um "drama histórico”.

As relações entre a realidade e as ideias se fundem na práxis.

Sendo a história uma produção humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em que tais ideais brotaram, fazer história

racionalmente é a grande meta.

SOCIALISMO E COMUNISMO Vitoriosa a revolução – Marx não viu nenhuma experiência do tipo – o problema seguinte é como organizar o mundo novo

proposto (comunismo).

Marx dividiu o processo em duas partes distintas: estágio inferior do comunismo (ou SOCIALISMO, como preferem denominar

hoje os marxistas) e estágio superior do COMUNISMO ou fim da história das sociedades divididas em classes.

Na economia, os meios de produção (fábricas, terras, bancos, etc.) tornam-se estatais, ou seja, propriedade coletiva – e, é claro,

são eliminadas a propriedade privada desses meios de produção e a herança (responsável pela reprodução das desigualdades).

A propriedade estatal torna mais “fácil” a planificação da economia visando o interesse de todos e não os privilégios de poucos.

As desigualdades, assim, tendem a desaparecer, pois todos serão empregados de si mesmos – o coletivo – recebendo remuneração

segundo sua contribuição (idéia que Marx tirou de Saint-Simon).

A economia – como não visa lucro e nem se baseia na “anarquia do mercado” – tende a ser muito mais eficiente, gerando, com

o tempo, um avanço espetacular da tecnologia e da produção, uma abundância geral de bens e serviços para todos os homens.

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Por fim, uma ditadura do proletariado contra os que tentarem voltar para o capitalismo (burguesia, trabalhadores ainda

influenciados por idéias burguesas, etc.).

É o fim das classes sociais, da alienação e do trabalho obrigatório – nem mesmo o Estado socialista será necessário.

Sociedade sem classes sociais sem estado/governo (autogoverno dos trabalhadores)

“mera administração das coisas”, pois ninguém vai querer oprimir os outros e muito menos explorar o próximo, já que todos

terão bens materiais “segundo suas necessidades” – citação literal de Marx)

Fim da história das sociedades de classes (ou “pré-história” da humanidade).

Fim da alienação (pois a eficiência produtiva do sistema vai garantir tudo a todos, sumindo a necessidade de processos de

trabalho baseados na divisão imposta de tarefas).

Fim do trabalho obrigatório (pois a eficiência científica e tecnológica, a serviço dos interesses coletivos, eliminará tal

necessidade) e liberdade absoluta (vida livre de imposições).

ALEXIS DE TOCQUEVILLE (1805-1859) “Creio que, em qualquer época, eu teria amado a liberdade; mas, na época em que vivemos, sinto-me propenso a idolatra-la”.

Apesar de viver no mesmo período e mesmo contexto, não partilha das mesmas ideias de Marx. Acredita numa saída política para

os novos desafios sociais, mas não acredita que a revolução seja o caminho para mudar a realidade social. Independente de ser

burguesa ou proletária. Isso porque ele carrega na memória as marcas da Revolução Francesa de 1789.

Não nega a importância da Declaração dos Direitos dos homens e do cidadão, surgida no interior dessa revolução. Mas, também

não esquecia a violência sofrida pela sua família na Revolução Francesa, no período do “grande terror”. Dentre os quais o avô, o

Marquês de Rosanbo, que teve a cabeça decapitada pela Guilhotina e seus pais só não morreram porque o líder jacobino Robespierre

morreu, antes disso acontecer.

Para Tocqueville, antes se deve encontrar um caminho para conciliar o nosso desejo de liberdade com os ideais de igualdade.

Em todos os seus livros, preocupou-se com isso. Tanto é que passaram a chamar essa questão de dilema tocquevilliano: conciliar

a liberdade individual com a igualdade coletiva.

Tocqueville pensa que a mudança não deve vir por via revolucionária, independentemente dos rótulos - burguesa ou proletária -,

pois com muita facilidade desembocam em terror, subtraindo a liberdade.

A mudança deve vir por vias legais. Noutras palavras, o caminho que se deve trilhar passa pelo aprimoramento das leis e do

controle sobre os governantes para que cumpram a função de conduzir responsavelmente a sociedade.

Para encontrar uma resposta para o problema da democracia, fundada nos princípios da liberdade e da igualdade, Tocqueville

visitou os Estados Unidos da América e analisou sua experiência democrática;

Observou pormenorizadamente seus costumes e fez análises comparativas com a experiência francesa: sacrificar a liberdade

individual para garantir uma pretensa igualdade.

GEORG SIMMEL (1858-1918) Simmel preocupou-se em descobrir os padrões de interação que subjazem às formações sociais mais latas (num registo a que hoje

chamaríamos "microssociologia").

A tarefa da sociologia seria não a de estudar globalidades mas sim determinadas dimensões ou aspetos dos fenômenos que, nas

suas formas particulares, são passíveis de ser encontrados nos diferentes contextos humanos. Ao fazer uma abstração do conteúdo

concreto dos fenômenos sociais e ao focalizar as formas que lhes subjazem, torna-se possível comparar fenômenos radicalmente

diferentes no seu conteúdo mas similares na sua forma. Simmel está, deste modo, conotado com a chamada teoria formal.

Concebendo a sociedade como produto das interações individuais, Simmel formula o conceito de "sociação" para designar mais

apropriadamente as formas ou modos pelos quais os atores sociais se relacionam. É importante destacar que as interações sociais e as

relações de interdependência não representam, necessariamente, a convergência de interesses entre os atores sociais envolvidos.

Em seus estudos microsociológicos, Simmel demonstra que as interações sociais podem prefigurar relações conflitivas, relações

de interesse mútuo e relações de subordinação (ou dominação).

O conflito, porém, é concebido por Simmel como algo benéfico porque é um momento que sinaliza o desenvolvimento da tomada

de consciência individual, que teria uma função positiva para sociedade como um todo, principalmente à medida que o conflito fosse

superado, mediante acordos.

Por muito diferentes que sejam os interesses e os propósitos que levam os homens a associar-se, as formas sociais de interação

podem ser idênticas. Há processos de conflito e cooperação, de subordinação e poder, de centralização e descentralização que

atravessam as mais variadas estruturas sociais.

Para Simmel, as formas sociais encontradas no real não são nunca puras.

Consequências do dinheiro: O ensaio intitulado "A filosofia do dinheiro" ("Philosophie des Geldes") foi publicado no ano de 1900 e é considerado um estudo

representativo da perspectiva sociológica adotada por Simmel. Neste estudo, Simmel procurou compreender quais as consequências

da invenção, introdução e difusão social desse meio de troca (simbólica).

A modernidade se caracteriza por traços intrinsecamente ligados a vida monetária, como a aceleração do tempo, a monetarização

das relações sociais, ampliação dos mercados, racionalização e quantificação da vida e inversão de meios e fins.

O dinheiro é o deus da vida moderna.

Na modernidade tudo gira ao redor do dinheiro e, ao mesmo tempo, o dinheiro faz tudo girar.

Não se trata de afirmar que no mundo contemporâneo tudo é determinado e explicado pela vida monetária, mas de perceber que

esta é uma manifestação e encarnação de traços que caracterizam os traços sociais de nossa época. É neste sentido que a obra de

Simmel é uma das grandes interpretações sociológicas do mundo moderno.

O dinheiro alterou enormemente as relações sociais, provocando efeitos que convergiram para a individualização (ou

individualismo) numa fase da história em que as relações tradicionais ou pré-modernas (que se referem ao período do declínio do

modo de produção feudal na Europa) estavam em vias de serem superadas pela emergência do modo de produção capitalista.

A difusão do dinheiro provocou uma série de conflitos na ordem social baseada nos costumes e nas relações pessoais, mas, como

demonstra Simmel, o dinheiro era reflexo da transformação das interações sociais tradicionais que estavam se dissipando.

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O dinheiro carrega o simbolismo do "impessoal", do "racional" e do "individualismo" e se ajusta à modernidade que estava

surgindo no mundo ocidental capitalista. O dinheiro desfez determinados tipos de dependência que se caracterizavam pela

pessoalidade, mas criou outros, que se caracterizam pela impessoalidade.

Conforme demonstrou Simmel, a relação de tipo monetária que se tornou predominante na época moderna representa o patamar

máximo da individualização humana.

A metrópole e a vida espiritual (de 1903, traduzido para vários idiomas e considerado um dos textos fundadores da chamada

sociologia urbana).

Como o dinheiro, a vida nas grandes aglomerações urbanas é outro traço fundamental dos tempos modernos. Analisando seu

impacto sobre a sociabilidade e a individualidade, Simmel destacou o fenômeno do embotamento dos sentidos.

A imensidade de estímulos gerados pelas intensas atividades urbanas (intensificação da vida nervosa) tinham seu reflexo na

personalidade do indivíduo, gerando sujeitos que iam perdendo sua capacidade de relação com seu meio circundante, tornando-se

objetivos, impessoais, distantes e calculistas.

Nas palavras de Simmel:

A pontualidade, a contabilidade, a exatidão, que coagem a complicações e extensões da vida na cidade grande, estão não somente

no nexo mais íntimo com o seu caráter intelectualístico e econômico-monetário, mas também precisam tingir os conteúdos da vida e

facilitar a exclusão daqueles traços essenciais e impulsos irracionais, instintivos e soberanos, que pretendem determinar a partir de

si a forma da vida, em vez de recebê-la de fora como uma forma universal, definida esquematicamente."

A caracterização sociológica desta personalidade social é o indivíduo blasé, atomizado, indiferente e distante do ambiente

social;

"A essência do caráter blasé é o embotamento frente à distinção das coisas; não no sentido de que elas não sejam percebidas,

como no caso dos parvos, mas sim de tal modo que o significado e o valor da distinção das coisas e com isso das próprias coisas são

sentidos como nulos".

MICHEL FOUCAULT (1926-1984)

Abordagem estruturalista

• Rejeita o mito do progresso: a continuidade na qual o homem ocidental pretende representar seu glorioso desenvolvimento

é continuidade que não existe.

• “A história não tem sentido, a história não tem fins últimos.”

• “A história é, antes, descontínua.”

O que é uma estrutura epistêmica (ou epistemas)?

“Quando falo de ‘epistemas’, entendo todas as relações que existiram em certa época entre os vários campos da ciência. Penso,

por exemplo, no fato de que, a certo ponto, a matemática foi utilizada para pesquisas no campo da física, de que a (...), a semiologia

(...), foi utilizada pela biologia (para as mensagens genéticas), de que a teoria da evolução pôde ser utilizada ou servir de modelo

para os historiadores, os psicólogos e os sociólogos do século XIX. Todos esses são fenômenos de relações entre as ciências ou entre

os vários ‘discursos’ nos vários setores científicos que constituem o que chamo ‘epistema’ de uma época”

Foucault chamou a ciência que estuda os ‘discursos’ e os ‘epistemas’ de arqueologia do saber.

Essa ciência “arqueológica” mostra exatamente que não há qualquer progresso histórico.

O que a arqueologia do saber mostra é uma sucessão descontínua de epistemas, com a afirmação e a decadência de epistemas em

uma história sem sentido.

Foucault fez uma “arqueologia” – uma investigação minuciosa da origem e do desenvolvimento histórico – de todos esses saberes:

Da medicina clínica, da psiquiatria, da criminologia etc. e não apenas isso como também se encarregou de formular uma crítica

incisiva das práticas disciplinadoras – de controle e adestramento – de cada uma das instituições onde esses saberes são praticados e

reproduzidos.

Para entender a complicada relação entre verdade e poder, Foucault pesquisou vários temas, mas um dos temas que mais se deteve

foi a questão da DISCIPLINA.

Como homens e mulheres aprendem a se comportar? O que acontece quando não se comportam de acordo com o previsto? Em

que tipo de justificativas se baseiam as regras de comportamento? Em que lugares os ensinamentos sobre o que é socialmente aceitável

e não aceitável são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados?

Para responder a essas questões, Foucault investigou a origem e o desenvolvimento de várias instituições de controle, entre elas

os abrigos e as prisões.

O Panóptico

As transformações trazidas pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa possibilitaram o surgimento de novos hábitos e

valores, novas estruturas de pensamento e práticas sociais. Seu interesse se voltou, sobretudo, para as condições de surgimento de

novos saberes – ciências como a biologia, a economia política, a psiquiatria e a própria sociologia – e novos dispositivos disciplinares.

A influência desses novos saberes e dispositivos por toda a sociedade levaram à consolidação de um modelo peculiar de organização

social: as “sociedades disciplinares” dos séculos XIX e XX.

A emergência desse novo formato de arranjo social, com suas lógicas de controle e penalização, foi o tema central da obra Vigiar

e Punir. Nela Foucault mostra como, a partir do séc. XVII e XVIII, houve o “desbloqueio tecnológico de produtividade do poder”,

permitindo o estabelecimento de procedimentos de controle ao mesmo tempo muito mais eficazes e menos dispendiosos, não apenas

nas prisões, mas também em várias outras instituições, onde a vigilância dos indivíduos é constante e necessária.

“O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto de várias, maneiras: porque pode reduzir o número dos que

o exercem, ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais é exercido (...) Sua força é nunca intervir, é se exercer

espontaneamente e sem ruído (...) Vigiar todas as dependências onde se quer manter o domínio e o controle. Mesmo quando não há

realmente quem, assista do outro lado, o controle é exercido. O importante é (...) que as pessoas se encontrem presas numa situação

e poder de que elas mesmas são as portadoras (...) o essencial é que elas se saibam vigiadas.”

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As instituições panópticas são leves e fáceis de manipular, utilizam princípios simples de correção e adestramento. É uma espécie

de campo experimental de poder, assegura a sua economia, a sua eficácia e o seu funcionamento.

A base desta arquitetura institucional é o exame contínuo (a prova, o teste), para controlar "à nascença" as causas dos desvios. O

sujeito torna-se culpado (ou "burro", ou louco, ou doente) até provar em contrário.

Em todos os dispositivos de disciplina, o exame, então, tem de ser altamente ritualizado.

“O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância

que permite qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e

sancionados. É por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimónia

do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade (...) A superposição das relações de

poder e das de saber assume no exame todo o seu brilho visível.”

Foucault lembra que mecanismos de disciplina e controle já existiam antes do surgimento de saberes como a economia ou a

sociologia.

Na idade Média, por exemplo, todos os que fossem tidos como “dementes”, eram confinados na “nau dos insensatos”; todos os

criminosos eram condenados à pena de morte; os deformados eram recolhidos aos mosteiros; os que sofriam males físicos eram

levados aos hospitais (“depósitos de doentes”).

Mas, foi a partir do século XVIII que se iniciou um processo de organização e classificação científica dos indivíduos, que veio a

garantir uma nova forma de disciplinar e controlar a sociedade. Cada “anormalidade” passou a ser identificada em seus mínimos

detalhes por um saber específico e a ser encaixada em um complexo quadro de “patologias sociais”.

A Medicina

O nascimento da medicina clínica e a criação do hospital tal como o conhecemos, por exemplo, são fenômenos historicamente

recentes. Foucault toma como exemplo o projeto de criação de hospitais surgido na França em fins do século XVIII, em que pela

primeira vez foram expostas regras minunciosas de separação dos vários tipos de doentes.

O médico – e não mais qualquer “curandeiro” – passou a ser o responsável por essa nova “máquina de curar”, que lembrava muito

pouco aquele “depósito de doentes” medieval.

A medicina clínica passou a ter foco o corpo do doente e como objetivo trazer esse corpo “DE VOLTA AO NORMAL”. Surgiram

expressões como “temperatura normal”, “pulsação normal”, “altura e pesos normais”.

Esse padrão de normalidade passou a ser um parâmetro para toda a sociedade – é claro que há componentes culturais que

determinam variações nesse padrão -, e a medicina ganhou uma dimensão política de controle.

A educação

A ideia de uma educação que não está a cargo dos pais, e sim do Estado, que é oferecida a todos os cidadãos, que tem um conteúdo

comum e necessita do espaço da escola também é fruto dessas transformações de que fala Foucault. Não por coincidência, a escola

organizada de acordo com parâmetros pedagógicos é uma invenção do fim do século XVIII e início do XIX. Acreditamos que a escola

tem o poder de saber quais são os comportamentos desejáveis, quais são os conteúdos imprescindíveis e qual é a didática adequada.

O mesmo se dá com o conjunto das instituições de justiça e punição, que encontra nas prisões seu espaço de realização. O grupo

dos “maus” desdobra-se em uma série de subgrupos de “personalidades criminosas”, que passa a ser objetivo de um saber específico:

a criminologia.

A reclusão, a partir do século XVIII, substitui em muitos países da Europa a pena de morte. Acreditamos que o sistema judiciário

tem o poder de vigiar e punir (com a morte, se necessário) porque tem o poder de saber distinguir entre os inocentes e os criminosos.

As formas de curar, educar e punir não foram as únicas a ter seus princípios alterados na modernidade.

Foucault mostra que as maneiras de produzir e os lugares da produção também passaram por um sério processo de especialização

e controle. As fábricas reproduzem a estrutura da prisão. Colocam os indivíduos, separados segundo suas diferentes funções, sob um

rígido sistema de vigilância.

Para Foucault não podemos entender as relações de poder reduzindo-as à sua dimensão econômica ou à esfera do Estado. As

estruturas do poder extrapolam o Estado e permeiam, de forma difusa e pouco evidente, as diversas práticas sociais cotidianas.

Ninguém é titular do poder, porque ele se espelha em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na casa, no mundo público

e nas relações afetivas.

Foucault persiste: “existe uma forte correlação entre saber e poder. Instituições como a escola, o hospital, a prisão, o abrigo para

menores etc. nem são politicamente neutras, nem estão simplesmente a serviço do bem geral da sociedade. Nós é que acreditamos

que elas são neutras, legítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na legitimidade e na eficácia dos saberes científicos –

como a pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social – que lhes dão sustentação”.

Foucault nos ajuda a perceber, portanto, que há relações de poder onde elas não eram normalmente percebidas. O conhecimento

não é uma entidade neutra e abstrata; ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência moderna se apresenta como um discurso

objetivo, acima das crenças particulares e das preferências políticas, alheio aos preconceitos, na prática, ela ajuda a tornar os “corpos

dóceis”, para usar outra de suas expressões.

O poder, tal como Foucault o concebe, não equivale à dominação, à soberania ou à lei. É um poder que se faz aceito porque está

associado ao conceito de verdade: “Somos submetidos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a

produção da verdade”.

Para Foucault, é a crença nessa verdade que independe das decisões humanas que nos autoriza a julgar, condenar, classificar,

reprimir e coagir uns aos outros.

Biopoder

Em seus últimos escritos, Foucault dedicou-se a examinar com o poder baseado no conceito de disciplina, surgido no século XVIII,

foi se sofisticando e adquirindo contornos ainda mais complexos ao longo do século XX. Ao poder disciplinar veio somar-se o

“biopoder”. O primeiro tem como alvo o corpo de cada indivíduo, o biopoder dirige-se à massa, ao conjunto da população e ao seu

hábitat - a metrópole, sobretudo. Isso porque o processo de especialização, deflagrado com a divisão do trabalho, exige cada vez mais

que a população como um todo seja racionalmente classificada, educada e controlada para ser, por fim, transformada em força

produtiva.

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O Biopoder é exercido toda vez que, com base na voz dos especialistas, é feito um controle do comportamento da coletividade.

Foucault não se preocupou em dizer se esse controle é positivo ou negativo. Interessou-se pelo processo que levou as pessoas a

depositar sua confiança nessas vozes especializadas e pela maneira como isso alterou o desenho das sociedades.

O objeto do biopoder são fenômenos coletivos, como os processos de natalidade, longevidade e mortalidade, que são medidos e

controlados por meio de novos dispositivos, como os sensos e as estatísticas.

O Biopoder mede, calcula, prevê e controla, mas como processo de controle não depende necessariamente da repressão direta do

Estado. As instituições de educação, saúde, os meios de comunicação etc. passam a produzir discursos que nós introjetamos como

verdades absolutas e não como convenções históricas e socialmente estabelecidas.

NORBERT ELIAS (1897-1990) “A vida em sociedade é composta de padrões gerados nas interações entre indivíduos ligados por uma relação de

interdependência”.

Norbert Elias nos ensina a perceber que há aspectos da sociedade que julgamos ter sempre existido, mas que passaram por um

longo processo de desenvolvimento até tomar a forma que conhecemos. Isso vale para as formas de governo, para os modelos de

família e também para as boas maneiras e os costumes.

As normas são criadas e recriadas para conter os impulsos ou ações instintivas das pessoas e permitir que a sociabilidade ocorra

dentro de uma linguagem comum a todos (os códigos de civilidade). Essas normas estão presentes em diversos aspectos da vida social,

como nos esportes, na arte, nas relações entre os Estados nacionais etc. Por meio da civilidade, o indivíduo aprende a lidar com os

integrantes de grupos diferentes do seu.

A sociedade do presente que interessa a Elias é a que floresceu em alguns países da Europa Ocidental e disseminou uma maneira

própria de se pensar, de se apresentar diante das outras, de se auto-olhar. Nesses países desenvolveu-se uma ideia de civilização que

obrigou homens e mulheres a mudar sua conduta no dia-a-dia.

Quando estranhamos maneiras de ser distintas das nossas, que aceitamos e aprovamos, podemos ser tentados a definir nosso jeito

de ser como bom, desejável, melhor, e a classificar o que é diferente, distante, desconhecido, como “ruim”, “atrasado”, “decadente”,

“selvagem”, “rude”.

Olhamos o mundo a partir do que consideramos melhor, e o que consideramos melhor é o que nos acostumamos a ser, a ter, a

saber.

Quando uma pessoa faz uma avaliação de outros grupos, costumes, etc fazendo uma escala do melhor para o pior, de seu próprio

ponto de vista, e com base nele emite um julgamento sobre o outro. Do ponto de vista sociológico, estamos tomando o diferente não

pelo o que o faz diferente, senão por aquilo que o distancia daquilo que o grupo a que pertencemos considera melhor, ou mais evoluído,

ou mais desenvolvido.

A esse efeito indesejável do processo civilizador os antropólogos chamaram de etnocentrismo (etn(o) – também presente em etnia,

que quer dizer cultura, e centrismo que indica centro): que quer dizer: toma-se a própria cultura como centro de referência para medir

as demais por comparação.

Noutras palavras, etnocentrismo é uma visão de mundo em que o próprio grupo é tomado como centro de referência, e o diferente

é visto de forma depreciativa. As fronteiras entre os civilizados e os bárbaros (ou selvagens) foi o que marcou a história ocidental no

período moderno – é só lembrar os desdobramentos históricos do contato entre os brancos europeus, de um lado, e os negros africanos

os indígenas americanos, os orientais e outros grupos étnicos, de outro.

A atitude etnocêntrica implica uma desvalorização do que é diferente da nossa própria cultura. O etnocentrismo indica que um

determinado grupo étnico se considera superior a outro, já que o diferente é visto como inferior. Provoca uma atitude preconceituosa

em relação ao diferente, e pode mesmo gerar gestos de incompreensão diante dos modos e comportamentos de outras culturas.

A xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o racismo (classificação dos povos segundo raças e defesa da superioridade de uma delas)

são exemplos desses possíveis desdobramentos.

Em geral, a atitude etnocêntrica reduz as diferenças quando define um determinado modelo como aquele que deve prevalecer.

Além de reduzir as diferenças porque não as aceita, elege uma determinada visão de mundo, de cultura, de jeito de ser como aquela

que deve ser universalizada, ou seja, que deve valer para todas as situações.

O etnocentrismo se apoia em outra noção também muito poderosa: a de estereótipo. O estereótipo possui duas características

básicas: é ao mesmo tempo generalizante e redutor. Exemplo: “todo brasileiro gosta de futebol”. Trata-se de um estereótipo. Primeiro,

porque nem todos os brasileiros gostam de futebol, segundo porque os brasileiros não gostam apenas de futebol.

Configuração

O conceito de configuração difundido nos trabalhos de Norbert Elias enfatiza as ligações entre mudanças na organização estrutural

da sociedade e mudanças na estrutura de comportamento e na constituição psíquica, pretendendo escapar do monismo metodológico

que dicotomiza o indivíduo (encapsulado) e sociedade (ente externo), assim como a tendência parsoniana de pensar a estrutura social

como “estado” em equilíbrio ou “sistema social”.

Fazem parte da configuração os jogos de distinção social e os graus de controle de impulsos, cuja dinâmica está relacionada ao

modo como se avançam as relações de interdependência com a divisão do trabalho na sociedade.

Segundo N. Elias o campo de estudo da Sociologia é: “as configurações dos seres humanos interdependentes”

A noção de configuração possibilita que se pense a relação entre controle de instintos e impulsos instintivos não a partir de

metáforas espaciais como “dentro” e “fora”, “casca” e “cerne”, pois, tal como a natureza, o ser humano não tem núcleo ou casca. Tais

metáforas não podem ser aplicadas à estrutura da personalidade, pois todo complexo de tensões – sentimentos e pensamentos,

espontaneidade e comedimento – consiste em atividades humanas. Deste modo, como alternativa aos habituais conceitos-substância

“sentimento” e “razão”, Elias prefere o conceito de atividade que, além de ajudar a superar o monismo sociológico, possibilita livrar

as investigações sociológicas de ideias preconcebidas que pensam a realidade a partir do que ela deve ser e não a partir do que é.

(ELIAS, 1994[1]: 223-226)

“Que espécie de sociedade é esta onde as pessoas, em número cada vez maior, e em quase todo o mundo, sentem prazer, quer

como atores ou espectadores, em provas físicas e confrontos de tenções entre os indivíduos ou equipes, e na excitação criada por

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estas competições onde não se verifica derrame de sangue, nem são provocados ferimentos sérios nos jogadores?” (Norbert Elias e

Eric Dunning. A Busca da Explicação. Lisboa: Difel, 1992).

HABITUS

O conceito de habitus foi desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu com o objetivo de pôr fim à antinomia

indivíduo/sociedade dentro da sociologia estruturalista.

Relaciona-se à capacidade de uma determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir,

pensar e agir.

Em A Dominação Masculina, a construção do habitus é explicada por Bourdieu da seguinte forma: “...o produto de um trabalho

social de nominação e de inculcação ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação

mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um

habitus, lei social incorporada".

O nosso habitus constrói-se no processo de socialização: um processo inacabado porque nunca se extingue no decorrer da vida,

mas não uniforme porque a socialização tem múltiplos graus e matizes. É no nosso encontro com a sociedade que se cria o habitus, e

é ele que nos permite avançar em cada situação, já que é na sua constituição que adquirimos todas as matrizes ou estruturas mentais

para agir. No fundo, o habitus é uma espécie de bússola social que nos foi oferecida pela própria sociedade; é uma “competência

prática adquirida na e para a ação”; é uma aptidão social incorporada, durável no tempo mas não eterna.

O habitus fornece dois princípios, o de “sociação” e o de “individuação”, que demonstram a razão pela qual este conceito é um

mediador entre o social e o individual. A “sociação” prende-se com o facto de que as nossas categorias de juízo e de ação provêm da

sociedade e são partilhadas por todos aqueles que foram submetidos a condições semelhantes. A “individuação” transporta-nos à ideia

de que cada pessoa tem uma trajetória e localização únicas no mundo, e por isso cada um de nós interioriza uma composição de

esquemas singular.

O habitus é estruturado nos meios sociais, e estruturante de ações e representações. Ele é o “princípio não escolhido de todas

as escolhas.”

WALTER BENJAMIN (1892- 1940) Walter Benedix Schönflies teve sua trajetória intelectual ligada à Escola de Frankfurt, que reunia pensadores voltados para o

desenvolvimento. Expressões como “indústria cultural” e “cultura de massa” são heranças diretas dos estudos da escola de Frankfurt.

Poucos pensadores sociais tiveram igual sensibilidade para observar o cotidiano da modernidade e decifrar as personagens da

metrópole.

Walter Benjamin antecipou a reflexão crítica sobre a fotografia, o cinema, as miniaturas, os brinquedos, a poesia, o flâneur, o

ópio, a prostituta – assuntos e personagens considerados “irrelevantes” ou “indignos” por muitos de seus contemporâneos. Além

disso, escreveu vários textos em que tem a capital francesa como suporte para tratar de temas como as reformas urbanas

modernizadoras, a sociedade de massas, a indústria do entretenimento, o surrealismo, entre muitos outros. Seu interesse era retratar

Paris, não apenas como ambiente construído – suas avenidas, monumentos, praças -, mas também como experiência urbana.

Na paris do século XIX, dá-se o surgimento de novos valores e novos padrões de convivência. Benjamin chama atenção para os

grandes eventos históricos, mas também para pequenos detalhes que são reveladores. Observa que em 1824 somente 47 mil pessoas

eram assinantes de algum jornal em Paris; doze anos depois o número aumentou para 70 mil e, na década seguinte, chegou a 200 mil.

Para ele, o aumento significativo do número de leitores não tornou os jornais mais autônomos. A impressa passou a depender cada

vez mais dos anúncios para sobreviver.

Benjamin observa também que o surgimento dos cartazes que começavam a aparecer nos muros de Paris reflete uma nova cultura

urbana associada ao entretenimento e ao consumo de produtos. Esse meio de comunicação foi uma invenção do século XIX. Antes,

não existia o conceito de “propaganda”, até porque não havia uma produção significativa de bens de consumo.

Além de associar o surgimento dos cartazes ao nascimento da sociedade de consumidores, os vincula à chamada espetacularização

da política: “campanha publicitária” e “campanha política”. Ambas dependem, para alcançar seus objetivos, da utilização de recursos

de comunicação que atinjam as massas urbanas. Assim, tanto as mercadorias quanto os políticos precisam “aparecer”.

O lado bom é que há um aumento do número de pessoas que participam dos processos eleitorais.

É muito ruim, porém, que a política se tenha transformado em “encenação”. A discussão dos projetos e ideias foi substituída por

um desfile de imagens produzidas para seduzir o eleitor, assim como se procura seduzir o cliente por meio da embalagem de um

produto.

PASSAGENS

Boa parte de reflexão de Benjamin sobre a modernidade se encontra no livro Passagens – centenas e centenas de páginas que

escreveu de 1927 até as vésperas de sua morte, em 1940.

Para ele, as passagens eram um “mundo em miniatura” em vários sentidos. Ali se concentravam diferentes mercadorias, vindas

dos lugares mais remotos, principalmente das colônias francesas. Gente de toda parte vinha admirá-las e consumi-las. Mas também

porque permitiam perceber as várias contradições entre abundância e escassez, entre império e colônia, entre tempo útil de um produto

e o tempo descartável da moda, entre os que podiam entrar e consumir e os que ficavam do lado de fora sonhando.

As passagens como locais de intensas trocas materiais e culturais, verdadeiros espaços de exposição de produtos e de corpos. Os

consumidores “desfilavam” pelas galerias para ver e serem vistos. Alguns levavam para passear tartarugas com fitas de veludo

amarradas ao pescoço! Esse hábito era uma maneira de forçar o passo lento. As pessoas estavam sendo “treinadas” para a incorporação

de um hábito novo: o de “olhar vitrines” e assim desejar o supérfluo, a novidade por ela mesma.

Benjamin nos ajuda a perceber a origem de uma poderosa associação: aquela entre consumo e lazer. Hoje esse par nos parece

natural. Muitas vezes vamos ao shopping center só para “nos distrair” ou “relaxar”. Acabamos, geralmente, comprando uma coisinha,

fazendo um lanche. Ou seja, acabamos consumindo, quando a intenção era passear.

“Fazer compras” se tornou uma atividade privilegiada em nosso tempo “livre”, o tempo do não trabalho.

As passagens, assim como as lojas de departamentos no início do século XX, vieram garantir às mulheres um espaço seguro onde

podiam passear e se divertir sem serem “confundidas”.

As passagens eram espaços ao mesmo tempo de opressão e de libertação.

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Eram opressoras porque impunham a ideologia do consumo. Mas também carregavam em si o que ele chamou de “utópicas

promessas de liberdade”, na medida em que apontavam para a possibilidade de se construir uma sociedade próspera e dominada pela

tecnologia, funcionando como verdadeiras “casas de sonhos coletivos”, conforme sua expressão. “Paris era a capital do sonho e o

sonho do capital”.

ANTHONY GIDDENS (1938-) Considerado por muitos como o mais importante filósofo social inglês contemporâneo, figura de proa do novo trabalhismo

britânico e teórico pioneiro da Terceira via, tem mais de vinte livros publicados ao longo de duas décadas.

Do ponto de vista acadêmico, o seu interesse centra-se em reformular a teoria social e reexaminar a compreensão do

desenvolvimento e da modernidade.

As suas ideias tiveram uma enorme influência quer na teoria quer no ensino da sociologia e da teoria social em todo o mundo. A

sua obra abarca diversas temáticas, entre as quais a história do pensamento social, a estrutura de classes, elites e poder, nações

e nacionalismos, identidade pessoal e social, a família, relações e sexualidade.

Foi um dos primeiros autores a trabalhar o conceito de globalização.

Mais recentemente tem estado na vanguarda do desenvolvimento de ideias políticas de centro-esquerda, tendo ajudado a

popularizar a ideia de Terceira via, com que pretende contribuir para a renovação da social-democracia.

O Trabalho de Giddens abrange uma ampla gama de tópicos. Ele é conhecido por sua abordagem interdisciplinar, envolvendo a

sociologia, a antropologia, arqueologia, psicologia, filosofia, história, linguística, economia, serviço social, e ciência política.

Ele trouxe muitas ideias e conceitos para o campo da sociologia. De particular importância são os seus conceitos de reflexividade,

a globalização, a teoria da estruturação, e da Terceira Via.

A reflexividade é a ideia de que os indivíduos e a sociedade são definidos não apenas por si, mas também em relação ao outro. Por

isso, eles devem ambos redefinir-se continuamente em reação a outros.

A globalização, como descrito por Giddens, é um processo que é mais do que apenas a economia. É "a intensificação de relações

sociais mundiais que ligam localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são modelados por eventos distantes e, por

sua vez, acontecimentos distantes são moldadas por acontecimentos locais."

Giddens argumenta que a globalização é a consequência natural de modernidade e levará à reconstrução das instituições modernas.

A Teoria da Estruturação de Giddens argumenta que, a fim de compreender a sociedade, não se pode olhar apenas para as ações

de indivíduos ou as forças sociais que mantêm a sociedade. Em vez disso, o que se deve é analisar profundamente as forças que

moldam a nossa realidade social.

Ele argumenta que, embora as pessoas não sejam totalmente livres para escolher suas próprias ações, e que seu conhecimento

também seja limitado, eles ainda são a agência que reproduz a estrutura social e levam a uma mudança social.

Finalmente, a Terceira Via é a filosofia política de Giddens que visa redefinir a social-democracia para um pós-Guerra Fria e a

era da globalização.

Ele argumenta que os conceitos políticos de "esquerda" e "direita" são agora falhos, como resultado de muitos fatores, mas

principalmente por causa da ausência de uma alternativa clara ao capitalismo.

Em The Third Way, Giddens fornece um quadro em que a "terceira via" é justificada e também um amplo conjunto de propostas

de políticas voltadas para a "centro-esquerda progressista" na política britânica.

A terceira via é uma corrente que surge no Distributismo e mais tarde na ideologia social-democrata, porém, é também promovida

por alguns partidários do liberalismo social. Tenta reconciliar a direita e a esquerda, através de uma política econômica ortodoxa e de

uma política social progressista. À primeira vista, parece ser uma corrente que apresenta uma conciliação entre capitalismo de livre

mercado e socialismo democrático. Entretanto, os defensores da terceira via veem-na como algo além do capitalismo de livre mercado

e do socialismo democrático. Esta afirmação baseia a concepção alternativa da terceira via como "centrismo radical".

A terceira via tem sua origem no governo trabalhista que emergiu na Austrália no final da década de 1980. Popularizou-se durante

o governo de Bill Clinton nos Estados Unidos, sendo também defendido pela esposa dele, Hillary, durante a campanha presidencial

de 2008. O primeiro-ministro britânico Tony Blair e sua facção dentro do Partido Trabalhista, o New Labour, foram os defensores

mais entusiastas da corrente.

Este pensamento defende um "Estado necessário", em que sua interferência não seja, nem máxima, como no socialismo, nem

mínima, como no liberalismo. Também defende, entre outros pontos, a responsabilidade fiscal dos governantes, o combate à miséria,

uma carga tributária proporcional à renda, com o Estado sendo o responsável pela segurança, saúde, educação e a previdência.

A base epistemológica deste projeto político é a Teoria da Estruturação, que a partir das lições dos clássicos da sociologia, rejeita

a visão linear do progresso histórico presente no marxismo e tenta captar a relação dialética entre solidariedade social (de inspiração

durkheimiana) e ação humana (de inspiração weberiana).

Sobre a forma de se pensar o social em termos classistas, Anthony Giddens afirma: “A idéia do conflito de classes como mola da

história certamente deve ser rejeitada. Dizer que esse conflito é a força motriz da mudança histórica não convence” (Giddens e

Pierson, 2000, p. 52).

Ele não nega as diferenças classistas produzidas pelo sistema capitalista, admitindo até que a globalização tenha ampliado as

desigualdades sociais. Mas o que ocorreu foram “novos processos de exclusão”, com a formação de uma classe cosmopolita global.

Isto é: o aumento da “mobilidade do capital” frente ao trabalho fez com que o Estado perdesse funcionalidade e os posicionamentos

políticos se tornaram desvinculados das diferenças de classe.

Giddens, se diz descrente de uma ação política internacional apoiada nas classes dominadas, já que as forças básicas da economia

não resultam de atividades de uma classe dirigente capitalista específica. “Ninguém controla os mercados financeiros” (idem, 53).

O fato de vivermos uma “forma mais pura” de capitalismo não significa que exista uma dialética da história condutora de uma

transição para algum tipo de socialismo mundial. E mesmo que houvesse algum processo evolutivo, “o socialismo está morto como

modelo de organização econômica capaz” de superar as limitações do capitalismo (idem, 54).

Na concepção de Giddens, assume-se que o mercado gera desigualdades, mas, por não haver determinismo de qualquer espécie,

o próprio capitalismo tem condições de amenizá-las. Mas isto só poderá ocorrer se houver uma renovação na relação Estado/sociedade

civil. O que, por sua vez, demanda um novo Estado.

17

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

• Ecologicamente Correto;

• Economicamente Viável;

• Socialmente Justo;

• Culturalmente Diverso.

O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras

de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório

de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos

da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.

A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural adiciona um novo enfoque na questão social, ao afirmar que "… a

diversidade cultural é tão necessária para a humanidade como a biodiversidade é para a natureza" torna "as raízes do desenvolvimento

entendido não só em termos de crescimento económico mas também como um meio para alcançar um mais satisfatório intelectual,

emocional, moral e espiritual ".

Dados divulgados pela ONU revelam que se todos os habitantes da Terra passassem a consumir como os americanos,

precisaríamos de mais 2,5 planetas como o nosso. Estamos usando muito mais os recursos naturais do que a natureza consegue repor.

Em muito pouco tempo, se continuarmos nesse ritmo, não teremos água nem energia suficiente para atender às nossas necessidades.

Cientistas prevêem que os conflitos serão, no futuro, decorrentes da escassez dos bens naturais.

Como atingir o desenvolvimento sustentável

A primeira etapa para conquistar o desenvolvimento sustentável é reconhecer que os recursos naturais são finitos. Usar os bens

naturais, com critério e planejamento. A partir daí, traçar um novo modelo de desenvolvimento econômico para a humanidade.

Confunde-se muito desenvolvimento com crescimento econômico. São coisas distintas:

1. - desenvolvimento que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais, que as atividades econômicas são

incentivadas em detrimento ao esgotamento dos recursos naturais do país, é involução. É insustentável e está fadado ao

insucesso.

2. - Desenvolvimento sustentável está relacionado à qualidade, ao invés da quantidade, com a redução de matéria-prima e produtos.

Implica em mudanças nos padrões de consumo e do nível de conscientização.

Consumo sustentável

É um modo de consumir capaz de garantir não só a satisfação das necessidades das gerações atuais, como também das futuras

gerações. Isso significa optar pelo consumo de bens produzidos com tecnologia e materiais menos ofensivos ao meio ambiente,

utilização racional dos bens de consumo, evitando-se o desperdício e o excesso e ainda, após o consumo, cuidar para que os eventuais

resíduos não provoquem degradação ao meio ambiente. Principalmente: ações no sentido de rever padrões insustentáveis de consumo

e minorar as desigualdades sociais.

Adotar a prática dos três 'erres': o primeiro R, de REDUÇÃO, que se recomenda evitar adquirir produtos desnecessários; o segundo

R, de REUTILIZAÇÃO, que sugere que se reaproveite embalagens, plásticos e vidros, por exemplo; por fim, o terceiro e último R,

de RECICLAGEM, que orienta separar o que pode ser transformado em outro produto ou, então, em produto semelhante.

POLÍTICA/ ESTADO Dominação e Poder

As sociedades sem estado.

As várias formas de poder e dominação.

Surgimento e desenvolvimento do Estado Moderno. Poder e representação.

Estado nacional no mundo contemporâneo.

Política e poder

O campo da política se configura na exist6encia do conflito entre a dimensão privada e a pública, na medida em que o homem é um

ser social. Essa configuração inclui a realidade da intersubjetividade, posto que a sociabilidade não apaga a subjetividade, o caráter

individual das singularidades.

A ação desse homem, a um só tempo pública e privada, social e individual, particular e comum, se exerce por meio de condutas não-

naturais. Ao contrário, regular a ação humana é obra do homem racional, consciente e livre.

A questão do poder

Em seu significado mais geral, a palavra poder designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode

ser referida a indivíduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenômenos naturais (como nas expressões “poder calorífico”, “poder

de absorção”)

Se o entendemos em sentido especificamente social, ou seja, na sua relação com a vida do homem em sociedade, o poder torna-

se mais preciso, e seu espaço conceitual pode ir desde a capacidade geral de agir, até à capacidade do homem em determinar o

comportamento do homem: poder do homem sobre o homem. O homem é não só o sujeito mas também o objeto do poder social. É

poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um Governo de dar ordens aos cidadãos.

Por outro lado, não é poder social a capacidade de controle que o homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos recursos

naturais. (...)

O poder social não é uma coisa ou a sua posse: é uma relação entre pessoas (Stoppino, 1986: 933-4)

É impossível estudar uma sociedade sem fazer referência à política que a organizou e a manteve. Da mesma forma, não existe a

possibilidade de discorrer a respeito da política sem esbarrar no conceito de poder.

Ter o poder é dispor de autoridade para governar. O poder supõe, consequentemente, a existência de dois elementos: de quem

tem a autoridade para exercer o poder e daquele sobre o qual se exerce o poder; do governante e do governado; de quem manda e de

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quem é mandado; de quem dá as ordens e de quem as cumpre. Assim, quem detém o poder político decide, em última instância, a

vida da coletividade, a nossa vida, a sua vida.

Segundo Georg W. F. Hegel (1770 – 1831), o que leva o ser humano a desejar o poder não é apenas a vontade de dominar os

outros homens, mas também a vontade de ser amado e reconhecido. Hegel, em seu livro Fenomenologia do Espírito, nos ensina que

o homem só se torna realmente humano quando, além de satisfazer os desejos puramente animalescos - como comer e beber

-, lança-se à luta pela conquista do poder. O animal tem por preocupação máxima a sobrevivência biológica; o homem, para

conquistar a liberdade (para não viver escravizado) luta pelo poder e coloca a sua vida biológica em risco. A condição humana

pressupõe dominar e ser reconhecido como dominador.

A luta pelo poder tem sido, de uma forma ou de outra, a mola propulsora da história das civilizações. A história dos povos é

determinada pelos grupos, pelas classes, pelos partidos, pelas personalidades que exerceram o poder.

Importante dizer aqui que o poder não nos é dado gratuitamente: ele tem de ser conquistado. E após a sua conquista, a luta

continua para que ele seja mantido. Toda sociedade abriga interesses diversos e nela há governantes (que jamais renunciam ao poder

espontaneamente) e governados (entre eles, muitos lutam para assumir o poder). Por decorrência, a luta pelo poder sempre existirá.

A luta pela conquista do poder nos tem levado, ao longo da história, as duas dimensões do ser humano: a animalidade (quando

há violência) e a racionalidade (quando a conquista se dá por meios pacíficos).

Quando há violência na luta pelo poder, o homem se equipara aos animais que se entredevoram para continuar sobrevivendo. Os

assassinatos, as revoluções, os golpes de estado, as guerras (internas e externas) têm constantemente manchado de sangue as páginas

da história da humanidade.

Martin Luther King

Luther King foi um dos principais dirigentes da campanha a favor do reconhecimento dos legítimos direitos dos negros nos

Estados Unidos. Aconselhou a luta dentro da dignidade e da disciplina. Ganhou o Prêmio Nobel da paz em 1964. Foi assassinado em

1968.

Mahatma Gandhi

Gandhi foi a alma do movimento da independência da Índia, pregando a ação baseada no princípio da não – violência. Foi

assassinado em 1948.

Júlio César

César, célebre general romano, foi um dos mais ilustres homens de guerra da Antiguidade. Foi assassinado por seu filho Brutus

nos idos de março de 44 a.C.

A dimensão racional do ser humano se coloca em evidência nos processos pacíficos da luta pelo poder. Se até se pode justificar

a necessidade de exercer a autoridade, colocando as tropas na rua para que se mantenha a ordem social, não é essa a condição para

que o poder seja duradouro. Muito mais importante que a força física e violenta, para haver poder - poder legítimo – há necessidade

de consentimento.

A luta sem violência para conquista do poder ocorre nos regimes livres - democráticos -, em que todos os homens, em

princípio, são considerados iguais e, portanto, todos têm condições de participar do exercício do poder.

Apesar das deficiências que possam apresentar, as eleições são o processo mais racional de luta pacífica pela conquista do poder.

Pressupondo a liberdade da defesa de ideais, do debate, da crítica, da oposição ... as eleições excluem a violência. Pela manifestação

livre da vontade do povo, o voto assegura a legitimidade do poder.

Pelas eleições, num regime democrático, o poder político:

Não é usurpado, mas consentido;

Não é herdado nem vitalício, pois é exercido por representantes da maioria por um tempo determinado;

Por emanar do povo em geral, não é privilégio de poucas pessoas (de um grupo ou de uma classe), pois todos os setores da

sociedade têm o direito de candidatar-se a ele;

É transparente, porque as informações sobre as decisões governamentais devem circular livremente;

É legítimo, pois existem leis que o asseguram.

“Alguns princípios de legitimidade do poder:

Nos Estados Teocráticos: o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus;

Força da Tradição: quando o poder é transmitido de geração em geração, como nas monarquias hereditárias;

Nos Governos Aristocráticos: apenas os melhores podem Ter funções de mando; é bom lembrar que os considerados

“melhores” variam conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou, até, a elite

do saber;

Na Democracia: vem do consenso, da vontade do povo.

A discussão a respeito da legitimidade do poder é importante na medida em que está ligada à questão de que a obediência é

devida apenas ao comando do poder legítimo, segundo o qual a obediência é voluntária, e portanto livre. Caso contrário, surge o

direito à resistência, que leva à turbulência social.” (ARANHA & MARTINS.1993: 180-1)

A antropologia evolucionista considera também que o Estado é uma simples estrutura social total, resultante do crescente domínio

do político sobre o parentesco. Segundo as linhas estabelecidas por Edward Evans-Pritchard e Mayer Fortes, temos que:

Primeiro, detecta-se a existência de sociedades dominadas pelo parentesco, onde a ausência do político, no entanto, não

significaria a ausência de distinção. Trata-se de sociedades muito pequenas onde a estrutura política se confunde com a

estrutura do parentesco.

Surgem, em segundo lugar, sociedades onde o político domina o parentesco, detectando-se a existência de grupos políticos,

de grupos que se definem pela base territorial. Contudo, nesta segunda fase da evolução, se o político sobrepõe ao parentesco,

estes laços ainda são os dominantes. E isto porque faltam instituições especializadas, com autoridade permanente, tendo

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como função a manutenção da ordem social. Nestas formações sociais, ainda sem hierarquia ou autoridade, o mecanismo de

equilíbrio social surge de uma liderança, ou leadership.

Em terceiro lugar, dá-se o aparecimento de sociedades com uma autoridade centralizada, um aparelho administrativo

e instituições judiciais, onde já é flagrante o domínio do político sobre o parentesco. Agora, em lugar do equilíbrio, temos

a hierarquia a marcar o novo modelo organizacional. Surge também o sistema político que unifica no mesmo nível de

extensão territorial os antagonistas e realiza a equivalência estrutural.

Para A. W. Southall há também um processo contínuo de complexificação institucional desde as sociedades sem Estado até aos

Estados unitários, através do qual o poder se desloca para fora e acima da sociedade. Depois das sociedades sem Estado, vêm as

sociedades segmentares e, só a partir de então, surgem os Estados segmentares. Dentro destes, haveria, aliás, que distinguir, numa

primeira fase, a chamada chefatura, onde o poder político ainda está no seio da sociedade, para, numa segunda fase, surgir uma

especialização do poder e uma estruturação piramidal. Finalmente, surgiria o Estado unitário, onde se dá a distribuição do poder

através do centro, de forma hierárquica. Se Estado unitário é considerado como completamente desenvolvido, mas que nunca se

realizou, já no Estado segmentar, onde há uma estrutura hierárquica de poder, notam-se as seguintes características fundamentais: —

a estrutura da soberania é limitada, esbatendo-se nas regiões afastadas do centro; o governo central tem apenas um controlo relativo

dos outros focos do poder; há administrações especializadas tanto no poder do centro como nos poderes das periferias; — o monopólio

legítimo da força não é completo; se as relações de poder se organizam de forma piramidal, há, porém, diferentes níveis de

subordinação; quanto mais periféricas são as autoridades subordinadas, mais estas têm possibilidade de mudar de obediência.

Estado Moderno: poder e representação

Durante o Período Medieval, o interior do mundo feudal europeu era politicamente fragmentado. Cada grande senhor feudal exercia

em seus domínios uma autoridade quase absoluta sobre pessoas e bens. Nesse contexto, a Igreja Católica desempenhou o importante

papel de órgão conciliador das elites dominantes, procurando contornar os problemas da fragmentação política e das rivalidades

internas da nobreza feudal. Como os nobres eram cristãos, a Igreja procurou desviar as tensões internas do feudalismo, apontando

como inimigos externos e comuns da cristandade os árabes muçulmanos.

É preciso ressaltar que, além da autoridade religiosa, a Igreja também conquistou poderes materiais para impor laços de união

concreta entre nobres de diversos países, na medida em que era proprietária de aproximadamente um terço das terras cultiváveis.

Assim, a Igreja estendia seu manto de poder “universalista” sobre diferentes regiões europeias.

No início dos tempos modernos, assistimos a uma série de grandes transformações que atuaram na desestruturação do mundo

feudal e, também, se refletiram na diminuição do poder da Igreja: a expansão comercial e marítima, o desenvolvimento da

burguesia, o Renascimento e a Reforma Religiosa. Entretanto, no plano propriamente político, o início dos tempos modernos foi

marcado pelo processo de fortalecimento das monarquias nacionais. Aliado a importantes setores da burguesia e, mesmo, da

nobreza, os reis passaram a concentrar crescentes forças em suas mãos, enfraquecendo os poderes locais da nobreza agrária e impondo-

se sobre os poderes universalistas da Igreja Católica.

No decorrer do processo de formação das monarquias nacionais, surgiu o Estado Moderno, tendo as seguintes características gerias:

Idioma comum: um dos elementos culturais que mais influenciou o sentimento nacionalista foi a língua falada por um

mesmo povo. Esse era um elemento que identificava origens, tradições e costumes comuns;

Território definido: eliminando-se, aos poucos, a fragmentação política do mundo feudal e o predomínio das relações de

vassalagem, cada Estado foi procurando definir suas fronteiras políticas, estabelecendo, enfim, o território comum da nação;

Soberania: no mundo feudal, o poder estava baseado, em grande parte, na suserania. Aos poucos, esse conceito foi cedendo

lugar à noção de soberania, pela qual o governante tinha o direito de fazer valer as decisões do Estado dentro do território

nacional;

Exército permanente: para garantir as decisões do governo soberano, era preciso a formação de exércitos permanentes,

controlados pelos reis. A sociedade estava dividida entre grupos rivais da nobreza e da burguesia. O rei passou a alimentar

essa divisão, enquanto foi concentrando uma grande soma de poderes em suas mãos. Assim, os reis passaram a comandar

exércitos, distribuir a justiça entre os súditos, decretar leis e arrecadar tributos. Essa enorme concentração de poderes em

torno do rei caracterizou o absolutismo monárquico.

Vários pensadores formularam teses procurando dar fundamento teórico ao absolutismo. Entre eles, destacam-se os seguintes:

Nicolau Maquiavel (1469-1527): nascido em Florença, Maquiavel foi um ativo político e hábil diplomata que defendeu a

unidade italiana. É considerado um precursor da teoria política do Estado Moderno, pois pregou a construção de um Estado

forte, independente da Igreja e dirigido de modo absoluto por um Príncipe dotado de inteligência e de inflexibilidade na

direção dos negócios públicos. Expondo com grande franqueza e objetividade suas idéias, Maquiavel deu astutos conselhos

aos governantes, rompendo com a religiosidade medieval e separando a moral individual da moral pública. Em sua célebre

obra O Príncipe, escreveu que “o homem que queira em tudo agir como bom acabará arruinando-se em meio a tantos que

não são bons”. Daí porque “o Príncipe deve aprender a não ser bom e a usar ou não o aprendido, de acordo com a

necessidade”. O resultado das ações do Príncipe é o que conta, e não a maneira por ele utilizada para conseguir os objetivos.

Assim, para Maquiavel, os fins justificam os meios. Do nome de Maquiavel surgiu o adjetivo maquiavélico, que tem o

sentido figurado de pessoa astuta, matreira e ardilosa;

Jean Bodin (1530-1596): jurista e filósofo francês, defendeu, em sua obra A República, o conceito do soberano perpétua e

absoluto, cuja autoridade representava a vontade de Deus. Assim, todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei

deveria ser considerado um inimigo da ordem pública e do progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um poder

supremo sobre o Estado, respeitando, apenas o direito de propriedade dos súditos;

Thomas Hobbes (1588-1679): filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã (o título refere-se ao monstro bíblico, citado no livro

de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o Estado a um monstro todo-poderoso, especialmente criado para

acabar com a anarquia da sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas “o homem era o lobo do próprio

homem”, vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir sua própria sobrevivência. Só havia uma

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solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder a um só homem, que seria o rei, para que ele governasse todos os demais,

eliminando a desordem e dando segurança a todos.

Jacques Bossuet (1627-1704): bispo francês, reforçou a teoria da origem divina do poder do rei. Segundo Bossuet, o rei era

um homem predestinado por Deus para assumir o trono e governar toda a sociedade. Por isso, não tinha que dar justificativas

a ninguém de suas atitudes; somente Deus poderia julgá-las. Bossuet criou uma frase que se tornaria verdadeiro lema do

Estado absolutista: “Um rei, uma fé, uma lei”.

“Para transformar sua vida, antes de mais nada, você precisa ter vontade genuína de mudar. Claro que vai enfrentar dificuldades,

pois elas fazem parte de qualquer processo de mudança”. R. SHINYASHIKI

Estado nacional e mundo contemporâneo

Texto para reflexão

A CRISE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO

Osvaldo Luís Golfe

INTRODUÇÃO

Quando falamos de neoliberalismo e globalização estamos falando de uma nova ordem mundial. Tal ordem é capaz de tornar

obsoleta a já existente: o Estado entra em crise, e é obrigado a redefinir o seu papel; problemas sociais agravam-se cada vez mais e a

desigualdade aumenta.

As consequências desta nova ordem mundial não demoram aparecer: "A renda dos brasileiros que estão no topo da pirâmide

social, os 10% mais ricos, é quase dez vezes maior que a soma dos rendimentos dos brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza,

cerca de 30% da população, na estimativa mais otimista". Junto com o desemprego, esta é uma questão que deve ser o alvo principal

de qualquer governo.

Não podemos negar que os planos de estabilização trouxeram uma relativa tranquilidade, porém, sucedido de recessão. Isto mostra

que, em primeiro momento, tais planos não são duradouros. Quanto ao futuro deles é bastante incerta qualquer previsão.

Sem dúvida, hoje, mais do que nunca estamos sujeitos às intempéries mundiais. A grande questão é: "para quem deve o governo

governar, para os mercados ou para a sociedade?" A resposta óbvia seria governar para a sociedade, porém não é isto o que

acontece. Os Estados nacionais muitas vezes não conseguem governar para a sociedade porque grande parte do dinheiro é gasto

com juros, etc.Com este trabalho, embora não tenhamos ainda perspectivas claras sobre a "nova ordem mundial", queremos acenar

para esta crise que, sobretudo hoje, atinge o estado contemporâneo.

1.CRISE DO ESTADO CONTEMPRÂNEO

O marco inicial das sociedades contemporâneas é a Era das Revoluções Burguesas, que teve início com a Revolução Inglesa

no Século XVII, tendo como auge a Revolução Francesa em 1789. Para muitos historiadores a Revolução Francesa faz parte de um

movimento global que atingiu os EUA, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Bélgica, Itália, etc., culminando com a Revolução Francesa em

1789. Esta é a revolução que marca a passagem das instituições feudais do Antigo Regime para o capitalismo industrial. O que marca,

basicamente a passagem da Idade Moderna para a Contemporânea são as revoluções: Industrial, Americana e Francesa.

As consequências deste marco são irreversíveis para todo o mundo; as nações passaram a identificar o poderio de um país com

seu desenvolvimento industrial. Este processo difundiu-se pela Europa, Ásia e América. Também os ideais da "Igualdade, Liberdade

e Fraternidade" espalham-se por toda a parte, então, as Revoluções Liberais, a independência das colônias...

A independência das colônias latino-americanas faz parte da crise do Antigo Regime e da crise do sistema colonial que havia

sofrido o primeiro abalo com a independência dos EUA em 1783. Os elementos essenciais que desencadearam este processo são três:

Revolução Industrial inglesa e a busca de mercados consumidores, quebrando assim o monopólio (peça essencial do sistema colonial);

desequilíbrio político europeu resultante dos conflitos provocados pela Revolução Francesa e o Império Napoleônico;

desenvolvimento das colônias que entram em choque com a política mercantilista do sistema colonial.

No Brasil, o que pode ser considerado como fato decisivo no processo de independência é a liberdade comercial que marca o fim

do pacto colonial.

Desde a Revolução Industrial o capitalismo comercial estava sendo substituído pelo capitalismo industrial. Para este o que

interessa é o comércio livre, isto é, compra de matéria prima de quem quisesse e venda de produtos onde lucrasse mais.

Não queremos nos aprofundar nesta questão, pois, não é nosso objetivo. Queremos apenas acenar para o contexto da passagem da

Idade Moderna para a Contemporânea e a nova ordem que este fato implantou. Como nosso tema de estudo "A Crise do Estado

Contemporâneo" é bastante amplo queremos nos deter, sobretudo, no projeto neoliberal, globalização e algumas consequências.

1.1 O PROJETO NEOLIBERAL

Dentre os projetos neoliberal, socialdemocrata e o democrático popular, o neoliberalismo está se tornando ou já é um projeto

hegemônico no Brasil e no mundo.

O liberalismo, em termos econômicos "prega" a não interferência do Estado na economia. Esta deve ter como base o livre jogo

das forças do mercado, por exemplo: os preços das mercadorias são definidos pela concorrência entre os agentes econômicos e pela

lei da oferta e da procura. Nesta perspectiva o esperado é que o aumento da oferta seja causa da diminuição dos preços e vice-versa.

Alguns pontos essenciais do liberalismo são: a livre iniciativa de indivíduos e grupos; a livre concorrência entre eles e o livre acesso

à propriedade e ao lucro.

Depois de "um tempo em baixa", por causa do fortalecimento do Estado durante algum período do século XX, nas últimas décadas,

após o fim do socialismo no leste europeu, o liberalismo ressurge com novo vigor sob o nome de neoliberalismo.

Os pontos básicos deste projeto neoliberal foram sistematizados no chamado "Consenso de Washington, em 1989. Integrantes do

Instituto de Economia Internacional e Washington, do Banco Mundial, do Banco Internacional de Desenvolvimento e do Fundo

Monetário Internacional; também estavam presentes representantes dos EUA, países da América Latina, Central e Caribe. Tal reunião

teve como objetivo discutir a economia do continente, que resultou em dez pontos: ajuste fiscal; redução do tamanho do Estado

(redefinição do seu papel; menor intervenção na economia); privatização; abertura comercial; fim das restrições ao capital

externo; abertura financeira; desregulamentação (redução das regras governamentais para o funcionamento da economia);

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restruturação do sistema previdenciário; investimentos em infraestrutura básica; fiscalização dos gastos públicos e fim das

obras faraônicas".

É evidente que esta reunião, da qual falamos, foi provocada por uma necessidade de discutir a economia de uma forma global e

porque os problemas são muitos e também globais. Estas medidas já estão sendo implantadas também em alguns países latino-

americanos, e, uma das críticas que já pode-se fazer é que tais medidas não têm se preocupado, em primeiro lugar com os graves

problemas sociais existentes.

1.2 NEOLIBERALISMO E POLÍTICAS PÚBLICAS.

A tese central do liberalismo velho e novo continua sendo a mesma "o menos de Estado e de política possível", isto é, o Estado

deve intervir o mínimo possível na economia. Segue-se a isto os "dez pontos" sistematizados pelo Consenso de Washington.

Um fator que impulsionou a expansão do neoliberalismo em todo o mundo foi a junção entre os ideais neoliberais e o "movimento

real do capitalismo na direção de uma desregulamentação crescente e de uma globalização econômica de natureza

basicamente financeira". Este foi o mesmo caminho pelo qual o neoliberalismo chegou ao Brasil e na maior parte da América Latina:

um caminho econômico e o outro político. Temos bem claro estes dois caminhos: primeiro, contexto de renegociação da dívida

externa; segundo, faz parte deste jogo a aceitação das condições e das políticas e reformas econômicas impostas pelo credor.

A razão, pela qual este projeto deve vigorar em todo o mundo é a de que uma economia nacional, no mundo globalizado do ponto

de vista financeiro, que não tenha moeda estável e um equilíbrio fiscal e não tenha implementado o "tripé reformista", precisa de

crédito junto aos "manda-chuvas" da economia mundial, isto é, FMI, etc. (já citados acima). A não observação das regras pode resultar

numa sanção por parte dos mercados financeiros. Um ataque especulativo de tais mercados é capaz de destruir um governo e

uma economia nacional em poucas horas. Os mercados financeiros ditam as medidas que precisam ser adotadas pelos governos.

Assim, as políticas públicas nacionais estão "amarradas" a uma política internacional.

Quanto aos países que assumiram tardiamente este projeto, como o Brasil e muitos países latino-americanos, que dizer a respeito

do futuro das políticas públicas destes países?

Já falamos anteriormente que estes planos não têm resolvido os reais problemas sociais; o sucesso inicial dos planos de

estabilização tem sido sucedido pelo "aumento do desemprego, desaceleração do crescimento e do aumento exponencial da

dívida pública"

Neste sentido, o que podemos esperar é um agravamento da crise provocada pela diminuição dos recursos disponíveis para fazer

políticas públicas de tipo social.

1.3 O novo papel do Estado frente à globalização

Este subtítulo "O novo papel do Estado frente à globalização" induz a pensar que isto seja consenso universal e que frente a ela o

único papel a ser desempenhado pelo Estado é desenvolver uma política de inserção no mundo globalizado, com eficiência.

A globalização está fundamentada, basicamente em três mitos: 1o.: "a globalização é uma resultante exclusiva das forças de

mercado". Se assim fosse, tratar-se-ia de uma nova ordem econômica e que qualquer governo de bom senso deveria adotá-la. 2o.: "a

globalização é um fenômeno universal, inclusivo e homogeneizador". Neste sentido, globalização é uma nova ordem mundial,

dinâmica, e, os países que não aderirem a este projeto estão fadados a "nadar, nadar e morrer na praia". 3o.: "a globalização promove

uma redução pacífica e inevitável da soberania dos estados nacionais". Com isto muitos ideólogos mais eufóricos preveem a

inutilidade do estado. Toda a raça humana estaria agregada às nações desenvolvidas.

Com relação a estes três mitos, percebemos que não só as forças de mercado, mas também determinações políticas e ideológicas

atuam ao lado da economia, abrindo assim as portas para um processo de globalização restrito e excludente; um projeto que aumenta

a polarização das riquezas entre os países e classes.

Enfim, na globalização também há contradições. O impacto produzido por ela é sentido diferentemente em cada Estado Nacional

e em cada classe social. O novo papel do Estado, das forças sociais e políticas internas é adotar medidas para conter a crescente

desigualdade social. Também cabe aos países "centrais", "pais do neoliberalismo" preocupar-se em desenvolver programas que

tenham por base a solidariedade para com os países chamados "periféricos" que adotaram tardiamente o projeto neoliberal.

CONCLUSÃO

Quanto ao Estado assistimos a duas situações: 1o.: triunfo do Estado sobre os indivíduos (socialismo no leste europeu); 2o.: é o

triunfo de grupos econômicos sobre o resto do mundo. Com isto nem indivíduos e nem nações tem seus direitos respeitados. Nações

pobres são obrigadas à recessão, à não construção de escolas, aos baixos salários, ao não cuidar da saúde pública, muitas pessoas são

condenadas à morte por causa dos altos juros pagos aos credores. Diante desta situação os governos perdem a autonomia, não

conseguem realizar uma política pública direcionada realmente ao bem comum de toda a nação.

A globalização é o triunfo de um grupo econômico sobre o mundo. Tal triunfo não se preocupa com os problemas sociais que isto

traz como consequência.

Este caminho, penso, é irreversível. O que precisamos é redimensionar a globalização: ao invés de ser exploradora deveria ser

uma globalização solidária.

ANTROPOLOGIA

Antropologia

Ciência social que estuda as manifestações culturais dos grupos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. São

objeto de estudo da Antropologia a organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc. A

palavra antropologia – do grego antropus, homem, e logia, estudo – significa etimologicamente a ciência do homem. Divide-se em

Antropologia Física, Antropologia Social ou Cultural e Antropologia Filosófica. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à

Sociologia. 25. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 240).

Cultura

Cultura no sentido antropológico deve ser entendida como parte de uma sociedade ou povo, ou seja, um povo ou nação possui

manifestações típicas de sua cultura. No caso do Brasil, temos vários exemplos, desde os mais estereotipados, como o carnaval, o

futebol e o celebrado “jeitinho brasileiro”, passando pelos menos percebidos, como a nossa alegria de viver, o descaso com horários,

regras e convenções e a informalidade nas mais diversas relações sociais. Tal ideia de cultura contempla também a ciência ou a

produção artística, como a telenovela – exemplo mais notório dos últimos quarenta anos.

22

A função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade humana. Ela é o “cimento” que dá unidade a um certo grupo

de pessoas que divide os mesmos usos e costumes, os mesmos valores. Desse ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o que

faz parte do mundo humano é cultura e que todos nós somos cultos, pois dominamos a cultura do nosso grupo, seja ele urbano ou

rural, indígena ou de outra etnia, de uma ou de outra crença religiosa ou de qualquer outro tipo. (ARANHA, M. L. A., MARTINS,

M. H. P. Temas de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 21). A diversidade cultural é um fato relativo à própria espécie humana, que, através do surgimento e da formação de sociedades variadas, tem

produzido uma série de culturas diferentes. Por exemplo, não exageramos ao afirmar que existe uma cultura latino-americana, mas é errôneo pensar

que as realidades distintas, como a brasileira, a mexicana e a argentina, possam expressar culturas iguais. Sem dúvida, existem muitas semelhanças,

mas, em meio a um processo de globalização e padronização cultural, as culturas das sociedades modernas buscam preservar suas particularidades

culturais, como se isso fosse, mais que uma resistência, uma forma de preservação de identidades.

O nascimento da Antropologia

A Antropologia é uma ciência que nasceu na Europa, na segunda metade do século XIX. Seu nascedouro correspondeu à expansão

imperialista europeia sobre o continente africano. Os contrastes entre povos africanos e nações europeias contribuíram para estudos

comparados à luz de teorias biológicas evolucionistas. Tais estudos se constituíram como a base de uma antropologia conhecida por

Física. O contato com os povos africanos também foi instigante para os estudiosos da vida social, pois esses grupos não possuíam

língua escrita, daí a necessidade de uma nova ciência para compreendê-los. Com ausência de uma cultura escrita, os antropólogos

foram obrigados a descobrir outras maneiras de entender essa realidade social.

A perspectiva evolucionista da Antropologia

As manifestações humanas abstratas – como conceitos e teorias – devem ser entendidas a partir do momento histórico em que

foram concebidas. A Antropologia não é um caso diferente. Seu nascimento está intimamente vinculado ao desenvolvimento do

neocolonialismo iniciado na segunda metade do século XIX, assim como a Geografia.

A expansão neocolonialista ocorrida na África e na Ásia foi fruto do crescimento capitalista, resultado direto da busca de novos

mercados. Ao travar contato com povos africanos e asiáticos, os europeus se viram em dificuldades para conseguir realizar seus

negócios, pois não existiam afinidades culturais entre os colonizadores e os colonizados. A diferença cultural era composta de duas

variáveis: organização social e utilização da racionalidade tecno-científica. Para entender a organização social de povos sem escrita e

sociedades não europeias, desenvolveram-se as teorias da Antropologia Cultural.

O evolucionismo se manifestou pioneiramente na Antropologia Cultural e teve também a simultaneidade de autores afinados com

esta linha de pensamento social, como Comte, Durkheim, Spencer e Tönnies. Inspirados na Teoria da Evolução de Darwin, os

antropólogos afirmavam existirem fases de evolução social, ou seja, da selvageria à civilização, passando pela barbárie.

Dentro dessa perspectiva, os estudiosos tinham como parâmetro a sua civilização europeia industrial e expansionista,

desconsiderando a realidade histórica das organizações sociais dos povos não europeus; daí poderem justificar a dominação exercida

pelo grande capital ao transformar a economia de subsistência dos nativos em uma economia de mercado capitalista, em que seriam

trabalhadores assalariados e consumidores de produtos finais.

Os pioneiros da Antropologia baseada no evolucionismo foram: o inglês Edward Tylor (1832-1917), o escocês James Frazer

(1854-1941) e o norte-americano Lewis Morgan (1818-1881).

Nas discussões desses autores existe algo comum: o rebaixamento cultural das culturas “exóticas” e o destaque evolutivo das

sociedades modernas, numa visão etnocêntrica em relação à observação das outras culturas. Utilizam o método de comparar as

sociedades de cultura não europeias com as sociedades ditas modernas, ou seja, aquelas de cultura europeizada. Com base no método

comparativo, classificavam as sociedades não adeptas da cultura europeia como “exóticas”, “atrasadas”, “involuídas” e “arcaicas”,

com uma formação social primitiva, de uma religiosidade mítica e irracional e uma estrutura de parentesco que possibilitava as

relações incestuosas.

Essas são as características centrais do método comparativo: o progressivismo evolucionista, o etnocentrismo metodológico, a

preferência pelo estudo das estruturas de parentesco e dos mitos e rituais religiosos mágicos. O método comparativo julgava as culturas

primitivas como modelos sociais presos à antiguidade histórica.

Na maioria das vezes, esses primeiros antropólogos tiravam suas conclusões a partir do estudo literário dessas sociedades, pois

todo o julgamento do método comparativo estava centrado na literatura de viajantes. São textos, ensaios e escritos formulados

principalmente por europeus que viajavam pela África, Ásia e América e produziam relatos sobre os povos com os quais entravam

em contato. Era a partir da leitura desse material que os primeiros antropólogos produziam suas teorias.

Em razão disso, os primeiros antropólogos exerceram aquilo que chamamos de “Antropologia de gabinete’’, ou seja, eles

dispensavam o convívio direto com as outras culturas, preferindo julgá-las através do embasamento teórico obtido na literatura dos

viajantes.

Do evolucionismo à diversidade cultural.

No início do século XX, um pensador alemão chamado Franz Boas (1858-1942) revolucionou a prática antropológica, criticando

a antropologia de gabinete exercida principalmente por Frazer e Tylor.

Para Boas, o antropólogo, ao analisar as outras culturas para compreender a diferença, não se deve partir do ponto de vista de sua

cultura e sociedade; pelo contrário, o antropólogo deve partir para a convivência direta com a cultura a ser pesquisada, a fim de

perceber as suas peculiaridades.

Franz Boas coloca o trabalho de campo como prática necessária para a compreensão exata e neutra das outras culturas; a prática

etnográfica torna-se fundamental, pois a etnografia proporciona uma descrição antropológica densa. O antropólogo deve anotar tudo

o que ele observa e ouve no trabalho de campo para, desta maneira, aproximar-se de uma interpretação impessoal sobre as culturas

diferentes.

Nesse momento, as culturas exóticas perdem o aspecto de culturas desconexas e incompreensíveis e passam a receber uma

coerência e funcionalidade, que só foi apreendida através da aproximação e do contato direto do antropólogo com a cultura dita

“estranha”.

23

Assim, o conceito de desigualdade cultural é substituído pelo conceito de diversidade cultural; agora a análise antropológica ganha

um aspecto particularista, isto é, as sociedades devem ser compreendidas nas suas especificidades, contrariamente à análise

universalista dos evolucionistas.

Surgiram daí outros pensadores, como Bronislaw Malinowski, que consolidou o método funcionalista, sobre o qual falaremos a

seguir. Franz Boas também foi o orientador da tese de doutoramento do brasileiro Gilberto Freyre, cuja obra tornou-se fundamental

para o estudo da sociedade brasileira.

O funcionalismo5.

A visão de Franz Boas acerca do trabalho antropológico fez surgir uma corrente de pensamento conhecida como funcionalismo.

Partindo do princípio de que qualquer sociedade possui sua lógica de integração e é composta por partes interdependentes, este sistema

social se define pela função de satisfazer suas necessidades de alimentação, defesa e habitação. Assim, podemos compreender uma

sociedade como não primitiva por não comungar do casamento monogâmico, mas saber que a poligamia se executa por ser importante

na manutenção desta mesma sociedade.

Para poder conhecer realmente estes povos e o funcionamento de sua organização social, é necessário usar um método de pesquisa

que possa ser capaz de dar conta de todos os detalhes, por mais insignificantes que possam parecer. O método adotado foi o do

trabalho de campo, sugerido por Boas, e que aqui ficou sendo conhecido como método da observação participante. Consiste na

inclusão do pesquisador na realidade social em estudo, para poder captar as informações do objeto de estudo em questão sem correr

riscos de se deixar levar pelo etnocentrismo (achar seu povo superior aos outros) ou mesmo pelo eurocentrismo (considerar a socieda-

de europeia como modelo e padrão social).

Buscando superar os resultados preconceituosos e racistas obtidos pelos evolucionistas, a teoria funcionalista tem as condições

para apresentar uma concepção mais científica das sociedades e povos diferentes da cultura europeia. Seus principais autores são o

polonês Bronislau Malinowski (1884-1942) e o inglês Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955).

O estruturalismo.

Vimos até aqui como a Antropologia procurou respostas objetivas para poder entender os povos africanos e asiáticos, por causa

do processo de expansão neocolonialista. Também estudamos que as diferenças entre estes povos e os europeus eram significativas.

Assim, foram elaboradas teorias sociais que esclareceram como estes povos organizavam suas relações sociais e estabeleciam os seus

diversos valores.

Uma das teorias expostas foi o evolucionismo, que estabelecia uma sequência de etapas de desenvolvimento, na qual o último e

superior estágio seria a sociedade industrial europeia. O funcionalismo foi a teoria posterior que criticava o eurocentrismo do

evolucionismo e propunha uma pesquisa participante para que se obtivesse a compreensão das organizações sociais distintas das

existentes na Europa.

Porém, uma nova teoria de antropologia cultural surgiria no século XX, o estruturalismo, que procurou corrigir as falhas existentes

no funcionalismo.

A origem do estruturalismo vem da linguística, ciência que estuda a linguagem através da teoria de um consagrado pensador,

Ferdinand de Saussure, criador da Semiologia, ciência que estuda os signos em geral. Segundo Saussure, os homens possuem várias

linguagens, como gestos, objetos, sons e palavras escritas e faladas, que, por sua vez, possuem sentidos, e estes configuram uma

estrutura inconsciente de comportamento humano.

Podemos entender o estruturalismo como uma teoria que procura o conhecimento da realidade a partir da pesquisa de aspectos

subjetivos e imaginários dos homens e de seus respectivos grupos sociais. A antropologia cultural também sofreu influência dessa

teoria e seu maior expoente é Claude Lévi-Strauss.

Lévi-Strauss é belga, nascido em 1908. Formado em Direito, foi professor de Filosofia até vir para o Brasil em 1934, para lecionar

na USP, até 1937. Realizou estudos sobre os índios bororos durante sua permanência no Brasil. Seus livros mais conhecidos são

Tristes trópicos, As estruturas elementares de parentesco, Antropologia estrutural e O pensamento selvagem.

A antropologia estrutural de Lévi-Strauss tem como princípio maior o reconhecimento da existência de uma estrutura social. É

através desta estrutura que ocorrem as relações entre elementos, grupos e instituições de uma comunidade qualquer.

Esses componentes convivem de uma forma sistêmica e interdependente, de maneira que, se houver uma modificação em alguns

dos elementos (indivíduos, grupos e instituições), toda a estrutura social também se modifica.

Lévi-Strauss também afirma que coexistem sociedades diferentes, ou seja, algumas possuem uma estrutura mais simples ou

tradicional e outras são constituídas por uma estrutura mais complexa ou moderna. A possibilidade desta coexistência deriva da

própria história e da relação entre uma sociedade e a natureza.

Para Lévi-Strauss, a interação entre os elementos de uma cultura provém dos princípios de uma determinada sociedade, como ele

explica em sua obra As estruturas elementares de parentesco, através da questão do incesto, que, devido à necessidade de circulação

de mulheres para a manutenção da população de sociedades tribais, ou é reprimido ou é liberado, desde que torne possível a

manutenção das respectivas populações e, assim, reproduzia-se sempre a mesma estrutura social.

Assim, para o estruturalismo, não há como fazer uma teoria de como uma sociedade tradicional se torna uma sociedade complexa,

pois sua sociedade pode se manter tradicional, a não ser que haja ação de um fator externo à sua estrutura social.

Erudição cultural versus cultura do povo

A cultura, na visão antropológica, é uma característica tipicamente humana. Povos diferentes possuem culturas distintas, o que

nos leva a afirmar que a diversidade cultural é também um fato incontestável.

A cultura erudita é caracterizada por ser uma cultura fortemente relacionada à ideia de polidez, ilustração, civilidade e refinamento

intelectual; é uma cultura produzida e consumida pelas elites, pela classe dominante, daí a constituição de seu aspecto oficial.

Já a cultura popular está ligada à ideia da espontaneidade, do simplismo e do informalismo.

A distinção entre a cultura erudita e a cultura popular reside nas formas de produção e consumo. A cultura erudita é uma cultura

instituída, oficial, enquanto a cultura popular, muitas vezes, é marcada pelo aspecto da “não institucionalidade”. Entretanto, mesmo

existindo essa divisão rígida, a cultura erudita e a cultura popular podem facilmente se misturar na realidade dos comportamentos

culturais.

O capitalismo e a cultura.

24

A cultura popular e a cultura erudita estão presentes na sociedade humana desde que os seres humanos dividiram--se em

dominantes e dominados, usando aqui como referência aos ideais de Marx.

Contudo, com o advento do capitalismo em sua fase industrial, a cultura de uma sociedade passa a ter uma terceira dimensão: a

cultura de massa. É importante salientar que a cultura de massa não pode ser confundida com a cultura popular. Enquanto esta é a

expressão de resistência das camadas mais populares diante do domínio da cultura erudita, a cultura de massa é típica das sociedades

que passaram por uma mercantilização da produção cultural.

Em outras palavras, toda expressão simbólica ou material (a moda, por exemplo) produzida para o mercado consumidor é cultura

de massa. Por exemplo, como ocorre com o cinema, em que verificamos haver um circuito comercial e um circuito alternativo ou não

comercial.

A cultura de massa é uma conjunção da cultura elitizada e da cultura do povo, conjunção essa que está orientada para a produção

de uma expressão cultural que possa ser consumida na sua totalidade tanto pelo povo quanto pela elite. A cultura de massa promove

uma interação da cultura polida e ilustrada com a cultura informal e não instituída, com a finalidade de provocar o consumo extensivo

dos bens simbólicos.

A cultura de massa é aquilo que também podemos chamar de indústria cultural. Esse conceito foi usado pela primeira vez na obra

Dialética do esclarecimento (1947), de Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), integrantes do instituto de

pesquisa social que ficaria conhecido internacionalmente como Escola de Frankfurt.

Para esses autores, a indústria cultural era prejudicial tanto para a cultura erudita como para a popular, pois retirava o rigor da

primeira e a espontaneidade da segunda. Sem falar na proliferação da alienação cultural ou na perda dos referenciais históricos e

sociais de ambas as formas de cultura.

Por outro lado, o pensador Marshall McLuhan (1911-1980), estudioso dos meios de comunicação e da relação destes com as

sociedades humanas, via o avanço da indústria cultural como positivo, porque, com sua disseminação, principalmente através da

televisão, reduziriam-se as distâncias entre os diversos povos do planeta, dando origem ao termo “aldeia global”.

Outro autor que também criticou a visão pessimista acerca da cultura de massa foi o italiano Umberto Eco (1932-), em sua obra

intitulada Apocalíticos e integrados, publicada em 1964.

As manifestações da indústria cultural.

Podemos apontar como principais fontes de propagação da indústria cultural o rádio, a televisão, o cinema, as revistas e a indústria

fonográfica. É claro que nem todos esses meios de comunicação estão a serviço do capital, pois existem excelentes produções

cinematográficas que escapam à simples finalidade do lucro, assim como há canais de televisão e programas em que os fins são a

informação e o entretenimento desvinculados da cultura fabricada. Podemos citar ainda as rádios comunitárias atuais, que, em geral,

primam pela divulgação da cultura da própria comunidade.

Entretanto, pensemos nas novelas e em boa parte do cinema “hollywoodiano” como expressões dos meios de comunicação a

serviço do capital, pois são concebidos enquanto objetos de consumo. A finalidade desses produtos não é necessariamente contar uma

história verdadeira que possa ampliar o conhecimento das pessoas acerca dos fatos, mas, pelo contrário, é buscar transformar certas

realidades em puro entretenimento vazio de conteúdo. Dessa forma, o discurso agradável e fácil de ser assimilado aliena o ouvinte e

o transforma em mero consumidor daquele produto e da publicidade contida nele.

Nas palavras de Oliveira e Costa, em Sociologia para jovens do século XXI, pág 158, a expressão máxima da indústria cultural

são os meios de comunicação de massa, ou mídias escrita e eletrônica. Aqui vale destacar o poder da mídia enquanto manipulação,

formação de opinião, infantilização e condicionamento de mentes e produção cultural do grotesco para despolitização. Essas

características da mídia se expressam particularmente através da TV, do rádio, de jornais e revistas, que são de fácil acesso à grande

maioria das pessoas.

Muitos estudiosos, jornalistas e políticos costumam dizer que a mídia – ou meios de comunicação de massa – representa um quarto

poder (além dos poderes governamentais do Judiciário, do Legislativo e do Executivo). Isto porque influencia comportamentos,

opiniões e atitudes de forma constante e permanente.

A cultura erudita e a cultura popular não escapam à industrialização. Obras de arte são reproduzidas em camisetas para o consumo,

enquanto músicas regionais são transformadas em verdadeiras marcas de consumo ao receberem uma “roupagem moderna”.

Atualmente, devido ao crescimento da conscientização, por meio da ação de ONGs e movimentos sociais, da aceitação do uso de

meios de mídia eletrônica por parte de grupos alternativos (rádios comunitárias, Internet e produção musical independente, por

exemplo), além das mudanças sofridas pela própria indústria cultural, pois a sociedade se impõe através da interatividade, é difícil

afirmar que a cultura de massa seja tão onipotente quanto o foi algum tempo atrás.

Contudo, é papel das Ciências Sociais desvendarem certas ideologias contidas nos meios de comunicação de massa, assim como

é papel de cada um de nós estarmos atentos àquelas informações que realmente nos acrescentem algum conteúdo, não perdendo a

noção de que o entretenimento serve apenas enquanto tal, e não para transmitir uma verdade absoluta capaz de guiar-nos em nosso

dia a dia.

O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO O surgimento da Sociologia no Brasil, também conhecida como Sociologia Brasileira, teve início a partir das décadas de 1920 e

1930, quando os estudiosos dessa área passaram a se dedicar a pesquisas que visavam construir um entendimento acerca da formação

da sociedade brasileira analisando temáticas cruciais para essa compreensão. Assim, eles voltaram-se para estudos referentes a

escravatura e a abolição, estudos sobre índios e negros e o êxodo dessas populações, e mesmo analises sobre o processo

de colonização.

A compreensão desses assuntos mostrou-se realmente uma vez que se buscava compreender a formação da sociedade brasileira.

Isso porque a formação da população brasileira, das relações de trabalho e da consciência e cidadania, passava inevitavelmente pela

compreensão destas temáticas.

Nas décadas que se seguiriam, no entanto, a Sociologia no Brasil passou a voltar-se para os estudos que abordassem

prioritariamente temas relacionados às classes trabalhadoras, tratando assim de assuntos como salário, jornadas de trabalho, ambientes

de trabalho urbano e rurais, organizações e condições dos ambientes de trabalho, relações entre empregados e empregadores, etc.

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Especialmente a partir da década de 1960 se pode sentir uma crescente preocupação com o processo de industrialização que se

instaurava no país. Essa nova preocupação trouxe consigo debates sociológicos que abordavam temas da reforma agrária e os novos

problemas políticos e sociais que esse processo acarretava.

GILBERTO FREYRE (1900- 1987)

Casa-Grande & Senzala

Seu primeiro e mais conhecido livro é Casa-Grande & Senzala, publicado no ano de 1933 e escrito em Portugal. Nele, Freyre

rechaça as doutrinas racistas de branqueamento do Brasil. Baseado em Franz Boas, demonstrou que o determinismo racial ou climático

não influencia no desenvolvimento de um país. Entretanto, essa obra deu origem ao mito da democracia racial no Brasil, com relações

harmônicas interétnicas que mitigariam a escravidão brasileira, que, segundo Freyre, fora menos ruim que a norte-americana.

Ao contrário do que popularmente se imagina, Casa Grande & Senzala não é um estudo sociológico ou antropológico. Baseado

em fontes históricas e suas reflexões, Gilberto Freyre se apresentou como um "escritor treinado em ciências sociais" e não como

sociólogo ou antropólogo, como refletiu em seu Como e porque sou e não sou sociólogo (1968) . Além disso, por influência de Franz

Boas sabia da necessidade de pesquisas empíricas para validar um estudo como sendo sociológico ou antropológico

Democracia racial

A democracia racial é um termo usado por algumas pessoas para descrever relações raciais no Brasil. O termo denota a crença de

alguns estudiosos que o Brasil escapou do racismo e da discriminação racial. Estudiosos afirmam que os brasileiros não veem uns aos

outros através da lente da raça e não abrigam o preconceito racial em relação um ao outro. Por isso, enquanto a mobilidade social dos

brasileiros pode ser limitada por vários fatores, gênero e classe incluído, a discriminação racial é considerada irrelevante (dentro dos

limites do conceito da democracia racial).

O conceito foi apresentado inicialmente pelo sociólogo Gilberto Freyre, na sua obra Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933.

Embora Freyre jamais tenha usado este termo nesse seu trabalho, ele passou a adotá-lo em publicações posteriores, e suas teorias

abriram o caminho para outros estudiosos popularizarem a ideia.

Freyre argumentou que vários fatores, incluindo as relações estreitas entre senhores e escravos antes da emancipação legal dada

pela Lei Áurea em 1888, e o caráter supostamente benigno do imperialismo Português impediu o surgimento de categorias raciais

rígidas. Freyre também argumentou que a miscigenação continuada entre as três raças (ameríndios, os descendentes de escravos

africanos e brancos) levaria a uma "meta-raça". A teoria se tornou uma fonte de orgulho nacional para o Brasil, que se contrastou

favoravelmente com outros países, como os Estados Unidos, que enfrentava divisões raciais que levaram a significantes atos de

violência. Com o tempo, a democracia racial se tornaria amplamente aceita entre os brasileiros de todas as faixas e entre muitos

acadêmicos estrangeiros. Pesquisadores negros nos Estados Unidos costumavam fazer comparações desfavoráveis entre seu país e o

Brasil durante a década de 1960.

Nas últimas quatro décadas, principalmente a partir da publicação em 1976 de Preto no Branco, escrito por Thomas Skidmore,

um estudo revisionista das relações raciais brasileiras, os estudiosos começaram a criticar a noção de que o Brasil seja de verdade

uma democracia racial. Skidmore argumenta que a elite predominantemente branca na sociedade brasileira promoveu a democracia

racial para obscurecer formas de opressão racial.

Os críticos que se opõem à ideia da democracia racial, afirmando que ela seja um mito, frequentemente usam como base a alegação

genérica de que não seria possível impossível definir com exatidão à qual raça uma pessoa pertença realmente, visto que os próprios

indivíduos não são capazes de se definir. Muitos pesquisadores relatam estudos em que demonstram a discriminação generalizada

nos campos do emprego, educação e política eleitoral. O uso aparentemente paradoxal da democracia racial para obscurecer a

realidade do racismo tem sido referido pelo estudioso Florestan Fernandes como o "preconceito de não ter preconceitos". Ou seja,

porque o Estado assume a ausência de preconceito racial, ele não consegue fazer cumprir o que existem poucas leis para combater a

discriminação racial, pois acredita que tais esforços sejam desnecessários.

SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902- 1982) Jornalista, sociólogo e historiador brasileiro nascido em São Paulo, um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, que

tentou interpretar o Brasil, sua estrutura social e política, a partir das raízes históricas nacionais. Antes de se tornar historiador e

escrever, foi jornalista e tornou-se amigo dos principais representantes do Modernismo, como Mário de Andrade e Oswald de

Andrade, e passou a escrever em revistas ligadas ao movimento.

O autor defende que o Estado não nasce como decorrência temporal da família, antes, nasce como contraposição às relações

familiares. É o triunfo do geral sobre o particular. As relações familiares são superadas.

Exatamente o processo pelo qual o geral (Estado) supera o particular (família) diz muito sobre a estrutura de uma sociedade.

A sociedade moderna, ao superar sua fundamentação na família, exige que as crianças sejam criadas não mais para reproduzirem,

quando adultas, uma postura doméstica, e sim individualidades. Ou seja, ao passarmos de um modelo de sociedade familiar para um

modelo moderno de sociedade, desvinculado das amarras familiares, isso vai se refletir no papel que os pais devem assumir nessa

nova sociedade: agora, os pais não devem mais impor o medo aos filhos, tornando-os incapazes de decisões não supervisionadas pelos

pais, mas antes, incentivarem as individualidades que a sociedade moderna cobrará dos filhos quando adultos, tais quais a concorrência

e a iniciativa pessoal.

O homem cordial brasileiro.

O autor nos apresenta o conceito {talvez, um tipo-ideal} do homem cordial brasileiro.

Os estrangeiros costumam falar da cordialidade brasileira em relação à bondade, hospitalidade, contudo, não é isso que o autor

quer dizer ao classificar o brasileiro como cordial. O centro dessa ideia é que o brasileiro age cordialmente, ou seja, com o coração.

A cordialidade se contrapõe a civilidade. Cordial porque ainda está vinculado à sociedade-família, e não à sociedade-civilização.

Sociedade-família essa que, como vimos, é patriarcal e rural. A cordialidade está embasada por um fundo emotivo, enquanto a

civilidade tem algo de coercitivo.

O exemplo que ilustra a civilidade é a sociedade japonesa. Lá impera a polidez e o ritualismo. Tanto assim que o respeito entre as

pessoas se dá de forma parecida com a veneração à divindade ou a reverência religiosa.

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Em contraposição à civilidade (japonesa), há a cordialidade brasileira. Aqui há a aversão ao ritualismo. Na essência somos

contrários à polidez, contudo, pode-se observar uma prática nossa que se assemelha à polidez na forma, mas de conteúdo muito

distinto.

“Ela pode iludir na aparência - e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica

deliberada de manifestações que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez [cordial] é, de algum modo, organização de defesa

ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de

resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. Por meio de

semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem, revela-se um

decisivo triunfo do espírito sobre a vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E,

efetivamente, a polidez [cordial] implica uma presença contínua e soberana do indivíduo.”

Isso significa que a cordialidade brasileira assume a forma de polidez como um disfarce para esconder a cordialidade, o agir

emotivo. Diante da sociedade exigente de um agir desvinculado da emotividade (um agir moderno), o homem cordial age

materialmente com o coração, porém, utilizando uma forma polida para esconder.

A aversão do homem cordial ao ritualismo social. O horror às distâncias.

Ainda que utilize essa forma polida para esconder o agir cordial, o homem cordial não consegue fazê-lo com muita tenacidade.

Tanto assim que não nos é comum uma reverência extensa à autoridade, posto que não é concebível a possibilidade de excluir um

convívio mais familiar. O respeito esperado na sociedade moderna substitui-se pelo desejo de estabelecer intimidade {de incorporar

ao coração, à família}.

A aversão ao ritualismo também se manifesta na linguagem, através do acentuado emprego de diminutivos. Fazemos isso com

intuito de tornar o objeto ou pessoa no diminutivo mais acessível aos sentidos e também aproximá-lo ao coração. Outra manifestação

disso é percebida pela nossa tendência em omitir os sobrenomes no tratamento cotidiano. Isso porque sem um sobrenome, o

interlocutor passa a poder fazer parte da sua família.

Até mesmo nos negócios essa aversão ao ritualismo social se demonstra. Tal coisa não seria de se esperar, dado que esse exercício

está calcado na individualidade e concorrência (atributos modernos, que, teoricamente, são característicos da sociedade que superou

a legitimação na família). Contudo, a prática do cotidiano da sociedade do homem cordial exige que para se conquistar um freguês o

comerciante deve fazer dele um amigo.

O horror às distâncias – característico da cordialidade – na religiosidade.

Além da manifestação da aversão ao ritualismo pelo homem cordial na linguagem, vida social e nos negócios, há também o caso

da religiosidade (que é explorado mais intensamente pelo autor).

Naquela comparação inicial da cordialidade brasileira e da civilidade japonesa, percebemos que lá o ritualismo invade o terreno

da conduta social para dar-lhe mais rigor, enquanto que aqui é o contrário: o rigorismo do rito se afrouxa e se humaniza.

Além dos pensadores sociais aqui tratados, é altamente recomendado que o aluno pesquise sobre a produção de outros autores

como:

CAIO PRADO JÚNIOR,

CELSO FURTADO

DARCY RIBEIRO

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

JEAN-JACQUES ROUSSEAU(1712-1778)

Em 1749, Rousseau ingressa na Academia de Dyon, Paris. Se o progresso das ciências e das artes contribuiu para corromper ou

aprimorar os costumes. Fica muito emocionado, tomado por ideias. Um universo se abre diante dele. Redige algumas linhas e mostra

a Diderot, que o encoraja a concorrer ao prêmio. Ao defender que todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza

do homem, Rousseau inspirou todos os movimentos que visavam uma busca pela liberdade. Deve-se a Rousseau uma vasta

contribuição a sociologia tais como: a Visão de total liberdade no estado de natureza do homem, Vontade geral, Educação centrada

na criança, Amor-próprio, Soberania do Povo, Liberdade Positiva.

BRONISLAW KASPAR MALINOWSKI(1884-1942)

Depois de formado em Filosofia matricula-se na matricula-se na Escola de Ciências Econômicas e Políticas de Londres (1910),

onde a antropologia acabara de entrar para o currículo. Conquistou renome nos círculos antropológicos com ensaios sobre os

aborígines australianos. Ele é considerado um dos fundadores da antropologia social. Fundou a escola funcionalista.

KARL MANHEIM(1893-1947)

Sociólogo húngaro nascido em 1893, Karl Mannheim foi um dos grandes impulsionadores da Sociologia do Conhecimento. Na

sua obra "Ideologia e Utopia", publicado em 1929, faz uma abordagem inovadora da relação entre o conhecimento e a realidade,

afirmando que é esta relação que determina o conteúdo das ideias. Merece também destaque o seu contributo na divulgação da

sociologia nos Estados Unidos e em Inglaterra, Transportando-a, pela primeira vez, para fora da esfera germânica.

ANTÔNIO GRAMSCI(1891-1937)

Foi uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20, co-fundador do Partido Comunista Italiano. Gramsci

promoveu o casamento das ideias de Marx com as de Maquiavel, considerando o Partido Comunista o novo "Príncipe", a quem o

pensador florentino renascentista dava conselhos para tomar e permanecer no poder. Para Gramsci, mais ainda do que para Maquiavel,

os fins justificam os meios e qualquer ato só pode ser julgado a partir de sua utilidade para a revolução comunista.

CHARLES WRIGHT MILS (1916-1962)

Mestre em artes, filosofia e sociologia pela Universidade do Texas, doutorou-se em sociologia e antropologia pela Universidade

de Wisconsin. Foi professor de Sociologia das Universidades de Maryland e Columbia. O autor ficou principalmente conhecido por

seu livro A Imaginação Sociológica, publicado originalmente nos EUA em 1959. Nele o autor faz um apelo para que sociólogos não

deixem a imaginação e a criatividade de lado, ao exercerem sua profissão, em favor de uma pretensa objetividade e neutralidade do

trabalho científico.

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Suas obras mais conhecidas são The Power Elite (1956; A elite do poder), na qual estuda a relação entre o poder econômico e as

forças armadas, e The Sociological Imagination (1959; A imaginação sociológica).

CLAUDE LÉVI-STRAUSS (1908-2009)

É considerado fundador da antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século

XX. Professor honorário do Collège de France, ali ocupou a cátedra de antropologia social de1959 a 1982.Desde seus primeiros

trabalhos sobre os povos indígenas do Brasil, que estudou em campo, no período de 1935 a 1939, e a publicação de sua tese As

estruturas elementares do parentesco, em 1949, publicou uma extensa obra, reconhecida internacionalmente.

FLORESTAN FERNANDES(1920-1995)

Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, graduando-se mais tarde, em

Ciências Sociais. Obteve o título de Mestre em 1947, ao dissertar sobre A Organização Social dos Tupinambás. E no início da década

de 50, defendeu sua tese de doutorado, A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. Atuou como assistente catedrático, livre

docente e professor titular na cadeira de Sociologia I, sendo efetivado na cátedra no ano de 1964, com a tese A Integração do Negro

na Sociedade de Classes. Pode-se dizer que o que Florestan fez foi transformar a maneira de se realizar a investigação sociológica.

ALAIN TOURAINE(1925-)

Sua carreira na Sociologia começou cedo. Em 1958 criou o Laboratório de Sociologia do Trabalho em França e foi nos anos 60

presidente da Société de Sociologie Française. Foi co-fundador da revista Sociologie du Travail. O seu pioneirismo no estudo da

condição operária do capitalismo industrial maduro levou-o a escrever La conscience ouvriére em 1966. Tornou-se conhecido por ter

sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial". Seu trabalho é baseado na "sociologia de ação" e seu principal ponto de interesse

tem sido o estudo dos movimentos sociais.

A SOCIOLOGIA HOJE

A sociologia é agora uma área ampla e diversa que analisa todas as facetas da cultura, da estrutura social, do comportamento e

interação e da mudança social.

As principais correntes teóricas e as possibilidades de análise científica dos problemas sociais

1. TEORIZAÇÃO FUNCIONAL

Vê o universo social como um sistema de partes interligadas (Turner e Maryanski, 1979)

As partes são analisadas em termos de suas consequências, ou funções para o sistema maior;

Uma parte é examinada com respeito a como se preenche uma necessidade ou requisito do todo

As teorias funcionalistas nos levam a ver o universo social, ou qualquer parte dele, como um todo sistêmico cujos elementos

constitutivos funcionam em conjunto; ou seja, o funcionamento de cada elemento tem consequências sobre o funcionamento do todo

Problema: as teorias funcionalistas frequentemente veem as sociedades como demasiadamente bem integradas e organizadas.

2. TEORIAS DO CONFLITO Expoentes: Karl Marx e Max Weber

Veem o mundo social segundo suas contradições

Veem os fatos sociais cheios de tensão e contradições (Collins, 1975)

A desigualdade é a força que move o conflito

O conflito é a dinâmica central das relações humanas

As contradições se manifestam em formas distintas de conflito

O conflito é uma contingência básica da vida social

3. TEORIAS INTERACIONISTAS

Os homens interagem emitindo símbolos – palavras, expressões faciais, corporais ou qualquer sinal que “signifique” algo para

os outros e para si mesmos (Hoffman)

Através de gestos simbólicos demonstramos nosso estado de espírito, intenções e sentido de ação; e contrariamente, pela leitura

dos gestos dos outros, obtemos um sentido do que eles pensam e como eles se comportarão

A vida social está mediada por símbolos e gestos;

Usamos esses gestos para nos entendermos uns com os outros, para criarmos imagens de nós mesmos e das situações e

construirmos uma ideia de situações futuras ou desejadas

Para os interacionistas, a explicação da realidade social deve emanar da investigação meticulosa do micromundo dos indivíduos

que mutuamente interpretam os gestos, que constroem as imagens de si próprios e definem a situações segundo certos princípios

As macro ou grandes estruturas da sociedade – o Estado, a economia, a estratificação e similares – são construídos e sustentados

por microinterações

Para os interacionistas seria impossível entender o mundo social sem investigar esses encontros no micronível

4. TEORIAS UTILITARISTAS

Veem os homens como racionais até o ponto em que eles têm objetivos e finalidades;

Calculam os custos das várias alternativas para atingir esses objetivos e escolher a alternativa que maximize seus benefícios (ou

o que os economistas chamam de utilidade e minimizar seus custos

Para os teóricos utilitaristas, todas as relações sociais são, em última análise, trocas entre atores que incluem custos a fim de

obter benefícios uns dos outros, ou seja, que calculam a relação custo – benefício

A interação, a sociedade e a cultura são criadas e sustentadas porque elas oferecem bons resultados para indivíduos racionais.

Esses resultados raramente são monetários; em geral, eles são “posses” menos tangíveis – sentimentos pessoais, afeição orgulho,

estima, poder, controle e outras moedas “suaves” que estruturam a sociedade.

“Mudar é também questão de treino. Simplesmente deixar de fazer o que foi automatizado e treinar o novo comportamento”

R. SHINYASHIKI