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INTRODUÇÃO A Assembleia de Westminster (1643-1653) Dois anos antes da reunião de uma assembleia de teólogos na abadia de Westminster (de onde vem o nome da Confissão de Fé de Westmins- ter), um proeminente pastor chamado Edmund Calamy conclamou a Câmara dos Comuns a reformar a igreja da Inglaterra. Não se tratava de uma visão nostálgica dos dias paradisíacos do menino rei da Inglaterra, o evangélico e reformado Eduardo VI. Pelo contrário, Calamy concla- mou o Parlamento a “reformar a própria Reforma”. Somente depois de 1643 é que a moderna reforma de Calamy tomou a forma do que provou ser o último dos grandes sínodos pós-Reforma. É mais fácil anunciar uma regra de conduta do que vivê-la. Com cer- teza isso se aplica aos 120 teólogos da Assembleia de Westminster, pois eles tiveram que decidir como reformar a igreja e seus padrões doutri- nários. A Assembleia de Westminster foi convocada pelo Parlamento inglês, durante a sangrenta guerra civil contra o rei Carlos I, no início da década de 40 do século 17. A incumbência era propor ao Parlamento quaisquer correções que pudessem ser necessárias nas estruturas exis- tentes, no culto, e no ensino da igreja. Em outras palavras, a reunião recebeu a comissão de fazer o que os puritanos dentro da igreja há muito sonhavam fazer. Havia também os que estavam fora da igreja e ansiavam pela reforma, os presbiterianos escoceses. Deixados com o gosto amargo e prolongado da interferência inglesa em sua igreja, eles tinham se con- vencido de que somente uma grande reforma na igreja do Sul poderia salvaguardar o cerne dos ensinos de sua igreja, a do Norte. Em âmbito nacional e local, a Assembleia de Westminster foi impor- tante para que a igreja inglesa se livrasse de muitos pregadores terríveis e os substituísse por menos terríveis. No plano internacional, ela tentou revisar, e por fim reescreveu, os textos das igrejas da Inglaterra e País de Guia da Confissão de Fé.indd 17 07/06/2017 13:24:14

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INTRODUÇÃO

A Assembleia de Westminster (1643-1653)Dois anos antes da reunião de uma assembleia de teólogos na abadia

de Westminster (de onde vem o nome da Confissão de Fé de Westmins-ter), um proeminente pastor chamado Edmund Calamy conclamou a Câmara dos Comuns a reformar a igreja da Inglaterra. Não se tratava de uma visão nostálgica dos dias paradisíacos do menino rei da Inglaterra, o evangélico e reformado Eduardo VI. Pelo contrário, Calamy concla-mou o Parlamento a “reformar a própria Reforma”. Somente depois de 1643 é que a moderna reforma de Calamy tomou a forma do que provou ser o último dos grandes sínodos pós-Reforma.

É mais fácil anunciar uma regra de conduta do que vivê-la. Com cer-teza isso se aplica aos 120 teólogos da Assembleia de Westminster, pois eles tiveram que decidir como reformar a igreja e seus padrões doutri-nários. A Assembleia de Westminster foi convocada pelo Parlamento inglês, durante a sangrenta guerra civil contra o rei Carlos I, no início da década de 40 do século 17. A incumbência era propor ao Parlamento quaisquer correções que pudessem ser necessárias nas estruturas exis-tentes, no culto, e no ensino da igreja. Em outras palavras, a reunião recebeu a comissão de fazer o que os puritanos dentro da igreja há muito sonhavam fazer. Havia também os que estavam fora da igreja e ansiavam pela reforma, os presbiterianos escoceses. Deixados com o gosto amargo e prolongado da interferência inglesa em sua igreja, eles tinham se con-vencido de que somente uma grande reforma na igreja do Sul poderia salvaguardar o cerne dos ensinos de sua igreja, a do Norte.

Em âmbito nacional e local, a Assembleia de Westminster foi impor-tante para que a igreja inglesa se livrasse de muitos pregadores terríveis e os substituísse por menos terríveis. No plano internacional, ela tentou revisar, e por fim reescreveu, os textos das igrejas da Inglaterra e País de

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Gales, Escócia e Irlanda. Ela traçou direções para a igreja governamental, publicou um guia para o culto público, emitiu declarações doutrinárias, correspondeu-se com igrejas estrangeiras, criou dois catecismos e escre-veu uma nova confissão de fé.

A verdade é que Edmund Calamy e seus colegas deviam ter ficado muito contentes, mas eles não ficaram. A tarefa de revisar ou escrever um documento como um diretório ou confissão parecia mais fácil do que na verdade era. Os pastores individualmente podiam afirmar suas próprias compreensões da Bíblia, mas era muito mais difícil chegar a um acordo como um grupo. Naquela época (como agora) havia arquitetos demais querendo reformar a obra e construtores de menos que podiam de fato executá-la. A experiência foi frustrante, fazendo com que Calamy reclamasse de que “ninguém sabe o que é essa reforma. Isso é um pecado e uma tristeza”.

A Confissão de Fé de Westminster (1646)Em 1644 Edmund Calamy estava desesperado, mas em 1646 a assem-

bleia tinha conseguido finalizar sua histórica confissão. O produto final era digno de celebração e ainda o é hoje. De fato, a afirmação de fé da assembleia é um texto verdadeiramente notável na história do cristia-nismo. Todos que examinam as suas páginas encontrarão um resumo seguro da verdade para a vida.

A Confissão de Westminster é um sumário da teologia cristã na tra-dição da Reforma. Ela sistematiza mais de 30 verdades distintas da Escri-tura. Cada tópico originalmente designava um “artigo” de fé, imitando os 39 Artigos da Igreja da Inglaterra. Provavelmente, a Confissão foi escrita na terceira pessoa, e não na primeira, porque a intenção era substituir os 39 Artigos. As páginas dela declaram o que a Bíblia ensina, em vez de declarar o que os santos acreditam que a Bíblia ensina. Como os 39 artigos, ela apresenta ortodoxia mais impositiva do que opinativamente.

Entretanto, para aqueles que abraçam a história cristã e o significado dela, conforme aqui é contado, essa confissão declara o conteúdo da fé dos santos e, após crerem nela, ela se torna pessoal. As páginas ini-ciais da Confissão se regozijam no maravilhoso fato de Deus revelar a si mesmo no mundo e na Palavra. Parágrafos inteiros se demoram no estudo da completude e clareza das Escrituras. Eles demonstram clara deferência à autoridade e caráter definitivo dos 66 livros da Bíblia. Com devoção e prazer, a Confissão passa a examinar o Deus que revela a si mesmo em todas as suas perfeições. Com reverência e espanto, os

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teólogos de Westminster se esforçam para dizer o que se pode dizer do Deus que é um e do Deus que é três. As glórias do eterno Deus ocupam algumas linhas. O caráter do Deus amoroso, gracioso e misericordioso ocupa outras.

Os leitores logo perceberão que, capítulo a capítulo, a Confissão de Fé de Westminster traça a grande história de nossa redenção: as tris-tes realidades da queda, as alianças do Deus gracioso com o homem, o impressionante anúncio da salvação e nossa firme esperança de vida eterna – todas essas coisas são esboçadas em traços fortes, mas bem pensados. Devido à clareza dessa apresentação do evangelho em todas as suas partes é que a Confissão de Fé de Westminster se encontra na primeira classe dos grandes credos cristãos. Ela é estimada pelos refor-mados: congregacionais, batistas, metodistas e episcopais; e é muito valo-rizada pelos presbiterianos. Talvez ela seja o mais sábio dos credos, em termos de ensino, e o mais refinado em termos de expressão doutrinária. Certamente é um guia confiável para as Escrituras, que são o único guia confiável até Deus. A verdade é que os usuários descobrirão que refletir sobre os capítulos da Confissão geralmente conduz ao estudo das pala-vras da Escritura. Não há muitos outros exercícios em cujo investimento de tempo seja tão lucrativo.

Vendo o texto como um todo, a Confissão de Fé de Westminster goza de três grandes forças. A primeira repousa na coerência e clareza de seus capítulos cuidadosamente definidos, cada um deles organizado ao redor de um tema bíblico ou doutrinário principal. Por escrever ao final do longo processo da Reforma, os membros da Assembleia de Westmins-ter (1643-1653) estavam ávidos por colher a melhor exegese bíblica dos reformadores, as estruturas doutrinárias mais úteis dos teólogos medie-vais e as compreensões mais duradouras dos Pais da Igreja. Os mem-bros da Assembleia beberam largamente dessas três fontes e investiram muito tempo e energia para sintetizar suas descobertas nesse documento de 12.000 palavras. Eles também fizeram uma reflexão pessoal sobre as enormes implicações dessas doutrinas e tentaram, zelosamente, viver à altura da teologia que confessaram. Nessa Confissão vemos o fruto do trabalho deles.

A segunda característica que diferencia essa Confissão é o seu uso como um guia para os leitores da Bíblia. Alguns parágrafos da Confissão foram escritos com o único propósito de ajudar os cristãos a compre-ender palavras e frases da Escritura. A Assembleia também disponibili-zou 2.500 textos-prova para fundamentar os ensinos da Confissão. Para

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quem tem paciência para investigar as bases bíblicas para a doutrina cristã, um estudo dessa declaração de fé e suas passagens de apoio será extremamente proveitoso. Entretanto, ter paciência é essencial; pois não há explicações anexas às passagens citadas pela Assembleia. Os estudio-sos irão reconhecer que esses textos funcionam como notas de rodapé – tanto das passagens das Escrituras como do entendimento reformado dessas passagens. Podemos ter acesso a tal entendimento nos livros escritos na época da assembleia, ou antes dela. Contudo a maioria de nós não tem acesso a esses livros antigos. Por isso, a compreensão des-sas referências bíblicas exige cuidadosa reflexão, oração e até meditação, antes que a luz lançada por esses versos sobre nossos antepassados brilhe sobre nós também. Ainda assim, essa é uma base sobre a qual os leitores diligentes podem construir, se usada de forma adequada.

A terceira grande vantagem dessa Confissão é que ela trata não somente das doutrinas fundamentais que são óbvias, mas também das que são difíceis. Os covardes ficam intimidados por muitos dos tópicos levantados nessa Confissão: o problema do mal, os decretos divinos e o livre (ou servo) arbítrio. A Assembleia apresenta esboços cuidadosos sobre cada assunto – e contrapontos claros aos erros ligados a eles. Tais resumos serão úteis tanto aos principiantes no cristianismo como aos teólogos experientes.

A Confissão da Assembleia é clara, oferece um bom guia para a Bíblia e trata de forma útil as doutrinas difíceis. Entretanto, ela não discute as doutrinas cristãs de forma tão clara como poderia. Isso se dá, em parte, porque qualquer tentativa de tratar de assuntos doutrinários como áreas isoladas da teologia está sujeita a margear disputas entre aqueles tópicos. Como seria possível abordar a doutrina da justificação e não dizer algo sobre a expiação ou a salvação pela fé? No final, a Assembleia de West-minster estava mais dedicada a discutir cada tópico detalhadamente do que a elaborar uma confissão de forma concisa.

Contudo, os leitores não ficam surpresos apenas com a redundância. Às vezes eles também questionam a especificidade da Confissão. Por que não é suficiente apenas falar em ser “salvo” ou “estar em Cristo”? Por que a Confissão também tem que definir “justificação” e “imputa-ção” e “perdão”? Para ser sincero, parece que um motivo para a especi-ficidade da Confissão tem a ver com o simples prazer de seus autores. Cristãos zelosos às vezes desenvolvem uma aspiração por Deus. Isso pode acabar se tornando um desejo insaciável por descobrir razões carnais para a doxologia. Quando isso acontece, as Escrituras nos dão

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motivo para pensar e louvar. Afinal, não apenas grandes agrupamentos de doutrinas, mas também as partes que as compõem, são apresenta-das na Bíblia para nossa atenção e meditação. Temos que nos regozi-jar nos detalhes do plano salvador e nas bênçãos inconfundíveis que recebemos de Deus em seu evangelho. Os estudantes sérios na escola de Cristo se tornam instintivamente equipados para desfrutar de cada pincelada na tela da revelação e redenção de Deus, e não apenas no efeito final que o Mestre produz.

A outra razão por que vemos uma cuidadosa atenção para com a pre-cisão terminológica nessa Confissão, é que a designação pode promo-ver o aprendizado. Vemos isso na química, na gramática e na teologia também. Tome a doutrina da justificação, por exemplo. As Escrituras nos falam de uma verdadeira justiça sendo imputada àqueles que não a merecem e de um perdão gratuito adquirido para os pecadores. Às vezes, as Escrituras associam essa justiça imputada à justificação, às vezes elas ligam o perdão à justificação. Os autores dessa Confissão, como muitos leitores da Bíblia antes e depois deles, perceberam essas frequentes asso-ciações de palavras e ideias. Nesse caso, eles concluíram que “justificação” tem de ser o termo geral que engloba justiça imputada e perdão divino; dois aspectos diferentes – mas unidos – da doutrina da justificação.

Estando de posse dessa informação, após cuidadoso estudo das Escri-turas, é muito difícil que um cristão atento se dê por satisfeito em apenas falar da justificação em termos gerais ou da palavra justificação “como ela era compreendida no mundo grego”. Não. Uma vez que os autores bíblicos atribuem conteúdo específico para doutrina e para palavras, o estudo bíblico responsável exige que esse conteúdo seja identificado, explicado e confessado. Isso é o que a Confissão de Fé de Westminster faz em todos os seus capítulos: ela introduz ideias doutrinárias, resume como elas são analisadas gramaticalmente, como estão interligadas na Bíblia e ajudam o leitor a confessar essas doutrinas de forma zelosa.

O texto da ConfissãoNão se pode afirmar que a Assembleia de Westminster não cometeu

nenhum erro. Este comentário, ocasionalmente, primeiro afirma qual é a perspectiva da Assembleia sobre uma questão e depois argumenta contra ela. Este comentário também discute algumas emendas à Con-fissão efetuadas nos Estados Unidos em quatro estágios. Em 1788 foram efetuadas importantes revisões, seguidas de outras mudanças em 1887, 1903 e 1936.

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As revisões do final do século 18 afetaram os capítulos confessio-nais 20.4, 23.3 e 31.2 e refletiram uma mudança de perspectiva sobre o relacionamento entre igreja e estado. As revisões do século 18 também incluíram a mudança da resposta 109 do Catecismo Maior, que original-mente proibia “tolerar a falsa religião” – uma prescrição já não mais sus-tentável no Estado norte-americano. Também foi mudada uma palavra na pergunta 142, que originalmente tinha proibido “despovoamento”. Tal proibição era constrangedora devido à colonização europeia – em anda-mento – do território que antes pertencera aos nativos norte-americanos.

Uma revisão no final do século 19 apenas relaxou as regras da igreja, no capítulo 24.4, com relação ao casamento com um parente próximo de um cônjuge falecido. Já as revisões do início do século 20 foram extensas. A Presbyterian Church in the USA reescreveu o capítulo 16.7 sobre as boas obras dos incrédulos. Ela removeu a última frase do capítulo 22.3 e assim suavizou as exigências quanto a um juramento. O capítulo 25.6 também foi proveitosamente reescrito por ela e a referência ao Papa de Roma como o anticristo foi removida, sendo acrescentados dois novos capítulos, um sobre o Espírito Santo e o outro sobre o amor de Deus e missões. A adição de dois novos capítulos e as revisões do capítulo 16.7 foram mudanças inclinadas a uma apresentação arminiana da doutrina, em vez de uma caracteristicamente reformada.

Ao se separar da principal Presbyterian Church in the United States em 1936, a Orthodox Presbyterian Church (OPC) determinou a manu-tenção de todas as revisões anteriores a 1903, e rejeitou a maioria das que foram propostas em 1903. Ela aprovou a mudança de 1903 do capí-tulo 22.3. Embora tenha rejeitado a nova redação de 1903 do capítulo 25.6, a OPC concordou com a remoção da referência ao Papa como anti-cristo. A Presbyterian Church in America (PCA) adotou o texto de 1936. Outros códigos presbiterianos confessionais permitiram aos oficiais da PCA usarem o texto de 1936 ou fazer as mesmas exceções conscientes ao texto original.

Neste livro, eu comento, em primeiro lugar, o texto histórico (a coluna da esquerda), mas também comento as revisões à edição original (a coluna da direita).* Onde essas linhas ou parágrafos revisados ocor-rem nos capítulos 20.4, 22.3, 23.3, 24.4, 25.6 e 31.2, eles são colocados ao lado do texto original da confissão numa coluna paralela centralizada.1

* Nesta edição em português, mantivemos na coluna da esquerda o texto histórico e, na coluna da direita, a tradução do texto atual em inglês (N. do E.).

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Este comentárioQualquer alegação de originalidade neste comentário se baseia prin-

cipalmente em duas áreas principais, ambas de natureza histórica. Pri-meira, esta é uma tentativa de falar sobre um texto tardio da Reforma e não da teologia reformada como geralmente é compreendida. O objetivo deste livro não é refletir os interesses teológicos ou ênfases prediletas do autor. É um estudo da Confissão de Fé de Westminster. Por essa razão, o capítulo sobre criação não trata da evolução e o capítulo sobre casamento não discute o feminismo. Na realidade, muitos fatos históricos, muita história redentiva e muitas conexões entre doutrinas me interessam e ocupam minhas energias como pastor e como historiador. No entanto, elas não são discutidas na Confissão e, por isso, não são trabalhadas aqui.

Eu não tratei da questão da ordem dos capítulos da Confissão de Fé de Westminster, porque procuro ser sensível ao processo criativo e ao contexto histórico por trás dela. A disposição dos capítulos em si é lógica, não é solta e desconexa. Em geral, é fácil ver a razão de um capí-tulo vir após o outro ou estar agrupado com ele. Contudo, isso não quer dizer que cada capítulo deriva o seu conteúdo de outro, ou que haja uma só doutrina sobre a qual todos os outros sejam construídos – como se fosse uma pirâmide invertida. Sem dúvida alguns teólogos, especial-mente no século 20, adotam uma ou outra ideia teológica de tal maneira que passa a determinar todas as outras. Contudo, os teólogos do século 17 tentaram deduzir o conteúdo doutrinário e o significado dele por meio de um processo de exegese bíblica. Eu tento fazer o mesmo na compreensão da Confissão.

A segunda característica relacionada a este comentário é sua tenta-tiva de enriquecer e trazer informações sobre a interpretação do texto da Confissão. Isso, por meio da reflexão sobre os textos bíblicos citados pela Assembleia de Westminster. Após o esboço de cada frase e capí-tulo da Confissão, a Assembleia debatia e depois aprovava uma série de passagens bíblicas para dar suporte àquela doutrina. Mais tarde, o Parlamento exigiu que a Assembleia incluísse referências às Escrituras junto ao texto da Confissão. A Assembleia o fez com relutância, já que não tinha oportunidade de explicar – por meio de uma simples citação de uma passagem – a exegese daquele texto. Entretanto, uma vez que os membros da Assembleia aceitaram a tarefa, eles escolheram cuida-dosamente as passagens bíblicas de apoio, filtrando a lista de passagens aprovadas nos debates anteriores. Na tentativa de usar esses textos bíbli-cos para compreender as frases da Confissão, este livro, mais uma vez,

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esforça-se por ser tanto um estudo histórico quanto textual. É claro que as edições modernas da Confissão às vezes empregam textos-prova alter-nativos – que algumas vezes dão um suporte bíblico até melhor para as doutrinas da Assembleia. Ainda assim, como eles não ajudam a ter uma compreensão do pensamento da Assembleia em si, eu não faço referên-cia a eles aqui.

Uma vez que a Assembleia não explicou como cada texto deveria ser interpretado, eu me esforço para explicar as passagens bíblicas de maneira a concordar com as interpretações predominantes no século 17 ou antes dele. O uso que faço das passagens bíblicas se baseia em meu conhecimento dos textos e debates da Assembleia, nos escritos dos membros da Assembleia e dos exegetas daquela época ou de antes dela. Quando tive dúvidas eu recorri àquelas fontes para ser plausível. Espero que outros estudantes da história da exegese possam concordar com as exposições e uso que fiz desses textos.

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