guerra do contestado (llinguagem dos caboclos) livraria vuirtual issuu/edipel -2014-

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO 1 REINALDO ASSIS PELLIZZARO GUERRA DO CONTESTADO (Linguagem dos Caboclos) - E dipel-

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A epopeia da GUERRA DO CONTESTADO, é sem dúvida um fato histórico relevante vivido pelos nossos caboclos que deixaram um legado de heroísmo e linguagem singular que merece ser registrado...

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

1

REINALDO ASSIS PELLIZZARO

GUERRA

DO

CONTESTADO (Linguagem dos Caboclos)

-Edipel-

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Quando nóis era jagunço

Tava bem arrumadinho

Muito oro nos cuscóis

E camisa cularinho!.

(Linguagem dos caboclos, demonstrando que quando lutavam

como jagunços estavam, bem...)

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

3

1@. Edição – 2.014

Reinaldo Assis Pellizzaro

PELLIZZARO, Reinaldo Assis

GUERRA DO CONTESTADO (Linguagem dos

Caboclos)

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

ÍNDICE GERAL

A Guerra do Contestado................ 5

Teste Militar.................................. 9

Monge Zé Maria.......................... 19

Adeodato..................................... 25

Linguagem falada p/ caboclos.... 32

Bibliografia...................................52

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

5

A GUERRA DO CONTESTADO

A Guerra do Contestado, foi um conflito

armado entre a populaçãocabocla e os

representantes do poder estadual e federal

brasileiro travado entre outubro de 1912 a

agosto de 1916, numa região rica em erva-

mate emadeira, disputada pelos estados

brasileiros do Paraná e de Santa Catarina

Decorrente de problemas sociais,

decorrentes principalmente da falta de

regularização da posse de terras e da

insatisfação da população hipossuficiente, numa

região em que a presença do poder público era

pífia, o embate foi agravado ainda pelo

fanatismo religioso, expresso

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

pelomessianismo e pela crença, por parte dos

caboclos revoltados, de que se tratava de

uma guerra santa.

A região fronteiriça entre os estados

do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de

Contestado devido ao fato de que os agricultores

contestaram a doação que o

governo brasileiro fez aos madeireiros e

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à Southern Brazil Lumber & Colonization

Company.

Como foi uma região de muitos

conflitos, ficou conhecida como Contestado, por

ser uma região de disputas de limites entre os

dois estados brasileiros.

Uma das maiores e mais sangrentas

revoltas camponesas da História da Humanidade

aconteceu em Santa Catarina.

No dia 22 de outubro de 1912, na cidade

de Irani, tropas paranaenses comandadas pelo

coronel João Gualberto travaram um violento

combate com um grupo de sertanejos sem-terra,

liderados pelo “monge” José Maria que pregava

a volta da Monarquia e a construção de uma

sociedade igualitária.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

O conflito, que se alastrou por dezenas de

cidades catarinenses, durou quatro anos e

causou a morte de cerca de 20 mil pessoas.

Vários acontecimentos produziram este

levante popular: a disputa de limites entre

Paraná e Santa Catarina; a construção da estrada

de ferro São Paulo - Rio Grande, pela poderosa

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multinacional Brazil Railway pertencente ao

Sindicato Farquhar; a instalação da segunda

maior madeireira da América, a Southern Brazil

Lumber & Colonization Company Inc.

Floresta de araucárias dizimada pela Lumber

Este conjunto de fatores convergia para uma

mesma direção: a expulsão dos camponeses,

habitantes nativos da região, a ocupação de suas

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

terras e a exploração das ricas reservas de

pinheiro araucária. Nesse período praticou-se a

primeira devastação ecológica industrialmente

planejada na América Latina com a derrubada

de mais de 2 milhões de pinheiros e outras

madeiras nobres.

TESTE MILITAR

A Guerra do Contestado mobilizou dois

terços do Exército Brasileiro de então, milícias

estaduais e forças paramilitares. Foi o grande

teste do exército moderno: pela primeira vez, na

América Latina, utilizaram-se aviões com fins

militares, bombas de fragmentação e

aprimoradas técnicas de contra-insurgência, só

esboçadas na Guerra de Canudos.

Os camponeses, profundos conhecedores

do sertão catarinense e movidos por uma fé

mística baseada na imortalidade, resistiram

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ferozmente até a sua derrota utilizando

eficientes técnicas de guerrilha.

Caboclos armados de facão de

madeira

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Além da luta pela terra, messianismo,

sebastianismo e desejos de volta à Monarquia

permeavam o imaginário dos sertanejos.

Analisando a Guerra do Contestado, a

partir de questão religiosa Angelo Vaninei

Cordeiro, faz um expressivo e esclarecedor

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relato histórico, que merece ser transcrito, para

compreendermos o que realmente ocorreu nessa

conturbada quadra da nossa historia, verbis:

“ O imaginário religioso. O que nos

propusemos a debater no início deste artigo foi

a questão religiosa, esse contexto acima mostra

as várias faces desta guerra o que denota a

importância de buscar um entendimento amplo

da questão, desta forma, passaremos agora a

discutir as visões e a religiosidade em contraste

com uma guerra, a Guerra do Contestado.

O Contestado por ser uma guerra de

caráter messiânico, pode ser visto e discutido a

partir de práticas religiosas, mas as práticas

que se articulavam com o modo de vida dos

sertanejos, e ao mesmo tempo revelam a

própria concepção de mundo deste povo.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Autores como Paulo Ramos Derengoski,

Élio Serpa, Aureliano Pinto de Moura, em suas

obras concebem a existência de três Monges

chamados João Maria, importantes, para a

compreensão dos desdobramentos que seguiram

antes e durante o conflito do Contestado no que

tange a religiosidade. A própria pedagogia

utilizada por estes monges vai de encontro as

necessidades da população, a “partilha do

cotidiano dos caboclos dava ao monge

condições para falar do sofrimento e das

esperanças e entender as necessidades7” desta

população. A lógica da convivência dava aos

líderes religiosos o conhecimento de como agir,

falar e tentar sanar os problemas locais, assim

os seus discursos e práticas eram

compartilhados pelos sertanejos, pois o que se

pregava tinha sentido e revelava a condição em

que se encontravam.

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A presença dos monges na região do

Contestado antecede a guerra.“Há um primeiro

João Maria (de Jesus), de quem pouco se fala e

pouco se sabe. Surgiu na região ISSN:

19837429 n.11 – março de 2013 no início do

século XIX (1810?)”8, Moura afirma não haver

informações precisas sobre o primeiro Monge,

já Derengoski, escreve que “O primeiro foi

Gianmaria d’Agostini, um italiano natural de

Piemonte que em 1844 deixou registrado e

assinado num cartório de Sorocaba seu

ingresso no Brasil”9, este se auto-intitulava

“solitário Eremita”.

Ao se referir ao segundo monge,

Derengoski, escreve: “do segundo João Maria

já se tem preto no branco – foto, desenhos e

relatos. Ele se chamava Atanás (ou Anastás)

Markaff, imigrante do Levante para

Argentina”10. Serpa ao falar do segundo

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Monge, João Maria de Jesus, o chamou de

“Anastás Marcaf, de origem francesa11” este

tinha um carisma muito agradável e era muito

bem acolhido entre os sertanejos.

O terceiro monge, José Maria, segundo

Serpa “por volta de 1911. Despontava na

região de Campos Novos (SC), no seio do povo,

outro profeta, e corria no sertão a notícia de

que o grande profeta havia ressurgido”12.

Cabral, afirma que o nome verdadeiro do

terceiro monge era “Miguel Lucena de

Boaventura”13, e o descreve como sendo um

pouco diferente de seus antecessores, “ao

contrário dos outros, era amigo da

popularidade e gostava de ajuntamentos – que

houve mister disciplinar a horda.

Como ex-militar, organizou então os

acampamentos, os quais denominou de Quadros

Santos”14, porém o povo não era capaz de

visualizar ou identificar as diferenças, pois um

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seria a continuidade do outro, ou a própria

encarnação,

O grande imaginário religioso nasce

destas profecias, de que após a morte sempre

tem alguém para suceder o que se foi, e assim

se perpetua no sertão um ideário, em que os

monges após a morte ainda estão em batalhas,

ajudando e comandando os combates.

Podemos nos perguntar, por que os

monges em suas pregações e peregrinações

pela região tinham tanto sucesso? A resposta

pode estar no seio da região e no modo de

ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 vida e

também no abandono da população, estes não

tinham aconselhamentos com padres, ou

pastores, estavam entregues a própria sorte,

viviam na pobreza, sem educação, saúde e

qualquer outra forma de orientação, desta

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forma era fácil e até entendível que o povo

aceitasse e procurasse se orientar, pelas

pregações destes homens que se diziam santos e

que acabavam por ser no meio desta multidão a

liderança mias importante.

Durante a Guerra do Contestado, na

batalha de Irani, vários caboclos foram mortos,

e dentre eles também tombou o monge José

Maria. Pode ser entendido como um marco

inicial do Contestado, e para a questão fanática

religiosa muito mais, pois “José Maria

encontraria muitos herdeiros, dispostos a

cobrar a dívida. As profecias do seu antecessor

iriam realizar-se: - viria a guerra. E veio. E o

sangue, efetivamente, voltou a correr.”15, este

último da sucessão de três monges, foi o mais

envolvido na guerra, até por ser ele o líder

venerado entre os caboclos, e é decorrente de

sua morte que vai se perpetuar essa ideia entre

os sertanejos da presença constante do mesmo

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entre eles ajudando nas batalhas. 15 Idibem, p.

184 e 185.

Esse imaginário moveu muita gente a

lutar e acreditar que após a morte também iria

ressuscitar, é aqui que se faz necessário

entender o quanto a religião e a própria crença

é capaz de envolver as pessoas, este

pensamento de que a força sobrenatural está

em atividade na vida das pessoas nos campos

de batalha e no próprio cotidiano, alenta e da

esperança a pessoas que estavam abandonados,

sem emprego e vivendo uma vida miserável, ou

seja, a prática religiosa era capaz de preencher

o vazio de tantas necessidades materiais e até

espirituais, não satisfeitas pelos órgãos

competentes que deveriam estar agindo nesta

região brasileira e até mesmo em outras, como

Canudos na Bahia. A promessa da volta, ou da

liderança conduzia este povo a lutarem pela

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terra prometida, a irem em busca de seus

ideais, e assim muitos sofreram a força bruta

das tropas republicanas.

“A morte de José Maria, no combate de

Irani, fez com que os sertanejos fizessem uso

intenso do imaginário religioso. Assim,

enterraram José Maria em cova bastante rasa,

coberto com algumas tábuas, pois acreditavam

que iria ressuscitar.

Isto criava nos sertanejos a esperança de

tê-lo junto, ISSN: 19837429 n.11 – março de

2013 reencaarnava vencendo a morte. Mais

tarde passam a divulgar que quem morresse

lutando também ressuscitaria, o que mobilizava

os moradores no sentido de se manterem unidos

diante do desaparecimento do profeta”16.

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Monge José Maria

Esta ideia de Serpa, ilustra bem como se

conservou a memória viva do monge, e o

quanto ele mobilizou as pessoas à luta até

mesmo após a sua morte, pois ao morrer “havia

entrado para o “Exército Encantado”, o

Exército de São Sebastião, cujo comandante era

o próprio São Sebastião”17. Dessa forma

ninguém morreria, somente passaria para a

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

eternidade, nem mesmo no combate de Irani as

pessoas tinham morrido, apenas haviam

passado para o Exército de São Sebastião

juntamente com o Monge José Maria.

É visível esta perpetuação iniciada pelos

monges que não tardou para aparecerem os que

diziam ter contato com José Maria, e foi nestes

intérpretes, ou adivinhos e videntes, que a

presença do monge se fez constante na vida das

pessoas e na organização da guerra e no

cotidiano da região. A primeira liderança

espiritual coube a Euzébio Ferreira dos Santos,

pai de família e comerciante, e demonstrava

grande apreço ao monge. Por este se inicia uma

série de personagens que encarnam e tem

contato com o monge. A primeira a ter esse

privilégio seguindo a crença popular dos

sertanejos foi a neta de Euzébio Ferreira dos

Santos, uma menina de 11 anos chamada de

Teodora.

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Segundo Moura, “em agosto de 1913,

Teodora veio a tardinha dizer que num galpão

um pouco afastado estavam três homens, um

dos quais era o José Maria. Para lá todos se

dirigiram rezando e avistaram, no entardecer,

uma luz que subia ao céu”18. Ninguém foi

capaz de enxergar o monge, somente a menina,

dessa forma a partir desse fato, espalhou-se na

região que Teodora seria a ponte de ligação

entre os sertanejos e José Maria, dando

continuidade à presença do mesmo nos embates

travados pela população local.

Aos poucos Teodora foi perdendo a

confiança das pessoas e foi substituída por

Manoel, um jovem de 18 anos, este filho de

Euzébio, “Manoel se encontrava com o ISSN:

19837429 n.11 – março de monge, nas matas

com regularidade”19, portanto agora Manuel

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era responsáveis por passar as informações de

José Maria as pessoas e os combatentes do

Contestado. Em um dos contatos, o monge

“passou a ordem de que era necessário

convocar gente para a guerra de São Sebastião

e de que seguissem todos para Taquaruçu, pois

nesse local ele apareceria para todos”20.

O que se nota a partir desse fato é que

essa cidade passa a ser um local de

peregrinação, pois ali o monge se revelava, ou

estava presente. Manuel continuava o líder e

vidente, porém, este organizou a comunidade e

passou a exigir alguns ritos e até submissão das

pessoas, ao ponto de exigir que para chegar na

cidade era necessário a ordem, e algumas

saudações ao líder espiritual, portador das

mensagens do monge, até que disse ter uma

ordem de José Maria para ele dormir com duas

virgens.

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Conta Moura, que por essa atitude,

Manoel “foi submetido a julgamento e

condenado a uma surra com vara de

marmeleiro nas nádegas”21, mesmo a

capacidade de vidente foi questionada pelo

povo, baseado nos ensinamentos do monge, que

no imaginário dos sertanejos, José Maria não

daria uma ordem dessas, ou aprovaria tal ato.

O julgamento dos caboclos era

consciente, mesmo morto José Maria não

desapontaria seus seguidores, assim, as

práticas dos videntes para serem aceitas pelos

membros da comunidade teriam que ter algo

ético e que viesse de encontro com aquilo que

eles esperavam de seu protetor, o qual falava e

comunicava seus decretos por meio de seus

intérpretes.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Com a queda de Manoel, quem o

substituiu foi o neto de Euzébio, chamado de

Joaquim, com apenas 11 anos de idade, e em

Caraguatá quem fazia o intermediário entre

José Maria e o povo era Maria Rosa, uma

menina de 15 anos.

MARIA ROSA

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Maria Rosa é como ficou conhecida

a personagem brasileira que foi uma das

líderes da Guerra do Contestado (1912-

1916), menina dotada de poderes místicos e

visões)

Dizem os historiadores que, com

apenas 15 anos, Maria Rosa lutou como

homem nesta guerra. Considerada como

uma Joana D'Arc do sertão, "combatia

montada em um cavalo branco com arreios

forrados de veludo, vestida de branco, com

flores nos cabelos e no fuzil".

Assumiu a liderança espiritual e

militar de todos os revoltosos do

Contestado, então eram cerca de 6000

homens, após a morte do dito monge João

Maria. Este monge santo, cujo nome era

Miguel Lucena de Boaventura - ,e que

também se autodenominava José Maria

Agostinho, tem registro de passagem como

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

militar no Paraná, foragido após cometer

delitos.

Maria Rosa morreu em 28 de

Março de 1915, da vila de Reinchardt,

lutando contra o capitão Tertuliano

Potyguara e um efetivo de cerca de 710

homens. Maria Rosa morreu às margens

do rio Caçador.

Com todos esses personagens se efetivava

a organização dos sertanejos, a existência

pobre, no sertão, tinha uma esperança, mesmo

se morresse em combate, continuaria vivo no

Exército de São Sebastião.

Os próprios combates e emboscadas

eram previstos pelos videntes, assim os

sertanejos se organizavam e criavam

estratégias ISSN: 19837429 n.11 – março de

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2013 de guerra, pois as previsões colocavam o

povo em alerta, e assim acreditavam que era a

comunicação direta com o monge, que estava

presente nas batalhas.

Adeodato preso entre dois soldados

Terminada a guerra os membros do

Exército de São Sebastião, fiéis ao monge José

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Maria, começaram a se dispersar, sobrou

apenas dois guerreiros, Elias de Moraes e

Adeodato Ramos, este último cumpre prisões,

escapa e é novamente capturado, até que um

dia, é assassinado pela polícia tentando fugir

depois de ter atacado um oficial e lhes roubado

a arma, porém:

“depois de morto, diz a lenda Adeodato

se transformou num grande carancho de

penacho branco, mas que voa para trás e para

o alto, no tempo e no espaço. E que daqui a mil

anos voltará para montar no cavalo farrapo e

percorrer novamente os carrascais o Iguaçu.

Ele surgirá do alto do morro encantado do

Taió, aos pés do sol, e trará entre os cabelos um

ninho de sete cobras venenosas. Em algum

ponto do Planalto reconstruirá a Cidade-Santa

de Taquaruçu. Neste dia, diz a lenda, o

carrascal vai virar mar e o mar vai virar

carrascal”22.

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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É mais uma lenda que mostra esse

imaginário da crença na volta após a morte, a

eternidade sempre perpassou a história da

humanidade, e os meios de superá-la sempre

foram cobiçados, e no Contestado temos uma

presença dessa concepção muito forte e

constante, ali se fez presente nas batalhas, no

cotidiano sofrido, a esperança de viver algo

além da vida e ainda interferir no mundo

material, como fazia o monge, alertando seus

fiéis quando um ataque estava para ocorrer.

Nessa relação entre monges e caboclos

temos uma aproximação, ou seja, não foi algo

imposto pelos monges, nem pelo povo, esta

amistosa compreensão de ambos se deu pelo

reconhecimento das práticas e discursos dos

monges e os problemas dos caboclos, a

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

experiências diárias e as ações concretas do

cotidiano aproxima o povo de seu líder, que

através da oralidade vai de encontro com os

princípios e necessidades dos sertanejos, ou

seja “os monges foram reconhecidos pelos

caboclos, na medida em que se mostraram

sensíveis e legitimaram suas práticas23”.

A relação é amistosa e aceita por quem

houve e por quem prega. José Maria tinha um

discurso voltado para as questões da natureza,

para a terra, ou o cuidado com a própria terra

e aquilo que a natureza provia, assim, fala da

existência do povo, do seu simbolismo, da

essência vivida por eles e vai se consolidando

como santo, a ser venerado em vida e após a

sua morte.

Essa relação exprime uma relação

cultural, pois os monges deveriam saber o que

falar, mas para isso precisavam saber para

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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quem estavam falando, deste modo o

conhecimento da existência local com tudo que

fazia parte cotidiana do sertão tinha que ser

falado, e não propor algo alheio ao mundo dos

caboclos.

A religiosidade fala, mas fala daquilo que

trás esperança e faz sentido para um

determinado povo, ela perpassa a história da

humanidade e está presente significando ações,

“é uma possibilidade permanente da vida

cotidiana, constituindo-se em um dado

histórico-cultural muito importante para o

conhecimento das sociedades”24.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

A REZA DOS CABOCLOS

Livro de reza dos caboclos

Orações rezadas diariamente – em

cada família sempre tinha um parente

letrado- com muita fé, invocando a

proteção divina, que revigorava o corpo e o

espírito, orações dotadas de força poderosa

e milagrosa, transmitida de geração em

geração até os dias atuais:

Ao acordar rezavam...

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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“Pelo santo batismo de JESUS

CRISTO, por JOÃO no RIO JORDÃO,

parai todas as armas para que não

disparem sobre mim pela palavra de

Nosso Senhor JESUS CRISTO, que nos

salvou da perdição, e por nós morreu na

cruz, parai MEU DEUS, longe de mim

tudo o que for contra mim. DEUS todo

poderoso, compadecei-vos de nós! Em

nome do PAI, do FILHO e do ESPIRITO

SANTOS. Amém! Pai nosso que estais no

Céu...”

No final do dia, antes de dormir,

rezavam:

“Em minha cama me deito com

JESUS CRUCIFICADO, em meu peito e

em meu lado, para que livre a minha alma

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

de culpa e meu corpo de pecados, PAI

NOSSO, AVE MARIA, chagas abertas,

coração ferido, NOSSO SENHOR, entre

mim e o perigo”.

O Contestado foi exemplo disso, as

práticas dos líderes só tinha sentido a partir do

momento que revelava a vida vivida da

população, José Maria esteve ao lado dos

caboclos empobrecidos e necessitados,

compartilhava a vida com eles, entrou em

batalhas, o exemplo do líder torna-o mais

aceitável ainda, pois fala e age junto com as

pessoas, assim tem uma cumplicidade, respeita

as práticas da comunidade e acima de tudo se

insere nelas, e a partir delas monta um discurso

e uma prática agradável a todos, e assim vai se

eternizando na memória e no imaginário dos

sertanejos, ao ponto de ser relacionado com o

sagrado, toda ação do monge estava ligado ao

sagrado, “atitudes e objetos ligados ao monge

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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eram tidos como remédios poderosos. Até

mesmo os lugares nos quais o monge

pernoitava eram considerados sagrados, e o

povo se apossava das cinzas que restavam da

fogueira, bem como das folhas e cascas de

árvores sobre as quais se recostara, para fazer

remédios, geralmente considerados

infalíveis”25.

Essas representações que dão sentido a

vida dos caboclos, nas próprias orações de

proteção e força, carregavam os sertanejos de

esperança para enfrentarem as adversidades da

vida

A proteção traria esse imaginário de

corpo fechado na guerra, revelando uma

grande coragem e disposição sem medo da

morte, pois a morte no fundo não existia, era

apenas uma passagem de lado, e a luta no

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

exército de São Sebastião continuaria ao lado

do monge José Maria. É importante perceber,

que esta fé, alicerçava a luta, e não obstante

também atingia as tropas do governo, pois o

medo da transcendência do lado oposto também

tinha forte incidência.

Estar lutando com protegidos de José

Maria não era algo comum, e algumas baixas

poderiam ser atribuídas ao poder sobrenatural,

mesmo que o Exército governamental

considerasse os caboclos de intelectualidade

inferior, a religiosidade e o imaginário eterno

atingiam ambos os lados, uns impulsionados

pela crença e outros atingidos, ou simplesmente

convivendo com essa possibilidade.

O imaginário religioso esteve presente e

se perpetuou na memória do povo do

Contestado, agiu, e foi decisivo para a

organização dos sertanejos na resistência, e

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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preservação de seus valores e princípios

ligados a terra e ao seu simbolismo próprio

conduziu, foi criativo, e acima de tudo manteve

viva a relação dos vivos com os mortos, numa

ligação de cumplicidade, e ajuda mútua” IN.

CORDEIRO, Angelo Vandinei (FURB) O

imáginário Religioso na Gurra do Contrestado,

Revista Litteris nr.11-Março 2013 que

ilustramos).

LINGUAGEM FALADA PELOS

CABOCLOS NA GUERRA DO

CONTESTADO

Na Guerra do Contestado, os caboclos

utilizavam uma linguagem muito peculiar, cujos

termos perduram até os nossos dias...

Nossa senhora, foi de arripiá as cadeia...

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

O fervo só carmô quando chegô os

meganha...

O intrevero foi feio: de faca, revorve,

tinha inté mosquetão...

Ele troxe os OTRO pra morre...

Qanto mais curria mais se aligerava...

In riba do burro não tinha quem

alcançasse o baita veio...

Muito ativo, dos MAIÓ que tinha

naquele lugar.

Si uns ia, tudo ia...

Tinha UNS mais novo, OTROS casado.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Não sei, mas diz que lá tavam

ENTERRADO.

As cachorrada eram BRABU.

Os MEUS tio vieram vindo pra cá.

Eles eram ACOSTUMADO no mato, né?

E ficavam TODOS junto, ali (

02P1L32MAE)

Teve padre que tirô TODAS as imagem.

Naquele tempo eram POUCAS pessoa

que tinha estudo.

Lá no Cará, chegou os DEIS alemão.

Ele via MUITA gente, MUITAS cruiz...

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Pialô a reis bem pela munheca...

Intupiro o desinfeliz de chumbo..

E despois torcero o pescoço dele que nem

matá galinha...

Sangro bem no morredô...

Nóis achemo, umas panela de ferro,

MUITAS panela de ferro.

Esse fais MUITOS ano já, no tempo do

Contestado, cê já viu, né?

Eles matavam MUITOS soldado.

ESSAS barata era pra comê.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Fazia AQUELES pão, assim, bem

salgado.

Não aborreça muito AS pessoa.

De repente veio um avião. AQUELAS

veinha, minha Nossa Senhora!

Minha mãe chamava AS criança pra se

junta com ela.

AS muié chorava por não ter o que dá de

comê pros fio.

Quando tava OS alemão fazendo

colônia.

O bicho se infurno na tiguera, ligero que

nem u’curisco...

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REINALDO ASSIS PELLIZZARO

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Daí Os porco fuçaram e ele se incostô

assim e ficô sentadinho.

Consegui me agarra nos barranco,

NUMAS raiz.

AS muié chorava por não ter o que dá de

comê pros fio.

Quando tava OS alemão fazendo

colônia.

Daí Os porco fuçaram e ele se incostô

assim e ficô sentadinho.

Consegui me agarra nOS barranco,

NUMAS raiz.

Nem sei dizê quantas muié morreram

co’as SUAS criança naquele lugar.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Só sobrô, daquelas pessoa, uns MÉSERO

morador.

Os DOIS lenço vermeio, no pescoço.

Daí eles falava que tinha boitatá, mula-

sem-cabeça, tudo ESSAS história, tudo eles

falava.

Tacô espada nas COSTA do homem.

Os OTRO invés de me acudi, não.

Um de a cavalo, ali, apertava bem os

meus ARREIO

Nem sei dize quantas muié morreram

co’as suas CRIANÇA naquele lugar.

Os dois LENÇO vermeio no pescoço...

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Então nóis apiava dos cavalos e

amarrava tudo naqueles DORMENTO.

Passaram muita fome, co’as barriga

VAZIA.

E dai a muié INCANZINADA botô chifre

no cuera veio, que fico cum duas guampa im

riba da testa e daí sim chamava ele do TORO

DA MARIANA....

Quando viero os parente o baita de

amoitô fingindo morto...

Mas bá tá bão que nossa...

Vá fincando o cassete que já se acarma...

I’eu não disse para se espertá... agora

foi-se p”ro beleleu...

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

João Maria e José Maria viero em datas

DIFERENTE.

Cos cabelo AMARRADO, impinando uma

pinga...

Qundo digo não...é não memo, não

carece esmuriçá!

Tá muito véio...não da mais no coro.

Esse bicho artero tem que levá uma tunda

de pau...

Não adianta rezá, o capeta já levô o

finado p’ra fornaia...

Nóis dizia o potrero dOS PORCO, né?

Ele tava falando dos tempo dOS

JAGUNÇO.

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O segundo monge gostava de oiá as

muié DOS FAZENDERO.

Foi tirado a maioria das image DAS

IGREJA.

O baita se gavava que tava c’os pila...

Os cavalo correndo tudo côas carroça

VÉIA BRECADA

So foi ficando pelas RAIZ da minha gente

Eles iam por trais daquelas CRUIZ ,

fazendo esquisito.

Consegui me agarra nos BARRANCO,

numas RAIZ.

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GUERRA DO CONTESTADO/LINGUAGEM DOS CABOCLOS

Quando eu era piá, de DÉIS ANO, eu

tava estudando ali, no Taquara Verde, ali.

Que nunca passe o que NOSSAS RAÍZES

passou. TUDO vão cavocá, fazê trincheira

MINHA MÃE dizia que ELES andavam

APURADO

ELES são VALENTE que é um colosso

Mas que tipo, DO BAITA, fica só

lagartiando no sor...

Quando vi o cuera veio, sartô de vereda e

se aligerô no rumo do carrascá e o vivente fico

tudo arruinado...

Deu as foia, fez siná de gato, só pra

passa um facão, e já perdeu a demão, quebrado

que nem paçoca no pilão...

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Quando o MAROMBA veio, cruzá PRO

MEIO DA VILLA de Curitibano, as coisa vái

virá num purungá...

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Editora da UFSC, 1999. p. 35

13 CABRAL, Oswaldo Rodrigues. A

campanha do contestado. Florianópolis:

Editora Lunardelli, 1997. p. 180. 14 Idem, p.

180.