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GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe

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Page 1: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

GST Gestão Hospitalar

Conselhos de Classe

Page 2: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Objetivos de Aprendizagem

Os Conselhos Profissionais, também conhecidos como Conselhos de Classe

exercem importante papel para a sociedade.

Responsáveis por regular o mercado, estas entidades têm por objeto a proteção

da coletividade contra a atuação dos maus profissionais ou dos não habilitados

ao exercício da profissão.

Ao final desta unidade, você terá condições de:

• Compreender o conceito e as funções dos Conselhos de Classe;

• Conhecer a natureza jurídica dos Conselhos de Classe;

• Diferenciar Conselhos de Classe, Associações e Sindicatos;

• Compreender a importância da regulamentação profissional e da atuação

dos Conselhos Profissionais;

• Conhecer a sistemática que rege algumas das profissões da área da

saúde.

Page 3: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Introdução Os Conselhos Profissionais desempenham papel de grande relevância, não

apenas para os trabalhadores que estão sob sua tutela, mas, sim, para toda a

sociedade.

No imaginário da maioria das pessoas, os Conselhos Profissionais, também

chamados Conselhos de Classe, têm a função de proteger seus membros, além

de defendê-los em circunstâncias administrativas e jurídicas.

Mas, será que a função dos Conselhos de Classe é mesmo

defender as categorias profissionais?

Essa é uma das perguntas que nortearão nossa jornada!

É imprescindível que o gestor hospitalar não apenas conheça as funções dos

Conselhos de Classe, mas que também compreenda a forma como a atuação

desses órgãos interfere e influência nas relações entre ele próprio e os

profissionais que estão sob sua liderança.

Leia um pouco mais!

“A criação dos Conselhos Profissionais e a delegação da atividade de fiscalização de profissões regulamentadas” Artigo de Fernandes1, publicado na Revista Jus Navigandi, disponível em: https://jus.com.br/artigos/21519

Page 4: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Figura 1: Reunião de conselho de classe

Visão inicial sobre Conselhos de Classe

No imaginário da maioria das pessoas os Conselhos Profissionais, também

chamados Conselhos de Classe, têm a função de proteger seus membros,

defendendo-os.

Essa ideia é errônea!

Embora em alguns momentos possam exercer essa função, os órgãos de classe

têm como principal objetivo a proteção da coletividade contra a atuação dos

maus profissionais ou dos não habilitados ao exercício da profissão.

No Brasil, é livre o exercício de qualquer profissão desde que atendidos os

requisitos legais. Assim dispõe o inciso XIII do Art. 5º da Constituição Federal

de 1988: “XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,

atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.”2

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Page 5: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Figura 2: Natureza jurídica

Os Conselhos de Classe são os órgãos que estabelecem as regulamentações

específicas de cada profissão e fiscalizam o exercício profissional. Logo,

podemos concluir que essas instituições possuem poderes atribuídos, em

princípio, ao Estado.

Para entendermos por que isso ocorre é necessário

compreendermos sua natureza jurídica.

O que é Natureza jurídica?

A natureza jurídica, diz respeito à essência ou substância de um objeto. Conhecer a natureza jurídica de uma instituição consiste em determinar sua essência para classificá-la dentro do universo de figuras existentes no Direito.

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Figura 3: Constituição Brasileira

Natureza Jurídica dos Conselhos de Classe

Cabe-nos agora entender o que são os Conselhos de Classe vistos do ponto de

vista jurídico.

Esse entendimento tornará mais fácil compreender suas funções e as formas como são executadas e se desenvolvem.

Até 1934, o exercício profissional era livre e incondicionado. A partir de então,

com a Constituição Federal3 que passou a viger naquele ano, a capacidade

técnica e a obediência a determinações legais passaram a ser requisitos

exigidos.

O Estado passou então a transferir a fiscalização do exercício profissional a

pessoas jurídicas instituídas especificamente para essa função. Tais entidades,

criadas por lei, eram consideradas de direito público, tinham capacidade

administrativa e foram então denominadas autarquias.

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Page 7: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Figura 4: Imagem da Justiça

Apesar de divergências ocorridas ao longo do tempo, por fim, esses conselhos

ainda são considerados autarquias, pois são dotados de personalidade jurídica

de direito público, instituídos como tal por lei, com autonomia administrativa

e financeira e sujeitos ao controle do Estado.

Autarquias são entidades cuja função consiste em executar atividades inerentes

ao Estado, como extensão deste e como forma de auxiliá-lo. Segundo Meirelles5:

A autarquia é forma de descentralização administrativa,

através da personificação de um serviço retirado da

Administração centralizada. Por essa razão, à autarquia só

deve ser outorgado serviço público típico, e não atividades

industriais ou econômicas, ainda que de interesse

coletivo(p.194).

Page 8: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Di Pietro6, por sua vez, ao conceituar autarquia afirma que:

Pode-se conceituar a autarquia como a pessoa jurídica de

direito público, criada por lei, com a capacidade de

autoadministração, para o desempenho de serviço público

descentralizado, mediante controle administrativo

exercido nos limites da lei(p.380).

As autarquias corporativas, assim chamadas aquelas que se destinam à

regulamentação e fiscalização profissionais, não se acham sob o controle

político do Estado, pois não possuem os nomes de seus administradores

aprovados pelo poder competente. Além disso, não estão sujeitas a supervisão

ministerial nem dependem de controle financeiro, uma vez que são custeadas

pelas contribuições de seus filiados, não auferindo qualquer subvenção do

Estado.

Sobre esse aspecto, Medauar7 afirma que:

Trata-se de organismos destinados, em princípio, a

“administrar” o exercício de profissões regulamentadas

por lei federal. São geridos por profissionais da área,

eleitos por seus pares. De regra, têm estrutura federativa,

com um órgão de nível nacional e órgãos de nível estadual.

As leis que regulamentam profissões e criam ordens ou

conselhos transferem-lhes competência para exercer a

fiscalização do respectivo exercício profissional e o poder

disciplinar. A chamada polícia das profissões, que

originariamente caberia ao poder público, é, assim,

delegada às ordens profissionais que, nessa matéria,

exercem atribuições típicas do poder público(p.108).

De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das

Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) 8,

Page 9: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

os conselhos profissionais possuem alguns privilégios que visam assegurar um

melhor desempenho de suas funções, tais como:

• imunidade de impostos sobre patrimônio, renda e

serviços;

• prescrição quinquenal de suas dívidas, salvo disposição

diversa de lei especial;

• execução fiscal de seus créditos;

• direito de regresso contra seus servidores;

• impenhorabilidade de seus bens e rendas;

• prazo em quádruplo para responder e em dobro para

recorrer;

• proteção de seus bens contra usucapião8(p.30).

Uma vez conhecida a natureza jurídica dos Conselhos vamos passar

a desvendar suas funções.

O que é uma Autarquia

De acordo com o Art. 5º, inciso I do Decreto Lei nº 200/67, autarquia é: o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada9.

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Funções dos Conselhos de Classe

Agora que já sabemos a natureza jurídica dos Conselhos, buscaremos

compreender quais são as suas funções e como estas são desempenhadas.

Segundo o inciso XXIV do Art. 21 da Constituição Federal de 1988, compete à

União “organizar, manter e executar a inspeção do trabalho”2. Na sequência, o

Art. 22, inciso XVI prevê a competência privativa da União para legislar sobre

“organização do sistema nacional de emprego e condições

para o exercício de profissões”2. Desta forma, por meio de Leis Específicas, a

fiscalização das profissões é delegada aos Conselhos de Classe.

Para Soares10, os Conselhos de Classe: “Possuem finalidade de disciplinar e

fiscalizar, não só sob o aspecto normativo, mas também punitivo, o exercício

das profissões regulamentadas, zelando pela ética no exercício destas”.

E com relação à função desses Conselhos, a autora esclarece que:

Exercem poder de polícia administrativa sobre os

membros de determinada categoria profissional,

apurando situações contrárias às normas, aplicando, se

necessário, a penalidade cabível.

Cabe a estas entidades, além de defender a sociedade,

impedir que ocorra o exercício ilegal da profissão,

tanto por aquele que possua habilitação, mas não

segue a conduta estabelecida, tanto para o leigo que

exerce alguma profissão cujo exercício dependa de

habilitação10.

Assim é possível afirmar que não cabe a essas instituições proteger a classe,

mas, sim, discipliná-la e fiscalizá-la. E com relação à proteção dos direitos das

categorias, tal função cabe aos sindicatos.

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Page 11: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

De acordo com o documento publicado pelo TCU8:

Os conselhos possuem a finalidade de zelar pela

integridade e pela disciplina das diversas profissões,

disciplinando e fiscalizando, não só sob o aspecto

normativo, mas também punitivo, o exercício das

profissões regulamentadas, zelando pela ética no

exercício destas.

Cabe a estas entidades, além de defender a sociedade,

impedir que ocorra o exercício ilegal da profissão,

tanto por aquele que possua habilitação, mas não

segue a conduta estabelecida, tanto para o leigo que

exerce alguma profissão cujo exercício dependa de

habilitação.

Assim, aos conselhos Profissionais incumbe, com base

em legislação específica que regulamenta o exercício

profissional das diferentes áreas, estabelecer os

mecanismos e requisitos que possam asseguram o

exercício eficaz da profissão, assegurando à sociedade

um profissional com o adequado perfil técnico e

ético(p.29).

Os Conselhos cobram de seus profissionais um tributo, também conhecido por

anuidade profissional, o qual pertence à espécie tributária de contribuição

social e cuja regulamentação encontra-se no Art. 149 da Constituição Federal

de 1988:

Compete exclusivamente à União instituir contribuições

sociais, de intervenção no domínio econômico e de

interesse das categorias profissionais ou econômicas,

como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas2.

Page 12: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

As regras de cada profissão são definidas pelos próprios profissionais, sem

interferência governamental. Nada mais indicado que os próprios profissionais

para definirem as regras que regerão a profissão, não é mesmo?

Diferenças entre Conselhos de Classe,

Sindicatos e Associações de Classe

Embora comumente confundidas, Conselhos de Classe, Sindicatos e Associações

de Classe são instituições que possuem diferenças significativas. E esse

conhecimento é imprescindível ao gestor hospitalar!

Vamos conhecer as principais características que os diferenciam?

4.1 Conselhos de Classe

Os Conselhos Profissionais têm a função de regular, fiscalizar e orientar os

profissionais. Sua estrutura hierárquica conta com o Conselho Federal ao qual

são subordinados os Conselhos Regionais. Cabe ao Conselho Federal expedir

resoluções para os Conselhos Regionais e julgar em grau de último recurso

procedimentos éticos e administrativos.

Os Conselhos Regionais têm seu espaço de atuação delimitado por leis

constitucionais e não podem invadir as competências de outras instituições tais

como associações e sindicatos. São algumas das atribuições dos Conselhos11:

• Orientar o profissional sobre o exercício do seu ofício;

• Zelar pela ética da profissão, incluindo todas as áreas de

atuação;

• Regular os limites de atuação profissional;

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Figura 5: Orientadora do conselho de classe

• Registrar, cadastrar e manter atualizados os dados sobre

os profissionais;

• Fiscalizar a atuação do profissional;

• Divulgar e discutir temas como ética profissional, áreas

de atuação e o exercício legal da profissão11.

4.2 Associações de Classe

As Associações de Classe são instituições criadas com o objetivo de auxiliar os

profissionais e estudantes. Dentre suas principais atividades destacam-se:

oferta de cursos, promoção de congressos, encontros, simpósios e outros

eventos científicos que contribuam para o desenvolvimento profissional e

incremento do currículo.

Page 14: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Tais associações também podem oferecer assessoria aos seus membros

facilitando o acesso à informação e contribuindo para o desenvolvimento

pessoal e da carreira. São algumas das atribuições das associações11:

4.3 Sindicatos

Os Sindicatos têm a função de defender a classe reivindicando melhorias nas

condições de trabalho tais como melhores salários, benefícios e condições de

segurança.

• Promover ações de treinamento, formação e aprimoramento do conhecimento;

• Representar a profissão em eventos, comissões,

conselhos e outros espaços políticos, na busca de um posicionamento dentro das diversas áreas de atuação da profissão;

• Integrar os profissionais através de encontros, simpósios, fóruns e jornadas;

• Difundir os resultados de pesquisas e inovações nas áreas de atuação do profissional;

• Contribuir com a sociedade na habilitação de profissionais aptos a atuarem em suas áreas de atividades;

• Apoiar e promover atividades que possam melhorar o

posicionamento dos profissionais e futuros profissionais no mercado de trabalho11.

Page 15: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

O inciso III do Art. 8º da Constituição Federal de 1988 estabelece que “ao

sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”2.

No Brasil, os Sindicatos são associações privadas, criadas com o objetivo de

representar, promover e defender, de forma permanente, os direitos e

interesses de uma determinada categoria profissional ou econômica. Abrangem

um dado espaço territorial correspondente a, no mínimo, um município. A

defesa dos direitos dos representados pode ocorrer na esfera administrativa ou

na esfera judicial.

Cabe aos Sindicatos participar das negociações e acordos coletivos garantindo

que as melhores condições sejam oferecidas ao trabalhador no tocante à

remuneração, jornada e demais direitos que estejam em discussão, sendo sua

participação nas tratativas um requisito para a sua validade.

São atribuições dos sindicatos:

• Coordenação, defesa e representação legal da categoria

profissional nas esferas públicas e privadas, bem como

perante às autoridades e poderes públicos;

• Orientar, arbitrar e fiscalizar as relações trabalhistas

entre o profissional e empregadores (contratantes), bem

como do cumprimento da CLT, das normas e diretrizes de

segurança do trabalho, normas de atuação funcional, pisos

salariais, das convenções e acordos coletivos da categoria

profissional;

• Manter serviços de assistência profissional e judiciária

para os associados;

• Substituir processualmente em juízo o associado ou

membro da categoria profissional, em defesa de todo e

qualquer direito relacionado com o seu cargo, função ou

condição de trabalho.

Page 16: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Figura 6: Profissionais da área da saúde

Agora ficou claro que, embora relacionáveis, Conselhos, Associações

e Sindicatos prestam-se a finalidades diferentes e,

consequentemente, exercem funções distintas.

Regulamentação das Profissões da Área da

Saúde

Regulamentar as profissões da área da saúde é de suma importância para a

promoção da qualidade dos serviços prestados pelo setor. Em sua atuação

profissional o gestor hospitalar perceberá os reflexos desse controle e muitas

vezes recorrerá aos Conselhos para mediar intercorrências.

A regulamentação de uma profissão implica em impor requisitos e condições ao

seu exercício, que deixa de ser livre. O mercado das ocupações regulamentadas

é considerado fechado, posto que seu ingresso é limitado.

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Page 17: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

A regulamentação de uma ocupação ou profissão justifica-se pelo fato de

envolver atividades complexas que necessitam de habilidades e formações

específicas e cujo resultado não pode ser aferido ou julgado por leigos.

São justificativas para a regulamentação de profissões da saúde:

As profissões da área da saúde potencializam ainda mais a necessidade de

regulamentação por terem como objeto a integridade física de seus usuários.

No tocante à regulamentação, podemos classificar as ocupações em pelo menos

três grupos:

1. As não regulamentadas (ou reguladas pelo mercado);

2. As "fracamente" regulamentadas – ocupações de nível médio técnico, cuja

regulação versa apenas sobre os requisitos educacionais (currículos mínimos)

ou autorização para a prática de algumas atividades;

3. As "fortemente" regulamentadas – ocupações que detêm autorregulação e

que, em parte considerável da literatura sociológica, são chamadas de

profissões. A maioria das ocupações fortemente regulamentadas é de nível

O fato de que as

atividades que

envolvem

conhecimento

altamente

técnico, cujo

acesso se dá com

maior frequência

através do

ensino superior.

O potencial

risco que o

exercício da

profissão pode

significar para a

saúde pública e

para a

segurança da

população.

A dificuldade que o

usuário encontra

para avaliar a

qualidade dos

serviços prestados

pelos profissionais,

posto que não

possui

conhecimento

técnico para tal.

Page 18: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

superior, mas há também de nível médio técnico. Na área da saúde são

exemplos: Auxiliar e Técnico de Enfermagem; Técnico em Segurança do

Trabalho; Técnico e Auxiliar de Enfermagem do Trabalho; Técnico em

Radiologia dentre outras ocupações de nível médio técnico.

No Brasil, as principais fontes de regulamentação ocupacional são:

• O Congresso Nacional, que cria as leis de exercício

profissional e de autorização para o funcionamento dos

Conselhos de Fiscalização do exercício profissional;

• O Ministério do Trabalho e Emprego, que regulamenta e

fiscaliza todos os aspectos referentes às relações de

trabalho no país;

• O Ministério da Educação, que regulamenta aspectos

relativos à formação profissional de nível técnico e

superior universitário;

• Os Conselhos de Fiscalização do exercício das profissões

(reconhecidos e autorizados publicamente pelo Estado),

para o caso das profissões plenamente regulamentadas.

O Ministério da Saúde também tem participação na regulamentação profissional

no setor da saúde, quando é acionado para emitir pareceres que tenham o

propósito de instruir demandas judiciais ou extrajudiciais.

A criação dos Conselhos Profissionais é pré-requisito para a regulamentação de

uma profissão. Sem a existência de um Conselho não há como se falar em

regulamentação profissional, mas, sim, em regulamentação ocupacional.

Grande parte dos trabalhadores que atuam em instituições de saúde pertencem

a categorias profissionais regulamentadas, ou seja, estão sob a égide de

Conselhos Profissionais.

Page 19: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Vamos agora conhecer alguns aspectos de dois dos Conselhos mais

atuantes na tutela de profissões da área da saúde.

5.1 Medicina

O exercício da medicina é tutelado pelo Conselho Federal de Medicina e pelos

Conselhos Regionais de Medicina.

De acordo com informações disponíveis na página eletrônica da instituição:

O Conselho Federal de Medicina, CFM, é um órgão que

possui atribuições constitucionais de fiscalização e

normatização da prática médica. Criado em 1951, sua

competência inicial reduzia-se ao registro profissional do

médico e à aplicação de sanções do Código de Ética

Médica.

Nos últimos 65 anos, o Brasil e a categoria médica

mudaram muito, e hoje, as atribuições e o alcance das

ações deste órgão estão mais amplas, extrapolando a

aplicação do Código de Ética Médica e a normatização da

prática profissional.

Leia Mais

“O papel social dos conselhos profissionais na área da saúde.” Artigo de Rezende12, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v12n1/002.pdf>

Page 20: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Atualmente, o Conselho Federal de Medicina exerce um

papel político muito importante na sociedade, atuando na

defesa da saúde da população e dos interesses da classe

médica.

O órgão traz um belo histórico de luta em prol dos

interesses da saúde e do bem estar do povo brasileiro,

sempre voltado para a adoção de políticas de saúde dignas

e competentes, que alcancem a sociedade

indiscriminadamente.

Ao defender os interesses corporativos dos médicos, o CFM

empenha-se em defender a boa prática médica, o

exercício profissional ético e uma boa formação técnica e

humanista, convicto de que a melhor defesa da medicina

consiste na garantia de serviços médicos de qualidade

para a população13.

Além disso o CFM ainda presta outros serviços, como assessoria jurídica,

biblioteca, educação continuada e normatização da profissão, entre outros.

Com relação à missão do Conselho Federal de Medicina, esta é assim definida:

Promover o bem-estar da sociedade, disciplinando o

exercício da medicina por meio da sua normatização,

fiscalização, orientação, formação, valorização

profissional e organização, diretamente ou por intermédio

dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), bem como

assegurar, defender e promover o exercício legal da

medicina, as boas práticas da profissão, o respeito e a

dignidade da categoria, buscando proteger a sociedade de

equívocos da assistência decorrentes da precarização do

sistema de saúde14.

O Regimento Interno do Conselho Federal de Medicina foi instituído pela

Resolução nº 1.998/201215, que define a natureza e a finalidade do CFM, sua

Page 21: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

organização, atribuições, competências, constituição da diretoria e

departamentos da entidade, reuniões plenárias e finanças do CFM.

De acordo com a referida Resolução:

Art. 2º O CFM e os Conselhos Regionais de Medicina

(CRMs), hierarquicamente constituídos, são os

órgãos supervisores da ética profissional em toda a

República e, ao mesmo tempo, julgadores e

disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar

e trabalhar – por todos os meios ao seu alcance – pelo

perfeito desempenho ético da Medicina e pelo

prestígio e bom conceito da profissão e dos que a

exerçam legalmente15.

Ainda segundo a Resolução, o CFM é constituído por 27 membros efetivos e 27

suplentes, os quais são eleitos em assembleia composta por médicos de cada

estado, além de um membro titular e seu respectivo suplente representante da

Associação Médica Brasileira (AMB)15.

No Art. 10 da Resolução 1.998/2012 são listadas 27 atribuições do CFM15, dentre

as quais destacamos:

• Aprovar os regimentos internos organizados pelos

Conselhos Regionais;

• Promover alterações no Código de Ética Médica e no

Código de Processo Ético-Profissional, após ouvir o

Conselho Pleno Nacional;

• Promover quaisquer diligências ou verificações relativas

ao funcionamento dos Conselhos de Medicina, nos estados

e territórios, e adotar, quando necessárias, as

providências cabíveis para sua eficácia e regularidade,

inclusive a designação de diretoria provisória;

Page 22: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

• Manter comissões permanentes, transitórias e câmaras

técnicas para desenvolver ações administrativas e

técnicas do CFM;

• Expedir as instruções necessárias a seu próprio

funcionamento e ao dos CRMs.

Consultar as legislações que respaldam a atuação dos Conselhos é sempre

indicado quando surgirem questões que gerem dúvidas ao gestor ou que

demandem a tomada de decisões. Cada estado tem o seu Conselho Regional

que por sua vez é subordinado ao Conselho Federal e conta com regras próprias.

Fique atento e procure conhecer o Conselho da região em que

estiver atuando!

5.2 Enfermagem

A enfermagem, à semelhança da medicina, também possui regulamentação e

tutela através de seu Conselho Profissional.

Leia Mais sobre as atribuições dos Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Medicina na Resolução nº 1.998/201215: Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/images/stories/documentos/1998alteraregimentointernocfm.pdf>

Page 23: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Figura 7: Enfermeira prestando assistência

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os seus respectivos Conselhos

Regionais (CORENs) foram criados por meio da Lei nº 5.905, de 12 de julho de

197316. Juntos, formam o Sistema COFEN/Conselhos Regionais e constituem

uma autarquia, vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. Trata-

se de “órgãos disciplinadores do exercício da profissão de enfermeiro e das

demais profissões compreendidas nos serviços de enfermagem”16.

Segundo informações disponíveis na página do COFEN:

O COFEN é responsável por normatizar e fiscalizar o

exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e

auxiliares de enfermagem, zelando pela qualidade dos

serviços prestados e pelo cumprimento da Lei do Exercício

Profissional da Enfermagem17.

Suas principais atividades são:

Page 24: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

• Normatizar e expedir instruções para uniformidade de

procedimentos e bom funcionamento dos Conselhos

Regionais;

• Apreciar em grau de recurso as decisões dos CORENs;

• Aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária

da autarquia, remetendo-as aos órgãos competentes;

• Promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento

profissional17.

Os Conselhos Regionais, por sua vez, têm como atividades principais:

• Deliberar sobre inscrição no Conselho, bem como o seu

cancelamento;

• Disciplinar e fiscalizar o exercício profissional,

observadas as diretrizes gerais do COFEN;

• Executar as resoluções do COFEN;

• Expedir a carteira de identidade profissional,

indispensável ao exercício da profissão e válida em todo o

território nacional;

• Fiscalizar o exercício profissional e decidir os assuntos

atinentes à Ética Profissional, impondo as penalidades

cabíveis

• Elaborar a sua proposta orçamentária anual e o projeto

de seu regimento interno, submetendo-os à aprovação do

COFEN;

• Zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a

exerçam; propor ao COFEN medidas visando a melhoria do

exercício profissional;

• Eleger sua Diretoria e seus Delegados eleitores ao

Conselho Federal;

• Exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas

pela Lei 5.905/73 e pelo COFEN17.

Page 25: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

O Conselho Federal é composto por nove membros efetivos e igual número de

suplentes, de nacionalidade brasileira, e portadores de diploma de curso de

Enfermagem de nível superior.

Cabe aqui a mesma recomendação feita em relação aos Conselhos de Medicina:

é prudente e indicado que você conheça a regulamentação do Conselho

Regional do estado em que esteja atuando.

Há ainda uma extensa gama de Conselhos que regulamentam profissões da área

da saúde. Procure conhecer sobre seu funcionamento e legislações. Tenha

certeza de que será muito importante para a qualidade de sua atuação como

Gestor Hospitalar.

Leia Mais

Sobre a regulamentação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem na Lei nº 5905/1973. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/lei-n-590573-de-12-de-julho-de-1973_4162.html>

Page 26: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Considerações Finais

Muito falamos sobre os Conselhos de Classe. Contudo, é importante que o gestor

conheça as nuances envolvidas no funcionamento desses órgãos de

características tão próprias.

Refletir sobre sua natureza jurídica, características e funcionamento com

certeza levará o profissional responsável pela gestão de instituições de saúde a

contribuir para o fortalecimento da atuação desses Conselhos.

O vasto universo de Conselhos atrelados às profissões da área de saúde deve

instigar o aprofundamento dos estudos sempre em busca da excelência

profissional.

É com essa expectativa que encerramos esta jornada!

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Page 27: GST Gestão Hospitalar Conselhos de Classe...De acordo com o manual “Orientações para os Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais” publicado pelo Tribunal de

Referências 1. Fernandes FN. A criação de conselhos profissionais e a delegação da atividade

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digital/orientacao-para-os-conselhos-de-fiscalizacao-das-atividades-

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16. Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos Conselhos

Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. Brasil.

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17. Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O Cofen. 2018 [acesso em 9 nov.

2018]. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/o-cofen>

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