grupos de discussão na pesquisa com adolescentesmétodo de pesquisa que privilegia as interações...

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Educação e Pesquisa ISSN: 1517-9702 [email protected] Universidade de São Paulo Brasil Weller, Wivian Grupos de discussão na pesquisa com adolescentes e jovens: aportes teórico-metodológicos e análise de uma experiência com o método Educação e Pesquisa, vol. 32, núm. 2, maio-agosto, 2006, pp. 241-260 Universidade de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=29832203 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Educação e Pesquisa

ISSN: 1517-9702

[email protected]

Universidade de São Paulo

Brasil

Weller, Wivian

Grupos de discussão na pesquisa com adolescentes e jovens: aportes teórico-metodológicos e

análise de uma experiência com o método

Educação e Pesquisa, vol. 32, núm. 2, maio-agosto, 2006, pp. 241-260

Universidade de São Paulo

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=29832203

Como citar este artigo

Número completo

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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241Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 241-260, maio/ago. 2006

Grupos de discussão na pesquisa com adolescentese jovens: aportes teórico-metodológicos e análise de umaexperiência com o método

Wivian WellerUniversidade de Brasília

Resumo

Trabalhar com grupos juvenis de contextos interculturais e sociaisdistintos àquele do pesquisador exige cuidado e rigor no proce-dimento e na escolha dos métodos a serem utilizados para acoleta de dados, assim como uma preparação para o trabalho decampo. Mesmo assim, o pesquisador será confrontado com có-digos de comunicação e estilos de vida que lhe são alheios. Adecodificação desses sistemas exige uma espécie de imersão dopesquisador no meio pesquisado e um controle metodológicopermanente do processo de interpretação, de forma a evitar vie-ses ou afirmações distorcidas sobre a realidade social de seusentrevistados. Nos últimos anos, o número de dissertações e te-ses sobre infância e juventude tem aumentado consideravelmen-te. No entanto, pela necessidade de entregarmos os trabalhosnos prazos estipulados ou por atribuirmos ao referencial teóricomaior grau de importância, poucas vezes nos dedicamos a re-construir a trajetória percorrida durante a fase de coleta e análisedos dados empíricos e a justificar as escolhas teórico-metodológicas realizadas. O presente artigo reconstrói o percursode uma pesquisa de campo realizada com jovens em São Paulo eem Berlim, apresenta os instrumentos utilizados na coleta dedados e analisa o emprego dos grupos de discussão como ummétodo de pesquisa que privilegia as interações e uma maiorinserção do pesquisador no universo dos sujeitos, reduzindo,assim, os riscos de interpretações equivocadas sobre o meiopesquisado.

Palavras-chave

Pesquisa qualitativa — Grupos de discussão — Grupos focais — Ado-lescência — Juventude.

Correspondência:Wivian WellerFaculdade de Educação - UnbDepto. Teoria e FundamentosCampus Univers. Darcy Ribeiro70910-900 – Brasília – DFe-mail: [email protected]

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Discussion groups in the research with teenagersand youngsters: theoretical-methodological contributionsand analysis of an experience with the method

Wivian WellerUniversidade de Brasília

Abstract

Working with groups of youngsters from social and interculturalcontexts distinct from those of the researcher requires care andrigor in the procedure and choice of methods to be used in datacollection, just as in the preparation for the fieldwork. Even so,the researcher will be confronted with codes of communicationand lifestyles that are alien to him/her. The decoding of thesesystems demands a kind of immersion of the researcher into themedium studied, and a constant methodological control of theprocess of interpretation, so as to avoid biases and distortedstatements about the social reality of the interviewees. In the lastyears, the number of theses and dissertations about childhoodand youth has increased considerably. However, because of theneed to comply with deadlines, or for attributing to thetheoretical framework a higher level of importance, we seldomdedicate ourselves to reconstruct the trajectory followed duringthe phases of collection and analysis of the empirical data, andto justify our theoretical-methodological choices. The articlereconstructs the path followed by a fieldwork carried out withyoungsters in São Paulo and in Berlin, describes the instrumentsused to collect data, and analyzes the use of discussion groupsas a research method that privileges interactions and the greaterinsertion of the researcher in the subjects’ universe, therebyreducing the risk of mistaken interpretations about the mediumresearched.

Keywords

Qualitative research — Discussion groups — Focal groups —Adolescence — Youth.

Contact:Wivian WellerFaculdade de Educação – UnbDepto. Teoria e FundamentosCampus Univers. Darcy Ribeiro70910-900 – Brasília – DFe-mail: [email protected]

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O presente artigo reconstrói o percur-so de uma pesquisa de campo, discute as es-colhas teórico-metodológicas e os problemasencontrados no processo de coleta e análise dedados com o objetivo de apresentar algumasreflexões que possam auxiliar na elaboração defuturas pesquisas com adolescentes e jovens.Trata-se de um estudo realizado com jovenspertencentes ao movimento hip hop nas cida-des de São Paulo e Berlim, cujos resultadosforam apresentados como tese de doutorado noDepartamento de Sociologia da UniversidadeLivre de Berlim e publicados posteriormentecomo livro e sob forma de artigos (entre ou-tros: Weller, 2003 e 2004)1 . Embora tenhamsido utilizados diferentes procedimentos decoleta de dados durante a pesquisa em ques-tão – observação participante, entrevistas degrupo, entrevistas narrativas (Jovchelovitch;Bauer, 2002), entrevistas com especialistas(Flick, 2004) –, o método conhecido comogrupo de discussão constituiu a principal fon-te de coleta de dados, o que justifica sua abor-dagem ao longo deste artigo. Inicialmente, fa-remos uma breve discussão sobre entrevistas degrupo, buscando esclarecer algumas diferençasentre grupos focais e grupos de discussão. Emseguida, apresentaremos nossa experiência como método, destacando sua contribuição para apesquisa com adolescentes e jovens.

Entrevistas de grupo:esclarecendo algumas diferençasentre grupos focais e grupos dediscussão

Grupos focais

Em alusão ao conceito de esfera públi-ca de Jürgen Habermas, Gaskell (2002) afirmaque os grupos focais podem ser definidos comouma “esfera pública ideal”, já que se trata de“um debate aberto e acessível a todos [cujos]assuntos em questão são de interesse comum;as diferenças de status entre os participantesnão são levadas em consideração; e o debate

se fundamenta em uma discussão racional” (p. 79).Essa técnica de entrevista – de origem anglo-saxônica – começou a ser utilizada nas pesqui-sas de marketing e de reação do público àpropaganda no período do pós-guerra porpesquisadores como Robert Merton, PatríciaKendall e P. Lazarfeld (Loos; Schäffer, 2001). Osgrupos focais são geralmente constituídos porum número de seis a oito pessoas, que sãoconvidadas a debater sobre um determinadoassunto com a ajuda de um moderador, comonos talk shows apresentados em canais de te-levisão. No entanto, de acordo com Gaskell(2002), existem pelo menos três progenitoresou tradições associados à utilização de gruposfocais como técnica de entrevista, sendo eles:

• a tradição da terapia de grupo (TavistockInstitute);• a avaliação da eficácia da comunicação(Merton; Kendall, 1984);• a tradição da dinâmica de grupo em psico-logia social (Lewin).

Para Flick (2004, p. 132-133), essatécnica já bastante antiga parece ter passadopor “uma espécie de renascimento”, uma vezque continua sendo freqüentemente utilizadapor enfatizar o “aspecto interativo da coleta dedados” e propiciar uma ‘economia de tempo’por meio da obtenção de mais de um depoimen-to ou opinião sobre um determinado assuntode uma única vez (Rodrigues apud Cruz Neto;Moreira; Sucena, 2002). Os grupos focais seapresentam como um “método quase naturalis-ta” de geração de representações sociais medi-ante a simulação de discursos. De acordo comFlick (2002, p. 128), os grupos focais podemser vistos também como um “protótipo da en-trevista semi-estruturada” e os resultadosoptidos por meio desse tipo de entrevista

1. A escolha do tema para a pesquisa resultou de estágios e trabalhosrealizados anteriormente nas cidades de São Paulo e Berlim: da disserta-ção mestrado sobre “Analfabetismo e migração em São Paulo” e da expe-riência como auxiliar de pesquisa e docência no Instituto de EducaçãoIntercultural da Universidade Livre de Berlim (1993 a 1996), entre outros.

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[...] foram de tal forma positivos que a técnicarecebeu novo alento no campo das ciências soci-ais, inicialmente pelo viés político, com sua uti-lização no mapeamento e na elaboração do per-fil dos eleitores, influenciando diretamente nadefinição das diretrizes e ações de partidos ecandidatos. Trilhando esse percurso, espraiou-sepelos diversos segmentos da pesquisa social, sus-citando novas situações que, ainda inconclusas,precisam ser amplamente discutidas pelos profis-sionais da área, sob o risco de assistir-se a umtransplante cuja incompatibilidade estrutural – acontradição mercado x sociedade civil, consumi-dor x cidadão, mercadoria x ser humano – só épercebida próxima da irreversibilidade, causandoinúmeras e graves seqüelas. (Cruz Neto; Moreira;Sucena, 2002, p. 3)

Como técnica para avaliar a reação deum grupo de pessoas sobre um determinadotema ou produto, o papel do entrevistador seconfunde muitas vezes com o do repórter oumoderador, já que este é responsável pela or-ganização das falas e dos conteúdos. ParaCallejo Gallego,

[…] el moderador de la reunión, además de serel representante del poder y la instancia inves-tigadora, se convierte prácticamente en unconmutador de la circulación. Es el que da pasoa las intervenciones de unos y otros participan-tes. Pero, sobre todo, es el que da paso a unostemas y cierra el paso a otros, poco o nada re-lacionados con los objetivos de la investigación.(2002, p. 419)

Como procedimento de coleta de da-dos, os grupos focais têm sido muitas vezesutilizados em pesquisas na área de saúde (Gatti,2005), em pesquisas explorativas ou avaliativasou ainda como uma técnica complementar aosdados obtidos por meio de pesquisas quantita-tivas, ou seja, de questionários aplicados(Merton, 1984). Para fins mercadológicos ou decoleta de opiniões sobre um determinado assun-to, diferenças econômicas e sociais, o nível de

formação e a faixa etária dos entrevistados nãosão relevantes para a análise (Gaskell, 2002).Também não é necessário que os membros deum grupo focal se conheçam ou tenham algumtipo de vínculo. Gatti apresenta ainda as suges-tões de alguns autores, entre outras, a de que osgrupos devem ser formados por pessoas “quetenham diferentes opiniões em relação às ques-tões que serão abordadas” e “que em certascondições pode não ser muito produtivo misturargêneros no grupo, porque os homens têm atendência a falar com mais freqüência e commais autoridade quando há mulheres no grupo[...] e isso pode irritá-las e trazer reações quepodem prejudicar o trabalho em relação aosobjetivos visados” (2005, p. 20). Tais caracterís-ticas, assim como o papel desenvolvido pelomoderador durante a entrevista, fazem dos gru-pos de discussão um procedimento distinto aosgrupos focais, uma vez que o objetivo principaldesse tipo de entrevista é a obtenção de dadosque permitam a análise do meio social dos en-trevistados, bem como de suas visões de mun-do ou representações coletivas.

Grupos de discussão

Os grupos de discussão passaram a serutilizados na pesquisa social empírica pelos in-tegrantes da Escola de Frankfurt a partir dosanos 50 do século passado, especificamenteem um estudo realizado em 1950-51 e coorde-nado por Friedrich Pollok, no qual foram rea-lizados grupos de discussão com 1.800 pesso-as de diferentes classes sociais (Pollok, 1955;Loos; Schäffer, 2001). Porém, foi somente nofinal da década de 1970 que esse procedimentorecebeu um tratamento ou pano de fundo te-órico-metodológico – ancorado no interacio-nismo simbólico, na fenomenologia social e naetnometodologia –, caracterizando-se, dessaforma, como um método e não apenas comouma técnica de pesquisa de opiniões. SegundoBohnsack (1999), para que os grupos de discus-são adquiram a propriedade de método, é neces-sário que os processos interativos, discursivos e

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coletivos que estão por detrás das opiniões, dasrepresentações e dos significados elaboradospelos sujeitos sejam metodologicamente reco-nhecidos e analisados à luz de um modelo te-órico ou, em outras palavras, quando interpre-tados com base em categorias metateóricasrelacionadas a uma determinada tradição teó-rica e histórica.

Werner Mangold analisou em sua tese dedoutorado as pesquisas empíricas realizadas pelaEscola de Frankfurt e os procedimentosmetodológicos empregados. Foi um dos primei-ros pesquisadores a criticar a forma como osdepoimentos coletados em entrevistas grupaiseram analisados e a dar um novo sentido aosgrupos de discussão, transformando o método emum instrumento de exploração das opiniões co-letivas e não apenas individuais (Mangold, 1960;Bohnsack, 1999). De acordo com Mangold,

[...] a opinião do grupo não é a soma de opini-ões individuais, mas o produto de interaçõescoletivas. A participação de cada membro dá-sede forma distinta, mas as falas individuais sãoproduto da interação mútua [...]. Dessa formaas opiniões de grupo cristalizam-se como tota-lidade das posições verbais e não-verbais.(1960, p. 49 - Tradução e grifos nossos)

As opiniões de grupo (Gruppen-meinungen) não são formuladas, mas apenasatualizadas no momento da entrevista. Em ou-tras palavras: as opiniões trazidas pelo gruponão podem ser vistas como tentativa de ordena-ção ou como resultado de uma influência mú-tua no momento da entrevista. Essas posiçõesrefletem acima de tudo as orientações coletivasou as visões de mundo do grupo social ao qualo entrevistado pertence. Essas visões de mundo(Weltanschauungen) resultam — segundoMannheim (apud Weller et al., 2002, p. 378-79)– de “uma série de vivências ou de experiênci-as ligadas a uma mesma estrutura que, por suavez, constitui-se como uma base comum dasexperiências que perpassam a vida de múltiplosindivíduos”. Nesse sentido, Mangold (1960) es-

tava interessado em conhecer não apenas as ex-periências e opiniões dos entrevistados, mas asvivências coletivas de um determinado grupo(por ex.: refugiados) ou as posições comuns deuma determinada classe social (por ex: trabalha-dores da indústria do carvão, agricultores etc.),independentemente de se conhecerem ou nãoentre si (Bohnsack, 1999).

As reflexões de Mangold (1960) abri-ram caminho para um outro aspecto a serpesquisado por meio dos grupos de discussão,denominado pelo autor como ‘opiniões de gru-po’ e que dizem respeito às orientações cole-tivas oriundas do contexto social dos indivídu-os que participam em uma pesquisa: os entre-vistados passaram a ser vistos, a partir de en-tão, como representantes do meio social emque vivem e não apenas como detentores deopiniões. Para o sociólogo Ralf Bohnsack(1989, 1999 e 2004) – na época, assistente deWerner Mangold –, as discussões

[...] realizadas com grupos reais devem ser vis-tas como representações de processos estruturais[...] que documentam modelos que não podemser vistos como casuais ou emergentes. Essesmodelos remetem ao contexto existencial com-partilhado coletivamente por esses grupos, ouseja, às experiências biográfico-individuais ebiográfico-coletivas, que [por sua vez] estãorelacionadas às experiências comuns comomembros de um meio social e de uma mesmageração, às experiências como homens ou mu-lheres, entre outras, e que em um grupo de dis-cussão são articuladas por meio de um ‘modelocoletivo de orientação’. (Bohnsack; Schäffer,2001, p. 328-329 – Tradução nossa)

Com base na sociologia do conhecimen-to de Karl Mannheim, em especial de seus escri-tos publicados postumamente no livro Strukturendes Denkens [Structures of Thinking], a pesquisasocial empírica ganhou novos contornos, sobre-tudo no que diz respeito aos métodos de inter-pretação de dados (Weller, 2005). Ralf Bohnsackacrescenta novos elementos aos grupos de dis-

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cussão e desenvolve um método de análise queele denomina como método documentário deinterpretação (sobre esse método ver Weller,2005; Bohnsack; Weller, 2006) em alusão aométodo que Mannheim apresentou no ensaioBeiträge zur Theorie der Weltanschaungs-interpretation (Contribuições para a teoria dainterpretação das visões de mundo) publicadooriginalmente em 1921-1922. Bohnsack integraem seu método de interpretação dos grupos dediscussão tanto a perspectiva ‘interna’ – que visareconstruir o modelo de orientação por meio doqual os integrantes do grupo interagem e verificara emergência e a processualidade dos fenômenosinterativos –, como a perspectiva ‘externa’, volta-da para a análise da representatividade desses fe-nômenos interativos em uma determinada estrutu-ra. Essa dupla perspectiva de análise rompe, decerta forma, com a tradição interacionista pre-dominante em algumas pesquisas da década de1970, nas quais a relação entre o grupopesquisado e o contexto social permanecia emsegundo plano (Bohnsack; Schäffer, 2001).

Os grupos de discussão, como métodode pesquisa, passaram a ser utilizados a partirda década de 1980, sobretudo nas pesquisassobre juventude. Estudos clássicos da sociolo-gia da juventude bem como da psicologia dodesenvolvimento definem o peergroup comosendo o espaço de maior influência na forma-ção e articulação de experiências típicas da fasejuvenil. É principalmente no grupo que o jovemtrabalhará, entre outras, as experiências vividasno meio social, as experiências de desintegra-ção e exclusão social, assim como as inseguran-ças geradas a partir dessas situações. Os gruposde discussão têm contribuído na análise defenômenos típicos dessa fase do desenvolvi-mento, permitindo a elaboração de diferentestipologias, tais como:

• de desenvolvimento (Entwicklungstypik) –voltada para a análise das mudanças biográ-ficas relacionadas às experiências adquiridasna fase de transição entre a adolescência e avida adulta;

• geracional (Generationstypik) – das carac-terísticas comuns de um mesmo grupo etário,muitas vezes, em contraposição às geraçõesmais velhas;• do meio social (Milieu-oder sozialräum-lichetypik) – das relações entre origem social eorientação biográfico-profissional;• de formação educacional (Bildungstypik) –relacionada às diferenças entre os tipos deescola (por exemplo: entre alunos daHauptschule, Realschule ou Gymnasium, oude escolas públicas x escolas particulares);• de gênero (Geschlechtstypik) – voltada, porexemplo, para a análise das diferenças biográ-ficas e das escolhas profissionais de jovensde ambos os sexos (Bohnsack, 1989).

O método também tem sido aplicado empesquisas com crianças (Nentwig-Gesemann,2002), com portadores de necessidades especiais(Wagner-Willi, 2002) e adultos de distintas gera-ções (Schäffer, 2003). Como afirmado anterior-mente, os grupos reais se constituem como repre-sentantes de estruturas sociais, ou seja, de proces-sos comunicativos nos quais é possível identificarum determinado modelo de comunicação. Essemodelo não é casual ou emergente, muito pelocontrário: ele documenta experiências coletivasassim como características sociais desse grupo,entre outras: suas representações de gênero, classesocial, pertencimento étnico e geracional. Nessesentido, os grupos de discussão, como método depesquisa, constituem uma ferramenta importantepara a reconstrução dos contextos sociais e dosmodelos que orientam as ações dos sujeitos. Aanálise dos meios sociais compreende tanto aque-les constituídos em forma de grupo (família, vizi-nhança, grupos associativos, grupos de rap) comoos “espaços sociais de experiências conjuntivas”(konjunktive Erfahrungsräume), na terminologia deKarl Mannheim (1980). Nesse sentido, as experiên-cias de racismo e segregação vividas por jovenspaulistanos ou berlinenses constituem um espaçosocial de experiências conjuntivas ou de experiên-cias comuns, ainda que vividas e trabalhadas deforma distinta (Weller, 2003; 2004).

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Portanto, os grupos de discussão re-presentam um instrumento por meio do qual opesquisador estabelece uma via de acesso quepermite a reconstrução dos diferentes meiossociais e do habitus coletivo do grupo. Seuobjetivo principal é a análise dos epifenômenos(subproduto ocasional de outro) relacionadosao meio social, ao contexto geracional, às ex-periências de exclusão social, entre outros. Aanálise do discurso dos sujeitos, tanto do pontode vista organizacional como dramatúrgico, éfundamental e auxiliará na identificação daimportância coletiva de um determinado tema.

Grupos de discussão comjovens negros em São Paulo ejovens de origem turca emBerlim

Como mencionado anteriormente, apesquisa em questão foi realizada como partedos estudos apresentados como tese de douto-rado. A análise da experiência com o métodorequer uma contextualização do trabalho decampo, que será apresentado de forma sucin-ta para o leitor deste artigo. Desde os primei-ros contatos com jovens negros em São Pauloe com jovens de origem turca em Berlim, ouseja, durante a fase de construção do projeto depesquisa, foi possível verificar que o hip hop sehavia constituído em um espaço de partilha deexperiências e de elaboração de estratégias deenfrentamento do racismo e do preconceito.Durante a pesquisa, buscou-se compreender asvisões de mundo desses jovens e a forma comoestilos culturais globalizados são apropriados eressignificados. Ao mesmo tempo, esse estudosobre gênese, estrutura e função dos gruposjuvenis analisou a importância dessas práticasculturais na construção de identidades, noenfrentamento da segregação socioespacial eda discriminação étnica e/ou religiosa. Paratanto, elaboramos um conjunto de questõesque orientaram a escolha das técnicas e dosprocedimentos de coleta e análise dos dados,dentre as quais:

• Qual a importância da práxis musical e ar-tística do hip hop nesses meios sociais? Quetipo de orientações coletivas ou visões demundo emergem dessas práticas?• Qual a função do grupo juvenil (peergroup)nos distintos contextos?• Apesar das diferenças históricas, políticas esociais entre ambos países assim como dasdiferenças culturais entre jovens paulistanos eberlinenses, é possível encontrar semelhançascom relação aos modelos de orientação ouvisões de mundo?• Como se posicionam em relação ao grupoétnico? Como discutem imagens e definiçõesrelativas ao pertencimento étnico (tantoaquelas atribuídas externamente como as quesão construídas pelo grupo)?• Como estão constituídas as relaçõesinterétnicas no cotidiano e que leitura fazemdas relações étnico-raciais em ambos países?• Como os jovens percebem as práticas dediscriminação? Quais são as conseqüênciasdessas experiências? É possível identificar es-tratégias de enfrentamento dessas situações?

O trabalho de campo exige não somen-te o domínio metodológico e metateórico dotema, mas também um conhecimento sobre omeio pesquisado como, por exemplo, a situa-ção social dos entrevistados, atividade profissi-onal, entre outros aspectos. Ao mesmo tempo,o pesquisador deve conhecer os instrumentosde pesquisa e escolher procedimentos ou téc-nicas apropriados ao tipo de estudo que pre-tende realizar. Na pesquisa em questão, optou-se por trabalhar com distintas técnicas de co-leta de dados, com o objetivo de conhecer asorientações individuais e coletivas dos jovensde ambas cidades e ampliar as possibilidades deanálise e compreensão do significado de esti-los culturais juvenis em contextos de segrega-ção socioespacial e de discriminação étnico-racial. Para tanto, foram realizados no período1998 a 2000 quinze grupos de discussão (detrês a seis integrantes) e quinze entrevistasbiográfico-narrativas (história de vida) com

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jovens de ambas as cidades. Como procedimen-to de coleta de dados, fizemos uso ainda daobservação participante e adquirimos materialaudiovisual e impresso sobre os grupos taiscomo CDs, vídeos de apresentações, artigos dejornais e fanzines.

Em São Paulo, a pesquisa de campo foirealizada em duas fases distintas: de março a maiode 1998 e nos meses de março e abril de 1999. Nasegunda fase, os grupos entrevistados anteriormen-te foram contatados com o objetivo de obter in-formações sobre o desdobramento de algumasatividades desenvolvidas por eles. Em Berlim, otrabalho de campo foi realizado no âmbito de umprojeto de pesquisa sobre “Criminalidade e expe-riências de exclusão típicas da fase do desenvol-vimento e do meio social em grupos juvenis”(Entwicklungs — und milieutypische Krimina-lisierungs — und Ausgrenzungserfahrungen inGruppen Jugendlicher), coordenado pelo professorRalf Bohnsack. No âmbito desse projeto, foram re-alizadas cerca de 30 entrevistas de grupo e 30entrevistas individuais que, de certa forma, tambémcontribuíram para a análise comparativa das visõesde mundo de jovens pertencentes a mesma faixaetária. No estudo realizado com jovens de origemturca e árabe na cidade de Berlim, foram entrevis-tados, por um lado, jovens com antecedentes cri-minais e/ou com tendências para o uso da violên-cia e, por outro, jovens sem antecedentes criminais.Buscou-se compreender de que forma os riscos eproblemas da adolescência e da criminalidade es-tão relacionados à socialização no contexto migra-tório e à discriminação étnica. A pesquisa gerouuma tese de livre docência (Schittenhelm, 2004),três teses de doutorado (Nohl, 2001; Weller, 2003;Przyborski, 2004), uma dissertação de mestrado(Gaffer, 2001), além de uma série de artigos sobreo tema. Em inglês: Bohnsack; Nohl, 2003;Bohnsack; Loos; Przyborski, 2001.

Embora tenha entrevistado tanto gru-pos masculinos como femininos de duas faixasetárias distintas, 14 a 19 e 20 a 26 anos, sele-cionamos para a análise em profundidade qua-tro grupos constituídos por jovens do sexomasculino entre 20 e 26 anos (dois grupos da

cidade de São Paulo e dois de Berlim). Os de-mais grupos entrevistados estiveram presentesnas análises e estes exerceram um papel funda-mental na validação da tipologia construídasobre os grupos de rap de ambas as cidades eque denominamos como grupos de orientaçãogeracional e de orientação social-combativa(Weller, 2003; 2003a; 2004). Algumas entrevis-tas também foram utilizadas em trabalhos pos-teriores, entre outras, as entrevistas com osgrupos femininos (Weller, 2005a).

Critério para a seleção dos grupos

A seleção dos grupos orientou-se pelocritério definido por Anselm Strauss como amos-tra teorética (theoretical sampling). Para Strauss(1994), a pergunta principal e norteadora doprocedimento definido como theoretical samplingé a seguinte: que grupos ou subgrupospopulacionais, quais acontecimentos ou açõesconstituirão o próximo elemento de análise e,conseqüentemente, de levantamento de dados?Qual é o interesse teórico? O critério de seleçãonão se orienta por uma amostra representativa emtermos estatísticos, mas pela construção de umcorpus com base no conhecimento e na experi-ência dos entrevistados sobre o tema2 . Portanto,a amostra teorética não é definida previamente,mas ao longo da pesquisa, implicando em umprocesso consecutivo e cumulativo de coleta dedados. Em outras palavras: após a realização deum grupo de discussão, a escolha dos candida-tos para a realização da entrevista subseqüentedar-se-á com base nas informações obtidas naentrevista anterior e assim sucessivamente. Esseprocedimento é realizado com o objetivo de es-clarecer, validar, controlar, modificar ou ampliar osresultados obtidos até então, o que implica umacomparação constante dos dados já no momen-to de coleta destes. A comparação constante,como método de investigação empírica (constant

2. A tradição quantitativa prioriza critérios como o tamanho da amostrae sua representatividade. Segundo Gaskell; Bauer (2002), os equivalentesfuncionais na pesquisa qualitativa seriam a construção do corpus, a des-crição detalhada, a triangulação de métodos entre outros.

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comparative method), foi introduzida pelos auto-res na década de 1960. Esse procedimento ana-lítico ficou conhecido como “teoria fundamenta-da” ou grounded theorie (Glaser; Strauss, 1967;Mella, 1998). De acordo com Glaser; Strauss(1967), o método comparativo possibilita, por umlado, a generalização dos resultados obtidos pormeio da pesquisa e, por outro, a elaboração deteorias fundamentadas em dados empíricos. Se-gundo Mella, a teoria fundamentada procura

[...] eliminar la distancia entre las grandestradiciones teoréticas en ciencias sociales y lainvestigación empírica. Se trata por tanto deenfatizar la calidad de generación de teoría másque la verificación de teoría, puesto que se planteaque los esfuerzos han sido puestos en demasía en loprimero en vez de lo segundo. La fuente para lageneración de teoría es el dato empírico y el méto-do es el análisis comparativo. (1998, p. 69)

Com base nesse procedimento, as entre-vistas em São Paulo e Berlim foram realizadascom grupos reais, ou seja, com jovens perten-centes a bandas musicais nas quais eles já sepercebiam como um coletivo. Muitos já esta-vam acostumados a dar entrevistas e se mostra-ram desde o início dispostos a participar dapesquisa, encarregando-se inclusive de passar ocontato de colegas de outras bandas para quepudéssemos entrevistá-los. No entanto, foi ne-cessário esclarecer para alguns grupos que nãose tratava de uma reportagem para umdocumentário televisivo, uma vez que as entre-vistas foram apenas gravadas e não filmadas.

Tópico-guia e condução dos

grupos de discussão

Como descrito no início do artigo, umconjunto de questões orientaram a escolha dastécnicas e dos procedimentos de coleta e aná-lise dos dados. Essas questões surgiram a partirda revisão bibliográfica assim como do estudopreliminar do campo de pesquisa. A partir des-sas questões, elaborou-se um tópico-guia com

alguns temas que pudessem servir como estímu-lo para a discussão entre os jovens (anexo I).

O tópico-guia de um grupo de discussãonão é um roteiro a ser seguido à risca e tampoucoé apresentado aos participantes para que nãofiquem com a impressão de que se trata de umquestionário com questões a serem respondidascom base em um esquema perguntas-respostasestruturado previamente. Porém, isso não querdizer que não existam critérios para a conduçãodos grupos de discussão. É fundamental, porexemplo, que a pergunta inicial seja a mesma paratodos os grupos, uma vez que se pretendeanalisá-los comparativamente. Bohnsack (1999)elaborou ainda alguns princípios para a conduçãode entrevistas, que buscamos incorporar em nossapesquisa. De acordo com o autor, durante a en-trevista, o pesquisador deverá

• Estabelecer um contato recíproco com osentrevistados e proporcionar uma base deconfiança mútua;• Dirigir a pergunta ao grupo como um todoe não a um integrante específico;• Iniciar a discussão com uma pergunta vaga,que estimule a participação e interação entreos integrantes. Exemplo: Vocês poderiam fa-lar um pouco sobre o vosso grupo? Como foique ele surgiu?;• Permitir que a organização ou ordenaçãodas falas fique a encargo do grupo;• Formular perguntas que gerem narrativas enão a mera descrição de fatos. Deve-se evitar,portanto, as perguntas por que e priorizaraquelas que perguntam pelo como. Exemplo:Como vocês vêem o problema da violênciano bairro?;• Fazer com que a discussão seja dirigidapelo grupo e que seus integrantes escolham aforma e os temas do debate;• Intervir somente quando solicitado ou seperceber que é necessário lançar outra per-gunta para manter a interação do grupo.

Num segundo momento, quando o gru-po já sinaliza haver esgotado a discussão sobre

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determinado tema, o entrevistador dará início auma segunda sessão de perguntas imanentes,com o objetivo de aprofundar ou esclarecerdúvidas sobre aspectos discutidos até aquelemomento. Por exemplo: Vocês estavam falandoantes das vossas famílias. Vocês poderiam con-tar um pouquinho mais sobre como é a relaçãode vocês com os vossos pais? Terminada essafase, o entrevistador poderá dirigir perguntas es-pecíficas ao grupo, sobre temas que até entãonão foram discutidos e que se apresentam comorelevantes para a pesquisa. Quando julgar per-tinente, poderá realizar na sessão final per-guntas divergentes ou provocativas. Trata-sede um procedimento recomendado somentepara aqueles que já acumularam alguma expe-riência na condução de entrevistas, já queesse tipo de perguntas poderá gerar situaçõescontroversas e até um certo mal-estar entre osparticipantes e o entrevistador. Aspectos quesuscitaram dúvidas no momento da discussãotambém podem ser esclarecidos ou ratificadosmediante outros procedimentos tais como aobservação participante.

Grupos de discussão: vantagens

para além da ‘economia de tempo’

Da forma como o método foi apresen-tado, o leitor perceberá que os grupos de discus-são não representam propriamente uma ‘econo-mia de tempo’, já que essas entrevistas acabamestendendo-se por uma, duas ou até três horasde debate. Alguns autores criticam a imensidãode dados coletados e a dificuldade de transcri-ção destes (Flick, 2004). Porém, se pensarmosnos avanços tecnológicos adquiridos com osgravadores digitais, esse aspecto já deixou de serum problema central. Antes de discutir algumaspossibilidades de análise dos grupos de discus-são, farei uma breve apresentação das vantagensobtidas por meio desse método, sobretudo naspesquisas com adolescentes e jovens:

1 Estando entre colegas da mesma faixa etária emeio social, os jovens estão mais à vontade para

utilizar seu próprio vocabulário durante a entre-vista, desenvolvendo, dessa forma, um diálogoque reflete melhor a realidade cotidiana;2 A discussão entre integrantes que perten-cem ao mesmo meio social permite perceberdetalhes desse convívio, não captados na en-trevista narrativa ou por meio de outra técnicade entrevista;3 Embora a presença do pesquisador e dogravador gere uma situação distinta a de umaconversa cotidiana, os jovens acabam ao lon-go da entrevista travando diálogos interativosbastante próximos daqueles desenvolvidos emum outro momento. O entrevistador passa aser uma espécie de ouvinte e não necessaria-mente um intruso no grupo;4 A discussão em grupo exige um grau deabstração maior do que a entrevista individu-al, uma vez que durante a entrevista os jo-vens são convidados a refletir e expressarsuas opiniões sobre um determinado tema. Ogrupo de discussão pode levar também a con-clusões sobre as quais os jovens ainda nãohaviam pensado ou pelo menos ainda nãohaviam refletido nesse grau de abstração. Ve-jamos um exemplo: Durante uma discussãorealizada com jovens-mulheres de origem tur-ca em Berlim, na qual as entrevistadas narra-vam problemas enfrentados com os colegasdo sexo oposto na transição entre a adoles-cência e a vida adulta, o longo debate termi-nou com a seguinte reflexão: “[...] agora ficabem claro para mim o que se passa aqui. Issojá era claro antes mas agora que estou pen-sando sobre isso, e, eh, que eu vejo um pou-co as imagens, é mesmo um absurdo [...]”(Weller, 2005a);5 O grupo pode corrigir fatos distorcidos, posi-ções radicais ou visões que não refletem a reali-dade socialmente compartilhada. Estando entreos membros do próprio grupo, os jovens dificil-mente conseguirão manter um diálogo com baseem histórias inventadas. Nesse sentido, é possívelatribuir um grau maior de confiabilidade aos fa-tos narrados coletivamente. Vejamos outroexemplo: durante uma discussão de grupo, um

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jovem berlinense de origem turca começa a nar-rar sua dificuldade em encontrar emprego, ale-gando que já havia enviado seu currículo paramais de vinte empresas. Nesse momento, seuscolegas começam a rir e ele também. Após umcurto espaço de tempo, o jovem volta a fazer amesma colocação, mas faz um sinal com a mãode que, na realidade, havia enviado seu currículopara duas empresas.

Primeiros passos para a análise de

grupos de discussão

Assim como em outras entrevistas, é fun-damental que o pesquisador faça um relatório quecontemple informações relativas ao local da entre-vista, aos entrevistados e à situação da entrevista.Para a coleta de informações adicionais sobre osentrevistados na pesquisa em questão, cada parti-cipante preencheu no final da entrevista um ques-tionário (anexo V). A organização dos dadoscoletados inicia com uma primeira fase de interpre-tação, denominada interpretação formulada e quecompreende os seguintes aspectos:

• Divisão da entrevista por temas e subtemasou passagens e subpassagens, indicando, porexemplo, se um tema foi iniciado pelo grupoou se partiu de uma pergunta do entrevistador(anexo II);• Seleção das passagens centrais, tambémdenominadas metáforas de foco (Fokussie-rungsmetapher);• Seleção das passagens relevantes para apesquisa;• Transcrição da passagem inicial, das passa-gens de foco e daquelas relevantes para apesquisa;• Reconstrução da estrutura temática da pas-sagem a ser analisada, que também poderáser dividida em temas e subtemas.

Com base nesses passos desenvolvidossegundo o método documentário de interpreta-ção (Weller, 2003; 2005), a transcrição comple-ta de um grupo de discussão deixa de ser neces-

sária. De acordo com esse método, a análise deuma entrevista principia-se com a passagem ini-cial, seguida da análise das passagens de foco edas que discutem questões relacionadas ao temada pesquisa. Esse processo compreende doismomentos: interpretação formulada e interpreta-ção refletida. Durante a interpretação formulada,busca-se compreender o sentido imanente dasdiscussões e decodificar o vocabulário coloquial.Em outras palavras, o pesquisador reescreve oque foi dito pelos informantes, trazendo o con-teúdo dessas falas para uma linguagem que tam-bém poderá ser compreendida por aqueles quenão pertencem ao meio social pesquisado. Nes-sa etapa de análise, ele não traça comparações etampouco utiliza o conhecimento que possuisobre o grupo ou meio pesquisado. Já a interpre-tação refletida implica uma observação de se-gunda ordem, na qual o pesquisador realizasuas interpretações, podendo recorrer ao co-nhecimento teórico e empírico adquirido sobreo meio pesquisado (Weller, 2005; Bohnsack;Weller, 2006). Enquanto a interpretação formu-lada analisa a estrutura básica de um texto (orga-nização temática), a interpretação refletida buscaanalisar tanto o conteúdo de uma entrevista comoo ‘quadro de referência’ (frame), que orienta adiscussão, as ações do indivíduo ou grupopesquisado e as motivações que estão por detrásdessas ações. Goffman (apud Joseph 2000) serefere ao termo ‘quadro’ (frame) como um

[...] dispositivo cognitivo e prático de organiza-ção da experiência social que nos permite com-preender e participar daquilo que nos acontece.Um quadro estrutura não só a maneira pela qualdefinimos e interpretamos uma situação, mastambém o modo como nos engajamos numaação (p. 94).

A interpretação refletida tem por objetivoa reconstrução desse ‘quadro de orientação’, ouseja, do habitus (Bourdieu, 1999). Na análise deuma entrevista de grupo, o primeiro momento dainterpretação refletida é dedicado à reconstruçãoda organização do discurso e à análise da

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interação entre os participantes, por exemplo: aforma como se referem uns aos outros ou uma àsoutras, a dramaturgia e a densidade do discurso.Durante a interpretação refletida, quer dizer, noprocesso de explicação de uma norma, de ummodelo ou quadro de orientação, o pesquisadorbusca analisar não somente questões temáticas quepossam parecer importantes, mas também padrõeshomólogos ou aspectos típicos do meio social.

No entanto, um modelo de orientaçãocomum só poderá ser confirmado mediante acomparação com outros grupos. Nesse sentido, opróximo passo é a escolha de um segundo grupoque, num primeiro momento, será analisado inter-namente (análise comparativa das passagens esco-lhidas). Na seqüência, o pesquisador realiza umaanálise comparativa de um tema comum e da for-ma como foi discutido por diferentes grupos, se-guindo o princípio da análise comparativa constan-te como descrita por Glaser; Strauss (1967). Todainterpretação somente ganhará forma e conteúdoquando realizada e fundamentada na comparaçãocom outros casos empíricos. Somente por meiodesse procedimento, o pesquisador poderá carac-terizar um discurso, um comportamento ou umaação como típico de um determinado meio sociale não só do grupo entrevistado. A quantidade degrupos de discussão a ser realizada para uma de-terminada pesquisa deve seguir o princípio da sa-turação, não no sentido de que novas entrevistas“não irão trazer mais nenhuma variedade” (Bauer;Gaskell, 2002, p. 512), mas orientada para a aná-lise comparativa e tipificação das visões de mun-do ou orientações coletivas encontradas no meiosocial pesquisado (Nohl, 2001).

Considerações finais

Trabalhar com grupos juvenis de con-textos interculturais e sociais distintos àquele do

pesquisador exige cuidado e rigor no procedi-mento e na escolha dos métodos a serem uti-lizados para a coleta de dados, assim comouma preparação para o trabalho de campo.Mesmo assim, o pesquisador será confrontadocom códigos de comunicação e estilos de vidaque lhe são alheios. A decodificação desses sis-temas e dessas informações exige uma espéciede imersão do pesquisador no meio pesquisadoe um controle metodológico permanente do pro-cesso de interpretação, de forma a evitar viesesou afirmações distorcidas sobre a realidade so-cial de seus entrevistados. A utilização de gru-pos de discussão como método em que os jo-vens conduzem a entrevista e o entrevistadorbusca intervir o mínimo possível, assim como oprincípio da análise comparativa constante sãopossibilidades que permitem uma inserção dopesquisador no universo dos sujeitos e que, decerta forma, reduzem os riscos de interpretaçõesequivocadas. O mesmo rigor deve ser mantidona escolha dos enfoques teórico-metodológicosque orientarão o trabalho de análise dos dados.As entrevistas com os jovens paulistanos eberlinenses foram analisadas segundo o métododocumentário de interpretação, que se encontravinculado às correntes compreensivas ou inter-pretativas da tradição sociológica e que se reve-lou como mais indicado para essa pesquisa com-parativa de caráter intercultural (Weller, 2005).Atualmente os manuais de pesquisa oferecem umavariedade de técnicas de coleta e análise de da-dos nos quais a relação entre teoria e empiria nemsempre parece estar articulada. Um determinadotipo de entrevista também está associado a um oua outro método e corrente teórico.s Portanto, du-rante a escolha dos procedimentos de coleta dedados, é importante que o pesquisador reflita tam-bém sobre o método que pretende utilizar na aná-lise do material empírico.

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Recebido em 16.06.05

Modificado em 07.11.05

Aprovado em 22.11.05

Wivian Weller é doutora em Sociologia pela Universidade Livre de Berlim, Alemanha, professora adjunta do Departamentode Teoria e Fundamentos e do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília epesquisadora do Núcleo de Estudos da Infância e Juventude, NEIJ/CEAM/UnB.

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ANEXO II: Exemplificação dos temas discutidos durante um grupo de dicussão em São Paulo

GRUPO SKATEBOARDFITA I - LADO A00.15 - 12.12 Narração inicial – Passagem: Hip Hop

Pergunta inicial: Como é que surgiu o grupo de vocês, como vocês se conheceram (.) e re- resolverammontar a banda?

12.32 - 18.44 Tema Principal (TP): A vida na Cohab Fernandes - Passagem: Milieu (meio social)18.44 - 28.57 TP: Relações com namoradas/esposas - Passagem: Mulheres28.57 - 39.40 TP: Filhos (tema iniciado por Bm)39.40 - 44.40 TP: Relações com os pais – Passagem: Pais44.40 - 47.30 TP: Relações com irmãosLADO B00.03 - 02.54 TP: Relações com irmãos02.54 - 05.08 TP: Relações com as gerações mais velhas05.42 - 08.20 TP: Temas das letras de Rap - Passagem: Rap08.20 - 16.28 TP: Experiências na escola16.55 - 25.10 TP: Escola versus Trabalho - Passagem: Escola/trabalho25.10 - 35.05 TP: Experiências com violência policial35.22 - 47.30 TP: Experiências discriminatórias - Passagem: Discriminação

FITA II - LADO A00.05 -11.30 TP: Racismo no cotidiano11.30 - 16.15 TP: Migrantes nordestinos na Cohab Fernandes16.15 - 21.20 TP: Drogas (tema iniciado por Cm)21.20 - 39.05 TP: Hip Hop no Brasil (tema iniciado por Am)39.05 - 44.45 TP: Letras de rap e o papel do DJ na banda Skateboard44.45 FIM

Observação: As passagens destacadas em negrito foram selecionadas para a transcrição e análise comparativa.

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Anexo III: Modelo de transcrição de um grupo de discussão (cf. códigos de transcrição no anexo IV)

Grupo: AtitudeFita. 1; Lado. A 00.04-02.30Passagem: Narração inicial Trans.: WWDuração: 2:30 min

Y1: A primeira pergunta que eu tenho feito sempre é como é que o grupo surgiu; como que vocês se conheceram?e: resolveram montar então essa ban- a banda ou o grupo de vocês (1)

Cm: É o grupo surgiu; foi em torno de oitenta e sete oitenta e oito antigamente nós tínhamos o nome de Break Boysera uma forma- era uma outra formação o grupo que era o Deré que era o DJ, o Alberto vocalista, Edisonvocalista Edmilson e eu. Antigamente nós éramos dançarinos de Break a gente só se interessava para a áreada dança; né eh até do rap só que nós participávamos de um grupo chamado eh Voices of Rap; eh então aíhouve algumas divergências né ( ) eh por conta de idéias, de propostas, a gente tinha uma finalidade o Voicesof Rap tinha outra, então a gente resolveu eh montar o nosso próprio grupo né, é que a gente era associadoera vinculado Break Boys e Voices of Rap aí nós

Y1: HmCm: resolvemos fazer o Break Boys como um grupo de rap também. (1) aí em oitenta e oito foi oficializado isso daí,

a gente começou a ter esse nome e a proposta inicial do Break Boys era de divulgar o movimento Hip Hop.porque não era tão conhecido aqui no Brasil; embora já existia na São Bento (.) né mais era uma coisa bem:assim centralizada né a periferia não tinha tanto conhecimento do movimento Hip Hop. então nós passamosa trazer a dança prá cá, o break, o grafite né, até eh informações sobre

Y1: HmCm: música norte-americana mesmo; que no caso o rap, na época a gente gostava muito de escutá o som do Ice

Cube, (.) N.W.A., eh (.) De La Soul, Funk Adelic então diversos outros grupos, que não era necessariamentede rap mais, o que a gente mais tendia mesmo era pro Hip Hop. né a partir disso (1) eh nós fizemos diversostrabalhos aí conhecemo (1) outros grupos que foram surgindo aqui na Fernandes de rap que era o caso doGeração Mc’s, era o Black Mc’s que antigamente era o (.)

Gm: ⎣Criminal Rap

Cm: ⎣Criminal Rap (.) eh e outros grupos tinha diversos African Mc’s, que era o mais antigo que a gente conhecia erao African Mc’s aqui na Cohab né. a partir disso a gente começou a (.) a se reuní e tal aí começamos a trocáidéias e sabê (.) eh que a gente tinha que fazê algo mais do que simplesmente dançá ou cantá né. então nósresolvemos montar eh uma Posse e tal (.) a partir disso surgiu o Estilo Negro né. e o Atitude eh o Atitude Rapfoi bem depois (.) né depois de cinco anos nós resolvemos mudar o nome porque eh lanca- eh lançamos um(.) um LP Coletânea, que não foi muito legal porque a produção não foi feita por nós, tá, e:: a equipe tambémnão era muito boa, então a produção resumindo foi uma merda. então nós resolvemos; chegamos a falar ohcom esse nome não dá prá ficá porque queimou o filme mesmo; legal vamo mudá, você entendeu, e mesmoporque a nossa proposta já estava sendo outra porque o Atitude Rap já ficou um grupo mais político né. nãotinha tanto aquela coisa da dança sem compromisso; sem (.) sem ter alguma coisa prá dizê prá comunidadené. porque a gente só antigamente a gente só tinha a questão do divertimento do lazer mesmo e tal. só queaí a gente começô a se ligá também que não era só isso. que a música, que o rap não abrangia só a dança,o break o grafite. também tinha a questão social envolvida nisso e a gente vivia eh a gente vive na na periferia,e assim como os negros norte-americanos nós também temos eh situações semelhantes né. e aí começamoa se ligá e aí surgiu o Atitude Rap. foi em noventa e cinco (3)

Y1: ⎣Hm

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258 Wivian WELLER. Grupos de discussão na pesquisa com adolescentes...

Anexo IV: Códigos utilizados na transcrição das entrevistas (modelo criado pelos pesquisadores do grupo coordenadopor Ralf Bohnsack)

Y: abreviação para entrevistador (quando realizada por mais de um entrevistador, utilizam-se Y1 e Y2)Am / Bf: abreviação para entrevistado/entrevistada. Utiliza-se “m” para entrevistados do sexo masculino e “f”

para pessoas do sexo feminino. Numa discussão de grupo com duas mulheres e dois homens, porexemplo, utilizam-se: Af, Bf, Cm, Dm e dá-se um nome fictício ao grupo. Essa codificação será mantidaem todos os levantementos subseqüentes com as mesmas pessoas. Na realização de uma entrevistanarrativa-biográfica com um integrante do grupo entrevistado anteriormente, costuma-se utilizar umnome fictício que inicie com a letra que a pessoa recebeu na codificação anterior (por ex.: Cm, Carlos)

?m ou ?f: utiliza-se quando não houve possibilidade de identificar a pessoa que falou (acontece algumas vezes em discussões de grupo quando mais pessoas falam ao mesmo tempo)(.) um ponto entre parêntesis expressa uma pausa inferior a um segundo(2) o número entre parêntesis expressa o tempo de duração de uma pausa (em segundos)ë Utilizado para marcar falas iniciadas antes da conclusão da fala de outra pessoa ou que

seguiram logo após uma colocação; ponto e vírgula: leve diminuição do tom da voz. ponto: forte diminuição do tom da voz, vírgula: leve aumento do tom da voz? ponto de interrogação: forte aumento do tom da vozexem- palavra foi pronunciada pela metadeexe:::mplo pronúncia da palavra foi esticada (a quantidade de : equivale o tempo da pronúncia de determinada letra)assim=assim palavras pronunciadas de forma emendadaexemplo palavras pronunciadas de forma enfática são sublinhadas°exemplo° palavras ou frases pronunciadas em voz baixa são colocadas entre pequenos círculosexemplo palavras ou frases pronunciadas em voz alta são colocadas em negrito(example) palavras que não foram compreendidas totalmente são colocadas entre parêntesis( ) parêntesis vazios expressam a omissão de uma palavra ou frase que não foi compreendida (o tamanho do espaço vazio entre parêntesis varia de acordo com o tamanho da palavra ou frase)@exemplo@ palavras ou frases pronunciadas entre risos são colocadas entre sinais de arroba@(2)@ número entre sinais de arroba expressa a duração de risos assim como a interrupção da fala((bocejo)) expressões não-verbais ou comentários sobre acontecimentos externos, por exemplo: ((pessoa acende cigarro)), ((pessoa entra na sala e a entrevista é brevemente interrompida))//hm// utilizado apenas na transcrição de entrevistas narrativas-biográficas para ou//@(1)@// indicar sinais de feedback (“ah”, “oh”, “mhm”) ou risos do entrevistador.

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259Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006

Anexo V: Modelo do questionário preenchido pelos jovens após a realização do grupo de discussão.

Caro Jovem,Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre o movimento hip hop e gostaríamos que as perguntas abaixo fossemrespondidas.Todas as informações serão tratadas com rigor e sigilo. Nomes e local de residência não serão divulgados.

Nome da banda ou grupo: ........................................................................................................................Seu nome artístico: ...................................................................................................................................Idade: .............. Sexo: masculino ( ) feminino ( )Estado civil: solteiro/a ( ) casado/a ( ) separado/a ( ) outros .............................Tem filhos? sim ( ) não ( ) número de filhos: .............................................................Tem irmãos/ãs? sim ( ) não ( ) número de irmãos/ãs: .......................................................Religião: ....................................................................................................................................................Cidade em que nasceu: .............................................................................................. Estado: ........Cidade em que vive atualmente: ..............................................................................................................Há quanto tempo vive nessa cidade ou região? .......................................................................................Cidade de nascimento da mãe: .................................................................................. Estado: ........Cidade de nascimento do pai: ..................................................................................... Estado: ........MoradiaComo mora? Com os pais ( ) com o companheiro/a ( ) com parentes ( )Outros: .........................................................................................................Escolaridade:Primeiro Grau/ Ensino Fundamental: completo ( ) incompleto ( )Segundo Grau/ Ensino Médio: completo ( ) incompleto ( )Curso Profissionalizante: completo ( ) incompleto ( )Curso Superior: completo ( ) incompleto ( )Encontra-se no momento na escola ( ) fora da escola ( )Em algum curso profissionalizante? sim ( ) não ( )Que curso profissionalizante freqüentou? ................................................................................................Em que escola ou instituição realizou o curso? ........................................................................................Situação atual:Empregado ( ) desempregado ( )Caso esteja trabalhando, qual a profissão/atividade que está exercendo? .............................................Que profissão você pretende ou gostaria de exercer no futuro? .............................................................Escolaridade da mãe:Primeiro Grau/ Ensino Fundamental: completo ( ) incompleto ( )Segundo Grau/ Ensino Médio: completo ( ) incompleto ( )Ensino superior: completo ( ) incompleto ( )Profissão da mãe: .....................................................................................................................................Escolaridade do pai:Primeiro Grau/ Ensino Fundamental: completo ( ) incompleto ( )Segundo Grau/ Ensino Médio: completo ( ) incompleto ( )Ensino superior: completo ( ) incompleto ( )Profissão do pai: ........................................................................................................................................Escolaridade do companheiro/a (somente se vivem juntos)Primeiro Grau/ Ensino Fundamental: completo ( ) incompleto ( )Segundo Grau/ Ensino Médio: completo ( ) incompleto ( )Ensino superior: completo ( ) incompleto ( )Profissão do companheiro/a: .....................................................................................................................Dados complementares:Lazer preferido: ..........................................................................................................................................Você faz parte de algum grupo ou associação? sim ( ) não ( )Se sim, quais são as principais atividades realizadas pelo grupo do qual participa? ..................................

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260 Wivian WELLER. Grupos de discussão na pesquisa com adolescentes...

Há quanto tempo você está nesse grupo? .................................................................................................Quantas vezes na semana costumam se encontrar? .................................................................................Onde costumam se encontrar? ..................................................................................................................Onde conheceu esse grupo?na vizinhança( ) na escola ( ) no centro comunitário ( )no trabalho( ) outros .................................................................................................Como você conheceu esse grupo? ...........................................................................................................Esse grupo é importante para você? sim ( ) não ( )Você faz parte de algum outro grupo? sim ( ) não ( )Qual? ........................................................................................................................................................Existem outros grupos importantes para você? sim ( ) não ( )

Muito obrigada!