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INTRODUÇÃO Vários estudos têm vindo a verificar que as consequências dos episódios traumáticos vividos em teatro de guerra afectam não só a vítima directa, o veterano de guerra, mas também a sua esposa/companheira, podendo esta vir a desenvolver uma Desordem Secundária de Stress Traumático (STSD) (Figley, 1983; McCann & Pearlman, 1990). Por este motivo, as mulheres dos veteranos de guerra podem apresentar sintomas semelhantes à Perturbação de Stress Traumático como flashbacks e sonhos relacio- nados com a experiência de guerra do veterano (Maloney, 1988; Maltas & Shay, 1995; Mason, 1995; Matsakis, 1996; Nelson & Wrigth, 1996; Pereira, 2003; Solomon, Waysman, Levy, Fried, Mikulincer, Benbenishty, Florian, & Bleich, 1992; Williams, 1980). Figley (1998) refere que a traumatização secundária pode estar relacio- nada com o esforço emocional que estas mulheres fazem para apoiar o veterano tomando como delas o sofrimento dele, os seus sentimentos, experiências e memórias. Numerosos estudos foram desenvolvidos com mulheres de veteranos de guerra do Vietname (Beckham, Lytle, & Feldman, 1996; Calhoun, Beckham & Bosworth, 2002; Lyons, 2001; Nelson & Wright, 1996) e veteranos Austra- lianos (Westerink & Giarratano, 1999). Mas também existem estudos que se debruçaram sobre as mulheres de prisioneiros de guerra de Israel (Dekel & Solomon, 2006) e sobre as mulheres de veteranos de guerra do Ultramar (Pereira & Monteiro-Ferreira, 2006). Derogatis (1993), usando o SCL-90, verificou que as mulheres de veteranos de guerra apresentavam sintomas de somatização, depressão, ansiedade, ideação paranóide, hostilidade, sintomas obsessivo-compulsivos, dificuldades no funcio- namento social (Solomon et al., 1992), estra- tégias de coping limitadas (Kulka, Schlenger, Fairbank, Hourgh, Jordan, Marmar, & Weiss, 1992; Verbosky & Ryan, 1988), elevados níveis de stress, isolamento social, intimidade reduzida, qualidade de relacionamento pobre (Coughlan & Parkin, 1987; Jordan, Marmar, Fairbank, Schlenger, Kulka, Hough, & Weiss, 1992; Solomon et al., 1992) e burnout (Beckham et al., 281 Análise Psicológica (2010), 2 (XXVIII): 281-294 Grupo de suporte para mulheres de veteranos de guerra: Um estudo qualitativo M. GRAÇA PEREIRA (*) SUSANA PEDRAS (*) Agradecemos à A.P.V.G. todo o apoio na implementação do grupo de suporte bem como na realização da presente investigação. (*) Escola de Psicologia, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4700 Braga, Portugal; E-mail: [email protected] / [email protected]

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INTRODUÇÃO

Vários estudos têm vindo a verificar que asconsequências dos episódios traumáticos vividosem teatro de guerra afectam não só a vítimadirecta, o veterano de guerra, mas também a suaesposa/companheira, podendo esta vir adesenvolver uma Desordem Secundária de StressTraumático (STSD) (Figley, 1983; McCann &Pearlman, 1990). Por este motivo, as mulheresdos veteranos de guerra podem apresentarsintomas semelhantes à Perturbação de StressTraumático como flashbacks e sonhos relacio-nados com a experiência de guerra do veterano(Maloney, 1988; Maltas & Shay, 1995; Mason,1995; Matsakis, 1996; Nelson & Wrigth, 1996;Pereira, 2003; Solomon, Waysman, Levy, Fried,Mikulincer, Benbenishty, Florian, & Bleich,1992; Williams, 1980). Figley (1998) refere quea traumatização secundária pode estar relacio-nada com o esforço emocional que estas

mulheres fazem para apoiar o veterano tomandocomo delas o sofrimento dele, os seussentimentos, experiências e memórias.

Numerosos estudos foram desenvolvidos commulheres de veteranos de guerra do Vietname(Beckham, Lytle, & Feldman, 1996; Calhoun,Beckham & Bosworth, 2002; Lyons, 2001;Nelson & Wright, 1996) e veteranos Austra-lianos (Westerink & Giarratano, 1999). Mastambém existem estudos que se debruçaramsobre as mulheres de prisioneiros de guerra deIsrael (Dekel & Solomon, 2006) e sobre asmulheres de veteranos de guerra do Ultramar(Pereira & Monteiro-Ferreira, 2006). Derogatis(1993), usando o SCL-90, verificou que asmulheres de veteranos de guerra apresentavamsintomas de somatização, depressão, ansiedade,ideação paranóide, hostilidade, sintomasobsessivo-compulsivos, dificuldades no funcio-namento social (Solomon et al., 1992), estra-tégias de coping limitadas (Kulka, Schlenger,Fairbank, Hourgh, Jordan, Marmar, & Weiss,1992; Verbosky & Ryan, 1988), elevados níveisde stress, isolamento social, intimidade reduzida,qualidade de relacionamento pobre (Coughlan &Parkin, 1987; Jordan, Marmar, Fairbank,Schlenger, Kulka, Hough, & Weiss, 1992;Solomon et al., 1992) e burnout (Beckham et al.,

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Análise Psicológica (2010), 2 (XXVIII): 281-294

Grupo de suporte para mulheres de

veteranos de guerra: Um estudo

qualitativo

M. GRAÇA PEREIRA (*)SUSANA PEDRAS (*)

Agradecemos à A.P.V.G. todo o apoio naimplementação do grupo de suporte bem como narealização da presente investigação.

(*) Escola de Psicologia, Universidade do Minho,Campus de Gualtar, 4700 Braga, Portugal; E-mail:[email protected] / [email protected]

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1996; Calhoun et al., 2002). Num estudo commulheres de Veteranos Australianos do Vietnameverificou-se que estas mulheres experienciavamfrequentemente pesadelos, insónia, ataques depânico, resposta de alarme exagerada, poucodesejo sexual, falta de concentração e sudoreseextrema (Westerink & Giarratano, 1999). Noque diz respeito a problemas de saúde física maisespecíficos, alguns estudos mostram que asmulheres dos veteranos apresentam dor crónica,dores de cabeça, lombalgia, indigestão, fadigacrónica, susceptibilidade a infecções e umaumento do consumo de drogas, álcool, tabaco enarcóticos (Foy, 1994, cit. Koic, Franciskovic,Muzinic-Masle, Dordevic, Vondracek, & Prpic,2002). Segundo Matsakis (1996), as mulheressão frequentemente sujeitas a violência muitasvezes associada à componente de flashbacks eaproximadamente 25% a 50% das mulheres queparticiparam em terapia de grupo, para esposasde veteranos com PTSD, foram alvo de violênciafísica sendo este o motivo de 20% das visitasque faziam às urgências hospitalares (Matsakis,1996; Solomon et al., 1992; Williams, 1980).

No que diz respeito ao impacto do trauma narelação conjugal, segundo o “Department ofVeterans Affairs”, nos Estados Unidos, asmulheres dos veteranos de guerra com PTSDexperienciam um nível elevado de conflitoconjugal (Riggs, Byrne, Weathers, & Litz, 1998)e menos satisfação com o casamento do queaquelas que vivem com veteranos sem PTSD(Jordan, Marmar, Fairbank, Schlenger, Kulka,Hough, & Weiss, 1992). Jordan e colaboradores(1992) referem que os veteranos com PTSD têmo dobro da hipótese de serem divorciados e umrisco quase três vezes mais elevado deexperienciar múltiplos divórcios. Alem disso, asmulheres dos veteranos de guerra comperturbação secundária de stress traumático(STSD) estavam menos felizes, menos satisfeitascom a relação marital e experienciavam elevadosníveis de distress (Kulka et al., 1990).

Recentemente um estudo com mulheres deveteranos de guerra da Croácia verificou que asmulheres que sofrem de STSD estão casadas hámais tempo e encontram-se desempregadas,podendo a duração do casamento e a situaçãolaboral, funcionar como preditores do desenvol-vimento de STSD (Franciskovic, Stevanovic,

Jelusic, Roganovic, Klaric, & Grkovic, 2007).Também Lyons (2001) verificou que grandeparte das mulheres dos veteranos estão centradasna vida conjugal. De facto a nível familiar, asmulheres dos veteranos são habitualmente asresponsáveis pela gestão do lar, vida financeira,tarefas domésticas e educação dos filhos (Kulkaet al., 1990; Maloney, 1988; Verbosky & Ryan,1988; Williams, 1980). Maloney (1988), refereque estas mulheres são descritas como “super-mulheres” ou mulheres super-responsáveis quecolocam as suas necessidades em segundo lugare frequentemente as esquecem. Este desinvesti-mento nelas próprias associa-se a uma baixaauto-estima e a um sentimento de desesperança(Williams, 1980) por não conseguirem lidar coma pressão na relação (Herndon & Law, 1986 eKulka et al., 1988, cit. Solomon et al., 1992;Kulka et al., 1990). Solomon e colaboradores(1992) referem que a intensa solidão por elasvividas é o problema mais devastador. Umestudo levado a cabo com nove mulheres deveteranos de guerra de Israel, onde foi utilizadauma metodologia qualitativa, estudou a formacomo as mulheres casadas com veteranos comPTSD experienciavam a sua situação conjugal(Dekel, Goldblatt, Keidar, Solomon, & Polliack,2005). Os resultados mostraram que a vida docasal girava à volta da doença do marido eforam encontradas as seguintes categoriaselucidativas a esse propósito: “a vida navega àvolta da doença”, “a luta da mulher pelo controlodo seu espaço pessoal”, “a presença física e aausência psicológica do marido”, “o caminhoimpossível da separação ou do divórcio” e o“marido como crescimento”. Um outro estudosemelhante verificou, através de uma metodo-logia fenomenológica, que as mulheres deveteranos com PTSD relatam a sua experiênciacomo um processo gradual e se tornaramenredadas na doença do veterano, passando pelafase do ajustamento e depois pela luta constanteem minimizar os efeitos negativos da doença nãosó em si mesmas como na família, terminandonum período de múltiplas tentativas paratratar/curar o marido (Lyons, 2001). Dekel ecolaboradores (2005) verificaram que quantomaior a incapacidade do veterano, mais elevadoo nível do stress experienciado pelas suascompanheiras (Franciskovic et al., 2007).

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Por sua vez, os filhos dos veteranos doVietname apresentam elevados níveis deansiedade, agressividade, depressão, um intensoenvolvimento emocional na vida do pai e umapreocupação constante com este, associada aum forte sentimento de culpa por não oconseguirem ajudar e se sentirem responsáveispela sua infelicidade (Ahmadzadeh & Malekian,2004; Matsakis, 1996; Rosenheck & Nathan,1985), problemas de comportamento (Beckham,Braxton, Kudler, Feldman, Lytle, & Palmer,1997; Catherall, 1997), baixo rendimento escolare baixa criatividade, mais atitudes negativaspara com o pai (Dansby & Marinelli, 1999),fraca noção da realidade (Mason, 1995), distúr-bios de sono e défice de atenção (Rosenheck &Nathan, 1985). Segundo Harkness (1991), osfilhos dos veteranos apresentam ainda dificul-dades em fazer amizades, problemas ao nível dorelacionamento interpessoal, isolamento social,pouca espontaneidade e uma maturidade forçadadevido às responsabilidades assumidas cedodemais. Os filhos apresentam também uma baixaauto-estima, em grande parte motivada por umainterpretação errada da alienação e anestesiaemocional do pai, percepcionando-se comopouco amados, pouco queridos e mesmo rejei-tados (Matsakis, 1996). De igual modo,verificou-se a existência de um efeito directoentre uma má relação parental e a existência dedistress psicológico nos filhos, que por sua vezapresenta também um efeito directo na morbili-dade física destes (Pereira, 2003).

Por estes motivos e, pelo facto da esposa e osfilhos correrem o risco de retraumatizar oveterano (Pereira, 2003), elaboramos umprograma de grupo de suporte para mulheres deveteranos de guerra. Um dos aspectos quesuporta a importância da intervenção psicológicacom estas mulheres reside no facto por um lado,destas vítimas secundárias serem instrumentaisno facilitar da recuperação das vítimas primárias(e.g., Bass & Davis, 1988, cit. Remer &Fergurson, 1998), através da melhoria da suarelação marital e, por outro lado, porque umaboa relação marital contribui de forma signifi-cativa para a redução da sintomatologiadepressiva, ansiosa e de hostilidade (Dekel &Solomon, 2007). Westerink e Giarratano (1999)referem que as companheiras dos veteranos

podem beneficiar dos grupos de suporte pois ofornecer conhecimento e informação acerca doPTSD ajuda-as a perceber e a lidar melhor comos problemas dos veteranos e oferece-lhes umaoportunidade de trocar experiências com outrasmulheres, aumentar o seu suporte social,melhorar a auto-estima além de fornecer estra-tégias de coping e de resolução de problemas.

OBJECTIVOS

Os objectivos da intervenção em grupoconsistiram em aumentar o conhecimento e com-preensão acerca da Perturbação de Stress PósTraumático, bem como os seus efeitos e impactona família e na relação conjugal; aumentar a autoestima e auto-eficácia promovendo uma melhorcomunicação; favorecer a gestão de conflitos eresolução de problemas e, finalmente, promoverboas práticas de saúde no sentido de aumentar aqualidade de vida física e psicológica nasmulheres dos veteranos de guerra.

DESCRIÇÃO DO PROGRAMA

O programa do Grupo de Suporte paraMulheres de Veteranos de Guerra é constituídopor oito sessões, estruturadas e definidas notempo, com uma periodicidade quinzenal comuma duração de duas horas. Este programa éconstituído por seis módulos, uma sessãointrodutória e uma sessão de finalização.

A intervenção inicia-se com uma sessãointrodutória de avaliação onde são abordadas asmotivações para participar no grupo, as expec-tativas, as necessidades individuais, a apresen-tação dos elementos do grupo e os objectivos doprograma.

O módulo I tem um carácter fundamental-mente educativo acerca do PTSD. Nesta sessãosão abordadas as situações que podem provocareste quadro clínico, os seus sintomas e asvariáveis individuais que podem influenciar oagravamento da situação. Este módulo pretendeajudar as mulheres a identificar, nos seuscompanheiros sintomas de PTSD, factores deexacerbação da sintomatologia e suas conse-

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quências de forma a melhor perceber como lidarcom o veterano nestas situações.

O módulo II aborda o impacto do PTSD narelação conjugal, focando sobretudo o impactodos sintomas ao nível da relação conjugal,nomeadamente ao nível de competências deexpressão emocional, intimidade e de resoluçãode problemas conjugais.

O módulo III, diz respeito ao impacto doPTSD na família e nas relações interpessoais.Neste sentido, são abordados os comportamentosde evitamento, isolamento, agressividade, raiva ehostilidade, uso de substâncias, bem com asintomatologia depressiva e/ou ansiosa.

O módulo IV aborda o impacto do PTSD nosfilho. O trauma do pai pode afectar negativa-mente a segunda geração, o que consequente-mente pode aumentar a susceptibilidade dospróprios filhos para desenvolverem STSD(Bremmer et al., 1993; Yehuda et al., 1998, cit.Westerink & Giarratano, 1999). Neste sentido,neste módulo, são abordados os aspectosfamiliares protectores dum bom funcionamentofamiliar.

No módulo V de promoção da saúde e apoiosocial é abordada a noção de comportamentossaudáveis, bem como a implementação depráticas preventivas ao nível do estilo de vida.No que diz respeito ao apoio social sãoabordadas várias estratégias e actividades queproporcionem contactos sociais, bem-estar equalidade de vida.

Finalmente, o módulo VI aborda as crisesfamiliares i.e., a gestão do stress, estratégias deresolução de problemas e de coping bem como aalteração de hábitos e atitudes não adequadas àgestão duma crise.

METODOLOGIA

Caracterização da amostra

A amostra foi constituída por 10 esposas deVeteranos de Guerra, inscritos na AssociaçãoPortuguesa de Veteranos de Guerra ediagnosticados com PTSD. As idades eramcompreendidas entre os 42-58 e quase todas asmulheres estavam casadas com os veteranos hácerca de trinta anos. Ao nível da escolaridade

possuíam o ensino primário e actualmente eramdomésticas ou reformadas e possuíam profissõesindiferenciadas. Todas as participantes viviam nodistrito de Braga.

A participação das mulheres foi voluntária e oGrupo de Suporte foi divulgado na página daInternet da Associação Portuguesa de Veteranose no jornal “O Veterano”.

Os dados foram recolhidos duas a trêssemanas após o termino do programa naAssociação de Veteranos da Guerra. Foi utilizadauma metodologia qualitativa para analisar osdados das entrevistas semi-estruturadas. Asentrevistas foram gravadas e posteriormentetranscritas para se poder proceder à sua análise.Os dados foram tratados usando a análise deconteúdo e as entrevistas seguiram um guião deforma a poder comparar resultados individuaisentre si (Bardin, 2004). A categorização dosdados teve como objectivo fornecer, duma formacondensada, uma representação simplificada dosdados brutos (Bardin, 2004).

As questões colocadas foram as seguintes: Oque a levou a participar no grupo? O que foi maisimportante para si neste grupo? O que aprendeusobre si e os outros? Do ponto de vista emocional,o que foi mais difícil para si? Existiu algumamudança na sua relação com o seu marido efilhos, depois da sua participação no grupo?

RESULTADOS

A análise dos dados configurou-se numesquema de categorias inter-relacionadas quenos permitem conhecer e compreender avivência das mulheres dos veteranos de guerra:

– “Factores que influenciaram a decisão departicipar no grupo”, que nos indicam quaisos motivos e motivações das mulheres paraparticiparem no grupo.

– “O impacto do PTSD na esposa e no casal”.Esta categoria apresenta as consequências doconvívio prolongado com um veterano comPTSD nas próprias mulheres e na sua vidaconjugal.

– “A experiência do grupo”. Esta categoriadescreve os aspectos emocionais vivenciados

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como os mais difíceis nesta experiência emgrupo.

– “O impacto da intervenção na companheira eno casal”. Esta categoria engloba as mudançasoperadas em casa após a participação nogrupo e a aquisição de novas aprendizagense conhecimentos.

Para cada uma destas categorias, apresen-tamos alguns exemplos elucidativos:

“Factores que influenciaram a decisão departicipar no grupo” (Figura 1)

Os factores que levaram as mulheres a partici-par no grupo foram os seguintes: curiosidade,“Esperava ver e ouvir as outras pessoas, asexperiências que elas viviam e que eu tinhatambém curiosidade... como todas... cada caso eradiferente”, a necessidade de conviver, “... convivercom as pessoas, com outras mulheres...”, anecessidade de partilhar problemas, “Estava aprecisar de falar sobre os problemas, desa-bafar...”; verificar que existem mais pessoas como mesmo problema: “... havia mais gente a sofreraquilo que eu sofria e isso foi muito bom saber, agente saber que não está só!” e aprender a lidarmelhor com o marido: “... encontrei ajuda paramim e para ele... eu também já estava sem paciên-cia para o aturar”.

“Impacto do PTSD na Companheira e Casal”(Figura 1)

O impacto do PTSD do marido verificou-se adois níveis, ao nível das próprias mulheres e aonível da relação conjugal dando origem a duassubcategorias: (a) Como as Esposas sePercepcionam e (b) Como Percepcionam aRelação Conjugal. Em relação ao impacto doPTSD nelas próprias, as mulheres referem quecom o tempo acabaram por se tornarem invisiveis,“o problema é que eu já ponderava demais...fiquei com uma depressão, porque cheguei a umaaltura que já não era eu mas sim aquilo que elequeria que eu fosse para evitar chatices...”;sentem-se responsáveis pela educação dos filhos,“o relacionamento entre pai e os filhos nunca foimuito bom... porque viveu ausente deles, não osviu crescer... nunca foi uma pessoa que tratava

bem os filhos... gostava de ver o pai carinhosocom os filhos” e tentam aprender a lidar com oveterano: “gostei de perceber que a gente tem deactuar melhor para que o meu marido fossemelhor para mim... andasse melhor comigo ecom ele também”, ... a chamá-lo à atenção commais cuidado”. Finalmente, estas mulheresconsideram-se cuidadoras do marido: “... eu souuma verdadeira mãe para ele, ele pode pensar ocontrário mas eu gosto demais dele”.identificando qualidades nelas próprias, nesteprocesso “no meio disto tudo eu sou muitocorajosa”.

No que diz respeito à forma como percep-cionam a relação conjugal (segunda subcategoriadeste tema) é referida a existência deagressividade física na relação, “se o meu maridoum dia me der uma bofetada... se eu não merecernunca lhe perdoaria na vida... se eu merecerestou logo a falar com ele!”, mas a agressividadepsicológica é considerada mais grave que a física:“há certas horas em que eu preferia duasbofetadas na cara, que ao menos ficava com elas,esquecia e acabava... enquanto que aquilo não éuma vez dita, são dezenas de vezes, durante o diasão dezenas... ele passa a vida ali a dizer amesma coisa”. As mulheres referem ainda quedesinvestem da própria saúde: “... sei lá, asmulheres acomodam-se, passam muito tempo acuidar dos maridos... fiquei abismada com certascoisas... nunca mais me esqueci daquela senhoraque nunca tinha ido a um ginecologista” e nãoequacionam a possibilidade do divórcio: “Se umapessoa lhes disser vou-me embora, ou vou-medivorciar, para ele seria uma agressão tão grande,que o levaria a fazer disparates. Por outro lado, étambém referido que o veterano não assume opapel de pai e companheiro activo: “Pelo menosem minha casa... qualquer problema eu é quetenho que ser sempre o guia! Se fizer falta ir a umbanco, se fizer falta ir às finanças, ir ao médico...eu é que tenho que ir, quer dizer eu tenho que sero guia para as coisas todas, eu tenho que tercabeça para tudo!” e que o relacionamento sexualé “obrigatório”: “vi que às vezes agia mal masque outras agiam bem pior... e eu sou uma pessoaque nunca lhe neguei a relação sexual e ouvialgumas mulheres que às vezes lhe negavam...claro que homens são homens! (...)”

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“A Experiência do Grupo” (Figura 2)

Relativamente à experiência de participar nogrupo as mulheres identificaram (a) AspectosEmocionais Mais Difíceis, nomeadamente opresenciar e assistir ao sofrimento das outrasmulheres: “As outras mulheres... estavam asofrer... levar a cruz ao calvário como elas estão alevar, é sofrimento...”; o facto de ouvirem relatosindicadores da ausência do veterano como pai naeducação dos filhos originando revolta: “orelacionamento entre pai e os filhos nunca foimuito bom... porque viveu ausente deles, não osviu crescer...”; o impacto da doença do pai nosfilhos: “... porque os filhos não têm culpa, nóstambém não... mas nós somos as companheirastemos obrigação... agora os filhos?!”. Relativa-mente às (b) Sugestões, as mulheres abordaram emmaior pormenor as consequências da doença queos maridos trouxeram da guerra e o seu impactonelas: “Eles vieram todos traumatizados, doentes,sei lá... com problemas pró resto da vida. Asesposas é que tiveram de os aturar, algumas sabeDeus!” e sugerindo a organização de um outrogrupo mais aprofundado, para aprenderem a lidarmelhor com os maridos e a “protegerem-se” dadoença deles: “há certas coisas que a gente nãosabe e que seria bom continuar noutro grupo...para aprendermos mais um pouco”.

“Impacto da Intervenção na Esposa/Casal”(Figura 2)

Ao nível do impacto desta intervenção emgrupo, um dos componentes identificados foi o(a) Carácter Educativo e de Aprendizagem,nomeadamente as consequências da guerrapoderem aparecer anos mais tarde: “Nuncapensei que fossem coisas da tropa... pensei quefosse hereditário... sei lá... que fosse da famíliadele...”. Esta intervenção parece também tersurtido efeito ao nível de uma maior valorização domarido apesar dos seus problemas, “... porqueembora o meu marido tenha problemas graves nãoé tau mau como os maridos das outras!” e ajudouna identificação de melhores atitudes para lidar eresolver problemas com o marido: “vi que àsvezes agia mal”, “Eu aprendi a actuar melhor comele... a chamá-lo à atenção com mais cuidado”.

O segundo componente deste tema diz respeitoaos (b) Efeitos Positivos da Participação no Grupocomo a necessidade de falar sobre os problemas:“No grupo senti-me à vontade para falar, porque

dos problemas com ele, não falo! Falo sozinha,comigo própria!”. A experiência de participar nogrupo proporcionou uma descatastrofização eminimização das situações críticas em casa:“Desde que viemos para aqui estamos muitodiferentes, mais compreensivas com tudo ecompreendemos o que de facto esta guerra fez. Jápercebo melhor... porque é que ele não pode verfardas... não pode ver... ele às vezes diz me coisasque ainda o marcaram... que lhe deixou marcas... eagora percebo porquê!”; facilitou a compreensãodo impacto da guerra na alteração da personalidadedos maridos: “... quando o conheci e namorava,ele era uma excelente pessoa... mas nunca maisencontrei o meu marido como ele era antes de irpara Angola... sei como ele era e como ficou”; damesma forma que proporcionou a criação de umavisão alternativa dos problemas conjugais efamiliares: “O mais importante foi precisamentesaber o que os outros passam para eu ter umavisão da vida diferente...” e “não sabíamos deonde vinha aquilo... porque é que o pai era tãomau para os filhos, é importante saberem que aculpa não é deles... mas que também não é do pai,e saberem aceitar o pai tal como ele é”.

Por fim, e ainda relativamente à ultima áreaidentificada, o impacto da intervenção na esposa eno casal, refere-se às (c) Mudanças Operadas emCasa, nomeadamente: a um aumento do diálogocom o marido e um maior interesse e compreensãocom as suas alterações de humor: “Eu conversavamuito com ele sobre problemas que eu via em casae ele também ouvia coisas que o fizeram pensarduas vezes. Abalaram com ele!”; maior auto-controlo e assertividade na relação, melhorrelacionamento entre o casal (negociação,expressão de afectos), “Eu há muita coisa que medomino... há certas coisas que aprendi”, “Comeceia dizer: ‘agora não!’ Porque sei manter a paz! ‘Sevão começar... saio da mesa até vocês acabaremde jantar, não quero barulho’” e, por fim, propor-cionou um maior diálogo com os filhos sobre oscomportamentos mais difíceis do pai para comeles, “Conversei com eles (filhos) e disse-lhes:‘têm que falar de outra forma com ele... é adoença da guerra, ninguém tem culpa, nem opai... o que ele quer é mimo. Quando fores falarcom ele e ele for agressivo, vira costas e maistarde tentas outra vez e falas de outra forma e elejá vai aceitar’”.

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DISCUSSÃO

A literatura indica que a intervenção commulheres de veteranos de guerra deve ter comoobjectivos a educação sobre o PTSD, a aquisiçãode competências e um aumento da consciência dosseus recursos pessoais (Remer & Ferguson, 1998).A educação sobre o PTSD é indispensável notratamento da perturbação secundária de stresstraumático, dado que evita a culpabilização dasmulheres bem como as ajuda a compreendermelhor o marido e a fornecer uma ajuda e suportemais eficazes. A intervenção deve também ter emconta as necessidades individuais das mulheres emparticular fomentar as suas capacidades para lidarmelhor com o veterano (Cowger, 1994, cit. Dekel& Solomon, 2007; Remer & Ferguson, 1998). Deacordo com os nossos resultados, foi possívelverificar que as mulheres adquiriram maisconhecimentos acerca do PTSD e, um dosaspectos que se revelou de extrema importância,foi a compreensão da sintomatologia associada, oseu despoletar face a pequenos estímulosexteriores e o facto de poder surgir e se manifestarmuitos anos após o término do serviço militar. Deigual modo, as mulheres desenvolveram com-petências para melhor lidar com o marido,principalmente competências de expressãoemocional, negociação e de resolução deproblemas indo de encontro ao que a literaturasugere no sentido de ser útil para estas mulheresdesenvolver competências de comunicação,assertividade, pensamento crítico e discursointerior positivo (Remer & Ferguson, 1998). Aliás,as actividades que visam o apoio emocional efomentam a interacção social, como foi o caso,são fundamentais na intervenção no PTSD (Dekel& Solomon, 2007; Lyons & Root, 2001).

No que diz respeito à tomada de consciênciadas suas próprias capacidades e recursos paralidar com o veterano, os resultados mostraramque as mulheres conseguiram identificarestratégias eficazes já adoptadas e sentiram-semotivadas para operar novas mudanças. Estesdados vão de encontro com as sugestõesdescritas por Dekel e Solomon (2007) quereferem que as mulheres devem procurarreconhecer em si próprias capacidades e compe-tências para lidar melhor com os problemasresultantes do PTSD do veterano e suas

consequências (Cowger, 1994, cit. Dekel &Solomon, 2007). De igual modo, o ambiente dogrupo facilitou os recursos e o apoio emocionalnecessários ao treino das novas competências,através da aprendizagem vicariante e do “role-reversal” (Remer & Ferguson, 1998).

As razões que levaram estas mulheres aparticipar no grupo realçam exactamente amotivação para a aprendizagem e para operarmudanças de forma a viver melhor com omarido, mas também a necessidade de convívioe partilha de problemas. De facto, os estudos têmvindo ao longo dos anos a referir que asmulheres dos veteranos de guerra vivem emisolamento (Coughlan & Parkin, 1987; Kulka etal., 1990), sofrem de uma grande solidão epossuem uma vida social pobre (Coughlan &Parkin, 1987; Jordan et al., 1992; Solomon et al.,1992). A literatura indica também que asmulheres de veteranos possuem estratégias decoping limitadas (Kulka et al., 1990; Verbosky &Ryan, 1988), tendo sido, por esse motivo, degrande importância abordar estratégias deresolução de problemas mais adaptativas eeficazes como estratégias de relaxamento epromoção do bem-estar para lidar com os seuspróprios sintomas de stress. Contudo, aexperiência de participar no grupo teve tambémaspectos difíceis de lidar ao nível emocional,nomeadamente, o presenciar e assistir aosofrimento das outras mulheres, a tomada deconsciência do impacto do PTSD nos filhos e asdificuldades de relacionamento entre pai e filhos.

Relativamente ao impacto do PTSD doveterano, as mulheres referem que viveram umprocesso gradual de anulação das própriasnecessidades e desejos, assumindo ao longo dotempo inúmeras responsabilidades que seassociaram a uma sensação de sobrecarga. Deigual modo, assumiram a responsabilidade deeducação e acompanhamento dos filhos. Estesresultados são consensuais com os dadosverificados em diversos estudos que referem queestas mulheres são consideradas “super-mulheres” (Maloney, 1988) pela sobrecarga detarefas, papéis e responsabilidades (Kulka et al.,1990; Verbosky & Ryan, 1988; Wiliams, 1980) eque estas exigências levam-nas a descrever um“estado de esgotamento nervoso” (Herndon &Law, 1986 e Kulka et al., 1988, cit. Solomon et

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al., 1992). Tal como Lyons (2001) verificou, asmulheres do nosso estudo vivem centradas nasnecessidades do veterano e da relação conjugal(Lyons, 2001) e desinvestem das suas própriasnecessidades, gerando um sentimento forte dedesesperança e uma baixa auto-estima (Williams,1980). Para além destes aspectos, estas mulheresconsideram-se também cuidadoras do veterano ealgumas consideram mesmo ter um papelsemelhante ao da figura maternal, dado quefrequentemente o veterano não está capaz de terum papel activo. Dekel, Goldblatt, Keidar,Solomon, e Polliack (2005) no seu estudoqualitativo onde estudam a percepção da relaçãoconjugal das mulheres casadas com veteranos deguerra, fazem referência aos dados obtidos emrelação a uma das esposas que considera o seumarido como um filho tratando-o como tal. Opapel destas mulheres como cuidadoras dosmaridos tem vindo a ser estudado e os resultadosindicam que as mulheres dos veteranos possuemum elevado nível de burnout e exaustãoemocional (Arzi, Solomon, & Dekel, 2000) e, porconsequência, um pobre ajustamento psicológico.O burnout ou sobrecarga dos cuidadores é umpredictor forte do ajustamento psicológicoquando avaliado através do SCL-90 tendo emconta os valores do Índice Geral de Sintomas(Beckham et al., 1996). Ainda assim, estasmulheres demonstram a capacidade de identificarqualidades em si próprias nomeadamente a forçae a motivação para continuarem a tentar lidarcada vez melhor com o marido.

No nosso estudo, as mulheres fazemreferência à existência de agressividade física narelação. Também Matsakis (1996) verificou que25 a 50% das mulheres que participavam emterapia de grupo para mulheres de veteranos deguerra com PTSD foram alvo de violência física,bem como de violência psicológica e agressi-vidade verbal (Williams, 1980). Byrne e Riggs(1996) verificaram que 100% dos veteranos dasua amostra relatavam ter exercido violênciapsicológica durante o ano anterior factoconfirmado pelo relato das suas esposas.Contudo, as mulheres da nossa amostra atribuemmaior gravidade à agressividade psicológica quesobre elas é exercida. É importante ressalvar queo nível de agressividade conjugal está associadoao aumento da sensação de burnout nestas

mulheres, juntamente com a severidade doquadro de PTSD (Calhoun et al., 2002).

Um outro dado importante que sobressai dosnossos resultados é o facto das mulheres nãoequacionarem a possibilidade do divórcio. Esteresultado contraria alguns estudos que verifi-caram exactamente o contrário, onde foiverificado que os veteranos com PTSD têm odobro da probabilidade de serem divorciados oude experienciar múltiplos divórcios (Jordan et al.,1992), apresentando uma taxa de divórcio elevadatendo em conta a restante população (Center forPolicy Research, 1979, cit. Dekel & Solomon,2007). Estes resultados em relação ao divórcioseriam de esperar se as mulheres casadas comveteranos de guerra, com PTSD, apresentassemmais conflito conjugal (Riggs et al., 1998), maiorinsatisfação com o casamento (Jordan et al.,1992), referindo maior infelicidade (Kulka et al.,1990). Contudo, isso não se verificou no nossoestudo nem num estudo levado a cabo com casaisde Veteranos com PTSD Israelitas onde não foiencontrada uma taxa de divórcio diferente dorestante da população e as razões apontadasreferem o forte sentimento de compromisso; oreceio pela vida e estado psicológico do marido,em particular possíveis tentativas de suicídio; asrecordações do passado de uma boa relaçãoconjugal antes da guerra ou antes do início dasmanifestações da sintomatologia de PTSD; aobrigação moral de não abandonar um maridodoente; os aspectos sociais e religiosos e, final-mente, o facto de existir um processo de cresci-mento pós traumático nestas mulheres (Dekel etal., 2005). No nosso estudo, as mulheres referemter receio que o veterano tenha alguma atitude oucomportamento que coloque a vida dele em risco,contudo tendo em conta a cultura religiosa e osvalores tradicionais que defendem a união dafamília particularmente numa zona com um carizreligioso, como o distrito de Braga, podemostambém equacionar a hipótese de estes serem osmotivos das reduzidas taxas de divórcio nosveteranos. Em relação à possibilidade de existirum crescimento pós traumático após a exposiçãoa situações traumáticas (Tedeschi & Calhoun,1996), ainda que Dekel e colaboradores (2005)tenham verificado a sua presença no seu estudoqualitativo com mulheres de veteranos de guerrade Israel e, mais recentemente, numa amostra de

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mulheres de veteranos que foram prisioneiros naguerra (Dekel, 2007). Na presente amostra, esteaspecto não foi referido por nenhuma dasmulheres.

Os resultados apontam para o facto dasmulheres considerarem o relacionamento sexualcomo algo obrigatório e, este dado, vai deencontro à literatura que indica que as mulheresfrequentemente apresentam problemas ao nível daintimidade (Coughlan & Parkin, 1987; Jordan etal., 1992; Solomon et al., 1992), pouco desejosexual (Westerink & Giarratano, 1999) e proble-mas no funcionamento familiar (Pereira, 2003).

Finalmente, os resultados sugerem umdesinvestimento por parte das mulheres na suasaúde física. A literatura indica que aintervenção nas mulheres de veteranos de guerradeve ajudá-las a encontrar um equilíbriosaudável entre as suas próprias necessidades e asnecessidades do marido (Remer & Ferguson,1998). Neste sentido, no decorrer do grupoforam partilhadas informações e sugeridasalterações na rotina com o objectivo de obter umestilo de vida mais saudável ao nível doscomportamentos de prevenção e práticas desaúde. Se tivermos em conta que frequentementeas mulheres de veteranos da guerra apresentamdor crónica, dores de cabeça, lombalgia, fadigacrónica, indigestão e uma maior susceptibilidadea infecções (Foy, 1994, cit. Koic et al., 2002), aênfase sobre a saúde física parece ser uma áreaessencial a desenvolver e a trabalhar ao nível daintervenção tendo em conta o desinvestimentoverificado nesta área no nosso estudo.

CONCLUSÃO

A literatura indica que as taxas de partici-pação das mulheres de veteranos em grupos deapoio são baixas (Lyons & Root, 2001). Se porum lado, as mulheres procuram mais facilmenteajuda para os maridos e até os acompanham,encontram várias dificuldades e constrangi-mentos quando o apoio se dirige a si e.g.,horários, custos, distância até ao local, o facto deserem cuidadoras de crianças (netos) efrequentemente objecção do marido (Dekel &Solomon, 2007). Assim é um desafio para ostécnicos diminuir estes constrangimentos e

tornar esta participação acessível a um maiornúmero de mulheres.

Os resultados deste estudo revelaram que aPerturbação de Stress Pós Traumático temimpacto na esposa e na relação conjugal. Nestesentido, a intervenção em grupo parece tercontribuído para as mulheres lidarem melhorcom PTSD do veterano, compreendendo as suasreacções e identificando os sintomas. Este factoteve como consequência uma maior valorizaçãodo marido, maior motivação para operarmudanças e maior compreensão nas situaçõesconjugais e familiares mais críticas. A descatas-trofização e a minimização dos problemas foitambém um dos resultados que levou a umamaior motivação para operar mudanças.Enquanto algumas mulheres aumentaram o seusentimento de auto-eficácia por perceberem quetinham atitudes e estratégias adaptativas efuncionais, outras aprenderam diferentes formasde lidar com os maridos e com os problemas,aumentando o sentido de auto-controlo, a asserti-vidade, as estratégias de resolução de problemas eas técnicas de comunicação verbal e não verbal.

Relativamente à influência do grupo na relaçãoconjugal e familiar, para além de uma maiorcompreensão, as mulheres desenvolveram a capa-cidade de ouvir, permitindo uma maior abertura decomunicação entre o casal. O grupo estimulou anecessidade de conviverem e se relacionarem,reduzindo o isolamento social em quenormalmente viviam. Esta experiência em grupopermitiu também criar um espaço para asmulheres puderem pensar em conjunto sobre osseus problemas e como os resolver. Ao nível dasaúde física, o grupo permitiu o treino decomportamentos saudáveis, como a actividadefísica, alimentação saudável, incentivo à realizaçãode exames de rotina, com carácter preventivo e,por fim, actividades de lazer que proporcionassembem-estar.

Em suma, o grupo de suporte parece tercontribuído para dar às mulheres um sentido decontrolo quer ao nível pessoal quer conjugal.

IMPLICAÇÕES

Passados trinta anos o apoio prestado aos Vete-ranos continua a ser deficitário tendo em conta as

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possíveis perturbações psicológicas resultantes daexposição a teatro de guerra, entre elas aperturbação de stress pós traumático mas tambémtodos os quadros clínicos associados. Nestesentido, as implicações deste trabalho reflectem-sea dois níveis, i.e., ao nível do Veterano e ao nívelda sua família, sendo necessário não só apoiar osveteranos mas também ajudar as famílias aminimizar os efeitos negativos do convívioprolongado com a sintomatologia do veterano deguerra. Por outro lado, não podemos ignorar ofacto dum mau funcionamento familiar poderinterferir com a eficácia da intervenção dirigidaao PTSD do veterano (Tarrier, Sommerfield, &Pilgrim, 1999).

Tendo em conta os resultados do nossoestudo, aumentar o conhecimento e informaçãodas companheiras acerca da perturbação destress pós traumático, possibilita uma maiorcompreensão e controlo da sintomatologia, porparte destas, tendo também um impacto directonos comportamentos do veterano. Em relaçãoaos filhos, parece-nos indispensável propor-cionar também ajuda ao nível da compreensãodo PTSD e, se necessário, desenvolver interven-ções dirigidas à sintomatologia de traumatizaçãosecundária.

Uma outra área importante de intervençãocom as mulheres é a promoção de actividadessociais e de bem-estar. Westerink e Giarratano(1999) referem que estas mulheres beneficiam degrupos de suporte pela oportunidade de trocarexperiências com outras mulheres e, desta forma,aumentar o suporte social. Neste sentido, aexperiencia de participar no grupo estimulou amanutenção de contactos futuros com os restanteselementos, bem como a motivação para iniciar eparticipar em actividades de bem-estar e saúde.

Por fim, os resultados desta investigação evi-denciam a importância de desenvolver estudosquantitativos sobre a desordem secundária destress traumático nas companheiras dos veteranosde forma a podermos aumentar o conhecimentogeneralizado sobre o impacto do PTSD nestapopulação.

Antes de terminar, gostaríamos de referir queo presente estudo se focou apenas em esposas deVeteranos de Guerra do distrito de Braga peloque os resultados devem ser lidos com cuidado.

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RESUMO

As consequências dos episódios traumáticosvividos em teatro de guerra afectam não só a vítimadirecta mas também a esposa/companheira do próprioveterano. A intervenção psicológica junto dasmulheres dos veteranos é importante a dois níveis: porum lado porque estas mulheres apresentampsicopatologia e dificuldades na relação conjugal. Poroutro lado, a recuperação do próprio veterano éfacilitada através da melhoria da sua relação maritalque contribui de forma significativa para a redução dasintomatologia depressiva, ansiosa e de hostilidade.

Neste estudo participaram 10 mulheres casadascom veteranos de guerra com PTSD que frequentaramum grupo de suporte. Através duma metodologiaqualitativa procuramos conhecer os motivos dainscrição no grupo, os aspectos mais importantes daparticipação, a aprendizagem efectuada, os aspectosmais difíceis da participação, as mudanças na relaçãoconjugal e familiar e os problemas apresentados.

Os resultados indicam que estas mulheres sentemuma grande necessidade de conviver e partilharproblemas, ao longo dos anos anularam as suaspróprias necessidades e vivem em função do bem-estardo marido desinvestindo de cuidar da sua saúde física.A intervenção teve um efeito positivo promovendo ummaior conhecimento e compreensão sobre o PTSD, umaumento das competências de resolução de problemas,comunicação e de estratégias de coping para lidar como stress e, finalmente, uma maior motivação para

operar mudanças em casa a nível conjugal. Asmulheres relataram também efeitos positivos ao nívelda saúde física e psicológica.

Este estudo realça a importância da intervençãojunto das mulheres no sentido de minimizar os efeitosnegativos do convívio prolongado com a sintomato-logia de PTSD por parte do veterano.

Palavras-chave: Esposas, PTSD, Stress traumático,Veteranos.

ABSTRACT

The consequences of traumatic events experienced inwar theatre affect not only the direct victim, but also thewife/partner of the veteran .Psychological interventionon veterans’ wives is important at two levels: first, thesewomen present some psychopathology and difficultiesin their marital relationship, and second, the recovery ofthe veteran himself is easier through the improvement ofhis marital relationship, that contributes significantly forthe reduction of depressive, anxious and hostilesymptoms.

This study had the participation of 10 womenmarried to war veterans with PSTD who took part in asupport group. Through a qualitative methodology, thereasons for their enrolment in the support group, themost important aspects of their participation, thelearning that took place, the most difficult aspects oftheir participation, the changes in their family andmarital relationship and the problems reported, wereassessed.

The results show that these women feel a great needfor social relationships and to share problems, they putother people’s needs before their own, their life iscentered on the veteran’s well-being, and they do nottake good care of their physical health.

The intervention had a positive effect promoting agreater knowledge and understanding of PTSD, anincrease in the ability to problem solving, bettercommunication and coping strategies to deal with stressand, finally, a greater motivation to make changes athome, on a marital level. Women also reported positiveeffects on their physical and psychological health.

This study emphasizes the importance ofintervention in these women with the goal of reducingthe negative effects of a long-term exposure toveteran’s PTSD.

Key-words: Combat stress, PTSD, Spouses,Veterans.

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