mulheres em situação de prisão · mulheres e crime: construindo novos caminhos a liberdade 5...

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MULHERES DA PAZ UMA AÇÃO DE EMANCIPAÇÃO E CIDADANIA MULHERES ENTRE GRADES MULHERES EM SITUAÇÃO DE PRISÃO NO ESTADO DO ACRE MULHERES E CRIME CONSTRUINDO NOVOS CAMINHOS A LIBERDADE CONVÊNIO MJ Nº 062/2008 Revista do Seminário Mulheres em Situação de Prisão

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Page 1: Mulheres em Situação de Prisão · MULHERES E CRIME: CONSTRUINDO NOVOS CAMINHOS A LIBERDADE 5 MULHERES EM SITUAÇÃO DE PRISÃO NO ESTADO DO ACRE 9 MULHERES ENTRE GRADES 11 MULHERES

MULHERES DA PAZ UMA AÇÃO DE EMANCIPAÇÃO

E CIDADANIA

MULHERES ENtRE gRADES

MULHERES EM SItUAÇÃO DE PRISÃO

NO EStADO DO ACRE

MULHERES E CRIME CONStRUINDO

NOVOS CAMINHOS A LIBERDADE

Convênio MJ nº 062/2008

Revista do

SeminárioMulheres em Situação de Prisão

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SUMÁRIO

Apresentação 3MULHERES E CRIME: CONSTRUINDO NOVOS CAMINHOS A LIBERDADE 5MULHERES EM SITUAÇÃO DE PRISÃO NO ESTADO DO ACRE 9 MULHERES ENTRE GRADES 11MULHERES DA PAZ: UMA AÇÃO DE EMANCIPAÇÃO E CIDADANIA 15

APreSentAçãoHomens e mulheres são diferentes e, a história das

prisões tem nos mostrado que quando se trata de mulhe-res encarceradas existem particularidades de gênero que devem ser respeitadas para que não haja violação dos seus direitos humanos.

Nos últimos dez anos o número de mulheres em situa-ção de prisão triplicou em todo o país. No Estado do Acre não é diferente, atualmente temos 211 mulheres presas.

O Sistema Penitenciário Acreano vem construindo sua identidade e apresentando um novo modelo de gestão pe-nitenciária, fundamentado num tratamento penal integral

que visa garantir um percurso formativo à pessoa presa e que possibilita mudanças na sua conduta de vida, por meio de um tratamento integral como ser humano e cidadão.

Neste cenário, a efetivação das diretrizes apontadas nos debates de políticas públicas voltadas às mulheres possui destaque nesta construção para que os recortes de gênero sejam respeitados no ambiente penitenciário.

Os artigos presentes nesta revista refletem sobre as necessidades de mudanças urgentes no tratamento penal dispensado à mulher, garantindo-lhe restrição de liberdade adequada a sua condição e respeitando suas distinções.

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Fabiana teve um filho pequeno que estava num abrigo para crianças portadoras de HIV. Enquanto esteve presa, ela sempre procurava informação sobre ele. Durante o

tempo na prisão, Fabiana perdeu a guarda do filho e perdeu a razão para lutar. Fabiana - jovem, criativa (sempre desenha-va cartões e vendia dentro do presídio), cheia de energia e esperança de uma vida diferente, saiu de liberdade um dia. Duas semanas depois, ela me encontrou uma noite no centro, com o cachimbo e uma pedra de crack na mão e me chamou. Quando eu sentei ao seu lado, ela me disse: “tia, voltei às dro-gas e à rua. Desculpa”. Com os 26 anos de idade, Fabiana também queria algo diferente da vida dela, mas sem estru-tura, sem oportunidade, sem João Vitor, ela não conseguiu segurar o sonho e realizar a vida que queria.

Fabiana é mais uma do crescente número de mulheres que têm passado pelo portão de um presídio no Brasil. Os da-dos são alarmantes: o número de mulheres presas aumenta cada ano. Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério de Justiça, entre 2004 e 2007, o cresci-mento real da população carcerária feminina foi de 37,47%, enquanto a população masculina teve crescimento real de 24,87%. Entre dezembro de 2006 e dezembro de 2007, o

crescimento masculino foi de 4,86% enquanto o feminino foi de 11,99%.

No Brasil, não há dados concretos explicando a causa deste aumento da população feminina, mas especialistas em vários países do mundo acreditam que seja mais frequen-temente uma questão econômica. A situação econômica global tem piorado para os mais pobres e mais e mais, as mulheres são chefes de família. Ou seja, as rendas mínimas diminuiram em valor e as mulheres têm menos chance de estar dividindo os custos com um marido. O censo penitenci-ário de 2002 no Estado de São Paulo consta que 74% das mu-lheres declararam-se solteiras, divorciadas ou viúvas, e 82% têm filhos, ou seja, muitas são responsáveis sozinhas para a renda da casa e a sustentação dos filhos. Há um fenomeno mundial. Nos Estados Unidos, entre 1980 e 1995, o número de mulheres encarceradas aumentou 460%, enquanto a po-pulação prisional masculina “somente” aumentou 241%.

Segundo Iara Ildenfritz do Rio de Janeiro, ao serem “per-guntadas sobre os principais motivos que as levaram ao crime, ou por que fizeram do tráfico de droga uma profissão, as res-postas mais frequentes foram: influências de terceiros, quase

sempre homens com quem têm ou tiveram vínculos afetivos fortes (maridos, companheiros, namorados, filhos), seguida de dificuldades financeiras, aliadas à falta de perspectiva de em-prego e da atração pelos altos ‘salários’ da droga”.

E este scenário se repete em outros estados brasileiros. O Delegado Einstein Rebouças, do Amazonas, confirma que “a principal justificativa das mulheres flagranteadas é que o dinheiro da venda das drogas ajuda na renda familiar da casa”. E o delegado de polícia de Belém, João Bosco, apontou que “originalmente, o consumo e o tráfico de drogas têm nas suas origens problemas de ordem social”.

É claro que nem todas as mulheres são presas por falta de oportunidades de trabalho. Há mais de 30.000 mulheres presas no Brasil com perfil comum: jovens, sem ensino fun-damental completo, não-brancas, mães, presas por ‘tráfico’ de drogas, contudo, estes dados não representam a realidade de cada mulheres individualmente.

São poucas as penitenciárias no país inteiro que são construídas para mulheres. A grande maioria são unidades masculinas “transformadas” em unidades femininas, antigos colégios, conventos, unidades de detenção para adolescen-tes que não servem mais para eles. No estado de Tocantins, não há sequer uma unidade feminina. O jornal do Tocantins cita que as mulheres encontram-se em locais improvisados. Em Palmas, capital do estado, estão alojadas 30 mulheres na Cadeia Pública de Taquaralto, onde funcionava o antigo cen-tro socioeducativo para adolescentes.

A construção de um presídio feminino deve considerar o espaço para trabalhar as questões de relação familiar - es-pecialmente com os filhos, de profissionalização e de auto-estima, ou seja, não é preciso gastar tanto dinheiro em altís-sima segurança para a maioria das mulheres presas. Pois, os crimes cometidos pelas mulheres no geral, são menos violen-tos. Poderia portanto, o poder público investir mais em espa-ço de visita para os filhos, espaço de amamentação e equipe técnica de saúde, psicologia e serviço social.

Em 2007, várias entidades da Sociedade Civil provocaram uma audiência na Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos (CIDH) em Washington, onde o Governo Federal Brasileiro teve de se justificar sobre a desconsideração das mulheres pre-sas. Logo depois, por decreto presidencial, um Grupo de Tra-balho Interministerial (GTI) sobre a questão da mulher presa, composto de participantes de doze ministérios e duas pessoas da Sociedade Civil (participantes das ONGs que foram para Wa-shington) trabalharam por seis meses e publicaram recomen-

dações e ações. Ainda assim, a realidade das mulheres encar-ceradas tem mudado pouco. Continuam dividindo celas em delegacias e cadeias públicas com os homens presos, e muitas vezes com menos direitos para as mulheres, quando há um só pátio para banho de sol. Ainda há poucas funcionárias femini-nas nestas delegacias- a pastoral já visitou uma delegacia fe-minina no Rio de Janeiro que só tinha carcereiros masculinos!

No ano passado, o Congresso votou a lei nº 11.942 de 28 de maio de 2009, que “garante” o direito de amamentação para os bebês que nascem de mães presas. A lei, no papel, garante um mínimo de seis meses, mas deixa a possibilida-de da criança ficar mais se a mãe não tiver com quem deixar. Antes disso, o GTI recomendou um período de dois anos, re-conhecendo que o leite materno e o vínculo primário da mãe são de suma importância, e também reconhecendo um gran-de número de mulheres com penas mínimas que poderiam sair junto com seus filhos, assim evitando o rompimento do vínculo entre o bebê e sua mãe. Em vários lugares do país, isso ainda não acontece, pois as administrações alegam que não têm lugar adequado para amamentação. Ou que o lugar “adequado” não tem vagas. Sabem da importância do vínculo maternal; sabem da importância da lei, mas parece que um simplesmente “não deu” basta para justificar a descumpri-mento da lei e do direito de amamentação.

Os lugares onde as crianças e suas mães exercem este direito de ficar juntos são quase sempre improvisados, geral-mente uma cela separada das outras celas, quando não está diretamente no meio da população presa, o que muitas vezes significa falta de ventilação adequada, com fumaça de cigar-ros, sem espaço para caminhar com o bebê quando está in-quieto, sem acesso necessário a um pediatra, e sem garantia de que a criança sairá com certidão de nascimento.

É incrível que ainda hoje, em 2010, os direitos das mu-lheres e das crianças sejam considerados secundários. Não se pode porém, desmerecer algumas tentativas de olhar à questão da mulher encarcerada, exemplificando: o GTI sobre a Mulher Presa; a proposta de um mutirão jurídico especifi-camente olhando às mulheres presas, que já se iniciou em alguns Estados como no Acre; a lei de amamentação em si é também um avanço; a criação da Comissão de Estudos ao Enfrentamento da Mulher Encarcerada do CNJ; a criação de uma vara específica de Execução para Mulheres na Comarca de São Paulo, a inclusão de mães com filhos menores como condição de consideração para o Indulto Natalino. Tudo isso são conquistas conseguidas com a participação ou pressão da Sociedade Civil. No entanto, pouco destas vitórias tem chegado dentro das celas femininas do país.

MULHereS e CrIMe: ConStrUInDo noVoS CAMInHoS A LIBerDADe

Heide Ann Cerneka

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Ainda neste ano, uma jovem grávida de sete meses es-tava na única cela feminina que fica junto às celas masculinas na delegacia de uma cidade na Bahia - as celas não têm luz-, e ela passa o dia inteiro somente com a luz de velas e sem um banho de sol, pois, o pátio é para os homens.

MULHERES E tRÁFICO DE DROgAS

No Acre, segundo os dados do Depen de dezembro de 2009, as mulheres compõem 5% da população prisional. Das 171 mulheres presas, 68% estavam respondendo acusação de tráfico ou já sentenciadas por tráfico de drogas. Dos ho-mens, somente 33% está preso por tráfico de entorpecentes. Em âmbito nacional, o crime mais comum entre os homens é o roubo enquanto que entre as mulheres é o tráfico de dro-gas, e apesar de ser 6% da população prisional de todo país, as mulheres respondem por 14% dos crimes relacionados ao tráfico de drogas.

Na letra da lei, a definição deste crime é simples: tráfico de entorpecentes. Mas atrás disso há vários motivos. Como já citadas, as questões econômicas e afetivas levam muitas mu-lheres a ingressaram no crime. No tráfico, é raro encontrar uma verdadeira traficante de drogas. O delegado João Bosco disse: “Normalmente, a presença feminina é mais intensa no varejo do tráfico, onde a droga é vendida em porções menores. As quadrilhas especializadas em contrabando e tráfico internacio-nal dificilmente contam com a participação de mulheres”.

A realidade das mulheres encarceradas é que elas têm uma alta incidência de abuso e dependência de alcóol e dro-gas, de terem sido vítima de violência na vida, de terem pro-blemas de saúde física e de saúde mental. O Instituto Terra, Trabalho e Cidadania- ITTC, em São Paulo, e também uma pesquisa de Iara Ilgrenfritz, no Rio de Janeiro, constataram que 95% das mulheres presas foram vítimas de violência em algum momento na vida, seja como criança, ou mais tarde com um parceiro ou parceira íntima, ou ainda nas mãos da polícia na hora de prisão.

O trabalho da Ilgrenfritz com as detentas no Rio de Ja-neiro mostra que a proporção de mulheres que afirmaram ter abusado das drogas em algum momento da vida chegou a ser 42,2%. E muito mais, que a prisão não é o lugar certo para ela tentar mudar este comportamento, sendo que mui-tas “relataram que a droga entra livremente nas unidades (prisionais), e que elas continuam consumindo drogas depois de presas. Aliás, outro estudo no Rio de Janeiro mostra que “para cada ano a mais que se passa na prisão, a chance de usar cocaína aumenta em 13%”.

Um estudo nos Estados Unidos mostrou que até 80% das mulheres presas em alguns estados mostram problemas graves e duradouros de dependência química. Em muitas delas, o abuso de drogas coincide com pobreza e múltiplos problemas psicossociais, doenças mentais e histórias de trau-ma e abuso. Infelizmente, “poucos estudos existem para de-monstrar o que funcionaria para ajudar habilitar para a vida em liberdade sem drogas”. Daí, a necessidade do enfrenta-mento de todos os fatores citados acima.

Hoje, mais de 50% das mulheres presas no país estão detidas por crimes relacionados ao mundo das drogas. No Estado do Acre, este percentual chega a ser 68% (dezembro 2009). Em janeiro de 2010, o jornal O Liberal do Pará publi-cou um artigo declarando que “o índice de mulheres presas em Belém por associação ao tráfico de drogas ano passado cresceu 98% em relação ao ano anterior”. No Rio de Janeiro, chega ao 50%, e no Amazonas, segundo o Delegado Einstein Rebouças, e de acordo com a Sejus, em 2009, 82,4% do total de prisões de mulheres foi por tráfico de drogas. E se neste rol for incluído também as mulheres que roubam ou furtam para comprar drogas, esta número aumentará mais ainda! Gabriela, uma chilena que mora em São Paulo acabou de ser presa por furto pela terceira vez. Ela disse claramente: “meu problema não é o furto. Meu problema é a droga. Eu furto para comprar drogas. Eu não consigo parar e por isso, minha família não me aceita mais”.

Infelizmente, não há estudos aprofundados sobre os crimes relacionados ao tráfico de drogas, pois, dentro deste percentual de mulheres presas por tráfico, há mulheres usu-árias de drogas, mulheres já dependentes químicas, mulhe-res que caem no tráfico para sustentar sua família, mulheres que entram no tráfico puxadas por maridos e namorados, e finalmente, de vez em quando, encontram-se mulheres que traficam porque “gostam de comer em restaurantes bons e usar tênis de marca”.

A construção de mais presídios não vai resolver estas questões nunca! A construção de oportunidades para estu-dar, a oferta de cursos profissionalizantes e de oportunidades de emprego (pois não adianta treinar se não tiver como tra-balhar) seria um bom começo para aquelas que entram no crime por desespero financeiro. Não adianta ajudar uma pes-soa parar de usar drogas se a mesma não tiver estrutura para manter-se dignamente depois.

Há muitos debates hoje em dia sobre a questão das dro-gas - a descriminalização, a legalização, propostas de leis para penas mais duras para usuários e vendedores de drogas. Esse

debate é global. Existem propostas, experiências, e teorias, a solução, porém não se encontra em uma só resposta. En-quanto isso, as Fabianas do mundo voltam às ruas, voltam à vida das drogas e se entregam mais uma vez à vida que não queriam mais.

Há anos que a Organização Mundial de Saúde tem re-conhecido que a dependência química é uma questão de saúde e de saúde pública e tem de ser tratado assim. Porém a linha entre ser “usuária” de drogas ou estar envolvida com “tráfico” de drogas é muito tênue. Elisa foi presa com três pe-dras de crack, e esperou sete meses para a resolução de seu processo, que terminou com uma sentença de prestação de serviço comunitário, dado que o juiz reconheceu que ela era simplesmente uma usuária. Infelizmente, teve que ficar sete meses no presídio para a justiça chegar a conclusão que ela não precisava ficar presa.

Um artigo do Boletim do Ibccrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais) provoca a discussão sobre descriminaliza-ção de drogas com a seguinte declaração:

Sob o ponto de vista dos países desenvolvidos, o saldo de quase cem anos de proibicionismo pode ser resumido da seguinte forma: a oferta de drogas não foi reduzida, o consu-mo aumentou, a situação da saúde pública agravou-se, o sis-tema prisional está superlotado e próximo à falência, aumen-tou a corrupção, e os grandes traficantes continuam soltos, os lucros nunca foram tão altos, e a circulação de dinheiro sujo não diminuiu, novas drogas estão disponíveis nos mercados, as drogas naturais foram geneticamente modificadas e estão cada vez mais potentes.

Não se encontrou ainda uma solução às questões de-correntes do abuso de drogas e dependência química tais como: destruição de vidas e de famílias, violência que surge por usuários procurando dinheiro para conseguir drogas, tra-ficantes defendendo território, e também os conflitos entre a polícia e os traficantes. Não podemos contudo, esconder-nos e esperar a certeza de uma solução. O artigo do Ibccrim continua: “a dúvida que resta é a seguinte: qual modelo seria adequado para substituir o proibicionismo? São muitas dúvi-das, mas elas precisam ser enfrentadas e resolvidas, sob pena de se manter uma política irracional por inércia e falta de pro-postas alternativas concretas”.

Precisamos discutir a questão das drogas; precisamos discutir políticas públicas visando o melhor para a nossa so-ciedade, procurando uma segurança pública que envolva to-dos como parceiros (pois a polícia sozinha não vai conseguir

garantir esta segurança). Precisamos também de políticas públicas de saúde e assistência às pessoas que estão no pro-cesso de reconstrução de suas vidas sem drogas.

Quando falamos das mulheres encarceradas, podemos discutir várias questões, entre elas: a questão de amamenta-ção, o direito de acesso a um telefone público para manter contato com a família, principalmente os filhos, a constru-ção de presídios adequados e a implementação políticas públicas que considerem as necessidades e especificidades das mulheres. Se não temos coragem de enfrentar a ques-tão de drogas na vida destas mulheres, jamais chegaremos à raiz do problema.

Pesquisas mostram que as drogas afetam as mulheres de uma maneira diferente dos homens. Mulheres muitas vezes começam a usar drogas mais tarde do que os homens (e muitas vezes através de um homem), mas a dependência química acontece mais rapidamente para elas. Esta depen-dência muitas vezes envolve mais de uma substância, produz consequências graves à saúde com mais rapidez, e as mulhe-res muitas vezes têm uma co-morbidade (um outro diagnós-tico psiquiátrico junto com a dependência química).

Pesquisa feita pelo Departamento Penitenciário do Estado de Illinois, nos EUA, durante a inclusão das pessoas presas demonstra que as mulheres encontram-se numa fase mais avançada e severa de abuso de drogas do que os ho-mens. As mulheres ofensoras têm uma incidência maior no uso de substâncias entorpecentes, e usam drogas mais pe-sadas e com mais frequência do que os homens ofensores.

No Acre, onde a população prisional feminina ainda é pequena, seria interessante que o Estado tentasse experi-mentar a oferta de tratamento de drogas em substituição à prisão, e para aquelas que são sentenciadas à reclusão, tra-tamento dentro da unidade prisional. “A cessação do uso de drogas, em 88% dos casos, interrompe o comportamento de-lituoso associado ao uso.”

No Chile, o um programa dentro do Sistema de Justiça oferece tratamento ambulatório e residencial. Neste progra-ma, o juiz pode optar por dois caminhos: um punitivo através de execução da pena ou um terapêutico, através de reabili-tação. A evidência mostra que a reabilitação tende a redu-zir substancialmente a reincidência em delitos relacionados com as drogas em contrapartida ao “caminho punitivo”, cujos efeitos dissuasivos são bem menores.

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REFERêNCIAS

A recuperação da dependência de drogas requer tra-tamento efetivo, seguido pelo gerenciamento do problema ao longo da vida. Requer que todas as questões de saúde, de relações afetivas, de oportunidades de emprego, além do tratamento do próprio abuso de substâncias entorpecentes façam parte deste tratamento. Ao final, o tratamento ambu-latório ou residêncial, dentro da prisão ou na comunidade, pode tanto salvar vidas quanto reduzir gastos públicos. Já que mais de 80% das presas são mães, o custo dos cuida-dos com os filhos, o custo de tratamento pré-natal e neonatal para crianças afetadas pelo uso de drogas da mãe, o custo de reincidência no crime, tudo isso tem um alto preço tanto do ponto de vista econômico quanto emocional para os agentes envolvidos.

Em conclusão, Ildenfritz disse que:

O estudo concluiu que a maior parte das presidiárias chega às prisões trazendo uma história prévia de maus-tratos e/ou abuso de drogas (próprio ou de familiares próximos). Isso não significa que tais experiências possam ser considera-das indutoras da criminalidade ou diretamente responsáveis pela entrada no sistema penal, pois certamente a maior parte das mulheres vítimas de agressão, assim como das depen-

dentes de álcool e de outras drogas, está fora das cadeias e penitenciárias. O que os dados mostram é que a prisão, tanto pela privação da liberdade, quanto pelos abusos que ocor-rem em seu interior, parece ser apenas mais um elo de uma cadeia de múltiplas violências que conformam a trajetória de uma parte da população feminina. O ciclo da violência, que se inicia na família e nas instituições para crianças e adoles-centes, perpetua-se no casamento, desdobra-se na ação tra-dicional das polícias e se completa nas penitenciárias, para recomeçar, provavelmente, na vida das futuras egressas.

Assim como não tem havido esforços efetivos no sen-

tido de compreender as motivações e as circunstâncias em que ocorrem os crimes praticados por mulheres, não existem iniciativas no sentido de prevenir a criminalidade feminina e, tampouco, de conceber uma política penitenciária específica para as mulheres presas.

Enquanto estes debates sobre políticas públicas para mulheres encarceradas e mulheres infratoras da lei não con-seguem chegar aos presídios, e ficam somente nas salas de debate, as pessoas como Fabiana e Elisa vão ficar sem opções de chegar à vida que realmente querem: uma vida livre de drogas, saudável e participante na construção da sociedade.

A criminalidade feminina tem crescido e atingido todas as esferas sociais, essa é uma realidade nacional, confi-gurando-se num fenômeno de análise complexa e que

tem raízes de difícil depuração.

Em dezembro de 2006 a população feminina do siste-ma penitenciário estadual saltou de 91 mulheres em situação de prisão para 207 no mês de junho do corrente ano, ocorreu um aumento significativo de tantos 127,47%. Com esses da-dos podemos diagnosticar que o Estado do Acre não se difere do contexto nacional.

Em razão disso, o Instituto de Administração Penitenci-ária vem promovendo mudanças constantes em relação às unidades onde abrigam mulheres pode-se dizer, que o mes-mo vem construindo uma linha de cuidado com a presa onde a relação de corpos extrapola a estrutura física da instituição.

A preocupação a priori tem sido a do olhar humanizado para com a detenta e devido a esse fator a ressocialização vem ocorrendo, na maioria dos casos, de forma positiva, porém ain-da de forma singular por causa das problemáticas existentes dentro do sistema carcerário com relação à vida, como um todo, do indivíduo.

Por isso o IAPEN-AC tem buscado envolvê-las nos traba-lhos de ressocialização, que é de vital importância uma vez que, o objetivo principal é a de inserir de forma positiva no seio da sociedade. Estabelecendo vínculos adequados, res-gatando a sua auto-estima e o sentido de pertencimento, ao ponto de atuar como cidadã e futura profissional sendo me-nos uma na reincidência da prática do crime.

Partindo desse olhar da ressocialização, se faz necessá-rio ressaltar como é importante compreender que o ato de educar para o trabalho é vincular e direcionar a mulher presa para a prática social. Preparando-a para o exercício da cidada-nia plena, através da interdisciplinaridade considerando nas suas mais variadas formas.

Além disso, busca-se fomentar uma percepção ampla de mundo, abrindo assim, portas para o crescimento intelec-tual e desenvolvendo uma visão critica, com ética, cultivando o gosto pela discussão e sua propagação, como meios para ascender socialmente.

Dessa forma, vislumbramos que toda atividade que leva em conta essas implicações pode ser definida como uma for-

MULHereS eM SItUAção De PrISão no eStADo Do ACre

Amábile Silva Link

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ma de ressocialização, uma vez que a mesma se configura numa ação formativa intencional.

Seguindo essa linha de compreensão é que o IAPEN-AC, através das equipes técnicas tem atuado, realizando ativida-des com as mulheres em situação de cárcere, desenvolvidas com o intuito de minimizar os prejuízos durante esse período.

As equipes multiprofissionais (assistente social, pedago-go, psicólogo), realizam atividades voltadas objetivamente ao processo de reintegração social. As atividades são desenvol-vidas tanto em grupo quanto individual. No tocante as indi-viduais os atendimentos são feitos priorizando as demandas emergenciais, como suprimento de necessidades materiais, viabilização de atendimentos de saúde e educacional e outros. Já os atendimentos em grupo são trabalhados com diversos temas, entre eles, auto-estima, rotulagem, espírito de grupo, gênero, respeito e conscientização de direitos e deveres so-ciais, saúde e família, temas de fundamental importância no processo de reintegração social. Também são trabalhados ou-tros temas que emergem no próprio grupo. Os trabalhos pe-dagógicos são diversos entre elas destaca-se: a escolarização, filmes, violão, colagem, dinâmicas, projeto de pintura, roda de conversa, textos reflexivos, origami, recreação e lazer onde a postura técnica tem visado à ética e a qualidade, buscando construir projetos futuros e implicando uma política de res-gate de afetos que problematize a vida e não apenas o crime. Dessa forma tem se conseguido obter resultados satisfatórios, enfatizados por trabalhos de evangelização.

Desse modo conseguimos identificar o perfil de cada mulher presa, a partir de seu histórico de vida em seu contexto social, respeitando os fatores socioculturais e as adversidades presentes em cada ser humano. E, nessa busca para resgatar valores é que foram se tornando conhecidas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres privadas de liberdade. Que entre tantas, as que têm sido diagnosticadas com mais veemência são as questões: financeiras, auto-estima baixa e a falta de per-tencimento a sociedade. Justamente pelo fato de muitas não terem uma profissão, não possuem uma renda fixa, condenada assim a viverem em extrema vulnerabilidade social.

Pensando na superação dessa problemática é que o Insti-

tuto tem realizado parcerias com diversos órgão e intuições, que tem como objetivo a geração de renda, a profissionalização, au-to-estima e a inserção de novos paradigmas no contexto social.

Dessa forma, são realizados diversos trabalhos e cursos que tratam de: associativismo, empreendedorismo, motiva-ção, auto-estima, coral, dança, bio-jóia, confecção de bolsas em tecidos, cabeleireira, artesanato em barbante, pintura em tecido, confecção de caixa artesanais, costura, malharia, fabricação de redes esportivas, manicure e pedicure, empre-gada domestica, grafitismo, jardinagem, lavanderia, serviços gerais e horticultura.

Outro fator detectado de extrema preocupação das de-tentas é a situação processual, em razão disso, o Instituto de Administração Penitenciária do Acre no ano de 2008 firmou o convênio nº 62/2008 com o Ministério da Justiça através do Departamento Penitenciário Nacional intitulado de Mutirão de Assistência Jurídica às Mulheres em Situação de Prisão, objetivando promover assistência jurídica integral, gratuita e de qualidade às internas. As ações do mutirão ao se voltarem para a exigência da garantia de direitos e benefícios contri-buem para um processo de ressocialização mais flexível.

Avaliando sob o olhar pedagógico, podemos afirmar que os avanços tem sido de grande importância para a vida das presas. É visível a existência de uma melhora significativa no que diz respeito à auto-estima, atitude, solidariedade, amor próprio, respeito, confiança, esperança de dias melhores e in-tegração com as demais pessoas que convivem. Tudo isso re-força a certeza de que o Instituto esta caminhando rumo a um futuro em que as detentas, sejam menos reincidentes em seus crimes e que adquira uma atividade (ocupação), onde possam sustentar suas famílias dignamente. E, acima de tudo, que as mesmas tenham em mãos a possibilidade de mudar de vida.

Sabemos que a criminalidade feminina tem crescido e atingido todas as esferas sociais, essa é uma realidade na-cional. Com isso, é clara a constatação que empreender nos estabelecimentos prisionais medidas que assegurem não ex-clusivamente a privação de liberdade às detentas, mas, sua reinserção por meio de medidas sócio educativas e profissio-nalizantes é, sem dúvida, o caminho para consolidação de política de inserção, justiça e reparo social.

MULHereS entre GrADeSElizabeth Misciasci

São muitas as dificuldades enfrentadas por elas, - “as Mulheres entre grades” - no entanto, algumas destas dificuldades, quase sempre, conseguem transcender às

muralhas, como: - A Solidão, o arrependimento, o abandono de parentes, a falta de trabalho, a ausência de visitantes, o período pré-menstrual, o ciclo menstrual, a falta de notícias dos filhos, a incerteza do porvir, a adaptação a nova mora-dia, a convivência com as demais companheiras de cárce-res, o medo e as próprias estruturas das unidades prisionais. Todos estes fatores, (e outros tantos), enfim, são os piores e mais difíceis aspectos retratados por grande parte da massa carcerária feminina brasileira, que na maioria das vezes se agravam, e chegam posteriormente á prisão, se acentuando quando a mulher toma ciência da sentença penal condena-tória aplicada e a ser cumprida. Um dos maiores problemas também enfatizados, (entre tantos) e enfrentados pela mu-lher encarcerada é a condição em que ficam seus familia-res após sua prisão. A separação dos filhos é uma das mais complicadas e dolorosas, pois o processo de adaptação e superação dos problemas mostra-se em muitos casos prati-camente irreversíveis.

COM AS MUDANÇAS E “gRANDES CONQUIStAS FEMININAS” VIERAM tAMBÉM ÀS PESADAS OBRIgAÇÕES

O que era caracterizado como vergonhoso no seio fami-liar, enfatizado como prevaricação, ou ato libidinoso, por uns, ou que fugia totalmente aos padrões familiares, começou a se romper á partir do momento em que aumentaram os li-tígios nas uniões chamadas de estáveis com muitas separa-ções conjugais.

Um grande problema, que indubitavelmente acarretou uma fila de responsabilidades e mesmo que injustificável, é real, esta no fato de que com as “grandes conquistas femininas” vieram às obrigações e o descaso contínuo e freqüente de seus antigos maridos ou parceiros.

Atribuindo a mulher toda a responsabilidade para com a própria sobrevivência e de sua prole, onde o dever moral, para uma fatia da sociedade masculina passou ou continuou a ser ignorado, motivou e ainda levam muitas a ingressarem no uni-verso da marginalidade. Não adianta negar o que é fato, por mais que não se explique ou se aceite uma conduta ilícita, para justificar um ato delituoso, porém, impossível não mencioná-lo, já que é fator relevante que já empurrou e cada vez mais carrega muitas destas, para o lado de dentro das muralhas.

Não se trata de justificar o injustificável, mais talvez com-

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preender a razão pelas quais muitas transgridem e porque o tráfico de drogas é o crime mais praticado pelo sexo feminino. Não existe o “crime preferido” das mulheres, mas sim, o mais praticado, já que o Narcotráfico é o responsável por levar prati-camente 70% das mulheres aos tribunais.

- Por que no tráfico? - Porque no tráfico, a mulher encon-tra a forma rápida de ganhar dinheiro. Por fim, seja com a se-paração e a necessidade de oferecer pelo menos o essencial para os filhos, seja pela falta de oportunidade diante de uma grave necessidade financeira, seja por relação afetiva ou amor bandido, o certo é que “elas” arriscaram e o resultado óbvio, é que a maioria, cedo ou tarde, se deu e continua, se dando mal.

REALIDADE

O aumento das mulheres no crime é real. O envolvimento existe e algumas entram neste universo por opção, mas isso, não significa ser regra!

Como uma dupla face, há mulheres que vão deixando se envolver e quando menos acredita que algo possa acon-tecer se vê na condição de encarcerada. Por outro lado, há aquelas que gostam de ser do crime. Estas se sabem compe-tentes, rápidas, sedutoras e fazem deste universo um negócio profissional, onde por ser muito mais centrada, observadora “ligeira”, meticulosa, representa com mais facilidade e pericu-losidade a violência.

Relatar aqui casos que comprovem essas constatações, mesmo que de forma parcial, não seria neste momento, o bastante para dar o verdadeiro enfoque, ou dimensão do que a conduta delituosa feminina é capaz de provocar, com o agravante, de que uma história de criminalidade feminina é sempre única, mas, como qualquer outra historia, tem seus personagens bons, razoáveis e ruins, porém personagens reais de histórias verídicas, que quem sabe em outra oportunidade, abordaremos e apresentaremos.

REABILItAÇÃO

Há as que começam uma “nova pena” após a permanên-cia carcerária. Normalmente quando existe apoio familiar,

junto a este, vem cobranças diárias e dificuldades no convívio com o todo.

O resgate da identidade social, nem sempre é possível, pois as dificuldades impostas em meio ao preconceito e a falta de capacitação é fato. A trajetória que começa com os pulsos presos a algemas e uma ordem de prisão atravessam becos sombrios e frios, que vilipendiam o feminil sob todos os aspec-tos. O reflexo deste percurso, no final da linha é o portão de ferro que se abre para a tão esperada liberdade, porém, muito longe de ser realidade, outra porta é aberta... Recomeçar é o sonho para muitas. No entanto, a Mulher, quando não é “do cri-me” não desiste de driblar o cotidiano cruel e se reerguendo, vai à busca de conquistas não deixando esquecido no passado o que lhe pertence, feito animal ferino.

Para aquelas que “sobreviveram” dentro das muralhas, onde um bife ou uma palavra mal expressada/interpretada pode valer uma vida, afiar as garras é uma das primeiras lições que a escola da vida ensina com louvor. Pois as leis, bem como os cárceres, foram criadas pelo homem e para o homem... As-sim sendo, sobreviver neste ‘território tenebroso’ é missão di-fícil e mais difícil e doloroso é o processo de reinserção social.

Aqui, do outro lado dos gélidos alicerces onde com a alma, se conjuga o verbo ser ou estar livre, a Reabilitação é Real!

Infelizmente, estereotipado por quem fantasia o que des-conhece ou quer omitir resultados de trabalhos bem elabora-dos. Há os que tendem a massacrar ainda mais a Mulher egres-sa, generalizando-as, afirmando uma reincidência fictícia, para “bater um carimbo de condenada” sobre uma maioria, que por uma fatalidade... Passou uma temporada no inferno.

Trabalho, Religião, Educação e Capacitação ProfissionalA falta de trabalho, e a capacitação profissional, também

afeta a mulher de forma negativa e acentuada, pois muitas de-pendem da ocupação não só para saírem da ociosidade, mas é com uma atividade dentro da unidade prisional, que grande parte dessas reeducandas adquire capacitação profissional, ganham remissão de pena e o mais importante e necessário, conseguem oferecer uma pequena fonte de renda para a con-tribuição no sustento de sua família.

É importante estarmos fazendo junção e parcerias, com apoio das entidades religiosas, no sentido de incentivarmos o trabalho a educação e a capacitação, e ampliarmos para outros estados. Sabemos que provocamos mudanças benéficas com-provadamente contribuem de forma positiva para a reinserção social e o fim da reincidência, no entanto, não podemos permi-tir que mais mulheres ingressem no mundo do crime, nem que retornem ao cárcere por novo delito, ou nestes, permaneçam de forma indigna, insalubre e sem perspectivas.

Claro que em cada seguimento, seja ele profissional, pessoal, ideológico, enfim, existem princípios e normas disci-plinares que mesmo diversificadas, são necessárias. No mundo ‘entre grades’, estas normas não são diferentes e nem pode-riam ser, pois é dentro do ambiente carcerário que se procura educar ou reeducar um indivíduo.

A Educação assim como o trabalho é mais um aspecto fundamental para a capacitação, profissionalização e reabili-tação da pessoa presa. Muitos dos que adentram os presídios para o cumprimento de pena, mal sabem ler ou escrever e dentro do próprio cárcere, concluem seus estudos e adquirem seus certificados, o que resulta de forma positiva e incentiva-dora, pois muitos não tiveram na rua, esta oportunidade.

ELIZABEtH MISCIASCI• Jornalista, Humanista, Escritora, Pesquisadora. Presidente do Projeto zaP!• Embaixadora Universal da Paz no âmbito do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz• Cercle Universel Des Ambassadeurs De La Paix - Suisse/France • Membro Correspondente da Governadoria da InBrasci no Estado de São Paulo- Instituto Bras Culturas Internacionais• Membro Efetivo AVSPE *Prêmio Frente Nacional dos Direitos da Criança• Honra ao mérito - Clube Brasileiro da Língua Portuguesa - título Humanista Honoris Causa, em Língua Portuguesa, em razão

da excelência de sua obra a favor dos Direitos Humanos• Delegada para e Estado de São Paulo (Brasil) do CEN- Intercâmbio Brasil Portugal• Coordenadora de imprensa do Proyecto Cultural Sur Paulista• Indicada ao “Prêmio Clara Mil Mulheres” Nobel da Paz• Certificação de Empreendedor Social pelo Apoio na Campanha Páscoa Solidária 2010, na Categoria Parceiros e Personalidades

pela Cia. Loucos do Tarô e o CICESP – Centro de Integração Cultural e Empresarial de São Paulo, realizado em parceria com a Fundação Cafu, Fundação Edmilson, Casa da Sopa de Limeira e Associação Amigos do Amor Maior, em 31 de março de 2010

• Posse dia 17 de agosto 2010 de uma cadeira vitalícia na ALB, por indicação do Presidente da respectiva Academia Professor e Dr. Mario Carabajal.

Fones: +55 11 9677-9428 / 6461-1907Email: [email protected]

http://www.eunanet.net/beth/index.php http://www.revistazap.org

O efeito que a Educação pode provocar no indivíduo re-cluso, já demonstrou ser tão benéfico e fundamental, que hoje, temos vários sentenciados, cursando Universidades e voltando para o presídio após as aulas, o que se torna para muitos uma vida menos problemática e com maiores probabilidades de re-começar a nova jornada, após o cumprimento da pena.

Outro fator que se destacada sendo de máxima valia para a Reabilitação, esta no bom funcionamento de uma Unidade, com a integração, do todo; seja para a realização eventos, e os trabalhos desenvolvidos, (como oficinas culturais, projetos so-ciais, concursos e laboratórios).

Pois os projetos sociais e culturais, ensinos religiosos, e empresas, fazem a grande diferença, para a pessoa privada de liberdade, já que as empresas normalmente oferecem empre-go, e capacitam profissionalmente, enquanto Indubitavelmen-te, a arteterapia, os projetos e a religião, estimulam, disciplinam e moldam um ser segregado, ofertando tudo o que é possível para que a pessoa encarcerada encontre um norte e possa se reabilitar dentro de uma nova realidade, ou seja, do outro lado das Muralhas, no mundo extra grades.

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MULHereS DA PAZ: UMA Ação De eMAnCIPAção e CIDADAnIA

Alcidarc Costa

A violência no Brasil tem apresentado indicadores alar-mantes, apontando, sobretudo, os jovens como prin-cipais causadores e vitimas. E não é difícil confirmar

esses números, basta observar os noticiários que veiculam, cada vez mais, matérias de violência envolvendo jovens, bem como as populações carcerárias dos presídios da maioria dos Estados apresentarem um percentual de mais de 70% de de-tentos na faixa etária de 18 a 24 anos. Alem disso, exis-te, também, um grande número de pessoas anônimas que sofrem diretamente, e muitas vezes caladas, com essa triste realidade, são as mães daquelas vitimas.

Mulheres comuns que tiveram suas vidas marcadas pela dor da perda de seus filhos e maridos para uma violência des-medida e que, portanto, se sentem totalmente vulnerabiliza-das diante de um Estado que não lhes ofereça respostas nem providencias satisfatórias à realidade na qual estão inseridas.

Foi nesse contexto que um grupo de cinqüenta mulhe-res representantes das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro, se reuniram, no dia nove de novembro de (2007), na Associação Brasileira de Imprensa no Rio de Janeiro com o objetivo de apresentarem demandas pontuais do que elas consideram suas realidades específicas.

Diante do exposto e de uma proposta de construção de projeto de segurança pública voltado não só para o combate, mas também, a prevenção da violência com ações articuladas diretamente com a comunidade, proporcionando, assim, um empoderamento social num processo de transformação de sua própria realidade, surge o Programa Nacional de Seguran-ça com Cidadania – PRONASCI, que traz no seu conjunto o Pro-jeto Mulheres da Paz, diretamente vinculado e inspirado nas demandas daquelas mães supracitadas. Um projeto que traz na sua concepção a prevenção da violência nas zonas confla-gradas, contando com atuação de mulheres das próprias co-munidades e tendo os jovens como principal foco.

O Estado do Acre não foge a realidade mencionada e ao se integrar às ações do PRONASCI executa, através do Ins-tituto de Administração Penitenciaria - IAPEN, o projeto que teve início no dia dez de dezembro de 2008 no lançamento do território de paz na capital Rio Branco. O projeto selecio-nou trezentas das comunidades que abrangem as Zonas de Atendimento Prioritário ZAP, programa de desenvolvimento social do Estado que compreende alguns bairros na capital, assim como outros nas cidades de Cruzeiro do Sul e Brasiléia, sendo 150 mulheres em Rio Branco, 75 em Cruzeiro do Sul e 75 em Brasiléia.

Desde então as mulheres selecionadas passaram por uma capacitação que abrange temas como Direitos Huma-nos, mediação de conflitos de baixa complexidade dentre outros, e estão atuando em suas comunidades acompanhan-do famílias em situação de vulnerabilidade social, bem como intervindo em alguns casos, menos complexos, como media-doras de conflitos.

Os resultados observados ao longo do projeto apon-tam uma profunda transformação, sobretudo, nas próprias mulheres da paz, que, através das capacitações pelas quais passaram e pelo próprio desenvolvimento de atividades jun-to às comunidades, resgataram sua auto-estima, bem como a percepção da importância do seu papel transformador da realidade na qual estão inseridas.

Hoje as Mulheres da Paz estão alem de um projeto, são mulheres que se tornaram referência em suas comunidades, o projeto passa mas deixa o legado de mulheres que saíram da sobra obscura das marcas da violência, seja direta ou in-diretamente, para a luz de mulheres que resgataram sua auto-estima e se tornaram multiplicadoras e difusoras de uma cultura de paz. Contudo, para esta cultura se tornar uma realidade concreta, é importante que aja uma ampla articula-ção do Estado, nas três esferas, federal, estadual e municipal, potencializando, alem da participação social, como, também, o fortalecimento das redes socioassistenciais.

Mulheres da Paz Equipe

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o PArADoxo Do enCArCerAMento feMInIno

Rosangela Peixoto Santa Rita

Diversos estudos vêm demonstrando que as ações insti-tucionais do encarceramento feminino confrontam-se com abusos de poder, ausência de garantias jurisdicio-

nais e omissões do Estado para com a efetivação do respeito à dignidade da pessoa humana, da proteção integral e do in-teresse superior de crianças e adolescentes. Será, assim, que podemos afirmar que há um descompasso da lei, e também da sua omissão, frente às particularidades do encarceramen-to feminino brasileiro?

Acreditamos que sim. Longe de ser um espaço para “reintegração”, a prisão de mulheres parece ter seu efeito mais perverso na quebra dos vínculos familiares. Nesse con-texto de perda de autonomia, a mulher, quando inserida no sistema penitenciário, é despojada também, como o homem, de seus papéis e das relações sociais com o mundo externo às grades, contudo, a mulher apresenta uma singularidade em relação ao núcleo familiar. O fato de ocorrer o nascimento e a permanência de crianças no interior da prisão já remete a

situações que extrapolam a condenação legal e que apresen-tam reflexos sociais na área do desenvolvimento infantil.

Apesar da existência de dispositivos legais antigos, a realidade penitenciária brasileira vem mostrando que, em vá-rias unidades da federação, existe apenas um complexo pe-nitenciário polivalente, em que o local para mulheres é uma de suas unidades, ainda que tenha separação por gênero; ou, pior ainda, existe apenas uma cela destinada a essa categoria.

Foi possível, em momento de realização de pesquisa de campo1, visualizar diversas problemáticas, a exemplo do nú-mero quase similar de unidades prisionais brasileiras exclusi-vas e não exclusivas para mulheres, bem como o percentual ínfimo de existência de berçários e creche, tornando evidente a falta de estrutura física e às relações com políticas públicas que contemplem as especificidades de gênero.

São inegáveis, também, as precárias condições de habi-

1 Ver publicação: SANTA RITA, Rosangela Peixoto. Mães e Crianças atrás das grades: em questão o princípio da dignidade da pessoa huma-na. Ministério da Justiça,2007.

tabilidade em que se encontram as penitenciárias brasileiras. Esse problema se agrava à medida que as unidades femininas não dispõem de recursos humanos especializados e espaços físicos necessários à saúde da mulher, como também são deficientes as ofertas das diversas modalidades assistenciais previstas para a pessoa presa.

Outro fator bastante problemático refere-se à falta de ho-mogeneidade em relação ao período da idade máxima para a permanência da criança junto à mãe que cumpre pena de prisão no Brasil, havendo uma variação de 04 meses a 06 anos.

Atualmente, o Brasil possui aproximadamente 31.3392 (trinta e uma mil e trezentos e trinta e novel) mulheres presas e, segundo dados obtidos junto ao Departamento Penitenciário Nacional, a taxa média de crescimento anual de encarceramen-to das mulheres3, no último ano, foi de aproximadamente 12%, em comparação ao masculino, que ocorreu em torno de 5%.

Aqui podemos pensar que uma conseqüência da baixa porcentagem de mulheres presas refere-se à invisibilidade de sua problemática, fazendo com que a política penitenciária seja pensada para o termo genérico, com foco masculino: “presos”.

Tratar da realidade de mulheres presas revela a urgência na implantação e implementação de políticas públicas que

respeitem a dignidade da pessoa humana. E mais, que se faça numa perspectiva transdisciplinar de atuação integrada de políticas criminais, sociais e de execução penal.

Na esteira desta concepção, acredita-se, que há mui-to por fazer Além de tantas outras vertentes no campo das ciências sociais, psicológicas e jurídicas, ousamos sugerir os seguintes caminhos: reformas legislativas4; estabelecimento de normas e diretrizes sobre a idade limite de permanência de uma criança junto à mãe que cumpre pena de prisão – o que nos parece não poder ser inferior a três anos; elaboração de diretrizes voltadas ao processo de separação entre mãe e o seu filho; reconhecimento de que o direito da mãe presa deve conjugar-se com o direito das crianças, de terem uma vida digna, um desenvolvimento integral e não sofrerem com os estigmas e condições da privação de liberdade; efetivação das garantias legais pela inter-relação das políticas sociais de proteção infanto-juvenil, da mulher, da saúde e da educação no contexto da execução penal; readequação dos espaços de atendimento infantil e regulamentação da etapa de educa-ção infantil em ambiente prisional, reafirmando os pilares das funções assistenciais, pedagógicas e socializadoras.

A chamada nos parece que se relaciona aos desafios da contra-prática e contra-discurso do mundo penitenciário.

2 Fonte: Departamento Penitenciário Nacional /Ministério da Justiça. Dados de Janeiro de 2010. Total de pessoas presas: 471.069 (439.73 homens e 31.339 mulheres)3 Importante registrar que, apesar do aumento considerável do número de mulheres presas, em nível nacional, esse quantitativo não tem ultrapassado, ainda, a margem de 6% em relação ao total de homens presos. O papel desempenhado pelas mulheres no circulo do tráfico de drogas (maior percentual de encarceramento) relaciona-se, concretamente, a uma posição de subalternidade ao homem.4 Sobre isto vale já citar a recente promulgação da Lei 11.942/09, que alterou os artigos 14, 83 e 89 da Lei. 7.210/84- Lei de Execução Penal.

Rosangela Peixoto Santa Rita é doutoranda em Trabalho Social pela Universidade de Rosário na Argentina e Mestre em Política Social pela Uni-versidade de Brasília. Atua como Coordenadora-Geral de Tratamento Penitenciário do Sistema Penitenciário Federal / DEPEN / MJ. Autora da obra “Mães e Crianças atrás das grades: em questão o princípio da dignidade da pessoa humana” – Ministério da Justiça, 2007.e-mail: [email protected]

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IMAGenS Do SeMInárIo

Diretor Presidente do IAPEN/ACLeandro Carvalho

Material de Apoio

Equipe contratada paraexecução da cerimônia 062/2008

Secretária de Estado - SEDSS Laura Okamura

Coral Asas da Liberdade

Público

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O convênio MJ n. 62/2008 teve por objeto a cooperação dos partícipes na execução do Projeto Mutirão de As-sistência Jurídica às Mulheres em situação de prisão no

Estado do Acre, nas comarcas de Rio Branco, Sena Madureira, e Cruzeiro do Sul, de forma a assegurar a garantia dos direitos legais e constitucionais.

Foi promovido o atendimento jurídico integral, garan-tindo-lhes o direito de acesso a justiça, o referido atendi-mento pauto-se em esclarecer a questionamentos e duvidas formuladas pelas detentas, apresentação e entrega de an-damentos processuais, bem como comparecimento junto as Varas, para fins de petitórios verbais ou formais, quanto a agilidade processual, designação de audiências de instrução e julgamento, progressão de regime, autorização de trabalho externo entre outros pedidos judiciais e administrativos .

Além disso, foram tomadas medidas para as presas que não exercem atividades sejam inseridas em atividades labo-rativas e em cursos profissionalizantes, para que oportuna-

Quadro de pedidos judiciais e administrativos dos meses de maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro e Novembro de 2010:

Quantidade: PEtIÇÕES:25 Liberdade Provisória20 Progressões de Regime12 Relatório de Acompanhamento de Pena05 Habeas Corpus30 Autorização para trabalho externo11 Saída temporária02 Transferência para o Hospital de saúde Mental03 Suspensão condicional da Pena01 Calculo de remissão02 Juntada de relatórios carcerários nos autos01 Pedido de prisão domiciliar01 Transferência de cela01 Autorização para visita intima05 Pedido para estudo21 Pedido para trabalho interno17 Pedido de relatório carcerário05 Atendimento de saúde01 Inserção em curso profissionalizante163 total de pedidos

Importante esclarecer que nem todos os atendimentos e consultas deram origem a elaboração de peças jurídicas ou adminis-trativas, sendo mister, salientar que todos os processos das presas atendidas foram estudados, com a devida carga dos autos aos advogados do convênio, com o intuito de garantir-lhes os direitos e informações. Aqueles casos que cabiam algum tipo de pedido foram devidamente, protocolizados, conforme demonstra a tabela acima.

Amábile Silva LinkGestora do convenio MJ n. 62/2008

Do AtenDIMento A toDAS AS PreSAS Do SISteMA PenItenCIárIo Do ACre

mente, sejam, também, inseridas no mercado de trabalho.Mensalmente os advogados realizaram visitas nas uni-

dades de Sena Madureira e cruzeiro do Sul, para o efetivo acompanhamento processual e atendimento pessoal.

O convenio tem como meta, dar a efetiva prestação de As-sistência Jurídica integral a 164 (cento e sessenta e quatro) mu-lheres presas.

Desta forma, de modo satisfatório foi ultrapassada esta meta, visto que foram atendidas, até o final do mês de no-vembro de 2010, 237 (duzentos e trinta e sete) mulheres pre-sas, sendo 164 (cento e sessenta e quatro) em Rio Branco; 24(vinte e quatro) no município de Sena Madureira, 23(vinte e três) no município de Cruzeiro do Sul. Sendo que muitas foram atendidas mais de uma vez.

Foram ajuizadas ações judiciais e pedidos administra-tivos junto à direção das unidades conforme tabela abaixo:

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o Seminário Mulheres em Situação de Prisão aconteceu em2 de setembro de 2010 no Teatro Plácido de Castroem Rio Branco, Acre

Convênio MJ Nº 062/2008

exPeDIente

elaboração e textoAmábile Silva LinkThiago da Silva Campos

revisãoNome do revisor

Projeto gráfico, capa e diagramaçãogknoronha.com.br

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Realização