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Vera Maria da Silva Universidade de Évora, CIDEHUS [email protected] X ENCONTRODE LEITURA PÚBLICA Redes sociais e bibliotecas em rede Associação de Municípios da Região de Setúbal Grupo de Trabalho das Bibliotecas Públicas Gratuitidade, Qualificação Individual e Social no Âmbito da Leitura Pública na Sociedade em Rede Trabalho financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e Tecnologia e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e PT2020, no âmbito do projecto UID/HIS/00057 POCI-01-0145-FEDER-007702. Fonte da ilustração do template: “Muros#2”, Attiko∑”, Avelino Sá, (2007), Arqueologias. Amarante: Museu Municipal Amadeu de Souza-Cardoso Não se consideram as regras do acordo ortográfico instituído em 2009 Alcochete, 15 de Novembro de 2018

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Vera Maria da Silva Universidade de Évora, CIDEHUS

[email protected]

X ENCONTRODE LEITURA PÚBLICA Redes sociais e bibliotecas em rede

Associação de Municípios da Região de Setúbal – Grupo de Trabalho das Bibliotecas Públicas

Gratuitidade, Qualificação Individual e Social no Âmbito da Leitura Pública na Sociedade em Rede

Trabalho financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e Tecnologia e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e PT2020, no âmbito do projecto UID/HIS/00057 – POCI-01-0145-FEDER-007702.

Fonte da ilustração do template: “Muros#2”, Attiko∑”, Avelino Sá, (2007), Arqueologias. Amarante: Museu Municipal Amadeu de Souza-Cardoso

Não se consideram as regras do acordo ortográfico instituído em 2009

Alcochete, 15 de Novembro de 2018

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ENQUADRAMENTO da COMUNICAÇÃO

OPÇÂO DE ABORDAGEM: reflexão

ENFORME: ► Prática profissional ► Interesse pessoal / cívico na leitura pública para acréscimo de competências leitoras e desenvolvimento leitor ► Quadro teórico: Leituras sobre a diacronia da leitura, bibliotecas e actual sociedade em rede Síntese produzida sobre livros digitais (Silva,2015) Literatura histórica e sociocultural consultada para investigar práticas de promoção da leitura

TEMA Gratuitidade da leitura pública

FINALIDADES: partilhar informação e trocar perspectivas sobre: ► Historicidade/actualidade da gratuitidade da leitura pública ► Problemáticas que se colocam ao acesso material, social e cultural à leitura e a competências leitoras ► Reflectir sobre o papel das bibliotecas públicas no panorama sociocultural da sociedade em rede

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SUMÁRIO da APRESENTAÇÃO

1 GÉNESE SOCIAL DA NOÇÃO DE GRATIA 1.1 GRATUITIDADE ENFORME HISTÓRICO DA LEITURA PÚBLICA 2 GRATUITIDADE NA DIACRONIA DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E FORMAS DE ESTADO 2.1 ESTADO SOCIAL DE DIREITO E O ESTADO DAS BIBLIOTECAS E DO FORMATO DIGITAL NA LEITURA PÚBLICA 3 RISCOS PARA A CONTINUIDADE DA GRATUITIDADE DA LEITURA NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS 4 LIMITAÇÕES A RECURSOS E COMPETÊNCIAS DE LEITURA E NOVOS PARADIGMAS SOCIOCULTURAIS 5 SÍNTESE REFLEXIVA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Dédalo (2007) . Avelino Sá (2007). Encáustica sobre madeira .

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“Aquilo que pretendemos explicar (…) não pode ser justificado por um único mecanismo” (António Damásio, 2010, 34-35)

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1. GÉNESE SOCIAL DA NOÇÃO DE GRATIA

Gratuitidade do acesso a acervos / materiais de leitura, que conservam a informação de forma estável , ocorreu

desde a antiguidade em museus, pinacotecas, bibliotecas públicas (BP) onde prevaleceu duradouramente

No tempo de Constantino, havia em Roma 28 bibliotecas públicas (cf. Eco,2002,4)

Compreensão da importância de materiais de escrita para assegurar conservação/difusão/partilha/transmissão do património cultural

GRATIA, dom gratuito — Qualidade(s) de agradabilidade de algo grato que se desfruta sem carecer de ser justificado, fruição desobrigada que não precisa ser solvida/retribuída

GRATUITIDADE: bem social que não precisa ser fundamentado, decorre de necessidades ancestrais de garantir

direitos essenciais à vida em comum e integraram-se em leis

► Modelam/definem a organização dos colectivos humanos ► Consolidaram redes de confiança, fides ► Contribuem para estreitar laços de identidade/coesão numa comunidade

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ILUMINISMO Os Estados assumirem a alfabetização e leitura pública como desígnios políticos para o desenvolvimento económico e social:

Depois dos anos 60 do século XX, mantendo o princípio de gratuitidade, BP desenvolveram : ► Trabalho em rede ► Posturas activas de captação de público e de promoção da leitura ► Oferta de práticas com mediação ► Actividades de animação sociocultural, de democratização e de democracia cultural ► Serviços educativos ► Ofertas formativas para educação ao longo da vida ► Integração participativa dos públicos

BIBLIOTECAS PÚBLICAS: ► Facilitar/ inscrever hábitos de leitura ► Desenvolver competências leitoras necessárias ao quadro sociocultural liberal que sucedeu ao Antigo Regime ► Garantir transversalidade social ao acesso a materiais de leitura ► Difundir informação prática e materiais de leitura ► Ocupar o tempo de lazer das pessoas com leitura literária e formativa

1.1- GRATUITIDADE, ENFORME HISTÓRICO DA LEITURA PÚBLICA

► Necessidade de universalizar acesso a materiais de leitura ► Interesse nacional de bibliotecas públicas

“Os dispositivos institucionais permitem incorporações mais consolidadas e duráveis, desde que os recursos técnicos, humanos e financeiros assim o permitam e desde que a concepção aberta de democracia cultural esteja no seu centro de gravidade” ( Lopes, 2009)

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2 - GRATUITIDADE NA DIACRONIA DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E FORMAS DE ESTADO

ESTADOS — Configurações políticas que definem as regras sociais através do seu poder regulador (Nascimento 2018,64), mecanismos e aparelhos de poder (Foucault, 1969; Althousser, 1980)

LEITURA PÚBLICA Suportada pelos poderes públicos para assegurar o bem social do direito à leitura, desde o século XVIII, considerada factor de: ► Maioridade dos indivíduos (Kant,1853) ► Liberdade das pessoas (Rousseau, 1980; Kant,1853) ► Emancipação social (Williams,1960, 1961; Mónica,1980; Hobsbawm,1988; Murad,2013).

A gratuitidade das bibliotecas inscreve-se em políticas de promoção da leitura e nas políticas socioculturais do

Estado Democrático de Direito

DIREITO À LEITURA AFIRMADO NOS DIREITOS: ► De primeira geração (ESTADO LIBERAL): direitos individuais, do ser, o Estado limitava a sua actuação à esfera individual do Direito

► De segunda geração (ESTADO SOCIAL): direitos sociais, do ter, “é preciso ter para ser”, o Estado obrigou-se a criar políticas sociais de bem-estar e de redistribuição

► De terceira geração (ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO): direito à democracia, ao desenvolvimento, à sustentabilidade, paz, multiculturalidade, informação, pluralismo político, étnico, cultural e respeito por direitos transindividuais (Cf. La Bradbury, 2006)

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“Perhaps the most important question in ten years’time won’t be if a society uses the Internet, but which version of it they use”

(Schmidt & Cohen,2013, 82)

“A apropriação de informação por um pequeno número é, talvez, a maior ameaça para o funcionamento dos mercados e das próprias empresas” (Nascimento,2018,64)

“A transformação do “welfare” em “workfare” tem implicações que podem levar a reposicionar Bibliotecas Públicas nos espaços de liberdade e de suplemento social” (Silva,2009)

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2 - GRATUITIDADE NA DIACRONIA DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E FORMAS DE ESTADO

ESTADO LIBERAL Configuração social e jurídica que emergiu da Revolução Francesa (1789) ► Supremacia da Constituição ► Divisão de poderes ► Respeito pelos direitos individuais

Criou os "direitos de primeira geração” (liberdade, propriedade, vida, segurança) decorrentes da natureza/condição humana Pressupunham a igualdade abstracta dos cidadãos, mas não asseguravam base material para a sua realização. Excepções: direito à educação e leitura (criação de redes oficiais gratuitas de ensino e de BP)

Estado regulador da organização da sociedade na perspectiva da coesão social e igualdade de oportunidades “O Estado torna-se (…) actuante para ensejar o desenvolvimento (não o mero crescimento, mas a elevação

do nível cultural e a mudança social) e a realização da justiça social “ (Ari Sundfeld, cf. La Bradbury, 2006,s.p)

Políticas, recursos, serviços públicos para: ► Garantir condições materiais para concretizar direitos sociais e individuais

► Prover acesso a bens essenciais

► Investimento social gerador de retorno na forma de desenvolvimento humano e social

ESTADO SOCIAL (Gunnar Myrdal, 1898-1987) ► Garantia de direitos sociais

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO :

► Reúne fundamentos do Estado liberal e do Estado Social ► Garante a participação dos cidadãos nas decisões políticas (o que não sucedeu em configurações de Estado Social nas décadas

de 30-40 do século XX, com formas governativas ditatoriais.)

No contexto do Estado Social redes de BP tiveram acentuado desenvolvimento

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“Surpreende a actual regressão no acesso social à leitura digital” (Silva, 2015)

No Estado Social Democrático de Direito surpreende:

► Questionamento do direito de acesso público gratuito a novos formatos de leitura ► Disrupção de condições de aquisição/acessibilidade pública à leitura digital

O POTENCIAL SOCIAL DA LEITURA E DE COMPETÊNCIAS LITERÁCITAS SÃO ESSENCIAIS NA SOCIEDADE EM REDE

Conservar a gratuitidade de acesso público ao digital e promoção de literacias representa: ► Assegurar direito social à leitura ► Concretizar maiores/melhores condições de democracia social, económica, educativa e cultural ► Manter o papel de Bibliotecas Públicas para potenciar acesso e difusão social da leitura. ► Capacitar mais as pessoas para novas necessidades/desafios tecnológicos, sociais e culturais ► Potenciar o acréscimo de leitores competentes, informados e mais preparados para gerar valor nas comunidades ► Estimular cidadania activa crítica e informada

A GRATUITIDADE DAS BIBLIOTECAS PREVALECEU NAS SUCESSIVAS FORMAS DE ESTADO DA ANTIGUIDADE E DA MODERNIDADE

2.1- Estado social de direito e o estado das bibliotecas e

do formato digital na leitura pública

“(…) o homem, diferentemente do animal, nunca é só um sucessor, mas é sempre, além disso, um herdeiro sob pena de ser ele próprio quem tenha de começar de novo a inventar ou criar tudo” (Ortega y Gasset,2017,138)

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Não o fazer comporta riscos sociais:

JUSTIFICA-SE INVESTIMENTO SOCIAL EM POLÍTICAS DE LEITURA PARA: ► Promover leitura e competências literácitas ► Oferecer acesso a tradicionais / novos suportes e dispositivos de leitura ► Garantir acesso à inovação para satisfazer expectativas/necessidades leitoras ► Assegurar inclusão social no processo de inovação tecnológica com impacto sociocultural transformador ► Gerar maior/melhor compreensão/conhecimento sobre os diversos âmbitos da criação humana; modelos e convenções culturais;

diversidade criativa e cultural em distintos contextos socioculturais e tecnológicos

POLÍTICAS SOCIOCULTURAIS DEVEM INCLUIR ► Sustentabilidade da gratuitidade nas BP a recursos de leitura, a equipamentos em constante inovação/mudança ► Práticas mediadas para ampliar competências literácitas e usar novos recursos necessários à sociedade em rede ► Reconhecimento formal/ material da qualificação integral das pessoas/cidadãos para a sociedade e Estado Democrático de Direito

► Cidadãos à margem da política e ao Estado/poderes públicos

► Estado /poderes públicos ineficazes/ incapazes de concretizar políticas que

asseguram direitos e participação cívica informada

4- 2.1- Estado social de direito e o estado das bibliotecas e

do formato digital na leitura pública

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POLÍTICAS CULTURAIS Destinadas a colectivos sociais, carecem de recursos públicos para assegurar apropriação cultural e redução de obstáculos materiais

e barreiras sociais e culturais (Butlen,2008)

“[Obstruções de acesso à informação e vigilância, controle, manipulação, geram] tensões que debilitam a sociedade em rede (Castells&Cardoso,2006,324)

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2.1- Estado social de direito e o estado das bibliotecas e

do formato digital na leitura pública

“Artificial intelligence could spell end of the human race” (Stephen Hawking:, in videoconferência ao Web Summit de Lisboa, Nov.2017)

► Necessidade de maior cultura da informação (uma cultura tecnológica, científica e das humanidades cf. Le Deuff, 2009) ► Necessidade de maior literacia cívica , mediática e política

A transformação tecnológica na sociedade informacional em rede será mais radical com a Internet das coisas, Inteligência aumentada , Inteligência artificial. Estas comportam potencialidades e, se desreguladas, riscos:

Democracia implica/exige participação efectiva no processo político, tomada de decisões na rex pública, na modelação da sociedade

Democracia pressupõe condições para criar oportunidades de igualdade formal/ material e respeito pelos direitos humanos

Os Direitos Humanos, consignam como direitos fundamentais: ► direitos cívicos, económicos, sociais, culturais

► usufruto do progresso científico e tecnológico

“Revolução da tecnologia, reestruturação da economia e crítica da cultura convergiram para uma redefinição histórica das relações de produção, poder e experiência em que se baseia a sociedade” (Castells, 1999, [411])

Enquanto práticas e objecto cultural TIC, leitura e midias digitais emolduraram anteriores e novas condições de

produção, transmissão cultural e reprodução social (Williams,1960; Althusser,1980; Bourdieu,1997; Certeau,1998).

Não são hierarquizáveis, o que deslegitima limitações impostas ao direito cultural de acesso a documentos digitais em Bibliotecas Públicas

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2.1- Estado social de direito e o estado das bibliotecas

e do formato digital na leitura pública

Nas culturas da escrita a leitura é essencial à transmissão/produção cultural (Chartier, 2003; Manguel, 2010)

FORMATOS DIGITAIS A mais recente revolução da história da escrita e da leitura Nodais na produção, difusão e acesso à informação e conhecimento na sociedade em rede, o modelo da Era da Informação

Economia informacional/global (informacionalismo); cultura da virtualidade

As pessoas precisam estar capacitados para reconhecer/usar potencialidades das TIC sem as desligarem do quadro de relações produtivas, sociais e de poder (Foucault, 1999; Melman, 2012; D’ Ancona, 2017)

Leitura, cultura, informação são condições para uma cidadania activa e informada

Responsabilidade legal e social de assegurar a preservação e acesso público gratuito ao património social cultural.

“L’avenir est comme le reste; il n'est plus ce qu'il était. J’entends par là que nous ne savons plus penser à lui avec quelque confiance dans nos inductions” (Valery,1945,159)

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Ebooks permitem novas dimensões de leitura e têm diversas vantagens Bibliotecas públicas enfrentam dificuldades para: ► Assegurar promoção da leitura e desenvolvimento dos leitores ► Dar continuidade à gratia no acesso a edições do mercado digital regidas por modelos comerciais distintos dos analógicos

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3- RISCOS PARA A CONTINUIDADE DA GRATUITIDADE DA LEITURA

NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS

► Parte da edição digital não é gratuita / acessível a leitura em bibliotecas públicas ► Acesso à edição digital está limitado por novas normas de comercialização ► DRM desconsidera o princípio de propriedade ► DRM compromete a capacidade de providenciar acesso gratuito à leitura ► DRM desrespeita princípios constitucionais de liberdade, igualdade, propriedade, privacidade e direitos sociais ► Rarefacção de recursos informativos e culturais no espaço público para formação / actualização na sociedade em rede ► Descontinuidade histórica no milenar usufruto de um bem social objecto de gratia ► Reversão no acesso social à informação e ao património colectivo de bens culturais

Grupos editoriais digitais ditam regras desconformes com direitos individuais e colectivos Inoperância governamental perante o desrespeito dos princípios legais de equidade e bem-estar social

Contexto societal de “pós-democracia” (Espósito, 2018)

Bibliotecas Públicas encontraram resistência no mercado editorial / distribuição de Ebooks

“Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes novidades” (Cazuza, “O tempo não pára”)

Dificuldade em garantir continuidade de gratuitidade pública contraria: ► Paradigmas da sociedade da informação ► Missão das Bibliotecas Públicas ► Princípios do Estado Social de Direito “Shaped and owned by commercial platform (…). With their control of the

crucial technology and infrastructure they have amassed a boon of information and knowledge as well as the power to manipulate consumers and businesses in both directions along the value stream” (Ehret, 2015,sp)

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“Through history, the advent of new information technologies has often empowered successive waves of people at the expense of traditional power brokers, whether that meant the king, the church or the elites” (Schmidt & Cohen, 2013, 6)

“It’s a rare thing in a free market when a customer is refused the ability to buy a company’s product and is told its money is “no good here.” Surprisingly… libraries find themselves in just that position with purchasing ebooks from three of the largest publishers in the world (…) have been denying access to their ebooks for our nation’s 112,000 libraries and roughly 169 million public library users” (American Libraries Association,2013,22)

► O DRM limita/interdita acesso a alguns títulos e a editoras/distribuidoras ► O DRM impõem aquisições em bloco, os ”bouquets”, o que pode vir a assumir formas de controle sobre liberdade de leitura ► O DRM gera inédita ruptura no processo tecnológico:

O modelo de negócio da edição digital estreita o espaço social das bibliotecas: ► Limita oferta de novidades ► Compromete o princípio de gratia e o e-lending ► Desapossa as pessoas de acesso a parte de novidades editoriais, a informação e conhecimento validado ► Reduz as possibilidades de bibliotecas públicas contribuírem para a qualificação e empowerment social

DRM – Digital Rights Management / Digital Restrictions Management (Free Software Foundation ) ► Impede a difusão pública e uso social comum ► Parametriza excessivamente o acesso temporário/permanente ► Prefigura situações de monopólio “In the hand of an emerging new type of company at the hear of the emerging Internet–

Capitalism. The platform provider. (…)Users of platforms might benefit from realizing that

they are not customers but a commodity traded on a secondary market” (Ehret, 2015,sp)

3- RISCOS PARA A CONTINUIDADE DA GRATUITIDADE DA LEITURA

NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS

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NOVAS PROBLEMÁTICAS NO CONTEXTO SOCIETAL À PROMOÇÃO PÚBLICA DA LEITURA ► Gratuitidade de acesso e difusão de conteúdos digitais ► Apropriação social de informação e conhecimento numa sociedade informacional global ► Actuais paradigmas (Moscovici, 1976) socioculturais

“[Não] prescindir de conhecimentos laboriosamente testados e consolidados pela pesquisa (…) com a única justificação de que a invocação desses recursos argumentativos é incompatível com o tempo televisivo ou com dinâmicas da leitura rápida” (Pinto, 2013,143)

► Perspectivas redutoras ► Coisificação do real ► Reificação do objecto de leitura ► Menoridade (Kant, 1853)

Recursos / competências de TIC são essenciais para: ► Gerar riqueza, ► Novos códigos culturais ► Exercício do poder / cidadania

VALOR DA GRATUITIDADE DA LEITURA, DE COMPETÊNCIAS LEITORAS E ACTUAL QUADRO SOCIETAL

“Discursos populistas em termos ideológicos, e tecnocrático liberal em termos económicos (…) acarretam empobrecimento, se não mesmo esvaziamento da noção de democracia cultural. É aquilo a que poderíamos chamar o terrorismo das audiências que, se levado às últimas consequências, acabaria por conduzir ao desaparecimento da política cultural” (Melo, 1997,2)

“[Cultura de informação implica]“conscience des tensions, nullement son élimination au contraire de l’idéologie”qui accompagne les discours de la société de l‘information, qui se veut en dehors de tout dispositif idéologique, voire a-historique, mais qui paradoxalement véhicule des forces qui s‘imposent aux individus et aux sociétés” (Le Deuff, 2009,61)

3- RISCOS PARA A CONTINUIDADE DA GRATUITIDADE DA LEITURA

NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS

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“Uma coisa que me preocupa muito [é] o presente estado da cultura humana” (Damásio, 2017,28)

“[Democracia cultural] não é niilista, nem resvala para o consumismo ou a ditadura da procura” (Lopes,2009,11)

Competências literácitas e de leitura ganham acrescida importância social num contexto de: ► “Sociedade do espectáculo” (Debord,1967) ► “Indústria cultural” (Adorno, 1987; Murad,2013) ► “Sociedade da decepção” (Lipovetsky,2012) ► “Sociedade de entretenimento” (Melman,2012) ► “Civilização do espectáculo” (Vargas Llosa, 2012) ► “Mainstream”, “softpower” da cultura e medias (Martel, 2012) ► “Pseudociência” (Marçal & Fiolhais, 2012; Marçal, 2014) ► “Sétimo continente Internet” (Attali, 2006) ► “Pós-democracia (Espósito, 2018) ► “Circular reporting”, “fake news”, “pos truth” (D’ Ancona, 2017)

4- LIMITAÇÕES A RECURSOS, COMPETÊNCIAS DE LEITURA

E NOVOS PARADIGMAS CULTURAIS

Nas sociedades ocidentais com analfabetismo residual persistem incompetências literácitas.

O que fazer? ► O que devem traçar / fazer políticas culturais públicas? ► Que objectivos de qualificação das pessoas, democratização cultural e democracia cultural? ► Como contrariar o apagamento de memória cultural, a “morte colectiva” (Elias, 1993) ► O que contrapor ao feel good acrítico perante práticas / entretenimento que controlam as pessoas? ► Como superar a situação de risco: manipulação/dominação, “fascismo consentido” (Melman, 2012)

“[A melhoria registada em estudos internacionais] “não nos deve deixar descansados (…) sendo positivo [PISA 2012], não constitui uma tendência irreversível” (Justino, 2014,10)

“Citizenship in a modern democracy involves more than knowledge of how to access vital information. It also involves a capacity to recognize propaganda, distortion, and other misuses and abuses of information” (A.L A.,1989,s.p)

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INSUFICIÊNCIAS COGNOSCITIVAS E LITERÁCITAS LIMITAM: ► Apropriação individual e social de informação e conhecimento ► Oportunidades de desenvolvimento integral das pessoas ► Descontinuar a redução de incompetências leitoras ► Potencialidades de uma “culture de l’information résolument émancipatrice” (Le Deuff, 2009,104).

4- LIMITAÇÕES A RECURSOS, COMPETÊNCIAS DE LEITURA

E NOVOS PARADIGMAS CULTURAIS

ENFORME DE ALGUNS PARADIGMAS SOCIOCULTURAIS ► Realismo mágico sobre educação e conhecimento ► Verdades burocráticas (Lopes,2015) ► Crença nas TIC como ferramenta de engenharia social ► Desvalorização de conhecimento validado

"Tal como o campo, embora fértil, não pode ser frutuoso sem cultura, também a alma não é frutuosa sem filosofia” (Cicero,106-43a.C , Tusculanas, cf. João Pedro Serra)

Imagem 1- Data, Information, Knowledge, and Wisdom. Fonte: Bellinger; Castro & Anthony. 2004 [?].

Literacy means well-versed in a particular subject, lettered, erudite, conversant, informed, widely-read, enlightened or well-grounded; literate people are not necessarily scholars, geniuses, or experts, but, rather, they know the facts associated with, and are able to understand and comprehend a particular subject very well, such as history, science, art, and so on, and they often “profit by” their literacy in both tangible (e.g. financial) and intangible (e.g. erudition, edification) ways. (UNESCO, 2007, 53)

INVESTIMENTO PÚBLICO em recursos e mediação da leitura fundamenta-se em não haver cultura sem cultores que, num dado espaço e tempo, transmitam o que cada comunidade/sociedade considera necessário ao desenvolvimento dos seus membros.

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Promover competências leitoras/literácitas para reduzir distância de acesso social e cultural à leitura, informação, conhecimento

POLÍTICAS DE LEITURA PÚBLICA NÃO SE REDUZEM A ACESSO GRATUITO A MATERIAIS DE LEITURA: ► Acesso social público a materiais e equipamentos de leitura; ► Oferta de práticas mediadas/formação para promover competências leitoras e literácitas; ► Disponibilidade de novos recursos e espaços flexíveis /vocacionados para práticas-usos individuais/grupais de leitura,

actividades culturais, educativas e de coworking.

OBSTÁCULOS DE NATUREZA SIMBÓLICA AO ACESSO À CULTURA (Bourdieu, 1997) RELEVAM A IMPORTÂNCIA DE : ► Capital cultural na “economia dos bens simbólicos”, não redutíveis a valor de mercadoria ► Acréscimo/incorporação de capital cultural leitor para atribuição/construção de significação ► Capacidade de reflexão sobre fenómenos naturais, históricos, culturais e tecnológicos passados, presentes / emergentes

Investimento social em recursos /processos precoces e duráveis de socialização/mediação para acomodação/ interiorização cognoscitiva (Piaget,1973; Harland & Kinder, 2006)

PANORAMA NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS MUNICIPAIS ► Incumprimento das recomendações do programa da RNBP (Oleiro & Heitor, 2010) ► Cristalização do projecto da RNBP que carecem de recursos e transformação conceptual e prática ► Risco de bibliotecas serem instituições obsoletas e socialmente irrelevantes como serviços públicos

4- LIMITAÇÕES A RECURSOS, COMPETÊNCIAS DE LEITURA

E NOVOS PARADIGMAS CULTURAIS

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Quadro 1 - Valores percentuais das variáveis críticas (Fonte: produção própria)

FACTORES CRÍTICOS INTERNOS, EXTERNOS E MISTOS À PROMOÇÂO DA LEITURA

Gráfico 1 - Factores críticos com maior impacto nas PPL (Fonte: produção própria)

Leitura e educação são consideradas alavancas de desenvolvimento e mobilidade individual social Recursos / competências de TIC são, pouco acolhidos/explorados nas Bibliotecas Publicas portuguesas (Leitão,2014; Mota,2016)

Apesar de Bibliotecas Públicas serem gratuitas, numa investigação verificou-se que a maioria da amostra não dispõe de recursos materiais e humanos para qualificar e inovar práticas de promoção da leitura:

4- LIMITAÇÕES A RECURSOS, COMPETÊNCIAS DE LEITURA

E NOVOS PARADIGMAS CULTURAIS

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QUAL O INTERESSE/FINALIDADES DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS NA DIMENSÃO DE GRÁTIA SOCIAL?

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ADJUVANTES LOCAIS A MOBILIZAR PARA MELHORAR PPL

Gráfico 2 - Possíveis soluções locais a mobilizar para melhorar as PPL.

(Fonte: produção própria) Quadro 2 - Valores percentuais das variáveis soluções locais a mobilizar

(Fonte: produção própria)

ADJUVANTES A NÍVEL SUPRA CONCELHIO PARA MELHORAR PPL

SOLUÇÕESMAIS DESTACADAS: EOT - alterações que envolvem órgãos da tutela, 64,70% BRH - disponibilidade de RH qualificados, 13,72%.

OUTRAS PROPOSTAS: BAP - alterações procedimentais e de ofertas, 7,84% ECS - alterações no contexto societal, 5,88% BRV - dispor de mais recursos, 3,92% ERG - alterações ao nível de política regional de LP, 1,96% BRF - necessidade de mais dinheiro, 1,96%.

Gráfico 3 – Soluções supra concelhias para a melhoria das PPL.

(Fonte: produção própria)

Inércia de políticas / falta de orientações da tutela, 64,70% Necessidade de RH suficientes e qualificados, 13,72%

Assumindo o valor de 78,42% (Grf.2), serão carências nodais a suprir

4- LIMITAÇÕES A RECURSOS, COMPETÊNCIAS DE LEITURA

E NOVOS PARADIGMAS CULTURAIS

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Gratuitidade a materiais de leitura e práticas de promoção leitura são premissas para: ► Reduzir desigualdade de acesso e socioculturais à leitura ► Ampliar hábitos / competências de leitura /literácitas / desenvolvimento leitor (Eiras,2010)

Dificuldades das bibliotecas públicas em providenciar acesso gratuito ao ebook

Necessidades informativas e de conhecimento justificam a continuidade /actualidade de: ► Valorização de transmissão cultural validada ► Interesse social de competências leitoras e literácitas ► Dimensão de grátia nas Bibliotecas Públicas

Gratuitidade da leitura, fenómeno de continuidade em risco de descontinuidade?

5- SÍNTESE REFLEXIVA

“Dieu se rit des hommes qui se plaignent des conséquences alors qu’ils en chérissent les causes”. (Bossuet (1627-1704),cf. Rosanvallon, La société des égaux, 2011,17)

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Acesso público a acervos analógicos, digitais e equipamentos espelha o que a sociedade entende preservar/difundir da sua herança cultural e do que cria, um processo em construção

“Se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem e, volto a recordar, à medida do homem” (Eco,2002,44)

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5- SÍNTESE REFLEXIVA

REFLEXÃO E DECISÕES QUE EXPRESSEM A VISÃO SOCIAL /POLÍTICA SOBRE: ► Valia de informação, cultura, conhecimento e do serviço público prestado por bibliotecas ► Necessidade de regular o mercado da leitura digital ► Necessidade de meios para assegurar o acesso a materiais e práticas/mediação para promoção da leitura ► Necessidade de legislação que enforme BP num modelo mais qualificado/flexível para operar em rede ► Interesse de inscrever literacia informática e da informação no âmbito da cultura de informação ► Perspectivar a promoção da leitura/literacias como tecnologia social ► Meios para investir em competências de leitura, formação de públicos e desenvolvimento de leitores ► Interesse de promover competências em literacia digital, cívica, política e mediática

DIFICULDADES /RISCOS PERANTE FENÓMENOS DE : ► Informacionalismo (Castells & Cardoso, 2006) ► Inadaptação de competências ► Infocracia ► Fake news, pos truth, circular reporting (D’ Ancona, 2017) ► Pós democracia (Espósito, 2018) ► Fraca mobilidade e equidade social ► Ressegmentação/desigualdade social (évaporation sociale, cf. Tiqqun, 2009, 67); emergência de sub-burguesia

Interesse social de, colocar a leitura pública no centro da democracia cultural Esta não é suposto conformar as pessoas, cidadãos/contribuintes, às tipologias de utente, visitante, cliente, consumidor

Democratização social da leitura, de competências leitoras carecem de continuado investimento de grátia social

Instâncias políticas definem regras de interacção social. Estas não são neutras; espelham concepções culturais, éticas, socioeconómicas

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“Que poderemos dizer que seja certo?” (pergunta de Electra, em Coéforas de Ésquilo)

“Que mundo tão parvo / Que para ser escravo é preciso estudar” (Deolinda, in Parva que eu sou)

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Ritornare al segno, à bandeira:

► Continuar a posicionar a leitura pública na sociedade em rede no domínio do espaço social, na dimensão de gratia ► Reenfocar a oferta de recursos informativos, educativos, de conhecimento. ► Reposicionar as bibliotecas em políticas culturais para formação educativa de públicos e sustentação da oferta cultural ► Fazer o aggiornamento da ideia Bibliotecas: acesso, sempre (Cabral,1996)

Dilemas e incertezas : ► Relação assimétrica/conflitual de interesses comerciais e direitos das pessoas/missão social das bibliotecas ► Possibilidades de renascimento ou ocaso dos objectivos sociais da gratuitidade de acesso no horizonte da leitura pública ► Reafirmação de novas elites melhor educadas e capacitadas/democratização de recursos e competências ► Papel das bibliotecas para a qualificação individual e colectiva das pessoas na sociedade em rede

► Duplo quadro político demissionista e sociocultural “negacionista” ► Incerto que Bibliotecas Públicas ampliem/mantenham o papel de instituições sociais promotoras de qualificação das pessoas, de mobilidade/equidade social e fundamentam o seu estatuto de serviço público e sua dimensão de grátia.

O que segundo Maquiavel tem de fazer qualquer exército quando vencido se desagrega, a saber:

ritornare al segno, à bandeira que por ser alta e ondear é sempre clara para a vista.

(Ortega y Gasset, 2017, 143)34-35)

Urgente reflexão /acção política, cívica e profissional sobre gratuitidade e valor social de bibliotecas

Partilha social de investimentos carece ser decidida /escolhida pelas pessoas e o Estado que as representa Urgente legislação e políticas que compaginem o self-interest dos mercados com reciprocidade social na paisagem da sociedade em rede

5- SÍNTESE REFLEXIVA 21

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A democracia não pressupõe a igualdade das pessoas ou inexistência de diferenças entre elas. Mas procura ignorar desigualdades naturais e sociais como deterministas e afirmar, politicamente, o desiderato social de assegurar, a todos, oportunidades de igualdade de meios para desenvolverem as suas capacidades. (Cf. Schwanitz,2012)

JÓNICO (INIKON), 2007 – Avelino Sá. (Encáustica sobre madeira)

MUITO OBRIGADA!

Quando saíres a caminho da ida para Ítaca, Faz votos para que seja longo o caminho, Cheio de aventuras, cheio de conhecimentos. “Ítaca” . kavafis, in Os poemas

“Le plus important dans la Terre promise, ce n‘est pas la terre, c‘est la promesse” (Jean-Michel Guenassia, Le club des incorrigibles optimistes)

5- SÍNTESE REFLEXIVA 22

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