grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · neste domingo (12), o banco...

6
Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia - Página: Capa e A18 - Publicação: 15/04/20 URL Original: 'Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde 1929, diz FMI 'Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde 1929, diz FMI Fundo prevê retração de 3% do PIB mundial este ano e recuperação ainda parcial em 2021 O avanço vertiginoso da pandemia do coronavírus fez com que o FMI (Fundo Monetário Internacional) projetasse um cenário econômico sombrio para este ano em todo o mundo. Segundo relatório divulgado nesta terça-feira (14), a economia global vai sofrer retração de 3% em 2020, a maior desde a crise de 29, e a recuperação deve aparecer somente no ano que vem, ainda de forma parcial e bastante incerta. No fim de 2019, a projeção do Fundo para o crescimento da economia mundial em 2020 era de 3,4%, ou seja, o tombo de mais de 6% é muito maior do que o registrado na crise financeira de 2008, por exemplo. "É muito provável que este ano a economia global experimente sua pior recessão desde a Grande Depressão, superando a vista durante a crise financeira de dez anos atrás", diz o documento assinado por Gita Gopinath, economista-chefe do FMI. "A 'Grande Paralisação' [Great Lockdown ], podemos chamá-la, é projetada para encolher dramaticamente o crescimento global ", completa o texto que equipara a magnitude da crise deste ano somente com a vivida na depressão que assolou o mundo na década de 1930. O FMI explica que, entre 1929 e 1931, a contração em termos de produção mundial ficou em torno de 10%, apesar de os dados estarem mais dispersos à época, e que hoje esse número está em 3%. Em termos de economias avançadas, a queda foi de 16%, diante de 6% hoje. Em seu Panorama da Economia Mundial, o Fundo traça um paralelo entre a pandemia e uma guerra ou crise política, e diz que ainda existe uma "severa incerteza" sobre a duração e a intensidade do choque que esse surto vai provocar. Com as ponderações à mesa, o FMI afirma que é possível esperar a retomada no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial na casa dos 5,8% no ano que vem, mas que isso vai depender da implementação de medidas e políticas públicas em cada país. Durante entrevista coletiva online, na manhã desta terça, a economista-chefe do FMI mostrou gráficos que ilustravam os números alarmantes da perda cumulativa do PIB global, que deve chegar a US$ 9 trilhões (R$ 45 trilhões) entre 2020 e 2021. Gopinath falou em "desastre raro", que custou milhares de vidas ao redor do mundo, ao se referir à pandemia e reforçou a ideia de que a recuperação esperada para o ano que vem é "apenas parcial." Os danos econômicos vão atingir de economias ricas a países emergentes e em desenvolvimento, como o Brasil, mas estes serão os mais prejudicados. Segundo o FMI, a economia brasileira deve ter queda de 5,3% em 2020, com crescimento previsto em 2,9% no ano que vem. Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na casa de 5% . No relatório mais recente do FMI —em outubro de 2019, ainda antes da pandemia—, a previsão era de que a economia brasileira crescesse 2% em 2020. Se comparado a essa última expectativa, o tombo é de 7,3%. A queda do Brasil será, inclusive, maior que a do restante da América Latina e Caribe, e a retomada do país também será em ritmo mais baixo na comparação regional. Os países latino-americanos terão queda de 5,2% no PIB este ano e recuperação em 3,4% —enquanto o Brasil deve retrair 5,3% e voltar em 2021 com 2,9% de crescimento. A economista-chefe do Fundo afirma que a discrepância se dá porque o Brasil "foi atingido por vários choques", com problemas de baixo crescimento que vêm desde antes da pandemia e "outras crises domésticas", mas não deu detalhes sobre as projeções do país. As reformas estruturais, antes vistas pelo Fundo como fundamentais para o crescimento, agora não estão em primeiro plano, ela diz. "A prioridade é lidar com a pandemia." Se confirmadas as projeções do FMI, a recessão no Brasil será a maior em quase 60 anos. O ministro Paulo Guedes (Economia) já fala em retração de 4%, caso a pandemia dure até o meio do ano, mas ainda é um cenário otimista se comparado à expectativa do Fundo e do Banco Mundial.

Upload: others

Post on 29-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na

SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia -Página: Capa e A18 - Publicação: 15/04/20URL Original:

'Grande paralisação' levará mundo à pior recessãodesde 1929, diz FMI'Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde1929, diz FMIFundo prevê retração de 3% do PIB mundial este ano e recuperação aindaparcial em 2021O avanço vertiginoso da pandemia do coronavírus fez com que o FMI (Fundo Monetário Internacional) projetasse um cenárioeconômico sombrio para este ano em todo o mundo.Segundo relatório divulgado nesta terça-feira (14), a economia global vai sofrer retração de 3% em 2020, a maior desde a crisede 29, e a recuperação deve aparecer somente no ano que vem, ainda de forma parcial e bastante incerta.No fim de 2019, a projeção do Fundo para o crescimento da economia mundial em 2020 era de 3,4%, ou seja, o tombo de maisde 6% é muito maior do que o registrado na crise financeira de 2008, por exemplo."É muito provável que este ano a economia global experimente sua pior recessão desde a Grande Depressão, superando a vistadurante a crise financeira de dez anos atrás", diz o documento assinado por Gita Gopinath, economista-chefe do FMI."A 'Grande Paralisação' [Great Lockdown], podemos chamá-la, é projetada para encolher dramaticamente o crescimento global",completa o texto que equipara a magnitude da crise deste ano somente com a vivida na depressão que assolou o mundo nadécada de 1930.O FMI explica que, entre 1929 e 1931, a contração em termos de produção mundial ficou em torno de 10%, apesar de os dadosestarem mais dispersos à época, e que hoje esse número está em 3%. Em termos de economias avançadas, a queda foi de 16%,diante de 6% hoje.Em seu Panorama da Economia Mundial, o Fundo traça um paralelo entre a pandemia e uma guerra ou crise política, e diz queainda existe uma "severa incerteza" sobre a duração e a intensidade do choque que esse surto vai provocar.Com as ponderações à mesa, o FMI afirma que é possível esperar a retomada no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)mundial na casa dos 5,8% no ano que vem, mas que isso vai depender da implementação de medidas e políticas públicas emcada país.Durante entrevista coletiva online, na manhã desta terça, a economista-chefe do FMI mostrou gráficos que ilustravam osnúmeros alarmantes da perda cumulativa do PIB global, que deve chegar a US$ 9 trilhões (R$ 45 trilhões) entre 2020 e 2021.Gopinath falou em "desastre raro", que custou milhares de vidas ao redor do mundo, ao se referir à pandemia e reforçou a ideiade que a recuperação esperada para o ano que vem é "apenas parcial."Os danos econômicos vão atingir de economias ricas a países emergentes e em desenvolvimento, como o Brasil, mas estesserão os mais prejudicados.Segundo o FMI, a economia brasileira deve ter queda de 5,3% em 2020, com crescimento previsto em 2,9% no ano que vem.Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na casa de 5%.No relatório mais recente do FMI —em outubro de 2019, ainda antes da pandemia—, a previsão era de que a economia brasileiracrescesse 2% em 2020. Se comparado a essa última expectativa, o tombo é de 7,3%.A queda do Brasil será, inclusive, maior que a do restante da América Latina e Caribe, e a retomada do país também será emritmo mais baixo na comparação regional.Os países latino-americanos terão queda de 5,2% no PIB este ano e recuperação em 3,4% —enquanto o Brasil deve retrair 5,3%e voltar em 2021 com 2,9% de crescimento.A economista-chefe do Fundo afirma que a discrepância se dá porque o Brasil "foi atingido por vários choques", com problemasde baixo crescimento que vêm desde antes da pandemia e "outras crises domésticas", mas não deu detalhes sobre as projeçõesdo país.As reformas estruturais, antes vistas pelo Fundo como fundamentais para o crescimento, agora não estão em primeiro plano, eladiz. "A prioridade é lidar com a pandemia."Se confirmadas as projeções do FMI, a recessão no Brasil será a maior em quase 60 anos. O ministro Paulo Guedes (Economia) jáfala em retração de 4%, caso a pandemia dure até o meio do ano, mas ainda é um cenário otimista se comparado à expectativado Fundo e do Banco Mundial.

Page 2: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na

Já a previsão para as economias desenvolvidas deve ser de queda de 6,1%, com recuperação prevista em torno de 4,5% no anoque vem.Entre as duas maiores economias do mundo, EUA e China, o tamanho da queda será de grandes proporções e também seguemas dúvidas quanto à eficiência na recuperação de cada país.Nas projeções do fim de 2019, o FMI esperava que os EUA crescessem 2,1% em 2020, enquanto a China chegasse a 5,8%.Atuais líderes em casos confirmados e mortes por Covid-19, os EUA devem ter retração de 5,9% do PIB e voltarem a crescer noano que vem na casa dos 4,7%.Na origem da pandemia, os chineses ainda devem experimentar um crescimento positivo, de 1,2%, após terem alcançado cercade 6% em 2019. A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI.Uma das apostas do Fundo para a retomada da economia global após a crise de 2018, a Zona do Euro deve cair 7,5% e voltarcom 4,7% em 2021.A avaliação é que as características dessa crise não são iguais às de nenhuma outra e que, portanto, a reação também não deveser a habitual, de incentivo a atividades de estímulo econômico, por exemplo.Dessa vez, diz o Fundo, esse tipo de política é inclusive indesejável em alguns setores por causa das restrições e regras dedistanciamento social impostas em diversos países.Frente ao debate que tem oposto regras de isolamento e retomada econômica, o FMI lança um roteiro objetivo deenfrentamento à crise, com uma fase de contenção e estabilização e outra, de recuperação.Nas duas etapas, saúde pública e economia têm papeis cruciais a desempenhar e as medidas de distanciamento "sãofundamentais para preparar o terreno para a recuperação econômica", diz o órgão.As projeções do FMI apontam à recuperação parcial no ano que vem considerando que a pandemia arrefeça no segundosemestre de 2020 e que os países consigam normalizar suas economias justamente com o suporte dessas políticas em diversasfrentes.O Fundo alerta, porém, que a recuperação mundial de 5,8% pode acontecer depois de uma queda brusca da atividadeeconômica, mas os números podem não chegar a tanto e o crescimento do PIB da maior parte dos países ainda vai permanecerabaixo dos níveis pré-pandemia.Para que os países alcancem melhores resultados, dizem os economistas do FMI, a chave será a colaboração multilateral, e nãosó compartilhamentos de recursos médicos e conhecimento para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas."A comunidade internacional também precisará intensificar a assistência financeira a muitos mercados emergentes e economiasem desenvolvimento. Para aqueles enfrentando grandes pagamentos de dívidas, moratória e reestruturação podem precisar serconsideradas."O Fundo afirma que é preciso aumentar as despesas de saúde para fortalecer a capacidade de resposta ao vírus e reduzir ocontágio, além de desenvolver políticas econômicas que amorteçam o impacto do declínio das atividades e de umadesaceleração geral, que já é inevitável.Facilidades de estímulo e liquidez, via bancos centrais, também podem contribuir, num movimento admitido pelo FMI de maiorenvolvimento do governo e dos bancos centrais na economia neste momento.Exemplo claro desse tipo de atuação são os EUA. Em campanha à reeleição, o presidente Donald Trump teme que asconsequências econômicas da pandemia atinjam seus planos de ser reconduzido à Casa Branca —mais de 16 milhões deamericanos pediram acesso ao seguro-desemprego nas últimas três semanas e 73% dizem que a crise já diminuiu sua renda.O presidente americano já anunciou o maior pacote de emergência fiscal da história dos EUA: US$ 2,2 trilhões que, entre outrasmedidas, conta com pagamento direto de dinheiro aos cidadão americanos, e estuda outros formas de estímulo no país.As medidas de distanciamento social e bloqueios mais restritos na maioria dos países do mundo provocaram uma onda inicial dedemissões e queda na produção cujo impacto e continuidade já foram observados pelos analistas.No relatório do FMI, há a indicação de que o comércio entre os países, por exemplo, deve cair 11% este ano. Em 2020, voltaria acrescer 8,4%.A atividade industrial e o preço das commodities também têm despencado —a primeira deve cair de maneira acentuada, em10,2%, e voltar a crescer em 2021, em torno de 4,2%.Apesar das projeções, o FMI prefere não ser taxativo sobre o alcance dos danos econômicos da crise. Ou seja, o quadro pode serpior.

Reabertura econômica após coronavírus será frágil,parcial e lentaA Walt Disney Co. atingiu uma espécie de marco do coronavírus no mês passado, quando reabriu uma parte do Disney Resortem Xangai, na China, porque a pandemia começou a recuar no país.Mas uma viagem à Terra do Amanhã talvez nunca mais seja a mesma.Os hóspedes do resort em Xangai devem usar máscaras o tempo todo, removendo-as apenas para comer. Horários e capacidadesão limitados. E para entrar os visitantes devem se submeter a uma verificação de temperatura e apresentar um código QRcontrolado pelo governo em seu telefone, indicando que não têm o vírus.

Page 3: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na

Executivos em todo o mundo que reformularam rapidamente suas operações quando o coronavírus atacou, e os políticos que oslevaram a fazer isso, agora estão enfocados em reiniciar a economia e seus próprios negócios. Esse reinício, de acordo comentrevistas com líderes de diversos setores, sugere que a volta ao normal será algo muito diferente.O ressurgimento nas próximas semanas e meses será instável, frágil e parcial —e um pouco distópico, com frequenteschecagens de temperatura corporal, maior monitoramento de funcionários e clientes e, potencialmente, exames de sangue paradeterminar se os trabalhadores têm provável imunidade ao vírus.Autoridades e líderes empresariais preveem que as operações não retornarão totalmente ao normal até que uma vacina eficazchegue ao mercado, prazo estimado em pelo menos um ano.Algumas empresas poderão trazer de volta os funcionários de escritório em grupos alternados, para permitir o distanciamentosocial em espaços sem divisórias. As redes de restaurantes poderão operar com meia capacidade, instalando escudos de acrílicoentre as mesas, enquanto as lojas poderão acabar com as amostras de cosméticos e higienizar os itens depois que os clientes osexperimentarem. A liga principal de beisebol discutiu uma temporada sem espectadores, realizada em uma parte do país ondeela poderá basicamente sequestrar os jogadores por semanas a fio."Quando, onde e em que etapas fazê-lo", disse Rich Lesser, executivo-chefe do Boston Consulting Group, que conversou comvários presidentes sobre esse assunto. "É muito importante."De várias maneiras, as empresas estão à mercê dos governos locais e nacionais para garantir que a reabertura não revigore ovírus, que até agora infectou quase 1,8 milhão de pessoas em todo o mundo e causou pelo menos 110 mil mortes. Programas deteste e rastreamento em larga escala se tornarão a norma, colocando a pessoa média sob um escrutínio muito maior do Estado.O governo federal dos Estados Unidos ainda não lançou uma estratégia nacional de teste e rastreamento para identificar e isolaros portadores do vírus e seus contatos, embora alguns governos estaduais estejam discutindo isso. Muitos outros paísesdesenvolvidos estão colocando esses programas no centro de seus esforços para manter o vírus sob controle, usando atecnologia para identificar pessoas em risco de infecção. Um terço da população da Islândia já baixou um novo aplicativoaprovado pelo governo que usa GPS para rastrear usuários, que poderá dar às autoridades acesso a seus dados e contatos casoapresentem resultados positivos para o vírus.A China conseguiu sair do confinamento graças a seus esforços agressivos para localizar e pôr em quarentena os infectados,embora tenha usado políticas de isolamento draconianas que as democracias acham difícil adotar.As próprias empresas têm um papel a desempenhar, e muitas estão planejando fazer sua parte. Dezenas de empresasnotificaram a Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA (FDA) de que estão desenvolvendo testes que indicam sealguém já teve —e provavelmente é imune ao— coronavírus, embora alguns esforços iniciais tenham encontrado obstáculos emoutros países."A capacidade de teste, que ainda precisamos desenvolver, será a ponte de onde estamos hoje para a nova economia", disse ogovernador de Nova York, Andrew Cuomo, na quarta-feira (8). "Será uma transição baseada em testes para a nova economia."As principais companhias aéreas estão discutindo a viabilidade de fazer que os passageiros se submetam a verificações detemperatura antes de embarcar nos voos. Ainda não está claro se as companhias ou a segurança do aeroporto assumiriam essatarefa. Há duas semanas, o American Airlines Group Inc. começou a perguntar aos passageiros frequentes e aos principaisclientes corporativos o que seria necessário para deixá-los em segurança para voar novamente. A resposta deles? Aviões limpos.A companhia aérea está desinfetando as cabines com maior frequência, entre outras medidas; agora, parte de sua tarefa égarantir que os clientes saibam o que ela está fazendo, disse Kurt Stache, vice-presidente sênior de experiência do cliente naAmerican Airlines. Ela também está analisando como limitar o contato entre os viajantes durante o embarque e o voo.Os passageiros poderiam pegar suas próprias bebidas e lanches ao embarcar pelas pontes de acesso, nos voos mais curtos. Atradição de comissárias de bordo servindo nozes quentes em bandejas na primeira classe poderá se tornar uma relíquia deépocas passadas.Os clientes contatados pela American dizem acreditar que a crise recuará dentro de três a seis meses, e a metade dos clientespesquisados disseram que considerariam voar novamente cerca de seis semanas após a dissipação do vírus.As indústrias reorganizaram os espaços nas fábricas e implementaram processos como turnos de trabalho, ou pedir que osfuncionários se revezem para almoçar em seus carros, evitando a aglomeração em refeitórios, práticas que poderão se tornarpadrão à medida que mais fábricas voltem a funcionar.A Tyson, maior empresa de carnes dos EUA em vendas, está instalando rastreadores de temperatura em suas fábricas em todoo país e mandando para casa os trabalhadores com possíveis sintomas da Covid-19, disse Hector Gonzalez, chefe de recursoshumanos da Tyson nos EUA. Os termômetros poderão permanecer no local depois da pandemia, disse ele, ajudando a reduzirresfriados e gripes entre os funcionários."Eles poderão ser uma vantagem que não tínhamos antes", disse.Quando as linhas de montagem de automóveis americanas da Toyota Motor Corp. forem reiniciadas, provavelmente rodarão emvelocidade mais lenta do que o normal devido à queda acentuada na demanda do consumidor. A desaceleração também ajudaráa manter o distanciamento social nas fábricas, disse Chris Reynolds, administrador-chefe de fabricação da divisão americana daempresa.A montadora japonesa, que começou a produzir protetores faciais enquanto suas linhas de montagem estão paradas, integraráaos negócios essa iniciativa de equipamentos de proteção individual emergenciais, disse Reynolds.

Page 4: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na

A Toyota também está testando protocolos como exames de saúde no local para trabalhadores envolvidos na produção desuprimentos médicos que poderão ser ampliados quando a empresa retomar a produção de automóveis. "Nunca desperdiçamosum programa piloto", afirmou.A empresa consideraria o teste de anticorpos para os trabalhadores, se necessário, mas acha difícil sua implementação, disseReynolds."Ele significa essencialmente colher amostras de sangue dos membros da nossa equipe", disse ele. "É um pouco mais intrusivodo que colocar um termômetro na testa e fazer algumas perguntas."A General Motors está considerando várias opções para testar os trabalhadores contra o vírus, e prioriza os testes com retornomais rápido dos resultados, disse Jim Glynn, chefe global de segurança no trabalho da montadora. Isso pode incluir testes deanticorpos, disse ele."Se for escalonável, fácil, não invasivo e as pessoas estiverem dispostas a fazê-lo, é claro que descobriremos como implementá-lo", disse Glynn sobre o teste de anticorpos.Alguns planos parecem de ficção-científica. A Liga Principal de Beisebol está explorando a ideia de organizar alguma forma detemporada de jogos estabelecendo um bioma, ou sistema ecológico fechado, na área de Phoenix e isolando os jogadores eoutros atores essenciais, segundo várias pessoas inteiradas do assunto.Os jogos seriam realizados no Chase Field, no Arizona Diamondbacks, no centro de Phoenix, nos locais de treinos de primaveranas proximidades e em campus das universidades locais. A liga afirmou em comunicado que, embora tenha discutido a ideia derealizar jogos em um único local, "não decidimos por essa opção nem desenvolvemos um plano detalhado".Muitas operações multinacionais estão procurando um manual nas suas unidades chinesas.Os executivos da Starbucks nos EUA mantiveram conversas com chefes da divisão chinesa da empresa, a partir do final dejaneiro, para entender a propagação do vírus por lá. Em fevereiro, a cadeia de café importou os procedimentos que vinhaadotando na China para os EUA, incluindo limpeza intensificada, pagamento de funcionários durante a quarentena e promoçãode ofertas delivery, antes de fechar o serviço de refeições na maioria de suas 8.870 lojas próprias no mês passado.Mais de 95% das lojas da empresa na China agora estão abertas com horário limitado e assentos reduzidos, restrições que aStarbucks também poderia implementar nos EUA, quando retornar ao serviço mais normal. A Starbucks China "basicamentecriou um modelo que agora estamos usando em todo o mundo", disse o executivo-chefe, Kevin Johnson.A atração da Disney em Xangai pode oferecer algumas lições para os outros parques temáticos da empresa. A Disneyland e oWalt Disney World já estão fechados há mais dias do que todos os fechamentos da história somados. A Disney está avaliandovárias mudanças em suas operações em parques globais antes de reabrir ao público, incluindo verificações de temperatura paraos visitantes, de acordo com pessoas familiarizadas com a situação."Para retornar a uma aparência normal, as pessoas terão que se sentir confortáveis e seguras", disse Robert Iger, presidente-executivo e ex-diretor-executivo da Disney, em entrevista à Barron's, discutindo planos preliminares de reabrir em outroslugares. "Nós nos perguntamos: vamos nos preparar para um mundo em que nossos clientes exijam que examinemos todos?Mesmo que isso crie um pouco de dificuldade, como demorar um pouco mais para as pessoas entrarem."Empregadores com grandes forças de trabalho em escritórios estão pensando em maneiras de trazer os funcionários de voltasem aumentar o contágio."Já estamos recebendo muitas perguntas dos clientes sobre 'como criar esse distanciamento físico com nossos funcionários',especialmente em planos abertos, onde eles podem ficar bem próximos", disse Janet Pogue McLaurin, diretora da Gensler,empresa global de design e arquitetura.Algumas empresas poderão trazer de volta os funcionários de escritório em ondas, para manter os números baixos, ouincentivar os funcionários a trabalhar em casa alguns dias por semana em rodízio, permitindo a "desdensificação", segundo ela.A empresa de corretagem e serviços imobiliários Cushman & Wakefield, que administra 74 milhões de metros quadrados deimóveis na China, criou um manual de 300 páginas sobre a reabertura de escritórios com segurança, incluindo conselhos paratodas as partes do dia de trabalho desde o momento em que um funcionário sai de casa, disse o executivo-chefe, Brett White.O escritório da Cushman em Amsterdã (Holanda) está testando uma configuração de local de trabalho projetada para odistanciamento social. No "Escritório de 1,80 Metro", escudos transparentes separam as mesas, marcadores direcionam otráfego de pedestres e forros para mesas que captam os germes podem ser descartados quando o trabalhador vai embora. "Naspróximas quatro, seis ou oito semanas, quando as pessoas voltarem ao trabalho, as empresas não terão tempo ou capacidadede modificar os escritórios", disse White.Amol Sarva, executivo-chefe da empresa de escritórios flexíveis Knotel, disse que planeja adicionar recursos ao aplicativo daempresa para locatários de escritórios, que dariam aos empregadores a opção de seguir alguns movimentos dos funcionários erastrear seus contatos para evitar a propagação de doenças."A segurança mudou para sempre após o 11 de Setembro, e agora isso vai acontecer no local de trabalho", disse Sarva.Enquanto as empresas que cortaram parte da força de trabalho pensam em contratar pessoal para a recuperação, Lesser, doBCG, disse que é provável que comece recontratando os funcionários que demitiram. Como a economia não vai crescer tãodepressa quanto antes, muitas dessas pessoas voltarão, ele previu. "Não haverá tantas vagas que os trabalhadores possamescolher novos empregadores", afirmou.Fora do trabalho, rituais como jantar e ver um filme ou viagens de compras serão retomados, embora de forma bastante

Page 5: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na

alterada.A cadeia de churrascarias Texas Roadhouse Inc. provavelmente reabrirá com capacidade reduzida por meio de assentosescalonados, de acordo com Travis Doster, porta-voz da rede em Louisville. A empresa poderá instalar divisórias de plexiglás oumadeira entre as mesas e exigir que os clientes aguardem a vez do lado de fora ou permaneçam em seus carros, explicou ele."Você simplesmente não sabe como as pessoas vão voltar", disse Doster.O executivo-chefe da Panera Bread, Niren Chaudhary, disse a seus funcionários durante uma reunião virtual da empresa naquarta-feira que a marca "fast-casual", que dependia em grande parte de clientes que se alimentavam no local, precisaencontrar novas fontes de receita. "Teremos que reconstruir com muito cuidado a marca para um novo mundo", afirmou.A cadeia planeja manter os negócios junto à calçada iniciados em resposta ao coronavírus, junto com os mercados improvisadosque vendem itens básicos como pão e leite e produzir 90% de seus cafés —com opções de entrega. A rede de 2.200 unidadespertencente à JAB, empresa controladora da Krispy Kreme, também está considerando a construção de locais com áreas derefeições menores para dar mais espaço aos prováveis maiores negócios de delivery.Os comensais no restaurante Kith/Kin, em Washington, D.C., poderão encontrar menus descartáveis e talheres envoltos emplástico, em vez de tecido, disse o chefe Kwame Onwuachi. Cartazes no restaurante vão detalhar como as superfícies sãohigienizadas. Os garçons poderão usar luvas na sala de refeições."Vamos precisar de mais transparência em nossas práticas", disse Onwuachi.Mark O'Meara diz que espera abrir seus dois cinemas independentes em Fairfax, na Virgínia, até junho ou julho. Além da limpezaintensificada, ele está considerando limitar a capacidade a 50% na reabertura. Como os principais estúdios de Hollywood tirarammuitos dos títulos altamente aguardados do calendário de verão, O'Meara diz que está aberto a preços flexíveis por um curtoperíodo de tempo, para atrair espectadores a assistir filmes menos divulgados, embora ele não possa tomar a decisão por contaprópria."Estamos pensando em fazer coisas que nunca pensamos", disse O'Meara.Tim Leiweke, executivo-chefe do Oak View Group, que opera e aconselha os principais locais de shows e esportes em todo omundo, diz que "o saneamento e a limpeza das instalações serão um problema contínuo para o resto da minha carreira".Os locais adicionarão um novo turno para higienizar os locais depois que os zeladores terminarem a limpeza após os eventos, etransações sem dinheiro e com barreiras de proteção em todos os pontos de compra serão a norma, disse ele. Alimentos emercadorias serão vendidos "para viagem".Os sistemas escolares e faculdades estão planejando cenários para um retorno esperado ao campus no outono, se não antes.David Greene, presidente do Colby College, faculdade particular de ciências humanas em Waterville, no Maine, com 2.000estudantes de graduação, disse que recentemente começou a considerar como a instituição poderia operar se a ordem dedistanciamento social continuar no futuro."Diminuímos o número de pessoas no campus? Isso significa mais aulas online? Estamos nos planejando para toda e qualquercoisa, incluindo um tipo muito diferente de ano no próximo ano", disse Greene.Colby teve discussões iniciais sobre a necessidade de dormitórios para acomodar ocupantes solteiros nesse cenário, ou de pedirque os estudantes vão ao campus para módulos de curto prazo, alternando os alunos dentro e fora do campus."Nossos alunos vêm de 90 países diferentes e de todos os Estados", afirmou. "Não é tão simples de imaginar."Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Page 6: Grande paralisação' levará mundo à pior recessão desde ... · Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na