gramática e ensino e ideologiaddd

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GRAMÁTICA, ENSINO E IDEOLOGIA: UMA CONTRADIÇÃO DE CONCEITOS. Claudinei Marques dos Santos (UEMS-PG) [email protected] Nataniel dos Santos Gomes (UEMS) [email protected] Marlon Leal Rodrigues (UEMS) [email protected] Introdução. O caráter ideológico e anticientífico (BAGNO, 2000, 2004) que a tradição gramatical instaura no uso e no ensino da Língua Portuguesa no Brasil, estigmatizando os fenômenos da variação linguística e consequentemente, promovendo discursos de “certo” e “errado”, o que é bonito e o que é feio, o que está na norma o que está fora da norma, implica, assim penetrar num contexto social dominado pela gramática tradicional, estabelecida através de relações históricas, que descrevem e prescrevem funcionalmente o sistema linguístico e o analisa, a partir de critérios puramente empíricos, desvinculando a língua da realidade social dos indivíduos falantes e projetando no senso comum, a noção de erro e de pureza gramatical.. Nesse sentido, a GT historicamente (Gramática tradicional) difunde uma língua no Brasil, com uma proposta de estigmatizar os fenômenos linguísticos do português brasileiro, em favor de uma norma padrão greco-romana, (LOBATO, 1986) sem, com isso, considerar as manifestações sociais da língua. Como se, de fato, existisse uma norma superior e outra inferior; uma prestigiada e outra desprestigiada, que desde a Grécia Antiga, com Aristóteles, e depois, com os cânones literários, os tão prestigiados clássicos da literatura, vêm sendo reproduzida e disseminada no sendo comum e no ensino da língua materna. Firmam-se no, pois, num ponto de vista de que, quando o falante não se expressa de

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  • GRAMTICA, ENSINO E IDEOLOGIA: UMA CONTRADIO DE

    CONCEITOS.

    Claudinei Marques dos Santos (UEMS-PG)

    [email protected]

    Nataniel dos Santos Gomes (UEMS)

    [email protected]

    Marlon Leal Rodrigues (UEMS)

    [email protected]

    Introduo.

    O carter ideolgico e anticientfico (BAGNO, 2000, 2004) que a tradio

    gramatical instaura no uso e no ensino da Lngua Portuguesa no Brasil, estigmatizando os

    fenmenos da variao lingustica e consequentemente, promovendo discursos de certo e

    errado, o que bonito e o que feio, o que est na norma o que est fora da norma,

    implica, assim penetrar num contexto social dominado pela gramtica tradicional,

    estabelecida atravs de relaes histricas, que descrevem e prescrevem funcionalmente o

    sistema lingustico e o analisa, a partir de critrios puramente empricos, desvinculando a

    lngua da realidade social dos indivduos falantes e projetando no senso comum, a noo de

    erro e de pureza gramatical..

    Nesse sentido, a GT historicamente (Gramtica tradicional) difunde uma lngua no

    Brasil, com uma proposta de estigmatizar os fenmenos lingusticos do portugus

    brasileiro, em favor de uma norma padro greco-romana, (LOBATO, 1986) sem, com isso,

    considerar as manifestaes sociais da lngua. Como se, de fato, existisse uma norma

    superior e outra inferior; uma prestigiada e outra desprestigiada, que desde a Grcia Antiga,

    com Aristteles, e depois, com os cnones literrios, os to prestigiados clssicos da

    literatura, vm sendo reproduzida e disseminada no sendo comum e no ensino da lngua

    materna.

    Firmam-se no, pois, num ponto de vista de que, quando o falante no se expressa de

  • acordo com o que est descrito e prescrito na norma gramatical comete erro, entretanto o

    que eles analisam como erro, desvio da norma, so, em verdade, variaes de fala, e no

    erros, uma vez que s existe o chamado erro lingustico, na medida em que o outro falante,

    no papel de interlocultor, no entende o que est sendo lhe comunicando ( POSSENTI,

    2010), (PERINI, 1997).

    Entretanto, esse perfeccionismo ideolgico, que sustenta a ideologia do certo e

    errado, que tanto a tradio gramatical enfatiza e vangloria nas descries e prescries que

    faz do sistema lingustico do portugus, no seno, empricos, isto , no possui nenhuma

    cientificidade, e como tal, no deixar de ter incongruncias e contradies nos seus

    conceitos. Para Bagno: (2004:34) os gramticos tradicionalistas recusam admitir que

    muitos do seus postulados so internamente inconsistentes, contraditrios e que

    muito de suas regras so antes excees do que regras. O que torna o carter at ento,

    perfeito e bonito das normas propagadas pela GT confusos e ilgicos. Embora, paream

    coerentes e homogneos, os conceitos gramaticais imposto pela GT. nas gramticas

    normativas do Portugus do Brasil(GN) no deixam efetivamente de ter falhas conceituais

    (PERINI, 1997) (MATTO & SILVA, 1998)

    Desse modo, o objetivo geral desse trabalho consiste em primeiro lugar, analisar

    algumas Gramticas da Lngua Portuguesa, possveis incoerncias, lacunas, falhas nas

    definies gramaticais, sobretudo na parte subjacente sintaxe e aos conceitos de gnero.

    Tendo em vista que, a Gramtica Tradicional no nem um pouco homognea, muito

    menos logicamente perfeita, ao contrrio, os seus postulados concernentes norma

    gramatical, no convm com as estruturas lingusticas, isto , no h uma relao lgica

    entre os funcionamentos lingusticos e os conceitos gramaticais que se pe a prescrever e

    descrever, .o que produz algumas paradoxos e mitos nos seus postulados sobre o que se

    entende por lngua materna.

    Assim objetivo dessa pesquisa analisar em algumas gramticas do portugus essas

    incoerncias, ou melhor, os furos deixados pela tradio gramatical ao descreverem e

    prescreverem a norma da lngua portuguesa, como tambm, abordar, o que

    ideologicamente a gramtica normativa designa como "erro"na fala dos sujeitos falantes do

    portugus do Brasil, sem considerar a, os fatores sociais e histricos que, de uma maneira

    ou de outra, so responsveis diretamente pela heterogeneidade de falares que surgem nos

  • contextos sociais. Falares estes que corpus de trabalho da Sociolingustica. Para

    Sociolingustica o desvio, o famoso erro a que gramtica ideologicamente dissemina nos

    mltiplos manuais de portugus, so variedades da lngua Portuguesa do Brasil, que

    irrompe nas fala dos indivduos falantes ( TARALLO, 1997). . Um norma interna que o

    falante j tem disponibilizado dentro de si, que o meio pela qual se comunica com outros

    falantes da comunidade lingustica a que est inserido.

    A gramtica tradicional e a ideologia do erro lingustico

    Para que se compreenda a noo de gramtica normativa preciso que voltemos um

    ao passado, mais precisamente, ao snscrito, que foi onde ocorreu primeira descrio

    lingustica de uma lngua, pelo gramtico hindu, Panini, no sculo IV.a.C. Esse gramtico

    com objetivo de conservar os textos religiosos dos vedas, como tambm a pronncia correta

    das prezes, descreveu o sistema lingustico do Snscrito, com o propsito de normatiz-lo,

    instaurar uma norma, pois, queria proteger a lngua hindu contra as invases dos falares

    rudimentares, populares que invadia o territrio.

    Mas tambm, importante enfatizar, que se deve a Grcia antiga, o bero de

    nascimento da norma gramatical e, de onde surgiu a expresso Gramtica Tradicional e,

    consequentemente a noo ideolgica de certo de errado, que at hoje, se manifesta nas

    concepes fundamentadas pela GT, sobretudo na do portugus. Conforme as palavras

    LOBATO, (1986)

    "Foi na Grcia, por volta do sc..V a.C., que se iniciaram, como ramo da filosofia, os estudos lingsticos que, desenvolvidos pelos

    romanos, pelos trabalhos especulativos da Idade Mdia e pelo estudo

    normativo dos gramticos dos perodos subseqentes, constituem o

    que no ocidente se tem chamado gramtica tradicional. (Lobato, 1986:77/79).

    Os estudos gramaticais gregos constituram-se em trs em principais perodos: O

    primeiro comeou com os filsofos pr-socrticos e os retricos, depois com Scrates,

    Plato e Aristteles, o segundo, por sua vez pertence aos estoicos. Esses dois primeiros

    perodos fundamentavam seus estudos na origem da linguagem, na controvrsia entre

    naturalistas e convencionalistas que discutiam a relao do significado com sua forma. Em

  • sntese, os dois primeiros perodos preocupam-se efetivamente no estudo da relao da

    linguagem e nas reflexes lgica e retrica. J o terceiro perodo da filosofia grega refere-se

    aos Alexandrinos, que a parte que nos interessa, uma vez que sua preocupao era com a

    lngua literria, e no com a filosofia ou a lgica.

    Para, Gurpilhares, (2004: 45) havia alguns fatores que interessava aos alexandrinos

    no estudo da lngua numa perspectiva literria. O primeiro fator era o desejo de tornar

    acessvel s obra do grande poeta e escritor grego, Homero, aos seus conterrneos. O

    segundo focava-se no uso correto da Lngua, de modo a preservar o grego clssico de

    possveis deformaes. Os estudiosos da lngua literria so denominados "Alexandrinos"

    por terem desenvolvidos suas pesquisas na cidade de Alexandria, onde, alias, formou-se um

    grande centro de estudos literrios e lingusticos e, tambm, foi de onde proveio o que

    entendemos hoje por gramatica tradicional.

    No sculo II a.C., os estudiosos alexandrinos escreveram glossrios e compndios

    gramaticais com intuito exclusivamente de fornecer aos seus conterrneos, a leitura dos

    textos clssicos de Homero. O que evidentemente havia nessa nesses escritos gramaticais se

    baseavam na lngua escrita e pautavam-se, pois, em dois objetivos: fornecer "uma

    abordagem da lngua dos textos literrios arcaicos" e proteger o grego clssico das

    contaminaes.

    Foi, portanto, nesse contexto prescritivo e descritivo Alexandrino que surge a noo

    tradicional de "certo" e "errado", que tanto enfatiza a tradio gramatical nas diversas

    gramaticas normativas da lngua portuguesa, que no tem nada a haver com a cincia

    lingustica, mais nitidamente, as especulaes em torno da norma gramatical no fornecem

    argumentos concisos, de base cientfica, para que seja considerada uma cincia, pautada em

    mtodos cientficos, ao contrrio, prope a explicar a lngua, a partir de concepes

    conservadoras da linguagem, a saber, os estudos greco-latinos sobre a linguagem, o que

    significa que a GT passou por todas as revolues cientificas do conhecimento humano,

    sem mudar suas mtodos. Para Bagno, (2001:18.)

    A Gramtica Tradicional -----que ainda , de longe, a mxima fonte de inspirao

    doutrinria para o ensino de lngua portuguesa e para as atividades econmica a

    ela associadas ( indstria editorial, mdia e multimdia)------repousa at hoje em

  • bases epistemolgicas que remontam a uma fase da histria conhecimento

    humano anterior ao se convencionalmente chamar incio da cincias modernas. Acreditar na GT como explicao vlida da lngua acreditar ptolomaico como

    descrio da Terra e do espao terrestre. A GT passou inclume pela revoluo promovida por Coprnico, Galileu, Kepler, Newton, e outros cientistas que, entre

    os sculos VXI e XVII, fizeram ruir concepes de homem, de natureza e de

    cosmo que havia dominado o mundo ocidental durante dois milnios.

    O mundo evolui, contudo, a GT parou no tempo. Enquanto as outras cincias

    aprimoraram as suas premissas incorporando as revolues cientficas que surgiram ao

    longo do tempo, a senhora gramtica tradicional, com aproximadamente 2000 anos idade,

    no entanto, ainda continua com velha metodologia de analisar a lngua a partir do discurso

    de certo e errado, ou seja, de explicar o funcionamento das estruturas lingusticas a partir

    de critrios de beleza, purismos lingusticos, o que no um mtodo cientifico.

    Das muitas mudanas que teve e que ainda tem o mundo cientfico da

    contemporaneidade, a GT no aderiu a nenhuma delas, muito menos substitui seus

    mtodos de argumentao baseados na afirmao da autoridade antigas pelos mtodos

    cientficos da observao dos dados, da verificao e testagem de hipteses, de deduo de

    regras a partir de observaes da realidade observvel, ao contrrio criou ideologias,

    rituais simulando uma lngua estabilizada, logicamente perfeita, estruturada, coerente e

    no-contraditria para bem falar e escrever, ao passo que, discrimina ao falares sociais as

    formas de manifestao social do portugus do Brasil (Bagno, (2001:19).

    Isso s possvel por meio da ideologia que de Acordo Chau (1998:114-115) que a

    autora,

    Possui uma coerncia racional pela qual preciso pagar o preo. Esse preo a

    existncia de brancos, de lacunas ou de silncios que nunca podero ser preenchidos sob pena de destruir a coerncia ideolgica. O discurso ideolgico

    coerente e racional porque entre duas partes ou duas frases h brancos ou vazio, responsvel pela coerncia. Assim, ela coerente no apesar as lacunas, mas por causa ou graas s lacunas. Ela coerente como cincia, como moral,

    como tecnologia, como filosofia, como religio, como pedagogia, como

    explicao e como ao apenas porque no diz tudo e no pode dizer tudo. Se

    dissesse tudo, se quebraria por dentro.

  • O Eagleton (1997:33) concorda com Chau (1998:13),:

    A ideologia um conjunto lgico, sistemtico e coerente de representaes e

    (idias e valores) e de normas ou regras (conduta) que indicam e prescrevem aos

    membros da sociedade o que devem pensar e como devem valorizar, o que devem

    sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela ,portanto, um corpo

    explicativo (representaes) e prtico (normas, regras, preceitos) de carter

    prescritivo, normativo, regulador.

    O que ento a Gramtica Tradicional seno esse conjunto regulador, sistemtico,

    prescritivo, normativo e incoerente, que apresenta uma viso de mundo, como se fosse uma

    cincia que explica a realidade atribuindo a cada elemento um conceito lgico e

    sistemtico. Um conjunto de normas internas que explicam inserido binmio descritivo\

    prescritivo o funcionamento da lngua. Uma explicao evidentemente baseada nos grandes

    clssicos da literatura portuguesa de onde GT, cria mitos sobre a linguagem, descries e

    ponderaes concernentes ao portugus brasileiro.

    Para que se entenda funo do mito no estudo da Gramtica Tradicional recorremos

    s palavras de Barthes (1985:1670)

    Ora, este processo o prprio do processo da ideologia burguesa. Se a nossa

    sociedade objetivamente o campo privilegiado das significaes mticas,

    porque o mito formalmente o instrumento mais apropriado para inverso

    ideolgica que a define: em todos os nveis da comunicao humana, o mito

    realiza a inverso da anti-physis.

    O que o mito faz seno a inverso da realidade passa uma imagem falsa do que

    realmente a cincia explora nos seus diversos campos de estudos da linguagem. A proposta

    da GT, no nem um pouco diferente da dos mitos, pois analisa a lngua sem nenhum

    embasamento cientifico, e os dissemina na realidade, criando, dessa forma, o que a autor

    diz acima a inverso anti-physis da realidade, legitimando, fazendo uma abordagem da

    lngua, a partir prescries e descries da conservadora da linguagem.

    Segundo Gnerre (1991:14). A legitimao um processo que tem como

    componente essencial a criao de mitos de origem que trafegam no tempo criando

  • realidades e moldando pensamentos. Essas prticas mitolgicas aglutinaram-se no

    imaginrio social, e ensino de lngua materna, imbuindo nos indivduos noo de que sua

    fala no portugus, de que precisa de gramtica para falar e de que portugus

    muito difcil, enfim, toda uma ideologia que se trafega no tempo e se manifesta

    ideologicamente na mente dos indivduos. .

    Bagno, (2001:50 apresenta alguns mitos que o senso comum convencionalmente

    estabeleceu sobre a lngua, que com tempo, a gramtica tradicional os adotou de forma a

    criar um efeito ideolgico sobre os falantes da lngua portuguesa. A primeiro mito o da

    lngua nica, que segundo ele est presente numa longa tradio filolgica brasileira,

    como em obras como A unidade lingustica do Brasil (Elias, 1979) e O prodigioso

    esprito de unidade luso-brasileira.

    O transunto perfeito do ideal de nacionalidade se alcana quando, num mesmo territrio, se encontra uma s raa, como uma s religio, uma s moral, uma s

    lngua, e s uma tradio, [...] Pois eu diviso em Portugal e no Brasil exemplos

    frisantes de nacionalidade consumadas (p.3)

    Acreditar-se nesse posicionamento que no tem nada cientfico, de que no Brasil

    existe apenas h uma raa, uma religio e at mesmo uma nica lngua crer, tambm que

    existe fadas e duendes. Isso , em tese, um terreno propcio para manifestao da

    ideologia, o mascaramento da realidade, querer transformar as ideia da classe dominante

    em ideias universais, para que todos sigam, sem possibilidade de desvio. Um mecanismo

    ideolgico oriundo da classe dominante, que se identifica como letrada, que, na

    transparncia simula existir cientificamente uma nica lngua para comunicao, mas, na

    realidade, uma forma homogeneizar o real, uma vez que difunde a ideia de que existe

    apenas uma lngua no Brasil, o padro estabelecido pela gramtica tradicional, sem se ater

    especificamente grande diversidade lingustica do portugus brasileiro, que coexiste de

    forma particular em cada regio do pas.

    O segundo mito que aponta Bagno ( 2001: 60-64) o da lngua estropiada que ,

    as variedades dos portugus do Brasil, que a norma tradicional determina como erro,

    deficincia lingustica, absurdos lingusticos, fala feio e outros preconceitos que a

    Gramtica Tradicional propaga do indivduo falante do portugus. So diversos os tipos de

  • preconceitos que a GT dissemina que, alm de oprimir, fora os falantes a adequar a norma

    tradicional, que por si s, no consegue compreender os falares sociais e, por isso, nas

    descries e prescries, qualifica a lngua dos falantes de variedades no-padro de

    maneiras preconceituosas.

    S com o advento da cincia lingustica no sculo XX, que se consegue vislumbrar

    a importncia das variedades da lngua portuguesa, visto que so as variedades que

    apresentam as formas fonomorossinttica mais estigmatizada no universo lingustico

    brasileiro: a transformao em [y] da consoante [ alfabeto internacional] ( telha> tia); a

    rotacizao [l] de grupos consonantais (globo>grobo) Bagno, 2001:63. Assim, o que a

    norma gramatical considera como lngua estropiada , na realidade, variedades do

    portugus brasileiro que falada em vrias regies do Brasil.

    O terceiro mito que Bagno (2001: 64) analisa o da inferioridade de lngua

    falada, que historicamente a GT discrimina e pondera muitas vezes como erro de

    portugus, por no articular os seus conceitos gramaticas. No coerente, pois, querer dizer

    que a lngua escrita melhor do que a lngua falada, s por que, o falante comete desvios

    ortogrficos de uma lngua, no significa que seja melhor ou pior do que outra. A lngua

    um sistema que surge naturalmente no indivduo, e a ortografia de origem convencional,

    estabelecida politicamente pelo estado.

    Sendo assim, h uma grande diferena entre lngua em geral e a escrita e, tambm

    com a ortografia oficial. O chamado erro de portugus , em suma, um desvio da ortografia

    oficial e, no erro de portugus. Ningum erra naquilo que j est competente para produzir

    enunciados. S existe, desse modo, o erro de portugus quando o falante no entende o que

    lhe comunicado (POSSENTI,), o que significa que uma falante j , por si mesmo,

    competente para produzir enunciados de uma lngua, mesmo que este no tenha nenhum

    conhecimento da gramtica. importante argumentar que qualquer criana falante de

    portugus, ao iniciar seus estudos, adquiriu certo tipos de conhecimentos de sua lngua

    permite a ele construir enunciados como: Tinha uma jabuticaba no quintal da minha av.

    Negro, Cher e Viotti, ( 2012:95).

    Sendo assim, a lngua um processo natural, inerente s caracterstica biolgicas do

    indivduo e a ortografia um processo artificial, oriundo de convenes polticas, portanto,

  • susceptvel de erro por parte do falante, j que nem sempre ele consegue decorar todas as

    erras ortogrficas.

    O quarto e ltimo mito apresentado por Bagno (2001:83) o da necessidade da

    gramtica normativa que historicamente tem sido um mecanismo ideolgico poderoso

    usado nas escolas para simular a realidade. Nesse tipo de ensino, praticado nas instituies

    escolares inculcam-se a ideias nos educandos de que portugus muito difcil ou de que

    para se falar preciso que saiba gramtica, o que apenas serve para desestimular o

    educando a aprender uma lngua. Se bem que, essas ideologia est to arraigada nas mentes

    dos educadores, que o ensino da lngua portuguesa, ao invs de fazer o aluno refletir sobre

    uso da gramtica est o tornando reprodutor. Para isso, Possenti (1997:95) sugere que;

    ensino do portugus deixe de ser visto como transmisso de contedos prontos e passe a ser uma tarefa de construo de conhecimento por parte dos alunos, uma

    tarefa em que o professor deixe de ser a nica fonte autorizada de informaes,

    motivaes e sanes. O ensino deveria subornar-se aprendizagem.

    O professor tenta ensinar uma lngua que o aluno j sabe, pois ele j competente,

    por si mesmo, para produzir enunciados da lngua, s bastaria ao educador ensinar os

    alunos a refletir sobre o que aprende, e no reproduzir o processo mecnico e ideolgico da

    gramtica tradicional que h sculo doutrinam o ensino de lngua materna no Brasil.

    Concepes mecnicas, ideolgicas e retrgadas que explicam a lngua

    intrinsecamente ligada s prescries normativas, so as mesma ideias que esto presentes

    no ensino de portugus nas escolas brasileira, justamente, por que, a base do ensino da

    lngua no contexto escolar estudo da norma gramatical e onde est n que produz o

    fracasso escolar e, consequentemente, um desestmulo aprendizagem da lngua.

    Os chamados paragramaticais que Bagno, (2004: 121) aborda compostos por

    manuais, revistas, CD ROOM e tambm discusses televisiva, alm disponibilizarem o

    acesso norma padro, exaltam o carter estritamente normativo e prescritivo da lngua

    portuguesa, no entanto, por outro, perpetuam um desprezo aos falares sociais ignorando os

    fenmenos da variao lingustica, como se a lngua no fosse susceptvel de mudanas a

    longo do tempo. E, com isso, estimulam as escolas brasileiras a adotarem a mesma

    abordagem metodolgica que para se analisar a lngua portuguesa, o que, evidentemente s

  • faz perpetuar o preconceito e, junto a ele o fracasso escolar, (SOARES, 1997). `

    Em sntese, o que tentamos argumentar nesse item foi, portanto, o circulo vicioso

    que a Gramtica Tradicional instaurou no Brasil no ensino de lngua portuguesa, sobretudo

    na noo ideolgica de erro que prope a GT, nos prximos itens, focar-nos-emos, num

    estudo sobre a gramaticalizao no Brasil, e alguns conceitos incoerentes e contraditrios

    que a tradio gramatical vem disseminando no contexto da lngua portuguesa no pas..

    Gramtica Tradicional suas contradies conceituais

    O que discutimos acima referente GT- Gramtica Tradicional da Lngua Portuguesa,

    ou mais exatamente, referente questo do erro lingustico, que a gramtica normativa, em

    seus mltiplos compndios, de normas gramaticais dissemina no contexto brasileiro, , na

    verdade, fatos que sucedem no uso e no ensino da lngua materna no Brasil. Uma norma

    gramatical que se coloca como lngua, quando apenas, doutrinas gramaticais estabelecidas

    historicamente, como nico padro lingustico, a poder funcionar corretamente na

    sociedade.

    Desse modo, essa Gramtica Normatiza que temos hoje, uma herana portuguesa

    instituda no passando, num contexto histrico, imperialista, em que Portugal precisava se

    desenvolver economicamente e se expandir e se para outras partes do mundo. De acordo

    com Bagno, (2004) isso evidentemente aconteceu depois que o navegador portugus Vasco

    da Gama, em 1497, descobriu o caminho martimo para as ndias, o que deu inicio

    expanso martima portuguesa, e, consequentemente, a formao de um vasto imprio e,

    com isso, o descobrimento regies do planeta, que se estende desde frica a Oceania, que a

    maior parte do mundo ignorava e desconhecia.

    Com essas conquistas portuguesas ao longo do globo, a mentalidade da sociedade

    foi se evoluindo e, ao mesmo tempo, formando ideologias dominantes e imperialistas, isto

    , criaram-se concepes ideolgicas para expanso dos domnios lusitanos, sobretudo em

    torno da lngua, que era por si mesma, um poderoso veculo dominao cultural. E, assim,

    concluram os portugueses em sua perspectiva ideolgica, que deveriam possuir uma lngua

    de cultura digna dessas conquistas. Se por acaso no a tivesse preciso invent-la. Como

    na poca das grandes navegaes, a lngua de cultura que dominava a cincia, a religio e a

    filosofia era o latim, esta foi, pois, introduzida como lngua para dominar os territrios

  • conquistados, mas somente era faladas por padres ou por pessoas mais eruditas, os

    navegadores e marinheiros, no entanto, no a conheciam, falavam a lngua de seus pases

    de origem.

    Entretanto, por influncia do renascimento, surge o movimento romntico, com uma

    atitude de valorizao das lnguas nacionais, em visa disso, criou-se na mentalidade no

    apenas dos navegadores, como tambm, da sociedade portuguesa de modo geral, de que as

    lnguas nacionais eram to boas para aventuras quanto o latim, o que provocou uma

    reviravolta na Europa, pois em 1492 foi publicado a primeira Gramtica da lngua

    espanhola, de autoria de Nabrija, no mesmo ano em que Cristvo Colombo descobriu a

    Amrica . Nabrija, assume a ideologia imperialista da Europa e faz uma relao entre

    gramtica e conquista colonial, que segundo ele a lngua sempre foi companheira do

    imprio, e ainda argumenta que o objetivo da gramtica era fazer com que a lngua

    possa permanecer num mesmo estado e durar por todo o tempo futuro Bagno, (2004:46).

    Ou seja, toda uma ideologia imperialista de conservao e pureza da lngua so

    injetados no senso comum e assumidos por sua vez, pelas gramticas normativas,

    principalmente as do portugus. Uma das primeiras Gramticas Normativas da lngua

    portuguesa foi de Ferno de Oliveira em 1536, com o nome Gramtica da Linguagem

    Portuguesa. A outra foi em 1540 de Joo de Barros Gramtica da lngua portuguesa, E,

    com o tempo, foram surgindo outros ttulos de cunho gramatical, como Regras que

    ensinam a maneira de escrever e ortografia da lngua portuguesa, de Pero de Magalhes de

    Gndavo , em 1574. E tambm Ortografia e origem da lngua portuguesa, de Duarte Nunes

    de Leo em 1576. E tambm no poderamos esquecer de Jose de Anchieta, com sua obra

    sobre a lngua indgena dos Tupinambs Arte de Grammatica da Lingoa mais usada na

    costa do Brasil publicado em Coimbra em 1591, com o propsito de pregar o evangelho,.

    De modo especfico, essas gramticas serviram de base para muitos autores

    brasileiros para elaborar suas doutrinas gramaticais. Se que bem que, as regras da GT, so

    representaes estticas dos grandes escritores portugueses, por meio dos quais, a

    gramtica ganhou prestigio e serviu como regras de bem falar, e de bem escrever e, onde os

    gramticos portugueses apoiaram seus projetos doutrinrios para normatizar a lngua

    portuguesa e propagar onde que colonizavam toda uma pureza lingusitica.

    Seguindo essa tendncia clssica da gramtica normativa, Jernimo Soares Barbosa,

  • publica em 1822, Gramtica Filosfica da Lngua Portuguesa, que serviu de modelo para

    outros gramticos a escrever suas doutrinas. No entanto, o ano 1881, foi o perodo que

    comeou no Brasil o estudo cientfico da norma gramatical, a partir da publicao da

    Grammtica Portuguesa, por Jlio Ribeiro, considerado um dos nossos primeiros

    gramticos prescritivista, e com ele, todo um processo de gramaticalizao da lngua

    portuguesa no Brasil. Para Silva (2006:6)

    Essa tendncia que assinala um longo perodo normativista da gramaticografia brasileira estende-se at por volta da dcada de 1930, quando novas propostas lingsticas, pautadas sobretudo na fatura literria de alguns modernistas, embora

    j presentes na prosa gramaticalmente irreverente de autores que os precederam,

    so forjadas, tendo por pressuposto a insubordinao frente as normas

    gramaticais puristas. Desse modo, o perodo que se inicia nas duas ltimas

    dcadas do sculo XIX e abarca as trs primeiras dcadas do sculo XX aponta

    para um saber metalingstico que ainda ressuma um lastro positivista de herana

    lusitana (Adolfo Coelho, Tefilo Braga), apresentando como principais

    caractersticas de seu iderio lingstico o qual incidir direta e indiretamente sobre a fatura gramatical as querelas lingsticas que se apoiavam na defesa do purismo, as reformas ortogrficas que propunham uma simplificao de natureza

    fonmica e as discusses lexicais acerca de estrangeirismos e neologismos por

    emprstimo.

    Nessa lista de gramticos brasileiros pode-se incluir Maximino Maciel (Gramatica

    Analtica, 1887), Pacheco Silva e Lameira Andrade (Gramtica da Lngua Portuguesa, 1887),

    Eduardo Carlos Pereira (Gramtica Expositiva da Lngua Portuguesa,1907) e outros que, do

    mesmo que Jlio Ribeiro se deixaram a influenciar pelos pressuposto positivista, cuja

    concepo adentrou no sculo XX, a engajar outras geraes de gramticos no Brasil.,como

    Celso Cunha e Lindley Cintra, Rocha Lima, Evanildo Bechara e Domingos Paschoal Cegalla,

    e Antnio Hauaiss etc.

    Todos esses nomes citados so autores de Gramticas Normativas da Lngua

    Portuguesa do Brasil, cujas doutrinas tm como parmetros bsicos, regras que controlam a

    escrita dos indivduos falantes, no s no contexto do Brasil, mas tambm no Portugal, que

    onde a ideologia clssica da noo de erro lingustico ainda permanece e se reproduz na

    sociedade com o aval dos escritores brasileiros e portugueses do passado, dentre os quais,

    podemos citar Machado de Assis, Jos de Alencar, Almeida Garret, Alexandre Herculano,

    Graciano Ramos e Aluzio de Azevedo etc. A partir da esttica literria desses escritores, os

    gramtica normativista do sculo XX no Brasil, construram uma forte tradio filolgica, em

    que a noo de certo e errado eram as principais discusses dos compndios publicados no

  • pas.

    Por outro lado, numa abordagem cientfica, embora os gramticos discutissem em seus

    compndios gramaticais, a questo do erro lingustico, no se deram conta, de que algumas suas

    prescries, as quais tanto vangloriam so, em tese, ilgicas, sem p e nem cabea,

    incoerente, contraditria, confusos e cheios de lacunas, que nem eles prprios podem explicar.

    Anlise de algumas Gramticas do Portugus

    Vamos mostrar, nesta outra parte dessa pesquisa, algumas incongruncias que as

    Gramticas Normativas do Portugus expem e difundem no contexto brasileiro. Considerando

    que, esse estudo sobre incoerncia dos conceitos da GT so questes j estudas por Bagno,

    (2004) Possenti, (2005)Perini, (1997), que ns apenas estaremos reafirmando algumas ideias e

    introduzindo outras, de maneira alternada.

    Vamos comear com a Gramtica Normativa do Portugus Contemporneo de Celso

    Cunha e Lidley Cintra, (1970) em que analisa orao sem sujeito. Segundo esses autores,

    orao sem sujeito aquela em que no h sujeitos. Por exemplo Chove. Anoitece. Faz frio.

    Quanto a essas questes no h problema. Mas os autores se contradizem quando afirmam que

    o sujeito e predicado so os termos essenciais da orao. Como podem afirmar que existem

    oraes sem sujeito, se o sujeito e predicado so termos essenciais da orao. Se eles o so

    significa que no podem ser excludos, se porventura o forem desestabilizam a coerncia

    interna.

    Veja tambm o que Cipro Neto & Ulisses Infante, (1998) diz a respeito dos artigos,

    que divido definido em portugus em a, as, o, os e indefinido: em um, uns, uma umas.

    Segundo eles artigo definido indica seres determinados dentro de uma espcie; seu

    sentido Particularizante. J o indefinido indica seres quaisquer dentro de uma mesma

    espcie; seu sentido genrico. Sendo assim, as sentenas como Gosto muito de animais:

    queria ter um cachorro, uma gata, uns tucanos e umas araras, que o autor as analisa como

    indefinidas. J sentena Meu vizinho gosta muito de animais: voc precisa ver o cachorro,

    a gata, os tucanos e as araras que ele tem em casa, eles as analisa como definidas. Quanto

    isso tambm sem nenhum problema.

    No entanto, as sentenas:

    (01) O homem mortal

    (02) A mulher tem sido discriminada desde que o mundo mundo

  • (03) Dizem que o brasileiro em geral tem ouvido musical.

    (04) Os carros so os maiores responsveis pela poluio

    De acordo com essas sentenas acima, qual o homem que mortal? Qual mulher

    tem sido discriminada? Qual brasileiro em geral tem ouvido musical? Quais so maiores

    responsveis pela poluio? O que autores dizem a respeito do o artigo definido afirmando,

    com convico, que ele possui sentido particularizante, especfico, , em suma, relaes

    universais, pois as sentenas nada particularizam, mas implicam, acarretam que todos os

    homens so mortais, todas as mulheres so discriminadas, todo brasileiro possui ouvido

    musical, todos os carros so os maiores poluidores.

    O conceito de artigo definido nos postulado de Cipro Neto & Ulisses Infante, como

    aquele que particulariza o ser, teoricamente incoerente e contraditrio, no h lgica,

    interna, portanto, entre o diz o conceito e o que est contido na sentena, ou seja, postulam

    uma norma em que o conceito no conivente com a pratica lingustica contida nos

    enunciados.

    Vamos um pouco mais adiante nessa pesquisa continuar mostrando os furos GT na

    lngua portuguesa. Na Novssima Gramtica da Lngua Portuguesa de Cegala, (2008)

    encontramos a seguinte definio de pronomes os pronomes possessivos referem-se s

    pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

    (05) Volto logo, querida! Tua ausncia me faz sofrer muito!

    (06) chegou a nossa vez de exigir respeito!

    (07) D pra voc sair da minha frente, por favor?

    (08) Indiquei o meu jardineiro para o meu chefe.

    Teoricamente falando, poderamos ter posse da ausncia? De uma vez? da

    frente de algum ? Ou mesmo do jardineiro ou do chefe? ``Isso seria impossvel. Se

    dissemos ao chefe ou patro que ele nos pertence, provavelmente seramos despedidos, por

    insubordinao.

    Uma anlise discursiva desses enunciados poderamos nos mostrar que, ao invs de

    ns sermos os funcionrios subordinados ao chefe, seria o prprio chefe, ou seja, nos

    transformaria em chefe do dia para noite, mas, na realidade, o conceito de pronomes

  • possessivos que aponta Cegalla, que est provocando essa confuso e no

    necessariamente os papeis sociais, uma vez que, o que ele denomina de pronome

    possessivos so, de fato adjetivos, Bagno, (2001:20) e no possessivos. Dessa forma, bem

    as outas anlises, em que existem incoerncias internas no diz respeito aos conceitos da GT,

    isto , as ideologias que assume para fazer com que uma norma, mesmo sendo contraditria

    possa fazer parte de uma lngua.

    Assim, nessa pesquisa poderamos analisar vrios outras inadequaes conceituais

    aplicados lngua portuguesa pela Gramtica Tradicional, que ao longo dos sculos, vem

    prescrevendo doutrinas gramaticais para as lnguas, principalmente quelas derivadas do

    latim, como o portugus. E o que analisamos acima so reflexos dessas doutrinas impostas

    e criadas pela GT no Brasil durante sculos de colnia portuguesa e europeia. Sendo assim,

    nesta anlise preferimos escolher as incongruncias mais importantes as que produzem

    incoerncia e contradies lgicas internas nos postulado gramaticais.

    Consideraes Finais