gradientes alofônicos de oclusivas alveolares_freitas_m

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

    Denise Pozzani de Freitas Barbosa

    GRADIENTES ALOFNICOS DE OCLUSIVAS ALVEOLARESDO PORTUGUS BRASILEIRO EM UMA SITUAO DE

    CONTATO DIALETAL

    Dissertao apresentada banca examinadora e aoInstituto de Estudos da Linguagem da UniversidadeEstadual de Campinas como requisito parcial para aobteno do ttulo de Mestre em Lingustica.

    Orientadora: Prof Dr Eleonora Cavalcante Albano

    Campinas2011

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    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA POR

    TERESINHA DE JESUS JACINTHOCRB8/6879 - BIBLIOTECA DO INSTITUTO DEESTUDOS DA LINGUAGEM - UNICAMP

    P879gPozzani, Denise, 1981-

    Gradientes alofnicos das oclusivas alveolares doportugus brasileiro em uma situao de contato dialetal /Denise Pozzani de Freitas Barbosa. -- Campinas, SP : [s.n.],2011.

    Orientador : Eleonora Cavalcante Albano.Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de

    Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

    1. Alofonia (Fonologia). 2. Africadas (Fontica). 3.Fontica. 4. Fonologia gestual. 5. Variao (Lingstica). I.

    Albano, Eleonora Cavalcante, 1950-. II. UniversidadeEstadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem.III. Ttulo.

    Informaes para Biblioteca Digital

    Ttulo em ingls:Alveolar stops allophonic gradients of a dialect in contact.Palavras-chave em ingls:

    Allophonic gradientsAffricatesPhoneticsGestural PhonologyLinguistic variationrea de concentrao:InexistenteTitulao:Mestre em Lingustica.Banca examinadora:Eleonora Cavalcante Albano [Orientador]Maria Filomena Spatti SandaloCsar Augusto da Conceio ReisData da defesa:08-07-2011.Programa de Ps-Graduao:Lingstica.

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    Dedico este trabalho a meus pais,Elisabete e Wagner, e ao Andr.

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    AGRADECIMENTOS

    professora Eleonora Cavalcante Albano, que tem sido mais do que orientadora nestes

    ltimos anos, obrigada por dividir comigo um pouco de tanto conhecimento, obrigada pelo

    respeito, amizade e lealdade e por sua preocupao em proporcionar aos alunos uma formao

    acadmica do mais alto nvel.

    Aos sujeitos desta pesquisa, agradeo a simpatia e a disposio que sempre

    demonstraram durante as longas sesses de gravao.

    Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Filomena Sandalo e Prof. Dr. Csar

    Reis, pelas colocaes feitas na defesa. Aos membros suplentes, Prof. Dr. Rui Roth-Neves e

    Prof. Dr Wilmar DAngelis, que tambm aceitaram prontamente o convite.

    Aos professores Rui e Wilmar, agradeo, ainda, as contribuies no exame de

    qualificao. Ao Wilmar agradeo a leitura precisa e ao Rui agradeo todo o apoio, desde o

    incio da pesquisa.

    Aos professores do Departamento de Lingustica do IEL que contriburam para minha

    formao durante os ltimos anos; agradeo, especialmente, a Edson Franozo, Angel Corbera

    Mori e Rodolfo Ilari.

    Aos funcionrios do IEL, da Secretaria de Ps-Graduao, da Biblioteca e, de maneira

    especial, do Setor de Audiovisual, que me ajudaram com equipamentos de udio.

    Aos colegas do LAFAPE, Maria Claudia de Freitas, Luciana Lessa Rodrigues, Leonardo

    Oliveira, Maria Francisca Soares, Ana Paula Roza, Francisco Menezes e Larissa Rinaldi, que

    sempre tornaram o ambiente de estudo e discusso proveitoso e descontrado. Agradeo,

    ainda, ao Laudino Roces, por me ajudar a melhorar a qualidade das minhas gravaes, e ao

    Antonio Pessotti, pela colaborao na construo do corpusda pesquisa.

    A todos os meus colegas de turma do Bacharelado em Lingstica, por terem sido os

    meus primeiros companheiros na UNICAMP.

    Carolina Hebling, mais que amiga interlocutora e companheira , agradeo a

    amizade constante dos primeiros anos do Mestrado. Ao meu parceiro de tantas jornadas, DiegoJiquilin Ramirez, obrigada por me ajudar, incondicionalmente, em tudo.

    Ao CNPq, pelo apoio financeiro inicial, e FAPESP, pela bolsa de mestrado.

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    A meus pais, Elisabete e Wagner Pozzani, por me apoiarem e incentivarem em todas as

    decises importantes. Por fim, meu agradecimento e amor ao Andr, que apoiou com pacincia

    todo o percurso dedicado a este trabalho e contribuiu para a melhoria da verso final do texto.

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    A vida no nem governada pelavontade nem pela inteno. A vida uma questo de nervos, de fibras e declulas acumuladas, a que o

    pensamento se esconde, a que apaixo vive seus sonhos.

    Oscar Wilde

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    RESUMO

    Esta pesquisa descreve aspectos gradientes de uma alofonia do portugus brasileiro (PB);trata-se da palatalizao das oclusivas alveolares /t/ e /d/, que diante de /i/ passam a serproduzida preferencialmente como /t / e /d /. As chamadas africadas ocorrem categoricamenteem certos dialetos do PB, mas em outros esto em processo de implementao, j que sotidas como uma variedade de prestgio. So consideradas sons que apresentam certainstabilidade em suas fronteiras, alm de uma estrutura temporal complexa. Sendo assim, ameta descrever as nuances dos processos fonticos das africadas em um grupo de falantesde Jundia-SP que passa pelo processo da variao, pelo fato de viajarem, diariamente, paraCampinas-SP. Segundo estudos de Leite (2004, 2010), o falar da populao de Campinas considerado menos estigmatizado, e mais intermedirio em relao ao dialeto da capital doque o modo de falar apresentado na maioria das cidades do interior de So Paulo. A partir daanlise da fala de cinco estudantes do sexo masculino, verificou-se que a variao no categrica ou irreversvel, apresentando aspectos gradientes. As gravaes foram feitas a partirda leitura, em diferentes taxas de elocuo, de um conjunto de textos com palavras queapresentavam as oclusivas alveolares diante da vogal anterior. Alm disso, tambm foramgravadas amostras de palavras em uma tarefa de repetio, em que controlamos as seguintesvariveis: freqncia de ocorrncia na lngua e posio silbica da consoante estudada. Para aanlise, foram computadas as medidas de momentos espectrais (Forrest et. al. 1988). A partirda comparao dos momentos espectrais das africadas com os momentos espectrais de umconjunto de fricativas alveolares e ps-alveolares dos prprios sujeitos, estabeleceu-se, em umestudo transversal, o local de articulao das primeiras e a instabilidade das produes dogrupo dos cinco sujeitos. A metodologia estatstica utilizada foi a Anlise de Varincia (ANOVA)para medidas repetidas, seguida do testepost-hocde Tukey, para discriminao das diferenasde local. Pelas anlises estatsticas do conjunto de dados, pde-se observar como cadaparmetro espectral se comporta e, assim, entender a mudana de lugar de articulao.Realizou-se tambm uma anlise longitudinal com dois dos sujeitos, ao longo de um ano. Nestecaso, a estatstica descritiva de trs coletas de dados mostrou que os dois sujeitos observadospodem estar em estgios diferentes da implantao e que as estratgias de reparar a prpriafala podem ser mais ou menos consistentes. Tambm foi possvel verificar, pela anlise damudana de taxa de elocuo, que, num caso, h mais controle do uso da varivel inovadorana leitura normal do que na rpida. Para complementar as anlises fonticas, tambm foramfeitas entrevistas com os sujeitos, a fim de verificar suas atitudes em relao ao prprio dialeto.Os resultados que investigaram a frequncia de ocorrncia no foram significativos e aquelesque investigaram posio tnica mostraram apenas alguns resultados com significnciaestatstica. A Fonologia Gestual (Browman e Goldstein, 1992, 1995; Goldstein e Fowler, 2003)mostra-se adequada descrio e ao modelamento de processos gradientes como este,porque suas postulaes tericas do especial importncia dinmica dos processosfonolgicos. Alm disso, incorporam com sucesso os fatores tempo e magnitude, diretamente

    relacionados idia de movimento dos articuladores.

    Palavras-chave: Gradientes alofnicos, Africadas, Fontica, Fonologia Gestual, Variaolingustica.

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    ABSTRACT

    The aim of this study is to investigate palatalization of alveolar stops before [i] in a BrazilianPortuguese dialect, namely, that spoken in Jundia, a town in the state of So Paulo. Affricatesoccur in many dialects of Brazilian Portuguese as allophonic variation in such a context, while inothers dialects alveolar stops are undergoing change towards them, as they are considered aprestige variety. Affricates present some instability in their borders, and a complex temporalstructure. Thus, our goal is to describe phonetic detail in the affrication process, in a group ofspeakers who are implementing such a linguistic change, due to daily travels to Campinas.Studies by Leite (2004, 2010) show the dialect spoken in Campinas is considered lessstigmatized and more "intermediate" than others from the same state. Encouraged by theseresults, we conducted five case studies with speakers from Jundia. Preliminary data of this fivemale students showed that affricates have continuous characteristics between alveolar stopsand their post-alveolar counterparts. First recordings were made in a reading task. At differentspeech rates, subjects read a set of texts with words that had alveolar stops before the front highvowel. In addition, samples were also recorded in a word repetition task, with the followingcontrolled variables: word frequency of occurrence in the language and syllabic stress. Wemeasured spectral moments (FORREST et. al. 1988) and compared those measures to thespectral moments of a set of alveolar and post-alveolar fricatives. Conservative speakers wereexpected to prefer the alveolar productions, and less conservative ones were expected to prefereither post-alveolar or an intermediate production. The analyses were divided as follows. At first,we conducted a cross-sectional study, in witch we compared fricatives and affricates articulationof the five subjects using Analysis of variance (ANOVA) for repeated measures, followed by

    post-hoc test Tukey for discrimination of articulation place. Statistical analysis showed thebehavior of each spectral parameter. Secondly, we conducted a longitudinal analysis of twosubjects over a year. Descriptive statistics of spectral moments of three data session showedtheir speech at different stages, using different repair strategies; it also showed sufficientvariation so as to indicate instability in affricate implementation . It also was observed, bychanges in speaking rate, which subject were more consistent in the uses of innovation. Tocomplement the phonetic analysis, interviews were conducted, in order to gather some of theirattitudes toward their own dialect. Gestural Phonology (BROWMAN & GOLDSTEIN, 1992, 1995,GOLDSTEIN & FOWLER, 2003) has proven to be adequate for describing and modeling thegradient processes involved this variation. Since its theoretical postulates capture the dynamicsof speech production over small stretches of time, we hope they also help illuminate thedynamics of language change.

    Key words:Allophonic gradients, Affricates, Phonetics, Gestural Phonology, Linguistic variation.

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Detalhamento das coletas de dados com cada sujeito 24

    Tabela 2: Descrio dos objetivos de cada bloco da tarefa de repetio 30Tabela 3: Valores mdios dos quatro momentos espectrais para as fricativas do

    ingls americano 33

    Tabela 4: Caractersticas dos valores esperados para os quatro momentos

    espectrais das fricativas alveolar e ps-alveolar 39

    Tabela 5: Resultados da ANOVA (local x sonoridade) para a diferenciao entre

    as fricativas alveolares e ps-alveolares 39

    Tabela 6: Resultados do teste post-hoc de Tukey para a diferenciao entre

    local alveolar e ps-alveolar 39Tabela 7: Caractersticas dos valores dos momentos espectrais para as regies

    alveolar e ps-alveolar 44

    Tabela 8: Resultados da ANOVA (local x sonoridade) para a diferenciao entre

    as fricativas alveolares e ps-alveolares e as oclusivas 48

    Tabela 9: Resultados do teste post-hoc de Tukey para a diferenciao entre

    local alveolar, ps-alveolar e as oclusivas 48

    Tabela 10: Mdias dos momentos espectrais das fricativas alveolares e ps-

    alveolares de S1 e S2 57Tabela 11: Resultados do teste t para amostras dependentes (baixa x alta

    frequncia) 65

    Tabela 12: Estatstica descritiva dos momentos espectrais da tarefa de repetio

    (bloco de anlise da frequncia de ocorrncia) 66

    Tabela 13: Resultados do teste tpara amostra dependentes (tnica x ps-tnica) 67

    Tabela 14: Estatstica descritiva dos momentos espectrais da tarefa de repetio

    (bloco de anlise da tonicidade) 68

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Onda e espectrograma da palavra ltima pronunciada como

    africada com a seleo do rudo a ser analisado

    32

    Figura 2: Espectro de [ ] 32

    Figura 3: Espectro de [s] 33

    Figura 4: Centroide (Hz) das fricativas alveolares e ps-alveolares dos

    cinco sujeitos

    40

    Figura 5: Diferenas estatsticas entre o Centroide das fricativas

    alveolar e ps-alveolar

    43

    Figura 6: Desvio Padro (Hz) das fricativas alveolares e ps-alveolares

    dos cinco sujeitos

    43

    Figura 7: Diferenas estatsticas entre o Desvio Padro das fricativas

    alveolar e ps-alveolar

    42

    Figura 8: Curtose das fricativas alveolares e ps-alveolares dos cinco

    sujeitos

    42

    Figura 9: Diferenas estatsticas entre a Curtose das fricativas alveolar

    e ps-alveolar

    43

    Figura 10: Assimetria das fricativas alveolares e ps-alveolares dos

    cinco sujeitos

    43

    Figura 11: Diferenas estatsticas entre a Assimetria das fricativas

    alveolar e ps-alveolar

    44

    Figura 12: Porcentagem de ocorrncia de africadas surdas 46

    Figura 13: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras 46

    Figura 14: Onda e espectrograma da palavra sndico pronunciada sem

    rudo por S5

    47

    Figura 15: Onda e espectrograma da palavra sndico pronunciada com

    rudo africado por S547

    Figura 16: Diferenas estatsticas entre o Centroide das fricativas

    alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos

    49

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    Figura 17: Diferenas estatsticas entre o Desvio Padro das fricativas

    alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos

    49

    Figura 18: Diferenas estatsticas entre a Assimetria das fricativas

    alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos 50

    Figura 19: Diferenas estatsticas entre a Curtose das fricativas alveolar

    e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos

    50

    Figuras 20 e 21: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e

    Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida

    S1

    51

    Figuras 22 e 23: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e

    Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS1

    52

    Figuras 24 e 25: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e

    Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida

    S2

    52

    Figuras 26 e 27: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e

    Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS2

    53

    Figuras 28 e 29: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e

    Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida

    S3

    53

    Figuras 30 e 31: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e

    Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS3

    53

    Figuras 32 e 33: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e

    Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida

    S4

    54

    Figuras 34 e 35: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e

    Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS4

    54

    Figuras 36 e 37: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e

    Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida

    S5

    55

    Figuras 38 e 39: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e

    Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS5

    55

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    Figura 40: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras em trs

    coletasS1

    55

    Figura 41: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras em trs

    coletasS2

    57

    Figuras 42 e 43: Faixas de valores do Centroide (Hz), nas trs coletas de

    dadosfala normalS1 e S2

    58

    Figuras 44 e 45: Faixas de valores do Desvio Padro (Hz), nas trs coletas de

    dadosfala normalS1 e S2

    59

    Figuras 46 e 47: Faixas de valores da Assimetria, nas trs coletas de dados

    fala normalS1 e S2

    59

    Figuras 48 e 49: Faixas de valores da Curtose, nas trs coletas de dados

    fala normalS1 e S2

    60

    Figuras 50 e 51: Faixas de valores do Centroide (Hz), nas trs coletas de

    dadosfala rpidaS1 e S2

    61

    Figuras 52 e 53: Faixas de valores do Desvio Padro (Hz), nas trs coletas de

    dadosfala rpidaS1 e S2

    61

    Figuras 54 e 55: Faixas de valores da Assimetria, nas trs coletas de dados

    fala rpidaS1 e S2

    62

    Figuras 56 e 57: Faixas de valores da Curtose, nas trs coletas de dados

    fala rpidaS1 e S2

    62

    Figura 58: Valores da Assimetria nas duas freqncias de ocorrncia

    (alta e baixa)S1

    65

    Figura 59: Valores do Centroide (Hz) nas duas posies (tnica e ps-

    tnica)S2

    67

    Figura 60: Valores do Desvio Padro (Hz) nas duas posies (tnica e

    ps-tnica)S2

    67

    Figura 61: Pauta gestual de [t ] 69

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    SUMRIO

    Introduo ............................................................................................................... 1

    Captulo IAporte terico I: A variao lingustica ................................................ 51. Africadas como alofones ..................................................................................... 5

    2. Diferentes enfoques dos estudos de variao .................................................... 5

    2.1 Variao e mudana: panorama .................................................................. 6

    2.2 A aquisio dialetal ...................................................................................... 7

    3. Algumas variaes que caracterizam o portugus brasileiro de So Paulo ....... 9

    Captulo IIAporte terico II: Teoria fonolgica e a relao entre Fontica e

    Fonologia ................................................................................................................11

    1. A palatalizao no PB e diversas teorias fonolgicas ........................................ 111.1 Fonologia Gerativa ....................................................................................... 11

    1.2 Fonologia de Uso e de Exemplares ............................................................. 13

    2. Modelos dinmicos e Fonologia Gestual ............................................................ 15

    3. Africadas nos estudos fonticos ......................................................................... 18

    4. Discusso ........................................................................................................... 19

    Captulo IIIPanorama geral da Metodologia ....................................................... 21

    1. Um impasse metodolgico: anlise fontico-acstica de uma variao

    lingustica ................................................................................................................

    21

    1.1 O caminho entre dados de fala espontnea e de laboratrio ...................... 22

    2. Descrio da Metodologia .................................................................................. 22

    2.1 Sujeitos ........................................................................................................ 22

    2.1.1 Entrevistas ........................................................................................... 24

    2.2 Materiais e mtodos da coleta de dados ..................................................... 24

    2.2.1 Estratgias para a coleta de dados ..................................................... 25

    2.2.1.1 Tarefa de leitura ........................................................................... 25

    2.2.1.2 Variando a taxa de elocuo ....................................................... 272.2.1.3 Tarefa de repetio ....................................................................... 28

    2.3 Anlise fontica ............................................................................................ 31

    2.3.1 Anlise espectral .................................................................................. 31

    2.4 Descrio geral dos procedimentos de anlise ........................................... 34

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    Captulo IVAs produes africadas: um processo de variao e mudana em

    curso .......................................................................................................................35

    1. Os sujeitos .......................................................................................................... 35

    1.1 Observao inicial ........................................................................................ 351.2 Analisando os questionrios ........................................................................ 36

    2. As fricativas alveolares e ps-alveolares dos falantes ....................................... 38

    2.1 Anlise de sons fricativas: objetivos e mtodo ............................................ 38

    2.2 Caractersticas dos sons /s, , z, / do portugus brasileiro ........................ 38

    3. Tarefa de leitura .................................................................................................. 45

    3.1. Estudo transversal da variao ................................................................... 45

    3.1.1 Detalhamento metodolgico ................................................................ 45

    3.1.2 Resultados ........................................................................................... 453.1.2.1 Anlise de varincia da fala dos cinco sujeitos em taxa normal

    de elocuo ..............................................................................................47

    3.1.2.1.1 Discusso da anlise transversal ........................................ 51

    3.1.2.2 Descrio dos resultados em diferentes taxas de elocuo ......... 51

    3.1.2.2.1 Discusso ............................................................................. 55

    3.2. Estudo longitudinal da variao .................................................................. 56

    3.2.1 Detalhamento das trs coletas de dados ............................................. 56

    3.2.2 Resultados da anlise longitudinal em taxa de elocuo normal ........ 583.2.3 Resultados da anlise longitudinal em taxa de elocuo rpida ......... 61

    3.2.4 Discusso final ..................................................................................... 63

    4. Tarefa de repetio ............................................................................................. 64

    4.1. Efeitos da frequncia de ocorrncia das palavras ...................................... 64

    4.1.1 Detalhamento da anlise ..................................................................... 64

    4.1.2 Resultados e discusso ....................................................................... 64

    4.2 Influncia da posio tnica ......................................................................... 66

    4.2.1 Detalhamento da anlise ..................................................................... 66

    4.2.2 Resultados e discusso ....................................................................... 67

    Captulo VConsideraes finais .......................................................................... 69

    Referncias bibliogrficas ....................................................................................... 73

    Anexos .................................................................................................................... 79

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    INTRODUO

    Esta pesquisa tem como meta explorar, sob novas perspectivas, aspectos de um

    problema j bastante abordado nos estudos do portugus brasileiro (doravante, PB), na rea deFontica e Fonologia. A pretenso foi tecer novas consideraes sobre a produo de duas

    consoantes do PB, as oclusivas alveolares /t/ e /d/, que se tornam africadas em contexto

    favorvel palatalizao. J explicava Maia (1999, p. 106) que muito se pergunta sobre a

    pronncia mais ou menos chiada do /t/ diante de [i].

    Segundo a mesma autora (1999, p. 108), podem existir graus de produo africada.

    Assim, indagaes acerca desta dinmica do som nos levaram tentativa de observar alguns

    exemplos de dados que permitissem verificar tais graus distintos de produo africada em um

    grupo de falantes, assim como na fala de uma mesma pessoa, tentando investigar a ideia deque o estudo do som vai alm de distines estticas e que as contribuies de anlises

    fonticas podem problematizar com mais consistncia certas distines fonolgicas.

    Os estudos em Fontica e Fonologia tm passado por vrias mudanas, acompanhando

    os avanos das cincias da linguagem, bem como dos estudos relacionados s cincias da

    cognio e da fala e Sociolingustica. Desde o Estruturalismo, temos a ciso entre as duas

    reas referentes aos sons das lnguas.

    Ao relativizar as razes do conceito de fonema e de oposies, questionamos alguns

    aspectos do campo dos estudos fonolgicos. Conforme diz Albano (2002, p. 9), tais razesesto fortemente ligadas concepo do alfabeto, como modelo e como metfora. Os estudos

    em Fonologia sempre se preocuparam em transformar a fala em um sistema simblico, da a

    constante tentativa de reduzir a fala a uma escrita. Os questionamentos deste trabalho

    surgiram da necessidade de explicar o chamado detalhe fontico, que se manifesta

    variavelmente e, a despeito do que categrico, no sentido estrito, um campo muito rico que

    envolve distines muitas vezes mnimas, mas que tm importncia lingustica.

    Em Trubetskoy (1981 [1933]), ocorre a bipartio fundamental para a fundao destes

    dois campos de estudo. Com a forte separao que ao longo do tempo ocorreu entre a Fonticae a Fonologia, a diferena no modo como uma e outra encaram os seus objetos aparentemente

    se acentuou; de um lado, vemos os estudos da fsica da produo da fala e, de outro, os

    modelos fonolgicos que conceberam o fonema e levaram suas concepes at o trao

    distintivo, na Teoria Gerativa. Segundo a mesma autora (2002, p. 14), prosseguindo na histria

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    deste campo de estudos, [] os modelos fonolgicos mais recentes desviam-se da

    seqencialidade, mas

    [], por outro lado, permanecem atrelados a uma concepo do tempo comosucesso de instantes indivisveis, s relacionados ao movimento dos

    articuladores enquanto sinais de controle, de natureza simblica, que instruemsobre o que fazer mas no sobre como. O modo de execuo fica a cargo dasincomensurveis leis fsicas que regem a posio dos corpos no espao e notempo.

    A partir de meados do sculo XX, por outro lado, as cincias da fala se preocupam em

    integrar as cincias da linguagem, tentando no ficar margem como apenas a faceta fsica

    dos sistemas fonolgicos. Em meio a isso, surgem questes que desafiam a interface entre

    Fontica e Fonologia, como a questo da invarincia fontica (LINDBLOM, 1989), questes de

    percepo categrica e outras.

    O estudo de estratgias de reparo, adaptaes alofnicas e de controle em tempo real,

    os chamados ajustes online, usados em situaes de diferenas dialetais, pode oferecer

    interessantes evidncias para teorias dinamicistas, tanto a que trata do gesto articulatrio

    quanto aquelas que tratam de outros processos cognitivos.

    Esta pesquisa tenta responder a questes sobre como a evocao dos gestos

    articulatrios feita a partir de requisitos que extrapolam a configurao fontica do prprio

    falante. Tentou-se, assim, em concordncia com Albano (2006, p. 2),

    explorar o papel da gestualidade fnica na construo de uma identidade, de

    uma voz polifnica, prpria do indivduo oudo grupo social, a qual, uma vezinstaurada, possa atuar sobre a seleo de gestos fnicos e dos seusparmetros constitutivos e moduladores.

    A partir de tais consideraes, estabeleceu-se como objetivo geral realizar observaes

    da produo de fala de uma comunidade especfica de falantes do PB. So estudantes da

    cidade de Jundia, no estado de So Paulo, que se deslocam diariamente para outra cidade do

    mesmo estado, Campinas, por conta de seu curso universitrio. A pesquisa se insere na rea

    de Fontica e Fonologia, porm adentra tambm o campo da Sociolingustica, ao tratar da

    variao que d indcios de uma mudana dialetal em curso.

    O objeto da pesquisa so as oclusivas alveolares /t/ e /d/ produzidas diante de [i], que se

    tornam africadas nesse contexto. A partir de uma perspectiva dinmica de produo da fala,

    adotando o quadro terico da Fonologia Gestual e de anlises de produo de fala, procura-se

    explicar como tais africadas comeam a ser produzidas, como so gradualmente implantadas

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    como variantes inovadoras e como as individualidades de cada falante observado lidam com a

    articulao dos gestos envolvidos na produo de tais variantes, to recentes para eles. Ainda,

    estudou-se em que medida as estratgias utilizadas so mais ou menos controladas e/ou

    manipuladas pelos falantes, na tentativa de responder a questes como as seguintes: fatorescomo o acento tnico ou taxas mais altas ou baixas de elocuo influenciam na produo da

    africada?

    Sabe-se que a produo de africadas um fenmeno comum no portugus brasileiro, e

    raramente ocorre diante de outras vogais que no a vogal fechada alta somente em certas

    palavras como fonema inovador, como tchau, tcheco, tch, ou em produes que marcam

    diferenas bastante especficas, como tchurma, lindja, etc. (CHRISTOFARO-SILVA, s.d.).

    Tambm notrio que o fenmeno da produo das africadas parece ser mais categrico em

    algumas regies do pas. Apesar de, no Brasil, haver uma tendncia palatalizao dasalveolares nesse contexto, segundo pesquisa com dados do NURC1, h cidades em que o

    processo parece ser mais fragmentado, como So Paulo e Porto Alegre (ABAURRE e

    PAGOTTO, 2002). Ressalta-se, ento, que o acompanhamento mais detalhado de alguns

    falantes pode esclarecer aspectos que deixam de ser notados em pesquisas sociolingusticas

    mais gerais, com grandes grupos de sujeitos.

    Para alcanar os objetivos aqui propostos, a dissertao est dividida em cinco

    captulos.

    No primeiro, apresentam-se os objetivos situados no bojo das anlises sociolingusticas

    e de aquisio dialetal: percorrem-se alguns pontos da Sociolingustica variacionista, mais

    especificamente, para que se entenda como o trabalho trata a anlise da variao e como ele,

    indiretamente, aponta para uma descrio da mudana lingustica em foco.

    O segundo traz discusso fatos da teoria fonolgica e do desenvolvimento das

    pesquisas em fontica, especialmente em relao ao fenmeno estudado, destacando-se

    tambm a importncia dos estudos em Fontica e Fonologia que envolvem abordagens

    dinmicas das questes da fala.

    O terceiro captulo aborda o percurso metodolgico feito durante a pesquisa. Nele

    discutem-se as dificuldades de se conciliar as metodologias sociolingusticas s da Fontica

    Experimental. Alm disso, o captulo detalha a seleo dos sujeitos, as estratgias de gravao

    e as formas de anlise dos dados.

    1Projeto Norma Urbana Culta.

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    O quarto captulo traz um panorama do estado da variao, com uma descrio

    transversal dos dados, e dois estudos de caso em uma anlise longitudinal, detalhando o

    percurso da variao durante um ano. Tambm explora as mudanas no ritmo da fala dos

    sujeitos, verificando suas implicaes para a variao, e mostra resultados de uma tarefacontrolada que verificou variveis como posio tnica e frequncia de ocorrncia no lxico.

    No captulo final, discutem-se as implicaes dos resultados obtidos e das estratgias

    individuais de cada sujeito para os processos de variao e mudana como um todo, bem como

    para as outras questes consideradas relevantes para uma abordagem dinmica dos estudos

    da fala e da linguagem.

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    CAPTULO IAPORTE TERICO I: A VARIAO LINGUSTICA

    1. AFRICADAS COMO ALOFONES

    As descries fonolgicas, em geral, costumam lidar com operaes muito bsicas no

    que concerne presena ou ausncia de alofonias nas lnguas, utilizando a noo de

    distintividade no reconhecimento de fonemas e alofones. Esse primeiro passo de descrio leva

    a constatar a variao na fala de um grupo. Analisar uma alofonia, porm, dentro da ampla

    gama de quadros tericos vigentes, tarefa complexa e causa divergncias explicativas entre

    teorias.

    A palatalizao das oclusivas alveolares do PB, por exemplo, tem sido amplamenteabordada como um caso de assimilao regressiva de traos da vogal, do ponto de vista de

    teorias no-lineares do Programa Gerativista, como a Fonologia Autossegmental e a Geometria

    de Traos (HORA, 1993, PAGOTTO, 2002 e ABAURRE E PAGOTTO, 2002), teorias que

    tentam se distanciar da descrio atemporal. Hora (1993) se baseia em dialeto falado no interior

    da Bahia; j Pagotto (2002) procura descrever a variao das oclusivas alveolares que ocorre

    na cidade de Florianpolis-SC e a identidade dos grupos de falantes envolvidos na produo.

    Diferentemente de locais como o Rio de Janeiro, algumas capitais da regio Sul e a

    cidade de So Paulo, os locais de interesse dos pesquisadores sempre apresentam variao deproduo; essas variaes so relevantes por acontecerem de maneira prpria em cada local e

    por revelarem peculiaridades. Algumas destas esto em explicaes sociais, como as

    formaes de socioletos mais especficos por determinados grupos, pois, geralmente, as

    mudanas ocorrem seguindo uma determinada faixa etria ou situaes de prestgio ou

    desprestgio. Muitas vezes, so captadas apenas por estudos detalhados das motivaes

    sociais que desencadeiam as mudanas para certos grupos de falantes.

    2. DIFERENTES ENFOQUES DOS ESTUDOS DE VARIAO

    Dos neogramticos, passando por Saussure, at a contemporaneidade, debate-se o tipo

    de objeto de observao que compete ao estudioso da linguagem: a comunidade real ou o

    falante idealizado abstrado ao mximo no estudo da competncia lingustica. A pesquisa

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    linguistca surgida no sculo XX, na esteira da distino saussureana entre diacronia e

    sincronia, separou, muito prontamente, a teoria da mudana da teoria da estrutura, e os efeitos

    desta separao ainda se fazem presentes hoje em dia.

    Apesar disso, em meados da dcada de 1960, surge, na contracorrente, a vertentelaboviana da Sociolingustica, procura de uma descrio mais realista da competncia dos

    membros da comunidade, verificando como os desvios do sistema no so meramente

    diferenas aleatrias de desempenho (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 60).

    Abandonada e retomada no curso da histria dos estudos lingusticos, a diversidade real

    do comportamento lingustico parece ter obtido espao suficiente dentro da comunidade, ao

    menos da Sociolingustica. A ideia de observar mudanas dialetais e conseguir mostr-las em

    curso no foi, contudo, o primeiro interesse do campo. Os primeiros trabalhos variacionistas do

    prprio Labov tratavam mais fortemente de variaes inerentes, aquelas que aparecem deforma espontnea, e no em consequncia de contato.

    2.1 Variao e mudana: panorama

    Os estudos de variao lingustica se expandiram e, desde o surgimento do forte

    paradigma laboviano, a metodologia da rea tem sido amplamente discutida, incorporando

    mtodos das Cincias Sociais e da Psicologia Experimental. Os diferentes enfoques dos

    estudos de variao envolvem tanto anlises quantitativas, com estudos de populao, quanto

    anlises qualitativas e estudos de caso, integrados populao. H, ainda, linhas de pesquisa,

    que se firmaram tambm em meados do sculo XX, cujo enfoque se fundamenta na pesquisa

    interacional e na anlise da conversao, como as pesquisas de Gumperz e Goffman, entre

    outros.

    Milroy e Milroy (1985) lembram, com muita pertinncia, que, apesar de o objetivo mais

    evidente da Lingustica ser a descrio dos universais da mudana, a metodologia

    sociolingustica nunca deixou de ser comparativa. A Sociolingustica tambm se vale, de certo

    modo, de um mtodo comparativo em que lnguas de diferentes indivduos ou grupos so

    comparadas (1985, p. 344). O que faz a Lingustica moderna diferir das observaes feitas

    pelos neogramticos o fato de que estes objetivavam a reconstruo de lnguas extintas.

    A partir de uma gama de trabalhos sobre variao e depois de a rea se firmar, muitas

    subreas tm aparecido nas ltimas dcadas, procurando dar conta da variao a partir de

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    outras abordagens metodolgicas ou da mistura entre abordagens sociolingsticas com

    campos experimentais diferentes. Um exemplo o campo da Sociofontica, que, segundo

    Foulkes (s/d) ganhou independncia nos ltimos anos e tem combinado desenhos

    experimentais altamente controlados com a observao de produo e percepo de fala emsituaes cotidianas, utilizando amostras heterogneas.

    2.2 A aquisio dialetal

    As pesquisas interdialetal, de contato entre lnguas e de mistura de lnguas ganharam

    fora mais tardiamente criao da metodologia variacionista, com os estudos de Trudgill

    (1986) e seu interesse pelos mecanismos de acomodao decorrentes do contato, dentro de

    um novo paradigma: a dialetologia quantitativa.Abriu-se, ento, um campo de investigao para as mudanas lingsticas induzidas

    pelo contato e a formao de novos dialetos. O livro Dialects in contact (TRUDGILL, 1986)

    mostra preocupao com as consequncias microlingusticas da acomodao, e j demonstra

    um interesse inicial pela interao face a face.

    Este trabalho trata do contato intralingustico entre variedades de uma mesma lngua.

    Alm de se inserir num campo que trata do contato entre dialetos, a presente dissertao

    pretende capturar a mudana que acompanha a mobilidade social e geogrfica dos falantes (cf.

    MILROY, 2002) e a relao da variao e da mudana em curso com suas atitudes lingusticas.

    Milroy e Milroy (1985) destacam a importncia da abordagem que explique o como as

    lnguas mudam de estado, em termos dos processos sociais envolvidos e das mudanas de

    estrutura operadas. Argumentando que motivaes sociais so importantes na explicao da

    mudana, seu especial enfoque para as inovaes dos falantes so interessantes meios de se

    revelar que tais inovaes no esto relacionadas somente a classes sociais ou a posies de

    status de determinados falantes, mas se do por meio de laos entre membros de diversos

    grupos conectados por redessociais, que permitem o fluxo das inovaes de um grupo para

    outro. A mobilidade geogrfica, segundo os pesquisadores, um fator que leva os indivduos ao

    estabelecimento de relaes com indivduos de outros grupos, como o caso de nossos

    sujeitos.

    Os estudos de aquisio dialetal surgiram no bojo da dialetologia geogrfica. Segundo

    Chambers (1992, p. 673), uma das situaes sociolingusticas mais comuns aquela em que

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    os falantes mudam de regio e adotam algum traoda variedade do novo dialeto encontrado,

    especialmente nos dias de hoje, em que a mobilidade regional muito frequente. Para entender

    os mecanismos da aquisio dialetal, segundo o mesmo autor, necessrio um enfoque na

    observao de falantes de reas de transio, diferentemente do que ocorre nos estudos dosgrandes atlas geogrficos, nos quais a preferncia dada a falantes mais enraizados na sua

    regio h vrias geraes (regies estas que so mais isoladas, normalmente), sem tanto

    contato com falantes de outras reas.

    Chambers (1992, p. 675) explica que o fenmeno adquirido no contato pode ser apenas

    uma acomodao ou uma aquisio de longo termo, que passa a fazer parte do dialeto do

    falante. Outros princpios importantes da aquisio dialetal citados por ele so o de que: i) tanto

    no nvel lexical quanto no fonolgico, a mobilizao para a aquisio da nova configurao

    dialetal no ocorre sem a interferncia dos traos do dialeto inicial, e ii) as inovaesfonolgicas so, de incio, consideradas variaes de pronncia, princpio tambm divulgado

    pela teoria da difuso lexical.O conceito de difuso (LABOV, 2007) lida com a ideia de que

    adultos tm a capacidade de realizar mudanas em seu sistema lingustico, a partir do contato

    ou das ondasde mudana.

    A aquisio dialetal tambm pode ser estudada com a mesma metodologia dos estudos

    de aquisio de segunda lngua. Munro et. al. (1999) argumentam que o aprendizado de um

    segundo dialeto semelhante aquisio de uma segunda lngua. Explicam que, em muitos

    casos, os resultados de estudos de aprendizagem das caractersticas fonticas de uma

    segunda lngua mostram uma produo considerada intermediria para os ouvintes desta.

    O que se nota que muitos campos se interessam pelo estudo da variao. De

    diferentes maneiras, distintas abordagens tentam dar conta do produto intermedirio que acaba

    por surgir em decorrncia do contato entre vrios dialetos de uma mesma lngua. Esta pesquisa

    se preocupa em detalhar os aspectos fonticos do aparecimento das africadas, sem deixar de

    lado, no entanto, questes importantes para o entendimento do comportamento dos falantes e

    suas motivaes.

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    3. ALGUMAS VARIAES QUE CARACTERIZAM O PORTUGUS BRASILEIRO DE SO

    PAULO

    O portugus do interior de So Paulo conhecido, principalmente, por alguns aspectosque compem a chamada fala caipira. Dentre estes, o que mais caracteriza a fala dos

    interioranos a retroflexo do /r/ (AMARAL, 1920, apud LEITE, 2004). Associadas a isso, as

    oclusivas alveolares no palatalizadas diante de /i/ tambm contribuem para o reconhecimento

    de um falar considerado do interiorem contraposio ao modo de falar da capital, apesar de

    as africadas tambm ocorrerem em algumas regies interioranas do estado.

    Ainda que, atualmente, a produo de /t/ e /d/ no africados estaja associada mais

    fortemente a apenas determinadas regies paulistas ou a grupos de falantes mais idosos, ela

    ainda se faz presente em boa parte do estado, e, em muitas regies, aparece na fala de gruposjovens.

    Contudo, o modo de falar da regio de Campinas considerado mais prximo ao da

    capital, ou mais intermedirio, como afirma Leite (2004), cujo estudo toma um objeto

    semelhante ao nosso, pois trata da fala de estudantes da UNICAMP e de suas atitudes em

    relao ao prprio dialeto. A pesquisadora selecionou a variante retroflexa como foco de

    observao e constatou que estudantes do interior paulista da cidade de So Jose do Rio

    Preto , quando em contato com falantes campineiros, tentam acobertar a realizao da

    aproximante retroflexa, devido ao estigma a ela imputado. Sua pesquisa revelou que os

    informantes acabavam optando por outras variantes consideradas intermedirias, e

    supostamente mais prestigiosas, segundo eles.

    Conforme a avaliao de muitos falantes do estado de So Paulo, Campinas

    considerada uma cidade frente das outras, mais cosmopolita, socioeconomicamente mais

    desenvolvida. Segundo Leite (2010, p. 8), a regio metropolitana de Campinas a nicacujo

    ncleo no tambm capital estadual, uma espcie de capital do interior (idem). Sendo

    assim, muito comum que falantes de cidades menores em contato com outros, da regio

    metropolitana em questo, procurem disfarar, em sua fala, aspectos considerados de

    desprestgio, que a estigmatizam como carregada, puxada, feia (LEITE, 2004, p. 21), i.e.,

    avaliada de forma negativa por seus novos pares.

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    CAPTULO IIAPORTE TERICO II: TEORIA FONOLGICA E A RELAO ENTRE

    FONTICA E FONOLOGIA

    1. A PALATALIZAO NO PB E DIVERSAS TEORIAS FONOLGICAS

    Os esboos de descries dialetais e de representaes fonolgicas da variao das

    oclusivas alveolares no PB tm deixado de lado no s peculiaridades fonticas inerentes a

    cada variao, mas tambm detalhes observveis apenas com as lentes de aumento das

    anlises acsticas, espectrais e articulatrias. imprescindvel que uma boa descrio

    fonolgica da variao se baseie em uma boa observao fontica, de dados reais.

    natural, portanto, pensar que uma descrio dialetal seja aquela que se prope, em

    um momento inicial, a descrever os dados, antes de fazer generalizaes a partir da

    observao impressionista de uma variante.

    Tal foi o caminho percorrido; por esse motivo, somente um aporte terico que leve em

    conta os detalhes da variao alofnica pode explicar certas alofonias, como a das oclusivas e

    africadas de certos dialetos do PB. Assim, possvel propor, a partir de uma fonologia de base

    dinmica, a descrio da variao dialetal, pois esta se interessa por questes diretamente

    relacionadas aos articuladores e aos gestos envolvidos na produo da fala.

    1.1 Fonologia Gerativa

    No quadro terico da Fonologia Gerativa, a palatalizao das oclusivas alveolares do PB

    merece a ateno de alguns pesquisadores brasileiros desde a dcada de 1980. A maioria

    deles possui enfoque na descrio dos aspectos fonolgicos e/ou extralingusticos, desde

    estudos regionais sobre a variao, como o de Bisol (1986), sobre a alternncia do uso das

    oclusivas e das africadas em Porto Alegre, at estudos mais gerais, como a pesquisa de

    Abaurre e Pagotto (2002), integrante da Gramtica do Portugus Falado, que apresenta uma

    anlise baseada em corpus do NURC, com dados de cinco capitais brasileiras. Certamente,

    trata-se de um estudo de grande importncia, mas se diferencia da abordagem aqui referida,

    que realiza estudos de caso com anlises fonticas. Por um lado, estudos deste porte no

    permitem anlises fonticas mais detalhadas; por outro, tm relevncia por mostrarem

    tendncias gerais relativas a variveis lingusticas ou extralingusticas.

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    Outra pesquisa importante sobre as africadas do PB de Hora (1993) que, por sua vez,

    toma a variao do interior da Bahia, e utiliza uma abordagem diferente, realizando sua

    descrio atravs de teorias no-lineares do Programa Gerativista, a Teoria Autossegmental e a

    Geometria de Traos, com base nas respectivas propostas de Goldsmith (1976) e Clements(1985). A abordagem tomada pelo autor, ancorada no fato de que os segmentos tm estrutura

    interna que vai alm de um conjunto de traos, leva-o a considerar a palatalizao como um

    processo de assimilao regressiva, resultante do espraiamento de um trao [+coronal], e a

    converso das consoantes /t/ e /d/ em [-anterior].

    Segundo ele, essa abordagem mais interessante para as oclusivas dentaisdo que a

    que considera a palatalizao como resultado do conjunto ndulo Dorsal mais o trao [-

    posterior], o que no diferencia, dentro da Teoria Autossegmental, a palatalizao das coronais

    da que ocorre com as labiais, por exemplo. A concluso do autor de que a melhor forma deconsiderar a conexo coronal-palatal ancorar os traos da palatalizao em um ndulo

    Coronal. A viso adotada trata, ento, a palatalizao como efeitos de ligamentos e

    desligamentos de traos, o que traz o fenmeno luz de teorias mais recentes e o considera

    como um segmento complexo.

    A pesquisa realizada por Abaurre e Pagotto tambm considera a palatalizao como um

    processo de assimilao dos traos da vogal [i], o que d origem, tambm segundo eles, a um

    segmento complexo, cuja conseqncia uma realizao africada: [t ] ou [d ].

    Do ponto de vista sociolingustico, a anlise por eles desenvolvida revelou informaesmuito pertinentes acerca da distribuio dialetal das variantes por regio geogrfica. Ao

    contrrio do que era esperado, no h uma separao dialetal Norte/Sul para a variao em

    questo. No Rio de Janeiro e em Salvador, o processo aparentou ser mais categrico, com

    freqncia de [t ] de, respectivamente 100% e 85%; j em So Paulo, a palatalizao apareceu

    em 73% dos casos estudados; em Porto Alegre, em 40%; e em Recife, apenas 7% dos casos

    apresentaram a palatalizao. Com base em tais resultados, os autores afirmam que no se

    pode falar, do ponto de vista histrico, em espalhamento geogrfico. Apesar de, no Brasil,

    existir uma forte tendncia palatalizao, as explicaes externas seriam outras.

    O estudo em questo difere deste em outro aspecto, ao considerar a variante africada

    alveolar [ts] apenas como um efeito marginal de outros processos fonticos, como uma

    aspirao que produz efeito acstico de uma africao. Talvez pelo grande enfoque que aqui se

    deu ao processo gradual da mudana, neste trabalho, destaca-se a relevncia da africada

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    produzida na regio alveolar. A africada alveolar aparece na pronncia de nossos cinco

    informantes e, em nossas anlises, apresenta caractersticas de rudo muito parecidas quelas

    da fricativa [s], o que nos levou a consider-la como variante significativa das produes.

    1.2 Fonologia de Uso e de Exemplares

    Outro ponto de vista surgido recentemente nos estudos fonolgicos o da relevncia do

    papel do uso da lngua na descrio dos sistemas de som das lnguas naturais. As reflexes

    aqui desenvolvidas se iniciam sob a perspectiva de Bybee (2001), segundo a qual a noo de

    uso modifica a natureza da representao mental e at a prpria forma fontica das palavras.

    Segundo ela, nas teorias sobre linguagem, pouco se tem analisado o uso; muitos

    pesquisadores, ao longo dos estudos lingusticos, aliceraram seus programas de pesquisa naateno estrutura do conhecimento compartilhado (chamado de lnguapor Saussure, 1916, e

    de competncia, por Chomsky, 1965). Poucos deram ateno ao que a autora chama

    language use in real time.

    Esse modo de olhar o objeto lingustico , sem dvida, altamente produtivo. Em seu livro

    Phonology and Language Use, a autora mostra, no entanto, que o foco dado estrutura pode

    ser complementado por uma viso que inclui dois outros importantes fenmenos da linguagem:

    a substncia e o uso. Neste ltimo, em particular, reside a sua contribuio a esta pesquisa.

    Para Bybee (2001), a noo de uso inclui no somente o processamento da lngua, mas todos

    os fenmenos sociais e interacionais em que a linguagem est inserida.

    A maioria dos fonlogos v nas descries fonticas a motivao inicial para as suas

    prprias, e tal fato sempre foi assumido como ponto de partida em qualquer descrio dos

    sistemas fonolgicos das lnguas. Poucos, porm, na opinio da autora, olharam

    profundamente para os fatos fonticos.

    As distines estruturalistas foram construdas na concepo de que o objeto da

    descrio lingustica puramente mental. Mas certo que, de alguma maneira, o uso real

    afeta as representaes estruturais da lngua. Bybee explica:

    Of course, there is some value in distinguishing mental representations fromthe social activities upon which they are based, but totally excluding factors ofuse from consideration ignores the potential relation between representationand use. It is certainly possible that the way language is used affects the way itis represented cognitively and thus the way it is structured. (2001, p. 5)

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    Toda a argumentao da autora persegue um modelo de descrio lingustica baseado

    no uso, cujos princpios norteadores interessam, sobretudo, por afirmarem que a experincia

    afeta a representao. A linguagem vista, portanto, como um sistema que emerge como

    resultado de capacidades cognitivas gerais interagindo com a substncia da lngua em muitasinstncias de uso.

    O papel criativo da repetio influencia tanto a construo de categorias como as

    mudanas que emergem em situaes em que um falante, influenciado pelo uso em tempo real,

    lana mo de tentativas de reestruturar o sistema fonolgico de seu dialeto, ou seja, situaes

    em que se utiliza de estratgias de reparo lingustico, termo definido originalmente por Paradis

    (1988).

    As variantes alofnicas so entendidas como variaes articulatrias atribudas a

    processos fonticos, que podem ocorrer por motivaes puramente fonticas, em contextosfavorecedores, ou podem mostrar mudanas em progresso. Bybee as explica assim: This

    variation is due to on-line adjustments that take place in production and have as their motivation

    the increased fluency of the sequences of gestures (2001, p. 64).

    No que se refere especificamente ao mesmo caso das variaes alofnicas estudadas

    dentro da rea da Sociofontica, percebemos tambm a ampla adoo de outro modelo

    fonolgico: a Fonologia de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2000), uma abordagem

    probabilstica da aquisio do conhecimento fonolgico, que lida, basicamente, com os

    processos de percepo e categorizao e pretende dar conta de fatos de variao e aquisio

    da linguagem.

    Segundo esse modelo, categorias fonolgicas emergem da experincia, a partir de

    exemplares armazenados na memria; os indivduos atualizam essas experincias e acabam

    desenvolvendo sensibilidade s propriedades estatsticas do input (FOULKES E DOCHERTY,

    2006); medida que a produo se desenvolve, mais exemplares so adicionados e uma

    tendncia emerge. No que se refere s mudanas dialetais, quanto mais transparente a relao

    entre a variante e a categoria social, mais fcil o aprendizado (2006, p. 427). Nos estudos de

    Sociofontica e da Aquisio da Linguagem, tem sido amplamente adotada, ao relacionar as

    ideias de uso e variao, utilizando, principalmente, estudos que investigam a frequncia de

    ocorrncia no lxico e a aquisio de certas estruturas da lngua.

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    2. MODELOS DINMICOS E FONOLOGIA GESTUAL

    Geralmente, a fonologia tida como encapsulamento da estrutura linguisticamente

    relevante da fala em descries de unidades segmentais. Albano (2002) ressalta a pesadainfluncia da noo antiga do alfabeto na descrio da fala; uma influncia que sempre esteve

    presente, desde as primeiras tentativas de se criar descries e transcries da fala. Apesar

    das muitas tentativas de aproximar a transcrio fontica da fala, a unidade fontico-fonolgica

    nunca perdeu seu correlato com a letra do alfabeto.

    Alm da notria influncia dos sistemas escritos nos estudos da fala, a distncia entre o

    lingustico e a estrutura fsica sempre foi algo a ser superado pelas teorias fonolgicas. Nessa

    linha, a Fonologia Gestual vem ganhando relativo espao como teoria eficiente h duas

    dcadas. Sua primeira manifestao como teoria, a Fonologia Articulatria, doravante FAR,(BROWMAN e GOLDSTEIN, 1986, 1992, 1995), prope uma abordagem completamente

    diferenciada.

    Na teoria fonolgica proposta por Catherine Browman e Louis Goldstein, a noo de

    movimento inerente ao primitivo terico. O gesto articulatrio descreve tanto caractersticas

    espaciais como temporais da fala; tomado como unidade de anlise, oferece as mesmas

    vantagens das fonologias no-lineares e simplifica a descrio de segmentos complexos, como

    as africadas.

    A noo de produo e percepo da fala como traduo de uma sequncia de

    smbolos estticos em um processo dinmico no produtiva e no consegue explicar muitos

    fenmenos. H gradientes e contextos diferentes de produo, como a fala mais descontrada,

    e, tambm, detalhes fonticos de relevncia que fogem a quaisquer noes estticas.

    A FAR assume, desde o incio, que as estruturas fsica e cognitiva, consideradas

    distintas em outros modelos, so duas dimenses de um mesmo sistema complexo. As

    unidades de anlise so, portanto, unidades de ao, dinamicamente especificadas, de modo

    que possvel caracterizar de forma intrnseca as propriedades dessas aes chamadas

    gestos, e suas consequncias biomecnicas. As unidades na FAR so, dessa forma, unidades

    de ao e, como consequncia, so dinmicas, no estticas, e potencialmente sobrepostas, j

    que as tarefas que envolvem os gestos so distribudas entre os vrios articuladores

    (BROWMAN e GOLDSTEIN, 1992).

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    A produo da fala na FAR toma como base o modelo da dinmica de tarefas, proposto

    por Saltzman e Kelso (1987), entre outros. Assim, o modelo permite que se calculem as

    trajetrias dos articuladores no tempo, coordenando sua estrutura. Essas trajetrias, dentro da

    computao proposta para o modelo, so o input para o trato vocal, gerando sua formaresultante. A ideia modelar a sobreposio dos gestos, assim como sua coordenao e sua

    estruturao em fase.

    As chamadas pautas gestuais2servem como representao dessa coordenao e da

    ativao temporal e de magnitude dos articuladores durante a produo.

    Isso permite caracterizar tanto as propriedades microscpicas da fala quanto as

    propriedades dos contrastes fonolgicos de uma determinada lngua. possvel modelar as

    principais restries mecnicas e tambm restries particulares.

    Esta pesquisa adotou, ento, o gesto articulatrio como unidade, pois se trata de umprimitivo que permite a incorporao do detalhe fontico na descrio; ele proporciona uma

    variao de parmetros que d, abstratamente, a noo prpria da coordenao entre os

    gestos. Devido sua caracterizao mais realista, permite a representao de informaes

    gradientes e contnuas no sistema fonolgico (BROWMAN e GOLDSTEIN, 1992).

    A escolha da Fonologia Articulatria como base terica da pesquisa no se deu por

    acaso. As africadas de que tratamos, produzidas no interior de So Paulo, no so analisveis

    ou tm possibilidade de representao nos modelos fonolgicos tradicionais; mesmo teorias

    mais recentes que procuram desviar da descrio temporal clssica no explicam a produo

    gradual destas consoantes.

    claro que ainda h muito a aperfeioar neste contexto de trabalho. Albano (2002, p. 8)

    afirma que mesmo para um modelo de base dinmica difcil

    explicar o detalhe fontico que se manifesta em variaes quantitativas deparmetros fsicos, mas est sob o controle de variveis qualitativas e, portanto,aparentemente simblicas, tais como distines dialetais e/ou fronteiras deconstituintes morfolgicos ou sintticos.

    Porm, j se tornou bastante difundida a ideia de que a produo da fala comea a partir

    de representaes discretas; seu fim sempre o contnuo da fala, um contnuo gestual.Portanto, de grande importncia o esforo de muitos pesquisadores no tocante incorporao

    do contnuo da fala s representaes ditas abstratas (vide a prpria FAR, proposta por

    Browman e Goldstein, 1992, 1995 e Keyser & Stevens, 2006).

    2traduo de Albano (2001) para o termo de Browman e Goldstein gestural scores.

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    Tambm so de grande relevncia postulaes como a de Ohala (1981), que tenta

    explicar a relevncia dos ajustes em tempo real, influenciados pela interao com o aparato

    auditivo. Segundo ele, a despeito do pequeno nmero de pronncias aceitas para cada palavra,

    a fala real sempre produz rudo, ou seja, h um nmero ilimitado de variaes fonticasmensurveis nos sinais acsticos (Ohala, 1981, p. 179). Alm de identificar as palavras no sinal,

    o falante precisa produzi-las, utilizando informaes do sistema acstico-auditivo.

    O ponto em que essa variao de pronncia se torna significativa para a produo

    aquele em que o ouvinte passa a pronunciar a partir da interao com o aparelho auditivo.

    Segundo o mesmo autor, ainda, variadas vezes, e para vrios falantes, h uma gama de

    possibilidades de pronncia, as quais podem ou no estar sob o seu controle ativo.

    Ademais, vlida a intuio de que alguns ajustes so preciosos para a realizao

    plena de determinados sons das lnguas, mesmo que suas caractersticas no envolvamdistintividade. Keyser e Stevens (2006) citam, por exemplo, como a propriedade do

    arredondamento, das fricativas /s/ e / /, pode ser uma informao importante na descrio.

    Apesar de um / / arredondado e um / / no-arredondado no serem distintivos, do ponto de vista

    fonolgico (mais especificamente, de uma fonologia de traos), a descrio de / / que ignora o

    arredondamento dos lbios incompleta.

    O modelo de base dinamicista, que trata da produo e percepo das aes

    (GOLDSTEIN e FOWLER, 2003) consegue abarcar em uma descrio alofnica processos

    contnuos e gradientes, que envolvem, sobretudo, relaes temporais de sobreposio edeslizamento de articulao gestual, os chamados overlaps (Keyser & Stevens, 2006, Gafos,

    2001); o fenmeno de africao das oclusivas alveolares como uma produo dialetal

    inovadora, por exemplo, fica convenientemente documentado se assumirmos a Fonologia

    Articulatria ou Gestual. Albano (2001) adota amplamente os seus pressupostos, reconhecendo

    a importncia da face acstico-articulatria da produo.

    A observao da sobreposio aparece com mais detalhes no estudo de Gafos (2001),

    que prope uma gama de marcos no segmento de sincronizao entre gestos sobrepostos:

    Onset: inicio do movimento em relao ao alvo, correspondente borda da esquerda deAlbano (2001);

    Target: ponto no tempo em que o gesto atinge o alvo;

    C-center: ponto mediano doplateau gestual;

    Release: o afastamento do gesto para longe do alvo;

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    Release-offset: ponto no tempo em que o controle ativo do gesto cessa, correspondente

    borda direita.

    Estes marcos seriam a estrutura interna dos gestos; a partir desses pontos, seria

    possvel descrever a sobreposio e os ajustes articulatrios neles envolvidos.

    3. AFRICADAS NOS ESTUDOS FONTICOS

    Segundo Ladefoged e Maddieson (1996, p. 90), essa classe de sons da fala no possui

    fronteiras precisas, sendo uma categoria intermediria entre uma oclusiva simples e uma

    seqncia de oclusiva e fricativa. Johnson (2003, p. 141) afirma tambm que tais sons no so

    eventos estticos. Este estudo, bem como os citados autores, considera que sua descrio

    fonolgica deve levar em conta esta complexidade. Para alm, possvel incorporar anlisedo fenmeno ideias mais recentes sobre processos gradientes de produo envolvidos nas

    africadas.

    No caso especfico das oclusivas velar e palatal, Johnson (2003) diz que seu lugar de

    articulao visto pelos movimentos formnticos (fechamento e soltura no so realizados

    numa s postura), ao invs de ser visto atravs de valores particulares de formantes. As

    caractersticas do movimento, ento, so dadas pelo seu ponto de incio e fim.

    As africadas so geralmente descritas com os mesmos parmetros acsticos utilizados

    para oclusivas e fricativas, j que costumam ser considerados sons complexos de uma

    categoria intermediria entre oclusiva e fricativa (LADEFOGED E MADDIESON, 1996). o que

    se prope em alguns trabalhos de descrio fontico-fonolgica que envolvem anlise acstica

    de africadas, como de Miller-Ockhuizen e Zec (2003), que tratam das alofonias envolvendo

    africadas da lngua srvia, e o de Dorman et. al. (1980), com descrio das africadas do ingls.

    Os parmetros espectrais e acsticos das fricativas podem ser empregados com

    sucesso, pois, segundo Kent e Read (1992, p. 169), os parmetros que se utilizam para

    diferenciar apenas as africadas ainda no esto muito bem estabelecidos. Segundo eles, as

    principais pistas que distinguem uma fricativa de uma africada, no caso das alveolares, ao

    menos, so os valores da durao e de rise time3, ou durao do aumento da energia do rudo.

    3Kent & Read (1992, p. 130) conceituam rise timecomo a medida do tempo em que a amplitude atinge o seu valormximo. Segundo estudos prvios de Howell e Rosen (1983), afirma-se que a mdia do rise timedas africadas se dpor volta de 33 ms e das fricativas 76 ms. Alm de as africadas apresentarem intervalo de frico menor que asfricativas, so caracterizadas por um acmulo de energia mais rpido, verificado por essa medida.

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    Esta ltima, porm, descrita pelos autores como uma pista apenas secundria, e no muito

    confivel.

    Castleman e Diehl (1996), tambm preocupados com os parmetros para a

    diferenciao entre o rudo das africadas e das fricativas, realizaram um estudo na tentativa derevelar os melhores parmetros. Os pesquisadores utilizaram fricativas e africadas em incio de

    palavra e, segundo suas anlises discriminantes, os melhores critrios para distingui-las foi

    durao do silncio e da frico. Rise time foi considerada uma medida menos efetiva, porm

    no totalmente descartada por ser uma importante pista perceptual.

    Estudos sobre palatalizao e africadas com enfoque na metodologia articulatria

    tambm existem para o portugus brasileiro. Um dos primeiros estudos sobre palatalizao

    uma investigao articulatria feita por Cagliari (1974), muito completa em sua descrio.

    Outros mais sofisticados se seguiram depois. Segundo este estudo, as africadas do portugusso produzidas em uma regio alveopalatal, diferente daquelas produzidas efetivamente no

    palato.

    Em outras lnguas, h estudos articulatrios bastante detalhados sobre o fenmeno,

    como o de Recasens e Espinosa (2007), sobre fricativas e africadas em dialetos do catalo, que

    concluem que os sons rotulados como //, /t/ e /d/ tambm so produzidos na regio

    alveopalatal.

    4. DISCUSSO

    Neste estudo, partiu-se das observaes iniciais de Albano (1999, 2001) sobre a

    palatalizao. Segundo a autora, a africada surge como efeito da sobreposio entre os gestos

    consonantal e voclico em diferentes marcos da slaba, em produes gradientes que envolvem

    sobreposio e ajustes finos, deixando-se de lado a ideia de que a descrio fonolgica de /t/ e

    /d/ ps-alveolar envolve a produo de dois segmentos distintos, ou seja, uma oclusiva seguida

    de uma fricativa, como se explicar mais adiante.

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    CAPTULO IIIPANORAMA GERAL DA METODOLOGIA

    1. UM IMPASSE METODOLGICO: ANLISE FONTICO-ACSTICA DE UMA VARIAOLINGUSTICA

    Como j foi apontado, alguns aspectos da metodologia sociolingustica so relevantes

    para este trabalho. Na perspectiva de tal rea da Lingustica, o trabalho com dados naturais, de

    fala mais espontnea, ganha destaque; as formas de incitar a fala verncula e as maneiras de

    minimizar os efeitos da interveno do observador, criadas por Labov, tornaram-se o principal

    mtodo de coleta de dados na rea.

    Tarallo (2001, p. 19) explica muito claramente que o material de estudo do sociolinguista

    deve ser o vernculo, a fala enunciada nos momentos em que o mnimo de ateno prestado

    lngua. Por outro lado, o trabalho com anlises fontico-fonolgicas requer um controle muito

    preciso do objeto lingustico a ser analisado, a fim de evitar vieses e resultados aleatrios,

    decorrentes da falta de um controle mnimo de variveis. Isso, na maioria das vezes, torna

    invivel a coleta de dados totalmente espontneos ou mesmo mais naturais, frutos, por

    exemplo, de entrevistas ou narrativas referentes a temas diversos, completamente alheios ao

    fenmeno lingustico em questo.

    Tendo em vista o envolvimento deste trabalho em ambos os campos, restou refletir

    sobre estratgias para que se deixasse a fala dos sujeitos o menos artificial possvel. Sendo

    objeto do estudo a variao, preciso que o falante esteja muito vontade e que haja espao

    para que ela acontea, ainda que em corpora mais controlados. Mesmo Labov (1972)

    reconhece a dificuldade de se observar o vernculo. Segundo ele, qualquer observao

    sistemtica define um contexto formal, em que a ateno prpria fala pode aparecer. por

    tais motivos que, muitas vezes, opta-se pela anlise de um corpusheterogneo, tanto de fala

    controlada quanto de fala menos artificial.

    Ora, a simples presena de um microfone e um gravador deixa o sujeito em uma

    posio formal de enunciao. Segundo Labov, a soluo envolver o sujeito em uma situao

    em que outro fator do contexto seja mais relevante.

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    1.1 O caminho entre dados de fala espontnea e de laboratrio

    O caminho encontrado para a obteno de dados que contemplassem as exigncias,

    tanto da necessidade de uma observao menos engessadaquanto de um controle exigidopela anlise rigorosa, foi a criao de algumas tarefas especficas para os sujeitos, como

    descreveremos nas prximas sees.

    Em uma das tarefas, procurou-se envolver os sujeitos em uma situao de elocuo

    especfica: a leitura de boletins jornalsticos. Esta tarefa, apesar de ser uma situao formal de

    elocuo, permitiu que os sujeitos se envolvessem com os temas abordados pelas notcias e,

    dessa forma, prestassem menos ateno prpria fala.

    A segunda situao de coleta dos dados foi uma tarefa de repetio, na qual os sujeitos

    ouviam uma palavra obscurecida por filtro e eram incitados a adivinhara palavra, para depoisrepeti-la. Nesta tarefa, o engajamento do sujeito em cumprir o que foi pedido compreender a

    palavra e repeti-latambm serviu como uma estratgia para que a ateno fosse desviada da

    pronncia, favorecendo, assim, um registro menos artificial.

    2. DESCRIO DA METODOLOGIA

    2.1 Sujeitos

    Os sujeitos foram selecionados no incio do primeiro semestre de 2009, de acordo com a

    presena parcial ou inconstante de africadas em suas falas. Dos dez sujeitos abordados para a

    pesquisa, constatou-se que nenhum deles apresentava uma produo completamente

    desprovida de africadas.

    Os sujeitos preencheram um formulrio com algumas informaes pessoais. Aps o

    contato inicial, seguiu-se a leitura de dois pequenos textos, que mostravam presena ou

    produo inconstante de africadas e produo de rudo intermedirio(i.e., produzido na regio

    alveolar) entre elas. Falantes que apresentaram todas as africadas caracteristicamente ps-

    alveolares completaram uma repetio das tarefas, mas sua produo no entrou na anlise

    final de dados.

    Dentre todos esses sujeitos iniciais, cinco j produziam africadas completamente ps-

    alveolares e, portanto, foram deixados fora da pesquisa; dentre os estudantes que

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    apresentavam em seu dialeto produo de ps-alveolares como a produo default, quatro

    eram do sexo feminino.

    Dessa forma, os sujeitos escolhidos para acompanhamento foram cinco jovens

    estudantes do sexo masculino. Como dito, todos j apresentam um pouco de variao na fala.Finalizando, os ltimos quesitos observados para que se tomasse a deciso de analisar ou no

    os sujeitos foram tempo de residncia em Jundia e origem geogrfica dos pais. A seguir,

    apresentar-se-o mais detalhadamente os sujeitos selecionados para as observaes. Alm de

    todos serem do sexo masculino, esto dentro da mesma faixa etria. Em 2009, eram alunos de

    primeiro ano em cursos de graduao da Unicamp; alm disso, residiam em Jundia e viajavam

    todos os dias para Campinas.

    - Sujeito 1 (S1)Aluno do curso de Msica, na modalidade Canto Lrico. No momento das coletas de dados,

    tinha 18 anos. natural de Jundia, assim como seus pais, que l tambm moraram toda a vida.

    - Sujeito 2 (S2)

    Aluno do curso de Economia e natural de Jundia; em 2009 tinha 18 anos completos. Reside

    nessa cidade desde que nasceu, nunca tendo morado em outro local. Sua me de Osasco, na

    Grande So Paulo, e seu pai natural de Jundia, sempre tendo residido l.

    - Sujeito 3 (S3)

    Aluno de Economia, tambm com 18 anos. Nasceu em Jundia, onde sempre residiu. O pai

    natural de Indaiatuba-SP, cidade prxima a Campinas, e sua me nasceu em Jundia, onde

    tambm sempre residiu.

    - Sujeito 4 (S4)

    Cursa a faculdade de Engenharia Mecnica e, em 2009, completou 20 anos. Nasceu em

    Jundia, onde reside. Seu pai nasceu em Limeira-SP e sua me em So Carlos-SP, ambas

    cidades do interior do estado.

    - Sujeito 5 (S5)

    Aluno do curso de Engenharia Mecnica, 17 anos em 2009, nasceu em So Carlos-SP. Reside

    em Jundia h 15 anos. Seu pai nasceu em Tiet-SP e sua me em Jundia-SP. O estudante

    residiu em So Carlos, tambm no interior do estado, nos dois primeiros anos de vida.

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    2.1.1 Entrevistas

    Alm das gravaes da fala dos sujeitos, tambm se fez uma pequena entrevista com

    cada falante, aps a ltima gravao, a fim de procurar saber o que pensam sobre o modocomo falam e sobre as diferenas de fala que encontraram ao tomar contato com falantes de

    outros lugares. A entrevista permite complementar as anlises de fala e revela suas intenes

    na direo da mudana. So 16 perguntas, presentes no Anexo IV4; as respostas foram dadas

    ortograficamente e servem como um contato preliminar com os sujeitos, antes de se

    observarem as anlises de fala.

    Isso se justifica porque, alm de procurar analisar o grupo de falantes, em conjunto,

    tambm se procurou estudar mais detalhadamente dois dos falantes, a fim de que se

    percebessem as diferenas na implantao da variante inovadora; possvel que alguns dosfalantes observados nem mesmo cheguem a efetivar essa mudana em sua produo, pois

    mudana pressupe um estado anterior de variao, mas variao no implica mudana efetiva

    (TARALLO, 2001).

    2.2 Materiais e mtodos da coleta de dados

    As coletas de dados, ou sesses de gravao, se deram no ano de 2009 e ocorreram da

    seguinte maneira:

    TABELA 1: DETALHAMENTO DAS COLETAS DE DADOS COM CADA SUJEITO

    2009 S1 S2 S3 S4 S5

    (C1) coleta 1 - Maio/Junho x x x x x

    (C2) coleta 2 - Setembro x x

    (C3) coleta 3 - Dezembro x x

    As primeiras coletas de dados ocorreram entre maio e junho, aps a seleo de

    palavras definitiva para a gravao e a seleo dos sujeitos. Foram realizadas cinco sesses,uma com cada sujeito; o objetivo era a gravao de fala, conforme comentado nas prximas

    4No Anexo IV, encontra-se o roteiro de entrevistas que aplicamos aos sujeitos na ltima coleta de dados com as respectivasrespostas. As questes foram baseadas no roteiro de entrevistas do j citado trabalho de Leite (2004), que procurava investigar asatitudes lingusticas, em relao ao prprio dialeto, de falantes residentes em Campinas mas provenientes da cidade de So Josdo Rio Preto.

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    subsees. Como possvel perceber pela tabela acima, somente com dois dos cinco sujeitos

    foi possvel completar as trs coletas de dados planejadas inicialmente. Trs dos sujeitos no

    puderam participar das outras duas sesses de gravaes.

    Portanto, a observao dos dados foi segmentada em duas etapas: i) uma anlise defala do grupo, com os dados de todos os sujeitos em C1; ii) duas observaes longitudinais com

    S1 e S2, com dados de trs coletas realizadas ao longo de um ano (C1, C2 e C3).

    Para garantir a qualidade das gravaes, utilizou-se um gravador digital Marantz

    Professional, modelo PMD670, com um microfone direcional Sennheiser e815s. Para o

    cumprimento da tarefa de repetio, os sujeitos contaram com um notebook DELL Latitude110,

    e fones de ouvido PhilipsSHM3300. Os dados presentes nos boletins jornalsticos foram lidos;

    j para a tarefa de repetio, os estmulos sonoros foram apresentados em uma rotina do Praat,

    verso 5.0.40

    5

    . Em ambas as tarefas, cada palavra analisada foi gravada em trs repeties.Em C1, as gravaes com S4 e S5 foram realizadas em uma sala silenciosa do

    LAFAPE, com atenuao de rudo; j as gravaes de S1, S2 e S3 foram realizadas em uma

    sala de aula da ps-graduao do Instituto de Estudos da Linguagem, devido a reformas no

    ambiente do Laboratrio. Houve esforo em conseguir a sala mais isolada e realizar as

    gravaes nos horrios mais silenciosos. C2 e C3, com S1 e S2 apenas, foram realizadas

    dentro do estdio de gravao do LAFAPE. As sesses duraram, aproximadamente, 50

    minutos, havendo pequenas pausas entre tarefas ou blocos de tarefas.

    2.2.1 Estratgias para a coleta de dados

    2.2.1.1 Tarefa de leitura

    Construiu-se, primeiramente, um corpuspara a gravao de fala semi-espontnea dos

    sujeitos. Para isso, a primeira estratgia foi a leitura de boletins jornalsticos6. Essa ideia foi

    baseada na pesquisa de Ladd et. al. (1999), em uma tentativa de apresentar dados menos

    artificiais para os informantes. Como j se mencionou, a estratgia tinha por objetivo desviar a

    ateno dos falantes da prpria fala, visto que os boletins apresentavam notcias reais e de

    relativo interesse.

    5Disponvel em http://www.fon.hum.uva.nl/praat/.6Adaptados de www.estadao.com.br.

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    Cada boletim continha de quatro a cinco palavras-alvo, respeitando-se o sintagma

    fonolgico. As notcias foram adaptadas para cumprir as exigncias do corpuspretendido. Nas

    frases, as palavras foram colocadas sempre na posio de sujeitoncleo ou de complemento.

    As palavras selecionadas so, exclusivamente, substantivos ou adjetivos. Com estasmodificaes, as frases ficaram semelhantes a uma frase-veculo. Para o controle da taxa de

    elocuo, o nmero de slabas das frases que continham as palavras foi tambm controlado: 15

    slabas.

    Para selecionar as palavras-alvo, foi utilizado, inicialmente, o programa Listas (SILVA et.

    al., 1994), que toma como base o minidicionrio Aurlio, e tambm a base de dados do

    portugus brasileiro do CETEN, que tem corpusretirado do jornal Folha de So Paulo7. Foram

    selecionados substantivos e adjetivos que continham /t / e /d / em slabas tonas, em palavras

    trisslabas ou polisslabas

    8

    . Procurou-se o maior nmero possvel de palavras queapresentassem o fenmeno nas ps-tnicas o que acarretou na maior parte do corpus se

    constituir de palavras proparoxtonas, mas algumas pr-tnicas tambm foram incorporadas,

    por questes de escassez de exemplos que satisfizessem as condies no banco de dados. O

    padro preferido para as slabas foi o CV, admitindo-se uma coda em uma das slabas; o

    corpuscompleto pode ser visto no Anexo I.

    interessante observar uma diferena significativa entre oclusivas surdas e sonoras.

    Realizando as buscas na base de dados do CETEN, percebemos grande quantidade de

    palavras com oclusivas surdas e uma quantidade bem menor com sonoras. Sufixos comotivo(em palavras como esportivo, narrativo) e o particpio tido (como em batido, prometido)

    abundam na base.

    Por fim, tambm foram selecionadas 40 palavras que contemplaram as fricativas

    alveolar e ps-alveolar /s, , z, / (cf. Anexo III), para que pudssemos comparar as

    caractersticas de seus rudos, para cada falante, com o rudo das africadas.

    7Base elaborada pelo Ncleo Interinstitucional de Linguistica Computacional (NILC), disponvel em:http://www.linguateca.pt/cetenfolha/index_info.html, acesso em 15 dez. 2008.8Evitamos palavras com apenas duas slabas para que as oclusivas que pretendamos analisar no ficassem naslaba final, o que poderia acarretar em um quase desaparecimento da vogal final ou mesmo em uma captaosonora muito fraca da slaba final da palavra.

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    2.2.1.2 Variando a taxa de elocuo

    A relao entre a produo de africadas pelos falantes de Jundia com a variao da

    taxa de elocuo importante para este trabalho. O objetivo foi verificar se, na fala rpida emenos monitorada, os falantes, ainda assim, manipulam essa produo, produzindo rudo para

    tentar disfarar sua pronncia (ZELLNER, 1998). Pensa-se que os sujeitos tenderiam a produzir

    menos africadas menos palatalizadas na fala acelerada. Para tanto, criou-se um mecanismo

    para propiciar coletas de dados em diferentes taxas de elocuo, para analis-las como

    variveis.

    A fim de se obter variao na taxa de elocuo, na tarefa de leitura, pediu-se que os

    sujeitos produzissem uma fala mais monitorada e uma fala mais rpida. Considerou-se, assim,

    a existncia de duas velocidades de fala: rpida e normal. sabido que cada falante possuivelocidades intrnsecas, i.e., a velocidade de fala varia de falante para falante; uma taxa de fala

    qualquer pode ser considerada rpida para alguns, mas normal para outros.

    Foi necessrio, ento, estabelecer um modo para variar a taxa de elocuo que

    tentasse, da melhor maneira possvel, respeitar as diferenas individuais. Foi por esse motivo

    que no se optou pelo uso do metrnomo, mesmo porque os falantes gravados no esto

    habituados a seu uso. Ao invs disso, apresentou-se um modelo de fala normal, monitorada,

    seguido de exemplo de fala rpida do mesmo falante. Este falante-modelo teve sua fala

    gravada com auxlio do metrnomo. Para ele, delimitou-se uma media de 4,5 slabas por

    segundo para fala normal e 6,5 slabas por segundo para fala acelerada. Ele procedeu leitura

    de um boletim jornalstico, em ambas as velocidades, para que, posteriormente, os sujeitos da

    pesquisa fizessem o mesmo.

    Em seguida, tomou-se a fala exemplar e deu-se a ela um tratamento para minimizar a

    informao lingustica e, principalmente, dialetal da produo exemplar. A fala tambm foi

    filtrada, deixando-se somente as frequncias de 0 a 900 kHz. Segundo Cummins (2007), falas

    filtradas nas frequncias mais baixas no so difceis de serem seguidas, e, por esse motivo,

    distorceu-se a gravao modelo, para evitar o enfoque em informaes dialetais que pudessem

    levar o sujeito a copiar a fala ouvida, j que o falante-modelo era natural de Piracicaba-SP.

    Assim, os informantes, primeiramente, ouviam essa produo modelar e, em seguida,

    repetiam as mesmas oraes tentando seguir a velocidade normal. Em seguida, foram

    instrudos para produzir uma fala monitorada, a mais clara e normal possvel. Depois,

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    novamente ouviam e repetiam as oraes da gravao modelar, ento de uma fala rpida, e

    pedia-se que lessem os textos de forma acelerada, como se narrassem um jogo de futebol. Os

    informantes podiam ouvir novamente, a qualquer momento, a fala modelar.

    Esse modelo que os sujeitos escutavam tambm era o trecho de um boletim:Os petroleiros de todo o Brasil comearam a entrar em greve desde o fim desemana, mas a maioria paralisou as atividades a partir da zero hora destasegunda-feira, segundo informaes da Federao nica dos Petroleiros.9

    Cada boletim foi lido trs vezes em cada velocidadea fim de se obter trs repeties

    de cada palavra , mas no em seguida, o que resultou em trs repeties em cada taxa. A

    ideia surgiu da pesquisa conduzida por Cummins (2007), segundo a qual sujeitos conseguem,

    facilmente, sincronizar sua leitura com a leitura de um texto gravado. H uma srie de pistas

    que auxiliam um falante a entrar em sincronia com uma gravao de texto lido. De acordo com

    o autor, esse alcance de sincronia no se d somente para a fala, mas para qualquer

    movimento corporal, o que corrobora uma teoria gestual para os estudos da fala.

    2.2.1.3 Tarefa de repetio

    Para continuar verificando como as africadas dos sujeitos de nossa pesquisa se

    apresentaram no momento de cada coleta, aplicou-se um teste de repetio que mostraria

    como os falantes produziam certas palavras, com oclusivas alveolares antes de [i], a partir de

    estmulos disfarados.

    A primeira ideia era elaborar uma tarefa de repetio aos moldes dos testes de

    percepo com restaurao de fonemas (WARREN, 1970). Um dos primeiros experimentos de

    restaurao de fonemas mostrou que, no caso de certas oclusivas e fricativas do ingls, ainda

    que um segmento de uma palavra seja substitudo por um rudo, um tom complexo ou um tom

    shepard10, ouvintes percebem essa palavra normalmente, restaurando o fonema ausente ou

    encoberto.

    9trecho adaptado de www.estadao.com