governo mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do

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Novembro 2007 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1226, de 30.11.2007 Análise p. 12 A longevidade das empresas Contabilidadde p. 17 Contabilidade ambiental tende a complementar contabilidade tradicional A Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC) tem feito vários apelos junto do Ministério das Finanças, no sentido de tornar a fiscalida- de menos gravosa para as empresas. Até agora sem quaisquer resultados, sendo que a construção é um dos sectores que está a defrontar-se com as maiores dificuldades. Tendo em conta o Orçamento de Estado, as coisas tendem a agravar-se ainda mais. José de Matos, secretário-geral da es- trutura associativa, avança com vários propostas e garantiu à “Contabilidade & Empresas” que as mesmas não im- plicariam uma perda de receita para o Estado. Lamenta é que se continue a pensar apenas no imediato, por razões Fiscalidade p. 7 Sistema fiscal português desagrada aos investidores estrangeiros O tema em debate versava sobre as novas tendências de tributação das sociedades, em mais um evento promovido pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC). As intervenções deixaram um “amargo de boca”, isto é, muitas preocu- pações entre a vasta assistência. Defini- tivamente, Portugal não é tido por um país amigo do investimento estrangeiro. Ou seja, temos um sistema fiscal que é tudo menos amigável para os residentes e os investidores estrangeiros. Profissão p. 10 Revisores oficiais de contas com regras mais exigentes A profissão de ROC passará a estar su- jeita a um maior controlo e a exigências acrescidas. É que o se deduz da consulta às alterações previstas para o sector. As mesmas decorrem da transposição para a ordem jurídica nacional da directiva relativa à revisão legal das contas anu- ais e consolidadas. O aumento dos requisitos exigíveis para a profissão passa pela exigência de aplicação das normas internacionais de contabilidade, da actualização dos requisitos em matéria de formação e do reforço dos deveres de ordem deon- tológica, a par da criação de estruturas independentes de controlo de qualidade e de supervisão pública. p. 04 Governo mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do mercado relacionadas com o controlo orçamental. Mas a realidade é que as actuais soluções podem tornar-se em problemas muito mais graves para todo o tecido económico no futuro. A APCMC defende a redução da taxa normal de IVA, ainda que de forma faseada. O sector da reabilitação urbana tem sido muito prejudicado por esta política. De igual modo, considera essencial implementar o sistema das ta- xas degressivas de IRC. Também criticou os impostos autárquicos para a habitação, verdadeiros “inimigos das famílias”. E insiste que os atrasos nos pagamentos por parte das entidades públicas são, de facto, uma vergonha nacional.

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nº 12

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07

Análise p. 12A longevidadedas empresas

Contabilidadde p. 17Contabilidade ambiental tende a complementar contabilidade tradicional

A Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC) tem feito vários apelos junto do Ministério das Finanças, no sentido de tornar a fiscalida-de menos gravosa para as empresas. Até agora sem quaisquer resultados, sendo que a construção é um dos sectores que está a defrontar-se com as maiores dificuldades. Tendo em conta o Orçamento de Estado, as coisas tendem a agravar-se ainda mais. José de Matos, secretário-geral da es-trutura associativa, avança com vários propostas e garantiu à “Contabilidade & Empresas” que as mesmas não im-plicariam uma perda de receita para o Estado. Lamenta é que se continue a pensar apenas no imediato, por razões

Fiscalidade p. 7Sistema fiscal português desagrada aos investidores estrangeiros

O tema em debate versava sobre as novas tendências de tributação das sociedades, em mais um evento promovido pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC). As intervenções deixaram um “amargo de boca”, isto é, muitas preocu-pações entre a vasta assistência. Defini-tivamente, Portugal não é tido por um país amigo do investimento estrangeiro. Ou seja, temos um sistema fiscal que é tudo menos amigável para os residentes e os investidores estrangeiros.

Profissão p. 10Revisores oficiaisde contas com regras mais exigentes

A profissão de ROC passará a estar su-jeita a um maior controlo e a exigências acrescidas. É que o se deduz da consulta às alterações previstas para o sector. As mesmas decorrem da transposição para a ordem jurídica nacional da directiva relativa à revisão legal das contas anu-ais e consolidadas.O aumento dos requisitos exigíveis para a profissão passa pela exigência de aplicação das normas internacionais de contabilidade, da actualização dos requisitos em matéria de formação e do reforço dos deveres de ordem deon-tológica, a par da criação de estruturas independentes de controlo de qualidade e de supervisão pública.

p. 04

Governo mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do mercado

relacionadas com o controlo orçamental. Mas a realidade é que as actuais soluções podem tornar-se em problemas muito mais graves para todo o tecido económico no futuro. A APCMC defende a redução da taxa normal de IVA, ainda que de forma faseada. O sector da reabilitação urbana tem sido muito prejudicado por esta política. De igual modo, considera essencial implementar o sistema das ta-xas degressivas de IRC. Também criticou os impostos autárquicos para a habitação, verdadeiros “inimigos das famílias”. E insiste que os atrasos nos pagamentos por parte das entidades públicas são, de facto, uma vergonha nacional.

Sumário

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 3

O orçamento “mais do mesmo”Têm razão as confederações patronais quando afirmam que este Orça-mento do Estado è “mais do mesmo”. Tem razão o Governo ao dizer que o controlo orçamental é uma realidade e que Portugal está novamente entre os “bons alunos” da Europa do défice reduzido. Têm razão aqueles que afirmam que a vida está cada vez mais difícil, com o poder de compra a descer a olhos vistos. Infelizmente, têm razão os que lamentam uma das mais altas taxas de desemprego do país.Mas vamos com calma. Este é, de facto, um orçamento de mão-cheia de nada, isto é, vem na continuidade do anterior, não há inovação, não há novidades na tributação. A haver, o que é duvidoso, terá que se esperar pelas autorizações legislativas. O Governo conseguiu controlar o défice, mas não dá resposta quando se coloca a interrogação à custa de quem. Na linha da frente estão os funcionários públicos, agora os bodes expia-tórios da despesa. Depois, o contribuinte anónimo e responsável, de uma classe média enfraquecida, que contribui cada vez mais para o aumento da receita. A realidade é que o problema de base se mantém, o corte na despesa corrente está longe de ser alcançado. O que significa que a gestão dos dinheiros públicos não será a mais correcta.O fisco terá que se defrontar com problemas acrescidos, sendo que o OE não está definido nessa perspectiva. A receita fiscal está a chegar ao ponto da saturação. A máquina fiscal funciona, mas chegou-se ao momento em que essa mesma receita não existe. A menos que a economia sofra uma aceleração considerável. O que não parece ser a situação. É que na terceira linha da receita fiscal aparecem as empresas e, como diz José de Matos, da APCMC, a nossa competitividade é reduzida, por via de uma fiscalidade desadequada. Não tem havido a necessária preocupação de adequar o sistema a uma nova realidade, como sucede no país vizinho.Sendo certo que ainda há alguma margem (mínima) para garantir a tão desejada receita, o Estado tem enormes telhados de vidro. Atrasos nos pagamentos, coimas indevidas sobre os contribuintes, lista de devedores que só funciona a seu favor, penhoras nem sempre de acordo com as re-gras, entre muitos outros factores. Quando o Estado está descredibilizado, a moral deixa de fazer sentido. Não será de admirar que os processos de fuga e fraude fiscais se aperfeiçoem ainda mais. O incumpridor, muitas vezes, é-o por obrigação. O que significa que a relação entre os contribuin-tes e o fisco tem mesmo que mudar. As situações têm que ser analisadas de forma independente, em que cada caso é um caso. O investimento realizado na máquina fiscal tem, afinal, que ser merecido.

Guilherme Osswald

Contabilidade & EmpresasRua Gonçalo Cristóvão, 111 - 6º Esq.4049-037 PortoTelef.: 223 399 400 • Fax: 222 058 098

Editorial

Guilherme Osswald

ActualidadeGoverno mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do mercado

FiscalidadeConfederações patronais consideram orçamento “mais do mesmo”

Governo mantém estratégiade consolidação das finanças públicas

Sistema fiscal português é recusado pelos investidores estrangeiros

Nova Lei das Finanças Locais permite maior independência face ao OE

Governo admite abrandamentono crescimento da receita fiscal

ProfissãoDirectiva torna regras para os revisores de contas mais exigentes

Informática na ContabilidadeEsoterica de volta ao mercado

Trabalhadores móveissão mais propensos ao enviode informação confidencial

Eticadata desvenda estratégia para 2008

ContabilidadeContabilidade ambiental tende a complementara contabilidade tradicional

Governos nacionais estão “atrasados”na adopção das NIC

Consultório

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4 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

José de Matos, secretário–geral da APCMC, considera

Actualidade

MATERIA IS DE CONSTRUÇÃO

A fiscalidade está a causar graves problemas ao sectordos materiais de construção.A Associação Portuguesados Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC)tem avançado com várias propostas de alterações ao regime fiscal junto do Ministério das Finanças, até agora sem quaisquer resultados. José de Matos, secretário-geral desta associação, indicou à “Contabilidade & Empresas” quais as medidas que deveriam ser introduzidas, de forma a evitar o aprofundamento da recessão, sendo que o Estado não correria o risco de perder receita fiscal. Aquele dirigente lamenta que se continue a pensar apenas no imediato, por razões relacionadas com o controlo orçamental. A realidade é que as coisas poderão piorar, e muito,no breve prazo.

A associação começa por defen-der a redução da taxa normal de IVA. A actual situação tem

retirado competitividade à economia nacional, representando mesmo um forte travão ao crescimento do mercado interno e ao reforço do PIB. “A medida, justificada com a necessi-dade de estabilização e consolidação orçamental no curto prazo, provocou efeitos perversos que são particu-larmente sentidos nos sectores de produtos de consumo e noutros mais expostos à concorrência espanhola, como é o caso dos materiais de cons-trução”, adiantou aquele dirigente associativo.

A situação actual é muito preocupan-te, verificando-se a ruína de muitas empresas e a transferência de valor acrescentado e receitas fiscais para o país vizinho. Assim, a proposta é a re-dução da taxa normal, numa primei-ra fase, de dois pontos percentuais, de modo a possibilitar a recuperação do tecido económico. Por sua vez, José de Matos lembra que o sector da reabilitação de edifícios continua anémico (o NRAU é desajustado e as famílias estão endividadas), pelo que tem que ser impulsionado pela via fiscal, ao mesmo tempo que terá que ser feito algo para evitar o mercado informal.“As obras de reabilitação devem ser beneficiárias de uma redução de IVA, aplicando-se a taxa reduzida aos trabalhos de construção, incluindo a totalidade dos materiais, produtos e equipamentos utilizados nessas obras. A redução do custo beneficiará o dono da obra e a aplicação será sempre feita

através do construtor/instalador.” É uma medida, na óptica de José de Matos, que, combinada com a conside-ração da amortização do investimento em obras de reabilitação, em sede de IRS, contribuirá também para a redução da fuga e para o aumento da receita fiscal.

Extensão do regime do IVA

A APCMC defende a extensão do regime do IVA – à taxa reduzida – à construção e transacção de habita-ção e extinção do IMT. Este imposto é encarado como desajustado da realidade do mercado imobiliário, porquanto funciona em cascata, in-flacionando sucessivamente os preços de venda. Esta é uma posição antiga da APCMC e que já chegou a ser considerada por um governo anterior, a generalização das regras do IVA à construção, incluindo a habitação, a taxa reduzida.

Governo mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do mercado

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 5

José de Matos, secretário–geral da APCMC, considera

A progressão da reavaliação dos imóveis e o fim do período de isenção significamum acréscimo de carga fiscal.

Actualidade

Também a transacção, quando feita por sujeito passivo, seria sujeita a IVA. No caso de venda de particular, apenas teria lugar a tributação de eventuais mais-valias em sede de IRS. “Para efeito de valoirização do imóvel, aplicar-se-iam as regras de avaliação previstas para o IMT, no caso do preço de venda declarado ser inferior ao que resultaria da aplicação dessas regras.”Entretanto, deverá ser permitida a dedução aos contribuintes singulares, em sede de IRS, da amortização do investimento efectuado pelas famílias, dentro de limites a fixar e durante um período até cinco anos, na reabi-litação da habitação, e até dez anos, na aquisição ou no caso de grandes reabilitações. “A aplicação desta re-gra deve ser universal e substituir a vigente relativa à dedução dos juros dos empréstimos.”José de Matos faz questão de afirmar que esta não é uma “inovação” por parte da associação. São medidas que têm sido adoptadas noutros países europeus, “com inegável sucesso”. Têm contribuído para dinamizar o mercado imobiliário e para incentivar a actividade da reabilitação. Também permitem incluir muitas pequenas obras e empresas no quadro da le-galidade.

IMI inimigo das famílias endividadas

Aquele responsável associativo mos-tra-se particularmente crítico quanto ao IMI. Refere a este propósito: “Este imposto está a constituir-se, no actual quadro da economia, como um dos principais inimigos das famílias endi-vidadas. A progressão da reavaliação dos imóveis e o fim do período de isen-ção significam um acréscimo de carga fiscal. Admite-se que não tenha sido previsto, mas é de todo inconveniente

e perturbador. Para manter a carga fiscal dentro de limites razoáveis é necessário prever a dedução total ou parcial – em função do rendimento – do IMI em sede de IRS, podendo acabar-se com a regra da isenção do imposto.”A correcção é tanto mais necessária quanto é conhecida a situação actual de extensão dos períodos de emprés-timo e a subida das próprias taxas de juro. “No futuro, este modelo de tribu-tação permitirá efectuar as correcções que forem convenientes de forma mais transparente, fácil e rigorosa”, garante José de Matos.É pedida a eliminação do pagamento especial por conta (PEC), com a ar-gumentação que o mesmo é injusto, desproporcionado e não se coaduna com a previsão constitucional da tributação sobre o rendimento. “De-fendemos a criação de uma taxa anual de manutenção de registo de empresa, que poderá ser diferente, consoante o tipo de sociedade e até o sector ou subsector em causa.”

Taxas degressivas de IRC

A APCMC considera ainda essencial a promoção de taxas degressivas de IRC, em função da rentabilidade dos capitais, e a redução da tributação autónoma. No primeiro caso, para além da redução da taxa geral de IRC, indo de encontro às necessi-dades de assegurar uma adequada competitividade fiscal no mundo globalizado, a associação propõe que seja criado um sistema de taxas de-gressivas de IRC, função inversa da rentabilidade dos capitais, em vez de uma taxa única, para incentivar a generalidade das empresas a de-clarar lucros e, sobretudo, para que estas valorizem a criação de riqueza e a manutenção dos capitais afectos aos negócios.

Conclui José de Matos sobre esta ma-téria: “No sistema actual, apenas uma minoria de empresas em Portugal (as cotadas em bolsa e poucas mais) tem interesse ou vantagens efectivas em fazer uma gestão direccionada para apresentar elevadas rentabilidades dos capitais envolvidos.”É muito crítica a posição quanto à redução da tributação autónoma. “A generalização desta prática pelo fisco distorce a verdade fiscal e funciona como uma verdaeira sobretaxa escon-dida, não assumida quando se cita a taxa de IRC em Portugal. A iniciativa de criar, ano após ano, novas situações, mais não é do que tirar com uma mão mais do que se deu, como a redução da taxa, com a outra. Já nem sequer pega o argumento de que se trata de custos dificilmente controláveis. É por estas e outras que se investe cada vez menos no nosso país.”Naturalmente, o sector dos materiais de construção também é bastante afectado pelos atrasos nos pagamen-tos do Estado. A APCMC propõe que seja introduzida uma norma que obrigue os organismos estatais, sem excepção, a liquidarem os juros de mora de forma automática, como suce-de no domínio fiscal, sem necessidade de interpelações do credor. Diz em jeito de conclusão: “Urge normalizar as relações entre o Estado e os seus fornecedores, clarificando os preços, os custos efectivos e as responsabi-lidades.”

Governo mantém uma fiscalidade desadequada da realidade do mercado

MATERIA IS DE CONSTRUÇÃO

6 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

Fiscalidade

OE

As confederações patronais sentem-se defraudadas com o Orçamento do Estado para 2008. Consideram que o diploma é mais do mesmo, ficando o essencial por fazer. A descida de alguns impostos era o desejo comum, em especial em sedes de IRC, IVA e Imposto do Selo. É assumido como louvável o facto de se ter sob controlo o défice orçamental, mas são tecidas críticas à forma como tal foi atingido, falando-se na falta de dinamização do tecido empresarial e até da “perseguição fiscal” que tem sido movida às empresas e aos contribuintes individuais. A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) insistem numa mudança da política fiscal, adequada à actual realidade empresarial.

O IRC continua a suscitar críticas por parte das con-federações. A CCP avançou

mesmo com uma proposta concreta de redução da taxa daquele imposto para 12,5%, tratando-se de empre-sas com um volume de negócios inferior a um milhão de euros. Isto porque seria um incentivo impor-tante para a dinamização de uma franja muito significativa do tecido empresarial e do emprego. Aquela entidade também defendeu que se deveria contemplar o escalão das empresas com volumes de negócios entre um e cinco milhões de euros, desta feita com uma redução para um patamar intermédio de 18,25%, a qual poderia ser escalada em três

exercícios para não penalizar em demasia a receita fiscal.A CCP adiantou ainda que seria desejável que a redução do do IRC a pagar por força de tal medida fosse canalizada para fins empresariais. Pelo que admite que a redução seja apenas aplicável às empresas que durante um prazo a estabelecer, por exemplo cinco anos, não procedam à distribuição de resultados. Feitas as contas, a confederação garantiu que a redução não representaria mais de 1,1% das receitas fiscais em sede daquele imposto, mas o impacto seria muito positivo ao nível empresarial.Quanto ao IVA, para além de se verificarem situações de défice de equidade, a CCP defende como objectivo a fixação de uma taxa de 16%. No entanto, por razões de limi-tação orçamental, assume que esse objectivo seja faseado no tempo, por exemplo, por via de uma redução anual de um ponto percentual. Fi-nalmente, o Imposto do Selo deveria ser revisto, sobretudo a tributação que incide sobre as operações finan-ceiras, cada vez mais onerosas para as empresas. E urge reequacionar a tributação em selo dos trespasses de estabelecimentos.

“Perseguição fiscal”está em curso

A CIP faz uma abordagem numa perspectiva mais crítica do Or-

çamento do Estado. Aliás, fala mesmo em “perseguição fiscal”

às empresas e aos contribuintes individuais. Defende esta confede-ração que o importante seria iniciar uma trajectória de redução da car-ga fiscal, o que implica acelerar a reforma da administração pública e continuar o esforço de redução do défice, mas por via de cortes na despesa pública. E refere que a economia e as empresas nacionais estão a ser gravemente prejudica-das na sua competitividade pela actual carga fiscal.Ao contrário da actual trajectória de redução do défice feito à custa dos contribuintes individuais e das empresas, a redução do défice através do corte da despesa pública corrente e a consequente descida dos impostos teria efeitos muito po-sitivos para a economia, na medida em que daria lugar à libertação de recursos que seriam canalizados para o investimento e pela compe-titividade fiscal que daria à gene-ralidade das empresas.O actual orçamento, adianta a CIP, representa um contributo mínimo e marginal no plano da competiti-vidade. São os casos específicos dos benefícios fiscais aos investidores individuais de capital de risco, do aumento dos benefícios fiscais à interioridade (desde que sejam criadas condições infra-estruturais e de qualidade) e a celebração de acordos prévios vinculativos, em matéria de preços de transferên-cia.

Confederações patronais consideram orçamento “mais do mesmo”

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 7

Fiscalidade

OE

O Orçamento de Estado caracteriza-se pela manutenção da estratégiade consolidação das finanças públicas, através da redução do défice orçamental.Ainda que não se verifiquem grandes alterações de fundo, a PricewaterhouseCoopers apresentou um estudo a propósito das novas medidas previstas. No que respeita ao IRC, são propostas algumas alterações que importa analisar, tendo em contaque podem representar algumas mudançaspara a forma de actuardas empresas nacionais. Ainda que não se verifiquem medidas de fundo, parece evidente que a administração fiscal está interessadanuma maior flexibilizaçãoe simplificação de processos, a par da necessária operacionalidade.

Importa analisar aqueles as-pectos em que as alterações são mais relevantes, desde logo

os acordos prévios sobre preços de transferência. Passa a ser possível a solicitação por parte do contribuin-te, a celebração de acordos prévios sobre preços de transferência. Estes acordos terão como objectivo definir os termos e as condições a praticar pelos contribuintes nas operações comerciais e financeiras desenvol-vidas com entidades relacionadas ou pela sede com os seus estabe-lecimentos estáveis, assegurando a adesão dos mesmos às condições de mercado.Do conteúdo destes acordos deve-

rão fazer parte o método ou mé-todos de determinação dos preços de transferência e as condições de revisão, revogação e prorrogação. O prazo de vigência não poderá exce-der os três anos. Os acordos podem assumir carácter unilateral, bila-teral ou multilateral, envolvendo contribuintes e autoridades fiscais de diversos países. A aplicabilidade prática destes acordos está ainda dependente de regulamentação própria. Um outro aspecto que merece atenção, em sede de IRC, é a tri-butação de lucros distribuídos a entidades que beneficiem da di-rectiva “mães-filhas”. Pretende-se a flexibilização no que respeita aos requisitos necessários à aplicação da isenção de retenção na fonte aquando do pagamento de lucros por parte de entidades residentes a entidades residentes noutros Estados-membros. As alterações agora introduzidas colocam ponto final no tratamento discriminató-rio aplicável à tributação, à saída, dos lucros obtidos por entidades residentes, relativamente aos mes-mos lucros obtidos por entidades residentes.

Regime simplificadoalterado em sede de IRC

O regime simplificado também passa por algumas alterações, ainda em sede de IRC. Assim, a possibilidade de opção pela aplica-ção do regime geral de tributação, no decurso do prazo de três anos de aplicação obrigatória do regime simplificado, deixa de ser possível ao contribuinte em função da ac-tualização do valor da retribuição mínima mensal.Entretanto, foram fixadas algumas situações em relação às quais não

se aplica a regra/presunção da matéria colectável mínima, corres-pondente ao valor anual do salário mínimo nacional mais elevados, como exercícios de início e de ces-sação de actividade, contribuintes que se encontrem com processos de insolvência ou recuperação de empresas e contribuintes que não aufiram proveitos durante o respectivo preríodo de tributação e tenham entregue a declaração de cessação de actividade.A dedutibilidade das menos-va-lias apuradas na liquidação de sociedades fica agora limitada, no caso de aplicação do Regime Espe-cial de Tributação dos Grupos de Sociedades, à parte em que essas menos-valias excedam os prejuízos fiscais transmitidos no contexto da aplicação daquele regime. Prevê-se ainda a não dedutibilidade de menos-valias geradas na liqui-dação de sociedades residentes em países/territórios de baixa tributação. Finalmente, este orçamento vem flexibilizar os requisitos necessá-rios ao accionamento da dispen-sa/redução da retenção na fonte, quer por aplicação das directivas comunitárias quer das convenções para eliminar a dupla tributação internacional, isto por diversas vias. No que se refere ao sector segurador, o Governo fica auto-rizado a legislar no sentido de criar um regime trransitório de apuramento do lucro tributável, decorrente da implementação do novo plano de contas das empre-sas de seguros, convergente com a NIC. As variações de justo valor em instrumentos financeiros passam, por regra, a serem fiscalmente relevantes quando contabilizadas em resultados.

Governo mantém estratégiade consolidação das finanças públicas

8 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

Fiscalidade

IRC

O tema em debate versava sobre as novas tendências de tributação das sociedades. As conclusões retiradas do evento promovido pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC) e pelo Instituto de Direito Económico, Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito (IDEFF) levantam muitas preocupações. A realidade é que Portugal não é tido por um país amigo do investimento estrangeiro. Por outras palavras, o nosso sistema fiscal é tudo menos amigável, quer para os residentes quer para os investidores estrangeiros. Perante mais de 1400 profissionais reunidos na Aula Magna, ficou evidente que urge mudar o actual sistema fiscal.

O sentimento crítico face ao nosso sistema fiscal foi ge-neralizado neste encontro.

O fiscalista António Lobo Xavier expressou esse mesmo sentimento nas palavras acutilantes que profe-riu: “O nosso sistema fiscal é tudo menos amigável. Portugal aparece no estrangeiro com exigências nun-ca vistas, exigindo, por exemplo, formulários de que nunca se ouviu falar.” É uma situação incompor-tável, em especial para um país que necessita de elevados fluxos de investimento estrangeiro.O fiscalista e advogado utilizou a linguagem objectiva que tanto o caracteriza para dar uma pers-pectiva concreta do actual cenário, até porque é um profissional que está no terreno. A este propósito referiu que, “apesar da redução das taxas ocorrida nos últimos anos, é

necessário melhorar muitos outros factores de investimento”. É o caso, por exemplo, do elevado nível de conflitualidade fiscal que se verifi-ca nos tribunais, que atinge níveis muito preocupantes. Há que notar que quando os contribuintes recor-rem para as instituições judiciais, de uma maneira geral, ganham, o que significa que algo vai muito mal na administração fiscal.A intervenção do docente univer-sitário Fernando Araújo chamou a atenção para uma outra situação não menos preocupante. É que, face ao caminho que a tributação das sociedades tem seguido, não se trata só de perda de investimento estrangeiro, acontece é que estão a ser criadas as condições para que muitas sociedades nacionais abandonem o país e mudem as suas sedes para outras regiões, bastante mais atractivas ao nível fiscal.

Harmonização fiscalé incipiente

Os problemas, como ficou evidente, não se ficam por aqui, o que reforça a ideia da necessidade de o legislador se debruçar sobre a tributação das sociedades, no sentido de criar um contexto mais propício ao desenvol-vimento dos negócios, sem que haja, obrigatoriamente, uma quebra na receita fiscal. Durante os trabalhos ficou claro que a harmonização fiscal,

a nível comunitário, ainda é uma realidade demasiado incipiente.A professora universitária Ana Paula Dourado acha que “a tão desejada e propalada base comum de tributação das sociedades, a nível comunitário, não deverá ser uma realidade antes do final da segunda década do século”. O que tem razão de ser, numa perspectiva lógica. “Os Estados não sabem qual o impacto que uma medida desse género terá, pelo que não há quem pareça estar disposto a arriscar muito.” Enfim, tem sido preferível, para a maioria dos países, deixar as coisas como estão.“A adopção das normas internacio-nais de contabilidade, que têm uma característica de supranacionali-dade, levarão a que se reescreva muito do normativo do Código do IRC”, defendeu Domingos Cravo. A este respeito, João Cipriano informou a plateia que o Governo já tem na sua posse propostas técnicas para alteração de diverso articulado daquele código. Avelino Antão, presidente do conselho técnico da CTOC, considerou que a normalização contabilística é es-sencialmente um problema político e não técnico. Sobre a entrada em vigor do sistema de normalização contabilístico, acha que a sua apli-cação só será possível num período de dois anos.

Sistema fiscal português é recusadopelos investidores estrangeiros

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 9

Fiscalidade

AUTARQUIAS

É uma visão bastante optimista da nova Lei das Finanças Locais. Eduardo Cabrita, secretário de Estado Adjunto e da Administração Local, acredita que se está perante um novo paradigma autárquico. Exigência, inovação e qualidade deverão permitir às câmaras uma menor dependência relativamente às verbas provenientes do Orçamento do Estado. Em entrevista à revista “TOC”, aquele responsável político assumiu que chegaram ao fim duas décadas de um modelo que estava esgotado. E acredita mesmo que o peso dos impostos locais será, já no próximo ano, superior ao valor transferido do OE. Entretanto, defende que os TOC devem estar na administração pública, mas enquanto profissionais liberais.

Defende Eduardo Cabrita que com a nova lei se pretendeu, com os limites de endivida-

mento definidos, “substituir toda uma lógica estanque de curto ou médio prazos por uma definição de endividamento mais estruturante, designadamente ao nível do endivi-damento líquido e da sua fixação em função da capacidade de cada um gerar receita”. Espera mudanças ao nível das opções de investimento que representem ganhos para as populações locais, sem colocar em risco a estabilidade das finanças locais.Rejeita que a nova lei tenha sido

alvo de muitas críticas, já que a maioria dos autarcas terá percebido que havia que mudar. Assume que é uma lei mais exigente, até porque inovadora, ao introduzir princípios de melhor gestão e mais transpa-rente, na medida em que “obriga à correcta distribuição de custos e benefícios e introduz deveres de informação e publicitação das con-tas municipais, o que implica uma maior responsabilização do próprio poder político”.No entanto, não é possível estabe-lecer prazos no que respeita à sus-tentabilidade das finanças locais, já que há realidades diferentes. Eduardo Cabrita refere a este pro-pósito: “São avançados princípios para uma melhor redistribuição dos fundos e para um maior controlo do endividamento. Esperamos que, no médio prazo, produzam resulta-dos favoráveis à consolidação das finanças locais, porquanto vão exi-gir maior rigor e selectividade das intervenções ao nível local.”

TOC é uma actividadedo foro privado

Uma coisa é certa, em 2008 vai ocorrer um facto muito importan-te. Pela primeira vez, os impostos locais serão superiores, em valor, às transferências do OE. “É um

momento de viragem, a partir do qual os municípios começam a ser chamados a gerir as suas receitas e não apenas as despesas. Os instru-mjentos ao dispor das autarquias permitem que se tornem cada vez mais autónomos e menos depen-dentes do Orçamento do Estado.”Quanto à possibilidade de os TOC se assumirem como garante da credibilidade das contas públicas, Eduardo Cabrita deixou claro que “podem assumir-se como mais um elemento dessa credibilidade, sendo que nos municípios as con-tas públicas são apreciadas pelas assembleias municipais. É a elas que cabe esse controlo, pelo que os TOC serão mais um auxiliar técnico desse controlo, que deve ser acima de tudo, político. Os municípios não são entidades empresariais, mas órgãos políticos”.Questionado sobre a obrigatorie-dade da existência destes profis-sionais na administração pública, o político colocou de parte tal hipó-tese, afirmando: “Trata-se de uma função que deve ser assumida como uma actividade liberal. As pessoas com formação específica nestas áreas são importantes também na administração pública, mas deve ser uma actividade do foro privado. O Estado tem juristas nos quadros, mas não tem advogados.”Entretanto, a nova IGAL (que sucedeu à IGAT), criada em Ou-tubro, passa a deter competências de fiscalização sobre as autarquias mais abrangentes, designadamente ao nível financeiro. “É um novo de-safio para uma nova entidade que se quer com mais meios e capaz de articular melhor o seu trabalho com outras entidades, como é o caso do Tribunal de Contas.”

Eduardo Cabrita, secretário de Estado da Administração Local, garante

Nova Lei das Finanças Locaispermite maior independência face ao OE

EDUARDO CABRITASecretário de Estado Adjunto

e da Administração Local

10 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

Fiscalidade

Nos últimos três anos,a receita fiscal apresentou taxas de crescimentobastante acima do crescimento da economia. O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, admite que a margem para crescimento é agora menor.Os resultados obtidos,na sua óptica, prendem-se sobretudo com a eficácia obtida por parte da administração fiscal.Perante este cenário, o Governo diz que o objectivo da receita fiscal estabelecido para 2008 passa por continuar a “exigir um elevado esforço e grande empenho no seu cumprimento”. Afirmações do governante durante um seminário para dirigentes da DGCI. Foi com manifesta satisfação que apresentou uma estimativa da execução da receita fiscal, para este ano, com um excedente de mais de 500 milhões de euros, face ao estimadono Orçamento de Estado.

A receita fiscal administrada pela DGCI apresenta uma taxa de crescimento acumu-

lada próxima dos 9% e, apesar de a mesma poder sofrer uma redução em resultado dos reembolsos a efectuar, a taxa de crescimento ficará sempre acima do objectivo estipulado de 6%, o que à partida foi considerado bastante exigente. Para Teixeira dos Santos, a admi-nistração fiscal está a cumprir as metas traçadas.A situação é um pouco diferente no

que respeita à cobrança coerciva. O ministro admite que o objectivo de cobrar 1600 milhões de euros é bas-tante difícil. Mas tem justificação para essa circunstância: “O actual contexto de incremento dos níveis de cumprimento voluntário das obrigações fiscais fez, naturalmente, diminuir o valor da instauração da dívida e, em consequência, aumen-tar o peso da dívida mais antiga no total do saldo da dívida por cobrar.” E lembrou que a antiguidade da dí-vida se traduz também em maiores dificuldades de cobrança e em maior risco de incobrabilidade.Teixeira dos Santos não deixou de desvalorizar esta situação. Isto por-que, na sua óptica, a importância do cumprimento de tal objectivo decor-re não do seu peso total da receita cobrada pela DGCI – que, em 2007, representará menos de 4% - mas “do seu impacto em termos de dissuas-são do incumprimento e do aumento da equidade fiscal”, explicou. No seu conjunto, considera muito positivos os níveis de cumprimento voluntá-rio das obrigações fiscais alcançados nos últimos tempos.

Garantir medidas fiscais eficazes

Para 2008, a receita fiscal pre-vista, em termos globais, deverá crescer cerca de 3,8%, em relação à estimativa de execução para o ano ainda em curso. Portanto, uma taxa de crescimento mais moderada. No entanto, também há, segundo o ministro, justificação para este facto: “A verdade é que a taxa de crescimento estabelecida não considera a receita afecta à contribuição de serviço rodoviário e tem por referência a estimativa da execução para 2007, a qual superou as expectativas iniciais, o mesmo se tendo verificado com a execução dos dois anos anteriores.”Ao longo dos trabalhos foram adiantadas as principais medidas de política fiscal. Desde logo, o apoio à actividade empresarial, o desenvolvimento das PME e o reforço da competitividade da eco-nomia nacional. Importante será também o incentivo a áreas con-sideradas prioritárias, no âmbito da reabilitação urbana, bem como a protecção ambiental. Por outro lado, ficou a garantia do aprofun-damento da reforma da tributação dos veículos. Serão ainda dados destaques, de acordo com o ministro, à melhoria da equidade do sistema fiscal, ao reforço da eficácia da administra-ção, da simplificação e da redução dos custos de contexto e à harmo-nização fiscal comunitária. Para-lelamente, haverá a intensificação da utilização das tecnologias da informação e da comunicação e a continuidade do combate à fraude e à evasão fiscais e ao planeamento fiscal abusivo

Governo admite abrandamentono crescimento da receita fiscal

OE

TEIXEIRA DOS SANTOSMinistro das Finanças

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 11

Profissão

ROC

Terminada que está a consulta pública referente às novas regras para a actividade de revisor oficial de contas, a profissão passará a estar sujeita a um maior controlo e a exigências acrescidas a todos os níveis.As alterações em causa decorrem da transposição para a ordem jurídica nacional da directiva relativa à revisão legal das contas anuais e consolidadas.Há um aumento dos requisitos exigíveis para a profissão, por via da exigência de aplicação das normas internacionais de contabilidade, da actualização dos requisitos em matéria de formação e do reforço dos deveres de ordem deontológica, a par da criação de estruturas independentes de controlo de qualidadee de supervisão pública.

Face ao requisito de indepen-dência, é imposta a rotação do sócio responsável pela

orientação ou execução da revisão legal de contas com uma periodici-dade não superior a sete anos e a proibição de revisão legal de contas, em caso de auto-revisão ou de inte-resse pessoal. Estabelece-se o dever de elaboração e divulgação de um relatório de transparência por parte dos ROC e sociedades dos mesmos e sujeitam-se estes profissionais a um controlo de qualidade mais frequente (em cada três anos).A Ordem chama a atenção para o facto de o dever de independência e objectividade dos ROC ser densifica-do no novo regime. É imposto o de-

ver de recusa de qualquer trabalho quando as circunstâncias concretas sejam susceptíveis de prejudicarem a observância daqueles princípios. O revisor ou a sociedade só podem realizar a auditoria de contas se for possível adoptar as medidas neces-sárias para assegurar a respectiva independência.A transposição pretende ainda promover um elevado nível de harmonização e qualidade das revi-sões oficiais de contas. As mesmas devem ser realizadas com base em normas internacionais de audito-ria. Apenas quando estiverem em causa matérias não abrangidas por estas normas é que será le-gítimo aplicar procedimentos ou requisitos adicionais de revisão ou auditoria nacionais. No caso das contas consolidadas, é clarificada a definição das responsabilidades dos ROC que procedem à revisão ou auditoria de partes do grupo, determinando-se para o efeito que o revisor do grupo assume a total responsabilidade pela certificação legal das contas, relativamente às contas consolidadas. No que concerne ao controlo de qualidade, a directiva manifesta uma particular preocupação em assegurar a sua independência, seja impondo que a organização, recursos

e financiamento do mesmo sejam isentos de qualquer eventual influ-ência indevida por parte dos ROC, seja sujeitando-o à supervisão públi-ca por parte do Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria.

Organizaçãode um registo público

Um aspecto importante do regime, introduzido pela referida directiva, passa pela organização de um regis-to público, cujo conteúdo e termos da respectiva inscrição e actualização se encontram previstos na alteração ao Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. As informações aí inscritas são comunicadas ao Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria para efeitos de divulgação pública centralizada.Aproveita-se ainda para proceder à clarificação dos conceitos de au-ditoria e revisão legal de contas. De facto, verifica-se que estes con-ceitos são, com alguma frequência, utilizados em diplomas legais, com um conteúdo e um significado nem sempre coincidentes com o esta-belecido no Estatuto dos ROC. De modo a evitar potenciais conflitos de regime decorrentes do diferen-te enquadramento conceptual, procede-se a uma uniformização terminológica.Assim, adopta-se um conceito de auditoria suficientemente amplo e flexível, de forma a compreender todas as formas de exercício da actividade, entre as quais a revisão legal de contas. No conceito de audi-toria inclui-se também a auditoria a elementos de carácter financeiro e estatístico, decorrente da dispo-sição legal de contas exercida no âmbito dos órgãos.

Estatuto da Ordem dos ROC sofre alterações

Directiva torna regras para os revisoresde contas mais exigentes

12 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

A longevidade das empresasAGOST INHO COSTA

Análise

1ª Parte

«As únicas coisas que evoluem por si pró-prias numa organização, são: a desordem, os atritos e o mau desempenho».

Peter Drucker

Neste e nos próximos artigos ire-mos falar sobre a longevidade das empresas.

- O que faz com que uma em-presa tenha uma vida longa e rentável?

- Porque que será que apenas algumas empresas conseguem ter vida longa?

- As que o conseguiram, como se renovaram?

- Qual o papel da liderança na longevidade das organiza-ções?

Só encontraremos boas respostas se formas capazes de fazer boas perguntas. As perguntas desen-cadeiam um processo de reflexão. Por sua vez, a reflexão possibilita um conjunto de respostas, que por sua vez possibilitam uma análise, uma nova reflexão, … e desta forma inicia-se um percurso que nos leva à resolução das nossas dúvidas.Por vezes, é um processo longo, mas vale a pena. Caso contrário, continuaremos num processo de ro-tina, fazendo o que sempre fizemos, repetindo os mesmos erros, nunca atingindo os níveis de excelência que desejamos.

Mas não basta as empresas terem desejo. É necessária força de vonta-de para concretizá-los, conhecendo o percurso a seguir, os erros a evitar, os recursos materiais e financeiros a utilizar e, o mais importante, a constituição de uma equipa com vontade de executar a estratégia a seguir.Saiba que mesmo as grandes or-ganizações, da mesma forma que os grandes impérios, um dia vão morrer. Mas, muitas delas poderão durar ainda muitos anos.Há no entanto grandes organiza-ções, relativamente às quais hoje nos parece impensável dizer que irão desaparecer no futuro. Parece inacreditável pensar que um dia a Microsoft e outros gigantes irão deixar de existir. São tão grandes, são económica e financeiramente fortes, têm mercados enormes! Mas não tenhamos dúvidas que isso irá acontecer. O Império Romano também desa-pareceu. E quantos outros impérios também desapareceram?O mesmo irá acontecer com as pe-quenas e com as médias organiza-ções. No entanto, a sua longevidade pode ser prolongada. No seu estudo sobre a origem das espécies, Darwin constatou que muitas das espécies animais que povoaram a Terra nos tempos pré-históricos desapareceram ao longo do tempo. Aquelas que sobrevive-ram foram, segundo Darwin, as que se adaptaram.Perguntamos então agora, aos em-presários, aos gestores, …: 1. Quantos anos tem a sua

empresa?2. Quantos anos gostaria que

ela durasse?3. O que fazer para lá che-

gar?Ajudaria se tivemos algumas res-postas, relativamente às caracte-

rísticas, aos comportamentos das organizações que mais anos têm. Da mesma forma que por vezes procuramos saber o segredo duma alimentação saudável que nos permita viver muitos anos, vamos procurar averiguar o que distingue tais organizações das restantes que têm uma vida bastante mais curta.

Qual então, o segredoda longevidadede algumas empresas?

A longevidade está directamente ligada à capacidade de superar as crises com que as empresas se debatem. É pois importante saber como poderão ser superadas ou evitadas essas crises. Se não fo-rem ultrapassadas, ou evitadas, a organização vai enfraquecendo e tenderá a desaparecer.Peter Drucker dizia que “as ár-vores não crescem até ao céu”, querendo com essa expressão fazer uma analogia relativamente às empresas. As empresas são como árvores: também não crescem até ao céu. Têm, contudo, uma diferen-ça relativamente aos seres vivos. Podem ser revitalizadas, iniciando dessa forma, para uma nova vida, prolongando dessa forma a sua longevidade.

Mas como será possível aumentar a longevidade?

Que exemplos reais, conhecemos,que nos transmitamalguns desses segredos?

Arie de Geus, antigo responsável de planeamento da Shell, referiu que um gabinete dessa organização, realizou um trabalho de pesquisa para encontrar uma resposta à seguinte pergunta:

AGOSTINHO COSTA

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 13

que elas souberam ler atentamente o que se estava a passar no contexto externo. Diagnosticaram, pois, cor-rectamente a situação da empresa, e procederam às mudanças que tal situação exigia.O grupo de estudo concluiu que as empresas que sobreviveram duran-te longo tempo tinham uma grande capacidade de adaptação às alterações nas condições externas, fossem elas sociais, económicas, po-líticas ou ao nível das necessidades dos clientes.Existe ainda um conjunto de aspectos intangíveis, que foram fundamentais para a vitalidade dessas empresas e de que vamos ter oportunidade de falar.Não é fácil conjugar todo o conjunto de factores essenciais, mas as orga-nizações que o conseguem têm vida mais longa.Isto implica um processo de apren-dizagem contínuo e um sistema de alerta que possibilite à empresa es-tar atenta às mudanças do contexto onde desenvolvem a sua actividade, para proceder a possíveis adaptações ou mesmo mudanças de actividade e ao refinar as características inter-nas que reforcem o ajustamento às exigências do novo contexto.

AGOST INHO COSTA

Das empresas que estão hoje em funcionamento, quantas têm mais de 100 anos?

Apenas encontraram poucas deze-nas de empresas. Mas, no entanto, entre elas, encontravam-se algumas cujas origens remontavam aos sécu-los XIII a XVII, como a Stora, criada na Suécia, ou a Sumitomo e a Mitsui, no Japão. Mais de uma dezena tinha nascido no século XIX e mantivera-se até hoje, com grande projecção. Após constatarem tal facto, qui-seram averiguar a razão dessa longevidade.As conclusões desse estudo são reveladas por Arie de Geus, no seu livro, The Living Company.

E o que nos diz então Ariede Geus sobre o segredodas empresas que nasceram… há mais de 100 anos (algumas há mais de 500 anos)?

Ele chama à atenção dos empresá-rios para aspectos não meramente económicos. A análise do estudo realça vários aspectos. Entre eles, a questão mais importante nessas organizações era perpetuar o pro-jecto da empresa. Foca o facto de que, entre outras características a que nos vamos referir, essas or-ganizações não tinham como prin-cipal preocupação o lucro a curto prazo, mas sim as questões que garantissem a sobrevivência a lon-go prazo. Logicamente, o lucro era importante, mas mais importante do que maximizar o lucro era criar condições que garantissem a sobrevivência ao longo dos tem-pos. Era fundamental não serem tomadas decisões que colocassem a sobrevivência em causa.Para além deste facto, tiveram uma capacidade de adaptação às exi-gências do mercado ou à entrada em novos mercados. A análise da perpe-tuação duma vida tão longa destas empresas também que elas têm uma enorme capacidade de adaptação ao contexto que as rodeia. A história de cada uma destas empresas mostra (Continua no próximo número)

Arie de Geus distingue assim, dois tipos de empresas:

1. As organizações que querem ter uma vida longa e se possível rentável;

2. As organizações «económicas» cujo objectivo é quase exclu-sivamente a maximização do lucro.

As organizações do 1º grupo têm um conjunto de características e prioridades que na generalidade não fazem parte do 2º grupo.O estudo mostra que as empre-sas com maior longevidade es-tão então no 1º grupo, havendo casos de empresas com mais de 500 anos.Alguns desses exemplos apare-cem a seguir referidos no quadro superior.Em contraste, verificamos, por exem-plo, que das 500 empresas da lista da revista “Fortune” de 1970, treze anos depois 1/3 tinha desaparecido.Existem estatísticas que referem que a expectativa de vida das empresas é em média inferior a vinte anos.Comparado com o tempo de vida dum ser humano, esta média é muito baixa.

Análise

Datas Empresa País de origem

1288 Stora Suécia 1590 Sumitomo Japão 1697 Mitsui Japão 1802 Du Pont EUA 1837 Procter & Gamble EUA 1847 Phillip Morris EUA 1847 Siemens Alemanha 1850 Wal-Mart EUA 1883 1890 Daimler-Benz Alemanha

1890 Mitsubishi Japão 1891 Merck EUA 1892 GE EUA 1892 American Express EUA 1902 3M EUA 1903 Ford EUA 1907 Royal Dutch / Shell RU / Holanda 1908 GM EUA 1911 IBM EUA 1915 Boeing EUA

14 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

Informática na Contabilidade

LANÇAMENTO

Esoterica de volta ao mercadoA Esoterica voltou. Depois de

em 1995 ter ajudado a alterar o panorama da Internet em

Portugal, aquele que foi o primeiro Internet Service Provider (ISP) privado a nascer em terras lusas e pioneiro a oferecer acesso à Internet sem limites no nosso país renasceu esta semana no mundo virtual. Um pouco diferente do original, é certo, mas com o mesmo sentido de opor-tunidade que na altura caracterizou o seu lançamento. Pelas mãos da Claranet – um grupo britânico que em 2005 comprou a multinacional Via Net.Works que, por sua vez, tinha adquirido em 1999 a Esoterica – a marca que estava adormecida há oito anos teve direito ao beijo do seu príncipe e voltou às luzes da ribalta. Com uma nova cara, com um novo portefólio de serviços, mas, garan-tem os responsáveis, com a mesma filosofia: simplicidade, inovação, preço competitivo, suporte de exce-lência. “Para voltar a fazer história”, asseguram.Mas porque terão os responsáveis optado pela utilização desta marca e não pela criação de uma nova?António Ferreira, administrador da Esoterica, explicou à “Contabilidade & Empresas” que o factor foi tão simplesmente o valor que a marca Esoterica ainda tem no mercado. “Em 1999, houve uma consultora de ‘branding’ que avaliou a marca em cerca de cinco milhões de euros. É certo que a maior parte deste va-lor se perdeu ao longo dos últimos oito anos em que a marca esteve ausente do mercado. No entanto, para criar uma nova marca com o mesmo nível actual de reconheci-mento no mercado o investimento ainda teria que ser muito grande. Por outro lado, a marca Esoterica é associada a valores e características em que nos revemos actualmente com a nova oferta: inovação, trans-parência, tecnologia”, explicou o responsável à “Contabilidade & Empresas”.

Com um posicionamento diferente do anterior, hoje a Esoterica vai endereçar o “mass-market” e uti-lizadores profissionais do mercado de “hosting”, interessado em registo de domínios, alojamento web e ferramentas de criação e gestão de sites. António Ferreira explicitou que,dada a especificidade destes serviços, o cliente será tipicamente um “power-user”, que reconhecerá as vantagens das tecnologias e fer-ramentas oferecidas, Soho e peque-nas empresas. “Um dos objectivos da Esoterica é, apesar da sofistica-ção tecnológica e da diversidade de ferramentas colocadas à disposição dos clientes em todos os pacotes de alojamento – nas quais se destaca o Site Builder, para criação de um site online de forma simples – co-locar uma ‘capa’ de simplicidade na sua oferta, desmistificando os serviços Web”.Relativamente a principais diferen-ças entre a “antiga” Esoterica e a renascida marca o gestor salientou, além de uma imagem mais moder-na, que a nova insígnia também entra num mercado que, apesar de estar na sua infância, está um pou-co mais maduro que o mercado de acesso à Internet estava em 1994. A estratégia de marketing será mais importante actualmente do que o foi há 13 anos atrás.António Ferreira salientou à “Contabilidade & Empresas” que o mercado web em Portugal está ex-tremamente fragmentado, havendo inúmeras pequenas empresas e apenas quatro ou cinco players re-levantes. “Mas, mesmo assim, não deixando de ser empresas de média dimensão. Queremos colocar a Eso-terica rapidamente no grupo dos principais prestadores neste mer-cado. A diferença na oferta reside actualmente numa maior aposta nas plataformas Windows (SQL Server, ASP.net framework 2, ...), serviços incipientes nos restantes prestado-res, assim como na disponibilização,

em todos os serviços de alojamento, de inúmeras ferramentas grátis para criação de wiki, blogs, fóruns de discussão, sondagens, etc”.Além destes aspectos, diz o gestor, a Esoterica é uma marca nacional, “que aloja as suas plataformas em Portugal e que garante, por isso, uma excelente performance no tráfego para todas as redes nacio-nais, em particular para todos os operadores de banda larga”.Para o próximo ano, o objectivo da Esoterica é entrar no Top 10 dos prestadores nacionais, nos princi-pais indicadores, apresentando a maior taxa de crescimento do mer-cado. A nível dos novos clientes, a meta passa por se tornar num dos três principais prestadores em ter-mos de percentagem de nova quota de mercado angariada. Mas o que podem os responsáveis esperar de diferente da nova Esote-rica? “Esperamos a mesma cultura de empresa e a mesma fidelidade dos clientes, tal como na antiga Esoterica. Ser cliente ‘Esoterica’ é pertencer a uma comunidade de ‘power-users’ que estão sempre à frente do mercado. São os ‘opinion leaders’ escondidos que nos posi-cionarão para novos patamares, quando o mercado crescer ainda mais. É esse o sentimento que queremos cultivar, para melhorar também os níveis de renovação de serviço que, neste tipo de mercado, são relativamente baixos (grande mobilidade de clientes entre pres-tadores, por não se identificarem com a marca)”.Doze anos após o seu nascimento, os responsáveis esperam que a Esoterica se torne uma referência incontornável nesta área, para ter uma posição sólida dentro de dois a três anos, previsivelmente numa altura em que os principais pres-tadores internacionais investirão fortemente no mercado nacional.

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 15

Quanto maior for a mobilidade do trabalhador, mais propenso está a enviar informação confidencial

Informática na Contabilidade

ESTUDO

Os trabalhadores móveis são, nas empresas, os recursos mais propensos a compor-

tamentos de risco na utilização da Internet, de acordo com um recente estudo sobre mobilidade, realizado pela Trend Micro. A empresa não questiona que, nos últimos anos, tanto a tecnologia móvel como a mobilidade no trabalho tenham au-mentado, mas avança que, enquanto esta situação pode beneficiar a aces-sibilidade, eficácia e produtividade do trabalhador, reforçou também os riscos. O estudo elaborado pela Trend Micro vem precisamente ex-plorar esta última questão, uma vez que o documento coloca em destaque o facto de que quanto maior for a mobilidade do trabalhador, mais propenso está a enviar informação confidencial através de mensagens instantâneas ou webmail.O estudo indica, por exemplo, que no Japão, tanto os trabalhadores que utilizam equipamentos portáteis como desktop estão mais predispos-tos que qualquer outro utilizador a enviar informação confidencial a colegas ou parceiros através de mensagens instantâneas ou correio electrónico.Já nos Estados Unidos, 58% dos par-ticipantes nesta análise, que contam com acesso à Internet fora da rede empresarial através dos portáteis da empresa, admitiu ter enviado infor-mação confidencial por correio elec-trónico. Esta situação é comparável com os 42% que admitem que sempre que se ligam à Internet, fazem-no através da rede empresarial.Por outro lado, os trabalhadores mó-veis inquiridos na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos estão mais predispostos a ter um comportamen-to online arriscado, como visitar pá-ginas de redes sociais ou descarregar filmes usando a rede da empresa, do que os trabalhadores fixos. As-

sim, 54% dos trabalhadores móveis alemães inquiridos descarregaram ficheiros executáveis enquanto es-tavam ligados à rede da empresa, contra 41% dos trabalhadores fixos.O Japão foi o único caso cujos dados contrastam. Neste país, apenas 49% dos trabalhadores móveis descarre-gou ficheiros executáveis estando ligados à rede da empresa, em com-paração com 60% de utilizadores de equipamentos de escritório.Este estudo analisou as respostas de 1600 trabalhadores que utilizam equipamentos informá-ticos provenientes dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Ja-pão. O estudo diz ser interessante destacar que, excepto o Japão, no resto dos países, quanto maior é a mobilidade dos trabalhadores, maior a probabilidade de receber ataques de spam e phishing.Os números comprovam estas ten-dências. Nos Estados Unidos, por exemplo, 77% dos trabalhadores móveis comunicaram que receberam spam e 40% phishing no trabalho nos últimos três meses, em comparação com respectivamente 68% e 31% dos trabalhadores que utilizam equipa-mentos fixos. Entre os trabalhadores móveis do Reino Unido, 76% informa ter recebido spam no trabalho nos últimos três meses em relação aos 63% dos utilizadores fixos. Já na Alemanha, 80% dos trabalhadores móveis afirmou ter recebido spam no trabalho nos últimos três meses em relação a 70% dos utilizadores de equipamento de secretária.A Trend Micro explora ainda que a informação obtida neste estudo aponta também para o facto de os trabalhadores móveis, em geral, terem mais conhecimentos tecnoló-gicos e contarem com maior formação

Trabalhadores móveis são mais propensosao envio de informação confidencial

sobre ameaças de segurança ocultas, como pharming ou phishing. Nos Estados Unidos, por exemplo, 61% deste grupo de colaboradores está consciente das ameaças da web, face a 49% dos trabalhadores que usam equipamento desktop e que ainda não estão alerta para estas ameaças.“Estas tendências de comporta-mento de risco são preocupantes, já que as ameaças web são cada vez mais globais e um importante vector de crescimento do malware.

Na verdade, estão a tor-nar-se mais sofisticadas, sendo constituídas por múltiplos componentes e aproveitando a web para actualizar, ocultar, comunicar e transmi-tir informação roubada. Com os hackers cada vez mais organizados e

motivados pela obtenção de lucros, a oportunidade criminosa é maior que nunca”, diz a empresa em comunica-do de imprensa.Filipe Rolo, director de vendas da Trend Micro em Portugal, diz mes-mo que “o comportamento de risco dos trabalhadores móveis está a aumentar os desafios dos adminis-tradores de TI e dos especialistas em segurança”. Frequentemente, continua o mesmo responsável, “os trabalhadores móveis não têm consciência do risco a que se expõem na rede empresarial e desconhecem que o seu comportamento aumenta a insegurança da empresa, tornando-a mais vulnerável. A utilização gene-ralizada da web em conjunto com a complexidade da protecção contra as ameaças web está a dar assim lugar a um dos maiores desafios para a segurança empresarial da última década.”

16 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

EMPRESAS

Humildade, dedicação mas, ao mesmo tempo, com ambição. Esta é, provavelmente, a me-

lhor forma de caracterizar o percurso da Eticadata, uma software house 100% nacional, nascida e criada na cidade de Braga, localidade onde, de resto, têm saído excelentes exemplos de empreendedorismo e dinamismo empresarial na área das Tecnologia de Informação. Mas voltemos à Eti-cadata. Porquê humildade, dedicação e ambição? Porque depois de cerca de uma hora a conversar com José Gon-çalves, director-geral, é precisamente essa a sensação com que se fica.Comecemos pela humil-dade. Nada de frases “so-mos os líderes”. Aliás, o discurso, até pautado pela modéstia, contrasta com o evidente orgulho da visita guiada às instalações que o director-geral fez com a “Contabilidade & Em-presas”. Depois, porque há uma consciência clara do lugar que ocupam do mercado, do lugar que eventualmente vão ocupar e da concorrência que gravita à sua volta. Sem grandes rodeios, até porque “não é por deixarmos de falar na concor-rência que ela deixa de existir”. A dedicação “lê-se” nos olhos de José Gonçalves. E a história da empresa que começou por ser um “simples” gabinete de contabilidade começa a tomar contornos bem definidos à medida que avança para o tema que vai ocupar a mente dos responsáveis no próximo ano: levar a bom porto a árdua tarefa da internacionali-zação. Mas, mesmo neste capítulo, as coisas estão bem definidas. Um passo de cada vez. Primeiro Angola – um mercado particularmente apetitoso para uma empresa que aposta forte no seu produto para a área automóvel. Depois, provavel-mente Espanha. Mas não é toda a Espanha. Cautelosamente, a Galiza será o primeiro palco da actuação da Eticadata em terras espanholas. “É

perto, é barato e em termos de mer-cado são sete milhões… Duplicar mercado já é difícil”. É assim, com todas as letras. Mas há mais novidades. O lançamen-to de um produto para a área da res-tauração (POS Gourmet) e a Gestão de Recursos Humanos Platinium vão ser os cabeças de cartaz do encontro que a empresa bracarense realizou no princípio do mês de Novembro. A contracenarem com estas estrelas es-tarão ainda o novo módulo de factura electrónica (e-factura), bem como novas versões do Autogest Platinium e solução CRM Eticadata, agora

integrada com Microsoft Dynamics CRM V3.0. “O principal talvez seja todo o processo de conversão das nossas soluções para uma nova plataforma, nomeadamente .NET”, explicou José Gonçal-ves à “Contabilidade & Empresas”. A empresa

admite que, agora, passa a explorar de forma mais abrangente o mercado das médias e grandes empresas.Segundo este responsável, o encontro promovido pela empresa de Braga vai precisamente permitir a apre-sentação desta novas soluções assim como da política comercial que irá orientar a entrada destes produtos no mercado. “A ideia deste encontro é ainda aproximarmo-nos dos nossos parceiros. Queremos sentir o pulso da nossa rede. É óptimo podermos juntá-los todos no mesmo espaço pois temos um excelente feedback. Isto apesar de durante todo o ano termos uma relação muito próxima com a nossa rede que nos permite ir tendo a verdadeira sensação de como vai o mercado”.

Coexistência pacífica

E uma vez que defende que “nenhu-ma software house tem um produto que sirva todas as necessidades de uma empresa”, a Eticadata não tem

monoparceiros. “Não temos exclu-sividade porque não há nenhuma editora de software que tenha tudo para todos os clientes. Trabalhamos muito em nichos de mercado. Há empresas que trabalham com de-terminada produtora que tem um software horizontal excelente mas se precisarem de uma solução para o ramo automóvel vêm ter com a Eti-cadata. E outras estarão a trabalhar connosco na área horizontal e podem precisar de uma solução que nós não temos e têm de ir buscar a outras empresas. Não há exclusividade mas antes uma coexistência pacífica”.Relativamente ao mercado, hoje José Gonçalves admite que o pri-meiro factor que as empresas têm em atenção quando vão fazer um investimento é a capacidade do software para poder ser integrado e evitar redundância de trabalho e de erros. “Isso cada vez mais preocupa as empresas. Hoje, as organizações não querem definitivamente nichos de software desagregados e que não falem entre si. Com o lançamento da Gestão dos Recursos Humanos mui-tos dos nossos clientes vão migrar da solução anterior. Não migraram até agora porque queriam tudo integrado conforme estavam habi-tuados. E agora já é possível. O que eles querem é fazer uma qualquer acção numa das suas soluções e que esta seja passível de ser replicada em todos os ciclos. Sem erros e sem trabalho. Sobretudo é isso que as pessoas procuram”. Admitindo que as empresas ainda estão receosas em fazer investimen-tos nesta área, o director-geral diz, no entanto, não acreditar que é por experiências menos felizes no passa-do mas, tão-somente, porque, “pura e simplesmente, as empresas não têm dinheiro. Não tenhamos ilusões: os investimentos nos últimos anos têm sido baixos”.

Informática na Contabilidade

Eticadata desvenda estratégia para 2008

Galiza seráo primeiro palcoda actuaçãoda Eticadataem terras espanholas

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 17

Contabilidade

NORMAS

A contabilidade ambiental deve assumir um papel de complementaridade às contabilidades tradicional ou financeira. Como tal, terá que ser mencionada não apenas na informação financeira – relatório de gestão e anexo ao balanço e à demonstração de resultados – mas também em documentos próprios, como, por exemplo, o Relatório Ambiental. Esta a perspectiva manifestada por Ana Filipe Pereira, em trabalho publicado no “Jornal de Contabilidade”. A defesa do ambiente implica custos, mas não é menos verdade que também se poderá reflectir em novas oportunidades e ganhos adicionais. A contabilidade tem, uma vez mais, um papel determinante nesta área.

Haverá que introduzir um certo grau de credibilidade na informação ambiental

que se produz, “para que quem está no exterior da empresa não fique com a ideia que apenas se pretende dar um ar colorido à sua imagem”. Por isso, tornam-se fundamentais as auditorias ambientais, com a respectiva verificação por parte de uma entidade independente e imparcial, assim como a conse-quente validação da declaração ambiental.A autora não deixa de chamar a atenção para um aspecto muito

importante e que pode ser limi-tativo deste objectivo. Há que ser realista e ter em conta que nem todas as empresas têm uma estru-tura financeira que lhes permita suportar todos os custos inerentes à existência de uma contabilidade ambiental. No entanto, estas mes-mas empresas poderão ver este factor como um investimento. É que há proveitos resultantes desse tipo de contabilidade, na óptica de Ana Filipe Pereira.O crescimento aos níveis económico e tecnológico começa a dar uma atenção crescente ao desenvolvi-mento sustentável. Assim, é dada às empresas a possibilidade de in-troduzirem nas suas contabilidades os custos e proveitos considerados ambientais, bem com um certo grau de precaução nesta área, traduzido pelas providências ambientais. Importa notar que a Directriz Contabilística nº 29 define as linhas gerais de como devem ser tratadas as matérias de cariz ambiental.

Abrem-se novas oportunidades

Contabilidade ambientaltende a complementar

a contabilidade tradicionalCustos ambientaispodem ser proveitos

Em termos muito gerais, a directriz tenta dar resposta a algumas dúvi-das que subsistiam sobre quais os dispêndios ambientais que deverão ser considerados custos e os que deverão ser capitalizados, o que se pode provisionar e como devem ser mensurados os passivos ambien-tais. Naturalmente, não descurando “a importância da divulgação da informação ambiental relevante para a avaliação do desempenho financeiro da própria empresa”.Por enquanto, ainda não existe qualquer norma internacional de contabilidade que aborde especifi-camente o tema, pelo que se podem aplicar os conceitos de normas já existentes. A realidade é que a contabilidade tem que lidar com uma nova realidade económico-financeira das empresas, na qual terá que existir o necessário equilí-brio entre a actividade económica e a exploração dos recursos naturais, através da correcta mensuração dos impactos ambientais.Enfim, a Contabilidade Ambiental tem como objectivo direccionar o sistema o sistema de informações já adoptado pela Contabilidade tradicional para a mensuração e a evidenciação aos utilizadores da informação contabilística do impacto ambiental no património das organizações e da conduta da da empresa em relação ao meio ambiente.

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Contabilidade

IASB

As normas internacionais de contabilidade (NIC) continuam a dar que falar. Se se verifica um certo dinamismo por parte das entidades da União Europeia no sentido de dar um novo alento à adopção e à harmonização das novas regras contabilísticas, a realidade é que o mesmo não se passa do lado dos governos nacionais. No caso de Portugal, instituições com determinadas condições passaram a poder optar pelo referencial IASB/UE, coexistindo, de facto, dois referenciais contabilísticos diferentes. Resta agora esperar que exista a necessária vontade política para que se chegue a um entendimento quanto a um modelo contabilístico coerente e de âmbito europeu.

Apesar de se manterem dois referenciais contabilísti-cos, a legislação em vigor

assegura a compatibilidade e a coerência entre os normativos apli-cáveis a três grandes grupos de en-tidades que operam no nosso país. São eles as empresas com valores cotados, os quais aplicam directa-mentre as normas internacionais de contabilidade, e as restantes empresas dos sectores não finan-ceiros que aplicarão as normas de contabilidade de relato financeiro (NCRF). O terceiro grupo respeita às empresas de menor dimensão que aplicarão as NCRF-PE. No âmbito do sistema de normali-zação contabilística, o que se pre-tendeu, basicamente, foi criar uma

estrutura em que no que respeita às normas se assegura a coerên-cia horizontal entre as mesmas e quanto às entidade se viabiliza a comunicabilidade vertical, “sempre que as alterações na sua dimensão impliquem diferentes exigências de relato”, de acordo com um trabalho da autoria do conselho técnico da entidade reguladora dos TOC. No que incide sobre a estrutura, tudo indica que foi tido em conta a necessidade de garantir alguns cuidados.Desde logo, a aproximação do mo-delo normativo do IASB, em con-sonância com a estratégia seguida na União Europeia e assente em NCRF. Por outro lado, ser compatí-vel com directivas comunitárias e atender às menores exigências do relato financeiro de um significati-vo conjunto de entidades do tecido empresarial nacional, mediante uma inclusão de ma NCRF para pequenas entidades. Finalmente, trata-se de permitir a intercomu-nicabilidade horizontal e vertical. Por outras palavras, constituir um corpo normativo coerente com a NIC acolhidas pela União Europeia e, consequentemente, facilitar às entidades, em função de alterações na sua dimensão ou enquadra-mento legal, a passagem entre as NCRF-PE, as NCRF e as NIC em questão.

Governos nacionais estão “atrasados”na adopção das NIC

Responsabilidadesacrescidas para os TOC

Importa notar que os técnicos oficiais de contas devem contar com trabalho e responsabilidades acrescidas no futuro próximo, devendo estar particularmente atentos às alterações que serão introduzidas. A actual proposta da CNC, que poderá entrar em vigor já no próximo ano, implica signi-ficativas alterações na actividade profissional. No entanto, não será a única alteração que se prende com o trabalho dos TOC. O CIRC vai também passar por alterações, tendo em conta a necessidade de uma maior compatibilização com a NIC.O actual normativo contabilístico, aplicável ao nosso país, encontra-se identificado na Directriz Contabi-lística 18/05, a qual considera que a adopção dos princípios contabilís-ticos geralmente aceites no norma-tivo contabilístico nacional se deve subordinar, em primeiro lugar, ao POC e às directrizes contabilísticas e respectivas interpretações técni-cas. Supletivamente, pela ordem indicada, às normas internacionais de contabilidade e às NIC e de rela-to financeiro, emitidas pelo IASB e respectivas interpretações.

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 19

Coluna do Técnico de Contas

A DITADURA DA MAIORIACá andamos nós à volta do nosso desgraçado umbigo

nacional: desemprego, economia em baixa, empre-sas encerrando em ritmo acelerado, acompanhados,

claro, por fogachos circenses para entreter o pagode.Habituou-nos o actual Governo a uma política cega, e demagógica, porém coerente – valha-lhe ao menos isso –, de ataque ao pai de todas as maleitas: o défice. Como já tive oportunidade de expressar em outras ocasiões, se baixar o défice público constitui uma obri-

gação dos responsáveis pelas finanças públicas, há mais vida para lá do défice. E tanta gente muito mais qualificada do que eu, também anda pregando o mesmo, infelizmente tal e qual o Padre António Vieira no seu sermão de Santo António aos peixes. E digo eu, e muita gente também diz, o que o Governo teima em não querer ouvir: ao querer erradicar a doença, corre o risco de matar o doente com a cura. Sei que estas despretensiosas afirmações podem ser encara-das sob o labéu de demagogia a pataco, antes fossem, ou mes-mo de mero erro de previsão, porém e para azar de todos

nós, o que digo e diz muito boa gente é confirmado pela realidade do quotidiano, contrariando as optimistas mensagens propaladas pelo Governo. Onde estão os 150 mil empregos? Onde está o crescimento da economia?Efectivamente, não se trata de demagogia, trata-se sim de, primeiro, pôr os interesses de Portugal e dos portu-gueses à frente da Europa e depois de que serve pagar as dívidas em três ou quatro anos se, em troca, formos viver para debaixo da ponte? Para nos endividarmos outra vez a sairmos de debaixo da ponte?…E como é que o Governo dum dos países mais pobres e atrasados da União Europeia pretende fazer numa legis-latura o que os grandes países já mostraram não querer assumir: eliminar o défice, ou ainda mais difícil (como nos números do trapézio circense): em meia legislatura baixá-lo para menos de três pontos negativos. Veja-se, a propósito, como Sarkozy já promoveu o adiamento da resolução do défice lá para os idos de 2012…Na verdade, a insensibilidade de que o Governo tem dado mostras, escudado na sua maioria absoluta e ela mesma em boa parte acocorada em volta do chefe – salvo as ex-cepções que graças a Deus também as há –, tem vindo a crescer. E de tal forma cresceu e se agigantou, que gerou enormidades, como aquela da liberdade de expressão, mas só em casa, nas esquinas, nos cafés e entre amigos, tal e qual os tempos do Estado Novo, como ainda em artigo recente, realçou, e bem, o colunista, João Aguiar.Quanto às medidas que o Governo vai tomando, ten-tando remar contra a maré do marasmo económico que ele próprio criou, são meramente contraditórias e avulsas, atropelando-se umas às outras, desconexas e desbalizadas, porque meras gotículas no mar proceloso da crise, em que rapidamente e em força empobrece o povo português.E senão vejamos apenas este pequeno exemplo bem eluci-dativo da desorientação em que se vive e como se governa

à vista, tal e qual como se faz navegação de cabotagem: Primeiro: fez-se o referendo sobre a IVG – Interrupção Voluntária da Gravidez –, vulgo aborto, que possivel-mente nem era de todo necessário, porque as situações a acautelar estavam então quase todas acauteladas – embora se saiba que há sempre casos a rever –. Ora, diz-nos a ciência da Estatística que a maioria potencial das clientes à IVG pertencem à classe economicamente mais débil da população. Segundo: entretanto, o Instituto Nacional de Estatística publicou os seus rácios e por eles se concluiu que nasceram em 2006 menos 4 mil portu-gueses que em 2005. Resultado: passada uma semana, o nosso diligente Governo já tinha produzido legislação para incentivar os nascimentos, dando umas dezenas a mais de euros mensais no abono de família e um subsídio especial durante alguns meses a famílias carenciadas por cada filho a mais “produzido”. Ora seguindo a ciência da Estatística, estas mulheres carenciadas, que serão pagas para ter filhos, não são aquelas que foram subsidiadas para abortar, senhores do Governo? E não constitui mais uma deseducação fomentada pelo Governo acenar com umas centenas de euros a famílias pobres para porem no mundo seres pouco defesos e que, por isso mesmo, percentualmente, são capazes de acabarem em Institutos tutelados pelo Estado? Sem querer tomar a parte pelo todo, nota-se numa parte desta gente que vai para os partidos e daí nos pretende representar, governar e mais do que isso, GUIAR, cons-tituir, tal como na canção do Rui Veloso, meros peixes sem passado nem futuro. Quantos deles leram Platão, Aristóteles ou Cícero? Quantos deles sabem quem foi São Tomás de Aquino? Quantos deles se deram ao trabalho de ler e perceber Engels ou Hegel?Por outro lado e sem qualquer meio termo de equilíbrio, passou-se da ortodoxia de partido único, fechada, clien-telista e sabuja, de antes do 25 de Abril, para o extremo oposto, de hoje, isto é, para a certeza absoluta, tecnocrata e igualmente fechada, sem dúvidas éticas ou estéticas, de esquerda ou direita, para resolver… A democracia para eles é uma mera ditadura da maioria, espezinhando com uma avassaladora falta de senso as minorias, que não percebem sequer constituírem o seu imediato suporte e única justificação.E eu que estou enjoado da pedincha de revisões da Constituição, vejo-me compelido a exigi-la, solicitando por exemplo, um bom bocado mais de presidencialismo e estabelecer eleições para períodos mais extensos. E na opereta que hoje estamos a viver em Portugal, o Estado democrático pregando a liberdade de expressão – mas só em casa e entre amigos –, continuará a anunciar aos quatro ventos a ASAE e o seu meritório serviço de perseguir nas praias algarvias os vendedores de bolos, tendo apreendido segundo os jornais, só na zona de Al-bufeira, quatro mil bolas de berlim!

PS – Em devido tempo: não seria justo, no caso da ASAE, não mencionar o encerramento dos supermercados Jumbo, da poderosa cadeia Auchan, na passada sexta-feira dia 9 de Novembro, por motivo das más condições de higiene, devido à possibilidade de obras poderem contaminar os géneros alimentícios à venda, segundo os órgãos da co-municação social. Resta informar que as obras decorrem já há mais de um ano e que o supermercado anunciou há cerca de um mês o fim das obras e a respectiva festa de reabertura para dia 13 de Novembro….

MANUEL BENAVENTE RODRIGUES

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20 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

“Consultório” é um espaço onde se procura dar resposta, de forma clara e sucinta, às questões jurídico-fiscais que mais frequente-mente são colocadas pelos nossos leitores. Assim, os leitores poderão colocar questões do foro jurídico-fiscal que, pelo seu interesse e oportunidade, queiram ver esclarecidas nesta rubrica, as quais deverão ser dirigidas à “Contabilidade & Empresas”.

Quais as medidas que se encontram propostas para o próximo ano com o intuito de dinamizar

as pequenas e médias empresas?

Enunciamos de seguida as medidas de política fiscal consagradas na Proposta de Lei do Orçamento do Esta-do para 2008, que visam garantir o apoio à actividade empresarial, o desenvolvimento da actividade empre-sarial das pequenas e médias empresas e o reforço da competitividade da economia nacional. Assim:

Apoio à actividade empresarialO tecido empresarial português é essencialmente com-posto por pequenas e médias empresas (PME), sendo que as microempresas são as responsáveis pela criação da maioria dos postos de trabalho e do volume de negócios do nosso país.São classificadas como Pequenas e Médias Empresas (PME) as empresas com menos de 250 trabalhadores e com um volume de negócios anual inferior a 50 milhões de euros.A estrutura societária das PME é predominantemente familiar, o que dificulta o seu acesso a crédito bancário e, por via disso, o seu desenvolvimento, aumento de produtividade e competitividade.A Proposta de Lei do OE para 2008 aprova, por isso, um conjunto de medidas relacionadas com instrumentos de capital de risco e o investidor tradicional para dinamizar a estrutura empresarial.Uma dessas medidas visa incentivar o financiamento por recurso a capitais próprios, contemplando para esse efeito, em sede de IRC, uma dedução ao lucro tributável, durante três exercícios, de uma importância correspon-dente a 3% do montante das entradas realizadas pelos sócios, aquando da constituição das sociedades ou de aumentos do seu capital social, que ocorram entre 2008 a 2010.Outra das medidas é o alargamento à figura do investi-dor do capital de risco (“business angel”) o regime fiscal aplicável às sociedades de capital de risco.Para incentivar a internacionalização das PME e redu-zir as dificuldades das empresas em matéria de dupla tributação, introduz-se uma alteração ao Código do IRC, através da qual se passa a consagrar a possibilidade de celebração de acordos prévios em matéria de preços de transferência, quer de âmbito unilateral, quer bilateral ou multilateral, envolvendo empresas associadas e ad-ministrações fiscais de outros países.Em matéria de tributação de rendimento das empresas, procede-se à redução da taxa de IRC aplicável no regi-me da interioridade para 15% para a generalidade das empresas abrangidas, e 10%, durante os primeiros cinco anos de actividade, no caso de instalação.

Aumento dos benefícios fiscais à interioridadeOs incentivos à interioridade estão consagrados no art. 39.º-B do Estatuto dos Benefícios Fiscais, que, de acordo com as alterações propostas para o próximo ano, haverá redução da taxa do IRC, passando a ser de 15% a taxa

para a generalidade das empresas, e de 10% durante os primeiros cinco anos de actividade, no caso de instalação de novas entidades.

Remuneração convencional do capital socialCom esta medida pretende-se reduzir a diferença entre o nível de tributação que recai sobre as diferentes formas de financiamento das empresas (por utilização de capi-tais próprios ou por recurso a capitais alheios).Esta medida permite a dedução de uma importância correspondente à remuneração convencional do capital social. Ou seja, permite-se a dedução ao lucro tributável, durante três exercícios, de uma importância correspon-dente à aplicação da taxa de 3% ao montante das entra-das realizadas pelos sócios, aquando da constituição de sociedade, ou de aumento de capital social, que ocorram durante os anos de 2008 a 2010. Este benefício é cumulável com os benefícios concedidos à interioridade.

Acordos prévios sobre preços de transferênciaEsta medida traduz a possibilidade de celebração de acordos prévios em matéria de preços de transferência, quer de âmbito unilateral, quer bilateral ou multilateral, envolvendo empresas associadas e administrações fiscais de outros países.Trata-se de uma alteração que contribui para a maior segurança e certeza das empresas e para a resolução de problemas decorrentes da prática de preços de trans-ferência.

Incentivos ao investimento em capital de riscoA nova legislação sobre capital de risco prevê a criação da figura do investidor em capital de risco (“business angel”). O novo regime jurídico aplicável à actividade de capital de risco visa apoiar o arranque e a expansão empresarial.O reconhecimento dos “business angels” na legislação portuguesa passa pela criação da figura dos Investidores em Capital de Risco (ICR). Estes devem assumir a forma de sociedade unipessoal por quotas, assim se distinguin-do o património afecto ao capital de risco do capital do restante património pessoal.O regime constante do artº. 31.º do Estatuto dos Be-nefícios Fiscais passa a ser aplicável aos ICR (regime aplicável às sociedades gestoras de participações sociais e de capital de risco).

Quais são as recentes alterações introduzidas quanto à forma de obtenção do valor patrimonial

tributário dos prédios urbanos?

Foram publicadas, através de portaria (Portaria nº 1434/2007, de 6.11), diversas directrizes referentes à apreciação da qualidade construtiva, de localização excepcional, de localização e operacionalidade relativas e de estado deficiente de conservação, para efeitos de determinação do valor patrimonial tributário dos pré-dios urbanos.

Consultório Consultório

Contabilidade & Empresas - Novembro 2007 - 21

Consultório Consultório

As novas directrizes surgem na sequência das altera-ções ao Código do Imposto Municipal sobre os Imóveis (CIMI) introduzidas pela Lei do Orçamento do Estado para o ano corrente, designadamente nas operações de avaliação, aditando-se novos coeficientes majorativos e minorativos aplicáveis na determinação do coeficiente de qualidade e conforto (Cq), dos prédios urbanos destinados à habitação, comércio, serviços e indústria.Assim, e considerando a experiência adquirida ao longo dos últimos 3 anos, resultante da avaliação de cerca de 1,5 milhões de prédios urbanos, tornou-se necessário proceder ao ajustamento das directrizes relativas à apreciação da qualidade construtiva, da localização excepcional e do estado deficiente de conservação, bem como estabelecer as directrizes relativas ao novo elemen-to de localização e operacionalidade relativas.De acordo com o art. 43º do CIMI, o coeficiente de qua-lidade e conforto (Cq) é aplicado ao valor base do prédio edificado, podendo ser majorado até 1,7 e minorado até 0,5, e obtém-se adicionando à unidade coeficientes ma-jorativos e subtraindo coeficientes minorativos.As directrizes fixadas na nova portaria reportam os seus efeitos às operações de avaliação de prédios urbanos, cujas declarações modelo nº 1 de IMI, para a inscrição ou actualização da matriz predial urbana, sejam entregues a partir de 1 de Julho de 2007. Parâmetros a considerar na avaliação dos prédios ur-banos:• Qualidade construtiva: Qualidade do projecto; Ní-vel de qualidade dos revestimentos/acabamentos; Nível de qualidade, nomeadamente de segurança, incêndio, domótica, isolamentos térmico e acústico. • Localização excepcional: Vistas panorâmicas: para mar, rios, montanhas, zonas verdes, outros elementos visuais, naturais ou artificiais; Enquadramento urba-nístico. • Localização e operacionalidade relativas:- Majorativos ou minorativos: Orientação do prédio; Localização do piso; Localização relativa no piso.«Majorativos: Áreas especiais, nomeadamente telheiros, terraços, estacionamentos abertos ou similares, em grandes superfícies comerciais ou de serviços ou noutras edificações.Minorativos: Qualidade ambiental - poluição atmosfé-rica, sonora ou outra; Acessibilidades fora do normal; Elementos visuais, naturais ou artificiais (por exemplo, ETAR, cemitérios); Ausência ou menor qualidade de infra-estruturas/equipamentos de apoio e lazer no con-domínio fechado. • Estado deficiente de conservação: - Elementos estruturais; Cobertura; Revestimentos de pisos, paredes e tectos; Caixilharias e portas; Canaliza-ções e instalações eléctricas; Condições de salubridade e higiene.

Em que consistiram as recentes alterações ao Código do IRS operadas pelo DL n.º 361/2007,

de 2.11?

O Código IRS foi alterado no sentido de corrigir a tri-butação em sede de mais-valias no reinvestimento em imóveis adquiridos em países da União Europeia, tendo

sido também alargado o âmbito do pré-preenchimento das declarações fiscais.O Código do IRS estabelecia que são excluídos da tribu-tação os ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados a habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar se, no prazo de vinte e quatro meses contados da data de realização, o valor da realização, deduzido da amortização de even-tual empréstimo contraído para a aquisição do imóvel, for reinvestido na aquisição da propriedade de outro imóvel, de terreno para a construção de imóvel, ou na construção, ampliação ou melhoramento de outro imóvel exclusivamente com o mesmo destino, e desde que esteja situado em território português.Ou seja, limitava ao território português o benefício da exclusão de tributação de mais-valias na venda de um imóvel, caso o montante seja reinvestido num outro.A Comissão Europeia, considerando esta norma um entrave à circulação de pessoas e capitais no território europeu e, por conseguinte, uma violação do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu, pediu a Portugal explica-ções sobre tal norma e a sua consequente alteração para adaptação à legislação comunitária.Para este efeito, o Executivo colocou uma autorização legislativa no OE para 2007 no sentido da alteração do Código do IRS neste sentido.Assim, e nos termos da autorização legislativa dada pela Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro (LOE para 2007), foi revisto o regime de exclusão de tributação dos ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados à habitação própria e permanente do sujeito passivo e do seu agregado familiar, nos casos de reinvestimento na aquisição de outro imóvel situado no território de outro Estado-membro da União Europeia ou do espaço económico europeu.Por outro lado, a alteração agora realizada pretende também aprofundar o processo de pré-preenchimento das declarações, através de ajustamentos aos prazos de declarações e aos dados a incluir nas comunicações de entidades terceiras pagadoras de rendimentos.Assim, alterando o artigo 119.º, alarga-se o processo de pré-preenchimento com a inclusão na declaração modelo n.º 10 das contribuições obrigatórias para regimes de protecção social e para subsistemas legais de saúde e das quotizações sindicais, quando entregues pelas en-tidades patronais.

22 - Contabilidade & Empresas - Novembro 2007

Deloitte colabora na redução do IVAA Deloitte colaborou com a Associação Nacional de Comer-ciantes e Industriais de Produ-tos Alimentares (ANCIPA) e com a Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP) na prepara-ção dos dossiers decisivos, com o intuito de reduzir as taxas de IVA em situações específicas.A primeira associação tem-se deparado com tratamento injustificado em sede de IVA conferida aos produtos prepa-rados à base de peixe, legumes e produtos hortícolas. Estes produtos, ainda que apresenta-dos no estado de congelamento ou pré-congelamento, passarão a beneficiar da taxa de 12% e 8% nas regiões autónomas. Com vista a proteger a indús-tria da saúde, em Portugal, a AGAP tem procurado cla-

Breves

Lista dos devedoresrecupera mais de 200 milhões

rificar a aplicação da taxa de IVA às provas desportivas e à prática de actividades físicas. A taxa a aplicar será de 5% e 4% nas regiões autónomas, contra os 21% do passado. Estas reduções permitirão que estas actividades se tornem mais competitivas, para além de representarem um bom estímulo.

A lista dos devedores ao fisco conta, pela primeira vez, com mais de cinco mil contribuin-tes publicitados. Desde Julho de 2006, foram cobrados aos devedores englobados no pro-cedimento de publicitação cer-ca de 207 milhões de euros.Actualmente, o valor agrega-do da dívidas dos devedores publicitados ascence a perto de 1,2 mil milhões de euros. Desde o início do procedimento de publicitação da lista dos de-vedores foram enviadas 43 254 notificações para o exercício do

direito de audição prévia. Dos devedores em causa, refere o Ministério das Finanças, responsáveis por uma dívida agregada de quatro mil mi-lhões de euros, mais de 7400 pagaram a importância atrás referida e perto de 2500 exer-ceram o direito de audição. Destes últimos, pouco mais de 1300 efectuaram, posterior-mente, pagamentos no valor de 71 milhões de euros. Entretan-to, foram incluídos os processos executivos instaurados até ao final do ano passado.

Formalizada a criação da SOFIDO Ministério das Finanças anunciou a criação formal da Sociedade para o Financia-mento do Desenvolvimento (SOFID). Deste modo, o Esta-do passa a dispor de mais um instrumento de intervenção ao nível da cooperação e do desenvolvimento.Esta entidade pretende con-tribuir para o desenvolvimen-to sustentado dos países bene-ficiários da ajuda pública por-tuguesa ao desenvolvimento. Proporciona às empresas nacionais um apoio especia-

lizado nos âmbitos financeiro e de consultoria, apoiando-as nos seus processo0s de inter-nacionalização e cooperação. Consiste numa instituição de cariz financeiro de crédito, sob a forma de sociedade anónima, detida maioritaria-mente pelo Estado (59,9%), sendo o restante capital de-tido por entidades privadas, sobretudo bancárias. O con-selho de administração é composto por nove membros, dos quais cinco são indicados pelo Estado.

Livros

CÓDIGO DO TRABALHO ANOTADOEsta obra vai para além da mera legislação laboral. E destina-se àqueles que, na sua vida profissional, necessitam do máximo de informação sobre o tema. Ao longo da maior parte dos 1188 artigos que compõem o articulado do Código do Trabalho e da respectiva regulamen-tação, foi desenvolvido um trabalho de inserção de notas, com remissões para vários preceitos legais, e anotações.As anotações, para além de incluirem sumários da jurisprudência pro-duzida após a entrada em vigor do Código do Trabalho, contém mais de uma centena de fi-chas interpretativas, produzidas e divulgadas pelos serviços da Inspec-ção-Geral do Trabalho, no âmbito da prestação de informações e conse-lhos técnicos aos empregadores, trabalhadores e respectivas organizações representativas. Contém extensa legislação complementar, como a regu-lamentação do Código do Trabalho, o regime da pré-reforma ou o contrato individual de trabalho na administração pública, entre vários outros aspectos. O autor é Adérito Bandeira, advogado e coordenador da revista “Trabalho & Segurança Social”. A edição é da responsabilidade do grupo Vida Económica e o preço de venda ao público é de 40 euros, num total de 910 páginas.

O SISTEMA FISCAL PORTUGUÊSTrata-se da terceira edição da obra “Sistema Fiscal Português”, da autoria de José Manuel Barreiros e Maria Helena Marques, numa publicação da Áreas Editora. Num só volume é compilada a legislação dos impostos que constituem o sistema fiscal nacional. Inclui os princípios fundamentais, os procedimentos, os diversos códigos, os benefícios fiscais, entre outros aspectos, terminando com um conjunto de diplomas na legislação comple-mentar.Uma das grandes vantagens deste trabalho é que foi elaborado de modo a permitir juntar toda a informação essencial num só volume, o que facilita a busca ou o estudo da legislação. E, apesar de não pretender ser uma obra exaustiva, é bastante abrangente. Além disso, apresenta-se com uma organização e um formato inovadores, o que possibilita um manuseamennto simplificado. De notar que ambos os autores estão ligados à ad-ministração fiscal, o que garante uma perspectiva bastante prática do livro. Também estão ligados a instituições de ensino superiores. A obra é com-posta por um total de 614 páginas.