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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO E SAÚDE NA AMAZÔNIA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E SERVIÇO EM SAÚDE RUTH DAVI DE GOIS EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA DAS PUÉRPERAS QUANTO AO PARTO HUMANIZADO: UMA PROPOSTA EDUCATIVA BELÉM 2016

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ

DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO E SAÚDE NA AMAZÔNIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E SERVIÇO EM SAÚDE

RUTH DAVI DE GOIS

EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA DAS PUÉRPERAS QUANTO AO PARTO

HUMANIZADO: UMA PROPOSTA EDUCATIVA

BELÉM

2016

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RUTH DAVI DE GOIS

EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA DAS PUÉRPERAS QUANTO AO PARTO

HUMANIZADO: UMA PROPOSTA EDUCATIVA

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Gestão e Saúde em na

Amazônia, linha de pesquisa Gestão e Planejamento

em Saúde.

Orientadora: Profª. Dra. Heliana Helena de Moura

Nunes.

BELÉM

2016

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RUTH DAVI DE GOIS

EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA DAS PUÉRPERAS QUANTO AO PARTO

HUMANIZADO: UMA PROPOSTA EDUCATIVA

Dissertação de mestrado submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para

obtenção do Título de:

MESTRE EM GESTÃO E SERVIÇOS DE SAÚDE

e aprovada em 30 de março de 2016, atendendo às normas da legislação vigente do Programa

de Pós-Graduação em Gestão e Saúde na Amazônia - Mestrado Profissional em Gestão e

Serviços em Saúde, da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Linha de pesquisa

Gestão e Planejamento em Saúde. Área de Concentração: Gestão e Saúde.

_____________________________________

Dra. Vera Lúcia de Azevedo Lima

Coordenadora do Programa

Banca Examinadora

_________________________________________

Profª. Dra. Heliana Helena de Moura Nunes

Presidente

______________________________ _________________________________

Dra. Maria Goreth Silva Ferreira Dra. Vera Lucia de Azevedo Lima

Membro Membro

_______________________________ ________________________________

Dra. Maria Elizabete Castro Rassy Dra. Ingrid Magali de Souza Pimentel

Suplente Membro

BELÉM

2016

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DEDICATÓRIA

A Deus pela minha existência. Às minhas filhas, Renata e Raphaela, por confiarem nas minhas escolhas, pelo incentivo e apoio nos momentos difíceis. Ao meu companheiro Ivanilson por compreender a minha ausência nesta trajetória, por escutar meus desabafos e pela cumplicidade em todas as fases deste percurso. Agradeço a Deus todos os dias da minha vida por vocês fazerem parte dela. Amo vocês.

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AGRADECIMENTO

A Deus, fonte de todo o saber, por me dar a coragem e a

inteligência necessária durante toda a realização deste curso.

Às colegas de trabalho pelo incentivo para concluir o curso nos

momentos em que pensei em desistir.

As minhas filhas pelo carinho, incentivo e apoio.

A minha orientadora Heliana Moura pelo acolhimento e

confiança na trajetória de elaboração deste trabalho.

À Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará pela

oportunidade de realizar este curso.

Ao Hospital Abelardo Santos por permitir a realização da

pesquisa deste trabalho.

Às pacientes por aceitarem participar desta pesquisa.

À coordenação do Curso do Programa de Pós-Graduação em

Gestão e Saúde na Amazônia pelo empenho em ofertar novos

conhecimentos para nossas vidas.

Às colegas Maria de Lourdes e Aldenora que me ajudaram

indiretamente na elaboração deste trabalho.

À professora Natália pela paciência de me ajudar na elaboração

deste trabalho.

À Dra. Vera Lima pelo incentivo para concluir o curso no

momento em que pensei em desistir.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a

realização deste trabalho.

A todos os meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

DE GOIS, R. D. Experiência e vivência das puérperas quanto ao parto humanizado: uma

proposta educativa. 2016. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Gestão e Saúde na Amazônia - Curso de Mestrado Profissional em Gestão e

Serviços em Saúde na Amazônia da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Belém-

PA, 2016.

A expressão “violência obstétrica” é utilizada para descrever e agrupar diversas formas de

violência e danos sofridos durante o cuidado obstétrico profissional. Inclui maus tratos físicos,

psicológicos, verbais e procedimentos desnecessários e danosos, tais como: episiotomias,

restrição ao leito no pré-parto, clister, tricotomia, ocitocina (quase) de rotina e ausência de

acompanhante. Diante dessa realidade, há um excesso de cesarianas, fenômeno esse crescente

no Brasil há décadas, apesar de haver algumas iniciativas governamentais para modificar esse

cenário. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi descrever a assistência prestada às

mulheres durante o trabalho de parto e parto no Hospital Público de Belém com base no

Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN). O presente trabalho teve

como cenário um hospital público, de pequeno porte, referência estadual em maternidade de

baixo risco, localizado na cidade de Belém. A metodologia utilizada é do tipo qualitativa

descritiva. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas,

individualizadas, realizadas por meio de um instrumento com perguntas abertas e fechadas. O

processo analítico empregado foi análise temática. As narrativas apontaram para a emergência

de três categorias temáticas: experiência e vivência do trabalho de parto e parto,

conhecimento das puérperas sobre os seus direitos reprodutivos e violência obstétrica velada.

As categorias puderam explicitar que o tema precisa ser abordado cada vez mais, visto que a

maioria das mulheres reconhecem algumas atitudes como violência contra gestantes, mas o

problema é mais associado à violência urbana, física e sexual, cometida por parte do parceiro.

Por outro lado, as categorias puderam explicitar que a assistência prestada às mulheres

durante o trabalho de parto e parto no Hospital Público de Belém com base no Programa de

Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) não é tão notável para as gestantes, porém a

maioria delas afirma ter sido bem assistida tanto no pré-natal como no período de internação.

A maioria mostrou-se bastante satisfeita com o tratamento dispensado durante toda sua

estadia no hospital. Quanto ao nível de conhecimento das mulheres sobre os conceitos de

violência obstétrica, parto humanizado e direitos reprodutivos, apenas uma entrevistada

demonstrou conhecer a lei do acompanhante. Por isso, acredita-se que o uso de tecnologia

educacional como dispositivo mediador do processo ensino-aprendizagem figura como

importante aliado do profissional de saúde diante desse cenário. A cartilha de orientação para

as gestantes irá favorecer a conscientização das mulheres acerca do conceito de parto

humanizado e sua repercussão ocorrerá dentro do contexto familiar, comunitário e social, a

fim de reduzir a invisibilidade da violência obstétrica, por intermédio das ações de educação

em saúde, abordadas pelas equipes da Atenção Básica. Como sugestão para trabalhos futuros,

e para que a tecnologia educacional proposta em formato de cartilha possa cumprir

adequadamente seu propósito, é recomendado que seu conteúdo e aparência sejam

previamente validados.

Descritores: Violência obstétrica; Trabalho de parto e parto; Humanização do parto; Serviços

de saúde materna; Direitos reprodutivos.

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ABSTRACT

DE GOIS, R. D. Experience and experience of mothers as the humanized delivery: an

educational proposal. 2016. Master's thesis submitted to the Graduate in Management and

Health Program in the Amazon - Professional Master’s Degree in Management and Services

for Health in the Amazon Santa Para Mercy House Foundation Belem-PA, 2016.

The expression "obstetric violence" is used to describe and group various forms of violence

(and damage) during the professional obstetric care. Includes physical abuse, psychological,

and verbal, as well as unnecessary and harmful procedures - episiotomies, bed rest in the pre-

partum, enema, shaving and oxytocin (almost) routine, no companion - among which the

excess caesareans, growing in Brazil for decades, despite some government initiatives about.

In this sense, the objective of this study was to describe the care provided to women during

labor and delivery in public hospital in Bethlehem based on the Program for Humanization of

Prenatal and Birth (PHPN). Took place at a public hospital, small, state reference on

maternity low risk, located in the city of Bethlehem. The methodology used is descriptive

qualitative type. Data were collected through semi-structured interviews, individualized,

carried out through an instrument with open and closed questions. The analytical process used

was thematic analysis. The narratives pointed to the emergence of three thematic category:

experience and experiences of labor and childbirth and two subcategories: knowledge of

postpartum women about their reproductive rights and veiled obstetric violence. The

categories could explain that the issue needs to be addressed increasingly, since most women

recognize some attitudes to violence against pregnant women, but the problem is more

associated with urban, physical and sexual violence committed by the partner. On the other

hand, the categories could explain the assistance to women during labor and delivery in public

hospital in Bethlehem based on the Program for Humanization of Prenatal and Birth (PHPN)

is not as remarkable for pregnant women, but most of the women claims to have been well

attended both prenatally and during hospitalization. Most proved to be very satisfied with the

treatment during your stay in hospital. The level of knowledge of women on the concepts of

obstetric violence, humanized birth and reproductive rights, only one interviewed

demonstrated to know the law of the escort. Therefore, it is believed that the use of

educational technology as a mediating device of the teaching-learning process figure as an

important ally of the health professional on this scenario. The guidance booklet for pregnant

women will promote awareness among women about the concept of humanized birth, and its

impact will occur within the family, community and social context in order to reduce the

invisibility of obstetric violence, through the education of shares health, addressed by teams

of primary care. As a suggestion for future work and that educational technology proposed in

booklet format can adequately fulfill its purpose, it is suggested that its content and

appearance are previously validated.

Descriptors: Obstetric violence; Labor of parturition and parturition; Humanization of birth;

Maternal health services; Reproductive rights.

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SUMÁRIO

I CAPÍTULO - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................ 10

1.1. PROBLEMATIZANDO E JUSTIFICANDO A TEMÁTICA ................................................ 10

1.2. JUSTIFICATIVA / RELEVÂNCIA ......................................................................................... 12

1.3. QUESTÕES NORTEADORAS ................................................................................................ 14

1.4. OBJETIVOS .............................................................................................................................. 14

II CAPÍTULO - REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E CONTEXTUAIS ........................................ 15

2.1. TRAJETÓRIA DO PARTO ...................................................................................................... 15

2.2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER ..................................... 19

2.3. PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO NO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO .......................... 22

2.4. REFLEXÕES SOBRE O EVENTO ‘PARTO’ NA ATUALIDADADE ................................. 30

III CAPÍTULO – MÉTODOS ............................................................................................................. 33

3.1. TIPO DE PESQUISA ................................................................................................................ 33

3.2. PRODUÇÃO E ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 34

3.3. CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO............................................... 37

3.3.1. Critério de Inclusão ................................................................................................................... 39

3.3.2. Critérios de Exclusão ................................................................................................................. 39

3.4. CENÁRIO DA PESQUISA ...................................................................................................... 39

3.5. RISCOS E BENEFÍCIOS ......................................................................................................... 41

3.6. ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................................ 42

IV CAPÍTULO - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................ 42

Categoria I – experiência e vivência do trabalho de parto e parto ......................................................... 48

Categoria II - Conhecimento das puérperas sobre seus direitos reprodutivos ........................................ 50

Categoria III - A violência obstétrica velada .......................................................................................... 52

V CAPÍTULO - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 60

APÊNDICE ........................................................................................................................................... 68

ANEXOS ............................................................................................................................................... 85

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I CAPÍTULO - CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1. PROBLEMATIZANDO E JUSTIFICANDO A TEMÁTICA A SER ESTUDADA

A inquietação que deu origem a este estudo emergiu da minha prática profissional

cotidiana em uma maternidade pública, referência em gravidez de baixo risco, na cidade de

Belém, capital do Estado do Pará, onde, há mais de duas décadas, atuo como enfermeira

obstetra.

Nesse cenário, desenvolvo minhas atividades laborais no alojamento conjunto, sala de

parto e centro obstétrico, além de supervisionar os alunos da residência em Enfermagem

Obstétrica e do curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica da Rede Cegonha,

vinculados à Universidade Federal do Pará.

Como enfermeira assistencial surgiu a preocupação em saber como as mulheres

atendidas nessa maternidade se sentiam frente ao atendimento dispensado por todos os

profissionais envolvidos no processo do trabalho de parto e parto.

Há mais de vinte anos desenvolvo atividades profissionais na Maternidade do Hospital

Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS) e presencio várias situações inadequadas aplicadas às

grávidas em trabalho de parto. É comum a utilização de métodos invasivos tais como: o uso

de medicamentos para induzir o parto; a episiotomia desnecessária; o uso de palavras

grosseiras por parte dos obstetras e profissionais de enfermagem; o jejum durante o trabalho

de parto; a ausência do acompanhante durante a parturição; o agendamento de uma cesárea

sem a real necessidade como ocorre nas situações que, para evitar que a gestante sinta dor

durante o trabalho de parto, já se agenda a cesárea nos casos em que será feita a laqueadura;

recusar dar bebida ou comida para uma mulher durante o trabalho de parto; ou impedir

procedimentos simples como massagens, deambulação, banho morno ou uso de outras

tecnologias não invasivas de cuidados para o alívio da dor durante o trabalho de parto e parto.

Na maioria das vezes a violência sofrida não é nem identificada em razão do

desconhecimento dos direitos reprodutivos da mulher. Surgiu, então, o interesse em conhecer

o que essas mulheres sentem ao serem atendidas nessa maternidade e como avaliam o

atendimento dispensado pelos profissionais dessa instituição.

No Brasil, em 1993, foi fundada a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento

(ReHuNa) que atualmente congrega centenas de participantes entre indivíduos e instituições.

A ReHuNa elaborou um documento denominado “Carta de Campinas” o qual relata

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denúncias sobre as circunstâncias de violência e constrangimento que ocorrem durante a

assistência ao parto, especialmente as condições pouco humanas as quais são submetidas

mulheres e crianças no momento do nascimento (DINIZ, 2005).

O principal modelo de assistência ao parto no Brasil é hospitalar e com intervenções

inapropriadas no processo fisiológico. Para a melhoria da saúde de mulheres e crianças há

grandes desafios, como a redução de desigualdades socioeconômicas e regionais da saúde, das

elevadas taxas de cesarianas, dos nascimentos pré-termo e dos abortos ilegais (VICTÓRIA,

AQUINO, LEAL, 2011).

Atualmente, sabe-se, através de pesquisas que enfatizam a fala das mulheres, que

muitas delas comumente vivenciam o parto com ofensas, dor e humilhação (DINIZ e

CHACHAM, 2006; GOMES et al., 2008). Tal circunstância, antes invisível, uma vez que é

revelada, demonstra uma realidade cotidiana cruel que fere completamente os princípios dos

direitos da mulher e dos direitos humanos (MATTAR; DINIZ, 2012).

Em 2011 foi lançada, pelo Governo Federal, por iniciativa do Ministério da Saúde, a

Rede Cegonha (RC) com o objetivo de proporcionar melhor atenção e qualidade de saúde

para mulheres e crianças. A Rede Cegonha incentiva a inovação e a excelência na atenção

pré-natal, na assistência ao parto e pós-parto, bem como nas ações em torno do

desenvolvimento da criança durante os primeiros dois anos de vida. O foco estratégico da RC

está na redução da morbimortalidade materna e infantil, especialmente em seu componente

neonatal (MS/BRASIL, 2014).

Mesmo com a iniciativa do Governo em reduzir a violência contra a mulher grávida,

observamos que a violência se tornou um problema de saúde pública, o qual vem se tornando

uma temática muito discutida em eventos científicos, na mídia e em maternidades de todo o

mundo. Seja a violência física, sexual, psicológica ou emocional ela fica ainda mais grave

quando praticada contra mulheres grávidas, pois pode provocar consequências danosas para a

saúde da mãe e do filho, como baixo peso do recém-nascido, abortos, partos e nascimentos

prematuros e até a morte materna e fetal.

No Relatório Mundial de Saúde (2011) a organização sinaliza que, para evitar e

eliminar o desrespeito e os abusos contra as mulheres durante a assistência institucional ao

parto no mundo inteiro, as medidas a seguir devem ser tomadas:

1. Aumentar as opções dos governos e de parcerias do desenvolvimento social

para pesquisas e ações contra o desrespeito e os maus-tratos, sendo necessárias evidências

sobre a efetividade e a implementação de intervenções em diferentes contextos para oferecer a

orientação técnica necessária aos governos e profissionais da saúde.

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2. Começar, apoiar e manter programas desenhados para melhorar a qualidade

dos cuidados da saúde materna com forte enfoque no cuidado respeitoso como componente

essencial da qualidade da assistência.

3. Enfatizar os direitos das mulheres a uma assistência digna e respeitosa durante

toda a gravidez e o parto.

4. Produzir dados relativos às práticas respeitosas e desrespeitosas na assistência à

saúde com sistemas de responsabilização e apoio significativo aos profissionais.

5. Envolver todos os interessados, incluindo as mulheres, nos esforços para

melhorar a qualidade da assistência e eliminar o desrespeito e as práticas abusivas.

A assistência obstétrica por enfermeiras tem sido foco de amplas discussões no que se

refere ao âmbito clínico, teórico, de formação e regulação profissional. A participação desses

profissionais na assistência ao parto se dá num contexto marcado por mudanças que refletem

a ampla discussão sobre a medicalização do corpo feminino e o uso de práticas sem

evidências científicas e que não são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde

(LIMA et al., 2015).

Há desafios colocados aos profissionais da área obstétrica, como a adequação técnica

no modelo humanizado, que têm como proposta a compreensão do parto como um evento

fisiológico e social, no qual a assistência baseia-se na não invasão e considera a mulher como

protagonista do processo (GOMES e MOURA, 2012; NASCIMENTO, PROGIATI,

OLIVEIRA, et al.,2010).

Atualmente, sabe-se que o parto e o período pós-parto imediato são ocasiões de

especial vulnerabilidade tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. Estima-se que durante

as primeiras 24 horas após o parto ocorrem entre 25% e 45% das mortes neonatais e 45% das

mortes maternas (MOREIRA et al., 2014).

Assim, as práticas de atenção ao parto e ao período pós-parto imediato, que estão

orientadas aos problemas mais sérios e imediatos da mãe como hemorragia pós-parto e

infecção do recém-nascido, asfixia, baixo peso ao nascer, prematuridade e infecções graves,

são as que recebem maior atenção no registro das intervenções em saúde pública (BRASIL,

2011).

1.2. JUSTIFICATIVA / RELEVÂNCIA

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A violência obstétrica pode ser considerada como causa externa de morbimortalidade

do ponto de vista diagnóstico e está entre os inúmeros tipos de violência contra a mulher. Esse

tipo de violência pode ser caracterizado, no Brasil, como ações que interferem sobre o corpo

da mulher, ocasionam dor ou dano físico e são realizadas sem recomendações baseadas em

evidências científicas (ASSUMPÇÃO et al. p. 48, 2014).

A violência exercida durante o trabalho de parto e parto pode ter caráter físico ou

psicológico. São de caráter físico as violências de privação de alimento, proibição da

movimentação da mulher, realização da manobra de Kristeller, uso rotineiro da ocitocina,

cesariana eletiva sem indicação clínica e não utilização da analgesia quando tecnicamente

indicada. Em contrapartida, são violências de caráter psicológico as ações verbais ou

comportamentais que causem na mulher sentimentos de inferioridade, insegurança, medo,

entre outros (MALHEIROS, 2012).

Para a OMS, a violência contra a mulher é um problema de saúde pública por sua

dimensão e gravidade das sequelas orgânicas e emocionais que produz. Paralelamente, está a

violência obstétrica que é um problema recorrente presente nas práticas da atenção destinada à

mulher no parto e envolve questões sociais, econômicas, de gênero, de raça e institucionais

(DIAS et al. 2015).

Para que as enfermeiras obstétricas possam utilizar técnicas não invasivas para o alívio

da dor do parto, proporcionando, assim, melhor segurança para as mulheres, é importante

conhecer como elas se sentem nesse período, que é de grande importância para elas e seus

filhos.

A relevância desse estudo para a assistência, o ensino, a pesquisa e a extensão está em

conhecer como essas mulheres pensam, se identificam e reagem frente à assistência prestada

nesse período tão significante de suas vidas, bem como em trazer contribuições ao debate

sobre a humanização na assistência à saúde, principalmente no que se refere às políticas de

humanização do parto e nascimento.

Esse estudo é relevante, pois irá oferecer subsídios para melhorar a assistência

prestada às gestantes durante o trabalho de parto, parto e no período do puerpério, com base

nas expectativas e vivências relatadas por essas mulheres.

Portanto, acredita-se que, com isso, poderão ser aprimoradas as práticas assistenciais

da equipe multidisciplinar de saúde, contribuindo para a efetivação das diretrizes do programa

de humanização do parto e nascimento.

A partir do exposto, este estudo se justifica na medida em que se faz necessário

caracterizar as publicações brasileiras sobre o tema, de modo a permitir intervenções da

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equipe de saúde, garantindo à mulher o direito à gestação e ao parto seguros, livres de

violência.

1.3. QUESTÕES NORTEADORAS

As experiências vividas por mulheres durante o período do trabalho de parto e parto é

uma temática atual e ampla em todo o mundo e que objetiva dar voz para essas mulheres,

fazendo com que elas sejam protagonistas do processo da humanização do parto. Com base no

objeto de estudo deste trabalho, que é a experiência e a vivência das puérperas quanto ao parto

humanizado, foram elaboradas as seguintes questões norteadoras:

Como as mulheres percebem sua assistência durante o período do trabalho de

parto e parto?

As mulheres atendidas na maternidade do HRAS têm conhecimento sobre seus

direitos reprodutivos?

É importante propor tecnologias educativas voltadas para a equipe de saúde

quanto à importância das ações humanizadas?

1.4. OBJETIVOS

Objetivo Geral

Descrever a assistência prestada às mulheres durante o trabalho de parto e parto

em Hospital Público de Belém com base no Programa de Humanização do Pré-natal e

Nascimento (PHPN).

Objetivos Específicos

Analisar o conhecimento das mulheres sobre os direitos reprodutivos e a

experiência vivida no período do trabalho de parto e parto;

Elaborar uma tecnologia educativa (cartilha com ações humanizadas) sobre os

direitos reprodutivos no trabalho de parto e parto.

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II CAPÍTULO - REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E CONTEXTUAIS

2.1. TRAJETÓRIA DO PARTO

O nascimento é historicamente um evento natural. Como é indiscutivelmente um

fenômeno mobilizador, mesmo as primeiras civilizações agregaram a este acontecimento

inúmeros significados culturais que através de gerações sofreram transformações e, assim,

ainda hoje, comemoramos o nascimento como um dos fatos marcantes da vida (PETER et al.,

2010).

A Igreja Católica descrevia o sofrimento no parto como desígnio divino, pena pelo

pecado original, sendo dificultado e mesmo ilegalizado qualquer apoio que aliviassem os

riscos e dores no parto (DINIZ, 2005).

De acordo com Diniz (2005), o cenário do parto era predominantemente feminino,

com a presença de cânticos, rezas e benzeduras. Com o passar dos anos, e com o

fortalecimento da Igreja como instituição que exercia poder e domínio sobre a sociedade, a

figura da parteira passou a ser negativada. Acusadas de praticar bruxaria, as parteiras

começaram a sofrer perseguições pela Igreja católica através da Santa Inquisição.

A obstetrícia assumiu o papel de salvadora. As mulheres - que antes eram condenadas

pela Igreja a pagar pelo chamado pecado original e, portanto, segundo os preceitos bíblicos,

deveriam passar por uma experiência de parto sofrida (parirás com dor) - passaram a ser

vítimas da natureza, sendo dever do obstetra intervir para antecipar os perigos do

“desfiladeiro transpelvino” e combatê-lo (DINIZ, 2005).

A Sagrada Escritura cita que as dores durante o parto são punições que a mulher deve

sentir por ter cometido o pecado original, interferindo em seus sentimentos e percepções

acerca desse momento, substituindo o sentimento de prazer durante a concepção pelo castigo

(BEZERRA; CARDOSO, 2006).

A replicação desse pensamento no arcabouço histórico e cultural da sociedade leiga e

de profissionais de saúde expõe a mulher à violência obstétrica e de gênero, sendo a dor

inerente à experiência da maternidade (ANDRADE; DE MELO AGGIO, 2014).

Um famoso obstetra brasileiro, Moisés Paciornick, atuou no Paraná e enfatizou a

importância de atores não médicos no parto, como as parteiras indígenas, bem como a

importância de compreender sua fisiologia e, em 1979, publicou Parto de cócoras - Aprenda

a Nascer com os Índios (MUNIZ, 2013).

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O obstetra uruguaio Roberto Caudeyro-Barcia, pesquisador de ponta da fisiologia

obstétrica, publicou, em 1979, Bases fisiológicas y psicológicas para El manejo humanizado

Del parto normal (MUNIZ, 2013).

A partir da segunda metade da década de 1980, tomou corpo um movimento

internacional chamado Medicina Baseada em Evidências (MBE) (RATTNER, 2009). Esse

movimento surgiu do reconhecimento de que “boa parte da prática médica não é respaldada

por estudos de qualidade sobre a segurança e a eficácia dos procedimentos utilizados, quer

sejam os medicamentos, os exames, as cirurgias, entre outros” (MOURA et al., 2007).

A visão que prevalece sobre o parto transformou maternidades pelo mundo afora em

laboratórios de alta tecnologia e os seres humanos em objetos passivos (DIAS, 2009). Uma

série de atitudes rotineiras é tomada assim que as mulheres entram na maternidade para darem

à luz. Tais rotinas médicas são, muitas vezes, baseadas em tipos de pesquisas tendenciosos, os

quais vêm favorecendo “práticas inúteis, arriscadas ou danosas” (DINIZ, 2005).

O obstetra brasileiro José Galba de Araújo apoiava as parteiras tradicionais no Ceará e

utilizava recursos humanos disponíveis em favor das mulheres no parto, uma de suas

preocupações era a busca do equilíbrio entre a tecnologia, os costumes e as tradições regionais

na assistência ao parto. Em 1987 publicou o livro Parteiras Tradicionais na Atenção

Obstétrica no Nordeste. (MUNIZ, 2013).

Frederick Leboyer, obstetra francês, escreveu seu primeiro livro em 1976, Birth

Without Violence, e enfatizou que o parto é um processo simples e natural e o bebê é um ser

sensível que deveria ser recebido em um ambiente físico e emocional acolhedor e não de

sofrimento e dor. Sua contribuição ainda é considerada importante referência nessa área

(VALE, 2014).

Também na década de setenta, Michel Odent, outro obstetra francês, ficou famoso por

introduzir a piscina de parto em uma maternidade francesa, em Pithiviers, e pela divulgação

das experiências de partos humanizados e prazerosos que ali ocorriam (MOURA, 2007). Este

autor ainda hoje é um dos nomes mais importantes na campanha mundial pela humanização

do parto, tendo publicado 12 livros a esse respeito que foram traduzidos para 21 línguas

(MUNIZ, 2013).

Esse obstetra enfatiza a importância do conhecimento produzido recentemente sobre a

fisiologia do parto para o entendimento das necessidades das mulheres em trabalho de parto,

bem como a possibilidade de se viver uma experiência prazerosa neste momento. Tais

concepções diferem em grande medida do modelo médico hegemônico chamado

intervencionista ou tecnocrático (DE MENEZES; PORTELLA; BISPO, 2012).

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Frente à banalização do intervencionalismo no cuidado ao parto, em 1996 a

Organização Mundial de Saúde lança um manual de recomendações

baseadas em evidências científicas para o cuidado humanizado ao parto

normal de risco habitual, buscando, assim, combater a “adoção sem críticas

de uma variedade de intervenções inúteis, inoportunas, inadequadas e/ou

desnecessárias” onde o parto normal era conduzido da mesma forma que o

parto complicado, culminando, em grande parte dos casos, na transformação

de um evento fisiológico em um evento potencialmente patológico (OMS,

1996).

Assim, começa a surgir no contexto obstétrico uma nova visão de assistência à

parturiente: a visão da medicina baseada em evidências (BRASIL, 2014).

A Medicina Baseada em Evidências (MBE) consiste em um uso consciencioso,

explícito e judicioso das melhores evidências científicas correntemente disponíveis para tomar

decisões relativas ao cuidado de pacientes individuais. A prática da MBE traduz-se na

integração da experiência clínica individual com as melhores evidências clínicas disponíveis

obtidas em pesquisas sistemáticas e com as características e expectativas dos pacientes

(AMORIM, 2011).

Ao analisar a história do parto no decorrer dos anos, podemos observar inúmeras

transformações relacionadas ao modelo assistencial prestado (CARVALHO; MERIGUI,

2007).

O progresso tecnológico e científico da obstetrícia e a institucionalização do parto

foram de grande valia para a assistência à gestante e ao parto de alto risco, porém a

mortalidade materna e perinatal permaneceu alta, haja vista que o parto de evolução

fisiológica se tornou de risco, devido ao excesso de intervenções desnecessárias e de

assistência desumanizada (CRIZÓSTOMO; NERY; LUZ, 2007).

Historicamente, os partos e cuidados pós-parto eram realizados por mulheres

conhecidas popularmente como aparadeiras, comadres ou mesmo parteiras leigas. Essas

mulheres eram de inteira confiança e detinham um saber empírico sobre gestação, parto e

puerpério (ROCHA, 2011).

A imposição da posição deitada para a mulher durante o trabalho de parto e durante o

próprio período expulsivo do parto coincidiu com a emergência da disciplina Obstetrícia que

emergiu na Europa, no século XVII (DIAS, 2009).

Nessa época, médicos obstetras quiseram observar de perto o processo de trabalho de

parto e nascimento, visando intervir quando necessário. Para tal observação, era adotada a

posição antinatural que se tornou rotineira em função do favorecimento do trabalho médico: o

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parto horizontal ganhou propagação com o início da utilização de manobras técnicas, tais

como o fórceps (DIAS, 2009).

Ao falar da publicação de pesquisas científicas acerca do posicionamento assumido

pela mulher durante o trabalho de parto e durante o período expulsivo, Dias (2009) destaca os

seguintes benefícios de uma posição mais verticalizada:

(I) a sintonia com a ação da gravidade, (II) a não compressão dos grandes

vasos maternos, o que acarretaria em comprometimento da oxigenação fetal,

(III) o aumento do diâmetro do canal do parto ( na posição específica de

cócoras), (IV) o ângulo de encaixe menos agudo, ou seja, mais aberto, (V)

bons resultados relativos à ventilação pulmonar e ao equilíbrio ácido-básico

materno e fetal, (VI) contrações uterinas mais eficientes, (VII) forças de

puxo maiores, (VIII) menos pressões vaginais, (IX) menor duração do

período de dilatação e expulsivo, (X) menor utilização de drogas e

anestesias, (IX) menores complicações no parto e puerpério.

Até o final do século XIX, os partos ocorriam, em sua grande maioria, em domicílios.

Naquele momento, as maternidades não representavam um lugar seguro para as mulheres

darem à luz (BRASIL, 2010).

Foi somente após a Segunda Guerra Mundial, com a absorção de novos

conhecimentos e habilidades nos campos da cirurgia, da assepsia, da anestesia, de

hemoterapia e da antibioticoterapia, que os médicos conseguiram diminuir significativamente

os riscos de um parto hospitalar e, conseguintemente, os índices da morbimortalidade materna

e neonatal. A partir de então, o parto passou progressivamente a ser institucionalizado

(BRASIL, 2012a).

Considerando a história dos modelos de atenção ao parto, no século XX, em especial o

modelo hegemônico estava baseado em uma visão negativa, de sofrimento e dor para a

mulher e para o bebê (DINIZ, 2003).

Modelos de atenção à saúde se configuram como construtos sociais, ou seja, são

permeáveis à cultura e às configurações de papéis de gênero. O parto, assim, era visto como

um castigo para a mulher pelo prazer sexual. A partir do pressuposto do sofrimento, o bem-

estar físico e emocional da mulher não fazia parte da concepção desse processo fisiológico,

que era considerado patológico pela medicina (BERGER e LUCKMANN, 1966).

Por muito tempo a assistência ao parto foi considerada uma atividade exclusivamente

feminina. Durante esse período as mulheres em trabalho de parto recebiam ajuda de outras

mulheres, que podiam ser do seu ambiente mais próximo (parentes, vizinhas e amigas) ou

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mulheres reconhecidas pela sua experiência e habilidade para tal acompanhamento, as

parteiras (BRASIL, 2012a).

Com relação à história do parto no Brasil, sabe-se que o avanço do conhecimento

acerca da reprodução e do próprio parto, conseguido através da hospitalização, promoveu

melhorias. Entretanto o preço a ser pago foi a desumanização do serviço e a transformação do

lugar da mulher, que passou do estatuto de sujeito para objeto nesse processo. (NAGAHAMA

e SANTIAGO, 2005).

Nessa perspectiva, a filósofa Marilena Chauí (1985) afirma que a violência contra as

mulheres é resultado de uma ideologia que define a condição feminina como inferior à

condição masculina. Assim, essa diferença é transformada em uma relação hierárquica de

desigualdade com fins de dominação, exploração e opressão. A mulher, ao ser tratada como

objeto, vivencia a experiência de violência real, conforme a definição de Chauí (1985).

Nesse sentido, Teixeira e Mota (2011) acreditam que a pertinência científica das

tecnologias educacionais produzidas na área da enfermagem gera novos conhecimentos que

podem ser institucionalizados nos processos de formação técnica e superior.

Para Nascimento (2012),

a tecnologia educacional é considerada uma estratégia que, mediante o uso

sistemático dos conhecimentos disponíveis, visa a elaborar uma nova

intervenção já existente, ou ainda elaborar ou melhorar um instrumento, um

dispositivo ou um método de mediação.

2.2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER

Nas primeiras décadas do século XX, a saúde da mulher passou a fazer parte das

políticas públicas de saúde, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à gravidez e

ao parto (FARAH, 2004).

Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde

da Mulher (PAISM), marcando uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da

política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades nesse campo

(TAVARES et al., 2009).

O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização,

hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integridade e a equidade da

atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se conceba

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o arcabouço conceitual que embasa a formulação de Sistema Único de Saúde (SUS)

(TAVARES et al., 2009).

Apesar dos avanços da Constituição de 1988 no que diz respeito à igualdade de

homens e mulheres, o Código Penal era insuficiente para abarcá-los, sendo necessária a

criação de uma lei específica para prevenir, punir e erradicar a violência contra as mulheres

(DA COSTA, 2015).

Assim, em 07 de agosto de 2006, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da

Silva, sancionou a Lei nº 11.340/2006 de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que

recebeu o nome de Lei Maria da Penha Maia, cujos objetivos estão descritos na ementa:

“Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e

familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226

da Constituição Federal, da Convenção sobre a

eliminação de todas as formas de discriminação contra as

mulheres e da convenção interamericana para prevenir,

punir e erradicar a violência contra a mulher; dispõe

sobre a criação dos Juizados de violência doméstica e

familiar contra a mulher; altera o Código Penal e a Lei de

Execução Penal; e dá outras providências” (BRASIL,

2006, seção 1, p.1).

No ano de 2003, a Área Técnica de Saúde identifica a necessidade de articulação com

outras técnicas e de propor novas ações para a atenção das mulheres rurais com deficiência,

negras, indígenas, presidiárias, lésbicas e a participação nas discussões e atividades sobre a

saúde da mulher e o meio ambiente (ASSIS et al., 2013).

Segundo Fortes (2004), começaram a surgir no final da década de 90 as políticas

governamentais a respeito da humanização na atenção à saúde.

As políticas relacionadas ao processo de humanização do parto/nascimento foram

regulamentadas através da portaria nº 163, de 22 de setembro de 1998, que permite a

realização do parto sem distorcias por enfermeiros obstetras (BARBOSA, 2013).

No ano de 2000 foi criado o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do

SUS (PHPN), que apresenta o direito à humanização da assistência obstétrica e neonatal como

condição para o acompanhamento adequado a mulheres e recém-nascidos (BRUGGEMANN,

2003; OMS, 2009).

Já em 2001, o Ministério da Saúde apresentou o Programa Nacional de Humanização

da Assistência Hospitalar (PNHAH). Esse programa tinha como objetivo tornar o ambiente

hospitalar mais humano, no que diz respeito ao atendimento ao usuário (FORTES, 2004).

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No ano de 2003, o Ministério de Saúde põe em prática a Política Nacional de

Humanização (PNH) também denominada Humaniza SUS. O Humaniza SUS traz relevantes

melhorias nos serviços de saúde, permitindo o desenvolvimento de atividades humanizadas

que resgatam os princípios e diretrizes da construção do SUS, como a regionalização,

universidade, assistência integral, hierarquização e a participação social (FORTES, 2004).

A PNH vem apostando, compondo e articulando estratégias, promovendo e

agenciando experiências de apoio no SUS. Queremos aqui destacar a experiência de apoio

institucional voltada para a humanização do parto e nascimento, experimentada no Plano de

Qualificação de Maternidades e Redes Perinatais da Amazônia Legal e Nordeste Brasileiro

(PQM) ∕ 2009-2011 (VASCONCELOS; MARTINS; MACHADO, 2014).

O Plano serviu de baliza para a concepção do processo de trabalho da Rede Cegonha

(RC), lançada em 2011 pelo governo federal, configurando-se uma rede de cuidados que visa

assegurar à mulher e à criança, o direito à atenção humanizada durante o pré-natal,

parto/nascimento, puerpério e atenção infantil em todos os serviços de saúde do Sistema

Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2014).

Com o funcionamento do PQM e posteriormente da RC buscou-se – e ainda se busca –

criar condições políticas, institucionais e técnicas para mudanças de processos de trabalho,

tendo em vista a qualificação da gestão e da atenção materna e infantil, a humanização do

cuidado, a garantia de direitos dos usuários e a redução das taxas de mortalidade infantil/

neonatal e materna (BRASIL, 2014).

Desde 2012, a Rede Cegonha, por sua vez, propõe a organização e a qualificação da

atenção e gestão materna e infantil em todo âmbito nacional, com incentivos técnicos e com

financiamento atrelados às mudanças do modelo obstétrico e neonatal (BRASIL, 2012).

Pode-se dizer que a RC amplia o PQM sob o ponto de vista da extensão territorial,

como também reforça a trajetória já iniciada com o PQM de se trabalhar com o apoio

institucional realizado nas maternidades com as equipes, atrelada a uma perspectiva de

produção de redes de cuidados materno e infantil (VASCONCELOS; MARTINS;

MACHADO, 2014).

Com esse intuito, a RC vem agregando às diretrizes de humanização do PQM

(acolhimento com classificação de risco/vulnerabilidade, cogestão, direito à acompanhante de

livre escolha da gestante e ambiência) outras questões fundamentais, tais como a defesa dos

direitos sexuais e reprodutivos, aumento da abrangência do cuidado a crianças de até dois

anos de idade, mudanças no modelo de gestão da rede materna e infantil com indução

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financeira, implementação de Centros de Parto Normal (CPN) e casas da Gestante, Bebê e

Puérpera (CGBP) (BRASIL,2012).

Conforme o modelo tecnocrático de atenção ao parto demonstrou seu caráter

prejudicial, como apontado nas evidências científicas que baseiam as diretrizes da OMS, foi

organizado pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Humanização do Parto e

Nascimento (MS, 2000).

A partir de então, o ideário da humanização passou a nortear todas as instâncias do

SUS. O objetivo principal dessa política é a melhoria do atendimento oferecido (GARCIA, A.

et al., 2009).

Um ponto central da implantação dessa política de humanização é a elevada

mortalidade materna, que apesar dos avanços científicos na área, continua a ser um fator

preocupante no Brasil (MORSE et al., 2011).

Segundo Leal (2008), mesmo com os avanços produzidos por medidas tomadas pelo

governo na atenção básica à gestante, não foi alcançado o objetivo maior de diminuir a

mortalidade materna. Ainda segundo essa autora: “As principais causas vigentes de morte

continuam a serem hemorragias e hipertensão arterial, ambas evitáveis por meio de assistência

de qualidade ao pré-natal e ao parto [...]” (LEAL, 2008, pg.1724).

Com isso, comprova-se que a má qualidade da assistência à gestação e ao parto no

Brasil ocasiona um alto número de mortes que poderiam ser evitadas (PAIM et al., 2011).

De fato, a Razão de Morte Materna (RMM) alcança índices altos no Brasil

(TANAKA, 2000) e por isso tornou-se prioridade na agenda da saúde coletiva no Brasil,

desvelado primeiramente pelos altos índices de intercorrências na gravidez e no parto que

levam à morte, marca extrema da violência.

Os dados sugerem valores mais elevados nas mulheres de menor renda e escolaridade,

da raça negra e com pouco acesso à assistência, sendo um importante indicador das condições

de vida e injustiça social (MORSE et al.,2001).

2.3. PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO NO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO

O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) foi instituído pelo

Ministério da Saúde, por meio da Portaria/GM nº 569 de 01/06/2000, subsidiado nas análises

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da necessidade de atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à mãe no período pós-

parto (CORRÊA; BONADIO; TSUNECHIRO, 2011).

O objetivo primordial do PHPN é assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da

qualidade do acompanhamento do pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e

ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania (SERRUYA; LAGO; CECATTI,

2004).

O PHPN fundamenta-se nos preceitos de que a humanização da Assistência Obstétrica

e Neonatal é a condição primeira para o adequado acompanhamento do parto e do puerpério

(CARVALHO et al., 2012)

Puerpério1 é o período que compreende a fase pós-parto, quando a mulher passa por

alterações físicas e psíquicas até que retorne ao estado anterior a sua gravidez. Inicia-se no

momento em que se dá o descolamento placentário, logo após o nascimento do bebê.

A discussão sobre a humanização surgiu, na década de 80, devido ao aumento das

taxas de mortalidade de mulheres durante o trabalho de parto, provocando mudanças nas

políticas públicas de atenção à saúde da mulher. A primeira mudança ocorreu no Programa de

Atenção Integral à Saúde da mulher, que visava adotar uma assistência mais humanizada em

todos os âmbitos da saúde (GRIBOSKI; GUILHEM, 2006).

A humanização do parto normal é um processo que tem início no pré-natal, nesse

momento os profissionais planejam o parto e os possíveis procedimentos realizados,

objetivando o benefício da mãe e do bebê, promovendo um parto e nascimento saudáveis e

seguros, prevenindo, assim, possíveis intervenções desnecessárias (OMS, 2009).

Existem vários conceitos sobre a humanização no parto, dentre eles o que diz que

“humanizar o parto é respeitar e criar condições para que todas as dimensões do ser humano

sejam atendidas: espirituais, psicológicas, biológicas e sociais” (BUSANELLO et al., 2011).

Quando dizemos que a violência obstétrica é uma realidade, estamos partindo de

dados confiáveis, científicos, obtidos por meio de pesquisas sérias. O padrão que se vê na

assistência ao parto no Brasil é violento. Essa é a realidade (TAVARES et al., 2009).

Durante gerações e em todas as culturas humanas, o surgimento de um novo ser

sempre despertou corações e mentes. Principalmente para a mulher, a gravidez e o

nascimento, em particular, são eventos únicos repletos de fortes sentimentos e emoções

(BRASIL, 2014).

1 Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/37399/o-que-e

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O ambiente em que a mulher é cuidada não deve ser um ambiente hostil, com rotinas

rígidas e imutáveis, onde ela não possa expressar livremente seus sentimentos e suas

necessidades. Deve receber cuidados individualizados e flexíveis de acordo com suas

demandas. É necessário que a mulher se sinta segura e protegida por todos que a cercam.

(BRASIL, 2014).

O objetivo principal da assistência materna de qualidade é favorecer experiência

positiva para a mulher e sua família, mantendo a sua saúde física e emocional. Ela deve

receber apoio contínuo da equipe assistencial e suas angústias e questionamentos devem ser

esclarecidos com linguagem clara e acessível e com tom de voz que traduza calma e

serenidade. (BRASIL, 2014).

Figura 1: Gestante presidiária algemada aguardando atendimento.

Fonte: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/03/guest-post-nao-da-mais-pra-ignorar.html

Para Sena (2011), “a falta de informação, é apenas um dos fatores que contribuem para

a invisibilidade e o desconhecimento da violência obstétrica”. Um agravante é o “produto

final” do evento de nascimento: a chegada de um filho.

É um momento tão especial, marcado por tantas emoções e surpresas, que, muito

embora as mulheres tenham sofrido agressões e violências, acabam minimizando o que

sofreram em função da alegria do momento. Apesar de ser invisível, é uma violência

institucionalizada: “as mulheres acham que são tratadas daquela maneira” porque “é assim

que acontece mesmo” ou “faz parte” (SENA, 2011).

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A definição de violência obstétrica2, como um tipo de violência contra a mulher,

consiste em qualquer ato realizado por profissionais da saúde em relação ao corpo e aos

processos reprodutivos das mulheres, sejam antes, durante ou depois do parto. Sendo exercido

através do excesso de intervenções e onde os processos fisiológicos sejam medicalizados e

patologizados (ANDRADE; AGGIO, 2014).

Projetos e iniciativas buscam dar visibilidade à questão da violência obstétrica, lutando

para que mulheres tenham partos dignos e para que os direitos reprodutivos sejam respeitados

e do conhecimento das mulheres.

O surgimento do termo “Direitos Reprodutivos” possui sua raiz na luta das mulheres

quando elas entraram em marcha para garantir a sua autodeterminação sexual, a capacidade

de decidir quando e como querem ter filhos e o controle do seu próprio corpo (DOS

SANTOS; CANCIANI; DA SILVA, 2015).

Segundo Dos Santos, Canciani e Da Silva (2015), pode-se afirmar que os direitos

sexuais e os direitos reprodutivos (DSDR) são uma geração recente dos direitos humanos e,

no Brasil, é um campo de reflexão relativamente novo. No entanto a enorme distância entre a

elaboração dos direitos humanos e sua efetivação, por meio de políticas públicas, exige um

esforço coletivo e transdisciplinar para que tais direitos beneficiem a quem de direito.

O termo direitos reprodutivos veio a público no I Encontro Internacional de Saúde da

Mulher, realizado em Amsterdã, Holanda, em 1984. Houve uma concordância plena de que

essa qualificação traduzia um conceito mais completo e adequado do que “saúde da mulher”

para a ampla pauta de autodeterminação reprodutiva das mulheres (DOS SANTOS;

CANCIANI; DA SILVA, 2015).

A parteira Ana Cristina Duarte3 descreve atos que podem ser considerados violência

obstétrica:

Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência

familiar ou do seu círculo social;

Tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, zombeteira ou

qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido, incluindo tratá-la de forma

inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos;

2 Violência contra a mulher é definida enquanto qualquer ato ou conduta baseada em ser mulher e causa dano ou

sofrimento físico, psicológico ou sexual, podendo levar até à morte, independente de ser em ambientes públicos

ou privados (ANDRADE; AGGIO, 2014). 3 Disponível em: <http://www.maternidadeativa.com.br/anacris.html>. Acesso em: 24 fev 2016.

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Submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes,

como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com pernas

abertas;

Impedir a mulher de se comunicar com o “mundo exterior”, tirando-lhe a

liberdade de usar o celular, caminhar até a sala de espera, etc.:

Fazer graça ou recriminar por qualquer característica ou ato físico como

obesidade, pelos, estrias, evacuações e outros, assim como por comportamentos como: gritar,

chorar, ter medo, vergonha, etc.;

Fazer qualquer procedimento sem explicar antes o que é, porque está sendo

oferecido e, acima de tudo, sem pedir permissão;

Submeter a mulher a mais de um exame de toque (ainda assim quando

estritamente necessário), especialmente por mais de um profissional e sem o seu

consentimento, mesmo que para ensino e treinamento de alunos;

Cortar a vagina (episiotomia) da mulher quando não há necessidade; dar um

ponto final da vagina de forma a deixá-la menor e mais apertada, supostamente para aumentar

o prazer do cônjuge;

Subir na barriga da mulher para expulsar o feto (manobra de Kristeller);

Submeter a mulher e/ou o bebê a procedimentos exclusivamente para treinar

estudantes e residentes ou permitir a entrada de pessoas estranhas ao atendimento para “ver o

parto”, principalmente sem o consentimento prévio da mulher e de seu acompanhante com a

chance clara e justa de dizer não;

Fazer uma mulher acreditar que precisa de uma cesariana quando ela não

precisa, utilizando riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados;

Dar bronca, ameaçar, chantagear ou cometer assédio moral contra qualquer

mulher ou casal por qualquer decisão que tenha tomado, quando essa decisão for contra as

crenças, a fé ou os valores morais de qualquer pessoa da equipe;

Submeter bebês saudáveis à aspiração de rotina, injeções e procedimentos na

primeira hora de vida, antes que tenham sido colocados em contato pele a pele e de terem tido

a chance de mamar.

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Figura 2: Enfermeira faz manobra de Kristeller na parturiente.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/na-hora-de-fazer-nao-gritou

A violência obstétrica é, portanto, física, emocional e também simbólica, pois a

informação que chega às parturientes é carregada de simbolismos e valores que as conduzem

a uma condição de medo e desempoderamento (BUSANELLO et al., 2011).

A violência institucional também é determinada pela “crise de confiança” na área de

saúde, entendida como uma crise ética mais global de fragilidade dos vínculos de confiança

nas relações entre profissionais de saúde e pacientes, com a despersonalização do cuidado e o

predomínio do uso de tecnologia como forma de integração, exacerbando a transformação do

paciente em objeto de intervenção (FRANCO; RACY; SIMONETTI, 2015).

As “Boas Práticas” para a condução do parto normal

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) têm apoiado

práticas de cuidado ao parto e ao nascimento que garantam uma atenção materno-infantil

qualificada, humanizada e segura (OMS, 2013).

Em 1996, a OMS publicou o informe Maternidade Segura que recomenda o uso de

boas práticas na assistência obstétrica, classificando as recomendações em quatro categorias:

a. Práticas comprovadamente benéficas e que devem ser estimuladas;

b. Práticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas;

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c. Práticas em relação às quais não existem evidências suficientes para apoiar uma

recomendação clara e que devem ser utilizadas com cautela, até que mais pesquisas

esclareçam a questão;

d. Práticas frequentemente utilizadas de modo inadequado.

A OMS instituiu o Programa Nacional de Pré-natal e Nascimento (PHPN) por meio da

Portaria GM nº 569, de 1º de junho de 2000, que tem como objetivo primordial assegurar a

melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência

ao parto, ao puerpério e ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania

(SERRUYA, 2003).

Após a criação do PHPN foram elaboradas outras legislações, cujo objetivo é garantir

a humanização e qualificação do cuidado obstétrico e neonatal, ressaltando-se a Lei 11.108,

de 07 de abril de 2005, que garante às parturientes o direito à acompanhante durante o

trabalho de parto, parto e puerpério imediato no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)

(OLIVEIRA et al., 2014).

Práticas benéficas e que devem ser estimuladas

Plano individual determinando onde e por quem o parto será realizado, feito

em conjunto com a mulher durante a gestação e comunicado a seu marido/companheiro e, se

aplicável, a sua família.

Avaliação do risco gestacional durante o pré-natal reavaliado a cada contato

com o sistema da saúde e no momento do primeiro contato com o prestador de serviços

durante o trabalho de parto e parto.

Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher ao longo do trabalho de

parto e parto, assim como ao término do processo do nascimento.

Oferecer líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto.

Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto, após ter recebido

informações.

Fornecimento da assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for

viável e seguro e onde a mulher se sinta segura e confiante.

Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.

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Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e

parto.

Respeito à escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de

parto e parto.

Fornecer às mulheres todas as informações e explicações que desejarem.

Métodos não invasivos e não farmacológicos para alívio da dor, como

massagem e técnica de relaxamento, durante o trabalho de parto.

Monitoramento fetal por meio de ausculta intermitente.

Uso de materiais descartáveis apenas uma vez e descontaminação adequada de

materiais reutilizáveis durante o trabalho de parto e parto.

Usar luvas no exame vaginal, durante o nascimento do bebê e na dequitação da

placenta.

Liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto.

Estímulo a posições não supinas (deitadas) durante o trabalho de parto e parto.

Monitoramento cuidadoso do progresso do trabalho de parto (uso de

partograma da OMS).

Utilizar ocitocina profilática na terceira fase do trabalho de parto (dequitação

placentária) em mulheres com um risco de hemorragia pós-parto, ou que correm perigo em

consequência de uma perda de sangue.

Condições estéreis ao cortar o cordão.

Prevenir hipotermia do bebê.

Contato cutâneo direto, precoce entre mãe e filho e apoio ao início da

amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento

materno.

Examinar rotineiramente a placenta e as membranas ovulares.

Práticas prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Uso rotineiro de enema (lavagem intestinal).

Uso rotineiro de tricotomia (raspagem dos pelos).

Infusão venosa rotineira em trabalho de parto.

Cateterização venosa periférica de rotina.

Uso rotineiro da posição supina (deitada) durante o trabalho de parto.

Exame retal.

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Uso de pelvimetria por raios-X.

Administração de ocitócitos (medicação que aumenta a contratilidade uterina)

em qualquer momento antes do parto de modo que não permita controlar seus efeitos.

Uso rotineiro da posição de litotômica.

Esforços de puxo prolongados e dirigidos durante o segundo estágio do

trabalho de parto.

Massagens e distensão do períneo durante o segundo estágio do trabalho de

parto.

Uso de comprimidos orais de ergometrina na dequitação para prevenir ou

controlar hemorragias.

Uso rotineiro de ergometrina por via parenteral (intravenoso) no terceiro

estágio do trabalho de parto (dequitação placentária).

Lavagem rotineira do útero depois do parto.

Revisão rotineira (exploração manual) do útero depois do parto.

2.4. REFLEXÕES SOBRE O EVENTO ‘PARTO’ NA ATUALIDADADE

O parto pode ser discutido através da perspectiva de um evento necessário para o

nascimento e como o ponto de partida para uma vida em conjunto com o bebê, contudo não se

reduz a esses elementos individuais (FARIAS, 2014).

Pulhez (2013) reflete sobre o parto como um momento chave na vivência da

maternidade, sobretudo nesse momento também são manejadas questões que ultrapassam o

íntimo e atingem questões de saúde pública, especialmente a saúde da mulher, direitos sexuais

e reprodutivos, no que cerne à igualdade e liberdade na esfera reprodutiva e sexual.

Obviamente, o parto é um momento único e inesquecível na vida da mulher, quando o

cuidado prestado pelos profissionais de saúde deveria ser singular e pautado no protagonismo

da mulher, tornando-o mais natural e humano possível. Portanto, respeitar a autonomia, a

individualidade e a privacidade são condições imprescindíveis para que ocorra o parto

humanizado (GARCIA, 2015).

Diferente de outros acontecimentos que necessitam de cuidados hospitalares, o

processo de parturição é fisiológico, normal, necessitando, na maioria das vezes, apenas de

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apoio, acolhimento, atenção e, o mais importante, humanização (FONEITE; FEU; MERLO,

2012).

A humanização da assistência ao parto vem ao encontro dos desejos das mulheres de

que a vivência do parto aconteça conforme suas perspectivas (DIAS; DOMINGUES, 2005).

A violência caracteriza-se como um grave fenômeno social que está em franca

expansão em todas as suas formas e, de modo especial, contra a mulher ao longo da história e,

nos dias atuais, ganhou caráter endêmico, fazendo-se cotidianamente presente em

comunidades e países de todo o mundo, sem discriminação social, racial, etária ou religiosa

(FONEITE; FEU; MERLO, 2012).

O conceito internacional de violência obstétrica define qualquer ato ou intervenção

direcionada à mulher grávida, parturiente, puérpera (que deu à luz recentemente) ou ao seu

bebê, praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher e/ou em desrespeito a

sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências

(BISCEGLI, et al., 2015).

Entende-se por violência obstétrica qualquer ato exercido por profissionais da saúde

no que cerne ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres, exprimindo, através de uma

atenção desumanizada, abuso de ações intervencionistas, medicalização e transformação

patológica dos processos de parturição fisiológicos (JUAREZ et al; 2012).

Embora no Brasil o crime não seja tipificado, o Ministério Público instaurou

inquéritos públicos que investigam as práticas nos hospitais e maternidades de São Paulo.

“Ninguém vai ser criminalizado por isso, mas pode haver uma indenização. Nossa intenção

nem é processar ninguém, mas sensibilizar de que tem que ser o mais humano possível”,

afirmou Ana Paula Meirelles, coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa

dos Direitos da Mulher, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo4.

A violência obstétrica pode acontecer durante a gestação, no momento do parto -

incluindo trabalho de parto, o parto em si e o pós-parto - e no atendimento de complicações

causadas por abortamento. Alguns exemplos são: comentários constrangedores ou

preconceituosos, negligência no atendimento, cesárea agendada sem recomendação por

evidências científicas, aplicação de soro com ocitocina sintética sem o conhecimento da mãe,

sucessivos exames de toque no momento do parto, exigir posição ginecológica, impedir ou

4 Disponível em: http://www.bolsademulher.com/bebe/gravida/materia/violencia-obstetrica-saiba-o-que-e-e-

como-denunciar.

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retardar contato da mãe com o bebê, introduzir leite artificial ou chupeta sem autorização, e

muitos outros5.

A assistência ao parto e nascimento no Brasil apresenta aspectos bastante próprios. O

modelo tecnocrático hegemônico é responsável por resultados maternos e perinatais piores

que os encontrados em outros países com igual ou mesmo menores índices de

desenvolvimento socioeconômico (FONEITE; FEU; MERLO, 2012).

O Brasil possui o maior índice de cesarianas do planeta. Segundo a pesquisa “Nascer

no Brasil: Inquérito Nacional sobre parto e nascimento” (2014), coordenada pela Fundação

Oswaldo Cruz, a cirurgia cesariana é realizada em 52% dos nascimentos, já em relação ao

setor privado, as cesarianas correspondem a um total de 88%. Entretanto apenas 5%

realizaram partos normais sem intervenção e a pesquisa ainda mostra como no parto normal

ainda predomina um modelo extremamente medicalizado, com intervenções excessivas,

procedimentos de rotina desaconselhados pela OMS, provocando dor e sofrimento

desnecessários.

Os dados oficiais revelam que as taxas de cesariana nos serviços privados são

superiores a 80%, número sem correspondente em qualquer outro lugar do planeta. As taxas

de mortalidade materna ainda são desproporcionalmente elevadas, considerando-se que nas

últimas décadas houve melhoria de inúmeros indicadores de saúde das mulheres (DIAS,

2011).

No Brasil, ao longo das últimas décadas, o movimento das mulheres, organizações não

governamentais, profissionais de diferentes áreas e também formuladores de políticas públicas

de saúde têm se articulado em um movimento que tem entre outros objetivos devolver às

mulheres o protagonismo no momento do parto e nascimento (BISCEGLI, et al., 2015).

A autonomia e a apropriação da prática dos enfermeiros obstetras são

legitimadas e faz valer o direito como enfermeiro obstetra, entretanto, a

autonomia da assistência ao parto está limitada por seu desconhecimento

sobre o respaldo legal para atuar nesta área do cuidado, por conta do

impedimento e preconceito do exercício profissional proveniente de

instituições de saúde e da equipe médica por meio de violência verbal e de

suas derivações, gerando implicações negativas para a qualidade da atenção

e sua prática (BRASIL, 2014).

5 Disponível em: http://www.bolsademulher.com/bebe/atriz-vitima-de-violencia-obstetrica-relata-momentos-do-

parto-entenda-o-caso.

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A humanização da assistência ao parto e nascimento exige uma percepção de que a

qualidade da assistência depende exatamente do resgate do protagonismo da gestante e do

profissional de saúde como coadjuvante no processo (FARIAS, 2014).

Assim, por se tratar de um momento ímpar onde a mulher sente-se responsável não só

por si, mas também por seu filho, a gravidez muitas vezes leva as mulheres a sentirem-se

frágeis e inseguras. Nesse sentido, o enfermeiro deve atuar como agente empoderador dessa

mulher (BISCEGLI, et al., 2015).

Ainda sobre a importância do enfermeiro no cenário obstétrico para a humanização do

parto e combate à violência obstétrica, destaca-se que o enfermeiro também tem competência

para a assistência ao parto, sendo, portanto, essa mais uma estratégia importante para reaver o

protagonismo da gestante (DIAS, 2011)

III CAPÍTULO – METÓDOS

3.1. TIPO DE PESQUISA

A presente investigação constituiu-se como uma pesquisa qualitativa, descritiva.

De acordo com Polit, Beck e Hungler (2011), para o alcance dos objetivos propostos o

estudo adotou uma abordagem qualitativa descritiva, que consistiu em descrever a assistência

prestada às mulheres durante o trabalho de parto e parto em Hospital Público de Belém com

base no Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN).

A opção por utilizarmos a pesquisa qualitativa foi considerada a partir do delineamento

para obtenção do produto final deste estudo, que é protótipo de uma cartilha (tecnologia

educacional) contendo orientações para um parto humanizado, visto que as informações

fornecidas pelas participantes, parte fundamental do processo de investigação, possibilitou

alcançar a compreensão dos objetivos propostos.

Conforme descreve Minayo (2010, p.57) o método qualitativo pode ser definido como:

“...o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das

percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de

como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam”.

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Esse tipo de pesquisa possibilita ainda um vínculo entre o pesquisador e o

entrevistado, surgindo assim um laço de confiança entre eles.

3.2. PRODUÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

A entrevista semi-estruturada mostrou-se adequada a esta pesquisa, servindo como

eixo orientador ao desenvolvimento dela. Entendemos como entrevista semi-estruturada

aquela que combina perguntas abertas e fechadas, possibilitando ao entrevistado discorrer

sobre o tema sugerido sem que o entrevistador fixe a priori determinadas respostas ou

condições.

As entrevistas foram realizadas após contato prévio com as gestantes no ato da

admissão, ocasião em que foram expostos os objetivos, procedimentos e o caráter sigiloso da

pesquisa. Ficando acordado, entre a entrevistadora e as entrevistadas, após a minha visita

enquanto enfermeira assistencial, o melhor horário disponível. As entrevistas foram

desenvolvidas em local privativo, na sala de acolhimento da maternidade, localizada na

entrada do setor de maternidade ao lado do posto de enfermagem, por ser uma sala

climatizada, próxima ao ALCON – Alojamento Conjunto e de fácil deslocamento para as

puérperas. Ficou a critério das entrevistadas a presença ou não de seus acompanhantes.

As principais vantagens das entrevistas semiestruturadas são: possibilidade de acesso à

informação além do que se listou; esclarecer aspectos da entrevista; geração de ponto de vista,

orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e definir novas estratégias e

outros instrumentos (TOMAR, 2007).

Manzini (2013) afirma que esse tipo de entrevista está focalizado em um assunto sobre

o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras

questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista.

Com as 20 puérperas foram realizadas as entrevistas semi-estruturadas,

individualizadas, realizadas por meio de um instrumento interativo elaborado com perguntas

abertas e fechadas (APENDICE B) para contemplar o objetivo do estudo sem perder o foco e,

ao mesmo tempo, permitir uma flexibilidade durante a produção dos dados.

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As entrevistas só ocorreram após a autorização da Direção do HRAS para que a pesquisa

fosse desenvolvida na maternidade do hospital, bem como após a aprovação no Comitê de

Ética da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, com aplicação do TCLE (APÊNDICE

A).

Para observação dessa categoria foi utilizada a análise de conteúdo temático que,

segundo Bardin (2011), é um conjunto de técnicas de análises de comunicações, visando obter

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens e indicadores

- quantitativos ou não - que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção dessas mensagens.

Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os dois polos: do

rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absorve e ampara o investigador por

esta atração pelo escondido, o latente, o não aparente, o potencial de inédito - do não dito -

retido por qualquer mensagem (BARDIN, 2011).

A análise de conteúdo possui três polos cronológicos que são: a pré-análise, a

exploração do material e o tratamento do material. Para o desenvolvimento do corpo de

análise utilizamos os três polos cronológicos propostos por Bardin (2011).

O primeiro momento correspondeu à fase de organização dos dados propriamente dita.

A pré-análise corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar

operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do

desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise.

A atividade inicial, chamada de leitura “flutuante”, consistiu em estabelecer contato

com os documentos a serem analisados e em conhecer o texto deixando-se invadir por

impressões e orientações. Estando o universo demarcado, foi necessário proceder à

constituição do corpus, que é o conjunto de documentos para ser submetido a procedimentos

analíticos, o que implica em atender as principais regras, como as da exaustividade,

representatividade, homogeneidade e pertinência.

No segundo momento, realizamos a exploração do material, no qual se constituíram

conjuntos diferenciados de informações e significações através de Unidades de Registro. As

unidades de registro foram construídas a partir do critério semântico, ou seja, categorias

temáticas dos recortes das falas das puérperas, possibilitando a elaboração e a construção da

categorização (BARDIN, 2011).

No terceiro momento, o tratamento dos resultados, que corresponde à inferência e à

interpretação, caracterizou-se pela fase da reflexão, da intuição, com embasamento dos

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materiais empíricos. Procedemos a leitura e releitura de cada grupo, a classificação por temas

e a construção das categorias.

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Por último, realizamos o confronto das categorias sob orientação dos referenciais teóricos que evidenciam a “qualidade nos serviços de

saúde” demarcados pela referencialidade dos teóricos da Qualidade no marco conceitual de Avedis Donabedian (1992 e 2000). Seguindo as

etapas de desenvolvimento definidas nesse percurso analítico, emergiram as unidades de registro para cada uma das questões abertas (Apêndice

D).

3.3. CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO

Esta pesquisa contou com a participação de 20 puérperas, maiores de 18 anos, independentemente do número de gestações, que se

encontravam no puerpério imediato6 de parto normal ou cesárea, atendidas na maternidade do HRAS, no período de novembro e dezembro de

2015.

Tabela 1: Perfil Socioeconômico das puérperas participantes da pesquisa. Belém/PA.

ID Entrevistada (Pseudônimo) Idade Escolaridade Estado Civil Ocupação Raça Renda

Mensal

E1 TULIPA 24 Fundamental Incompleto Casada Do Lar Parda 1 SM

E2 ROSA 24 Médio Incompleto Solteira Do Lar Parda < 1 SM

E3 GIRASSOL 34 Médio Completo Casada Costureira Branca 3 SM

E4 ORQUÍDEA 18 Médio Incompleto Solteira Estudante Parda 1 SM

E5 CICLAME 43 Fundamental Incompleto Solteira Serviços Gerais Parda < 1 SM

E6 LÍRIO 18 Fundamental Incompleto Solteira Garçonete Negra 2 SM

E7 DÁLIAS 20 Fundamental Incompleto Solteira Do Lar Parda 2 SM

6 Puerpério imediato – inicia logo após a saída da placenta e dura aproximadamente duas horas. Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO – Disponível em:

http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/37399/o-que-e#ixzz41U1zXmKW. Acesso em: 12 jan. 2016.

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E8 ACÁCIA 35 Superior Incompleto Solteira Esteticista Parda 4 SM

E9 AÇUCENA 35 Médio Completo Solteira Autônoma Parda 7 SM

E10 ALFAZEMA 30 Médio Completo União Estável Técnica de Enfermagem Branca 4 SM

E11 BEGÔNIA 19 Médio Completo Solteira Estudante Parda 1 SM

E12 CAMÉLIA 37 Médio Completo Casada Autônoma Negra 1 SM

E13 COPO-DE-LEITE 26 Fundamental Incompleto Solteira Do Lar Parda 1 SM

E14 CRISÂNTEMO 23 Médio Completo Solteira Do Lar Parda < 1 SM

E15 DÁLIA 19 Médio Incompleto Solteira Do Lar Parda 2 SM

E16 GARDÊNIA 18 Médio Incompleto Solteira Do Lar Parda 2 SM

E17 HORTÊNSIA 30 Médio Completo Casada Técnica de Enfermagem Parda 3 SM

E18 ÍRIS 20 Fundamental Incompleto Solteira Do Lar Parda 1 SM

E19 MARGARIDA 26 Fundamental Incompleto Solteira Do Lar Parda 1 SM

E20 VIOLETA 20 Fundamental Incompleto Solteira Do Lar Parda 1 SM

Fonte: Dados resultantes da pesquisa. Belém/PA. 2015.

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3.3.1. Critério de Inclusão

Puérperas, maiores de 18 anos, independentemente do número de gestações, que se

encontravam no puerpério imediato de parto normal ou cesariano, atendido na maternidade do

HRAS, no período de novembro e dezembro de 2015, que aceitaram, voluntariamente,

participar da pesquisa e que leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) (APÊNDICE A), conforme Resolução nº 466/2012-CNS.

3.3.2. Critérios de Exclusão

Apontaram-se as puérperas portadoras de deficiências: auditivas, visual e cognitiva; ou

desorientadas quanto ao tempo e espaço ou que no momento apresentavam complicações

obstétricas ou clínicas que impossibilitassem a entrevista e/ou o preenchimento do

instrumento da pesquisa.

3.4. CENÁRIO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS) que é um

Hospital Público, referência em parto de baixo risco, credenciado pelo Sistema Único de

Saúde (SUS). Em janeiro de 2013, foi desativada sua sede, localizada no bairro da Agulha, no

Distrito de Icoarací, em Belém (PA), passando a funcionar no seguinte endereço: TV.

Itaboraí, 110 – Icoarací, Belém/PA.

Neste cenário, encontra-se uma maternidade credenciada à Rede Cegonha, de

referência em atendimento de obstetrícia (alojamento conjunto), dividida em três enfermarias

de quatro leitos, uma sala para parto normal, uma sala de pré-parto, parto e puerpério, duas

salas para realização de parto cirúrgico e outra para curetagem uterina e aspiração manual

intrauterina (AMIU).

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Figura 3: Frente do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, em Icoaraci.

Fonte: http://www.agenciapara.com.br/noticia.asp?id_ver=94194

O hospital conta ainda com ambulatório nas especialidades de cardiologia,

dermatologia, cirurgia geral, cirurgia pediátrica, cirurgia vascular, pneumologia, ortopedia,

traumatologia, mastologia, geriatria, nutrição, enfermagem, serviço social e psicologia, além

dos serviços de clínica médica e pediátrica, eletrocardiograma, cateterismo vesical e gástrico,

pequenas cirurgias e ultrassonografia. O hospital também desempenha papel fundamental na

articulação de todas as unidades de saúde próximas, principalmente em relação ao

atendimento de saúde básica nos postos municipais.

Segundo a direção, atualmente em instalação provisória, no Hospital Abelardo Santos

são realizados cerca de sete mil atendimentos ambulatoriais e de urgência e emergência ao

mês. A urgência e emergência realizam atendimento em clínica médica e pediátrica (com

auxílio de exames laboratoriais, raio-x, ultrassonografia e ECG). São ofertados nove leitos

adultos (três para graves, seis para internação e cinco poltronas para observação) e na

pediatria são ofertados seis leitos para internamento, sendo um para graves e cinco poltronas

para observação. Na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) Neonatal dispomos de dez leitos.

Na maternidade possuímos doze leitos (para parto normal e∕ou parto cesariano, curetagem

uterina e para AMIU) e dez poltronas para observação.

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O Hospital, em parceria com a Fundação Hemopa, dispõe também do serviço de

Coleta de sangue de Cordão Umbilical - BSCUP, tornando o HRAS o segundo hospital do

Estado do Pará a possuir esse tipo de serviço. E, em parceria com o Serviço de Registro Civil

do Cartório Gilvaldo Araújo, foi implantada a emissão de Certidão de Nascimento que

permite a adesão gratuita do Registro de Nascimento da criança nascida no hospital.

O quadro de profissionais que atuam no setor de maternidade na referida instituição é

composto de: médicos obstetras (11); neonatologistas (10) que atuam na Unidade de Cuidados

Intermediários (UCI) e prestam assistência na sala de parto e Alojamento Conjunto

(ALCON); fonoaudióloga (01); assistentes sociais (05) e fisioterapeuta (01).

Destaca-se a composição da equipe de enfermagem, a qual tem participação implícita

neste trabalho, cuja configuração é a seguinte: uma coordenadora da equipe de enfermagem,

oito enfermeiras obstétricas e vinte e cinco técnicos de enfermagem. Contamos também com a

residência de enfermagem em obstetrícia (em convênio da Universidade Federal do Pará).

Conforme informação do comitê hospitalar de prevenção da mortalidade materna e

neonatal do referido hospital, foi realizado na maternidade, durante o ano de 2015, um total de

1.405 partos (925 normais e 480 cesarianos), em média 117 partos∕mês.

3.5. RISCOS E BENEFÍCIOS

Riscos

Com a finalidade de reduzir os riscos apresentados, esta pesquisa disponibilizou o

devido encaminhamento para serviço jurídico e/ou psicológico, caso fosse necessário,

mediante o consentimento da direção do hospital. Com a finalidade de resguardar as

participantes do risco da perda do anonimato e perda da privacidade, as entrevistas foram

realizadas em local reservado e sem a presença de terceiros (exceto os acompanhantes das

puérperas), e foram utilizados nomes fictícios como codinomes para as depoentes, evitando,

assim, sua exposição.

Benefícios

Informar as puérperas sobre os direitos reprodutivos para que elas busquem os meios de

tornar a prática do parto natural o mais usual, traduzindo-o como um processo fisiológico, por

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meio do qual as parturientes se preparam para deixar que todo o processo da parturição ocorra

de forma natural, sem intervenções e medicamentos, reduzindo os riscos tanto para a saúde da

mãe como do bebê.

Produzir uma cartilha educativa para as puérperas com enfoque na humanização do

parto.

3.6. ASPECTOS ÉTICOS

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Fundação Santa Casa de

Misericórdia do Pará (FSCMPA), sob protocolo nº 1.335.090 e todos os procedimentos

relativos à produção de dados somente foram iniciados com a autorização da direção do

Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS).

Para atender a Resolução nº 466∕2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a

participação das puérperas foi consentida mediante assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (APÊNDICE A), por meio do qual puderam conhecer detalhadamente os

objetivos, procedimentos metodológicos e todos os aspectos relevantes que envolveram a

proteção das participantes da pesquisa e, com o propósito de garantir a preservação da

identidade das entrevistadas, foi adotado um pseudônimo (APÊNDICE E).

A privacidade e a garantia de total anonimato representaram elementos básicos da

interação metodológica, a fim de se obter a confiança e a receptividade de todas as

entrevistadas, deixando-as à vontade para que pudessem falar sem receios sobre as vivências

no período do pré-parto, parto e puerpério.

IV CAPÍTULO - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Esta pesquisa foi dividida em três momentos para efetivação da análise: perfil

socioeconômico das puérperas, histórico obstétrico das puérperas e conhecimento das

puérperas sobre os direitos reprodutivos. Quanto à caracterização das participantes da

pesquisa foram observadas as variáveis: faixa etária, escolaridade, estado civil, ocupação, raça

e renda mensal, além do histórico obstétrico e local do parto, conforme tabela 1 (pag. 34).

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Ao analisar o delineamento de pesquisa na amostra estudada, identificou-se que a

faixa etária predominante entre as entrevistadas foi de 18 a 25 anos de idade, o que representa

cerca de 45% das puérperas, totalizando 11 mulheres. A idade média das puérperas é 25,95

anos.

A idade mínima das participantes foi 18 anos e a idade máxima 43 anos. Verifica-se

que 50% das entrevistadas possuem idade inferior a 24 anos. Ou seja, metade das puérperas é

predominantemente jovem, estando na faixa etária entre 20 e 29 anos, sendo, portanto,

consideradas pertencentes ao grupo de menor risco obstétrico. As puérperas com idade entre

42 e 49 anos representam a menor parcela da amostra, apenas 5%.

Dados de um estudo realizado em São Paulo, com o objetivo de caracterizar puérperas

e recém-nascidos, revelaram semelhanças com a presente pesquisa, na qual se demonstrou

que 52% das mulheres entrevistadas tinham entre 20 e 29 anos (LEITE et al., 2013).

Segundo Lettiere, Nakano e Bittar (2012), o perfil sociodemográfico tem sido

estudado como fator associado à violência obstétrica. Dentre as características correlacionadas

à incidência desse tipo de violência destacam-se a etnia, o baixo nível socioeconômico, ser

jovem e o baixo nível de suporte social, como o baixo nível de escolaridade.

Verificou-se que 40% das puérperas possuem ensino fundamental incompleto (8

entrevistadas) e apenas 5% das entrevistadas possuem ensino superior incompleto, o que

corresponde a apenas uma entrevistada. Observa-se que 75% das puérperas entrevistadas são

solteiras e 50% declararam ter como principal ocupação a atividade do lar. Esses dados são

discordantes aos encontrados em uma pesquisa realizada com gestantes inscritas no pré-natal

de uma unidade municipal de saúde de Fortaleza/Ceará em que verificaram que apenas 25%

da amostra era de mulheres solteiras enquanto a maioria (55%) manifestou ter uma união

estável (DIAS et al., 2015).

Constata-se que 40% declarou ter renda de um salário mínimo (SM) e 75% recebe até

2 salários mínimo por mês. De acordo com Dias (2015), estudos mostram que apesar da

violência obstétrica ocorrer em todas as classes sociais, está mais associada à baixa renda, por

ser mais prevalente em grupos mais empobrecidos, atendidos pelo SUS. A pobreza aliada à

baixa escolaridade e à falta de orientação de seus direitos leva, muitas vezes, as gestantes a

sofrer violência obstétrica sem nem saber do que se trata.

Nota-se neste estudo que há uma predominância das gestantes de cor parda, já que

80% das puérperas declararam ser parda. Segundo Primo et al. (2007), em relação à raça/cor,

as pesquisas mostram que o maior número de mulheres que relata ter sofrido violência

obstétrica (VO) é parda (69%).

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A pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada

em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, mostrou que uma em cada quatro mulheres sofre

algum tipo de violência durante o parto e a população mais acometida é a de mulheres pardas

(29%), com quatro ou cinco filhos (29%), habitantes da região nordeste (27%) e das capitais

(30%) (BRABO, 2015).

A tabela 2 mostra os antecedentes obstétricos das puérperas e nela verifica-se que o

número de gestações variou de 01 a 08 gestações (média = duas gestações). Sete (35%)

puérperas eram primigestas e primíparas. Quinze (75%) mães nunca haviam abortado. Do

total de 20 mulheres, ocorreram 49 gestações, sendo 51,61% de parto normal.

De acordo com Rodrigues et al. (2014), a maioria das gestantes em situação de

violência obstétrica são multigestas, com relatos de abortamentos anteriores e gravidezes não

planejadas, além de todas terem iniciado o pré-natal no segundo trimestre.

A prevalência de puérperas submetidas ao parto normal nesse estudo está em

concordância ao achado por outros autores que aponta que a maioria das mulheres não realiza

a cesariana (PRIMO et al., 2007). Vale enfatizar que o número de partos normais

identificados em nosso estudo supera, em muito, a taxa recomendada pela Organização

Mundial de Saúde, que é de 15% (PATAH e MALIK, 2011)

Além disso, observa-se que o número de gestações, partos e abortos, apresentados

pelas 20 puérperas participantes da pesquisa foram: 49 gestações, sendo 26 (53,06%) de parto

normal e 6 (12,24%) abortos espontâneos. Do total de 49 gestações, verifica-se que a maior

proporção (19 – 38,78%) ocorreu na faixa etária de 18 a 25 anos. Do total de 6 abortos

espontâneos, a maior quantidade (4 – 66,67%) ocorreu na faixa etária de 26 a 33 anos.

Isso reforça a necessidade e a importância da assistência pré-natal a essas mulheres,

que são jovens, primigestas e precisam de informações e esclarecimentos sobre o processo de

gestação, parto e nascimento e seus direitos reprodutivos.

Segundo Rassy (2010), é importante reforçar, ainda, a necessidade de ampliar, motivar

e capacitar os profissionais para a prática do trabalho em equipe interdisciplinar e possibilitar

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a realização das ações para que se possa oferecer uma assistência pré-natal humanizada e de melhor qualidade nos serviços de saúde.

Tabela 2: Histórico Obstétrico das Puérperas participantes da pesquisa. Belém/PA.

Gestações

Nº Partos

Normais

Nº Partos

Cesarianos

Nº Partos

Fórceps

Nº Abortos

Espontâneos

Nº Abortos

Provocados

Questão 11

(a)

Questão 11

(b) Local do Parto

2 1 1 0 0 0 Sim Sim São Sebastião da

Boa Vista/HRAS

1 1 0 0 0 0 Sim Não HRAS

2 1 1 0 0 0 Não Sim Hospital Amazônia

/HRAS

1 1 0 0 0 0 Sim Sim HRAS

6 6 0 0 0 0 Não Sim HRAS

2 0 2 0 0 0 Não Sim 1º Santa Casa/

2º HRAS

1 1 0 0 0 0 Sim Sim HRAS

2 1 1 0 0 0 Não Sim 1º Dalmácia Possi

/2º HRAS

3 0 2 0 1 0 Não Sim 1º Gaspar Viana/

2º HRAS

1 0 1 0 0 0 Sim Sim HRAS

1 1 0 0 0 0 Não Não HRAS

2 2 0 0 0 0 Sim Sim 1º Samaritano/

2º HRAS

8 4 2 0 2 0 Não Sim HRAS

3 3 0 0 0 0 Não Sim HRAS

1 0 1 0 0 0 Sim Sim HRAS

1 1 0 0 0 0 Não Sim HRAS

3 1 1 0 1 0 Sim Sim 1º Santa Casa/

2º HRAS

4 0 3 0 1 0 Não Não 1º Ordem terceira/

2º HRAS

3 0 2 0 1 0 Não Sim 1º Hospital de Portel/

2º HRAS

2 2 0 0 0 0 Não Sim HRAS

Fonte: Dados resultantes da pesquisa. Belém/PA. 2015.

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As informações obtidas com base nas questões abertas foram transcritas logo após a

realização das entrevistas com as mulheres e analisadas segundo o método de análise de

conteúdo temático. Após a finalização de todas as transcrições das respostas das puérperas,

elas foram analisadas e selecionadas as colocações que condizem com as perguntas realizadas.

Posteriormente foi confeccionado um quadro para cada núcleo direcionador (pergunta aberta)

e utilizado o método de Análise de Conteúdo Temático descrito por Laurence Bardin, (2011)

que é um método interpretativo de análise de dados. Por meio da identificação, análise e

descrição de padrões ou temas permite apresentar e organizar os dados de uma forma

sintética, embora rica (VANZ, 2012).

Esse tipo de análise ocorre em três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o

tratamento dos resultados obtidos. A leitura exaustiva dos dados coletados faz com que a

sensação de caos de uma primeira leitura seja superada e comecem a ser estabelecidas as

hipóteses e os objetivos emergentes dos procedimentos exploratórios.

Ao analisar e discutir as falas apresentadas pelas puérperas, considerando as respostas

para cada questão, após a transcrição, leitura, codificação, desdobramento, agrupamento e

síntese, emergiram três categorias analíticas:

Categoria I - Experiência e vivência do trabalho de parto e parto.

Categoria II - Conhecimento das puérperas sobre seus direitos reprodutivos.

Categoria III – A violência obstétrica velada.

Ao analisarmos as respostas categóricas dessa fase, verifica-se que, quando

questionadas se queriam engravidar, 60% (12) das puérperas declararam que não. Sobre o

apoio familiar, 85% (17) afirmou que durante a gestação recebeu apoio da família e 65% (13)

declarou não ter apresentado problemas durante o pré-natal. Para Santos et al. (2013), alguns

fatores como condições socioeconômicas precárias, presença de situações de violência

familiar e dificuldades de acesso aos serviços de saúde, bem como a má qualidade desses

serviços têm impacto nas elevadas taxas de mortalidade materna ligadas ao abortamento.

Quando indagadas sobre a lei do acompanhante, apenas 8 puérperas (40%) afirmaram

conhecer a lei. Todas as mulheres têm direito a receber informações sobre o seu estado de

saúde e sobre os procedimentos indicados, em linguagem clara, de modo respeitoso e

compreensível. A presença do acompanhante de livre escolha da parturiente favorece

sentimentos de segurança e conforto, além de ser um direito garantido pela lei federal 11.108

(BRASIL, 2005).

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No Brasil, é comum os serviços alegarem desconhecer a lei e assim impedirem que a

mulher exerça seu direito. Uma questão que dificulta a aplicação da Lei 11.108 de 2005 pode

ser a falta de previsão de punição diante do descumprimento da referida Lei. Há casos de

mulheres que relatam o receio de buscar esses dispositivos com medo de desagradar às

equipes e sofrer retaliações durante seu atendimento. A vulnerabilidade da mulher na

assistência à saúde é evidente, sendo necessárias ações efetivas para sua proteção.

Com o intuito de identificar o tipo de assistência recebida durante a internação na

perspectiva das puérperas, procuramos buscar, junto às pesquisadas, como ocorreu o

atendimento e se tiveram algum tipo de problema durante esse período. Nota-se que a maioria

das puérperas declarou ter recebido um ótimo atendimento (12 – 60%), no geral a avaliação

foi 100% positiva. De acordo com Dias et al. (2015), existem algumas formas de violência

obstétrica muito claras que deixam marcas físicas e psicológicas nas mulheres como, por

exemplo, negligenciar o atendimento de qualidade. Segundo Rios et al. (2007), a realização de

ações educativas no decorrer de todas as etapas do ciclo grávido-puerperal é importante, mas

é no pré-natal que a mulher deverá ser melhor orientada para que possa viver o parto de forma

saudável, ter menos riscos de complicações no puerpério e mais sucesso na amamentação.

Para Assumpção et al. (2014), desde o pré-natal, a mulher precisa ter apoio de

profissionais e serviços de saúde capacitados que, acima de tudo, estejam comprometidos com

a fisiologia do nascimento e respeitem a gestação, o parto e a amamentação como processos

sociais e fisiológicos.

Os dados desta pesquisa estão em concordância com o que ficou evidente na Pesquisa

Nascer no Brasil, coordenada pela Fiocruz em parceria com a Agência Nacional de Saúde

Suplementar e instituições públicas de ensino superior, realizada em todo país, que revelou

que a lei do acompanhante – obrigatória para hospitais públicos e privados – não é respeitada,

além de muitas mulheres sequer a conhecerem. O estudo mostrou que 64% das mulheres

entrevistadas não tiveram acompanhante e sequer sabiam do direito.

Segundo a Dra. Maria Esther Vilela, coordenadora geral de Saúde da Mulher, do

Ministério da Saúde, a asfixia neonatal é a principal causa de morte neonatal e está

diretamente relacionada à qualidade de assistência ao parto.

Já a presença de doula, fisioterapeuta, obstetriz ou outro profissional sem vínculo com

o hospital ainda não é frequente, mas, utilizando técnicas de alívio da dor, esses profissionais

poderiam reduzir a chance de cesárea, tornar o trabalho de parto mais curto, diminuir a

utilização de ocitocina sintética, reduzir a necessidade de anestesia e de uso do fórceps. Além

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disso, é indicado também o uso de objetos pessoais familiares como camisola, músicas,

essências e aromas, pois relaxam mais durante o parto (DUARTE; AMORIM, 2013).

Segundo Oliveira et al. (2010), apesar do parto se constituir uma rotina nos hospitais e

maternidades, cada mulher deve receber um atendimento diferenciado, pois a visão sobre o

que é o parto e a maneira como ele é vivenciado é única. Portanto, o cuidado e o conforto

devem ser proporcionados visando à singularidade de cada parturiente.

Da análise dos resultados obtidos das categorias empíricas, procuramos alcançar o

objeto deste estudo, delineando as categorias temáticas que constituíram o eixo norteador da

pesquisa em consonância aos objetivos do trabalho.

Seguindo as etapas de desenvolvimento definidas nesse percurso analítico, emergiram

três categorias temáticas e duas unidades temáticas para cada categoria, conforme tabela

(APÊNDICE D) e a análise qualitativa dessas categorias está dividida a seguir:

Categoria I – Experiência e vivência do trabalho de parto e parto

Diante das particularidades da mulher no âmbito da saúde reprodutiva, é importante

que o profissional de saúde conduza sua assistência junto à gestante, de modo a prepará-la na

concretização de um puerpério saudável, tendo em vista um restabelecimento adequado tanto

no sentido anatomofisiológico, quanto no psicossocial, pois, no pós-parto, diversos

sentimentos se mesclam no cotidiano das puérperas.

Nesse período, as mulheres são passíveis de experimentar sensações de vazio,

estranheza e vulnerabilidade, podendo levá-las ao limite de suas capacidades. A

vulnerabilidade a que estão expostas torna-as mais acessíveis a receber ajuda. Visto isso, a

assistência deve englobar questões de ordem físicas, emocionais e relacionais.

O cuidado, que é a essência do trabalho do enfermeiro, há tempos vem sendo

incorporado à prática na assistência à saúde da mulher no ciclo gravídico-puerperal, porém

com diversas conotações que variam de uma abordagem tecnicista a uma visão mais

humanística (GUERREIRO et al., 2012).

Nessa categoria foram obtidas duas unidades temáticas. Na primeira unidade temática,

verifica-se que a maioria das entrevistadas (18 URs/20) declarou que o período de internação,

trabalho de parto, parto, até a sua alta foi ótimo. Algumas se mostraram, inclusive, surpresas

com o tipo de assistência recebida no hospital, conforme observado nas seguintes falas:

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“Foi uma experiência diferente mesmo já tendo passado por essa experiência foi diferente.

Aqui precisa melhorar a estrutura, mas a assistência foi ótima.”

(E8)

“Está sendo ótimo. Nunca imaginei que fosse tão bom. Fiquei surpresa.” (E9)

“Foi tudo de bom. Ajudaram-me muito.”

(E17)

“Eu achei tudo muito bom. Fui muito bem atendida. O parto foi ótimo. Sem problemas.”

(E4)

As falas acima deixam evidente que a implementação do Programa de Humanização

do Pré-natal e Nascimento (PHPN) no Hospital Abelardo Santos está cumprindo seu papel

que é assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-

natal, da assistência ao parto e puerpério, às gestantes e ao recém-nascido, na perspectiva dos

direitos de cidadania, tornando essa fase da vida da mulher cada vez mais satisfatória.

Condutas violentas como o uso de jargões pejorativos, ameaças e reprimendas contra

as pacientes no cotidiano da assistência em maternidades e negligência no manejo da dor são

consideradas comuns e até consensuais entre os profissionais que por vezes as confundem

com o exercício da autoridade em um contexto “difícil” (DIAS et al., 2015).

Diferente do que ocorreu neste estudo, onde a maioria das entrevistadas declarou ter

sido muito bem atendida, o estudo de De Aguiar; D’oliveira; Schraiber (2013) apontou que os

profissionais justificam como possíveis causas para a violência institucional um ritmo de

trabalho alienante associado à precariedade de recursos, que resulta não só no esgotamento

físico e emocional do profissional como na dificuldade de refletir sobre sua prática; a falta de

comprometimento ético na formação profissional e a impunidade.

Quase todas as nossas entrevistadas relataram já terem utilizado ou presenciado o uso

de frases como: “Na hora de fazer não chorou, está chorando agora por quê?”, “Na hora de

fazer não chamou a mamãe, agora chama, né?”, “Ah, não chora não, ano que vem você está

aqui de novo”, “Se você ficar gritando o seu neném pode nascer surdo” (DE AGUIAR;

D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).

As recomendações conforme os resultados da Pesquisa Nascer no Brasil (2014) e da

Organização Mundial de Saúde (2014) são bem parecidas e constituem orientações para uma

mudança na assistência ao parto e nascimento no Brasil.

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Para tal, é necessário um envolvimento de gestores, profissionais de saúde,

pesquisadores, sociedade civil e, particularmente, uma organização das mulheres, no que diz

respeito ao acesso à informação e debates sobre o parto e a violência obstétrica (DIAS et al.,

2015).

Dessa forma, o parto humanizado é tido como uma saída possível para práticas

abusivas e medicalizadas, com o mínimo de intervenções e preservando a autonomia da

mulher ao máximo (FARIAS, 2014).

A mobilização de mulheres é essencial para esse tipo de situação mudar, mas, não

apenas isso, o governo, a população e os médicos devem se unir para acabar com esse tipo de

prática.

Na segunda unidade temática apenas duas entrevistadas (2 UR’s/20) relataram ter

vivenciado uma experiência “difícil” durante sua internação, trabalho de parto, parto até sua

alta, conforme observado nas falas seguintes:

“Para mim foi muito difícil. Sofri muito, senti muita dor. Depois que romperam minha bolsa,

a criança fez cocô dentro de mim fizeram a cesárea.” (E7)

“Foi horrível. Muita dor. Não quero mais. Foi difícil.” (E16)

Categoria II - Conhecimento das puérperas sobre seus direitos reprodutivos

Nessa categoria, evidenciamos os sentimentos maternos frente ao período de gestação

das entrevistadas, desde o pré-natal.

O período de gestação, parto e o puerpério abrange fen menos fisiológicos, como

também faz parte dos momentos de vida da mulher, nos quais ocorrem as mais intensas

mudanças org nicas, corporais, psicológicas e culturais. Durante essa fase, a mulher procura o

serviço de saúde em busca de ajuda, com vistas a ter resposta aos seus anseios e

preocupaç es. Assim sendo, é necessário encontrar um ambiente acolhedor e uma assistência

técnica competente e humanizada.

A gestação é uma fase cheia de sentimentos, com intenso potencial para estimular e

motivar o surgimento de vínculos, além de provocar verdadeira transformação pessoal

(LEAL; GAMA, 2014).

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Portanto, esse momento especial da vida de uma mulher pode proporcionar uma troca

de experiências e conhecimentos que devem ser vivenciados entre as gestantes e os

profissionais de saúde por meio de informações, orientações e conhecimentos repassados às

mulheres no pré-natal, sendo essa considerada a melhor forma para se compreender o

processo de gestar e parir (BRASIL, 2006).

No intuito de identificar os tipos de sentimentos vivenciados na fase gestacional das

entrevistadas, foi solicitado a elas que falassem sobre sua gravidez e de como se sentiram, de

forma que duas unidades temáticas emergiram dos depoimentos das puérperas participantes

dessa pesquisa.

Na primeira unidade temática (12 URs/20) fica evidente o sentimento de felicidade e

realização que a gestação proporcionou para a mulher, como pode ser observado na fala das

entrevistadas:

“Senti-me muito feliz, pois vivia junto com o pai da criança há um ano

e queria muito.” (E4)

“Foi maravilhoso. Queria muito. Fiquei muito feliz.” (E15)

“Fiquei muito feliz. Estava tentando há cinco anos.” (E12)

Nos relatos acima, percebemos a forma positiva com que essas puérperas expressaram

ter vivenciando o momento da gestação. Este tipo de sentimento é de suma importância nesse

momento, pois dessa forma a mulher já inicia o processo de parto de forma confortável e

segura.

Na visão de Donabedian (2015) um dos componentes da qualidade é a aceitabilidade,

que é a adequação dos cuidados aos desejos e expectativas dos clientes e de seus

responsáveis. O que também envolve a relação profissional/cliente, fundamentada no respeito

recíproco, na escuta, na empatia, na lealdade e na ética.

Na categoria Surpresa (8 URs/20), verifica-se que a palavra “surpresa” está presente

na maioria das falas, demonstrando que a gravidez não era desejada. Algumas das puérperas

citam o fator que as impedia de desejar a gravidez como fica evidente nas seguintes

expressões:

“Foi um choque, pois minha filha mais velha já tem 12 anos, mas

depois aceitei.” (E4)

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“Não foi planejado. Foi uma surpresa. Tive medo da família.” (E15)

Essa temática demonstrou que, após a descoberta da gestação inesperada, as mães

apresentaram um envolvimento emocional positivo, expresso através das aç es do cuidado e

envolvimento com o filho. No entanto fica evidente que a presença do novo ser reflete no

comportamento da família. Isso leva a considerar o nascimento como fator de mudanças e

alteraç es na vivência familiar, cuja compreensão entre os membros dessa família, nesse

momento, torna-se essencial.

A violência obstétrica, por não ter uma definição precisa, por vezes é relacionada

exclusivamente à experiência do parto. Contudo é importante notar que ela abrange todos os

outros domínios da saúde sexual e reprodutiva, inclusive, o planejamento familiar (BELLI,

2013).

Categoria III - A violência obstétrica velada

A violência obstétrica se refere a qualquer ato ou intervenção direcionado à mulher

grávida, parturiente ou puérpera, ou ao seu bebê, praticado sem o consentimento explícito e

informado da mulher e/ou em desrespeito a sua autonomia, integridade física e mental, aos

seus sentimentos, opções e preferências (DE CARVALHO et al., 2014).

Na primeira temática apenas quatro entrevistadas afirmaram que a violência contra a

mulher gestante é quando ocorre algum tipo de desrespeito (4URs/20) como, por exemplo, a

demora no atendimento, não disponibilizar um lugar para sentar, como podemos observar nas

seguintes falas:

“Ás vezes é falta de respeito. Ocorre em lugares públicos, porque falta o respeito pelo ser

humano.” (E1)

“Quando a mulher gestante chega no hospital e há demora no atendimento. Falta de

comunicação, humanidade e respeito. Fico indignada.” (E2)

“No ônibus a mulher gestante fica em pé, as pessoas não dão o lugar para sentar, é falta de

respeito. Muitas mulheres podem ter normal, mas os médicos escolhem fazer cesárea. Muitas

mulheres são mal atendidas no hospital.” (E4)

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“Ocorre falta de respeito no ônibus, no posto de saúde, pois não dão prioridade para

gestante. Acho que são pessoas que ainda não passaram por isso.” (E11)

A resposta das entrevistadas para essa categoria deixa evidente que elas desconhecem

o conceito de violência obstétrica, apesar de que a violência a qual as puérperas se referem,

não deixa de ser tão grave quanto à violência obstétrica tratada nesse estudo.

De modo geral, as parturientes também desconhecem seus direitos, o que colabora

para manter e perpetuar tais condutas abusivas, configurando a crise da confiança e da ética

no exercício das relações.

No Brasil, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto

e a desconhece. A violência obstétrica não se limita só à violência física, mas abrange também

os maus tratos e a agressão verbal. Desde a atenção básica, porta de entrada do serviço de

saúde, se deve começar essa educação em saúde voltada à clientela para que situações do tipo

possam ser coibidas (DE CARVALHO et al., 2014).

Entende-se por violência obstétrica qualquer ato exercido por profissionais da saúde

no que cerne ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres, exprimido através de uma

atenção desumanizada, abuso de ações intervencionistas, medicalização e a transformação

patológica dos processos de parturição fisiológicos (GUERREIRO et al., 2012)

Visando garantir e promover o exercício dos direitos humanos sexuais e reprodutivos

(DHSR), o Ministério da Saúde apresenta diversas propostas e diretrizes que vão desde a

elaboração e distribuição de manuais técnicos e cartilhas educativas sobre reprodução e

sexualidade, até a ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis e

esterilização cirúrgica voluntária no SUS (Sistema Único de Saúde) (MARQUES; PEREIRA,

2011).

Portanto, valorizar a percepção da mulher no que diz respeito a sua sexualidade é

fortalecer a ideia de proteção aos direitos sexuais e reprodutivos. E esses últimos representam

uma conquista da sociedade. Sem eles não há o pleno exercício dos próprios direitos

humanos.

Na segunda temática foram registradas 16 URs/20 para a Unidade de Registro “Física

e Verbal” como sendo o principal tipo de violência cometido contra gestantes, porém algumas

entrevistadas referem-se à violência cometida pelo parceiro, como podemos observar nas

seguintes falas:

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“Para mim violência é apanhar de homem, apanhar injustamente. Homem nenhum deveria

encostar o dedo em mulher. Tem a violência verbal também.” (E6 )

“Bater na mulher. O homem é muito machista.” (E16)

“Mulher não tem defesa, é mais frágil. Deve ter um acompanhante. Maltrato. Homem que

não deixa a mulher sair.” (E7)

Apenas uma das entrevistadas citou a lei do acompanhante no sentido de que a

gestante deve ter um acompanhante no momento do parto. As demais entrevistadas insistiram

nos termos bater e palavras ofensivas como sendo as principais violências cometidas contra

gestantes.

A lei, que está em vigor desde 2005, existe, mas ainda muitos a desconhecem ou não

têm certeza de sua validade. Por essa lei é obrigatório que os hospitais, maternidades e

assemelhados permitam a presença de um acompanhante indicado pela gestante para

acompanhá-la durante o trabalho de parto, parto e pós-parto (período por até 10 dias). Isso

vale para todos os hospitais brasileiros, seja particular ou público. É o que diz a Lei 11.108, de

abril de 2005:

Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da

rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença,

junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período

de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.

§ 1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado

pela parturiente7.

O Ministério da Saúde8 lançou uma portaria para regulamentar essa lei. Define como

“pós-parto imediato” o período de 10 dias após o parto e dá cobertura para que o

acompanhante possa ter acomodação adequada e receber as principais refeições. A Portaria nº

2.418 do Ministério da Saúde, de 2 de dezembro de 2005, regulamenta, em conformidade com

o art. 1º da Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, a presença de acompanhante para mulheres

em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato nos hospitais públicos e conveniados com o

Sistema Único de Saúde – SUS, conforme veremos a seguir:

7 Acompanhante no parto. Todas nós temos direito! Disponível em:

http://www.partodoprincipio.com.br/#!direito-ao-acompanhante/c18ym. Acesso em: 09 mar. 2016. 8 Ministério da Saúde. Portaria nº 2.418, de 02 de dezembro de 2005. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt2418_02_12_2005.html. Acesso em: 09 mar. 2016.

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Art. 1º Regulamentar, em conformidade com o art. 1º da Lei nº 11.108, de 7

de abril de 2005, a presença de acompanhante para mulheres em trabalho

de parto, parto e pós-parto imediato nos hospitais públicos e conveniados

com o Sistema Único de Saúde - SUS.

§ 1º Para efeito desta Portaria entende-se o pós-parto imediato como o

período que abrange 10 dias após o parto, salvo intercorrências, a critério

médico.

§ 2º Fica autorizada ao prestador de serviços a cobrança, de acordo com as

tabelas do SUS, das despesas previstas com acompanhante no trabalho de

parto, parto e pós-parto imediato, cabendo ao gestor a devida formalização

dessa autorização de cobrança na Autorização de Internação Hospitalar -

AIH.

§ 3º No valor da diária de acompanhante, estão incluídos a acomodação

adequada e o fornecimento das principais refeições.

Art. 2º Os hospitais públicos e conveniados com o SUS têm prazo de 6 (seis)

meses para tomar as providências necessárias ao atendimento do disposto

nesta Portaria.

Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Além da Lei do Acompanhante, em vigor desde 2005, existem outras duas resoluções

que asseguram a presença de uma pessoa indicada pela mulher para o parto. A Agência

Nacional de Saúde (ANS) regulamentou a RN 211 e a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA) regulamentou a RDC 36/08, as quais também discorrem sobre a

permissão para um acompanhante.

É importante deixar claro que fica a critério exclusivo da parturiente (mulher grávida)

a escolha do acompanhante para o momento do parto e outras atividades relacionadas ao

período de parto. Pode ser o marido, a mãe, uma amiga, uma doula. Não importa se há

parentesco ou não e tampouco o sexo.

Após a análise de conteúdo temática das respostas fornecidas pelas puérperas, ocorreu

a sistematização das informações para a elaboração da tecnologia educacional a ser proposta

com assuntos voltados ao conceito de humanização do parto, como deve agir a equipe de

saúde, condutas que não devem ser realizadas pelos profissionais, práticas que devem ser

incentivadas durante o trabalho de parto e a lei do acompanhante.

A edição da TE, denominada pela pesquisadora de Cartilha Piloto, foi elaborada

utilizando o programa Windows 8 além dos recursos que o programa oferece no software

Power Point.

É muito importante estar ciente sobre o que significa humanização do parto para que

quem sofra algum tipo de abuso durante a gestação possa denunciar. Campanhas feitas por

ativistas e ações do Ministério Público estão ajudando a melhorar esse cenário. Em São Paulo,

o Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher lançou um projeto que distribui cartilhas

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informando as mulheres sobre os tipos de violência contra gestantes e também sobre seus

direitos na assistência ao parto.

Diante do exposto nesta pesquisa, e com base nos dados apresentados na análise de

conteúdo, ficou evidente que muitas mulheres são desrespeitadas ou sofrem maus tratos e

violência durante o trabalho de parto, parto ou pós-parto em instituições de saúde, porém não

reconhecem tais atos, por desconhecer o que é violência obstétrica ou por não conhecerem

quais são seus direitos reprodutivos, visto que apenas 1 (uma) entrevistada citou a lei do

acompanhante e as demais não demonstraram entendimento sobre o assunto.

Neste sentido, elaboramos, a exemplo de outras instituições de saúde, uma cartilha

com o intuito de orientar mulheres sobre o conceito de humanização do parto e os direitos

obstétricos das gestantes. Essa cartilha também objetiva ampliar o conhecimento dos

profissionais sobre os direitos da mulher, de forma a tornar a assistência cada vez mais

humanizada.

Para atingir esse objetivo, foi elaborada uma cartilha (tecnologia educacional)

contendo orientações sobre como saber se viveram experiências de violência obstétrica,

estratégias para obter o melhor atendimento, métodos cientificamente comprovados para a

proteção e a segurança das mulheres quando se tornam pacientes de obstetrícia.

As inovações tecnológicas não devem ser vistas pela área de saúde como uma

realidade distante ou como algo que seja inerente aos elementos construtivos da educação em

saúde. Salvador et al. (2012, p. 116) diz que:

Não há dúvidas quanto à melhoria assistencial proporcionada pelas

inovações tecnológicas, assim como é inquestionável a importância do

preparo profissional, do oferecimento de recursos adequados e da

preservação do cuidado acolhedor e humanizado para que tal processo seja

consolidado de maneira eficaz.

Vale dizer que temos diversos tipos de tecnologias, podemos citar as tecnologias

educacionais, as tecnologias assistenciais e as tecnologias gerenciais. Sobre essas tecnologias

pode-se ressaltar que a primeira atua como dispositivos para a mediação de processos de

ensinar e aprender, utilizados entre educadores e educandos nos vários processos de educação

– formal - acadêmica, formal - continuada. A segunda já atua como dispositivos para a

mediação de processos de cuidado, aplicada por profissionais com os clientes - usuários dos

sistemas de saúde e atenção primária, secundária e terciária. E a última como dispositivos

para a mediação de processos de gestão, utilizados por profissionais nos serviços e unidades

dos diferentes sistemas de saúde. (MERHY 2005 apud TEIXEIRA; MOTA, 2011, p. 15).

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A tecnologia defendida nesse trabalho se trata da Educacional, ressaltando que muitas

tecnologias impressas do tipo folders, cartazes, cartilhas, manuais, cadernos de orientação ou

apostilas nem sempre ou, infelizmente, quase nunca são submetidas a um processo de

avaliação.

São de grande importância a avaliação e a validação do material informativo para que

ele possa ser implantado no serviço, respaldando a assistência prestada pela equipe

interdisciplinar e destacando o relevante papel educador dos profissionais de saúde

(RODRIGUES et al., 2013).

Destarte, realizada a fase da análise de conteúdo temática, iniciou-se o levantamento

bibliográfico para elaboração da cartilha. Foram selecionados artigos científicos, dissertações,

livros-textos além de manuais do Ministério da Saúde. A busca desse material foi guiada pelas

palavras chaves desta pesquisa. A finalidade dessa seleção foi reunir todo o conteúdo de

interesse para a elaboração da tecnologia educacional, sendo categorizado nos seguintes

grupos: conceito de violência obstétrica, humanização do parto, tecnologias não invasivas de

cuidados com a gestante e direitos reprodutivos. A seleção dessas temáticas teve como critério

as demandas de conhecimento das puérperas participantes desta pesquisa.

V CAPÍTULO - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verifica-se que a violência obstétrica pode se mostrar de diversas formas no trabalho

de parto e parto, desde a não explicação e solicitação de autorização para a realização de

procedimentos, até a injúria verbal, exprimida por palavras ofensivas, objetivando impedir a

mulher de demonstrar o que estava sentindo no momento antecedente e durante a parturição.

Ao longo de anos de discussão sobre a Política Nacional de Humanização ao Pré-Natal, Parto

e Puerpério, o processo de institucionalização do parto no Brasil continua interferindo na

medicalização do parto e no incremento dos índices de cesariana, reforçando a medicalização

do corpo feminino e o seu impedimento de ser sujeito pleno de sua história, perpetuando a

violência obstétrica.

Os direitos sexuais e reprodutivos fazem parte dos direitos humanos sustentados pelo

governo brasileiro e, por isso, devem ser garantidos a qualquer cidadão. Entretanto a ação ou

omissão de profissionais de saúde no campo da sexualidade e reprodução podem resultar em

violação de tais direitos.

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A assistência adequada nas fases do pré-natal e puerperal objetiva acolher a mulher

desde o início da gestação, garantindo, ao fim da gestação, o nascimento de uma criança

saudável e o bem-estar materno e neonatal.

O suporte profissional no trabalho de parto e parto é um cuidado desenvolvido

principalmente pela equipe de enfermagem e que proporciona bem-estar para as parturientes,

contribuindo para a humanização da assistência.

A análise de conteúdo temática nesta pesquisa, com base nas respostas das mulheres

participantes, revelou que a assistência por parte dos profissionais de saúde ocorre permeada

de práticas satisfatórias e respeitosas no cotidiano da assistência a mulheres gestantes,

parturientes e puérperas. Esta pesquisa nos permitiu concluir que o tema humanização do

parto precisa ser abordado cada vez mais, visto que a maioria das mulheres entrevistadas nesta

pesquisa demonstrou compreender e citar algumas atitudes como sendo violência contra

gestantes, porém a palavra foi mais fortemente associada à violência urbana, física, sexual e

aquelas cometidas por parte do parceiro.

Episódios como agressões verbais, recusa de atendimento, privação de acompanhante,

lavagem intestinal, raspagem dos pelos, jejum, episiotomia e separação de mãe e bebê

saudável após o nascimento estão entre os itens da gigante lista de violências obstétricas,

porém nenhum desses episódios foi relatado pelas mulheres participantes desta pesquisa.

É notável a importância de o profissional de saúde promover a autonomia da mulher

no trabalho de parto, parto e puerpério, como o respeito ao direito de escolha de práticas

criticamente empregadas conforme os seus critérios de elegibilidade, os quais estão

respaldados em evidências científicas.

O profissional de saúde possui o dever de explicar a finalidade de cada intervenção ou

tratamento, assim como os riscos ou possíveis complicações e as alternativas disponíveis.

Com base nessas informações, a mulher tem o direito de recusar tratamentos ou

procedimentos em seu corpo, o que se chama direito à recusa informada.

Tais orientações são de suma importância para a gestante num momento como esse,

para que ela entenda o parto como um processo fisiológico e natural. A mulher deve ter

assegurado que o parto ocorra de forma humanizada e segura.

Os resultados deste estudo mostraram que a assistência prestada às mulheres durante o

trabalho de parto, parto e puerpério no Hospital Público de Belém com base no Programa de

Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) não é tão notável para as gestantes, porém a

maioria das gestantes afirma ter sido bem assistida tanto no pré-natal como no período de

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internação. A maioria mostrou-se bastante satisfeita com o tratamento dispensado durante

toda sua estadia no hospital.

No decorrer desta pesquisa ficou evidente que a violência obstétrica é ainda pouco

reconhecida enquanto um ato violento, pois no mesmo momento que ela ocorre, as mulheres

estão vivenciando grandes emoções, que as fazem manter-se caladas. É necessário abordar os

direitos da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, especialmente nas consultas de pré-

natal, quando é possível realizarmos a abordagem de variados temas e direcioná-las para a

tomada de decisões no que se refere ao seu corpo e a sua parturição e para a identificação e

denúncia de situações de desrespeito.

Quanto ao nível de conhecimento das mulheres participantes desta pesquisa sobre os

direitos reprodutivos, apenas uma entrevistada demonstrou conhecer a lei do acompanhante,

que faz parte dos referidos direitos. A maioria das puérperas declarou que a experiência vivida

no período do trabalho de parto e parto foi ótima e sem problemas, algumas demonstraram até

mesmo surpresas com o atendimento encontrado no hospital.

Para as outras mulheres, a violência configura-se como uma situação da relação

conjugal com o parceiro atual, que se apresentou desde o início do relacionamento,

comprovando que o ambiente externo das participantes se mostrou como um cotidiano

violento e hostil.

Acredita-se que este estudo por meio da sugestão de uma tecnologia educativa

(cartilha com ações humanizadas) para todas as mulheres envolvidas no processo do trabalho

de parto e parto, que é o produto deste trabalho, irá favorecer a conscientização das mulheres

acerca do conceito da violência obstétrica e sua repercussão dentro do contexto familiar,

comunitário e social, a fim de reduzir a invisibilidade da violência obstétrica por intermédio

das ações de educação em saúde abordadas pelas equipes da Atenção Básica.

Após o que foi exposto neste estudo, considera-se que a tecnologia educacional

proposta em forma de cartilha e intitulada “Tecnologia educacional: a humanização do parto”

poderá contribuir para disseminar o conhecimento sobre os direitos reprodutivos, violência

obstétrica e o conceito de parto humanizado entre as gestantes e profissionais de saúde, a fim

de evitar que mais casos de violência obstétrica ocorram.

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APÊNDICE

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69

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO

GESTÃO E SAÚDE NA AMAZÔNIA

APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - (T.C.L.E)

Conforme Resolução Nº 466/2012-CNS

Título: “EXPERIÊNCIA E VIVÊNCIA DAS PUÉRPERAS QUANTO AO PARTO

HUMANIZADO: UMA PROPOSTA EDUCATIVA”

Você está sendo convidada para participar desta pesquisa intitulada “Experiência e

vivência das puérperas quanto ao parto humanizado: uma proposta educativa” de

autoria da RUTH DAVI DE GOIS, mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão

e Saúde na Amazônia - Mestrado Profissional em Gestão e Serviços em Saúde da

Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, sob orientação da Professora Doutora

HELIANA HELENA DE MOURA NUNES. Esta pesquisa que tem por objetivo: Conhecer

as opiniões das puérperas em relação à assistência recebida pela equipe de saúde

durante o trabalho de parto, parto, nascimento e puerpério, no período compreendido

entre outubro e novembro de 2015.

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa é importante que você

compreenda as seguintes informações, que dizem respeito a sua participação nesta pesquisa:

Sua participação é muito importante e ela se daria da seguinte forma: consistirá em

responder às perguntas da pesquisadora durante entrevista que terá auxílio de um gravador de

voz. Porém, você tem a liberdade de aceitar ou não sem que isto acarrete qualquer ônus ou

prejuízo ao seu tratamento no hospital ou a sua pessoa.

Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer

parte do estudo, este documento deverá ser assinado em duas vias e em todas as páginas,

sendo a primeira via de guarda e confidencialidade da Pesquisadora responsável e a segunda

via ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins.

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70

Para coletarmos as informações desejadas será utilizado um instrumento de pesquisa

com perguntas referentes a dados sociodemográficos, antecedentes gestacionais e cinco

perguntas sobre sua vivência no trabalho de parto, parto e nascimento.

A entrevista será realizada em uma sala reservada previamente agendada no hospital.

Só será necessária disposição para responder às perguntas que lhe serão feitas, o que

levará em torno de 20 minutos.

Após, as suas informações gravadas serão transcritas, por mim, de maneira a

resguardar a fidedignidade dos dados.

Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com a

pesquisadora responsável RUTH DAVI DE GOIS no telefone: (91) 98515-0440 ou através

do E-mail: [email protected] ou com a orientadora da pesquisa Profª. Dra.

HELIANA HELENA DE MOURA NUNES no telefone: (91) 98152-7677 ou através do E-

mail: [email protected].

Em caso de dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato

com o Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará

(CEP/FSCMPA), localizado na Rua Oliveira Belo, 395 Umarizal - Belém/Pará. Telefone:

(91) 4009-2264. E-mail: [email protected]. Se necessário, você também

pode fazer contato com a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) na página:

http://www.conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/conep/index.html. Também pode ver na

internet a relação dos projetos aprovados nos CEP, na página:

www.saude.gov.br/plataformabrasil.

Os procedimentos adotados nesta pesquisa “Experiência e vivência das puérperas

quanto ao parto humanizado: uma proposta educativa” obedecem aos Critérios da Ética

em Pesquisa com Seres Humanos conforme disposto na Resolução nº. 466/12 do Conselho

Nacional de Saúde (CNS), seus complementares e demais normas legislativas vigentes.

É importante que você compreenda que nenhum dos procedimentos usados oferece

riscos a sua dignidade, pois estão assegurados o anonimato e o caráter privativo das

informações fornecidas exclusivamente para a pesquisa. Você não será identificado em

nenhum momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma, pois será adotada a letra ‘E’ (E1, E2, E3, E4...), por ser a letra inicial da

palavra Experiência, seguida de um número que não corresponde à sequência de sua

participação na pesquisa.

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As informações serão mantidas em arquivo confidencial no computador, sob a

responsabilidade da pesquisadora responsável por cinco anos. Após este período, os dados

serão destruídos. Os dados coletados, depois de organizados e analisados, deverão ser

divulgados e publicados, ficando a pesquisadora, juntamente com a professora, responsável

por apresentar o relatório da pesquisa para a instituição, na qual será realizado este estudo.

Comunico que a sua participação na entrevista não representará, a princípio, risco à

dimensão física, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa.

No entanto, poderá gerar algum desconforto como lembranças, questionamentos e/ou

conflitos à dimensão emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual você

irá refletir sobre o seu cotidiano. Essa situação poderá ser minimizada pelo atendimento da

equipe de profissionais do próprio serviço vinculados ao Hospital (Psicólogos) que será

previamente contatado.

Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício direto. Entretanto poderá

haver benefícios no que se refere à melhoria na qualidade das práticas referentes ao cuidado

oferecido pela equipe de saúde durante o trabalho de parto, parto, nascimento e puerpério.

Através desta pesquisa também poderemos identificar situações de violências obstétricas e

como isso repercute na sua vida, de forma que o conhecimento que será construído a partir

desta pesquisa possa favorecer um ganho na qualidade deste serviço, bem como à produção

do conhecimento, pois com o término da pesquisa será elaborada uma Dissertação de

Mestrado em Gestão e Saúde na Amazônia e, na sequência, artigos para publicação em

Revistas da área em âmbito nacional. Ademais, os resultados estarão a sua disposição quando

finalizada a pesquisa e serão apresentados aos profissionais deste hospital, publicados e

divulgados em outros eventos científicos.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens que se seguem: confirmo que

recebi uma via deste termo de consentimento e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e

a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

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CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Ciente e de acordo com o que fui anteriormente exposto, eu _________________________,

estou concordo em participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias,

ficando com a posse de uma delas. Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o

consentimento livre e esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a

participação neste estudo.

__________________________________

Nome do Participante da Pesquisa

_________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

__________________________________

Assinatura do Pesquisador

_________________________________

Assinatura do Orientador

Belém,______de__________de______2016.

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO E SAÚDE NA AMAZÔNIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E SERVIÇO EM SAÚDE

APÊNDICE B

CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES

Iniciais da Entrevistada: ___________ Nº Registro: ____________

Data: ___/___/____ Horário do início: _________

I - PERFIL DA ENTREVISTADA

1. Código alfanumérico (codinome):

2. Idade:

3. Profissão:

4. Escolaridade:

5. Estado civil:

6. Ocupação:

7. Raça etnia declarada:

8. Renda mensal:

9. Histórico obstétrico:

a. Quantas vezes você engravidou? _____

b. Quantos partos você teve? Normais (____). Cesarianos (____). Fórceps (____)

c. Quantos abortos você teve? Espontâneos (___). Provocados (____)

10. Local do parto:

II - EXPLORAÇÃO TEMÁTICA:

11. Fale-me sobre sua gravidez. Como se sentiu?

a. Você queria engravidar?

b. Você teve apoio de sua família?

12. Como foi seu pré-natal? Apresentou algum problema?

13. Fale como foi sua experiência durante sua internação, trabalho de parto, parto até sua

alta.

III - PERCEPÇÃO DE VIOLÊNCIA:

14. Você já ouviu falar sobre a lei do acompanhante?

15. O que você considera violência contra a mulher gestante? Porque você acha que isso

acontece?

16. Como você avalia a assistência recebida durante esse período que ficou internada

nesse hospital?

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17. Você gostaria de falar ou explicar algo que não foi lhe perguntado durante essa

entrevista?

Hora do término da entrevista:

APÊNDICE C

LISTA DE PSEUDÔNIMO

ID ENTREVISTADA

E1 TULIPA

E2 ROSA

E3 GIRASSOL

E4 ORQUÍDEA

E5 CICLAME

E6 LÍRIO

E7 DÁLIAS

E8 ACÁCIA

E9 AÇUCENA

E10 ALFAZEMA

E11 BEGÔNIA

E12 CAMÉLIA

E13 COPO-DE-LEITE

E14 CRISÂNTEMO

E15 DÁLIA

E16 GARDÊNIA

E17 HORTÊNSIA

E18 ÍRIS

E19 MARGARIDA

E20 VIOLETA

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APÊNDICE D - ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS RESPOSTAS DAS PUÉRPERAS

Quadro 1: Codificação segundo Bardin (2011) – Entrevistadas. Belém/PA. 2016.

Questão

Entrevistada Categorias

Temáticas

Unidades de

Contexto

Unidade de

Registro

UR’s

11. Fale-me sobre

sua gravidez.

Como se sentiu?

E2 Felicidade Fiquei feliz, pois pensava que não podia engravidar. Feliz 12/20 UR's

E3 O pai queria mais do que eu. Passei a desejar a gravidez e me senti feliz.

E4 Me senti muito feliz, pois vivia junto com o pai da criança há 1 ano e queria muito.

E7 Muito feliz.

E10 Me senti muito feliz.

E12 Fiquei muito feliz. Estava tentando há 5 anos.

E13 Não sabia que estava gestante, descobri quando fiz um ultrassom, pois estava

menstruando. Fiquei feliz.

E14 Não foi planejada, mas quando soube me senti bem feliz.

E15 Foi maravilhoso. Queria muito. Fiquei muito feliz.

E17 Fiquei muito feliz.

E18 Um pouco feliz, pois minha filha havia falecido há 3 meses.

E20 Normal, fiquei feliz.

E5 Surpresa Foi um choque, pois minha filha mais velha já tem 12 anos, mas depois aceitei. Surpresa 8/20 UR's

E6 Foi um susto, pois só soube no 7º mês, mas não tomei remédio para abortar.

E8 Foi tudo muito casual, eu estava tomando anticoncepcional.

E9 Foi surpresa, não foi planejado.

E11 Fiquei assustada, mas não quis tirar (abortar).

E16 Não foi planejado. Foi uma surpresa. Tive medo da família.

E19 Triste. Aceitei depois. Foi inesperado.

E1 Foi um susto. Me sentia muito mal, com muitas dores, tive PA.

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Quadro 2: Codificação segundo Bardin (2011) – Entrevistadas. Belém/PA. 2016.

Questão

Entrevistada Categorias

Temáticas

Unidades de Contexto Unidade de

Registro

Frequência

12. Como foi seu

pré-natal? E1

Insatisfação Demorou muito pra iniciar, pois a UBS sempre me encaminhava para outro local

e iniciei no 5º mês.

Incompleto 9/20 UR's

E5 Fiz pré-natal tarde, foi incompleto, pois iniciei somente no 7º mês, não gostava do

médico.

E6 Não fiz pré-natal, pois não sabia que estava grávida. Não tive problemas.

E7 Fiz só uma consulta no Acará. Foi incompleto.

E8 Comecei bem tarde, já no 4º mês. Tive rinite, um sangramento no inicio e um

desconforto.

E15 Fiz 4 consultas. Foi incompleto. Sem problemas

E16 Foi incompleto. Poucas consultas. Era muito distante o médico.

E17 Fiz 5 consultas, mas demorei para conseguir marcar. Sem problemas.

E19 Não fiz completo. Tive muita tonteira.

E2 Satisfação Fiz pré-natal, fui bem atendida, porém tive infecção urinária no 4º mês e tratei. Bem

Atendida

11/20 UR's

E3 Foi bom, mas tive que correr atrás. No SUS foi difícil, não tive consultas com

médicos, somente uma consulta.

E4 Foi bom. Fiz desde o primeiro mês. Sem problemas.

E9 Fiz pré-natal, foi bom. Tive infecção urinária, mas tratei.

E10 Fui bem atendida, mas não gostei da médica, falava muito e nunca me examinou.

E11 Fiz 9 consultas, comecei no 2º mês. Atenderam-me bem. Não tive problema.

E12 Fui bem atendida. Tive um problema de corrimento no início, mas tratei.

E13 Fui bem atendida. Fiz 3 consultas com as enfermeiras somente. Tive infecção

urinária e pressão alta.

E14 Foi boa, fui bem atendida. Sem problemas.

E18 Tive anemia e infecção urinária. Fui bem tratada.

E20 Fui muito bem atendida.

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Quadro 3: Codificação segundo Bardin (2011) – Entrevistadas. Belém/PA. 2016.

Questão

Entrevistada Categorias

Temáticas

Unidades de Contexto Unidade de

Registro

UR

13. Fale

como foi

sua

experiência

durante a

internação,

trabalho

de parto,

parto até a

sua alta.

E1

Satisfatório Quando cheguei ao hospital estava perdendo líquido há três dias então fiz uma USG e não havia

mais líquido e fui para a cesárea. Parte do atendimento foi ótimo. Tive alta, porém não me

repassaram nada sobre o exame do meu filho.

Ótimo 18/20 UR's

E2 Logo que cheguei aqui fui atendida. Gostei muito do atendimento.

E3 Gostei muito. Não tive espera nenhuma. As enfermeiras foram muito atenciosas, me orientaram

bem. Só acho que demorou muito o resultado do exame do bebê.

E4 Eu achei tudo muito bom. Fui muito bem atendida. O parto foi ótimo. Sem problemas.

E5 Foi boa. Quando cheguei não fui bem atendida pelo médico, mas depois fui bem atendida por

todos.

E6 Gostei bastante daqui. Atenderam-me muito bem.

E8 Foi uma experiência diferente, mesmo já tendo passado por essa experiência foi diferente. Aqui

precisa melhorar a estrutura, mas a assistência foi ótima.

E9 Está sendo ótimo. Nunca imaginei que fosse tão bom. Fiquei surpresa.

E10 Aqui foi um lugar que gostei, larguei o plano da Hapvida para ficar aqui. Fui muito bem tratada.

E11 Fui bem atendida. Foi tranquilo.

E12 Fui bem atendida.

E13 Foi bom, deu tudo certo.

E14 Tudo ótimo.

E15 Foi ótimo.

E17 Foi tudo de bom. Ajudaram-me muito.

E18 Foi bom. Muito bom o atendimento.

E19 Foi ótimo.

E20 Fui logo atendida. Gostei muito.

E7 Insatisfação Para mim foi muito difícil. Sofri muito, senti muita dor. Depois que romperam minha bolsa, a

criança fez cocô dentro de mim e fizeram a cesárea.

Difícil 2/20 UR's

E16 Foi horrível. Muita dor. Não quero mais. Foi difícil.

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Quadro 4: Codificação segundo Bardin (2011) – Entrevistadas. Belém/PA. 2016.

Questão

Entrevistada Categorias

Temáticas

Unidades de Contexto Unidade de

Registro

UR

15. O que você considera

violência contra a

mulher gestante?

Porque você acha

que isso acontece?

E1 Desrespeito Ás vezes é falta de respeito em lugares públicos por que falta o respeito pelo ser humano. Falta de

Respeito

4/20 UR's

E2 Quando a mulher gestante chega no hospital e há demora no atendimento. Falta de comunicação,

humanidade e respeito. Fico indignada.

E4

No ônibus a mulher gestante fica em pé, as pessoas não dão o lugar para sentar, é falta de respeito.

Muitas mulheres podem ter normal, mas os médicos escolhem fazer cesárea. Muitas mulheres são

mal atendidas no hospital.

E11 Ocorre falta de respeito no ônibus, no posto de saúde, pois não dão prioridade para gestante. Acho

que são pessoas que ainda não passaram por isso.

E3 Agressão

Física e

Verbal

É um agravante. Contra a mulher já é grave e se for gestante é mais grave ainda. A ofensa verbal

também é um tipo de violência, pois diminui a mulher.

Bater e

Palavras

Ofensivas

16/20 UR's

E5 As pessoas que batem na mulher, mas a violência pode ser uma palavra que dói mais que um tapa.

E6 Para mim violência é apanhar de homem, apanhar injustamente. Homem nenhum deveria

encostar o dedo em mulher. Tem a violência verbal também.

E7 Mulher não tem defesa, é mais frágil. Deve ter um acompanhante. Maltrato.

Homem que não deixa a mulher sair.

E8

Eu tenho certeza, que tudo que você permite, o outro vê o momento frágil, exerce essa pressão

psicológica e a mulher fica acuada, até mesmo palavras que ofendem. Embora exista a lei Maria

da penha, ainda acontece. As pessoas acham que é um problema social, mas eu acho uma covardia.

E9 Bater é um crime. Maltratar uma mulher já é um crime, grávida é pior ainda.

As leis deveriam ter mais rigor.

E10 Acho que é os maltrato contra a mulher. Palavras também é violência. Existe muita gente má.

E12 Palavras e atitudes grosseiras que ferem até a autoestima da mulher.

E13 Bater, rejeição, palavras de ofensa, a família maltratar.

E14 As vezes são muito ignorantes, principalmente quando não é o primeiro filho.

Falam palavras ofensivas que não queremos ouvir. Vi muito isso durante o pré-natal. Tratam mal.

E15 Ofensas e palavras ofensivas. Muita crueldade com a mãe e o bebê.

E16 Bater na mulher. O homem é muito machista.

E17 Agressão física e emocional. Palavras de ofensa.

E18 Bater e verbal. A mulher tem medo de denunciar.

E19 Não sei responder. Mas acho que palavras ofensivas é muito ruim.

E20 Bater na mulher.

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APÊNDICE E

CARTILHA “A HUMANIZAÇÃO DO PARTO”

HOSPITAL DR. ABELARDO SANTOS

TECNOLOGIA EDUCACIONAL: A

HUMANIZAÇÃO DO PARTO

Belém/PA - 2016

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HUMANIZAÇÃO DO PARTO

A HUMANIZAÇÃO DO PARTO

Informações práticas sobre seus direitos

O parto é um momento marcado pela importância da chegada de

um novo ser. É um momento de emoções e significado para a mãe e

seus familiares.

Esta cartilha apresenta os principais direitos relacionados à

humanização do parto. Esperamos com ela promover o respeito e a

dignidade do parto e nascimento no Hospital Abelardo Santos.

O QUE É HUMANIZAÇÃO DO PARTO?

É o respeito à mulher como pessoa única, em um momento da sua vida

em que necessita de atenção e cuidado.

A HUMANIZAÇÃO DO PARTO É UM DIREITO DA MÃE E DO BEBÊ

A humanização do parto é um processo que tem início no pré-natal.

Os profissionais planejam o parto e os possíveis procedimentos realizados.

Devemos respeitar e criar condições para que todas as necessidades da mulher

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HUMANIZAÇÃO DO PARTO

sejam atendidas, sejam elas espirituais, psicológicas, biológicas ou sociais.

No parto humanizado se presta uma assistência digna com a garantia de direitos, atenção e segurança.

COMO DEVE AGIR A EQUIPE DE SAÚDE

Agir de forma ética e solidária, informando a mulher sobre sua

saúde, evitando intervenções desnecessárias e ouvindo sua opinião

sobre os procedimentos indicados de forma clara, respeitando seu

saber e o conhecimento do seu corpo.

Explicar a finalidade de cada intervenção, seus riscos e as

alternativas disponíveis. Com base nessas orientações, a mulher tem o

direito de escolher tratamentos ou procedimentos que serão feitos em

seu corpo.

Dar apoio psicológico a mulher e aos familiares, monitorar o

andamento do trabalho de parto e os sinais vitais do bebê, além de

prestar um atendimento digno, respeitoso, valorizando a fisiologia do

parto.

CONDUTAS QUE NÃO DEVEM SER REALIZADAS PELOS PROFISSIONAIS

O atendimento de saúde no pré-natal sem acolhimento às necessidades e dúvidas da gestante;

Os comentários constrangedores à mulher, por sua cor, raça, etnia, idade, escolaridade, religião ou crença, condição socioeconômica, estado civil ou situação conjugal, orientação sexual, número de filhos, etc.;

As ofensas, humilhações ou xingamentos pessoais ou direcionados a algum membro da família;

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HUMANIZAÇÃO DO PARTO

As ameaças à mulher em caso de não aceitação de algum procedimento; A realização de episiotomia (corte na parede da vagina) de maneira indiscriminada – sem que haja indicação clínica;

A infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética) sem informação e concordância da mulher;

A realização de intervenções no corpo da mulher sem que elas sejam explicadas e sem que haja o consentimento dela;

O direito ao acompanhante negado;

Amarrar a mulher durante o parto;

A retirada dos pelos pubianos (tricotomia);

A pressão sobre a barriga da parturiente para empurrar o bebê (manobra de Kristeller);

O uso rotineiro de lavagem intestinal (enema);

A realização frequente de exame de toque, de forma dolorosa, para verificar a dilatação;

A ausência de hidratação ou alimentação da parturiente durante o trabalho de parto;

A proibição de se levantar e de se locomover durante o trabalho de parto;

O agendamento de cesárea sem a devida recomendação e sem consentimento da mulher;

Obrigar a mulher a permanecer sempre deitada, entre outros.

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HUMANIZAÇÃO DO PARTO

PRÁTICAS QUE DEVEM SER INCENTIVADAS DURANTE O TRABALHO DE PARTO

LEI DO ACOMPANHANTE

VOCÊ SÓ ESTARÁ SOZINHA SE QUISER

Segundo a Lei 11.108/2005, toda mulher tem direito a um acompanhante indicado por ela.

O acompanhante é escolhido livremente pela mulher, independente do sexo, tanto nos partos normais quanto nas cesáreas.

Você pode exigir a presença do acompanhante em hospitais públicos, privados, civis, militares e até em hospitais–escola.

A mulher tem direito de ser acompanhada desde a sua entrada, até os dias após o parto.

A presença do acompanhante é a forma mais eficaz de prevenir a

violência obstétrica e é um direito da mulher.

Ambiente acolhedor; Alimentação; Hidratação; Chás; Deambulação; Liberdade de

movimentos; Inclusão da família; Respiração; Massagens; Bamboleio; Banqueta;

Ausculta dos batimentos cardíacos fetais. Bola; Cócoras; Cavalinho; Banquinho; Aromaterapia; Reboza; Musicoterapia (música

ambiente); Acompanhante; Banho;

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HUMANIZAÇÃO DO PARTO

SEUS DIREITOS

O programa de Humanização no

Pré-natal está estruturado nos

seguintes principios:

Toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o

acesso à maternidade em

que será atendida no momento do

parto.

Toda gestante tem direito ao

atendimento digno e de

qualidade no decorrer da

gestação, parto e puérperio.

Todo recém-nascido tem

direito à assistencia

neonatal de forma humanizada e

segura.

COMO DENUNCIAR A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SOFRIDA?

Reunir documentos como cópia do prontuário médico e o cartão de

acompanhamento da gestação.

Além de providências judiciais, você também pode fazer uma

denúncia contra a pessoa que praticou a violência em seus Conselhos

de classe.

Autoria:

Ruth Davi de Gois – pesquisadora

Universidade Federal do Pará (UFPA)

E-mail: [email protected]

Profª. Dra. Heliana Helena de Moura Nunes – orientadora

Universidade Federal do Pará (UFPA)

Page 84: GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ FUNDAÇÃO SANTA CASA DE ... · Ao Hospital Abelardo Santos por permitir a realização da pesquisa deste trabalho. ... processo analítico empregado foi

ANEXOS

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ANEXO A

CARTA DE ACEITE

Aceitamos a execução da pesquisa na Maternidade deste hospital sobre o tema: “Experiência

e vivência das puérperas quanto ao parto humanizado: uma proposta educativa”, de

autoria da mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão e Saúde na Amazônia –

Mestrado Profissional da Fundação Santa casa de Misericórdia do Pará, Ruth Davi de Gois.

Sob a condição da mestranda apresentar cópia impressa da versão final do trabalho de

conclusão de curso encadernada e em formato PDF no Setor de Educação Permanente deste

hospital, assim como realizar a apresentação oral para os servidores em data a ser definida

pela Gestão do Hospital.

Período da coleta de dados: Outubro/Novembro de 2015

Belém/PA, ___ de __________ de 2016.

Andréia Gomes de Aragão

Diretora HRAS / SESPA