gomes, Ângela maria de castro. a invenção do trabalhismo, pp175-210

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  • 7/22/2019 GOMES, ngela Maria de Castro. A inveno do trabalhismo, pp175-210

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    Angela de Castro Gomes .

    T INVENO DOALHISM

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    Captulo IVA Lgica d o Ouem Tem Ofcio,Tem Benefcio

    1. Estado Novo em primeiro movimentoEm julho de 193-t, o Brasil ganhava uma nova Constituio, urn anova lei de sindicaliz.ro e um novo ministro elo Trabalho, Indstria eComrcio. A Constituio. atravs ele seu .ut. 120, consagrava a plurali-dade e a autonomia sindicais. :'\0 entanto, o Derreto-lei nl: 24J94, editadoalguns dias antes da votao final do texto constitucional, atravs de suasexigncias tornava inrenclonalmente a pluralidade muitodifcil e a auto-nomia muito relativa (\Ior:ll'S Filho, 1952, pp. 226-3 6). Ag.uncnon Maga-lhcs. o ministro cio Trabalho. considerava a orguniznco sindical san-

    cionad.i pela Constituio um equvoco e a nova lei de sindicalzao uminstrumento pouco udequado :J() momento poltico. No estava sozinhoem SU:lSH;srri~'es :lS normas constitucionais. O prprio presidente eleitopela Assemblia Constituinte. Getlio Vargas. no escondeu Sl'U desagra-do mesmo em seu discurso de posse. 'O cst.rbclccimcnro da pluruliducle e da autonomia sindicais era umavitria cios fortes interesses cl.i Igreja, aliada sem dvida ao p.uronato. Poroutro belo, constitui um golpe tanto para as correntes que resistiam clentrocio movimento operrio e que desejavam a unictlcle sindical, quanto para aorientao oficial cio Ministrio do Trabalho, partidri a tambm da unidade,l11:lS sob tutela estatal. A sitll:H;jo poltica do pas havia mudado muito des-de 1931, e urna dessas alteraes fora a perda ele fora poltica do gmpo te-nentista, inicialmente muito in fluente no governo e tambm na poltica tra-balhista. O episdio da eleio e de bOJ parte elos representantes classistaselos empregados na Constituinte no deixou dvidas quanto ao interessedos tenentes nesta rea poltica. Em 1934, como a Constituio votada de-monstrava, o equilbrio ele foras j era outro.A escolha ele Agamenon Magalhes para a pasta do Trabalho foineste contexto fundamental. Poltico ele Pernarnbuco, conhecia ele longadata as questes trabalhistas e transitava nos ltimos anos na mais alta

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    176 A INVENO DO TRABALHI,_S_M_O _lrica. comeando por delegar :1outros todo tipo de encargo administra-[[\'0, I E5tJ disposio comeou :1 se tornar patente por ocasio das elei-es de outubro de 193 4 para a Cmara Federal e para as AssembliasConstituintes Estaduais. que deram ao novo ministro a possibilidade de..f:tze(' :1 b.mc.id.: cios representantes classistas, em especial aquela dosempregado, Ag:llllenon, :linda segundo seus auxiliares, foi muito ob]e-tivo. Convocou \\':ddir Nicmcyer para se encarregar elos assuntos sindi-cais e trab.ilhst. de sua pasta e COIll ele criou todos os sindicatos ele Cf l-rimbo que sc tornaram necessrios. Tais sindicatos IO tinham existnciareal. 1ll:1.' possuam clclcgados-eleirores c escolhiam depurados clnssisrn,Eu ex.u.uucntc este o objetivo de t\g:llllcnon,

    Por outro belo, conforme os A nui ela C mnra dos Deputados de19.)~ rcgi-tr.un c a experincia de Hilc.ir Leite ilustra, Ag.uncnon foi umministro CjUL'veio para (/pertar us por ( /i l sos ,2 Mesmo antes de abril de193= ;,quando foi aprovada :\ Lei de Segur:ll1

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    178 v A INVENO 00 TRABALHISMO-----_._._-_ . .- . _ - -- - -_ . .. . - . ._-_._. _ _ . _ . . _ .._--- . .dente surgi~a elo interior cb cbsse trahalh:lelor:.l, Um longo silncio teve ini-CIOem _195 retorpnelo-se em 1957 e pereluranelo praticamenre at 19-2,

    _, 1-01esteesp:lo ele tempo que permitiu :1emissJo ele uma outra pro-pU~[;I ele idcnriclade e organiz:Ic,;:10para :1classe trubalhadora. A, propostacL l 19rep, esrrururada nos Crculos Operrios Catlicos, contou com o res-p~leioele\Va demar, 1~:tlcJo,sucessor ele Ag:llnenon a partir ele 1937, masnJ.Oconseguiu senslhlltz:lr os trah:dh:lelores, Profunelamente assistencal .ru, :.I proposta circulixrn vinculou-se a u m clima poltico ele intenso combate:10COI11:lnISmO ele grande sil11p:lti:1por um Estado autoritrio. C0111estas~:lr~lct:nslicls ~l1a,rc:antes,ornou-se incmoda quando os ventos da poltica1,1tclIl.I:lon.d c nacional comearam a soprar em outra di reo,'. ' .I'~)I justamenrc ~10hoj:) desta nova sltuao po ltica, que anunciava:l n.~iclque dominou :;1I:1clabo-r:ICIO c () contexto poltico \..'111ue cl:1teve lug:u. I~o que se far: nos doislklh suhseqU.'lltcs,

    1. ~ffriends make gifts, gi fts make fri ends, I ,Ik Ionn.i gt:ul, :1hihliogr:db que tr.ua cio tl.'111:1I:ISn:I:tc,;l.'SEx-Ue,,): d:ls:L',lr:~j):dll:lcI()r:,1 no Ilr:lsi l COllS:lgr:l um.i illtl.'rprct:I(:10 p:lr:1 o

    p.l llO :jlIC \ InlUOU estes dOIS:ltorcs :t p.utir cio Est:lco :'\ovo, Est: inter-pret:llO tllnd:~-se 11:1di:l central de que () Est:rdo elo p():;-30 dcscnca-(:L'(~U,llll1:1PO,llt,l,C:Joci:d de proclll~':IO e illlpl

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    180 T A I N V E N O O O T.-R- ,-,A- =B- ,-,A-=L. ..;H- ,-,I:.cM- --O :. ~ _Julgamento e na Constituinte pela exrenso e pelo cumprimento dos no-vos direitos do trabalho, Mas era tambm fundamental continuar resis-tindo proposta corporativa tanto na Constituinte, quanto nos sindicatose nas ruas, Ou seja, se os benefcios produzidos pelo Estado sob a formade leis estavam tendo apl ic ao e estavam sendo reconhecidos pela clas-se trabalhadora, ela no deixava de resistir politicamente.

    inegvel que Jlgica material olsoniana (Olson, 1970) de clculode custos e benefcios estava a em vigncia. Os benefcios da legislaosocial eram efetivamente transformados em incentivos seletivos, urnavez que a condio de s indicalizado era essencial para seu usufruto. En-t retanto, neste momento, esta lgica no foi um recurso de poder sufi-ciente para afastar as reaes. O uso da represso ao movimento sindicalfoi ento uma arma fundamental, como bem previu e, a part ir de 1935.ps em prt ica o ministro Ag.unenon Magalhes.Esta lgica material, essencial para a construo de um pacto so-cial, na realidade s comeou a produzir os s ignificativos resultados a elaimputados no ps-40. A partir da el a combinou-se com a lgicasunblcado discurso trabalhista, que , rcssignificando :1 palavra operria cons-t ruda ao longo < . 1 : 1 Primeira Repblica, apresentava os benefcios sociaisno como uma conquista ou uma rcpnruo. m.is como um ato de ge-nerosidade que envo lvia rec iproc idade. Nesta perspec tiva, o Estado n50era v isto apenas como produtor de bens mate ria is, mas como produ tor deum discurso que tornava elementos-chave da auto -imagem dos rrab.ilhn-dores e art iculava demandas. vnlores e tr:\di,'es desta classe. rcdimcn-sionando-os em outro contexto. A cLtsse trabalhadora, por conseguinte,s obedecia se por obedincia pol tica fica r entendido o reconheci-mento de inte resses e a necessidade de ret ribuio. :'\50 havia, neste sen-t ido, mera submisso e perda de identidade. Hav ia pacto, isto , uma tro-ca orientada por uma lgica que combinava os ganhos materiais com osganhos.simblico ela reciprocidade, sendo que era esta segunda dimen-silo que funcionava COIllOinstrumento intcgrador de todo o pacto.Sendo esta a proposta deste .estudo para interpreta r o pac to ent reEstado e classe trabalhadora no Bras il , cabe explicirar melhor o que se en-tende por esta lgica simblica de rec proc idade. Para tanto, dois textosantropolgicos, utilizados livremente. SJObsicos: o clssico trabalho deMareei Mauss, Ensaio sobre a ddiua (974). e o nJO menos clssico ar-tigo de Marshull Sahlins que retoma as reflexes de Mauss, On the 50-ciology of prtrnitive exchange (1965).

    O ponto fundamental a ser observado que ambos os textos seconstroem em torno da reflexo sobre os tipos de conexes que existementre os fluxos materiais da troca econmica e o modelo ele relaes so-c ia is vigente em uma sociedade primitiva, ou seja, uma sociedade onde asrelaes soc iai s e econmicas no foram transformadas pela existncia do

    \~ J1-, IIII

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    IIiIIIIiIIIIII_.i.;.

    - I . Ir: i--I' 1 l

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    III. I

    ANGE LA DE CAST RO GOMES V 181---_Estado (Sahlins, 1965, p. 141). Evidentemente, trabalhar com esta idiapara pensar as relaes entre Estado e classe trabalhadora no Brasil temmuito de metafrico. mas o que aqui se prope que a natureza do pactosocial acordado entre estes dois atores segue ele perto o tipo de lgicaque preside a conexo a que nos referimos. O primeiro aspecto que sequer assinalar que as relaes de troca econmica podem e devem serpensadas como mecanismos que se vinculam simbolicamente a um cerromodelo de relaes sociais e, no caso, tambm polticas.O dado j:i conhecido e ressaltado o da existncia de relaes ma-teriais utilitr ias ent re Estado e classe trabalhadora. sob a forma da pro-duo e do gozo dos benefcios sociais. A questo entender o tipo derelao social que se constri em conexo com est:1 relao de troca eco-nmica. Dito de outra forma, a lgica simblica que preside e d: sentidoa tais t1uxos materiais c que est presente na ideologia do trab.ilhismobrasileiro.A primeira grande indicao a da ideologia da outorga, Isto ,os benefc ios soc ia is teriam sido apresentados :1classe trabalhadora nops-40 como UI11presente outorgado pelo Estado. : \ cl:t sse t rabalhadora,mesmo antes de demandar, teria sido atendida ror uma autoridade be-nevolente, cu]a imagem mais recorrente a ([:1 autoridade paternal. Emfamlia, especialmente entre pais e filhos, o puro negcio econmico -segundo o modelo de mercado - no deve ter \'ig0ncia. sob pena deprejudicar as rcl .ies sociais - afctivas ....ess():li~ - .... lug:\r ele au-xili .i-Ias . Contudo, em f.uuliu, os f luxos m.ucriai n:lo el evem nem podemdeixar de exist ir . S que SU;\ lgica outra, mntcriahnc ntc obscurecidapelo lado social dominante, o que pode ser t raduz ido no bto de os bensserem apresentados C0ll10 gcncros.nn cntc doados.Seguindo de perto Sah l i ns (1965), pode-se dizer que o termo quedesigna as relaes econmicas 'lu c vigoram entre parentes a recipro-cidade. Reciprocidade formalmente def in ida COl1l0gcr1cr;t1il.:ld;I, l1:I me-dida em que os bens so concedidos voluntnri.uucntc, sem que preci-sem ser humildemente solicitados , e supondo retornos nliviados d:lprernncia cio tempo e d:\ quantidade ou quahd.idc ( 1 : \ rctribuo. A con-tra-obrigao fica minimizad.i em sua dimenso estritamente econmica,j que o fluxo material pode permanecer por longo tempo, e at inde-flnldumente, em favor de urna s das partes. A doao no cessa por au-sncia de retorno mater ial e, jus tamente por isso, ela refora o lado socialda reciprocidade. Quem recebe o que no solicitou e no pode retribuirmaterialmente fica continuamente obrigado em face de quem d.O desequilbrio econmico assim a chave da generosidade, dareciprocidade generalizada. E a generosidade , pala Sahlins, a provvelbase econmica das relaes hierrquicas e polticas numa sociedade pri-mitiva. Fundada num ato positivo de moral idade. a generosidade asse-

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    gur. . todo um fluxo elebens 111:1teri:lise cima para baixo, conot:tndo noap enas urna reI:t:io ele SIa IIS, I1U produzindo ur na ob ri ga o ele leal-dade na COmtll1le1:lele.As conexes entre troca econmc.i e hierarquia b-zem COIll que a reciprocidade pOSS:1er entendida como um mecanismogerador de relaces soc.us crist:lliz:leI:ls. As regras de reciprocidade te-clcbs em uma socied:lelc podem ser :I origem elegrupos, elepartidos, en-fim, pOde,n.lte~:l,

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    A I N V E N O DO T R A B A L H IS M O

    stro. destacando trs iniciativas fundamentais: a ao no campo da sin-ca lizao, que significou a p rod uo de uma nova lei ele carter cor-rativo (a de 1939) e a adaptao elas organizaes sindicais a este prin-pio corporativisra lxisico: o coro.unento ele nossa poltica trabalhistaa instituio tI:1Justia do Trabalho; e o desenvolvimento ela atuaoinisterial na rea previdenciria.\XI:ddemar Falco havia sido constituinte em 1933/34 e deputado1935/37. ligado ~\O movimento da Lig Eleitoral Catlica. Sua expe-ncia poltica e parlamentar demonstrou tanto SU:l vin cul u o com os as -s trabalhistas quanto SU~Iestreita relao com a orientao ela Igrejalica. Pode-se: dizer que ao lado do ministro ela Educao e Sade.ustavo Capanerna. \\::~Ielemar Falco foi o grande baluarte da Igreja naltica est.ido-riovista . Sua exonerao em meados ele 1941 algo ne-osa. j que fica claro que ela no ocorreu sem certos atropelos. O mi-stro se retirou voluntariamente. mas sabido que era est.i a forma comoa r gus fazia as substituiccs que julgava interessantes. \'~o eru Varg.isem pedia o afast:llnentn ele seus colaboradores. Ele apenas sugeria d i-uldades para o curso de um projeto. nomeava o renunciante para umvo posto e, com certa freqncia. aguurdav um tempo at tomar aiso sobre a pessoa que ocuparia definitivamente o cargo. :\ intcri-dc de Dulphc Pinheiro Machado no Ministrio elo Trabalho poderiar assim a dimenso el e um tempo p:lra pensar. enquanto os aconteci-entos na cena domstica e internacional melhor se delineavam.A escolha de .\l:1rcondes Pilho e sua posse em 29 de dezembro de941 tm a importncia ele uma deciso poltica de largo alcance. Mar-era um bem-sucedido advogado paulista especializado em direitomercial - falncias C0l110 destaque. Seu tradicional escritrio era co-cido c freqentado pela nata do empres.niado ele S;io Paulo, :10 queacrescentava sua amizade com o jornalst.: Assis Chntc.rubriand, pro-iet:rio duc .i dei a dos D iri os A ssoc i ados. 1 1 :1 0 se tratava, portanto, de

    homem que tivesse a poltica cio trabalho como seu tnticr.Ligado poltica paulista perrepista durante os anos 20. for a mem-ro elo Centro Paulista ao lado de homens como Menoui Dei Picchia, Ro-erto Moreira e outros. Desde a Revoluo de 30 afastara-se da atuaooltica, dedicando-se ~ advocacia. Somente no final de 1941 foi recon-zido cena pblica. como um nome que era sobretudo uma forte ga-ntia de aliana COIl1 o setor empresarial. em especial o ele So Paulo.go pessoal de Roberto Sirnonscn, ento presidente da FIESP, Mar-ndes assegurava ao empresarindo UIl1 f:cil acesso ao Ministrio elo Tra-lho, que era tambm ela Indstria e Comrcio. Sua gesto se inauguroutamente no momento em que a direo ela FIESP consagrava o en-ndimento entre a grande e a pequena e mdia empresas. atravs da do-adinha Simonsen (presidente) e \ IOlvan Dias Figueiredo (vice-presi-

    III

    II.C ii. ,

    .. _ ,1

    ANGE LA D E CA STRO G OM ES v 185

    dente). Alis, o perodo que vai ele 1943 :I 194') atesta .o ~x~el~,n~e rela~. to que se elabeleceu entre o uoverno e os interesses ernpreClonamen . . sariais do pas (Leopolc1i, 19S-t. pp. ')9-62). .. ...' c .A presena de ~Iarcondes Filho na cena poltica dos anos _ - l 0 n:lO:,eresumiu SU:l entrada para o ~Iinistrio do Tr:d):llho. pO~s ell: l/de Jul1~ode 1942 ele assumiria tnrenrumente - para sei e:etl\ ado ~ome~t~ ~.nabril ele 1943 - o cargo ele ministro da Justia. O acumulo da~, d uas p,~~us(Trabalho e Justip), ao mesmo tempo que (1:I\'a um coote.uelo ~O~ltlCOmaior administrao das questes trabalhistas. bno : I:-'1.ucomlc como

    I I ~ I processo polt ico na ciona l. urnaum personag

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    .l~~_ N V E N A O DO T R A D A L H 1S M Ogcm em outubro ele I S)4 5, COI\l a qucd.i de V:lrgas c cio l.st.rdo Novo. Foi,portanto, contempornea da administrao Marcondes, abrindo grandesC:SJ;I~()S;l1) () ckh;lIc e () esclarecimento cl:ls n:I;I(c',es entre Estado :\o\'()e ro L' I c' 22,10,5'1.-i. O Trii>ull:d de Sq~l\I':ln\':I ~:I

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    192 'f A INVENAo 00 TRABAlH/SMO

    hlica, int~IJ)ret:l(b C0l110U11gr:1l1ue e longo divrcio entre nossa realidadefsica e cultural e nosso modelo poltico de Estado. O liberalismo, exces-siv.uncntc objetivo c m.ueri.ilista, s via os valores quantitativos do mundoe pretendia construir o progresso sem cogitar do homem em sua duuensotor.il. blo , t.unbm subictiva e espiritual. Excessivamente internacionulis-t:/: n.ro .ucnt.rv p.u.. :IS cspecificidades nacionais, n:10 podendo portantooferecer ao homem brasileiro uma direo prpria, um objetivo de luta pt:-1:1construo nacional. Enf im , o Estado liberal da Primeira Repblica noconseguira integrar o homem :t terra brasileira: as instituies existentes co-lidi.un COIlt a realidade social. Havia dois mundos distintos: o do homem eo d:1 natureza, e :1 poltica era algo distante de tudo c de toclos.2, Este di:lgnstico bem representativo d:ts an.ilisc do perodo, queid cntil icam a Prillll'ira R ep blic a e se u liberali smo co m um momento devcrd.idcir.t deC()1l1pOsi-;lo do pas. A desordem CI1\ todos os campos dare:did:lde soci:il eLI o signo da perda das reais tr:ldi~'es da nao, ou scj,d:1 ruptura de um caminho cvolutivo normal, justo e bom. A imagem re-mete-nos a uma fonte ele inspirao hobbcsi.m.r, como se a sociedadehrnsilvir.: se encontrasse em verdadeiro cstado de natureza: dcsorgani-z.rda, C/I conflito I.' sem :1presena de um soberano dcfinidor ca p:IZ dedar-lhe ord ..'n:I~:IOe viela. bte estado de n.uurcz.r/cst.rdo d ,~Y I

    L' se tornou mais scns ivcl. A o problema social emergiu de forma con-creta como uma questo p:lr:t o p.iis, agr:I\'ad;t pela a~'o dclber.rd.i d ...agitadores profissionais e pela incomprccnso dos lmlticos da velha Re-pblica. O choque se anunciava calamitoso, e a Revoluco de 1930 veiointerromper o curso destes acontecimentos, preservando o pas de um.icut.istrote e restaurando a personalidade II(/ciolla{:~

    A Revoluo de 1930assumi nssun o carter de um movimento delibertao d.i tr.igicu experincia liberal da Primeira Repblica. O con-texto poltico em que esse movimento se realizou fora o de uma vcrd.i-dcira perda ele autoridade e de esgotamcnto de lnnulas de conciliaopoltica. A ameaa de anarquia era profunda, pois a perda de autor idadeera visualizuda como UllJ autntica perda do prprio curso ela evoluonormal do pas; como uma perda de SU:IStradics de ordem, irrciuc-diavclmcute COI11I)1'OIll

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    CIl(;I\':1111de nossos homens e longe de posquisarcm (/.1 causas de I/OSSOSnutles, fJHyi /'irml/, I/UII/{/ ati tude comodis ta e pela lei do menor esforo,cxpltcarturto pela negao da nossa raa, O brasileiro Ppreguioso - .1'0-IlIOS 1111/ POI'U de bugres _ ( .. ,),4

    Desta fonu.i, tratava-se de recuperar a grandeza de nossa realidadenatural. nus IO mais a partir de uma tradio conrempl.uva e desllg.id.:do homem brasileiro, como a consagrada pelo conde Afonso Celso, O re-torno ;1realidade era sobretudo o reconhecimento do povo brasilei ro,com SU;ISnecessidades e potencialidades. Este homem, cheio de virtudesignoracbs, guardava, em seu subconsciente, ;IS tradies mais puras dopais. ( ) libcr.tl ismo. banhado de valores europclzantcs, clcsconhcc.: S\1;1H:rcLldL'ir:1 dimenso . preferindo c xp li ca c es s im p li st a baseadas na in -ferioridadL' (LI r:1~'aL' do carter nacional.

    O Estado liberal no apenas scp.rrava o homem da terra, mas igl l; tl-mente scpar.rvn o homem do cidado e, clcst.: 1'01'111:1,istanciava a culturada poltica, O homem do PO\'O, que cristnliznv.t tudo aquilo que er.t pro-duziclo no p:l s e qUL' rcprescntnva sua cultura. estava n fust:rdo cio homempoltico, do cid;ld; o, A cultura. nesta nova accpco, era a prpria L'X-prcsso do que era natural e intrnseco ;10homem brasileiro, 1'01'isso,cl.i cru Ull:1 realidade esquecida e perdida pura :ISeli tes politicas da Pri-me-ira Repblica, IlUS L'r;1uma for(:1 se-mpre presente e indcstrutvcl noinconsciente n:lcion;tl ;1ser idel1tificld:1 t' rcvivid.r, ';

    EstL' c.u.i rcr de retorno :1rc. ilkladc nacional m.uc.rvn a Hevolu~:;-I()de 19,'>()em SlI:1autvuticidadc L' dcsdohr.rv.r-,. 110projeto poltico do Es-t:ldo Novo. SL'antes tIL- 1930 o que se verificava era ;1:ll lSl-IlCi;1 de um con-LHo h.muonioso entre povo e dites, o qUL' se verif icou j; em 19,'>0e prin-cip.rlmcntc ajl')s 1957 foi a nrticul.ico c C()lllllllil':l~'; 'H) entre as elites L' ;tIII:1SS:1d.t PUPU:H,:;'to, Era just.uncntc L'ste a'I1L'cto que torn.ivu o acontc-cimento de . > 0 UI1 f:tto rcvolucion.irio par;1 Azevedo AII1:lra : a concor-d:IIlCi:1 qU:ISL'unnimc cio po\'() brasilclro uuuslormar.: .t II1Ut:I\';-IObru-:.:cios rumos pol t icos do pas na prucir gr;lnde c,\jll'essu 1I/I(/.'UCtI dat.ontack: nactouat:

    A re\'olu~';h) cru autntica, portanto, porque unia eli te e I lUSS:1Sel:orqUL' proP,U1lt;1 voltar-se p:lra o povo em SU:ISIllais gL'l1ul1;ISl' espon-Une; ls m;lnilL'su~'()L'S e :lspir:I~'L'S, A cul tur. i popular devia ser recolhidapor um Esudo inovador, que rompi.i COIl1() p.iss.rdo poltico d;1 Repu-blica Vdlt; l. At 1930 podia-se dizer que ro ,~(}I'('n/() IIU Brasil n oer /ltI-ra o poi), nias para seus representantes qUL' j.uu.ris se lembraram decl.rantar as classes operrias a participar da sorte cio pas e qe j.u u.u spediram os esforos dos tra lutlb adores procurando iuteress-los 110.1'ro-blenurs ritnis da I/()SStl entancipao e(ol/(I/l/ica ,7

    ANG ELA D E CA STR O G OMES V 195- - - - .._ ----_ . _ _ ._-----------,--_._--- '.-. --'.._--._-.-A revoluo - iniciada em 1930 L' completada em 1937 - n:io : 1 :' -

    sumia uma dimenso rest.iurador.r no sentido de UI1 retorno a um cer-to perodo datado, ;t partir do 'lua I valores houvessem sido cOll1promL'-tidos ou desvir tuados, A rcst. iuruo cr.i a perf':'rt;llll,:ntc couip.u vclcom um novo comeo, com o ato da verdadeira tundao de um novo Es-tado, O colorido conservador vislumbrado por Azevedo Amara e rcafir-mudo por inmeros articulistas de C/lIIII},(/ Politic tinh razes histri-co-culturais, Tratava-se de identi ficar L'construi r o vcrdudciro cs pirito danacionalidade que se encontrava no inconsciente coletivo do PU'O,

    Por conseguinte, rcstaur:u a sociedade brnsilcir.: L'ra rctir.i-lu doestudo c1:1natureza, isto , organid-b pela via do poder poltico, Tal :IIOimpl icava um retorno ;1prpria n.uurcz - ;ts riquezas P()tVIlCi:lis e in.i-tivas do pas e um retorno :1prpri.: cultura nacional - :10 cur.ucr dohomem brasilei ro, A tr.rdico a ser encontrada L' rcvivda scri.. ;1junt)tnh.u nos vivido 11:1g-l1or;II1l':1 de nossa terra, o que se ; lgr:I\':Ir:1 COIll :1Ikpl-lhlicl inund.rd.: dl:liber;tlislllo,'.I Foi p;lr;1 rol llpt:r COIll estL' p;lssado que se fei' . :1 r~'\ JIlI

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    196 l A INVE N AO D O TR ABA lH ISMOidentificado em 193) di;\gnusticado COI\\OUI\\ produto direto (b inconsis-tncia e, Irrcalicladc d;\ legisb~':io liberal. Desta forma, eram banidos da Re-voluo ele 19 30 quaisquer ideais rcfonn.ulorcs de uma ordem liber al, ca-racterizados como dcsr.uuinhos revolucionrios. Da a linha direta entre19,~Oe 19.i7, Da t.unbm ;\ unpossibilid.rdc ele uma leitura rest auradora e larevoluo que procurasse o retorno a uma experincia pol ti ca anterior.Mesmo () Imprio, exult.rclo por suu cstahilid.idc e pelo exemplo de um po-der poltico centralizado, n.io chega\':\ a constituir um ponto de retorno, Eleera um smbolo de nl )SSOp.rssndo poltico a ilustrar que tnhamos tradieshixtricus ccntrnlist.is. n1;\~ n;11)rons titui a UI\ \ modelo a ser revivido.

    Assim, se (I:t Indcrcndl:'ncia at 1809 avnn.ir.unos lentamente naconstruo de noss:\ nucion.rlidudc, t al processo fOLI literalmente preju-dicado durante os : \Il0S d;1 Prinu-ir.. Ikpllhlicl e mais uma vez desvirtua-do no ps-30 pelo intcrrcgno constitucional. Est e h ia to, se de um lado as-sin.ilav que o 110\'0 incio no era um.i conscqnci automtica de 30,de outro l.rdo pcrmit i.t que se clurificassc a presena do grande estadistaque l'L\ Getlio V:\rg;\s, Isto porque [ust.uncntc ness:\s brechas do tem-po histrico, presentes n;\s lendas de fund:I(,':i(), que emergem com maisfor~':\ os vcrd.rdciros dirigcntt.'s polticos (Arcndt, 1971, pp, 202-3),

    Os :\rticulist:ls dt.' Cultura l'olitic S:'IOcnf:ticos :10 nss in.rl.u o P:I-pc] diretor ek \':Irg:b, rcspolls:\'d tanto pelo SlICt.'SSOI:1 revoluo, quan-to c princip.rlmcn. peb cl>ntlu\';'to ck SL'Upr

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    198 A I N V E N A O O O T R A B A l H I S M O-------------------- -_._----------------social suncion.idn pelo poder pblico Se a Ie~isb:io social no era ummeio dC~Ic;ll);\r com a pobreza, era um expediente necessrio que, as-sociado a outras medidas, poderia dar ao trnb. ilh .rdor uma situao maishumana e crist, conforme aconselhava a doutrina social da Igreja desdea Reru m /\'0/'(/ ru ut. I.~ ,

    A misso histrica ela Rcvoluco ele 1930 e elo governo do ps-37era portanto salrar a tempo a si tuno do operrio , cr iando um dire itounb.rlhlsta que o reconhecia como a ((;1/1/(/do [lido nactonnl . H justa-mente por esta razo no se poderia l leg; lr ao nOH) regime uma lclo de-uiocrticu. Onde estava a verdadeira democracia? A esta pergunta deveriacaber uma resposta simples e d ireta , A verdadeira democracia encontra-va-so no carter realista e humano do novo Estado. que fecundava a na-turczu e a cultura brasileiras com o esforo do trabalho. protegido e um-parado pelo governo, Estabelecer um novo comeo. estabe lecer a ele-mocraciu no Brasil. era avanar em dirl'(:lo ao trabalhador que matcri.i-liz.rva por SIl:IS potcncialid.rdcs e necessidades a fin.ilicladc orlcntaclorado Estudo Nacional. A nova democracia no se rccobria dos aspectosconstitucion.us l iberais, pois se nfi rm. rvn por outros objetivos:

    Assim C< 1m,1um liquid, 1in.rlicr.ivcl cc111SL'IYaua purcz.r em qualque-r rv-cipicntc. sem impor tar :I fO l'ma deste, :1clcmocr.rci. contida 110I'egiml'hl':lsikil'o, p' l\ll 1imp. 1rt:1:1kic:ic 1C< lI1stitucic111:d

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    200 v A INVENAO D O TR AB A lH ISMO---------------------------~------------e em ~U~Idificuld:lde de rel.icion.unento com (Iprprio homem, :Iquemde\'iall1':':0 clcstiu.u' suas ;I('~e preocupaes.

    Clr,',ia-,Sl', pois, de UI11Estado ljll\.' \.'Ilnsidl'rassl ' todos os planos da vida1J111l1:IIU,rdvn.uulo-o. dirigindo-os, sq,(undo kis prprias para f ins de-tvnnin.ulos. S,',dl'sl:1 m:IIK'ira poderia o E~tad corixt ituir-sc no que eleveser: 1/11/(/ /(:(1/;('(/ ri cunstru do pcn :. J ;Apliodo :\0conceito de democracia liberal (parlamentar, eleitoral>,t:tl ruciooinio sigllificl\':1 o abandono da noo ilusria da existncia de umrL'gill1t: poltico que pucles~L ~ubsbtir como um formato final de organiza-(io d:\s socicd.rdcs. Er:\ preciso ressal ta r a histor icidadc das inst itu ies e

    d o s v : t 1 o r l . i / ; / c 1 e l l lo c r : lc i a l i b e ra l p.u .r cntcnder dcfinltivam ente que no setr.u.ivn de U1l1: ,()/'/Ilfl ()/:t .lill ica (h1/1/ itira . As instituics democrtico-li-IlLT:lis n.rsccram no sculo XIX como uma rc.io e uma forma de luta con-tr:\ o poder ilimitado dos reis absolutos. Da a importncia que assumi.uu os\':t1'Jrl'~ til- liberdade c individu.rlid.uk- cru ~u:\ doutrina, Era fund.uncntal.em fins do s('Culo XVIII, :\ lut.. contra os privlgios hcrcclr.iros d:\ aristo-n:\ci:1 e :l proll'-IO cOlltr:1 o POtk t>.irhitr.irio do go\'erl1o,IH

    I\I:IS :1dt'IlHlCCI(:i:t libera], ~l ' ll:1sn:r:\ d:\ luta contra o absolutismo,11:lscn:\ igu.rlmcnrc cio desenvolvimento do capitnlismo. do acmulo dosmeius di: j JI'Ur/II('ri() da riqueza e dos inst n //IIC utos da sita fi istri VII io e/liIIIIl circulo social liinitrulc. ,Desta fonn.r, corrcsponcli.t aos interesses de111\1:\ ()f~

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    2 .,. A INVEN40 DO TRA8ALHISMO---dor, at-ento excludo (Ia realizao de seu prprio destino, Para t.m-a redcfiuio de democracia implicava ;t superao de alguns errosd.uucntais do liberalismo.

    A liberdade e a igualdade liberaiso primeiro grande erro ;t ser combatido estava contido em um parconceitos que resumia os fundamentos do projeto liberal-democrtico:conceitos de liberdade e igualdade naturais dos seres humanos, Ouposto bsico de tal projeto residia em lima concepo da natureza

    segundo ;\ qual todos os homens eram livres e iguais, II1;\S tor-os diferentes pelas in juncs sociais e polticas que se desenvolviamsociedade,Uma vez que o Estado moderno nascera no bojo de um processo eleas contra o arbtrio dos monarcas absolutos, o conceito de liberdade queo se desenvolveu procurou marcar uma distiuo e att: mesmo uma

    osio entre os interesses c direitos de govcrn.mtes e governados, Ficouabelecido um modelo de Estado protetor cu]a finalidade principal era aresguardar a esfera das libcrduclcs individuais. O liberalismo elegeu co-seu ideal de governo a primazia da liberdade, definida como a l.'Sfel;1vada dos direitos individuais, O reino da felicidade, em decorrncia, erao 11;\ l.'sfera privada d;\ sociedade qul.' dcvi ser protegida em SU;\ di-ica natural de excessos polticos dcsvirtuadorcs (Bcrlim, 1980),

    Assim, se os homens eram livres lia sociedade (ou, o que quer di-r o mesmo, no merendo) par:\ todas as atvidades de contrato privado,fundamental que fossem igualmente considerados iguais em um du-sentido: dentro (b ortodoxia liberal, para se protegerem dos prpriosusos do poder, e, ultrapassando tal ortodoxia c mergulhando no pro-so de dcmocr.ulz.ro cio liberalismo, p.rru participar d:\ prpria cons-o do poder pblico, Aqueles que eram livres e iguais para contratnrmercado e para estabelecer limites ;\ ;11,;5.0do Estado eram igualmenteres e iguais para participar (Ia formao das instituics csrntais (Mill,; Stuurt Mill, 1%3), O suhstrato da obrigao poltica nos Estados li-raix-dcmocr.u.is cr.i :I co-partcipnco dos indivduos na constituio doer pblico, A Ielcduclc cios indivduos no era estranha i\s formas decipao no pblico, donde a emergncia do conceito de cd.ido co-sujeito jurdico lcgitimador desta forma de Estado, A cidadania, definida C0l110 a igu.rld.rde d e todos perante a lei e.rda na equivalncia poltica de todos os indivduos, transformava-sebandeira e no ideal (LI liberal-democracia, E era neste ponto funda-ntal que residia seu principal problema, j: que a igualdade, nesta tra-

    ANGELA DE CASTRO GOMES Y 203d io. fora lim ituc l.t ao significado de eqidade poltica, sendo defini-tivamente afastada dos ideais ele justi~'a social. Tal ,pl.'rao deixava emevidncia a flagrunte contradio (b doutrina com os fatos d:\ real icl:1desocial (Wollim, 1960, pp, 288 e scg.),Os crticos estudo-novistas do Estado liberal procllr:lri:\lll rcqu.ili-ficar o significado do conceito ele democracia que defendiam, tendo emvista um; dscordncia lxisicn com o prprio pressuposto cio liberalismoc, mais ainda, da liberal-democracia, Desta forma, o primeiro problemaapontado por eles no que se refere s concepes de liberdade e igu:d-dadc diz respeito ;\ prpria concepo de natureza hUI11Jl1a que oncntav.iesta formulao. A operao que elegia a eqidade poltica, ahandonan-do o critrio da justia, era :\ mesma que mascarava a existncia ele de-sigualdadcs naturais entre os homens.Seguindo uma nova orientao cientfica, truduzidu nos postul:~dosclitistus de tericos europeus, o que se procurou afirmar de incio foi :Iincxistncia de uma situao de igu;debde de condi

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    204 v A I NVENAo D O T RABA lH I SMOno existem; mas aquele da organizao corporativa dos indivduos emsindicats diferenciados e do tados de poder po ltico, A nova democraciaera a democracia das corpo raes, que se constituam como centros deorganizao e orient.ro dos indivduos para o bem pblico e represen-tavam fontes origiu.irias da vontade popular. ~~

    1 5 . A questo do intervencion ismo do EstadoA partir desta tica, ;1criuo de uma democracia social imp licavao combate a UII1 segundo gr ande erro da concepo poltica liberal - ano-intcrvcno do Estudo. Alm de dissocinr liberdade e justia e decompreender a igu;t1d;lde como eqidade poltica, o liberalismo reduzira

    ;1 politicu ;1 urna pr.itic.. mnima, transformando o Estado em um cs-pcct.idor do movimento social. Por outro l.iclo, a inverso desse princ pio,promovida pelos r

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    206 .. A I NVENAo DO T RABAlHISMO ---------,------ti:'l1cia de contradies doutrinrias e de interesses 11;1sociedade, i'\cg;l-va-sc, assim, a idia de que a democracia fundava-se no dissenso: emcontra partida, afirmava-se a tendncia :\ unidade em todos os aspectospolticos e sociais,Em primeiro lugar, sto significava o abandono cio rclbo principiode separao depuderes ,que i: vinha sendo cri ticado e transformado pe-lo conceito germnico de harmonia depoderes ,Superava-se o rabo im-p;\sse entre optar por democracias Oll ditaduras, na medida em que seabria a possibilidade de existir um Estado forte e .dcmocr.itico atravs darcvitalizuo do sistema presidencial de governo, O Brusll integrava-se aeste projeto de salvao da democracia. convertendo a autoridade do pre-sidente em autoridade suprema do Estado e em /;jode coordena-u, direo e iniciatira na Iida jJUlilica,2'i Em segundo lugar, isto sig,nificava a impossibili dade demanuteno dos p.ut idos polticos, queeram exatamente os rgos de manifestac;:lo dos antagonismos sociais.0:0 dizer de Azevedo Amar.il. a democracia /10/'(/ se)comporta 1/11I ulcopartido: o partido do E~/(/(Iu, que tamhcnt ()parttdo da No(),2~

    Desta forma. a constituico de um ES(;ldo emergia como prclimi-nar necessria ;1prpria criao do grupo nacionnl. A construo d:1 uni,ducle nacional no COmpOI1;\Va a cxi st nci .. e le partidos ou l'au,:()es queimpediam a formao de um vcrcladciro csprto nacional, uluucnt.indoconflitos regionais c sctoriais.

    Contudo, preciso observar que a idcntificaco entre Estado e n:I'\':-10e o .u ir indiv idualismo a presente IO segui:1I1l um modelo 1.'111u\.' oconceito de n:\~':'lo fosse def inido por oposi\,:\o ao de indivduo. COI11Ire-q nc . o argumento aruilibcrnl contra o poder do indivduo () poderda necessidade coletiva, m.r ter inl iznda no conceito de socicd.rclc v, m.ris.und.r. no conceito tIe naco. que encarada COII10um supcrsujcito so-ci.rl. A I);I~';\O, expressando uma total idade que no rcdutvcl :\s partesque a compem. tem propr iedades especiais e t.unbm ncccsxid.ulcs pr-pri.is. ncluslvc mutcrl.us.

    1\0 C\sO do Estado l'\O\'O :1din:lmiC:1 l'r:1 outra. A defini~':'I() do con-coito til ' 11:1(:-10 formulado pari /}(ISSII :IOSconceitos de bem-estar sociale de democracia - no se f:\zi:l como U ILl construo exterior ao incli-vduo. e sim como um Iato interior a ele, A chave que abria a possibil i-d.rclc de t.il soluo era justamente a finnlid.ulc hum.uiiz.rdor., do Estado\acion:d, ou sej:I, seu ideal de form.i.ro ele U\1:1comunidade csptruu.i]no pas, Se o Estado possua um contedo 11I11ll:UO ,no podi.i est.ir 1'0-1':\ cio indivduo: precisava Inf il trar -s c nele p:lra supcr.i-lo em nome eleum objetivo coletivo que cr.i o de todo o grupo Jl:lCin:d,2(,

    O Estado Nacional propunha-se articular um autntico consenso mo-rnl e espir itual da nacionaldadc e n:10 um impossvel consenso utilitrio. As-

    sim, o individualismo e o p.ntidismo liberais er.uu superados peLI propc l~t.1gl o lxi l izador ele u rn a u ni da de cultural que no esnugari:1 () l u u ucru. A li,losofla humanista de respeito pessoa, segundo :IStr:ldi'es do crixti.misi n. possibilitava uma rel:l~':-lo nova c nuis profunJ:~ entre indi\'dul l c [st:\cCl,'Il:\- o, O conceito de indivduo foi tmnsfigurudo no de pes-,o:\ IIU11:II1;I,qu('perdeu o atributo maximizador e egost:t do primeiro, recebendo a dill1l'l1

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    ~ - ~ . . . _~.\I.~NO DO TRABALHISMDrcprcscnt.ui.un :1vontade popular, na medida em que a organizuri.uu. isto, na medida em que conteriam esta vontade. A forma de expresso po-litic.i desta vontade surgiri:t da ao constante da personalidade do pre-sidcnre. de sua interveno pessoal.

    ,\s socinbde precisam til.' grandes ~-taditas COI1 Oo organismo e a in-tl.'Iig0nci:l luun.mu- , prL'

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    210 .. 1 \ INVENC,\O DO TRABALHISMO'), I. P~lIl(1 , cir.. I' 110,11. P~ld() Augll ....() ti\' FiguI....'in:d(,.. () : : - - ; I \ . h , '\.h.:it)n.t1l'llilll) I'xpn. :HI d. -, 11..,,111-tI.ldl.'~ hr~lsill'jr~t=''', (li>. (:it .. p. 5- \'l r Lllllh':'I1\ dll 111\: :1 )1 ) ~Itll(lr L ;:rtigo...;, 'C) i -t~ltI() N~tl i()n~d.jj cit:tdt). t' ,,() r:-.;H.O hr:l ....\..:irtl I....'\ '1..'llIit'1 dCI n: ..i(QLl:1dll'lL'lll Cnltnra Polittca. 11, I,~, m.u o: 1()'12,1 2 . FlTn~ll1d{) C :db gv. () l 'a -,:-;;tdn t' ()pr\.~\'IHV .1 ; , tJiI,.':':1\ I :-.( 1 1 , '1 :1 1 1 11 I )\ r;l . .... ... I lh .cir.. 1'1', S2-5,I,~, I:l'manel() Calhgc', C l im.: l'rc'll'ri ;1 Iq~i,L ';'I ,'Ilci;tI', em Cnlt nrn L'olincr),11,'I. iUI1 t() I, SL'\'L'l'in lcl io.i , ,\ d,'lll U;I('i;1 ,,,, cit .. I', 1(>1,20, Allllir , i L - Andradl', :\ C'\' IIIC;'IO pliliLI l.' 'I ,,'i:d d IIi':ISil , ,'11l Cnlt u rn Pnii-t ica, n. I, lIl;tr,'() I(),II, p, (I.21. Almir dL' Andrnd, :\'; dirL'lril.L', d,l 110\' I ,\iti,';, .1(1Hr.r-i , I>. cit., 1'1', 15-,\.22. ,\ZL \l,'